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Módulo: Cidadania e Mundo Global Tema: Urbanização:
mobilidade, moradia e violência
Introdução
As cidades são agrupamentos humanos dos mais complexos e desafiadores.
Compreender essa dinâmica e funcionamento das cidades é uma exigência para o pleno
exercício da cidadania e uma obrigação nas mais diferentes atividades profissionais.
Ignorar e desprezar os estudos urbanos se constitui em um grave erro para o profissional
no mundo globalizado. Estas são as razões para buscarmos ao longo do semestre
compreender alguns aspectos dos fenômenos sociais e as políticas públicas nas
sociedades urbanas ao redor do mundo.
Algumas das notas de rodapé neste texto são explicativas e contém dados
importantes sobre os conceitos aqui trabalhados, assim, é importante que você veja
estas notas com atenção.
Ao longo do semestre teremos a oportunidade de debater estes e outros
aspectos nos fóruns e atividades. É muito importante a contribuição de cada estudante,
trazendo outras perspectivas e referencias teóricos e experiências de gestão urbana e
políticas públicas ao redor do mundo para este nosso módulo. Faça também as leituras
indicadas ao longo do texto.
1OXFAM BRASIL. “A distância que nos une: um retrato das desigualdades brasileiras. 2017. Disponível
em: https://www.oxfam.org.br/sites/default/files/arquivos/relatorio_a_distancia_que_nos_une.pdf
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2 Esta Agenda é um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade. Ela também
busca fortalecer a paz universal com mais liberdade. Reconhecemos que a erradicação da pobreza em
todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema, é o maior desafio global e um requisito
indispensável para o desenvolvimento sustentável. (Fonte: ONU BRASIL. https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/)
3 De acordo com o Banco Mundial são pessoas que vivem com um rendimento inferior a R$ 406 por mês.
No Brasil, em 2019, o número de pessoas nestas condições é de 55 milhões de pessoas, isto é, 25% da
população brasileira. (Fonte: Vitor Neves https://jornal.usp.br/atualidades/brasil-tem-55-milhoes-de-pessoas-abaixo-da-linha-da-pobreza/)
.
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Figura 3- Igreja e Lago da Pampulha - Belo Horizonte / MG – Uma reflexão sobre o espaço geográfico
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O conceito de Espaço Geográfico, ou seja, toda transformação gerada pelo ser humano no espaço, em
Milton Santos é visto como uma categoria histórica, passivo de ser estudado nas ciências sociais.
Compreende-se ainda como toda realidade social e definido metodologicamente e do ponto de vista
teórico por três conceitos gerais: a forma, a estrutura e a função, não podendo ser analisado em separado.
Assim, “o espaço deve ser considerado como um conjunto de relações realizadas através de formas que
se apresentam como testemunho de uma história escrita por processos do passado e do presente (...) o
espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais que estão acontecendo
diante dos nossos olhos e que se manifestam através de de processos e funções”, (SANTOS, 1997, p. 38;
SANTOS, 2004b, p. 153).
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Parte desta complexidade na organização espacial dos países pobres tem sua
origem no fato de que suas economias se organizam para atender interesses externos e
distantes, o que influirá na construção e transformação do espaço geográfico, desta
forma Milton Santos afirma que:
[...]
Outra consideração feita por Milton Santos é a de que a maioria dos estudos
sobre a questão do espaço geográfico (mais especificamente a questão da urbanização)
se preocupa mais com os efeitos do que com as suas casualidades históricas,
sociológicas e econômicas, o que torna boa parte destes estudos reduzidos às
estatísticas matemáticas e tabulações de dados, como se observa na escola teorética ou
quantitativa da geografia, que concentra o estudo da geografia nas estatísticas
matemáticas e tabulações de dados, que são importantes fontes para o mercado e para
a pesquisa em geral. Por isso Santos afirma que:
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5 Milton Santos compreende o circuito superior como aquele que utiliza tecnologia importada ou de
ponta, com um capital intensivo, e uma organização burocrática; enquanto o circuito inferior faz uso de
“trabalho intensivo” e frequentemente local, sendo o capital bastante reduzido e a organização primitiva.
(2004, p.43-44).
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Figura 4- Grafite - Beco do Batman - Vila Madalena – SP (Arte na rua, expressão da cultura urnaba)
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O Brasil experimentou três etapas de organização de seu espaço e sua população: aglomeração (com o
aumento dos núcleos com mais de 20 mil habitantes), depois concentração (com a multiplicação de
cidades de tamanho intermediário) e por fim metropolização (com o surgimento e aumento das cidades
milionárias, como São Paulo e Rio de Janeiro). SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. 5ª ed. São Paulo:
EDUSP, 2005, p.77.
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Mais tarde no século XIX, já com a produção do café no Estado de São Paulo, este
propicia a acumulação de capitais necessários para a geração da expansão industrial no
Brasil, tornando-se um importante elemento polarizador do processo de urbanização da
região7 sudeste, e modelador do espaço geográfico brasileiro e particularmente da
cidade de São Paulo. Um segundo momento apontado por Santos ocorre entre 1940 e
1980, que é quanto se dá efetivamente uma mudança do quadro populacional
brasileiro, e se consolida definitivamente a urbanização brasileira. Observando que a
taxa de urbanização em 1940 era de 26,35% e em 1980 já alcançava 77%, desta forma,
a população urbana brasileira se multiplica por sete vezes e meia durante este período
(2005, p. 33).
7Região: Este conceito geográfico, de área com características próprias, foi desenvolvido em princípio no
século XIX pela escola francesa, e logo tomou o sentido político-administrativo tornando-se um
instrumento de planejamento. Milton Santos, rejeita a noção de regionalismo geográfico, por
compreender o mundo como um sistema único e integrado entre as “partes”, a região perdeu sua
coerência interna e passou a ser definida de fora, sendo que seus limites se alteram de acordo com vários
critérios. Assim região é tomada como área que reproduz a totalidade; pode ser vista como as diferenças
entre os lugares, tais diferenciações podem ser inclusive oriundas do processo de globalização. Santos
não considera que a globalização tenha eliminado as regiões, ao contrário, quanto mais este processo
avança mais a diferenciação entre as regiões tornam-se mais evidentes, assim para ele: "as regiões são o
suporte e a condição de relações globais que de outra forma não se realizariam", ou seja, a região é "um
espaço de conveniência",(GIOVANNETTI, 1996, p. 179-180; SANTOS, 2004b, p. 39-41; CASTRO, 2002).
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8 Macrocefalia urbana, refere-se ao crescimento desordenado das cidades, sem que o mesmo seja
acompanhado de políticas públicas que possibilitem a inserção das populações aos sistemas de saúde,
educação, habitação, transporte e outros. Este fenômeno está intimamente relacionado ao processo de
organização econômica dos países pobres, que possuem sua economia orientada para atender aos
interesses externos (SANTOS 2005).
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equipamentos públicos suficientes para atender suas demandas básicas, como creches,
hospitais e escolas.
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Política Pública: Trata-se de um conjunto de diretrizes garantidas por lei, que possibilitam a promoção
e a garantia de direitos para o cidadão. A sociedade civil tem uma participação considerável na elaboração
das políticas públicas, tornando o acompanhamento e execução delas muito mais eficientes. “No contexto
internacional, a doutrina neoliberal passou a ser o fundamento de políticas públicas, configurando-se
como ideologia conservadora e hegemônica no Ocidente a partir do final dos anos de 1970 e, sobretudo,
durante a década de 1980, quando foi posta em prática pelos governos Thatcher, na Grã-Bretanha, e
Reagan, nos Estados Unidos.” (GROS. Fev. 2004).
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Figura 7- Linha Amarela do metrô - São Paulo – Não há a figura do condutor do trem.
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O conceito de paisagem compreende dois elementos básicos: 1. Os objetos naturais, isto é, aqueles
que não são obra do ser humano e nem jamais foram por ele tocados; 2. Os objetos sociais, ou seja,
aqueles que testemunham o trabalho humano tanto do passado como do presente. Isto nos faz perceber
que a paisagem não possui nada de fixo ou imóvel, estando em permanente transformação todas as vezes
que a sociedade passa por mudanças econômicas, sociais e políticas. Assim “a paisagem representa
diferentes momentos do desenvolvimento de uma sociedade” (SANTOS, 1994, p.37-38).
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A cidade deixa de ser tão somente uma aglomeração de pessoas, numa complexa
relação econômica, e passa a ser caracterizada também pelo surgimento de uma cultura
urbana, dentro de um sistema cultural específico. Urbanização, portanto, significa
concentração de atividades e a criação de uma cultura específica nesta sociedade,
denominada cultura urbana. Refere-se, portanto, ao processo de concentração
populacional num espaço determinado, em que se constituem aglomerações
internamente interdependentes e hierarquizadas, denominada rede urbana (CASTELLS,
2000, p. 47).
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Para Milton Santos é por meio do estudo do lugar que se pode compreender o mundo. O conceito de
lugar pode ser compreendido como produto da experiência humana, tratando-se assim de uma
construção subjetiva, ou ainda o resultado de um processo histórico muito singular (LEITE, 1998, p. 1-15).
Ainda para Adriana Leite: “Os lugares normalmente não são dotados de limites reconhecíveis no mundo
concreto. Isto ocorre porque sendo uma construção subjetiva e ao mesmo tempo tão incorporada as
práticas do cotidiano que as próprias pessoas envolvidas com o lugar não o percebem como tal” (Idem, p.
11). “O lugar é, pois, o resultado de ações multilaterais que se realizam em tempos desiguais sobre cada
um dos pontos da superfície terrestre. (...) O lugar assegura assim a unidade do contínuo e do
descontínuo”, assim para compreender o lugar é necessário analisar os processos históricos locais e
extralocais. (SANTOS, 2004b, p. 258)
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Para entender essa questão fica a dica para ver o filme “Cinema Paradiso”
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Considerações finais
Compreende-se que o espaço é uma instância social e historicamente em
contrução, portanto para além de seus aspectos físicos e quantitativos. Deve-se
considerar ainda que a extrema desiguldade social tem sido um fator gerador de
inúmeros problemas urbanos, como foi observado, por exemplo no relatório da OXFAM.
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Com estas reflexões iniciamos nossa discussão, com o convite para sua
contribuição, com textos, notícias e ideias. Termino retomando duas indicações:
Os dois textos nos darão uma clareza sobre as questões que discutimos neste
semestre, além de serem documentos recorrentes na formação cidadã.
A cidade como espaço de toda a cidadania, uma cidade para todas as pessoas, sem exclusões de nenhuma
espécie, que concretize os objetivos do desenvolvimento Sustentável.
As praças públicas são expressões de uma cidade preocupada com a cidadania, são lugares de
convivência e encontro.
Assim diz o Senhor Deus: Ainda nas praças da cidade sentar-se-ão velhos e velhas, levando cada um na
mão o seu cajado, por causa da sua muita idade. E as ruas da cidade se encherão de meninos e meninas,
que nelas brincarão.
Thus saith the LORD of hosts; There shall yet old men and old women dwell in the streets of Jerusalem,
and every man with his staff in his hand for very age. And the streets of the city shall be full of boys and
girls playing in the streets thereof. Profeta Zacarias 8. 4-5
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