Você está na página 1de 38

CAPÍTULO 2 – LIMITES

LIMITES
A Teoria de Limites é fundamental no estudo de Cálculo já que as operações que constituem o
Cálculo, a derivação e a integração, têm o Limite de funções na base de suas construções.

2.1 LIMITES DE UMA FUÇÃO

Como ilustração, vamos investigar o comportamento de uma função f definida co-


mo f ( x) = x 2 − x + 2 para valores de x próximos de 2, mas não iguais a 2. A Tabela abaixo fornece
estes valores.

x f (x) x f (x) Desta Tabela 1, vemos que quando x estiver próximo de 2, por
qualquer lado, f (x) estará próximo de 4. Fica claro que po-
1,000 2,000000 3,000 8,000000
demos tornar os valores de f (x) tão próximos de 4 quanto
1,500 2,750000 2,500 5,750000 desejarmos tornando x suficientemente próximo de 2.
1,900 3,710000 2,200 4,640000 Expressamos isto dizendo:
1,990 3,970100 2,010 4,030100 O limite da função f ( x) = x 2 − x + 2 é igual a 4 quando x tende
a 2.
1,999 3,997001 2,001 4,003001

Tabela 1

A notação para isto é: lim ( x 2 − x + 2) = 4 . O Gráfico abaixo ilustra o comportamento da tabela


x→2

Figura 1. Gráfico 1.

Em geral, definimos limite como:


DEFINIÇÃO 2.1:

Escrevemos
lim f ( x) = L
x→a

e dizemos “o limite de f (x) , quando x tende a a é L”, se pudermos tornar os valores


de f (x) arbitrariamente próximos de L, tornando x suficientemente próximo de a, mas
não igual a a.

Em outras palavras: esta definição significa que os valores de f (x) ficam cada vez mais próxi-
mos do número L à medida que x tende ao número a (por qualquer lado), MAS x ≠ a. Na realida-
de, a não precisa sequer estar no domínio da f.

OBSERVAÇÕES IMPORTATES:

i. Devemos ressaltar que ao considerarmos o limite lim f ( x) = L , não exigimos que a per-
x→a

tença ao domínio da função. Nos casos mais interessantes que veremos neste capítulo, tem-
se que a não pertence ao domínio da f. O Exemplo 1 mostra esta situação.

ii. Mesmo que a pertença ao domínio da f, a afirmação lim f ( x) = L nada diz respeito ao
x→a

valor f (a ) . A afirmação apenas descreve o comportamento dos valores de f (x) para x


próximo de a, mas com x ≠ a. Em verdade, é possível ter lim f ( x) ≠ f (a ) , como aponta a
x→a

Figura 3 do Exemplo1.

x −1
Exemplo 1: Encontre o valor lim .
x →1 x2 −1
x −1
SOLUÇÃO: Observe que a função racional f ( x) = não está definida para x = 1. MAS ISTO
x2 −1
NÃO IMPORTA, pois o limite lim f (x) significa que devemos considerar x próximos de a, mas não
x→a
iguais a a. Ao construirmos uma Tabela, Tabela 2, com os valores de x se aproximando de 1 pela
esquerda (x < 1) e pela direita (x > 1), veremos que

x −1 1
lim 2
= 0 ,5 =
x →1 x −1 2

A descrição do comportamento dos valores da Tabela 2 é dada graficamente na Figura 2.


x f (x) x f (x)

0,500 0,6667 1,500 0,4000

0,900 0,5263 1,100 0,4762

0,990 0,5025 1,010 0,4965

0,999 0,5002 1,001 0,4997


Figura 2.
Tabela 2.

Agora considere a função g definida por partes na forma:

 x −1
 se x ≠ 1
g ( x) =  x 2 − 1
 2 se x = 1

Essa função g tem o mesmo limite da função f quando x tende a 1, como mostra a Figura 3. Aqui
devemos fazer a importante observação que lim g ( x) ≠ g (1 ) .
x →1

Figura 3.

Exemplo 2: Encontre o lim sen (π x ) .


x →0

SOLUÇÃO: f ( x) = sen (π x ) não está definida em x = 0. Obtendo o valor da função para alguns
números pequenos de x, temos,
f (1) = sen (π ) = 0 ; f (1 2) = sen (2π ) = 0 ; f (1 4 ) = sen (4π ) = 0 ; f (1 10) = sen (10π ) = 0

Com base nisto, poderíamos conjecturar que


lim sen (π x ) = 0
x →0

mas esta conjectura está errada. Embora f (1 n) = sen (nπ ) = 0 ∀ n ∈ Z, também é verdadeiro que
f (1 x) = sen (π 2 + 2 nπ ) = 1 sempre que x = 2 (4 n + 1 ) . Graficamente, temos, conforme Figura 4,
Figura 4.

O gráfico indica que os valores de sen (π x ) oscilam ente −1 e 1 infinitas vezes quando x tende a
zero. Portanto, lim sen (π x ) NÃO EXISTE.
x →0

Exemplo 3: Encontre o lim ( x 3 + cos x) .


x →0

SOLUÇÃO: Podemos fazer um exercício de imaginação para percebermos que quando x → 0, por
ambos os lados, temos que
lim ( x 3 + cos x) = 1
x →0

0 se x < 0
Exemplo 4: A função de Heaviside, H, é definida por H ( x) =  . Graficamente:
1 se x ≥ 1

Figura 4.

Nota-se que quando x → 0 pela esquerda (x < 0), H tende a 0 e quando x → 0 pela direita (x < 0),
H tende a 1. Assim, não há um número único para o qual H tende quando x → 0. Portanto, NÃO
EXISTE o lim H (x ) .
x →0

DEFIIÇÃO PRECISA DE LIMITE


A seguir daremos uma definição mais precisa de limite.
DEFINIÇÃO 2.2:

Seja f uma função definida sobre o intervalo aberto que contém o número a, exceto
possivelmente no próprio a. Então dizemos que o limite de f (x) quando x tende a a é
L, e escrevemos:
lim f ( x) = L
x→a

se para todo o número ε > 0 há um número correspondente δ > 0 tal que

f ( x) − L < ε sempre que 0< x − a <δ

Esta definição significa que a distância entre f (x ) e L pode ser arbitrariamente pequena, tornando
a distância de x a a suficientemente pequena (mas não zero). Graficamente:

Figura 5.

A definição anterior pode ser enunciada também como a seguir:

O lim f ( x) = L significa que para todo ε > 0 (não importando quão pequeno for o ε ) po-
x→a

demos achar δ > 0 tal que, se x estiver no intervalo aberto (a − δ, a + δ) e x ≠ a, então f (x)
estará no intervalo aberto (L − ε, L + ε).

Exemplo 5: Prove que lim (4 x − 5) = 7 .


x→3

SOLUÇÃO: Seja ε um número positivo dado. Devemos determinar um número δ tal que
(4 x − 5) − 7 < ε sempre que 0< x − 3 <δ

Mas (4 x − 5) − 7 = 4 x − 12 = 4 x − 3 . Portanto, queremos que


4 x −3 <ε sempre que 0< x − 3 <δ
Isto é,
ε
x−3 < sempre que 0< x − 3 <δ
4
ε
Assim, poderíamos escolher δ = .
4

Prova: podemos mostrar que esta escolha de δ funciona. Dado ε > 0, escolha uma δ = ε /4. Se
0 < x − 3 < δ , então
ε 
(4 x − 5) − 7 = 4 x − 12 = 4 x − 3 < 4δ = 4   = ε
4

Assim,
(4 x − 5) − 7 < ε sempre que 0< x − 3 <δ

Portanto, pela definição de limite, temos que

lim (4 x − 5) = 7
x→3

UICIDADE DOS LIMITES


O Teorema a seguir estabelece que uma função não pode tender a dois limites diferentes ao mes-
mo tempo. O Teorema é chamado Teorema da Unicidade, pois garante que o limite de uma fun-
ção, se existir, será único.

TEOREMA 2.1 − Teorema da Unicidade:

Se lim f ( x) = L1 e lim f ( x) = L2 ⇒ L1 = L2
x→a x→a

Em outras palavras, o Teorema 2.1 afirma que se a função f tiver um limite L no número a, então
esse limite será o único limite de f em a.

Demonstração: Dado ε > 0 arbitrário, existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que

ε
(1) 0 < x − a < δ1 ⇒ f ( x) − L1 <
2
e
ε
(2) 0< x − a < δ2 ⇒ f ( x) − L2 <
2
Agora, seja δ = min {δ 1 , δ 2 } , δ é o menor entre δ1 e δ2. Se escrevermos L1 – L2 como
L1 − L2 = L1 − f ( x) + f ( x) − L2

teremos que
L1 − L2 = L1 − f ( x) + f ( x) − L2 ≤ L1 − f ( x) + f ( x) − L2

onde foi usada a desigualdade triangular. Portanto, da (1) e da (2), temos

L1 − L2 ≤ L1 − f ( x) + f ( x) − L2
14243 14243
<ε 2 <ε 2

ε ε
L1 − L2 < + =ε sempre que 0 < x − a < δ
2 2
Logo L1 = L2 .

LIMITES LATERAIS
Vimos no Exemplo 4 que a função de Heaviside tende a 0 quando x tende a 0 pela esquerda, e
tende a 1 quando x tende a 0 pela direita. Indicamos essa situação simbolicamente escrevendo:

lim H ( x) = 0 e lim H ( x) = 1
x →0 − x →0 +

O símbolo x→0 – indica que estamos considerando somente valores de x menores que 0. Da mes-
ma forma, x→0 + indica que estamos considerando somente valores de x maiores que 0.
Escrevemos
lim f ( x) = L
x→a −

e dizemos que o limite esquerdo de f (x) quando x tem a a é igual a L se pudermos tornar os valo-
res de f (x) arbitrariamente próximos de L, tornando x suficientemente próximo de a pela esquer-
da de a, x < a.

Formalmente temos a seguinte definição para Limite Lateral Esquerdo:

DEFINIÇÃO 2.3 − LIMITE LATERAL ESQUERDO:


Escrevemos
lim f ( x) = L
x→a −

se para todo ε > 0 houver um número correspondente δ > 0 tal que

f ( x) − L < ε sempre que a−δ < x < a


Observe que esta Definição difere da Definição 2.2 por exigir que x seja menor do que a.

Analogamente, escrevemos
lim f ( x) = L
x→a +

e dizemos que o limite direito de f (x) quando x tem a a é igual a L se pudermos tornar os valores
de f (x) arbitrariamente próximos de L, tornando x suficientemente próximo de a pela direita de
a, x > a.

Formalmente temos a seguinte definição para Limite Lateral Direito:

DEFINIÇÃO 2.4 − LIMITE LATERAL DIREITO:


Escrevemos
lim f ( x) = L
x→a +

se para todo ε > 0 houver um número correspondente δ > 0 tal que

f ( x) − L < ε sempre que a < x < a +δ

Comparando a Definição 2.1 com as Definições de Limites Laterais, temos o Teorema:

TEOREMA 2.2:

O lim f (x) existe e será igual a L se e somente se


x→a

lim f (x) e lim f (x)


x→a − x→a +

existirem e forem iguais a L.

Então deve ficar claro que a desigualdade dos limites laterais, esquerdo e direito, implica na ine-
xistência do limite de uma função.

Exemplo 6: O gráfico de uma função f está na Figura 6. Use-o para estabelecer, caso exis-
tam, os seguintes limites:

a) lim f (x) b) lim f (x) c) lim f (x)


x →1 − x →1 + x →1
d) lim f (x) e) lim f (x) f) lim f (x)
x→2 − x→2 + x→2

Figura 6.
SOLUÇÃO:

(a) Quando x tende a 1 pela esquerda, podemos observar no gráfico da Figura 6 que a f (x) tende
a 1.
(b) Quando x tende a 1 pela direita, podemos observar na Figura 6 que a f (x) tende a 2.

(c) Portanto, como os limites laterais são diferentes quando x →1, então lim f (x) NÃO EXISTE.
x →1

(d) Quando x tende a 2 pela esquerda, a f (x) tende a 3.

(e) Quando x tende a 2 pela direita, a f (x) tende a 3.

(f) Portanto, como os limites laterais são iguais quando x →2, então lim f ( x) = 3 . Também po-
x→2

demos observar que lim f ( x) ≠ f (2) .


x→2

PROPRIEDADES DO LIMITE – OU LEIS DO LIMITE


Seja c uma constante, n um número inteiro positivo e suponha que existam os limites
lim f (x) e lim g (x)
x→a x→a

Temos as seguintes Propriedades de Operações com o Limite:

1. lim [ f ( x) ± g ( x)] = lim f ( x) ± lim g ( x)


x→a x→a x→a

2. lim [c f ( x)] = c lim f ( x)


x→a x→a
3. lim [ f ( x) ⋅ g ( x)] = lim f ( x) ⋅ lim g ( x)
x→a x→a x→a

lim f ( x)
 f ( x)  x→a
4. lim   = , se lim g ( x) ≠ 0
x → a  g ( x)  lim g ( x) x→a
x→a

5. lim [ f ( x)]n = [ lim f ( x)] n


x→a x→a

6. lim c = c
x→a

7. lim x = a
x→a

8. lim x n = a n
x→a

9. lim n x = n a
x→a

10. lim n f ( x) = n lim f ( x)


x→a x→a

Exemplo 7: Calcule o limite a seguir, usando as Propriedades dos Limites em cada passo.

lim (3 x 3 + x 2 − 1)
x→2

SOLUÇÃO:

lim (3 x 3 + x 2 − 1) = lim (3 x 3 ) + lim ( x 2 ) − lim (1) ; pela Propriedade 1;


x→2 x→2 x→2 x→2

= 3 lim ( x 3 ) + lim ( x 2 ) − lim (1) ; pela Propriedade 2;


x→2 x→2 x→2

= 3(2 3 ) + (2 2 ) − (1) ; pelas Propriedades 6 e 8.

= 27 .
OBSERVAÇÕES IMPORTATES

i. Se tivéssemos tomado f ( x) = 3 x 3 + x 2 − 1 , então f (2) = 27 . Em outras palavras, teríamos


obtido a resposta correta do Exemplo 7 simplesmente substituindo x = 2. Esta função é
uma função polinomial e as Propriedades do Limite garantem que a substituição direta
sempre é possível para o cálculo dos limites de tais funções.

ii. Dada uma função racional, que é definida como o quociente de dois polinômios, também é
possível calcular o limite simplesmente fazendo a substituição direta de x = a, desde que a
esteja no domínio desta função racional.

Com isto, podemos enunciar:

Se f for uma função polinomial ou racional e a estiver no domínio de f, então

lim f ( x) = f (a )
x→a

Funções com essa propriedade de substituição direta, chamadas de funções contínuas, se-
rão estudadas em seção posterior. Entretanto, nem todos os limites podem ser calculados pela
substituição direta ou de forma imediata e estes são os casos mais interessantes de limite.

TIPOS DE IDETERMIAÇÕES
No cálculo de limites de funções, é muito comum chegarmos a expressões indeterminadas,
o que significa que para encontrarmos o valor limite da função deveremos “levantar” a indetermi-
nação usando de técnicas algébricas. As principais indeterminações são:

0 ∞
, , 0 ⋅∞ , ∞ −∞, ∞0 , 1∞
0 0
A terminologia “indeterminação” é adequada porque significa que nada se pode afirmar sobre es-
tas expressões.

(3 + h ) 2 − 9
Exemplo 8: Calcule lim .
h →0 h

SOLUÇÃO: Como a função que está sendo tomado o valor limite é uma função racional, se defi-
nirmos f (h) = (3 + h) 2 − 9 e g (h) = h , então notaremos que não podemos aplicar a Propriedade
de Limite 4, visto que lim g (h) = 0 . Além disto, lim f (h) = 0 , então
h →0 h →0

(3 + h ) 2 − 9 f (h)
lim = lim
h →0 h h → 0 g ( h)

é uma indeterminação do tipo 0/0. Para levantar esta indeterminação, podemos fazer a seguinte
manipulação algébrica em f (h) :
f ( h ) = (3 + h ) 2 − 9 = (9 + 6 h + h 2 ) − 9 = 6 h + h 2

Portanto,
f ( h) 6 h + h2
lim = lim = lim (6 + h) = 6
h → 0 g ( h) h →0 h h →0

Esta simplificação só é possível porque estamos tratando de limite, isto é, h → 0 e não em h = 0


(este ponto nem está no domínio da função racional considerada). Assim,

(3 + h ) 2 − 9
lim = lim (6 + h) = 6
h →0 h h →0

A representação gráfica dada na Figura 7 mostra a função não definida no ponto (0, 6).

Figura 7.

x
Exemplo 9: Calcule lim .
x →0 x

SOLUÇÃO: Se considerarmos f ( x) = x e g ( x) = x , novamente não poderemos aplicar a Proprie-


dade de Limite 4, já que lim g ( x) = 0 . Além disto, lim f ( x) = 0 . Então temos uma indetermina-
x →0 x →0

ção do tipo 0/0 e devemos averiguar um modo de levantar tal indeterminação. Primeiro devemos
relembrar que, pela definição de Valor Absoluto, seção 1.3, a função f é definida como

 x se x≥0
f ( x) = x = 
− x se x < 0

Se tomarmos o limite lateral esquerdo, (x < 0), então f ( x) = − x ,

x −x
(1) lim = lim = lim − 1 = − 1
x →0− x x →0− x x →0−

Agora, se tomarmos o limite lateral direito, (x > 0), então f ( x) = x ,

x x
(2) lim = lim = lim 1 = 1
x →0+ x x →0+ x x →0+
Como os limites laterais são diferentes entre si, então, pelo Teorema 2,2, o limite solicitado NÃO
EXISTE. Ressalta-se novamente que as simplificações feitas em (1) e (2) só foram possíveis porque
estamos tomando o limite, isto é, x → 0, mas x ≠ 0.

x −2
Exemplo 10: Determine o lim .
x→4 x−4
SOLUÇÃO: A Propriedade de Limite 4 não pode ser aplicada porque lim x − 4 = 0 . Nota-se que há
x→4

uma indeterminação do tipo 0/0. Se considerarmos a função

x −2
F ( x) =
x−4

podemos fazer a racionalização do numerador através da multiplicação do numerador e denomi-


nador por ( x + 2 ). Então,

F ( x) =
x −2

( x + 2) =
x −4
=
1
se x ≠ 4
x−4 ( x + 2) (x − 4 )⋅ ( x +2 ) ( x +2 )
Assim,
lim 1
x −2 1 x→4 1 1
lim = lim = = =
x→4 x − 4 x→4 x +2 lim x + 2
x→4
[ ] lim x + lim 2 4
x→4 x→4

Portanto, o valor limite da função quando x tende a 4 é 1/4.

3
x −1
Exemplo 11: Determine o lim .
x →1 x −1

SOLUÇÃO: Está claro que neste limite também há uma indeterminação do tipo 0/0. Neste caso fa-
remos uma mudança de variável para facilitar a manipulação algébrica. Podemos fazer

x = t6 , t ≥ 0

então, quando x →1, t →1 . Portanto,

3 6
3
x −1 t −1 t 2 −1
lim = lim = lim
x →1 x − 1 t →1 t6 − 1 t →1 t3 − 1

Como t = 1 é raiz da função do numerador e do denominador, podemos usar Briot-Ruffini para


fazer t 3 − 1 = (t − 1)( t 2 + t + 1) . Assim, para x ≠ 1, temos
3
x −1 t 2 −1 (t − 1) (t + 1) (t + 1) 2
lim = lim 3 = lim = lim 2 =
x →1 x − 1 t → 1 t − 1 t → 1 (t − 1)( t + t + 1) t → 1 ( t + t + 1) 3
2

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
Determine os seguintes limites.

x2 − x + 3
1) lim . SOLUÇÃO: Não há nenhum tipo de indeterminação neste limite. Então, como
x→3 5x2 −1
x = 3 pertence ao domínio desta função irracional, basta substituir este valor na função. Isto é:

x2 − x + 3 32 − 3 + 3 9
lim = = .
x→3 5x2 −1 5 (3 2 ) − 1 44

x2 − 4x + 3
2) lim . SOLUÇÃO: Neste limite existe uma indeterminação do tipo 0/0. Entretanto,
x→3 x2 − 9
podemos fatorar tanto numerador quanto denominador na forma

x 2 − 9 = ( x + 3) ( x − 3) e x 2 − 4 x + 3 = ( x − 1) ( x − 3)

Portanto,

x2 − 4x + 3 ( x − 1) ( x − 3) ( x − 1) 1
lim = lim = lim = .
x→3 2
x −9 x → 3 ( x + 3) ( x − 3) x → 3 ( x + 3) 3

x− 3
3) lim 2
. SOLUÇÃO: Há uma indeterminação 0/0 neste limite. Para levantarmos tal
x→3 x −4x + 3
indeterminação, precisaremos racionalizar o numerador e também vamos usar a fatoração dada no
exercício anterior, ou, x 2 − 4 x + 3 = ( x − 1) ( x − 3) . Assim, podemos reescrever o limite como

 x − 3   x + 3  x−3 1 1
lim  2 

 = lim
 = lim = .
 
x → 3  x − 4 x + 3  x + 3   x → 3 ( x − 1) ( x − 3)( x + 3 ) x → 3 ( x − 1) ( x + 3 ) 4 3
  

3− 6+x
4) lim . SOLUÇÃO: Para levantarmos a indeterminação 0/0, devemos fazer
x→3 3− 6 − x
 3 − 6 + x  3 + 6 + x  3 + 6 − x  
lim      =
x → 3  3 − 6 − x  3 + 6 + x  3 + 6 − x  
   

 (3 − x )  3 + 6 − x 
 = lim  (3 − x ) 
  3 + 6 − x   3+ 6 − x  3
lim    = lim  −  =−
x → 3  (− 3 + x )  3 + 6 + x  
 x → 3  − (3 − x )  3 + 6 + x  x → 3  3 + 6 + x 
  3
 

3− 6+x 3
Portanto, lim =− .
x→3 3− 6 − x 3

3
x−3a
5) lim , a ≠0 . SOLUÇÃO: Para resolvermos este problema de limite com indetermi-
x→a x− a
nação 0/0, devemos usar a mudança de variável x = t 3 , ou t = 3 x . Quando x → a, t → 3 a . A-
gora, fazendo a substituição b = 3 a , a = b 3 , temos

3 3
3
x−3a t − 3
a t−b
lim = lim = lim
x→a x− a t→3 a
3
t −a t → b t 3 − b3

Podemos usar Briot-Ruffini para determinar que t 3 − b 3 = (t − b)( t 2 + bt + b 2 ) . Assim,


3
x−3a t−b t−b 1 1
lim = lim 3 3 = lim = lim 2 = 2
x→a x− a t →b t − b 2 2
t → b (t − b)( t + bt + b ) 2
t → b ( t + bt + b ) 3b

Mas como b = 3 a , então:


3
x−3a 1
lim = .
x→a x− a 3
3 a 2
TEOREMA DO COFROTO

Os próximos dois Teoremas dão duas propriedades importantes de limites.

TEOREMA 2.3:

Se f ( x) ≤ g ( x) quando x está próximo de a (exceto possivelmente em a) e os


limites de f e g existirem quando x tende a a, então

lim f ( x) ≤ lim g ( x)
x→a x→a

TEOREMA 2.4 − TEOREMA DO CONFRONTO


Se f ( x) ≤ g ( x) ≤ h( x) quando x está próximo de a (exceto possivelmente em a)
e

lim f ( x) = lim h( x) = L
x→a x→a

então, lim g ( x) = L
x→a

O Teorema do Confronto, algumas vezes chamado de Teorema do Sanduíche ou Teorema da Es-


premedura, está ilustrado na Figura 8. O Teorema diz que se g ficar comprimido entre f e h nas
proximidades de a, e se f e h tiverem o mesmo limite L em a, então g será forçado a ter o mesmo
limite L.

Figura 8. Teorema do Confronto.

Exemplo 12: Mostre que o lim [ x 2 sen (1 x)] = 0 .


x →0
SOLUÇÃO: Observe que não é possível usar lim x 2 ⋅ lim sen (1 x) porque lim sen (1 x) não existe.
x →0 x →0 x→0
Entretanto, sabemos que
− 1 ≤ sen (1 x) ≤ 1

Esta desigualdade, se multiplicada por x 2 , resulta em

− x 2 ≤ x 2 sen (1 x) ≤ x 2

que, quando tomado o limite nesta desigualdade, obtemos

lim − x 2 ≤ lim [ x 2 sen (1 x)] ≤ lim x 2


x →0 x →0 x →0

Agora, sabendo que


lim x 2 = lim − x 2 = 0
x →0 x →0

então pelo Teorema do Confronto, tomando

h( x ) = x 2 , g ( x) = x 2 sen (1 x) e f ( x) = − x 2

temos que obrigatoriamente

lim [ x 2 sen (1 x)] = 0


x →0

EXERCÍCIOS PROPOSTOS

1) Use o Teorema do Confronto para mostrar que lim x 3 + x 2 sen (1 x) = 0 .


x →0

2) Se 1 ≤ f ( x) ≤ x 2 + 2 x + 2 para todo x, encontre lim f ( x) .


x → −1

3) Se 3 x ≤ f ( x) ≤ x 3 + 2 para todo x, encontre lim f ( x) .


x→1

4) Prove que lim x 4 cos (2 x) = 0 , para 0 ≤ x ≤ 2 .


x →0

5) Encontre, quando existir, o limite. Caso não exista, explique por quê.
x+4 x−2
a) lim x + 4 b) lim c) lim
x→ − 4 x→ − 4 − x+4 x→ 2 x−2

x2 − 1
6) Seja F ( x) = .
x −1

a) Encontre lim F (x) e lim F (x) .


x → 1+ x → 1−
b) Existe lim F ( x) ? c) Esboce o gráfico da F.
x→ 1

LIMITES IFIITOS
No cálculo de limites são considerados os símbolos de mais infinito (+∞ ou ∞) e menos infinito,
(−∞), que representam quantidades de módulo infinitamente grande. É importante salientar que o
infinitamente grande não é um número real, mas sim uma tendência de uma variável, ou seja, uma
variável aumenta ou diminui sem limite. Da mesma forma, os símbolos “ +∞ ” e “ −∞ ” não repre-
sentam que o limite exista: é só uma maneira de exprimir uma forma particular de inexistência de
um limite, conforme será dada nas Definições 2.5 e 2.6 a seguir.

Seja f é uma função definida em ambos os lados de a, exceto possivelmente em a, o limite


infinito, escrito como
lim f ( x) = ∞ ,
x→ a

significa que podemos fazer os valores de f ficarem arbitrariamente grandes por meio de uma es-
colha adequada de x nas proximidades de a, mas não igual a a.

Esta definição pode ser colocada de forma mais precisa como a seguir.

DEFINIÇÃO 2.5:

Seja f é uma função definida em algum intervalo aberto que contenha o número a am-
bos os lados de a, exceto possivelmente no própria a. Então

lim f ( x) = ∞
x→ a

significa que para todo número positivo M há um número positivo correspondente δ tal que

f ( x) > M sempre que 0 < x − a <δ

Em outras palavras, esta definição diz que o valor de f pode ser arbitrariamente grande (maior que
qualquer número positivo M dado) tornando x suficientemente próximo de a, mas com x ≠ a. Uma
ilustração geométrica está na Figura 9.
A expressão lim f ( x) = ∞ também pode ser lida como:
x→ a

“O limite de f ( x) , quando x tende a a, é infinito”

ou “ f ( x) cresce sem limitação quando x tende a a”


Figura 9.

Analogamente, um tipo de limite que ocorre quando a função torna-se grande em valor absoluto,
porém negativa, quando x se aproxima de a, está definido a seguir.

DEFINIÇÃO 2.6:

Seja f é uma função definida em algum intervalo aberto que contenha o número a am-
bos os lados de a, exceto possivelmente no própria a. Então

lim f ( x) = −∞
x→ a

significa que para todo número negativo 5 há um número positivo correspondente δ tal que

f ( x) < 5 sempre que 0 < x − a <δ

De forma análoga, a expressão lim f ( x) = −∞ pode ser lida como:


x→ a

“O limite de f ( x) , quando x tende a a, é menos infinito”

ou “ f ( x) decresce sem limitação quando x tende a a”

A seguir será dada a definição de assíntota vertical.

DEFINIÇÃO 2.7 – Assíntota Vertical


A reta x = a é chamada de assíntota vertical da curva y = f ( x) se pelo menos
umas das seguintes condições estiver satisfeita:

a) lim f ( x) = ∞ b) lim f (x) = ∞ c) lim f (x) = ∞


x→ a x→ a − x→ a +

d) lim f ( x) = − ∞ e) lim f (x) = − ∞ f) lim f (x) = − ∞


x→ a x→ a − x→ a +
Por exemplo, a Figura 9 mostra a assíntota vertical x = a onde está satisfeita a condição (a), e por
conseqüência as condições (b) e (c). Outros exemplos estão dados nas Figuras 10.a e 10.b.

Figura 10. a Figura 10. b

Na Figura 10.a as condições de assíntota vertical que são satisfeitas são (b) e a (d). Enquanto na
Figura 10.b a condição satisfeita é a (f).

2 2
Exemplo 13: Encontre lim e lim .
x→ 2 − x − 2 x→ 2 + x − 2
SOLUÇÃO: Para valores de x menores do que 2, porém próximos, o denominador x −2 é um núme-
ro com pequeno valor absoluto, mas negativo e, portanto, 2/( x −2) é um número grande em valor
absoluto, porém negativo. Assim, intuitivamente vemos que
2
lim = −∞
x→ 2 − x−2

Da mesma forma, para valores de x maiores do que 2, porém próximos, o denominador x −2 é um


número positivo pequeno, e 2/( x −2) é um número positivo grande. Intuitivamente vemos que
2
lim =∞
x→ 2 + x−2

O gráfico da curva 2/( x −2) está na Figura 11. A reta x = 2 é a


assíntota vertical.
Figura 11.
Exemplo 14: Encontre as assíntotas verticais de f ( x) = tan x .
sen x
SOLUÇÃO: Como tan x = , então existem assíntotas verticais nos pontos onde cos x = 0 . De
cos x
fato, como
cos x →0 + quando x → (π 2) − e cos x →0 − quando x → (π 2) +

e considerando que sen x é positivo quando x está próximo de π /2, temos

lim tan x = ∞ e lim tan x = −∞


x → (π 2 ) − x → (π 2 ) +

Isto mostra que a reta x = π /2 é uma assíntota vertical. Na realidade, o mesmo raciocínio mostra
que as retas x = (2n + 1) π 2 , onde n é um inteiro, são todas assíntotas verticais de f ( x) = tan x ,
conforme gráfico mostrado na Figura 12.

Figura 12.

LIMITES O IFIITO – Assíntota Horizontal


Já estudamos as assíntotas verticais. Lá tomamos x tendendo a um número e o resultado era que os
valores de f (x) ficavam arbitrariamente grandes em módulo. Agora vamos tornar x arbitrariamente
grande em módulo e ver o que acontece com a f (x).
x2 − 1
Vamos analisar o comportamento da f definida por f ( x) =
x2 + 1
X f (x)

0 -1,000000

±3 0,800000

± 10 0,980000

± 100 0,999200

± 1000 0,999998
Assim, quanto maior o x, mais próximo de 1 ficam os valores da função. Essa situação é expressa
na Figura 13.

Figura 13.

Simbolicamente escrevemos: lim f ( x) = 1 .


x→ ± ∞

Em geral, usamos a notação


lim f ( x) = L
x→ ∞

para indicar que os valores de f (x) ficam cada vez mais próximos de L à medida que x fica maior.

DEFINIÇÃO 2.8:
Seja a função f definida em algum intervalo (a, ∞). Então
lim f ( x) = L
x→ ∞

significa que para todo ε > 0, existe um correspondente número 5 tal que

f ( x) − L < ε sempre que x>5

Em outras palavras, esta definição estabelece que valores de f (x) podem ficar arbitrariamente pró-
ximos de L (dentro de uma distância ε, onde ε > 0), bastando para isto tornar x suficientemente
grande (maior que 5, onde 5 depende de ε ). Graficamente, isto quer dizer que escolhendo x sufi-
cientemente grande (maior do que um número 5) podemos fazer o gráfico de f ficar entre duas
retas horizontais dadas por y = L − ε e y = L + ε , como apresenta a Figura 14.

Figura 14.
A reta x = L é chamada assíntota horizontal.
Analogamente, podemos definir:

DEFINIÇÃO2.9:
Seja a função f definida em algum intervalo (−∞, a). Então
lim f ( x) = L
x→ − ∞

significa que para todo ε > 0, existe um correspondente número 5 tal que

f ( x) − L < ε sempre que x<5

Esta definição significa que os valores de f podem ficar arbitrariamente próximos de L, tornando-
se x suficientemente grande em módulo, mas negativo ( x < 5 ).

1
Exemplo 15: Provar, usando a Definição 2.8, que o lim =0.
x→ ∞ x

SOLUÇÃO:
1
Quando x torna-se arbitrariamente grande, notamos que a função f ( x) = aproxima-se de zero.
x
Formalmente, pela Definição 2.8, dado ε > 0, devemos determinar um correspondente número 5
tal que
1
−0 <ε sempre que x>5
x
1
<ε sempre que x>5
x
1
<ε sempre que x > 5 , já que 1/x é positivo
x
1
x> sempre que x>5
ε

Isto sugere que quando 5 = 1 ε , temos que 1 x − 0 < ε . Logo, provamos o limite solicitado.
Graficamente, como mostra a Figura 15, quando 5 = 2, ε = 0,5 e quando 5 = 4, ε = 0,25,
mostrando que podemos fazer a função ficar tão próxima de zero quando desejarmos, tomando
valores de 5 cada vez maiores:

1
− 0 < 0 ,5 sempre que x>2
x
1
− 0 < 0 ,25 sempre que x>4
x
Figura 15.

Note que a reta y = 0 é uma assíntota horizontal.

TEOREMA 2.5:
Se r > 0 for um número racional, então
1
lim =0
x→ ∞ xr
Se r > 0 for um número racional tal que x r for definida para todo x, então
1
lim =0
x→ − ∞ xr

3x2 − x + 2
Exemplo 16: Encontre lim .
x→ ∞ 5 x 2 + 4x +1
SOLUÇÃO: Para calcular o limite no infinito de uma função racional, primeiro dividimos o nume-
rador e o denominador pela maior potência de x que ocorre no denominador. Neste caso, a maior
potência no denominador é x 2 . Resolvido em Aula!

2.2 COTIUIDADE

Já vimos que o limite de uma função quando x tem a a pode muitas vezes ser encontrado simples-
mente calculando o valor da função em a. Funções com essa propriedade são chamadas de função
contínua em a. Por continuidade podemos entender como um processo que ocorre gradualmente,
sem interrupções ou mudanças abruptas).

DEFINIÇÃO 2.10: Uma função f é contínua em um número a se

lim f ( x) = f (a )
x→ a
Se f não for contínua em a, dizemos que f é descontínua em a. A definição 2.10 requer três condi-
ções para a continuidade de f em a:

1. A f (a ) está definida, isto é, a está no domínio da f.


2. O lim f ( x) existe; a f deve ser definida em um intervalo aberto que conte-
x→ a

nha a.
3. lim f ( x) = f (a ) .
x→ a

A definição diz que f é contínua em a se a f ( x) tende a f (a ) quando x aproxima-se de a. Isto


significa que a função contínua tem a propriedade que uma pequena variação em x resulte em uma
pequena variação em f ( x) . Em outras palavras, a variação de f ( x) pode ser mantida tão pequena
quanto desejarmos, mantendo a variação em x suficientemente pequena. Figura 16.

Figura 16.

Exemplo 17: A Figura 17 mostra o gráfico de uma função f. Em quais números f é descon-
tínua? Por quê?

SOLUÇÃO:
Há uma descontinuidade quando a = 1,5, pois neste ponto há um “salto”, chamada descontinuida-
de de salto. A condição não satisfeita é que o limite lateral esquerdo é diferente do limite lateral
direito, isto é, o limite não existe (item 2).
Em a = 2 também há uma descontinuidade. O limite neste ponto existe, já que os limites laterais
existem e são iguais. A função também está definida neste número a. Entretanto, o valor do limite
é diferente do valor da função em a (item 3)

lim f ( x) ≠ f (2)
x→ 2

Logo a função é descontínua neste ponto (há uma quebra no gráfico da função).
Figura 17.

Exemplo 18: Onde cada uma das funções é descontínua? Por quê?

 x2 − x − 2
x2 − x − 2  se x ≠ 2
a) f ( x) = b) f ( x) =  x − 2
x−2 1
 se x = 2
1
 se x ≠ 0
c) f ( x) =  x 2
1 se x = 0

SOLUÇÃO:
(a) Note que f (2) não está definida. Portanto, f é descontínua em 2, pois a condição (1) não está
satisfeita.

(b) Neste exemplo, a f está definida em 2, f (2) = 1

x2 − x − 2 ( x − 2)( x + 1)
lim f ( x) = lim = lim = lim ( x + 1) = 3
x→ 2 x→ 2 x−2 x→ 2 x−2 x→ 2

mas o limite lim f ( x) ≠ f (2) . Logo a condição (3) não está satisfeita.
x→ 2

1
(c) Para a função dada, o limite lim f ( x) não existe como número: lim = ∞.
x→ 0 x→ 0 x2

As representações gráficas dessas funções dadas nos itens (a), (b) e (c) estão apresentadas
na Figura 18 (a), (b) e (c), respectivamente. As descontinuidades mostradas em (a) e (b) são cha-
madas de descontinuidades removíveis. Para que uma descontinuidade de uma função f seja remo-
vível em um ponto a, o lim f ( x) deve existir. Estes são os casos de descontinuidade de “buraco”.
x→ a

A descontinuidade em que o limite da função não existe em a é chamada de descontinuidade es-


sencial. Este é o caso de descontinuidade infinita (como mostra o item (c)) e a descontinuidade de
salto em que o valor da função “salta” de um valor para outro, como mostrado na Figura 17.

Figura 18: (a) (b) (c)

DEFINIÇÃO 2.11: Uma função f é contínua à direita de um número a se

lim f ( x) = f (a)
x→ a +
Uma função f é contínua à esquerda de um número a se
lim f ( x) = f (a)
x→ a −

DEFINIÇÃO 2.12:
Uma função f é contínua em um intervalo se for contínua em todos os números
do intervalo.

Exemplo 19: Mostre que a função f ( x) = 1 − 1 − x 2 é contínua no intervalo [−1, 1].


SOLUÇÃO: Se − 1 < a < 1 , então, usando as leis do limite, temos

lim f ( x) = lim  1 − 1 − x 2  = 1 − lim  1 − x 2  = 1 − 1 − lim x 2 = 1 − 1 − a


x→ a x → a  x → a  x→ a

lim f ( x) = f (a )
x→ a

Assim, pela Definição 2.10, a f é contínua em a se − 1 < a < 1 . Podemos mostrar que
lim f ( x) = f (−1) e lim f ( x) = f (1)
x→ −1+ x → 1−

Portanto, f é contínua à direita em −1 e à esquerda de 1. Assim, pela Definição 2.13, f é contínua


em [−1, 1].
Podemos usar propriedades algébricas para construir novas funções. O limite de tais fun-
ções pode ser determinado a partir do seguinte Teorema.

TEOREMA 2.6:
Se f e g forem funções contínuas em a e se c for uma constante, então as seguintes
funções são continuas em a.

f
1. f + g 2. f – g 3. c f 4. f g 5. se g(a) ≠ 0
g

Como conseqüência do Teorema 2.6 e das propriedades do limite, como já foi observado, temos
que:

1. Qualquer polinômio é contínuo em toda parte: é contínuo em todos R.

2. Qualquer função racional é contínua em todo seu domínio.

2x3 + x2 − 3
Exemplo 20: Encontre o limite lim .
x→ − 2 3x − 5
SOLUÇÃO: A função dada é uma função racional. Assim, pelo que foi dito anteriormente, esta fun-
ção é contínua em todo seu domínio, isto é, em {x| x ≠ 5 / 3} . Logo,

2x3 + x2 − 3 17
lim = f (−2) =
x→ − 2 3x − 5 11

OBSERVAÇÃO:
Pode ser visto no Capítulo 1, através das formas dos gráficos apresentados nas Figuras 25 e 26,
que as funções Seno e Cosseno são contínuas em R. Sabemos, das definições de Seno e Cosseno,
que as coordenadas do ponto P sobre o círculo trigonométrico são (cosθ, senθ), então podemos
inferir que quando P tende ao ponto (1, 0),
lim cos θ = 1 e lim sen θ = 0
θ →0 θ →0

Já que cos 0 = 1 e sen 0 = 0 , pela definição de continuidade, assegura-se que estas funções são
contínuas em 0. Estas funções são na verdade contínuas em todos os reais.
Por sua vez, a função tangente, definida como

sen x
tan x = ,
cos x

como podemos observar seu gráfico na Figura 12 deste Capítulo, é contínua exceto onde cos x = 0 .
Isto ocorre quando x é um múltiplo inteiro ímpar de π 2 : isto é x = ± π 2 , ± 3π 2 , ± 5π 2 K .Veja
a Figura 12 deste Capítulo.

A função inversa de uma função contínua é também contínua!

Outra forma de combinar funções contínuas f e g para formar funções contínuas é formar a função
composta f o g . Segue o Teorema

TEOREMA 2.7:
Seja f contínua em b e lim g ( x) = b , então lim f ( g ( x)) = f (b) . Em outras pala-
x→ a x→ a

vras,
 
lim f ( g ( x)) = f  lim g ( x) 
x→ a  x→ a 

π − x 
Exemplo 21: Encontre o limite lim sen  .

x→ 0  2 − x 
SOLUÇÃO: Uma vez que a função Seno é contínua em todo o domínio, podemos aplicar o Teorema
2.7:
π − x   
lim sen   = sen  lim π − x  = sen π = 1
  x→ 0 2 − x 
x→ 0  2−x    2
TEOREMA 2.9:
Se g for contínua em a e f for contínua em g(a), então a função composta f o g
dada por ( f o g ) ( x) = f ( g ( x)) é contínua em a.

Este Teorema 2.9 diz que uma função contínua de uma função contínua é também uma função
contínua.

Uma propriedade importante das funções contínuas está expressa pelo Teorema abaixo.

TEOREMA 2.10 − Teorema do Valor Intermediário:


Suponha que f seja contínua em um intervalo fechado [a, b] e seja 5 um núme-
ro qualquer entre f (a) e f (b) . Então existe um número c em (a, b) tal que f (c) = 5 .

O Teorema do Valor Intermediário estabelece que uma função contínua assume todos os
valores intermediários entre os valores funcionais f (a) e f (b) . Se imaginarmos uma função con-
tínua cujo gráfico não tem buracos nem saltos, então é fácil observar que o Teorema do Valor In-
termediário é verdadeiro. Em termos geométricos, o Teorema estabelece que se for dada uma reta
horizontal qualquer y = 5 entre f (a) e f (b) , como na Figura 19, então o gráfico de f (contínua)
deverá interceptar y = 5 em algum ponto.

Figura 19: Teorema do Valor Intermediário.

Exemplo 22: Mostre que existe uma raiz da equação 4 x 3 − 6 x 2 + 3 x − 2 = 0 entre 1 e 2.


SOLUÇÃO: Sendo f ( x) = 4 x 3 − 6 x 2 + 3 x − 2 uma função contínua, estamos procurando um número
c tal que f (c) = 0 . Portanto, tomando a = 1, b = 1 e 5 = 0 no Teorema do Valor Intermediário,
temos

f (1) = 4 (1) 3 − 6 (1) 2 + 3(1) − 2 = − 1 < 0

f ( 2) = 4 (2) 3 − 6 (2) 2 + 3(2) − 2 = 12 > 0

Isto significa que 5 = 0 é um número entre f (1) = − 1 e f (2) = 12 . Como f é um polinômio e este
é contínuo em todo o R, o Teorema do Valor Médio estabelece que existe um número c em (1, 2)
tal que f (c) = 0 . Isto significa que a equação 4 x 3 − 6 x 2 + 3 x − 2 = 0 tem pelo menos uma raiz no
intervalo dado.
CAPÍTULO 3 – TANGENTES

RETAS TAGETES E VELOCIDADES

Neste capítulo, estimamos as inclinações das retas tangentes e as velocidades. Com a defi-
nição de limites, estamos aptos a computar as inclinações das retas tangentes e velocidades.

3.1 TAGETES

Se uma curva C tiver uma equação y = f ( x) e quisermos encontrar a tangente à C em um


ponto P(a, f (a)) , consideramos um ponto vizinho Q( x, f ( x)) , onde x ≠ a , e calculamos a inclina-
ção da reta secante PQ:

f ( x) − f (a)
mPQ =
x−a
Então, fazemos Q aproximar-se de P ao longo da curva C ao obrigar x tender a a. Se mP Q tender a
um número m, então definimos a tangente t como sendo a reta que passa por P e tem inclinação m.
Isto significa que a reta tangente é a posição limite da reta secante PQ quanto Q tente a P.

Figura 20
DEFINIÇÃO 3.1 – Reta Tangente:
A reta tangente a uma curva y = f ( x) em um ponto P(a, f (a)) é:

i. a reta que passa por P que tem inclinação

f ( x) − f (a)
m = lim
x→a x−a

desde que este limite exista.

ii. a reta x = a se

f ( x) − f (a)
lim for ∞ ou - ∞
x→a+ x−a

f ( x) − f (a)
lim for ∞ ou - ∞
x→a− x−a

Exemplo 23: Encontre uma equação da reta tangente à parábola y = x 2 no ponto P(1, 1).
SOLUÇÃO: Aqui a = 1 e f ( x) = x 2 , então temos que a inclinação é dada por

f ( x) − f (a) x2 − 1 ( x − 1) ( x + 1)
m = lim = lim = lim =2
x→a x−a x →1 x − 1 x →1 x −1
Usando a forma ponto-inclinação da reta encontramos que uma equação da reta tangente em (1, 1)
é
y − 1 = 2( x − 1) ou y = 2 x − 1

Há outra forma de expressar a inclinação da reta tangente, frequentemente usada em livros de cál-
culo, que surge da mudança

∆x = x − a ou x=∆x+a
com esta mudança, temos que

f (a + ∆ x) − f (a)
mPQ =
∆x
e a inclinação da reta tangente é dada pelo limite

f (a + ∆ x) − f ( a)
m = lim
∆x →0 ∆x

(Observe que quando x → a , ∆ x → 0 ). Essa última forma de escrever a inclinação da reta tangen-
te será usada em todo o decorrer desta apostila

Exemplo 24: Ache uma equação da reta tangente à hipérbole y = 3 x no ponto P(3, 1).
SOLUÇÃO: Aqui f ( x) = 3 x , então temos que a inclinação em (3, 1) é dada por

3 3 − (∆ x + 3)
−1
f (a + ∆ x) − f (a) 3 + ∆x 3 + ∆x
m = lim = lim = lim
∆x →0 ∆x ∆x →0 ∆x ∆x →0 ∆x
− ∆x 1
= lim =−
∆ x → 0 ∆ x (3 + ∆ x ) 3

Logo, a equação da reta tangente no ponto (3,1) é

1
y − 1 = − ( x − 3) ou 3 y + x −6 = 0
3

DEFINIÇÃO 3.2 – Reta Normal:


A reta normal a um gráfico em um dado ponto é a reta perpendicular à reta tangente
naquele ponto e é dada por

1
m5 = −
m

onde m5 é a inclinação da reta normal e m é a inclinação da reta tangente.

Exemplo 25: Ache a inclinação da reta normal à hipérbole y = 3 x no ponto P(3, 1), usan-
do o exemplo 24.

SOLUÇÃO: De acordo com a definição 3.2, a inclinação da reta normal à hipérbole dada no ponto
P(3, 1) é m 5 = 3 .

3.2 VELOCIDADES
Suponha um objeto movendo-se sobre uma linha reta, chamado movimento retilíneo, de
acordo com a equação s = f (t ) , onde s é o deslocamento do objeto a partir da origem no ins-
tante t. A função que descreve o movimento é chamada de função posição do objeto. No inter-
valo de tempo entre t = a e t = ∆ t + a , a variação na posição será de f ( a + ∆ t ) − f ( a) . A velo-
cidade média nesse intervalo é

deslocamento f (a + ∆ t ) − f (a)
velocidade média = =
tempo ∆t

Suponha agora que a velocidade média seja calculada em intervalos cada vez menores, em ou-
tras palavras, fazemos ∆ t → 0 , definimos como velocidade ou velocidade instantânea v(a) , no
instante t = a, como sendo o limite da velocidade média, ou seja

f (a + ∆ t ) − f ( a)
v(a ) = lim
∆ t →0 ∆t

Isto significa que a velocidade no instante t = a é igual à inclinação da reta tangente em P.

Exemplo 26: Considere que uma bola foi deixada cair do posto de observação da torre,
450m acima do solo.
a) Qual a velocidade da bola após 5 segundos?
b) Com qual velocidade a bola chega ao solo?

1
SOLUÇÃO: Sabendo que a equação de movimento é dada por s (t ) = f (t ) = s0 + g t 2 , onde s0
2
2
é a distância inicial, g = 9,8 m/s é a aceleração da gravidade e t é o tempo. Para encontrar a
velocidade v após a segundos:

f (a + ∆ t ) − f (a) 4 ,9 (a + ∆ t ) 2 − 4 ,9 a 2
v(a ) = lim = lim
∆ t →0 ∆t ∆ t →0 ∆t
4 ,9 (a 2 + 2 a∆ t + ∆ t 2 − a 2 ) 4 ,9 ∆ t (2 a + ∆ t )
= lim = lim
∆ t →0 ∆t ∆ t →0 ∆t
= lim 4 ,9 (2 a + ∆ t ) = 9 ,8 a
∆ t →0

(a) Após 5 segundos, a velocidade da bola é v(5) = 9 ,8 .5 = 49 m s .


(b) Uma vez que o posto de observação está 450m acima do solo, a bola irá atingir o chão em
t1 quando s (t1 ) = 450 m , ou seja,

450
4 ,9 t12 = 450 ou t1 = = 9 ,6 s
4 ,9
Logo, a velocidade com que a bola atinge o solo é

450
v(t1 ) = 9 ,8 = 94 m s
4 ,9

3.3 DERIVADAS

Na seção 3.1 definimos a inclinação da reta tangente à uma curva com equação y = f (x) no
ponto x = a como sendo

f (a + ∆ x) − f ( a)
m = lim
∆x →0 ∆x

Este limite é tão importante que será a definição de derivada da função f em x = a. Como a é um
valor arbitrário no domínio da f, então podemos definir a derivada de f como uma função de x,
fazendo simplesmente x = a. Assim, temos a definição

DEFINIÇÃO 3.3 – Função Derivada:


A derivada de uma função f é a função denotada por f’, tal que seu valor em qualquer
número x é

f ( x + ∆ x) − f ( x)
f ' ( x) = lim
∆x →0 ∆x

Se esse limite existir.

O domínio da derivada de f, a f’, é o conjunto de pontos no domínio da f para o qual o limite


existe. Assim, o domínio da f’ pode ser igual ou menor do que o domínio da f. Se f é derivável em
ponto x, dizemos que f é derivável em x. O processo para calcular uma derivada é chamado deri-
vação.

ITERPRETAÇÕES DA DERIVADA:
A derivada, segunda a sua definição, tem duas interpretações: uma geométrica (inclinação
da reta tangente ao gráfico da função) e outra como taxa de variação (ou velocidade).

CÁLCULO DA DERIVADA A PARTIR DE SUA DEFIIÇÃO:

Exemplo 27: Ache a derivada de f se f ( x) = m x + b , onde m e b são números reais.


SOLUÇÃO: Usando a definição de derivada de uma função, temos
f ' ( x) = lim
f ( x + ∆ x) − f ( x)
= lim
[m ( x + ∆ x) + b] − [m x + b]
∆x →0 ∆x ∆x →0 ∆x
m∆ x
= lim = lim m = m
∆x →0 ∆x ∆x →0

Logo, a derivada da f ( x) = m x + b é f ' ( x) = m .

Exemplo 28: Calcule a derivada de g se g ( x) = a x 2 + b , onde a e b são números reais.


SOLUÇÃO: Pela definição de derivada de uma função, temos

'
g ( x) = lim
f ( x + ∆ x) − f ( x)
= lim
[ ] [
a ( x + ∆ x) 2 + b − a x 2 + b ]
∆x →0 ∆x ∆x →0 ∆x

= lim
[a x 2
]
+ 2 a x ∆ x + a (∆ x) 2 + b − a x 2 + b
= lim
2 a x ∆ x + a (∆ x) 2
∆x →0 ∆x ∆x →0 ∆x
= lim 2a x + a ∆ x = 2 a x
∆x →0

Assim, a derivada da função g é uma função g' definida por g ' ( x) = 2a x . O domínio da g' é o
conjunto de todos os reais, sendo o mesmo domínio da g. Deve ser observado, pelos exemplos
anteriores, que a soma de um número real a uma função não altera a derivada da função, já que a
inclinação da reta tangente não é alterada com a translação vertical da curva y = f ( x) , conforme
Fig. 21 abaixo; esta observação é sempre verdadeira para qualquer função.

Figura 21

Exemplo 29: Ache a derivada de f se f ( x) = x .


SOLUÇÃO: Pela definição,
f ( x + ∆ x ) − f ( x) ( x + ∆ x) − x
f ' ( x) = lim = lim
∆x →0 ∆x ∆x →0 ∆x

= lim
[ ( x + ∆ x) − x ][ ( x + ∆ x) + x ]= lim
( x + ∆ x) − x
∆x →0 [
∆ x ( x + ∆ x) + x ] ∆x →0 ∆ x [ ( x + ∆ x) + x ]
∆x 1
= lim = lim
∆x →0 ∆x [ ( x + ∆ x) + x ] ∆x →0 [ ( x + ∆ x) + x ]
1
=
2 x

OTAÇÕES:

Você também pode gostar