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Alfi, São Paulo

27:9-22, 1983.

O SENTIDO E A FORMA NA
ESTRUTURA DO SIGNO
Waldir BEIVIDAS *

RESUMO: Com o objetivo de ressaltar a economia que o princípio da arbitrariedade do signo, for-
mulado por Saussure, pode conferir às teorias da linguagem na sua tentativa de superar concepções me-
tafísicas — sempre presentes, implícita ou explicitamente, quando se aceita a presença do real como re-
ferente do signo — e de adquirir um estatuto científico no seu procedimento descritivo, o autor propõe,
a título de hipótese, uma reinterpretação da noção de sentido em Hjelmslev, que a seu ver consegue pôr
em evidência a posição formal do signo saussuriano em relação ao seu referente (intra-semiótico).
UNITERMOS: Arbitrariedade; sentido (do conteúdo e da expressão); função semiótica; contínuo
amorfo; forma do conteúdo; forma da expressão; conceptualização; referente.

INTRODUÇÃO: A ARBITRARIEDA- pouco, como o de maior economia para a


DE DO SIGNO; O SENTIDO teoria lingüística, que se firmou como dis-
Reduzindo ingratamente a umas pou- ciplina autônoma, e como o princípio
cas linhas toda a problemática da lingua- fundamental da teoria semiótica que dela
gem que se vem apoderando das cabeças se originou.**
de muitos filósofos, lógicos e lingüistas, A economia do princípio da arbitra-
desde a antigüidade grega, diríamos que riedade do signo lingüístico não poderia
Ferdinand de Saussure lançou, no final do aqui ser ressaltada sem um exame prévio
século passado, as bases de uma teoria lin- de outro conceito, muito polêmico, que
güística que, por oposição às que lhe ante- na verdade ocupará o centro das nossas
cederam, via a língua não como uma cole- atenções: o sentido.
ção de etiquetas que estão colocadas às Sabe-se que essa palavra, tendo mui-
'coisas' do mundo de modo natural e to mais idade do que o princípio da arbi-
ajustado, mas como um sistema de signos trariedade, pode-se constituir como que
cujo arranjo e dependências internas se um 'calcanhar-de-Aquiles' das ciências
dão de modo arbitrário por relação às humanas voltadas para o problema da sig-
'coisas' a que eles se referem. nificação. Estudada por filósofos, refor-
O princípio da arbitrariedade do sig-. mulada por lógicos e até, às vezes, descar-
no lingüístico foi objeto de muitas discus- tada das preocupações de lingüistas
sões e controvérsias, dada a imprecisão de (Bloomfield) ou reduzida a implicações
algumas colocações e exemplos do Cours. menos comprometedoras (Greimas), essa
Mas justamente, graças a essas discus- palavra, indócil a análises de qualquer na-
sões, tal princípio se evidenciou, pouco a tureza, sempre surge em cena como que

* Pós-graduando em Lingüística pela Universidade de São Paulo.


Referimo-nos aqui à semiótica européia e nSo à de Peirce, que se originou com base na Lógica.

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ameaçando os progressos dos discursos Portanto, limitando-nos ao indispen-


das ciências humanas, na sua tentativa de sável, iremos de chofre à interpretação
se tornarem científicos. que, presumimos, mais tornou clara a for-
mulação do princípio da arbitrariedade e
Sob essa constante ameaça e tendo evidenciou seu alcance epistemológico,
que conviver com a sua presença incômo- como também serviu de ponto de partida
da, os ensaios teóricos desenvolvem pelo para a interpretação particular que aqui
menos algumas estratégias que permitem, damos ao sentido: a de Hjelmslev.
mesmo não dando conta de sua definição,
abordá-lo (na acepção etimológica do ter-
mo), arranjando-lhe alguma explicação UMA TIDO
REINTERPRETAÇÃO DO SEN-
DE HJELMSLEV
(de compreensão, não de definição) que
possibilite ao discurso ir adiante, sem ferir Este autor ressaltou um texto do
mortalmente a coerência interna da hie- capítulo IV do Cours, bastante represen-
rarquia dos seus modelos. tativo da concepção saussuriana de língua
e da arbitrariedade do signo:
No nosso caso o incômodo é um tan- "Considerado em si mesmo, o pensa-
to maior: por um lado, o sentido se apre- mento é como uma nebulosa onde
senta aqui como o próprio objeto de nada está necessariamente delimita-
conhecimento a ser examinado, uma vez do. Não há idéias preestabelecidas, e
que tentaremos, a partir da noção de sen- nada se distingue antes do apareci-
tido de Hjelmslev (purport), sugerir, a mento da língua... A substância fôni-
título de hipótese, uma nova delimitação ca não é nem mais fixa nem mais rígi-
da mesma noção, que acreditamos ganhar da; não é um molde cujas formas o
em operacionalidade para a teoria linguis- pensamento deva necessariamente to-
tica (e semiótica) (se sancionada sua vali- mar, mas sim uma matéria plástica
dade teórica); por outro, os limites do que se divide, por sua vez, em partes
presente trabalho impedem que se passem distintas a fim de fornecer os signifi-
em revista as soluções teóricas propostas cantes de que o pensamento necessi-
ao conceito de sentido pelos filósofos an- ta. Portanto, podemos representar
tigos, pelos lógicos modernos e por lin- (...) a língua (...) como uma série de
güistas de diferentes correntes, tarefa que subdivisões contíguas desenhadas si-
sem dúvida seria prioritária num eventual multaneamente no plano indefinido
prolongamento do assunto. das idéias confusas (...) e no plano
não menos indeterminado dos sons
Através da sugestão hipotética que (...); a língua elabora suas unidades
propomos aqui, permitimo-nos também ao constituir-se entre duas massas
reexaminar o modelo triangular da estru- amorfas (...) esta combinação pro-
tura do signo, formulado por Ogden e Ri- duz uma forma, não uma substân-
chards, com a intenção de ressaltar, ainda cia'*.*
que sucintamente, isto é, sem discutir em
detalhes a sua complexidade, a economia Hjelmslev considerou o exemplo de
que o princípio da arbitrariedade traz pa- Saussure uma experiência feliz, mas que
ra a formulação de um modelo de estrutu- carregava ainda alguns resquícios da con-
ra do próprio signo, como também as im- cepção da existência de "substância do'
plicações epistemológicas que ele acarreta conteúdo (pensamento)" ou de substância
para a construção do discurso científico fônica anterior a o aparecimento d a
em lingüística e em semiótica. língua. Ou seja, viu nessa formulação um
• SAUSSURE, F. de-Cours...2ed. p.l55-157/n: HJELMSLEV, 1975 p.55.
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"postulado não necessário" que a lin- mo uma massa amorfa, uma grandeza
güística, ao se pretender científica, deve não analisada..." (Hjelmslev 3, p.56).
evitar. Adota então uma explicação Vê-se que ao invés de postular a exis-
empírica, com orientação inversa, ao pro- tência de uma "massa amorfa" preceden-
curar extrair, após uma comparação entre te às línguas, da qual estas vão-se apro-
realizações de cadeias linguísticas d e priando, pelas suas articulações, de deter-
línguas diferentes, um fator comum a to- minadas porções, Hjelmslev procura infe-
das elas, a que chamou Sentido (no inglês, rir a existência (metodológica e operacio-
o termo é purport). nal) de um fator comum, o sentido, às vá-
Os exemplos por ele escolhidos, já rias realizações lingüísticas após uma
tornados clássicos, são: comparação entre essas e uma abstração
1) jeg véd det ikke (Dinamarquês) do princípio que as estruturas nos seus es-
2) I do not know (Inglês) pecíficos sistemas lingüísticos.
3) jenesaispas (Francês)
4) entiedà (Finlandês) 1. Um primeiro diagrama
5) naluvara (Esquimó)
Todos eles possuiriam, apesar das di- Se representamos os exemplos de
ferentes articulações, um sentido comum, Hjelmslev por meio de figuras geométri-
"o mesmo pensamento que, assim consi- cas, temos o seguinte diagrama ilustrati-
derado, apresenta-se provisoriamente co- vo:

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onde, apesar das diferentes articulações que não as escolhidas? e nesse último ca-
de cada língua (1,2,3,4,5), haveria uma so: quais critérios comandariam a organi-
zona partilhada por todas (em intersec- zação e hierarquização dessas novas inter-
ção) e que constituiria o sentido comum a secções? É-nos difícil pensar num discur-
elas, o qual poderíamos traduzir pelo la- so científico que se construa no labirinto
tim como NON SCIO. de intersecções que daí se originaria.
Contudo, mesmo já descontando as
reservas sempre necessárias que se têm de 2. Um segundo diagrama
fazer aos esquemas geométricos que pro-
curam ilustrar as articulações do pensa- Uma leitura particular dos escritos de
mento e do espírito humanos, o esquema Hjelmslev sugere que se possa representar
acima parece, por si só, insuficiente e in- vantajosamente a sua concepção do senti-
seguro: ainda mais porque, qual explica- do, através de um outro diagrama, a sa-
ção consegue dar conta das 'partes' das ber:
realizações que ficaram fora da intersec- em que Z corresponde ao que Hjelmslev
ção? não fariam parte do sentido? seriam chama de "contínuo amorfo" (inferível a
'outra coisa' que não o sentido? ou esta- partir do conjunto de todas as possíveis
riam em intersecção, compondo outros realizações das cadeias lingüísticas ou se-
tantos sentidos, com outras articulações mióticas de modo geral) e em que Y cor-

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responde ao sentido comum às diferentes OBSERVAÇÃO: Não podemos


realizações das várias línguas escolhidas, omitir aqui o receio de que esta interpreta-
abstraídos os princípios que estruturam ção possa eventualmente estar distorcen-
diferentemente tais realizações. do o pensamento de Hjelmslev. Em con-
Explica-se: o conjunto das várias rea- trapartida,
tas de
as leituras que podem ser fei-
autores modernos como Greimas
lizações ou recortes lingüísticos, das dife- ou Pottier sugerem
rentes línguas, incide numa mesma zona intermediária sejaqueumaessa instância
(Y) do contínuo amorfo. A intersecção dológica que, de um ou de outro modo,meto-
necessidade
desses recortes, por sua vez, permite a in- parece estar presente em todos eles. De fa-
ferência de que eles, em conjunto, deli-
neiam no contínuo uma zona comum de to, seu
quando Pottier procura estabelecer
"esquema de comunicação" ele não
sentido, do NON SCIO. toma o "mundo de referência (real ou
A particularidade desta leitura está imaginário)"
cado em
como elemento a ser codifi-
seguida, a não ser fazendo-o pas-
em que ela sugere que o sentido não é ime- sar por uma instância "fundamental" que
diatamente identificado a o contínuo chama da "conceptualização",
amorfo — como Hjelmslev teria dito mais opera uma "redução seletiva da onde se
referên-
ou menos explicitamente quando afirma cia". No mesmo autor, encontramos o
que o sentido se apresenta "provisoria- conceito de "lexe", "conceito informe
mente como uma massa amorfa" — mas (p.ex.: ÁGUA QUE CAI DO CÉU) que
que ele se apresenta como uma instância vai ser informado numa categoria nomi-
(metodológica) intermediária entre nal o verbal numa língua (chover; chu-
contínuo e as realizações propriamente di- va)".ou Ainda que a chame de "hipótese
tas, isto é, funções semióticas das cadeias eventual" — e que pareça carregar alguns
lingüísticas.* comprometimentos com a natureza lin-
O próprio Hjelmslev parece que- mo), güística (cf. a própria cunhagem do ter-
nos entender desse modo, embora implici- belecer, ao contrário do nosso desejo de esta-
tamente. Com efeito, ao arrolar exemplos do para com o sentido, um conceito váli-
para reiterar a sua concepção de sentido, menos encoberta asemiótica
qualquer — não deixa
necessidade dessa ins-
menciona a zona de sentido do espectro tância 'conceptual (cf. 8, p. 21-45).
das cores, a zona dos números, aquela do sua vez, a preocupação de Greimas dePor es-
espectro dos sons, a zona dos tempos ver- tabelecer o signo tendo por referência não
bais. Ao ressaltar a "ausência de concor- uma realidade 'bruta', primeira, mas um
dância no interior de uma mesma zona de "segundo nível de realidade natural", e
sentido" (cf. 3, p.59 - grifo nosso), suge- querendo ver o referente tratado como
re, no mesmo movimento, a existência (o- um "conjunto de sistemas semióticos
peratória) de mais de uma zona de senti- mais ou menos implícitos"
do. Ou seja, mesmo sem se dar conta ex- tico a que gostaríamos de — nível semió-
fazer homolo-
plicitamente, Hjelmslev parece conceder, gar a interpretação que aqui damos ao
pois, que, no contínuo amorfo se desenha
um conglomerado de zonas de sentido, as sentido — é bastante elucidativa da neces-
quais se apresentam provisoriamente co- sidade de se ter uma instância (semiótica e
mo grandezas informes mas suscetíveis de conceptual) que sirva de suporte referen-
formações distintas nas diversas línguas. cial às significações das semioses localiza-
* A função semiótica é a relação de pressuposição recíproca que se estabelece entre os dois planos do signo, expressão e
conteúdo — mais precisamente, entre a forma da expressão e a forma do conteúdo. Ela é a função instauradora do signo na
manifestação, portanto, constitutiva do signo enquanto tal. Por conseguinte, a realização de uma cadeia linguistica ou, mais
amplamente, o ato de linguagem em geral consiste precisamente no estabelecimento da função semiótica.
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das, e não mais o contínuo amorfo, mun- mos não faz mais do que evocar os con-
do matizado das 'coisas', pesado de con- tornos de uma zona de sentido.
seqüência ontológicas (cf. 4 e 5). Mesmo no caso de uma única cadeia
Esta interpretação que vê o sentido lingüística ser repetida em pontos distin-
como uma instância intermediária entre o tos do discurso, isto é, em contextos dife-
contínuo amorfo e as realizações específi- rentes, a mesma concepção de sentido po-
cas das cadeias lingüísticas, além de não de ser vantajosa. Ainda que desses dois
parecer totalmente 'infiel' à concepção de enunciados
Hjelmslev, pode-se tornar bastante cômo- 1) Por nunca ter tido informações a res-
da para a teoria lingüística (e semiótica), peito disso, só posso ignorá-lo;
de vez que, como tentaremos demonstrar, 2) A um pedido tão extravagante, só pos-
é capaz de estabelecer, senão uma defini- so ignorá-lo;
ção, pelo menos uma compreensão estável possamos dizer, quanto ao segmento fi-
para o sentido, seja a nível interlingüístico nal, que possuem um sentido ligeiramente
(cf. os exemplos de Hjelmslev), seja a diferente, diríamos agora, um tanto meta-
nível inter-semiótico ou a nível intra- foricamente, que são diferentes 'matizes'
semiótico. de um mesmo sentido.
Já foi visto que, nos exemplos a nível Por fim, num nível inter-semiótico,
interlingüístico, as realizações particula- isto é, quando estamos diante de uma se-
res das diferentes línguas montam no seu miótica complexa (cinema, teatro, cir-
conjunto um sentido, NON SCIO, co- co. . .) em que vários códigos, de nature-
mum a elas dada a sua intersecção (tenta- za semiótica distinta, operam compatibili-
remos adiante esclarecer onde tem origem zados na obtenção de um sentido global e
essa intersecção). No entanto, ao exami- homogêneo, diríamos que o que eles fa-
nar mais de perto a realização de uma ca- zem é exatamente projetar as suas respec-
deia lingüística no interior de seu próprio tivas funções semióticas n o contínuo
sistema lingüístico, verificamos que o amorfo semântico (e a mesma representa-
mesmo fator comum pode ser extraído de ção em diagrama acima feita poderia ilus-
diferentes realizações da mesma língua; trar essa projeção dos vários códigos). Es-
noutros termos, essa instância intermediá- sa projeção procura evocar, através das
ria do sentido também pode ser inferida peculiaridades distintas das formas de tra-
no interior de uma mesma língua. Sejam tamento de cada código, as sutilezas de
os exemplos, de Língua Portuguesa: um determinado sentido aí desejado (cf.
uma cena qualquer de subjugação de um
1) Eu ignoro isso personagem tratada imageticamente atra-
2) Eu não sei isso vés de um plongé, no caso do cinema).
3) Eu desconheço isso
Vemos que, apesar de articulações di- 3. Um terceiro diagrama
ferentes, elas possuem um sentido co- Procedendo inversamente, isto é,
mum, ou seja, recortam conjuntamente o partindo de um signo mínimo (morfema),
contínuo numa zona comum de sentido, prosseguindo na direção de um signo-
do NON SCIO. O mesmo diagrama usado enunciado e um signo-texto numa língua,
acima poderia ilustrar também aqui essa até alcançarmos a comparação entre
'montagem' do sentido. Se dizemos, na enunciados ou textos de línguas diferentes
acepção popular, que as três frases 'que- (os exemplos de Hjelmslev), chegaríamos
rem dizer mais ou menos a mesma coisa' é igualmente a demonstrar a existência (me-
porque na verdade elas realizam três signi- todológica) da zona de sentido, ou sim-
ficações (funções semióticas) numa zona plesmente, do sentido como uma instân-
de sentido só. Um dicionário de sinôni- cia não identificada ao contínuo amorfo.
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No caso de um signo morfemâtico, podem novamente ser reinterpretados,


podemos dizer que as suas infinitas reali- pois, mesmo cada cadeia lingüística em
zações (funções semióticas) em textos e particular não projeta pela sua função se-
contextos diferentes acabam por delinear, miótica uma configuração precisa n o
no seu conjunto, não um significado pre- contínuo amorfo (tal como poderia pare-
ciso, fechado, isto é, um semena ou um cer pelo desenho perfeitamente circular
conjunto de sememas estável, mas um am- do diagrama); ao invés, essa função se-
plo feixe de sememas (cf., para o signo miótica vem acompanhada dos contornos
CASA = moradia, construção, lar, abri- do espectro paradigmático, isto é, contor-
go . . .); não se limitando a esse amplo nos menos nítidos e mais amplos de uma
feixe de sememas, o sentido de tal signo outra circunferência, esta sim delineando
abrangeria ainda, se se pode dizer, um 'es- a zona de sentido global daquela cadeia
pectro paradigmático' originado no eixo em particular. E, igualmente, todas as ou-
do paradigma de tal signo (cf. as "Asso- tras cadeias procedem da mesma maneira,
ciações" já demonstradas desde Saussu- fazendo surgir, agora sim, no fundo com-
re)*. pletamente informe do contínuo amorfo,
No caso de um signo-enunciado, o as demarcações não tão informes da zona
sentido de cada signo-morfema (feixe de de sentido comum às diferentes línguas
sememas + espectro paradigmático) que consideradas, demarcações resultantes da
lhe compõe sofreria uma alteração, diga- intersecção das zonas de sentido de cada
mos, qualitativa, graças à sua integração língua em particular.
no enunciado, compondo pois o sentido
do enunciado. Esse novo estágio de concepção do
O que se quer ressaltar com essas ex- sentido resultaria pois num outro diagra-
plicações é que os exemplos de Hjelmslev ma, a saber:

* Nesse nível morfemâtico pode-se ter a impressão de que o sentido seja assimilável ao "semema"de Pottier — conjunto de to-
dos os possíveis semas (genéricos, específicos, virtuais); mas a entrada do que se denominou aqui 'espectro paradigmático'
acaba por eliminar, ao que tudo leva a crer, tal homologação, suprimindo ainda mais os vestígios de uma delimitação precisa
que ameaçaria aproximar o sentido do signo ao seu "significado".
O espectro paradigmático abrangeria desde as associações paradigmáticas de nível sígnico, desde as relações de co-
presença (disjunta ou conjunta) de nível semico no interior do arranjo hipotáxico dos sememas greimasianos (cf. a presença do
sema 'superioridade' não anula a co-presença, disjunta, do sema 'inferioridade' em CABEÇA DE PREGO), isto é, desde rela-
ções de natureza logico-semãnticas até relações fortemente modal izadas, isto é, dadas pela 'posição modal' do estado passio-
nal do sujeito, relações cuja natureza (lógica?, pato-lógica?, i-lógica?) a semiótica de hoje procura determinar.
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em que 1, 2, 3, 4 e 5 representam as reali- sentido NON SCIRE. Tem-se, pois, um


zações diversas do sentido NON SCIO de sentido não muito bem formado, mas
cada língua e em que O representa o senti- também não totalmente amorfo.
do comum a elas, NON SCIRE. É fácil notar essa redução no nível fi-
O SENTIDO CONCEPTUAL gurativo do diagrama apresentado. As
coisas se complicam bastante ao se tratar
de conteúdos semânticos. Mas cabe-nos
À vista do novo diagrama, podemos perguntar, por exemplo, por que quando
dizer que, ainda que equidimensional ao das realizações dos exemplos acima não
conjunto de todas as zonas de sentido, o nos ocorreu de misturarmos ao sentido
contínuo amorfo representa para cada NON SCIRE um outro qualquer, aleato-
uma delas, isto é, para cada sentido, um riamente, como DOR DE CABEÇA ou
macro-universo; e, ao contrário, o sentido outro? É que a percepção seleciona traços
é um micro-universo do contínuo amor- pertinentes para uma determinada situa-
fo. Em outras palavras, a zona de sentido ção de comunicação, ou para qualquer
das diferentes realizações exemplicadas exercício semiótico; quanto mais no caso
operam no contínuo uma "redução seleti- lingüístico em que as coerções lineares da
va" (o termo é de Pottier, cf. 8): de um substância da expressão forçam a capta-
macro-universo, não finito, passa-se a um ção conceptual a se desenvolver 'por eta-
micro-universo, até certo ponto finito, do pas'.*

* Há um uso temeroso do termo 'percepção' no último parágrafo. Na verdade a operação de seleção dos traços pertinentes
com vistas á significação é um campo tão complexo quanto pouco conhecido. Se no terreno da filosofia essa operação é fre-
qüentemente subsumida pelo termo 'cognição', na área da psicologia, alguns autores a encaram enquanto 'percepção' (en-
volvendo operações de redução a traços essenciais, comparação, discriminação, completamento, perspectivação...) devido à
sustentação da hipótese de que "el conjunto de las operaciones cognoscitivas llamadas pensamiento no son privilegio de los
procesos mentales ubicados por encima y más allá de la percepción, sino ingredientes esenciales de la percepción misma (...)
No parece existir ningún proceso dei pensar que, al menos en princípio, no opere en la percepción" (cf. 1, p. 13). Em todo
caso, há por parte de lingüistas e semioticistas a tentativa de considerar como não pertinente aos seus estudos esse campo
imenso de pesquisas; ainda que, è claro, levem em conta todas as coerções e aptidões biofísicas e psicossociais da percepção
ou do pensamento humano, eles procuram passar adiante, forjando um termo metalingüístico que subsuma por inteiro todo
esse complexo jogo de coerções e aptidões, considerando-se uma etapa vencida. É nessa direção, cremos, que Pottier traba-
lha ao tentar introduzir no corpo metalingüístico da metodologia lingüística o conceito de conceptualizaçào, de notável eco-
nomia, para definir de um só fôlego toda a complexidade da "redução seletiva" do universo não finito (cf. 8).
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Se emprestamos pois de Pottier o ter- lizações, na experiência semiótica de uma


mo "conceptualização" — redução seleti- comunidade, ele vai delineando uma zona
va da referência - para denominarmos a de sentido, sempre mais 'ampla' que uma
redução do contínuo amorfo ao sentido, manifestação (função semiótica) localiza-
pode-se concluir que o sentido é uma ins- da; e em cada manifestação ocorrencial
tância conceptual, lugar onde convergem ele elege uma porção dessa zona de senti-
as significações particulares das diferentes do, ou a enriquece com um novo dado,
línguas e das diferentes semióticas de cada sempre determinado pelas coerções do
sociedade. Ou seja, é o lugar convergente contexto e da situação em que tal manifes-
das traduções entre as diversas línguas e tação ocorre.
as diversas semióticas. Vemos assim o Se essa zona de sentido se forma à
problema do sentido reduzido às suas di- vista da experiência histórico-lingüístico-
mensões menos comprometedoras tal co- cultural das sociedades, do mesmo modo,
mo o quer Greimas, encarando-o como no nível individual, as manifestações de
sendo o lugar da "transcodificação de sig- uma mesma cadeia lingüística, em cada
nificações" (cf. 4, p. 7-17). Tal instância ato de fala, nunca incidem num mesmo
parece metodologicamente necessária, já ponto do contínuo, mas constituem um
que não pode haver tradução de uma fun- conjunto de significações que montam
ção semiótica em uma língua natural ou uma zona de sentido, cujo espectro é dita-
uma semiótica por outra função semiótica do (e ao mesmo tempo compõe) pela ex-
em outra língua natural ou outra semióti- periência, pelo "domínio de experiência"
ca. Na verdade, as duas funções semióti- (Pottier) que o 'vivido' do indivíduo lhe
cas podem convergir nessa instância con- acumula.
ceptual do sentido. Trata-se pois de tradu-
ção parcial de um sentido conceptual co-
mum. Há um outro fator que contribui pa-
ra estatuir a instância conceptual do senti-
A possibilidade da transcodificação do como o lugar da transcodificação das
de significações seja entre diferentes co- significações. Se, como foi visto, o senti-
munidades lingüísticas, seja entre diferen- do se apresenta como um lugar onde con-
tes semióticas de uma mesma comunidade vergem as experiências semióticas das co-
lingüística deve-se ao fato de que o senti- munidades, isto é, se ele pode-se mostrar
do, lugar conceptual da transcodificação, como sendo o mundo do 'senso comum' é
não tem origem senão no acúmulo da ex- porque ele se deixa ver também como o
periência semiótica, mais ou menos equi- referente conceptualizado de qualquer
valente, dessas comunidades frente à 'rea- signo, referente resultante das semioses
lidade'. Quanto mais próximas são essas das comunidades no decorrer do seu vivi-
experiências vividas pelas comunidades do histórico, ou seja, referente semiotiza-
em questão, tanto maior será a intersec- do. É nesse estágio de reflexão que pode-
ção das suas significações no universo do mos, ao que parece, homologar o que
sentido.* O sentido é o produto histórico aqui se chama "sentido" ao que Greimas
das sucessivas significações de uma comu- chama de "mundo do senso comum",
nidade. "semioticamente informado", das "se-
Em outros termos, o signo não pos- mióticas implícitas" (cf. 4 e 5). Se disser-
sui um conceito previamente determinado mos pois que o universo conceptual do
e circunscrito precisamente no contínuo; sentido é o lugar da transformação do
ao contrário, por causa das sucessivas uti- caos em mundo significante, tal frase é re-

* Chamamos experiência semiótica a toda experiência histórica, social, linguistica e cultural de uma comunidade, que se de-
senvolve na forma discursiva, lato sensu, isto é, sob o intermédio da linguagem.
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sultante de simples constatação e não uma matriz referencial de sons (no caso
mais de retórica metaforizante. lingüístico) em que a forma da expressão
estampa uma determinada região sonora
O SENTIDO DA EXPRESSÃO quando da manifestação de tal signo.
Tudo o que até aqui foi dito quanto O REFERENTE DO SIGNO
ao sentido refere-se tão-somente ao plano
do conteúdo das línguas em questão. Se- Estamos cientes de que não se obteve
gundo Hjelmslev, o mesmo que ocorre aqui uma definição precisa, fundada nu-
nesse plano também é passível de ocorrer ma metalinguagem unívoca, do sentido;
no plano da expressão das línguas. Para na verdade o que se fez foi abordá-lo me-
demonstrá-lo apresenta o exemplo das ar- taforicamente aqui, parafraseá-lo dali,
ticulações em línguas diferentes da se- contorná-lo alhures. Não se trata de evasi-
qüência got no Inglês, Gott no Alemão e vas; efetivamente, é a própria natureza do
Godt no Dinamarquês, articulações que sentido que não permite definições preci-
"representam formações diferentes de um sas. Para continuarmos em metáfora, o
mesmo sentido de expressão" (cf. 3, p. sentido faz-nos lembrar aqueles objetos
61); não importa que aqui o sentido do delicados das esculturas móbiles, com fi-
conteúdo não seja o mesmo, assim como guras de bruxas ou peixes, tão comuns em
nos exemplos anteriores (J do not know, quartos de crianças, que ao menor sopro
je ne sais pas...), o sentido do conteúdo de vento mudam de posição e de
era o mesmo mas não o sentido da expres- equilíbrio. E qualquer metalinguagem que
são. procure decifrá-lo parecerá esse sopro de
Ajustando essa noção de sentido da vento que desfigura um sentido na parti-
expressão para os nossos propósitos, sem- da, para configurar um outro na chegada,
pre à vista do último diagrama apresenta- permanecendo desconhecida a sua nature-
do, diríamos que as várias realizações, za.
mesmo numa só língua natural, de uma
seqüência como por exemplo / K A R R O / Situado numa instância intermediá-
não incidem na mesma posição n o ria entre o contínuo amorfo que, enquan-
contínuo sonoro, mas montam, pela sua to tal, não tem ainda "existência científi-
intersecção, um aglomerado sonoro, um ca", e a manifestação propriamente dita
espectro mais ou menos limitado de sons, (a função semiótica) que, assim que se
que podemos denominar como o sentido efetiva, não existe mais, a captação do
da expressão. sentido, na sua vida efêmera, não permite
Por pertencerem à mesma zona, uma análise (= definição) estável. O sen-
tido só se permite conceber como um uni-
diríamos também aqui 'conceptualizada', verso virtual de possibilidade de significa-
de sentido, as diferentes realizações (vi- ções e de transcodificação de significa-
brantes, uvulares...) da seqüência acima ções. É o lugar da conceptualização da
não ocasionam nenhum 'desvio' de sentido realidade 'bruta*. Deixa-se ver como um
e são consideradas, pois, como variantes. segundo nível de realidade: não se tem
As variantes fonéticas nada mais são do mais como referente o mundo pesado das
que a exploração de todas as possibilida- coisas mas uma realidade já semiotizada,
des inscritas dentro de uma mesma zona já culturalizada, e que é a única a servir de
de sentido da expressão. suporte referencial às significações dos
Do mesmo modo que o sentido do signos. Por conseguinte pelo menos
conteúdo representa para o signo um refe- contribui-se, com essa concepção de senti-
rente semiotizado, o sentido da expressão do, para que se possa descartar da teoria
representa para o mesmo signo como que lingüística e da teoria semiótica o proble-
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BEIVIDAS, W. — O sentido e a forma na estrutura do signo. Alfa, Sâo Paulo, 27:9-22, 1983.

ma (ontológico) d o referente extra- da teoria lingüística e teoria semiótica


semiótico. proporcionado pelos avanços conquista-
O referente do signo não é, pois, uma dos com a noção de forma do conteúdo e
entidade da realidade bruta mas uma forma da expressão de Hjelmslev. Para is-
posição nesse segundo nível de realidade so também utilizamo-nos das noções de
semiotizada, o sentido. O signo não é sig- sentido do conteúdo e sentido da expres-
no de alguma coisa, mas o signo de um são apresentadas hipoteticamente acima.
sentido (do conteúdo e da expressão)*. OBS.: Por comodidade de explicação,
foi feita aqui uma divisão opera-
A ESTRUTURA DO SIGNO tória do contínuo amorfo em
Matéria do conteúdo e Matéria
A possibilidade de conceber o refe- da expressão, utilizando-nos par-
rente lingüístico ou semiótico em geral co- cialmente de sugestão de Çh.
mo um mundo jà semiotizado, sem se ver Metz (cf. 7), divisão que não deve
às voltas com pesadas conseqüências me- ser tomada ao pé da letra, uma
tafísicas, leva-nos a reexaminar o modelo vez que o contínuo amorfo não
triangular da estrutura do signo, proposto permite análise nem, conseqüen-
por Ogden e Richards, como tentativa de temente, divisão.
reinscrevê-lo num novo estágio científico Seja o diagrama:

• Esta afirmação parafraseia parcialmente Hjelmslev: " o signo é, portanto, ao mesmo tempo, signo de uma substância de
conteúdo e de uma substância da expressão". Não cremos tratar-se de contradição, pois a substância, como o próprio
Hjelmslev a concebe, é o sentido, ou antes, a porção do sentido que recebe a projeção da forma (cf. 3, p.. 61-62).

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BEIVIDAS, W. — O sentido e a forma na estruturado signo. Alfa, São Paulo, 27:9-22, 1983.

em que: significantes que constituem os


elementos pertinentes do plano
PE = plano da expressão do signo; da expressão (fonemas para o
PC = plano do conteúdo do signo; lingüístico);
F = forma (do conteúdo e da expres- CO = conceptualização (termo provi-
são); sório que aí figura à espera de
S = substância (do conteúdo e da ex- melhor denominação) — redu-
pressão); ção seletiva da ME para a obten-
MC = matéria do conteúdo (contínuo ção da cadeia significante. Ape-
amorfo) = sem existência sar de tratar dados físicos, essa
científica; 1.° nível de realidade redução seletiva também é dita-
"bruta"; inacessível ao conheci- da, além das coerções biofísicas,
mento; pelas coerções sócio-culturais:
CO = conceptualização — redução se- "...une analyse plus approfon-
letiva da MC; focalização dos die du plan de l'expression arrive
elementos essenciais e pertinen- à montrer que le signifiant est,
tes na percepção para a obtenção lui aussi, le résultat d'une cons-
do sentido; é ditada pelas coer- truction de nature sémantique",
ções biofísicas e sócio-culturais (cf. 5 p. 351);
das comunidades; SE = sentido da expressão — conjunto
SC = sentido do conteúdo — conjunto das realizações possíveis de uma
das realizações significativas dos cadeia sonora; espectro de sons
signos, na história da linguagem, (no lingüístico) dentro do qual,
que montam um lugar virtual de em cada ato de fala, a língua ele-
possibilidade de significação; 2.° ge suas fronteiras (pela forma da
nível de realidade (semiotizada); expressão) demarcando assim a
mundo do senso comum, das se- substância significante ou subs-
mióticas implícitas; é o referente tância da expressão.
semiotizado do signo. É o senti-
FE = forma da expressão — o "signi-
do disponível para receber a pro- ficante" de Saussure; "imagem
jeção da forma d o conteúdo acústica" da organização do SE
(passando então à substância do (imagem da projeção da FE no
conteúdo) no processo da semio- SE). Não é o som físico (ME)
se; mas a "empreinte" psíquica des-
FC = forma do conteúdo — o "signifi- se som (cf. 11)*.
cado" de Saussure; semema
(conjunto hierarquizado de se- Este diagrama triangular da estrutura
mas); em relação de pressuposi-
do signo procura evidenciar a posição for-
ção recíproca com a forma da mal do signo por relação ao seu suporte
expressão; funtivo da "função veicular e referencial. O signo visto como
semiótica" que instaura o signo
a união solidaria entre duas formas (FC e
enquanto tal e a sua significação
FE) é, pois, arbitrário em relação a qual-
específica; quer referente "externo" (MC ou ME). O
célebre problema das onomatopéias, entre
ME = matéria da expressão — matéria outros, não chega a ameaçar o princípio
disponível para ser recortada da arbitrariedade, uma vez que também
com vistas à seleção das cadeias ela é uma motivação semiotizada e total-

• Já se observou que è indevido o uso, por Saussure, do termo "imagem acústica", pois privilegia apenas o canal auditivo
Não obstante, seu uso aqui não parece comprometer em nada.
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BEIVIDAS, W. — O sentido e a forma na estrutura do signo. Alfa, São Paulo, 27:9-22, 1983.

mente inserida dentro do universo do sen- FC FE = função semiótica — sig-


tido (SE) e não projetada para 'fora' nificação;
(ME) (Qual a língua que imita 'correta-
mente' o grito do cão?). FC — SC = designação (o signo que
Pôde assim ser proclamada por Saus- se 'desfaz' na indicação
sure a autonomia do objeto lingüístico. do seu referente;
Contorna-se a metafísica; e o discurso SC MC = denotação (?)
científico nas teorias da linguagem pode MC — SC = conceptualização — re-
conduzir suas descobertas tendo por con-
trole interno da sua veridicção não mais dução seletiva do uni-
um ajuste com a 'realidade' exterior mas verso 'real' em universo
apenas a sua coerência interna: "Et la co- conceptual;
hérence, on le sait, reste un des rares critè- SC -* FC = denominação (?)
res de vérité que l'homme ait imaginés" FE — SE = consignação — a 'mar-
(Greimas, 4, p. 9).
ca' de um sinal buscado
na ME e conceptualiza-
do, para legitimar (para
'consignar' uma signifi-
cação)
RELAÇÕES ENTRE AS GRANDEZAS SE -* ME = motivação (?)
DO TRIÂNGULO
-
ME SE = conceptualização
SE — FE = significância (?)
As grandezas do triângulo não são OBSERVAÇÃO FINAL: A denomina-
conceitos estáticos. Elas constituem a cap- ção, necessária, das relações, tem aqui um
tação do instante (metodologicamente di- caráter eminentemente sondador. Somen-
zendo) da realização do signo, da sua se- te um estudo minucioso de cada relação,
miose. Por isso têm de ser explicadas e ex- em cada instância, pode conseguir
plicitadas as relações que essas grandezas denominá-las a contento. Em vista disso,
mantêm entre si e que conferem ao mode- as interrogações nos parênteses não só de-
lo triangular o seu dinamismo específico. vem alertar para a existência desses mes-
Procurando denominá-las na medida mos termos em outras acepções, como
do possível e do já denominado, estas re- também para o caráter arbitrário, insegu-
lações se orientam como segue: ro e provisório da sua introdução.

BEIVIDAS, W. — Le sens et la forme dans la structure du signe. Alfa, São Paulo, 27:9-22, 1983.
RÉSUMÉ: L'auteur a comme but 1) de mettre en relief l'avantage que le principe saussurien de
l'arbitraire du signe peut conférer aux théories du langage si l'on veut se passer des concepts métaphysi-
ques. Ceux-ci sont toujours présents implicitement ou explicitement lorsqu'on accepte le réel comme
étant le réfèrent du signe. 2) de mener la description à son statut scientifique. L'hypothèse soulevé est
celle d'une réinterprétation de la notion de sens chez Hjelmslev, laquelle met à son avis en évidence la
position formelle du signe saussurien par rapport à son réfèrent (intra-sémiotique).
UNITERMES: Arbitrarietê; sens (du contenu et de l'expression); fonction sémiotique; contenu
amorphe; forme du contenu; forme de l'expression; conceptualisâtion; réfèrent.

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BEIVIDAS, W. — O sentido e a forma na estrutura do signo. Alfa, São Paulo, 27:9-22, 1983.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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