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Capítulo 1
PROBLEMATIZANDO O ENSINO DA MÚSICA NO CONSERVATÓRIO
1.1) O PROBLEMA:
1.2) OBJETIVOS:
“O CPM possui hoje cerca de 1.250 alunos, e um corpo docente formado por 95
professores. Funciona atualmente em dois prédios (sede e anexo), oferecendo cursos
regulares (Iniciação Musical, Preparatório e Curso Técnico em Instrumento e Canto) e
Cursos de Extensão (Livres). Promove, também, a reciclagem periódica dos seus
mestres, com vistas à melhoria da qualidade de ensino.
Numerosos eventos, com artistas de alto nível, são realizados em seu auditório,
permitindo ao seu alunado assistir e participar de concertos, que, além de enriquecerem a
vivência curricular, reelaboram o gosto musical dos jovens aprendizes dos mais variados
instrumentos.
O CPM possui ampla Biblioteca, Memorial Ernani Braga, e um dos melhores estúdios
de gravação do Estado; oferece cursos nas seguintes áreas:
Cordas: violino, violoncelo, contrabaixo, violão erudito, violão popular, cavaquinho,
bandolim e baixo elétrico.
Percussão: bateria e percussão erudita.
Sopro: trompete, trombone, trompa, saxofone, fagote, clarinete, flauta transversa e flauta
doce.
Teclados: piano erudito, piano popular, teclado, órgão e cravo.
Área vocal: canto.” (CONSERVATÓRIO PERNAMBUCANO DE MÚSICA.
Instituição)
rápidos, práticos e de menor custo. No entanto, a sala acústica utilizada para as gravações é uma
das maiores e seu projeto acústico é um dos melhores do Estado.
Em seqüência, através de outro “link”, pudemos ter contato com o histórico da
instituição, e entremearemos a transcrição integral do texto de acordo como o mesmo se encontra
no “site”, com considerações a respeito, baseadas em entrevistas com alguns professores
esclarecidos, e consulta a relatórios de administrações anteriores, existentes na Biblioteca do
CPM, com a finalidade de complementação ou de posicionamento crítico:
“O deputado Arruda Falcão quis ser o intérprete deste grupo e apresentou o projeto de
criação do Conservatório Pernambucano de Música à Assembléia Legislativa, onde foi
aprovado. Com sede na cidade do Recife, a sua fundação deu-se em 17 de julho de 1930
e seria administrado pelo Diretor - o maestro Ernani Braga - e pela Congregação dos
Catedráticos, todos em caráter definitivo”. (ibid.)
orquestra, podendo-se inferir que, após quase 11 (onze) anos de funcionamento, estes
objetivos não haviam sido alcançados.
Quando Pernambuco sofreu intervenção federal, o interventor Governador Agamenon
Magalhães nomeou nova Diretoria e, em 22 de março de 1941, transformou a entidade
em Autarquia Administrativa - Conservatório Pernambucano de Música, através do
Decreto nº 603, vinculando-a à Secretaria do Interior.
Os cursos ministrados permaneciam os mesmos, acrescidos, apenas, do curso de História
da Música. O regulamento inovava em relação aos cursos de extensão e aperfeiçoamento
a serem oferecidos fora do horário dos cursos regulares.
O regulamento ainda normatizava sobre:
1) o regime disciplinar discente;
2) as competências da Congregação e do Diretor Presidente;
3) o quadro de pessoal docente e o concurso de provimento dos cargos;
4) a escrituração escolar;
5) a conservação do acervo da Biblioteca;
6) as penalidades para os funcionários;
7) a origem dos recursos e o regime financeiro;
8) e a organização do patrimônio.
Ainda no ano de 1941, foi oficializada a criação da Orquestra Sinfônica do Recife, e
organizada pelo Governo do Estado com a colaboração do Conservatório, da Força
Policial, da Rádio Clube de Pernambuco e do Sindicato dos Músicos.” (ibid.)
Neste ponto do texto, a redação passa a ser de responsabilidade da atual gestão, pois
passa a ser diferenciada do Manual de organização de 1989. Algumas complementações serão
fornecidas, apontadas por professores da instituição ou por fatos históricos por nós vivenciados
nos últimos quinze anos. Daí por diante, o texto eletrônico discorre da fase mais atual do CPM:
de anos anteriores, onde todos os concursados passavam a ser ligados à Secretaria de Educação, e
encaminhados à disposição do Conservatório. O projeto Suzuki foi estendido à comunidade do
Alto do Céu.
Na segunda gestão da pianista Elyanna Caldas,
“foi proposta a inclusão dos cursos regulares de música para formação do profissional-
artista do nível médio do CPM, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
apresentada ao Deputado Federal Carlos Vasconcellos para defende-la na Câmara
Federal.
Em 1997, na gestão da pianista Elyanna Caldas, empreendeu-se uma reforma
pedagógica nos cursos do Conservatório, coordenada pela Professora e Pianista Jussiara
Albuquerque Corrêa de Oliveira, então Diretora do Departamento de Teoria Musical,
para ajustar o ensino profissionalizante de música promovido pelo CPM, à Lei 9.394/96
- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.” (ibid.)
Além disso, foi criada a Orquestra de Câmara do CPM e integrados outros grupos
como representativos da instituição, entre eles o Sa Grama, o Quartetóide, o Trio Sonata e o
Allegretto. O texto neste ponto comenta sobre a adaptação da instituição à nova legislação
federal:
Ainda em 2005, foram inauguradas após mais de dois anos de obras, as novas
instalações da sede, com dezenas de salas num primeiro andar, uma dependência para ensaios, e
uma nova cantina ao lado do prédio principal. O texto da página eletrônica divulgada pela
Internet conclui como segue:
Para uma escolha sobre o tipo adequado de pesquisa a ser utilizado neste trabalho,
devemos refletir sobre a natureza do problema exposto, e a forma de apresentação que os dados
coletados devem possuir.
As características da evasão e do fracasso verificados num curso de música, cuja
essência deste reside na espontaneidade da procura do aluno pelo mesmo, nos remetem a uma
relação entre a demanda por parte da instituição e o interesse por parte de uma população no
aprendizado da música em uma escola especializada, como no caso, o Conservatório
Pernambucano de Música. Vale salientar (e a pesquisa de campo reforça isso) que esse interesse é
extremamente variado, e vão desde um simples desejo de se divertir com um instrumento
musical, até um real direcionamento visando a profissionalização.
A investigação Quantitativa, com suas características objetivas, numéricas e precisas,
e pelo fato de que “a crítica (ao seu uso) está no fato de se restringir a realidade social ao que
pode ser observado e quantificado apenas” (MINAYO, 1999, p. 30), será utilizada apenas como
coletora de informações numéricas junto à secretaria da instituição. Assim sendo, junto aos
registros escolares do Conservatório levantamos algumas informações, como a quantidade de
alunos que desistiram recentemente, tempo total do curso e duração das etapas (iniciação musical,
preparatório e médio). Temos assim uma visão global das estatísticas mais interessantes para a
natureza da pesquisa.
Procura-se, na verdade, perfis de um problema mais relacionados com a opinião
daqueles que abandonaram o curso de música por diversos fatores (e daqueles que conviveram
com estes de perto), do que com levantamentos numéricos frios (às vezes mal armazenados), e
simplesmente adquiridos nos registros da instituição. A subjetividade permeia, nesta pesquisa,
todo o processo investigatório, em contrapartida aos dados quantitativos, que conforme a crítica
referida acima “sacrificam os significados no altar do rigor matemático” (HARRISON: 1947, 10-
21; DILTHEY: 1956; WEBER: 1949; SCHUTZ: 1963; apud MINAYO, 1999, p. 31).
No entanto, as abordagens quantitativa e qualitativa podem conviver conjuntamente,
segundo alguns autores (CRONBACH et al., 1980; MILES e HUBERMAN, 1984; REICHARDT
e COOK, 1974 apud BOGDAN, 1994, p. 63). Conforme Mercurio, “freqüentemente, a estatística
descritiva e os resultados qualitativos têm sido apresentados conjuntamente” (MERCURIO, 1979
apud BOGDAN, 1995, p. 63). O nosso trabalho é traçar um paralelo entre as informações
estatísticas obtidas, a literatura encontrada, e os pareceres provenientes das fontes primárias e das
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g) “Os relatos do estudo de caso utilizam uma linguagem e uma forma mais acessível do que
os outros relatórios de pesquisa”: como a fonte principal, isto é, os depoimentos
considerados primários são provenientes dos que vivenciaram pessoalmente a evasão de
uma escola de música, podemos esperar uma linguagem acessível, num “estilo informal,
narrativo, ilustrado por figuras de linguagem, citações, exemplos e descrições” (LÜDKE e
ANDRE, 1986, pp. 18-20). Como veremos adiante, é mais um detalhe que será percebido
no decorrer da investigação.
Um estudo de caso é desenvolvido, segundo Nisbet e Watt (1978, apud LÜDKE e
ANDRÉ, 1986, p. 21), em tres fases:
(I) uma exploratória, com os primeiros passos na investigação, onde os dados
iniciais emergem através de diversas fontes: literatura, observação,
depoimentos, documentação, experiências, etc., e vão sendo explicitados,
reformulados ou abandonados conforme a situação.
(II) uma outra mais sistemática na coleta de dados, onde se inicia uma depuração
mais conscienciosa das informações, isso depois de uma identificação dos
contornos do problema em questão.
(III) e uma terceira, com a análise e interpretação sistemática dos dados coletados,
seguindo-se a elaboração do relatório conclusivo.
Com isso, podemos como pressupostos de uma metodologia, recolher dados
quantitativos e informações nas observações do cotidiano, conversas informais com professores e
funcionários, norteando a pesquisa para a escolha de métodos de coleta mais sistemáticos e
organizados, agora sim, em um trabalho efetivamente de campo. No nosso caso, essas
considerações podem ser relacionadas ao período (efetivo) de mais de duas décadas que o autor
desta pesquisa possui na instituição, suas observações, relacionamentos e experiências várias. Por
conseguinte, estes conhecimentos prévios facilitaram e aceleram em parte, os processos iniciais
investigatórios.
Nesta fase da investigação, algumas considerações deverão ser feitas, principalmente
por se tratar de uma instituição onde regularmente desenvolvemos nosso trabalho pedagógico.
Dos três métodos que mencionaremos a princípio, a observação participante, como dissemos
anteriormente, não se faz necessária, pelos motivos que expusemos ao tecermos considerações
sobre abordagem etnográfica. A análise documental foi utilizada no momento da consulta às
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(II) Ao mesmo tempo que as entrevistas eram realizadas, por solicitação nossa, uma
relação com 570 nomes de alunos que abandonaram o curso e um outra com 453
nomes de alunos considerados “trancados” nos foram fornecidas pela secretaria da
escola, todos com desistência recente (máximo de dois anos desde que se evadiram).
Destas listagens (que serviram de base para todos as nossas investigações junto ao
corpo discente evadido), inicialmente sorteamos 25 nomes de cada uma, e solicitamos
da secretaria os telefones de contato e datas de nascimento constantes nas fichas
individuais. Por conseguinte, 50 ex-alunos seriam por telefone contactados, e após
serem informados da pesquisa, responderiam à pergunta-chave da investigação: “Qual
ou quais os motivos o levaram a deixar o curso no Conservatório?”. Entretanto,
conseguimos o contato com apenas vinte e quatro ex-discentes, devido à números
equivocados de telefones, ou telefones inexistentes, apesar de provenientes dos
próprios arquivos da secretaria. As respostas obtidas, no entanto, foram
surpreendentes, e deram subsídios extraordinários à pesquisa.
(III) Além desses ex-alunos contactados por telefone, 7 outros responderam pessoalmente
(6 que abandonaram e 1 que trancou o curso), preenchendo questionários específicos
(vide anexos); esses ex-alunos foram indicados por professores e alunos do CPM.
(IV) Quase que ao mesmo tempo que o item anterior, 50 alunos regularmente matriculados
e cursando, responderam a outro questionário (vide anexos) onde a principal pergunta
foi: “algum ou alguns dos motivos abaixo expostos, poderiam ser importantes numa
decisão sua de abandonar o Conservatório?”, e 25 possíveis itens-respostas foram
expostas para livre escolha, sendo a última discursiva. Duas outras perguntas também
foram formuladas, sondando-se se os alunos matriculados conhecem algum(ns)
aluno(s) evadido(s), e se conheciam os motivos pelos quais os colegas passaram a ser
considerados desistentes do curso de música.
(V) Como julgamos ser insuficiente a quantidade de questionários colhidos e respondidos
pelos ex-alunos (item II), mais uma vez com o auxílio da secretaria fizemos uma nova
listagem com mais 50 nomes de evadidos (mais 25 “trancados” e 25 “em abandono”),
também com informações de telefones de contato, datas de nascimento e instrumento
que estudavam. Nessa “leva” de nomes, conseguimos fazer contato com vinte e dois
ex-alunos (ou seus pais). Assim sendo, e organizando de uma forma mais estatística,
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Além disso, ingressamos nessa escola como aluno em 1965, e lá freqüentamos alguns cursos
durante doze anos, o que demonstra nossa preocupação com os problemas que a ela se referem.
Os sujeitos de pesquisa, na nossa ótica, devem ser os atores que mais se aproximam da
problemática da evasão escolar, isto é, professores e alunos. Isto nos parece óbvio a princípio,
pois nenhum outro fator pedagógico envolvido com a prática escolar têm poder decisivo no
afastamento do aluno da instituição. É verdade que um mau atendimento por parte de setores
administrativos da escola podem levar a uma desmotivação e conseqüente evasão, mas
preferimos aguardar os diversos depoimentos dos alunos para caracterizar esse problema. A
evasão escolar é inerente ao corpo discente, ou no máximo, aos seus pais ou responsáveis. Por
isso, como primeira opção, consideramos o aluno que trancou ou abandonou o curso de música,
mas também incluímos nesta categoria, pais ou responsáveis de crianças ou pré-adolescentes.
Alguns foram contactados e deram seus depoimentos valiosos, como veremos adiante. Todos
estes personagens, enfim, forneceram depoimentos bastante expressivos para a investigação, pois
sempre acreditamos e reiteramos que o fenômeno relacionado com a evasão na escola, é uma
atitude voluntária e própria do estudante (ou seus pais), e o que eles têm a dizer é importante e
alvo de nossas investigações. Também não abordamos quaisquer discussões sobre o pensamento
da instituição no que se refere à inclusão ou exclusão social, ausência ou não de uma preocupação
da mesma com o patamar referencial artístico existente na região, etc, pois acreditamos que isso é
para considerações posteriores e fogem do escopo deste trabalho.
Com relação aos instrumentos de pesquisa, conforme comentamos anteriormente,
consideramos alguma análise documental (a que foi possível), questionários, e principalmente a
entrevista. Os arquivos do Conservatório necessitam ser atualizados e muitas informações de
arquivos são inexistentes ou equivocadas. No caso da entrevista, esta modalidade de coleta de
dados uma ferramenta poderosíssima na investigação do problema, já que a subjetividade
associada ao tema em pauta é evidente e óbvia, e “a entrevista é utilizada para recolher dados
descritivos na linguagem do próprio sujeito” (BOGDAN, 1994, p. 134). O caráter pessoal dos
depoimentos das diversas entrevistas já era esperado, visto que é uma característica importante da
entrevista. A elaboração de questionários fechados poderia provocar uma sistematização
exagerada de respostas, e isso não seria, ao nosso ver, de grande utilidade. Por conseguinte, com
a finalidade de colher melhores resultados, adotamos a entrevista semi-estruturada com
características da não-padronizada, pois isso dependia (como de fato aconteceu) da
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