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K ARL M ARX

O C AP ITAL

C RÍTICA D A E CON OMIA P OLÍTICA

V OLU ME I

L IVRO P RIMEIRO

O P ROCES S O D E P ROD U ÇÃO D O C AP ITAL

T OMO 1

(P re fá c io s e Ca p ítu lo s I a XII)

Apresen tação d e J a cob Gor en der


Coord en ação e revisão d e P a u l Sin ger
T rad u ção d e Regis Ba r bosa e F lá vio R. Kot h e
F u n da dor
VICTOR CIVITA
(1907 - 1990)

E dit or a Nova Cu lt u r a l Lt da .

Copyr igh t © dest a ediçã o 1996, Cír cu lo do Livr o Lt da .

Ru a P a es Lem e, 524 - 10º a n da r


CE P 05424-010 - Sã o P a u lo - SP

Tít u los or igin a is:


Valu e, Price an d Profit; Das Kapital -
Kritik d er Politisch en k on om ie.

Dir eit os exclu sivos sobr e a Apr esen t a çã o de a u t or ia de


Win st on F r it sch , E dit or a Nova Cu lt u r a l Lt da .

Dir eit os exclu sivos sobr e a s t r a du ções dest e volu m e:


Cír cu lo do Livr o Lt da .

Im pr essã o e a ca ba m en t o:
DONNE LLE Y COCH RANE GRÁF ICA E E DITORA BRASIL LTDA.
DIVISÃO CÍRCULO - F ONE : (55 11) 4191-4633

ISBN 85-351-0831-9
S EÇÃO II

A T RAN S F ORMAÇÃO D O D IN HEIRO EM C AP ITAL


C AP ÍTU LO IV
T RAN S F ORMAÇÃO DO D IN HEIRO EM C AP ITAL
1. A fó rm u la g e ra l d o c a p ita l

A cir cu la çã o de m er ca dor ia s é o pon t o de pa r t ida do ca pit a l.


P r odu çã o de m er ca dor ia s e cir cu la çã o desen volvida de m er ca dor ia s,
com ér cio, sã o os pr essu post os h ist ór icos sob os qu a is ele su r ge. Com ér cio
m u n dia l e m er ca do m u n dia l in a u gu r a m n o sécu lo XVI a m oder n a h is-
t ór ia da vida do ca pit a l.
Abst r a ia m os o con t eú do m a t er ia l da cir cu la çã o de m er ca dor ia s,
o in t er câ m bio dos difer en t es va lor es de u so, e con sider em os a pen a s a s
for m a s econ ôm ica s en gen dr a da s por esse pr ocesso, en t ã o en con t r a r em os
com o seu pr odu t o ú lt im o o din h eir o. E sse pr odu t o ú lt im o da cir cu la çã o
de m er ca dor ia s é a pr im eir a for m a de a pa r içã o do ca pit a l.
H ist or ica m en t e, o ca pit a l se defr on t a com a pr opr ieda de fu n diá r ia ,
n o in ício, em t odo lu ga r , sob a for m a de din h eir o, com o for t u n a em
din h eir o, ca pit a l com er cia l e ca pit a l u su r á r io.221 No en t a n t o, n ã o se
pr ecisa r em on t a r à h ist ór ia da for m a çã o do ca pit a l pa r a r econ h ecer o
din h eir o com o a su a pr im eir a for m a de a pa r içã o. A m esm a h ist ór ia se
desen r ola dia r ia m en t e a n t e n ossos olh os. Ca da n ovo ca pit a l pisa em
pr im eir a in st â n cia o pa lco, ist o é, o m er ca do, m er ca do de m er ca dor ia s,
m er ca do de t r a ba lh o ou m er ca do de din h eir o, sem pr e a in da com o di-
n h eir o, din h eir o qu e deve t r a n sfor m a r -se em ca pit a l por m eio de de-
t er m in a dos pr ocessos.
Din h eir o com o din h eir o e din h eir o com o ca pit a l difer en cia m -se
pr im eir o por su a for m a difer en t e de cir cu la çã o.
A for m a dir et a de cir cu la çã o de m er ca dor ia s é M — D — M ,

221 A a n t ít ese en t r e o poder da pr opr ieda de fu n diá r ia , r epou sa n do sobr e r ela ções pessoa is de
ser vidã o e sen h or io, e o poder im pessoa l do din h eir o, est á cla r a m en t e ca pt a da em dois
dit os fr a n ceses. N u lle terre san s seign eu r.* L ’argen t n ’a pas d e m aître.**
*
“Nen h u m a t er r a sem sen h or .”(N. dos T.)
**
“O din h eir o n ã o t em m est r e.”(N. dos T.)

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OS ECON OMIS TAS

t r a n sfor m a çã o de m er ca dor ia em din h eir o e r et r a n sfor m a çã o de di-


n h eir o em m er ca dor ia , ven der pa r a com pr a r . Ao la do dessa for m a ,
en con t r a m os, n o en t a n t o, u m a segu n da , especifica m en t e difer en cia da ,
a for m a D — M — D, t r a n sfor m a çã o de din h eir o em m er ca dor ia e
r et r a n sfor m a çã o de m er ca dor ia em din h eir o, com pr a r pa r a ven der . Di-
n h eir o qu e em seu m ovim en t o descr eve essa ú lt im a cir cu la çã o t r a n s-
for m a -se em ca pit a l, t or n a -se ca pit a l e, de a cor do com su a det er m in a çã o,
já é ca pit a l.
Veja m os m a is de per t o a cir cu la çã o D — M — D. E la per cor r e,
com o a cir cu la çã o sim ples de m er ca dor ia s, du a s fa ses a n t it ét ica s. Na
pr im eir a fa se, D — M , com pr a , o din h eir o é t r a n sfor m a do em m er ca -
dor ia . Na segu n da fa se, M — D, ven da , a m er ca dor ia é r et r a n sfor m a da
em din h eir o. A u n ida de de a m ba s a s fa ses é, por ém , o m ovim en t o
globa l, qu e t r oca din h eir o por m er ca dor ia e, n ova m en t e, a m esm a m er -
ca dor ia por din h eir o, com pr a m er ca dor ia pa r a ven dê-la , ou , se n ã o se
con sider a m a s difer en ça s for m a is en t r e com pr a e ven da , com pr a m er -
ca dor ia com o din h eir o e din h eir o com a m er ca dor ia .222 O r esu lt a do,
em qu e t odo o pr ocesso se a pa ga , é t r oca de din h eir o por din h eir o, D
— D. Se com 100 libr a s est er lin a s com pr o 2 000 libr a s de a lgodã o e
r even do a s 2 000 libr a s de a lgodã o por 110 libr a s est er lin a s, en t ã o
t r oqu ei a fin a l 100 libr a s est er lin a s por 110 libr a s est er lin a s, din h eir o
por din h eir o.
É a gor a eviden t e qu e o pr ocesso de cir cu la çã o D — M — D ser ia
in sosso e sem con t eú do ca so se qu isesse, por in t er m édio de seu r odeio,
per m u t a r o m esm o va lor em din h eir o por igu a l va lor em din h eir o,
a ssim , por exem plo, 100 libr a s est er lin a s por 100 libr a s est er lin a s.
In com pa r a velm en t e m a is sim ples e m a is segu r o ser ia o m ét odo do
en t esou r a dor , qu e r et ém a s su a s 100 libr a s est er lin a s em vez de expô-la s
a o per igo da cir cu la çã o. P or ou t r o la do, se o com er cia n t e r even de por
110 libr a s est er lin a s o a lgodã o com pr a do a 100 libr a s est er lin a s ou se
é for ça do a desfa zer -se dele por 100 libr a s est er lin a s ou a t é m esm o
por 50 libr a s est er lin a s, em qu a lqu er cir cu n st â n cia seu din h eir o des-
cr eveu u m m ovim en t o pr ópr io e or igin a l, de espécie t ot a lm en t e diver sa
da descr it a n a cir cu la çã o sim ples de m er ca dor ia s, por exem plo, n a s
m ã os do ca m pon ês, qu e ven de gr ã o e, com o din h eir o obt ido, com pr a
r ou pa s. P or en qu a n t o, va le a ca r a ct er íst ica da s difer en ça s for m a is en t r e
os ciclos D — M — D e M — D — M . Com isso h á de se r evela r logo
a difer en ça de con t eú do qu e espr eit a por t r á s dessa s difer en ça s for m a is.
E xa m in em os, a n t es de t u do, o qu e é com u m a a m ba s a s for m a s.
Am bos os ciclos se decom põem n a s du a s m esm a s fa ses con t r a -
post a s, M — D, ven da , e D — M, com pr a . E m ca da u m a da s du a s
fa ses se con fr on t a m os m esm os dois elem en t os m a t er ia is, m er ca dor ia

222 "Com din h eir o se com pr a m m er ca dor ia s e com m er ca dor ia s se com pr a din h eir o." (RIVIÈ RE ,
Mer cier de la . L ’Ord re N atu rel et E ssen tiel d es S ociétés Politiqu es. p. 543.)

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e din h eir o — e du a s pessoa s, n a s m esm a s m á sca r a s de per son a gen s


econ ôm ica s, u m com pr a dor e u m ven dedor . Ca da u m dos dois ciclos é
a u n ida de da s m esm a s fa ses con t r a post a s e, em a m bos os ca sos, essa
u n ida de é m edia da pelo su r gim en t o de t r ês con t r a en t es, dos qu a is u m
a pen a s ven de, ou t r o a pen a s com pr a , m a s o t er ceir o a lt er n a da m en t e
com pr a e ven de.
O qu e, n o en t a n t o, sepa r a de a n t em ã o a m bos os ciclos M — D
— M e D — M — D é a su cessã o in ver sa da s m esm a s fa ses con t r a post a s
de cir cu la çã o. A cir cu la çã o sim ples de m er ca dor ia s com eça com a ven da
e t er m in a com a com pr a , a cir cu la çã o do din h eir o com o ca pit a l com eça
com a com pr a e t er m in a com a ven da . Lá a m er ca dor ia , a qu i o din h eir o
con st it u i o pon t o de pa r t ida e o pon t o de ch ega da do m ovim en t o. Na
pr im eir a for m a é o din h eir o, n o ou t r o, in ver sa m en t e, é a m er ca dor ia
qu e m edia o t r a n scu r so globa l.
Na cir cu la çã o M — D — M , o din h eir o é fin a lm en t e t r a n sfor m a do
em m er ca dor ia qu e ser ia de va lor de u so. O din h eir o est á , pois, defi-
n it iva m en t e ga st o. Na for m a in ver sa , D — M — D, o com pr a dor ga st a
din h eir o pa r a com o ven dedor r eceber din h eir o. Com a com pr a , ele la n ça
din h eir o n a cir cu la çã o, pa r a r et ir á -lo dela n ova m en t e pela ven da da
m esm a m er ca dor ia . E le liber a o din h eir o só com a a st u ciosa in t en çã o
de a poder a r -se dele n ova m en t e. E le é, por t a n t o, a pen a s a dia n t a do.223
Na for m a M — D — M , a m esm a peça m on et á r ia m u da du a s
vezes de lu ga r . O ven dedor a r ecebe do com pr a dor e pa ga -a a dia n t e
a ou t r o ven dedor . O pr ocesso globa l, qu e com eça com o r ecebim en t o
do din h eir o por m er ca dor ia , t er m in a com a en t r ega de din h eir o por
m er ca dor ia . In ver sa m en t e, n a for m a D — M — D. Nã o é a m esm a
peça m on et á r ia qu e m u da a qu i du a s vezes de lu ga r , m a s a m esm a
m er ca dor ia . O com pr a dor a r ecebe da s m ã os do ven dedor e a depõe
n a s m ã os de ou t r o com pr a dor . Assim com o n a cir cu la çã o sim ples de
m er ca dor ia s a du pla m u da n ça de lu ga r da m esm a peça m on et á r ia a ca r -
r et a a su a t r a n sfer ên cia defin it iva de u m a m ã o pa r a ou t r a , a ssim a qu i
a du pla m u da n ça de lu ga r da m esm a m er ca dor ia a ca r r et a o r eflu xo
do din h eir o a seu pr im eir o pon t o de pa r t ida .
O r eflu xo do din h eir o a seu pon t o de pa r t ida n ã o depen de de a
m er ca dor ia ser ven dida m a is ca r a do qu e ela foi com pr a da . E ssa cir -
cu n st â n cia in flu i a pen a s n a gr a n deza da som a de din h eir o r eflu en t e.
O pr ópr io fen ôm en o do r eflu xo ocor r e a ssim qu e a m er ca dor ia com pr a da
é r even dida , por t a n t o o ciclo D — M — D est á com plet a m en t e descr it o.
E ssa é, por t a n t o, u m a difer en ça qu e sa lt a a os olh os en t r e a cir cu la çã o
do din h eir o com o ca pit a l e su a cir cu la çã o com o m er o din h eir o.

223 "Se u m a coisa é com pr a da pa r a ser n ova m en t e ven dida , ch a m a -se a som a a plica da n isso
de din h eir o a dia n t a do; se com pr a da pa r a n ã o ser r even dida , ela pode ser design a da com o
ga st a ." (STE UART, J a m es. Work s et c. E dit . por Gen er a l Sir J a m es St eu a r t , seu filh o.
Lon dr es, 1805. v. I, p. 274.)

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OS ECON OMIS TAS

O ciclo M — D — M est á per cor r ido com plet a m en t e a ssim qu e


a ven da de u m a m er ca dor ia t r a ga din h eir o qu e a com pr a de ou t r a
m er ca dor ia n ova m en t e r et ir a . Se a in da ocor r er r eflu xo de din h eir o a o
seu pon t o de pa r t ida , isso a pen a s pode ser por m eio da r en ova çã o ou
r epet içã o de t odo o per cu r so. Se ven do 1 qu arter de gr ã o por 3 libr a s
est er lin a s e com pr o r ou pa s com essa s 3 libr a s est er lin a s, a s 3 libr a s
est er lin a s est ã o defin it iva m en t e ga st a s pa r a m im . E u n a da m a is t en h o
a fa zer com ela s. E la s sã o do com er cia n t e de r ou pa s. Se, a gor a , ven do
u m segu n do qu arter de gr ã o, en t ã o o din h eir o r eflu i pa r a m im , m a s
n ã o em con seqü ên cia da pr im eir a t r a n sa çã o, e sim a pen a s em con se-
qü ên cia de su a r epet içã o. E le se a fa st a n ova m en t e de m im a ssim qu e
levo a ca bo a segu n da t r a n sa çã o e com pr o de n ovo. Na cir cu la çã o M
— D — M , o ga st o do din h eir o n a da t em , pois, a ver com seu r eflu xo.
Na cir cu la çã o D — M — D, pelo con t r á r io, o r eflu xo do din h eir o é
det er m in a do pelo m odo de seu pr ópr io ga st o. Sem esse r eflu xo, a ope-
r a çã o est á fr a ca ssa da ou o pr ocesso in t er r om pido e a in da n ã o a ca ba do,
por qu e fa lt a a su a segu n da fa se, a ven da , qu e com plem en t a e com plet a
a com pr a .
O ciclo M — D — M pa r t e do ext r em o de u m a m er ca dor ia e se
en cer r a com o ext r em o de ou t r a m er ca dor ia , qu e sa i da cir cu la çã o e
en t r a n o con su m o. Con su m o, sa t isfa çã o de n ecessida des, em u m a pa -
la vr a , va lor de u so, é, por con segu in t e, seu objet ivo fin a l. O ciclo D —
M — D, pelo con t r á r io, pa r t e do ext r em o do din h eir o e volt a fin a lm en t e
a o m esm o ext r em o. Seu m ot ivo in du t or e su a fin a lida de det er m in a n t e
é, por t a n t o, o pr ópr io va lor de t r oca .
Na cir cu la çã o sim ples de m er ca dor ia s, a m bos os ext r em os t êm
a m esm a for m a econ ôm ica . E les sã o a m bos m er ca dor ia . E les sã o t a m -
bém m er ca dor ia s de m esm a gr a n deza de va lor . Ma s eles sã o qu a lit a -
t iva m en t e va lor es de u so difer en t es, por exem plo, gr ã o e r ou pa s. O
in t er câ m bio de pr odu t os, a m u da n ça dos difer en t es m a t er ia is em qu e
o t r a ba lh o socia l se r epr esen t a , con st it u i a qu i o con t eú do do m ovim en t o.
De ou t r o m odo n a cir cu la çã o D — M — D. E la pa r ece à pr im eir a vist a
sem con t eú do por qu e t a u t ológica . Am bos os ext r em os t êm a m esm a
for m a econ ôm ica . E les sã o a m bos din h eir o, por t a n t o n ã o-va lor es de
u so qu a lit a t iva m en t e difer en cia dos, pois din h eir o é a figu r a m et a m or -
fosea da da s m er ca dor ia s, em qu e seu s va lor es de u so específicos est ã o
a pa ga dos. P r im eir o t r oca r 100 libr a s est er lin a s por a lgodã o e, en t ã o,
t r oca r n ova m en t e o m esm o a lgodã o por 100 libr a s est er lin a s, por t a n t o,
in t er ca m bia r por m eio de u m r odeio, din h eir o por din h eir o, o m esm o
pelo m esm o, pa r ece u m a oper a çã o t ã o sem fin a lida de qu a n t o in sossa .224

224 "Nã o se t r oca din h eir o por din h eir o", cla m a Mer cier de la Rivièr e a os m er ca n t ilist a s (Op.
cit., p. 486). Nu m a obr a qu e ex professo* t r a t a do “com ér cio” e da “especu la çã o”, lê-se: “Todo
com ér cio con sist e n a t r oca de coisa s de espécies difer en t es; e o pr oveit o” (pa r a o com er cia n t e?)
“se or igin a m esm o dessa difer en ça . Tr oca r 1 libr a de pã o por 1 libr a de pã o n ã o t r a r ia

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MARX

Um a som a de din h eir o pode difer en cia r -se de ou t r a som a de din h eir o
t ã o som en t e m edia n t e su a gr a n deza . P or t a n t o, o pr ocesso D — M —
D n ã o deve seu con t eú do a n en h u m a difer en ça qu a lit a t iva de seu s
ext r em os, pois a m bos sã o din h eir o, m a s a pen a s à su a difer en ça qu a n -
t it a t iva . No fin a l, m a is din h eir o é r et ir a do da cir cu la çã o do qu e foi
la n ça do n ele n o com eço. O a lgodã o com pr a do por 100 libr a s est er lin a s
é, por exem plo, r even dido a 100 + 10 libr a s est er lin a s, ou 110 libr a s
est er lin a s. A for m a com plet a desse pr ocesso é, por t a n t o, D — M —
D’, em qu e D’ = D + ΔD, ou seja , igu a l à som a de din h eir o or igin a lm en t e
a dia n t a do m a is u m in cr em en t o. E sse in cr em en t o, ou o exceden t e sobr e
o va lor or igin a l, ch a m o de — m a is-va lia (su rplu s valu e). O va lor or i-
gin a lm en t e a dia n t a do n ã o só se m a n t ém n a cir cu la çã o, m a s a lt er a
n ela a su a gr a n deza de va lor , a cr escen t a m a is-va lia ou se va lor iza . E
esse m ovim en t o t r a n sfor m a -o em ca pit a l.
É t a m bém possível qu e em M — D — M a m bos os ext r em os, M,
M, por exem plo, gr ã o e r ou pa s, seja m gr a n deza s de va lor qu a n t it a t i-
va m en t e difer en t es. O ca m pon ês pode ven der seu gr ã o a cim a do va lor
ou com pr a r a s r ou pa s a ba ixo do va lor dela s. E le pode, por su a vez,
ser en ga n a do pelo com er cia n t e de r ou pa s. Ta l difer en ça de va lor per -
m a n ece, n o en t a n t o, pa r a essa m esm a for m a de cir cu la çã o, pu r a m en t e
ca su a l. E la n ã o per de sim plesm en t e sen t ido e en t en dim en t o com o o
pr ocesso D — M — D, se os dois ext r em os, gr ã o e r ou pa s, por exem plo,
sã o equ iva len t es. Su a igu a lda de de va lor é a qu i m u it o m a is con diçã o
do t r a n scu r so n or m a l.
A r epet içã o ou r en ova çã o da ven da pa r a com pr a en con t r a , com o
est e m esm o pr ocesso, m edida e a lvo n u m objet ivo fin a l sit u a do for a
dela , o con su m o, a sa t isfa çã o de det er m in a da s n ecessida des. Na com pr a
pa r a a ven da , pelo con t r á r io, com eço e t ér m in o sã o o m esm o, din h eir o,
va lor de t r oca , e já por isso o m ovim en t o é sem fim . Sem dú vida , de
D a dveio D + ΔD, da s 100 libr a s est er lin a s, 100 + 10. Ma s con sider a da s
a pen a s qu a lit a t iva m en t e, 110 libr a s est er lin a s sã o o m esm o qu e 100
libr a s est er lin a s, ou seja , din h eir o. E con sider a da s qu a n t it a t iva m en t e

n en h u m a va n t a gem (...) da í o con t r a st e va n t a joso en t r e com ér cio e jogo, sen do est e a pen a s
in t er câ m bio de din h eir o por din h eir o”. (CORBE T, Th . An In qu iry in to th e Cau ses an d
M od es of th e Wealth of In d ivid u als; or th e Prin ciples of T rad e an d S pecu lation explain ed “.
Lon dr es, 1841. p. 5) E m bor a Cor bet n ã o veja qu e D — D, t r oca r din h eir o por din h eir o, é
a for m a ca r a ct er íst ica de cir cu la çã o n ã o só do ca pit a l com er cia l, m a s de t odo ca pit a l, pelo
m en os a dm it e qu e essa for m a de u m a espécie de com ér cio, da especu la çã o, é com u m a o
jogo, m a s en t ã o a pa r ece Ma cCu lloch e a ch a qu e com pr a r pa r a ven der seja especu la r , e
qu e, por t a n t o, a difer en ça en t r e especu la çã o e com ér cio se desfa z. ”Ca da n egócio em qu e
u m a pessoa com pr a u m pr odu t o pa r a r even dê-lo é, de fa t o, u m a especu la çã o." (MACCUL-
LOCH . A Diction ary, Practical etc. of Com m erce. Lon dr es, 1847. p. 1009.) In com pa r a vel-
m en t e m a is in gên u o, P in t o, o P ín da r o da Bolsa de Am st er dã : “O com ér cio é u m jogo” (essa
fr a se, em pr est a da de Locke) “e com m en digos n ã o se pode ga n h a r n a da . Se, du r a n t e lon go
t em po, se ga n h a sse t u do de t odos, t er -se-ia , m edia n t e a cor do a m igá vel, de devolver de n ovo
a m a ior pa r t e do lu cr o pa r a n ova m en t e in icia r o jogo”. (P INTO. T raité d e la Circu lation
et d u Créd it. Am st er dã , 1771. p. 231.)
*
De cá t edr a . (N. dos T.)

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OS ECON OMIS TAS

110 libr a s est er lin a s sã o u m a som a t ã o lim it a da de va lor qu a n t o 100


libr a s est er lin a s. Se a s 110 libr a s est er lin a s fossem ga st a s com o di-
n h eir o, deixa r ia m de desem pen h a r o seu pa pel. Deixa r ia m de ser ca -
pit a l. Ret ir a da s de cir cu la çã o, se pet r ifica r ia m em t esou r o e n en h u m
farth in g225 se a cr escen t a a ela s, a in da qu e fiqu em gu a r da da s a t é o Dia
do J u ízo F in a l. Ca so se t r a t e de va lor iza çã o do va lor , exist e en t ã o
t a n t a n ecessida de da va lor iza çã o de 110 libr a s est er lin a s qu a n t o da
de 100 libr a s est er lin a s, já qu e a m ba s sã o expr essões lim it a da s do
va lor de t r oca , a m ba s, por t a n t o, t en do a m esm a voca çã o de se a pr o-
xim a r em da r iqu eza sim plesm en t e por m eio da expa n sã o de gr a n deza .
De fa t o, o va lor or igin a lm en t e a dia n t a do de 100 libr a s est er lin a s di-
fer en cia -se, por u m in st a n t e, da m a is-va lia de 10 libr a s est er lin a s, qu e
lh e foi a cr escen t a da n a cir cu la çã o, m a s essa difer en ça se esva i logo de
n ovo. No fim do pr ocesso, o qu e su r ge n ã o é, de u m la do, o va lor
or igin a l de 100 libr a s est er lin a s e, do ou t r o, a m a is-va lia de 10 libr a s
est er lin a s. O qu e su r ge é u m va lor de 110 libr a s est er lin a s qu e se
en con t r a n a m esm a for m a a dequ a da pa r a com eça r o pr ocesso de va -
lor iza çã o, com o a s 100 libr a s est er lin a s in icia is. Din h eir o su r ge de n ovo
n o fim do m ovim en t o com o seu in ício.226 O fim de ca da ciclo in dividu a l,
em qu e a com pr a se r ea liza pa r a a ven da , con st it u i, por t a n t o, por si
m esm o o in ício de n ovo ciclo. A cir cu la çã o sim ples de m er ca dor ia s —
a ven da pa r a a com pr a — ser ve de m eio pa r a u m objet ivo fin a l qu e
est á for a da cir cu la çã o, a a pr or ia çã o de va lor es de u so, a sa t isfa çã o
de n ecessida des. A cir cu la çã o do din h eir o com o ca pit a l é, pelo con t r á r io,
u m a fin a lida de em si m esm a , pois a va lor iza çã o do va lor só exist e
den t r o desse m ovim en t o sem pr e r en ova do. P or isso o m ovim en t o do
ca pit a l é in sa ciá vel.227

225 Moeda in glesa n o va lor de 1/4 de pên i. (N. dos T.)


226 "O ca pit a l se divide (...) em ca pit a l or igin a l e lu cr o, o in cr em en t o do ca pit a l (...) em bor a a
pr ópr ia pr á xis con ver t a logo esse lu cr o n ova m en t e em ca pit a l e o coloqu e com est e em
flu xo." (E NGE LS, F . “E sboço de u m a Cr ít ica da E con om ia Na cion a l”. In : An u á r ios Teu t o-
F r a n ceses. E dit a dos por Ar n old Ru ge e Ka r l Ma r x, P a r is, 1844, p. 99) *
*
Ver v. I da ediçã o ME W, p. 511. (n . da E d. Alem ã .)
227 Ar ist ót eles con t r a põe à Cr em a t íst ica a E con om ia . E le pa r t e da E con om ia . E n qu a n t o a r t e
da a qu isiçã o, ela se lim it a à obt en çã o dos ben s n ecessá r ios à vida e ú t eis a o la r e a o E st a do.
“A ver da deir a r iqu eza (ο αληϑινος πλουτος) con sist e em t a is va lor es de u so; pois pa r a a
boa vida , a m edida su ficien t e dessa espécie de pr opr ieda de n ã o é lim it a da . E xist e, por ém ,
u m a segu n da a r t e da a qu isiçã o ch a m a da pr efer en cia lm en t e e com dir eit o de Cr em a t íst ica ,
segu n do a qu a l n ã o pa r ece exist ir lim it e à r iqu eza e à pr opr ieda de. O com ér cio de m er ca dor ia s
(”η χαπηλιχη“ sign ifica lit er a lm en t e com ér cio de r et a lh os, e Ar ist ót eles u sa essa for m a
por qu e n ela pr edom in a o va lor de u so) n ã o per t en ce por n a t u r eza à Cr em a t íst ica , pois a qu i
o va lor de t r oca só se r efer e a o qu e é n ecessá r io a eles m esm os (com pr a dor es e ven dedor es).
P or isso”, con t in u a ele a dia n t e, “a for m a or igin a l do com ér cio de m er ca dor ia s t a m bém er a
o esca m bo, m a s com a su a expa n sã o su r giu n ecessa r ia m en t e o din h eir o. Com a in ven çã o
do din h eir o, o esca m bo t in h a de evolu ir n ecessa r ia m en t e pa r a χαπηλιχη, com ér cio de m er-
ca dor ia s, e est e, em con t r a diçã o com su a t en dên cia or igin a l, evolu iu pa r a a Cr em a t íst ica ,
a a r t e de fa zer din h eir o. A Cr em a t íst ica dist in gu e-se a gor a da E con om ia por qu e pa r a ela
a cir cu la çã o é a fon t e da r iqu eza (ποιητιχη χρηµατων... δια χρηµατων µεταβολης). E ela
pa r ece gir a r em t or n o do din h eir o, pois o din h eir o é o com eço e o fim dessa espécie de
t r oca (το γαρ νοµισµα στοιχειον χαι περας της αλλαγης εστιν). P or isso, a r iqu eza , com o a

272
MARX

Com o por t a dor con scien t e desse m ovim en t o, o possu idor do di-
n h eir o t or n a -se ca pit a list a . Su a pessoa , ou m elh or , seu bolso, é o pon t o
de pa r t ida e o pon t o de r et or n o do din h eir o. O con t eú do objet ivo da qu ela
cir cu la çã o — a va lor iza çã o do va lor — é su a m et a su bjet iva , e só en -
qu a n t o a a pr opr ia çã o cr escen t e da r iqu eza a bst r a t a é o ú n ico m ot ivo
in du t or de su a s oper a ções, ele fu n cion a com o ca pit a list a ou ca pit a l
per son ifica do, dot a do de von t a de e con sciên cia . O va lor de u so n u n ca
deve ser t r a t a do, por t a n t o, com o m et a im edia t a do ca pit a lism o.228 Ta m -
pou co o lu cr o isola do, m a s a pen a s o in cessa n t e m ovim en t o do ga n h o.229
E sse im pu lso a bsolu t o de en r iqu ecim en t o, essa ca ça a pa ixon a da do
va lor 230 é com u m a o ca pit a list a e a o en t esou r a dor , m a s en qu a n t o o
en t esou r a dor é a pen a s o ca pit a list a dem en t e, o ca pit a list a é o en t e-
sou r a dor r a cion a l. A m u lt iplica çã o in cessa n t e do va lor , pr et en dida pelo
en t esou r a dor a o pr ocu r a r sa lva r o din h eir o da cir cu la çã o,231 é a lca n ça da
pelo capitalista m ais esperto ao entregá-lo sempre de novo à circulação.232
As for m a s a u t ôn om a s, a s for m a s din h eir o, qu e o va lor da s m er -
ca dor ia s a ssu m e n a cir cu la çã o sim ples m edia m a pen a s o in t er câ m bio
de m er ca dor ia s e desa pa r ecem n o r esu lt a do fin a l do m ovim en t o. Na
cir cu la çã o D — M — D, pelo con t r á r io, a m bos, m er ca dor ia e din h eir o,
fu n cion a m a pen a s com o m odos difer en t es de exist ên cia do pr ópr io va lor ,
o din h eir o o seu m odo ger a l, a m er ca dor ia o seu m odo pa r t icu la r , por
a ssim dizer a pen a s ca m u fla do, de exist ên cia .233 E le pa ssa con t in u a -

Cr em a t íst ica pr et en de, t a m bém é ilim it a da . Assim com o t oda a r t e, pa r a a qu a l su a m et a


n ã o va le com o m eio, m a s com o fin a lida de ú lt im a , é ilim it a da , em su a a spir a çã o, pois pr ocu r a
a pr oxim a r -se dela sem pr e m a is, en qu a n t o a s a r t es, qu e só per segu em m eios pa r a fin s, n ã o
sã o ilim it a da s, já qu e a pr ópr ia m et a é o en r iqu ecim en t o a bsolu t o. A E con om ia , n ã o a
Cr em a t íst ica , t em u m lim it e (...) a pr im eir a in t en cion a a lgo difer en t e do pr ópr io din h eir o,
a ou t r a , a su a m u lt iplica çã o (...). A con fu sã o de a m ba s a s for m a s, qu e se sobr epõem en t r e
si, in du z a lgu n s a ver n a con ser va çã o e m u lt iplica çã o do din h eir o a o in fin it o a fin a lida de
ú lt im a da E con om ia .” (ARISTÓTE LE S. De R ep. E dit . Bekker , Livr o P r im eir o. Ca p. 8 e 9
passim .)
228 "Mer ca dor ia s" (a qu i n o sen t ido de va lor es de u so) “n ã o sã o a fin a lida de ú lt im a do ca pit a list a
qu e com er cia (...) a su a fin a lida de ú lt im a é din h eir o.” (CH ALME RS, T h . On Politic. E con .
et c. 2ª ed., Gla sgow, 1832, p. 165-166.)
229 "Ain da qu e o com er cia n t e t a m bém n ã o m en ospr eze o lu cr o já a lca n ça do, o seu olh a r est á ,
n o en t a n t o, sem pr e volt a do pa r a o lu cr o fu t u r o." (GE NOVE SI, A. L ezion i d i E con om ia
Civile (1765). E diçã o dos econ om ist a s it a lia n os de Cu st odi, P a r t e Moder n a . t . VIII, p. 139.)
230 "A pa ixã o in ext in gu ível pelo lu cr o, a au ri sacra fam es,* sem pr e ca r a ct er iza o ca pit a list a ."
(MACCULLOCH . T h e Prin ciples of Polit. E con . Lon dr es, 1830. p. 179.) Na t u r a lm en t e essa
com pr een sã o n ã o im pede o m esm o McCu lloch e con sor t es, em dificu lda des t eór ica s, por
exem plo, n o t r a t a m en t o da su per pr odu çã o, m et a m or fosea r o m esm o ca pit a list a em u m bom
cida dã o, pa r a o qu a l só se t r a t a do va lor de u so e qu e a t é desen volve u m a ver da deir a fom e
de lobisom em por bot a s, ch a péu s, ovos, ch it a s e ou t r a s espécies de va lor de u so ext r em a m en t e
fa m ilia r es.
*
A sa gr a da fom e de ou r o. (N. dos T.)
231 "Σωζειν!" ** é u m a da s expr essões ca r a ct er íst ica s dos gr egos pa r a en t esou r a r . Igu a lm en t e,
to save sign ifica a o m esm o t em po sa lva r e pou pa r .
**
“Sa lva r ”. (N. dos T.)
232 "O in fin it o qu e a s coisa s n ã o t êm n o pr ogr edir , ela s o t êm n o ciclo." (GALIANI. [Op. cit.,
p. 156].)
233 "Nã o é o m a t er ia l qu e con st it u i o ca pit a l, m a s o va lor desses m a t er ia is." (SAY, J .-B. T raité
d ’É con . Polit. 3ª ed., P a r is, 1817. t . II, p. 429.)

273
OS ECON OMIS TAS

m en t e de u m a for m a pa r a ou t r a , sem per der -se n esse m ovim en t o, e


a ssim se t r a n sfor m a n u m su jeit o a u t om á t ico. F ixa da s a s for m a s pa r -
t icu la r es de a pa r içã o, qu e o va lor qu e se va lor iza a ssu m e a lt er n a t iva -
m en t e n o ciclo de su a vida , en t ã o se obt êm a s explica ções: ca pit a l é
din h eir o, ca pit a l é m er ca dor ia .234 De fa t o, por ém , o va lor se t or n a a qu i
o su jeit o de u m pr ocesso em qu e ele, por m eio de u m a m u da n ça con s-
t a n t e da s for m a s de din h eir o e m er ca dor ia , m odifica a su a pr ópr ia
gr a n deza , en qu a n t o m a is-va lia se r epele de si m esm o, en qu a n t o va lor
or igin a l, se a u t ova lor iza . P ois o m ovim en t o, pelo qu a l ele a dicion a m a is-
va lia , é seu pr ópr io m ovim en t o, su a va lor iza çã o, por t a n t o a u t ova lor i-
za çã o. E le r ecebeu a qu a lida de ocu lt a de ger a r va lor por qu e ele é va lor .
E le pa r e filh ot es vivos ou a o m en os põe ovos de ou r o.
Com o su jeit o u su r pa dor de t a l pr ocesso, em qu e ele or a a ssu m e,
or a se desfa z da for m a din h eir o e da for m a m er ca dor ia , m a s se con ser va
e se dila t a n essa m u da n ça , o va lor pr ecisa , a n t es de t u do, de u m a
for m a a u t ôn om a , por m eio da qu a l a su a iden t ida de con sigo m esm o é
con st a t a da . E essa for m a ele só possu i n o din h eir o. E st e con st it u i, por
isso, o pon t o de pa r t ida e o pon t o fin a l de t odo pr ocesso de va lor iza çã o.
E le er a 100 libr a s est er lin a s, a gor a é 110 libr a s est er lin a s et c. Ma s o
pr ópr io din h eir o va le a qu i a pen a s com o u m a for m a do va lor , pois ele
t em du a s. Sem a ssu m ir a for m a de m er ca dor ia , o din h eir o n ã o se t or n a
ca pit a l. O din h eir o n ã o se a pr esen t a a qu i, por t a n t o, polem ica m en t e
con t r a a m er ca dor ia , com o n o en t esou r a m en t o. O ca pit a list a sa be qu e
t oda s a s m er ca dor ia s, por m a is esfa r r a pa da s qu e ela s pa r eça m ou por
pior qu e ela s ch eir em , sã o, n a ver da de e n a fé, din h eir o, ju deu s n o
ín t im o cir cu n cisos e a lém disso m eios m ila gr osos pa r a fa zer de din h eir o
m a is din h eir o.
Se n a cir cu la çã o sim ples o va lor da s m er ca dor ia s a dqu ir e n o m á -
xim o, em con fr on t o com seu va lor de u so, a for m a a u t ôn om a de din h eir o,
a qu i ele se a pr esen t a su bit a m en t e com o u m a su bst â n cia em pr ocesso
e sem oven t e, pa r a a qu a l m er ca dor ia s e din h eir o sã o a m bos m er a s
for m a s. Ma s a in da m a is. E m vez de r epr esen t a r r ela ções m er ca n t is,
ele en t r a a gor a , por a ssim dizer , n u m a r ela çã o pr iva da con sigo m esm o.
E le se dist in gu e, com o va lor or igin a l, de si m esm o com o m a is-va lia ,
a ssim com o Deu s P a i se dist in gu e de si m esm o com o Deu s F ilh o, e
a m bos sã o de m esm a ida de e con st it u em , de fa t o, u m a só pessoa , pois
só por m eio da m a is-va lia de 10 libr a s est er lin a s t or n a m -se a s 100
libr a s est er lin a s a dia n t a da s ca pit a l, e a ssim qu e se t or n a m isso, a ssim
qu e é ger a do o filh o e, por m eio do filh o, o pa i, desa pa r ece a su a
difer en ça e a m bos sã o u n os, 110 libr a s est er lin a s.
O va lor t or n a -se, por t a n t o, va lor em pr ocesso, din h eir o em pr o-

234 "O m eio cir cu la n t e (!) qu e é u sa do pa r a fin s pr odu t ivos é ca pit a l." (MACLE OD. T h e T h eory
an d Practice of B an k in g. Lon dr es, 1855. v. I, ca p. 1, p. 55.) “Ca pit a l é igu a l a m er ca dor ia s.”
(MILL, J a m es. E lem en ts of Pol. E con . Lon dr es, 1821. p. 74.)

274
MARX

cesso e, com o t a l, ca pit a l. E le pr ovém da cir cu la çã o, en t r a n ova m en t e


n ela , su st en t a -se e se m u lt iplica n ela , r et or n a a u m en t a do dela e r e-
com eça o m esm o ciclo sem pr e de n ovo.235 D — D’, din h eir o qu e ger a
din h eir o — m on ey w h ich begets m on ey —, diz a descr içã o do ca pit a l
n a boca dos seu s pr im eir os t r a du t or es, os m er ca n t ilist a s.
Com pr a r pa r a ven der , ou m elh or , com pr a r pa r a ven der m a is ca r o,
D — M — D’, pa r ece ser decer t o a pen a s u m a espécie do ca pit a l, a
for m a pecu lia r do ca pit a l com er cia l. Ma s t a m bém o ca pit a l in du st r ia l
é din h eir o, qu e se t r a n sfor m a em m er ca dor ia e por m eio da ven da de
m er ca dor ia r et r a n sfor m a -se em m a is din h eir o. At os qu e ocor r a m even -
t u a lm en t e en t r e a com pr a e a ven da for a da esfer a da cir cu la çã o n a da
m u da m n essa for m a de m ovim en t o. No ca pit a l a ju r os a cir cu la çã o D
— M — D’ a pr esen t a -se, a fin a l, a br evia da , em seu r esu lt a do sem a
m edia çã o, por a ssim dizer em est ilo la pida r , com o D — D, din h eir o
qu e é igu a l a m a is din h eir o, va lor qu e é m a ior do qu e ele m esm o.
De fa t o, por t a n t o, D — M — D é a fór m u la ger a l do ca pit a l,
com o a pa r ece dir et a m en t e n a esfer a da cir cu la çã o.

2. Co n tra d iç õ e s d a fó rm u la g e ra l

A for m a de cir cu la çã o, pela qu a l o din h eir o se r evela com o ca pit a l,


con t r a diz t oda s a s leis a n t er ior m en t e desen volvida s sobr e a n a t u r eza
da m er ca dor ia , do va lor , do din h eir o e da pr ópr ia cir cu la çã o. O qu e a
dist in gu e da cir cu la çã o sim ples de m er ca dor ia s é a seqü ên cia in ver sa
dos m esm os dois pr ocessos con t r a post os, ven da e com pr a . E com o po-
der ia t a l difer en ça pu r a m en t e for m a l m u da r por en ca n t o a n a t u r eza
desses pr ocessos?
Ain da m a is. E ssa in ver sã o só exist e pa r a u m dos t r ês pa r ceir os
qu e com er cia m u n s com os ou t r os. Com o ca pit a list a , com pr o m er ca dor ia
de A e a r even do pa r a B , en qu a n t o com o sim ples possu idor de m er -
ca dor ia s ven do m er ca dor ia pa r a B e com pr o en t ã o m er ca dor ia de A .
P a r a os pa r ceir os A e B essa difer en ça n ã o exist e. E les a pa r ecem a pen a s
com o com pr a dor ou ven dedor de m er ca dor ia s. E u m esm o m e con fr on t o
com eles, t oda vez, com o m er o possu idor de din h eir o ou com o possu idor
de m er ca dor ia s, com pr a dor ou ven dedor , e a pa r eço em a m ba s a s se-
qü ên cia s defr on t a n do-m e com u m a pessoa som en t e com o com pr a dor e
com a ou t r a som en t e com o ven dedor , com u m a som en t e com o din h eir o,
com a ou t r a som en t e com o m er ca dor ia ; com n en h u m deles com o ca pit a l
ou ca pit a list a ou r epr esen t a n t e de qu a lqu er ou t r a coisa qu e fosse m a is
qu e din h eir o ou m er ca dor ia ou qu e pu desse su r t ir qu a lqu er ou t r o efeit o,
excet o o do din h eir o ou da m er ca dor ia . P a r a m im , com pr a de A e ven da
pa r a B con st it u em u m a seqü ên cia . Ma s a con exã o en t r e esses dois

235 "Ca pit a l (...) va lor qu e se m u lt iplica per m a n en t em en t e." (SISMONDI. N ou veau x Prin cipes
d ’É con . Polit. t . L, p. 89.)

275
OS ECON OMIS TAS

a t os exist e a pen a s pa r a m im . A n ã o se im por t a com a m in h a t r a n sa çã o


com B , e B t a m bém n ã o com a m in h a t r a n sa çã o com A. Ca so eu qu isesse
escla r ecê-los qu a n t o a o m ér it o pa r t icu la r qu e por m eio da in ver sã o da
seqü ên cia gr a n jeio, eles m e dem on st r a r ia m qu e m e en ga n o n a pr ópr ia
seqü ên cia e qu e a t r a n sa çã o globa l n ã o com eçou com u m a com pr a e
t er m in ou com u m a ven da , m a s qu e, in ver sa m en t e, com eçou com u m a
ven da e se en cer r ou com u m a com pr a . De fa t o, m eu pr im eir o a t o, a
com pr a , foi do pon t o de vist a de A u m a ven da , e m eu segu n do a t o, a
ven da , foi do pon t o de vist a de B u m a com pr a . Nã o sa t isfeit os com
isso, A e B escla r ecer ã o qu e t oda a seqü ên cia foi su pér flu a e a br a ca -
da br a . A va i ven der a m er ca dor ia dir et a m en t e pa r a B , e B com pr á -la
dir et a m en t e de A. Com isso, t oda a t r a n sa çã o se r edu z a u m a t o u n i-
la t er a l de cir cu la çã o h a bit u a l de m er ca dor ia s, da per spect iva de A m er a
ven da e da per spect iva de B m er a com pr a . P or t a n t o, por m eio da in -
ver sã o da seqü ên cia , n ós n ã o t r a n scen dem os a esfer a da cir cu la çã o
sim ples de m er ca dor ia s, e devem os m u it o m a is ver ifica r se ela per m it e,
de a cor do com su a n a t u r eza , va lor iza çã o do va lor qu e n ela pen et r a e,
da í, ger a çã o de m a is-va lia .
Tom em os o pr ocesso de cir cu la çã o n u m a for m a em qu e ele se
a pr esen t a com o m er o in t er câ m bio de m er ca dor ia s. E sse é sem pr e o
ca so qu a n do a m bos os possu idor es de m er ca dor ia s com pr a m m er ca do-
r ia s u m do ou t r o e a ba la n ça de su a s obr iga ções r ecípr oca s de din h eir o
se com pen sa n o dia do pa ga m en t o. O din h eir o ser ve a qu i com o din h eir o
de con t a pa r a expr essa r os va lor es da s m er ca dor ia s em seu s pr eços,
m a s n ã o se con fr on t a m a t er ia lm en t e com a s pr ópr ia s m er ca dor ia s. À
m edida qu e se t r a t a do va lor de u so, é cla r o qu e a m bos os per m u t a dor es
podem ga n h a r . Am bos a lien a m m er ca dor ia s qu e lh es sã o in ú t eis com o
va lor de u so, e r ecebem m er ca dor ia s de qu e n ecessit a m pa r a o seu
u so. E essa va n t a gem pode n ã o ser a ú n ica . A, qu e ven de vin h o e
com pr a cer ea l, pr odu z t a lvez m a is vin h o do qu e o pla n t a dor de cer ea l
B poder ia pr odu zir n o m esm o per íodo de t em po de t r a ba lh o, e o pla n -
t a dor de cer ea l B poder ia pr odu zir n o m esm o t em po de t r a ba lh o m a is
cer ea l do qu e o vin icu lt or A. A r ecebe, por t a n t o, pelo m esm o va lor de
t r oca , m a is cer ea l e B m a is vin h o do qu e se ca da u m , sem t r oca , t ivesse
de pr odu zir vin h o e cer ea l pa r a si m esm o. No qu e se r efer e a o va lor
de u so, pode ser , por t a n t o, dit o qu e “a t r oca é u m a t r a n sa çã o em qu e
a m ba s a s pa r t es ga n h a m ”.236 Com o va lor de t r oca é difer en t e.
“Um homem que possui m uito vinho e nenhum cereal com ercia
com um homem que tem m uito cereal e nenhum vinho, e entre eles

236 "L’éch a n ge est u n e t r a n sa ct ion a dm ir a ble da n s la qu elle les deu x con t r a ct a n t s ga gn en t —


t ou jou r s (!)."* (DE STUTT DE TRACY. T raité d e la Volon té et d e ses E ffects. P a r is, 1826.
p. 68.) O m esm o livr o a pa r eceu t a m bém com o T raité d ’É c. Pol.
*
A t r oca é u m a t r a n sa çã o a dm ir á vel, n a qu a l os dois con t r a t a n t es ga n h a m — sem pr e. (N.
dos T.)

276
MARX

se troca trigo no valor de 50 por um valor de 50 em vinho. Esse


intercâm bio não é um aumento do valor de troca, seja para um,
seja para o outro; pois cada um deles já possuía, antes do intercâmbio,
um valor igual àquele que obteve por m eio dessa operação.”237
Na da m u da n a coisa se o din h eir o se in t er põe com o m eio cir cu -
la n t e en t r e a s m er ca dor ia s e os a t os de com pr a e ven da se sepa r a m
per cept ivelm en t e.238 O va lor da s m er ca dor ia s est á r epr esen t a do em
seu s pr eços, a n t es qu e en t r em n a cir cu la çã o, sen do, por t a n t o, pr essu -
post o e n ã o r esu lt a do da m esm a .239
Con sider a do a bst r a t a m en t e, ist o é, deixa n do de con sider a r a s
cir cu n st â n cia s qu e n ã o decor r em da s leis im a n en t es da cir cu la çã o sim -
ples de m er ca dor ia s, o qu e ocor r e n ela , for a a su bst it u içã o de u m va lor
de u so por ou t r o, n a da m a is é qu e u m a m et a m or fose, m er a m u da n ça
de for m a da m er ca dor ia . O m esm o va lor , ist o é, o m esm o qu an tu m de
t r a ba lh o socia l objet iva do, per m a n ece n a s m ã os do m esm o possu idor
de m er ca dor ia , pr im eir o n a figu r a de su a m er ca dor ia , depois n a do
din h eir o em qu e se t r a n sfor m a , fin a lm en t e n a da m er ca dor ia n a qu a l
esse din h eir o se r et r a n sfor m a . E ssa m u da n ça de for m a n ã o in clu i n e-
n h u m a m u da n ça de gr a n deza do va lor . Ma s a m u da n ça qu e o va lor
da pr ópr ia m er ca dor ia sofr e n esse pr ocesso lim it a -se a u m a m u da n ça
da su a for m a m on et á r ia . E la exist e pr im eir o com o pr eço da m er ca dor ia
post a à ven da , em segu ida com o u m a som a de din h eir o, qu e já est a va ,
por ém , expr essa n o pr eço, fin a lm en t e com o pr eço de u m a m er ca dor ia
equ iva len t e. E ssa m u da n ça de for m a im plica em si e pa r a si t ã o pou co
n u m a m u da n ça n a gr a n deza do va lor qu a n t o a t r oca de u m a n ot a de
5 libr a s est er lin a s por sovereign s, m eio sovereign e xelin s. P or t a n t o, à
m edida qu e a cir cu la çã o da m er ca dor ia só con dicion a u m a m u da n ça
for m a l do seu va lor , ela con dicion a , qu a n do o fen ôm en o ocor r e em su a
pu r eza , t r oca de equ iva len t es. A pr ópr ia econ om ia vu lga r , por pou co
qu e pr essin t a o qu e seja va lor , su põe por isso, sem pr e qu e ela , à su a
m a n eir a , qu eir a con sider a r o fen ôm en o em su a pu r eza , qu e pr ocu r a e
ofer t a se igu a la m , ist o é, qu e seu efeit o sim plesm en t e cessa . Se, por -
t a n t o, em r ela çã o a o va lor de u so, a m bos os per m u t a n t es podem lu cr a r ,
a m bos n ã o podem ga n h a r n o va lor de t r oca . Aqu i sign ifica sobr et u do:
“On de h á igu a lda de, n ã o h á lu cr o”.240 Mer ca dor ia s podem ch ega r a ser
ven dida s por pr eços qu e se desvia m de seu s va lor es, m a s esse desvio
a pa r ece com o viola çã o da lei da t r oca de m er ca dor ia s.241 E m su a figu r a

237 RIVIÈ RE , Mer cier de la . Op. cit., p. 544.


238 "Qu e u m a dessa s m er ca dor ia s seja din h eir o ou qu e a m ba s seja m m er ca dor ia s com u n s,
n a da pode ser em si m a is in difer en t e." (RIVIÈ RE , Mer cier de la . Op. cit., p. 543.)
239 "Sobr e o va lor n ã o decidem os pa r ceir os de con t r a t o; ele já est á fixa do a n t es do a cor do."
(LE TROSNE . Op. cit., p. 906.)
240 "Dove c’è egu a lit à n on c’è lu cr o." (GALIANI. Della M on eta. In : CUSTODI. P a r t e Moder n a .
t . IV, p. 244.)
241 "O in t er câ m bio t or n a -se desva n t a joso pa r a u m a da s pa r t es se qu a lqu er cir cu n st â n cia es-

277
OS ECON OMIS TAS

pu r a , ela é u m a t r oca de equ iva len t es, por t a n t o n ã o u m m eio de en -


r iqu ecer em va lor .242
P or t r á s da s t en t a t iva s de a pr esen t a r a cir cu la çã o de m er ca dor ia s
com o fon t e de m a is-va lia , espr eit a , por t a n t o, ger a lm en t e u m qü ipr oqü ó,
u m a con fu sã o en t r e va lor de u so e va lor de t r oca . Assim , por exem plo,
em Con dilla c:

“É falso que na troca de mercadorias se troque valor igual por


valor igual. Pelo contrário. Cada um dos contraentes sempre dá um
valor menor por um valor maior. (...) Caso se trocassem de fato
sem pre valores iguais, então não haveria ganho para nenhum dos
contraentes mas os dois ganham ou deveriam então ganhar. Por
quê? O valor das coisas baseia-se apenas em sua relação com nossas
necessidades. O que para um é m ais, é menos para o outro, e vice-
versa. (...) Não se pressupõe que ofereçamos à venda coisas indis-
pensáveis ao nosso consumo. Querem os dar uma coisa inútil para
nós, a fim de conseguir uma que nos é necessária; queremos dar
menos por mais. (...) E ra natural julgar que na troca se dê igual
valor por valor igual, sempre que cada um a das coisas trocadas era
igual em valor ao mesmo quantum de dinheiro. (...) Mas outra con-
sideração precisa ainda entrar no cálculo; é de se perguntar se ambos
trocam os um supérfluo por algo necessário”.243

Vê-se com o Con dilla c n ã o só con fu n de va lor de u so com o va lor


de t r oca m a s a t r ibu i de m odo ver da deir a m en t e in fa n t il, a u m a socieda de
com pr odu çã o desen volvida de m er ca dor ia s, u m a sit u a çã o em qu e o
pr odu t or pr odu z ele m esm o seu s m eios de su bsist ên cia e só joga n a
cir cu la çã o o qu e excede su a pr ópr ia n ecessida de, o su pér flu o.244 Apesa r
disso, o a r gu m en t o de Con dilla c é r epet ido fr eqü en t em en t e por econ o-
m ist a s m oder n os, sobr et u do qu a n do se t r a t a de a pr esen t a r a figu r a
desen volvida do in t er câ m bio de m er ca dor ia s, o com ér cio, com o pr odu t or
de m a is-va lia .

“O com ér cio”, diz-se, por exem plo, “a dicion a va lor a os pr odu t os,

t r a n h a dim in u i ou a u m en t a o pr eço: en t ã o a igu a lda de é viola da , m a s essa viola çã o é


a ca r r et a da por a qu ela ca u sa e n ã o pela t r oca ." (LE TROSNE . Op. cit., p. 904.)
242 "O in t er câ m bio é, por su a n a t u r eza , u m con t r a t o ba sea do n a igu a lda de, ou seja , qu e ocor r e
en t r e dois va lor es igu a is. E le n ã o é, por t a n t o, u m m eio de se en r iqu ecer , pois dá -se t a n t o
qu a n t o se r ecebe." (LE TROSNE . Op. cit., p. 903-904.)
243 CONDILLAC. “Le Com m er ce et le Gou ver n em en t ” (1776). É dit . Da ir e et Molin a r i. In : M é-
lan ges d ’É con om ie Politiqu e. P a r is, 1847. p. 267-291.
244 P or isso, Le Tr osn e r espon de m u it o a cer t a da m en t e a o seu a m igo Con dilla c: “Na socieda de
desen volvida n ã o exist e, a r igor , n a da su pér flu o”. Ao m esm o t em po, fa z t r oça dele com a
glosa de qu e “se a m bos os pa r t icipa n t es de t r oca r ecebem igu a lm en t e m a is por igu a lm en t e
m en os, a m bos r ecebem por igu a l”. Com o Con dilla c a in da n ã o t em a m ín im a n oçã o da
na tureza do valor de tr oca , é ele o fia dor a dequa do do sr. pr of. Wilhelm Roscher par a os seus
pr óprios conceitos infa ntis. Veja m dele: Die Grundlagen der N ationalökonom ie.* 3ª ed., 1858.
*
Os F u n da m en t os da E con om ia P olít ica . (N. dos T.)

278
MARX

pois os m esm os pr odu t os t êm m a is va lor n a s m ã os dos con su m i-


dor es do qu e n a s m ã os dos pr odu t or es, e deve ser , por t a n t o, con -
sider a do est r it a m en t e (strictly) a t o de pr odu çã o.”245
Ma s n ã o se pa ga m a s m er ca dor ia s du pla m en t e, u m a vez seu
va lor de u so e ou t r a vez seu va lor . E se o va lor de u so da m er ca dor ia
é m a is ú t il a o com pr a dor do qu e a o ven dedor , a su a for m a din h eir o é
m a is ú t il a o ven dedor do qu e a o com pr a dor . Se a ssim n ã o fosse, ir ia
ele ven dê-la ? E a ssim se poder ia igu a lm en t e dizer qu e o com pr a dor
r ea liza est r it a m en t e (strictly) u m “a t o de pr odu çã o” a o t r a n sfor m a r ,
por exem plo, a s m eia s do com er cia n t e em din h eir o.
Se m er ca dor ia s ou m er ca dor ia s e din h eir o de igu a l va lor de t r oca ,
por t a n t o equ iva len t es, sã o t r oca dos, en t ã o eviden t em en t e n in gu ém t ir a
da cir cu la çã o m a is do qu e la n ça n ela . E n t ã o n ã o ocor r e n en h u m a for -
m a çã o de m a is-va lia . Ma s, em su a for m a pu r a , o pr ocesso de cir cu la çã o
da s m er ca dor ia s con dicion a o in t er câ m bio de equ iva len t es. No en t a n t o,
a s coisa s n a r ea lida de n ã o se pa ssa m de m odo pu r o. Su pon h a m os,
por t a n t o, in t er câ m bio de n ã o-equ iva len t es.
Em todo caso, no mercado de mercadorias, só possuidor de merca-
dorias se confronta com possuidor de mercadorias e o poder que essas
pessoas exercem um as sobre as outras é somente o poder de suas m er-
cadorias. A diferença m aterial das m ercadorias é o m otivo central do
intercâm bio e torna os possuidores de m ercadorias reciprocam ente de-
pendentes, pois nenhum deles tem o objeto de suas pr óprias necessidades
e cada um deles tem em suas m ãos o objeto da necessidade do outro.
Além dessa diferenciação m aterial de seus valores de uso, só existe um a
diferença entre as mercadorias, a diferença entre a sua forma natural e
a sua form a transform ada, entre mercadoria e dinheiro. E, assim, os pos-
suidores de mercadorias só se diferenciam enquanto vendedores, possui-
dores de mercadoria, e enquanto compradores, possuidores de dinheiro.
Adm it a -se a gor a qu e seja per m it ido a os ven dedor es, por u m pr i-
vilégio in explicá vel, ven der a m er ca dor ia a cim a do seu va lor , a 110
qu a n do ela va le 100, por t a n t o com u m a u m en t o n om in a l de pr eço de
10%. O ven dedor cobr a , por t a n t o, u m a m a is-va lia de 10. Ma s depois
de t er sido ven dedor , ele se t or n a com pr a dor . Um t er ceir o possu idor
de m er ca dor ia s en con t r a -o a gor a com o ven dedor e goza por su a vez
do pr ivilégio de ven der a m er ca dor ia 10% m a is ca r a . Nosso h om em
ga n h ou 10 com o ven dedor pa r a per der 10 com o com pr a dor .246 O t odo
a ca ba r edu n da n do n o fa t o de qu e t odos os possu idor es de m er ca dor ia s
ven da m r ecipr oca m en t e a s su a s m er ca dor ia s 10% a cim a do va lor , o

245 NE WMAN, S. P . E lem en ts of Polit. E con . An dover e Nova Yor k, 1835. p. 175.
246 "P or m eio da eleva çã o do va lor n om in a l do pr odu t o (...) os ven dedor es n ã o fica m m a is r icos
(...) já qu e o qu e eles ga n h a m com o ven dedor es eles ga st a m exa t a m en t e de n ovo em su a
qu a lida de de com pr a dor es." ([GRAY, J .] T h e E ssen tial Prin ciples of th e Wealth of N ation s
et c. Lon dr es, 1797. p. 66.)

279
OS ECON OMIS TAS

qu e é in t eir a m en t e o m esm o qu e ven der em a s m er ca dor ia s por seu s


va lor es. Ta l a u m en t o n om in a l e ger a l do pr eço a ca r r et a o m esm o efeit o
qu e se os va lor es da s m er ca dor ia s fossem a va lia dos em pr a t a em vez
de em ou r o. As den om in a ções m on et á r ia s, ist o é, os pr eços da s m er -
cadorias iriam inchar, m as as suas relações de valor ficariam inalteradas.
Suponham os, pelo contrário, que seja privilégio do comprador com -
prar as mercadorias abaixo de seu valor. Aqui não é sequer necessário
recordar que o comprador se torna novam ente vendedor. Ele era vendedor
antes de se tornar comprador. Ele já perdeu 10% como vendedor antes
de ganhar 10% como comprador.247 Tudo fica com o dantes.
A for m a çã o de m a is-va lia e da í a t r a n sfor m a çã o de din h eir o em
ca pit a l n ã o pode ser , por t a n t o, explica da por ven der em os ven dedor es
a s m er ca dor ia s a cim a do seu va lor , n em por os com pr a dor es a s com -
pr a r em a ba ixo do seu va lor .248
De m odo a lgu m se sim plifica o pr oblem a in ser in do de con t r a ba n do
n ele con sider a ções est r a n h a s, dizen do com o Cor on el Tor r en s:

“A pr ocu r a efet iva con sist e n a fa cu lda de e pr open sã o (!) dos


con su m idor es, seja pela t r oca dir et a ou in dir et a , de da r pela s
m er ca dor ia s cer t a por çã o m a ior de t odos os in gr edien t es do ca pit a l
do qu e cu st a a su a pr odu çã o”.249

Na cir cu la çã o, pr odu t or es e con su m idor es só se con fr on t a m com o


ven dedor es e com pr a dor es. Afir m a r qu e a m a is-va lia pa r a os pr odu t or es
su r ja de qu e os con su m idor es pa ga m a s m er ca dor ia s a cim a do va lor
sign ifica a pen a s m a sca r a r essa sim ples fr a se: o possu idor de m er ca -
dor ia s possu i com o ven dedor o pr ivilégio de ven der ca r o dem a is. O
ven dedor pr odu ziu ele m esm o a m er ca dor ia ou en t ã o r epr esen t a seu s
pr odu t or es, por ém o com pr a dor pr odu ziu n ã o m en os a m er ca dor ia r e-
pr esen t a da em seu din h eir o ou r epr esen t a seu s pr odu t or es. P or t a n t o,
pr odu t or se defr on t a com pr odu t or . O qu e os dist in gu e é qu e u m com pr a
e o ou t r o ven de. Nã o n os leva u m pa sso a dia n t e qu e o possu idor de
m er ca dor ia s ven da , sob o n om e de pr odu t or , a m er ca dor ia a cim a de
seu va lor e, sob o n om e de con su m idor , pa gu e dem a is por ela .250
Os r epr esen t a n t es con seqü en t es da ilu sã o de qu e a m a is-va lia

247 "Ca so se t en h a de ven der por 18 livres * u m a qu a n t ida de de det er m in a do pr odu t o qu e va le


24 livres, a o se a plica r a m esm a som a de din h eir o pa r a a com pr a , h á de se obt er t a m bém
por 18 livres t a n t o qu a n t o por 24 livres.“ (LE TROSNE . Op. cit., p. 897.)
*
Libr a s (m oeda ). (N. dos T.)
248 "Nenhum vendedor pode, porta nto, a umenta r habitualm ente o pr eço de suas mer ca doria s sem
ter de paga r ta mbém m ais car o as m ercador ias dos outr os vendedores; e pela m esma r azão
nenhum consumidor ha bitua lmente pode compr ar m ais ba ra to sem ter de dim inuir igua lmente
o pr eço das m ercador ias que ele vende." (RIVIÈRE, Mercier de la. Op. cit., p. 555.)
249 TORRE NS, R. An E ssay on th e Prod u ction of Wealth . Lon dr es, 1821. p. 349.
250 "O pen sa m en t o de qu e os lu cr os seja m pa gos pelos con su m idor es é decer t o t ot a lm en t e
a bsu r do. Qu em sã o os con su m idor es?" (RAMSAY, G. An E ssay on th e Distribu tion of Wealth .
E dim bu r go, 1836. p. 183.)

280
MARX

se or igin a de u m a u m en t o n om in a l de pr eço ou do pr ivilégio do ven dedor


de ven der a m er ca dor ia ca r o dem a is pr essu põem , por t a n t o, u m a cla sse
qu e só com pr a sem ven der , por con segu in t e, só con som e sem pr odu zir .
A exist ên cia de t a l cla sse é, do pon t o de vist a a lca n ça do por n ós a t é
a gor a , o da cir cu la çã o sim ples, a in da in explicá vel. Ma s a n t ecipem o-n os.
O din h eir o, com qu e t a l cla sse con t in u a m en t e com pr a , deve flu ir con -
t in u a m en t e dos pr ópr ios possu idor es de m er ca dor ia s, sem in t er câ m bio,
gr a t u it a m en t e, por qu a isqu er t ít u los de dir eit o e poder . Ven der , a essa
cla sse, a s m er ca dor ia s a cim a do va lor sign ifica a pen a s r ecu per a r a r -
dilosa m en t e em pa r t e din h eir o da do gr a t u it a m en t e.251 Assim , a s cida -
des da Ásia Men or pa ga va m u m t r ibu t o a n u a l em din h eir o à Rom a
An t iga . Com esse din h eir o, Rom a com pr a va m er ca dor ia s dela s e a s
com pr a va ca r a s dem a is. Os a siá t icos m en or es en ga n a va m os r om a n os,
su ga n do de volt a dos con qu ist a dor es pa r t e do t r ibu t o por m eio do co-
m ér cio. Ma s, m esm o a ssim , esses a siá t icos con t in u a va m sen do depe-
n a dos. Depois com o a n t es su a s m er ca dor ia s lh es er a m pa ga s com o
seu pr ópr io din h eir o. E sse n ã o é u m m ét odo de en r iqu ecim en t o ou de
for m a çã o de m a is-va lia .
Mantenham o-nos, portanto, dentro dos lim ites do intercâmbio de
mercadorias, onde vendedores são com pradores e compradores são ven-
dedores. Nosso em baraço se origina talvez de que tenham os tom ado as
pessoas apenas como categorias personificadas e não individualmente.
O possu idor de m er ca dor ia s A pode ser t ã o esper t o qu e pa ssa a
per n a n os seu s colega s B e C, en qu a n t o est es fica m deven do a r eva n ch e
por m a is boa von t a de qu e t en h a m . A ven de vin h o pa r a B n o va lor de
40 libr a s est er lin a s e a dqu ir e em t r oca cer ea l n o va lor de 50 libr a s
est er lin a s. A con ver t eu a s su a s 40 libr a s est er lin a s em 50 libr a s es-
t er lin a s, fez m a is din h eir o de m en os din h eir o e t r a n sfor m ou a su a
m er ca dor ia em ca pit a l. Veja m os m a is de per t o. An t es da t r oca , t ín h a m os
vin h o em m ã os de A por 40 libr a s est er lin a s e cer ea l em m ã os de B
por 50 libr a s est er lin a s; va lor globa l de 90 libr a s est er lin a s. Depois
da t r oca , t em os o m esm o va lor globa l de 90 libr a s est er lin a s. O va lor
cir cu la n t e n ã o a u m en t ou u m ú n ico á t om o, a su a r epa r t içã o en t r e A e
B é qu e se m odificou . De u m la do a pa r ece com o m a is-va lia o qu e do
ou t r o é m en os-va lia , de u m la do com o plu s, do ou t r o com o m in u s. A
m esm a m u da n ça t er ia ocor r ido se A, sem a for m a dissim u la dor a da
t r oca , t ivesse r ou ba do 10 libr a s est er lin a s dir et a m en t e de B . A som a
dos va lor es cir cu la n t es n ã o pode eviden t em en t e ser a u m en t a da por
m eio de n en h u m a m u da n ça em su a dist r ibu içã o, t a m pou co qu a n t o u m

251 "Se a a lgu ém fa lt a dem a n da , a con selh a -o o sr . Ma lt h u s a pa ga r a ou t r a pessoa pa r a qu e


est a lh e com pr e a s su a s m er ca dor ia s?" per gu n t a u m in dign a do r ica r dia n o a Ma lt h u s, qu e,
com o seu discípu lo, o pa dr e Ch a lm er s, divin iza econ om ica m en t e a cla sse dos m er os com -
pr a dor es ou con su m idor es. Ver An In qu iry in to th ose Prin ciples, R espectin g th e N atu re of
Dem an d and the N ecessity of Consum ption, L ately Advocated by Mr. Malthus etc. Londres,
1821. p. 55.

281
OS ECON OMIS TAS

ju deu a u m en t a a m a ssa dos m et a is pr eciosos n u m pa ís ven den do 1


farth in g do t em po da r a in h a An a por 1 gu in éu . A t ot a lida de da cla sse
dos ca pit a list a s de u m pa ís n ã o pode t ir a r va n t a gem de si m esm a .252
P ode-se vir a r e r evir a r com o se qu eir a , o r esu lt a do per m a n ece o
m esm o. Se equ iva len t es sã o per m u t a dos, da í n ã o su r ge m a is-va lia , e
se n ã o-equ iva len t es sã o per m u t a dos, da í t a m bém n ã o su r ge m a is-va -
lia .253 A cir cu la çã o ou o in t er câ m bio de m er ca dor ia s n ã o pr odu z va lor .254
E n t en de-se da í por qu e, em n ossa a n á lise da for m a bá sica do
ca pit a l, da for m a pela qu a l ele det er m in a a or ga n iza çã o econ ôm ica da
socieda de m oder n a , a s su a s figu r a s popu la r es e, por a ssim dizer , a n -
t edilu via n a s, ca pit a l com er cia l e ca pit a l u su r á r io, de in ício per m a n ecem
t ot a lm en t e for a de cogit a çã o.
No ca pit a l com er cia l a u t ên t ico, a for m a D — M — D, com pr a r
pa r a r even der m a is ca r o, a pa r ece n a m a ior pu r eza . P or ou t r o la do,
t odo o seu m ovim en t o ocor r e den t r o da esfer a da cir cu la çã o. Ma s já
qu e é im possível explica r por m eio da pr ópr ia cir cu la çã o a t r a n sfor -
m a çã o de din h eir o em ca pit a l, a for m a çã o de m a is-va lia , o ca pit a l co-
m er cia l pa r ece im possível n a m edida em qu e se per m u t a m equ iva len -
t es,255 só sen do ele, por t a n t o, dedu t ível do du plo pr eju ízo in fligido a os
pr odu t or es de m er ca dor ia s qu e com pr a m e ven dem pelo com er cia n t e
qu e se a t r a vessa pa r a sit a r ia m en t e en t r e eles. Nesse sen t ido, diz F r a n k-
lin : “Gu er r a é r ou bo, com ér cio é en godo”. 256 P a r a qu e a va lor iza çã o
do ca pit a l com er cia l n ã o seja explica da por m er o en godo dos pr odu t or es
de m er ca dor ia s, é pr eciso dispor de u m a lon ga sér ie de elos in t er m e-

252 Destutt de Tr acy, em bor a — talvez por que — m em bre de l’Institut,* er a de opinião contr ár ia.
Os ca pitalista s industr iais, diz ele, obtêm os seus lucros “por venderem tudo ma is car o do que
custou produzi-lo. E a quem eles o vendem ? Pr imeir o, uns a os outros”. (Op. cit., p. 239.)
*
Mem br o do In st it u t o. — In stitu t d e Fran ce. A m a is eleva da cor por a çã o da F r a n ça , con s-
t it u ída por vá r ia s cla sses ou a ca dem ia s. Dest u t t de Tr a cy foi m em br o da Aca dem ia de
Ciên cia s Mor a is e P olít ica s. (N. da E d. Alem ã .)
253 "O in t er câ m bio de dois va lor es igu a is n ã o a u m en t a a m a ssa dos va lor es exist en t es n a
socieda de n em a dim in u i. O in t er câ m bio de dois va lor es desigu a is (...) t a m bém n ã o a lt er a
n a da n a som a dos va lor es socia is, já qu e a cr escen t a à for t u n a de u m o qu e r et ir a da do
ou t r o." (SAY, J .-B. Op. cit., t . II, p. 443-444.) Sa y, n a t u r a lm en t e despr eocu pa do qu a n t o à s
con seqü ên cia s dessa fr a se, t om ou -a qu a se lit er a lm en t e dos fisiocr a t a s. A m a n eir a com o ele
explor a os t ext os deles, esgot a dos n a su a época , pa r a o a u m en t o do seu pr ópr io “va lor ”,
m ost r a o segu in t e exem plo. A “m a is fa m osa ” fr a se de Mon sieu r Sa y “só se pode com pr a r
pr odu t os com pr odu t os” (Op. cit., t . II, p. 438) r eza n o or igin a l fisiocr á t ico: “pr odu t os só se
podem pa ga r com pr odu t os”. (LE TROSNE . Op. cit., p. 899.)
254 "O in t er câ m bio n ã o t r a n sfer e va lor de n en h u m a espécie a os pr odu t os." (WAYLAND, F . T h e
E lem en ts of Pol E con . Bost on , 1843. p. 168.)
255 "Sob o dom ín io de equ iva len t es im u t á veis, o com ér cio ser ia im possível." (OP DYKE , G. A
T reatise on Polit. E con om y. Nova Yor k, 1851. p. 66-69.) “Sob a difer en ça en t r e va lor r ea l
e va lor de t r oca ja z u m fa t o — ou seja , qu e o va lor de u m a coisa é difer en t e do a ssim
ch a m a do equ iva len t e qu e por ela é da do n o com ér cio, ist o é, qu e esse equ iva len t e n ã o é
equ iva len t e.” (E NGE LS, F . Op. cit., p. 95-96.)*
*
Ver v. I da ediçã o M E W, p. 508. (N. da E d. Alem ã .)
256 F RANKLIN, Ben ja m in . Work s. v. II, edit . Spa r ks. In : Position s to be E xam in ed Con cern in g
N ation al Wealth . [p. 376.]

282
MARX

diá r ios, qu e a in da fa lt a com plet a m en t e a qu i on de a cir cu la çã o de m er -


ca dor ia s e seu s m om en t os sim ples con st it u em n osso ú n ico pr essu post o.
O qu e va le pa r a o ca pit a l com er cia l, va le a in da m a is pa r a o
ca pit a l u su r á r io. No ca pit a l com er cia l, os ext r em os, o din h eir o la n ça do
n o m er ca do e o din h eir o a u m en t a do qu e é r et ir a do do m er ca do, sã o
a o m en os m edia dos por com pr a e ven da , pelo m ovim en t o da cir cu la çã o.
No ca pit a l u su r á r io, a for m a D — M — D’ é r edu zida a os ext r em os
n ã o m edia dos D — D’, din h eir o qu e se t r oca por m a is din h eir o, for m a
qu e con t r a diz a n a t u r eza do din h eir o e, por isso, in explicá vel do pon t o
de vist a do in t er câ m bio de m er ca dor ia s. Da í Ar ist ót eles:

“Com o a Cr em a t íst ica é du pla , u m a per t en cen t e a o com ér cio,


a ou t r a à E con om ia , a ú lt im a n ecessá r ia e lou vá vel, a pr im eir a
ba sea da n a cir cu la çã o e ju st a m en t e cr it ica da (pois ela n ã o se
ba seia n a n a t u r eza , m a s n o en godo m ú t u o), a ssim t a m bém o
a giot a é odia do com t oda ju st iça , por qu e o pr ópr io din h eir o é
a qu i a fon t e do ga n h o e n ã o é u sa do de a cor do com o fim pa r a
o qu a l ele foi in ven t a do. P ois ele su r giu pa r a o in t er câ m bio de
m er ca dor ia s, m a s o ju r o fa z de din h eir o m a is din h eir o. Da í t a m -
bém o seu n om e (τοχος — ju r o e n a scido). P ois os n a scidos sã o
sem elh a n t es a os qu e os ger a r a m . Ma s o ju r o é din h eir o de di-
n h eir o, de m odo qu e, de t oda s a s m oda lida des de ga n h o, esse é
o m a is a n t in a t u r a l”.257

Do m esm o m odo qu e o ca pit a l com er cia l, en con t r a r em os, a o lon go


de n ossa pesqu isa , o ca pit a l a ju r os com o for m a der iva da e, a o m esm o
t em po, ver em os por qu e a m bos a pa r ecem h ist or ica m en t e a n t es da m o-
der n a for m a bá sica do ca pit a l.
Most r ou -se qu e a m a is-va lia n ã o pode or igin a r -se da cir cu la çã o,
qu e, por t a n t o, em su a for m a çã o deve ocor r er a lgo por t r á s de su a s
cost a s e qu e n ela m esm a é in visível.258 Ma s pode a m a is-va lia or igi-
n a r -se de ou t r o lu ga r qu e n ã o da cir cu la çã o? A cir cu la çã o é a som a
de t oda s a s r ela ções r ecípr oca s 259 dos possu idor es de m er ca dor ia s. F or a
da m esm a o possu idor de m er ca dor ia só est á a in da em r ela çã o com
su a pr ópr ia m er ca dor ia . No qu e t a n ge a o va lor dela , a r ela çã o se lim it a
a o fa t o de qu e ela con t ém u m qu an tu m de seu pr ópr io t r a ba lh o m edido
segu n do det er m in a da s leis socia is. E sse qu an tu m de t r a ba lh o se ex-
pr essa n a gr a n deza de va lor de su a m er ca dor ia e, com o gr a n deza de
va lor , se r epr esen t a em din h eir o de con t a , n u m pr eço de, por exem plo,
10 libr a s est er lin a s. Ma s o seu t r a ba lh o n ã o se r epr esen t a n o va lor

257 ARISTÓTE LE S, Op. cit., ca p. 10, [p. 17].


258 "Sob a s con dições cost u m eir a s do m er ca do, o lu cr o n ã o é ger a do pelo in t er câ m bio. Se ele
n ã o t ivesse est a do a n t es pr esen t e, t a m pou co poder ia exist ir depois dessa t r a n sa çã o." (RAM-
SAY. Op. cit., p. 184.)
259 3ª e 4ª ed.: r ela ções m er ca n t is. (N. da E d. Alem ã .)

283
OS ECON OMIS TAS

da m er ca dor ia e n u m exceden t e a cim a do seu pr ópr io va lor , n ã o n u m


pr eço de 10 qu e seja , a o m esm o t em po, u m pr eço de 11, n ã o n u m va lor
qu e seja m a ior do qu e ele m esm o. O possu idor de m er ca dor ia s pode
for m a r va lor es por m eio do seu t r a ba lh o, m a s n ã o va lor es qu e se va -
lor izem . E le pode a u m en t a r o va lor de u m a m er ca dor ia , a cr escen t a n do,
m edia n t e n ovo t r a ba lh o, n ovo va lor a o va lor pr eexist en t e, por exem plo,
a o fa zer de cou r o, bot a s. O m esm o m a t er ia l t em a gor a m a is va lor
por qu e ele con t ém u m qu an tu m m a ior de t r a ba lh o. A bot a t em , por
isso, m a is va lor do qu e o cou r o, m a s o va lor do cou r o per m a n ece o qu e
er a . E le n ã o se va lor izou , n ã o se a cr escen t ou u m a m a is-va lia du r a n t e
a fa br ica çã o da bot a . É , por t a n t o, im possível qu e o pr odu t or de m er -
ca dor ia s, for a da esfer a de cir cu la çã o, sem en t r a r em con t a t o com ou t r os
possu idor es de m er ca dor ia s, va lor ize va lor e, da í, t r a n sfor m e din h eir o
ou m er ca dor ia em ca pit a l.
Ca pit a l n ã o pode, por t a n t o, or igin a r -se da cir cu la çã o e, t a m pou co,
pode n ã o or igin a r -se da cir cu la çã o. Deve, a o m esm o t em po, or igin a r -se
e n ã o se or igin a r dela .
Um r esu lt a do du plo foi, por t a n t o, a lca n ça do.
A t r a n sfor m a çã o do din h eir o em ca pit a l t em de ser desen volvida
com ba se n a s leis im a n en t es a o in t er câ m bio de m er ca dor ia s de m odo
qu e a t r oca de equ iva len t es sir va de pon t o de pa r t ida .260 Nosso possu idor
de din h eir o, por en qu a n t o a in da pr esen t e a pen a s com o ca pit a list a la r -
va r , t em de com pr a r a s m er ca dor ia s por seu va lor , ven dê-la s por seu
va lor e, m esm o a ssim , ext r a ir n o fin a l do pr ocesso m a is va lor do qu e
la n çou n ele. Su a m et a m or fose em bor bolet a t em de ocor r er n a esfer a
da cir cu la çã o e n ã o t em de ocor r er n a esfer a da cir cu la çã o. Sã o essa s
a s con dições do pr oblem a . H ic R h od u s, h ic salta!261

260 De a cor do com essa discu ssã o, o leit or com pr een de qu e isso sign ifica a pen a s: a for m a çã o
de ca pit a l t em de ser possível t a m bém qu a n do o pr eço da m er ca dor ia seja igu a l a o va lor
da m er ca dor ia . E la n ã o pode ser explica da pelo desvio dos pr eços da s m er ca dor ia s em
r ela çã o a os va lor es da s m er ca dor ia s. Se os pr eços se desvia m r ea lm en t e dos va lor es, en t ã o
é pr eciso com eça r por r edu zi-los a os ú lt im os, ou seja , a bst r a ir essa cir cu n st â n cia com o
sen do ca su a l, pa r a t er pela fr en t e, em su a pu r eza , o fen ôm en o da for m a çã o de ca pit a l com
ba se n o in t er câ m bio de m er ca dor ia s e n ã o ser con fu n dido em su a obser va çã o por cir cu n s-
t â n cia s secu n dá r ia s, per t u r ba dor a s e est r a n h a s a o ver da deir o decu r so. Sa be-se, a liá s, qu e
essa r edu çã o n ã o é, de m odo a lgu m , u m m er o pr ocedim en t o cien t ífico. As con st a n t es osci-
la ções dos pr eços de m er ca do, o seu a u m en t o e qu eda se com pen sa m , se a n u la m r ecipr o-
ca m en t e e se r edu zem a u m pr eço m édio com o su a r egr a im a n en t e. E st a con st it u i a est r e-
la -gu ia , por exem plo, do com er cia n t e ou do in du st r ia l, em ca da em pr een dim en t o qu e a br a n ja
espa ço de t em po m a ior . E le sa be, por con segu in t e, qu e, con sider a n do-se u m per íodo m a is
lon go com o u m t odo, a s m er ca dor ia s r ea lm en t e n ã o sã o ven dida s n em a ba ixo n em a cim a ,
m a s de a cor do com o seu pr eço m édio. Se o pen sa m en t o desin t er essa do fosse a o t odo de
seu in t er esse, en t ã o ele pr ecisa r ia coloca r o pr oblem a da for m a çã o de ca pit a l a ssim : com o
pode su r gir o ca pit a l sen do os pr eços r egu la dos pelo pr eço m édio, ou seja , em ú lt im a in st â n cia ,
pelo va lor da s m er ca dor ia s? Digo “em ú lt im a in st â n cia ” por qu e os pr eços m édios n ã o coin -
cidem dir et a m en t e com a s gr a n deza s de va lor da s m er ca dor ia s, con for m e a cr edit a m A.
Sm it h , Rica r do et c.
261 De u m a fá bu la de E sopo em qu e u m fa n fa r r ã o su st en t a t er da do u m sa lt o pr odigioso em
Rodos. A ele se r eplicou : Aqu i est á Rodos, a qu i sa lt a . (N. da E d. Alem ã .)

284
MARX

3. Co m p ra e v e n d a d a fo rç a d e tra ba lh o
A m odifica çã o do va lor de din h eir o, qu e deve t r a n sfor m a r -se em
ca pit a l, n ã o pode ocor r er n est e m esm o din h eir o, pois com o m eio de
com pr a e com o m eio de pa ga m en t o ele só r ea liza o pr eço da m er ca dor ia
qu e ele com pr a ou pa ga , en qu a n t o, per sist in do em su a pr ópr ia for m a ,
pet r ifica -se n u m a gr a n deza de va lor per m a n en t em en t e igu a l.262 Ta m -
pou co pode a m odifica çã o or igin a r -se do segu n do a t o de cir cu la çã o, a
r even da da m er ca dor ia , pois esse a t o a pen a s r et r a n sfor m a a m er ca dor ia
da for m a n a t u r a l n a for m a din h eir o. A m odifica çã o pr ecisa ocor r er ,
por t a n t o, com a m er ca dor ia com pr a da n o pr im eir o a t o D — M , m a s
n ã o com o seu va lor , pois sã o t r oca dos equ iva len t es, a m er ca dor ia é
pa ga por seu va lor . A m odifica çã o só pode or igin a r -se, por t a n t o, do
seu va lor de u so en qu a n t o t a l, ist o é, do seu con su m o. P a r a ext r a ir
va lor do con su m o de u m a m er ca dor ia , n osso possu idor de din h eir o
pr ecisa r ia t er a sor t e de descobr ir den t r o da esfer a da cir cu la çã o, n o
m er ca do, u m a m er ca dor ia cu jo pr ópr io va lor de u so t ivesse a ca r a ct e-
r íst ica pecu lia r de ser fon t e de va lor , por t a n t o, cu jo ver da deir o con su m o
fosse em si objet iva çã o de t r a ba lh o, por con segu in t e, cr ia çã o de va lor .
E o possu idor de din h eir o en con t r a n o m er ca do t a l m er ca dor ia específica
— a ca pa cida de de t r a ba lh o ou a for ça de t r a ba lh o.
P or for ça de t r a ba lh o ou ca pa cida de de t r a ba lh o en t en dem os o
con ju n t o da s fa cu lda des física s e espir it u a is qu e exist em n a cor por a -
lida de, n a per son a lida de viva de u m h om em e qu e ele põe em m ovim en t o
t oda vez qu e pr odu z va lor es de u so de qu a lqu er espécie.
P a r a qu e, n o en t a n t o, o possu idor de din h eir o en con t r e à dispo-
siçã o n o m er ca do a for ça de t r a ba lh o com o m er ca dor ia , diver sa s con -
dições pr ecisa m ser pr een ch ida s. O in t er câ m bio de m er ca dor ia s n ã o
in clu i em si e pa r a si ou t r a s r ela ções de depen dên cia qu e n ã o a s or i-
gin a da s de su a pr ópr ia n a t u r eza . Sob esse pr essu post o, a for ça de
t r a ba lh o com o m er ca dor ia só pode a pa r ecer n o m er ca do à m edida qu e
e por qu e ela é ofer ecida à ven da ou é ven dida com o m er ca dor ia por
seu pr ópr io possu idor , pela pessoa da qu a l ela é a for ça de t r a ba lh o.
P a r a qu e seu possu idor ven da -a com o m er ca dor ia , ele deve poder dispor
dela , ser , por t a n t o, livr e pr opr iet á r io de su a ca pa cida de de t r a ba lh o,
de su a pessoa .263 E le e o possu idor de din h eir o se en con t r a m n o m er ca do
e en t r a m em r ela çã o u m com o ou t r o com o possu idor es de m er ca dor ia s
igu a is por or igem , só se difer en cia n do por u m ser com pr a dor e o ou t r o,
ven dedor , sen do por t a n t o a m bos pessoa s ju r idica m en t e igu a is. O pr os-

262 “Na for ma de dinheiro (...) o ca pital não gera lucro.” (RICARDO. Princ. of Pol. Econ. p. 267.)
263 Na s en ciclopédia s sobr e a a n t igu ida de clá ssica , pode-se ler o dispa r a t e de qu e n o m u n do
a n t igo o ca pit a l est a va plen a m en t e desen volvido “excet o qu e fa lt a va m o t r a ba lh a dor livr e
e o sist em a de cr édit o”. Ta m bém o sr . Mom m sen , em su a H istória R om an a, pr a t ica u m
qü ipr oqü ó depois do ou t r o.

285
OS ECON OMIS TAS

segu im en t o dessa r ela çã o exige qu e o pr opr iet á r io da for ça de t r a ba lh o


só a ven da por det er m in a do t em po, pois, se a ven de em bloco, de u m a
vez por t oda s, en t ã o ele ven de a si m esm o, t r a n sfor m a -se de h om em
livr e em u m escr a vo, de possu idor de m er ca dor ia em u m a m er ca dor ia .
Com o pessoa , ele t em de se r ela cion a r com su a for ça de t r a ba lh o com o
su a pr opr ieda de e, por t a n t o, su a pr ópr ia m er ca dor ia , e isso ele só pode
n a m edida em qu e ele a coloca à disposiçã o do com pr a dor a pen a s pr o-
visor ia m en t e, por u m pr a zo de t em po det er m in a do, deixa n do-a a o con -
su m o, por t a n t o, sem r en u n cia r à su a pr opr ieda de sobr e ela por m eio
de su a a lien a çã o.264
A segu n da con diçã o essen cia l pa r a qu e o possu idor de din h eir o
en con t r e n o m er ca do a for ça de t r a ba lh o com o m er ca dor ia é qu e seu
possu idor , em lu ga r de poder ven der m er ca dor ia s em qu e seu t r a ba lh o
se t en h a objet iva do, pr ecisa , m u it o m a is, ofer ecer à ven da com o m er -
ca dor ia su a pr ópr ia for ça de t r a ba lh o, qu e só exist e em su a cor por a -
lida de viva .
P a r a qu e a lgu ém ven da m er ca dor ia s dist in t a s de su a for ça de
t r a ba lh o ele t em de possu ir n a t u r a lm en t e m eios de pr odu çã o, por exem -
plo, m a t ér ia s-pr im a s, in st r u m en t os de t r a ba lh o et c. E le n ã o pode fa zer
bot a s sem cou r o. P r ecisa , a lém disso, de m eios de su bsist ên cia . Nin -
gu ém , n em m esm o u m m ú sico do por vir , pode a lim en t a r -se com pr o-
du t os do fu t u r o, por t a n t o t a m bém n ã o de va lor es de u so cu ja pr odu çã o
n ã o est eja con clu ída , e, com o n os pr im eir os dia s de su a a pa r içã o sobr e
o pa lco do m u n do, o h om em a in da pr ecisa con su m ir a ca da dia , a n t es

264 Diver sa s legisla ções est a belecer a m por isso u m m á xim o pa r a o con t r a t o de t r a ba lh o. Todos
os códigos lega is em pa íses de t r a ba lh o livr e r egu la m con dições de r escisã o do con t r a t o.
E m diver sos pa íses, n ot a da m en t e n o México (a n t es da Gu er r a Civil a m er ica n a , t a m bém
n os t er r it ór ios a r r a n ca dos a o México e, de a cor do com a coisa , a t é a r evolu çã o de Ku sa ,*
n a s pr ovín cia s do Da n ú bio), a escr a va t u r a se ocu lt a sob a for m a de peon a gem . P or m eio
de a dia n t a m en t os r esga t á veis em t r a ba lh o e qu e pa ssa m de ger a çã o em ger a çã o, n ã o só o
t r a ba lh a dor in dividu a l, m a s t a m bém su a fa m ília , t or n a -se de fa t o pr opr ieda de de ou t r a s
pessoa s e de su a s fa m ília s. J u á r ez t in h a a bolido a peon a gem . O a ssim ch a m a do Im per a dor
Ma xim ilia n o r est a beleceu -a m edia n t e u m decr et o, qu e foi a cer t a da m en t e den u n cia do n a
Câ m a r a dos Repr esen t a n t es em Wa sh in gt on com o decr et o pa r a o r est a belecim en t o da es-
cr a va t u r a n o México. “De m in h a s específica s h a bilida des e possibilida des física s e espir it u a is
de a t ivida de posso (...) a lien a r a ou t r em u m u so lim it a do n o t em po, por qu e ela s por essa
lim it a çã o r ecebem u m a r ela çã o ext er n a com m in h a t ot a lida de e u n iver sa lida de. P or m eio
da a lien a çã o de t odo o m eu t em po con cr et o pelo t r a ba lh o e da t ot a lida de de m in h a pr odu çã o,
eu con ver t er ia em pr opr ieda de de ou t r o o su bst a n cia l da m esm a , m in h a a t ivida de e r ea lida de
ger ais, a m inha per sonalida de.” (HEGEL Philosophie des R echts. Berlim , 1840. p. 104, § 67.)
*
Revolu çã o de Ku sa . E m ja n eir o de 1859, Alexa n dr e Ku sa foi eleit o h ospoda r da Moldá via
e pou co depois da Va lá qu ia . P ela u n ifica çã o desses dois pr in cipa dos da n u bia n os, qu e du r a n t e
m u it o t em po est iver a m su bm et idos a o dom ín io do im pér io ot om a n o, cr iou -se u m E st a do
u n it á r io r om en o. Ku sa se colocou com o m et a r ea liza r u m a sér ie de r efor m a s dem ocr á t ico-
bu r gu esa s. Su a polít ica en con t r ou , n o en t a n t o, for t e r esist ên cia dos pr opr iet á r ios fu n diá r ios
e de cer t a pa r t e da bu r gu esia . Depois qu e a Assem bléia Na cion a l, n a qu a l os r epr esen t a n t es
dos pr opr iet á r ios fu n diá r ios pr edom in a va m , r ejeit ou o pr ojet o de r efor m a a gr á r ia a pr esen -
t a do pelo Gover n o, Ku sa dissolveu essa cor por a çã o r ea cion á r ia . F oi pr ocla m a da u m a con s-
t it u içã o, o cír cu lo de eleit or es foi a m plia do e o poder do Gover n o for t a lecido. A r efor m a
a gr á r ia a ceit a n essa n ova sit u a çã o polít ica pr evia a a boliçã o da ser vidã o e a r epa r t içã o da
t er r a en t r e os ca m pon eses m edia n t e su a r ecom pr a . (N. da E d. Alem ã .)

286
MARX

de pr odu zir e en qu a n t o pr odu z. Ca so os pr odu t os seja m pr odu zidos


com o m er ca dor ia s, en t ã o pr ecisa m ser ven didos depois de pr odu zidos,
e só podem sa t isfa zer à s n ecessida des do pr odu t or depois da ven da .
Ao t em po da pr odu çã o se a cr esce o t em po n ecessá r io à ven da .
P a r a t r a n sfor m a r din h eir o em ca pit a l, o possu idor de din h eir o
pr ecisa en con t r a r , por t a n t o, o t r a ba lh a dor livr e n o m er ca do de m er ca -
dor ia s, livr e n o du plo sen t ido de qu e ele dispõe, com o pessoa livr e, de
su a for ça de t r a ba lh o com o su a m er ca dor ia , e de qu e ele, por ou t r o
la do, n ã o t em ou t r a s m er ca dor ia s pa r a ven der , solt o e solt eir o, livr e
de t oda s a s coisa s n ecessá r ia s à r ea liza çã o de su a for ça de t r a ba lh o.
P or qu e esse t r a ba lh a dor livr e se defr on t a com ele n a esfer a da
cir cu la çã o é qu est ã o qu e n ã o in t er essa a o possu idor de din h eir o, qu e
en con t r a o m er ca do de t r a ba lh o com o u m a divisã o específica do m er ca do
de m er ca dor ia s. E t a m pou co ela n os in t er essa por en qu a n t o. Nós n os
a t er em os a o fa t o n a t eor ia a ssim com o o possu idor de din h eir o n a
prática. Um a coisa, no entanto, é clara. A Natureza não produz de um
lado possuidores de dinheiro e de m ercadorias e, do outro, meros possui-
dores das próprias forças de trabalho. Essa relação não faz parte da história
natural nem tampouco é social, comum a todos os períodos históricos. Ela
mesma é evidentem ente o resultado de um desenvolvim ento histórico an-
terior, o produto de m uitas revoluções econômicas, da decadência de toda
uma série de formações mais antigas da produção social.
Ta m bém a s ca t egor ia s econ ôm ica s qu e obser va m os a n t es ost en -
t a m a su a m a r ca h ist ór ica . Na exist ên cia do pr odu t o com o m er ca dor ia
est ã o en volvida s det er m in a da s con dições h ist ór ica s. P a r a se t or n a r m er -
ca dor ia o pr odu t o n ã o pode ser pr odu zido com o m eio de su bsist ên cia
im edia t o pa r a o pr ópr io pr odu t or . Se t ivéssem os pesqu isa do m a is: sob
qu e cir cu n st â n cia s t odos os pr odu t os t om a m ou t a m bém a pen a s a m a io-
r ia deles t om a a for m a de m er ca dor ia , en t ã o se t er ia descober t o qu e
isso só ocor r e com ba se em u m m odo de pr odu çã o bem específico, o
ca pit a list a . Ta l pesqu isa n ã o se coa du n a va , n o en t a n t o, com a a n á lise
da m er ca dor ia . P r odu çã o de m er ca dor ia s e cir cu la çã o de m er ca dor ia s
podem ocor r er em bor a a gr a n de m a ssa de pr odu t os, or ien t a da dir et a -
m en t e a o a u t ocon su m o, n ã o se t r a n sfor m e em m er ca dor ia e por t a n t o
o pr ocesso de pr odu çã o socia l a in da est eja m u it o lon ge de est a r dom i-
n a do em t oda a su a ext en sã o e pr ofu n dida de pelo va lor de t r oca . A
r epr esen t a çã o do pr odu t o com o m er ca dor ia su põe u m a divisã o de t r a -
ba lh o t ã o desen volvida den t r o da socieda de, qu e a sepa r a çã o en t r e
va lor de u so e va lor de t r oca , qu e a pen a s pr in cipia n o esca m bo dir et o,
já se t en h a com plet a do. Ta l est á gio de desen volvim en t o é, por ém , co-
m u m à s for m a ções sócioecon ôm ica s h ist or ica m en t e a s m a is diver sa s.
Ou se con sider a m os o din h eir o, en t ã o pr ecisa m os pr essu por qu e
a t r oca de m er ca dor ia s t en h a a t in gido cer t o n ível. As for m a s específica s
de din h eir o, m er o equ iva len t e de m er ca dor ia ou m eio cir cu la n t e ou
m eio de pa ga m en t o, t esou r o e din h eir o m u n dia l, a pon t a m , de a cor do

287
OS ECON OMIS TAS

com a ext en sã o diver sa e a pr edom in â n cia r ela t iva de u m a ou de ou t r a


fu n çã o, pa r a est á gios m u it o difer en t es do pr ocesso de pr odu çã o socia l.
Apesa r disso, de a cor do com a exper iên cia , ba st a u m a cir cu la çã o de
m er ca dor ia s r ela t iva m en t e pou co desen volvida pa r a a con st it u içã o de
t oda s essa s for m a s. Diver sa m en t e com o ca pit a l. Su a s con dições h is-
t ór ica s de exist ên cia de m odo a lgu m est ã o pr esen t es n a cir cu la çã o m er -
ca n t il e m on et á r ia . E le só su r ge on de o possu idor de m eios de pr odu çã o
e de su bsist ên cia en con t r a o t r a ba lh a dor livr e com o ven dedor de su a
for ça de t r a ba lh o n o m er ca do, e est a é u m a con diçã o h ist ór ica qu e
en cer r a u m a h ist ór ia m u n dia l. O ca pit a l a n u n cia , por t a n t o, de a n t em ã o,
u m a época do pr ocesso de pr odu çã o socia l.265
E ssa m er ca dor ia pecu lia r , a for ça de t r a ba lh o, t em de ser a gor a
exa m in a da m a is de per t o. Com o t oda s a s ou t r a s m er ca dor ia s, ela t em
u m va lor .266 Com o ele é det er m in a do?
O va lor da for ça de t r a ba lh o, com o o de t oda ou t r a m er ca dor ia ,
é det er m in a do pelo t em po de t r a ba lh o n ecessá r io à pr odu çã o, por t a n t o
t a m bém r epr odu çã o, desse a r t igo específico. E n qu a n t o va lor , a pr ópr ia
for ça de t r a ba lh o r epr esen t a a pen a s det er m in a do qu an tu m de t r a ba lh o
socia l m édio n ela objet iva do. A for ça de t r a ba lh o só exist e com o dis-
posiçã o do in divídu o vivo. Su a pr odu çã o pr essu põe, por t a n t o, a exis-
t ên cia dele. Da da a exist ên cia do in divídu o, a pr odu çã o da for ça de
t r a ba lh o con sist e em su a pr ópr ia r epr odu çã o ou m a n u t en çã o. P a r a su a
m a n u t en çã o, o in divídu o vivo pr ecisa de cer t a som a de m eios de su b-
sist ên cia . O t em po de t r a ba lh o n ecessá r io à pr odu çã o da for ça de t r a -
ba lh o cor r espon de, por t a n t o, a o t em po de t r a ba lh o n ecessá r io à pr o-
du çã o desses m eios de su bsist ên cia ou o va lor da for ça de t r a ba lh o é
o va lor dos m eios de su bsist ên cia n ecessá r ios à m a n u t en çã o do seu
possu idor . A for ça de t r a ba lh o só se r ea liza , n o en t a n t o, m edia n t e su a
ext er ior iza çã o, ela só se a cion a n o t r a ba lh o. P or m eio de su a a t iva çã o,
o t r a ba lh o, é ga st o, por ém , det er m in a do qu an tu m de m ú scu lo, n er vo,
cér ebr o et c. h u m a n os qu e pr ecisa ser r epost o. E sse ga st o a cr escido
con dicion a u m a r eceit a a cr escida .267 Se o pr opr iet á r io da for ça de t r a -
ba lh o t r a ba lh ou h oje, ele deve poder r epet ir o m esm o pr ocesso a m a n h ã ,
sob a s m esm a s con dições de for ça e sa ú de. A som a dos m eios de su b-
sist ên cia deve, pois, ser su ficien t e pa r a m a n t er o in divídu o t r a ba lh a dor
com o in divídu o t r a ba lh a dor em seu est a do de vida n or m a l. As pr ópr ia s

265 O qu e, por t a n t o, ca r a ct er iza a época ca pit a list a é qu e a for ça de t r a ba lh o a ssu m e, p a r a o


pr ópr io t r a ba lh a dor , a for m a de u m a m er ca dor ia qu e per t en ce a ele, qu e, por con segu in t e,
seu t r a ba lh o a ssu m e a for m a de t r a ba lh o a ssa la r ia do. P or ou t r o la do, só a pa r t ir desse
in st a n t e se u n iver sa liza a for m a m er ca dor ia dos pr odu t os do t r a ba lh o.
266 "O va lor de u m h om em é, com o o de t oda s a s ou t r a s coisa s, igu a l a o seu pr eço: isso qu er
dizer t a n t o qu a n t o é pa go pa r a o u so de su a for ça ."(H OBBE S, Th . L eviath an . In : Work s.
E dit . Moleswor t h , Lon dr es, 1839-1844. v. III, p. 76.)
267 O villicu s da Rom a An t iga , com o feit or de escr a vos n os t r a ba lh os a gr ícola s, r ecebia , “por
t er t r a ba lh o m a is leve qu e o dos escr a vos, u m a r a çã o m en or do qu e est es”. (MOMMSE N,
Th . R öm isch e Gesch ich te.* 1867. p. 810.)
*
H istória R om an a. (N. dos T.)

288
MARX

n ecessida des n a t u r a is, com o a lim en t a çã o, r ou pa , a qu ecim en t o, m or a dia


et c., sã o difer en t es de a cor do com o clim a e ou t r a s pecu lia r ida des n a -
t u r a is de u m pa ís. P or ou t r o la do, o â m bit o da s a ssim ch a m a da s n e-
cessida des bá sica s, a ssim com o o m odo de su a sa t isfa çã o, é ele m esm o
u m pr odu t o h ist ór ico e depen de, por isso, gr a n dem en t e do n ível cu lt u r a l
de u m pa ís, en t r e ou t r a s coisa s t a m bém essen cia lm en t e sob qu e con -
dições, e, por t a n t o, com qu e h á bit os e a spir a ções de vida , se con st it u iu
a cla sse dos t r a ba lh a dor es livr es.268 E m a n t ít ese à s ou t r a s m er ca dor ia s
a det er m in a çã o do va lor da for ça de t r a ba lh o con t ém , por con segu in t e,
u m elem en t o h ist ór ico e m or a l. No en t a n t o, pa r a det er m in a do pa ís,
em det er m in a do per íodo, o â m bit o m édio dos m eios de su bsist ên cia
bá sicos é da do.
O pr opr iet á r io da for ça de t r a ba lh o é m or t a l. Se, por t a n t o, su a
a pa r içã o n o m er ca do é pa r a ser con t ín u a , com o pr essu põe a con t ín u a
t r a n sfor m a çã o de din h eir o em ca pit a l, en t ã o o ven dedor da for ça de
t r a ba lh o pr ecisa per pet u a r -se “com o t odo in divídu o se per pet u a pela
pr ocr ia çã o”.269 As for ça s de t r a ba lh o su bt r a ída s do m er ca do pelo des-
ga st e e m or t e pr ecisa m ser con t in u a m en t e su bst it u ída s a o m en os por
u m n ú m er o igu a l de n ova s for ça s de t r a ba lh o. A som a dos m eios de
su bsist ên cia n ecessá r ios à pr odu çã o da for ça de t r a ba lh o in clu i, por -
t a n t o, os m eios de su bsist ên cia dos su bst it u t os, ist o é, dos filh os dos
t r a ba lh a dor es, de m odo qu e essa race270 de pecu lia r es possu idor es de
m er ca dor ia s se per pet u e n o m er ca do de m er ca dor ia s.271
P a r a m odifica r a n a t u r eza h u m a n a ger a l de t a l m odo qu e ela
a lca n ce h a bilida de e dest r eza em det er m in a do r a m o de t r a ba lh o, t or -
n a n do-se for ça de t r a ba lh o desen volvida e específica , é pr eciso det er -
m in a da for m a çã o ou edu ca çã o, qu e, por su a vez, cu st a u m a som a m a ior
ou m en or de equ iva len t es m er ca n t is. Con for m e o ca r á t er m a is ou m en os
m edia t o da for ça de t r a ba lh o, os seu s cu st os de for m a çã o sã o difer en t es.
E sses cu st os de a pr en diza gem , ín fim os pa r a a for ça de t r a ba lh o com u m ,
en t r a m por t a n t o n o â m bit o dos va lor es ga st os pa r a a su a pr odu çã o.
O va lor da for ça de t r a ba lh o se r esolve n o va lor de u m a som a
det er m in a da de m eios de su bsist ên cia . E le m u da , por t a n t o, t a m bém
com o va lor desses m eios de su bsist ên cia , ist o é, com a gr a n deza do
t em po de t r a ba lh o exigido pa r a su a pr odu çã o.
P a r t e dos m eios de su bsist ên cia , por exem plo, a lim en t a çã o, a qu e-
cim en t o et c., é dia r ia m en t e con su m ida e pr ecisa ser dia r ia m en t e r e-

268 Cf. TH ORNTON, W. Th . Over-Popu lation an d its R em ed y. Lon dr es, 1846.


269 P et t y.
270 Ra ça . (N. dos T.)
271 "Seu " (do t r a ba lh o) “pr eço n a t u r a l (...) con sist e em t a l qu a n t ida de de m eios de su bsist ên cia
e objet os de con for t o, com o sã o n ecessá r ios de a cor do com o clim a e com os h á bit os de u m
pa ís pa r a m a n t er o t r a ba lh a dor e possibilit a r -lh e cr ia r u m a fa m ília qu e possa a ssegu r a r
n o m er ca do u m a ofer t a de t r a ba lh o sem dim in u içã o.” (TORRE NS, R. An E ssay on th e
E xtern al Corn T rad e. Lon dr es, 1815. p. 62.) A pa la vr a t r a ba lh o est á a í er r on ea m en t e em
lu ga r de for ça de t r a ba lh o.

289
OS ECON OMIS TAS

post a . Ou t r os m eios de su bsist ên cia , com o r ou pa s, m óveis et c., ga s-


t a m -se em per íodos m a is ext en sos de t em po e, por isso, só pr ecisa m
ser r epost os em per íodos m a is ext en sos de t em po. Mer ca dor ia s de u m a
espécie pr ecisa m ser com pr a da s ou pa ga s dia r ia m en t e, ou t r a s sem a -
n a lm en t e, t r im est r a lm en t e et c. Ma s com o qu er qu e a som a dessa s des-
pesa s se possa r epa r t ir du r a n t e, por exem plo, u m a n o, ela pr ecisa ser
cober t a pela r eceit a m édia dia por dia . Seja a m a ssa da s m er ca dor ia s
exigida s dia r ia m en t e pa r a a pr odu çã o da for ça de t r a ba lh o = A, a
exigida sem a n a lm en t e = B , a exigida t r im est r a lm en t e = C et c., en t ã o
a m édia diá r ia dessa s m er ca dor ia s ser ia = 365 A + 52 B + 4 C + et c.
365
Su pon do-se qu e 6 h or a s de t r a ba lh o socia l est ã o con t ida s n essa m a ssa
de m er ca dor ia s n ecessá r ia a o dia m édio, en t ã o se objet iva dia r ia m en t e
n a for ça de t r a ba lh o m eio dia de t r a ba lh o socia l m édio, ou m eio dia
de t r a ba lh o é exigido pa r a a pr odu çã o diá r ia da for ça de t r a ba lh o.
E sse qu an tu m de t r a ba lh o exigido pa r a su a pr odu çã o diá r ia for m a o
va lor de u m dia de for ça de t r a ba lh o ou o va lor da for ça de t r a ba lh o
r epr odu zida em u m dia . Se m eio dia de t r a ba lh o socia l m édio se r e-
pr esen t a igu a lm en t e n u m a m a ssa de ou r o de 3 xelin s ou em 1 t á ler ,
en t ã o 1 t á ler é o pr eço cor r espon den t e a o va lor de u m dia da for ça de
t r a ba lh o. Se o possu idor da for ça de t r a ba lh o ofer ece-a por 1 t á ler a o
dia , en t ã o o seu pr eço de ven da é igu a l a o seu va lor e, de a cor do com
n ossos pr essu post os, o possu idor de din h eir o, qu e cobiça t r a n sfor m a r
o seu t á ler em ca pit a l, pa ga esse va lor .
O lim it e ú lt im o ou lim it e m ín im o do va lor da for ça de t r a ba lh o
é con st it u ído pelo va lor de u m a m a ssa de m er ca dor ia s, sem cu jo su -
pr im en t o diá r io o por t a dor da for ça de t r a ba lh o, o h om em , n ã o pode
r en ova r o seu pr ocesso de vida , sen do por t a n t o o va lor dos m eios de
su bsist ên cia fisica m en t e in dispen sá veis. Se o pr eço da for ça de t r a ba lh o
ba ixa a esse m ín im o, en t ã o ele ca i a ba ixo do va lor dela , pois a ssim
ela só pode m a n t er -se e desen volver -se em for m a a t r ofia da . Ma s o
va lor de ca da m er ca dor ia é det er m in a do pelo t em po de t r a ba lh o r e-
qu er ido pa r a for n ecê-la com su a qu a lida de n or m a l.
É sen t im en t a lism o ext r a or din a r ia m en t e ba r a t o con sider a r br u t a l
essa det er m in a çã o do va lor da for ça de t r a ba lh o qu e decor r e da n a t u r eza
da coisa e la m en t a r -se, por exem plo, com Rossi:

“Con ceber a ca pa cida de de t r a ba lh o (pu issan ce d e travail), a bs -


t r a in do-se dos m eios de su bsist ên cia do t r a ba lh o du r a n t e o pr o-
cesso de pr odu çã o, sign ifica con ceber u m ser da r a zã o (être d e
raison). Qu em diz t r a ba lh o, qu em diz ca pa cida de de t r a ba lh o,
diz a o m esm o t em po t r a ba lh a dor e m eios de su bsist ên cia , t r a ba -
lh a dor e sa lá r io”.272

272 ROSSI. Cou rs d ’É con . Polit. Br u xela s, 1843. p. 370-371.

290
MARX

Qu em diz ca pa cida de de t r a ba lh o n ã o diz t r a ba lh o, com o qu em


diz ca pa cida de de digest ã o t a m pou co diz digest ã o. P a r a esse ú lt im o
pr ocesso é r econ h ecida m en t e n ecessá r io m a is do qu e u m bom est ôm a go.
Qu em diz ca pa cida de de t r a ba lh o n ã o a bst r a i dos m eios n ecessá r ios à
su a su bsist ên cia . O va lor deles é a n t es expr esso n o va lor dela . Se n ã o
é ven dida , de n a da ser ve a o t r a ba lh a dor , ele en t ã o a per cebe m u it o
m a is com o u m a cr u el n ecessida de n a t u r a l qu e a su a ca pa cida de de
t r a ba lh o t en h a exigido det er m in a do qu an tu m de m eios de su bsist ên cia
pa r a su a pr odu çã o e con st a n t em en t e exige de n ovo pa r a a su a r epr o-
du çã o. E le descobr e, en t ã o, com Sism on di:

“A ca pa cida de de t r a ba lh o (...) n a da é se n ã o é ven dida ”.273

A n a t u r eza pecu lia r dessa m er ca dor ia específica , a for ça de t r a -


ba lh o, fa z com qu e, com a con clu sã o do con t r a t o en t r e com pr a dor e
ven dedor , seu va lor de u so a in da n ã o se t en h a ver da deir a m en t e t r a n s-
fer ido pa r a a s m ã os do com pr a dor . O seu va lor , com o o de qu a lqu er
ou t r a m er ca dor ia , est a va det er m in a do a n t es de ela en t r a r em cir cu la -
çã o, pois det er m in a do qu an tu m de t r a ba lh o socia l h a via sido ga st o
pa r a a pr odu çã o da for ça de t r a ba lh o, m a s o seu va lor de u so con sist e
n a ext er ior iza çã o post er ior dessa for ça . P or isso, a a lien a çã o da for ça
e a su a ver da deir a ext er ior iza çã o, ou seja , a su a exist ên cia com o va lor
de u so, se sepa r a m n o t em po. No ca so de m er ca dor ia s,274 por ém , em
qu e a a lien a çã o for m a l do va lor de u so m edia n t e a ven da e su a ver -
da deir a en t r ega a o com pr a dor se sepa r a m n o t em po, o din h eir o do
com pr a dor fu n cion a ger a lm en t e com o m eio de pa ga m en t o. E m t odos
os pa íses com m odo de pr odu çã o ca pit a list a , a for ça de t r a ba lh o só é
pa ga depois de t er fu n cion a do du r a n t e o pr a zo pr evist o n o con t r a t o de
com pr a , por exem plo, n o fin a l de ca da sem a n a . P or t oda pa r t e, por t a n t o,
o t r a ba lh a dor a dia n t a a o ca pit a list a o va lor de u so da for ça de t r a ba lh o;
ele deixa con su m i-la pelo com pr a dor , a n t es de r eceber o pa ga m en t o
de seu pr eço; por t oda pa r t e, por t a n t o, o t r a ba lh a dor for n ece cr édit o
a o ca pit a list a . Qu e esse for n ecim en t o de cr édit o n ã o é n en h u m a fa n t a sia
vã , m ost r a -o n ã o só a per da oca sion a l do sa lá r io cr edit a do qu a n do
ocor r e ba n ca r r ot a do ca pit a list a ,275 m a s t a m bém u m a sér ie de efeit os
m a is du r a dou r os.276 No en t a n t o, n a da m u da n a n a t u r eza do pr ópr io

273 SISMONDI. N ou v. Prin c. et c. t . I, p. 113.


274 “Todo tr abalho é pago depois de concluído” (An Inquiry into those Principles, R especting the
N ature of Dem and etc. p. 104). “O crédito com ercial tinha de começar no m omento em que o
tr abalha dor, o prim eiro cria dor da pr oduçã o, esta va em condições, com ba se em sua s econom ias,
de esper ar pelo sa lár io de seu tra ba lho até o final de um a a duas sem ana s, um m ês, um
tr imestr e etc.” (GANILH. Ch. Des S ystèm es d’Écon. Polit. 2ª ed., Pa ris, 1821. t. II, p. 150.)
275 "O t r a ba lh a dor em pr est a seu esfor ço", m a s, a cr escen t a St or ch , a st u t a m en t e: ele “n a da
a r r isca ”, excet o “per der o seu sa lá r io (...) o t r a ba lh a dor n ã o t r a n sfer e n a da m a t er ia l.”
(STORCH . Cou rs d ’É con . Polit. P et er sbu r go, 1815, t . II, p. 36-37.)
276 Um exem plo. E m Lon dr es exist em du a s espécies de pa deir os, os fu ll priced , qu e ven dem
o pã o por seu va lor plen o, e os u n d ersellers, qu e o ven dem a ba ixo desse va lor . E ssa ú lt im a
cla sse con st it u i 3/4 do n ú m er o t ot a l dos pa deir os (p. XXXII n o R eport do Com issá r io Go-

291
OS ECON OMIS TAS

in t er câ m bio de m er ca dor ia s se o din h eir o fu n cion a com o m eio de com pr a


ou com o m eio de pa ga m en t o. O pr eço da for ça de t r a ba lh o est á fixa do
con t r a t u a lm en t e, a in da qu e ele só ven h a a ser r ea liza do depois, com o
o pr eço do a lu gu el de u m a ca sa . A for ça de t r a ba lh o est á ven dida ,
a in da qu e ela só seja pa ga post er ior m en t e. P a r a a con cepçã o pu r a da
r ela çã o é, n o en t a n t o, ú t il pr essu por , por en qu a n t o, qu e o possu idor
da for ça de t r a ba lh o r ecebe com su a ven da ca da vez e t a m bém pr on -
t a m en t e o pr eço est ipu la do con t r a t u a lm en t e.
Con h ecem os a gor a a m a n eir a pela qu a l é det er m in a do o va lor ,
qu e é pa go a o possu idor dessa m er ca dor ia pecu lia r , a for ça de t r a ba lh o,
pelo possu idor de din h eir o. O va lor de u so, qu e est e ú lt im o r ecebe por
su a vez n a t r oca , só se m ost r a n a u t iliza çã o r ea l, n o pr ocesso de con su m o
da for ça de t r a ba lh o. Toda s a s coisa s n ecessá r ia s a esse pr ocesso, com o
m a t ér ia -pr im a et c., o possu idor de din h eir o com pr a n o m er ca do e pa ga
seu preço integral. O processo de consum o da força de trabalho é, sim ul-

ver n a m en t a l H . S. Tr em en h eer e sobr e a s Grievan ces com plain ed of by th e jou rn eym en


bak ers et c. Lon dr es, 1862). E sses u n d ersellers ven dem , qu a se sem exceçã o, pã o fa lsifica do
com a m ist u r a de a lú m en , sa bã o, pot a ssa , ca l, pó de pedr a de Der bysh ir e e ou t r os in gr edien t es
sa bor osos, n u t r it ivos e sa u dá veis. (Ver o Livr o Azu l a cim a cit a do, bem com o o r ela t ór io do
“Com m it t ee of 1855 on t h e Adu lt er a t ion of Br ea d” e do dr . H ASSALL. Ad u lteration s Detected .
2ª ed., Lon dr es, 1861.) Sir J oh n Gor don decla r ou per a n t e o Com it ê de 1855 qu e “em con -
seqü ên cia dessa s fa lsifica ções, o pobr e, qu e vive de 2 libr a s-peso de pã o por dia , a gor a n ã o
r ecebe ver da deir a m en t e n em a qu a r t a pa r t e do m a t er ia l n u t r ien t e, sem con sider a r os efeit os
pr eju dicia is sobr e su a sa ú de”. Com o m ot ivo pa r a qu e “u m a pa r t e m u it o gr a n de da cla sse
oper á r ia ”, a in da qu e bem in for m a da sobr e a s fa lsifica ções, m esm o a ssim a ceit e n a com pr a
a lú m en , pó de pedr a et c., Tr em en h eer e (1.c, p. XLVIII) in for m a qu e pa r a eles “é u m a
qu est ã o de n ecessida de a ceit a r do seu pa deir o ou do ch an d ler’s sh op * o pã o com o eles
qu eir a m for n ecê-lo”. Com o eles só sã o pa gos n o fin a l da sem a n a de t r a ba lh o, só podem
t a m bém “pa ga r n o fin a l da sem a n a o pã o con su m ido pela fa m ília du r a n t e a sem a n a ”; e,
a cr escen t a Tr em en h eer e, a poia do em a sser t iva s de t est em u n h a s: “É n ot ór io qu e pã o pr e-
pa r a do com t a is m ist u r a s é feit o expr essa m en t e pa r a essa espécie de fr egu eses”. ("It is
n ot or iou s t h a t br ea d com posed of t h ose m ixt u r es, is m a de expr essly for sa le in t h is m a n n er .")
“E m m u it os dist r it os a gr ícola s in gleses” (m a s a in da m a is em escoceses) “o sa lá r io é pa go
a ca da ca t or ze dia s e a t é m esm o m en sa lm en t e. Com esses lon gos pr a zos de pa ga m en t o o
t r a ba lh a dor a gr ícola t em de com pr a r a s su a s m er ca dor ia s a cr édit o. (...) E le t em de pa ga r
pr eços m a is a lt os e est á pr eso de fa t o a o a r m a zém qu e lh e fia . Assim , em H or n in gsh a m ,
em Wilt s, on de o sa lá r io é m en sa l, a m esm a fa r in h a qu e em ou t r o lu ga r , ele pa ga com 1
xelim e 10 pen ce, cu st a -lh e 2 xelin s e 4 pen ce por ston e”.** ("Sixt h Repor t " on “P u blic
H ea lt h ” by “Th e Medica l Officer of t h e P r ivy Cou n cil et c.”, 1864, p. 264.) “Os est a m pa dor es
m a n u a is de t ecido de P a isley e Kilm a r n ock” (E scócia ociden t a l) “con qu ist a r a m em 1853,
por m eio de strik e, *** a r edu çã o do pr a zo de pa ga m en t o de u m m ês pa r a ca t or ze dia s”.
(R eports of th e In spectors of Factories for 31st Oct. 1853. p. 34.) Com o ou t r a espécie de
desen volvim en t o do cr édit o, qu e o t r a ba lh a dor for n ece a o ca pit a list a , pode ser con sider a do
o m ét odo de m u it os pr opr iet á r ios in gleses de m in a s de ca r vã o, pelo qu a l o t r a ba lh a dor
a pen a s é pa go n o fim do m ês e, n o m eio t em po, r ecebe a dia n t a m en t os do ca pit a list a , m u it a s
vezes em m er ca dor ia s, qu e ele pr ecisa pa ga r a cim a do pr eço do m er ca do (T ru ck system ). “É
u m a pr á t ica cost u m eir a dos don os de m in a s de ca r vã o pa ga r a seu s t r a ba lh a dor es u m a
vez por m ês e da r a seu s t r a ba lh a dor es u m a dia n t a m en t o a ca da sem a n a in t er m ediá r ia .
E sse a dia n t a m en t o é da do n o a r m a zém ” (ou seja , n o tom m y-sh op ou loja qu e per t en ce a o
pr ópr io pa t r ã o). “Os h om en s r ecebem -n o de u m la do do a r m a zém e o ga st a m do ou t r o.”
(Ch ild ren ’s E m ploym en t Com m ission , III R eport. Lon dr es, 1864. p. 38, n º 192.)
*
Loja de m iu deza s. (N. dos T.)
**
Medida in glesa de peso equ iva len t e a 6,35 qu ilos. (N. dos T.)
***
Gr eve. (N. dos T.)

292
MARX

taneam ente, o processo de produção de mercadoria e de maisvalia. O con-


sumo da força de trabalho, como o consum o de qualquer outra mercadoria,
ocorre fora do mercado ou da esfera de circulação. Abandonemos então,
junto com o possuidor de dinheiro e o possuidor da força de trabalho, essa
esfera ruidosa, existente na superfície e acessível a todos os olhos, para
seguir os dois ao local oculto da produção, em cujo limiar se pode ler: N o
adm ittance except on business.277 Aqui há de se mostrar não só como o capital
produz, mas também como ele mesmo é produzido, o capital. O segredo da
fabricação de m ais-valia há de se finalmente desvendar.
A esfera da circulação ou do intercâmbio de mercadorias, dentro de
cujos limites se m ovim entam compra e venda de força de trabalho, era
de fato um verdadeiro éden dos direitos naturais do homem. O que aqui
reina é unicam ente Liberdade, Igualdade, P ropriedade e Bentham . Li-
berdade! Pois comprador e vendedor de uma mercadoria, por exem plo,
da força de trabalho, são determ inados apenas por sua livre-vontade. Con-
tratam com o pessoas livres, juridicam ente iguais. O contrato é o resultado
final, no qual suas vontades se dão um a expressão jurídica em com um.
Igualdade! Pois eles se relacionam um com o outro apenas com o possui-
dores de m ercadorias e trocam equivalente por equivalente. Propriedade!
Pois cada um dispõe apenas sobre o seu. Bentham ! Pois cada um dos
dois só cuida de si m esm o. O único poder que os junta e leva a um
relacionam ento é o proveito próprio, a vantagem particular, os seus in-
teresses privados. E justam ente porque cada um só cuida de si e nenhum
do outro, realizam todos, em decorrência de um a harm onia preestabelecida
das coisas ou sob os auspícios de um a previdência toda esperta, tão-so-
mente a obra de sua vantagem m útua, do bem com um, do interesse geral.
Ao sair dessa esfera da circulação simples ou da troca de m ercadorias,
da qual o livre-cambista vulgaris extrai concepções, conceitos e critérios
para seu juízo sobre a sociedade do capital e do trabalho assalariado, já
se transforma, assim parece, em algo a fisionomia de nossa dram atis per-
sonae.278 O antigo possuidor de dinheiro marcha adiante como capitalista,
segue-o o possuidor de força de trabalho como seu trabalhador; um , cheio
de im portância, sorriso satisfeito e ávido por negócios; o outro, tímido,
contrafeito, com o alguém que levou a sua própria pele para o mercado e
agora não tem mais nada a esperar, exceto o — curtume.

277 Nã o se per m it e a en t r a da a n ã o ser a n egócio. (N. dos T.)


278 P er son a gen s do dr a m a . (N. dos T.)

293
Í N D ICE

Apresen tação d e J acob Goren d er . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5


In dica ções Bibliogr á fica s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
SALÁRIO, P RE ÇO E LUCRO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Obser va ções pr elim in a r es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

I — P r odu çã o e Sa lá r ios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
II — P r odu çã o, Sa lá r ios e Lu cr os . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
III — Sa lá r ios e Din h eir o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
IV — Ofer t a e P r ocu r a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
V — Sa lá r ios e P r eços . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
VI — Va lor e Tr a ba lh o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
VII — F or ça de Tr a ba lh o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
VIII — A P r odu çã o da Ma is-Va lia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
IX — O Va lor do Tr a ba lh o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
X — O Lu cr o Obt ém -se Ven den do u m a Mer ca dor ia pelo seu
Va lor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
XI — As Diver sa s P a r t es em qu e se Divide a Ma is-Va lia . . . . . . 104
XII — A Rela çã o Ger a l en t r e Lu cr os, Sa lá r ios e P r eços . . . . . . . 106
XIII — Ca sos P r in cipa is de Lu t a pelo Au m en t o de Sa lá r ios
ou Con t r a a su a Redu çã o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
XIV — A Lu t a E n t r e o Ca pit a l e o Tr a ba lh o e seu s
Resu lt a dos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113

O CAP ITAL — CRÍTICA DA E CONOMIA P OLÍTICA

A R espeito d a T rad u ção d e O Ca pit a l . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121


Ad vertên cias d o E d itor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
Prefácio d a Prim eira E d ição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
Posfácio d a S egu n d a E d ição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
Prefácio d a E d ição Fran cesa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
Posfácio d a E d ição Fran cesa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
Prefácio d a T erceira E d ição Alem ã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147

493
OS ECON OMIS TAS

Prefácio d a E d ição In glesa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151


Prefácio d a Qu arta E d ição Alem ã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155

LIVRO P RIME IRO — O P r ocesso de P r odu çã o do Ca pit a l . . . . . 161

SE ÇÃO I — ME RCADORIA E DINH E IRO . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163

CAP . I — A Mer ca dor ia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165


1. Os dois fa t or es da m er ca dor ia : Va lor de u so e va lor
(su bstâ n cia do va lor , gr a ndeza do valor) . . . . . . . . . . . . 165
2. Du plo ca r á t er do t r a ba lh o r epr esen t a do n a s
m er ca dor ias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171
3. A for m a de va lor ou o va lor de t r oca . . . . . . . . . . . . . . . 176
A ) Form a sim ples, sin gu lar ou aciden tal d e valor . . . . 177
1) Os dois pólos da expressão de va lor: form a rela tiva
de va lor e form a equ ivalen te . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
2) A for m a r ela t iva de va lor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178
a ) Cont eúdo da form a rela tiva de va lor . . . . . . . . . . . . . 178
b) Determ in a çã o qu a nt ita tiva da for m a de va lor
r ela t iva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
3) A for m a equ iva len t e . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
4) O con ju n t o da for m a sim ples de va lor . . . . . . . . . . . . . . 187
B ) Form a de valor total ou d esd obrad a . . . . . . . . . . . . . 190
1) A for m a r ela t iva de va lor desdobr ada . . . . . . . . . . . . 190
2) A for m a equ iva lent e par ticula r . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191
3) In su ficiên cia s da for m a de va lor t ot a l ou
desdobr a da . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191
C) Form a geral d e valor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192
1) Ca rá ter m odifica do da for m a va lor . . . . . . . . . . . . . . 192
2) Rela ção de desenvolvim ent o da form a va lor r ela tiva e
da form a equ ivalen te . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194
3) Tra n siçã o da for m a va lor ger al pa ra a form a
din h eir o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
D) Form a dinh eiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 196
4. O ca r á t er fet ich ist a da m er ca dor ia e seu segr edo . . . . . 197

CAP . II — O P r ocesso de Tr oca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209

CAP . III — O Din h eir o ou a Cir cu la çã o da s Mer ca dor ia s . . . . . . 219


1. Medida dos va lor es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219
2. Meio de cir cu la çã o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227
a) A m etam orfose das m ercad orias . . . . . . . . . . . . . . . . . 227
b) O cu rso d o d in heiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236
c) A m oed a. O sign o d o valor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 245

494
MARX

3. Din h eir o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 250


a) E ntesou ram ento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 250
b) Meio d e pagam en to . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 254
c) Din heiro m u n dial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261

SE ÇÃO II — A TRANSF ORMAÇÃO DO DINH E IRO E M


CAP ITAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 265

CAP . IV — Tr a n sfor m a çã o do Din h eir o em Ca pit a l . . . . . . . . . . . 267


1. A fór m u la ger a l do ca pit a l . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 267
2. Con t r a dições da fór m u la ger a l . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 275
3. Com pr a e ven da da for ça de t r a ba lh o . . . . . . . . . . . . . . . 285

SE ÇÃO III — A P RODUÇÃO DA MAIS-VALIA


ABSOLUTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 295

CAP . V — P r ocesso de Tr a ba lh o e P r ocesso de Va lor iza çã o . . . . 297


1. O pr ocesso de t r a ba lh o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 297
2. O pr ocesso de va lor iza çã o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 305

CAP . VI — Ca pit a l Con st a n t e e Ca pit a l Va r iá vel . . . . . . . . . . . . 317

CAP . VII — A Ta xa de Ma is-va lia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 327


1. O gr a u de explor a çã o da for ça de t r a ba lh o . . . . . . . . . . 327
2. Repr esen t a çã o do va lor do pr odu t o em pa r t es
pr opor cion a is do pr odu t o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 335
3. A “ú lt im a h or a ” de Sen ior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 338
4. O m a is-pr odu t o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 342

CAP . VIII — A J or n a da de Tr a ba lh o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 345


1. Os lim it es da jor n a da de t r a ba lh o . . . . . . . . . . . . . . . . . . 345
2. A a videz por m a is-t r a ba lh o. F a br ica n t e e boia r do . . . . . 349
3. Ra m os da in dú st r ia in glesa sem lim it e lega l da
explor açã o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 357
4. Tr a ba lh o diu r n o e n ot u r n o. O sist em a de
r eveza m en to . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 370
5. A lu t a pela jor n a da n or m a l de t r a ba lh o. Leis
com pu lsória s pa ra o pr olon ga m ent o da jorn a da
de t ra balh o, da m et ade do sécu lo XIV a o fim do
sécu lo XVII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 378
6. A lu t a pela jor n a da n or m a l de t r a ba lh o. Lim it a çã o
por força de lei do t em po de t ra balh o. A legisla çã o
fabr il in glesa de 1833/64 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 391
7. A lu t a pela jor n a da n or m a l de t r a ba lh o. Reper cu ssã o
da Legislaçã o F a br il inglesa em out ros pa íses . . . . . . . 410

495
OS ECON OMIS TAS

CAP . IX — Ta xa e Ma ssa da Ma is-va lia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 417

SE ÇÃO IV — A P RODUÇÃO DA MAIS-VALIA RE LATIVA . . . 427

CAP . X — Con ceit o de Ma is-Va lia Rela t iva . . . . . . . . . . . . . . . . . 429

CAP . XI — Cooper a çã o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 439

CAP . XII — Divisã o do Tr a ba lh o e Ma n u fa t u r a . . . . . . . . . . . . . . 453


1. Du pla or igem da m a n u fa t u r a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 453
2. O t r a ba lh a dor pa r cia l e su a fer r a m en t a . . . . . . . . . . . . . 455
3. As du a s for m a s fu n da m en t a is da m a n u fa t u r a —
m an u fa tu r a h et erogênea e m a nu fa t ur a orgâ n ica . . . . . 458
4. Divisã o do t r a ba lh o den t r o da m a n u fa t u r a e divisã o
do t ra balh o den t ro da sociedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 466
5. O ca r á t er ca pit a list a da m a n u fa t u r a . . . . . . . . . . . . . . . . 473

AP Ê NDICE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 483

496

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