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Este termo é abordado por vários campos de conhecimento, como filosofia e psicologia,
que classificam práxis como uma atividade voluntária orientada para um determinado fim
ou resultado.
Vários pensadores mencionaram o conceito de práxis nas suas obras, como Karl Marx e
Jean Paul Sartre, este último na sua obra intitulada Critique de la Raison Dialectique
(Crítica da Razão Dialética).
Práxis e Marx
As primeiras noções de práxis surgiram com Aristóteles, mas foi Karl Marx o responsável
pelo aprofundamento desta concepção.
O pensamento marxista descreve práxis como uma atividade que tem a sua origem na
interação entre o homem e a natureza, sendo que esta só começa a fazer sentido quando o
homem a altera através da sua conduta.
Criado por uma negra doceira, Paulo Honório foi um menino órfão que guiava um
cego e vendia cocadas durante a infância para conseguir algum dinheiro. Depois
começou a trabalhar na duro na roça até os dezoito anos. Nessa época ele
esfaqueia João Fagundes, um homem que se envolve com a mulher com quem
Paulo Honório teve sua primeira relação sexual. Então é preso e durante esse
período aprende a ler com o sapateiro Joaquim. A partir de então ele passa
somente a pensar em juntar dinheiro.
Saindo da prisão, Paulo Honório pega emprestado com o agiota Pereira uma
quantia em dinheiro e começa a negociar gado e todo tipo de coisas pelo sertão.
Assim, ele enfrenta toda sorte de injustiças, fome e sede, passando por tudo isso
com muita frieza e utilizando de meios antiéticos, como ameaças de morte e roubo.
Após conseguir juntar algumas economias, retorna a sua terra natal, Viçosa, com o
desejo de adquirir a fazenda São Bernardo, onde tinha trabalhado.
Para tanto, Paulo Honório inicia uma amizade falsa com Luís Padilha, herdeiro de
São Bernardo. Luís era um moço apaixonado por jogo, mulheres e bebida, e aos
poucos Paulo consegue conquistar a confiança dele. Inexperiente, Luís Padilha
começa a financiar projetos que não trarão sucesso incentivado por Paulo Honório,
que fazia tudo isso com a intenção de fazer Luís Padilha ficar falido
financeiramente. Tendo sucesso em seu plano, Paulo consegue comprar a fazenda
São Bernardo por um preço irrisório.
Com a ajuda de seu amigo Casimiro Lopes, Paulo Honório manda matar
Mendonça, fazendeiro vizinho, e consegue expandir os limites das terras da São
Bernardo. Através de empréstimos bancários, investe em máquinas e na plantação
de algodão e mamona. Para escoar seus produtos, Paulo Honório constrói estradas
e passa a se dedicar cada vez mais ao trabalho. E, para conseguir obter tudo isso,
ele comete as maiores injustiças e utiliza de todos os meios que puder, garantindo
impunidade através de uma grande rede de relacionamentos. Seus ajudantes são:
Gondim, o jornalista local; o padre Silvestre; e o advogado Nogueira, que manipula
os políticos locais.
Com a fazenda em ótima situação, Paulo Honório contrata o Seu. Ribeiro para
cuidar das contabilidades, contrata Luís Padilha como professor e constrói uma
escola para alfabetizar os empregados e agradar ao governador do Alagoas. Além
disso, manda buscar a negra doceira que o havia criado, a velha Margarida,
arranjando moradia para ela na São Bernardo.
Um dia Paulo Honório percebe que precisa de um herdeiro para suas ricas terras e
por conta disso resolve se casar. Pensa nas filhas e irmãs de seus amigos, mas
nenhuma lhe agrada. Então, um dia conhece a professora primária Madalena na
casa do juiz Magalhães. Da mesma forma determinada como conseguiu obter e
administrar sua propriedade, Paulo Honório convence Madalena a se casar com
ele.
Após o casamento a moça e sua tia Glória mudam-se para a fazenda e o rico
fazendeiro vai percebendo que a rotina na São Bernardo começa a se alterar.
Madalena se interessa pela vida dos empregados e dá opiniões sobre as condições
precárias do professor Padilha, exigindo a compra de materiais escolares. Além
disso, ela passa a dividir as tarefas de escrituração com Ribeiro.
Paulo Honório, que imaginava Madalena como uma mulher frágil e normalista,
incomoda-se profundamente com o comportamento da moça e então começam as
brigas do casal, que evidenciam a personalidade violenta do fazendeiro. Não
conseguindo dominar a mulher como controlava todos, Paulo Honório se torna cada
vez mais agressivo com todos e revela um ciúme excessivo. Mesmo o nascimento
do filho não ameniza o ciúme que sente de Madalena e suas desconfianças de
traição.
No dia seguinte Paulo Honório vê a esposa muito abatida escrevendo uma carta
direcionada a Azevedo Gondim e novamente se descontrola exigindo explicações.
Ela então rasga a carta e o chama de assassino. Depois, ele se arrepende do que
fez, mas não esquecendo o insulto recebido, convenceu-se de que Padilha havia
contado algo para Madalena e resolve expulsá-lo. Porém, o professor diz que é fiel
e obediente a Paulo Honório e que ela deve ter ouvido as histórias por meio da
população local.
E assim Paulo Honório vai ficando cada vez mais paranoico em relação a suposta
infidelidade da mulher e se torturava ao som de passos imaginários durante a noite
e outros delírios. Enquanto isso, Madalena sofria e sua solidão só aumentava,
sentindo-se humilhada e sem dignidade. Por fim, perde o interesse pelo próprio
filho.
Então ele sai atormentado à procura da esposa e a encontra na igreja com uma
aparência muito calma. Ele exige explicações, mas ela lhe diz muito desanimada
que o restante das folhas estava no escritório. Por fim, ela lhe pede perdão por
todos os aborrecimentos e diz que o ciúmes estragou a vida dos dois. Paulo
Honório passa a noite sozinho no banco da sacristia.
Chegando em casa no dia seguinte, ele ouve gritos e descobre que Madalena havia
se suicidado. Ela havia deixado sobre a bancada uma carta de despedida para o
marido, sendo que faltava uma página, justamente aquela que ele havia encontrado
no chão no dia anterior.
Após a morte de Madalena, D. Glória e Seu Ribeiro deixam a fazenda. Luís Padilha
junta-se aos revolucionários para lutar na Revolução de 30 e também deixa São
Bernardo. O juiz Magalhães é afastado do cargo e os limites da fazenda passam a
ser contestados judicialmente. Com tudo isso, Paulo Honório se encontra
abandonado.
Por fim, em meio a solidão e somente com a companhia de Casimiro Lopes e seu
cachorro, Paulo Honório escreve sua narrativa. Amargurado pelo passado, toma
consciência da desumanização por que passou enfrentando a dureza do sertão.
Incapaz de mudar, Paulo Honório busca algum sentido para a sua vida refletindo
sobre o passado e escrevendo sua história sentado à mesa da sala, fumando
cachimbo e bebendo café.
Lista de personagens
Paulo Honório: personagem central e narrador do livro. Homem rude e violento, dá
sua vida ao trabalho. Para conseguir o que quer, não mede esforços e nem meios,
vindo a praticar diversos atos antiéticos.
Negra Margarida: doceira que cuidou de Paulo Honório durante a infância.
Salustiano Padilha: ex-dono da fazenda São Bernardo e pai de Luís.
Luís Padilha: após a morte do pai herdou a fazenda, mas se entregou à bebida,
jogos e às mulheres. Vítima dos planos de Paulo Honório, vê-se endividado e é
obrigado a vender a fazenda.
Madalena: professora primária que fora criada pela tia. Casa-se com Paulo Honório.
Instruída e educada, tem opinião própria e forte, o que desagrada a seu marido.
Dona Glória: tia de Madalena.
Seu Ribeiro: senhor que trabalha na fazenda. Fica próximo de Madalena.
Joaquim Sapateiro: ensina Paulo Honório a ler na prisão.
Azevedo Gondim: jornalista amigo de Paulo Honório. Havia sido encarregado de
escrever as histórias do narrador, mas por utilizar uma linguagem mais erudita,
desentende-se com Paulo Honório.
Casimiro Lopes: amigo antigo de Paulo Honório, executa as ordens dele sem
pestanejar.
Mendonça: dono da fazenda Bom-Sucesso, é assassinado para que Paulo Honório
possa aumentar as áreas de sua fazenda.
Dr. Magalhães: juiz amigo de Paulo Honório.
Sobre Graciliano Ramos
Graciliano Ramos de Oliveira nasceu em Quebrangulo, Alagoas, em 27 de outubro de 1892. Terminando o
segundo-grau em Maceió, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como jornalista durante alguns
anos. Em 1915 volta para o Alagoas e casa-se com Maria Augusta de Barros, que falece em 1920 e o
deixa com quatro filhos.
Trabalhando como prefeito de uma pequena cidade interiorana, foi convencido por Augusto Schmidt a
publicar seu primeiro livro, “Caetés” (1933), com o qual ganhou o prêmio Brasil de Literatura. Entre 1930 e
1936 morou em Maceió e seguiu publicando diversos livros enquanto trabalhava como editor, professor e
diretor da Instrução Pública do Estado. Foi preso político do governo Getúlio Vagas enquanto se preparava
para lançar “Angústia”, que conseguiu publicar com a ajuda de seu amigo José Lins do Rego em 1936. Em
1945 filia-se ao Partido Comunista do Brasil e realiza durante os anos seguintes uma viagem à URSS e
países europeus junto de sua segunda esposa, o que lhe rende seu livro “Viagem” (1954).
Artista do segundo movimento modernista, Graciliano Ramos denunciou fortemente as mazelas do povo
brasileiro, principalmente a situação de miséria do sertão nordestino. Adoece gravemente em 1952 e vem
a falecer de câncer do pulmão em 20 de março de 1953 aos 60 anos.
Suas principais obras são: “Caetés” (1933), “São Bernardo” (1934), “Angústia” (1936), “Vidas Secas”
(1938), “Infância” (1945), “Insônia” (1947), “Memórias do Cárcere” (1953) e “Viagem” (1954).
ANÁLISE
A perda da humanidade
Publicado em 1934, “São Bernardo” é tido como um dos maiores representantes da
segunda fase do Modernismo brasileiro. Nos anos conturbados das décadas de
1930 e 40, com crises econômicas, sociais e políticas em todo o mundo, os artistas
voltaram-se para as temáticas sociais. No Brasil, os romances dessa época tinham
um caráter regionalista, tratando principalmente dos problemas do Nordeste do
país, tais como a seca, os retirantes, a miséria e a ignorância do povo.
De origem humilde, Paulo Honório não mediu esforços para conseguir sua
ascensão social, utilizando muitas vezes de meios antiéticos, como ameaças,
assassinato e roubo. Sua visão de mundo é totalmente centrada em uma relação
de poder entre “opressor” e “oprimido”. Para ele, o que importa é “ter”. Essa visão
de mundo entra em choque com a de sua esposa, Madalena, que é da esfera do
“ser”, ou seja, ela não se preocupa com posses, mas com a qualidade e dignidade
humanas.
Por fim, Paulo Honório não consegue compreender o mundo de sua esposa e a
acusa de infiel e “subversiva”; por sua vez, Madalena não consegue resgatar Paulo
Honório de sua desumanidade. Sem sua esposa e abandonado também pelos
amigos, Paulo Honório assume em partes seus erros que levaram à tragédia que se
abateu sob a fazenda São Bernardo. Porém, ele joga a culpa de seu
endurecimento, de sua perda da humanidade no ambiente em que vive.
Comentário do professor
O prof. Marcílio Lopes Couto, do Colégio Anglo, lembra que “São Bernardo” é uma
obra narrada em primeira pessoa, onde o narrador também é a personagem central
da história: Paulo Honório. Este é um homem que se vê abandonado e resolve
refletir sobre seu passado e escrever um livro. Para tal, ele contrata especialistas,
mas, por não se ver refletido naquele português escrito de modo afetado, decide
escrever por si mesmo. Paulo Honório é um homem que vai acumulando coisas em
sua vida de modo frio, inclusive seu casamento com Madalena, e muitas vezes
antiético. Vivendo na esfera do “ter”, ele não consegue compreender sua esposa,
que é mais preocupada com o “ser”, e isso acaba destruindo seu casamento de
diversas formas, até que Madalena se suicida.
Assim, destaca o prof. Marcílio, “São Bernardo” é uma obra que mergulha na alma
humana no que ela tem de mais sombrio. Com uma decadência material e uma
fragmentação psicológica, Paulo Honório vai tentar quem ele é e porquê tudo aquilo
aconteceu. Dessa forma, mais do que tratar somente das questões sociológicas,
esta obra se aprofunda muito em discussões psicológicas. Além disso, o professor
destaca que ao contrário de Vidas Secas, que é narrado do ponto de vista do
oprimido (Fabiano), “São Bernardo” é narrado do ponto de vista do opressor, que é
Paulo Honório.
Resumo
Paulo Honório decidiu escrever um livro para contar a sua história. O personagem
assim se apresenta ao leitor:
"Começo declarando que me chamo Paulo Honório, peso oitenta e nove quilos e
completei cinquenta anos pelo São Pedro. A idade, o peso, as sobrancelhas
cerradas e grisalhas, este rosto vermelho e cabeludo, têm-me rendido muita
consideração. Quando me faltavam estas qualidades, a consideração era menor."
Encantou-se por Germana, que depois meteu-se com João Fagundes. Paulo
Honório então esfaqueou João Fagundes e ficou preso três anos, nove meses e
quinze dias. Na cadeira aprendeu a ler com o Joaquim sapateiro, que tinha uma
Bíblia. Ao sair da cadeira vagabundeou mundo afora, tendo uma vida cigana,
caminhando e fazendo negócios de terra em terra. Sempre frio e calculista, nunca
se esquivou de usar a violência quando julgou ser preciso.
Casou-se com Madalena, que se mudou para a fazenda, e levou consigo a tia
Glória. O casamento logo deu sinais de problemas, Paulo Honório já nas nas
primeiras discussões sentia-se ameaçado pela cultura da mulher. Tudo piorou com
a chegada do filho do casal. A situação se degradou de tal maneira que Madalena
deu cabo da própria vida.
Por fim, Paulo Honório, viúvo, foi abandonado por Glória (tia da então esposa), pelo
contador, por Padilha e pelo Padre Silveira. Isolado e solitário, a alternativa
encontrada pelo protagonista foi compor o livro que lemos, onde ficamos
conhecendo a trágica história da sua vida.
Personagens principais
Paulo Honório
Protagonista da história. Frio e violento, Paulo Honório teve uma relação peculiar
com aqueles que o rodearam.
Margarida
Negra, doceira, ajudou a criar Paulo Honório quando era pequeno.
Madalena
Professora, casou-se com Paulo Honório e foi viver com ele em São Bernardo.
Glória
Tia de Madalena, esposa de Paulo Honório, mudou-se com o casal para São
Bernardo.
Ribeiro
Contador e guarda-livros de Paulo Honório. Teve um passado abastado, era feliz,
culto, justo, fora considerado major, mas acabou perdendo tudo.
Luís Padilha
Herdeiro da fazenda São Bernardo, embora sem qualquer talento para mantê-la.
Acabou se afundando em dívidas e perdendo a propriedade para Paulo Honório.
Mendonça
Foi assassinado por Paulo Honório (quem de fato executou o crime foi o guarda-
costas Casimiro Lopes).
Azevedo Gondim
Jornalista amigo de Paulo Honório.
Casimiro Lopes
Fiel guarda-costas de Paulo Honório, descrito com "corajoso, laçá, rasteja, tem faro
de cão e fidelidade de cão."