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Material Teórico

Direito das Coisas


Posse e Propriedade

Profª Marlene Lessa


cod CoisasCDSG1901_ a01
Conceito
É o conjunto de normas que regem as relações jurídicas concernentes aos
bens materiais e imateriais suscetíveis de apropriação pelo homem.

Estabelece-se o vínculo jurídico entre uma pessoa e coisas ou bens (em


relação à sua aquisição, exercício, conservação e até perda). Domínio é este
vínculo estabelecido entre as pessoas e os bens incorporados ao seu
respectivo patrimônio.

Direito Real
É a relação jurídica entre o homem e a coisa, que se estabelece diretamente e
sem intermediário, contendo, portanto, o sujeito ativo (titular do bem), a coisa e
o direito de dispor do bem, conservando-o, protegendo-o e reivindicando-o de
quem injustamente o detenha. Estão enumerados, os direitos reais, no art.
1.225 do CC:

Art. 1.225. São direitos reais:

I - a propriedade;

II - a superfície;

III - as servidões;

IV - o usufruto;

V - o uso;

VI - a habitação;

VII - o direito do promitente comprador do imóvel;

VIII - o penhor;

IX - a hipoteca;

X - a anticrese.

XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; (Incluído pela Lei nº 11.481, de
2007)

XII - a concessão de direito real de uso;(Redação dada pela Lei nº 13.465, de 2017)

XIII - a laje. (Redação dada pela Lei nº 13.465, de 2017)

Os direitos reais podem assim ser classificados:

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• Direitos reais sobre coisas alheias – possibilidade de receber, através de
norma jurídica, permissão do proprietário para utilizar ou ter a coisa
como se fosse sua, observadas certas condições e circunstâncias
(legais ou contratuais).
• Direitos reais limitados de gozo e fruição – possibilidade de usar coisa
com limitação em sua utilização.
• Direitos reais de garantia – a coisa é dada, pelo seu titular, como
garantia de um débito, até que o mesmo seja quitado.
• Direito real de aquisição – compromisso irretratável de compra e venda
de imóvel.

Posse

Conceito

É visibilidade, a exteriorização do domínio (Ihering). É a relação exterior


intencional existente entre a pessoa e a coisa, tendo em vista a função
econômica desta (Maria Helena Diniz).

Objeto

Podem ser objeto de posse:

a. as coisas corpóreas, ou seja, bens materiais que podem ser tocados ou


apreendidos pelas pessoas.
b. a posse é um elemento acessório, já que o principal é a coisa corpórea.
c. a posse recai sobre direitos reais de fruição: direito de superfície,
servidão, uso, usufruto, habitação.
d. a posse recai apenas nos seguintes direitos reais de garantia: penhor e
anticrese, porque a hipoteca é garantia atinente a quem é dono
(proprietário) do bem.

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Classificação

a. Posse direta – o possuidor utiliza o bem que está em seu poder

Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder,
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta,
de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse
contra o indireto.

b. Posse indireta – o possuidor arrecada os frutos (aluguéis, rendas, etc)


que a coisa lhe traz, ou seja, goza dos bens.

Composse (Compossessão ou Posse Comum)

Mais de uma pessoa exerce a posse sobre o mesmo bem. Compreende:

a. Pluralidade de sujeitos e coisa indivisa (que não está dividida)

b. Simultaneidade do exercício da posse (não há a exclusão do direito dos


demais):

Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada
uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos
outros compossuidores.

Exemplo: posse dos herdeiros sobre o acervo hereditário, antes da partilha.


São compossuidores.

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A Posse Ainda Pode Ser

a. Justa – aquela que está correta, não padece de vícios (ou seja, não é
violenta, precária ou clandestina);

b. Injusta – aquela que se deu com aquisição de força física ou violência


moral (VIOLENTA), exercida com abuso de confiança por parte de quem
recebe a coisa, a título provisório, com o dever de restituí-la
(PRECÁRIA) ou estabelecida às ocultas do titular (CLANDESTINA);

c. Boa-fé – o possuidor está convicto de que a coisa realmente lhe


pertence, ignorando o prejuízo que comete contra o verdadeiro titular do
bem, já que desconhece o vício que lhe impede a aquisição da coisa. A
boa-fé é tida como se a posse não tivesse vícios, já que o posseiro
apresenta um justo título, quer dizer, um título hábil para transferir a
posse ou domínio, mas que contém algum vício que o impossibilita de
atingir tal fim. Ex. ter contrato de compra e venda não registrado ou
emitido por quem não era o dono do bem. O possuidor que pagou pela
coisa e recebeu o título acredita que é dono. Está de boa-fé e tem um
justo título.

d. Posse de má fé - o possuidor tem a ciência de que é ilegítimo o seu


direito, em razão dos vícios. Por exemplo, o possuidor sabe que estava
no bem em decorrência de uma locação verbal. O dono falece e ele
alega a terceiros que tinha recebido o bem em doação... (a posse era
precária).

Efeitos

• “Ad interdicta” – há amparo na lei. A norma permite o uso dos


“interditos”, quando a posse é ameaçada, esbulhada ou turbada, desde
que a posse seja justa.

• “Ad usucapionem” – dá origem a usucapião da coisa, quando


preenchidos os requisitos legais.

Quanto ao tempo (em que a posse foi exercida)

• Posse nova – ocorrida em menos de 1 ano e 1 dia (fala-se


“ano e dia”);
• Posse velha – exercida em prazo superior a 1 ano e 1 dia.

A proteção legal do Código de Processo Civil permite o uso das liminares


somente se o peticionário alega que está sofrendo restrição em sua
posse em menos de “ano e dia”.

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Elementos da Posse

• “Corpus” – exteriorização da propriedade. A posse só recai sobre


bens materiais, corpóreos.

• “Animus” – o possuidor mostra, manifesta sua posse como se


fosse dono.

POSSUIDOR é o que tem pleno exercício de fato dos poderes inerentes


sobre a coisa. A coletividade desprovida de personalidade jurídica
também pode ser possuidora.

Aquisição

Há o princípio de que “ninguém pode, pó si só, mudar a causa da posse”.


Entende-se que se ela foi iniciada corretamente assim permanece. Se
clandestina, idem. Então a forma com que o posseiro iniciou, adquiriu a
coisa é relevante para verificar se sua posse é justa ou não. Daí surge a
divisão:

a. Posse originária – é a forma de adquirir, de ter o bem, quando


o atual possuidor não tem qualquer vínculo com o antecessor.
Trata-se de um ato unilateral. Ex. apreensão da coisa, pelo
exercício do direito, pela disposição da coisa ou dos direitos a
ela inerentes.

b. Posse derivada - é a que possui um vínculo jurídico com o


antecessor. O bem foi adquirido, foi entregue pelo anterior
possuidor. Ex. a entrega de um bem móvel, como um carro,
pelo vendedor ao comprador (a chamada tradição), etc.

Obs. Os arts. 1.204 e 1.205 do CC generalizaram o meio de


aquisição da posse:

Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o


exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.

Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:

I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante;

II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação.

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Ações Possessórias (Art. 1.210 do CC)

Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de


turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver
justo receio de ser molestado.

§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por


sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço,
não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.

§ 2o Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de


propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.

Ações possessórias são meios de proteção da posse, cabíveis quando o


possuidor estiver sendo ameaçado, tendo obstáculos para exercer sua
posse (turbação) ou perder a posse do bem (esbulho).

a. Interdito proibitório – é a proteção preventiva da posse


ante a ameaças de perder ou de ser molestado na posse. O
interessado utiliza a ação de interdito proibitório para que o
juiz lhe dê um mandado que proíba o réu de praticar os atos
que ameaça concretizar, sob pena de multa e perdas e
danos. A liminar só é concedida se a ameaça é recente
(menos de ano e dia).
b. Manutenção na posse – ação para que o possuidor se
mantenha, permaneça na posse, quando estiver se sentindo
embaraçado na posse (ex. cortam-lhe as árvores, retiram-lhe
as cercas, etc.). A liminar é concedida, pelo rito especial,
com a prova de estar recente a turbação.
c. Reintegração na posse – ação movida por quem perdeu o
bem e pretende recupera-lo porque a perda da posse se deu
em consequência de violência, clandestinidade ou
precariedade, praticadas pelo esbulhador.

Observação: a lei autoriza o desforço imediato (art 1.210, § 1º. do CC),


ou seja, a legítima defesa da posse:

§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por


sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço,
não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.

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Indenizações

Quando o possuidor de boa-fé tiver de deixar o bem (porque a ação de


reivindicação ou evicção for desfavorável a ele) tem direito a ser
INDENIZADO pelas benfeitorias que realizou, desde que sejam úteis e
necessárias. As benfeitorias voluptuárias (de recreio) seguem a
disposição do art. 1.219 do CC:

Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias


necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem
pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá
exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.

“Jus retentionis” – direito de retenção: o possuidor de boa-fé pode


permanecer na coisa ou retê-la até ser pago pelas benfeitorias,
construções e plantações (art. 1219 CC).

O possuidor de má-fé somente pelas benfeitorias necessárias tem direito


à indenização - art. 1.220 do CC:

Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias


necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas,
nem o de levantar as voluptuárias.

Propriedade

Conceito

É o direito real que a pessoa tem de, em conformidade com a lei, usar,
gozar e dispor de um bem (móvel ou imóvel, corpóreo e incorpóreo), e de
reivindica-lo de quem injustamente o detenha.

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O domínio é o mais completo dos direitos subjetivos e constitui, como
vimos, o próprio cerne do direito das coisas. Aliás, poder-se-ia mesmo
dizer que, dentro do sistema de apropriação de riqueza em que vivemos,
a propriedade representa a espinha dorsal do direito privado, pois o
conflito de interesses entre os homens, que o ordenamento jurídico
procura disciplinar, manifesta-se, na quase generalidade dos casos, na
disputa sobre bens (Silvio Rodrigues).

Previsão Legal

Artigo 1228 do CC:

Art. 1.228. O proprietário TEM A FACULDADE de usar, gozar e dispor da


coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a
possua ou detenha.

§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas


finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de
conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como
evitada a poluição do ar e das águas.

(pelo artigo 524 do CC/16: a lei assegura ao proprietário o direito de usar,


gozar e dispor da coisa).

Elementos Constitutivos

a. Uso – “jus utendi”: possibilita ao proprietário utilizar o bem,


de acordo com a sua vontade, nos termos da lei.
b. Gozo – “jus fruendi”: possibilita ao proprietário arrecadar
os frutos (também as rendas, os juros, etc.) obtidos com a
exploração econômica do bem.

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c. Disposição – “jus abutendi/ jus disponendi”: possibilita
ao proprietário dispor da coisa, vendendo-a, doando-a,
alienando-a, etc.
d. Reivindicação – “jus reivindicatio / rei vindicato”: o
proprietário tem direito de reaver a coisa do poder de quem
ilegalmente a detenha, alicerçado em seu direito de domínio
sobre o bem.

Classificação

• Plena – a propriedade será plena quando seu titular puder


usar, gozar e dispor do bem, de forma absoluta, perpétua e
exclusiva.
• Limitada – a propriedade será limitada quando estiver em
usufruto de outrem, com cláusula de fideicomisso, etc.,
enfim, quando estiver gravada de ônus, condição ou
qualquer entrave para seu titular.

Restrições na Propriedade

A propriedade do solo não se limita apenas à superfície, atinge o espaço


aéreo e o subsolo, até a altura ou profundidade que for útil. Porém a
legislação poderá impor limites, em razão de interesses sociais. Ex.
servidão de altura, galerias de águas no subsolo. Ainda, a C.F. determina
que as riquezas do solo pertencem à União.

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Art.s 1.229 do CC
Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo
correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo
o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma
altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las.

Art. 1.228, § 1o do CC
§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de
conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como
evitada a poluição do ar e das águas.

Art. 1.230 do CC
Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais
recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos
arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais.

Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos


minerais de emprego imediato na construção civil, desde que não submetidos a
transformação industrial, obedecido o disposto em lei especial.

Propriedade Imóvel

Modos de aquisição

a. Originária - é aquele que não há vínculo jurídico entre o


proprietário anterior e o atual. Ex. usucapião.
b. Derivada - é aquela em que existe um liame jurídico entre o
proprietário anterior e o atual. Ex. direito hereditário e o contrato
seguido de tradição.
c. Título universal – quando recai sobre a totalidade dos bens.
Ex. herança.
d. Título singular – quando recai sobre bem determinado e
individualizado.

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