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CONFIABILIDADE EM ESTUDOS DE CLASSIFICAÇÃO DE ÁREAS

Abstract
Does the Classification of Hazardous Areas by using the pre-defined figures shows reliable results? In
this cases the distances used are conservatives, so, are all the conditions of the process been taking
into account? One of the ways to verify these questions is by effecting a comparative from some
scenarios, between the values determined by the norms and the results of the dispersion calculations.
This study will present both methodologies, and its particularities, efficiencies, deficiencies, highlighting
the divergences in them, and this way, pointing to an assessment with better reliability.

Resumo
A Classificação de Áreas através do uso de figuras pré-definidas apresenta resultados confiáveis? O
fato de se estar usando valores conservativos garante que todas as condições do processo em estudo
foram levadas em consideração? Uma das formas de se verificar é efetuar um comparativo de algumas
situações, entre os valores determinados em norma e os resultados de cálculos de dispersão.
Este estudo apresentará ambas metodologias, suas particularidades, eficiências e deficiências,
evidenciando as divergências entre as mesmas, e desta forma, apontando para uma avaliação com
maior confiabilidade.

Palavras chaves: áreas classificadas, atmosferas explosivas, automatização, cálculos, combustíveis,


gases, inflamáveis, normas, vapores, confiabilidade.

1- Introdução
Na atividade industrial existem duas categorias de industrias onde existe a presença de substâncias
inflamáveis e combustíveis na forma de gases e vapores. Na primeira categoria encontram-se as
empresas responsáveis pela produção e fornecimento de produtos inflamáveis, fazendo parte deste
grupo as indústrias petroquímicas, tanto plataformas quanto refinarias e as que fazem o beneficiamento
dos produtos provenientes das primeiras. Na segunda categoria encontram-se as empresas que
manipulam os produtos fornecidos pelas empresas da primeira categoria como insumos na produção,
que utilizam na forma de utilidades para fornecimento de energia ou aquecimento ou que acabam
gerando subprodutos inflamáveis ou combustíveis como resultado da transformação dos materiais.
Neste grupo encontram-se as demais indústrias, destacando-se as químicas, siderúrgicas e as
termelétricas.
Nestas indústrias o risco da presença de atmosferas explosivas é uma preocupação constante dos
profissionais das áreas técnica, de produção e de segurança devido as perdas que podem provocar.
Segundo Crowl (2003), incêndios e explosões, apesar de raros, ocorrem e podem causar perda de
vidas, danos ao ambiente, perda de equipamentos e materiais, interrupção da produção e danos a
imagem da empresa.
A ocorrência de atmosferas explosivas não se caracteriza apenas devido a presença destas
substâncias no processo. Atmosferas explosivas ocorrem em locais onde existe a presença simultânea
das substâncias - em condições que proporcionem sua inflamação - e oxigênio; estando ambos em
concentrações que permitam a ocorrência da explosão. Estas condições variam de acordo com as
características de cada substância, sendo influenciadas pelas variáveis do processo e/ou do evento
que proporciona que a substância esteja em contato com o oxigênio.
A presença intrínseca destas variáveis nas instalações industriais se traduz no principal obstáculo na
manutenção dos níveis de segurança das instalações, que é a definição e o dimensionamento exato
dos locais onde existe este risco, denominado áreas classificadas.
No início da industrialização brasileira as primeiras áreas classificadas no Brasil foram caracterizadas
pela importação de projetos baseados nos conceitos de normas elaboradas nos Estados Unidos da
América pelo American Petroleum Institute (API), para o caso das indústrias de petróleo e
petroquímicas, e pela National Fire Protection Association (NFPA), para as indústrias químicas em
geral.
Com o advento da última revisão da Norma Regulamentadora número 10 (NR 10) em 2004, a
sinalização de áreas classificadas e, consequentemente a sua determinação, tornou-se obrigatória
juntamente com a utilização da norma nacional NBR IEC 60079-10 publicada pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) em 2006.
Apesar da NBR IEC 60079-10 apresentar a metodologia para realização destes cálculos, estes
envolvem diversas variáveis para a estimativa da taxa de liberação, tais como características da
substância inflamável, estado físico no momento da dispersão, pressão de operação, entre outros,
suscetíveis a erros em função de simplificações normalmente adotadas para facilitar os cálculos e
tornando o método completamente inadequado para aplicação prática.
A automatização dos cálculos por meio de softwares desenvolvidos para avaliar a dispersão de
substâncias inflamáveis possibilita o enriquecimento na análise dos resultados e aumentam a
confiabilidade dos resultados obtidos no estudo, tornando viável a aplicação prática dos requisitos
estabelecidos na NBR IEC 60079-10. Estes avanços são possíveis em função dos recursos disponíveis
nas ferramentas, tais como informações sobre as características das substâncias e visualização dos
resultados através de gráficos, relatórios e tabelas de dados.
O capítulo 2 especificamente no subitem 2.1 apresenta a metodologia utilizada pela NFPA 497 e no
item 2.2 apresenta a metodologia utilizada pela norma NBR IEC 60079-10, o capítulo 3 apresenta as
características dos resultados fornecidos pelo uso do software, o item 3.1 compara as metodologias da
NFPA e da NBR IEC 60079-10 para as faixas de pressão utilizadas como referência pela norma da
NFPA, no item 3.2 demonstra-se erros de simplificações adotadas para facilitar os cálculos.

2- As metodologias de classificação
A determinação das áreas classificadas no Brasil está fundamentada em duas filosofias, a de normas
elaboradas nos Estados Unidos da América pelo American Petroleum Institute (API), para o caso das
indústrias de petróleo e petroquímicas, e pela National Fire Protection Association (NFPA), para as
indústrias químicas em geral e a de normas internacionais elaboradas pela International
Electrotechnical Commission (IEC) adotadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

2.1- Normas americanas


As normas básicas de classificação de áreas do API e da NFPA são as normas:
- API RP500: Recommended Practice for Classification of Locations for Electrical Installations at
Petroleum Facilities Classified as Class I, Division I and Division 2
- NFPA 497: Recommended Practice for the Classification of Flammable Liquids, Gases, or Vapors
and of Hazardous (Classified) Locations for Electrical Installations in Chemical Process Areas
A principal característica destas normas é o estabelecimento de Figuras pré-definidas para
determinação das distâncias e do grau de risco, duas das características utilizadas na definição das
áreas classificadas.
A NFPA 497, utilizada para efeito de comparação neste trabalho, utiliza o princípio de “fontes de risco
de magnitude relativa”, de forma que as figuras que definem a classificação são escolhidas em função
de uma tabela que classifica as faixas de magnitude, que está compilada na tabela 1 no sistema
internacional de unidades.

Equipamento de Pequena / Média / Grande /


Unidades
Processo Média Moderada Alta
Volume m³ < 19 19 a 25 > 25
Pressão kgf/cm² <7 7 a 35 > 35
Vazão m³/s < 6,5.10-3 6,5.10-3 a 32,5.10-3 > 32,5.10-3
Tabela 1 – Magnitudes relativas de equipamentos de processo operando líquidos inflamáveis ou gases.
Fonte: NFPA 497A (1992, p.9)
A classificação é determinada enquadrando-se as condições de processo dos equipamentos com as
informações fornecidas pelas Figuras de classificação. As Figuras 1 e 2 ilustram duas das situações
mais comuns de classificação apresentados pela norma.

Figura 1 - Fonte de risco de líquido inflamável em ambiente externo e tabela de referência.


Fonte: NFPA 497A (1992, p.12)
Figura 2 - Fonte de risco de líquido inflamável, gás inflamável liquefeito, gás inflamável comprimido e
líquido criogênico em ambiente externo e tabela de referência.
Fonte: NFPA 497A (1992, p.15)

2.2- Normas internacionais

A norma básica de classificação de áreas da IEC é a norma IEC 60079-10 Electrical apparatus for
explosive gas atmospheres – Part 10: Classification of hazardous áreas. É uma norma da série 60079
que trata de todos os conceitos, proteções e requisitos relativos a atmosferas explosivas
A norma que especifica como devem ser realizados os estudos de classificação é a NBR IEC 60079-
10-1 - Equipamentos elétricos para atmosferas explosivas - Parte 10-1: Classificação de áreas –
Atmosferas explosivas de gás.
A ABNT NBR IEC 60079-10-1 foi elaborada no Comitê Brasileiro de Eletricidade (ABNT/CB-03), sendo
uma tradução idêntica da IEC 60079-10.
Ao contrário da norma NFPA, a NBR IEC 60079-10-1 estipula que para estimativa das áreas
classificadas é necessária a realização de cálculos que modelem o comportamento da nuvem
inflamável após o seu desprendimento.
Apesar de mais realista, a realização de cálculos torna o trabalho de classificação mais complexo, visto
a quantidade de variáveis que envolvem esses cálculos. Dentre as variáveis, podemos citar algumas:
 taxa de liberação do gás (massa por tempo, kg/s)
 pressão no interior do recipiente (Pa);
 pressão no exterior do recipiente do gás (Pa);
 seção transversal da abertura através da qual o gás é liberado (área de superfície, m 2),
 massa molecular do gás (kg/kmol);
 temperatura abosuluta no interior do recipiente (K);
 índice politrópico da expansão adiabática;
 taxa mínima de vazão volumétrica de ar (volume por tempo, m3/s);
 taxa máxima de liberação na fonte de risco (massa por tempo, kg/s);
 limite inferior de explosividade (massa por volume, kg/m 3);
 taxa total de vazão de ar através do volume sob consideração;
Como pode ser observado, as variáveis utilizadas para cálculo do alcance da nuvem inflamável
envolvem características das substâncias, condições do processe e condições ambientais.

3- Automatização dos cálculos


Para a automatização dos cálculos foi utilizada uma ferramenta que permite avaliações de
conseqüências de possíveis cenários de vazamentos. Como mencionado a avaliação dos efeitos físicos
decorrentes de possíveis vazamentos de produtos perigosos depende das propriedades físico-
químicas destas substâncias, das condições ambientais, da dimensão do vazamento e outros fatores
que resultam em diferentes cálculos de taxas de vazamentos e conseqüentemente em tipologias
acidentais distintas. Todas estas variáveis podem ser lançadas no aplicativo. Desta forma o programa
pôde ser utilizado na automatização dos cálculos devido a similaridade de condições, dadas as devidas
proporções dos fenômenos simulados.
Para a realização da automatização dos cálculos foram lançados os dados de processo dos exemplos
relacionados nos itens a seguir.
Os resultados dos cálculos com a dispersão das substâncias inflamáveis avaliadas são apresentados
pelo software de forma gráfica. Estes gráficos mostram a partir de uma vista lateral o comportamento
da nuvem inflamável gerada pela substância após um vazamento ou dispersão resultante do processo.
Na Figura 3 abaixo estão indicados os elementos que compõem o gráfico:

Legenda:
1- Altura considerada do vazamento em relação ao nível do solo.
2- Distância da nuvem inflamável em relação ao ponto de desprendimento.
3- Representação da nuvem inflamável vista lateralmente.

Figura 3 – Gráfico representando a nuvem inflamável resultante da automatização dos cálculos


3.1- Comparativo NFPA x ABNT
Os itens a seguir apresentarão comparativos de situações passíveis de classificação conforme as
orientações da norma NFPA e ABNT.
Para realização dos cálculos conforme os padrões da ABNT, foi utilizado o software.

3.1.1 - Fonte de risco de líquido inflamável em ambiente externo


Em uma planta operando com Hexano (líquido inflamável), consideraram-se dois vazamentos em
equipamentos, sendo um operando com 1,0kgf/cm² e outro com 35kgf/cm². A temperatura de processo
para ambos os casos é de 30ºC.
Conforme orientações da norma NFPA, para os dois vazamentos utiliza-se a Figura 1 apresentada no
item 2.1.
Seguindo os padrões da norma ABNT, temos as distâncias das liberações apresentadas nas Figuras 4
e 5.

Figura 4 – Vazamento de Hexano com pressão de 1,0kgf/cm²

Figura 5 – Vazamento de Hexano com pressão de 35,0kgf/cm²

A Tabela 2 apresenta as distâncias das áreas classificadas sugeridas pela NFPA e os valores dos
alcances das nuvens inflamáveis obtidos através de cálculo, conforme orienta norma ABNT.
Alcance da Nuvem Inflamável
Diferença
Substância (m)
NFPA Simulação Absoluta (m) Relativa (%)
Hexano – 1,0 bar 3,0 1,8 -1,2 -40,0
Hexano – 35,0 bar 3,0 5,2 +2,2 +73,0
Tabela 2 – Comparativo das áreas classificadas conforme NFPA e ABNT para o Hexano

Observando os resultados apresentados acima, é possível verificar que para uma faixa de pressão que
varia entre 1,0kgf/cm² e 35,0kgf/cm² a norma NFPA define a mesma extensão de área classificada.
Comparando com os valores calculados, é possível verificar que para baixas pressões a figura utilizada
atende os requisitos de segurança, porém para pressões elevadas, a área classificada conforme a
norma NFPA é inferior ao alcance calculado.

3.1.2- Fonte de risco de líquido inflamável, gás inflamável liquefeito, gás inflamável comprimido e líquido
criogênico em ambiente externo
Caso 1 - Em uma planta de armazenamento e bombeio de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP),
consideraram-se dois vazamentos em equipamentos, sendo um operando com 7,0kgf/cm² e outro com
25kgf/cm². A temperatura de processo para ambos os casos também é de 30ºC.
Conforme orientações da norma NFPA, para os dois vazamentos utiliza-se a Figura 2 apresentada no
item 2.1.
Seguindo os padrões da norma ABNT, temos as distâncias das liberações apresentadas nas Figuras 6
e 7.
A composição do GLP considerada para a os cálculos é apresentada na Tabela 3.

Composição
Substância
Componente % (vol.)
Propano 40,0
GLP
Butano 60,0
Tabela 3: Composição do GLP
Fonte: FISPQ Petrobras

Figura 6 – Vazamento de GLP com pressão de 7,0kgf/cm²


Figura 7 – Vazamento de GLP com pressão de 35,0kgf/cm²

A Tabela 4 apresenta as distâncias das áreas classificadas sugeridas pela NFPA e os valores dos
alcances das nuvens inflamáveis obtidos através de cálculo, conforme orienta norma ABNT.

Alcance da Nuvem Inflamável


Diferença
Substância (m)
NFPA Simulação Absoluta (m) Relativa (%)
GLP – 7,0 bar 4,5 4,1 -0,4 -8,0
GLP – 25 bar 4,5 5,1 +0,6 +13,0
Tabela 4 – Comparativo das áreas classificadas conforme NFPA e ABNT para o GLP

Da mesma forma que na comparação anterior, a norma NFPA utiliza a mesma área classificada para
a variação de pressão entre 7,0kgf/cm² e 25,0kgf/cm². Observa-se que para a pressão de 7,0kgf/cm²
os valores apresentados pelas duas normas são similares, resultando na mesma classificação,
independente da norma adotada. Entretanto, para valores de pressão considerados moderados pela
norma NFPA, verificou-se que o alcance calculado da nuvem inflamável é maior que a área classificada
pela NFPA.

Caso 2 - Em uma planta de tratamento de Gás Sulfídrico (H2S), considerou-se um vazamento em um


equipamento operando com 7,0kgf/cm² em temperatura de 30ºC.
Conforme orientações da norma NFPA, utiliza-se a Figura 2 apresentada no item 2.1.
Seguindo os padrões da norma ABNT, temos a distância da liberação apresentada na Figura 8.

Figura 8 – Vazamento de H2S com pressão de 7,0kgf/cm²


A Tabela 5 apresenta as distâncias das áreas classificadas sugeridas pela NFPA e os valores dos
alcances das nuvens inflamáveis obtidos através de cálculo, conforme orienta norma ABNT.

Alcance da Nuvem Inflamável


Diferença
Substância (m)
NFPA Simulação Absoluta (m) Relativa (%)
H2S – 7,0 bar 4,5 0,3 -4,2 -93,0
Tabela 5 – Comparativo das áreas classificadas conforme NFPA e ABNT para o H2S

Apesar de se tratar de um gás inflamável e operar dentro da faixa de pressão considerada como
moderada pela norma NFPA, observa-se que o alcance da nuvem inflamável de H2S calculada é
significativamente menor que a área classificada prevista pela NFPA.

3.1.3 - Observações
As normas NFPA e API foram determinadas para situações extremas, para prevenir erros, no que inclui
processos petroquímicos. No entanto, boa parte das instalações industriais não são compatíveis com
estas situações extremas, como pode ser observado nos exemplos acima. A execução de um estudo
de classificação de áreas com base em figuras, algumas perguntas podem ser feitas, será que a
condição específica do processo classificado está sendo considerada por essas normas? Será que na
planta não há algum ponto, ou fase de processo que exceda ao que foi considerado pelas normas?
Será que a norma é realmente o cenário mais crítico que existe?
A falta de confiabilidade devido a utilização de figuras pode tornar os custos para adequação das
instalações extremamente altos e desnecessários, ou tornar as instalações inseguras, em virtude da
baixa confiabilidade.

3.2- Erros de simplificações adotadas para facilitar os cálculos


Para classificação de área conforme a norma ABNT são necessários cálculos para estimativa do
alcance da nuvem inflamável, conforme já citado.
A realização desses cálculos envolve diversas variáveis decorrentes do processo e das características
físico-químicas das substâncias envolvidas.
A seguir, apresentamos exemplos de situações que podem ocasionar erros durante a realização de um
estudo de classificação.

3.2.1- Classificação de substâncias compostas


Na realização de um estudo de classificação de áreas são avaliados processos que apresentam
substâncias puras, como por exemplo o Hidrogênio e o Hexano, porém em muitos processos existem
substâncias inflamáveis compostas, como por exemplo o GLP, a Gasolina e os Gases Siderúrgicos.
Em função da complexidade na obtenção das variáveis necessárias para o cálculo dos alcances de
substâncias compostas, o responsável pela elaboração da classificação normalmente adota
simplificações para realização dos cálculos.
O exemplo a seguir avalia os alcances obtidos através de cálculo com software de dois gases
inflamáveis encontrados em siderúrgicas. A composição aproximada desses gases é apresentada na
Tabela 6 e mostra que ambos possuem similaridade nas substâncias que os compõem.
Composição
Substância
Componente % (vol.)
Monóxido de Carbono 70,0
Hidrogênio 1,20
Gás de Aciaria Oxigênio 0,21
(GAC) Dióxido de Carbono 13,83
Nitrogênio 17,23
Umidade 3,9
Monóxido de Carbono 5,2
Hidrogênio 57,2
Oxigênio 0,25
Gás de Coqueria Dióxido de Carbono 2,5
(GCO) Nitrogênio 3,62
Metano 24,0
Etano 3,3
Umidade 3,2
Tabela 6 – Composição do Gás de Aciaria e Gás de Coqueria

As Figuras 9 e 10 apresentam os alcances das nuvens inflamáveis para o Gás de Coqueria (GCO) e
para o Gás de Aciaria (GAC), para temperatura de 30ºC e pressão de 0,5kgf/cm².

Figura 9 – Vazamento de Gás de Coqueria


Figura 10 – Vazamento de Gás de Aciaria

Observando as substâncias que compõem o Gás de Coqueria, é esperado que para simplificação dos
cálculos realizados manualmente, seja adotado o Hidrogênio como substância desprendida.
Com o objetivo de não errar pelo sub-dimensionamento da área classificada devido à presença do Gás
de Aciaria, é possível que para classificação dessa área seja também considerado o Hidrogênio como
substância desprendida.
A Figura 11 apresenta o cálculo via software dos alcances das nuvens inflamáveis para o Hidrogênio
para as mesmas condições consideradas para o Gás de Coqueria e Aciaria.

Figura 11 – Vazamento de Hidrogênio

A Tabela 7 apresenta os valores dos alcances das nuvens inflamáveis de Gás de Coqueria, Gás de
Aciaria e a sua comparação com a simplificação adotada com o Hidrogênio.

Alcance da Nuvem Inflamável


Diferença
(m)
Substância
Hidrogênio
Simulação Absoluta (m) Relativa (%)
(Simplificação)
Gás de Coqueria 1,9 0,65 -1,25 -65,8
Gás de Aciaria 1,9 0,05 -1,85 -97,4
Tabela 7 – Comparativo dos alcances das nuvens inflamáveis de Gás de Coqueria, Gás de Aciaria e
Hidrogênio
Através do comparativo dos alcances obtidos entre o Gás de Coqueria e o Gás de Aciaria e a utilização
do Hidrogênio para simplificação dos cálculos, observa-se que em ambos os casos a classificação com
simplificação é superior as demais. No caso da classificação da área devido à presença do Gás de
Aciaria, a diferença chega ser 38 vezes maior.

3.2.2- Classificação de áreas com variação das condições de processo


Na avaliação das condições de processo para determinação de áreas classificadas é comum o
avaliador deparar-se com processos que variam as condições ao longo do tempo, sendo que este opta
por avaliar apenas a condição aparentemente mais crítica, com o objetivo de reduzir o tempo
demandado para realização de cálculos.
Caso o avaliador não possua conhecimento profundo do processo, a escolha das condições a priori
mais críticas, por exemplo, a de temperatura e pressão mais elevada, pode não corresponder ao real
risco de formação de atmosfera explosiva na instalação, gerando uma falsa sensação de segurança
decorrente da escolha equivocada.
O exemplo a seguir avalia os alcances obtidos através de cálculo com software de três vazamentos de
Isopentano (C5), produto com características aproximadas a da gasolina, em condições distintas de
temperatura, porém com a mesma pressão nos três casos.
Os resultados da utilização do software podem ser observados nas Figuras 12, 13 e 14.

Figura 12 – Vazamento de Isopentano com temperatura de 30ºC

Figura 13 – Vazamento de Isopentano com temperatura de 90ºC


Figura 14 – Vazamento de Isopentano com temperatura de 120ºC

A Tabela 8 apresenta os valores dos alcances das nuvens inflamáveis de isopentano com a variação
da temperatura de processo.

Temperatura (ºC) Alcance da Nuvem Inflamável (m)


30 4,9
90 3,7
120 3,3
Tabela 8 – Alcance da nuvem inflamável de Isopentano em função da temperatura.

Observa-se na tabela que comparando-se os alcances obtidos para cada valor de temperatura, as
distâncias atingidas pela nuvem inflamável diminuem com o aumento de temperatura. Desta forma,
adotando-se a temperatura de 120 ºC como a situação mais crítica, a variação é de 1,6m a menos,
resultando em 32,6% de área de risco não considerada.

3.2.3 - Observações
O elevado número de variáveis necessários para estimar a dispersão de um produto inflamável torna
os cálculos complexos e demorados, permitindo que ocorram erros devido às simplificações adotadas
com o objetivo de facilitar os cálculos. A realização de simplificações sem o devido conhecimento pode
acarretar em erros conforme observado na aplicação de figuras pré-definidas, gerando riscos de
explosões, ou custo desnecessários.
O uso de uma ferramenta computacional facilita os cálculos e reduz a necessidade de simplificações
para realização de um estudo de classificação, aumentando significativamente a confiabilidade dos
cálculos.

4- Conclusão
Através do estudo apresentado fica constatado que o uso de figuras pré-definidas ou simplificações
para realização de cálculos gera margem a incertezas sobre os valores a serem apresentados.
Por um lado, temos as situações extremas que ultrapassam as condições previstas na norma. Neste
caso, há a necessidade de se certificar de que a classificação atenda todas as condições críticas,
operacionais (não acidentais), existentes na planta a ser avaliada. O uso de modelagens matemáticas
propicia este aumento na confiabilidade dos resultados.
Por outro lado, para indústrias que apresentam cenários mais amenos, em termos de formação de
atmosfera explosiva, fica notória que em muitas dessas condições os valores estabelecidos na norma
ou simplificações para cálculos são extremamente conservativos. Qual o impacto neste caso? Custo.
Uma área classificada excessivamente implica em custos adicionais, não necessários, em aquisição
de equipamentos certificados, bem como, instalação e manutenção dos mesmos.
Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR IEC 60079-10-1: Equipamentos elétricos para
atmosferas explosivas - Parte 10-1: Classificação de áreas – Atmosferas explosivas de gás. São Paulo, 2009.
NATIONAL FIRE PROTECTION ASSOCIATION. NFPA 497A – Recommended Practice for Classification of Class
I Hazardous (Classified) Locations for Eletrical Installations in Chemical Process Areas. Massachusetts, 1992.
A.W. Cox; F.P. Lee; M.L. Ang. Classification of Hazardous Locations, ICHEM.
CROWL, Daniel A. Understanding Explosions, AIChE, New York.
JORDÃO, Dácio de Miranda. Manual de Instalações Elétricas em Indústrias Químicas, Petroquímicas e de
Petróleo, 3ª edição, Qualitymark, Rio de Janeiro.

Autores
André Augusto Pfuetzenreiter – Eng. de Segurança do Trabalho
Josias Abimael Costa – Eng. de Segurança do Trabalho
Carlos Schlegel – Eng. de Segurança do Trabalho

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