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1- Referência Bibliográfica
Caio da Silva Prado Jr. nasceu em São Paulo no dia 11 de fevereiro de 1907, filho
de Caio da Silva Prado e Antonieta Penteado da Silva Prado. A família do autor em
questão pertencia a mais alta aristocracia cafeeira local, sendo seu avô, Martinho da
Silva Prado Jr. o maior produtor mundial de café. Iniciou seus estudos fundamentais
em casa com professores particulares, partindo para sua formação científica no
colégio jesuítico São Luís, também em São Paulo. Estudou durante um ano na
Inglaterra e ao retornar ao Brasil iniciou seus estudos de nível superior na Faculdade
de Direito do Largo de São Francisco, local onde iniciou uma parcela importante de
sua vida, sua atuação política.
Em 1931, Caio Prado Jr. (CPJ) se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB),
dedicando-se ao trabalho de organização do proletariado enquanto militante de
esquerda. Ainda nos anos de 1930 participou do movimento que culminaria na
criação da Aliança Nacional Libertadora (ANL), presidida por Luís Carlos Prestes, e
estudou história e geografia na USP. Em 1935 foi preso no Brasil por sua militância,
e solto dois anos depois se exilou na Europa. Em 1939 retorna ao Brasil e lança em
1942, pela livraria Martins Editora, Formação do Brasil Contemporâneo.
Caio Prado Jr. era militante do Partido Comunista Brasileiro e a partir de então
imprimia em suas obras uma visão marxista e dialética, aplicando essa perspectiva
teórica. Segundo Fernando Novais, em entrevista dada ao fundo do livro (na edição
da Companhia das Letras) existe três momentos diferentes na produção do
marxismo brasileiro. Segundo Novais, a terceira fase do marxismo no Brasil irá
florescer apenas a partir dos anos de 1960, o que torna CPJ um inovador no sentido
em que desde os anos de 1940, o mesmo já é um pensador com características dessa
dita terceira fase, realizando uma análise sofisticada que escapa de conceitos
prontos.
5- Procedimentos Metodológicos
Caio Prado Jr. irá traçar um caminho interessante para tentar explicar um fenômeno
tão complexo e longo do ponto de vista cronológico. Através de uma historiografia
que busca evitar ao máximo o chamado “pecado mortal” das ciências sociais que é o
anacronismo. Assim, a obra de Caio Prado Jr., constitui na opinião de Fernando
Novais o primeiro corte epistemológico na historiografia brasileira, pois se utiliza de
conceitos e métodos da história, da economia, sociologia, antropologia, ciência
política, sem contar com o cuidado no detalhamento geográfico e locacional,
podendo tais elementos serem encontrados em toda a obra. O autor dividirá o livro
então em quatro grandes áreas: 1) O sentido da colonização (capítulo único); 2)
Povoamento (quatro capítulos); 3) Vida material (nove capítulos); e 4) Vida social
(três capítulos).
6 – Conteúdo
Para o autor todo povo tem uma evolução, ou seja, um “certo sentido”, sendo
percebido no conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais que a constituem num
longo período de tempo. A história das colônias americanas, seu sentido, tem
origem nas navegações realizadas pelos europeus a partir do século XV, e que se
origina de simples empresas comerciais levadas a efeito pelos navegadores daqueles
países. Em suma, todos os grandes acontecimentos desta era, que se convencionou
chamar de “descobrimentos” articulam-se num conjunto que não é senão um
capítulo da história do comércio europeu. Em suas colônias, portugueses e
espanhóis, encontraram autóctones que serão aproveitados como trabalhadores,
porém, no caso do Brasil, Portugal irá inovar nessa nova feição do mundo: a
utilização da mão-de-obra escrava africana negra.
Caio Prado Jr. chegará a conclusão de que as colônias tropicais da América tomaram
um rumo completamente diferente daquelas colônias do norte temperado. Enquanto
nestas se constituirão colônias de povoamento, ou seja, uma espécie de local para
escoar excessos demográficos da Europa organizando, portanto, uma sociedade que
se assemelhava aos moldes europeus, já nos trópicos a situação será completamente
distinta. O autor apontará que “... a colonização dos trópicos toma o aspecto de uma
casta empresa comercial, mais completa que a antiga feitoria, mas sempre com o
mesmo caráter que ela, destinada a explorar os recursos naturais de um território
virgem em proveito do comércio europeu”. Esse sentido da colonização do Brasil é
o ponto inicial de que o autor parte, pois em sua visão, o mesmo explicará elementos
fundamentais, tanto no plano econômico como no social, da formação e evolução
históricas dos trópicos americanos.
6.2 – Povoamento
trezentos anos de colônia, pois era nessa região em que iria se desenvolver a maior
atividade produtiva da época, a plantação de cana de açúcar. A colonização do
interior do país deu-se apenas com o desenvolvimento de atividades extrativas, no
caso do Norte, mas principalmente da pecuária, tanto no Nordeste, como na
capitania de Minas Gerais e no Sul da colônia. Um segundo momento que também
gerou forte corrente imigratória em direção ao continente foi a atividade aurífera e
de diamantes, principalmente na capitania de MG e onde atualmente são os estados
de Mato Grosso e Goiás.
No primeiro capítulo do livro, o autor já nos trás o essencial para que se compreenda
e se possa explicar a economia da colônia brasileira, ou seja, uma colônia destinada
a fornecer ao comércio europeu alguns gêneros tropicais ou minerais de grande
importância, como o açúcar, o algodão e o ouro. Portanto, para Caio Prado Jr. toda a
economia do Brasil naquele período histórico se subordina a esse fim, isto é, se
organiza e funciona para produzir e exportar tais produtos. No setor primário, aquele
de maior, se não única monta, o elemento fundamental será a grande propriedade
monocultural (plantation) que se utiliza da mão-de-obra do negro africano na
condição de escravo. Assim “os três caracteres apontados: a grande propriedade,
monocultura, trabalho escravo, são formas que se combinam e se completam; e
derivam diretamente e com consequência necessária desses fatores”.
Após tal explicação sobre as bases constitutivas de nossa economia, o autor irá tratar
da base da nossa agricultura, a grande lavoura. Segundo o autor, a agricultura é o
“nervo econômico” da colonização. Sendo assim, é propriamente na agricultura que
se assentou a ocupação e exploração da maior e melhor parte do território brasileiro,
sendo a mineração apenas um parêntese na visão de CPJ. Plantávamos aqui
principalmente a cana-de-açúcar, porém havia outras culturas importantes que
exportávamos, como o algodão e o cacau. Além disso, existe um capítulo em que
trabalhou-se a mineração na colônia, que pertence na visão de CPJ à mesma
categoria da agricultura, pois ambas se destinam à exploração de produtos que têm
por objeto unicamente a exportação, em função da qual se organiza e a mantém a
exploração. No capítulo sobre a pecuária, o ponto de maior importância é a
responsabilidade que o autor atribui nessa atividade, além da utilização do indígena
Caio Prado Jr. irá iniciar trabalhando com a sociedade brasileira no início do século
XIX para explicar sua constitutibilidade social, sendo a escravidão o elemento que
caracteriza a mesma. Segundo o autor, a organização social, os padrões materiais e
morais, nada há que a presença do trabalho servil, nas proporções alcançadas no
Brasil deixe de atingir. A partir de então, divagará sobre o aristocrático senhor de
engenho e de escravos, e de como o mesmo constitui o centro das atenções da
época, uma vez que era a partir de sua figura que se produzia, se trabalhava e se
fazia política na colônia. Trabalhando especificamente sobre esse tema, CPJ irá
trabalhar com questões relacionadas a mal distribuída e péssima administração
pública do Brasil daquela época, que nada mais era do que uma adaptação grotesca
dos moldes administrativos de Portugal, e que no nosso caso, servia apenas para
garantir que o pacto colonial e que nossa posição enquanto produtores monocultores
e escravistas voltados para o preenchimento de seu comércio não se rompesse.
7 – Considerações Pessoais
A denúncia do autor ao trabalho servil escravo no Brasil é outro ponto que chama
atenção, pois apesar de o mesmo considerar o fenômeno da submissão do negro e do
autóctone um elemento de coesão da sociedade da época, exprime nesse fator a
culpa pela “falta de nexo moral” que tanto nos incomoda até hoje no Brasil. Em
suma, a obra de Caio Prado Jr. é um clássico das Ciências Sociais e deve ser lido por
qualquer cientista interessado em conhecer a história da constituição da sociedade
colonial brasileira, e seguindo a linha dialética do próprio Caio Prado explica muito
da realidade e das contradições da sociedade contemporânea.