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CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE

FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI - FACECAP

PEDAGOGIA

A EDUCAÇÃO ESCOLAR PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL

NOEMI FERNANDA AMBRÓSIO

Capivari-SP
2011
CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE
FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI - FACECAP

PEDAGOGIA

A EDUCAÇÃO ESCOLAR PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL

Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia


da Faculdade Cenecista de Capivari/CNEC
Capivari, para obtenção do título de Pedagogo,
sob a orientação da Professora Ms. Alessandra
Rodrigues Garcia de Lucena.

NOEMI FERNANDA AMBRÓSIO

Capivari-SP
2011
FICHA CATALOGRÁFICA

Ambrósio, Noemi Fernanda


A educação escolar para uma sociedade sustentável/ Noemi
Fernanda Ambrósio. Capivari-SP: CNEC, 2011
40p.

Orientadora: Profª Ms. Alessandra Rodrigues G. de Lucena


Monografia apresentada ao curso de Pedagogia.

1. Educação Ambiental. 2. Ecopedagogia. 3. Sociedade


Sustentável. I. Título

CDD 370
Dedico este trabalho aos profissionais da educação, na esperança
de que desenvolvam um trabalho eficiente na busca de uma
sociedade ambientalmente sustentável.
À minha sobrinha Nicole, que nesse ano completa quatro anos de
vida e, nas suas descobertas próprias da infância, desperta ainda
mais em mim o desejo de me tornar uma profissional dedicada
aos anos iniciais da educação.
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus, por ter me iluminado e me dado forças quando
pensei em desistir.
Aos meus pais José e Geralda e meus irmãos Ivo e Paulo, pelo apoio em todas as
dificuldades nessa importante fase da minha vida.
À minha sobrinha Nicole, pela compreensão que muitas vezes neguei participar de
suas brincadeiras, por estar ocupada demais na elaboração desse trabalho.
À minha orientadora Alessandra, pela confiança na minha capacidade, incentivo e
orientações para que esse trabalho pudesse ser concluído.
À minha querida professora do Ensino Fundamental, Lúcia Elene Doriguello, uma das
razões da minha paixão pela área de meio ambiente e que me orgulho em ter usado seu
trabalho como referência.
Agradeço também às minhas companheiras nessa árdua jornada de três anos: Camila,
Eliana, Lílian e Lucinéia, participantes de muitos momentos de risos, mas que também me
ajudaram a superar desafios.
Enfim, agradeço a todas as pessoas que participaram de mais esse sonho, direta ou
indiretamente.
AMBRÓSIO, Noemi Fernanda. A Educação Escolar para uma Sociedade Sustentável.
Monografia de Conclusão do Curso de Pedagogia da Faculdade Cenecista de Capivari –
FACECAP. 40p., 2011.

RESUMO

Este trabalho visa ressaltar a importância de se trabalhar a Educação Ambiental e como esse
tema deveria ser trabalhado de forma eficaz nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Para
tanto, a pesquisa baseia-se nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) dos Temas
Transversais e Meio Ambiente e Saúde, na Constituição Federal de 1988 e na Lei 9795/99,
que dispõe sobre a Educação Ambiental. Apresenta algumas idéias de determinados autores
sobre o tema e discorre sobre a Ecopedagogia, uma das vertentes da Educação Ambiental.
Ressalta, ainda, o significativo papel do professor na tão almejada sociedade sustentável e
dispõe sobre algumas ideias para o trabalho com a Educação Ambiental. Para tanto, foi
utilizada a pesquisa de campo em uma escola municipal dos anos iniciais do Ensino
Fundamental.

Palavras-chave: 1. Educação Ambiental. 2. Ecopedagogia. 3. Sociedade Sustentável


SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................8
1. LEIS E PARÂMETROS QUE TRATAM A EDUCAÇÃO AMBIENTAL................11
1.1 O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE A EDUCAÇÃO
AMBIENTAL.........................................................................................................11
1.2 O QUE DIZEM OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DE MEIO
AMBIENTE (PCNs)...............................................................................................13
2. ECOPEDAGOGIA, UM CAMINHO PARA TRABALHAR A EDUCAÇÃO
AMBIENTAL...............................................................................................................16
3. A PESQUISA DE CAMPO E O PROJETO “MEIO AMBIENTE: CONSCIÊNCIA
ECOLÓGICA E SUSTENTABILIDADE”..................................................................21
3.1 SOBRE A PESQUISA DE CAMPO......................................................................21
3.2 DO PROJETO “MEIO AMBIENTE: CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA E
SUSTENTABILIDADE”.......................................................................................24
4. IDEIAS PARA A REALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL.........................27
4.1 IDEIAS DESCRITAS NO LIVRO “50 COISAS SIMPLES QUE AS CRIANÇAS
PODEM FAZER PARA SALVAR A TERRA”....................................................27
4.2 IDEIAS DESCRITAS NO LIVRO “ATIVIDADES INTERDISCIPLINARES DE
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PRÁTICAS INOVADORAS DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL”.......................................................................................................29
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................33
REFERÊNCIAS........................................................................................................................35
APÊNDICE: QUESTIONÁRIO...............................................................................................37
ANEXO: A CARTA ESCRITA EM 2090...............................................................................39
INTRODUÇÃO

Os problemas ambientais que estamos vivenciando são resultados da nossa forma


inconsciente de utilização dos recursos ambientais, da nossa maneira de viver, sem termos
consciência de que as futuras gerações também necessitarão dos recursos naturais para
satisfazer as suas necessidades. A nossa maneira de viver e as nossas relações sofrem grande
influência da escola, dos valores transmitidos nas mesmas, dos currículos e dos livros
didáticos que servem como apoio ao professor.
Nesse sentido, esse trabalho surgiu a partir da seguinte questão de investigação:
“Como e porque trabalhar a Educação Ambiental no ambiente escolar?”.
Percebe-se que a criança possui um forte vínculo no que diz respeito à natureza e ao
meio ambiente, tanto que percebemos a admiração da mesma ao entrar em contato com a vida
animal, vegetal ou até elementos abióticos. Logo, a criança torna-se um terreno fértil para
trabalharmos a sustentabilidade, para que a criança aprenda que é possível viver e se
desenvolver em harmonia com o meio ambiente. Nesse trabalho, serão apresentadas algumas
tendências pedagógicas que possibilitem a reflexão sobre as questões relacionadas à proteção
do meio ambiente.
Segundo Guimarães (1995), nas sociedades atuais o ser humano acha que pode
sobreviver sem o equilíbrio dinâmico da natureza. As cidades estão superpovoadas, há alta
concentração de lixo, os mares e rios estão poluídos, em alguns lugares o ar está irrespirável.
A visão antropocêntrica (o homem como centro de tudo) está “fechando os olhos da
humanidade”, e ele não percebe mais a necessidade das relações harmônicas e a
interdependência entre homem e meio ambiente.
Esse mesmo autor diz ainda que esse modelo civilizatório está sendo questionado.
Agora fala-se de uma nova ética na relação sociedade – natureza, para que possamos atingir o
mais rápido possível uma sociedade sustentável ambientalmente.
Para entendermos o que seria uma sociedade ambientalmente sustentável, primeiro é
necessário compreendermos o que é meio ambiente e sustentabilidade, além de alguns
aspectos relevantes sobre a Educação Ambiental.
Para Guimarães (1995), meio ambiente é um conjunto de elementos vivos (bióticos) e
não-vivos (abióticos) que constituem o planeta Terra. Esses elementos se relacionam,
influenciam e sofrem influências entre si, em um equilíbrio dinâmico.

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A sustentabilidade diz respeito à sobrevivência no longo prazo de cada espécie, que
depende de uma base de recursos limitada, de acordo com Fritjof Capra (1989, apud
Guimarães, 1995), descrito nos Princípios da Alfabetização Ecológica.
Sabe-se que a educação ambiental é, muitas vezes, confundida com Ecologia.
A Ecologia, para Gadotti (2000), utiliza os conhecimentos dos botânicos, dos
zoólogos, dos microbiólogos e dos geofísicos para estudar as reorganizações, os
desregramentos e os regulamentos dos sistemas.
Já a Educação Ambiental, para Guimarães (1995), enfoca o equilíbrio dinâmico do
meio ambiente e todos os seus componentes, uma interdependência entre todos os elementos
existentes na natureza. Além disso, visa também contemplar as aspirações da população de
melhor qualidade de vida e um mundo ambientalmente sadio.
Diante dessas considerações é que se deu a escolha deste tema para a realização do
presente trabalho. O objeto de estudo será a prática educativa de Educação Ambiental dos
anos iniciais do Ensino Fundamental (1° ao 5° ano). Espera-se também que os profissionais
da educação apropriem-se de algumas idéias simples e eficazes de se trabalhar a Educação
Ambiental com as crianças.
Pensando nas palavras de Gadotti (2000), precisamos ecologizar a economia, a
pedagogia, a educação, a cultura e a ciência. Esse trabalho mostra que o profissional da
educação não deve pensar em colaborar apenas na formação de cidadãos moral e eticamente
corretos, mas ambientalmente corretos também e isso não se dá apenas por palavras, mas
através de gestos, atitudes e hábitos. A esse profissional cabe uma boa parcela nesse quesito
da educação, já que passamos um tempo determinante de nossas vidas nos diversos níveis da
educação (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Superior) e que todos os
profissionais das mais diferentes áreas, como Saúde, Comunicação, Informação e a própria
Educação, passaram pelos anos iniciais do Ensino Fundamental.
A metodologia utilizada nesse trabalho foi a pesquisa bibliográfica, buscando
aproximar diretrizes de diferentes autores sobre o tema, comparando e analisando seus
estudos a propósito da importância da Educação Ambiental no ambiente escolar, além de
análises de algumas leis e dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Também foi
utilizada a pesquisa de campo realizada numa escola municipal dos anos iniciais do Ensino
Fundamental, que desenvolve um projeto sobre meio ambiente.

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A partir destas reflexões esse trabalho foi organizado em quatro capítulos. No
primeiro, foi realizada a discussão sobre a legislação sobre o tema e também a análise dos
PCNs que abordam o assunto.
No segundo capítulo, foi discorrido sobre algumas idéias de diferentes autores sobre a
Ecopedagogia, uma vertente da Educação Ambiental. No terceiro, houve a descrição e análise
dos dados obtidos na realização da pesquisa de campo. No quarto capítulo, foram
apresentadas algumas ideias para trabalhar a Educação Ambiental.
Objetiva-se que o presente trabalho contribua na ampliação da visão dos profissionais
no que diz respeito à Educação Ambiental, e que os mesmos revejam suas práticas e
participem ativamente na formação de uma sociedade ambientalmente correta. Sendo assim,
espera-se que contribua na melhoria do meio em que vivemos e que nos concede recursos
imprescindíveis à nossa boa qualidade de vida.

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1. LEIS E PARÂMETROS QUE TRATAM A EDUCAÇÃO
AMBIENTAL

Este capítulo tem como objetivo discorrer sobre a legislação vigente referente à
Educação Ambiental. Pretende-se também possibilitar reflexões a cerca do que diz os
Parâmetros Curriculares de Meio Ambiente, mostrando as sugestões que o documento aponta
como possíveis de serem realizadas na escola.

1.1 – O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE A EDUCAÇÃO


AMBIENTAL

A Constituição Federal de 1988 (considerada a mais importante na hierarquia das leis)


impõe que: “É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios: proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
preservar as florestas, a fauna e a flora.” (BRASIL, 1988).
Sendo assim, todos são responsáveis por proteger e preservar o meio ambiente do
desequilíbrio ecológico e da poluição. Essa competência não é só da União, mas também dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Defender o meio ambiente da poluição em qualquer uma de suas formas significa
protegê-lo das ações que causam significativos impactos ambientais. Cabe também à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios preservar a flora e fauna brasileira da
extinção das espécies, que aumenta a cada dia, em proporções alarmantes.
Outra incumbência desses poderes, segundo a Constituição Federal de 1988, é a
preservação das florestas, principais responsáveis pela manutenção do equilíbrio ecológico,
tal manutenção se dá por diversos fatores, dentre eles e de grande relevância: a fotossíntese.
As plantas, no processo denominado fotossíntese (onde fabrica seu próprio alimento, a
glicose) retiram do solo a água e os sais minerais, de suas folhas que possuem clorofila
(responsável pela coloração verde) e do ambiente retira a energia solar e o gás carbônico.
Além de produzir seu alimento, as plantas devolvem ao ambiente o oxigênio.
A Lei 9795/99 dispõe sobre a Educação Ambiental, definindo-a e estabelecendo ações
que constituem a Política Nacional de Educação Ambiental.

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O Art. 2º dispõe que: “A educação ambiental é um componente essencial e
permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os
níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.” (BRASIL,
1999)
Este artigo diz que Educação Ambiental deve ocorrer em espaço escolar ou não-
escolar. Portanto, constata-se que a Educação Ambiental deve ser trabalhada em todos os
estados da República Federativa do Brasil (já que é um componente essencial e permanente
da educação nacional), desde a Educação Infantil até o Ensino Superior.
O Art. 3º dessa mesma lei destaca que todos têm direito à Educação Ambiental e que
cabe ao Poder Público, às instituições educativas, aos meios de comunicação de massa, às
empresas e à sociedade com um todo buscar alcançar o objetivo maior da Educação
Ambiental: uma sociedade ambientalmente sustentável, que cobre dos poderes públicos e da
própria sociedade, seu direito de um mundo ambientalmente sadio.
Esta mesma lei, em seu art. 4º descreve os princípios básicos da educação ambiental,
que são os seguintes:

I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;


II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a
interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o
enfoque da sustentabilidade;
III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter,
multi e transdisciplinaridade;
IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;
V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;
VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo;
VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais,
nacionais e globais;
VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e
cultural. (BRASIL, 1999).

Esse artigo nos leva a refletir que devemos considerar que todos os elementos
presentes no planeta Terra estão interligados, e que devemos nos relacionar com esses
elementos (bióticos – com vida, como árvores, plantas e seres humanos, e abióticos – sem
vida, como a água, o ar e as rochas) harmonicamente, de modo a conservar o meio em que
vivemos.
A ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais devem estar vinculados, já que
para formarmos cidadãos ambientalmente éticos, que são ou serão os profissionais do futuro,
necessitamos da educação. As práticas sociais referem-se às atitudes que a sociedade toma em
relação aos aspectos ambientais (no sentido amplo do termo, já que ambiente não é apenas
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árvores e animais, mas tudo que compõe o ambiente que vivemos e que estabelecemos
relações, desde os seres humanos até os elementos abióticos) e as mesmas devem estar
pautadas na ideia de sociedade ambientalmente sustentável, definida anteriormente.
Dentre os princípios expressos na Lei 9795/99 há o que fala sobre o respeito à
pluralidade e à diversidade individual e cultural. Ou seja, não vale apenas respeitar a natureza,
mas o meio ambiente como um todo, e isso engloba nós, seres humanos. Devemos respeitar a
diversidade de culturas, nos seus diferentes tipos de religiões, etnias e ideias.
Sobre as metodologias e as técnicas de educação voltadas a esse fim, vale destacar
que as mesmas podem ser múltiplas e que devem estar presentes em todas as disciplinas.

1.2 – O QUE DIZEM OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS


DE MEIO AMBIENTE (PCNs)

Os Parâmetros Curriculares Nacionais, denominados PCNs, pretendem esclarecer as


finalidades da educação e fornecer subsídios norteadores para que o professor construa sua
prática pedagógica. Há um PCN para cada área convencional: Língua Portuguesa,
Matemática, Ciências, História e Geografia. Há um PCN que se refere aos temas que devem
ser trabalhados em todas as áreas citadas acima (PCN dos Temas Transversais, que
compreende temas como ética, pluralidade cultural, saúde, meio ambiente e orientação
sexual) e um PCN para cada um dos temas transversais citados anteriormente.
No PCN dos Temas Transversais são discutidas as atitudes corretas e éticas para se
viver em sociedade (Ética); o respeito às diversas etnias e culturas (Pluralidade Cultural), as
questões que abrangem melhorias na qualidade de vida e saúde pública (Saúde); as questões
ambientais (Meio Ambiente) e orientações sobre a sexualidade (Orientação Sexual).
O PCN dos Temas Transversais justifica a criação desses temas:

As áreas convencionais: Matemática, Língua Portuguesa, Ciências, História e


Geografia não são suficientes para desenvolver as capacidades necessárias para a
participação social efetiva, são necessárias, mas não suficientes. Há questões
urgentes que devem ser tratadas nas escolas, como: violência, saúde, uso dos
recursos naturais, preconceitos, que não são diretamente contemplados por essas
áreas tradicionais. (BRASIL, 2001, p.25).

Os Temas Transversais eleitos para constituir os PCNs são aqueles que necessitam ser
trabalhados com urgência social, numa abrangência nacional, possibilitando o processo de

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ensino e aprendizagem no ensino fundamental, favorecendo a compreensão da realidade e
estimulando a participação social.
Nesse PCN, há sugestões de como devem ser trabalhados os temas acima descritos:
“Os temas transversais devem ser incorporados nas disciplinas já existentes, pois não foram
criadas novas disciplinas para esses temas.” (BRASIL, 2001, p.15).
Conforme análise do PCN de Meio Ambiente e Saúde, o tema Meio Ambiente está
intrinsecamente ligado à Saúde (tanto que os dois temas estão no mesmo PCN), já que ambos
estão relacionados e envolvem a qualidade de vida da sociedade. Com o ambiente equilibrado,
onde o homem possa interagir positivamente com a natureza, a mesma continuará nos
fornecendo ar puro, alimentos saudáveis e água de qualidade, que são indispensáveis à nossa
saúde.
Segundo o PCN de Meio Ambiente e Saúde, uma sociedade ambientalmente
sustentável é aquela que faz uso sustentável dos recursos presentes na natureza, de forma
qualitativamente adequada e em quantidades compatíveis com sua capacidade de renovação.
Um dos princípios para orientar a educação escolar, descrito no PCN de Temas
Transversais está o de “Co-responsabilidade pela vida social”. Isto é, somos participantes e
responsáveis pelo destino da vida coletiva. Cabe a nós deixarmos um mundo melhor para
nossos filhos (ambientalmente falando) e filhos melhores para o mundo, e a educação é base
determinante para tal. Além do mais, não cabe só aos governantes resolver questões de saúde
pública e meio ambiente. É nosso direito cobrar dos poderes públicos as melhorias na saúde e
no ambiente em que vivemos, mas também devemos fazer a nossa parte.
O Parâmetro Curricular de Meio Ambiente e Saúde afirma que:

As áreas de Ciências Naturais, História e Geografia serão as principais parceiras


para o desenvolvimento dos conteúdos aqui relacionados, pela própria natureza dos
seus objetos de estudo. As áreas de Língua Portuguesa, Matemática, Educação
Física e Arte ganham importância fundamental por constituírem instrumentos
básicos para que o aluno possa conduzir o seu processo de construção do
conhecimento sobre o meio ambiente. (BRASIL, 2001, p.49).

As áreas de Ciências Naturais, História e Geografia são as principais parceiras para o


desenvolvimento dos conteúdos porque são as que mais tratam de estudos sobre o meio
ambiente, como o ciclo da água, o histórico das questões ambientais e a localização dos
pontos onde há desequilíbrios ecológicos. Já as áreas de Língua Portuguesa, Matemática,
Educação Física e Artes são instrumentos básicos porque conduzem o processo de construção
do conhecimento sobre o meio ambiente. Todas as áreas, em conjunto com os temas
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considerados transversais, constroem conhecimentos básicos para a formação de cidadãos
éticos e participativos na vida em sociedade.
Quanto às soluções tecnológicas ou mudanças de comportamento para transformar a
realidade, o PCN de Meio Ambiente e Saúde nos diz que as soluções tecnológicas podem
reverter o quadro atual rapidamente, porém, se não houver eficazes mudanças de
comportamento, o desequilíbrio ambiental pode intensificar. Ou seja, a Educação Ambiental
faz-se necessária.
Sobre a realidade da Educação Ambiental no Brasil, o PCN de Meio Ambiente nos diz
que:

A Educação Ambiental, embora considerada prioridade por todas as instâncias de


poder, está longe de ser aceita e desenvolvida, porque implica mudanças profundas.
Se realmente fosse realizada de forma eficaz e eficiente, levaria a mudanças de
comportamento pessoal e a atitudes e valores de cidadania que podem ter
conseqüências positivas no que se refere à sustentabilidade. (BRASIL, 2001, p. 26,
27).

A cada dia que passa, vemos cada vez mais casos de degradação ambiental. Se a
Educação Ambiental fosse inserida e trabalhada corretamente no currículo escolar, haveria
progressivas mudanças no comportamento da sociedade, o que reverteria o quadro ambiental
atual.

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2. ECOPEDAGOGIA, UM CAMINHO PARA TRABALHAR A
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Este capítulo tem como objetivo promover a discussão acerca de uma tendência de
trabalho com a Educação Ambiental – a Ecopedagogia – para uma breve comparação entre a
nova proposta de ensino prevista pelos PCNs e o modelo tradicional. Para tal, serão utilizados
alguns conceitos e idéias dos estudos de Moacir Gadotti, Francisco Gutierrez e Cruz Prado,
autores consagrados que abordam a Ecopedagogia, ou Pedagogia da Terra.
Gadotti (2000) nos diz que:

Na era do conhecimento, a pedagogia tornou-se a ciência mais importante porque ela


objetiva justamente promover a aprendizagem. A era do conhecimento é também a
era da sociedade “aprendente”: todos tornaram-se aprendizes. A pedagogia não está
mais centrada na didática, em como ensinar, mas na ética e na filosofia, que se
pergunta como devemos ser para aprender e o que precisamos saber para aprender e
ensinar. E muda a relação ensino-aprendizagem (GADOTTI, 2000, p.45).

E essa mudança consiste em formarmos cidadãos autônomos e críticos, e não apenas


“ouvintes” ou “receptores” das informações. Tal reflexão aplica-se ao desenvolvimento de
projetos relacionados à educação ambiental.
Segundo Gadotti (2000), seguidor de Paulo Freire, no modelo tradicional de ensino o
professor era o “detentor” da verdade e os alunos serviam apenas de “depósitos” para os
conteúdos passados pelo professor. A nova perspectiva da relação ensino-aprendizagem
sustenta que deve haver diálogo entre professor e aluno, numa relação bilateral onde ambos
possam ensinar e aprender.
Nas palavras de Paulo Freire, principal inspiração para essa perspectiva:

Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção
e construção [...] Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus
sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto
um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.
(FREIRE s. d, apud GADOTTI, 2000, p.25, grifos meus).

Freire destaca que tanto aluno quanto professor são sujeitos da ação de educar, onde o
professor é o mediador nesse processo e ambos se interagem, concordando que “ A mediação
pedagógica como educação alternativa propõe alternativas de educação diretamente
relacionadas com os produtos imediatos do processo e com o desenvolvimento das próprias
capacidades.” (GUTIERREZ E PRADO, 2000, p.72).
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Para esses autores, a conversa é a essência do ato educativo e significa diálogo
horizontal, onde haja respeito, tolerância e reconhecimento das contribuições do outro, e isso
implica interação, comunicação e amor.
No modelo tradicional de ensino (ainda presente), o aluno é obrigado a memorizar o
conteúdo. E na preocupação apenas em memorizar o conteúdo, os vínculos e as relações
sociais e com o ambiente são deixados de lado. É nesse ponto que entra a Ecopedagogia, uma
nova forma de aprender e ensinar, para ir além da simples transmissão dos conteúdos
tradicionais de ensino e abranger a ética, os valores que fundamentam nossas relações com o
ambiente em que vivemos, de modo que as futuras gerações tenham acesso aos recursos
naturais para o suprimento de suas necessidades.
Isso só será alcançado se o mundo se desenvolver de forma sustentável. A preservação
ambiental depende da consciência ecológica que, por sua vez, depende da educação.
Para Boff (1993, apud GADOTTI, 2000), sem uma educação sustentável, o planeta
Terra continuará apenas sendo considerado objeto de nossas pesquisas, ensaios e, algumas
vezes, de nossa contemplação. Sendo assim, não será espaço propício à vida, ao aconchego.
Gadotti (2000) diz que a Educação Ambiental tem sido o ponto de partida dessa
conscientização nas escolas, mas sabemos que essa educação deve ir além dos muros
escolares, deve abarcar a sociedade em geral para, se não solucionar, despertar para o
problema da crescente degradação ambiental.
E esse autor concluiu que:

Finalmente, a ecopedagogia não é uma pedagogia escolar. Ela não se dirige apenas
aos educadores, mas aos habitantes da Terra em geral [...] A educação para um
desenvolvimento sustentável não pode ser confundida como educação escolar. A
escola pode contribuir muito e está contribuindo – hoje, as crianças escolarizadas é
que levam para os adultos em casa a preocupação com o meio ambiente - , mas a
ecopedagogia pretende ir além da escola: ela pretende impregnar toda a sociedade.
(GADOTTI, 2000, p.93).

Portanto, verifica-se na fala do autor que a Ecopedagogia deve ir além da escola,


dirigindo-se a todos habitantes da Terra, afinal a educação ambiental é dever e direito de
todos nós.
Piaget (1972, apud GADOTTI, 2000) nos ensina que “os currículos devem contemplar
o que é significativo para o aluno”. De certa forma, ele está correto, porém os conteúdos
também devem ser significativos para a saúde do planeta.

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Analisando a teoria de Piaget, pode-se compreender que o aluno é o centro de todo
processo pedagógico, ele apenas aprenderá o que lhe é significativo. Mas, e sua relação com o
meio ambiente?
Vale ressaltar que é do meio ambiente que o ser humano tira os suprimentos essenciais
à sua sobrevivência.
Sobre o significado da palavra “Ecopedagogia”, temos como fonte o Dicionário
Didático Brasileiro, que define o termo “eco” como advindo do grego oikos, que significa
casa, meio. O termo “pedagogia” refere-se a “ciência da educação”. Assim sendo, os
profissionais da educação são os principais parceiros nessa ideia de preservar a nossa casa, o
Planeta Terra.
A Ecopedagogia implica em uma reorientação dos currículos para que sejam
incorporados alguns princípios e valores baseados em alguns documentos já elaborados, como
os descritos por Gadotti:

1. Sacralidade, diversidade e interdependência da vida.


2. Preocupação comum da humanidade de viver com todos os seres do planeta.
3. Respeito aos Direitos Humanos.
4. Desenvolvimento sustentável.
5. Justiça, equidade e comunidade.
6. Prevenção do que pode causar danos. (GADOTTI, 2000, p. 119).

Portanto, a Ecopedagogia considera a vida sagrada, rica em sua diversidade (humana,


vegetal e animal) e interdependente nessas formas. Além disso, nossos direitos, como o de um
mundo ambientalmente sadio, por exemplo, devem ser respeitados. Como temos direitos,
também temos deveres, e é nosso dever garantir a satisfação das necessidades futuras,
prevenindo os danos ao meio ambiente.
Sobre a principal perspectiva da Ecopedagogia, Gadotti (2000) nos orienta que:

A ecopedagogia não quer oferecer apenas uma visão da realidade. Ela pretende
reeducar o olhar [...] Reeducar o olhar significa desenvolver a atitude de observar a
presença de agressões ao meio ambiente, criar hábitos alimentares novos, observar o
desperdício, a poluição sonora, visual, a poluição da água e do ar etc. e intervir no
sentido de reeducar o habitante do planeta. (GADOTTI, 2000, p.132).

A Ecopedagogia oferece uma nova perspectiva para a visão da realidade, porém seu
objetivo vai muito além. Ela objetiva reeducar o nosso olhar, para que possamos intervir
positivamente na realidade e nas relações que mantemos com a sociedade e com o meio em
que vivemos.

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Gutierrez e Prado (1999, apud GADOTTI, 2000, p.41) sustentam que a Ecopedagogia,
como teoria da educação é um novo modelo de ensino que promove a aprendizagem do
sentido das coisas a partir da “vida cotidiana.” Nas palavras de Gadotti (2000, p.42), “A
educação deve ser tão ampla quanto à vida.”.
Essas duas afirmações nos levam a concluir que educação e vida estão intrinsecamente
ligadas.
O Relatório Brundtland, reconhecido como uma das maiores autoridades do mundo no
tema meio ambiente, afirma:

A preservação do meio ambiente não pode ser a preocupação e a obra apenas dos
ecologistas [...] e, às vezes, de políticos. O desenvolvimento não pode ser a
preocupação e a obra apenas dos economistas [...] e, mais frequentemente, desta vez,
dos políticos. Uma concertação transetorial, transdisciplinar e transprofissional
impõe-se com muita urgência. (BRUNDTLAND, 1988, apud GADOTTI, 2000,
p.154).

Analisando as palavras contidas no Relatório Brundtland, tanto a preservação do meio


ambiente quanto o desenvolvimento são responsabilidades de toda a sociedade, e não apenas
dos ecologistas, políticos ou economistas. Como estamos falando do meio em que vivemos
(logo, patrimônio de todos), o tema em questão deve abranger toda a sociedade, todas as
disciplinas (no Brasil, ditas como base nacional) e todas as profissões.
Gadotti (2000) ressalta que para entender o que é a Pedagogia da Terra (ou
Ecopedagogia), deve-se de antemão entender dois conceitos fundamentais: planetariedade e
sustentabilidade.
Para Gadotti (2000), planetariedade é a responsabilidade de todos pelo futuro comum
da humanidade, ao mesmo tempo em que augura uma cidadania que une a todos, sincrônica e
historicamente.
Já o termo “sustentabilidade”, agora nas palavras de Fritjof Capra (1982), defendido
nos princípios da alfabetização ecológica:

A sobrevivência no longo prazo de cada espécie depende de uma base de recursos


limitada. – A adoção deste princípio em uma comunidade de aprendizagem significa
que os instrutores têm noção do impacto que causam sobre os participantes no longo
prazo. (CAPRA, 1982, apud GADOTTI, 2000, p.99).

Relacionando os dois conceitos, conclui-se que a Pedagogia da Terra objetiva a


interação positiva de todos os habitantes da Terra, para que tenham melhor qualidade de vida
hoje e futuramente. E isso só será alcançado se nos conscientizarmos sobre as formas de
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utilização dos recursos naturais, além de tecnologias limpas e que revertam o quadro
ambiental atual.
O movimento pela Ecopedagogia encontra, nas práticas de Educação Ambiental, um
novo subsidio para sua consolidação como um novo paradigma educacional. Ou seja, a
Pedagogia da Terra se tornará realidade quando efetivamente a sociedade se conscientizar
sobre a importância dessas práticas, um movimento fundado na ética, no bem-estar humano,
na sustentabilidade da educação e da sociedade. Um dos princípios desse movimento diz
respeito à reeducação do olhar das pessoas, para que elas não tenham apenas uma relação de
uso dos recursos presentes no meio ambiente, mas também de apreciação das belezas naturais
e da paz que ela nos transmite, além de percebermos que também fazemos parte do meio
ambiente. Esse movimento está apenas começando, mas já começou a fazer história.
O termo “eticamente e ambientalmente correto” vem sendo usado constantemente,
mas às vezes sem consciência do seu significado.
Para Gutierrez e Prado (2000), “A ética, ao contrário da moral, não se baseia em
exigências, mandamentos e leis externas.” (GUTIERREZ E PRADO, 2000, p.100). Dessa
forma, a moralidade está presente nas leis que devemos obedecer, caso contrário, sofreremos
punições. Já a ética é o oposto, não é um conjunto de leis impostas, mas atitudes que
promovem o bem-estar de todos os seres.
Segundo Boff (1996), “... o ser humano vive eticamente quando mantém o equilíbrio
dinâmico de todas as coisas e quando para preservá-lo é capaz de estabelecer limites a seus
próprios desejos.” (BOFF, 1996, apud GUTIERREZ E PRADO, 2000, p.106).
Desse capítulo pode-se concluir que a Ecopedagogia incentiva que o que será ensinado
ao aluno deve ser significativo tanto para ele quanto à saúde da Terra-Mãe. Além do aluno
assimilar os conteúdos de Língua Portuguesa, Matemática, História, dentre outras disciplinas
da base nacional, o mesmo deve aprender a posicionar-se de maneira ética e ambientalmente
correta. Esse movimento está dando os primeiros passos, mas já está mudando a consciência
das pessoas que objetivam uma sociedade sustentável.

20
3. A PESQUISA DE CAMPO E O PROJETO “MEIO AMBIENTE:
CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA E SUSTENTABILIDADE”

Esse capítulo tem como objetivo analisar o questionário aplicado para a pesquisa de
campo, bem como o projeto intitulado “Meio Ambiente: Consciência Ecológica e
Sustentabilidade”, destacando alguns pontos relevantes para tal.

3.1 SOBRE A PESQUISA DE CAMPO

A pesquisa foi feita em uma escola municipal dos anos iniciais do Ensino
Fundamental e tem como objetivo analisar como o tema Educação Ambiental é trabalhado
nessa etapa da educação. Para tal, foram distribuídos dez questionários com treze questões
sobre as concepções dos professores acerca da Educação Ambiental. Dos dez questionários,
nove foram devolvidos, sendo que sete foram respondidos e dois entregues em branco.
A primeira e a segunda questão do questionário dizem respeito ao tempo de magistério
e à formação acadêmica das professoras, respectivamente. O tempo de magistério varia de dez
a vinte e três anos.
Sobre a formação das professoras, apenas quatro das sete prosseguiram seus estudos,
avançando até a pós-graduação. Sabe-se que é necessário estar sempre estudando, para
participar e estar sempre atualizado sobre novas propostas pedagógicas. Alguns profissionais
param em um determinado nível de estudo (quando conseguem ingressar no mercado de
trabalho) e isso não é bom, muito menos para os profissionais de educação.
A terceira inquirição refere-se a que série as professoras entrevistadas lecionam no ano
atual. Como o questionário foi distribuído a todas as professoras e obtive um bom retorno, os
anos variam de 1º a 5º ano.
A quarta e a quinta questões referem-se à carga semanal de trabalho e a quantidade de
escolas em que trabalham, respectivamente. A carga semanal de trabalho varia de trinta a
sessenta horas. Sobre a quantidade de escolas em que as professoras trabalham, quatro
responderam trabalhar em duas escolas e três afirmaram trabalhar apenas na escola
pesquisada.
Quanto ao fato de algumas professoras “dobrarem período”, ou seja, trabalhar em dois
períodos, sabemos que isso é a consequência do baixo salário. Se os professores dos anos

21
iniciais da educação recebessem um salário digno pelo seu trabalho (são eles que darão a base
para qualquer área profissional que o aluno desejar seguir), isso não seria necessário.
As informações estão na tabela a seguir:

Professora Formação Possui Pós- Carga Quantidade Tempo de Magistério


Acadêmica Graduação? Horária de escolas
Semanal em que
trabalha
1 História. Não possui 30h, em uma escola 17 anos
2 Direito. Pós em Educação 30h, em uma escola 23 anos
Infantil
3 Pedagogia e Letras. Não 60h, em duas escolas 14 anos
possui
4 Pedagogia. Pós em Não respondeu a 20 anos
Administração Escolar quantidade de horas,
trabalha em duas escolas
5 Pedagogia. Cursando pós Não respondeu a 18 anos
em Psicopedagogia quantidade de horas,
trabalha em uma escola
6 Pedagogia. Cursando pós 60h, em duas escolas 10 anos
em Psicopedagogia
7 Letras. Não possui 60 h, em duas escolas 22 anos

Tabela 1. Tempo de magistério, quantidade de horas semanais, escolas trabalhadas e formação acadêmica das
professoras entrevistadas.

A sexta e a sétima perguntas referem-se à participação nas HTPCs (Hora de Trabalho


Pedagógico Coletivo). Todas as professoras participam desse momento e relatam que esse
momento é bastante proveitoso. Falam ainda que é visto como um tempo para estudos, trocas
de informações e esclarecimentos de dúvidas, objetivando melhorias no trabalho pedagógico.
Uma das professoras respondeu que a HTPC é “Hora em que estudamos, trocamos
experiências, ficamos em contato com a equipe pedagógica, visando organizar e melhorar o
trabalho pedagógico”.
É relevante a forma como a HTPC é vista pelas professoras: como um tempo para
trocas de informações sobre possíveis melhorias no projeto pedagógico. Sabe-se que é o
projeto pedagógico que direciona o trabalho da equipe e, sendo a HTPC um momento para
discussões, esse trabalho sempre terá melhorias contínuas.

22
Bozzini e Oliveira (2006) apud Doriguello (2010) afirmam que a HTPC tem como
principal característica a valorização da escola como espaço de formação para a construção do
trabalho docente. Destacam também que as trocas de experiências oportunizadas nesse espaço
contribuem para o aperfeiçoamento profissional e devem ser utilizados para reflexão da
própria prática pedagógica.1
A oitava, nona e décima inquirição têm por finalidade saber o que as professoras
entendem por Educação Ambiental e a frequência em que o tema é trabalhado. Elas
responderam que o tema refere-se a conceitos relacionados à sustentabilidade, às questões
ambientais, aos cuidados com o ambiente em que vivemos, à reciclagem de materiais, à
biodiversidade, e vêem o aluno como agente transformador da realidade. Quanto à frequência
do tema, todas as professoras afirmaram trabalhar frequentemente, pelo menos uma vez por
semana, pois acham necessário.
A décima primeira questão analisa se o tema é tratado como transversal pela equipe
pedagógica e todas as professoras afirmaram trabalhar o tema em todas as disciplinas,
conforme proposto pelo PCN de Temas Transversais. É relevante a consciência sobre a
transversalidade do tema, pois geralmente o tema é abordado apenas em Ciências. Conforme
proposto no PCN de Temas Transversais, esse tema deve ser tratado em todas as disciplinas
da base nacional.
A décima segunda pergunta questiona sobre o principal objetivo ao abordar o tema nas
aulas. Todas as professoras assinalaram que o maior objetivo é formar cidadãos
comprometidos com o bem-estar, com a saúde pública e com o ambiente em que vivemos, no
geral.
A questão número treze objetiva saber quais as estratégias pedagógicas utilizadas no
processo ensino-aprendizagem do tema. As estratégias utilizadas são diversas e compreendem
leituras, cálculos, gráficos, tabelas, vídeos, rodas de conversas, ilustrações, pesquisas,
produções escritas, músicas, experiências, jogos, informações sobre desastres ambientais,
piadas, aulas de informática, cartazes e teatro.
Quanto às estratégias utilizadas pelas professoras no processo ensino-aprendizagem do
tema, percebe-se que são bastante diversificadas, o que é muito bom, pois o assunto torna-se
atrativo às crianças.
Chartier (2007) apud Andrade (2010) afirma a importância das inovações didáticas:

1
Disponível em <http://www.unimep.br/phpg/mostraacademica/anais/8mostra/5/89.pdf>. Acesso em 9 out.
2011.
23
Os professores das séries iniciais geralmente ignoram as informações validadas
cientificamente, elaboradas pelos pesquisadores distantes do campo escolar,
publicadas segundo as regras que regem as revistas especializadas, que não são
diretamente utilizáveis na sala de aula. Entre as inovações didáticas, eles dão
preferência àquelas que sejam capazes de entusiasmar as crianças e de combater o
fracasso escolar.2

Assim sendo, a boa aula é aquela que atende às necessidades dos alunos, para tanto,
cabe ao profissional da educação investir em práticas que alimentem o entusiasmo deles, que
os cativem e os levem a pensar que o conteúdo a ser aprendido tem importância na sua vida
social.

3.2 O PROJETO “MEIO AMBIENTE: CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA E


SUSTENTABILIDADE”

A escola onde foi realizada a pesquisa de campo do presente trabalho colocou que
desenvolve um projeto3 denominado “Meio Ambiente: Consciência Ecológica e
Sustentabilidade”, que tem como objetivo geral desenvolver nas crianças atitudes de
preservação do planeta Terra.
Como diz Hutchison (2000, p. 73) “as crianças não são apenas os sujeitos passivos de
estruturas e de processos sociais”.
Logo, se não são passivas, são ativas. E como sujeitos ativos, participam da realidade
da sociedade. Sendo assim, podem ser ensinadas a participarem positivamente, como sujeitos
do bem e defensores da natureza.
Logo no início do projeto, há uma frase de um garotinho que diz que tudo que
acontece no mundo, país em que ele vive ou no bairro, acontece com ele, portanto ele precisa
participar nas decisões que interferem na vida dele.
Embasando teoricamente o raciocínio desse garotinho, Orteza e Miranda afirmam que
a criança “age e interage com o ambiente (...) ela participa intimamente das atividades no
mundo...” (ORTEZA E MIRANDA, 1982, apud HUTCHISON, 2000, p. 72).
Froebel concebeu que a criança deve, desde cedo, ver e reconhecer os objetos da
natureza em suas verdadeiras relações e que “sem a orientação adequada do adulto, tudo que o

2
Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/es/v31n110/10.pdf>. Acesso em 16 out. 2011.
3
Não cabe aqui nesta pesquisa avaliar se o procedimento metodológico utilizado pela escola é metodologia de
projetos ou centro de interesse. O foco é investigar se a escola trabalha com as questões ambientais e, se sim,
como a escola trabalha.
24
mundo natural oferece de mais importante permanecerá escondido da criança.” (FROEBEL,
1912, apud HUTCHISON, 2000, p. 96).
Sendo assim, a criança necessita da mediação de um adulto para estabelecer relações
harmônicas com o ambiente.
Como esse trabalho foca a educação formal, subentende-se que isso fica a cargo do
professor. E ele deverá ensinar a preservar o que o mundo natural oferece de importante à
nossa saúde: água limpa, ar respirável, alimentos saudáveis e como a criança deve fazer para
preservar esses recursos e se relacionar harmonicamente com o meio em que vive.
O projeto acima citado surgiu da seguinte indagação: “O que podemos fazer para
cuidar melhor do nosso planeta e consequentemente termos uma melhor qualidade de vida?”
No final do projeto estão anexadas as fotos das atividades sobre meio ambiente.
Percebe-se que a escola trabalha o tema constantemente, quer durante as aulas, quer nas
apresentações durante os cultos à bandeira.
Os alunos fizeram o plantio de ervas medicinais, aprenderam como ocorre o ciclo da
água durante as aulas de informática, fizeram diversas apresentações e trabalhos sobre o uso
racional da água, a conservação do solo e sobre o Pau-Brasil.
Nas aulas, o tema é sempre abordado, independentemente da disciplina, pois como o
PCN pontua, o assunto deve ser incorporado em todas as disciplinas, sem se tornar uma
disciplina independente.
Os conteúdos a serem trabalhados são divididos para cada ano: os alunos do 1º ano
trabalharão conceitos sobre a extinção das espécies; os do 2º ano sobre a preservação do
ambiente natural; os do 3º ano a rica biodiversidade brasileira; tanto os do 2º ano quanto os do
3º ano saberão quais são os riscos do desequilíbrio ecológico; os do 4º ano conceitos básicos
sobre a água, como saneamento básico e qualidade e sobre os 3Rs (reciclar, reduzir,
reaproveitar) e, no último ano da etapa inicial do Ensino Fundamental (5º ano), os alunos
questões à respeito do desmatamento e reflorestamento.
Todos os alunos (1º ao 5º ano) desenvolverão ações que visem a cuidar do meio
ambiente para melhorar a qualidade de vida, proteger as plantas e animais, fazer a coleta
seletiva, monitorarão e economia e o desperdício da água na escola, a minimizar a poluição e
a combater o aquecimento global.
É relevante o fato de o projeto afirmar que o público alvo do mesmo não é apenas os
alunos (corpo discente), mas também o corpo docente, demais funcionários, pais e

25
comunidade. Para abranger a comunidade, as apresentações ficam abertas para quem quiser
assistir.
Uma informação contida no projeto não é coerente: entre suas ações, está a de preparar
receitas alternativas, porém as merendeiras ou nutricionistas não participaram da elaboração
do projeto. Como está escrito, participaram apenas a direção, vice-direção, coordenação e
professores. Como profissionais das áreas de alimentação e saúde, crê-se que seriam de
grande valia para a elaboração de receitas alternativas, essas receitas poderiam fazer parte da
merenda escolar.
Analisando os questionários respondidos pelas professoras e o projeto elaborado pela
equipe pedagógica, fica claro que a Educação Ambiental é trabalhada na escola pesquisada,
pois atende a vários princípios básicos descritos na Lei 9795/99 (discorrida no primeiro
capítulo desse trabalho). Dentre os princípios destacados, está “o pluralismo de idéias e
concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade”, que conforme
observado é cumprido pela equipe pedagógica.

26
4. IDEIAS PARA A REALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Nesse capítulo, serão mostradas algumas ideias simples e eficazes para trabalhar a
Educação Ambiental, baseadas no livro “50 Coisas Simples que as Crianças Podem Fazer
para Salvar a Terra”, de John Javna e na concepção de Genebaldo Freire Dias, autor do livro
“Atividades Interdisciplinares de Educação Ambiental: Práticas Inovadoras de Educação
Ambiental”.
Para Javna (1990, p. 8), “... as crianças não só desejam, como estão ansiosas para fazer
sua parte. Mas precisam de informação, encorajamento e – o mais importante – da
consciência de que têm o poder para influir nas coisas”. Ou seja, as crianças querem ajudar a
salvar nosso planeta, mas precisam da orientação do professor e este, por sua vez, precisa
informá-las como fazer isso.
Dias (2009) afirma que avançamos muito em gerenciamento dos recursos naturais,
mas na Educação Ambiental formal, entretanto, os avanços foram tímidos e os professores
ainda encontram muitas dificuldades para ter acesso à formação ambiental e aos recursos
instrucionais especializados. No que diz respeito ao gerenciamento dos recursos naturais,
papel geralmente desempenhado pelos profissionais da Gestão Ambiental, o autor acha que
estes estão fazendo o seu papel na preservação do meio ambiente. Porém, o outro lado citado
pelo autor (educação formal), fica a desejar em termos de Educação Ambiental.
O presente capítulo tem por objetivo mostrar que a prática da Educação Ambiental
parece complexa, mas pode ser simples e, ao mesmo tempo, eficaz.

4.1 IDEIAS DESCRITAS NO LIVRO “50 COISAS SIMPLES QUE AS


CRIANÇAS PODEM FAZER PARA SALVAR ATERRA”

Javna (p.24-25) fala que o simples ato de comprar brinquedos que duram mais
influencia na preservação dos recursos naturais, já que a cada vez que um brinquedo quebra e
a criança o substitui por outro, novos recursos naturais serão consumidos. Os professores
podem incentivar seus alunos a brincarem com brinquedos que seus pais ou avós brincaram, a
olharem se os objetos têm longa durabilidade ou ainda confeccionarem brinquedos com
materiais recicláveis.

27
Nesse mesmo raciocínio com os brinquedos, a criança também pode ser incentivada a
passar os brinquedos que não querem mais adiante. Fazendo assim, outras crianças terão
oportunidade de possuir o brinquedo e mesmo que tenham condições de comprá-lo, não
precisarão, logo, estarão poupando os recursos naturais. Nesse caso, a equipe escolar pode
organizar uma feira de compras e trocas de brinquedos usados.
Esse mesmo autor diz que alimentar as minhocas com os restos de materiais orgânicos
dará origem ao húmus, que é a matéria orgânica depositada no solo, resultante da
decomposição. Essa atividade pode ser desenvolvida no ambiente escolar, na construção de
uma horta, por exemplo. Deve-se esclarecer às crianças que eles usarão os restos alimentares
nessa atividade, entretanto, não poderão desperdiçar a comida, colocando mais do que de fato
comerão.
Outra ideia é o fato de economizar água, um recurso que está se tornando escasso em
muitos lugares, em decorrência da sua poluição e desperdício. O autor fala que as crianças
devem economizar água na hora de escovar os dentes e os educadores devem atentar-se a essa
higienização, explicando como não desperdiçar a água e qual a sua importância para a saúde,
alimentação e higiene.
Plantar árvores é uma atividade que as crianças adoram e acham gratificante ao vê-las
crescer. Para que elas observem juntas o crescimento das plantas, podem fazer o plantio na
escola, orientadas pelo professor. Javna (2003) diz que nada pode substituir as árvores – é por
isso que elas são tão importantes, então, precisamos manter o mundo cheio de árvores e nós
podemos ajudar a fazer com que isso aconteça. Podemos plantar uma árvore. Isso pode ser
feito no Dia Árvore (21 de setembro), de modo que todo dia 21 de setembro será
“aniversário” da árvore que as crianças plantaram. Vale ressaltar que o professor deve lembrar
as crianças de molharem as plantas frequentemente. Não basta apenas plantar árvores, mas
zelar pelo seu crescimento.
Sabemos que as crianças são ótimos veículos de informação. Portanto, os professores
podem ensinar os alunos a ensinarem seus pais. Como Javna (2003) ressalta,

Psiu! Quer saber de um segredo? Os seus pais realmente se importam com o que
você pensa... muito embora às vezes eles finjam que não. Portanto, eis uma chance
de ajudar a salvar a Terra: ensinando a eles algumas coisas importantes, que talvez
não conheçam. (JAVNA, 2003 p. 124, ).

Sabemos que as questões ambientais se tornaram alarmantes nos últimos anos, logo,
muitos pais ainda têm hábitos que não condizem com o atual sentimento de proteção à Terra.
28
As crianças, por nascerem em um tempo onde essas questões são comumente tratadas,
desenvolveram hábitos ambientalmente corretos. Cabe aos educadores incentivar as crianças a
passar esses hábitos adiante.
Sobre a reciclagem, Javna (2003) atesta:

Todos os dias, há dúzias – em alguns lugares, até centenas e milhares – de crianças


em cada escola... além dos adultos que trabalham nela. E existem milhares de
escolas no país. Imagine o bem que todas essas pessoas podem fazer pela Terra, se
tentarem! Uma maneira realmente interessante de envolver a sua escola e todo o
pessoal ligado a ela na salvação da Terra é dar início a um Centro de Reciclagem
Escolar. (JAVNA, 2003, p. 130).

Se a escola não tiver meios para adquirir os containeres especiais para reciclagem, o
autor fala que os alunos podem utilizar caixas de papelão com placas informando quais
materiais serão depositados ali.
Além das atividades citadas acima, o autor dá ainda dicas de como poupar os recursos
naturais, preservar oceanos, rios, lagos e córrego, proteger os animais, manter a Terra verde,
usar a energia com inteligência, espalhar as informações e trabalhar com ecoexperiências.

4.2 IDEIAS DESCRITAS NO LIVRO “ATIVIDADES INTERDISCIPLINARES


DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PRÁTICAS INOVADORAS DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL”

Dias (2009) considera que:

As atividades da escola devem estar sempre em sintonia com a realidade da


comunidade a que ela serve. A escola deve abordar o mundo do trabalho
apresentando aos alunos (as) diferentes profissões e esclarecendo suas
características. O processo de Educação Ambiental deve demonstrar a relação que
cada profissão estabelece com o meio ambiente. (DIAS, 2009, p.61).

Segundo esse autor, a prática escolar deve ir além da escola, deve abarcar o meio
social no seu contexto mais amplo, abrangendo nossas relações sociais e com o meio em que
vivemos. E uma dessas relações é a que estabelecemos com o trabalho, e esta deve ser
desenvolvida da forma mais ambientalmente correta possível.
Sobre a prática trabalhista, o autor indica os procedimentos para a realização de uma
pesquisa com diversos profissionais: listar as profissões e convidar alguns profissionais de
diferentes áreas para visitar a escola e falar sobre suas atividades. Os profissionais podem
29
dizer como aprenderam a profissão, quais as dificuldades que encontraram para aprendê-la e
exercê-la, quais os riscos e benefícios, qual a relação da profissão com o meio ambiente e
quais as medidas que tomam para reduzir os impactos ambientais.
Dias (2009) afirma que o professor deve discutir com os alunos o fato de algumas
profissões terem se adaptado aos padrões ambientais atuais, como é o caso da extração da
madeira e a mineração. Deve também destacar o surgimento de novas áreas profissionais
ligadas à gestão ambiental e redução de problemas ambientais nas empresas, como é o caso da
legislação ambiental, tecnologias limpas, controle de poluição, educação ambiental,
engenharia ambiental e outras.
Outra atividade que as crianças gostam de fazer é a análise de contas de energia
elétrica.
Dias (2009) pondera que:

A maior parte da humanidade é dependente da energia elétrica. Essa dependência é


cada vez mais intensa. Estamos sempre criando algo que vai aumentar o consumo de
energia elétrica. Entretanto, pouco se discute de onde ela vem e os danos que sua
geração causam ao meio ambiente e, portanto, a nós mesmos. (DIAS, 2009, p.68).

Sobre essa visão, o autor sugere alguns procedimentos para inserir o consumo
consciente da energia elétrica nos conteúdos escolares: os alunos fazerem a análise de suas
contas, destacarem os equipamentos que consomem mais energia, listarem as mudanças de
hábitos para reduzir o consumo e listar os danos ambientais causados na construção e
operação de uma usina hidrelétrica (como a interferência na vida animal e vegetal, por
exemplo).
Além desses procedimentos citados pelo autor, o professor pode também dividir a sala
em grupos para que os alunos pesquisem sobre a geração de energia por fontes renováveis,
como o Sol e os ventos, denominadas “energias limpas”. Essas fontes não causam impactos
ambientais como as hidrelétricas.
Dias (2009) indica uma atividade para examinar a qualidade da água que bebemos:
amarrar um pano branco na boca de uma das torneiras da escola e deixar por uma semana,
sem interromper seu uso. Depois, convidar um técnico da companhia de água e esgoto da
cidade para fazer uma palestra e analisar o pano que foi utilizado na experiência. Dependendo
da cor que o pano ficou, questionar que medidas estão sendo tomadas para melhorar ou
preservar a qualidade da água.

30
Essa atividade faz com que as crianças tenham conhecimento da qualidade da água
que é utilizada pela população, além de seu direito de cobrar do poder público e da população
a melhoria ou preservação da qualidade dessa água.
Outra atividade que desperta a atenção dos alunos é a leitura da Carta Escrita em 2090
(anexada no final desse trabalho), que fala sobre a escassez da água. Dias (2009) indica essa
carta para trabalhar a leitura silenciosa e a interpretação. Após ler e interpretar o texto, a
classe pode discutir a possibilidade de a sociedade chegar à situação descrita na carta e
transformar essa informação em um gráfico – quantos acreditam e quantos não acreditam
chegar nessa situação. Além dessa atividade, o autor sugere o trabalho de indagação às
crianças sobre quais medidas tomar para evitar o quadro catastrófico tratado na carta.
É uma excelente sugestão para trabalhar a Educação Ambiental, pois a Carta Escrita
em 2090 traz uma responsabilidade à população de preservar esse recurso natural
indispensável à vida: a água.
O autor também aponta uma atividade denominada “Conhecendo as Plantas
Medicinais”. Ele indica os procedimentos para o desenvolvimento de tal atividade: a primeira
ação é convidar alguém para apresentar as ervas medicinais da região aos alunos e solicitar
que essa pessoa traga amostras, digam para que servem tais ervas e contem as histórias delas.
Depois, os alunos devem montar um viveiro na escola com algumas dessas ervas e as mesmas
poderão ser usadas na escola ou distribuídas à comunidade.
Dias (2009) destaca a importância de se conhecer as ervas medicinais:

Muitas plantas estudadas por cientistas podem curar doenças. Existem pessoas que
conhecem as ervas e raízes que curam (plantas medicinais). O saber dessas pessoas é
um patrimônio cultural da comunidade, muito valioso, e precisa ser reconhecido e
preservado. (DIAS, 2009, p.145).

Alguns exemplos de plantas medicinais cultivadas em casa são a arnica


(antiinflamatória), hortelã (combate o resfriado e estimulante) e caninha-da-Índia (diurético).
Mas as plantas medicinais variam de região para região, e devem ser pesquisadas
corretamente qual a melhor para ser cultivada, pois dependem da umidade, temperatura e
precipitação de chuvas.
Desde cedo, as crianças devem aprender também a importância da camada vegetal
para proteger o solo.

31
O autor, justificando a atividade a seguir, dispõe que essa simples ação demonstra os
impactos socioambientais causados pelos desflorestamentos: erosão, perda da fertilidade do
solo, assoreamento e inundações.
Na atividade proposta, os alunos deverão encher duas garrafas pet com água. Em
seguida, escolher um local pouco inclinado, uma com vegetação e outra sem. Após a escolha
do local, dois alunos deverão derramar a água nas duas áreas diferentes (na mesma altura e ao
mesmo tempo). A partir da observação dos fatos, elaborar hipóteses sobre o ocorrido. Essa
atividade objetiva comprovar que a vegetação é a maior protetora do solo.
Para mostrar aos alunos que a paisagem e os aspectos socioambientais mudam com a
passagem dos anos, Dias (2009) sugere uma entrevista com algum morador antigo da cidade.
Para tal atividade, o autor indica alguns procedimentos: convidar um morador antigo
para uma conversa informal sobre como era a cidade – clima, população, vegetação, animais,
rios, nascentes, costumes, festas, tradições, meios de transportes, educação, saúde, esportes,
violência e poluição.
A partir desses levantamentos, observar os pontos positivos e negativos da
modernização. Posteriormente, pesquisar sobre as formas de preservar os aspectos positivos e
transformar os negativos.
Sobre essa conversa informal com os moradores antigos, Dias (2009) afirma que é
preciso ouvir as pessoas que vivem na cidade há mais tempo, pois seus depoimentos são
documentos vivos que precisam ser reconhecidos e guardados. Além do merecido respeito, os
idosos precisam ser reconhecidos como fontes de cultura, que nos transmitem os
conhecimentos acumulados pela humanidade.
Esse capítulo não se destina a mostrar ideias prontas para o trabalho com a Educação
Ambiental, já que cada atividade pedagógica deve ser adequada ao contexto social do aluno.
Essas ideias são apenas provas que a Educação Ambiental pode ser trabalhada de forma
simples, de modo que sejam utilizados recursos acessíveis, e ao mesmo tempo, eficaz, de
modo que os alunos percebam a importância de preservarmos nossos recursos naturais para
satisfazer as nossas necessidades, poupando-os para as futuras gerações.

32
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para a elaboração desse trabalho, procurei pesquisar em diversas fontes e percebi


como há um grande número de documentos, leis, relatórios, livros e sites que dizem respeito
ao meio ambiente, sustentabilidade e proteção dos recursos naturais.
Durante a preparação, ficou claro que meio ambiente não compreende apenas animais
e plantas, como muitas vezes é compreendido, erroneamente. Na leitura do presente trabalho,
nota-se que meio ambiente compreende muito mais que isso, compreende relações humanas
também, abarcando seres bióticos e abióticos.
Nota-se também que a Educação Ambiental é um tema (conforme proposto pelo PCN
de Temas Transversais), e não uma disciplina da base nacional comum. Logo, não deve ser
criada nenhuma disciplina para tal, mas deve-se trabalhar esse tema nas disciplinas já
existentes.
Propôs-se verificar também como as professoras procuram trabalhar a Educação
Ambiental no contexto escolar, através de uma pesquisa de campo em uma escola dos anos
iniciais do Ensino Fundamental. Da análise, observou-se que as professoras sabem como fazer
isso, diversificando as aulas e trabalhando o tema constantemente. Com isso, estão preparando
os alunos para desempenharem seus papéis na tão almejada sociedade ambientalmente
sustentável.
Respondendo a pergunta norteadora deste trabalho: “Como e porque trabalhar a
Educação Ambiental no ambiente escolar?”, há algumas dicas de atividades pedagógicas que
levam em conta os aspectos ambientais e mostra a necessidade de formarmos cidadãos
comprometidos com o bem-estar da população.
Algumas das atividades propostas referem-se ao consumo desenfreado – as dos
brinquedos, por exemplo – fruto do sistema capitalista, onde o lucro domina as relações, sem
atentar-se aos aspectos naturais, sociais ou ambientais. Essas atividades dão dicas de como
prolongar a vida útil desses brinquedos, e a partir disso, minimizar o acúmulo de resíduos
sólidos e retirada de subsídios naturais.
Mostra também a necessidade da equipe pedagógica estar sempre atualizada quanto às
novas propostas pedagógicas, leis e parâmetros que tratam o tema “meio ambiente”. Fazendo
isso, estará apta a educar seus alunos, colaborando na preservação da nossa Terra-Mãe.
Em síntese, de acordo com o questionário e projeto, percebe-se que a escola
pesquisada é um ótimo veiculo de informação que objetiva formar cidadãos ambientalmente
33
corretos, pois seu projeto envolve tanto corpo docente quanto discente, além de pais e
comunidade, em geral. Ela formará cidadãos críticos, que lutam pelo direito de um mundo
ambientalmente sadio – conforme a Constituição Federal de 1988 e cobram isso dos poderes
públicos e da própria sociedade.
Esse trabalho não dá ideias prontas para trabalhar o tema, pois o contexto de vida da
sociedade varia de região para região. Logo, algumas ideias dão certo em alguns lugares, em
outros, não. É necessário, antes de qualquer trabalho com a educação, fazer o levantamento do
conhecimento prévio dos alunos e saber o contexto ao qual estão inseridos.

34
REFERÊNCIAS

ANDRADE, L.T. Personagens e Enredos de Práticas Pedagógicas na Cena da Formação


Docente. Campinas, 2010. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/es/v31n110/10.pdf>.
Acesso em 16 out. 2011.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal,


1988.

_______. Lei 9795/99. Dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a Política Nacional de
Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília, DF: Senado Federal, 1999.

_______. Parâmetros Curriculares Nacionais: Apresentação dos Temas Transversais e Ética.


3. ed. Brasília, DF: Senado Federal, 2001.

_______. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio Ambiente e Saúde. 3. ed. Brasília, DF:
Senado Federal, 2001.

DIAS, G. F. Atividades Interdisciplinares de Educação Ambiental: Práticas Inovadoras de


Educação Ambiental. 2. ed. São Paulo: Gaia, 2006.

DORIGUELLO, L. E. Experiências de Formação Docente no HTPC: Reflexões sobre os


Sentidos da Indisciplina. Piracicaba, 2010. Disponível em
<http://www.unimep.br/phpg/mostraacademica/anais/8mostra/5/89.pdf>. Acesso em 9 out.
2011.

GADOTTI, M. Pedagogia da Terra. 3. ed. São Paulo: Peirópolis, 2000.

GUIMARÃES, M. A dimensão ambiental na educação. 3. ed. Campinas: Papirus, 1995.

GUTIERREZ, F. & CRUZ, P. Ecopedagogia e Cidadania Planetária. 2. ed. Tradução Sandra


Trabucco Valenzuela. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2000.

HUTCHISON, D. Educação Ecológica: Ideias sobre a Consciência Ambiental. Tradução


Dayse Batista. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

35
JAVNA, J. Trad.50 Coisas Simples que as Crianças Podem Fazer para Salvar a Terra. 11.
ed. Tradução Reynaldo Guarany Rio de Janeiro: José Olympio, 2003.

PAULISTA. E. D. Dicionário Didático Brasileiro da Língua Portuguesa. Guarulhos: Editora


FTD, s.d.

36
APÊNDICE

QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO

QUESTIONÁRIO - Direcionado aos professores de uma escola municipal dos anos iniciais
do Ensino Fundamental.

1 - Tempo de magistério:
2 - Formação Acadêmica:
3 - Série que leciona no ano de 2011:
4 - Qual a sua carga horária semanal de trabalho?
5 - Você trabalha em mais de uma escola? ( ) Sim. Quantas?____ ( ) Não.
6 - Você participa das HTPCs? ( ) Sim. ( ) Não.
7 - Como é a HTPC?
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8 - O que você entende por Educação Ambiental?


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9 - Com que frequência o tema “meio ambiente” é trabalhado na escola?


( ) frequentemente, pois é um tema necessário;
( ) raramente, pois temos que cumprir o currículo e não há tempo ocioso;
( ) apenas nas datas comemorativas, como o Dia da Água ou a Semana do Meio Ambiente.

10 - E em suas aulas, em seu planejamento?


( ) uma vez por semana
( ) uma vez por mês

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( ) uma vez por bimestre
( ) uma vez por semestre
( ) nas datas comemorativas
( ) quando o coordenador solicita.

11 - Em qual disciplina você procura trabalhar o tema?


( ) Língua Portuguesa, na produção de textos sobre as questões ambientais;
( ) História, trabalhando o histórico/evolução das questões ambientais;
( ) Geografia, mostrando a localização de alguns pontos onde os quadros são mais
alarmantes;
( ) Ciências, trabalhando o processo da fotossíntese ou a cadeia alimentar.
( ) Em todas as disciplinas, pois o PCN considera esse tema como transversal – devem ser
trabalhados em todas as disciplinas.

12 – Qual é o maior objetivo de se trabalhar esse tema (meio ambiente) nas séries iniciais do
Ensino Fundamental?
( ) formarmos cidadãos comprometidos com o bem-estar, com a saúde pública e com o
ambiente em que vivemos, no geral;
( ) para que os alunos compreendam os níveis tróficos da cadeia alimentar;
( ) para que os alunos compreendam os processos da fotossíntese e a importância desse
processo de produção de alimento para a planta;
( ) não acho importante. Trabalho esse tema apenas porque isso é imposto.

13 - Quais estratégias pedagógicas você utiliza em suas aulas para trabalhar o tema “Meio
Ambiente”?
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Desde já, agradeço a colaboração. Obrigada!

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ANEXO

A CARTA ESCRITA EM 2090

Estamos no ano de 2090, acabo de completar os 50, mas a minha aparência é de


alguém de 85. Tenho sérios problemas renais porque bebo muito pouca água. Creio que me
resta pouco tempo.
Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade. Recordo quando tinha 5 anos.
Tudo era muito diferente. Havia muitas árvores nos parques, as casas tinham bonitos jardins e
eu podia desfrutar de um banho de chuveiro com cerca de uma hora. Agora usamos toalhas
em azeite mineral para limpar a pele. Antes todas as mulheres mostravam a sua formosa
cabeleira. Agora devemos rapar a cabeça para mantê-la limpa sem água.
Antes o meu pai lavava o carro com a água que saía de uma mangueira. Hoje os
meninos não acreditam que a água se utilizava dessa forma.
Recordo que havia muitos anúncios que diziam CUIDA DA AGUA, só que ninguém
lhes ligava; pensávamos que a água jamais se podia terminar.
Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos aqüíferos estão irreversivelmente
contaminados ou esgotados.
Antes a quantidade de água indicada como ideal para beber era oito copos por dia por
pessoa adulta. Hoje só posso beber meio copo. A roupa é descartável, o que aumenta
grandemente a quantidade de lixo; tivemos que voltar a usar os poços sépticos (fossas) como
no século passado porque as redes de esgotos não se usam por falta de água.
A aparência da população é horrorosa; corpos desfalecidos, enrugados pela
desidratação, cheios de chagas na pele pelos raios ultravioletas que já não têm a capa de
ozônio que os filtrava na atmosfera.
Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados.
As infecções gastrointestinais, enfermidades da pele e das vias urinárias são as
principais causas de morte.
A indústria está paralisada e o desemprego é dramático.
As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam-te com água
potável em vez de salário.
A comida é 80% sintética. Pela ressiquidade da pele uma jovem de 20 anos está como
se tivesse 40.
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Os cientistas investigam, mas não há solução possível.
Não se pode fabricar água e o oxigênio também está degradado por falta de árvores, o
que diminuiu o coeficiente intelectual das novas gerações.
Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de muitos indivíduos, como
conseqüência há muitos meninos com insuficiências, mutações e deformações.
O governo até nos cobra pelo ar que respiramos. 137 m3 por dia por habitante e
adulto.
A gente que não pode pagar é retirada das "zonas ventiladas", que estão dotadas de
gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com energia solar, que não são de boa
qualidade mas pode-se respirar. A idade média é de 35 anos.
Em alguns países ficaram manchas de vegetação com o seu respectivo rio, que é
fortemente vigiado pelo exército, a água tornou-se um tesouro muito cobiçado mais do que o
ouro ou os diamantes.
Aqui em troca, não há arvores porque quase nunca chove, e quando chega a registrar
precipitação, é de chuva ácida; as estações do ano têm sido severamente transformadas pelas
provas atômicas e da indústria contaminante do século XX.
Advertia-se que havia que cuidar o meio ambiente e ninguém fez caso.
Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem descrevo o bonito
que eram os bosques, lhe falo da chuva, das flores, do agradável que era tomar banho e poder
pescar nos rios e barragens, beber toda a água que quisesse, o saudável que era a gente.
Ela pergunta-me: Papai, porque se acabou a água? Então, sinto um nó na garganta; não
posso deixar de sentir-me culpado, porque pertenço à geração que terminou destruindo o meio
ambiente ou simplesmente não tomamos em conta tantos avisos.
Agora os nossos filhos pagam um preço alto e sinceramente creio que a vida na terra já
não será possível dentro de muito pouco porque a destruição do meio ambiente chegou a um
ponto irreversível.
Como gostaria voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreendesse isto quando
ainda podíamos fazer algo para salvar o nosso planeta Terra!"

Documento extraído da revista biográfica "Crónicas de los Tiempos" de Abril de 2002.

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