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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

3ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DACOMARCA DE VIÇOSA

EXAME DE SELEÇÃO PÚBLICA DE ACADÊMICOS DE PÓS-GRADUAÇÃO


EM DIREITO

1) Acerca dos princípios de direito penal, discorra, no máximo em 10 linhas,


sobre o princípio da intervenção mínima do Direito Penal.

O princípio da intervenção penal mínima sustenta que o Direito Penal só deve


proteger os bens jurídicos mais relevantes à sociedade (fragmentariedade do
Direito Penal), e apenas quando isso for impossível de ser realizado pelos outros
ramos do Direito (subsidiariedade do Direito Penal).

2) Considere que Manoel, penalmente imputável, tenha sequestrado uma


criança com o intuito de receber certa quantia como resgate. Um mês depois,
estando a vítima ainda em cativeiro, nova lei entrou em vigor, prevendo pena
mais severa para o delito. Nessa situação, a lei mais gravosa incidirá sobre a
conduta de Manoel? Comente no máximo em 10 linhas essa questão,
mencionando a Súmula do STF que rege o caso e indicando qual é o crime
hipotético.

A lei nova, neste caso, passou a vigorar DURANTE a consumação do delito, ou


seja, ela PODE ser aplicada, pois não há retroatividade neste caso. Aplica-se, na
hipótese, a súmula nº 711 do STF: A LEI PENAL MAIS GRAVE APLICA-SE AO
CRIME CONTINUADO OU AO CRIME PERMANENTE, SE A SUA VIGÊNCIA
É ANTERIOR À CESSAÇÃO DA CONTINUIDADE OU DA PERMANÊNCIA.
Ora, o crime de extorsão mediante sequestro é um crime permanente, e que se
encontrava em execução quando sobreveio a lei nova mais gravosa. Assim, esta
deverá ser aplicada ao caso.

3) Diferencie, no máximo em quinze linhas, o crime de calúnia do crime de


denunciação caluniosa, apontando os bens jurídicos tutelados, os tipos de
ações penais, e a possibilidade de se conceder os institutos despenalizadores
previstos na lei 9.099/95. Por fim, discorra sobre a denunciação caluniosa
privilegiada.
A calúnia tutela a honra objetiva enquanto que a denunciação caluniosa tutela a
administração da justiça.
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A calúnia se processa, em regra, mediante ação penal privada; já a denunciação


caluniosa se processa mediante ação penal pública incondicionada.
A calúnia admite, em regra, tanto a transação penal quanto a suspensão
condicional do processo; já a denunciação caluniosa, em razão do preceito
secundário em abstrato, não admite os institutos despenalizadores.
Por fim, a denunciação caluniosa privilegiada é aquela na qual o agente dá causa
à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de
investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade
administrativa contra alguém, imputando-lhe prática de contravenção de que o
sabe inocente, estando prevista no art. 339, §2º, do CP.

4) Um policial, ao cumprir um mandado de condução coercitiva expedido pela


autoridade judiciária competente, submeteu, embora temporariamente, um
cidadão a situação de privação de liberdade. Nessa circunstância, a conduta do
policial está abarcada por alguma excludente de ilicitude? Caso positivo,
indique qual excludente se encaixa no presente caso e diferencie as
excludentes do exercício regular de direito e do estrito cumprimento do dever
legal no máximo em quinze linhas.

Cabe ressaltar, inicialmente, que o estrito cumprimento do dever legal pressupõe


a existência de um dever imposto pela lei, o qual é cumprido estritamente pelo
agente. Já o exercício regular de direito trata de direitos que podem vir a ser
exercidos por qualquer pessoa, desde que observadas as suas regras. Note, que
ao cumprir um mandado de condução coercitiva, o agente está cumprindo
estritamente um dever que a lei lhe impõe, na qualidade de policial, motivo pelo
qual não responderá pela eventual privação de liberdade, salvo se atuar em
excesso doloso ou culposo. Portanto, estamos diante de um estrito cumprimento
do dever legal e não de um exercício regular de direito.

5) Aponte, no máximo em dez linhas, quatro diferenças entre elementos


informativos e provas no processo penal.
Os elementos informativos: (i) são colhidos na fase investigatória; (ii) não estão
sujeitos ao contraditório; (iii) não estão sujeitos à ampla defesa; e (iv) prestam-se
para a decretação de medidas cautelares e para a formação da opinio delicti.

As provas, por sua vez: (i) são colhidos na fase judicial; (ii) estão sujeitas ao
contraditório; (iii) estão sujeitas à ampla defesa; e (iv) auxiliam na formação da
convicção do juiz.
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6) Existem elementos produzidos na fase policial que podem ser levados e


utilizados na decisão judicial? Quais são? Discorra sobre cada um deles,
exemplificando-os, e aponte o dispositivo legal em que estão insertos, no
máximo em quinze linhas.

Sim. As chamadas provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. Art. 155 do


CPP, parte final.

PROVAS CAUTELARES: são aquelas em que existe um risco de


desaparecimento do objeto pelo decurso do tempo. Nessas provas cautelares o
contraditório é diferido, ou seja, o contraditório se dá num momento posterior.
Ex. busca e apreensão e interceptação telefônica.

PROVAS NÃO REPETÍVEIS: são colhidas na fase investigatória porque não


podem ser produzidas novamente na fase processual. O contraditório é diferido.
Ex.: Exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios (Estupro e furto
mediante escalada)

PROVAS ANTECIPADAS: em virtude de sua relevância e urgência, são


produzidas antes de seu momento processual oportuno e até antes do início do
processo, porém, com a observância do contraditório real.
Ex. CPP, Art. 225. - Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade
ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz
poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o
depoimento. Depoimento ad perpetuam rei memoriam.

7) Discorra, objetivamente e no máximo em 20 linhas, sobre as seguintes


espécies de flagrante, apontando, quando houver, a previsão legal e/ou súmula
regente. (i) flagrante real; (ii) flagrante irreal; (iii) flagrante assimilado; (iv)
flagrante esperado; (v) flagrante preparado; (vi) flagrante forjado; (vii)
flagrante postergado.

(i) flagrante real - Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: I - está cometendo
a infração penal; II - acaba de cometê-la.

(ii) flagrante irreal - Art. 302, III, CPP - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo
ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração.
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(iii) flagrante assimilado - Art. 302, IV, CPP - é encontrado, logo depois, com
instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.

(iv) flagrante esperado - A autoridade policial limita-se a aguardar o momento


da prática do delito (não há agente provocador). É flagrante legal.

(v) flagrante preparado - O agente policial tem participação decisiva para a


prática do crime, sem a qual o delito não ocorreria. É flagrante ilegal. Súmula 145
do STF: Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a
sua consumação.

(vi) flagrante forjado - Trata-se de uma simulação, ou seja, uma encenação de


uma situação aparentemente criminosa. É ilegal.

(vii) flagrante postergado - Consiste no retardamento da intervenção policial,


que deve se dar no momento mais oportuno do ponto de vista da investigação
criminal (LOCrim – Art. 8º da Lei. 12.850/13).

8) A denúncia, segundo a doutrina mais abalizada, é a peça acusatória


inaugural da ação penal pública, condicionada ou incondicionada, dentro da
qual haverá a exposição por escrito de fatos e circunstâncias que constituem,
em tese, infração penal; a manifestação expressa da vontade de que se aplique
a lei penal a quem é, presumivelmente, seu autor; e, por fim, a indicação dos
elementos informativos ou provas que alicercem a pretensão punitiva.
Segundo a jurisprudência majoritária do STF e do STJ, o juiz, ao receber a
denúncia, precisa fundamentar sua decisão? É admissível o recebimento tácito
da denúncia? Qual o principal efeito penal que o recebimento da denúncia
produz? Responda no máximo em dez linhas.

A jurisprudência do STF e do STJ vem entendendo que a decisão que recebe a


denúncia não tem carga decisória e, portanto, não precisa ser fundamentada, até
porque isso implicaria uma antecipação indevida do exame de mérito (STJ,
6ªTurma, RHC4.801/GO);

O STF, nessa linha de dispensabilidade de fundamentação, já admitiu, inclusive,


o recebimento tácito da denúncia quando o juiz, sem se referir expressamente
ao recebimento da peça acusatória, determina de imediato a citação do acusado.

Por fim, o principal efeito penal do recebimento da denúncia é a interrupção da


prescrição da pretensão punitiva, a teor do disposto no art. 117, I, do CP.
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9) Dispõe o art. 52 da Lei de Execução Penal que “A prática de fato previsto


como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasione subversão da ordem
ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da
sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, (...)”. Pergunta-se: O juiz da
Vara de Execução Penal, para reconhecer a falta grave praticada pelo
reeducando, precisa aguardar o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória no processo penal instaurado para apurar o fato? Responda no
máximo em cinco linhas, apontando a Súmula do STJ regente do caso.

Súmula 526, STJ - O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento


de fato definido como crime doloso no cumprimento da pena prescinde do
trânsito em julgado de sentença penal condenatória no processo penal instaurado
para apuração do fato. (Súmula 526, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/05/2015,
DJe 18/05/2015).

10) Conceitue crimes material, formal e de mera conduta, exemplificando-os


com infrações penais. Por fim, diga se o crime de corrupção de menor, previsto
no art. 244-B da Lei 8.069/90, segundo a jurisprudência do STJ, é material,
formal ou de mera conduta e aponte a súmula pertinente. Máximo dez linhas.

CRIME MATERIAL – O tipo penal prevê a conduta, bem como o resultado, e


exige a ocorrência deste para a consumação da infração penal. Ex.: Homicídio.

CRIME FORMAL – O tipo penal prevê a conduta, bem como o resultado, e


dispensa a ocorrência deste para a consumação do delito. Ex.: Extorsão.

CRIME DE MERA CONDUTA – O tipo penal prevê apenas a conduta e,


praticada esta, o crime já estará consumado. Ex.: Violação de domicílio.

Por fim, o crime de corrupção de menor pertence à espécie de crime formal,


consoante reza a súmula 500 do STJ, nos seguintes termos: “A configuração do
crime do art. 244-B do ECA independe da prova da efetiva corrupção do menor, por se
tratar de delito formal.” (Súmula 500, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/10/2013,
DJ 28/10/2013)

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