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Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro

PC-RJInvestigador Policial
A apostila preparatória é elaborada antes da publicação do Edital Oficial com
base no Edital anterior, para que o aluno antecipe seus estudos.

AG059-2018
DADOS DA OBRA

Título da obra: Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro - PC - RJ

Cargo: Investigador Policial

Atualizada até 08/2018

• Língua Portuguesa
• Noções de Direito Penal
• Noções Direito Processual Penal
• Noções de Direito Administrativo
• Noções de Direito Constitucional
• Noções De Informática

Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza

Diagramação/ Editoração Eletrônica


Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Ana Luiza Cesario
Thais Regis

Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira

Capa
Joel Ferreira dos Santos
APRESENTAÇÃO

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SUMÁRIO

Língua Portuguesa

Compreensão e interpretação de textos. ....................................................................................................................................................... 01


Características gerais de textos narrativos, descritivos e argumentativos. ....................................................................................... 01
Exercícios de reescritura de frases mediante condições propostas. .................................................................................................... 01
Ambiguidade. ............................................................................................................................................................................................................ 01
Resumo de textos..................................................................................................................................................................................................... 01
Uso adequado do vocabulário. .......................................................................................................................................................................... 01
Linguagem figurada. .............................................................................................................................................................................................. 01
Formas de abreviações. ......................................................................................................................................................................................... 01
Usos de sinais de pontuação e notações léxicas. ....................................................................................................................................... 16
Correção de formas. ............................................................................................................................................................................................... 16
Concordância nominal e verbal. ........................................................................................................................................................................ 18
Uso do acento indicativo da crase. ................................................................................................................................................................... 24
Emprego e conjugação de verbos regulares e irregulares. ..................................................................................................................... 26
Emprego de Pronomes........................................................................................................................................................................................... 39

Noções de Direito Penal

- Aplicação da Lei penal......................................................................................................................................................................................... 01


Teoria Geral do Crime. Tipicidade, ilicitude e culpabilidade.................................................................................................................... 05
Concurso de pessoas.............................................................................................................................................................................................. 16
Concurso de Crimes. .............................................................................................................................................................................................. 16
Imputabilidade penal.............................................................................................................................................................................................. 16
Espécies de crimes: crimes contra a pessoa;.................................................................................................................................................. 17
Crimes contra o patrimônio;................................................................................................................................................................................ 24
Crimes contra os costumes;................................................................................................................................................................................. 35
Crimes contra a família;.......................................................................................................................................................................................... 38
Crimes contra a paz pública; crimes contra a saúde pública;................................................................................................................. 39
Crimes contra a fé pública;................................................................................................................................................................................... 41
Crimes contra a administração pública............................................................................................................................................................ 44
Leis extravagantes: Lei de tortura (9.455/97);................................................................................................................................................ 51
Lei de entorpecente (Lei 6.368/76);................................................................................................................................................................... 53
Lei de abuso de autoridade (4.898/65);........................................................................................................................................................... 68
Estatuto da criança e do adolescente (Lei 8.069/90);................................................................................................................................. 73
Código de trânsito brasileiro (Lei 9.503/97);................................................................................................................................................127
Lei dos juizados especiais criminais (Lei 9.099/95);...................................................................................................................................142
Dos crimes contra o meio ambiente (Lei 9.605/98);.................................................................................................................................154
Dos crimes contra o consumidor (Lei 8.078);..............................................................................................................................................162
Crimes de lavagem de dinheiro (Lei 9.613/98);..........................................................................................................................................180
Estatuto do desarmamento (Lei 10.826/03);................................................................................................................................................186
Crimes hediondos (Lei 8.072/90)......................................................................................................................................................................193
SUMÁRIO

Noções Direito Processual Penal

Inquérito policial. ..................................................................................................................................................................................................... 01


Auto de resistência. ................................................................................................................................................................................................ 01
Ação Penal. ................................................................................................................................................................................................................. 04
Prisão Cautelar: disposições gerais; prisão em flagrante; prisão temporária e prisão preventiva. .......................................... 06
Competência e atribuição. ................................................................................................................................................................................... 06
Liberdade provisória. .............................................................................................................................................................................................. 06
Atividade de Polícia Judiciária. ........................................................................................................................................................................... 18
Diligências de investigação e medidas assecuratórias.............................................................................................................................. 18
Da busca e apreensão............................................................................................................................................................................................. 18
Da prova. ..................................................................................................................................................................................................................... 21
Das garantias constitucionais do Processo Penal........................................................................................................................................ 26
Leis dos Juizados Especiais Criminais (Leis 9.099/95 e 10.259/01)....................................................................................................... 28

Noções de Direito Administrativo

Inquérito policial. ..................................................................................................................................................................................................... 01


Auto de resistência. ................................................................................................................................................................................................ 01
Ação Penal. ................................................................................................................................................................................................................. 04
Prisão Cautelar: disposições gerais; prisão em flagrante; prisão temporária e prisão preventiva. .......................................... 06
Competência e atribuição. ................................................................................................................................................................................... 06
Liberdade provisória. .............................................................................................................................................................................................. 06
Atividade de Polícia Judiciária. ........................................................................................................................................................................... 18
Diligências de investigação e medidas assecuratórias.............................................................................................................................. 18
Da busca e apreensão............................................................................................................................................................................................. 18
Da prova. ..................................................................................................................................................................................................................... 21
Das garantias constitucionais do Processo Penal........................................................................................................................................ 26
Leis dos Juizados Especiais Criminais (Leis 9.099/95 e 10.259/01)....................................................................................................... 28

Noções de Direito Constitucional

Direitos e deveres individuais e coletivos. ..................................................................................................................................................... 01


Organização do Estado Federal Brasileiro: repartição de competências. .......................................................................................... 34
Administração pública e servidores públicos civis. .................................................................................................................................... 43
Segurança Pública na Constituição Federal e na Constituição do Estado do Rio de Janeiro..................................................... 57

Noções de Informática

Componentes de um computador: hardware e software........................................................................................................................ 01


Arquitetura básica de computadores: unidade central, memória: tipos e tamanhos.................................................................... 01
Periféricos: impressoras, drives de disco fixo (Winchester), disquete, CD-ROM. ........................................................................... 01
Uso do teclado, uso do mouse, janelas e seus botões, diretórios e arquivos (uso do Windows Explorer): tipos de arqui-
vos, localização, criação, cópia e remoção de arquivos, cópias de arquivos para outros dispositivos e cópias de seguran-
ça, uso da lixeira para remover e recuperar arquivos, uso da ajuda do Windows.......................................................................... 01
Uso do Word for Windows: entrando e corrigindo texto, definindo formato de páginas: margens, orientação, nume-
ração, cabeçalho e rodapé definindo estilo do texto: fonte, tamanho, negrito, itálico e sublinhado, impressão de do-
cumentos: visualizando a página a ser impressa, uso do corretor ortográfico, criação de texto em colunas, criação de
tabelas, criação e inserção de figuras no texto............................................................................................................................................. 60
LÍNGUA PORTUGUESA

Compreensão e interpretação de textos. ....................................................................................................................................................... 01


Características gerais de textos narrativos, descritivos e argumentativos. ....................................................................................... 01
Exercícios de reescritura de frases mediante condições propostas. ................................................................................................... 01
Ambiguidade. ............................................................................................................................................................................................................ 01
Resumo de textos..................................................................................................................................................................................................... 01
Uso adequado do vocabulário. .......................................................................................................................................................................... 01
Linguagem figurada. .............................................................................................................................................................................................. 01
Formas de abreviações. ......................................................................................................................................................................................... 01
Usos de sinais de pontuação e notações léxicas. ....................................................................................................................................... 16
Correção de formas. ............................................................................................................................................................................................... 16
Concordância nominal e verbal. ........................................................................................................................................................................ 18
Uso do acento indicativo da crase. ................................................................................................................................................................... 24
Emprego e conjugação de verbos regulares e irregulares. .................................................................................................................... 26
Emprego de Pronomes........................................................................................................................................................................................... 39
LÍNGUA PORTUGUESA

Interpretar/Compreender
COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE Interpretar significa:
TEXTOS. Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir.
CARACTERÍSTICAS GERAIS DE Através do texto, infere-se que...
TEXTOS NARRATIVOS, DESCRITIVOS E É possível deduzir que...
ARGUMENTATIVOS. O autor permite concluir que...
EXERCÍCIOS DE REESCRITURA DE FRASES Qual é a intenção do autor ao afirmar que...
MEDIANTE CONDIÇÕES PROPOSTAS. Compreender significa
AMBIGUIDADE. Entendimento, atenção ao que realmente está escrito.
RESUMO DE TEXTOS. O texto diz que...
É sugerido pelo autor que...
USO ADEQUADO DO VOCABULÁRIO.
De acordo com o texto, é correta ou errada a afirmação...
USO ADEQUADO DO VOCABULÁRIO.
O narrador afirma...
LINGUAGEM FIGURADA.
FORMAS DE ABREVIAÇÕES. Erros de interpretação

 Extrapolação (“viagem”) = ocorre quando se sai


do contexto, acrescentando ideias que não estão no texto,
1. Interpretação Textual quer por conhecimento prévio do tema quer pela imagi-
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relacio- nação.
nadas entre si, formando um todo significativo capaz de  Redução = é o oposto da extrapolação. Dá-se
produzir interação comunicativa (capacidade de codificar atenção apenas a um aspecto (esquecendo que um texto é
e decodificar). um conjunto de ideias), o que pode ser insuficiente para o
Contexto – um texto é constituído por diversas frases.
entendimento do tema desenvolvido.
Em cada uma delas, há uma informação que se liga com
 Contradição = às vezes o texto apresenta ideias
a anterior e/ou com a posterior, criando condições para a
contrárias às do candidato, fazendo-o tirar conclusões
estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa interli-
equivocadas e, consequentemente, errar a questão.
gação dá-se o nome de contexto. O relacionamento entre
as frases é tão grande que, se uma frase for retirada de seu
Observação:
contexto original e analisada separadamente, poderá ter
Muitos pensam que existem a ótica do escritor e a óti-
um significado diferente daquele inicial.
Intertexto - comumente, os textos apresentam refe- ca do leitor. Pode ser que existam, mas em uma prova de
rências diretas ou indiretas a outros autores através de ci- concurso, o que deve ser levado em consideração é o que
tações. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. o autor diz e nada mais.
Interpretação de texto - o objetivo da interpretação
de um texto é a identificação de sua ideia principal. A par- Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que
tir daí, localizam-se as ideias secundárias (ou fundamen- relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre si.
tações), as argumentações (ou explicações), que levam ao Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de um
esclarecimento das questões apresentadas na prova. pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um prono-
me oblíquo átono, há uma relação correta entre o que se
Normalmente, em uma prova, o candidato deve: vai dizer e o que já foi dito.
 Identificar os elementos fundamentais de uma
argumentação, de um processo, de uma época (neste caso, São muitos os erros de coesão no dia a dia e, entre eles,
procuram-se os verbos e os advérbios, os quais definem o está o mau uso do pronome relativo e do pronome oblí-
tempo). quo átono. Este depende da regência do verbo; aquele, do
 Comparar as relações de semelhança ou de dife- seu antecedente. Não se pode esquecer também de que os
renças entre as situações do texto. pronomes relativos têm, cada um, valor semântico, por isso
 Comentar/relacionar o conteúdo apresentado a necessidade de adequação ao antecedente.
com uma realidade. Os pronomes relativos são muito importantes na in-
 Resumir as ideias centrais e/ou secundárias. terpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de
 Parafrasear = reescrever o texto com outras pa- coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração que
lavras. existe um pronome relativo adequado a cada circunstância,
a saber:
Condições básicas para interpretar que (neutro) - relaciona-se com qualquer antecedente,
Fazem-se necessários: conhecimento histórico-literá- mas depende das condições da frase.
rio (escolas e gêneros literários, estrutura do texto), leitura qual (neutro) idem ao anterior.
e prática; conhecimento gramatical, estilístico (qualidades quem (pessoa)
do texto) e semântico; capacidade de observação e de sín- cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois
tese; capacidade de raciocínio. o objeto possuído.

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LÍNGUA PORTUGUESA

como (modo)
onde (lugar)
quando (tempo) EXERCÍCIO COMENTADO
quanto (montante)
Exemplo: 1. (PCJ-MT - Delegado Substituto – Superior- Ces-
Falou tudo QUANTO queria (correto) pe-2017)
Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria
aparecer o demonstrativo O). Texto CG1A1AAA
Dicas para melhorar a interpretação de textos A valorização do direito à vida digna preserva as duas
faces do homem: a do indivíduo e a do ser político; a do
 Leia todo o texto, procurando ter uma visão geral ser em si e a do ser com o outro. O homem é inteiro em
do assunto. Se ele for longo, não desista! Há muitos can- sua dimensão plural e faz-se único em sua condição social.
didatos na disputa, portanto, quanto mais informação você Igual em sua humanidade, o homem desiguala-se, singu-
absorver com a leitura, mais chances terá de resolver as lariza-se em sua individualidade. O direito é o instrumento
questões. da fraternização racional e rigorosa.
 Se encontrar palavras desconhecidas, não inter- O direito à vida é a substância em torno da qual todos
rompa a leitura. os direitos se conjugam, se desdobram, se somam para que
 Leia o texto, pelo menos, duas vezes – ou quantas o sistema fique mais e mais próximo da ideia concretizável
forem necessárias. de justiça social.
 Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma Mais valeria que a vida atravessasse as páginas da Lei
conclusão). Maior a se traduzir em palavras que fossem apenas a reve-
 Volte ao texto quantas vezes precisar. lação da justiça. Quando os descaminhos não conduzirem
 Não permita que prevaleçam suas ideias sobre a isso, competirá ao homem transformar a lei na vida mais
as do autor. digna para que a convivência política seja mais fecunda e
 Fragmente o texto (parágrafos, partes) para me- humana.
lhor compreensão. Cármen Lúcia Antunes Rocha. Comentário ao artigo
 Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado 3.º. In: 50 anos da Declaração Universal dos Direitos Hu-
de cada questão. manos 1948-1998: conquistas e desafios. Brasília: OAB, Co-
 O autor defende ideias e você deve percebê-las. missão Nacional de Direitos Humanos, 1998, p. 50-1 (com
 Observe as relações interparágrafos. Um parágra- adaptações).
fo geralmente mantém com outro uma relação de conti-
nuação, conclusão ou falsa oposição. Identifique muito Compreende-se do texto CG1A1AAA que o ser huma-
bem essas relações. no tem direito
 Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou A. de agir de forma autônoma, em nome da lei da so-
seja, a ideia mais importante. brevivência das espécies.
 Nos enunciados, grife palavras como “correto” B. de ignorar o direito do outro se isso lhe for necessá-
ou “incorreto”, evitando, assim, uma confusão na hora rio para defender seus interesses.
da resposta – o que vale não somente para Interpretação de C. de demandar ao sistema judicial a concretização de
Texto, mas para todas as demais questões! seus direitos.
 Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia prin- D. à institucionalização do seu direito em detrimento
cipal, leia com atenção a introdução e/ou a conclusão. dos direitos de outros.
 Olhe com especial atenção os pronomes relati- E. a uma vida plena e adequada, direito esse que está
vos, pronomes pessoais, pronomes demonstrativos, etc., na essência de todos os direitos.
chamados vocábulos relatores, porque remetem a outros
vocábulos do texto. O ser humano tem direito a uma vida digna, adequada,
para que consiga gozar de seus direitos – saúde, educa-
SITES ção, segurança – e exercer seus deveres plenamente, como
http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/portu- prescrevem todos os direitos: (...) O direito à vida é a subs-
gues/como-interpretar-textos tância em torno da qual todos os direitos se conjugam (...).
http://portuguesemfoco.com/pf/09-dicas-para-me- GABARITO OFICIAL: E
lhorar-a-interpretacao-de-textos-em-provas
http://www.portuguesnarede.com/2014/03/dicas-pa- 2. (PCJ-MT - Delegado Substituto – Superior- Ces-
ra-voce-interpretar-melhor-um.html pe-2017)
http://vestibular.uol.com.br/cursinho/questoes/ques-
tao-117-portugues.htm Texto CG1A1BBB
Segundo o parágrafo único do art. 1.º da Constituição
da República Federativa do Brasil, “Todo o poder emana do
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou

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LÍNGUA PORTUGUESA

diretamente, nos termos desta Constituição.” Em virtude Comumente relatamos sobre um acontecimento, um
desse comando, afirma-se que o poder dos juízes emana fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa opi-
do povo e em seu nome é exercido. A forma de sua inves- nião sobre determinado assunto, descrevemos algum lu-
tidura é legitimada pela compatibilidade com as regras do gar que visitamos, fazemos um retrato verbal sobre alguém
Estado de direito e eles são, assim, autênticos agentes do que acabamos de conhecer ou ver. É exatamente nessas
poder popular, que o Estado polariza e exerce. Na Itália, situações corriqueiras que classificamos os nossos textos
isso é constantemente lembrado, porque toda sentença é naquela tradicional tipologia: Narração, Descrição e Dis-
dedicada (intestata) ao povo italiano, em nome do qual é sertação.
pronunciada.
Cândido Rangel Dinamarco. A instrumentalidade do As tipologias textuais se caracterizam pelos aspec-
processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987, p. 195 tos de ordem linguística
(com adaptações).
Os tipos textuais designam uma sequência definida
Conforme as ideias do texto CG1A1BBB, pela natureza linguística de sua composição. São observa-
A. o Poder Judiciário brasileiro desempenha seu papel dos aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações
com fundamento no princípio da soberania popular. logicas. Os tipos textuais são o narrativo, descritivo, argu-
B. os magistrados do Brasil deveriam ser escolhidos mentativo/dissertativo, injuntivo e expositivo.
pelo voto popular, como ocorre com os representantes dos A) Textos narrativos – constituem-se de verbos de
demais poderes. ação demarcados no tempo do universo narrado, como
C. os magistrados italianos, ao contrário dos brasilei- também de advérbios, como é o caso de antes, agora, de-
ros, exercem o poder que lhes é conferido em nome de pois, entre outros: Ela entrava em seu carro quando ele apa-
seus nacionais. receu. Depois de muita conversa, resolveram...
D. há incompatibilidade entre o autogoverno da ma- B) Textos descritivos – como o próprio nome indica,
gistratura e o sistema democrático. descrevem características tanto físicas quanto psicológicas
E. os magistrados brasileiros exercem o poder consti- acerca de um determinado indivíduo ou objeto. Os tempos
tucional que lhes é atribuído em nome do governo federal. verbais aparecem demarcados no presente ou no pretérito
imperfeito: “Tinha os cabelos mais negros como a asa da
A questão deve ser respondida segundo o texto: (...) graúna...”
“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de C) Textos expositivos – Têm por finalidade explicar
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta um assunto ou uma determinada situação que se almeje
Constituição.” Em virtude desse comando, afirma-se que o desenvolvê-la, enfatizando acerca das razões de ela acon-
poder dos juízes emana do povo e em seu nome é exercido tecer, como em: O cadastramento irá se prorrogar até o dia
(...). 02 de dezembro, portanto, não se esqueça de fazê-lo, sob
GABARITO OFICIAL: A pena de perder o benefício.
D) Textos injuntivos (instrucional) – Trata-se de uma
3. (PCJ-MT - Delegado Substituto – Superior- Ces- modalidade na qual as ações são prescritas de forma se-
pe-2017 - adaptada) No texto CG1A1BBB, o vocábulo quencial, utilizando-se de verbos expressos no imperativo,
‘emana’ foi empregado com o sentido de infinitivo ou futuro do presente: Misture todos os ingredien-
A. trata. te e bata no liquidificador até criar uma massa homogênea.
B. provém. E) Textos argumentativos (dissertativo) – Demar-
C. manifesta. cam-se pelo predomínio de operadores argumentativos,
D. pertence. revelados por uma carga ideológica constituída de argu-
E. cabe. mentos e contra-argumentos que justificam a posição as-
sumida acerca de um determinado assunto: A mulher do
Dentro do contexto, “emana” tem o sentido de “pro- mundo contemporâneo luta cada vez mais para conquistar
vém”. seu espaço no mercado de trabalho, o que significa que os
GABARITO OFICIAL: B gêneros estão em complementação, não em disputa.
Gêneros Textuais
1. Tipologia e Gênero Textual
São os textos materializados que encontramos em
A todo o momento nos deparamos com vários textos, nosso cotidiano; tais textos apresentam características só-
sejam eles verbais ou não verbais. Em todos há a presença cio-comunicativas definidas por seu estilo, função, com-
do discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência daquilo posição, conteúdo e canal. Como exemplos, temos: receita
que está sendo transmitido entre os interlocutores. Estes culinária, e-mail, reportagem, monografia, poema, editorial,
interlocutores são as peças principais em um diálogo ou piada, debate, agenda, inquérito policial, fórum, blog, etc.
em um texto escrito. A escolha de um determinado gênero discursivo de-
É de fundamental importância sabermos classificar os pende, em grande parte, da situação de produção, ou seja,
textos com os quais travamos convivência no nosso dia a a finalidade do texto a ser produzido, quem são os locu-
dia. Para isso, precisamos saber que existem tipos textuais tores e os interlocutores, o meio disponível para veicular
e gêneros textuais. o texto, etc.

3
LÍNGUA PORTUGUESA

Os gêneros discursivos geralmente estão ligados a es- A Língua é um instrumento de comunicação, sendo
feras de circulação. Assim, na esfera jornalística, por exem- composta por regras gramaticais que possibilitam que de-
plo, são comuns gêneros como notícias, reportagens, edito- terminado grupo de falantes consiga produzir enunciados
riais, entrevistas e outros; na esfera de divulgação científica que lhes permitam comunicar-se e compreender-se. Por
são comuns gêneros como verbete de dicionário ou de enci- exemplo: falantes da língua portuguesa.
clopédia, artigo ou ensaio científico, seminário, conferência. A língua possui um caráter social: pertence a todo um
conjunto de pessoas, as quais podem agir sobre ela. Cada
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS membro da comunidade pode optar por esta ou aquela
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce- forma de expressão. Por outro lado, não é possível criar
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São uma língua particular e exigir que outros falantes a com-
Paulo: Saraiva, 2010. preendam. Dessa forma, cada indivíduo pode usar de ma-
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática neira particular a língua comunitária, originando a fala. A
– volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa fala está sempre condicionada pelas regras socialmente
Souza. – 3.ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. estabelecidas da língua, mas é suficientemente ampla para
permitir um exercício criativo da comunicação. Um indiví-
SITE duo pode pronunciar um enunciado da seguinte maneira:
http://www.brasilescola.com/redacao/tipologia-tex- A família de Regina era paupérrima.
tual.htm
Outro, no entanto, pode optar por:

Linguagem é a capacidade que possuímos de expres- A família de Regina era muito pobre.
sar nossos pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos. As diferenças e semelhanças constatadas devem-se
Está relacionada a fenômenos comunicativos; onde há co- às diversas manifestações da fala de cada um. Note, além
municação, há linguagem. Podemos usar inúmeros tipos disso, que essas manifestações devem obedecer às regras
de linguagens para estabelecermos atos de comunicação, gerais da língua portuguesa, para não correrem o risco de
tais como: sinais, símbolos, sons, gestos e regras com sinais produzir enunciados incompreensíveis como:
convencionais (linguagem escrita e linguagem mímica, por
exemplo). Num sentido mais genérico, a linguagem pode Família a paupérrima de era Regina.
ser classificada como qualquer sistema de sinais que se va-
lem os indivíduos para comunicar-se. Não devemos confundir língua com escrita, pois são
A linguagem pode ser: dois meios de comunicação distintos. A escrita represen-
ta um estágio posterior de uma língua. A língua falada
- Verbal: aquela que faz uso das palavras para comu- é mais espontânea, abrange a comunicação linguística em
nicar algo. toda sua totalidade. Além disso, é acompanhada pelo tom
de voz, algumas vezes por mímicas, incluindo-se fisiono-
mias. A língua escrita não é apenas a representação da lín-
gua falada, mas sim um sistema mais disciplinado e rígido,
uma vez que não conta com o jogo fisionômico, as mímicas
e o tom de voz do falante. No Brasil, por exemplo, todos
falam a língua portuguesa, mas existem usos diferentes da
língua devido a diversos fatores. Dentre eles, destacam-se:
As figuras acima nos comunicam sua mensagem atra-
vés da linguagem verbal (usa palavras para transmitir a in- - Fatores Regionais: é possível notar a diferença do
formação). português falado por um habitante da região nordeste e
outro da região sudeste do Brasil. Dentro de uma mesma
- Não Verbal: aquela que utiliza outros métodos de região, também há variações no uso da língua. No estado
comunicação, que não são as palavras. Dentre elas estão a do Rio Grande do Sul, por exemplo, há diferenças entre a
linguagem de sinais, as placas e sinais de trânsito, a lingua- língua utilizada por um cidadão que vive na capital e aque-
gem corporal, uma figura, a expressão facial, um gesto, etc. la utilizada por um cidadão do interior do estado.
- Fatores Culturais: o grau de escolarização e a for-
mação cultural de um indivíduo também são fatores que
colaboram para os diferentes usos da língua. Uma pessoa
escolarizada utiliza a língua de uma maneira diferente da
pessoa que não teve acesso à escola.
- Fatores Contextuais: nosso modo de falar varia de
acordo com a situação em que nos encontramos: quando
conversamos com nossos amigos, não usamos os termos
Essas figuras fazem uso apenas de imagens para co- que usaríamos se estivéssemos discursando em uma sole-
municar o que representam. nidade de formatura.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Fatores Profissionais: o exercício de algumas ativi- ro”, formando a sequência “um cachorro”, o mesmo não
dades requer o domínio de certas formas de língua chama- seria possível se quiséssemos colocar o artigo “uma” diante
das línguas técnicas. Abundantes em termos específicos, do signo “cachorro”. A sequência “uma cachorro” contraria
essas formas têm uso praticamente restrito ao intercâmbio uma regra de concordância da língua portuguesa, o que
técnico de engenheiros, químicos, profissionais da área de faz com que essa sentença seja rejeitada. Os signos que
direito e da informática, biólogos, médicos, linguistas e ou- constituem a língua obedecem a padrões determinados
tros especialistas. de organização. O conhecimento de uma língua engloba
- Fatores Naturais: o uso da língua pelos falantes tanto a identificação de seus signos, como também o uso
sofre influência de fatores naturais, como idade e sexo. adequado de suas regras combinatórias.
Uma criança não utiliza a língua da mesma maneira que
um adulto, daí falar-se em linguagem infantil e linguagem Signo: elemento representativo que possui duas par-
adulta. tes indissolúveis: significado e significante. Significado (é o
conceito, a ideia transmitida pelo signo, a parte abstrata
Fala do signo) + Significante (é a imagem sonora, a forma, a
parte concreta do signo, suas letras e seus fonemas).
É a utilização oral da língua pelo indivíduo. É um ato
individual, pois cada indivíduo, para a manifestação da fala,
Língua: conjunto de sinais baseado em palavras que
pode escolher os elementos da língua que lhe convém,
obedecem às regras gramaticais.
conforme seu gosto e sua necessidade, de acordo com a
situação, o contexto, sua personalidade, o ambiente socio-
Fala: uso individual da língua, aberto à criatividade
cultural em que vive, etc. Desse modo, dentro da unidade
da língua, há uma grande diversificação nos mais variados e ao desenvolvimento da liberdade de expressão e com-
níveis da fala. Cada indivíduo, além de  conhecer o que fala, preensão.
conhece também o que os outros falam; é por isso que
somos capazes de dialogar com pessoas dos mais variados 1. Frase, oração e período
graus de cultura, embora nem sempre a linguagem delas 1.1 Sintaxe da Oração e do Período
seja exatamente como a nossa.  1.1.2 Termos da Oração
Devido ao caráter individual da fala, é possível observar 1.2 Coordenação e Subordinação
alguns níveis:
Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para
- Nível Coloquial-Popular: é a fala que a maioria das estabelecer comunicação. Normalmente é composta por
pessoas utiliza no seu dia a dia, principalmente em situa- dois termos – o sujeito e o predicado – mas não obrigato-
ções informais. Esse nível da fala é mais espontâneo, ao riamente, pois há orações ou frases sem sujeito: Trovejou
utilizá-lo, não nos preocupamos em saber se falamos de muito ontem à noite.
acordo ou não com as regras formais estabelecidas pela
língua. Quanto aos tipos de frases, além da classificação em
verbais (possuem verbos, ou seja, são orações) e nominais
- Nível Formal-Culto: é o nível da fala normalmente (sem a presença de verbos), feita a partir de seus elementos
utilizado pelas pessoas em situações formais. Caracteriza- constituintes, elas podem ser classificadas a partir de seu
-se por um cuidado maior com o vocabulário e pela obe- sentido global:
diência às regras gramaticais estabelecidas pela língua. A) frases interrogativas = o emissor da mensagem for-
mula uma pergunta: Que dia é hoje?
Signo B) frases imperativas = o emissor dá uma ordem ou faz
um pedido: Dê-me uma luz!
É um elemento representativo que apresenta dois as- C) frases exclamativas = o emissor exterioriza um esta-
pectos: o significado e o significante. Ao escutar a palavra
do afetivo: Que dia abençoado!
“cachorro”, reconhecemos a sequência de sons que formam
D) frases declarativas = o emissor constata um fato: A
essa palavra. Esses sons se identificam com a lembrança
prova será amanhã.
deles que está em nossa memória. Essa lembrança constitui
uma real imagem sonora, armazenada em nosso cérebro
que é o significante do signo “cachorro”. Quando escuta- Quanto à estrutura da frase, as que possuem verbo
mos essa palavra, logo pensamos em um animal irracional (oração) são estruturadas por dois elementos essenciais:
de quatro patas, com pelos, olhos, orelhas, etc. Esse concei- sujeito e predicado.
to que nos vem à mente é o significado do signo “cachorro” O sujeito é o termo da frase que concorda com o verbo
e também se encontra armazenado em nossa memória. em número e pessoa. É o “ser de quem se declara algo”, “o
Ao empregar os signos que formam a nossa língua, tema do que se vai comunicar”; o predicado é a parte da
devemos obedecer às regras gramaticais convencionadas frase que contém “a informação nova para o ouvinte”, é o
pela própria língua. Desse modo, por exemplo, é possível que “se fala do sujeito”. Ele se refere ao tema, constituindo
colocar o artigo indefinido “um” diante do signo “cachor- a declaração do que se atribui ao sujeito.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Quando o núcleo da declaração está no verbo (que in- A indeterminação do sujeito ocorre quando não é
dique ação ou fenômeno da natureza, seja um verbo signi- possível identificar claramente a que se refere a concor-
ficativo), temos o predicado verbal. Mas, se o núcleo estiver dância verbal. Isso ocorre quando não se pode ou não inte-
em um nome (geralmente um adjetivo), teremos um pre- ressa indicar precisamente o sujeito de uma oração.
dicado nominal (os verbos deste tipo de predicado são os Estão gritando seu nome lá fora.
que indicam estado, conhecidos como verbos de ligação): Trabalha-se demais neste lugar.
O menino limpou a sala. = “limpou” é verbo de ação
(predicado verbal) O sujeito simples é o sujeito determinado que apre-
A prova foi fácil. – “foi” é verbo de ligação (ser); o nú- senta um único núcleo, que pode estar no singular ou no
cleo é “fácil” (predicado nominal) plural; pode também ser um pronome indefinido. Abaixo,
sublinhei os núcleos dos sujeitos:
Quanto ao período, ele denomina a frase constituída Nós estudaremso juntos.
por uma ou mais orações, formando um todo, com sentido A humanidade é frágil.
completo. O período pode ser simples ou composto. Ninguém se move.
O amar faz bem. (“amar” é verbo, mas aqui houve uma
Período simples é aquele constituído por apenas uma derivação imprópria, tranformando-o em substantivo)
oração, que recebe o nome de oração absoluta.
As crianças precisam de alimentos saudáveis.
Chove.
A existência é frágil.
O sujeito composto é o sujeito determinado que apre-
Amanhã, à tarde, faremos a prova do concurso.
senta mais de um núcleo.
Período composto é aquele constituído por duas ou Alimentos e roupas custam caro.
mais orações: Ela e eu sabemos o conteúdo.
Cantei, dancei e depois dormi. O amar e o odiar são duas faces da mesma moeda.
Quero que você estude mais.
Além desses dois sujeitos determinados, é comum a
1.1.2 Termos da Oração referência ao sujeito implícito na desinência verbal (o
1.1.2.1 Termos essenciais “antigo” sujeito oculto [ou elíptico]), isto é, ao núcleo do
sujeito que está implícito e que pode ser reconhecido pela
O sujeito e o predicado são considerados termos es- desinência verbal ou pelo contexto.
senciais da oração, ou seja, são termos indispensáveis para Abolimos todas as regras. = (nós)
a formação das orações. No entanto, existem orações for- Falaste o recado à sala? = (tu)
madas exclusivamente pelo predicado. O que define a ora-
ção é a presença do verbo. O sujeito é o termo que estabe- Os verbos deste tipo de sujeito estão sempre na pri-
lece concordância com o verbo. meira pessoa do singular (eu) ou plural (nós) ou na segun-
O candidato está preparado. da do singular (tu) ou do plural (vós), desde que os prono-
Os candidatos estão preparados. mes não estejam explícitos.
Iremos à feira juntos? (= nós iremos) – sujeito implícito
Na primeira frase, o sujeito é “o candidato”. “Candida- na desinência verbal “-mos”
to” é a principal palavra do sujeito, sendo, por isso, deno- Cantais bem! (= vós cantais) - sujeito implícito na desi-
minada núcleo do sujeito. Este se relaciona com o verbo, nência verbal “-ais”
estabelecendo a concordância (núcleo no singular, verbo
no singular: candidato = está). Mas:
A função do sujeito é basicamente desempenhada por Nós iremos à festa juntos? = sujeito simples: nós
substantivos, o que a torna uma função substantiva da ora- Vós cantais bem! = sujeito simples: vós
ção. Pronomes, substantivos, numerais e quaisquer outras
palavras substantivadas (derivação imprópria) também po-
O sujeito indeterminado surge quando não se quer -
dem exercer a função de sujeito.
ou não se pode - identificar a que o predicado da oração
Os dois sumiram. (dois é numeral; no exemplo, subs-
refere-se. Existe uma referência imprecisa ao sujeito, caso
tantivo)
Um sim é suave e sugestivo. (sim é advérbio; no exem- contrário, teríamos uma oração sem sujeito.
plo: substantivo) Na língua portuguesa, o sujeito pode ser indetermina-
do de duas maneiras:
Os sujeitos são classificados a partir de dois elementos: A) com verbo na terceira pessoa do plural, desde que o
o de determinação ou indeterminação e o de núcleo do sujeito não tenha sido identificado anteriormente:
sujeito. Bateram à porta;
Um sujeito é determinado quando é facilmente iden- Andam espalhando boatos a respeito da queda do mi-
tificado pela concordância verbal. O sujeito determinado nistro.
pode ser simples ou composto.

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Se o sujeito estiver identificado, poderá ser simples ou Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres
composto: de opinião.
Os meninos bateram à porta. (simples) Predicado
Os meninos e as meninas bateram à porta. (composto)
B) com o verbo na terceira pessoa do singular, acres- O predicado acima apresenta apenas uma palavra que
cido do pronome “se”. Esta é uma construção típica dos se refere ao sujeito: pedem. As demais palavras se ligam
verbos que não apresentam complemento direto: direta ou indiretamente ao verbo.
Precisa-se de mentes criativas. A cidade está deserta.
Vivia-se bem naqueles tempos.
Trata-se de casos delicados. O nome “deserta”, por intermédio do verbo, refere-se
Sempre se está sujeito a erros. ao sujeito da oração (cidade). O verbo atua como elemento
de ligação (por isso verbo de ligação) entre o sujeito e a
palavra a ele relacionada (no caso: deserta = predicativo
O pronome “se”, nestes casos, funciona como índice de
do sujeito).
indeterminação do sujeito.
O predicado verbal é aquele que tem como núcleo
As orações sem sujeito, formadas apenas pelo predi- significativo um verbo:
cado, articulam-se a partir de um verbo impessoal. A men- Chove muito nesta época do ano.
sagem está centrada no processo verbal. Os principais ca- Estudei muito hoje!
sos de orações sem sujeito com: Compraste a apostila?
 os verbos que indicam fenômenos da natureza:
Amanheceu. Os verbos acima são significativos, isto é, não servem
Está trovejando. apenas para indicar o estado do sujeito, mas indicam pro-
cessos.
 os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam
fenômenos meteorológicos ou se relacionam ao tempo em O predicado nominal é aquele que tem como núcleo
geral: significativo um nome; este atribui uma qualidade ou esta-
Está tarde. do ao sujeito, por isso é chamado de predicativo do sujei-
Já são dez horas. to. O predicativo é um nome que se liga a outro nome da
Faz frio nesta época do ano. oração por meio de um verbo (o verbo de ligação).
Há muitos concursos com inscrições abertas. Nos predicados nominais, o verbo não é significativo,
isto é, não indica um processo, mas une o sujeito ao pre-
Predicado é o conjunto de enunciados que contém a dicativo, indicando circunstâncias referentes ao estado do
informação sobre o sujeito – ou nova para o ouvinte. Nas sujeito: Os dados parecem corretos.
orações sem sujeito, o predicado simplesmente enuncia O verbo parecer poderia ser substituído por estar, an-
um fato qualquer. Nas orações com sujeito, o predicado é dar, ficar, ser, permanecer ou continuar, atuando como ele-
aquilo que se declara a respeito deste sujeito. Com exceção mento de ligação entre o sujeito e as palavras a ele rela-
do vocativo - que é um termo à parte - tudo o que difere cionadas.
do sujeito numa oração é o seu predicado.
A função de predicativo é exercida, normalmente, por
Chove muito nesta época do ano.
um adjetivo ou substantivo.
Houve problemas na reunião.
O predicado verbo-nominal é aquele que apresen-
Em ambas as orações não há sujeito, apenas predica- ta dois núcleos significativos: um verbo e um nome. No
do. Na segunda oração, “problemas” funciona como objeto predicado verbo-nominal, o predicativo pode se referir ao
direto. sujeito ou ao complemento verbal (objeto).
O verbo do predicado verbo-nominal é sempre sig-
As questões estavam fáceis! nificativo, indicando processos. É também sempre por in-
Sujeito simples = as questões termédio do verbo que o predicativo se relaciona com o
Predicado = estavam fáceis termo a que se refere.
O dia amanheceu ensolarado;
Passou-me uma ideia estranha pelo pensamento. As mulheres julgam os homens inconstantes.
Sujeito = uma ideia estranha
Predicado = passou-me pelo pensamento No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta
duas funções: a de verbo significativo e a de verbo de liga-
Para o estudo do predicado, é necessário verificar se ção. Este predicado poderia ser desdobrado em dois: um
seu núcleo é um nome (então teremos um predicado no- verbal e outro nominal.
minal) ou um verbo (predicado verbal). Deve-se considerar O dia amanheceu. / O dia estava ensolarado.
também se as palavras que formam o predicado referem-
-se apenas ao verbo ou também ao sujeito da oração. No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona
o complemento homens com o predicativo “inconstantes”.

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1.1.2.2 Termos integrantes da oração 1.1.2.3 Termos acessórios da oração e vocativo

Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o Os termos acessórios recebem este nome por serem
complemento nominal são chamados termos integrantes da explicativos, circunstanciais. São termos acessórios o ad-
oração. junto adverbial, o adjunto adnominal, o aposto e o vocativo
Os complementos verbais integram o sentido dos ver- – este, sem relação sintática com outros temos da oração.
bos transitivos, com eles formando unidades significativas.
Estes verbos podem se relacionar com seus complementos O adjunto adverbial é o termo da oração que indi-
diretamente, sem a presença de preposição, ou indireta- ca uma circunstância do processo verbal ou intensifica o
mente, por intermédio de preposição. sentido de um adjetivo, verbo ou advérbio. É uma função
adverbial, pois cabe ao advérbio e às locuções adverbiais
O objeto direto é o complemento que se liga direta- exercerem o papel de adjunto adverbial: Amanhã voltarei a
mente ao verbo. pé àquela velha praça.
Houve muita confusão na partida final.
Queremos sua ajuda. O adjunto adnominal é o termo acessório que deter-
mina, especifica ou explica um substantivo. É uma função
O objeto direto preposicionado ocorre principalmen- adjetiva, pois são os adjetivos e as locuções adjetivas que
te: exercem o papel de adjunto adnominal na oração. Também
A) com nomes próprios de pessoas ou nomes comuns atuam como adjuntos adnominais os artigos, os numerais
referentes a pessoas: e os pronomes adjetivos.
Amar a Deus; Adorar a Xangô; Estimar aos pais. O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu
(o objeto é direto, mas como há preposição, denomi- amigo de infância.
na-se: objeto direto preposicionado)
O adjunto adnominal se liga diretamente ao substan-
B) com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes tivo a que se refere, sem participação do verbo. Já o predi-
de tratamento: Não excluo a ninguém; Não quero cansar a cativo do objeto se liga ao objeto por meio de um verbo.
Vossa Senhoria. O poeta português deixou uma obra originalíssima.
O poeta deixou-a.
C) para evitar ambiguidade: Ao povo prejudica a crise. (originalíssima não precisou ser repetida, portanto: ad-
(sem preposição, o sentido seria outro: O povo prejudica a junto adnominal)
crise)
O poeta português deixou uma obra inacabada.
O objeto indireto é o complemento que se liga indi- O poeta deixou-a inacabada.
retamente ao verbo, ou seja, através de uma preposição. (inacabada precisou ser repetida, então: predicativo do
Gosto de música popular brasileira. objeto)
Necessito de ajuda.
Enquanto o complemento nominal se relaciona a um
Objeto Pleonástico substantivo, adjetivo ou advérbio, o adjunto nominal se re-
laciona apenas ao substantivo.
É a repetição de objetos, tanto diretos como indiretos.
Normalmente, as frases em que ocorrem objetos pleo- O aposto é um termo acessório que permite ampliar,
násticos obedecem à estrutura: primeiro aparece o objeto, explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida em um ter-
antecipado para o início da oração; em seguida, ele é repe- mo que exerça qualquer função sintática: Ontem, segunda-
tido através de um pronome oblíquo. É à repetição que se -feira, passei o dia mal-humorado.
dá o nome de objeto pleonástico. Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tempo
“Aos fracos, não os posso proteger, jamais.” (Gonçalves “ontem”. O aposto é sintaticamente equivalente ao termo
Dias) que se relaciona porque poderia substituí-lo: Segunda-feira
passei o dia mal-humorado.
objeto pleonástico O aposto pode ser classificado, de acordo com seu va-
lor na oração, em:
Ao traidor, nada lhe devemos. A) explicativo: A linguística, ciência das línguas huma-
nas, permite-nos interpretar melhor nossa relação com o
O termo que integra o sentido de um nome chama-se mundo.
complemento nominal, que se liga ao nome que comple- B) enumerativo: A vida humana compõe-se de muitas
ta por intermédio de preposição: coisas: amor, arte, ação.
A arte é necessária à vida. = relaciona-se com a palavra C) resumidor ou recapitulativo: Fantasias, suor e sonho,
“necessária” tudo forma o carnaval.
Temos medo de barata. = ligada à palavra “medo” D) comparativo: Seus olhos, indagadores holofotes, fixa-
ram-se por muito tempo na baía anoitecida.

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O vocativo é um termo que serve para chamar, invocar Nem comprei o protetor solar nem fui à praia.
ou interpelar um ouvinte real ou hipotético, não mantendo Comprei o protetor solar e fui à praia.
relação sintática com outro termo da oração. A função de  Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas:
vocativo é substantiva, cabendo a substantivos, pronomes suas principais conjunções são: mas, contudo, todavia, en-
substantivos, numerais e palavras substantivadas esse pa- tretanto, porém, no entanto, ainda, assim, senão.
pel na linguagem. Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante.
João, venha comigo! Li tudo, porém não entendi!
Traga-me doces, minha menina!
 Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas:
1.2 Períodos Compostos suas principais conjunções são: ou... ou; ora...ora; quer...
1.2.1 Período Composto por Coordenação quer; seja...seja.
Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador.
O período composto se caracteriza por possuir mais de
uma oração em sua composição. Sendo assim:  Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas:
Eu irei à praia. (Período Simples = um verbo, uma ora-
suas principais conjunções são: logo, portanto, por fim, por
ção)
conseguinte, consequentemente, pois (posposto ao verbo).
Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia.
Passei no concurso, portanto comemorarei!
(Período Composto =locução verbal + verbo, duas orações)
A situação é delicada; devemos, pois, agir.
Já me decidi: só irei à praia, se antes eu comprar um
protetor solar. (Período Composto = três verbos, três ora-
ções).  Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas:
suas principais conjunções são: isto é, ou seja, a saber, na
Há dois tipos de relações que podem se estabelecer verdade, pois (anteposto ao verbo).
entre as orações de um período composto: uma relação de Não fui à praia, pois queria descansar durante o Do-
coordenação ou uma relação de subordinação. mingo.
Duas orações são coordenadas quando estão juntas Maria chorou porque seus olhos estão vermelhos.
em um mesmo período, (ou seja, em um mesmo bloco de
informações, marcado pela pontuação final), mas têm, am- 1.2.2 Período Composto Por Subordinação
bas, estruturas individuais, como é o exemplo de:
Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia. Quero que você seja aprovado!
(Período Composto) Oração principal oração subordinada
Podemos dizer:
1. Estou comprando um protetor solar. Observe que na oração subordinada temos o verbo
2. Irei à praia. “seja”, que está conjugado na terceira pessoa do singular
Separando as duas, vemos que elas são independen- do presente do subjuntivo, além de ser introduzida por
tes. Tal período é classificado como Período Composto conjunção. As orações subordinadas que apresentam ver-
por Coordenação. bo em qualquer dos tempos finitos (tempos do modo do
Quanto à classificação das orações coordenadas, te- indicativo, subjuntivo e imperativo) e são iniciadas por con-
mos dois tipos: Coordenadas Assindéticas e Coordenadas junção, chamam-se orações desenvolvidas ou explícitas.
Sindéticas. Podemos modificar o período acima. Veja:
Quero ser aprovado.
A) Coordenadas Assindéticas Oração Principal Oração Subordinada
São orações coordenadas entre si e que não são liga-
das através de nenhum conectivo. Estão apenas justapos-
A análise das orações continua sendo a mesma: “Que-
tas.
ro” é a oração principal, cujo objeto direto é a oração su-
Entrei na sala, deitei-me no sofá, adormeci.
bordinada “ser aprovado”. Observe que a oração subordi-
nada apresenta agora verbo no infinitivo (ser). Além disso,
B) Coordenadas Sindéticas
Ao contrário da anterior, são orações coordenadas en- a conjunção “que”, conectivo que unia as duas orações,
tre si, mas que são ligadas através de uma conjunção coor- desapareceu. As orações subordinadas cujo verbo surge
denativa, que dará à oração uma classificação. As orações numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou parti-
coordenadas sindéticas são classificadas em cinco tipos: cípio) são chamadas de orações reduzidas ou implícitas
aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicati- (como no exemplo acima).
vas.
Observação:
Dica: Memorize SINdética = SIM, tem conjunção! As orações reduzidas não são introduzidas por conjun-
 Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas: suas ções nem pronomes relativos. Podem ser, eventualmente,
principais conjunções são: e, nem, não só... mas também, introduzidas por preposição.
não só... como, assim... como.

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LÍNGUA PORTUGUESA

A) Orações Subordinadas Substantivas  Expressões na voz passiva, como: Sabe-se, Sou-


A oração subordinada substantiva tem valor de subs- be-se, Conta-se, Diz-se, Comenta-se, É sabido, Foi anuncia-
tantivo e vem introduzida, geralmente, por conjunção inte- do, Ficou provado.
grante (que, se). Sabe-se que Aline não gosta de Pedro.
Não sei se sairemos hoje.
Oração Subordinada Substantiva  Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar
- importar - ocorrer - acontecer
Temos medo de que não sejamos aprovados. Convém que não se atrase na entrevista.
Oração Subordinada Substantiva
Observação:
Os pronomes interrogativos (que, quem, qual) também Quando a oração subordinada substantiva é subjetiva,
introduzem as orações subordinadas substantivas, bem o verbo da oração principal está sempre na 3.ª pessoa do
como os advérbios interrogativos (por que, quando, onde, singular.
como).
2. Objetiva Direta = exerce função de objeto direto do
O garoto perguntou qual seu nome. verbo da oração principal:
Oração Subordinada Subs- Todos querem sua aprovação no concurso.
tantiva Objeto Direto

Não sabemos quando ele virá. Todos querem que você seja aprovado. (Todos
Oração Subordinada Substan- querem isso)
tiva Oração Principal Oração Subordinada Substantiva
Objetiva Direta
Classificação das Orações Subordinadas Substanti-
As orações subordinadas substantivas objetivas diretas
vas
(desenvolvidas) são iniciadas por:
 Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e
Conforme a função que exerce no período, a oração
“se”: A professora verificou se os alunos estavam presentes.
subordinada substantiva pode ser:
 Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às
1. Subjetiva - exerce a função sintática de sujeito do
vezes regidos de preposição), nas interrogações indiretas:
verbo da oração principal:
O pessoal queria saber quem era o dono do carro importado.
É fundamental o seu comparecimento à reu-
 Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às
nião. vezes regidos de preposição), nas interrogações indiretas:
Sujeito Eu não sei por que ela fez isso.

É fundamental que você compareça à 3. Objetiva Indireta = atua como objeto indireto do
reunião. verbo da oração principal. Vem precedida de preposição.
Oração Principal Oração Subordinada Substan-
tiva Subjetiva Meu pai insiste em meu estudo.
Objeto Indireto
FIQUE ATENTO! Meu pai insiste em que eu estude. (= Meu pai insiste
Observe que a oração subordinada substantiva nisso)
pode ser substituída pelo pronome “isso”. Oração Subordinada Substantiva
Assim, temos um período simples: Objetiva Indireta
É fundamental isso ou Isso é
fundamental. Observação:
Desta forma, a oração correspondente a “isso” Em alguns casos, a preposição pode estar elíptica na
exercerá a função de sujeito. oração.
Marta não gosta (de) que a chamem de senhora.
Oração Subordinada Substantiva
Objetiva Indireta
Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na oração
principal: 4. Completiva Nominal = completa um nome que
 Verbos de ligação + predicativo, em constru- pertence à oração principal e também vem marcada por
ções do tipo: É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece preposição.
certo - É claro - Está evidente - Está comprovado Sentimos orgulho de seu comportamento.
É bom que você compareça à minha festa. Complemento Nominal

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LÍNGUA PORTUGUESA

Sentimos orgulho de que você se comportou. (= Perceba que a conexão entre a oração subordinada
Sentimos orgulho disso.) adjetiva e o termo da oração principal que ela modifica é
Oração Subordinada Substantiva feita pelo pronome relativo “que”. Além de conectar (ou
Completiva Nominal relacionar) duas orações, o pronome relativo desempenha
uma função sintática na oração subordinada: ocupa o pa-
pel que seria exercido pelo termo que o antecede (no caso,
#FicaDica “redação” é sujeito, então o “que” também funciona como
sujeito).
As orações subordinadas substantivas
objetivas indiretas integram o sentido de um
verbo, enquanto que orações subordinadas FIQUE ATENTO!
substantivas completivas nominais integram Vale lembrar um recurso didático para
o sentido de um nome. Para distinguir uma reconhecer o pronome relativo “que”: ele
da outra, é necessário levar em conta o termo sempre pode ser substituído por: o qual - a
complementado. Esta é a diferença entre o qual - os quais - as quais
objeto indireto e o complemento nominal: o Refiro-me ao aluno que é estudioso. = Esta
primeiro complementa um verbo; o segundo, oração é equivalente a: Refiro-me ao aluno o
um nome. qual estuda.

5. Predicativa = exerce papel de predicativo do sujei- Forma das Orações Subordinadas Adjetivas
to do verbo da oração principal e vem sempre depois do
verbo ser. Quando são introduzidas por um pronome relativo e
Nosso desejo era sua desistência. apresentam verbo no modo indicativo ou subjuntivo, as
Predicativo do Sujeito orações subordinadas adjetivas são chamadas desenvolvi-
das. Além delas, existem as orações subordinadas adjetivas
Nosso desejo era que ele desistisse. (= Nosso desejo reduzidas, que não são introduzidas por pronome relativo
era isso) (podem ser introduzidas por preposição) e apresentam o
Oração Subordinada Substantiva verbo numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou
Predicativa particípio).
Ele foi o primeiro aluno que se apresentou.
6. Apositiva = exerce função de aposto de algum ter-
Ele foi o primeiro aluno a se apresentar.
mo da oração principal.
Fernanda tinha um grande sonho: a felicidade!
No primeiro período, há uma oração subordinada ad-
Aposto
jetiva desenvolvida, já que é introduzida pelo pronome re-
lativo “que” e apresenta verbo conjugado no pretérito per-
Fernanda tinha um grande sonho: ser feliz!
feito do indicativo. No segundo, há uma oração subordina-
Oração subordinada
da adjetiva reduzida de infinitivo: não há pronome relativo
substantiva apositiva reduzida de infinitivo
e seu verbo está no infinitivo.
(Fernanda tinha um grande sonho: isso)
Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas
Dica: geralmente há a presença dos dois pontos! ( : )
Na relação que estabelecem com o termo que caracte-
B) Orações Subordinadas Adjetivas rizam, as orações subordinadas adjetivas podem atuar de
Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui duas maneiras diferentes. Há aquelas que restringem ou
valor e função de adjetivo, ou seja, que a ele equivale. As especificam o sentido do termo a que se referem, indivi-
orações vêm introduzidas por pronome relativo e exercem dualizando-o. Nestas orações não há marcação de pausa,
a função de adjunto adnominal do antecedente. sendo chamadas subordinadas adjetivas restritivas. Existem
Esta foi uma redação bem-sucedida. também orações que realçam um detalhe ou amplificam
Substantivo Adjetivo (Adjunto Adno- dados sobre o antecedente, que já se encontra suficiente-
minal) mente definido. Estas orações denominam-se subordina-
das adjetivas explicativas.
O substantivo “redação” foi caracterizado pelo adjetivo
“bem-sucedida”. Neste caso, é possível formarmos outra Exemplo 1:
construção, a qual exerce exatamente o mesmo papel: Jamais teria chegado aqui, não fosse um homem que
Esta foi uma redação que fez sucesso. passava naquele momento.
Oração Principal Oração Subordinada Oração
Adjetiva Subordinada Adjetiva Restritiva

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LÍNGUA PORTUGUESA

No período acima, observe que a oração em destaque Ao ver o mar, senti uma das maiores emoções de minha
restringe e particulariza o sentido da palavra “homem”: tra- vida.
ta-se de um homem específico, único. A oração limita o A oração em destaque é reduzida, apresentando uma
universo de homens, isto é, não se refere a todos os ho- das formas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não é
mens, mas sim àquele que estava passando naquele mo- introduzida por conjunção subordinativa, mas sim por uma
mento. preposição (“a”, combinada com o artigo “o”).

Exemplo 2: Observação:
O homem, que se considera racional, muitas vezes A classificação das orações subordinadas adverbiais é
feita do mesmo modo que a classificação dos adjuntos ad-
age animalescamente.
verbiais. Baseia-se na circunstância expressa pela oração.
Oração Subordinada Adjetiva Explicativa
Classificação das Orações Subordinadas Adverbiais
Agora, a oração em destaque não tem sentido restriti-
vo em relação à palavra “homem”; na verdade, apenas ex- A) Causal = A ideia de causa está diretamente ligada
plicita uma ideia que já sabemos estar contida no conceito àquilo que provoca um determinado fato, ao motivo do
de “homem”. que se declara na oração principal. Principal conjunção su-
bordinativa causal: porque. Outras conjunções e locuções
Saiba que: causais: como (sempre introduzido na oração anteposta à
A oração subordinada adjetiva explicativa é separada oração principal), pois, pois que, já que, uma vez que, visto
da oração principal por uma pausa que, na escrita, é repre- que.
sentada pela vírgula. É comum, por isso, que a pontuação As ruas ficaram alagadas porque a chuva foi muito forte.
seja indicada como forma de diferenciar as orações expli- Já que você não vai, eu também não vou.
cativas das restritivas; de fato, as explicativas vêm sempre
isoladas por vírgulas; as restritivas, não. A diferença entre a subordinada adverbial causal e a
sindética explicativa é que esta “explica” o fato que aconte-
C) Orações Subordinadas Adverbiais ceu na oração com a qual ela se relaciona; aquela apresen-
Uma oração subordinada adverbial é aquela que exer- ta a “causa” do acontecimento expresso na oração à qual
ela se subordina. Repare:
ce a função de adjunto adverbial do verbo da oração prin-
1. Faltei à aula porque estava doente.
cipal. Assim, pode exprimir circunstância de tempo, modo,
2. Melissa chorou, porque seus olhos estão vermelhos.
fim, causa, condição, hipótese, etc. Quando desenvolvida, Em 1, a oração destacada aconteceu primeiro (causa)
vem introduzida por uma das conjunções subordinativas que o fato expresso na oração anterior, ou seja, o fato de
(com exclusão das integrantes, que introduzem orações estar doente impediu-me de ir à aula. No exemplo 2, a ora-
subordinadas substantivas). Classifica-se de acordo com ção sublinhada relata um fato que aconteceu depois, já que
a conjunção ou locução conjuntiva que a introduz (assim primeiro ela chorou, depois seus olhos ficaram vermelhos.
como acontece com as coordenadas sindéticas).
Durante a madrugada, eu olhei você dormindo. B) Consecutiva = exprime um fato que é consequên-
Oração Subordinada Adverbial cia, é efeito do que se declara na oração principal. São in-
troduzidas pelas conjunções e locuções: que, de forma que,
A oração em destaque agrega uma circunstância de de sorte que, tanto que, etc., e pelas estruturas tão...que, tan-
tempo. É, portanto, chamada de oração subordinada adver- to...que, tamanho...que.
bial temporal. Os adjuntos adverbiais são termos acessó- Principal conjunção subordinativa consecutiva: que
rios que indicam uma circunstância referente, via de regra, (precedido de tal, tanto, tão, tamanho)
a um verbo. A classificação do adjunto adverbial depende Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou con-
da exata compreensão da circunstância que exprime. cretizando-os.
Naquele momento, senti uma das maiores emoções de Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração Reduzi-
da de Infinitivo)
minha vida.
Quando vi o mar, senti uma das maiores emoções de
C) Condicional = Condição é aquilo que se impõe
minha vida. como necessário para a realização ou não de um fato. As
orações subordinadas adverbiais condicionais exprimem o
No primeiro período, “naquele momento” é um adjun- que deve ou não ocorrer para que se realize - ou deixe de
to adverbial de tempo, que modifica a forma verbal “sen- se realizar - o fato expresso na oração principal.
ti”. No segundo período, este papel é exercido pela oração Principal conjunção subordinativa condicional: se. Ou-
“Quando vi o mar”, que é, portanto, uma oração subordina- tras conjunções condicionais: caso, contanto que, desde que,
da adverbial temporal. Esta oração é desenvolvida, pois é salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, sem que,
introduzida por uma conjunção subordinativa (quando) e uma vez que (seguida de verbo no subjuntivo).
apresenta uma forma verbal do modo indicativo (“vi”, do Se o regulamento do campeonato for bem elaborado,
pretérito perfeito do indicativo). Seria possível reduzi-la, certamente o melhor time será campeão.
obtendo-se: Caso você saia, convide-me.

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LÍNGUA PORTUGUESA

D) Concessiva = indica concessão às ações do verbo I) Temporal = acrescenta uma ideia de tempo ao fato
da oração principal, isto é, admitem uma contradição ou expresso na oração principal, podendo exprimir noções de
um fato inesperado. A ideia de concessão está diretamente simultaneidade, anterioridade ou posterioridade. Principal
ligada ao contraste, à quebra de expectativa. Principal con- conjunção subordinativa temporal: quando. Outras con-
junção subordinativa concessiva: embora. Utiliza-se tam- junções subordinativas temporais: enquanto, mal e locu-
bém a conjunção: conquanto e as locuções ainda que, ainda ções conjuntivas: assim que, logo que, todas as vezes que,
quando, mesmo que, se bem que, posto que, apesar de que. antes que, depois que, sempre que, desde que, etc.
Só irei se ele for. Assim que Paulo chegou, a reunião acabou.
A oração acima expressa uma condição: o fato de “eu” Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando termi-
ir só se realizará caso essa condição seja satisfeita. nou a festa) (Oração Reduzida de Particípio)
Compare agora com:
Irei mesmo que ele não vá. Orações Reduzidas

A distinção fica nítida; temos agora uma concessão: As orações subordinadas podem vir expressas como
irei de qualquer maneira, independentemente de sua ida. A reduzidas, ou seja, com o verbo em uma de suas formas
oração destacada é, portanto, subordinada adverbial con- nominais (infinitivo, gerúndio ou particípio) e sem conecti-
cessiva. vo subordinativo que as introduza.
Observe outros exemplos: É preciso estudar! = reduzida de infinitivo
Embora fizesse calor, levei agasalho. É preciso que se estude = oração desenvolvida (pre-
Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse / em- sença do conectivo)
bora não estudasse). (reduzida de infinitivo)
Para classificá-las, precisamos imaginar como seriam
E) Comparativa= As orações subordinadas adverbiais “desenvolvidas” – como no exemplo acima.
comparativas estabelecem uma comparação com a ação É preciso estudar = oração subordinada substantiva
indicada pelo verbo da oração principal. Principal conjun- subjetiva reduzida de infinitivo
ção subordinativa comparativa: como.
É preciso que se estude = oração subordinada subs-
Ele dorme como um urso. (como um urso dorme)
tantiva subjetiva
Você age como criança. (age como uma criança age)
Orações Intercaladas
 geralmente há omissão do verbo.
São orações independentes encaixadas na sequência
F) Conformativa = indica ideia de conformidade, ou
do período, utilizadas para um esclarecimento, um aparte,
seja, apresenta uma regra, um modelo adotado para a
execução do que se declara na oração principal. Principal uma citação. Elas vêm separadas por vírgulas ou travessões.
conjunção subordinativa conformativa: conforme. Outras Nós – continuava o relator – já abordamos este as-
conjunções conformativas: como, consoante e segundo (to- sunto.
das com o mesmo valor de conforme).
Fiz o bolo conforme ensina a receita. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Consoante reza a Constituição, todos os cidadãos têm SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
direitos iguais. Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura,
G) Final = indica a intenção, a finalidade daquilo que Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira
se declara na oração principal. Principal conjunção subordi- Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição –
nativa final: a fim de. Outras conjunções finais: que, porque São Paulo: Saraiva, 2002.
(= para que) e a locução conjuntiva para que.
Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigas. SITE
Estudarei muito para que eu me saia bem na prova. http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/fra-
se-periodo-e-oracao
H) Proporcional = exprime ideia de proporção, ou
seja, um fato simultâneo ao expresso na oração principal.
Principal locução conjuntiva subordinativa proporcional: à
proporção que. Outras locuções conjuntivas proporcionais:
à medida que, ao passo que. Há ainda as estruturas: quan-
to maior...(maior), quanto maior...(menor), quanto menor...
(maior), quanto menor...(menor), quanto mais...(mais), quan-
to mais...(menos), quanto menos...(mais), quanto menos...
(menos).
À proporção que estudávamos mais questões acertáva-
mos.
À medida que lia mais culto ficava.

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LÍNGUA PORTUGUESA

4. (SEDUC/AM – Assistente Social – FGV/2014) As-


sinale a opção que indica o segmento em que a conjunção e
EXERCÍCIO COMENTADO tem valor adversativo e não aditivo.
A. “Em termos de escala, assiduidade e participação da
1. (CNJ – Técnico Judiciário – CESPE/2013 - adapta- população na escolha dos governantes,...”.
da) Jogadores de futebol de diversos times entraram em cam- B. “... o Brasil de 1985 a 2014 parece outro país, moder-
po em prol do programa “Pai Presente”, nos jogos do Cam- no e dinâmico, no cotejo com a restrita experiência eleitoral
peonato Nacional em apoio à campanha que visa reduzir o anterior”.
número de pessoas que não possuem o nome do pai em sua C. “A hipótese de ruptura com o passado se fortalece
certidão de nascimento. (...) quando avaliamos a extensão dos mecanismos de distribuição
A oração subordinada “que não possuem o nome do pai de oportunidades e de mitigação de desigualdades de hoje”.
em sua certidão de nascimento” não é antecedida por vírgula D. “A democracia brasileira contemporânea, e apenas ela
porque tem natureza restritiva. na história nacional, inventou o que mais perto se pode che-
( ) Certo ( ) Errado gar de um Estado de Bem-Estar num país de renda média”.
E. “A baixa qualidade dos serviços governamentais está
A oração restringe o grupo que participará da campanha ligada sobretudo à limitação do PIB, e não à falta de políticas
(apenas os que não têm o nome do pai na certidão de nasci- públicas social-democratas”.
mento). Se colocarmos uma vírgula, a oração se tornará “ex-
plicativa”, generalizando a informação, o que dará a entender Em “a”: “Em termos de escala, assiduidade e participação
que TODAS as pessoas não têm o nome do pai na certidão. = adição
GABARITO OFICIAL: CERTO Em “b”: “... o Brasil de 1985 a 2014 parece outro país,
moderno e dinâmico = adição
2. (TJ-PA - Médico Psiquiatra - VUNESP - 2014) Assi- Em “c”: “A hipótese de ruptura com o passado se forta-
nale a alternativa em que a seguinte passagem – Mas o vento lece quando avaliamos a extensão dos mecanismos de dis-
foi mais ágil e o papel se perdeu. – está reescrita com o acrés- tribuição de oportunidades e de mitigação de desigualdades
cimo de um termo que estabelece uma relação de conclusão, de hoje”. = adição
consequência, entre as orações. Em “d”: “A democracia brasileira contemporânea, e ape-
A. mas o vento foi mais ágil e, contudo, o papel se per- nas ela na história nacional = adição
deu. Em “e”: “A baixa qualidade dos serviços governamentais
B. mas o vento foi mais ágil e, assim, o papel se perdeu. está ligada sobretudo à limitação do PIB, e não à falta = ad-
C. mas o vento foi mais ágil e, todavia, o papel se perdeu versativa (dá para substituirmos por “mas”)
D. mas o vento foi mais ágil e, entretanto, o papel se GABARITO OFICIAL: E
perdeu.
E. mas o vento foi mais ágil e, porém, o papel se perdeu. 5. (EBSERH/HUSM-UFSM/RS - Analista Administrati-
vo – Jornalismo – AOCP/2014) “Sinta-se ungido pela sorte
Nas alternativas “a”, “c”, “d” e “e” são apresentadas con- de recomeçar. Quando seu filho crescer, ele irá entender - mais
junções adversativas – que nos dão ideia contrária à apresen- cedo ou mais tarde ...”
tada anteriormente; já na “b”, temos uma conjunção conclu- No período acima, a oração destacada:
siva (assim). A. estabelece uma relação temporal com a oração que
GABARITO OFICIAL: B lhe é subsequente.
B. estabelece uma relação temporal com a oração que a
3. (Prefeitura de Osasco – Farmacêutico – FGV/2014) antecede.
“o que tem feito os fabricantes optarem em apresentar os pro- C. estabelece uma relação condicional com a oração que
dutos em porções individuais e quase prontos para consumo”. lhe é subsequente.
A expressão sublinhada pode ser adequadamente substituí- D. estabelece uma relação condicional com a oração que
da por a antecede.
A. para a sua consumação. E. estabelece uma relação de finalidade com a oração
B. para que sejam consumidos. que lhe é subsequente.
C. a fim de que se consumem.
D. para serem consumados. A conjunção “quando” é temporal, pois atribui ao perío-
E. para que fossem consumidos. do uma ideia de tempo.
GABARITO OFICIAL: A
Podemos eliminar as alternativas incoerentes: A (consu-
mação), C (de que se consumem) e D (consumados). Ficamos 6. (EBSERH/HUSM-UFSM/RS - Analista Administrati-
com B e E. Pela leitura do texto, o coerente é a que utili- vo – Jornalismo – AOCP/2014) Em “... já deve ter assistido ao
za “para que sejam consumidos”, indicando a finalidade da filme...”, o termo destacado exerce função de:
apresentação dos produtos em porções individuais. Além A. objeto direto.
disso, a expressão verbal “tem feito” indica tempo presen- B. objeto indireto.
te, e “fossem” está no pretérito (passado). C. complemento nominal.
GABARITO OFICIAL: B D. predicativo do sujeito.
E. adjunto adnominal.

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LÍNGUA PORTUGUESA

“Assistido” é verbo, e o que o complementa é o objeto. 1. Subjetiva.


No caso, “assistir” está empregado com o sentido de “pre- 2. Objetiva direta.
senciar”, então sua transitividade é indireta (há preposição 3. Objetiva indireta.
= objeto indireto). 4. Completiva nominal.
GABARITO OFICIAL: B 5. Predicativa.
6. Apositiva.
7. (SUSAM/AM - Assistente Administrativo – ( ) Cada situação permite que se aprenda algo novo.
FGV/2014) Assinale a opção em que o conectivo “e” tem ( ) Só quero uma coisa: que tires a tua carteira.
valor adversativo (oposição) e não aditivo (adição). ( ) Tenho esperança de que o trânsito melhore.
A. “...longa estiagem que afetou o Sudeste e o Centro‐ ( ) É importante que todos colaborem.
Oeste...” ( ) Meu desejo é que sejas classificado.
B. “...recebeu considerável reforço de usinas termoelé- ( ) Lembrei-me de que já estava errado.
tricas e há uma crescente contribuição da energia eólica,...”
C. “...asseguram o suprimento de eletricidade do país Podemos começar a classificação pela mais fácil! Lem-
bra-se da dica quanto à apositiva? Há a presença de dois-
por vários anos, e sim por meses”
-pontos! Então, na segunda oração teremos o número 6.
D. “No passado, a população e os setores produti-
Descartamos, assim, os itens C e D. Vamos às demais dicas:
vos deram provas...”
quando houver um verbo de ligação entre a oração princi-
E. “...o governo não deveria jogar com a sorte e pal e a subordinada, provavelmente (99% das vezes!) esta
expor a população a um risco...” será predicativa. Repare na antepenúltima frase: Meu dese-
jo é que sejas classificado = temos um exemplo de subor-
Em “a”: “...longa estiagem que afetou o Sudeste e o dinada substantiva predicativa. Voltando às alternativas: o
Centro‐Oeste...” = adição antepenúltimo número deve ser 5. Ficamos agora somente
Em “b”: “...recebeu considerável reforço de usinas ter- com o item B! Mas farei a classificação das demais:
moelétricas e há uma crescente contribuição da energia - Cada situação permite que se aprenda algo novo.
eólica,...” = adição Permite o quê? A resposta exercerá a função de objeto
Em “c”: “...asseguram o suprimento de eletricidade do direto – objetiva direta (2)
país por vários anos, e sim por meses” = podemos subs-
tituir o “e sim por meses” por “mas por meses” – ideia de - Só quero uma coisa: que tires a tua carteira. = apo-
adversidade, contrária sitiva
Em “d”: “No passado, a população e os setores pro-
dutivos deram provas...” = adição - Tenho esperança de que o trânsito melhore.
Em “e”: “...o governo não deveria jogar com a sorte Tenho o quê? esperança (objeto direto); esperança em
e expor a população a um risco...” = adição quê? de que o trânsito melhore (função de complemento
GABARITO OFICIAL: C nominal, já que se liga ao termo “esperança” – completiva
nominal (4)
8. (DETRAN/RO – Analista em Trânsito - Adminis-
trador – IADES/2014) Relacione adequadamente a classi- - É importante que todos colaborem.
ficação das orações subordinadas substantivas às respecti- Dica: geralmente(também 99% das vezes!) quando
vas orações. a principal começa com verbo de ligação, a subordinada
1. Subjetiva. exercerá a função de sujeito (subjetiva) – (1)
2. Objetiva direta.
- Meu desejo é que sejas classificado. = predicativa (5)
3. Objetiva indireta.
4. Completiva nominal.
- Lembrei-me de que já estava errado.
5. Predicativa.
Lembrei-me do quê? de que já estava errado = pre-
6. Apositiva. sença de preposição, o termo completa um verbo, então:
objeto indireto – objetiva indireta (3)
( ) Cada situação permite que se aprenda algo novo.
( ) Só quero uma coisa: que tires a tua carteira. A ordem ficou: 2 – 6 – 4 – 1 – 5 – 3.
( ) Tenho esperança de que o trânsito melhore. GABARITO OFICIAL: B
( ) É importante que todos colaborem.
( ) Meu desejo é que sejas classificado. 9. (Instituto Rio Branco – Admissão à Carreira de
( ) Lembrei-me de que já estava errado. Diplomata – CESPE/2014 - adaptada)

A sequência está correta em A crônica não é um “gênero maior”. Não se imagina


A. 1, 6, 3, 5, 2, 4. uma literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem
B. 2, 6, 4, 1, 5, 3. o brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos e
C. 1, 2, 3, 4, 5, 6. poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um
D. 6, 5, 4, 3, 2, 1. cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece mesmo
E. 2, 6, 4, 1, 3, 5. que a crônica é um gênero menor.

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LÍNGUA PORTUGUESA

“Graças a Deus”, seria o caso de dizer, porque, sen-


do assim, ela fica mais perto de nós. E para muitos pode
servir de caminho não apenas para a vida, que ela serve USOS DE SINAIS DE PONTUAÇÃO E
de perto, mas para a literatura. Por meio dos assuntos, da NOTAÇÕES LÉXICAS.
composição solta, do ar de coisa sem necessidade que CORREÇÃO DE FORMAS.
costuma assumir, ela se ajusta à sensibilidade de todo dia.
Principalmente porque elabora uma linguagem que fala de
perto ao nosso modo de ser mais natural. Na sua despre-
tensão, humaniza; e esta humanização lhe permite, como REGRAS DE PONTUAÇÃO
compensação sorrateira, recuperar com a outra mão certa
profundidade de significado e certo acabamento de forma, Na língua falada, quando estamos conversando
que de repente podem fazer dela uma inesperada, embora com alguém, é comum utilizarmos pausas para marcar
discreta, candidata à perfeição. a entonação do discurso. Respiramos, damos um ritmo
Antonio Candido. A vida ao rés do chão. In: Recortes. coerente na locução pois nenhum falante se comunica em
São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 23 (com adap- compasso acelerado. Entretanto, quando se faz a passagem
tações). da oralidade para a escrita há um problema essencial: como
marcar ritmos e pausas entre as frases se agora não temos
As formas verbais “imagina” (R.1), “atribuir” (R.4) e “ser- mais como instrumento a voz e o silêncio?
vir” (R.8) foram utilizadas como verbos transitivos indiretos.
( ) CERTO ( Na língua escrita utilizamos os sinais de pontuação
) ERRADO entre as orações como recurso para estabelecer
pausas e inflexões de voz na leitura.
imagina uma literatura = transitivo direto
atribuir o Prêmio Nobel a um cronista = bitransitivo Veja os exemplos abaixo:
(transitivo direto e indireto) a) Presenteei minha sobrinha, não meu filho,
pode servir de caminho = intransitivo b) Presenteei, minha sobrinha não, meu filho.
GABARITO OFICIAL: ERRADO
As frases acima, ainda que possuam as mesmas
10. (Banco do Nordeste – Analista Bancário – palavras, mudam de sentido somente pelo uso das vírgulas.
FGV/2014) “Sim, teremos uma Copa do Mundo para exor- Por isso, é muito importante sabermos utilizar os sinais de
cizar o gol de Alcides Gighia”. A forma desenvolvida ade- pontuação para que não cometamos erros de ambiguidade
quada da oração reduzida sublinhada é: ou duplo sentido.
A. para exorcizarmos o gol de Alcides Gighia;
B. para que exorcizemos o gol de Alcides Gighia; 1. USO DA VÍRGULA
C. para que exorcizássemos o gol de Alcides Gighia;
D. para o exorcismo do gol de Alcides Gighia; A vírgula é um sinal que indica pausa entre orações
E. para a exorcização do gol de Alcides Gighia. ou palavras elencadas. Apresenta a seguintes funções:

“Sim, teremos uma Copa do Mundo para exorcizar o a) separar termos de mesma função sintática dentro
gol de Alcides Gighia” = para que tenhamos uma oração de uma oração:
desenvolvida, devemos incluir uma conjunção. O período Assim que cheguei, comi, bebi o vinho, dormi um
ficará: “para que exorcizemos o gol”. pouco.
GABARITO OFICIAL: B
b) Separar um aposto:
Maria, irmã de João, viajou ao Canadá.

c) Isolar um vocativo:
Maria, entre agora!

d) Para marcar elipse verbal:


João comprou duas camisas, eu, três.

e) Para indicar expressões explicativas:


Algumas pessoas estão ficando misantropas, ou seja,
isolando-se em si mesmas.

f) Para separar topônimos frente a datas e


endereços:
Florianópolis, 25 de maio de 2017.

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LÍNGUA PORTUGUESA

g) Para separar orações coordenadas sem conjunção b) quando se apresenta expressão enumerativa:
ou simplesmente palavras: Desejo os seguintes itens: macarrão, ovos, queijo e
Ontem comprei roupas, sapatos, brincos e uma bolsa. carne.
Eu viajei, dormi, descansei.
c) para completar aposto resumitivo:
h) isolar orações subordinadas adjetivas explicativas: Comer, rezar, amar: todos esses verbos me apetecem.
João, que esteve aqui ontem, é irmão de Pedro.
IMPORTANTE! NÃO SE USA VÍRGULA NOS
SEGUINTES CASOS: 4) PONTO DE EXCLAMAÇÃO:
Utilizado em interjeições ou frases de grande
a) Entre o sujeito e o verbo de uma oração: expressividade:
João, comprou um carro. (INCORRETO) Olá!
João comprou um carro. (CORRETO) Como você está linda!
Socorro!
b) Entre o verbo e seus complementos: Podemos utilizar mais de um ponto de exclamação
João comprou, um carro. (INCORRETO) para realçar emoção ou surpresa:
João comprou um carro. (CORRETO) Amo tanto a vida!!!!
Além do mais, utiliza-se após sinal de interrogação
c) Entre o complemento nominal e o nome para marcar expressividade ou surpresa em uma pergunta:
completado, ou entre satélites do substantivo (numeral, Por que você é tão difícil?!
pronome, adjetivo e artigo):
Tenho medo, de altura. (INCORRETO). 5) PONTO FINAL
Tenho medo de altura (CORRETO) Pode-se afirmar que o ponto final é uma pausa
Meus três, lindos, carros foram fotografados pela mais prolongada, que encerra uma relação lógica entre
revista (INCORRETO) elementos numa frase. Utilizamos nos seguintes casos:
Meus três lindos carros foram fotografados pela
revista. (CORRETO) a) encerrar definitivamente um enunciado:
Muitas pessoas amam; outras odeiam, entretanto, isso
d) Antes de etc… faz parte da natureza humana.
A expressão etc é uma abreviatura de um termo
em latim et cetera, que significa e outras coisas. Já que está b) separar parágrafos:
aglutinado a conjunção e não se utiliza vírgula. A crise financeira brasileira parece não ter data para
Vi filmes franceses, persas etc… acabar. No entanto, muitos brasileiros estão fazendo das
próprias dificuldades ferramenta para mudar de vida.
O segredo dos dias de hoje é a audácia: feliz daquele
2) PONTO E VÍRGULA que arrisca mais.
A função básica deste sinal é separar termos
enumerados: 6) PONTO DE INTERROGAÇÃO
Ex.: O ponto de interrogação possui uma função específica:
Alguns pontos básicos da pesquisa é: marcar mudança de entonação de voz frente a uma
- conceito de sujeito grego; pergunta. Usamos em perguntas diretas:
- humanismo renascentista; Ex.:
- o drama barroco; Afinal, como você conseguiu chegar até aqui?
- cidadão pós-revolução francesa. Além desse comum uso, também se costuma utilizar
para marcar surpresa ou indignação:
Outra função é separar orações de sentido oposto Como assim?
ou num período em que as orações coordenadas já tiverem O quê? Você não fez a prova?
exigido vírgula:
7) RETICÊNCIAS
Alguns homens são bons; outros, maus. (SENTIDO São usadas para marcar retirada de um trecho ou
OPOSTO) mesmo para dar ideia de continuidade:
Muitos estudantes aprendem, leem, estudam; às Segundo Foucault: “a liberdade é um sintoma moderno,
vezes também cansam. quiçá um conceito, além de mecanismo ideológico….”
Vimos muitas coisas no museu: esculturas, pinturas,
3) DOIS PONTOS: instalações…
Utilizamos dois pontos:
8) ASPAS
a) quando apresentamos uma citação ou fala: Utiliza-se para indicar fala de alguém, expressões
Como diria Hamlet: “Ser ou não ser, eis a questão”. estrangeiras, conceitos e ironia:

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LÍNGUA PORTUGUESA

Ex.: a) dois pontos, ponto e vírgula, ponto e vírgula


E nos perguntou Freud: “O que quer uma mulher?” (fala b) dois pontos, vírgula, ponto e vírgula;
de alguém) c) vírgula, dois pontos, ponto e vírgula;
A expressão “soledad” é um termo espanhol e indica a d) pontos vírgula, dois pontos, ponto e vírgula;
ideia de solidão. (expressão estrangeira) e) ponto e vírgula, vírgula, vírgula.
Ainda não entendi o conceito de “devir” de Deleuze.
(conceito) 3. Assinale o exemplo em que há emprego incorreto
Dizem que ele é um moço “bem-educado”. (ironia) da vírgula:
a) como está chovendo, transferi o passeio;
9) PARÊNTESES b) não sabia, por que todos lhe viravam o rosto;
Sua função básica é inserir uma explicação de algum c) ele, caso queira, poderá vir hoje;
termo enunciado anteriormente: d) não sabia, por que não estudou;
Ex.: Ainda que todos saibam o conceito de “devir” e) o livro, comprei-o por conselho do professor.
(transformação, mudança, vir-a-ser), poucos aplicam na
vida prática. 4. Assinale o trecho sem erro de pontuação:
a) vimos pela presente solicitar de V.Sas., que nos
informe a situação econômica da firma em questão;
10) TRAVESSÃO
b) cientificamo-lo de que na marcha do processo de
Comumente vemos o travessão para indicar diálogos restituição de suas contribuições, verificou-se a ausência
em um texto: da declaração de beneficiários;
Ex.: c) o Instituto de Previdência do Estado, vem solicitar de
- Você não me ama? V.Sa. o preenchimento da declaração;
- Sim, amo mais que tudo. d) encaminhamos a V.Sa., para o devido preenchimento,
o formulário em anexo;
Mas também é usado após a fala para introduzir e) estamos remetendo em anexo, o formulário.
comentário do narrador.
Ex.: 5. Assinale as frases em que as vírgulas estão incorretas:
- Você não me ama? - perguntou Maria, insegura. a) ora ríamos, ora chorávamos;
- Sim, mais que tudo. - respondeu João tranquilamente. b) amigos sinceros, já não os tinha;
c) a parede da casa, era branquinha branquinha;
Também é usado com a mesma função da vírgula ou d) Paulo, diga-me o que sabe a respeito do caso;
parênteses: e) João, o advogado, comprou, ontem, uma casa.
Machado é o maior escritor realista – já nos diziam (Exercícios retirados de http://www.portuguesconcurso.
nossos professores. com/2009/07/pontuacao-exercicios.html)

EXERCÍCIOS Gabarito:

1. Assinale a opção em que a supressão das vírgulas 1. B


alteraria o sentido do anunciado: 2. C
a) os países menos desenvolvidos vêm buscando, 3. D
ultimamente, soluções para seus problemas no acervo 4. D
cultural dos mais avançados; 5. C
b) alguns pesquisadores,que se encontram
comprometidos com as culturas dos países avançados,
acabam se tornando menos criativos; CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL.
c) torna-se, portanto, imperativa uma revisão modelo
presente do processo de desenvolvimento tecnológico;
d) a atividade científica, nos países desenvolvidos, é tão
natural quanto qualquer outra atividade econômica; Os concurseiros estão apreensivos.
e) por duas razões diferentes podem surgir, da Concurseiros apreensivos.
interação de uma comunidade com outra, mecanismos de
dependência. No primeiro exemplo, o verbo estar encontra-se na
terceira pessoa do plural, concordando com o seu sujeito,
2. Assinale a opção em que está corretamente indicada os concurseiros. No segundo exemplo, o adjetivo “apreen-
a ordem dos sinais de pontuação que devem preencher as sivos” está concordando em gênero (masculino) e núme-
lacunas da frase abaixo: ro (plural) com o substantivo a que se refere: concurseiros.
“Quando se trata de trabalho científico ___ duas coisas Nesses dois exemplos, as flexões de pessoa, número e gê-
devem ser consideradas ____ uma é a contribuição teórica nero correspondem-se.
que o trabalho oferece ___ a outra é o valor prático que A correspondência de flexão entre dois termos é a con-
possa ter. cordância, que pode ser verbal ou nominal.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Concordância Verbal 4) Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou


indefinido plural (quais, quantos, alguns, poucos, muitos,
É a flexão que se faz para que o verbo concorde com quaisquer, vários) seguido por “de nós” ou “de vós”, o verbo
seu sujeito. pode concordar com o primeiro pronome (na terceira pes-
soa do plural) ou com o pronome pessoal.
a) Sujeito Simples - Regra Geral Quais de nós são / somos capazes?
O sujeito, sendo simples, com ele concordará o verbo Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso?
em número e pessoa. Veja os exemplos: Vários de nós propuseram / propusemos sugestões ino-
A prova para ambos os cargos será aplicada vadoras.
às 13h.
3.ª p. Singular 3.ª p. Singular Observação: veja que a opção por uma ou outra forma
indica a inclusão ou a exclusão do emissor. Quando alguém
Os candidatos à vaga chegarão às 12h. diz ou escreve “Alguns de nós sabíamos de tudo e nada fize-
3.ª p. Plural 3.ª p. Plural mos”, ele está se incluindo no grupo dos omissos. Isso não
ocorre ao dizer ou escrever “Alguns de nós sabiam de tudo e
Casos Particulares nada fizeram”, frase que soa como uma denúncia.
Nos casos em que o interrogativo ou indefinido estiver
1) Quando o sujeito é formado por uma expressão par- no singular, o verbo ficará no singular.
titiva (parte de, uma porção de, o grosso de, metade de, a Qual de nós é capaz?
maioria de, a maior parte de, grande parte de...) seguida de Algum de vós fez isso.
um substantivo ou pronome no plural, o verbo pode ficar
no singular ou no plural. 5) Quando o sujeito é formado por uma expressão que
A maioria dos jornalistas aprovou / aprovaram a ideia. indica porcentagem seguida de substantivo, o verbo deve
Metade dos candidatos não apresentou / apresentaram concordar com o substantivo.
proposta. 25% do orçamento do país será destinado à Educação.
85% dos entrevistados não aprovam a administração do
Esse mesmo procedimento pode se aplicar aos casos prefeito.
dos coletivos, quando especificados: Um bando de vânda- 1% do eleitorado aceita a mudança.
los destruiu / destruíram o monumento. 1% dos alunos faltaram à prova.

Observação: nesses casos, o uso do verbo no singular Quando a expressão que indica porcentagem não é
enfatiza a unidade do conjunto; já a forma plural confere seguida de substantivo, o verbo deve concordar com o nú-
destaque aos elementos que formam esse conjunto. mero.
25% querem a mudança.
2) Quando o sujeito é formado por expressão que in- 1% conhece o assunto.
dica quantidade aproximada (cerca de, mais de, menos de,
perto de...) seguida de numeral e substantivo, o verbo con- Se o número percentual estiver determinado por artigo
corda com o substantivo. ou pronome adjetivo, a concordância far-se-á com eles:
Cerca de mil pessoas participaram do concurso. Os 30% da produção de soja serão exportados.
Perto de quinhentos alunos compareceram à solenidade. Esses 2% da prova serão questionados.
Mais de um atleta estabeleceu novo recorde nas últimas
Olimpíadas. 6) O pronome “que” não interfere na concordância; já o
“quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa do singular.
Observação: quando a expressão “mais de um” asso- Fui eu que paguei a conta.
ciar-se a verbos que exprimem reciprocidade, o plural é Fomos nós que pintamos o muro.
obrigatório: Mais de um colega se ofenderam na discussão. És tu que me fazes ver o sentido da vida.
(ofenderam um ao outro) Sou eu quem faz a prova.
Não serão eles quem será aprovado.
3) Quando se trata de nomes que só existem no plu-
ral, a concordância deve ser feita levando-se em conta a 7) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve assu-
ausência ou presença de artigo. Sem artigo, o verbo deve mir a forma plural.
ficar no singular; com artigo no plural, o verbo deve ficar Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais encan-
o plural. taram os poetas.
Os Estados Unidos possuem grandes universidades. Este candidato é um dos que mais estudaram!
Estados Unidos possui grandes universidades.
Alagoas impressiona pela beleza das praias. Se a expressão for de sentido contrário – nenhum dos
As Minas Gerais são inesquecíveis. que, nem um dos que -, não aceita o verbo no singular:
Minas Gerais produz queijo e poesia de primeira. Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga.
Nem uma das que me escreveram mora aqui.

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LÍNGUA PORTUGUESA

*Quando “um dos que” vem entremeada de substanti- Observação: quando o sujeito é composto, formado
vo, o verbo pode: por um elemento da segunda pessoa (tu) e um da terceira
a) ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atravessa (ele), é possível empregar o verbo na terceira pessoa do
o Estado de São Paulo. (já que não há outro rio que faça o plural (eles): “Tu e teus irmãos tomarão a decisão.” – no
mesmo). lugar de “tomaríeis”.
b) ir para o plural – O Tietê é um dos rios que estão
poluídos (noção de que existem outros rios na mesma con- 3) No caso do sujeito composto posposto ao verbo,
dição). passa a existir uma nova possibilidade de concordância: em
vez de concordar no plural com a totalidade do sujeito, o
8) Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o verbo pode estabelecer concordância com o núcleo do su-
verbo fica na 3ª pessoa do singular ou plural. jeito mais próximo.
Vossa Excelência está cansado? Faltaram coragem e competência.
Vossas Excelências renunciarão? Faltou coragem e competência.
Compareceram todos os candidatos e o banca.
9) A concordância dos verbos bater, dar e soar faz-se de
Compareceu o banca e todos os candidatos.
acordo com o numeral.
Deu uma hora no relógio da sala.
4) Quando ocorre ideia de reciprocidade, a concordân-
Deram cinco horas no relógio da sala.
Soam dezenove horas no relógio da praça. cia é feita no plural. Observe:
Baterão doze horas daqui a pouco. Abraçaram-se vencedor e vencido.
Ofenderam-se o jogador e o árbitro.
Observação: caso o sujeito da oração seja a palavra re-
lógio, sino, torre, etc., o verbo concordará com esse sujeito. Casos Particulares
O tradicional relógio da praça matriz dá nove horas.
Soa quinze horas o relógio da matriz. 1) Quando o sujeito composto é formado por núcleos
sinônimos ou quase sinônimos, o verbo fica no singular.
10) Verbos Impessoais: por não se referirem a nenhum Descaso e desprezo marca seu comportamento.
sujeito, são usados sempre na 3.ª pessoa do singular. São A coragem e o destemor fez dele um herói.
verbos impessoais: Haver no sentido de existir; Fazer indi-
cando tempo; Aqueles que indicam fenômenos da nature- 2) Quando o sujeito composto é formado por núcleos
za. Exemplos: dispostos em gradação, verbo no singular:
Havia muitas garotas na festa. Com você, meu amor, uma hora, um minuto, um segun-
Faz dois meses que não vejo meu pai. do me satisfaz.
Chovia ontem à tarde.
3) Quando os núcleos do sujeito composto são unidos
b) Sujeito Composto por “ou” ou “nem”, o verbo deverá ficar no plural, de acor-
do com o valor semântico das conjunções:
1) Quando o sujeito é composto e anteposto ao verbo, Drummond ou Bandeira representam a essência da poe-
a concordância se faz no plural: sia brasileira.
Pai e filho conversavam longamente. Nem o professor nem o aluno acertaram a resposta.
Sujeito
Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de “adi-
Pais e filhos devem conversar com frequência.
ção”. Já em:
Sujeito
Juca ou Pedro será contratado.
Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima Olim-
2) Nos sujeitos compostos formados por pessoas gra-
píada.
maticais diferentes, a concordância ocorre da seguinte ma-
neira: a primeira pessoa do plural (nós) prevalece sobre a
segunda pessoa (vós) que, por sua vez, prevalece sobre a * Temos ideia de exclusão, por isso os verbos ficam no
terceira (eles). Veja: singular.
Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão.
Primeira Pessoa do Plural (Nós) 4) Com as expressões “um ou outro” e “nem um nem
outro”, a concordância costuma ser feita no singular.
Tu e teus irmãos tomareis a decisão. Um ou outro compareceu à festa.
Segunda Pessoa do Plural (Vós) Nem um nem outro saiu do colégio.

Pais e filhos precisam respeitar-se. Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural ou no
Terceira Pessoa do Plural (Eles) singular: Um e outro farão/fará a prova.

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LÍNGUA PORTUGUESA

5) Quando os núcleos do sujeito são unidos por “com”, Quando pronome apassivador, o “se” acompanha ver-
o verbo fica no plural. Nesse caso, os núcleos recebem um bos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e indiretos
mesmo grau de importância e a palavra “com” tem sentido (VTDI) na formação da voz passiva sintética. Nesse caso, o
muito próximo ao de “e”. verbo deve concordar com o sujeito da oração. Exemplos:
O pai com o filho montaram o brinquedo. Construiu-se um posto de saúde.
O governador com o secretariado traçaram os planos Construíram-se novos postos de saúde.
para o próximo semestre. Aqui não se cometem equívocos
O professor com o aluno questionaram as regras. Alugam-se casas.

Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se a ** Dica: Para saber se o “se” é partícula apassivadora
ideia é enfatizar o primeiro elemento. ou índice de indeterminação do sujeito, tente transformar
O pai com o filho montou o brinquedo. a frase para a voz passiva. Se a frase construída for “com-
O governador com o secretariado traçou os planos para preensível”, estaremos diante de uma partícula apassivado-
o próximo semestre. ra; se não, o “se” será índice de indeterminação. Veja:
O professor com o aluno questionou as regras. Precisa-se de funcionários qualificados.
Tentemos a voz passiva:
Observação: com o verbo no singular, não se pode Funcionários qualificados são precisados (ou precisos)?
falar em sujeito composto. O sujeito é simples, uma vez Não há lógica. Portanto, o “se” destacado é índice de inde-
que as expressões “com o filho” e “com o secretariado” são terminação do sujeito.
adjuntos adverbiais de companhia. Na verdade, é como se Agora:
houvesse uma inversão da ordem. Veja: Vendem-se casas.
“O pai montou o brinquedo com o filho.” Voz passiva: Casas são vendidas. Construção correta!
“O governador traçou os planos para o próximo semes- Então, aqui, o “se” é partícula apassivadora. (Dá para eu
tre com o secretariado.” passar para a voz passiva. Repare em meu destaque. Per-
“O professor questionou as regras com o aluno.” cebeu semelhança? Agora é só memorizar!).
2) O Verbo “Ser”
*Casos em que se usa o verbo no singular:
Café com leite é uma delícia! A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo e o
O frango com quiabo foi receita da vovó. sujeito da oração. No caso do verbo ser, essa concordân-
cia pode ocorrer também entre o verbo e o predicativo do
6) Quando os núcleos do sujeito são unidos por ex- sujeito.
pressões correlativas como: “não só...mas ainda”, “não so-
mente”..., “não apenas...mas também”, “tanto...quanto”, o Quando o sujeito ou o predicativo for:
verbo ficará no plural.
Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o a)Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo SER
Nordeste. concorda com a pessoa gramatical:
Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a no- Ele é forte, mas não é dois.
tícia. Fernando Pessoa era vários poetas.
A esperança dos pais são eles, os filhos.
7) Quando os elementos de um sujeito composto são
resumidos por um aposto recapitulativo, a concordância é b)nome de coisa e um estiver no singular e o outro no
feita com esse termo resumidor. plural, o verbo SER concordará, preferencialmente, com o
Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da apatia. que estiver no plural:
Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante Os livros são minha paixão!
na vida das pessoas. Minha paixão são os livros!

Outros Casos Quando o verbo SER indicar

1) O Verbo e a Palavra “SE” a) horas e distâncias, concordará com a expressão


Dentre as diversas funções exercidas pelo “se”, há duas numérica:
de particular interesse para a concordância verbal: É uma hora.
a) quando é índice de indeterminação do sujeito; São quatro horas.
b) quando é partícula apassivadora. Daqui até a escola é um quilômetro / são dois quilôme-
Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se” tros.
acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos e
de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na ter- b) datas, concordará com a palavra dia(s), que pode
ceira pessoa do singular: estar expressa ou subentendida:
Precisa-se de funcionários. Hoje é dia 26 de agosto.
Confia-se em teses absurdas. Hoje são 26 de agosto.

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LÍNGUA PORTUGUESA

c) Quando o sujeito indicar peso, medida, quantidade e a) Adjetivo anteposto aos substantivos:
for seguido de palavras ou expressões como pouco, muito, - O adjetivo concorda em gênero e número com o
menos de, mais de, etc., o verbo SER fica no singular: substantivo mais próximo.
Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso. Encontramos caídas as roupas e os prendedores.
Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido. Encontramos caída a roupa e os prendedores.
Duas semanas de férias é muito para mim. Encontramos caído o prendedor e a roupa.

d) Quando um dos elementos (sujeito ou predicativo) - Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de pa-
for pronome pessoal do caso reto, com este concordará o rentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural.
verbo. As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar.
No meu setor, eu sou a única mulher. Encontrei os divertidos primos e primas na festa.
Aqui os adultos somos nós.
b) Adjetivo posposto aos substantivos:
Observação: sendo ambos os termos (sujeito e pre- - O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo
dicativo) representados por pronomes pessoais, o verbo ou com todos eles (assumindo a forma masculina plural se
concorda com o pronome sujeito. houver substantivo feminino e masculino).
Eu não sou ela. A indústria oferece localização e atendimento perfeito.
Ela não é eu. A indústria oferece atendimento e localização perfeita.
A indústria oferece localização e atendimento perfeitos.
e) Quando o sujeito for uma expressão de sentido par- A indústria oferece atendimento e localização perfeitos.
titivo ou coletivo e o predicativo estiver no plural, o verbo
SER concordará com o predicativo. Observação: os dois últimos exemplos apresentam
A grande maioria no protesto eram jovens. maior clareza, pois indicam que o adjetivo efetivamente se
O resto foram atitudes imaturas. refere aos dois substantivos. Nesses casos, o adjetivo foi
flexionado no plural masculino, que é o gênero predomi-
3) O Verbo “Parecer” nante quando há substantivos de gêneros diferentes.
O verbo parecer, quando é auxiliar em uma locução
verbal (é seguido de infinitivo), admite duas concordâncias: - Se os substantivos possuírem o mesmo gênero, o ad-
a) Ocorre variação do verbo PARECER e não se flexiona jetivo fica no singular ou plural.
o infinitivo: As crianças parecem gostar do desenho. A beleza e a inteligência feminina(s).
O carro e o iate novo(s).
b) A variação do verbo parecer não ocorre e o infinitivo
sofre flexão: 3) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo:
As crianças parece gostarem do desenho. a) O adjetivo fica no masculino singular, se o substan-
(essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho as tivo não for acompanhado de nenhum modificador: Água
crianças) é bom para saúde.

Atenção: Com orações desenvolvidas, o verbo PARE- b) O adjetivo concorda com o substantivo, se este for
CER fica no singular. Por Exemplo: As paredes parece que modificado por um artigo ou qualquer outro determinati-
têm ouvidos. (Parece que as paredes têm ouvidos = oração vo: Esta água é boa para saúde.
subordinada substantiva subjetiva).
4) O adjetivo concorda em gênero e número com os
Concordância Nominal pronomes pessoais a que se refere: Juliana encontrou-as
muito felizes.
A concordância nominal se baseia na relação entre
nomes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles se 5) Nas expressões formadas por pronome indefinido
ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, pronomes neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposição DE +
adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lembre-se: adjetivo, este último geralmente é usado no masculino sin-
normalmente, o substantivo funciona como núcleo de um gular: Os jovens tinham algo de misterioso.
termo da oração, e o adjetivo, como adjunto adnominal.
A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as 6) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem fun-
seguintes regras gerais: ção adjetiva e concorda normalmente com o nome a que
1) O adjetivo concorda em gênero e número quando se refere:
se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas denun- Cristina saiu só.
ciavam o que sentia. Cristina e Débora saíram sós.

2) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos, a Observação: quando a palavra “só” equivale a “somen-
concordância pode variar. Podemos sistematizar essa fle- te” ou “apenas”, tem função adverbial, ficando, portanto,
xão nos seguintes casos: invariável: Eles só desejam ganhar presentes.

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LÍNGUA PORTUGUESA

** Dica: Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”. Se Bastante - Caro - Barato - Longe
a frase ficar coerente com o primeiro, trata-se de advérbio,
portanto, invariável; se houver coerência com o segundo, Estas palavras são invariáveis quando funcionam como
função de adjetivo, então varia: advérbios. Concordam com o nome a que se referem quan-
Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo do funcionam como adjetivos, pronomes adjetivos, ou nu-
Ele está só descansando. (apenas descansando) - ad- merais.
vérbio As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio)
Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho. (pro-
** Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula depois de nome adjetivo)
“só”, haverá, novamente, um adjetivo: Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio)
Ele está só, descansando. (ele está sozinho e descansan- As casas estão caras. (adjetivo)
do) Achei barato este casaco. (advérbio)
7) Quando um único substantivo é modificado por dois Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo)
ou mais adjetivos no singular, podem ser usadas as cons-
truções: Meio - Meia
a) O substantivo permanece no singular e coloca-se o
artigo antes do último adjetivo: Admiro a cultura espanhola a) A palavra “meio”, quando empregada como adjetivo,
e a portuguesa. concorda normalmente com o nome a que se refere: Pedi
meia porção de polentas.
b) O substantivo vai para o plural e omite-se o artigo
antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola e portu- b) Quando empregada como advérbio permanece in-
guesa. variável: A candidata está meio nervosa.

Casos Particulares ** Dica! Dá para eu substituir por “um pouco”, assim


saberei que se trata de um advérbio, não de adjetivo: “A
É proibido - É necessário - É bom - É preciso - É per- candidata está um pouco nervosa”.
mitido
Alerta - Menos
a) Estas expressões, formadas por um verbo mais um
adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a que se referem Essas palavras são advérbios, portanto, permanecem
possuir sentido genérico (não vier precedido de artigo). sempre invariáveis.
É proibido entrada de crianças. Os concurseiros estão sempre alerta.
Em certos momentos, é necessário atenção. Não queira menos matéria!
No verão, melancia é bom.
É preciso cidadania. * Tome nota!
Não é permitido saída pelas portas laterais. Não variam os substantivos que funcionam como ad-
jetivos:
b) Quando o sujeito destas expressões estiver deter- Bomba – notícias bomba
minado por artigos, pronomes ou adjetivos, tanto o verbo Chave – elementos chave
como o adjetivo concordam com ele. Monstro – construções monstro
É proibida a entrada de crianças. Padrão – escola padrão
Esta salada é ótima.
A educação é necessária. Fontes de pesquisa:
São precisas várias medidas na educação. http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint49.
php
Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso - Qui- Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere-
te ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Estas palavras adjetivas concordam em gênero e nú- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
mero com o substantivo ou pronome a que se referem. coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Seguem anexas as documentações requeridas. Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
A menina agradeceu: - Muito obrigada. ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Muito obrigadas, disseram as senhoras.
Seguem inclusos os papéis solicitados.
Estamos quites com nossos credores.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Questões 3-)
(A) ... disse (disseram) (os pesquisadores)
1-) (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA (B) Segundo ele, a mudança climática contribuiu (con-
E COMÉRCIO EXTERIOR – ANALISTA TÉCNICO ADMINIS- tribuíram) (as mudanças do clima)
TRATIVO – CESPE/2014) Em “Vossa Excelência deve estar (C) No sistema havia (várias estações) = permanecerá
satisfeita com os resultados das negociações”, o adjetivo no singular
estará corretamente empregado se dirigido a ministro de (D) ... a civilização maia da América Central tinha (ti-
Estado do sexo masculino, pois o termo “satisfeita” deve nham) (os povos que habitavam a América Central)
concordar com a locução pronominal de tratamento “Vos- (E) Um estudo publicado recentemente mostra (mos-
sa Excelência”. tram) (Estudos como o que acabou de ser publicado).
( ) CERTO ( ) ERRADO RESPOSTA: “C”.

1-) Se a pessoa, no caso o ministro, for do sexo femi-


nino (ministra), o adjetivo está correto; mas, se for do sexo
masculino, o adjetivo sofrerá flexão de gênero: satisfeito. O USO DO ACENTO INDICATIVO DA CRASE.
pronome de tratamento é apenas a maneira de como tratar
a autoridade, não concordando com o gênero (o pronome
de tratamento, apenas).
A crase se caracteriza como a fusão de duas vogais
RESPOSTA: “ERRADO”.
idênticas, relacionadas ao emprego da preposição “a” com
o artigo feminino a(s), com o “a” inicial referente aos pro-
2-) (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL – CADASTRO nomes demonstrativos – aquela(s), aquele(s), aquilo e com
RESERVA PARA O METRÔ/DF – ADMINISTRADOR - IA- o “a” pertencente ao pronome relativo a qual (as quais).
DES/2014 - adaptada) Se, no lugar dos verbos destacados Casos estes em que tal fusão encontra-se demarcada pelo
no verso “Escolho os filmes que eu não vejo no elevador”, acento grave ( ` ): à(s), àquela, àquele, àquilo, à qual, às
fossem empregados, respectivamente, Esquecer e gostar, quais.
a nova redação, de acordo com as regras sobre regência O uso do acento indicativo de crase está condiciona-
verbal e concordância nominal prescritas pela norma-pa- do aos nossos conhecimentos acerca da regência verbal
drão, deveria ser e nominal, mais precisamente ao termo regente e termo
(A) Esqueço dos filmes que eu não gosto no elevador. regido. Ou seja, o termo regente é o verbo - ou nome - que
(B) Esqueço os filmes os quais não gosto no elevador. exige complemento regido pela preposição “a”, e o termo
(C) Esqueço dos filmes aos quais não gosto no eleva- regido é aquele que completa o sentido do termo regente,
dor. admitindo a anteposição do artigo a(s).
(D) Esqueço dos filmes dos quais não gosto no eleva- Refiro-me a (a) funcionária antiga, e não a (a)quela con-
dor. tratada recentemente.
(E) Esqueço os filmes dos quais não gosto no elevador. Após a junção da preposição com o artigo (destacados
entre parênteses), temos:
2-) O verbo “esquecer” pede objeto direto; “gostar”, Refiro-me à funcionária antiga, e não àquela contratada
indireto (com preposição): Esqueço os filmes dos quais não recentemente.
gosto.
RESPOSTA: “E”. O verbo referir, de acordo com sua transitividade, clas-
sifica-se como transitivo indireto, pois sempre nos referi-
3-) (SABESP – TECNÓLOGO – FCC/2014) Considerada a mos a alguém ou a algo. Houve a fusão da preposição a + o
substituição do segmento grifado pelo que está entre pa- artigo feminino (à) e com o artigo feminino a + o pronome
demonstrativo aquela (àquela).
rênteses ao final da transcrição, o verbo que deverá perma-
necer no singular está em:
Observação importante: Alguns recursos servem de
(A) ... disse o pesquisador à Folha de S. Paulo. (os pes-
ajuda para que possamos confirmar a ocorrência ou não
quisadores)
da crase. Eis alguns:
(B) Segundo ele, a mudança climática contribuiu para a a) Substitui-se a palavra feminina por uma masculina
ruína dessa sociedade... (as mudanças do clima) equivalente. Caso ocorra a combinação a + o(s), a crase
(C) No sistema havia também uma estação... (várias es- está confirmada.
tações) Os dados foram solicitados à diretora.
(D) ... a civilização maia da América Central tinha um Os dados foram solicitados ao diretor.
método sustentável de gerenciamento da água. (os povos
que habitavam a América Central) b) No caso de nomes próprios geográficos, substitui-se
(E) Um estudo publicado recentemente mostra que a o verbo da frase pelo verbo voltar. Caso resulte na expres-
civilização maia... (Estudos como o que acabou de ser pu- são “voltar da”, há a confirmação da crase.
blicado). Faremos uma visita à Bahia.
Faz dois dias que voltamos da Bahia. (crase confirmada)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Não me esqueço da viagem a Roma. * Constata-se o uso da crase se as locuções preposi-


Ao voltar de Roma, relembrarei os belos momentos ja- tivas à moda de, à maneira de apresentarem-se implícitas,
mais vividos. mesmo diante de nomes masculinos: Tenho compulsão por
comprar sapatos à Luis XV. (à moda de Luís XV)
Atenção: Nas situações em que o nome geográfico se
apresentar modificado por um adjunto adnominal, a crase * Não se efetiva o uso da crase diante da locução ad-
está confirmada. verbial “a distância”: Na praia de Copacabana, observamos
Atendo-me à bela Fortaleza, senti saudades de suas a queima de fogos a distância.
praias.
Entretanto, se o termo vier determinado, teremos uma
locução prepositiva, aí sim, ocorrerá crase: O pedestre foi
** Dica: Use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou
arremessado à distância de cem metros.
A volto DE, crase PRA QUÊ?” Exemplo: Vou a Campinas. =
Volto de Campinas. (crase pra quê?) - De modo a evitar o duplo sentido – a ambiguidade -,
Vou à praia. = Volto da praia. (crase há!) faz-se necessário o emprego da crase.
ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especifica- Ensino à distância.
do, ocorrerá crase. Veja: Ensino a distância.
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo
que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE” * Em locuções adverbiais formadas por palavras repeti-
Irei à Salvador de Jorge Amado. das, não há ocorrência da crase.
Ela ficou frente a frente com o agressor.
* A letra “a” dos pronomes demonstrativos aquele(s), Eu o seguirei passo a passo.
aquela(s) e aquilo receberão o acento grave se o termo re-
gente exigir complemento regido da preposição “a”. Casos em que não se admite o emprego da crase:
Entregamos a encomenda àquela menina.
(preposição + pronome demonstrativo) * Antes de vocábulos masculinos.
As produções escritas a lápis não serão corrigidas.
Iremos àquela reunião. Esta caneta pertence a Pedro.
(preposição + pronome demonstrativo)
* Antes de verbos no infinitivo.
Ele estava a cantar.
Sua história é semelhante às que eu ouvia quando crian- Começou a chover.
ça. (àquelas que eu ouvia quando criança)
(preposição + pronome demonstrativo) * Antes de numeral.
* A letra “a” que acompanha locuções femininas (ad- O número de aprovados chegou a cem.
verbiais, prepositivas e conjuntivas) recebe o acento grave: Faremos uma visita a dez países.
- locuções adverbiais: às vezes, à tarde, à noite, às pres-
sas, à vontade... Observação:
- locuções prepositivas: à frente, à espera de, à procura - Nos casos em que o numeral indicar horas – funcio-
de... nando como uma locução adverbial feminina – ocorrerá
- locuções conjuntivas: à proporção que, à medida que. crase: Os passageiros partirão às dezenove horas.

* Cuidado: quando as expressões acima não exerce- - Diante de numerais ordinais femininos a crase está
rem a função de locuções não ocorrerá crase. Repare: confirmada, visto que estes não podem ser empregados
Eu adoro a noite! sem o artigo: As saudações foram direcionadas à primeira
Adoro o quê? Adoro quem? O verbo “adoro” requer aluna da classe.
objeto direto, no caso, a noite. Aqui, o “a” é artigo, não
- Não ocorrerá crase antes da palavra casa, quan-
preposição.
do essa não se apresentar determinada: Chegamos todos
exaustos a casa.
Casos passíveis de nota: Entretanto, se vier acompanhada de um adjunto ad-
nominal, a crase estará confirmada: Chegamos todos exaus-
*a crase é facultativa diante de nomes próprios femini- tos à casa de Marcela.
nos: Entreguei o caderno a (à) Eliza.
- não há crase antes da palavra “terra”, quando essa
*também é facultativa diante de pronomes possessivos indicar chão firme: Quando os navegantes regressaram a
femininos: O diretor fez referência a (à) sua empresa. terra, já era noite.
Contudo, se o termo estiver precedido por um deter-
*facultativa em locução prepositiva “até a”: A loja ficará minante ou referir-se ao planeta Terra, ocorrerá crase.
aberta até as (às) dezoito horas. Paulo viajou rumo à sua terra natal.
O astronauta voltou à Terra.

25
LÍNGUA PORTUGUESA

- não ocorre crase antes de pronomes que requerem Segundo a norma-padrão da língua portuguesa, as la-
o uso do artigo. cunas da frase devem ser completadas, correta e respectiva-
Os livros foram entregues a mim. mente, por
Dei a ela a merecida recompensa. (A) a ... à ... a ... a
(B) as ... à ... a ... à
Observação: Pelo fato de os pronomes de tratamento (C) às ... a ... à ... a
relativos à senhora, senhorita e madame admitirem artigo, (D) à ... à ... à ... a
o uso da crase está confirmado no “a” que os antecede, no (E) a ... a ... a ... à
caso de o termo regente exigir a preposição.
Todos os méritos foram conferidos à senhorita Patrícia. 2-) A ministra de Direitos Humanos instituiu grupo de tra-
balho para proceder a medidas (palavra no plural, generalizan-
*não ocorre crase antes de nome feminino utilizado em do) necessárias à (regência nominal pede preposição) exumação
sentido genérico ou indeterminado: dos restos mortais do ex-presidente João Goulart, sepultado em
Estamos sujeitos a críticas. São Borja (RS), em 1976. Com a exumação de Jango, o governo
Refiro-me a conversas paralelas. visa esclarecer se o ex-presidente morreu de causas naturais, ou
seja, devido a uma (artigo indefinido) parada cardíaca – que
Fontes de pesquisa: tem sido a versão considerada oficial até hoje –, ou se sua morte
http://www.portugues.com.br/gramatica/o-uso-crase-. se deve a (regência verbal) envenenamento. A / à / a / a
html RESPOSTA: “A”.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. 3-) (SABESP/SP – ADVOGADO – FCC/2014)
Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores fizeram
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere-
uma escavação arqueológica nas ruínas da antiga cidade de
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Tikal, na Guatemala.
Saraiva, 2010.
O a empregado na frase acima, imediatamente depois
de chegar, deverá receber o sinal indicativo de crase caso o
Questões
segmento grifado seja substituído por:
(A) Uma tal ilação.
1-) (POLÍCIA CIVIL/SC – AGENTE DE POLÍCIA – ACA- (B) Afirmações como essa.
FE/2014) Assinale a alternativa que preenche corretamente (C) Comprovação dessa assertiva.
as lacunas da frase a seguir. (D) Emitir uma opinião desse tipo.
Quando________ três meses disse-me que iria _________ (E) Semelhante resultado.
Grécia para visitar ___ sua tia, vi-me na obrigação de ajudá-
-la _______ resgatar as milhas _________ quais tinha direito. 3-)
A-) a - há - à - à - às (A) Uma tal ilação – chegar a uma (não há acento grave
B-) há - à - a - a – às antes de artigo)
C-) há - a - há - à - as (B) Afirmações como essa – chegar a afirmações (antes
D-) a - à - a - à - às de palavra no plural e o “a” no singular)
E-) a - a - à - há – as (C) Comprovação dessa assertiva – chegar à comprova-
ção
1-) Quando HÁ (sentido de tempo) três meses disse- (D) Emitir uma opinião desse tipo – chegar a emitir (ver-
-me que iria À (“vou a, volto da, crase há!”) Grécia para bo no infinitivo)
visitar A (artigo) sua tia, vi-me na obrigação de ajudá-la A (E) Semelhante resultado – chegar a semelhante (palavra
(ajudar “ela” a fazer algo) resgatar as milhas ÀS quais tinha masculina)
direito (tinha direito a quê? às milhas – regência nominal). RESPOSTA: “C”.
Teremos: há, à, a, a, às.
RESPOSTA: “B”.

2-) (EMPLASA/SP – ANALISTA JURÍDICO – DIREITO – EMPREGO E CONJUGAÇÃO DE VERBOS


VUNESP/2014) REGULARES E IRREGULARES.
A ministra de Direitos Humanos instituiu grupo de tra-
balho para proceder _____ medidas necessárias _____ exu-
mação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart,
sepultado em São Borja (RS), em 1976. Com a exumação de VERBO
Jango, o governo visa esclarecer se o ex-presidente morreu Verbo é a palavra que se flexiona em pessoa, núme-
de causas naturais, ou seja, devido ____ uma parada cardía- ro, tempo e modo. A estes tipos de flexão verbal dá-se o
ca – que tem sido a versão considerada oficial até hoje –, nome de conjugação (por isso também se diz que verbo
ou se sua morte se deve ______ envenenamento. é a palavra que pode ser conjugada). Pode indicar, entre
(http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,- outros processos: ação (amarrar), estado (sou), fenômeno
governo-cria-grupo-exumar--restos-mortais-de- jan- (choverá); ocorrência (nascer); desejo (querer).
go,1094178,0.htm 07. 11.2013. Adaptado)

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LÍNGUA PORTUGUESA

1.10.1 ESTRUTURA DAS FORMAS VERBAIS


Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar
#FicaDica
os seguintes elementos: Observe que, retirando os radicais, as
A) Radical: é a parte invariável, que expressa o signi- desinências modo-temporal e número-pessoal
ficado essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-ava; fal- mantiveram-se idênticas. Tente fazer com outro
-am. (radical fal-) verbo e perceberá que se repetirá o fato (desde
B) Tema: é o radical seguido da vogal temática que que o verbo seja da primeira conjugação
indica a conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo: e regular!). Faça com o verbo “andar”, por
fala-r. São três as conjugações: exemplo. Substitua o radical “cant” e coloque o
1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática - “and” (radical do verbo andar). Viu? Fácil!
E - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir).
C) Desinência modo-temporal: é o elemento que de-
signa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo: B) Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca alte-
falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicativo) rações no radical ou nas desinências: faço, fiz, farei, fizesse.
/ falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo)
D) Desinência número-pessoal: é o elemento que Observação:
designa a pessoa do discurso (1.ª, 2.ª ou 3.ª) e o número Alguns verbos sofrem alteração no radical apenas para
(singular ou plural): que seja mantida a sonoridade. É o caso de: corrigir/corrijo,
falamos (indica a 1.ª pessoa do plural.) / falavam (in- fingir/finjo, tocar/toquei, por exemplo. Tais alterações não
dica a 3.ª pessoa do plural.) caracterizam irregularidade, porque o fonema permanece
inalterado.

FIQUE ATENTO! C) Defectivos: são aqueles que não apresentam conju-


gação completa. Os principais são adequar, precaver, com-
O verbo pôr, assim como seus derivados
putar, reaver, abolir, falir.
(compor, repor, depor), pertencem à 2.ª
D) Impessoais: são os verbos que não têm sujeito e,
conjugação, pois a forma arcaica do verbo
normalmente, são usados na terceira pessoa do singular.
pôr era poer. A vogal “e”, apesar de haver
Os principais verbos impessoais são:
desaparecido do infinitivo, revela-se em
1. Haver, quando sinônimo de existir, acontecer, reali-
algumas formas do verbo: põe, pões, põem,
zar-se ou fazer (em orações temporais).
etc.
Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia = Exis-
tiam)
1.10.2 FORMAS RIZOTÔNICAS E ARRIZOTÔNICAS Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram)
Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão)
dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce- Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz)
bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acento
tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, amo, por 2. Fazer, ser e estar (quando indicam tempo)
exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico não cai Faz invernos rigorosos na Europa.
no radical, mas sim na terminação verbal (fora do radical): Era primavera quando o conheci.
opinei, aprenderão, amaríamos. Estava frio naquele dia.

1.10.3 CLASSIFICAÇÃO DOS VERBOS 3. Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza
Classificam-se em: são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, amanhe-
A) Regulares: são aqueles que apresentam o radical cer, escurecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Amanheci
inalterado durante a conjugação e desinências idênticas às cansado”, usa-se o verbo “amanhecer” em sentido figura-
de todos os verbos regulares da mesma conjugação. Por do. Qualquer verbo impessoal, empregado em sentido fi-
exemplo: comparemos os verbos “cantar” e “falar”, conju- gurado, deixa de ser impessoal para ser pessoal, ou seja,
gados no presente do Modo Indicativo: terá conjugação completa.
Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu)
canto falo Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)
cantas falas
canta falas 4. O verbo passar (seguido de preposição), indicando
cantamos falamos tempo: Já passa das seis.
cantais falais 5. Os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição
cantam falam “de”, indicando suficiência:
Basta de tolices.
Chega de promessas.

27
LÍNGUA PORTUGUESA

6. Os verbos estar e ficar em orações como “Está bem, Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal”, sem referência
a sujeito expresso anteriormente (por exemplo: “ele está mal”). Podemos, nesse caso, classificar o sujeito como hipotético,
tornando-se, tais verbos, pessoais.

7. O verbo dar + para da língua popular, equivalente de “ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo.
Dá para me arrumar uma apostila?

E) Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural.
São unipessoais os verbos constar, convir, ser (= preciso, necessário) e todos os que indicam vozes de animais (cacarejar,
cricrilar, miar, latir, piar).

#FicaDica
Os verbos unipessoais podem ser usados
como verbos pessoais na linguagem figurada:
Teu irmão amadureceu bastante.
O que é que aquela garota está cacarejando?

PRINCIPAIS VERBOS UNIPESSOAIS:

 Cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser (preciso, necessário):


Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos bastante)
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
É preciso que chova. (Sujeito: que chova)

 Fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da conjunção que.
Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei à Europa)
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a vejo. (Sujeito: que não a vejo)

F) Abundantes: são aqueles que possuem duas ou mais formas equivalentes, geralmente no particípio, em que, além
das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio irregular).
O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular é em-
pregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser, ficar e estar. Observe:

Infinitivo Particípio Regular Particípio Irregular


Aceitar Aceitado Aceito
Acender Acendido Aceso
Anexar Anexado Anexo
Benzer Benzido Bento
Corrigir Corrigido Correto
Dispersar Dispersado Disperso
Eleger Elegido Eleito
Envolver Envolvido Envolto
Imprimir Imprimido Impresso
Inserir Inserido Inserto
Limpar Limpado Limpo
Matar Matado Morto
Misturar Misturado Misto
Morrer Morrido Morto

28
LÍNGUA PORTUGUESA

Murchar Murchado Murcho


Pegar Pegado Pego
Romper Rompido Roto
Soltar Soltado Solto
Suspender Suspendido Suspenso
Tingir Tingido Tinto
Vagar Vagado Vago

FIQUE ATENTO!
Estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/
dito, escrever/escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.

G) Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois, fui)
e ir (fui, ia, vades).
H) Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo principal
(aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é expresso numa das
formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.
Vou espantar todos!
(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)

Está chegando a hora!


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

Observação:
Os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.

CONJUGAÇÃO DOS VERBOS AUXILIARES

SER - MODO INDICATIVO

Presente Pret.Perfeito Pret. Imp. Pret.mais-que-perf. Fut.do Pres. Fut. Do


Pretérito
sou fui era fora serei seria
és foste eras foras serás serias
é foi era fora será seria
somos fomos éramos fôramos seremos seríamos
sois fostes éreis fôreis sereis seríeis
são foram eram foram serão seriam

29
LÍNGUA PORTUGUESA

SER - MODO SUBJUNTIVO


Presente Pretérito Imperfeito Futuro
que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

SER - MODO IMPERATIVO


Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês

SER - FORMAS NOMINAIS


Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio
ser ser eu sendo sido
seres tu
ser ele
sermos nós
serdes vós
serem eles

ESTAR - MODO INDICATIVO


Presente Pret. perf. Pret. Imp. Pret.mais-q-perf. Fut.doPres. Fut.do Preté.
estou estive estava estivera estarei estaria
estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

ESTAR - MODO SUBJUNTIVO E IMPERATIVO


Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo
esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

30
LÍNGUA PORTUGUESA

ESTAR - FORMAS NOMINAIS


Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio
estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem

HAVER - MODO INDICATIVO

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


hei houve havia houvera haverei
haveria
hás houveste
havias houveras haverás
haverias
há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

HAVER - MODO SUBJUNTIVO E IMPERATIVO

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


ja houvesse houver
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

HAVER - FORMAS NOMINAIS

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


haver haver havendo havido
haveres

haver

havermos
haverdes

haverem

TER - MODO INDICATIVO

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Preté.mais-q-perf. Fut. Do Pres. Fut.


Do Preté.
tenho tive tinha tivera terei
teria
tens tiveste tinhas tiveras terás
terias

31
LÍNGUA PORTUGUESA

tem teve tinha tivera terá


teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

TER - MODO SUBJUNTIVO E IMPERATIVO

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

I) Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita no
próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:
 Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a reflexibilidade já
está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.
A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela mes-
ma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula integrante
do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de reforço da ideia re-
flexiva expressa pelo radical do próprio verbo. Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e respectivos pronomes):
Eu me arrependo, Tu te arrependes, Ele se arrepende, Nós nos arrependemos, Vós vos arrependeis, Eles se arrependem

 Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto repre-
sentado por pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre ele mesmo. Em
geral, os verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os pronomes mencionados,
formando o que se chama voz reflexiva. Por exemplo: A garota se penteava.
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode ser exercida também sobre outra pessoa: A garota penteou-me.

FIQUE ATENTO!
Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes oblíquos átonos dos verbos pronominais não
possuem função sintática.
Há verbos que também são acompanhados de pronomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente
pronominais - são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na
pessoa idêntica à do sujeito, exercem funções sintáticas. Por exemplo:
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; me (objeto direto) – 1.ª pessoa do singular

1.10.4 MODOS VERBAIS


Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadeiro. Existem
três modos:
A) Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu estudo para o concurso.
B) Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade: Talvez eu estude amanhã.
C) Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estude, colega!

1.10.5 FORMAS NOMINAIS


Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas que podem exercer funções de nomes (substantivo, adjetivo,
advérbio), sendo por isso denominadas formas nominais. Observe:

32
LÍNGUA PORTUGUESA

A) Infinitivo
A.1 Impessoal: exprime a significação do verbo de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de substantivo.
Por exemplo:
Viver é lutar. (= vida é luta)
É indispensável combater a corrupção. (= combate à)

O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente (forma simples) ou no passado (forma composta). Por exemplo:
É preciso ler este livro.
Era preciso ter lido este livro.

A.2 Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do singular, não apre-
senta desinências, assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira:
2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu)
1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós)
2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós)
3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles)
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.
B) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou advérbio. Por exemplo:
Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de advérbio)
Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo)

Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação em curso; na forma composta (2), uma ação concluída:
Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro.
Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro.

Quando o gerúndio é vício de linguagem (gerundismo), ou seja, uso exagerado e inadequado do gerúndio:
1. Enquanto você vai ao mercado, vou estar jogando futebol.
2. – Sim, senhora! Vou estar verificando!

Em 1, a locução “vou estar” + gerúndio é adequada, pois transmite a ideia de uma ação que ocorre no momento da
outra; em 2, essa ideia não ocorre, já que a locução verbal “vou estar verificando” refere-se a um futuro em andamento,
exigindo, no caso, a construção “verificarei” ou “vou verificar”.

C) Particípio: quando não é empregado na formação dos tempos compostos, o particípio indica, geralmente, o resul-
tado de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e grau. Por exemplo: Terminados os exames, os candidatos
saíram.
Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a função de
adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida pela turma.

(Ziraldo)

1.10.6 TEMPOS VERBAIS

Tomando-se como referência o momento em que se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos tempos.

A) Tempos do Modo Indicativo


Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste colégio.
Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual, mas que não foi completamente
terminado: Ele estudava as lições quando foi interrompido.
Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado: Ele
estudou as lições ontem à noite.

33
LÍNGUA PORTUGUESA

Pretérito-mais-que-perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já estudara as lições
quando os amigos chegaram. (forma simples).
Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual: Ele
estudará as lições amanhã.
Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado: Se ele pu-
desse, estudaria um pouco mais.

B) Tempos do Modo Subjuntivo


Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual: É conveniente que estudes para o exame.
Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele vencesse o
jogo.
Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele vier à
loja, levará as encomendas.

FIQUE ATENTO!
Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)

No próximo final de semana, faço a prova!


faço = forma do presente indicando futuro ( = farei)

TABELAS DAS CONJUGAÇÕES VERBAIS

MODO INDICATIVO
PRESENTE DO INDICATIVO

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M

PRETÉRITO PERFEITO DO INDICATIVO

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
cantaSTE vendeSTE partISTE STE
cantoU vendeU partiU U
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM

34
LÍNGUA PORTUGUESA

PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

PRETÉRITO IMPERFEITO DO INDICATIVO

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3ª. conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantAVA vendIA partIA
cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

FUTURO DO PRESENTE DO INDICATIVO

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão

FUTURO DO PRETÉRITO DO INDICATIVO

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM

35
LÍNGUA PORTUGUESA

PRESENTE DO SUBJUNTIVO

Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).

1.ª conjug. 2.ª conjug. 3.ª conju. Desinên. pessoal Des. temporal Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M

PRETÉRITO IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO


Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de nú-
mero e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

FUTURO DO SUBJUNTIVO
Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito, ob-
tendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de número e
pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR R Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM partiREM R EM

36
LÍNGUA PORTUGUESA

C) MODO IMPERATIVO
IMPERATIVO AFIRMATIVO
Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:

Presente do Indicativo Imperativo Afirmativo Presente do Subjuntivo


Eu canto --- Que eu cante
Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem

IMPERATIVO NEGATIVO
Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.
Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo

Que eu cante ---


Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
Que nós cantemos Não cantemos nós
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles

#FicaDica
No modo imperativo não faz sentido usar na 3.ª pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma
ordem, pedido ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa razão, utiliza-
se você/vocês.
O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), sede (vós).

INFINITIVO PESSOAL
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação
CANTAR VENDER PARTIR
cantar vender partir
cantarES venderES partirES
cantar vender partir
cantarMOS venderMOS partirMOS
cantarDES venderDES partirDES
cantarEM venderEM partirEM

FIQUE ATENTO!
• O verbo parecer admite duas construções:
Elas parecem gostar de você. (forma uma locução verbal)
Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito oracional, correspondendo à construção: parece
gostarem de você).

• O verbo pegar possui dois particípios (regular e irregular):


Elvis tinha pegado minhas apostilas.
Minhas apostilas foram pegas.

37
LÍNGUA PORTUGUESA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Observações:


SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa  O agente da passiva geralmente é acompanhado
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. da preposição por, mas pode ocorrer a construção com a
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- preposição de. Por exemplo: A casa ficou cercada de solda-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São dos.
Paulo: Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-  Pode acontecer de o agente da passiva não estar
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. explícito na frase: A exposição será aberta amanhã.
SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.  A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar
php (SER), pois o particípio é invariável. Observe a transforma-
1. VOZES DO VERBO ção das frases seguintes:
Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo)
Dá-se o nome de voz à maneira como se apresenta a O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito per-
feito do Indicativo, assim como o verbo principal da voz
ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, indicando
ativa)
se este é paciente ou agente da ação. Importante lembrar
que voz verbal não é flexão, mas aspecto verbal. São três
Ele faz o trabalho. (presente do indicativo)
as vozes verbais: O trabalho é feito por ele. (ser no presente do indica-
A) Ativa = quando o sujeito é agente, isto é, pratica a tivo)
ação expressa pelo verbo:
Ele fez o trabalho. Ele fará o trabalho. (futuro do presente)
sujeito agente ação objeto (pacien- O trabalho será feito por ele. (futuro do presente)
te)
 Nas frases com locuções verbais, o verbo SER as-
B) Passiva = quando o sujeito é paciente, recebendo a sume o mesmo tempo e modo do verbo principal da voz
ação expressa pelo verbo: ativa. Observe a transformação da frase seguinte:
O trabalho foi feito por ele. O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
sujeito paciente ação agente da pas- As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio)
siva
B) Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética - ou
C) Reflexiva = quando o sujeito é, ao mesmo tempo, pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª pessoa, segui-
agente e paciente, isto é, pratica e recebe a ação: do do pronome apassivador “se”. Por exemplo:
O menino feriu-se. Abriram-se as inscrições para o concurso.
Destruiu-se o velho prédio da escola.

Observação:
#FicaDica O agente não costuma vir expresso na voz passiva sin-
Não confundir o emprego reflexivo do verbo tética.
com a noção de reciprocidade:
Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
1.2 CONVERSÃO DA VOZ ATIVA NA VOZ PASSIVA
Nós nos amamos. (um ama o outro)
Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar subs-
tancialmente o sentido da frase.
O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa)
1.1 FORMAÇÃO DA VOZ PASSIVA
Sujeito da Ativa objeto Direto
A voz passiva pode ser formada por dois processos: A apostila foi comprada pelo concurseiro. (Voz
analítico e sintético. Passiva)
A) Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte Sujeito da Passiva Agente da Passi-
maneira: va
Verbo SER + particípio do verbo principal. Por exemplo:
A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos: Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva; o
os alunos pintarão a escola) sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo ativo
O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho) assumirá a forma passiva, conservando o mesmo tempo.
Os mestres têm constantemente aconselhado os alunos.
Os alunos têm sido constantemente aconselhados pelos
mestres.

Eu o acompanharei.
Ele será acompanhado por mim.

38
LÍNGUA PORTUGUESA

A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada.


[dela/ela: pronomes de 3.ª pessoa = aquele de quem se
FIQUE ATENTO! fala]
Quando o sujeito da voz ativa for
indeterminado, não haverá complemento Em termos morfológicos, os pronomes são palavras
agente na passiva. Por exemplo: Prejudicaram- variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em número
me. / Fui prejudicado. (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência através
Com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, do pronome seja coerente em termos de gênero e núme-
dormir, acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, ro (fenômeno da concordância) com o seu objeto, mesmo
passiva ou reflexiva, porque o sujeito não pode quando este se apresenta ausente no enunciado.
ser visto como agente, paciente ou agente Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da nossa
paciente. escola neste ano.
[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância
adequada]
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [neste: pronome que determina “ano” = concordância
adequada]
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = concor-
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
dância inadequada]
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos, de-
Paulo: Saraiva, 2010.
monstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. 1.8.1 PRONOMES PESSOAIS
SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54. São aqueles que substituem os substantivos, indicando
php diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve
Observação: Não foram encontradas questões abran- assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se os pronomes “tu”,
gendo tal conteúdo. “vós”, “você” ou “vocês” para designar a quem se dirige, e
“ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer referência à pessoa ou
às pessoas de quem se fala.
Os pronomes pessoais variam de acordo com as funções
EMPREGO DE PRONOMES. que exercem nas orações, podendo ser do caso reto ou do
caso oblíquo.

A) PRONOME RETO
Pronome é a palavra variável que substitui ou acom- Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na senten-
panha um substantivo (nome), qualificando-o de alguma ça, exerce a função de sujeito: Nós lhe ofertamos flores.
forma. Os pronomes retos apresentam flexão de número, gêne-
O homem julga que é superior à natureza, por isso o ro (apenas na 3.ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a prin-
homem destrói a natureza... cipal flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso. Dessa
Utilizando pronomes, teremos: O homem julga que é forma, o quadro dos pronomes retos é assim configurado:
superior à natureza, por isso ele a destrói... 1.ª pessoa do singular: eu
Ficou melhor, sem a repetição desnecessária de termos 2.ª pessoa do singular: tu
(homem e natureza). 3.ª pessoa do singular: ele, ela
1.ª pessoa do plural: nós
Grande parte dos pronomes não possuem significados 2.ª pessoa do plural: vós
fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação dentro 3.ª pessoa do plural: eles, elas
de um contexto, o qual nos permite recuperar a referên-
cia exata daquilo que está sendo colocado por meio dos FIQUE ATENTO!
pronomes no ato da comunicação. Com exceção dos pro-
Esses pronomes não costumam ser usados
nomes interrogativos e indefinidos, os demais pronomes
como complementos verbais na língua-
têm por função principal apontar para as pessoas do dis-
curso ou a elas se relacionar, indicando-lhes sua situação padrão. Frases como “Vi ele na rua”, “Encontrei
no tempo ou no espaço. Em virtude dessa característica, ela na praça”, “Trouxeram eu até aqui”-
os pronomes apresentam uma forma específica para cada comuns na língua oral cotidiana - devem ser
pessoa do discurso. evitadas na língua formal escrita ou falada. Na
Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada. língua formal, devem ser usados os pronomes
[minha/eu: pronomes de 1.ª pessoa = aquele que fala] oblíquos correspondentes: “Vi-o na rua”,
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada? “Encontrei-a na praça”, “Trouxeram-me até
[tua/tu: pronomes de 2.ª pessoa = aquele a quem se aqui”.
fala]

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LÍNGUA PORTUGUESA

B.2 PRONOME OBLÍQUO TÔNICO


#FicaDica Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos
por preposições, em geral as preposições a, para, de e com.
Frequentemente observamos a omissão do Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função
pronome reto em Língua Portuguesa. Isso se de objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica
dá porque as próprias formas verbais marcam, forte.
através de suas desinências, as pessoas do Lista dos pronomes oblíquos tônicos:
verbo indicadas pelo pronome reto: Fizemos 1.ª pessoa do singular (eu): mim, comigo
boa viagem. (Nós) 2.ª pessoa do singular (tu): ti, contigo
3.ª pessoa do singular (ele, ela): si, consigo, ele, ela
1.ª pessoa do plural (nós): nós, conosco
B) PRONOME OBLÍQUO 2.ª pessoa do plural (vós): vós, convosco
Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na 3.ª pessoa do plural (eles, elas): si, consigo, eles, elas
sentença, exerce a função de complemento verbal (ob- Observe que as únicas formas próprias do pronome tô-
jeto direto ou indireto): Ofertaram-nos flores. (objeto in- nico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As
direto) demais repetem a forma do pronome pessoal do caso reto.
As preposições essenciais introduzem sempre prono-
Observação: mes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso
O pronome oblíquo é uma forma variante do pronome reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o uso da
pessoal do caso reto. Essa variação indica a função diversa língua formal, os pronomes costumam ser usados desta
que eles desempenham na oração: pronome reto marca o forma:
sujeito da oração; pronome oblíquo marca o complemento Não há mais nada entre mim e ti.
da oração. Os pronomes oblíquos sofrem variação de acor- Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.
do com a acentuação tônica que possuem, podendo ser Não há nenhuma acusação contra mim.
átonos ou tônicos. Não vá sem mim.

B.1 PRONOME OBLÍQUO ÁTONO


FIQUE ATENTO!
São chamados átonos os pronomes oblíquos que não
são precedidos de preposição. Possuem acentuação tônica Há construções em que a preposição, apesar
fraca: Ele me deu um presente. de surgir anteposta a um pronome, serve
Lista dos pronomes oblíquos átonos para introduzir uma oração cujo verbo está
1.ª pessoa do singular (eu): me no infinitivo. Nesses casos, o verbo pode
2.ª pessoa do singular (tu): te ter sujeito expresso; se esse sujeito for um
3.ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe pronome, deverá ser do caso reto.
1.ª pessoa do plural (nós): nos
2.ª pessoa do plural (vós): vos
3.ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
Não vá sem eu mandar.
A frase: “Foi fácil para mim resolver aquela questão!”
FIQUE ATENTO! está correta, já que “para mim” é complemento de “fácil”.
Os pronomes o, os, a, as assumem formas A ordem direta seria: Resolver aquela questão foi fácil para
especiais depois de certas terminações verbais: mim!
1. Quando o verbo termina em -z, -s ou -r,
o pronome assume a forma lo, los, la ou las, A combinação da preposição “com” e alguns prono-
ao mesmo tempo que a terminação verbal é mes originou as formas especiais comigo, contigo, consigo,
suprimida. Por exemplo: conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos fre-
fiz + o = fi-lo quentemente exercem a função de adjunto adverbial de
fazeis + o = fazei-lo companhia: Ele carregava o documento consigo.
dizer + a = dizê-la
A preposição “até” exige as formas oblíquas tônicas:
2. Quando o verbo termina em som nasal, o Ela veio até mim, mas nada falou.
pronome assume as formas no, nos, na, nas. Mas, se “até” for palavra denotativa (com o sentido de
Por exemplo: inclusão), usaremos as formas retas: Todos foram bem na
viram + o: viram-no prova, até eu! (= inclusive eu)
repõe + os = repõe-nos
retém + a: retém-na As formas “conosco” e “convosco” são substituídas por
tem + as = tem-nas “com nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais são
reforçados por palavras como outros, mesmos, próprios, to-
dos, ambos ou algum numeral.

40
LÍNGUA PORTUGUESA

Você terá de viajar com nós todos. Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores
Estávamos com vós outros quando chegaram as más Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, oficiais
notícias. até a patente de coronel, chefes de seção e funcionários de
Ele disse que iria com nós três. igual categoria
B.3 PRONOME REFLEXIVO Vossa Meretíssima (sempre por extenso) = para juízes
São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcio- de direito
nem como objetos direto ou indireto, referem-se ao sujeito Vossa Santidade (sempre por extenso) = tratamento ce-
da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação rimonioso
expressa pelo verbo. Vossa Onipotência (sempre por extenso) = Deus
Lista dos pronomes reflexivos:
1.ª pessoa do singular (eu): me, mim = Eu não me lem- Também são pronomes de tratamento o senhor, a senho-
bro disso. ra e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empregados
no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tratamento
familiar. Você e vocês são largamente empregados no por-
2.ª pessoa do singular (tu): te, ti = Conhece a ti mesmo.
tuguês do Brasil; em algumas regiões, a forma tu é de uso
frequente; em outras, pouco empregada. Já a forma vós tem
3.ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo = Gui-
uso restrito à linguagem litúrgica, ultraformal ou literária.
lherme já se preparou.
Ela deu a si um presente. Observações:
Antônio conversou consigo mesmo. 1. Vossa Excelência X Sua Excelência: os pronomes de
tratamento que possuem “Vossa(s)” são empregados em re-
1.ª pessoa do plural (nós): nos = Lavamo-nos no rio. lação à pessoa com quem falamos: Espero que V. Ex.ª, Senhor
Ministro, compareça a este encontro.
2.ª pessoa do plural (vós): vos = Vós vos beneficiastes 2. Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito
com esta conquista. da pessoa: Todos os membros da C.P.I. afirmaram que Sua
Excelência, o Senhor Presidente da República, agiu com pro-
3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo = Eles se priedade.
conheceram. / Elas deram a si um dia de folga. 3. Os pronomes de tratamento representam uma for-
ma indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao
tratarmos um deputado por Vossa Excelência, por exemplo,
#FicaDica estamos nos endereçando à excelência que esse deputado
supostamente tem para poder ocupar o cargo que ocupa.
O pronome é reflexivo quando se refere à
4. Embora os pronomes de tratamento dirijam-se à 2.ª
mesma pessoa do pronome subjetivo (sujeito): pessoa, toda a concordância deve ser feita com a 3.ª pes-
Eu me arrumei e saí. soa. Assim, os verbos, os pronomes possessivos e os prono-
É pronome recíproco quando indica mes oblíquos empregados em relação a eles devem ficar na
reciprocidade de ação: Nós nos amamos. / 3.ª pessoa.
Olhamo-nos calados. Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas promes-
O “se” pode ser usado como palavra expletiva sas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos.
ou partícula de realce, sem ser rigorosamente
necessária e sem função sintática: Os 5. Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos ou
exploradores riam-se de suas tentativas. / Será nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, ao longo do
que eles se foram? texto, a pessoa do tratamento escolhida inicialmente. Assim,
por exemplo, se começamos a chamar alguém de “você”,
não poderemos usar “te” ou “teu”. O uso correto exigirá, ain-
C) PRONOMES DE TRATAMENTO da, verbo na terceira pessoa.
São pronomes utilizados no tratamento formal, ceri-
monioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor (portan- Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
to, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira pes- teus cabelos. (errado)
soa. Alguns exemplos: Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos seus
Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques cabelos. (correto) = terceira pessoa do singular
Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais ou
Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e religio- Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
sos em geral teus cabelos. (correto) = segunda pessoa do singular
Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente superior
à de coronel, senadores, deputados, embaixadores, profes- 1.8.2 PRONOMES POSSESSIVOS
sores de curso superior, ministros de Estado e de Tribunais, São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
governadores, secretários de Estado, presidente da Repú- (possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo (coi-
blica (sempre por extenso) sa possuída).
Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de universi- Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1.ª pessoa do
dades singular)

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LÍNGUA PORTUGUESA

NÚMERO PESSOA PRONOME Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam o que está dis-
tante tanto da pessoa que fala como da pessoa com quem
singular primeira meu(s), minha(s) se fala:
singular segunda teu(s), tua(s) Aquele material não é nosso.
Vejam aquele prédio!
singular terceira seu(s), sua(s)
plural primeira nosso(s), nossa(s) B) Em relação ao tempo:
plural segunda vosso(s), vossa(s) Este(s), esta(s) e isto = indicam o tempo presente em
relação à pessoa que fala:
plural terceira seu(s), sua(s) Esta manhã farei a prova do concurso!
Note que: Esse(s), essa(s) e isso = indicam o tempo passado, porém
A forma do possessivo depende da pessoa gramatical relativamente próximo à época em que se situa a pessoa
a que se refere; o gênero e o número concordam com o obje- que fala:
to possuído: Ele trouxe seu apoio e sua contribuição naquele Essa noite dormi mal; só pensava no concurso!
momento difícil.
Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam um afastamento
Observações: no tempo, referido de modo vago ou como tempo remoto:
1. A forma “seu” não é um possessivo quando resultar Naquele tempo, os professores eram valorizados.
da alteração fonética da palavra senhor: Muito obrigado, seu
José. C) Em relação ao falado ou escrito (ou ao que se fa-
2. Os pronomes possessivos nem sempre indicam pos- lará ou escreverá):
se. Podem ter outros empregos, como: Este(s), esta(s) e isto = empregados quando se quer fa-
A) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha. zer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se falará:
B) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40 Serão estes os conteúdos da prova: análise sintática, or-
anos. tografia, concordância.
C) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem
lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela. Esse(s), essa(s) e isso = utilizados quando se pretende
fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou:
3. Em frases onde se usam pronomes de tratamento, Sua aprovação no concurso, isso é o que mais desejamos!
o pronome possessivo fica na 3.ª pessoa: Vossa Excelência
Este e aquele são empregados quando se quer fazer re-
trouxe sua mensagem?
ferência a termos já mencionados; aquele se refere ao termo
referido em primeiro lugar e este para o referido por último:
4. Referindo-se a mais de um substantivo, o possessi- Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Paulo;
vo concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus livros e este está mais bem colocado que aquele. (= este [São Paulo],
anotações. aquele [Palmeiras])
ou
5. Em algumas construções, os pronomes pessoais Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Paulo;
oblíquos átonos assumem valor de possessivo: Vou seguir- aquele está mais bem colocado que este. (= este [São Paulo],
-lhe os passos. (= Vou seguir seus passos) aquele [Palmeiras])

6. O adjetivo “respectivo” equivale a “devido, seu, pró- Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou
prio”, por isso não se deve usar “seus” ao utilizá-lo, para invariáveis, observe:
que não ocorra redundância: Coloque tudo nos respectivos Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aque-
lugares. la(s).
Invariáveis: isto, isso, aquilo.
1.8.3 PRONOMES DEMONSTRATIVOS Também aparecem como pronomes demonstrativos:
 o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que”
São utilizados para explicitar a posição de certa palavra e puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo.
em relação a outras ou ao contexto. Essa relação pode ser Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.)
de espaço, de tempo ou em relação ao discurso. Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te
A) Em relação ao espaço: indiquei.)
Este(s), esta(s) e isto = indicam o que está perto da pes-
soa que fala:  mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s): va-
Este material é meu. riam em gênero quando têm caráter reforçativo:
Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
Esse(s), essa(s) e isso = indicam o que está perto da pes- Eu mesma refiz os exercícios.
soa com quem se fala: Elas mesmas fizeram isso.
Esse material em sua carteira é seu? Eles próprios cozinharam.
Os próprios alunos resolveram o problema.

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LÍNGUA PORTUGUESA

 semelhante(s): Não tenha semelhante atitude. Os pronomes indefinidos podem ser divididos em va-
riáveis e invariáveis. Observe:
 tal, tais: Tal absurdo eu não cometeria.  Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco,
vário, tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, muita,
pouca, vária, tanta, outra, quanta, qualquer, quaisquer*, al-
#FicaDica guns, nenhuns, todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros,
quantos, algumas, nenhumas, todas, muitas, poucas, várias,
1. Em frases como: O referido deputado e o Dr. tantas, outras, quantas.
Alcides eram amigos íntimos; aquele casado,  Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo,
solteiro este. (ou então: este solteiro, aquele nada, algo, cada.
casado) - este se refere à pessoa mencionada
em último lugar; aquele, à mencionada em *Qualquer é composto de qual + quer (do verbo que-
primeiro lugar. rer), por isso seu plural é quaisquer (única palavra cujo plu-
2. O pronome demonstrativo tal pode ter ral é feito em seu interior).
conotação irônica: A menina foi a tal que
ameaçou o professor? Todo e toda no singular e junto de artigo significa intei-
3. Pode ocorrer a contração das preposições a, ro; sem artigo, equivale a qualquer ou a todas as:
de, em com pronome demonstrativo: àquele, Toda a cidade está enfeitada. (= a cidade inteira)
àquela, deste, desta, disso, nisso, no, etc: Não Toda cidade está enfeitada. (= todas as cidades)
acreditei no que estava vendo. (no = naquilo) Trabalho todo o dia. (= o dia inteiro)
Trabalho todo dia. (= todos os dias)

1.8.4 PRONOMES INDEFINIDOS São locuções pronominais indefinidas: cada qual, cada
um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que), seja
São palavras que se referem à 3.ª pessoa do discurso, quem for, seja qual for, todo aquele (que), tal qual (= certo),
dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando quan- tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma ou outra, etc.
tidade indeterminada. Cada um escolheu o vinho desejado.
Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém-
-plantadas. 1.8.5 PRONOMES RELATIVOS
Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pessoa
de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma São aqueles que representam nomes já mencionados
imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser hu- anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem
mano que seguramente existe, mas cuja identidade é des- as orações subordinadas adjetivas.
conhecida ou não se quer revelar. Classificam-se em: O racismo é um sistema que afirma a superioridade de
A) Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o um grupo racial sobre outros.
lugar do ser ou da quantidade aproximada de seres na fra- (afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros
se. São eles: algo, alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, = oração subordinada adjetiva).
ninguém, outrem, quem, tudo.
Algo o incomoda? O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema”
Quem avisa amigo é. e introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra
“sistema” é antecedente do pronome relativo que.
B) Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um O antecedente do pronome relativo pode ser o prono-
ser expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quantida- me demonstrativo o, a, os, as.
de aproximada. São eles: cada, certo(s), certa(s). Não sei o que você está querendo dizer.
Cada povo tem seus costumes. Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem
Certas pessoas exercem várias profissões. expresso.
Quem casa, quer casa.
Note que:
Observe:
Ora são pronomes indefinidos substantivos, ora pro-
Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os
nomes indefinidos adjetivos:
quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas,
algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos),
quantas.
demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns,
Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde.
nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer,
quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s),
tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias.
Menos palavras e mais ações.
Alguns se contentam pouco.

43
LÍNGUA PORTUGUESA

NOTE QUE: Na indicação de tempo, deve-se empregar quando ou


O pronome “que” é o relativo de mais largo emprego, em que: Sinto saudades da época em que (quando) moráva-
sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser subs- mos no exterior.
tituído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando seu
antecedente for um substantivo. Podem ser utilizadas como pronomes relativos as pa-
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual) lavras:
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a  como (= pelo qual) – desde que precedida das
qual) palavras modo, maneira ou forma:
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os Não me parece correto o modo como você agiu semana
quais) passada.
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as
quais)  quando (= em que) – desde que tenha como an-
tecedente um nome que dê ideia de tempo:
O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente Bons eram os tempos quando podíamos jogar videoga-
pronomes relativos, por isso são utilizados didaticamente me.
para verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” (que
podem ter várias classificações) são pronomes relativos. Os pronomes relativos permitem reunir duas orações
Todos eles são usados com referência à pessoa ou coisa numa só frase.
por motivo de clareza ou depois de determinadas preposi- O futebol é um esporte. / O povo gosta muito deste es-
ções: Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, porte.
o qual me deixou encantado. O uso de “que”, neste caso, = O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.
geraria ambiguidade. Veja: Regressando de São Paulo, visitei
o sítio de minha tia, que me deixou encantado (quem me Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode
deixou encantado: o sítio ou minha tia?). ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas gente que conversava, (que) ria, observava.
dúvidas? (com preposições de duas ou mais sílabas utiliza-
-se o qual / a qual)
1.8.6 PRONOMES INTERROGATIVOS
São usados na formulação de perguntas, sejam elas di-
O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, e
retas ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos,
se refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas deixou
referem-se à 3.ª pessoa do discurso de modo impreciso.
de ser poeta, que era a sua vocação natural.
São pronomes interrogativos: que, quem, qual (e variações),
O pronome “cujo”: exprime posse; não concorda com o
quanto (e variações).
seu antecedente (o ser possuidor), mas com o consequente
Com quem andas?
(o ser possuído, com o qual concorda em gênero e núme-
ro); não se usa artigo depois deste pronome; “cujo” equiva- Qual seu nome?
le a do qual, da qual, dos quais, das quais. Diz-me com quem andas, que te direi quem és.
Existem pessoas cujas ações são nobres.
(antecedente) (consequente) #FicaDica
Se o verbo exigir preposição, esta virá antes do prono- O pronome pessoal é do caso reto quando tem
me: O autor, a cujo livro você se referiu, está aqui! (referiu-se função de sujeito na frase. O pronome pessoal
a) é do caso oblíquo quando desempenha função
de complemento.
“Quanto” é pronome relativo quando tem por antece- 1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar.
dente um pronome indefinido: tanto (ou variações) e tudo: 2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se
Emprestei tantos quantos foram necessá- devia lhe ajudar.
rios.
(antecedente)
Ele fez tudo quanto havia Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele”
falado. exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso
(antecedente) reto. Já na segunda oração, o pronome “lhe” exerce função
O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sempre de complemento (objeto), ou seja, caso oblíquo.
precedido de preposição. Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso.
É um professor a quem muito O pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para
devemos. a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não sabia se
(preposição) devia ajudar... Ajudar quem? Você (lhe).
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou
“Onde”, como pronome relativo, sempre possui ante- tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição,
cedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar: A diferentemente dos segundos, que são sempre precedidos
casa onde morava foi assaltada. de preposição.

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LÍNGUA PORTUGUESA

A) Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que  A próclise é obrigatória quando se utiliza o pro-
eu estava fazendo. nome reto ou sujeito expresso: Eu lhe entregarei o material
B) Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para amanhã. / Tu sabes cantar?
mim o que eu estava fazendo.
1.2 Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS verbo. A mesóclise é usada:
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Quando o verbo estiver no futuro do presente ou fu-
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- turo do pretérito, contanto que esses verbos não estejam
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São precedidos de palavras que exijam a próclise. Exemplos:
Paulo: Saraiva, 2010. Realizar-se-á, na próxima semana, um grande evento em
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- prol da paz no mundo.
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. Repare que o pronome está “no meio” do verbo “reali-
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura, zará”: realizar – SE – á. Se houvesse na oração alguma pa-
Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira lavra que justificasse o uso da próclise, esta prevaleceria.
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – Veja: Não se realizará...
São Paulo: Saraiva, 2002. Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia
SITE nessa viagem.
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf42. (com presença de palavra que justifique o uso de pró-
php clise: Não fossem os meus compromissos, EU te acompa-
nharia nessa viagem).
1. Colocação Pronominal
Colocação Pronominal trata da correta colocação dos 1.3 Ênclise = É a colocação pronominal depois do ver-
pronomes oblíquos átonos na frase. bo. A ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não
forem possíveis:
 Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo:
Quando eu avisar, silenciem-se todos.
#FicaDica  Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal:
Não era minha intenção machucá-la.
Pronome Oblíquo é aquele que exerce a
 Quando o verbo iniciar a oração. (até porque não
função de complemento verbal (objeto). Por
se inicia período com pronome oblíquo).
isso, memorize:
Vou-me embora agora mesmo.
OBlíquo = OBjeto!
Levanto-me às 6h.
 Quando houver pausa antes do verbo: Se eu passo
no concurso, mudo-me hoje mesmo!
Embora na linguagem falada a colocação dos prono-  Quando o verbo estiver no gerúndio: Recusou a
mes não seja rigorosamente seguida, algumas normas de- proposta fazendo-se de desentendida.
vem ser observadas na linguagem escrita.
COLOCAÇÃO PRONOMINAL NAS LOCUÇÕES
1.1 Próclise = É a colocação pronominal antes do ver- VERBAIS
bo. A próclise é usada:
 Quando o verbo estiver precedido de palavras  Após verbo no particípio = pronome depois do
que atraem o pronome para antes do verbo. São elas: verbo auxiliar (e não depois do particípio):
A) Palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém, Tenho me deliciado com a leitura!
jamais, etc.: Não se desespere! Eu tenho me deliciado com a leitura!
B) Advérbios: Agora se negam a depor. Eu me tenho deliciado com a leitura!
C) Conjunções subordinativas: Espero que me expli-  Não convém usar hífen nos tempos compostos e
quem tudo! nas locuções verbais:
D) Pronomes relativos: Venceu o concurseiro que se es- Vamos nos unir!
forçou. Iremos nos manifestar.
E) Pronomes indefinidos: Poucos te deram a oportuni-  Quando há um fator para próclise nos tempos
dade. compostos ou locuções verbais: opção pelo uso do pro-
F) Pronomes demonstrativos: Isso me magoa muito. nome oblíquo “solto” entre os verbos = Não vamos nos
 Orações iniciadas por palavras interrogativas: preocupar (e não: “não nos vamos preocupar”).
Quem lhe disse isso?
 Orações iniciadas por palavras exclamativas: EMPREGO DE O, A, OS, AS
Quanto se ofendem!  Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral,
 Orações que exprimem desejo (orações optati- os pronomes: o, a, os, as não se alteram.
vas): Que Deus o ajude. Chame-o agora.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Deixei-a mais tranquila.


 Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoan- ANOTAÇÕES
tes finais alteram-se para lo, la, los, las. Exemplos:
(Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho.
(Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa. ___________________________________________________
 Em verbos terminados em ditongos nasais (am,
em, ão, õe), os pronomes o, a, os, as alteram-se para no, ___________________________________________________
na, nos, nas.
Chamem-no agora.
___________________________________________________
Põe-na sobre a mesa. ___________________________________________________

#FicaDica ___________________________________________________
Dica da Zê!
Próclise – pró lembra pré; pré é prefixo que significa ___________________________________________________
“antes”! Pronome antes do verbo! ___________________________________________________
Ênclise – “en” lembra, pelo “som”, /Ənd/ (end, em In-
glês – que significa “fim, final!). Pronome depois do verbo! ___________________________________________________
Mesóclise – pronome oblíquo no Meio do verbo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ___________________________________________________
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. ___________________________________________________
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce- ___________________________________________________
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010. ___________________________________________________

SITE ___________________________________________________
http://www.portugues.com.br/gramatica/colocacao-
-pronominal-.html
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Observação: Não foram encontradas questões abran-
gendo tal conteúdo. ___________________________________________________

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

- Aplicação da Lei penal......................................................................................................................................................................................... 01


Teoria Geral do Crime. Tipicidade, ilicitude e culpabilidade.................................................................................................................... 05
Concurso de pessoas.............................................................................................................................................................................................. 16
Concurso de Crimes. .............................................................................................................................................................................................. 16
Imputabilidade penal.............................................................................................................................................................................................. 16
Espécies de crimes: crimes contra a pessoa;.................................................................................................................................................. 17
crimes contra o patrimônio;................................................................................................................................................................................. 24
crimes contra os costumes;.................................................................................................................................................................................. 35
crimes contra a família;.......................................................................................................................................................................................... 38
crimes contra a paz pública; crimes contra a saúde pública;.................................................................................................................. 39
crimes contra a fé pública;.................................................................................................................................................................................... 41
crimes contra a administração pública............................................................................................................................................................ 44
Leis extravagantes: Lei de tortura (9.455/97);................................................................................................................................................ 51
Lei de entorpecente (Lei 6.368/76);................................................................................................................................................................... 53
Lei de abuso de autoridade (4.898/65);........................................................................................................................................................... 68
estatuto da criança e do adolescente (Lei 8.069/90);................................................................................................................................. 73
código de trânsito brasileiro (Lei 9.503/97);................................................................................................................................................127
Lei dos juizados especiais criminais (Lei 9.099/95);...................................................................................................................................142
dos crimes contra o meio ambiente (Lei 9.605/98);..................................................................................................................................154
dos crimes contra o consumidor (Lei 8.078);...............................................................................................................................................162
crimes de lavagem de dinheiro (Lei 9.613/98);...........................................................................................................................................180
estatuto do desarmamento (Lei 10.826/03);................................................................................................................................................186
crimes hediondos (Lei 8.072/90).......................................................................................................................................................................193
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Lugar do crime

- APLICAÇÃO DA LEI PENAL. Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em


que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem
como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

A APLICAÇÃO DA LEI PENAL Extraterritorialidade

Dispõe o Código Penal: Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometi-
dos no estrangeiro:
PARTE GERAL I - os crimes:
TÍTULO I a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da Re-
DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL pública;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do
Anterioridade da Lei Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de
empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina.
ou fundação instituída pelo Poder Público;
Não há pena sem prévia cominação legal.
c) contra a administração pública, por quem está a seu
serviço;
Lei penal no tempo
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei domiciliado no Brasil;
posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude II - os crimes:
dela a execução e os efeitos penais da sentença condena- a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou
tória. a reprimir;
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer b) praticados por brasileiro;
modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, c) praticados em aeronaves ou embarcações brasilei-
ainda que decididos por sentença condenatória transitada ras, mercantes ou de propriedade privada, quando em ter-
em julgado. ritório estrangeiro e aí não sejam julgados.
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segun-
Lei excepcional ou temporária do a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no
estrangeiro.
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora de- § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira
corrido o período de sua duração ou cessadas as circuns- depende do concurso das seguintes condições:
tâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado a) entrar o agente no território nacional;
durante sua vigência. b) ser o fato punível também no país em que foi pra-
ticado;
Tempo do crime c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei
brasileira autoriza a extradição;
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou
da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do não ter aí cumprido a pena;
resultado.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou,
por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segun-
Territorialidade do a lei mais favorável.
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de con-
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime co-
venções, tratados e regras de direito internacional, ao crime
metido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se,
cometido no território nacional. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 1984) reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como ex- a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
tensão do território nacional as embarcações e aeronaves b) houve requisição do Ministro da Justiça.
brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo
brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as ae- Pena cumprida no estrangeiro
ronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de pro-
priedade privada, que se achem, respectivamente, no espa- Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a
ço aéreo correspondente ou em alto-mar. (Redação dada pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diver-
pela Lei nº 7.209, de 1984) sas, ou nela é computada, quando idênticas.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes pra- Eficácia de sentença estrangeira
ticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras
de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da
território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspon- lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências,
dente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. pode ser homologada no Brasil para:

1
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

I - obrigar o condenado à reparação do dano, a resti- Interpretação quanto ao resultado


tuições e a outros efeitos civis;
II - sujeitá-lo a medida de segurança. declarativa ou declaratória- é aquela em que a letra
Parágrafo único - A homologação depende: a) para da lei corresponde exatamente àquilo que a ela quis dizer,
os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte inte- sem restringir ou estender seu sentido;
ressada; restritiva- a interpretação reduz o alcance das palavras
b) para os outros efeitos, da existência de tratado de da lei para corresponder à intenção do legislador;
extradição com o país de cuja autoridade judiciária ema- extensiva- amplia o alcance das palavras da lei para
nou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do corresponder à sua vontade.
Ministro da Justiça.
Interpretação sui generis
Contagem de prazo
A interpretação sui generis pode ser exofórica ou en-
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do dofórica. Veja-se:
prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calen-
dário comum. exofórica- o significado da norma interpretativa não
está no ordenamento normativo (exemplo: erro de tipo);
Frações não computáveis da pena endofórica- o texto normativo interpretado empresta o
sentido de outros textos do próprio ordenamento jurídico
Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liber- (muito usada nas normas penais em branco).
dade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na
pena de multa, as frações de cruzeiro. Interpretação conforme a Constituição
Legislação especial A Constituição Federal informa e conforma as normas
hierarquicamente inferiores. Esta é uma importante forma
Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos de interpretação no Estado Democrático de Direito.
fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de
modo diverso.
Distinção entre interpretação extensiva e interpretação
analógica
Interpretação da Lei Penal
A interpretação é medida necessária para que com-
Enquanto a interpretação extensiva amplia o alcance
preendamos o verdadeiro sentido da norma e seu alcance.
das palavras, a analógica fornece exemplos encerrados de
Na interpretação, há lei para regular o caso em con-
forma genérica, permitindo ao juiz encontrar outras hipó-
creto, assim, apenas deverá ser extraído do conteúdo nor-
teses, funcionando como uma analogia in malan partem
mativo sua vontade e seu alcance para que possa regular
o fato jurídico. admitida pela lei.

1. Interpretação quanto ao sujeito Rogério Greco fala em interpretação extensiva em sen-


Autêntica ou legislativa- aquela fornecida pela própria tido amplo, a qual abrange a interpretação extensiva em
lei (exemplo: o art. 327 do CP define quem pode ser consi- sentido estrito e interpretação analógica.
derado funcionário público para fins penais);
doutrinária ou científica- aquela aduzida pelo jurista Analogia
por meio de sua doutrina;
Jurisprudencial- é o significado da lei dado pelos Tri- Analogia não é forma de interpretação, mas de inte-
bunais (exemplo: súmulas) Ressalte-se que a Exposição gração de lacuna, ou seja, sendo omissa a lei acerca do
dos Motivos do Código Penal configura uma interpretação tema, ou ainda em caso da Lei não tratar do tema em espe-
doutrinária, pois foi elaborada pelos doutos que criaram o cífico o magistrado irá recorrer ao instituto. São pressupos-
Código, ao passo que a Exposição de Motivos do Código tos da analogia: certeza de que sua aplicação será favorável
de Processo Penal é autêntica ou legislativa, pois foi criada ao réu; existência de uma efetiva lacuna a ser preenchida
por lei.2. Interpretação quanto ao modo (omissão involuntária do legislador).
- gramatical, filológica ou literal- considera o sentido
literal das palavras;
- teleológica- se refere à intenção objetivada pela lei Irretroatividade da Lei Penal
(exemplo: proibir a entrada de acessórios de celular, mes-
mo que a lei se refira apenas ao aparelho); Dita o Código Penal em seu artigo 2º:
- histórica- indaga a origem da lei;
- sistemática- interpretação em conjunto com a legis- Art. 2.“Ninguém pode ser punido por fato que lei pos-
lação em vigor e com os princípios gerais do direito; terior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela
- progressiva ou evolutiva- busca o significado legal a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”.
de acordo com o progresso da ciência.

2
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

O parágrafo único do artigo trata da exceção a regra Em se tratando de extra-atividade da lei penal, obser-
da irretroatividade da Lei, ou seja, nos casos de benefício va-se a ocorrência das seguintes situações:
ao réu, ainda que os fatos já tenham sidos decididos por a) “Abolitio criminis” – trata-se da supressão da figu-
sentença condenatória transitada em julgado. ra criminosa;
Outrossim, o Código dispõe que a Lei Penal só retroa- b) “Novatio legis in melius” ou “lex mitior” – é a lei
girá em benefício do réu. penal mais benigna;
Frise-se todavia que tal regra restringe-se somente às Tanto a “abolitio criminis” como a “novatio legis in me-
normas penais. lius”, aplica-se o principio da retroatividade da Lei penal
mais benéfica.
Do Princípio da Legalidade
A Lei nº 11.106 de 28 de março de 2006 descriminalizou
Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina. Não os artigos 217 e 240, do Código Penal, respectivamente, os
há pena sem prévia cominação legal. crimes de “sedução” e “adultério”, de modo que o sujeito
que praticou uma destas condutas em fevereiro de 2006,
Princípio: Nullum crimen, nulla poena sine praevia lege por exemplo, não será responsabilizado na esfera penal.
Segundo a maior parte da doutrina, a Lei nº 11.106
Constituição Federal, art. 5º, XXXIX. de 28 de março de 2006, não descriminalizou o crime de
rapto, previsto anteriormente no artigo 219 e seguintes do
Princípio da legalidade: a maioria dos nossos autores Código Penal, mas somente deslocou sua tipicidade para
considera o princípio da legalidade sinônimo de reserva o artigo 148 e seguintes (“sequestro” e “cárcere privado”),
legal. houve, assim, uma continuidade normativa atípica.
A “abolitio criminis” faz cessar a execução da pena e
A doutrina, orienta-se maciçamente no sentido de não todos os efeitos penais da sentença.
haver diferença conceitual entre legalidade e reserva legal. A Lei 9.099/99 trouxe novas formas de substituição de
Dissentindo desse entendimento o professor Fernando Ca- penas e, por consequência, considerando que se trata de
pez diz que o princípio da legalidade é gênero que com- “novatio legis in melius” ocorreu retroatividade de sua vi-
preende duas espécies: reserva legal e anterioridade da lei gência a fatos anteriores a sua publicação.
penal. Com efeito, o princípio da legalidade corresponde
aos enunciados dos arts. 5º, XXXIX, da Constituição Federal c) “Novatio legis in pejus” – é a lei posterior que
e 1º do Código Penal (“não há crime sem lei anterior que o agrava a situação;
defina, nem pena sem prévia cominação legal”) e contém, d) “Novatio legis incriminadora” – é a lei posterior
nele embutidos, dois princípios diferentes: o da reserva le- que cria um tipo incriminador, tornando típica a conduta
gal, reservando para o estrito campo da lei a existência do antes considerada irrelevante pela lei penal.
crime e sua correspondente pena (não há crime sem lei A lei posterior não retroage para atingir os fatos prati-
que o defina, nem pena sem prévia cominação legal), e o cados na vigência da lei mais benéfica (“Irretroatividade da
da anterioridade, exigindo que a lei esteja em vigor no mo- lei penal”). Contudo, haverá extratividade da lei mais bené-
mento da prática da infração penal (lei anterior e prévia co- fica, pois será válida mesmo após a cessação da vigência
minação). Assim, a regra do art. 1º, denominada princípio (Ultratividade da Lei Penal).
da legalidade, compreende os princípios da reserva legal e Ressalta-se, por fim, que aos crimes permanentes e
da anterioridade. continuados, aplica-se a lei nova ainda que mais grave, nos
termos da Súmula 711 do STF.
LEI PENAL NO TEMPO
A lei penal não pode retroagir, o que é denominado Do Tempo Do Crime
como irretroatividade da lei penal. Contudo, exceção à nor- Artigo 4º, do Código Penal
ma, a Lei poderá retroagir quando trouxer benefício ao réu.
A respeito do tempo do crime, existem três teorias:
Em regra, aplica-se a lei penal a fatos ocorridos durante a) Teoria da Atividade – O tempo do crime consiste no
sua vigência, porém, por vezes, verificamos a “extrativida- momento em que ocorre a conduta criminosa;
de” da lei penal. b) Teoria do Resultado – O tempo do crime consiste
A extratividade da lei penal se manifesta de duas ma- no momento do resultado advindo da conduta criminosa;
neiras, ou pela ultratividade da lei ou retroatividade da lei. c) Teoria da Ubiquidade ou Mista – O tempo do crime
Assim, considerando que a extra atividade da lei penal consiste no momento tanto da conduta como do resultado
é o seu poder de regular situações fora de seu período de que adveio da conduta criminosa.
vigência, podendo ocorrer seja em relação a situações pas- O Artigo 4º do Código Penal dispõe que:
sadas, seja em relação a situações futuras. Artigo 4º: Considera-se praticado o crime no momento
Quando a lei regula situações passadas, fatos anterio- da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
res a sua vigência, ocorre a denominada retroatividade. Já, resultado (Tempus regit actum). Assim, aplica-se a teoria
se sua aplicação se der para fatos após a cessação de sua da atividade, nos termos do sistema jurídico instituído pelo
vigência, será chamada ultratividade. Código Penal.

3
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

O Código Penal vigente seguiu os moldes do Código O Território nacional abrange todo o espaço em que
Penal português em que também é adotada a Teoria da o Estado exerce sua soberania: o solo, rios, lagos, mares
Atividade para o tempo do crime. Em decorrência disso, interiores, baías, faixa do mar exterior ao longo da costa (12
aquele que praticou o crime no momento da vigência da milhas) e espaço aéreo.
lei anterior terá direito a aplicação da lei mais benéfica.
O menor de 18 anos, por exemplo, não será considerado Os § 1º e 2º do art. 5ºdo Código Penal esclarecem ain-
imputável mesmo que a consumação ocorrer quando ti- da que:
ver completado idade equivalente a maioridade penal. E,
também, o deficiente mental será imputável, se na época “Para os efeitos penais, consideram-se como extensão
da ação era consciente, tendo sofrido moléstia mental tão do território nacional as embarcações e aeronaves brasilei-
somente na época do resultado. ras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro
Novamente, observa-se a respeito dos crimes perma- onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e
nentes, tal como o sequestro, nos quais a ação se prolonga as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
no tempo, de modo que em se tratando de “novatio legis privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo
in pejus”, nos termos da Súmula 711 do STF, a lei mais gra- correspondente ou em alto-mar” (§ 1º).
ve será aplicada.
“É também aplicável a lei brasileira aos crimes prati-
Lei Excepcional ou Temporária cados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras
(art. 3º do Código Penal) de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no
território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspon-
Lei excepcional é aquela feita para vigorar em épocas dente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil” (§ 2º).
es¬peciais, como guerra, calamidade etc. É aprovada para
vigorar enquanto perdurar o período excepcional. Extraterritorialidade
(art. 7º do Código Penal)
Lei temporária é aquela feita para vigorar por deter-
minado tempo, estabelecido previamente na própria lei. É a possibilidade de aplicação da lei penal brasileira a
Assim, a lei traz em seu texto a data de cessação de sua fatos criminosos ocorridos no exterior.
vigência.
Princípios norteadores:
Nessas hipóteses, determina o art. 3º do Código Penal a) Princípio da nacionalidade ativa. Aplica-se a lei na-
que, embora cessadas as circunstâncias que a determina- cional do autor do crime, qualquer que tenha sido o local
ram (lei excepcional) ou decorrido o período de sua dura- da infração.
ção (lei temporária), aplicam-se elas aos fatos praticados b) Princípio da nacionalidade passiva. A lei nacional do
durante sua vigência. São, portanto, leis ultra-ativas, pois autor do crime aplica-se quando este for praticado contra
regulam atos praticados durante sua vigência, mesmo após bem jurídico de seu próprio Estado ou contra pessoa de
sua revogação. sua nacionalidade.
c) Princípio da defesa real. Prevalece a lei referente à
LEI PENAL NO ESPAÇO nacionalidade do bem jurídico lesado, qualquer que tenha
Territorialidade sido o local da infração ou a nacionalidade do autor do
(art. 5º do Código Penal) delito. É também chamado de princípio da proteção.
d) Princípio da justiça universal. Todo Estado tem o di-
Há várias teorias para fixar o âmbito de aplicação da reito de punir qualquer crime, seja qual for a nacionalidade
norma penal a fatos cometidos no Brasil: do sujeito ativo e passivo, e o local da infração, desde que
o agente esteja dentro de seu território (que tenha voltado
a) Princípio da territorialidade. A lei penal só tem apli- a seu país, p. ex.).
cação no território do Estado que a editou, pouco impor- e) Princípio da representação. A lei nacional é aplicá-
tando a nacionalidade do sujeito ativo ou passivo. vel aos crimes cometidos no estrangeiro em aeronaves e
embarcações privadas, desde que não julgados no local do
b) Princípio da territorialidade absoluta. Só a lei nacio- crime.
nal é aplicável a fatos cometidos em seu território. Já vimos que o princípio da territorialidade temperada
c) Princípio da territorialidade temperada. A lei nacio- é a regra em nosso direito, cujas exceções se iniciam no
nal se aplica aos fatos praticados em seu território, mas, próprio art. 5º (decorrentes de tratados e convenções, nas
excepcionalmente, permite-se a aplicação da lei estrangei- quais a lei estrangeira pode ser aplicada a fato cometido
ra, quando assim estabelecer algum tratado ou convenção no Brasil). O art. 7º, por sua vez, traça as seguintes regras
internacional. Foi este o princípio adotado pelo art. 5º do referentes à aplicação da lei nacional a fatos ocorridos no
Código Penal: Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de exterior:
convenções, tratados e regras de direito internacional, ao
crime cometido no território nacional. O art. 7º, por sua vez, traça as seguintes regras referen-
tes à aplicação da lei nacional a fatos ocorridos no exterior:

4
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no


estrangeiro:
TEORIA GERAL DO CRIME. TIPICIDADE,
I - os crimes: ILICITUDE E CULPABILIDADE.
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da Re-
pública;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do
Distri¬to Federal, de Estado, de Território, de Município, de O ato ilícito penal é tipificado pelo Direito Penal, ou
empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia seja, só pratica o ato ilícito penal gerador da responsabili-
ou fundação instituída pelo Poder Público; dade penal o indivíduo que contraria o tipo penal especí-
c) contra a administração pública, por quem está a seu- fico. Não podemos esquecer que tipo penal é a descrição
servIço; legal de uma conduta definida como crime. Quem diz que
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou do- um fato é crime e estabelece uma pena para a prática deste
miciliado no Brasil; é o legislador.
II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou No Brasil é adotada formalmente, a teoria bipartida do
a reprimir; crime.
b) praticados por brasileiro; Destarte, conforme dispõe a Lei de Introdução ao Có-
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasilei- digo Penal, crime é a infração penal a que a Lei comine
ras, mercantes ou de propriedade privada, quando em ter- pena de reclusão ou detenção e multa, alternativa, cumu-
ritório es¬trangeiro e aí não sejam julgados. lativa ou isoladamente. Já contravenção é a infração a que
§ 1 Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a Lei comine pena de prisão simples e multa, alternativa,
a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no es- cumulativa ou isoladamente.
trangeiro Entretanto, tal conceito é extremamente precário, ca-
§ 2 Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira bendo à doutrina seu desenvolvimento.
depende do concurso das seguintes condições: O crime possui três conceitos principais, material, for-
a) entrar o agente no território nacional; mal e analítico.
b) ser o fato punível também no país em que foi prati- a) Conceito material: crime seria toda a ação ou omis-
cado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a são humana que lesa ou expõe a perigo de lesão bens ju-
lei brasileira autoriza a extradição; rídicos protegidos pelo Direito Penal, ou penalmente tute-
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou lados.
não ter aí cumprido a pena; b) Conceito formal ou jurídico: é aquilo que a Lei cha-
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, ma de crime. Está definido no art. 1º da Lei de Introdução
por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segun- do Código Penal. Crime é toda infração a que a Lei comina
do a lei mais favorável. pena de reclusão ou detenção e multa, isolada, cumula-
§ 3º A lei brasileira aplica-se também ao crime cometi- tiva ou alternativamente. De acordo com este conceito, a
do por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reu- diferença seria apenas quantitativa, relativa à quantidade
nidas as condições previstas no parágrafo anterior: da pena;
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; c) Conceito analítico: aqui se analisa todos os elemen-
b) houve requisição do Ministro da Justiça. tos que integram o crime. Crime é todo fato típico, antiju-
rídico (é melhor utilizar o termo ilícito, apesar de não fazer
Percebe-se, portanto, que: tanta diferença, já que fica mais fácil manejar o CP e as leis
a) no art. 72, I, a, b e c, foi adotado o princípio da defesa especiais quando há excludentes de ilicitude) e culpável
real; (alguns autores não consideram a culpabilidade como ele-
b) no art. 72, 11, a, foi adotado o princípio da justiça mento do crime, e sim como pressuposto da pena). Apesar
universal de ser indivisível, o crime é estudado de acordo com essas
c) no art. 72, 11, b, foi adotado o princípio da naciona- três características para facilitar sua compreensão. Elas se-
lidade ativa; rão analisadas mais adiante, após vermos as classificações
d) no art. 72, c, adotou-se o princípio da representação; de crime existentes.
e) no art. 72, § 32, foi também adotado o princípio da
defe¬sa real ou proteção; CRIME DOLOSO, CULPOSO OU PRETERDOLOSO (ou
Dos dispositivos analisados, pode-se perceber que a Preterintencional) e de Ímpeto
extraterritorialidade pode ser incondicionada (quando a lei a) Crime doloso: é o crime em que o agente quis ou
brasileira é aplicada a fatos ocorridos no exterior, sem que assumiu o risco de produzir o resultado. A regra geral é que
sejam exigidas condições) ou condicionada (quando a apli- todo crime seja doloso.
cação da lei pátria a fatos ocorridos fora de nosso território b) Crime preterdoloso: é o crime em que o resultado
depende da existência de certos requisitos). A extraterrito- delitivo é mais grave do que o querido pelo agente. Ele
rialidade é condicionada nas hipóteses do art. 7º, II e § 3º. praticou uma conduta dolosa, entretanto o resultado final
é culposo. Não se admite tentativa em crimes preterdolo-

5
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

sos. Há dolo na ação e culpa na consequência. Deve ha- Poder agir: o agente precisa ter a possibilidade física
ver uma expressa previsão legal do resultado culposo mais de agir.
grave. Se não houver, punir-se-á apenas o crime doloso ou, Evitabilidade do resultado: a conduta omitida pelo
se houver crime culposo após, haverá concurso formal, se este agente deve ser causa do resultado. Caso, mesmo com a
estiver previsto em Lei. conduta, o resultado tivesse se verificado, não haveria que
Todos os crimes preterdolosos são qualificados pelo re- se falar em evitabilidade.
sultado, porém, nem todo crime qualificado pelo resultado é Dever de impedir o resultado: aqui surge a figura do
preterdoloso (visto que o resultado qualificador pode ter sido garantidor: além de poder agir e da evitabilidade do resul-
desejado). tado, é necessário que o agente tenha o dever de agir que
São elementos do crime preterdoloso: surgirá nos seguintes casos:
i. Conduta dolosa visando determinado resultado (lesão a. Ter, por Lei, obrigação de cuidado, proteção ou vi-
corporal); gilância, como no caso do dever do policial, do dever de
ii. Resultado culposo mais grave que o desejado (seguida mútua assistência entre os cônjuges.
de morte); b. Quando o agente, de outra forma, assumir a respon-
iii. Nexo causal (artigo 129, § 3, CP); sabilidade de impedir o resultado de forma voluntária.
iv. Previsão na norma das elementares do consequente c. Quando o agente cria, com seu comportamento an-
culposo. terior, o risco da ocorrência do resultado, ou agrava um
Quando o resultado mais grave advém de caso fortuito risco já existente, e não o evita.
ou força maior não se imputa a agravação ao agente. O resul-
tado mais grave tem que ser pelo menos culposo. Crime Instantâneo, Permanente, Instantâneo de Efeitos
c) Crime culposo: é o crime ao qual o agente deu causa Permanentes, Eventualmente Permanente e de Fusão
por imprudência, negligência ou imperícia, não havendo em si a) Crime instantâneo: é o crime que se consuma num
qualquer desejo de praticar o resultado juridicamente repro- momento único e determinado do tempo, sem se protrair.
vável. O crime culposo só é possível em tipos penais que ex- V.g, invasão de domicílio, injúria etc.
pressamente o prevejam, como no homicídio. Quase de for- b) Crime permanente: são os crimes que se perpetuam,
ma absoluta, não se admite a tentativa nos crimes culposos. protraem durante o tempo, mesmo que seja curto, como
d) Crime de ímpeto: é o praticado sem premeditação. no caso do sequestro, estelionato previdenciário praticado
A vontade delituosa é repentina, sem preceder deliberação, pelo próprio segurado etc. Admitem flagrante enquanto
como ocorre com o homicídio praticado sob domínio de vio- não interrompida a consumação.
lenta emoção. c) Crime instantâneo de efeitos permanentes: é aquele
crime que se consuma num momento determinado, mas
Relevância da omissão seus efeitos perduram no tempo .
Crime Comissivo, Omissivo Próprio ou Comissivo por d) Crime eventualmente permanente: é o delito ins-
Omissão tantâneo que, em caráter excepcional, pode realizar-se de
a) Crime comissivo: crime comissivo é aquele em que modo a lesionar o bem jurídico de maneira permanente.
o agente realiza uma ação positiva visando a um resultado e) Crime de fusão: é o crime que pressupõe a prática de
ilícito. Crime comissivo não se confunde, por evidente, com outro, como nos casos dos crimes de lavagem de dinheiro
crime material, já que pode não haver qualquer resultado na- e de receptação.
turalístico. Por exemplo, é comissivo o crime de injúria, mas
não é material. O importante é uma conduta da pessoa livre e Crime de Dano e de Perigo
consciente que lhe retire do estado de inércia. a) Crime de dano: crime em que é necessário haver
b) Crime omissivo próprio ou puro: são crimes em que uma efetiva lesão ao bem jurídico (lesão perceptível no
a própria omissão já é prevista no tipo penal, sendo ela uma mundo fático) para se caracterizar, como no caso do furto.
elementar, a única forma de se realizar a conduta criminosa. b) Crime de perigo: crime em que a simples ameaça ao
Nesses crimes omissivos basta a abstenção, é suficiente a de- bem jurídico já é abominada, justificando, assim, sua pe-
sobediência ao dever de agir para que o delito se consume. O nalização.
resultado que eventualmente surgir dessa omissão será irre- Subdivide-se em crime de perigo concreto, crime de
levante para a consumação do crime, podendo apenas con- perigo abstrato e crime de perigo concreto-abstrato.
figurar uma majorante ou qualificadora. O agente desobede- i. Crimes de perigo abstrato: Nos crimes de perigo
ce a uma norma mandamental, norma esta que determina abstrato, como o perigo não é elemento do tipo, não se
a prática de uma conduta subentendida no tipo, que não é precisa provar. Só se tem de provar o que é elementar do
realizada. crime e o perigo não é elementar do crime porque ele não
c) Crime comissivo por omissão, omissivo impróprio ou é requerido no tipo pelo legislador. Consequência: basta
impuro: são os crimes em que o agente produz o resultado praticar a ação e se presume que ela é sempre perigosa.
pela própria omissão, após ter assumido o dever de evitá-lo Haveria então uma presunção iure et de iure de perigo pela
ou outras das causas previstas no CP. É previsto no § 2º do simples realização da conduta tipificada na norma. É o caso
artigo 13 do Código Penal, segundo o qual “a omissão é pe- de dirigir embriagado em via pública.
nalmente relevante quando o agente devia e podia agir para ii. Crimes de perigo concreto: e os crimes de perigo
evitar o resultado. Poderão ser tanto dolosos quanto cul- concreto? Neles o legislador faz referência no tipo ao pe-
posos, admitem tentativa etc. São pressupostos do crime rigo. Normalmente a forma de redigir um tipo de perigo
omissivo impróprio: concreto é assim: “expor a perigo iminente”.

6
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

O perigo então é elementar do tipo e, por isso, tem que Crime Material, Formal e de Mera Conduta ou de Ati-
ser provado. Nesses crimes será possível que a conduta se vidade
realize e o perigo não seja causado. a) Crime material: é o crime cujo tipo penal descreve
iii. Crimes de perigo abstrato-concreto crimes de inido- uma conduta e um resultado, o qual necessariamente deve
neidade crimes de perigo idôneo crimes de perigo hipoté- ser verificado, sob pena de se constituir em mera tentativa.
tico: são aqueles em que a conduta analisada ex ante pelo Exemplo: homicídio. A conduta é matar; o resultado é a
legislador é considerada perigosa ao bem jurídico segundo morte. Caso a vítima não morra, não existe homicídio.
um juízo de probabilidade do dano. Não exige demonstra- b) Crime formal ou de consumação antecipada: é o cri-
ção de risco ao bem. Também não coloca como elementar me em que, mesmo sendo possível um resultado naturalís-
no tipo incriminador. Não coloca no tipo incriminador a tico que lese o bem jurídico, o tipo penal adianta a punição
exigência de perigo. Não se diferencia muito cabalmente aos atos de consumação. Exemplo: extorsão: a simples prá-
dos crimes de perigo abstrato. Nos dois há ponto comum: tica da constrição já faz o delito se consumar, independen-
periculosidade geral. temente da pessoa auferir ou não a vantagem indevida.
c) Crime de mera conduta ou de atividade: nesses cri-
Crimes de Perigo Abstrato: Aprofundamentos mes, não só não há resultado naturalístico como é impos-
Apesar da existência de ampla controvérsia doutriná- sível que este aconteça. O tipo penal descreve a conduta
ria, os crimes de perigo abstrato podem ser identificados proibida, quase sempre de perigo abstrato. Exemplo clás-
como aqueles em que não se exige nem a efetiva lesão ao sico é o porte de arma sem autorização. O simples portar
bem jurídico protegido pela norma nem a configuração do arma em nada modifica o mundo real.
perigo em concreto a esse bem jurídico.
Nessa espécie de delito, o legislador penal não toma Crime Unissubjetivo e Plurissubjetivo
como pressuposto da criminalização a lesão ou o perigo a) Crime unissubjetivo: é o crime que pode ser prati-
de lesão concreta a determinado bem jurídico. Baseado em cado por qualquer pessoa, sozinha, sem auxílio. Em regra,
dados empíricos, o legislador seleciona grupos ou classes todo crime é unissubjetivo.
de ações que geralmente levam consigo o indesejado pe- b) Crime plurissubjetivo: é o crime para cuja realização
necessita-se de pelo menos duas pessoas, como a bigamia
rigo ao bem jurídico.
e a formação de quadrilha. Pode ser de condutas conver-
Assim, os tipos de perigo abstrato descrevem ações
gentes, contrapostas ou paralelas.
que, segundo a experiência, produzem efetiva lesão ou pe-
rigo de lesão a um bem jurídico digno de proteção penal,
Crime Unissubsistente, Plurissubsistente e Pluriofensi-
ainda que concretamente essa lesão ou esse perigo de le-
vo
são não venham a ocorrer. O legislador, dessa forma, for-
a) Crime unissubsistente: é o crime cuja consumação
mula uma presunção absoluta a respeito da periculosidade
ocorre mediante um único ato, não sendo admitido seu
de determinada conduta em relação ao bem jurídico que
fracionamento, sendo impossível a tentativa. A conduta se
pretende proteger. O perigo, nesse sentido, não é concre- esgota com a concretização do delito. V.g., injúria, calúnia
to, mas apenas abstrato. Não é necessário, portanto, que, e difamação na forma verbal. Neles não há um iter criminis
no caso concreto, a lesão ou o perigo de lesão venham a perfeito, a pessoa não tem a possibilidade de arrependi-
se efetivar. O delito estará consumado com a mera conduta mento eficaz.
descrita no tipo. b) Crime plurissubsistente: é o crime para cuja consu-
mação podem ser realizados mais de um ato, como no ho-
A atividade legislativa de produção de tipos de perigo micídio. Entretanto, esse crime poderá ser realizado com
abstrato, por isso, deve ser objeto de rígida fiscalização a apenas um ato. A diferença para o unissubsistente é que
respeito da sua constitucionalidade; especificamente, so- aquele somente poderá, necessariamente, ser realizado
bre sua adequação ao princípio da proporcionalidade. A apenas com um ato. Logo, em regra os crimes são plu-
criação de crimes de perigo abstrato não representa, por rissubsistentes. Exatamente por isso, a conduta pode ser
si só, comportamento inconstitucional por parte do legis- fracionada, permitindo a tentativa.
lador penal. A tipificação de condutas que geram perigo c) Crime pluriofensivo: é o que lesa ou expõe a perigo
em abstrato, muitas vezes, acaba sendo a melhor alterna- de dano mais de um bem jurídico.
tiva, ou a medida mais eficaz, para proteção de bens jurí-
dico-penais supraindividuais ou de caráter coletivo, como Crime Comum, Próprio, Próprio Impuro, Bipróprio, de
o meio ambiente, por exemplo. A antecipação da prote- Mão Própria e de Acumulação
ção penal em relação à efetiva lesão torna mais eficaz, em a) Crime comum: é o crime que pode ser praticado por
muitos casos, a proteção do bem jurídico. Portanto, pode qualquer pessoa, independentemente de alguma qualida-
o legislador, dentro de suas amplas margens de avaliação de especial que ela tenha.
e de decisão, definir quais as medidas mais adequadas e b) Crime próprio: é o crime que somente pode ser pra-
necessárias para a efetiva proteção de determinado bem ticado por uma pessoa que detenha determinada caracte-
jurídico, o que lhe permite escolher espécies de tipificação rística, como no caso do peculato, em que o agente deve,
próprias de um direito penal preventivo. necessariamente, ser servidor público. Também se analisa a
propriedade do crime com base numa característica espe-

7
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

cial do sujeito passivo. Essa classificação também é chama- objetiva temperada, só seria de se reconhecer o crime im-
da de crimes especiais próprios. Se for exigida caracterís- possível, por exemplo, após a arma utilizada para um roubo
tica especial tanto do agente quanto da vítima, fala-se em ser periciada. Se chegar à conclusão de que a arma que foi
crime duplamente próprio. acionada não disparou e nunca dispararia por ser defei-
c) Crime próprio impuro: o crime próprio impuro é tuosa, seria caso de crime impossível. Porém, se essa arma,
aquele que, se desaparecer a qualidade particular do agen- uma vez apreendida e submetida à perícia, for revelada
te (que é exigida para configuração do crime próprio), de- como apta a produzir disparos, tendo o insucesso do rou-
saparece também o crime especial. Entretanto, ocorrerá bo decorrido unicamente de seu emperramento episódico,
a desclassificação da conduta para outro delito, que terá o meio será relativamente ineficaz, merecendo o agente,
natureza diversa. Assim, a falta de uma elementar torna pois, punição pela tentativa. Essa foi a opção adotada pelo
o crime próprio puro absolutamente atípico, enquanto o legislador brasileiro.
crime próprio impuro, relativamente atípico. Essa classifi-
cação também é chamada de crimes especiais impróprios . Teoria sintomática ou subjetiva: defende que o agente
d) Crime bipróprio: aquele que exige uma especial deve ser punido, mesmo em caso de crime impossível, por-
qualidade, tanto do sujeito ativo como do sujeito passivo que demonstrou periculosidade, disposição para agredir
do delito. um bem jurídico. Nesse caso, ele seria punido pela inten-
e) Crime de mão própria: é o crime em que o agente ção, e não por algum fato. Não é adotada no Brasil.
deve praticar a execução diretamente, não se admitindo a b) Crime putativo (delito de alucinação): no crime puta-
prática por interposta pessoa. V.g., bigamia, prática de atos tivo, o agente pratica uma conduta acreditando estar prati-
obscenos, falso testemunho. cando um ilícito penal, quando, de fato, sua ação não está
d) Crimes de acumulação: fruto de uma controversa tipificada.
tendência de política criminal voltada à prevenção de ilí- O crime putativo pode ocorrer nas seguintes hipóteses:
citos. Neles, o legislador incrimina uma conduta que, indi- -Crime putativo por erro de proibição: o agente acredi-
vidualmente considerada, não encerra um risco jurídico ao ta ofender uma lei penal que não existe realmente. A exis-
bem tutelado, mas se vier a ser praticada por um conjunto tência da lei incriminadora só existe na mente do agente,
grande de indivíduos, efetivamente lesará tal bem. recaindo o erro, portanto, sobre a ilicitude do fato.
-Crime putativo por erro de tipo: o crime imaginário
se verifica quando o autor acredita ofender uma lei penal
Crime Impossível e Putativo
incriminadora, mas os fatos revelam faltar uma elementar
a) Crime impossível, quase-crime, tentativa inidônea
do tipo. Ou seja, a lei penal existe, entretanto o fato não foi
ou tentativa inadequada: ocorre quando o agente se utiliza
típico. Aqui, há um erro sobre uma circunstância fática, e
de meio absolutamente ineficaz ou objeto absolutamente
não sobre uma questão jurídica.
impróprio para consumar o crime. É o caso da tentativa de
-Crime putativo por obra do agente provocador: deno-
homicídio dando-se um copo de água à vítima na expec-
minado crime de ensaio, crime de experiência ou flagrante
tativa de que ela venha a morrer (meio absolutamente ine- provocado, ocorre quando uma pessoa induz o agente a
ficaz) ou quando se tenta furtar a honra da vítima (objeto cometer uma conduta criminosa e, simultaneamente, ado-
absolutamente impróprio, honra não pode ser furtada). A ta medidas para impedir a consumação. Aqui, incide a sú-
relativa ineficácia do meio e a relativa impropriedade do mula 145 do STF: “Não há crime, quando a preparação do
objeto não afastam a configuração do crime. O crime im- flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”.
possível deve ser analisado após a realização do fato, visto
que algo aparentemente inofensivo pode ter o efeito de Crime Vago, Remetido, Exaurido, Habitual e Habituali-
efetivamente gerar o crime. dade Criminosa
a) Crime vago, multivitimários ou de vítimas difusas:
Acerca do crime impossível há três teorias: crime praticado contra uma coletividade sem personalida-
de jurídica. Por exemplo, o crime de racismo.
Teoria objetiva pura: não distingue entre absoluta ou b) Crime remetido: ocorre quando a sua definição se
relativa impropriedade do objeto ou ineficácia do meio. A remete a outros crimes, que passam a integrá-lo (v.g., art.
teoria dispõe que, não importa saber, por exemplo, se a 304 - fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alte-
arma não funcionou porque nunca funcionaria, ou a arma rados a que se referem os arts. 297 a 302).
não funcionou naquele caso porque, por azar do autor, ela c) Crime exaurido : é aquele já consumado nos termos
emperrou, uma vez que em ambos os casos se estaria dian- da lei, embora possa ter desdobramentos posteriores que
te de um crime impossível. não influenciam no fato típico. Nele, o agente, mesmo após
ter consumado o delito, o leva a consequências mais le-
Teoria objetiva temperada: prima pela distinção entre sivas. Ocorre o exaurimento, v.g., na extorsão, quando o
absoluta ou relativa impropriedade do objeto ou ineficá- agente obtém a vantagem indevida, o que é um indiferente
cia do meio. Essa teoria sustenta que só há perigo ao bem penal (exceto para a reparação do dano).
jurídico apto a fundamentar a punibilidade do crime ten- d) Crime habitual: é aquele crime que exige uma se-
tado quando o objeto ou o meio forem, em tese, aptos à quência de atos para se consumar, tem uma duração con-
produção do resultado, ainda que circunstancialmente não tínua, geralmente indefinida e casuística, no tempo. Crimes
se consiga produzi-lo. Ou seja, em tese, no caso da teoria habituais não se confundem com crimes continuados. Caso

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

a habitualidade cesse antes de findo o resultado, os fatos Crime Transeunte e Não Transeunte
praticados não serão considerados crimes, podendo, no Transeunte vem da palavra transitar; passa a ideia de
máximo, haver punição por tentativa. Ao contrário do que algo que permanece ou não.
se defendo por aí, esses crimes admitem sim o flagrante, É classificação adotada para os crimes que deixam ou
quando a prisão é feita após já se ter verificado o imple- não vestígios. Se deixarem vestígios, é não transeunte; não
mento da habitualidade e a configuração criminosa. Exem- deixando, é transeunte. Como exemplo de crimes não tran-
plo o rufianismo. seuntes tem-se a apropriação indébita previdenciária, cujo
-Habitual próprio: habitual próprio é aquele crime cuja vestígio é exatamente a diminuição da arrecadação de con-
tipicidade depende da reiteração de condutas. No habitual tribuição previdenciária do empregado.
próprio um único ato não é suficiente a dar tipicidade à
conduta, pois a tipicidade decorrerá do somatório dos atos Crime transeunte clássico é a invasão de domicílio.
típicos praticados.
-Habitual impróprio ou acidentalmente habitual: é Crime de Consumação Atípica Impunível
aquele crime que, não obstante a regra seja sua perpetua- È aquele quando o fato consumado é indiferente penal e
ção no tempo para se configurar, permite que um único a forma tentada é punida pelo ordenamento jurídico.
ato seja suficiente para a consumação, em casos extremos,
como ocorre no crime de gestão fraudulenta. Não consti- Superveniência de causa independente
tuirá pluralidade de crimes a repetição de atos.
e) Habitualidade criminosa: a habitualidade criminosa (...)
ocorre quando o agente faz do delito seu meio de vida, § 1º - A superveniência de causa relativamente indepen-
sem que ele queira necessariamente e tenha em mente que dente exclui a imputação quando, por si só, produziu o re-
um crime seja tido por continuação do outro, caso contrá- sultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem
rio haveria continuidade delitiva. Inclusive, o STJ reiterada- os praticou.
mente tem decidido que a habitualidade criminosa impede
o reconhecimento do benefício da continuidade delitiva, já As Novas Causas podem ser absolutamente ou relativa-
que totalmente incompatível com o comportamento social mente independentes da conduta do agente.
do réu, que merece maior reprimenda. Nesse sentido:
Se as Novas Causas forem absolutamente independentes
Crime de Espaço Mínimo, Crime de Espaço Máximo ou da conduta do agente, não importando a conduta do agen-
Plurilocal e Crime à Distância te, o resultado ocorreria do mesmo jeito, o agente responde
a) Crime de espaço mínimo: aquele que é cometido e apenas pela conduta que praticou, mas não pelo resultado.
consumado em um mesmo lugar. Podemos citar como exemplo, o seguinte caso: X quer se sui-
b) Crime de espaço máximo ou plurilocal: aqueles co- cidar e ingere veneno. Posteriormente, Y quer matar X e dá-
metidos em território de duas ou mais comarcas ou seções -lhe um tiro. X morre. Contudo, X morreria de qualquer jeito
judiciárias de um mesmo país. A comarca responsável pelo por ter tomado veneno. Y responde pela conduta (tentativa
julgamento será, em regra, aquela onde ocorreu o resulta- de homicídio) e não pelo resultado (homicídio consumado)
do (teoria prevalente no processo penal), salvo se o crime Se as Novas Causas forem relativamente independentes,
for de menor potencial ofensivo ou tentado, caso em que a em regra o agente responde pelo resultado (i.e., se a conduta
competência é fixada pelo local da conduta. do agente não tivesse ocorrido, o resultado também deixaria
c) Crime à distância: relacionado ao direito internacio- de ocorrer). Há que se analisar se a Nova Causa é anterior,
nal, é aquele em que se pratica a conduta num país e ocor- concomitante ou posterior aos fatos.
re o resultado num outro.
Consumação e Tentativa
Crimes de Tendência (Intenção Especial) e Crimes de
Intenção Crime Consumado
Crimes de tendência ou de intenção especial: neles, o Fundamentado no artigo. 14, inciso I do Código Penal,
tipo penal requer o ânimo de realizar a própria conduta o crime consumado é o tipo penal integralmente realizado,
legalmente prevista, sem necessidade de transcender tal ou seja, quando o tipo concreto amolda-se perfeitamente ao
conduta, como ocorre nos delitos de intenção. É aquele tipo abstrato. De acordo com o artigo 14, I do Código Penal,
que condiciona a sua existência à intenção do sujeito, de- diz-se consumado o crime quando nele se reúnem todos os
vendo necessariamente ser analisado um aspecto subjeti- elementos de sua definição legal. No homicídio, por exem-
vo. Em outras palavras, não se exige que o autor do crime plo, o tipo penal consiste em “matar alguém” (artigo 121 do
deseje um resultado ulterior ao previsto no tipo penal, mas, CP), assim o crime restará consumado com a morte da vítima.
apenas, que confira à ação típica um sentido subjetivo não
previsto expressamente no tipo, mas dedutível da natureza Crime Tentado
do delito. O crime tentado tem fundamentação no artigo 14, inciso
II do Código Penal ocorre quando o agente inicia a execu-
Crime Acessório ou Parasitário ção do delito mas este não se consuma por circunstâncias
É o crime que pressupõe, para a consumação, a prática alheias à sua vontade. De acordo com o parágrafo único
de outro, como a receptação, o favorecimento real e a la- do art. 14, do Código Penal, “salvo disposição em contrário,
vagem de dinheiro. pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime

9
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

consumado, diminuída de um a dois terços”. Para fixar a Intenção do Agente


pena, o magistrado deve usar como critério a maior ou A aplicação prática desses institutos independe de
menor proximidade da consumação, de forma que quanto considerações acerca de intenção nobre ou não do agente.
mais o agente percorrer o “iter criminis”, maior será sua Não é necessário que ele tenha atuado com nobreza, ou
punição. com desprendimento, no momento em que ele praticou
a nova ação, ou no momento em que ele se absteve de
Pena de Crime Consumado e Crime Tentado praticar novas ações. Logo, não se exige sequer a esponta-
neidade na desistência, ou a espontaneidade na nova ação,
Para a punição da tentativa se considera a extensão da no caso do arrependimento eficaz. Se exige, tão somente,
conduta do autor até o momento em que foi interrompida. a voluntariedade no desistir. Ou a voluntariedade no atuar
novamente. Isso para se resguardar o bem jurídico.
Quanto mais próxima da consumação, menor deve ser a
redução (1/3).
Finalidade dos Institutos
De outro lado, quanto mais longe a conduta do autor Esses institutos existem para que não seja frustrada a
ficou da consumação delitiva, maior deve ser a redução da expectativa do Direito Penal como um todo, que é a de
pena (2/3). O Juiz deve fixar a redução dentro desses limi- proteger o bem jurídico. O Direito Penal opta por não pu-
tes, de modo justificado. nir, desde que a pessoa cesse a sua atividade, no caso da
desistência voluntária, ou pratique uma nova atividade, no
Desistência Voluntária ou Tentativa Abandonada caso do arrependimento eficaz. E, com isso, ao cessar ou
(Art. 15, CP) praticar uma nova atividade, evite a lesão ao bem jurídico,
Ocorre quando, após iniciados os atos executórios, evite a produção do resultado.
mas antes de esgotá-los, o agente interrompe a prática cri-
minosa voluntariamente, ainda que por motivos egoísticos. Natureza Jurídica dos Institutos
Deve-se pensar da seguinte forma: “posso prosseguir, mas Há três principais correntes sobre a natureza jurídica:
não quero”. Se isso se configurar, haverá desistência volun- a) Causa de exclusão de tipicidade: O fato praticado é
tária. Somente é possível na tentativa imperfeita ou inaca- atípico, visto que o crime visado pelo agente não foi prati-
bada. Além disso, não é cabível no crime unissubsistente (já cado, por ter sido evitado. Trata-se da tese dominante. So-
que não admite tentativa). mente responderá o agente pelos atos já praticados, desde
De fato, nos crimes unissubsistentes não se admite a que típicos, evidentemente.
b) Causa de extinção da punibilidade: tese sustentada
desistência voluntária (agente interrompe voluntariamente
por Nelson Hungria. No caso de homicídio tentado, a evi-
a execução do crime) porque se praticado o primeiro ato
tação do resultado praticada pelo agente faz surgir uma
ocorre o fim da execução. E, por outro lado, se não pratica- causa de extinção da punibilidade pelo homicídio tentado,
do o primeiro ato, o crime simplesmente não sai da cabeça ao mesmo tempo em que faz surgir uma tipicidade pelos
do agente, não sendo a cogitação punível. atos já praticados, se existir correspondência típica.
A Fórmula de Frank define a desistência voluntária de c) Causa de isenção de pena: defendida por Rogério
forma lapidar. Ela consiste na seguinte expressão: Posso, Greco. Ele adota esse entendimento sob o argumento de
mas não quero continuar. Isso é importantíssimo porque, que, se o ato foi praticado pelo agente, por exemplo, se um
por exemplo, se foram outros fatores que não a própria tiro foi dado na vítima com a intenção de matá-la, não há
vontade do agente que o impediu de continuar, como fica? como um ato posterior tornar atípico um ato que foi típico,
A desistência voluntária, está ligada a uma omissão na como se apagasse acontecimentos passados. Não, para ele
prática de atos complementares que seriam praticados, se- o ato praticado é típico, porém o Direito Penal, com vistas
gundo o plano e que poderiam ter sido praticados, dadas a resguardar o bem jurídico, evitando maiores danos, não
as circunstâncias. faz incidir pena ao agente.

Arrependimento Eficaz Arrependimento Posterior


(art. 15, CP) (Art. 16, CP)
Aqui, o agente exaure a execução do crime, entretanto, Tem natureza jurídica de causa geral de diminuição de
pena. Ele se dá quando, nos crimes cometidos sem violên-
arrepende-se e atua de forma a evitar o resultado. possui
cia ou grave ameaça à pessoa, o agente repare voluntaria-
natureza jurídica de causa geradora da atipicidade. mente o dano até o recebimento da denúncia ou queixa
Considerando que apenas crimes materiais exigem a pelo juiz (não é oferecimento pelo MP), sendo-lhe reduzida
ocorrência do resultado para consumação, somente tem a pena de um a dois terços (se a reparação se der após o
sentido em falar de arrependimento eficaz nesta categoria recebimento, haverá apenas uma atenuante genérica).
de crime. A conduta do agente não precisa ser espontânea De acordo com Von Liszt, enquanto o art. 15 (o arre-
(ele teve a ideia de desistir ou impedir o resultado), mas pendimento eficaz e desistência voluntária) configura uma
apenas voluntária (há vontade própria, ainda advenha da ponte de ouro que o Direito Penal oferece ao delinquente,
sugestão de terceiros). o art. 16 configura a ponte de prata, porque agora ele vai
responder pelo crime. Mas, igualmente, aqui a razão do
Considerações Gerais Acerca da Desistência Voluntária instituto é entre punir completamente e punir menos de
e do Arrependimento Eficaz acordo com a restituição da esfera jurídica alheia.

10
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Com o arrependimento posterior, já fracassou o obje- ser furtada). A relativa ineficácia do meio e a relativa impro-
tivo preventivo do Direito Penal. O bem jurídico já foi le- priedade do objeto não afastam a configuração do crime,
sionado. Porém, ainda resta como alternativa a sua recom- geralmente dando azo à forma tentada. O crime impossível
posição. E aí o Direito Penal oferece para o agente: “olha deve ser analisado após a realização do fato, visto que algo
meu amigo, aqui você já tem que ser punido, porque o aparentemente inofensivo pode ter o efeito de efetivamen-
bem jurídico alheio já foi lesionado. No art. 15 não. Sua te gerar o crime, v.g., quando se dá açúcar a pessoa com
ação impediu a lesão efetiva. Aqui, a lesão já ocorreu. Mas diabetes. Sobre o crime impossível há três teorias:
você pode responder inteiramente, ou você pode respon- i. Teoria objetiva pura: não distingue entre absoluta ou
der com a diminuição de pena, desde que repare a esfera relativa impropriedade do objeto ou ineficácia do meio.
jurídica lesionada. E aí eu vou diminuir a sua pena. Porém, Segundo a teoria objetiva pura, não interessa saber, por
pena eu tenho que aplicar”. exemplo, se a arma não funcionou porque nunca funciona-
São, então, requisitos para seu reconhecimento: ria, ou a arma não funcionou naquele caso porque, por azar
a) A conduta tem que ter produzido o resultado (caso do autor, ela emperrou. Tanto um, quanto em outro caso,
contrário será arrependimento eficaz); se estaria diante de um crime impossível.
b) Voluntariedade; ii. Teoria objetiva temperada: prima pela distinção en-
c) Crimes sem violência ou grave ameaça (tem-se ad- tre absoluta ou relativa impropriedade do objeto ou ine-
mitido o arrependimento posterior nos crimes com violên- ficácia do meio. Essa teoria sustenta que só há perigo ao
cia culposos); bem jurídico apto a fundamentar a punibilidade do crime
d) Arrependimento antes de recebida a denúncia pelo tentado quando o objeto ou o meio forem, em tese, ap-
juiz; tos à produção do resultado, ainda que circunstancialmen-
e) Reparação do dano seja completa (requisito mitiga- te não se consiga produzi-lo. Ou seja, em tese, no caso
do. Vide julgado abaixo). da teoria objetiva temperada, só seria de se reconhecer o
crime impossível, por exemplo, após a arma utilizada para
Presentes os requisitos acima elencados, a incidência um roubo ser periciada. Se chegar à conclusão de que a
da causa de diminuição de pena é direito subjetivo do réu, arma que foi acionada não disparou e nunca dispararia por
e não uma faculdade do juiz.
ser defeituosa, seria caso de crime impossível. Porém, se
O agente será beneficiado pelo arrependimento pos-
essa arma, uma vez apreendida e submetida à perícia, for
terior mesmo que somente repare o dano por ter sido des-
revelada como apta a produzir disparos, tendo o insuces-
coberto pela polícia. Isso visa resguardar a vítima, melhorar
so do roubo decorrido unicamente de seu emperramento
sua condição enquanto ofendida.
episódico, o meio será relativamente ineficaz, merecendo o
Os coautores de crimes também serão beneficiados
agente, pois, punição pela tentativa. Essa foi claramente a
caso um dos agentes repare o dano, mesmo que aqueles
opção adotada pelo legislador brasileiro.
não quiseram a reparação ou dela não participaram. Isso
iii. Teoria sintomática ou subjetiva: defende que o
porque é circunstância de caráter objetivo.
Nos crimes submetidos ao Juizado Especial Criminal, agente deve ser punido, mesmo em caso de crime impos-
caso o agente repare o dano (se houver composição ci- sível, porque demonstrou periculosidade, disposição para
vil), mesmo após o recebimento da queixa ou da repre- agredir um bem jurídico. Nesse caso, ele seria punido pela
sentação, e mesmo que o crime tenha sido com violência intenção, e não por algum fato. Não é adotada no Brasil.
ou grave ameaça, o agente será beneficiado, não somente b) Crime putativo (delito de alucinação): no crime puta-
com a diminuição de pena, mas sim com a extinção de sua tivo, o agente pratica uma conduta acreditando estar prati-
punibilidade e a renúncia legal pela vítima do direito de cando um ilícito penal, quando, de fato, sua ação não está
ingressar em juízo. tipificada. V.g., quando o agente adultera com o fito de
No crime de emissão de cheque sem fundo, o paga- cometer crime (o adultério não é mais considerado ilícito
mento até o recebimento da denúncia ou queixa extingue penal em nosso ordenamento, logo, não há crime). O crime
a punibilidade (Súmula 554, STF). putativo pode ocorrer nas seguintes hipóteses:
No peculato culposo, se a reparação do dano prece- i. Crime putativo por erro de proibição: o agente acre-
de à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é dita ofender uma lei penal que não existe realmente. A
posterior, reduz em metade a pena imposta. existência da lei incriminadora só existe na mente do agen-
te, recaindo o erro, portanto, sobre a ilicitude do fato.
Crime Impossível ii. Crime putativo por erro de tipo: o crime imaginário
se verifica quando o autor acredita ofender uma lei penal
Crime impossível, quase-crime, tentativa inidônea ou incriminadora, mas os fatos revelam faltar uma elementar
tentativa inadequada: ocorre quando o agente se utiliza do tipo. Ou seja, a lei penal existe, entretanto o fato não
de meio ABSOLUTAMENTE INEFICAZ ou objeto ABSOLU- foi típico. Aqui, há um erro sobre uma circunstância fática,
TAMENTE IMPRÓPRIO para consumar o crime. É o caso da e não sobre uma questão jurídica. Por exemplo, o agente
tentativa de homicídio dando-se um copo de água à víti- quer cometer um crime tributário declarando erroneamen-
ma na expectativa de que ela venha a morrer (meio abso- te dados na DCTF; porém, ao invés de preencher a DCTF,
lutamente ineficaz) ou quando se tenta furtar a honra da ele preenche um formulário de cadastro no show do mi-
vítima (objeto absolutamente impróprio, honra não pode lhão.

11
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

iii. Crime putativo por obra do agente provocador: IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
denominado crime de ensaio, crime de experiência ou V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão
flagrante provocado, ocorre quando uma pessoa induz o aceito, nos crimes de ação privada;
agente a cometer uma conduta criminosa e, simultanea- VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei
mente, adota medidas para impedir a consumação. Aqui, a admite;
incide a súmula 145 do STF: “Não há crime, quando a pre- VII - (Revogado)
paração do flagrante pela polícia torna impossível a sua VIII - (Revogado)
consumação”. IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

Causas de exclusão da culpabilidade Art. 108 - A extinção da punibilidade de crime que é


pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agra-
O Código Penal prevê causas que excluem a culpabi- vante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos,
lidade pela ausência de um de seus elementos, ficando o a extinção da punibilidade de um deles não impede, quan-
sujeito isento de pena, ainda que tenha praticado um fato to aos outros, a agravação da pena resultante da conexão.
típico e antijurídico.
(...)
a) inimputabilidade: a incapacidade de entender o ca-
ráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com O excesso Punível
esse entendimento. Ao reagir à agressão injusta que está sofrendo, ou em
- doença mental, desenvolvimento mental incompleto vias de sofrê-la, em relação ao meio usado o agente pode
ou retardado (art. 26); encontrar-se em três situações diferentes:
- desenvolvimento mental incompleto por presunção - usa de um meio moderado e dentro do necessário
legal, do menor de 18 anos (art. 27); para repelir à agressão;
- embriaguez completa, proveniente de caso fortuito Haverá necessariamente o reconhecimento da legítima
ou força maior (art. 28, § 1º). defesa.
- de maneira consciente emprega um meio desneces-
b) inexistência da possibilidade de conhecimento da sário ou usa imoderadamente o meio necessário;
ilicitude: A legítima defesa fica afastada por excluído um dos
- erro de proibição (art. 21). seus requisitos essenciais.
- após a reação justa (meio e moderação) por imprevi-
c) inexigibilidade de conduta diversa: dência ou conscientemente continua desnecessariamente
- coação moral irresistível (art. 22, 1ª parte); na ação.
- obediência hierárquica (art. 22, 2ª parte). No terceiro agirá com excesso, o agente que intensifi-
ca demasiada e desnecessariamente a reação inicialmen-
Punibilidade te justificada. O excesso poderá ser doloso ou culposo. O
agente responderá pela conduta constitutiva do excesso.
A punibilidade é uma das condições para o exercício
da ação penal (CPP, art. 43, II) e pode ser definida como a Ilicitude
possibilidade jurídica de o Estado aplicar a sanção penal Ilícito penal, é o crime ou delito. Ou seja, é o descum-
(pena ou medida de segurança) ao autor do ilícito. primento de um dever jurídico imposto por normas de di-
A Punibilidade, portanto, é consequência do crime. As- reito público, sujeitando o agente a uma pena.
sim, é punível a conduta que pode receber pena. Na ilicitude penal, a antijuridicidade é a contradição
entre uma conduta e o ordenamento jurídico. O fato típico,
Extinção da Punibilidade até prova em contrário, é um fato que, ajustando-se a um
A extinção da punibilidade é a perda do direito do Es- tipo penal, é antijurídico.
tado de punir o agente autor de fato típico e ilícito, ou seja,
é a perda do direito de impor sanção penal. As causas de Excludente de ilicitude
extinção da punibilidade estão espalhadas no ordenamen- Excludente de ilicitude é uma causa excepcional que
to jurídico brasileiro. retira o caráter antijurídico de uma conduta tipificada como
criminosa (fato típico).
Dispõe o Código Penal: Art. 23 - Exclusão da ilicitude
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
Extinção da punibilidade I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exer-
I - pela morte do agente; cício regular de direito.
II - pela anistia, graça ou indulto; Excesso punível
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses
fato como criminoso; deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.

12
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

A ação do homem será típica sob o aspecto criminal Culpabilidade


quando a lei penal a descreve como sendo um delito. Numa Culpabilidade é um elemento integrante do conceito
primeira compreensão, isso também basta para se afirmar definidor de uma infração penal. A motivação e objetivos
que ela está em desacordo com a norma, que se trata de subjetivos do agente praticante da conduta ilegal. A culpa-
uma conduta ilícita ou, noutros termos, antijurídica. bilidade aufere, a princípio, se o agente da conduta ilícita
é penalmente culpável, isto é, se ele agiu com dolo (in-
Essa ilicitude ou antijuridicidade, contudo, consistente tenção), ou pelo menos com imprudência, negligência ou
na relação de contrariedade entre a conduta típica do autor imperícia, nos casos em que a lei prever como puníveis tais
e o ordenamento jurídico, pode ser suprimida, desde que, modalidades
no caso concreto, estejam presentes uma das hipóteses
previstas no artigo 23 do Código Penal: o estado de neces- Causas de exclusão da culpabilidade
sidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento do dever O Código Penal prevê causas que excluem a culpabi-
legal ou o exercício regular de direito. lidade pela ausência de um de seus elementos, ficando o
sujeito isento de pena, ainda que tenha praticado um fato
O estado de necessidade e a legítima defesa são con- típico e antijurídico.
ceituados nos artigos 24 e 25 do Código Penal, merecendo
destaque, neste tópico, apenas o estrito cumprimento do a) inimputabilidade: a incapacidade de entender o ca-
dever legal e o exercício regular de um direito, como exclu- ráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
dentes da ilicitude ou da antijuridicidade. esse entendimento.
- doença mental, desenvolvimento mental incompleto
A expressão estrito cumprimento do dever legal, por si ou retardado (art. 26);
só, basta para justificar que tal conduta não é ilícita, ainda - desenvolvimento mental incompleto por presunção
que se constitua típica. Isso porque, se a ação do homem legal, do menor de 18 anos (art. 27);
decorre do cumprimento de um dever legal, ela está de - embriaguez completa, proveniente de caso fortuito
acordo com a lei, não podendo, por isso, ser contrária a ela. ou força maior (art. 28, § 1º).
Noutros termos, se há um dever legal na ação do autor,
b) inexistência da possibilidade de conhecimento da
esta não pode ser considerada ilícita, contrária ao ordena-
ilicitude:
mento jurídico.
- erro de proibição (art. 21).
Um exemplo possível de estrito cumprimento do de-
c) inexigibilidade de conduta diversa:
ver legal pode restar configurado no crime de homicídio,
- coação moral irresistível (art. 22, 1ª parte);
em que, durante tiroteio, o revide dos policiais, que esta-
- obediência hierárquica (art. 22, 2ª parte).
vam no cumprimento de um dever legal, resulta na morte
do marginal. Neste sentido - RT 580/447.
Agravação pelo resultado
O exercício regular de um direito, como excludente da Atos cujo resultado extrapola a vontade do agente só o
ilicitude, também quer evitar a antinomia nas relações ju- responsabilizam penalmente quando forem praticados ao
rídicas, posto que, se a conduta do autor decorre do exer- menos culposamente, quando ele agiu sem observar um
cício regular de um direito, ainda que ela seja típica, não dever de cuidado, atuando com imprudência, negligência
poderá ser considerada antijurídica, já que está de acordo ou imperícia.
com o direito. Uma responsabilização que extrapola a órbita do dolo
e da culpa, por sua vez, torna-se objetiva, por escapar, in-
Um exemplo de exercício regular de um direito, como clusive, da previsibilidade do resultado, que na hipótese de
excludente da ilicitude, é o desforço imediato, emprega- culpa não é almejado, muito embora previsível. A respon-
do pela vítima da turbação ou do esbulho possessório, sabilidade objetiva, contudo, é rejeitada pela norma penal,
enquanto possuidor que pretende reaver a posse da coisa que aceita apenas o dolo ou a culpa. O dispositivo penal
para si (RT - 461/341). em análise contempla tal entendimento.
Acerca dos crimes preterdolosos, constantes no Códi-
A incidência da excludente da ilicitude, conduto, não go Penal, caracterizam-se eles por preverem uma conduta
pode servir de salvo conduto para eventuais excessos do inicial dolosa e um resultado adicional culposo, que justifi-
autor, que venham a extrapolar os limites do necessário ca o agravamento da sanção.
para a defesa do bem jurídico, do cumprimento de um de- Para exemplificarmos ,podemos citar a lesão corporal
ver legal ou do exercício regular de um direito. Havendo seguida de morte (art. 129, §.3.º, do Código Penal), na qual
excesso, o autor do fato será responsável por ele, caso res- se pode falar em dolo na lesão corporal e culpa no evento
tem verificados seu dolo ou sua culpa. Nesse sentido é a morte. Mesmo que a morte não tenha sido o objetivo pre-
regra do parágrafo único do artigo 23 do Código Penal. tendido pelo autor, está previsto como resultado culposo,
razão pela qual incide responsabilidade penal sobre ele.

13
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Dita o Código Penal, que a responsabilidade do autor Apesar dos prazos prescricionais serem considerados
não poderia ir além da culpa, justamente porque se torna- individualmente para cada crime, o mesmo não acontece
ria objetiva. Deste modo, a lesão corporal seguida de mor- com a aplicação das penas restritivas de direitos, que só
te, assim como outros delitos preterdolosos, versa sobre são permitidas, caso em um dos crimes seja permitida a
hipótese na qual o dolo e a culpa estão previstos no tipo concessão do sursis (suspensão condicional da pena). Mas
penal, sendo o resultado plenamente oponível ao autor, caso sejam aplicadas, as penas restritivas serão cumpridas
porque previsto também a título de culpa. simultaneamente quando compatíveis, ou sucessivamente,
quando houver incompatibilidade entre as mesmas.
Dispõe o Código Penal:
Com relação à suspensão condicional do processo, a
Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a regra é que seja feito o somatório das penas, se a mínima
pena, só responde o agente que o houver causado ao me- for igual ou inferior a um ano, esta será possível. Portanto,
nos culposamente. a aplicação não é individual.

Concurso de Crimes Concurso Formal

O concurso de crimes acontece quando o agente co- O concurso formal é aquele em que o agente mediante
mete mais de um crime mediante uma ou mais ação ou uma única ação ou omissão, comete dois ou mais crimes.
omissão. No direito brasileiro, por questões de política cri- Este pode se dividir em formal próprio ou impróprio.
minal, cada forma de concurso tem uma maneira distinta
no sistema de aplicação e cálculo das penas. No próprio, era querido apenas um resultado, mas por
erro na execução ou por acidente, dois ou mais são atin-
Os tipos de concurso admitidos no direito brasileiro gidos. É o exemplo do assassino que atira em seu inimigo,
são o material, que pode se dividir em homogênio e he- mas por ocasião o disparo além de atingi-lo, também atin-
terogêneo; o formal, que pode ser dividido em próprio e ge outra pessoa. Neste caso é utilizado o sistema da exas-
impróprio; além do crime continuado. peração, que é quando apenas a pena de um dos crimes
é aplicada se forem iguais, ou a maior deles se diversos,
sendo em qualquer dos casos elevada de um sexto até me-
As formas adotadas para aplicação das penas a cada
tade.
tipo de concurso são os sistemas do cúmulo material e o
da exasperação, em alguns casos, também encontramos o
No impróprio, o agente mediante uma única ação ou
cúmulo material benéfico, sendo este um desdobramen-
omissão produz mais de um resultado, tendo vontade de
to para evitar um prejuízo maior ao agente, sempre que o
produzi-los ou sendo indiferente quanto a estes, neste
sistema de exasperação for menos benéfico que o cúmulo caso, acontece o que a doutrina chama de desígnios autô-
material. nomos, que é quando se quer todos os resultados produ-
zidos, mesmo a título de dolo eventual. Para que não tor-
Concurso Material ne benéfica a prática de mais de um crime por uma única
ação, no concurso formal impróprio, é utilizado o sistema
O concurso material de crimes acontece quando o de cúmulo material das penas, o mesmo que é utilizado
agente comete dois ou mais crimes mediante mais de uma no concurso material. Havendo apenas a soma das penas
ação ou omissão. Ele pode ser tanto homogêneo, quando aplicadas aos diversos crimes.
os crimes cometidos são idênticos (dois homicídios sim-
ples, por exemplo), ou heterogêneo, quando os crimes são Ainda no caso do concurso formal, quando as penas
de natureza diversa (Um homicídio qualificado e lesões aplicadas por o sistema de exasperação superarem as que
corporais). Esta distinção em homogêneo e heterogêneo é por ventura fossem aplicadas por o sistema do cúmulo ma-
apenas doutrinária, não importando na forma de aplicação terial, para que o apenado não saia prejudicado, sua pena
da pena. será computada como se desta forma fosse, este é o cha-
mado cúmulo material benéfico. Exemplificando, caso o
Havendo concurso material, a forma de aplicação das agente cometa um homicídio simples e uma lesão corporal
penas será o cúmulo material, que é aquele onde as penas em concurso formal próprio, sua pena seria a do homicídio
dos diversos crimes são somadas umas as outras, não ha- (por ser maior) acrescida de um terço até metade, o que
vendo benefício ao agente. Desta forma, o agente que me- poderia, dependendo do aumento aplicado, ser maior que
diante duas condutas, cometeu o crime de furto simples e a do homicídio e das lesões corporais somadas. Assim caso
recebeu pena de quatro anos de reclusão, e um homicídio a pena aplicada pelo sistema da exasperação seja maior
qualificado, tendo recebido pena de doze anos de reclu- que a que fosse aplicada pelo cúmulo material, este será
são, terá as penas destes crimes somadas para questões de o aplicado.
cumprimento.
O aumento de pena no concurso formal deve ser fun-
Em caso as espécies de penas não sejam iguais, cum- damentado pelo juiz, devendo, segundo a maioria dos
pre-se primeiro a mais grave, assim, a reclusão deve ser doutrinadores, ser aplicado levando em consideração o
cumprida primeiro que a detenção. número de vítimas ou a quantidade de crimes praticados.

14
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Para a aplicação da suspensão condicional do proces- Aqui há culpa imprópria, já que o agente atua com
so, é necessário que se faça primeiro o cálculo da pena com dolo, mas responde como se tivesse cometido um delito
o acréscimo de um terço até metade, para só assim fixar os culposo.
novos limites mínimos.
Erro Determinado por Terceiros
Erro (Art. 20, § 2º)
No erro de tipo o agente erra por conta própria, por
O erro pode ser tanto falsa representação da realidade, si só. Já no erro determinado por terceiro, existe alguém
como falso ou equivocado conhecimento de um determi- induzindo a erro outrem para praticar o crime (ERRO NÃO
nado objeto. Vale dizer que este difere da ignorância, uma ESPONTÂNEO). V.g., médico, querendo matar o paciente
vez que é a falta de representação da realidade ou total engana a enfermeira fazendo com que esta ministre a dro-
desconhecimento do objeto – sendo um estado negativo, ga letal. Tem como consequências:
enquanto o erro é um estado positivo. Entretanto, apesar a) Quem determina dolosamente o erro responde
de didática e teoricamente diferentes, a legislação penal por crime doloso, se a provocação é culposa, responde por
brasileira trata de forma idêntica tanto erro como ignorân-
crime culposo.
cia, com as mesmas consequências.
b) Quem determina o erro é o autor mediato do cri-
me;
Erro de Tipo
O erro é considerado o falso entendimento da reali- c) Quem pratica a conduta pratica fato atípico por
dade, a concepção errônea do que acontece, seja quanto falta de dolo.
à pessoa ou quanto ao objeto, podendo recair sobre cir-
cunstâncias ou elementares. No erro de tipo, a pessoa acha Erro de proibição
que não está cometendo um crime não por julgar seu ato Normatizado no direito penal brasileiro pelo artigo 21
permitido, mas por compreender mal o que se passa. Logo, do Código Penal, o erro de proibição é erro do agente que
ele sempre afastará o dolo, já que não estão presentes os acredita ser sua conduta admissível no direito, quando, na
elementos constitutivos do dolo “vontade” e “consciência”. verdade ela é proibida. Sem discussão, o autor, aqui, sabe
Logo, se ausente o dolo, o fato é atípico, não sendo passí- o que tipicamente faz, porém, desconhece sua ilegalidade.
vel de punição, salvo se prevista a conduta como crime cul- Concluímos, então, que o erro de proibição recai sobre a
poso. O agente poderá ou não responder pela modalidade consciência de ilicitude do fato. O erro de proibição é um
culposa, de acordo com os seguintes casos. juízo contrário aos preceitos emanados pela sociedade,
que chegam ao conhecimento de outrem na forma de usos
Descriminantes Putativas e costumes, da escolaridade, da tradição, família etc.
(Art. 20, § 1º)
Descriminantes putativas são as situações nas quais o Erro de proibição não se confunde com erro de tipo. O
agente, diante de um fato, acreditando erroneamente estar erro de tipo ocorre quanto a alguma circunstância fática.
diante de uma das causas excludentes de ilicitude, pratica Os erros de proibição estão ligados ao direito, ao conhe-
um ato. Não se confunde com erro de proibição indireto cimento ou não da realidade do que pratica o agente, de-
(erro de permissão), o qual se situa no âmbito da má inter- terminado por algum engano justificável que recai sobre o
pretação da extensão da norma permissiva. juízo pessoal de licitude ou ilicitude do fato. O agente atua
Se o erro for plenamente escusável em função das cir- conscientemente, sem errar sobre as circunstâncias fáticas
cunstâncias, o agente será isento de pena pelos seus atos que o cercam, apesar de as avaliar mal, de supor ter, peran-
praticados dolosamente. Entretanto, se o agente atua com te o caso, um direito que na verdade inexiste.
erro que não seja plenamente escusável, exagerando na
Cezar Roberto Bitencourt leciona que o erro de proi-
reação a uma situação de fato, responderá pela forma cul-
bição “é o que incide sobre a ilicitude de um comporta-
posa, se prevista em Lei (art. 20, § 1º).
mento. O agente supõe, por erro, ser lícita a sua conduta.
O Código Penal adota a Teoria Limitada da Culpabi-
lidade, somente podendo se reconhecer a descriminante O objeto do erro não é, pois, nem a lei, nem o fato, mas a
putativa como erro de tipo quando se está diante de uma ilicitude, isto é, a contrariedade do fato em relação à lei.”
situação fática. Ou seja, o agente atua em função da situa- O agente não pensa errado avaliando o direito apli-
ção, não se questionando se a causa de justificação existe cável à espécie, mas erra na avaliação do desvalor de sua
ou sobre os limites dela (pois isso seria um erro de proibi- conduta, desvalor esse advindo das instâncias formais de
ção). Ele realmente acredita que ela está presente. a descri- controle social. Ele entende bem o fato que pratica, mas o
minante putativa é espécie de erro de tipo . pratica com a tranquila consciência de que atua desprovido
É o caso, em outro exemplo, de alguém que acredita de ilicitude material.
será assassinado por desafeto seu, que espalhou na comu- Erro de proibição é hipótese que exclui a culpabilidade
nidade a notícia de que na primeira oportunidade iria ma- do agente, por interferir diretamente no elemento da cul-
tá-lo. Transitando pela rua, essa pessoa encontra seu desa- pabilidade “potencial consciência da ilicitude”. Porém, essa
feto, o qual põe a mão no bolso para tirar, aparentemente, exclusão somente ocorrerá se o erro for invencível ou escu-
uma arma. A pessoa se adianta, saca seu revólver e mata o sável. Se vencível (ou culposo), ou seja, se o agente tivesse
desafeto. Depois, descobre-se que este estava apenas pe- agido com um pouco mais de cuidado, será uma causa de
gando o celular. diminuição de pena.

15
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Existem três espécies de erro de proibição:


a) Erro de proibição direto (art. 21): ocorre quan- CONCURSO DE PESSOAS.
do o erro do agente recai sobre o conteúdo proibitivo de
uma norma penal, não acreditando o agente que face o
conteúdo, significado ou amplitude da norma, realiza uma TÍTULO IV
conduta proibida. O sujeito não sabe que a conduta que DO CONCURSO DE PESSOAS
praticou era típica. O erro recai sobre a própria tipicida-
de da ação ou omissão praticada. No momento em que Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime
agiu, ele desconhecia o caráter típico, isto é, a proibição incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabi-
em si. É muito improvável que surja, na prática jurídica, o lidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
reconhecimento desta espécie de erro de proibição (dire-
to), em algum crime previsto no Código Penal, visto que ao § 1º - Se a participação for de menor importância, a
Código foram reservados os crimes mais cotidianos, cujo pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. (Redação
desvalor são ensinados no dia a dia da sociedade. Exemplo dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
de erro de proibição seria o do estrangeiro que tenta sair
do Brasil portando vinte mil dólares em uma pochete, sem § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de
regular declaração. Trata-se de crime contra o SFN (evasão crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa
de divisas) no Brasil. Porém, no país dele pode não ser, seja pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido
porque o valor era baixo, seja porque não há proibição de previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei
deixar o país levando dinheiro. Assim, nenhum erro houve nº 7.209, de 11.7.1984)
na situação fática, ele sabia exatamente o que estava fazen-
do, mas não conhecia a proibição jurídica interna. Circunstâncias incomunicáveis
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as con-
b) Erro de proibição indireto ou erro de permissão
dições de caráter pessoal, salvo quando elementares do
ou excesso exculpante (art. 21): aqui há uma suposição
crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
equivocada da existência de uma causa de justificação, ou
seja, de exclusão da ilicitude, que o ordenamento não pre-
Casos de impunibilidade
vê ou que até prevê, mas em limites mais restritos do que
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o
o que era imaginado pelo agente. Não se confunde com
auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são
descriminante putativa, pois nesta o agente realiza o ato puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.
em face de um fato. Naquele, ele vai além dos poderes da (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
excludente por má avaliação da norma, errando quanto à
ilicitude, e não quanto à tipicidade.
É exemplo de erro de proibição o agente que está CONCURSO DE CRIMES.
sendo roubado e, no exercício da legítima defesa, reage e
espanca o roubador até a beira da morte, por acreditar que
está agindo legitimamente, amparado pelo direito. Outro
exemplo seria de um professor de uma tradicional cidade Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já
interiorana que, supondo estar no exercício regular de di- foi abordado em tópicos anteriores.
reito, usa moderadamente palmatória para disciplinar seus
alunos.
c) Erro mandamental (art. 21): é o erro que recai so-
bre mandamentos contidos nos crimes omissivos, sejam IMPUTABILIDADE PENAL.
eles próprios ou impróprios. Ocorre, v.g., quando uma pes-
soa vê outra se afogando, mas não faz nada por acreditar
que não estava obrigada a tal (erro sobre a condição de
garante); ou quando o médico deixa de atender paciente A imputabilidade é a possibilidade de atribuir a um
em seu intervalo por achar que não tem o dever jurídico indivíduo a responsabilidade por uma infração. Segundo
para tal. prescreve o artigo 26, do Código Penal, podemos, também,
O erro de proibição excluirá a pena se for inevitável ou definir a imputabilidade como a capacidade do agente en-
escusável. Esse é aquele em que o agente não tinha como tender o caráter ilícito do fato por ele perpetrado ou, de
conhecer a ilicitude do fato, em face do caso concreto. No determinar-se de acordo com esse entendimento.
entanto, se for evitável ou inescusável, aquele em que o
agente desconheça o fato ilícito, embora tinha condições È portanto a possibilidade de se estabelecer o nexo en-
de saber que contrariava o ordenamento jurídico, poderá tre a ação e seu agente, imputando a alguém a realização
diminuí-la de um sexto a um terço (art. 21) (Isso porque a de um determinado ato.
culpabilidade do agente será menor). Quando existe algum agravo à saúde mental, os indi-
víduos podem ser considerados inimputáveis – se não ti-
verem discernimento sobre os seus atos ou não possuírem
autocontrole, são isentos de pena.

16
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Os semi-imputáveis são aqueles que, sem ter o discer- Homicídio simples – Artigo 121 do CPB – É a conduta
nimento ou autocontrole abolidos, têm-nos reduzidos ou típica limitada a “matar alguém”. Esta espécie de homicídio
prejudicados por doença ou transtorno mental. não possui características de qualificação, privilégio ou ate-
nuação. É o simples ato da prática descrita na interpretação
Dispõe o Código Penal: da lei, ou seja, o ato de trazer a morte a uma pessoa.
Homicídio privilegiado - Artigo 121 - parágrafo primei-
(...) ro – É a conduta típica do homicídio que recebe o benefício
TÍTULO III do privilégio, sempre que o agente comete o crime impeli-
DA IMPUTABILIDADE PENAL do por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o
domínio de violenta emoção, logo após a injusta provoca-
Inimputáveis ção da vítima, podendo o juiz reduzir a pena de um sexto
a um terço.
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença Homicídio qualificado - Artigo 121 - parágrafo segun-
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retar- do – É a conduta típica do homicídio onde se aumenta a
dado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente pena pela prática do crime, pela sua ocorrência nas seguin-
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determi- tes condições: mediante paga ou promessa de recompen-
nar-se de acordo com esse entendimento. sa, ou por outro motivo torpe; por motivo fútil, com em-
Redução de pena prego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois meio insidioso ou cruel, ou do qual possa resultar perigo
terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde men- comum; por traição, emboscada, ou mediante dissimula-
tal ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado ção ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a
não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato defesa do ofendido; e para assegurar a execução, a oculta-
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. ção, a impunidade ou a vantagem de outro crime.
Menores de dezoito anos Homicídio Culposo - Artigo 121- parágrafo terceiro – É
Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penal-
a conduta típica do homicídio que se dá pela imprudência,
mente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabeleci-
negligência ou imperícia do agente, o qual produz um re-
das na legislação especial.
sultado não pretendido, mas previsível, estando claro que
o resultado poderia ter sido evitado.
Emoção e paixão
No homicídio culposo a pena é aumentada de um ter-
Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:
ço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de
I - a emoção ou a paixão;
profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
Embriaguez imediato socorro à vítima. O mesmo ocorre se não procura
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar
substância de efeitos análogos. prisão em flagrante. Sendo o homicídio doloso, a pena é
§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez aumentada de um terço se o crime é praticado contra pes-
completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, soa menor de quatorze ou maior de sessenta anos.
ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de Perdão Judicial - Na hipótese de homicídio culposo, o
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências
acordo com esse entendimento. da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o que torne desnecessária a sanção penal.
agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio - Artigo
maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena 122 do CPB – Ato pelo qual o agente induz ou instiga al-
capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determi- guém a se suicidar ou presta-lhe auxílio para que o faça.
nar-se de acordo com esse entendimento. Reclusão de dois a seis anos, se o suicídio se consumar,
ou reclusão de um a três anos, se da tentativa de suicídio
resultar lesão corporal de natureza grave.
A pena é duplicada se o crime é praticado por motivo
ESPÉCIES DE CRIMES: CRIMES CONTRA A egoístico, se a vítima é menor ou se tem diminuída, por
PESSOA; qualquer causa, a capacidade de resistência. Neste crime
não se pune a tentativa.
Infanticídio - Artigo 123 – Homicídio praticado pela
mãe contra o filho, sob condições especiais (em estado
Dos crimes contra a pessoa - crimes contra a vida puerperal, isto é, logo pós o parto).
Aborto - Artigo 124 – Ato pelo qual a mulher interrom-
pe a gravidez de forma a trazer destruição do produto da
HOMICÍDIO
concepção. No auto-aborto ou no aborto com consenti-
De forma geral, o homicídio é o ato de destruição da vida de
mento da gestante, esta sempre será o sujeito ativo do ato,
um homem por outro homem. De forma objetiva, é o ato come-
e o feto, o sujeito passivo. No aborto sem o consentimento
tido ou omitido que resulta na eliminação da vida do ser humano.
da gestante, os sujeitos passivos serão o feto e a gestante.

17
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Aborto provocado por terceiro – É o aborto provocado sem Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
o consentimento da gestante. Pena: reclusão, de três a dez anos. Caso de diminuição de pena
Aborto provocado com o consentimento da gestante § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo
– Reclusão, de um a quatro anos. A pena pode ser aumen- de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de
tada para reclusão de três a dez anos, se a gestante for violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
menor de quatorze anos, se for alienada ou débil mental, vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
ou ainda se o consentimento for obtido mediante fraude, Homicídio qualificado
grave ameaça ou violência. § 2° Se o homicídio é cometido:
Forma qualificada - As penas são aumentadas de um I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por
terço se, em consequência do aborto ou dos meios em- outro motivo torpe;
pregados para provocá-lo, a gestante sofrer lesão corporal II - por motivo fútil;
de natureza grave. São duplicadas se, por qualquer dessas III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia,
causas, lhe sobrevém a morte. tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa
Aborto necessário - Não se pune o aborto praticado resultar perigo comum;
por médico: se não há outro meio de salvar a vida da ges- IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimu-
tante; e se a gravidez resulta de estupro e o aborto é pre- lação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a
cedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, defesa do ofendido;
de seu representante legal. V - para assegurar a execução, a ocultação, a impuni-
dade ou vantagem de outro crime:
Lesões corporais Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Lesão corporal - Ofensa à integridade corporal ou a Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
saúde de outra pessoa. VI - contra a mulher por razões da condição de sexo
feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
Lesão corporal de natureza grave - Artigo 129 - pa- VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts.
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema pri-
rágrafo primeiro - Se resulta: incapacidade para as ocu-
sional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercí-
pações habituais, por mais de trinta dias; perigo de vida;
cio da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
debilidade permanente de membro, sentido ou função; ou
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em
aceleração de parto.
razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Lesão corporal de natureza gravíssima - Artigo 129 - pa-
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de
rágrafo primeiro - Se resulta: incapacidade permanente para o sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei
trabalho; enfermidade incurável; perda ou inutilização do mem- nº 13.104, de 2015)
bro, sentido ou função; deformidade permanente; ou aborto. I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº
13.104, de 2015)
Lesão corporal seguida de morte - Se resulta morte e II - menosprezo ou discriminação à condição de mu-
as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o re- lher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
sultado, nem assumiu o risco de produzi-lo (é o homicídio Homicídio culposo
preterintencional). § 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
Pena - detenção, de um a três anos.
Diminuição de pena - Se o agente comete o crime im- Aumento de pena
pelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de
ainda sob o domínio de violenta emoção, seguida de injus- 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra
ta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de
sexto a um terço. prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
Lesão corporal culposa – Se o agente não queria o resultado consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em
do ato praticado, mesmo sabendo que tal resultado era previsível. flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada
Violência doméstica - Se a lesão for praticada contra as- de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa me-
cendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou nor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Re-
com quem conviva ou tenha convivido; ou ainda prevalecen- dação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
do-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá dei-
hospitalidade. Pena: detenção, de três meses a três anos. xar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem
o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne
PARTE ESPECIAL desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
TÍTULO I § 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a me-
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA tade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pre-
CAPÍTULO I texto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo
DOS CRIMES CONTRA A VIDA de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012)
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um
Homicídio simples terço) até a metade se o crime for praticado: (Incluído pela
Art. 121. Matar alguém: Lei nº 13.104, de 2015)

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores Lesão corporal de natureza grave
ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) § 1º Se resulta:
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais
60 (sessenta) anos ou com deficiência; (Incluído pela Lei nº de trinta dias;
13.104, de 2015) II - perigo de vida;
III - na presença de descendente ou de ascendente da III - debilidade permanente de membro, sentido ou
vítima. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) função;
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio IV - aceleração de parto:
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou Pena - reclusão, de um a cinco anos.
prestar-lhe auxílio para que o faça: § 2° Se resulta:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se I - Incapacidade permanente para o trabalho;
consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de II - enfermidade incurável;
suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. III perda ou inutilização do membro, sentido ou fun-
Parágrafo único - A pena é duplicada: ção;
Aumento de pena IV - deformidade permanente;
I - se o crime é praticado por motivo egoístico; V - aborto:
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qual- Pena - reclusão, de dois a oito anos.
quer causa, a capacidade de resistência. Lesão corporal seguida de morte
Infanticídio § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco
o próprio filho, durante o parto ou logo após: de produzi-lo:
Pena - detenção, de dois a seis anos. Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Aborto provocado pela gestante ou com seu con- Diminuição de pena
sentimento § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de
que outrem lho provoque: (Vide ADPF 54) violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
Pena - detenção, de um a três anos. vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Aborto provocado por terceiro Substituição da pena
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda
Pena - reclusão, de três a dez anos. substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da mil réis a dois contos de réis:
gestante: (Vide ADPF 54) I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo an-
Pena - reclusão, de um a quatro anos. terior;
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, II - se as lesões são recíprocas.
se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada Lesão corporal culposa
ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante § 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
fraude, grave ameaça ou violência Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Forma qualificada Aumento de pena
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anterio- § 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer
res são aumentadas de um terço, se, em consequência do qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Có-
aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestan- digo. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012)
te sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do
se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. art. 121.(Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990)
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)
(Vide ADPF 54) § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, des-
Aborto necessário cendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro agente das relações domésticas, de coabitação ou de hos-
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é pre- pitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
cedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Re-
de seu representante legal. dação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo,
CAPÍTULO II se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo,
DAS LESÕES CORPORAIS aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº
10.886, de 2004)
Lesão corporal § 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será au-
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde mentada de um terço se o crime for cometido contra pes-
de outrem: soa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340,
Pena - detenção, de três meses a um ano. de 2006)

19
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza
agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Fede- grave:
ral, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Pena - detenção, de um a três anos.
Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrên- § 2º - Se resulta a morte:
cia dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente Pena - detenção, de dois a seis anos.
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, Omissão de socorro
a pena é aumentada de um a dois terços. (Incluído pela Lei Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando pos-
nº 13.142, de 2015) sível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou
extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo
CAPÍTULO III ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos,
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Perigo de contágio venéreo Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e tri-
ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, plicada, se resulta a morte.
de que sabe ou deve saber que está contaminado: Condicionamento de atendimento médico-hospi-
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. talar emergencial (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia: Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de
§ 2º - Somente se procede mediante representação. formulários administrativos, como condição para o atendi-
Perigo de contágio de moléstia grave mento médico-hospitalar emergencial: (Incluído pela Lei nº
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem 12.653, de 2012).
moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de pro- Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e
duzir o contágio: multa. (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se
Perigo para a vida ou saúde de outrem da negativa de atendimento resulta lesão corporal de na-
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo tureza grave, e até o triplo se resulta a morte. (Incluído pela
direto e iminente: Lei nº 12.653, de 2012).
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não Maus-tratos
constitui crime mais grave. Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de edu-
um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a cação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-
de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, -a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de
em desacordo com as normas legais. (Incluído pela Lei nº meios de correção ou disciplina:
9.777, de 1998) Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
Abandono de incapaz  § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cui- grave:
dado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer Pena - reclusão, de um a quatro anos.
motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do § 2º - Se resulta a morte:
abandono: Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Pena - detenção, de seis meses a três anos. § 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natu- praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. (In-
reza grave: cluído pela Lei nº 8.069, de 1990)
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2º - Se resulta a morte: CAPÍTULO IV
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. DA RIXA
Aumento de pena
§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se Rixa
de um terço: Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os con-
I - se o abandono ocorre em lugar ermo; tendores:
II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou mul-
irmão, tutor ou curador da vítima. ta.
III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (Incluído Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal
pela Lei nº 10.741, de 2003) de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na
Exposição ou abandono de recém-nascido rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para
ocultar desonra própria:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

20
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

CAPÍTULO V Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante


DOS CRIMES CONTRA A HONRA paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em
dobro.
Calúnia Exclusão do crime
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação puní-
fato definido como crime: vel:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa,
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a pela parte ou por seu procurador;
imputação, a propala ou divulga. II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos. ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de inju-
Exceção da verdade riar ou difamar;
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo: III - o conceito desfavorável emitido por funcionário
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação pri- público, em apreciação ou informação que preste no cum-
vada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecor- primento de dever do ofício.
rível; Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indi- pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.
cadas no nº I do art. 141; Retratação
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se re-
ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. trata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento
Difamação de pena.
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensi- Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha
vo à sua reputação: praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o
Exceção da verdade ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofen-
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se sa. (Incluído pela Lei nº 13.188, de 2015)
admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere
relativa ao exercício de suas funções. calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode
Injúria pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela
ou o decoro: ofensa.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art.
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
diretamente a injúria; Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do
II - no caso de retorsão imediata, que consista em ou- Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141
tra injúria. deste Código, e mediante representação do ofendido, no
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do
que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se consi- § 3o do art. 140 deste Código. (Redação dada pela Lei nº
derem aviltantes: 12.033. de 2009)
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa,
além da pena correspondente à violência. CAPÍTULO VI
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos re- DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL
ferentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de SEÇÃO I
pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL
pela Lei nº 10.741, de 2003)
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído Constrangimento ilegal
pela Lei nº 9.459, de 1997) Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou
Disposições comuns grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qual-
Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumen- quer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o
tam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido: que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
de governo estrangeiro; Aumento de pena
II - contra funcionário público, em razão de suas fun- § 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em do-
ções; bro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que três pessoas, ou há emprego de armas.
facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. § 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as cor-
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou por- respondentes à violência.
tadora de deficiência, exceto no caso de injúria. (Incluído § 3º - Não se compreendem na disposição deste ar-
pela Lei nº 10.741, de 2003) tigo:

21
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consenti- Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar,
mento do paciente ou de seu representante legal, se justi- transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante gra-
ficada por iminente perigo de vida; ve ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a fina-
II - a coação exercida para impedir suicídio. lidade de: (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
Ameaça I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; (In-
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou cluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de
mal injusto e grave: escravo; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. III - submetê-la a qualquer tipo de servidão; (Incluído
Parágrafo único - Somente se procede mediante re- pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
presentação. IV - adoção ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 13.344, de
Sequestro e cárcere privado 2016) (Vigência)
Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante V - exploração sexual. (Incluído pela Lei nº 13.344, de
sequestro ou cárcere privado: (Vide Lei nº 10.446, de 2002) 2016) (Vigência)
Pena - reclusão, de um a três anos. Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou § 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se:
companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
(Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005) I - o crime for cometido por funcionário público no
II - se o crime é praticado mediante internação da víti- exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las; (In-
ma em casa de saúde ou hospital; cluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
III - se a privação da liberdade dura mais de quinze II - o crime for cometido contra criança, adolescente
dias. ou pessoa idosa ou com deficiência; (Incluído pela Lei nº
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoi- 13.344, de 2016) (Vigência)
to) anos; (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005) III - o agente se prevalecer de relações de parentes-
V – se o crime é praticado com fins libidinosos. (Incluí- co, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de de-
do pela Lei nº 11.106, de 2005) pendência econômica, de autoridade ou de superioridade
§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou
da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral: função; ou (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
Pena - reclusão, de dois a oito anos. IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do ter-
Redução a condição análoga à de escravo ritório nacional. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vi-
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de es- gência)
cravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jor- § 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente
nada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradan- for primário e não integrar organização criminosa. (Incluído
tes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
locomoção em razão de dívida contraída com o empre-
gador ou preposto: (Redação dada pela Lei nº 10.803, de SEÇÃO II
11.12.2003) DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMI-
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da CÍLIO
pena correspondente à violência. (Redação dada pela Lei
nº 10.803, de 11.12.2003) Violação de domicílio
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou as-
Lei nº 10.803, de 11.12.2003) tuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de tra- Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
balho; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) § 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou
ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do tra- por duas ou mais pessoas:
balhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. (Incluí- Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da
do pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) pena correspondente à violência.
§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é co- § 2º - Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é
metido: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) cometido por funcionário público, fora dos casos legais, ou
I – contra criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº com inobservância das formalidades estabelecidas em lei,
10.803, de 11.12.2003) ou com abuso do poder.
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, reli- § 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência
gião ou origem. (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) em casa alheia ou em suas dependências:
Tráfico de Pessoas (Incluído pela Lei nº 13.344, de I - durante o dia, com observância das formalidades
2016) (Vigência) legais, para efetuar prisão ou outra diligência;

22
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum possa produzir dano a outrem:
crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser. Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 4º - A expressão «casa» compreende: § 1º Somente se procede mediante representação. (Pa-
I - qualquer compartimento habitado; rágrafo único renumerado pela Lei nº 9.983, de 2000)
II - aposento ocupado de habitação coletiva; § 1o-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas
III - compartimento não aberto ao público, onde al- ou reservadas, assim definidas em lei, contidas ou não nos
guém exerce profissão ou atividade. sistemas de informações ou banco de dados da Adminis-
§ 5º - Não se compreendem na expressão «casa»: tração Pública: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e mul-
coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do pa- ta. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
rágrafo anterior; § 2o Quando resultar prejuízo para a Administração
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. Pública, a ação penal será incondicionada. (Incluído pela
Lei nº 9.983, de 2000)
SEÇÃO III Violação do segredo profissional
DOS CRIMES CONTRA A Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de
INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou
profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem:
Violação de correspondência Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de cor- Parágrafo único - Somente se procede mediante re-
respondência fechada, dirigida a outrem: presentação.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Invasão de dispositivo informático (Incluído pela Lei
Sonegação ou destruição de correspondência nº 12.737, de 2012) Vigência
§ 1º - Na mesma pena incorre: Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, co-
I - quem se apossa indevidamente de correspondên- nectado ou não à rede de computadores, mediante vio-
cia alheia, embora não fechada e, no todo ou em parte, a lação indevida de mecanismo de segurança e com o fim
sonega ou destrói; de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem
Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou
ou telefônica instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: (In-
II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem cluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou ra- Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e mul-
dioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica ta. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
entre outras pessoas; § 1o Na mesma pena incorre quem produz, oferece,
III - quem impede a comunicação ou a conversação distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de
referidas no número anterior; computador com o intuito de permitir a prática da conduta
IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho ra- definida no  caput. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
dioelétrico, sem observância de disposição legal. Vigência
§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano § 2o Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da
para outrem. invasão resulta prejuízo econômico. (Incluído pela Lei nº
§ 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de função 12.737, de 2012) Vigência
em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico: § 3o Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo
Pena - detenção, de um a três anos. de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais
§ 4º - Somente se procede mediante representação, ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei,
salvo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º. ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadi-
Correspondência comercial do: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
Art. 152 - Abusar da condição de sócio ou empregado Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
de estabelecimento comercial ou industrial para, no todo multa, se a conduta não constitui crime mais grave. (Incluí-
ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir corres- do pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
pondência, ou revelar a estranho seu conteúdo: § 4o Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um
Pena - detenção, de três meses a dois anos. a dois terços se houver divulgação, comercialização ou
Parágrafo único - Somente se procede mediante re- transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou in-
presentação. formações obtidos. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
SEÇÃO IV Vigência
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS SE- § 5o Aumenta-se a pena de um terço à metade se o
GREDOS crime for praticado contra: (Incluído pela Lei nº 12.737, de
2012) Vigência
Divulgação de segredo I - Presidente da República, governadores e prefeitos;
Art. 153 - Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
de documento particular ou de correspondência confiden- II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; (Incluído
cial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência

23
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado § 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a
Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara subtração for de veículo automotor que venha a ser trans-
Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou portado para outro Estado ou para o exterior. (Incluído pela
(Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência Lei nº 9.426, de 1996)
IV - dirigente máximo da administração direta e indi- § 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se
reta federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal. (In- a subtração for de semovente domesticável de produção,
cluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência ainda que abatido ou dividido em partes no local da sub-
Ação penal (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vi- tração. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
gência § 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos
Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somen- e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de
te se procede mediante representação, salvo se o crime é acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua
cometido contra a administração pública direta ou indireta fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela Lei nº
13.654, de 2018)
de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Fede-
ral ou Municípios ou contra empresas concessionárias de
Furto de coisa comum
serviços públicos. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vi-
gência Art. 156 - Subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio,
para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a
coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO; § 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fun-
gível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o
agente.
CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO.
CAPÍTULO II
TÍTULO II DO ROUBO E DA EXTORSÃO
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
CAPÍTULO I Roubo
DO FURTO Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para
outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou
Furto depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossi-
bilidade de resistência:
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
móvel: § 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de
subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou gra-
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. ve ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é detenção da coisa para si ou para terceiro.
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
praticado durante o repouso noturno.
(Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor
I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.654, de
a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão 2018)
pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
somente a pena de multa. III - se a vítima está em serviço de transporte de valo-
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou res e o agente conhece tal circunstância.
qualquer outra que tenha valor econômico. IV - se a subtração for de veículo automotor que venha
a ser transportado para outro Estado ou para o exterior;
Furto qualificado (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restrin-
se o crime é cometido: gindo sua liberdade. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à sub- VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou
tração da coisa; de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, es- sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela Lei
calada ou destreza; nº 13.654, de 2018)
III - com emprego de chave falsa; § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluí-
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. do pela Lei nº 13.654, de 2018)
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego
de arma de fogo; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de arte-
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo me-
fato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei
diante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que
nº 13.654, de 2018)
cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)

24
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei nº CAPÍTULO III


13.654, de 2018) DA USURPAÇÃO
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7
(sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído pela Lei nº Alteração de limites
13.654, de 2018)
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou
(trinta) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para
apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:
Extorsão Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou § 1º - Na mesma pena incorre quem:
grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para ou-
trem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se Usurpação de águas
faça ou deixar de fazer alguma coisa: I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de ou-
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. trem, águas alheias;
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas,
ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço Esbulho possessório
II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça,
até metade.
ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violên-
edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.
cia o disposto no § 3º do artigo anterior. Vide Lei nº 8.072,
§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na
de 25.7.90
pena a esta cominada.
§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da § 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego
liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a de violência, somente se procede mediante queixa.
obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão,
de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão Supressão ou alteração de marca em animais
corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no
art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. (Incluído pela Lei nº Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado
11.923, de 2009) ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de proprie-
dade:
Extorsão mediante sequestro
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou
preço do resgate: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (Vide Lei nº CAPÍTULO IV
10.446, de 2002) DO DANO
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.. (Redação dada
pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990) Dano
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando
ou quadrilha. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 Dano qualificado
Pena - reclusão, de doze a vinte anos. Parágrafo único - Se o crime é cometido:
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
grave: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 II - com emprego de substância inflamável ou explosi-
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. va, se o fato não constitui crime mais grave
§ 3º - Se resulta a morte: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distri-
to Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública,
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. (Reda-
empresa pública, sociedade de economia mista ou empre-
ção dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
sa concessionária de serviços públicos; (Redação dada pela
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concor-
Lei nº 13.531, de 2017)
rente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável
do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois ter- para a vítima:
ços. (Redação dada pela Lei nº 9.269, de 1996) Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa,
além da pena correspondente à violência.
Extorsão indireta
Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, Introdução ou abandono de animais em propriedade
abusando da situação de alguém, documento que pode alheia
dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou con- Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade
tra terceiro: alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. o fato resulte prejuízo:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa.

25
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou his- § 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontanea-
tórico mente, declara, confessa e efetua o pagamento das contri-
buições, importâncias ou valores e presta as informações
Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tomba- devidas à previdência social, na forma definida em lei ou
da pela autoridade competente em virtude de valor artísti- regulamento, antes do início da ação fiscal. (Incluído pela
co, arqueológico ou histórico: Lei nº 9.983, de 2000)
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou
aplicar somente a de multa se o agente for primário e de
Alteração de local especialmente protegido bons antecedentes, desde que: (Incluído pela Lei nº 9.983,
Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade compe- de 2000)
tente, o aspecto de local especialmente protegido por lei: I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e an-
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. tes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição
social previdenciária, inclusive acessórios; ou (Incluído pela
Ação penal Lei nº 9.983, de 2000)
Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu pa- II – o valor das contribuições devidas, inclusive aces-
sórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previ-
rágrafo e do art. 164, somente se procede mediante queixa.
dência social, administrativamente, como sendo o mínimo
para o ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído pela
CAPÍTULO V
Lei nº 9.983, de 2000)
DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA
§ 4o A faculdade prevista no § 3o deste artigo não se
aplica aos casos de parcelamento de contribuições cujo
Apropriação indébita valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele esta-
belecido, administrativamente, como sendo o mínimo para
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que o ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído pela Lei
tem a posse ou a detenção: nº 13.606, de 2018)
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou
Aumento de pena força da natureza
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda
agente recebeu a coisa: ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza:
I - em depósito necessário; Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
II -na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, Parágrafo único - Na mesma pena incorre:
inventariante, testamenteiro ou depositário judicial; Apropriação de tesouro
III - em razão de ofício, emprego ou profissão. I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria,
no todo ou em parte, da quota a que tem direito o proprie-
Apropriação indébita previdenciária (Incluído pela Lei tário do prédio;
nº 9.983, de 2000)
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as Apropriação de coisa achada
contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e for- II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria,
ma legal ou convencional: (Incluído pela Lei nº 9.983, de total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou
2000) legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade compe-
tente, dentro no prazo de quinze dias.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-
-se o disposto no art. 155, § 2º.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de: (In-
cluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
CAPÍTULO VI
I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra im-
DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES
portância destinada à previdência social que tenha sido
descontada de pagamento efetuado a segurados, a tercei- Estelionato
ros ou arrecadada do público; (Incluído pela Lei nº 9.983, Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem
de 2000) ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém
II – recolher contribuições devidas à previdência so- em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
cial que tenham integrado despesas contábeis ou custos fraudulento:
relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços; Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de qui-
(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) nhentos mil réis a dez contos de réis.
III - pagar benefício devido a segurado, quando as res- § 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor
pectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto
empresa pela previdência social. (Incluído pela Lei nº 9.983, no art. 155, § 2º.
de 2000) § 2º - Nas mesmas penas incorre quem:

26
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Disposição de coisa alheia como própria Fraude no comércio


I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial,
em garantia coisa alheia como própria; o adquirente ou consumidor:
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia falsificada ou deteriorada;
coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imó- II - entregando uma mercadoria por outra:
vel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias; § 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qua-
lidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo caso,
Defraudação de penhor pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor;
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo vender pedra falsa por verdadeira; vender, como precioso,
credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando metal de ou outra qualidade:
tem a posse do objeto empenhado;
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Fraude na entrega de coisa
§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de
coisa que deve entregar a alguém;
Fraude para recebimento de indenização ou valor de se- Outras fraudes
guro Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de
ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as consequên- recursos para efetuar o pagamento:
cias da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou mul-
ou valor de seguro; ta.
Parágrafo único - Somente se procede mediante re-
Fraude no pagamento por meio de cheque presentação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias, dei-
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em xar de aplicar a pena.
poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é come- Fraudes e abusos na fundação ou administração de
tido em detrimento de entidade de direito público ou de ins- sociedade por ações
tituto de economia popular, assistência social ou beneficência. Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por
ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação ao pú-
Estelionato contra idoso blico ou à assembleia, afirmação falsa sobre a constituição
§ 4o Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido
da sociedade, ou ocultando fraudulentamente fato a ela
contra idoso. (Incluído pela Lei nº 13.228, de 2015)
relativo:
Duplicata simulada Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que fato não constitui crime contra a economia popular.
não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou § 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui
qualidade, ou ao serviço prestado. (Redação dada pela Lei nº crime contra a economia popular: (Vide Lei nº 1.521, de
8.137, de 27.12.1990) 1951)
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por
(Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balanço ou
comunicação ao público ou à assembleia, faz afirmação fal-
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele sa sobre as condições econômicas da sociedade, ou oculta
que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro fraudulentamente, no todo ou em parte, fato a elas relativo;
de Duplicatas. (Incluído pela Lei nº 5.474. de 1968) II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por
qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de outros tí-
Abuso de incapazes tulos da sociedade;
Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de ne- III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à
cessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação sociedade ou usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos
ou debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à bens ou haveres sociais, sem prévia autorização da assem-
prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuí-
bleia geral;
zo próprio ou de terceiro:
IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando
Induzimento à especulação a lei o permite;
Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da V - o diretor ou o gerente que, como garantia de cré-
inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade mental dito social, aceita em penhor ou em caução ações da pró-
de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à pria sociedade;
especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou de- VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em
vendo saber que a operação é ruinosa: desacordo com este, ou mediante balanço falso, distribui
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. lucros ou dividendos fictícios;

27
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta § 6o Tratando-se de bens do patrimônio da União, de
pessoa, ou conluiado com acionista, consegue a aprovação Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
de conta ou parecer; fundação pública, empresa pública, sociedade de econo-
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII; mia mista ou empresa concessionária de serviços públicos,
IX - o representante da sociedade anônima estrangei- aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.
ra, autorizada a funcionar no País, que pratica os atos men- (Redação dada pela Lei nº 13.531, de 2017)
cionados nos ns. I e II, ou dá falsa informação ao Governo.
§ 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a Receptação de animal
dois anos, e multa, o acionista que, a fim de obter vanta-
gem para si ou para outrem, negocia o voto nas delibera- Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir,
ções de assembleia geral. ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalidade de
produção ou de comercialização, semovente domesticá-
Emissão irregular de conhecimento de depósito ou vel de produção, ainda que abatido ou dividido em partes,
“warrant” que deve saber ser produto de crime: (Incluído pela Lei nº
Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou war- 13.330, de 2016)
rant, em desacordo com disposição legal:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
(Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
Fraude à execução
Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando,
destruindo ou danificando bens, ou simulando dívidas: CAPÍTULO VIII
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. DISPOSIÇÕES GERAIS
Parágrafo único - Somente se procede mediante quei-
xa. Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer
dos crimes previstos neste título, em prejuízo: (Vide Lei nº
CAPÍTULO VII 10.741, de 2003)
DA RECEPTAÇÃO I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco
Receptação legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou Art. 182 - Somente se procede mediante representa-
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser ção, se o crime previsto neste título é cometido em prejuí-
produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a zo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003)
adquira, receba ou oculte: I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
Receptação qualificada
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocul- Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos
tar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, anteriores:
expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em ge-
próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou ral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à
industrial, coisa que deve saber ser produto de crime: pessoa;
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. II - ao estranho que participa do crime.
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do III – se o crime é praticado contra pessoa com idade
parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
ou clandestino, inclusive o exercício em residência.
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua nature- CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
za ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela
condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por O Título II da parte especial do Código Penal Brasileiro,
meio criminoso: faz referências aos Crimes Contra o Patrimônio.
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou
ambas as penas. Considera-se patrimônio de uma pessoa, os bens, o
§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido poderio econômico, a universalidade de direitos que te-
ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa. nham expressão econômica para a pessoa. Considera-se
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primá- em geral, o patrimônio como universalidade de direitos.
rio, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, Vale dizer como uma unidade abstrata, distinta, diferente
deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o dos elementos que a compõem isoladamente considera-
disposto no § 2º do art. 155. dos.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Além desse conceito jurídico, que é próprio do direito O crime de furto pode ser praticado também através
privado, há uma noção econômica de patrimônio e, segun- de animais amestrados, instrumentos etc. Esse crime será
do a qual, ele consiste num complexo de bens, através dos de apossamento indireto, devido ao emprego de animais,
quais o homem satisfaz suas necessidades. caso contrário é de apossamento direto.

Cabe lembrar, que o direito penal em relação ao direito Reina uma única controvérsia, tendo em vista o desen-
civil, ao direito econômico, ele é autônomo e constitutivo, volvimento da tecnologia, quanto a subtração praticada
e por isso mesmo quando tutela bens e interesses jurídicos com o auxílio da informática, se ela resultaria de furto ou
já tutelados por outros ramos do direito, ele o faz com au- crime de estelionato. Tenho para mim, que não podemos
tonomia e de um modo peculiar. “aprioristicamente” ter o uso da informática como meio de
cometimento de furto ou mesmo estelionato, pois é pre-
A tutela jurídica do patrimônio no âmbito do Códi- ciso analisar, a cada conduta, não apenas a intenção do
go Penal Brasileiro, é sem duvida extensamente realizada, agente, mas o modo de operação do agente através da
mas não se pode perder jamais em conta, a necessidade informática.
de que no conceito de patrimônio esteja envolvida uma
noção econômica, um noção de valor material econômico O objeto material do furto é a coisa alheia móvel. Coisa
do bem. em direito penal representa qualquer substância corpórea,
seja ela material ou materializável, ainda que não tangí-
FURTO vel, suscetível de apreciação e transporte, incluindo aqui os
corpos gasosos, os instrumentos , os títulos, etc.
O primeiro é o crime de furto descrito no artigo 155
do Código Penal Brasileiro, em sua forma básica: “subtrair, O homem não pode ser objeto material de furto, con-
para si ou para outrem, coisa alheia móvel: pena – reclusão, forme o fato, o agente pode responder por sequestro ou
de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa”. cárcere privado, conforme artigo 148 do Código Penal Bra-
sileiro, ou subtração de incapazes.
O conceito de furto pode ser expresso nas seguintes
palavras: furto é a subtração de coisa alheia móvel para Afirma-se na doutrina que somente pode ser objeto de
si ou para outrem sem a pratica de violência ou de grave furto a coisa que tiver relevância econômica, ou seja, va-
ameaça ou de qualquer espécie de constrangimento físi- lor de troca, incluindo no conceito, a ideia de valor afetivo
co ou moral à pessoa. Significa, pois o assenhoramento da (o que eu acho que não tem validade jurídica penal). Já a
coisa com fim de apoderar-se dela com ânimo definitivo. jurisprudência invoca o princípio da insignificância, consi-
derando que se a coisa furtada tem valor monetário irrisó-
Quanto a objetividade jurídica do furto é preciso res- rio, ficará eliminada a antijuridicidade do delito e, portanto,
saltar uma divergência na doutrina: entende-se que é pro- não ficará caracterizado o crime.
tegida diretamente a posse e indiretamente a propriedade
ou, em sentido contrário, que a incriminação no caso de Furto é crime material, não existindo sem que haja
furto, visa essencial ou principalmente a tutela da proprie- desfalque do patrimônio alheio. Coisa alheia é a que não
dade e não da posse. É inegável que o dispositivo protege pertence ao agente, nem mesmo parcialmente. Por essa ra-
não só a propriedade como a posse, seja ela direta ou indi- zão não comete furto e sim o crime contido no artigo 346
reta além da própria detenção. (Subtração ou Dano de Coisa Própria em Poder de Terceiro)
do Código Penal Brasileiro, o proprietário que subtrai coisa
Devemos si ter primeiro o bem jurídico daquele que é sua que está em poder legitimo de outro.
afetado imediatamente pela conduta criminosa. Vale dizer
que a vítima de furto não é necessariamente o proprietário O crime de furto é cometido através do dolo que é a
da coisa subtraída, podendo recair a sujeição passiva sobre vontade livre e consciente de subtrair, acrescido do ele-
o mero detentor ou possuidor da coisa. mento subjetivo do injusto também chamado de “dolo
específico”, que no crime de furto está representado pela
Qualquer pessoa pode praticar o crime de furto, não ideia de finalidade do agente, contida da expressão “para
exige além do sujeito ativo qualquer circunstância pessoal si ou para outrem”. Independe, todavia de intuito, objetivo
específica. Vale a mesma coisa para o sujeito passivo do cri- de lucro por parte do agente, que pode atuar por vingança,
me, sendo ela física ou jurídica, titular da posse, detenção capricho, liberalidade.
ou da propriedade.
O consentimento da vítima na subtração elide o crime,
O núcleo do tipo é subtrair, que significa tirar, retirar, já que o patrimônio é um bem disponível, mas se ele ocorre
abrangendo mesmo o apossamento à vista do possuidor depois da consumação, é evidente que sobrevivi o ilícito
ou proprietário. penal.

29
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

O delito de furto também pode ser praticado entre: É furto agravado ou qualificado o praticado durante
cônjuges, ascendentes e descendentes, tios e sobrinhos, o repouso noturno, aumenta-se de 1/3 artigo 155 §1º, a
entre irmãos. razão da majorante está ligada ao maior perigo que está
submetido o bem jurídico diante da precariedade de vigi-
O direito romano não admitia, nesses casos, a ação lância por parte de seu titular.
penal. Já o direito moderno não proíbe o procedimento Basta que ocorra a cessação da vigilância da vítima,
penal, mas isenta de pena, como elemento de preservação que, dormindo, não poderá efetivá-la com a segurança e
da vida familiar. a amplitude com que a faria, caso estivesse acordada, para
que se configure a agravante do repouso noturno.
Para se definir o momento da consumação, existem Repouso noturno é o tempo em que a cidade repousa,
duas posições: é variável, dependendo do local e dos costumes.
É discutida pela doutrina e pela jurisprudência a cerca
1) atinge a consumação no momento em que o objeto da necessidade do lugar, ser habitado ou não, para se dar
material é retirado de posse e disponibilidade do sujeito a agravante. A jurisprudência dominante nos tribunais é no
passivo, ingressando na livre disponibilidade do autor, ain- sentido de excluir a agravante, se o furto é praticado em
da que não obtenha a posse tranquila; lugar desabitado, pois evidente se praticado desta forma
2) quando exige-se a posse tranquila, ainda que por não haveria, mesmo durante a época o momento do não
breve tempo. repouso, a possibilidade de vigilância que continuaria a ser
tão precária quanto este momento de repouso.
Temos a seguinte classificação para o crime de furto: Porém, como diz o mestre Magalhães Noronha “para
comum quanto ao sujeito, doloso, de forma livre, comissivo nós, existe a agravante quando o furto se dá durante o
de dano, material e instantâneo. tempo em que a cidade ou local repousa, o que não impor-
A ação penal é pública incondicionada, exceto nas hi- ta necessariamente seja a casa habitada ou estejam seus
póteses do artigo 182 do Código Penal Brasileiro, que é moradores dormido. Podem até estar ausente, ou desabi-
condicionada à representação. tado o lugar do furto”.
A exposição de motivos como a do mestre Noronha, é
O crime de furto pode ser de quatro espécies: furto a que se iguala ao meu parecer, pois é prevista como agra-
simples, furto noturno, furto privilegiado e furto qualificado vante especial do furto a circunstância de ser o crime prati-
cado durante o período do sossego noturno8, seja ou não
FURTO DE USO habitada a casa, estejam ou não seus moradores dormindo,
cabe a majoração se o delito ocorreu naquele período.
Furto de uso é a subtração de coisa apenas para usu-
fruí-la momentaneamente, está prevista no art. 155 do Có-
Furto em garagem de residência, também há duas po-
digo Penal Brasileiro, para que seja reconhecível o furto de
sições, uma em que incide a qualificadora, da qual o Pro-
uso e não o furto comum, é necessário que a coisa seja
fessor Damásio é partidário, e outra na qual não incide a
restituída, devolvida, ao possuidor, proprietário ou deten-
qualificadora.
tor de que foi subtraída, isto é, que seja reposta no lugar,
para que o proprietário exerça o poder de disposição sobre
a coisa subtraída. Fora daí a exclusão do “animus furandi” FURTO PRIVILEGIADO ou mínimo
dependerá de prova plena a ser oferecida pelo agente.
O furto privilegiado está expresso no § 2º do artigo
Os tribunais tem subordinado o reconhecimento do 155: “Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a
furto de uso a efetiva devolução ou restituição, afirman- coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela
do que há furto comum se a coisa é abandonada em local de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar so-
distante ou diverso ou se não é recolocada na esfera de mente a pena de multa”.
vigilância de seu dono. Há ainda entendimentos que exi- Vale dizer que é uma forma de causa especial de di-
gem que a devolução da coisa, além de ser feita no mesmo minuição de pena. Existem requisitos para que se dê essa
lugar da subtração seja feita em condições de restituição causa especial:
da coisa em sua integridade e aparência interna e externa, - O primeiro requisito para que ocorra o privilégio é ser
assim como era no momento da subtração. o agente primário, ou seja, que não tenha sofrido em razão
de outro crime condenação anterior transitada em julgado.
Vale dizer a coisa devolvida assemelha-se em tudo e - O segundo requisito é ser de pequeno valor a coisa
por tudo em sua aparência interna e externa à coisa sub- subtraída.
traída. A doutrina e a jurisprudência têm exigido além desses
dois requisitos já citados, que o agente não revele persona-
FURTO NOTURNO lidade ou antecedentes comprometedores, indicativos da
existência de probabilidade, de voltar a delinquir.
O Furto Noturno, está previsto no § 1º do artigo 155: A pena pode-se substituir a de reclusão pela de deten-
“apena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado ção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a
durante o repouso noturno”. multa.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

O § 3º do artigo 155 faz menção à igualdade entre Há ainda a tentativa frustrada. Exemplo A, segue uma
energia elétrica, ou qualquer outra que tenha valor econô- pessoa durante vários dias e subtrai do bolso interno do
mico à coisa móvel, também a caracterizando como crime. paletó da vítima, envelope que acredita conter dinheiro.
Furtado o envelope, A é apanhado, todavia ao chegar na
A jurisprudência considera essa modalidade de furto Delegacia, verifica-se que o envelope estava vazio, pois, a
como crime permanente, pois o agente pratica uma só vítima havia esquecido o dinheiro em casa. O agente será
ação, que se prolonga no tempo. responsabilizado pelo crime nesse exemplo? Não, pois a
ausência do objeto material do delito faz do evento um
FURTO QUALIFICADO crime impossível.
Por fim, há a qualificadora da destreza, que se dá quan-
Em determinadas circunstâncias são destacadas o §4º do a subtração se dá dissimuladamente com especial habi-
lidade por parte do agente, onde a ação, sem emprego de
do art. 155, para configurar furto qualificado, ao qual é co-
violência, em situação em que a vítima, embora consciente
minada pena autônoma sensivelmente mais grave: “reclu-
e alerta, não percebe que está tendo os bens furtados. O
são de 2 à 8 anos seguida de multa”. arrebatamento violento ou inopinado não a configura.
São as seguintes as hipóteses de furto qualificado: A terceira hipótese é o emprego de chave falsa.
Se o crime é cometido com destruição ou rompimento Constitui chave falsa qualquer instrumento ou enge-
de obstáculos à subtração da coisa; está hipótese trata da nho de que se sirva o agente para abrir fechadura e que te-
destruição, isto é, fazer desaparecer em sua individualidade nha ou não o formato de uma chave, podendo ser grampo,
ou romper, quebrar, rasgar, qualquer obstáculo móvel ou pedaço de arame, pinça, gancho, etc. O exame pericial da
imóvel a apreensão e subtração da coisa. chave ou desse instrumento é indispensável para a carac-
A destruição ou rompimento deve dar-se em qualquer terização da qualificadora
momento da execução do crime e não apenas para apreen-
são da coisa. Porém é imprescindível que seja comprovada A Quarta e última hipótese é quando ocorre median-
pericialmente, nem mesmo a confissão do acusado supre te concurso de duas ou mais pessoas, quando praticado
a falta da perícia. nestas circunstâncias, pois isto revela uma maior periculo-
Trata-se de circunstância objetiva e comunicável no sidade dos agentes, que unem seus esforços para o crime.
caso de concurso de pessoas, desde que o seu conteúdo No caso de furto cometido por quadrilha, responde
haja ingressado na esfera do conhecimento dos participan- por quadrilha pelo artigo 288 do Código Penal Brasileiro
seguido de furto simples, ficando excluída a qualificadora,
tes.
Concurso de qualificadoras, o agente incidindo em
A segunda hipótese é quando o crime é cometido com
duas qualificadoras, apenas uma qualifica, podendo servir
abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou des- a outra como agravante comum.
treza. Frise-se, outrossim que, fora incluída uma nova hipó-
Há abuso de confiança quando o agente se prevalece tese de furto qualificado (§4º-A) com uma pena de 4 a 10
de qualidade ou condição pessoal que lhe facilite à pratica anos. Nesse caso, essa pena mais elevada decorre da forma
do furto. Qualifica o crime de furto quando o agente se de execução (emprego de explosivo ou de artefato análo-
serve de algum artifício para fazer a subtração. go) e do perigo criado.
Mediante fraude é o meio enganoso capaz de iludir a O §7º prevê ainda uma figura qualificada que depende
vigilância do ofendido e permitir maior facilidade na sub- do objeto subtraído (e não da forma de execução), isto é,
tração do objeto material. O furto mediante fraude distin- será aplicada a pena mais elevada se a subtração for de
gue-se do estelionato, naquele a fraude é empregada para “substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
iludir a atenção e vigilância do ofendido, que nem percebe isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou
que a coisa lhe está sendo subtraída; no estelionato, ao emprego”.
contrário, a fraude antecede o apossamento da coisa e é a
causa de sua entrega ao agente pela vítima; esta entrega FURTO DE COISA COMUM
a coisa iludida, pois a fraude motivou seu consentimento. Este crime está definido no art. 156 do Código Penal
É ainda qualificadora a penetração no local do furto Brasileiro, que diz: “Subtrair o condômino, coerdeiro, ou
sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a de-
por via que normalmente não se usa para o acesso, sendo
tém, a coisa comum: pena – detenção, de 6 (seis) meses à 2
necessário o emprego de meio artificial, é no caso de esca-
(dois) anos, ou multa”.
lada, que não se relaciona necessariamente com a ação de A razão da incriminação é de que o agente subtraia
galgar ou subir. Também deve ser comprovada por meio coisa que pertença também a outrem. Este crime constitui
de perícia, assim como o rompimento de obstáculo. caso especial de furto, distinguindo-se dele apenas as re-
lações existentes entre o agente e o lesado ou os lesados.
Tentativa, é admissível. Via de regra, a prisão em fla- Sujeito ativo, somente pode ser o condômino, copro-
grante indica delito tentado nos casos de furto, por não prietário, coerdeiro ou o sócio. Esta condição é indispen-
chegar o agente a ter a posse tranquila da coisa subtraída, sável e chega a ser uma elementar do crime e por tanto é
que não ultrapassa a esfera de vigilância da vítima. transmitido ao partícipe estranho nos termos do artigo 29
do Código Penal Brasileiro.

31
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Sujeito passivo será sempre o condomínio, coproprie- Consuma-se no momento em que o agente retira o
tário, coerdeiro ou o sócio, não podendo excluir-se o ter- objeto material da esfera de disponibilidade da vítima,
ceiro possuidor legítimo da coisa. mesmo que não haja a posse tranquila.
A vontade de subtrair configura o momento subjetivo, A Lei nº 13.654, de 2018 mudou a redação do § 2º do
fala-se em dolo específico na doutrina, na expressão “para artigo 157,dispondo que a pena no roubo é aumentada de
si ou para outrem”. 1/3 (um terço) até metade, revogando ainda o inciso I do
A pena culminada para furto de coisa comum é alter- referido artigo.
nativa de detenção de 6 (seis) meses à 2 (dois) anos ou A referida Lei incluiu o inciso VI o qual dispõe que, “se
multa. Dá-se ao juiz a margem para individualização da a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios
pena tendo em vista as circunstâncias do caso concreto. que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabrica-
ção, montagem ou emprego.”
ROUBO Sobre este inciso, destaca-se que foi criada uma causa
A ação penal é pública, porém depende de represen- de aumento de pena (majorante) que, no caso de furto,
tação da parte. consiste em qualificadora, como já referido.
Como expresso no artigo 157 do Código Penal Brasi-
leiro: “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, A Lei incluiu ainda o seguinte texto:
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluí-
mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois
do pela Lei nº 13.654, de 2018)
de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego
de resistência: pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) de arma de fogo; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
anos, e multa”. II – se há destruição ou rompimento de obstáculo me-
Trata-se de crime contra o patrimônio, em que é atingi- diante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que
do também a integridade física ou psíquica da vítima. cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
É um crime complexo, onde o objeto jurídico imediato § 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei nº
do crime é o patrimônio, e tutela-se também a integridade 13.654, de 2018)
corporal, a saúde, a liberdade e na hipótese de latrocínio a I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete)
vida do sujeito passivo. a 18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído pela Lei nº 13.654, de
O Roubo também é um delito comum, podendo ser 2018)
cometido por qualquer pessoa, dando-se o mesmo com II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trin-
o sujeito passivo. Pode ocorrer a hipótese de dois sujeitos ta) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
passivos: um que sofre a violência e o titular do direito de
propriedade. O presente parágrafo traz causa de aumento de pena
Como no Furto, a conduta é subtrair, tirar a coisa mó- para o crime de roubo se a violência ou ameaça é exercida
vel alheia, mas faça-se necessário que o agente se utilize com emprego de arma de fogo, deslocada que foi para
de violência, lesões corporais, ou vias de fato, como grave este parágrafo inovador, deixando de aumentar a pena em
ameaça ou de qualquer outro meio que produza a possibi- fração variável de 1/3 até a metade para uma fração fixa da
lidade de resistência do sujeito passivo. ordem de 2/3 (dois terços).
A vontade de subtrair com emprego de violência, gra-
ve ameaça ou outro recurso análogo é o dolo do delito Acerca da tentativa, quanto ao roubo próprio ela é
de roubo. Exige-se porém, o elemento subjetivo do tipo, o admitida, visto podendo ocorrer quando o sujeito, após
chamado dolo específico, idêntico ao do furto, para si ou empregar a violência ou grave ameaça contra a pessoa,
para outrem, é que se dá a subtração. por motivos alheios a sua vontade, não consegue efetuar
a subtração.
Já a tentativa para o crime de roubo impróprio temos
Há uma figura denominada roubo impróprio que vem
duas correntes:
definido no art.157 §1º do Código Penal Brasileiro: “na
Sua classificação doutrinária é de crime comum quanto
mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coi-
ao sujeito, doloso, de forma livre, de dano, material e ins-
sa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a tantâneo. Tendo ação penal pública incondicionada.
fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da
coisa para si ou para terceiro”. Nesse caso a violência ou ROUBO E LESÃO CORPORAL GRAVE
a grave ameaça ocorre após a consumação da subtração, Nos termos do artigo 157 § 3º do Código Penal Brasilei-
visando o agente assegurar a posse da coisa subtraída ou a ra primeira parte, é qualificado roubo quando: “da violência
impunidade do crime. resulta lesão corporal de natureza grave, fixando-se a pena
A violência posterior ou roubo para assegurar a sua im- num patamar superior ao fixado anteriormente, aqui reclu-
punidade, deve ser imediato para caracterização do roubo são de 5 (cinco) à 15 (quinze) anos, além da multa”.
impróprio. É indispensável que a lesão seja causada pela violência,
A consumação do roubo impróprio ocorre com a vio- não estando o agente, sujeito às penas previstas pelo dis-
lência ou grave ameaça desde que já ocorrido a subtração, positivo em estudo, se o evento decorra de grave ameaça,
não se consumando esta, tem se entendido que o agente como enfarte, choque ou do emprego de narcóticos. Ha-
deverá ser responsabilizado por tentativa de furto em con- verá no caso roubo simples seguido de lesões corporais de
curso com o crime de lesões corporais. natureza grave em concurso formal.

32
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

A lesão poderá ser sofrida pelo titular do direito ou em § 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da
um terceiro. liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a
obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão,
O § 3º do artigo 157 também sofreu modificação sig- de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão
nificativa. Agora as hipóteses de violência são tratadas em corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no
dois incisos. art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. (Incluído pela Lei nº
No inciso I, se da violência resulta lesão corporal grave, 11.923, de 2009)
a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e mul-
ta. Por aqui houve modificação na pena máxima, que deixa É um crime comum, formal ou material, de forma livre,
de ser de 15 anos e passa a ser de 18 anos de reclusão. instantâneo, unissubjetivo, plurissubsistente, comissivo,
No § 3º, inciso II, se da violência resulta morte, a pena doloso, de dano, complexo e admite tentativa.
é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. Desse A conduta consiste em constranger (obrigar, forcar,
modo, nota-se que o latrocínio é tratado no § 3º, inciso II, coagir), mediante violência (física: vias de fato ou lesão
do Código Penal. corporal) ou grave ameaça (moral: intimidação idônea ex-
plicita ou explicita que incute medo no ofendido) com o
ROUBO SEGUIDO DE MORTE - LATROCÍNIO objetivo de obter para si ou para outrem indevida (injusta,
Comina-se pena de reclusão de 20 à 30 anos se resulta ilícita) vantagem econômica (qualquer vantagem seja de
a morte, as mesmas considerações referentes aos crimes coisa móvel ou imóvel).
qualificados pelo resultado, podem ser aqui aplicadas. Haverá constrangimento ilegal se a vantagem não for
O artigo da Lei 8072/90 (Lei dos Crimes Hediondos), econômica e exercício arbitrário das próprias razoes se a
em conformidade com o artigo 5º XLIII, da Constituição vantagem for devida.
Federal Brasileira, considera crime de latrocínio Hediondo.
Nos termos legais o Latrocínio não exige que o evento Tipo subjetivo
morte seja desejado pelo agente, basta que ele empregue O tipo é composto de dolo duplo: o primeiro constituí-
do pela vontade livre e consciente de constranger alguém
violência para roubar e que dela resulte a morte para que
mediante violência ou grave ameaça, dolo genérico; o se-
se tenha caracterizado o delito.
gundo exige o elemento subjetivo do tipo específico na
É indiferente, porém, que a violência tenha sido exerci-
expressão “com intuito de”.
da para o fim da subtração ou para garantir, depois desta,
a impunidade do crime ou a detenção da coisa subtraída.
Consumação
Ocorre latrocínio ainda que a violência atinja pessoa
Discute-se na doutrina se o crime de extorsão é for-
diversa daquela que sofre o desapossamento da coisa. Ha-
mal ou material. Para os que o consideram formal, a con-
verá, no entanto um só crime com dois sujeitos passivos.
sumação ocorre independentemente do resultado. Basta
A consumação do latrocínio ocorre com a efetiva sub- ser idôneo ao constrangimento imposto à vítima, sendo
tração e a morte da vítima, embora no latrocínio haja morte irrelevante a enfeitava obtenção da vantagem econômica
da vítima, ele é um crime contra o patrimônio, sendo Juiz indevida.
singular e não do Tribunal do Júri, essa é a posição válida. O comportamento da vítima nesse caso é fundamen-
Pena: reclusão de vinte a trinta anos, sem prejuízo da tal para a consumação do delito. É a indispensabilidade da
multa, conforme alteração do artigo 6º da Lei n.º. 8072/90. conduta do sujeito passivo para a consumação do crime,
Conforme o artigo 9º dessa lei, a pena é agravada de me- se o constrangimento for sério, idôneo o suficiente para
tade quando a vítima se encontra nas condições do artigo ensejar a ação ou omissão da vítima em detrimento do seu
224 do Código Penal Brasileiro: “presunção de violência”. patrimônio, perfaz-se o tipo penal do art. 168 do CP.
Da outra parte, se entendido como crime material, a
EXTORSÃO consumação se dará com obtenção de indevida vantagem
O crime de extorsão é formal e consuma-se no mo- econômica. Seguimos esse entendimento, para nós o crime
mento e no local em que ocorre o constrangimento para de extorsão é material consumando-se com a efetiva ob-
que se faça ou se deixe de fazer alguma coisa. Súmula nº tenção indevida vantagem econômica.
96 do Superior Tribunal de Justiça. Tentativa
Admite-se quer considerando o crime formal ou mate-
Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou rial. Surge quando a vítima mesmo constrangida, mediante
grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para violência ou grave ameaça, não realiza a condita por cir-
outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que cunstâncias alheias à vontade do agente. A vítima, então
se faça ou deixar fazer alguma coisa: não se intimida, vence o medo e denuncia o fato a polícia.
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO (art. 159)
ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço Na extorsão mediante sequestro, diferentemente da
até metade. extorsão do art. 158, a vantagem pode ser qualquer uma
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência (inclusive econômica). Trata-se de crime hediondo em to-
o disposto no § 3º do artigo anterior. das as suas modalidades, havendo privação da liberdade da

33
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

vítima para se obter a vantagem. É crime complexo, resul- EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO COM LESÃO
tante da extorsão + sequestro ou cárcere privado (é o que CORPORAL GRAVE.
diz a doutrina, mas eu não concordo, visto que a extorsão Se o fato resulta lesão corporal de natureza grave a
exige finalidade de obter vantagem econômica indevida). pena será de reclusão de 16 a 24 anos; se resulta a morte a
Se o sequestro for para obtenção de qualquer van- pena será de reclusão de 24 a 30 anos. Observa-se de ime-
tagem devida, haverá o crime de exercício arbitrário das diato a diferença deste delito com o de roubo qualificado
próprias razões em concurso material com o sequestro ou pelo resultado. No art. 157 do CP a lei diz: “se da violência
cárcere privado. resultar lesão grave ou morte”; logo, num roubo em que ví-
Apesar de o tipo se referir a “qualquer vantagem”, não tima cardíaca diante de uma ameaça vem a falecer, haverá
haverá o crime se a vantagem não tiver algum valor econô- roubo em concurso material com homicídio e não latrocí-
mico. Isso se depreende da interpretação sistêmica do tipo, nio. O tipo exige o emprego da violência. Na extorsão me-
que está inserido no Título II, relativo aos crimes contra o diante sequestro a lei menciona: “se dos ato resultar lesão
patrimônio. grave ou morte”, pouco importando para qualificar o delito
Não influi na caracterização do crime o fato de a ví- que a lesão grave seja culposa ou dolosa.. Evidentemente,
tima ser transportada para algum lugar ou ser retida em se a lesão grave ou morte resultar de caso fortuito ou força
sua própria casa. Ademais, o sequestro deve se dar como maior, o resultado agravados não poderá ser imputado ao
condição ou preço do resgate. agente.
Sujeito passivo
Pode ser qualquer pessoa, inclusive pessoa jurídica, EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO E TORTURA
que pode ter, v.g., um de seus sócios sequestrados para Entendemos que os institutos possuem objetividades
que seja efetuado o pagamento. Determina-se o sujeito jurídicas distintas e autônomas. Na extorsão são mediante
passivo de acordo com a pessoa que terá o patrimônio le- sequestro ofende-se o patrimônio, a liberdade de ir e vir
sado. e a vida. Na tortura atinge-se a dignidade humana, con-
Se a pessoa que sofre a privação da liberdade for dife- substanciada na integridade física e mental. Com efeito, a
rente daquela que terá seu patrimônio diminuído, haverá nosso, juízo, nada impede o reconhecimento do concurso
apenas um crime, não obstante existirem duas vítimas. material de infrações.
Consumação e tentativa
Ocorre a consumação quando o agente pratica a con- DELAÇÃO PREMIADA
duta prevista no núcleo do tipo, quando realiza o sequestro O benefício somente se aplica quando o crime for co-
privando a vítima da liberdade por tempo juridicamente metido em concurso de pessoas, devendo o acusado for-
relevante, ainda que não aufira a vantagem qualquer e ain- necer às autoridades elementos capazes de facilitar a reso-
da que nem tenha sido pedido o resgate. Logo, o crime é lução do crime. Causa obrigatória de diminuição de pena
formal. se preenchidos os requisitos estabelecidos pelo parágrafo
“A extorsão mediante sequestro, como crime formal ou 4º do art. 159, qual seja, denúncia à autoridade (juiz, dele-
de consumação antecipada, opera-se com a simples priva- gado ou promotor) feita por um dos concorrentes, e esta
ção da liberdade de locomoção da vítima, por tempo juri- facilitar a libertação da vítima. Faz-se mister salientar que,
dicamente relevante. Ainda que o sequestrado não tenha se não houver a libertação do sequestrado, mesmo haven-
sido conduzido ao local de destino, o crime está consuma- do delação do coautor, não haverá diminuição de pena.
do” (MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal Interpretado.
6ª edição. São Paulo: Atlas. 2007, pág. 1.476). Não se confunde com a confissão espontânea, pois
Perfeitamente possível a tentativa, já que a execução nesta o agente garante confessa sua participação no crime,
do crime requer um iter criminis desdobrado em vários sem incriminar outrem.
atos. Porém, difícil de se configurar. Hipótese seria aquela
em que os agentes são flagrados logo após colocarem a EXTORSÃO INDIRETA
vítima no carro, pois aí não teriam privado sua liberdade Art. 160. Exigir ou receber, como garantia de dívida,
por tempo juridicamente relevante. abusando da situação de alguém, documento que pode
dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou con-
EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO QUALIFICADA tra terceiro:
Se o sequestro dura mais de 24h, se o sequestrado é Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
menor de 18 e maior que 60 anos, ou se o crime é cometi-
do por bando ou quadrilha a pena será de reclusão de 12 Classificação doutrinária
a 20 anos. Quanto maior o tempo em que a vítima estiver Crime comum, doloso, de dano, formal (exigir) e ma-
em poder do criminoso, maior será o dano à saúde e inte- terial (receber), instantâneo, comissivo, de forma vinculada,
gridade física. unissubjetivo, unissubsistente (exigir) ou plurissubsistente
(receber) e admite tentativa.
Quanto ao crime cometido por bando ou quadrilha, A conduta recai sobre o documento que pode dar cau-
entende-se como a reunião permanente de mais de três sa a um procedimento criminal contra o devedor, como a
pessoas para cometer e não uma reunião ocasional para confissão de um crime, a falsificação de um título de crédi-
cometer o sequestro to, uma duplicata fria etc.

34
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

A conduta consiste ainda em exigir (obrigar, ordenar) Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação
ou receber (aceitar) um documento que pode dar causa a dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
procedimento criminal contra a vítima ou terceiro. É abusar § 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza
da situação daquele que necessita urgentemente de auxílio grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de
financeiro. Necessário para a configuração do delito que o 14 (catorze) anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
documento exigido ou recebido pelo agente, que pode ser Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. (Incluído
público ou particular, se preste a instauração de inquérito pela Lei nº 12.015, de 2009)
policial contra o ofendido. Não se exige a instauração do § 2o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº
procedimento criminal, basta que o documento em poder 12.015, de 2009)
do credor seja potencialmente apto a iniciar o processo. Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos (Incluído
pela Lei nº 12.015, de 2009)
Consumação Art. 214 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
Na ação de exigir, crime formal, a consumação ocorre Violação sexual mediante fraude (Redação dada pela
com a simples exigência do documento pelo extorsionário. Lei nº 12.015, de 2009)
A iniciativa aqui é do agente, na conduta de receber, crime Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato li-
material, a consumação ocorre com o efetivo recebimento bidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que
do documento. Nesse caso a iniciativas provém da vítima. impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da víti-
ma: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Tentativa Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Redação
Na modalidade exigir, entendemos não ser possível dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
sua configuração, embora uma parcela da doutrina a ad- Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de
mita com o sovado exemplo, também oferecido nos crimes obter vantagem econômica, aplica-se também multa. (Re-
contra a honra, de a exigência ser reduzida por escrito, mas dação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
não chegar ao conhecimento do ofendido. Na de receber, Art. 216. (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
no entanto, é perfeitamente possível, podendo o iter crimi- Assédio sexual (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de
nis ser interrompido por circunstâncias alheias à vontade 2001)
do agente. Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de ob-
ter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o
agente da sua condição de superior hierárquico ou ascen-
dência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou fun-
CRIMES CONTRA OS COSTUMES; ção.(Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001)
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. (Incluído
pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001)
Parágrafo único. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.224,
Dos crimes contra a dignidade sexual de 15 de 2001)
O título VI da parte especial do Código Penal prevê os § 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima
crimes contra a dignidade sexual, dividindo-se em 7 capí- é menor de 18 (dezoito) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015,
tulos, sendo esses: I- Dos crimes contra a liberdade sexual, de 2009)
II- Dos crimes sexuais contra vulnerável, III- Do rapto, IV
Disposições Gerais, V – Do lenocínio e do Tráfico de Pes- Capítulo II
soa para fim de prostituição ou outra forma de exploração Dos crimes sexuais contra vulnerável
sexual, VI- Do ultraje público ao pudor, VII- Disposições (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Gerais.
Como o próprio nome do capítulo diz, são crimes con- Sedução
tra a dignidade sexual da pessoa. Art. 217 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
Estupro de vulnerável(Incluído pela Lei nº 12.015, de
Título VI 2009)
Dos crimes contra a dignidade sexual  Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: (Incluído pela
Lei nº 12.015, de 2009)
Capítulo I Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído
Dos crimes contra a liberdade sexual  pela Lei nº 12.015, de 2009)
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) § 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações
descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou
Estupro  deficiência mental, não tem o necessário discernimento
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou para a prática do ato, ou que, por qualquer outra cau-
grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou per- sa, não pode oferecer resistência. (Incluído pela Lei nº
mitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: (Reda- 12.015, de 2009)
ção dada pela Lei nº 12.015, de 2009) § 2o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

35
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza Diminuição de pena


grave: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) Art. 221 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. (Incluído Concurso de rapto e outro crime
pela Lei nº 12.015, de 2009) Art. 222 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
§ 4o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº
12.015, de 2009) Capítulo IV
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. (Incluí- Disposições gerais
do pela Lei nº 12.015, de 2009) Art. 223 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
Art. 224 -(Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
Corrupção de menores 
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a Ação penal
satisfazer a lascívia de outrem: (Redação dada pela Lei nº Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste
12.015, de 2009) Título, procede-se mediante ação penal pública condicio-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. (Redação nada à representação. (Redação dada pela Lei nº 12.015,
dada pela Lei nº 12.015, de 2009) de 2009)
Parágrafo único. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.015, Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante
de 2009) ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de
Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável. (Incluído pela Lei
adolescente (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) nº 12.015, de 2009)
Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de Aumento de pena
14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção car- Art. 226. A pena é aumentada: (Redação dada pela Lei
nal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia pró- nº 11.106, de 2005)
pria ou de outrem: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) I – de quarta parte, se o crime é cometido com o con-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. (Incluído curso de 2 (duas) ou mais pessoas; (Redação dada pela Lei
pela Lei nº 12.015, de 2009) nº 11.106, de 2005)
Favorecimento da prostituição ou de outra forma de II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou
madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador,
exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulne-
preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro
rável. (Redação dada pela Lei nº 12.978, de 2014)
título tem autoridade sobre ela; (Redação dada pela Lei nº
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou
11.106, de 2005)
outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (de-
III - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
zoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental,
não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
Capítulo V
facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: (Incluído Do lenocínio e do tráfico de pessoa para fim de pros-
pela Lei nº 12.015, de 2009) tituição ou outra forma de
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. (Incluído Exploração sexual
pela Lei nº 12.015, de 2009) (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vanta-
gem econômica, aplica-se também multa. (Incluído pela Lei Mediação para servir a lascívia de outrem
nº 12.015, de 2009) Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de ou-
§ 2o Incorre nas mesmas penas: (Incluído pela Lei nº trem:
12.015, de 2009) Pena - reclusão, de um a três anos.
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libi- § 1o  Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18
dinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (dezoito) anos, ou se o agente é seu ascendente, descen-
(catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo; dente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador
(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação,
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local de tratamento ou de guarda: (Redação dada pela Lei nº
em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste 11.106, de 2005)
artigo. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito § 2º Se o crime é cometido com emprego de violência,
obrigatório da condenação a cassação da licença de loca- grave ameaça ou fraude:
lização e de funcionamento do estabelecimento.(Incluído Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena cor-
pela Lei nº 12.015, de 2009) respondente à violência.
§ 3º Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-
Capítulo III -se também multa.
Do rapto Favorecimento da prostituição ou outra forma de ex-
ploração sexual (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Rapto violento ou mediante fraude Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou ou-
Art. 219 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) tra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou difi-
Rapto consensual cultar que alguém a abandone: (Redação dada pela Lei nº
Art. 220 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) 12.015, de 2009)

36
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. § 1º Na mesma pena incorre quem promover, por
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica,
§ 1o Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, a saída de estrangeiro do território nacional para ingres-
irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, sar ilegalmente em país estrangeiro. Incluído pela Lei nº
preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei 13.445, de 2017 Vigência
ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilân- § 2º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um
cia: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) terço) se :Incluído pela Lei nº 13.445, de 2017 Vigência
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. (Redação I - o crime é cometido com violência; ou Incluído pela
dada pela Lei nº 12.015, de 2009) Lei nº 13.445, de 2017 Vigência
§ 2º Se o crime, é cometido com emprego de II - a vítima é submetida a condição desumana ou de-
violência, grave ameaça ou fraude: gradante .Incluído pela Lei nº 13.445, de 2017 Vigência
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, além da pena § 3º A pena prevista para o crime será aplicada sem
correspondente à violência. prejuízo das correspondentes às infrações conexas. Incluí-
§ 3º Se o crime é cometido com o fim de lucro, do pela Lei nº 13.445, de 2017 Vigência
aplica-se também multa.
Capítulo VI
Casa de prostituição Do ultraje público ao pudor
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, es- Ato obsceno
tabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou
não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou
gerente: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) aberto ou exposto ao público:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Rufianismo Escrito ou objeto obsceno


Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, partici- Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob
pando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de
no todo ou em parte, por quem a exerça: exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. qualquer objeto obsceno:
§ 1o Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem:
(catorze) anos ou se o crime é cometido por ascendente,
I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público
padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companhei-
qualquer dos objetos referidos neste artigo;
ro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima,
II - realiza, em lugar público ou acessível ao público,
ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de
representação teatral, ou exibição cinematográfica de ca-
cuidado, proteção ou vigilância:(Redação dada pela Lei nº
ráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o
12.015, de 2009)
mesmo caráter;
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Re-
III - realiza, em lugar público ou acessível ao público,
dação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) ou pelo rádio, audição ou recitação de caráter obsceno.
§ 2o Se o crime é cometido mediante violência, grave
ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a li- Capítulo VII
vre manifestação da vontade da vítima: (Redação dada pela Disposições gerais 
Lei nº 12.015, de 2009) (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo Aumento de pena(Incluído pela Lei nº 12.015, de
da pena correspondente à violência.(Redação dada pela Lei 2009)
nº 12.015, de 2009)
Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é
sexual (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) aumentada:(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Art. 231. (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vi- I – (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
gência) II – (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Art. 231-A. (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vi- III - de metade, se do crime resultar gravidez; e (Incluí-
gência) do pela Lei nº 12.015, de 2009)
Art. 232 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009) IV - de um sexto até a metade, se o agente transmite
à vitima doença sexualmente transmissível de que sabe ou
Promoção de migração ilegal deveria saber ser portador. (Incluído pela Lei nº 12.015, de
Art. 232-A. Promover, por qualquer meio, com o fim de 2009)
obter vantagem econômica, a entrada ilegal de estrangeiro Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes de-
em território nacional ou de brasileiro em país estrangeiro: finidos neste Título correrão em segredo de justiça. (Incluí-
Incluído pela Lei nº 13.445, de 2017 Vigência do pela Lei nº 12.015, de 2009) 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Art. 234-C. (VETADO).(Incluído pela Lei nº 12.015, de
Incluído pela Lei nº 13.445, de 2017 Vigência 2009)

37
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Parto suposto. Supressão ou alteração de direito


inerente ao estado civil de recém-nascido
CRIMES CONTRA A FAMÍLIA; Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar
como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou
substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao
estado civil: (Redação dada pela Lei nº 6.898, de 1981)
TÍTULO VII Pena - reclusão, de dois a seis anos. (Redação dada
DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA pela Lei nº 6.898, de 1981)
CAPÍTULO I Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo
DOS CRIMES CONTRA O CASAMENTO de reconhecida nobreza: (Redação dada pela Lei nº 6.898,
de 1981)
Bigamia Pena - detenção, de um a dois anos, podendo o juiz
Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casa- deixar de aplicar a pena. (Redação dada pela Lei nº 6.898,
mento: de 1981)
Sonegação de estado de filiação
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
Art. 243 - Deixar em asilo de expostos ou outra insti-
§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamen-
tuição de assistência filho próprio ou alheio, ocultando-lhe
to com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é
a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar
punido com reclusão ou detenção, de um a três anos.
direito inerente ao estado civil:
§ 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casa- Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
mento, ou o outro por motivo que não a bigamia, conside-
ra-se inexistente o crime. CAPÍTULO III
Induzimento a erro essencial e ocultação de impe- DOS CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR
dimento
Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro es- Abandono material
sencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsis-
que não seja casamento anterior: tência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os
do contraente enganado e não pode ser intentada senão recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão
depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada;
de erro ou impedimento, anule o casamento. deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou as-
Conhecimento prévio de impedimento cendente, gravemente enfermo: (Redação dada pela Lei nº
Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existên- 10.741, de 2003)
cia de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e mul-
Pena - detenção, de três meses a um ano. ta, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no
Simulação de autoridade para celebração de casa- País. (Redação dada pela Lei nº 5.478, de 1968)
mento Parágrafo único - Nas mesmas penas incide quem,
Art. 238 - Atribuir-se falsamente autoridade para cele- sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclu-
bração de casamento: sive por abandono injustificado de emprego ou função, o
Pena - detenção, de um a três anos, se o fato não pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada,
constitui crime mais grave. fixada ou majorada. (Incluído pela Lei nº 5.478, de 1968)
Simulação de casamento Entrega de filho menor a pessoa inidônea
Art. 245 - Entregar filho menor de 18 (dezoito) anos a
Art. 239 - Simular casamento mediante engano de ou-
pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber que o me-
tra pessoa:
nor fica moral ou materialmente em perigo: (Redação dada
Pena - detenção, de um a três anos, se o fato não
pela Lei nº 7.251, de 1984)
constitui elemento de crime mais grave.
Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. (Redação
Adultério dada pela Lei nº 7.251, de 1984)
Art. 240 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) § 1º - A pena é de 1 (um) a 4 (quatro) anos de reclusão,
se o agente pratica delito para obter lucro, ou se o menor
CAPÍTULO II é enviado para o exterior. (Incluído pela Lei nº 7.251, de
DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO 1984)
§ 2º - Incorre, também, na pena do parágrafo anterior
Registro de nascimento inexistente quem, embora excluído o perigo moral ou material, auxi-
Art. 241 - Promover no registro civil a inscrição de nas- lia a efetivação de ato destinado ao envio de menor para
cimento inexistente: o exterior, com o fito de obter lucro. (Incluído pela Lei nº
Pena - reclusão, de dois a seis anos. 7.251, de 1984)

38
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Abandono intelectual § 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em


Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instru- dobro.
ção primária de filho em idade escolar: § 2º - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. dois anos, ou, se resulta morte, de dois a quatro anos.
Art. 247 - Permitir alguém que menor de dezoito anos, Infração de medida sanitária preventiva
sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou vigilância: Art. 268 - Infringir determinação do poder público,
I - freqüente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva destinada a impedir introdução ou propagação de doença
com pessoa viciosa ou de má vida; contagiosa:
II - freqüente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa.
ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço,
igual natureza; se o agente é funcionário da saúde pública ou exerce a
III - resida ou trabalhe em casa de prostituição; profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.
IV - mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comi- Omissão de notificação de doença
seração pública: Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. pública doença cuja notificação é compulsória:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
CAPÍTULO IV Envenenamento de água potável ou de substância
DOS CRIMES CONTRA O alimentícia ou medicinal
PÁTRIO PODER, TUTELA CURATELA Art. 270 - Envenenar água potável, de uso comum ou
particular, ou substância alimentícia ou medicinal destina-
Induzimento a fuga, entrega arbitrária ou sonega- da a consumo:
ção de incapazes Pena - reclusão, de dez a quinze anos. (Redação dada
Art. 248 - Induzir menor de dezoito anos, ou interdito, pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
a fugir do lugar em que se acha por determinação de quem § 1º - Está sujeito à mesma pena quem entrega a con-
sobre ele exerce autoridade, em virtude de lei ou de ordem sumo ou tem em depósito, para o fim de ser distribuída, a
judicial; confiar a outrem sem ordem do pai, do tutor ou do água ou a substância envenenada.
curador algum menor de dezoito anos ou interdito, ou dei- Modalidade culposa
xar, sem justa causa, de entregá-lo a quem legitimamente § 2º - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
o reclame:
Corrupção ou poluição de água potável
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Art. 271 - Corromper ou poluir água potável, de uso
Subtração de incapazes
comum ou particular, tornando-a imprópria para consumo
Art. 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou interdito
ou nociva à saúde:
ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei
Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
ou de ordem judicial:
Modalidade culposa
Pena - detenção, de dois meses a dois anos, se o fato
Parágrafo único - Se o crime é culposo:
não constitui elemento de outro crime. Pena - detenção, de dois meses a um ano.
§ 1º - O fato de ser o agente pai ou tutor do menor ou Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de
curador do interdito não o exime de pena, se destituído ou substância ou produtos alimentícios (Redação dada pela
temporariamente privado do pátrio poder, tutela, curatela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
ou guarda. Art. 272 - Corromper, adulterar, falsificar ou alterar
§ 2º - No caso de restituição do menor ou do interdito, substância ou produto alimentício destinado a consumo,
se este não sofreu maus-tratos ou privações, o juiz pode tornando-o nociva à saúde ou reduzindo-lhe o valor nutri-
deixar de aplicar pena. tivo: (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e mul-
ta. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
§ 1º-A - Incorre nas penas deste artigo quem fabrica,
CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA; CRIMES vende, expõe à venda, importa, tem em depósito para ven-
CONTRA A SAÚDE PÚBLICA; der ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo
a substância alimentícia ou o produto falsificado, corrom-
pido ou adulterado. (Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
§ 1º - Está sujeito às mesmas penas quem pratica as
CAPÍTULO III ações previstas neste artigo em relação a bebidas, com
DOS CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA ou sem teor alcoólico.(Redação dada pela Lei nº 9.677, de
2.7.1998)
Epidemia Modalidade culposa
Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de § 2º - Se o crime é culposo: (Redação dada pela Lei nº
germes patogênicos: 9.677, de 2.7.1998)
Pena - reclusão, de dez a quinze anos. (Redação dada Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. (Re-
pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990) dação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)

39
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de Art. 276 - Vender, expor à venda, ter em depósito para
produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais  (Re- vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo produto
dação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) nas condições dos arts. 274 e 275.
Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar pro- Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.(Reda-
duto destinado a fins terapêuticos ou medicinais: (Redação ção dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) Substância destinada à falsificação
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e mul- Art. 277 - Vender, expor à venda, ter em depósito ou ce-
ta. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) der substância destinada à falsificação de produtos alimen-
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, ven- tícios, terapêuticos ou medicinais:(Redação dada pela Lei nº
de, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de 9.677, de 2.7.1998)
qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. (Re-
falsificado, corrompido, adulterado ou alterado.  (Redação dação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) Outras substâncias nocivas à saúde pública
§ 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere Art. 278 - Fabricar, vender, expor à venda, ter em depósito
este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os insu- para vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo coisa
mos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de ou substância nociva à saúde, ainda que não destinada à ali-
uso em diagnóstico. (Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) mentação ou a fim medicinal:
§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
as ações previstas no § 1º em relação a produtos em qual- Modalidade culposa
quer das seguintes condições: (Incluído pela Lei nº 9.677, Parágrafo único - Se o crime é culposo:
de 2.7.1998) Pena - detenção, de dois meses a um ano.
I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilân- Substância avariada
cia sanitária competente; (Incluído pela Lei nº 9.677, de Art. 279 - (Revogado pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
Medicamento em desacordo com receita médica
2.7.1998)
Art. 280 - Fornecer substância medicinal em desacordo
II - em desacordo com a fórmula constante do registro
com receita médica:
previsto no inciso anterior; (Incluído pela Lei nº 9.677, de
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa.
2.7.1998)
Modalidade culposa
III - sem as características de identidade e qualidade
Parágrafo único - Se o crime é culposo:
admitidas para a sua comercialização; (Incluído pela Lei nº
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
9.677, de 2.7.1998) Comércio clandestino ou facilitação de uso de entor-
IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua pecentes
atividade; ((Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) COMÉRCIO, POSSE OU USO DE ENTORPECENTE OU
V - de procedência ignorada; (Incluído pela Lei nº SUBSTÂNCIA QUE DETERMINE DEPENDÊNCIA FÍSICA OU PSÍ-
9.677, de 2.7.1998) QUICA. (Redação dada pela Lei nº 5.726, de 1971)(Revogado
VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da au- pela Lei nº 6.368, 1976)
toridade sanitária competente. (Incluído pela Lei nº 9.677, Art. 281. (Revogado pela Lei nº 6.368, 1976)
de 2.7.1998) Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farma-
 Modalidade culposa cêutica
§ 2º - Se o crime é culposo:  Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Re- de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal
dação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) ou excedendo-lhe os limites:
Emprego de processo proibido ou de substância Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
não permitida Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de
Art. 274 - Empregar, no fabrico de produto destinado a lucro, aplica-se também multa.
consumo, revestimento, gaseificação artificial, matéria co- Charlatanismo
rante, substância aromática, anti-séptica, conservadora ou Art. 283 - Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou
qualquer outra não expressamente permitida pela legisla- infalível:
ção sanitária: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e mul- Curandeirismo
ta. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) Art. 284 - Exercer o curandeirismo:
Invólucro ou recipiente com falsa indicação I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmen-
Art. 275 - Inculcar, em invólucro ou recipiente de pro- te, qualquer substância;
dutos alimentícios, terapêuticos ou medicinais, a existência II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
de substância que não se encontra em seu conteúdo ou III - fazendo diagnósticos:
que nele existe em quantidade menor que a menciona- Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
da:(Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) Parágrafo único - Se o crime é praticado mediante remu-
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e mul- neração, o agente fica também sujeito à multa.
ta. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) Forma qualificada
Produto ou substância nas condições dos dois arti- Art. 285 - Aplica-se o disposto no art. 258 aos crimes pre-
gos anteriores vistos neste Capítulo, salvo quanto ao definido no art. 267.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

TÍTULO IX Moeda Falsa (art. 289)


DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moe-
da metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no
Incitação ao crime estrangeiro:
Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime: Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa. A fabricação é ação conhecida como contrafação;
Apologia de crime ou criminoso nela, se insere materialmente o objeto em circulação. Já
Art. 287 - Fazer, publicamente, apologia de fato crimi- a alteração pressupõe a existência de um suporte, o qual
noso ou de autor de crime: o agente modifica de alguma forma, geralmente para que
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa. valha mais.
 Associação Criminosa O bem jurídico protegido é a fé pública, ou seja, a se-
Art. 288.Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o gurança da sociedade em relação à moeda, ao meio circu-
fim específico de cometer crimes: (Redação dada pela Lei lante e à circulação monetária.
nº 12.850, de 2013) (Vigência) Moeda de curso legal é aquela de recebimento obri-
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Redação gatório, por força de lei, que não pode ser recusada no co-
dada pela Lei nº 12.850, de 2013) (Vigência) mércio. Ela pode se referir tanto a moeda metálica quanto
Parágrafo único.A pena aumenta-se até a metade se a ao papel-moeda. Se o aceite de outra moeda for meramen-
associação é armada ou se houver a participação de crian- te convencional, não restará caracterizado o crime (pode
ça ou adolescente. (Redação dada pela Lei nº 12.850, de haver, em tese, o estelionato).
2013) (Vigência)
Constituição de milícia privada(Incluído dada pela O crime se consuma com a simples contrafação ou al-
Lei nº 12.720, de 2012) teração, sendo indiferente se houve ou não a efetiva intro-
Art. 288-A.Constituir, organizar, integrar, manter ou dução das moedas falsificadas em circulação; tampouco se
custear organização paramilitar, milícia particular, grupo exige dano a terceiro.
ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos A ação penal é pública incondicionada, de competên-
crimes previstos neste Código: (Incluído dada pela Lei nº cia da Justiça Federal. Como o crime deixa vestígios, exi-
12.720, de 2012) ge-se prova pericial.
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos. (Incluído
dada pela Lei nº 12.720, de 2012) Não se admite, predominantemente, a aplicação do
princípio da insignificância, sendo irrelevante o número de
cédulas, seu valor ou o número de pessoas eventualmente
lesadas.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA; Não se aplica o princípio da insignificância ao crime de
moeda falsa, pois se trata de delito contra a fé pública, logo
não há que falar em desinteresse estatal à sua repressão

Crimes Contra a Fé Pública Circulação de Moeda Falsa (art. 289, § 1º)


Os crimes contra a fé pública são crimes de perigo abs- § 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta pró-
trato, porque neles o tipo não faz referência ao perigo. As- pria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca,
sim, há de se questionar, por exemplo, o seguinte: alguém cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda
falsificou uma cédula, mas é uma cédula de três reais, exis- falsa.
tiu o crime de falso de moeda? Nesse caso, não se exige que a moeda falsa seja a de
Poderia se levar a pensar que sim, o legislador não fala curso legal no país, podendo ser moeda estrangeira.
que a moeda tenha que ser essencialmente corresponden- O autor pode ser qualquer pessoa, menos o autor
te a uma que exista. Mas a resposta seria não, inclusive a da falsificação. É um tipo subsidiário, podendo o agente
súmula 73 do STJ nos auxiliaria a dizer isto. A súmula 73 diz responder por uma destas condutas caso não seja determi-
assim: o papel moeda grosseiramente falsificado não con- nada a autoria da falsificação.
figura crime de moeda falsa, mas sim estelionato em tese, O tipo se caracteriza por ser misto alternativo. Eviden-
de competência da JE. Qual o raciocínio que se emprega? temente que se o agente falsifica a moeda e a faz circular,
Malgrado seja um crime de perigo abstrato, a con- responderá por um só crime, já que a circulação é mero
duta praticada não dispensa a idoneidade para a de- exaurimento.
monstração da possibilidade de o perigo acontecer. As O agente precisa ter conhecimento da falsidade. Se ele
condutas têm que ter idoneidade suficiente a produzir pe- recebe a moeda e a faz circular sem saber, não responde
rigo, o que não significa dizer que o perigo seja exigido, pelo crime.
são coisas diversas. Há como descaracterizar a idoneidade O Dolo é muito difícil de se comprovar nesses crimes,
em termos abstratos, e não concretos, como seria o caso. pois o agente sempre nega a autoria, alegando que des-
Uma cédula de três reais pode expor a risco a fé pública? conhecia a falsidade. O juiz, por sua vez, deve se atentar
Não, nem em abstrato. para as máximas da experiência, para o modus operandi do
agente, a fim de captar a prática do crime. É o que ocorre,

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

por exemplo, quando o agente utiliza a moeda na calada § 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz cir-
da noite, com pessoas humildes, quando já tenha tentado cular moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada.
trocar a moeda anteriormente etc. Baltazar sugere que se
atente para os seguintes dados: Falsificação de Documento Público (art. 297)
Quantidade de cédulas encontradas com o agente; Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento
Modo de introdução em circulação; público, ou alterar documento público verdadeiro:
Existência de outras cédulas de menor valor em poder Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
do agente; São requisitos da falsificação:
Verossimilhança da versão do réu para a origem das Que ela seja idônea: é a falsificação apta a iludir, capaz
cédulas; de enganar qualquer pessoa normal; para a jurisprudência,
Grau de instrução do agente; a falsificação grosseira não constitui crime, pois não é capaz
Local onde guarda as cédulas. de enganar as pessoas em geral. Poderia ser, no máximo, es-
Trata-se de crime formal e de perigo abstrato, sendo telionato;
irrelevantes, para a consumação, a obtenção da vantagem Que tenha capacidade de causar prejuízo a alguém:
indevida para o agente ou de prejuízo para terceiros. Disquete, cd, xerox etc. não são documentos. Documen-
to é toda peça escrita que condensa o pensamento de al-
guém, capaz de provar um fato ou a realização de um ato de
Concurso de Crimes
relevância jurídica.
Se o agente introduz em circulação várias cédulas ou
moedas, no mesmo contexto, há crime único.
Requisitos do Documento Público
Se ele introduz moedas em locais próximos, num mes- Deve ser elaborado por agente público;
mo contexto, há entendimento de ser crime único e crime O agente público deve estar no exercício da função, ten-
continuado. do atribuição para tanto;
Se o agente obtém vantagem econômica indevida, O Deve obedecer às formalidades legais exigidas para a va-
ESTELIONATO É ABSORVIDO PELO DELITO DE MOEDA FAL- lidade do documento.
SA, por aplicação do princípio da consunção ou da espe- Pode um documento estrangeiro ser considerado pú-
cialidade. blico? Sim, desde que seja considerado público no país de
origem e que satisfaça os requisitos de validade previstos no
ordenamento brasileiro.
Competência
É da Justiça Federal, já que afeta a fé pública da União, Documentos Públicos por Equiparação (art. 297, § 2º)
ainda que tenha por objeto moeda estrangeira. Trata-se de documentos particulares que, pela sua im-
A competência para processar e julgar esses crimes de portância, foram equiparados pela lei a documento público.
moeda falsa é da JF, desde que haja idoneidade, desde que São eles:
se trate de crime de moeda falsa. Documentos emitidos por entidade paraestatal;
Se não houver idoneidade haverá o falso inócuo. A fi- Título ao portador ou transmissível por endosso;
gura do falso inócuo, então, é aquela em que a falsificação Livros mercantis;
existiu, mas com as características dela não se apresenta Testamento particular.
capaz a iludir um número indeterminado de agentes. Consumação e Tentativa
A consumação ocorre quando realizada a falsificação ou
Forma Privilegiada (art. 289, § 2º) alteração. É um crime formal, bastando o resultado jurídico,
§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verda- sendo perfeitamente possível a tentativa.
deira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, de- Concurso de Crimes
pois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de Falsificação de documento público e estelionato: para o
STF, ambos os crimes coexistiriam, mas em concurso formal.
seis meses a dois anos, e multa.
Para o STJ:
Adquirir a moeda falsa sem ter conhecimento do vício
Falsificação e uso de documento falso (art. 304): o uso
não é crime. Entretanto, o é o fato de colocar novamente
será absorvido, já que é mero pós fato impunível. Isso, entre-
em circulação após conhecer da falsidade. tanto, se o falsário for a mesma pessoa que usa o documento
Esse crime somente se consuma com a reintrodução da Causas de Aumento de Pena (art. 297, 13º)
moeda à circulação. Logo, é material, admitindo a tentativa. § 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o cri-
me prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta
Forma Qualificada (art. 289, § 3º) parte.
§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e
multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal Falsidade de Documento e Sonegação Fiscal
de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabri- Nos crimes de sonegação fiscal há causas extintivas de
cação ou emissão: punibilidade, assim como também há o entendimento do
I - de moeda com título ou peso inferior ao determi- STF no sentido de que eles são sujeitos a uma condição
nado em lei; objetiva de punibilidade, que significa o esgotamento da
II - de papel-moeda em quantidade superior à auto- via administrativa.
rizada.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Falsificação de Documento Particular (art. 298) A cópia sem autenticação não pode ser considerada
Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento documento para fins penais.
particular ou alterar documento particular verdadeiro:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. Elemento Subjetivo, Consumação e Tentativa
O conceito de documento particular é dado por exclu- O crime exige o especial fim de prejudicar direito ou
são. Particular é todo documento que não é público. São criar obrigação, ou ainda, alterar a verdade sobre fato juri-
exemplos: dicamente relevante.
Cheque devolvido pelo banco: é documento particu- Na MODALIDADE OMISSIVA, consuma-se com a omis-
lar, pois após devolvido o cheque, não mais poderá ser são e não cabe tentativa.
transmitido por endosso. Na comissiva, ocorre quando o agente insere ou faz
Documento endereçado à autoridade pública: não é terceiro inserir, sendo a tentativa perfeitamente possível.
documento público, já que não foi feito por autoridade
pública. Causa de Aumento de Pena
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público,
Falsidade Ideológica (art. 299) e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a fal-
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particu- sificação ou alteração é de assentamento de registro civil,
lar, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou aumenta-se a pena de sexta parte.
fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação Uso de Documento Falso (art. 304)
ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o do- ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302:
cumento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
se o documento é particular. Trata-se de crime com preceito penal secundário re-
Trata-se de um crime formal, bastando a possibilidade metido.
de dano para ser punível. Fazer uso é utilizar documento falso como se verdadei-
A falsidade ideológica é voltada para a declaração que ro fosse. O uso deve ser efetivo, não bastando mencionar
compõe o documento, para o conteúdo do que se quer que possui o documento. Se o agente falsifica e usa docu-
falsificar. Nela, o documento é formalmente perfeito e mento, há simplesmente progressão criminosa, e o uso se
falso seu conteúdo intelectual. O agente declara e faz
torna um post factum impunível.
constar no documento algo que sabe não ser verdadeiro.
Não haverá o crime se o documento for encontrado
Na falsidade material o vício incide sobre a parte ex-
pela autoridade em revista pessoal do agente; se o docu-
terior do documento, recaindo sobre o elemento físico do
mento é apresentado mediante solicitação ou exigência da
papel escrito e verdadeiro. O sujeito modifica as caracterís-
autoridade policial, há controvérsia.
ticas originais do objeto material por meio de rasuras, bor-
Competência
rões, emendas, substituição de palavras ou letras, números,
Se o documento utilizado for passaporte, a competên-
etc. Na falsidade ideológica (ou pessoa) o vício incide sobre
cia será da Justiça Federal do lugar onde apresentado:
as declarações que o objeto material deveria possuir, sobre
o conteúdo das ideias. Inexistem rasuras, emendas, omis- Falsa Identidade (art. 307)
sões ou acréscimos. O documento, sob o aspecto material Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identi-
é verdadeiro; falsa é a ideia que ele contém. Daí também dade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio,
chamar-se ideal ou para causar dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se
Requisitos para a Configuração, Conforme Juris- o fato não constitui elemento de crime mais grave.
prudência Trata-se de um delito formal e expressamente subsi-
Que a declaração tenha valor por si mesma: se a decla- diário.
ração tiver de ser investigada pela autoridade pública, não Identidade se refere às características que uma pessoa
há crime (v.g., declaração de pobreza falsa). Nesse sentido: possui capazes de a individualizarem na sociedade. Está li-
Que a declaração faça parte do objeto do documento: gada intimamente à noção de estado civil.
as declarações irrelevantes, como o endereço da testemu- A falsidade tem de ser idônea e deve haver relevância
nha num contrato, não caracterizam o crime jurídica na imputação falsa, capacidade de causar dano.
O silêncio não pode configurar falsa identidade, já que
Casuísticas o crime é comissivo.
Se alguém pega a assinatura de um amigo em uma
folha em branco e preenche como confissão de dívida, pra- Falsa Identidade e Autodefesa
tica o crime de falsidade ideológica; Para concursos de Defensoria Pública, o preso em fla-
Pegar uma folha e falsificar a assinatura de outrem é grante ou interrogado em juízo que se dá outro nome para
falsidade material; se eximir da condenação simplesmente exerce a autode-
Se, em um B.O., o escrivão inserir fatos que não foram fesa, em seu sentido mais amplo, aplicando-se o brocardo
narrados, haverá falsidade ideológica; nemo tenetur se detegere.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Para o MP, evidentemente que não se trata de auto- § 1º Equipara-se a funcionário público quem exer-
defesa, já que a conduta do agente é comissiva, tentando ce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e
enganar a autoridade pública, se afastando em muito do quem trabalha para empresa prestadora de serviço contra-
simples direito à não autoincriminação tada ou conveniada para a execução de atividade típica da
Administração Pública.
§ 2º A pena será aumentada da terça parte quando
os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocu-
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO pantes de cargos em comissão ou de função de direção
PÚBLICA. ou assessoramento de órgão da administração direta, so-
ciedade de economia mista, empresa pública ou fundação
instituída pelo poder público.
Contudo, ao considerar o que seja funcionário público
O Capítulo I do Título XI do Código Penal trata dos para fins penais, nosso Código Penal nos dá um conceito
crimes funcionais, praticados por determinado grupo de unitário, sem atender aos ensinamentos do Direito Admi-
pessoas no exercício de sua função, associado ou não com nistrativo, tomando a expressão no sentido amplo.
pessoa alheia aos quadros administrativos, prejudicando o Dessa forma, para os efeitos penais, considera-se fun-
correto funcionamento dos órgãos do Estado. cionário público não apenas o servidor legalmente investi-
A Administração Pública deste modo, em geral dire- do em cargo público, mas também o que servidor publico
ta, indireta e empresas privadas prestadoras de serviços efetivo ou temporário.
públicos, contratadas ou conveniadas será vítima primária
e constante, podendo, secundariamente, figurar no polo Tipos penais Contra Administração Pública
passivo eventual administrado prejudicado.
O crime de Peculato, Peculato apropriação, Peculato
O agente, representante de um poder estatal, tem por desvio, Peculato furto, Peculato culposo, Peculato median-
função principal cumprir regularmente seus deveres, con- te erro de outrem, Concussão, Excesso de exação, Corrup-
fiados pelo povo. A traição funcional faz com que todos te- ção passiva e Prevaricação, são os crimes tipificado com
praticados por agentes públicos.
nhamos interesse na sua punição, até porque, de certa for-
ma, somos afetados por elas. Dentro desse espírito, mesmo
Peculato
quando praticado no estrangeiro, logo, fora do alcance da
soberania nacional, o delito funcional será alcançado, obri-
Previsto no artigo 312 do C.P., a objetividade jurídica
gatoriamente, pela lei penal.
do peculato é a probidade da administração pública. É um
crime próprio onde o sujeito ativo será sempre o funcioná-
Não bastasse, a Lei 10.763, de 12 de novembro de
rio público e o sujeito passivo o Estado e em alguns casos
2003, condicionou a progressão de regime prisional nos o particular. Admite-se a participação.
crimes contra a Administração Pública à prévia reparação
do dano causado, ou à devolução do produto do ilícito Peculato Apropriação
praticado, com os acréscimos legais.
É uma apropriação indébita e o objeto pode ser di-
A lei em comento não impede a progressão aos crimes nheiro, valor ou bem móvel. É de extrema importância que
funcionais, mas apenas acrescenta uma nova condição ob- o funcionário tenha a posse da coisa em razão do seu car-
jetiva, de cumprimento obrigatório para que o reeducando go. Consumação: Se dá no momento da apropriação, em
conquiste o referido benefício. que ele passa a agir como o titular da coisa apropriada.
Admite-se a tentativa.
Crimes Funcionais
Espécies Peculato Desvio
Os delitos funcionais são divididos em duas espécies:
próprios e impróprios. O servidor desvia a coisa em vez de apropriar-se. Aqui
Nos crimes funcionais próprios, na qualidade de fun- o sujeito ativo além do servidor pode tem participação de
cionário público ao autor, o fato passa a ser tratado como uma 3a pessoa. Consumação: No momento do desvio e
um tipo penal descrito. admite-se a tentativa.
Já nos impróprios desaparecendo a qualidade de
servidor publico, desaparece também o crime funcional, Peculato Furto
desclassificando a conduta para outro delito, de natureza
diversa. Previsto no Art. 312 CP., aqui o funcionário público
não detêm a posse, mas consegue deter a coisa em razão
Conceito de Funcionário Público para Efeitos Penais da facilidade de ser servidor público. Ex: Diretor de escola
Art. 327. Considera-se funcionário público, para os pública que tem a chave de todas as salas da escola, apro-
efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem re- veita-se da sua função e facilidade e subtrai algo que não
muneração, exerce cargo, emprego ou função pública. estava sob sua posse, tem-se o peculato furto.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Peculato Culposo Os crimes contra a Administração Pública é demasia-


damente prejudicial, pois refletem e afetam a todos os
Aproveitando o exemplo da escola, neste caso o di- cidadãos dependentes do serviço publico, colocando em
retor esquece a porta aberta e alguém entra no colégio e crédito e a prova a credibilidade das instituições públicas,
subtrai um bem. A consumação se dá no momento em que para apenas satisfazer o egoísmo e egocentrismo desses
o 3o subtrai a coisa. Não admite-se a tentativa. agentes corruptos.
Tais mecanismos de combate devem ser aplicas com
Peculato mediante Erro de Outrem rigor e aperfeiçoados para que estes desviantes do servi-
ço publico, tenham suas praticas de errôneas coibidas e
Art. 313 C.P., o seu objeto jurídico é a probidade admi- extintas, podem assim fortalecer as instituições publica e
nistrativa. Sujeito ativo: funcionário público; sujeito passi- valorizar os servidores.
vo: Estado e o particular lesado. A modalidade de peculato
mediante erro de outrem, é um peculato estelionato, onde TÍTULO XI
a pessoa é induzida a erro. Ex: Um fiscal vai aplicar uma DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
multa a um determinado contribuinte e esse contribuinte
CAPÍTULO I
paga o valor direto a esse fiscal, que embolsa o dinheiro.
DOS CRIMES PRATICADOS
Só que na verdade nunca existiu multa alguma e esse di-
POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
nheiro não tinha como destino os cofres públicos e sim o
favorecimento pessoal do agente. É um crime doloso e sua CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
consumação se dá quando ele passa a ser o titular da coisa.
Admite-se a tentativa. Peculato
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinhei-
Concussão ro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou parti-
cular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo,
Art. 316 C.P., é uma espécie de extorsão praticada pelo em proveito próprio ou alheio:
servidor público com abuso de autoridade. O objeto jurí- Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
dico é a probidade da administração pública. Sujeito ativo: § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário públi-
Crime próprio praticado pelo servidor e o seu jeito passivo co, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem,
é o Estado e a pessoa lesada. A conduta é exigir. Trata-se de o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito
crime formal pois consuma-se com a exigência, se houver próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe propor-
entrega de valor há exaurimento do crime e a vítima não ciona a qualidade de funcionário.
responde por corrupção ativa porque foi obrigada a agir Peculato culposo
dessa maneira. § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o
crime de outrem:
Excesso de Exação Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do
A exigência vai para os cofres públicos, isto é, recolhe dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibi-
aos cofres valor não devido, ou era para recolher aos cofres lidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.
públicos, porém o funcionário se apropria do valor. Peculato mediante erro de outrem
Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilida-
Corrupção Passiva de que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Art. 317 C.P., o Objeto jurídico é a probidade admi-
Inserção de dados falsos em sistema de informa-
nistrativa. Sujeito ativo: funcionário público. A vítima é o
ções (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Estado e apenas na conduta solicitar é que a vítima será,
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado,
além do Estado a pessoa ao qual foi solicitada.
a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamen-
Condutas: Solicitar, receber e aceitar promessa, au- te dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos
menta-se a pena se o funcionário retarda ou deixa de pra- de dados da Administração Pública com o fim de obter
ticar atos de ofício. Não admite-se a tentativa, é no caso de vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar
privilegiado, onde cede ao pedido ou influência de 3a pes- dano: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000))
soa. Só se consuma pela prática do ato do servidor público. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e mul-
ta. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Prevaricação Modificação ou alteração não autorizada de sistema de
informações (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Art. 319 C.P., aqui também tutela-se a probidade ad- Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema
ministrativa. É um crime próprio, cometido por funcioná- de informações ou programa de informática sem autori-
rio público e a vítima é o Estado. A conduta é: retardar ou zação ou solicitação de autoridade competente: (Incluído
deixar de praticar ato de ofício. O Crime consuma-se com pela Lei nº 9.983, de 2000)
o retardamento ou a omissão, é doloso e o objetivo do Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e
agente é buscar satisfação ou vantagem pessoal. multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço Condescendência criminosa


até a metade se da modificação ou alteração resulta dano Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de res-
para a Administração Pública ou para o administrado.(In- ponsabilizar subordinado que cometeu infração no exercí-
cluído pela Lei nº 9.983, de 2000) cio do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o
Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou do- fato ao conhecimento da autoridade competente:
cumento Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, Advocacia administrativa
de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inu- Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interes-
tilizá-lo, total ou parcialmente: se privado perante a administração pública, valendo-se da
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não qualidade de funcionário:
constitui crime mais grave. Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
Emprego irregular de verbas ou rendas públicas Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação Pena - detenção, de três meses a um ano, além da mul-
diversa da estabelecida em lei: ta.
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. Violência arbitrária
Concussão Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indi- a pretexto de exercê-la:
retamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da
mas em razão dela, vantagem indevida: pena correspondente à violência.
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Abandono de função
Excesso de exação Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição so- permitidos em lei:
cial que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei § 1º - Se do fato resulta prejuízo público:
não autoriza:(Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. (Re- § 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa
dação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) de fronteira:
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem,
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos:
Exercício funcional ilegalmente antecipado ou pro-
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
longado
Corrupção passiva
Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, di-
de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la,
reta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exo-
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar
promessa de tal vantagem: nerado, removido, substituído ou suspenso:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e mul- Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
ta. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003) Violação de sigilo funcional
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conse- Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do
qüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe
deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infrin- a revelação:
gindo dever funcional. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa,
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retar- se o fato não constitui crime mais grave.
da ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a § 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: (In-
pedido ou influência de outrem: cluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. I – permite ou facilita, mediante atribuição, forneci-
Facilitação de contrabando ou descaminho mento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o
Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informa-
prática de contrabando ou descaminho (art. 334): ções ou banco de dados da Administração Pública; (Incluí-
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. (Re- do pela Lei nº 9.983, de 2000)
dação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. (Incluí-
Prevaricação do pela Lei nº 9.983, de 2000)
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, § 2o  Se da ação ou omissão resulta dano à Adminis-
ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, tração Pública ou a outrem: (Incluído pela Lei nº 9.983, de
para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: 2000)
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. (In-
Art. 319-A.Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente cluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso Violação do sigilo de proposta de concorrência
a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a Art. 326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrên-
comunicação com outros presos ou com o ambiente exter- cia pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devas-
no: (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007). sá-lo:
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa.

46
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Funcionário público Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço,


Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário re-
efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem re- tarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever
muneração, exerce cargo, emprego ou função pública. funcional.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exer- Descaminho
ce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e Art. 334.Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de
quem trabalha para empresa prestadora de serviço contra- direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo
tada ou conveniada para a execução de atividade típica da consumo de mercadoria (Redação dada pela Lei nº 13.008,
Administração Pública.(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) de 26.6.2014)
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Redação
autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupan- dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
tes de cargos em comissão ou de função de direção ou as- § 1oIncorre na mesma pena quem:(Redação dada pela
sessoramento de órgão da administração direta, sociedade Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
de economia mista, empresa pública ou fundação instituí- I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos
da pelo poder público. (Incluído pela Lei nº 6.799, de 1980) permitidos em lei;(Redação dada pela Lei nº 13.008, de
26.6.2014)
CAPÍTULO II II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descami-
DOS CRIMES PRATICADOS POR nho;(Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou,
de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio,
Usurpação de função pública no exercício de atividade comercial ou industrial, merca-
Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública: doria de procedência estrangeira que introduziu clandes-
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. tinamente no País ou importou fraudulentamente ou que
Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem: sabe ser produto de introdução clandestina no território
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. nacional ou de importação fraudulenta por parte de ou-
Resistência trem; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou
violência ou ameaça a funcionário competente para execu- alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
tá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada
Pena - detenção, de dois meses a dois anos. de documentação legal ou acompanhada de documentos
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: que sabe serem falsos.(Redação dada pela Lei nº 13.008,
Pena - reclusão, de um a três anos. de 26.6.2014)
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo § 2o Equipara-se às atividades comerciais, para os efei-
das correspondentes à violência. tos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou
Desobediência clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exer-
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário cido em residências.(Redação dada pela Lei nº 13.008, de
público: 26.6.2014)
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. § 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de descami-
Desacato nho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
função ou em razão dela: Contrabando
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibi-
Tráfico de Influência (Redação dada pela Lei nº 9.127, da:(Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
de 1995) Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos.(Incluído
Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pre- § 1o Incorre na mesma pena quem:(Incluído pela Lei nº
texto de influir em ato praticado por funcionário público 13.008, de 26.6.2014)
no exercício da função: (Redação dada pela Lei nº 9.127, I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contraban-
de 1995) do;(Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e mul- II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria
ta. (Redação dada pela Lei nº 9.127, de 1995) que dependa de registro, análise ou autorização de ór-
Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se gão público competente;(Incluído pela Lei nº 13.008, de
o agente alega ou insinua que a vantagem é também des- 26.6.2014)
tinada ao funcionário.(Redação dada pela Lei nº 9.127, de III - reinsere no território nacional mercadoria brasilei-
1995) ra destinada à exportação;(Incluído pela Lei nº 13.008, de
Corrupção ativa 26.6.2014)
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de
funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no
retardar ato de ofício: exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e mul- proibida pela lei brasileira;(Incluído pela Lei nº 13.008, de
ta. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003) 26.6.2014)

47
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou § 1o É extinta a punibilidade se o agente, espontanea-
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mente, declara e confessa as contribuições, importâncias
mercadoria proibida pela lei brasileira.(Incluído pela Lei nº ou valores e presta as informações devidas à previdência
13.008, de 26.6.2014)§ 2º - Equipara-se às atividades co- social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do
merciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de início da ação fiscal. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
comércio irregular ou clandestino de mercadorias estran- § 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou apli-
geiras, inclusive o exercido em residências.(Incluído pela car somente a de multa se o agente for primário e de bons
Lei nº 4.729, de 14.7.1965) antecedentes, desde que: (Incluído pela Lei nº 9.983, de
§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de contra- 2000)
bando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou flu- I – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
vial. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessó-
Impedimento, perturbação ou fraude de concor- rios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previ-
rência dência social, administrativamente, como sendo o mínimo
Art. 335 - Impedir, perturbar ou fraudar concorrência para o ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído pela
pública ou venda em hasta pública, promovida pela ad- Lei nº 9.983, de 2000)
ministração federal, estadual ou municipal, ou por entida- § 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha
de paraestatal; afastar ou procurar afastar concorrente ou de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil,
licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de um
oferecimento de vantagem: terço até a metade ou aplicar apenas a de multa. (Incluído
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, pela Lei nº 9.983, de 2000)
além da pena correspondente à violência. § 4o O valor a que se refere o parágrafo anterior será
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se abs- reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices do
tém de concorrer ou licitar, em razão da vantagem ofere- reajuste dos benefícios da previdência social. (Incluído pela
cida. Lei nº 9.983, de 2000)
Inutilização de edital ou de sinal CAPÍTULO II-A 
Art. 336 - Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou (Incluído pela Lei nº 10.467, de 11.6.2002)
conspurcar edital afixado por ordem de funcionário públi- DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA
co; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por deter- A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTRANGEIRA
minação legal ou por ordem de funcionário público, para
identificar ou cerrar qualquer objeto: Corrupção ativa em transação comercial internacio-
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. nal
Subtração ou inutilização de livro ou documento Art. 337-B. Prometer, oferecer ou dar, direta ou indire-
Art. 337 - Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, tamente, vantagem indevida a funcionário público estran-
livro oficial, processo ou documento confiado à custódia geiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a praticar,
de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em ser- omitir ou retardar ato de ofício relacionado à transação
viço público: comercial internacional:(Incluído pela Lei nº 10467, de
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não 11.6.2002)
constitui crime mais grave. Pena – reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa. (In-
Sonegação de contribuição previdenciária  (Incluído cluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002)
pela Lei nº 9.983, de 2000) Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um ter-
Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social pre- ço), se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário
videnciária e qualquer acessório, mediante as seguintes público estrangeiro retarda ou omite o ato de ofício, ou
condutas: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) o pratica infringindo dever funcional. (Incluído pela Lei nº
I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de 10467, de 11.6.2002)
documento de informações previsto pela legislação previ- Tráfico de influência em transação comercial inter-
denciária segurados empregado, empresário, trabalhador nacional (Incluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002)
avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que Art. 337-C. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou
lhe prestem serviços; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) para outrem, direta ou indiretamente, vantagem ou pro-
II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios messa de vantagem a pretexto de influir em ato praticado
da contabilidade da empresa as quantias descontadas dos por funcionário público estrangeiro no exercício de suas
segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo toma- funções, relacionado a transação comercial internacio-
dor de serviços; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) nal: (Incluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002)
III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros au- Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e mul-
feridos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos ta. (Incluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002)
geradores de contribuições sociais previdenciárias: (Incluí- Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se o
do pela Lei nº 9.983, de 2000) agente alega ou insinua que a vantagem é também desti-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e mul- nada a funcionário estrangeiro. (Incluído pela Lei nº 10467,
ta. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) de 11.6.2002)

48
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Funcionário público estrangeiro (Incluído pela Lei nº Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qual-
10467, de 11.6.2002) quer outra vantagem a testemunha, perito, contador, tra-
Art. 337-D. Considera-se funcionário público estran- dutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou
geiro, para os efeitos penais, quem, ainda que transitoria- calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução
mente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou ou interpretação: (Redação dada pela Lei nº 10.268, de
função pública em entidades estatais ou em representa- 28.8.2001)
ções diplomáticas de país estrangeiro. (Incluído pela Lei nº Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.(Reda-
10467, de 11.6.2002) ção dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)
Parágrafo único. Equipara-se a funcionário público Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a
estrangeiro quem exerce cargo, emprego ou função em um terço, se o crime é cometido com o fim de obter prova
empresas controladas, diretamente ou indiretamente, destinada a produzir efeito em processo penal ou em pro-
pelo Poder Público de país estrangeiro ou em organiza- cesso civil em que for parte entidade da administração pú-
ções públicas internacionais. (Incluído pela Lei nº 10467, blica direta ou indireta. (Redação dada pela Lei nº 10.268,
de 11.6.2002) de 28.8.2001)
Coação no curso do processo
CAPÍTULO III Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o fim
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade,
parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chama-
Reingresso de estrangeiro expulso da a intervir em processo judicial, policial ou administrati-
Art. 338 - Reingressar no território nacional o estran- vo, ou em juízo arbitral:
geiro que dele foi expulso: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da
Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de pena correspondente à violência.
nova expulsão após o cumprimento da pena. Exercício arbitrário das próprias razões
Denunciação caluniosa Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para sa-
Art. 339. Dar causa à instauração de investigação po- tisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o
licial, de processo judicial, instauração de investigação ad- permite:
ministrativa, inquérito civil ou ação de improbidade admi- Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa,
nistrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o
além da pena correspondente à violência.
sabe inocente: (Redação dada pela Lei nº 10.028, de 2000)
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, so-
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
mente se procede mediante queixa.
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente
Art. 346 - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa pró-
se serve de anonimato ou de nome suposto.
pria, que se acha em poder de terceiro por determinação
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é
judicial ou convenção:
de prática de contravenção.
Comunicação falsa de crime ou de contravenção Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunican- Fraude processual
do-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de pro-
não se ter verificado: cesso civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito:
Auto-acusação falsa Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir
inexistente ou praticado por outrem: efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. aplicam-se em dobro.
Falso testemunho ou falsa perícia Favorecimento pessoal
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade
verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão:
intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquéri- Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
to policial, ou em juízo arbitral: (Redação dada pela Lei nº § 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão:
10.268, de 28.8.2001) Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e mul- § 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descen-
ta. (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013) (Vigência) dente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena.
§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, Favorecimento real
se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-au-
com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em toria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o
processo penal, ou em processo civil em que for parte enti- proveito do crime:
dade da administração pública direta ou indireta.(Redação Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) Art. 349-A.Ingressar, promover, intermediar, auxiliar
§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunica-
no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ção móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em
ou declara a verdade.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de estabelecimento prisional. (Incluído pela Lei nº 12.012, de
28.8.2001) 2009).

49
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (Incluí- Sonegação de papel ou objeto de valor probatório
do pela Lei nº 12.012, de 2009). Art. 356 - Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de
Exercício arbitrário ou abuso de poder restituir autos, documento ou objeto de valor probatório,
Art. 350 - Ordenar ou executar medida privativa de que recebeu na qualidade de advogado ou procurador:
liberdade individual, sem as formalidades legais ou com Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
abuso de poder: Exploração de prestígio
Pena - detenção, de um mês a um ano. Art. 357 - Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer ou-
Parágrafo único - Na mesma pena incorre o funcioná- tra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do
rio que: Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor,
I - ilegalmente recebe e recolhe alguém a prisão, ou a intérprete ou testemunha:
estabelecimento destinado a execução de pena privativa Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
de liberdade ou de medida de segurança; Parágrafo único - As penas aumentam-se de um terço,
II - prolonga a execução de pena ou de medida de se- se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade
gurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de também se destina a qualquer das pessoas referidas neste
executar imediatamente a ordem de liberdade;
artigo.
III - submete pessoa que está sob sua guarda ou custó-
Violência ou fraude em arrematação judicial
dia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei;
Art. 358 - Impedir, perturbar ou fraudar arrematação
IV - efetua, com abuso de poder, qualquer diligência.
Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de judicial; afastar ou procurar afastar concorrente ou licitante,
segurança por meio de violência, grave ameaça, fraude ou ofereci-
Art. 351 - Promover ou facilitar a fuga de pessoa le- mento de vantagem:
galmente presa ou submetida a medida de segurança de- Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa,
tentiva: além da pena correspondente à violência.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Desobediência a decisão judicial sobre perda ou
§ 1º - Se o crime é praticado a mão armada, ou por suspensão de direito
mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento, a pena Art. 359 - Exercer função, atividade, direito, autorida-
é de reclusão, de dois a seis anos. de ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão
§ 2º - Se há emprego de violência contra pessoa, apli- judicial:
ca-se também a pena correspondente à violência. Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
§ 3º - A pena é de reclusão, de um a quatro anos, se o
crime é praticado por pessoa sob cuja custódia ou guarda CAPÍTULO IV
está o preso ou o internado. DOS CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS
§ 4º - No caso de culpa do funcionário incumbido da (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)
custódia ou guarda, aplica-se a pena de detenção, de três
meses a um ano, ou multa. Contratação de operação de crédito
Evasão mediante violência contra a pessoa Art. 359-A. Ordenar, autorizar ou realizar operação de
Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o crédito, interno ou externo, sem prévia autorização legisla-
indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, tiva: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)
usando de violência contra a pessoa: Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos. (Incluído
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena pela Lei nº 10.028, de 2000)
correspondente à violência. Parágrafo único. Incide na mesma pena quem ordena,
Arrebatamento de preso autoriza ou realiza operação de crédito, interno ou exter-
Art. 353 - Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do po-
no: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)
der de quem o tenha sob custódia ou guarda:
I – com inobservância de limite, condição ou montan-
Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena
te estabelecido em lei ou em resolução do Senado Fede-
correspondente à violência.
Motim de presos ral; (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)
Art. 354 - Amotinarem-se presos, perturbando a ordem II – quando o montante da dívida consolidada ultra-
ou disciplina da prisão: passa o limite máximo autorizado por lei. (Incluído pela Lei
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da nº 10.028, de 2000)
pena correspondente à violência. Inscrição de despesas não empenhadas em restos a
Patrocínio infiel pagar (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)
Art. 355 - Trair, na qualidade de advogado ou procura- Art. 359-B. Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a
dor, o dever profissional, prejudicando interesse, cujo pa- pagar, de despesa que não tenha sido previamente empe-
trocínio, em juízo, lhe é confiado: nhada ou que exceda limite estabelecido em lei: (Incluído
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa. pela Lei nº 10.028, de 2000)
Patrocínio simultâneo ou tergiversação Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (In-
Parágrafo único - Incorre na pena deste artigo o advo- cluído pela Lei nº 10.028, de 2000)
gado ou procurador judicial que defende na mesma causa, Assunção de obrigação no último ano do mandato ou
simultânea ou sucessivamente, partes contrárias. legislatura (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)

50
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

 Art. 359-C. Ordenar ou autorizar a assunção de obri-


gação, nos dois últimos quadrimestres do último ano do
mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga LEIS EXTRAVAGANTES: LEI DE TORTURA
no mesmo exercício financeiro ou, caso reste parcela a ser (9.455/97);
paga no exercício seguinte, que não tenha contrapartida
suficiente de disponibilidade de caixa: (Incluído pela Lei nº
10.028, de 2000)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.(Incluído No Brasil, o uso da tortura - seja como meio de obten-
pela Lei nº 10.028, de 2000) ção de provas através da confissão, seja como forma de
Ordenação de despesa não autorizada (Incluído pela castigo a prisioneiros - data dos tempos da Colônia. Le-
Lei nº 10.028, de 2000) gado da Inquisição, a tortura nunca deixou de ser aplicada
Art. 359-D. Ordenar despesa não autorizada por lei: (In- durante os 322 anos de período colonial e nem posterior-
cluído pela Lei nº 10.028, de 2000) mente - nos 67 anos do Império e no período republicano.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído Durante os chamados anos de chumbo, assim como na
pela Lei nº 10.028, de 2000) ditadura Vargas (período denominado Estado Novo ou Re-
Prestação de garantia graciosa (Incluído pela Lei nº pública Nova, em alusão à República Velha, que se findava),
10.028, de 2000) houve a prática sistemática da tortura contra presos políti-
Art. 359-E. Prestar garantia em operação de crédito cos - aqueles considerados subversivos, que alegadamente
sem que tenha sido constituída contragarantia em valor ameaçavam a segurança nacional. Durante o regime militar
igual ou superior ao valor da garantia prestada, na forma de 1964, os torturadores brasileiros eram em sua grande
da lei: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000) maioria militares das forças armadas, em especial do exér-
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (In- cito. Os principais centros de tortura no Brasil, nesta época,
cluído pela Lei nº 10.028, de 2000) eram os DOI/CODI, órgãos militares de defesa interna.
Não cancelamento de restos a pagar (Incluído pela Lei No final dos anos 1960 e início dos anos 1970, as di-
nº 10.028, de 2000) taduras militares do Brasil e de outros países da América
Art. 359-F. Deixar de ordenar, de autorizar ou de pro- do Sul criaram a chamada Operação Condor, para perse-
mover o cancelamento do montante de restos a pagar ins- guir, torturar e eliminar opositores. Receberam o suporte
crito em valor superior ao permitido em lei: (Incluído pela de especialistas militares norte-americanos, ligados à CIA,
Lei nº 10.028, de 2000) que ensinaram novas técnicas de tortura para obtenção de
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (In- informações.
cluído pela Lei nº 10.028, de 2000) Com a redemocratização, em 1985, cessou a prática da
Aumento de despesa total com pessoal no último ano tortura com fins políticos. Mas as técnicas foram incorpo-
do mandato ou legislatura(Incluído pela Lei nº 10.028, de radas por muitos policiais, que passaram a aplicá-las contra
2000) os presos comuns, “suspeitos” ou detentos.
Art. 359-G. Ordenar, autorizar ou executar ato que O artigo V da Declaração de 1948 prevê que “ninguém
acarrete aumento de despesa total com pessoal, nos cento será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo
e oitenta dias anteriores ao final do mandato ou da legisla- cruel, desumano ou degradante”, previsão repetida no ar-
tura: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)) tigo 7º do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído e no artigo 5º da Convenção Americana sobre os Direitos
pela Lei nº 10.028, de 2000) Humanos. Vale lembrar que a tortura é o clássico tipo de
Oferta pública ou colocação de títulos no mercado (In- tratamento cruel.
cluído pela Lei nº 10.028, de 2000) Há uma preocupação especial da comunidade interna-
Art. 359-H. Ordenar, autorizar ou promover a oferta cional de vedar tais práticas. Neste sentido, na esfera das
pública ou a colocação no mercado financeiro de títulos da Nações Unidas, tem-se a Declaração sobre a Proteção de
dívida pública sem que tenham sido criados por lei ou sem Todas as Pessoas contra a Tortura e Outras Penas ou Trata-
que estejam registrados em sistema centralizado de liqui- mentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotada pela
dação e de custódia: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000) Assembleia Geral em 9 de dezembro de 1975, e a Conven-
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído ção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis,
pela Lei nº 10.028, de 2000) Desumanos ou Degradantes, adotada pela Assembleia Ge-
ral em 10 de dezembro de 1984 e ratificada pelo Brasil em
28 de setembro de 1989.
Na referida Declaração, o artigo 1º traz um conceito
de tortura: “1. Sob os efeitos da presente declaração, será
entendido por tortura todo ato pelo qual um funcionário
público, ou outra pessoa a seu poder, inflija intencional-
mente a uma pessoa penas ou sofrimentos graves, sendo
eles físicos ou mentais, com o fim de obter dela ou de
um terceiro informação ou uma confissão, de castigá-la
por um ato que tenha cometido ou seja suspeita de que

51
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

tenha cometido, ou de intimidar a essa pessoa ou a outras. LEI NO 9.455, DE 07 DE ABRIL DE 1997
[...]”. No documento o conceito de tortura pode ser assim Define os crimes de tortura e dá outras providências.
subdividido: a) ação, não omissão; b) praticada por funcio-
nário público ou alguém sob sua autoridade; c) com dolo Art. 1º Constitui crime de tortura:
(intenção); d) contra uma pessoa; e) consistente em penas I - constranger alguém com emprego de violência
ou sofrimentos graves, físicos ou mentais; f) visando - ob- ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
tenção de informação ou confissão, castigo ou intimidação. mental:
Pelo mesmo dispositivo, a pena privativa de liberdade a) com o fim de obter informação, declaração ou
que seja aplicada em obediência à lei, ou seja, sem arbi- confissão da vítima ou de terceira pessoa;
trariedade, em respeito aos direitos humanos consagrados Tortura-prova ou tortura-persecutória
nas Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos, não é
tortura. O que constitui tortura é “[...] uma forma agravada b) para provocar ação ou omissão de natureza cri-
e deliberada de tratamento ou de pena cruel, desumana ou
minosa;
degradante”.
Tortura para a prática de crime ou tortura-crime
Merece evidência, ainda, o artigo 3º da Declaração:
“Nenhum Estado poderá tolerar a tortura ou tratos ou
penas cruéis, desumanos ou degradantes. Não poderão c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
ser invocadas circunstâncias excepcionais tais como es- Tortura discriminatória ou tortura-racismo
tado de guerra ou ameaça de guerra, instabilidade política
interna ou qualquer outra emergência pública como justi- Sujeito ativo: crime comum, qualquer pessoa.
ficativa da tortura ou outros tratamentos ou penas cruéis, Sujeito passivo: qualquer pessoa.
desumanos ou degradantes”. A tortura é uma ofensa ta- Elemento subjetivo: dolo, específico, variando para
manha à dignidade da pessoa humana que em nenhuma cada um dos três tipos.
hipótese pode ser praticada, suspendendo ou excetuando Tipo objetivo: constranger alguém mediante violência
as garantias que a envolvem. ou grave ameaça, gerando sofrimento físico ou mental, é
Os outros artigos da Declaração tratam dos deveres conduta plurissubsistente, logo, admite tentativa.
estatais de criminalização e punição da tortura, bem como
de conscientização em treinamento de seus agentes a res- II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou au-
peito de sua vedação e de reparação dos danos causados, toridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a
encerrando com a invalidação de qualquer declaração ou intenso sofrimento físico ou mental, como forma de apli-
confissão proferida nestas condições. car castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Em geral, a Convenção mencionada apenas amplia as Tortura-castigo
questões protetivas tratadas na Declaração, merecendo
Sujeito ativo: crime próprio, pois a pessoa deve ter atri-
destaque o seu artigo 1º, que diferente do primeiro artigo
buto especial consistente em guarda, poder ou autoridade
da Declaração traz uma fórmula genérica para a finalida-
de da tortura consistente em qualquer motivo baseado sobre a outra.
em discriminação de qualquer natureza. Não obstante, Sujeito passivo: qualquer pessoa que esteja sob guar-
exclui as sanções legítimas e lembra que se a lei nacional da, poder ou autoridade de outrem.
ou internacional trouxer conceito mais amplo este preva- Elemento subjetivo: dolo, específico pois deve ser for-
lecerá. ma de castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
No Brasil, a Constituição de 1988 prevê no artigo 5o, III Tipo objetivo: a conduta de submeter alguém a violên-
que “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento cia ou grave ameaça, intenso sofrimento físico ou mental, é
desumano ou degradante” e considera a prática de tortura plurissubsistente e, como tal, admite tentativa.
como crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia
(para o STF, a proibição se estende ao indulto). Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Pela lei infraconstitucional, a tortura é disciplinada pela
Lei no 9.455, de 07 de abril de 1997, que tipifica o crime de § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa
tortura em seu artigo 1o, com pena de reclusão de 2 a 8 presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento fí-
anos. sico ou mental, por intermédio da prática de ato não pre-
Diferentemente da disciplina internacional, a tortu- visto em lei ou não resultante de medida legal.
ra não é ato exclusivamente praticado por funcionário Tortura de preso ou de pessoa sujeita a medida de
público ou terceiro particular às suas ordens (seria crime
segurança
próprio) e sim ato que pode ser praticado, em regra, por
Sujeito ativo: crime comum, qualquer pessoa, mas na
qualquer pessoa. Desta feita, o que distinguirá a tortura de
prática será comumente cometido por quem tenha pode-
outros tipos penais não será a condição do agente, mas sim
a finalidade do ato ou mesmo a intensidade do sofrimen- res no âmbito da detenção, como carcereiro ou agente pri-
to causado (esse é o critério para distinguir da prática de sional, ou da medida de segurança, como enfermeiro.
maus-tratos, art. 136, CP). Sujeito passivo: apenas pode ser pessoa presa ou sujei-
ta a medida de segurança.

52
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Elemento subjetivo: dolo. Salvo no caso de omissão para a prática de tortura, o


Tipo objetivo: submeter a sofrimento físico ou men- regime inicial de cumprimento da pena seria fechado. En-
tal diverso de ato típico previsto em lei ou resultante de tretanto, o STF afastou a obrigatoriedade de início de pena
medida legal, que é plurissubsistente, admitindo tentativa. em regime fechado para crimes hediondos e equiparados
Evidente que a pena e a medida de segurança tipicamente (HC 111.840/ES). Caberá ao juiz individualizar a pena, inclu-
geram um tipo de sofrimento, não é este abrangido pela sive quanto ao regime de cumprimento.
conduta típica.
Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, crime não tenha sido cometido em território nacional,
quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente
pena de detenção de um a quatro anos. em local sob jurisdição brasileira.
Omissão perante a tortura Trata-se de hipótese de extraterritorialidade incondi-
Sujeito ativo: pessoa que tivesse autoridade para evitar cionada da lei penal. O legislador quis garantir a punição
ou apurar as condutas. da prática repulsiva da tortura independentemente da lo-
Sujeito passivo: qualquer pessoa. calização da vítima (sendo ela brasileira) ou da nacionalida-
Elemento subjetivo: dolo. de do agente (estando ele sob jurisdição brasileira).
Tipo objetivo: tratando-se de conduta omissiva, não
admite tentativa.
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publica-
ção.
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou
gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se
resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos. Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de
Tortura qualificada julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.
Tortura + lesão grave ou gravíssima = reclusão, 4 a 10
anos. Brasília, 7 de abril de 1997; 176º da Independência e
Tortura + morte = reclusão, 8 a 16 anos. 109º da República.
Em ambos casos, vai se verificar se o autor da condu-
ta realmente não quis nem assumiu o risco de produzir o
resultado da lesão grave/gravíssima ou da morte, ou seja,
a lesão grave/gravíssima ou a morte não podem ter sido LEI DE ENTORPECENTE (LEI 6.368/76);
almejadas pelo autor, se forem, há concurso formal entre a
tortura e a lesão (art. 129, §§ 1o e 2o, CP) ou então homicídio
qualificado pela tortura (art. 121, §2o, III, CP).
Prezado Candidato, a lei de Entorpecentes, foi in-
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: teiramente revogada pela Lei 11.343/2006, conforme
I - se o crime é cometido por agente público; segue
II – se o crime é cometido contra criança, gestante,
portador de deficiência, adolescente ou maior de 60
(sessenta) anos; Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre
III - se o crime é cometido mediante sequestro. Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso
Causas de aumento de pena indevido, atenção e reinserção social de usuários e depen-
Se aplicam a todos os tipos anteriores. dentes de drogas; estabelece normas para repressão à pro-
Se houver mais de uma causa presente, o juiz apenas dução não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define
aumenta a pena uma vez, no montante máximo de 1/3. crimes e dá outras providências.
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, fun-
TÍTULO I
ção ou emprego público e a interdição para seu exercí-
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
cio pelo dobro do prazo da pena aplicada.
Se o sujeito ativo for funcionário público, perderá o
cargo, função ou emprego; se não for, ficará impedido de Art. 1o Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas
obtê-lo ou de tentar retornar a cargo diverso, pelo dobro Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para
do prazo da pena empregada. prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de
usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para
§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de
de graça ou anistia. drogas e define crimes.
Também é insuscetível de indulto. Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se
como drogas as substâncias ou os produtos capazes de
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo causar dependência, assim especificados em lei ou re-
a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em lacionados em listas atualizadas periodicamente pelo
regime fechado. Poder Executivo da União.

53
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

A lei tem três escopos: cria o SISNAD, fixa medidas de I - a prevenção do uso indevido, a atenção e a rein-
prevenção e de reinserção social e estabelece normas de serção social de usuários e dependentes de drogas;
repressão. II - a repressão da produção não autorizada e do
Se a Lei é de Drogas, a pergunta que se faz é: o que são tráfico ilícito de drogas.
drogas? No linguajar técnico, drogas são substâncias en- O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas
torpecentes ou que causam dependência física ou psíquica. – SISNAD veio para substituir o Sistema Nacional Antidro-
Substância = Matéria-prima (ex.: folha de coca). gas. O aspecto punitivo associado ao preventivo fica evi-
Produto = substância manipulada pelo homem (ex.: dente na previsão de competências do SISNAD.
cocaína). Basicamente, compete ao SISNAD a prescrição de me-
O parágrafo único traz uma norma penal em branco, didas para a prevenção do uso indevido de drogas, tra-
prevendo que a lei ou listas atualizadas do Executivo fede- tamento e reinserção social dos usuários e dependentes,
ral (portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998) irão além do estabelecimento de normas e mecanismos para
determinar quais são estas drogas abrangidas pela Lei no o combate ao narcotráfico. Também é de sua atribuição a
11.343/2006. Basicamente, significa que uma norma diver- proposta de criação de normas penais incriminadoras ao
sa que estabelecerá as substâncias abrangidas pela lei de Poder Legislativo.
drogas – se a substância não estiver listada, então não é
abrangida pela lei e o fato é atípico, mesmo que a substân- CAPÍTULO I
cia cause dependência (ex.: álcool). DOS PRINCÍPIOS E DOS OBJETIVOS DO SISTEMA
NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS
Art. 2o Ficam proibidas, em todo o território nacional,
as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a Art. 4o São princípios do Sisnad:
exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser I - o respeito aos direitos fundamentais da pessoa
extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese humana, especialmente quanto à sua autonomia e à sua
de autorização legal ou regulamentar, bem como o que liberdade;
estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre II - o respeito à diversidade e às especificidades po-
Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de
pulacionais existentes;
uso estritamente ritualístico-religioso.
III - a promoção dos valores éticos, culturais e de ci-
Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a
dadania do povo brasileiro, reconhecendo-os como fatores
cultura e a colheita dos vegetais referidos no caput deste
de proteção para o uso indevido de drogas e outros compor-
artigo, exclusivamente para fins medicinais ou científicos,
tamentos correlacionados;
em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização,
IV - a promoção de consensos nacionais, de ampla
respeitadas as ressalvas supramencionadas.
participação social, para o estabelecimento dos funda-
A ressalva da norma quanto às autorizações legais e re-
gulamentares é relevante porque muitos dos vegetais que mentos e estratégias do Sisnad;
podem ser empregados para a produção de drogas igual- V - a promoção da responsabilidade compartilhada
mente podem servir de matéria-prima para a elaboração entre Estado e Sociedade, reconhecendo a importância da
de remédios ou serem usados em experimentos científicos. participação social nas atividades do Sisnad;
Caberá ao Ministério da Saúde autorizar e fiscalizar o em- VI - o reconhecimento da intersetorialidade dos fa-
prego destas substâncias de forma lícita. tores correlacionados com o uso indevido de drogas, com
O artigo 32, 4 da Convenção de Viena prevê: “O Esta- a sua produção não autorizada e o seu tráfico ilícito; (não é
do em cujo território cresçam plantas silvestres que con- apenas um fator que leva alguém a usar ou traficar drogas,
tenham substâncias psicotrópicas dentre as incluídas na mas uma série de fatores conjugados)
Lista I, e que são tradicionalmente utilizadas por pequenos VII - a integração das estratégias nacionais e inter-
grupos, nitidamente caracterizados, em rituais mágicos ou nacionais de prevenção do uso indevido, atenção e reinser-
religiosos, poderão, no momento da assinatura, ratificação ção social de usuários e dependentes de drogas e de repres-
ou adesão, formular reservas, em relação a tais plantas, são à sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito;
com respeito às disposições do art. 7º, exceto quanto às VIII - a articulação com os órgãos do Ministério Pú-
disposições relativas ao comércio internacional”. Um exem- blico e dos Poderes Legislativo e Judiciário visando à
plo que pode ser dado de ritual religioso é o da seita Santo cooperação mútua nas atividades do Sisnad;
Daime, cujo uso do chá de ayahuasca é incorporado aos IX - a adoção de abordagem multidisciplinar que re-
ritos corriqueiros em suas celebrações (o CONAD, órgão do conheça a interdependência e a natureza complementar
SISNAD, autorizou o uso da substância, que tem proprie- das atividades de prevenção do uso indevido, atenção e
dades alucinógenas, pela Resolução nº 04, de 04.11.2004). reinserção social de usuários e dependentes de drogas, re-
pressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito
TÍTULO II de drogas;
DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS X - a observância do equilíbrio entre as atividades de
SOBRE DROGAS prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social
de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua
Art. 3o O Sisnad tem a finalidade de articular, integrar, produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito, visando a
organizar e coordenar as atividades relacionadas com: garantir a estabilidade e o bem-estar social;

54
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

XI - a observância às orientações e normas emanadas Art. 16. As instituições com atuação nas áreas da aten-
do Conselho Nacional Antidrogas - Conad. ção à saúde e da assistência social que atendam usuários
ou dependentes de drogas devem comunicar ao órgão
Art. 5o O Sisnad tem os seguintes objetivos: competente do respectivo sistema municipal de saúde
I - contribuir para a inclusão social do cidadão, visan- os casos atendidos e os óbitos ocorridos, preservando a
do a torná-lo menos vulnerável a assumir comportamentos identidade das pessoas, conforme orientações emanadas da
de risco para o uso indevido de drogas, seu tráfico ilícito e União.
outros comportamentos correlacionados;
II - promover a construção e a socialização do conhe- Art. 17. Os dados estatísticos nacionais de repressão
cimento sobre drogas no país; ao tráfico ilícito de drogas integrarão sistema de informa-
III - promover a integração entre as políticas de pre- ções do Poder Executivo.
venção do uso indevido, atenção e reinserção social de Será adotado um mecanismo de integração de dados,
usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua pro- mas cada município manterá suas próprias estatísticas a
dução não autorizada e ao tráfico ilícito e as políticas públi- partir das informações das instituições de saúde e assis-
cas setoriais dos órgãos do Poder Executivo da União, tência social.
Distrito Federal, Estados e Municípios;
IV - assegurar as condições para a coordenação, a in- TÍTULO III
tegração e a articulação das atividades de que trata o art. DAS ATIVIDADES DE PREVENÇÃO DO USO INDEVI-
3o desta Lei. DO, ATENÇÃO E REINSERÇÃO SOCIAL DE USUÁRIOS E
DEPENDENTES DE DROGAS
CAPÍTULO II
DA COMPOSIÇÃO E DA ORGANIZAÇÃO DO SISTE- CAPÍTULO I
MA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DRO- DA PREVENÇÃO
GAS
Art. 18. Constituem atividades de prevenção do uso
Art. 6o (VETADO) indevido de drogas, para efeito desta Lei, aquelas direcio-
nadas para a redução dos fatores de vulnerabilidade e
Art. 7o A organização do Sisnad assegura a orientação risco e para a promoção e o fortalecimento dos fatores
central e a execução descentralizada das atividades de proteção.
realizadas em seu âmbito, nas esferas federal, distrital,
estadual e municipal e se constitui matéria definida no regu- Art. 19. As atividades de prevenção do uso indevido de
lamento desta Lei. drogas devem observar os seguintes princípios e diretrizes:
O SISNAD é o órgão responsável pela orientação cen-
I - o reconhecimento do uso indevido de drogas como
tral e execução descentralizada de suas políticas no âmbito
fator de interferência na qualidade de vida do indiví-
Federal, Estadual e Municipal.
duo e na sua relação com a comunidade à qual pertence;
II - a adoção de conceitos objetivos e de fundamenta-
Art. 8o (VETADO)
ção científica como forma de orientar as ações dos serviços
públicos comunitários e privados e de evitar preconceitos
CAPÍTULO III
e estigmatização das pessoas e dos serviços que as aten-
(VETADO)
dam;
Art. 9o a 14. (VETADO) III - o fortalecimento da autonomia e da responsa-
bilidade individual em relação ao uso indevido de drogas;
O fundamento para tantos vetos consiste no fato de IV - o compartilhamento de responsabilidades e a
que o Poder Executivo entendeu que o Poder Legislativo colaboração mútua com as instituições do setor privado
havia excedido suas atribuições ao regulamentar o SISNAD. e com os diversos segmentos sociais, incluindo usuários e
Afinal, quando o legislador normatiza a criação de um ór- dependentes de drogas e respectivos familiares, por meio do
gão no âmbito do Poder Executivo, deve se limitar a regras estabelecimento de parcerias;
gerais, como princípios e atribuições, preservando o poder V - a adoção de estratégias preventivas diferencia-
de auto-organização do Executivo. Neste sentido, suprindo das e adequadas às especificidades socioculturais das
os dispositivos vetados, o Poder Executivo Federal instituiu diversas populações, bem como das diferentes drogas uti-
o Decreto nº 5.912/2006, que regulamentou o SISNAD e os lizadas;
órgãos que o compõem. VI - o reconhecimento do “não-uso”, do “retarda-
mento do uso” e da redução de riscos como resultados
CAPÍTULO IV desejáveis das atividades de natureza preventiva, quando
DA COLETA, ANÁLISE E DISSEMINAÇÃO DE INFOR- da definição dos objetivos a serem alcançados;
MAÇÕES SOBRE DROGAS VII - o tratamento especial dirigido às parcelas mais
vulneráveis da população, levando em consideração as
Art. 15. (VETADO) suas necessidades específicas;

55
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

VIII - a articulação entre os serviços e organizações II - a adoção de estratégias diferenciadas de atenção


que atuam em atividades de prevenção do uso indevido de e reinserção social do usuário e do dependente de dro-
drogas e a rede de atenção a usuários e dependentes de dro- gas e respectivos familiares que considerem as suas peculia-
gas e respectivos familiares; ridades socioculturais;
IX - o investimento em alternativas esportivas, culturais, III - definição de projeto terapêutico individualizado,
artísticas, profissionais, entre outras, como forma de inclu- orientado para a inclusão social e para a redução de riscos e
são social e de melhoria da qualidade de vida; de danos sociais e à saúde;
X - o estabelecimento de políticas de formação con- IV - atenção ao usuário ou dependente de drogas e aos
tinuada na área da prevenção do uso indevido de drogas respectivos familiares, sempre que possível, de forma multi-
para profissionais de educação nos 3 (três) níveis de ensino; disciplinar e por equipes multiprofissionais;
V - observância das orientações e normas emanadas
XI - a implantação de projetos pedagógicos de pre-
do Conad;
venção do uso indevido de drogas, nas instituições de en-
VI - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de con-
sino público e privado, alinhados às Diretrizes Curriculares trole social de políticas setoriais específicas.
Nacionais e aos conhecimentos relacionados a drogas;
XII - a observância das orientações e normas emana- Art. 23. As redes dos serviços de saúde da União, dos
das do Conad; Estados, do Distrito Federal, dos Municípios desenvolverão
XIII - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle programas de atenção ao usuário e ao dependente de
social de políticas setoriais específicas. drogas, respeitadas as diretrizes do Ministério da Saúde e
Parágrafo único. As atividades de prevenção do uso os princípios explicitados no art. 22 desta Lei, obrigatória a
indevido de drogas dirigidas à criança e ao adolescente previsão orçamentária adequada.
deverão estar em consonância com as diretrizes emanadas
pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adoles- Art. 24. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
cente - Conanda. nicípios poderão conceder benefícios às instituições pri-
vadas que desenvolverem programas de reinserção no
O combate às drogas não se faz apenas com a punição, mercado de trabalho, do usuário e do dependente de drogas
pois há necessidade da prevenção, sendo que a prevenção encaminhados por órgão oficial.
depende de políticas públicas que a almejem, o que fica
Art. 25. As instituições da sociedade civil, sem fins
claro no artigo 18. O artigo seguinte descreve as diretrizes
lucrativos, com atuação nas áreas da atenção à saúde e da
e os princípios de prevenção, que vão desde o tratamento
assistência social, que atendam usuários ou dependentes de
adequado dos dependentes até a inserção de temas afe- drogas poderão receber recursos do Funad, condicionados
tos à área de interesse nos currículos escolares, conferindo à sua disponibilidade orçamentária e financeira.
atenção às repercussões sociais e econômicas no âmbito
do tema das drogas. Art. 26. O usuário e o dependente de drogas que, em
razão da prática de infração penal, estiverem cumprindo
CAPÍTULO II pena privativa de liberdade ou submetidos a medida de
DAS ATIVIDADES DE ATENÇÃO E DE REINSERÇÃO segurança, têm garantidos os serviços de atenção à sua
SOCIAL DE USUÁRIOS OU DEPENDENTES DE DROGAS saúde, definidos pelo respectivo sistema penitenciário.

Art. 20. Constituem atividades de atenção ao usuário A lei pretende inserir nas atividades de atenção não
e dependente de drogas e respectivos familiares, para apenas os usuários, mas também os familiares, integran-
efeito desta Lei, aquelas que visem à melhoria da qualida- do-os em redes sociais que ofertem assistência integral à
de de vida e à redução dos riscos e dos danos associados saúde física e psicológica, mediante atendimento multidis-
ao uso de drogas. ciplinar. Evidentemente que estas políticas públicas exigem
recursos orçamentários, que devem contar com dotação
Art. 21. Constituem atividades de reinserção social do própria. Além disso, serão prestadas tanto pelo setor públi-
co quanto por instituições privadas em parceria.
usuário ou do dependente de drogas e respectivos familiares,
para efeito desta Lei, aquelas direcionadas para sua inte-
CAPÍTULO III
gração ou reintegração em redes sociais. DOS CRIMES E DAS PENAS
Art. 22. As atividades de atenção e as de reinserção Art. 27. As penas previstas neste Capítulo poderão
social do usuário e do dependente de drogas e respectivos ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como
familiares devem observar os seguintes princípios e dire- substituídas a qualquer tempo, ouvidos o Ministério Pú-
trizes: blico e o defensor.
I - respeito ao usuário e ao dependente de drogas, Os crimes descritos neste capítulo, que não são os pra-
independentemente de quaisquer condições, observados os ticados por traficantes, mas sim por usuários, não possuem
direitos fundamentais da pessoa humana, os princípios e di- uma pena taxativa aplicável. O artigo 28 descreve três tipos
retrizes do Sistema Único de Saúde e da Política Nacional de de penas, nenhuma delas privativa de liberdade, as quais
Assistência Social; poderão ser aplicadas cumulativamente.

56
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, Em que pese a não mais aplicação de pena privativa de
transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, liberdade, o entendimento majoritário é de que legislador
drogas sem autorização ou em desacordo com determi- optou por manter a criminalização das condutas. Há quem
nação legal ou regulamentar será submetido às seguintes diga que como o artigo 1o da Lei de Introdução ao Código
penas: Penal prevê que crime é a infração penal a que a lei comi-
O crime é de perigo abstrato e coletivo, não se exigin- ne pena de reclusão ou detenção, não sendo o caso deste
do a produção de dano. artigo 28, então não se estaria diante de crime. O enten-
Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a dimento não predomina (STF e STJ já se manifestaram no
saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con- sentido de que não houve descriminalização, embora no
sideradas (secundário). STF o tema ainda esteja sendo debatido), sendo mais cor-
Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado reto falar em despenalização e não em descriminalização.
por qualquer pessoa. Atenção: O debate sobre a descriminalização de pe-
Sujeito passivo: coletividade. quenas quantidades de entorpecentes é feito no STF no
Objeto material: droga. Recurso Extraordinário 635.659, que tem repercussão geral
reconhecida. Até o momento foram proferidos três votos
Tipo objetivo: adquirir significa obter ou conseguir o
nesse caso – suspenso por pedido de vista do ministro
objeto material de forma onerosa ou gratuita; guardar tem
Teori Zavascki (morto em janeiro de 2017) –, todos pela
o sentido de conservar ou manter o objeto material consigo
inconstitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas (Lei
para uso próprio futuro, mas longe das vistas; ter em depó-
11.343/2006), que criminaliza o porte de drogas para con-
sito é praticamente sinônimo de guardar; transportar tem sumo pessoal. Luís Roberto Barroso e Edson Fachin enten-
o sentido de levar a droga de um local para outro que não deram que a descriminalização apenas atingiria a maconha
seja por meio pessoal, que caracteriza a conduta de trazer e Gilmar Mendes que atingiria todas drogas.
consigo; trazer consigo significa portar, ter ou manter o ob-
jeto material consigo ou ao alcance para seu pronto uso. § 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu
A conduta de fazer uso da droga, pura e simplesmente, é consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas des-
fato atípico. O tipo objetivo é misto ou de conteúdo varia- tinadas à preparação de pequena quantidade de subs-
do, o que significa que na prática de mais de uma conduta tância ou produto capaz de causar dependência física ou
simultânea o crime é único. Admite-se a tentativa em todos psíquica.
os verbos, teoricamente, mas devido à diversidade de con- Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
dutas previstas no tipo raramente ocorrerá. saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
Elemento subjetivo: dolo, que deve atender ao intuito sideradas (secundário).
específico de consumo pessoal. Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado
Elemento normativo: sem autorização ou em desacor- por qualquer pessoa.
do com determinação legal ou regulamentar. Sujeito passivo: coletividade.
Ação penal: pública incondicionada. Objeto material: plantas.
Tipo objetivo: semear é o ato de lançar sementes a
I - advertência sobre os efeitos das drogas; terra para que possam germinar, cultivar significa manter
II - prestação de serviços à comunidade; plantação, colher tem o sentido de apanhar as plantas.
III - medida educativa de comparecimento a progra- Sendo tipo misto alternativo ou de conteúdo variado, a
ma ou curso educativo. prática simultânea das três condutas no mesmo contexto
O artigo 27 já afirma que as penas podem ser aplicadas caracteriza crime único. É cabível a tentativa.
de forma isolada ou cumulativa e não o serão necessaria- Elemento subjetivo: dolo, que deve atender ao intuito
específico de consumo pessoal.
mente nesta ordem dos incisos (o juiz analisará a culpabi-
Ação penal: pública incondicionada.
lidade caso a caso).
Advertência: o sujeito comparece em cartório e assina
§ 2o Para determinar se a droga destinava-se a consu-
um termo em que constam os efeitos deletérios que o uso
mo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da
da droga pode causar. substância apreendida, ao local e às condições em que
Pena restritiva de direitos: deverá ser cumprida em se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais,
programas comunitários, entidades educacionais ou assis- bem como à conduta e aos antecedentes do agente.
tenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos Não se trata de circunstâncias taxativas, mas exemplifi-
ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferen- cativas. Outras poderão ser somadas para que o juiz possa
cialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação decidir sobre qual o crime praticado.
de usuários e dependentes de drogas. A intenção é que o
usuário perceba os efeitos danosos que as drogas podem § 3o As penas previstas nos incisos II e III do caput deste
causar. artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco)
Medida educativa de comparecimento a programa ou meses.
curso educativo: aqui também a intenção é que o usuário § 4o Em caso de reincidência, as penas previstas nos in-
perceba os efeitos danosos das drogas, sob o viés educa- cisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo
tivo. máximo de 10 (dez) meses.

57
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Se a conduta é crime, evidente que pode gerar rein- Embora a regra seja a proibição, excepciona-se me-
cidência, caso em que dobra o prazo máximo de duração diante licença prévia da autoridade competente, obser-
da pena. Tal reincidência deve ser específica, nas mesmas vadas as exigências legais. Trata-se de exceção necessária
condutas descritas neste artigo 28. porque muitas drogas são empregadas pela indústria far-
macêutica para a produção de remédios, dentre eles anes-
§ 5o A prestação de serviços à comunidade será cum- tésicos e potentes analgésicos.
prida em programas comunitários, entidades educacionais ou
assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos Art. 32. As plantações ilícitas serão imediatamente
ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferencial- destruídas pelo delegado de polícia na forma do art. 50-
mente, da prevenção do consumo ou da recuperação de A, que recolherá quantidade suficiente para exame pericial,
usuários e dependentes de drogas. de tudo lavrando auto de levantamento das condições en-
§ 6o Para garantia do cumprimento das medidas educati- contradas, com a delimitação do local, asseguradas as medi-
vas a que se refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injusti- das necessárias para a preservação da prova.
ficadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, § 1o e § 2o (Revogados).
sucessivamente a: § 3o Em caso de ser utilizada a queimada para destruir
I - admoestação verbal; a plantação, observar-se-á, além das cautelas necessárias
II - multa. à proteção ao meio ambiente, o disposto no Decreto no
Se o não comparecimento deve ser injustificado, é preciso 2.661, de 8 de julho de 1998, no que couber, dispensada a
conferir oportunidade para que o apenado justifique sua ausência. autorização prévia do órgão próprio do Sistema Nacio-
nal do Meio Ambiente - Sisnama.
§ 7o O juiz determinará ao Poder Público que coloque à § 4o As glebas cultivadas com plantações ilícitas se-
disposição do infrator, gratuitamente, estabelecimento de rão expropriadas, conforme o disposto no art. 243 da Cons-
saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento tituição Federal, de acordo com a legislação em vigor.
especializado. A destruição das plantações ilícitas deve ser imediata,
O infrator tem direito a tratamento médico gratuito para apenas armazenando-se o suficiente para perícia, essencial
livrá-lo do vício ou do uso de drogas. para a demonstração de culpabilidade nos autos. Se a des-
truição for se dar por queimada, providências de preserva-
Art. 29. Na imposição da medida educativa a que se re- ção ambiental devem ser tomadas, mas dispensa-se auto-
fere o inciso II do § 6o do art. 28 (multa), o juiz, atendendo à rização do órgão competente do Sisnama. As terras serão
reprovabilidade da conduta, fixará o número de dias-multa, desapropriadas (art. 243, CF).
em quantidade nunca inferior a 40 (quarenta) nem supe-
rior a 100 (cem), atribuindo depois a cada um, segundo a CAPÍTULO II
capacidade econômica do agente, o valor de um trinta avos DOS CRIMES
até 3 (três) vezes o valor do maior salário mínimo.
Parágrafo único. Os valores decorrentes da imposição da Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, pro-
multa a que se refere o § 6o do art. 28 serão creditados à conta duzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer,
do Fundo Nacional Antidrogas. ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
A multa apenas será aplicada se o apenado se recusar a prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer
prestar os serviços à comunidade ou a comparecer a curso ou drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
programa educativo. No caso, será de 40 a 100 dias-multa, desacordo com determinação legal ou regulamentar:
sendo que cada dia-multa terá o valor mínimo de 1/30 do Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e paga-
salário mínimo e o valor máximo de 3x o salário mínimo. mento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-
-multa.
Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a Tipicamente, trata-se do delito de tráfico de drogas.
execução das penas, observado, no tocante à interrupção do Os tipos dos artigos art. 33, § 1º, 34 e 36 são equiparados
prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal. a este, sendo subespécies de tráfico de drogas. Tanto este
quanto os apontados como equiparados são considerados
TÍTULO IV crimes equiparados a hediondos (art. 2o, Lei no 8.072/1990).
DA REPRESSÃO À PRODUÇÃO NÃO AUTORIZADA E Crime de perigo abstrato e coletivo.
AO TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente consi-
CAPÍTULO I deradas (secundário).
DISPOSIÇÕES GERAIS Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado
por qualquer pessoa, exceto na conduta de prescrever, que
Art. 31. É indispensável a licença prévia da autorida- somente pode ser praticada por médico ou dentista (crime
de competente para produzir, extrair, fabricar, transformar, próprio).
preparar, possuir, manter em depósito, importar, exportar, Sujeito passivo: coletividade. Eventualmente, poderá
reexportar, remeter, transportar, expor, oferecer, vender, com- ser sujeito passivo secundário a criança, o adolescente ou a
prar, trocar, ceder ou adquirir, para qualquer fim, drogas ou pessoa que tem suprimida a capacidade de entendimento
matéria-prima destinada à sua preparação, observadas as ou de autodeterminação (art. 40, VI), que recebam a droga
demais exigências legais. para usá-la.

58
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Objeto material: droga. Elemento normativo: sem autorização ou em desacor-


Tipo objetivo: importar significa fazer entrar em terri- do com determinação legal ou regulamentar.
tório nacional; exportar significa fazer sair do território na- Ação penal: pública incondicionada.
cional; remeter significa mandar ou enviar de um local para
outro; preparar é misturar substâncias para fazer surgir a II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização
espécie de droga; produzir é elaborar uma nova espécie ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar,
de droga; fabricar significa preparar ou produzir em lar- de plantas que se constituam em matéria-prima para a
ga escala; adquirir implica em obter ou conseguir o obje- preparação de drogas;
to material de forma onerosa ou gratuita; vender é alienar Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
onerosamente; expor a venda é exibir com o intuito de que saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
possa ser comprado; oferecer é sugerir a aquisição, mesmo sideradas (secundário).
por gestos ou palavras; ter em depósito é a retenção ou Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado
manutenção do objeto material para sua disponibilidade, por qualquer pessoa.
ou seja, para a venda ou fornecimento; transportar significa Sujeito passivo: coletividade.
levar de um lugar ao outro; ter ou manter o objeto material Tipo objetivo: Semear é o ato de lançar sementes na
consigo ou ao seu alcance para sua pronta disponibilidade; terra para que possam germinar. Cultivar significa manter
guardar é reter consigo em nome de terceiro; prescrever plantação. Fazer a colheita tem o sentido de apanhar as
é receitar; ministrar é introduzir no organismo de outrem; plantas. Em tese, cabe tentativa. Sendo praticada mais de
entregar a consumo é a regra genérica que vale para toda uma conduta no mesmo contexto, o crime é único.
conduta de disponibilizar; fornecer significa entregar, de Objeto material: plantas (ex.: folha de coca, cannabis).
forma onerosa ou gratuita. O tipo descreve múltiplas con- Elemento subjetivo: dolo.
dutas e a prática de mais de uma delas no mesmo contexto Ação penal: pública incondicionada.
implica em crime único. Por isso mesmo, é difícil ocorrer a
tentativa, embora teoricamente seja viável. III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de
Atenção - Muitas das condutas aqui previstas também que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vi-
constam do artigo 28, o que diferencia é o dolo específico gilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda
daquele tipo, pois no tipo de tráfico de drogas a intenção que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
não é o consumo pessoal. determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito
Elemento subjetivo: dolo. de drogas.
Elemento normativo: sem autorização ou em desacor- Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
do com determinação legal ou regulamentar. saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
Ação penal: pública incondicionada. sideradas (secundário).
Sujeito ativo: O crime é próprio, pois exige a condi-
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: ção especial de possuir propriedade, posse, administração,
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, guarda ou vigilância do local ou do bem.
vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, Sujeito passivo: coletividade.
transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamen- Tipo objetivo: Na utilização do local (coisa imóvel) ou
te, sem autorização ou em desacordo com determinação le- bem (coisa móvel), o próprio sujeito ativo utiliza o local
gal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto ou bem para o tráfico de drogas (como a utilização efetiva
químico destinado à preparação de drogas; pode ou não ocorrer, admite tentativa). No consentimento
Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a para a utilização do local ou bem, não é o sujeito ativo
saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con- que emprega o local ou bem para o tráfico de drogas, mas
sideradas (secundário). terceiro por ele autorizado, o qual poderá responder por
Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado tráfico de drogas (noutro tipo do art. 33) (como o consenti-
por qualquer pessoa. mento é ato unissubsistente, não se admite tentativa).
Sujeito passivo: coletividade. Elemento subjetivo: dolo, específico pois exige-se a es-
Tipo objetivo: Os tipos objetivos descritos se asseme- pecial finalidade de emprego do local ou bem para o trá-
lham ao do caput, sendo relevante observar que o tráfico fico de drogas.
ocorre mesmo quando o objeto material não é a droga. Da Elemento normativo: sem autorização ou em desacor-
mesma forma, em tese, cabe tentativa. do com determinação legal ou regulamentar.
Objeto material: não é a droga, mas uma matéria-pri- Ação penal: pública incondicionada.
ma (substância original e básica), insumo (substância ou
insumo necessário, mas não indispensável) ou produto § 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso in-
químico (produto resultante de composição química), que devido de droga:
sejam destinados ou possam vir a ser empregados em pro- Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de
dução de drogas. 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa.
Elemento subjetivo: dolo, com o fim específico de que Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
a matéria-prima, o insumo ou o produto sejam destinados saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
à produção de droga. sideradas (secundário).

59
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado Fixa-se aqui uma causa de diminuição de pena.
por qualquer pessoa. A Resolução nº 5/2012 suspendeu o dispositivo no que
Sujeito passivo: coletividade. Eventualmente, poderá ser tange à vedação à aplicação de penas restritivas de direitos
sujeito passivo secundário a criança, o adolescente ou a pessoa porque a expressão foi declarada inconstitucional por de-
que tem suprimida a capacidade de entendimento ou de au- cisão definitiva do Supremo Tribunal Federal nos autos do
todeterminação (art. 40, VI), que recebam a droga para usá-la. Habeas Corpus nº 97.256/RS.
Objeto material: droga.
Tipo objetivo: induzir é incutir ou criar na mente a vonta- Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer,
de do uso indevido de droga; instigar é alimentar uma ideia vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar
pré-existente de tal uso; auxiliar é prestar colaboração material ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, apare-
(ex.: levar a pessoa na boca de fumo). Em tese cabe tentativa, lho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabri-
quando nas condutas de induzir ou instigar não se produz no cação, preparação, produção ou transformação de dro-
outro a vontade de usar a droga. Não há tentativa na modali- gas, sem autorização ou em desacordo com determinação
dade de auxílio. legal ou regulamentar:
Segundo o STF, a tipificação deve excluir qualquer sig- Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento
nificado que enseje a proibição de manifestações e debates de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa.
públicos acerca da descriminalização ou legalização do uso de Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
drogas ou de qualquer substância que leve o ser humano ao saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
entorpecimento episódico, ou então viciado, das suas faculda- sideradas (secundário).
des psicofísicas – “Marcha da Maconha” (ADI 4274, Rel. Min. Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado
Ayres Britto, v. u., j. 23.11.2011). por qualquer pessoa.
Elemento subjetivo: dolo. Sujeito passivo: coletividade.
Elemento normativo: o uso deve ser indevido, se a lei Tipo objetivo: Os tipos objetivos descritos se asseme-
apoiar o uso então o fato é atípico. lham bastante aos do caput do art. 33, mudando o objeto
Ação penal: pública incondicionada. material. Da mesma forma, em tese, cabe tentativa (sal-
vo na oferta quando verbal e no fornecimento habitual),
§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de mas sendo tipo misto de conteúdo variado ela dificilmente
lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consu- ocorrerá.
mirem: Objeto material: maquinários, aparelhos, instrumentos
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e paga- ou quaisquer objetos destinados à fabricação, prepara-
mento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-mul- ção, produção ou transformação de drogas. Maquinário é
ta, sem prejuízo das penas previstas no art. 28. o conjunto de peças ou uma máquina. Aparelho é o con-
Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a saúde junto de mecanismos ou engenho. Instrumento é o objeto
e a tranquilidade das pessoas individualmente consideradas empregado para a execução de um trabalho. Traz-se uma
(secundário). fórmula genérica de que se incluem quaisquer outros ob-
Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado por jetos semelhantes aos anteriores. Os objetos devem ser
qualquer pessoa, mas exige-se que a pessoa seja do mesmo destinados à fabricação, produção, preparação ou trans-
círculo de relacionamento (ex.: amigo, parente, namorado, co- formação de drogas. Preparação é a reunião de elementos
lega de trabalho). para a elaboração de uma droga já conhecida. Produção
Sujeito passivo: coletividade. Eventualmente, poderá ser significa elaborar uma nova espécie de droga. Fabricação
sujeito passivo secundário a criança, o adolescente ou a pes- significa a preparação ou produção de droga em larga es-
soa que tem suprimida a capacidade de entendimento ou de cala. Transformação tem o sentido de mudar a natureza da
autodeterminação (art. 40, VI), que recebam a droga para usá- droga para outra.
-la. Elemento subjetivo: dolo, que deve abranger o conhe-
Objeto material: droga. cimento de o objeto material ser destinado à fabricação,
Tipo objetivo: oferecer significa sugerir a aquisição, que preparação, produção ou transformação de drogas.
deve ser gratuita, entendendo-se que a conduta de fornecer Elemento normativo: sem autorização ou em desacor-
gratuitamente a pessoa de seu círculo está aqui amparada. do com determinação legal ou regulamentar.
Cabe tentativa, mas não é preciso que se aceite a droga ofer- Ação penal: pública incondicionada.
tada ou fornecida.
Elemento subjetivo: dolo, sendo que o propósito deve ser Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o
de uso eventual e compartilhado com pessoa de seu relacio- fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos
namento. crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Ação penal: pública incondicionada. Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento
de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.
§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, ve- saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
dada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o sideradas (secundário).
agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedi- Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado
que às atividades criminosas nem integre organização por qualquer pessoa, mas exige no mínimo duas pessoas
criminosa. (crime plurissubjetivo).

60
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Sujeito passivo: coletividade. Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, or-
Tipo objetivo: O verbo “associarem-se” significa a reu- ganização ou associação destinados à prática de qualquer
nião com vínculo estável e permanente (tempo indetermi- dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta
nado), no caso, de duas ou mais pessoas. A associação não Lei:
precisa ser reiterada, ou seja, habitual. Há necessidade de Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento
vínculo psicológico para a prática dos delitos por tempo de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa.
indeterminado. O tipo é autônomo e aplica-se de forma Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
cumulada com o tráfico se ele também ocorrer ou isola- saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
damente. sideradas (secundário).
Elemento subjetivo: dolo, com a finalidade especial de Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado
praticar os crimes descritos nos artigos 33, caput, § 1º, ou por qualquer pessoa.
34, por tempo indeterminado. Sujeito passivo: coletividade.
Ação penal: pública incondicionada. Tipo objetivo: Financiar ou custear Tipo objetivo: a con-
duta é de colaborar, como informante, com grupo, organi-
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste zação ou associação destinada à prática de qualquer dos
artigo incorre quem se associa para a prática reiterada crimes previstos nos artigos 33, caput, § 1º, e 34. Colaborar
do crime definido no art. 36 desta Lei. tem o sentido de ajudar ou prestar auxílio. Ex.: soltar rojão,
Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a sinal de luz, mandar mensagem de celular avisando da che-
saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con- gada de policiais. A tentativa só é possível se a colabora-
sideradas (secundário). ção for por escrito, não cabendo em comunicação oral ou
Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado gestos. Há exceção à teoria monista, pois aquele que seria
por qualquer pessoa, mas exige no mínimo duas pessoas partícipe nos crimes dos arts. 33, caput e §1o, e 34, respon-
(crime plurissubjetivo). de por tipo autônomo.
Sujeito passivo: coletividade. Elemento subjetivo: dolo.
Tipo objetivo: Consiste em associarem-se para a prática Ação penal: pública incondicionada.
reiterada do crime de financiamento ou custeio para o trá-
fico de drogas (art. 36). Enquanto o caput define a conduta
Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, dro-
de associação para o tráfico de drogas, o tipo em questão
gas, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em
criou a associação destinada a financiar ou custear a prática
doses excessivas ou em desacordo com determinação
de um dos crimes descritos nos artigos 33, caput, §1º, ou 34
legal ou regulamentar:
(tráfico de drogas). Há necessidade de vínculo psicológico
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pa-
para a prática do delito do art. 36 por tempo indetermina-
gamento de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) dias-multa.
do. Aqui, a associação tem que ser habitual, não eventual.
Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao
Devido à habitualidade, não há possibilidade de tentativa.
Conselho Federal da categoria profissional a que pertença
Elemento subjetivo: dolo, com a finalidade especial de
praticar o crime descrito no art. 36 por tempo indetermi- o agente.
nado. Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
Ação penal: pública incondicionada. saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
sideradas (secundário).
Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer Objeto material: drogas.
dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Sujeito ativo: O crime é próprio e somente pode ser
Lei: praticado por quem pode prescrever, notadamente, médi-
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e paga- co ou dentista.
mento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias- Sujeito passivo: coletividade e, secundariamente, o pa-
-multa. ciente.
Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a Tipo objetivo: Prescrever é receitar, ministrar é introdu-
saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con- zir no organismo. Sem necessidade – o paciente não pre-
sideradas (secundário). cisava da droga. Doses acima do necessário – o paciente
Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado necessita, mas em menor quantidade. Em desacordo com
por qualquer pessoa. determinação legal ou regulamentar – medicamento não
Sujeito passivo: coletividade. autorizado pela ANVISA.
Tipo objetivo: Financiar ou custear são termos sinôni- Elemento subjetivo: apenas culpa, por negligência, im-
mos, que significam prover as despesas com dinheiro ou prudência ou imperícia. Por ser crime culposo, não admite
bens. O objeto da conduta é qualquer dos crimes descritos tentativa.
nos artigos 33, caput, § 1º, ou 34, i. e., delitos considerados Ação penal: pública incondicionada.
como tráfico de drogas.
Elemento subjetivo: dolo. Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o
Ação penal: pública incondicionada. consumo de drogas, expondo a dano potencial a incolumi-
dade de outrem:

61
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além 1 – Transnacionalidade: condutas que objetivem im-
da apreensão do veículo, cassação da habilitação respectiva portação e exportação.
ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa 2 – Condição do agente: função pública ou desempe-
de liberdade aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a 400 nho de missão em educação, poder familiar, guarda ou vi-
(quatrocentos) dias-multa. gilância.
Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplica- 3 – Local: imediações (proximidade) ou no próprio local
das cumulativamente com as demais, serão de 4 (quatro) – estabelecimentos prisionais, de ensino, hospitalares ou
a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) policiais/militares; espaços de lazer ou recreação; onde se
dias-multa, se o veículo referido no caput deste artigo for de prestem serviços de tratamento de dependentes de drogas
transporte coletivo de passageiros. ou de reinserção social.
Objeto jurídico: incolumidade pública (segurança pú- 4 – Violência, grave ameaça, arma de fogo ou intimida-
blica). ção: comum quando o tráfico é exercido por organizações
Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado criminosas.
por qualquer pessoa. 5 – Tráfico interestadual: dispensável a efetiva trans-
Sujeito passivo: coletividade. posição de fronteiras (STF, HC nº 99452/MS, j. 21.09.2010).
Tipo objetivo: Conduzir tem o sentido de dirigir ou 6 – Condição do sujeito passivo: criança e adolescen-
pilotar (exige movimento). O objeto da conduta é a em- te (no confronto com o art. 243, ECA, prevalece a Lei de
barcação ou a aeronave. Embarcação é qualquer meio de Drogas, servindo o ECA para bebidas alcóolicas e outras
transporte utilizado para navegação. Aeronave é qualquer substâncias que causem dependência não consideradas
aparelho que possa voar. No caso de automóvel, o delito drogas), pessoa com capacidade diminuída ou suprimida.
está tipificado no Código de Trânsito em seu art. 306. O 7 – Financiamento ou custeio: Se houver prática de um
tipo objetivo exige que a condução se dê por influência de dos delitos previstos nos artigos 33, 34, 35 e 37 e o agente
droga, se for de álcool há contravenção penal do art. 34, o prover com dinheiro ou bens, haverá o aumento da pena.
LCP. Não aceita tentativa. Praticado o crime previsto no artigo 36, não se aplica a cau-
Elemento subjetivo: dolo, direto ou eventual. sa de aumento, pois caracterizaria bis in idem.
Ação penal: pública incondicionada.
Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar volun-
tariamente com a investigação policial e o processo crimi-
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são
nal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do
aumentadas de um sexto a dois terços, se:
crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime,
I - a natureza, a procedência da substância ou do pro-
no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a
duto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a
dois terços.
transnacionalidade do delito;
Delação premiada: A norma estabelece dois requisitos
II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função para a redução da pena, notadamente, colaboração volun-
pública ou no desempenho de missão de educação, po- tária e eficiência, esta consubstanciada na identificação dos
der familiar, guarda ou vigilância; demais coautores ou partícipes do crime e na recupera-
III - a infração tiver sido cometida nas dependências ção total ou parcial do produto do delito. Para que seja
ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensi- possível essa barganha ao menos um dos integrantes deve
no ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, so- ser identificado. Além disso, as provas a ele apresentadas
ciais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, devem ser substanciais de modo que haja chance real ou
de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se reali- mesmo a certeza da condenação a severas sanções. Sem
zem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de isso, não haverá estímulo para o acordo. Produzindo fruto
serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de o acordo, reduz-se a pena de 1/3 a 2/3.
reinserção social, de unidades militares ou policiais ou
em transportes públicos; Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com
IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Pe-
ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer proces- nal, a natureza e a quantidade da substância ou do pro-
so de intimidação difusa ou coletiva; duto, a personalidade e a conduta social do agente.
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federa- Art. 59, CP. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos ante-
ção ou entre estes e o Distrito Federal; cedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos
VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem
adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, dimi- como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme
nuída ou suprimida a capacidade de entendimento e seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do
determinação; crime.
VII - o agente financiar ou custear a prática do cri-
me. Art. 43. Na fixação da multa a que se referem os arts.
São causas de aumento de pena, aplicáveis aos crimes 33 a 39 desta Lei, o juiz, atendendo ao que dispõe o art. 42
descritos do art. 33 ao 37, no montante de 1/6 a 2/3 (se desta Lei, determinará o número de dias-multa, atribuindo
presente mais de uma, aplica-se um único aumento, de no a cada um, segundo as condições econômicas dos acusados,
máximo 2/3), podendo ocorrer fixação de pena abaixo do valor não inferior a um trinta avos nem superior a 5
mínimo e acima do máximo: (cinco) vezes o maior salário-mínimo.

62
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Parágrafo único. As multas, que em caso de concur- uma constância do vício, não para o uso eventual), seja em
so de crimes serão impostas sempre cumulativamente, razão da pessoa estar sob efeito de droga por caso fortuito
podem ser aumentadas até o décuplo se, em virtude da ou força maior (é o caso da vítima do crime do artigo 38). O
situação econômica do acusado, considerá-las o juiz inefica- agente é imputável, mas terá a pena reduzida, em caso de
zes, ainda que aplicadas no máximo. semi-imputabilidade (o caráter ilícito do fato é compreen-
Cada dispositivo fixa uma margem mínima e máxima dido e existe o poder de determinação, mas de forma limi-
para a fixação de dias-multa, sendo que cada qual terá no tada) nas mesmas circunstâncias.
mínimo o valor de 1/30 do salário mínimo e no máximo o
valor de 5 salários mínimos. O juiz pode fixar o valor do Art. 47. Na sentença condenatória, o juiz, com base em
dia-multa em até 50 salários mínimos se a situação econô- avaliação que ateste a necessidade de encaminhamen-
mica do apenado indicar que o valor máximo de 5 salários to do agente para tratamento, realizada por profissional
é insignificante. de saúde com competência específica na forma da lei, de-
terminará que a tal se proceda, observado o disposto no
Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e art. 26 desta Lei.
34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sur-
CAPÍTULO III
sis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a
DO PROCEDIMENTO PENAL
conversão de suas penas em restritivas de direitos.
Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste Art. 48. O procedimento relativo aos processos por cri-
artigo, dar-se-á o livramento condicional após o cumpri- mes definidos neste Título rege-se pelo disposto neste Capí-
mento de dois terços da pena, vedada sua concessão ao re- tulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do
incidente específico. Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal.
No HC nº 104.339/SP o STF julgou inconstitucional a § 1o O agente de qualquer das condutas previstas no
expressão liberdade provisória neste artigo. A negação da art. 28 desta Lei, salvo se houver concurso com os crimes
liberdade provisória e a conversão da prisão em flagrante previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e jul-
em preventiva deve se calcar em motivos concretos expres- gado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei no 9.099,
samente previstos em lei. O juiz só pode negar a liberdade de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados
provisória quando couber prisão preventiva (art. 312, CPP), Especiais Criminais.
devendo analisar o caso concreto e não sendo a gravidade § 2o Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta
do delito argumento suficiente. Lei, não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor
A jurisprudência se firma no sentido de que não cabe do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competen-
realmente suspensão condicional da pena. Não cabe tam- te ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele compa-
bém indulto, graça ou anistia. recer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-
No HC nº 97.256/RS, o STF julgou inconstitucional a -se as requisições dos exames e perícias necessários.
previsão de impossibilidade de conversão da pena privati- § 3o Se ausente a autoridade judicial, as providências
va de liberdade em pena restritiva de direitos. previstas no § 2o deste artigo serão tomadas de imediato
pela autoridade policial, no local em que se encontrar, veda-
Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da da a detenção do agente.
dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso for- § 4o Concluídos os procedimentos de que trata o § 2o
tuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação deste artigo, o agente será submetido a exame de corpo de
ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal delito, se o requerer ou se a autoridade de polícia judiciária
praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilí- entender conveniente, e em seguida liberado.
§ 5o Para os fins do disposto no art. 76 da Lei no 9.099,
cito do fato ou de determinar-se de acordo com esse enten-
de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais, o
dimento.
Ministério Público poderá propor a aplicação imediata
Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhe-
de pena prevista no art. 28 desta Lei, a ser especificada
cendo, por força pericial, que este apresentava, à época do na proposta.
fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput • Os crimes com pena máxima inferior a 2 anos são
deste artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu infrações de menor potencial ofensivo e sujeitam-se ao
encaminhamento para tratamento médico adequado. procedimento sumaríssimo da Lei no 9.099/95 (arts. 77 a
83), no que for cabível devido às peculiaridades das penas
Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a aplicáveis. Caberá a suspensão condicional do processo
dois terços se, por força das circunstâncias previstas no art. nos crimes em que a pena mínima comentada for igual ou
45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou inferior a 1 ano.
da omissão, a plena capacidade de entender o caráter São infrações de menor potencial ofensivo:
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse - Porte de drogas (art. 28, caput e §1º);
entendimento. - Compartilhamento (art. 33, §3º);
O agente é inimputável quando praticar um dos cri- - Prescrição culposa (art. 38).
mes descritos do artigo 33 ao 39 e for inteiramente incapaz • Nos crimes do artigo 28, aos quais não se comina
de compreender as consequências dos seus atos, seja em pena privativa de liberdade, não é cabível prisão em fla-
razão de dependência química (a dependência clama por grante.

63
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 49. Tratando-se de condutas tipificadas nos arts. II - requererá sua devolução para a realização de di-
33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o juiz, sempre que as ligências necessárias.
circunstâncias o recomendem, empregará os instrumentos Parágrafo único. A remessa dos autos far-se-á sem pre-
protetivos de colaboradores e testemunhas previstos na juízo de diligências complementares:
Lei no 9.807, de 13 de julho de 1999. I - necessárias ou úteis à plena elucidação do fato,
Envolvem-se os mecanismos de proteção de colabora- cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente
dores e testemunhas. até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamen-
to;
Seção I II - necessárias ou úteis à indicação dos bens, di-
Da Investigação reitos e valores de que seja titular o agente, ou que figu-
rem em seu nome, cujo resultado deverá ser encaminhado
Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade
ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de
de polícia judiciária fará, imediatamente, comunicação
ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, instrução e julgamento.
do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público,
em 24 (vinte e quatro) horas. Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relati-
§ 1o Para efeito da lavratura do auto de prisão em fla- va aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos
grante e estabelecimento da materialidade do delito, é sufi- previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido
ciente o laudo de constatação da natureza e quantidade o Ministério Público, os seguintes procedimentos inves-
da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por tigatórios:
pessoa idônea. I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de
§ 2o O perito que subscrever o laudo a que se refere investigação, constituída pelos órgãos especializados perti-
o § 1o deste artigo não ficará impedido de participar da nentes;
elaboração do laudo definitivo. II - a não-atuação policial sobre os portadores de
§ 3o Recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o drogas, seus precursores químicos ou outros produtos
juiz, no prazo de 10 (dez) dias, certificará a regularida- utilizados em sua produção, que se encontrem no terri-
de formal do laudo de constatação e determinará a des- tório brasileiro, com a finalidade de identificar e respon-
truição das drogas apreendidas, guardando-se amostra sabilizar maior número de integrantes de operações de
necessária à realização do laudo definitivo.
tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível.
§ 4o A destruição das drogas será executada pelo dele-
Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a
gado de polícia competente no prazo de 15 (quinze) dias
na presença do Ministério Público e da autoridade sanitária. autorização será concedida desde que sejam conhecidos
§ 5o O local será vistoriado antes e depois de efetiva- o itinerário provável e a identificação dos agentes do
da a destruição das drogas referida no § 3o, sendo lavrado delito ou de colaboradores.
auto circunstanciado pelo delegado de polícia, certificando- Flagrante
-se neste a destruição total delas. • Prisão em flagrante – Delegado deve comunicar
imediatamente ao juiz, remetendo auto e conferindo vista
Art. 50-A. A destruição de drogas apreendidas sem ao MP, em 24hs.
a ocorrência de prisão em flagrante será feita por inci- • Para que o auto da prisão não demore para ser en-
neração, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contado viado, aceita-se que no laudo de constatação se fixe ape-
da data da apreensão, guardando-se amostra necessária à nas a natureza e quantidade da droga, assinado por perito
realização do laudo definitivo, aplicando-se, no que cou- oficial ou, na falta deste, de pessoa idônea.
ber, o procedimento dos §§ 3o a 5o do art. 50. • O juiz, no prazo de 10 (dez) dias, certificará a re-
gularidade formal do laudo de constatação e determinará
Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo a destruição.
de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 Destruição
(noventa) dias, quando solto. • Guarda-se amostra da droga para o futuro laudo
Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo
definitivo, destruindo-se o restante.
podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Pú-
• A destruição deve ser executada na presença do
blico, mediante pedido justificado da autoridade de po-
lícia judiciária. MP e da autoridade sanitária.
• No caso de prisão em flagrante, a destruição se
Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta dará no prazo de 15 dias da determinação do juiz para a
Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os au- destruição.
tos do inquérito ao juízo: • Não havendo flagrante, a destruição se dará em
I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, até 30 dias da data de apreensão.
justificando as razões que a levaram à classificação do delito, Prazo para conclusão do inquérito
indicando a quantidade e natureza da substância ou do pro- • Réu preso – 30 dias.
duto apreendido, o local e as condições em que se desenvol- • Réu solto – 90 dias.
veu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, • Juiz pode duplicar a pedido justificado da autori-
a qualificação e os antecedentes do agente; ou dade judiciária, ouvido o MP.

64
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Conclusão do inquérito § 1o Tratando-se de condutas tipificadas como infração


• O inquérito será remetido ao juízo, com o relato do disposto nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o
sumário dos fatos (circunstâncias do crime e da prisão, jus- juiz, ao receber a denúncia, poderá decretar o afastamento
tificativas para a classificação do delito, quantidade e na- cautelar do denunciado de suas atividades, se for fun-
tureza da substância/produto, local e condições da ação, cionário público, comunicando ao órgão respectivo.
conduta/qualificação/antecedentes do agente) ou um pe- § 2o A audiência a que se refere o caput deste artigo
dido de devolução dos autos apara realização de audiência. será realizada dentro dos 30 (trinta) dias seguintes ao
• Mesmo após a remessa do inquérito é possível recebimento da denúncia, salvo se determinada a realiza-
continuar efetuando diligências necessárias ou úteis para ção de avaliação para atestar dependência de drogas,
elucidar fatos e para indicar bens, direitos e valores de titu- quando se realizará em 90 (noventa) dias.
laridade ou propriedade do agente, encaminhando-as ao
juízo competente até 3 dias antes da audiência de instru- Art. 57. Na audiência de instrução e julgamento, após
ção e julgamento. o interrogatório do acusado e a inquirição das testemu-
Investigação nhas, será dada a palavra, sucessivamente, ao represen-
• Agente infiltrado e ação controlada: Além das me- tante do Ministério Público e ao defensor do acusado,
didas de investigação tradicionais, é possível a infiltração para sustentação oral, pelo prazo de 20 (vinte) minutos
de agentes e a não-atuação imediata sobre portadores de para cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério do
drogas com o fim de persegui-los para a identificação de juiz.
um número maior de agentes/colaboradores. Parágrafo único. Após proceder ao interrogatório, o
juiz indagará das partes se restou algum fato para ser
Seção II esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o
Da Instrução Criminal entender pertinente e relevante.

Art. 54. Recebidos em juízo os autos do inquérito policial, Art. 58. Encerrados os debates, proferirá o juiz sentença
de Comissão Parlamentar de Inquérito ou peças de informa- de imediato, ou o fará em 10 (dez) dias, ordenando que
ção, dar-se-á vista ao Ministério Público para, no prazo os autos para isso lhe sejam conclusos.
de 10 (dez) dias, adotar uma das seguintes providências: § 1o Ao proferir sentença, o juiz, não tendo havido con-
I - requerer o arquivamento; trovérsia, no curso do processo, sobre a natureza ou quanti-
dade da substância ou do produto, ou sobre a regularidade
II - requisitar as diligências que entender necessárias;
do respectivo laudo, determinará que se proceda na forma
III - oferecer denúncia, arrolar até 5 (cinco) testemunhas
do art. 32, § 1o, desta Lei, preservando-se, para eventual con-
e requerer as demais provas que entender pertinentes.
traprova, a fração que fixar.
§ 2o Igual procedimento poderá adotar o juiz, em decisão
Art. 55. Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a no-
motivada e, ouvido o Ministério Público, quando a quanti-
tificação do acusado para oferecer defesa prévia, por
dade ou valor da substância ou do produto o indicar, prece-
escrito, no prazo de 10 (dez) dias.
dendo a medida a elaboração e juntada aos autos do laudo
§ 1o Na resposta, consistente em defesa preliminar e
toxicológico.
exceções, o acusado poderá arguir preliminares e invocar
todas as razões de defesa, oferecer documentos e justi- Art. 59. Nos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o,
ficações, especificar as provas que pretende produzir e, até e 34 a 37 desta Lei, o réu não poderá apelar sem reco-
o número de 5 (cinco), arrolar testemunhas. lher-se à prisão, salvo se for primário e de bons antece-
§ 2o As exceções serão processadas em apartado, nos dentes, assim reconhecido na sentença condenatória.
termos dos arts. 95 a 113 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de
outubro de 1941 - Código de Processo Penal. Providências iniciais
§ 3o Se a resposta não for apresentada no prazo, o juiz • Recebidos os autos, dar-se-á vistas ao Ministério
nomeará defensor para oferecê-la em 10 (dez) dias, con- Público, no prazo de 10 dias, que poderá: requerer arquiva-
cedendo-lhe vista dos autos no ato de nomeação. mento, requisitar diligências ou oferecer denúncia.
§ 4o Apresentada a defesa, o juiz decidirá em 5 (cinco) • Na denúncia, poderá arrolar até 10 testemunhas e
dias. requerer outras provas.
§ 5o Se entender imprescindível, o juiz, no prazo máxi- Defesa prévia
mo de 10 (dez) dias, determinará a apresentação do pre- • A defesa prévia é uma especificidade da lei de dro-
so, realização de diligências, exames e perícias. gas, permitindo ao acusado se defender antes mesmo do
recebimento da denúncia – por isso será notificado e não
Art. 56. Recebida a denúncia, o juiz designará dia e citado.
hora para a audiência de instrução e julgamento, orde- • Consiste na apresentação de defesa escrita no
nará a citação pessoal do acusado, a intimação do Minis- prazo de 10 dias pelo acusado, com todas razões de de-
tério Público, do assistente, se for o caso, e requisitará os fesa, preliminares e exceções, apresentando documentos
laudos periciais. e justificações.

65
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

• Se necessário, nomeia-se defensor dativo para CAPÍTULO IV


apresentá-la no caso de omissão do acusado. DA APREENSÃO, ARRECADAÇÃO E DESTINAÇÃO
• Apresentada, o juiz decidirá em 5 dias, mas se não DE BENS DO ACUSADO
possuir elementos para decidir, poderá pedir no prazo de
10 dias a apresentação do preso, a realização de diligências, Art. 60. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério
exames e perícias. Público ou mediante representação da autoridade de polí-
Providências após o recebimento da denúncia cia judiciária, ouvido o Ministério Público, havendo indícios
• Se o juiz receber a denúncia, deve motivar sua de- suficientes, poderá decretar, no curso do inquérito ou da
cisão. ação penal, a apreensão e outras medidas assecurató-
• Apesar da lei de drogas não fazer referência à pos- rias relacionadas aos bens móveis e imóveis ou valores
sibilidade de absolvição sumária, esta pode ser aplicada a consistentes em produtos dos crimes previstos nesta Lei,
quaisquer processos penais. Logo após o recebimento da ou que constituam proveito auferido com sua prática, pro-
denúncia, o juiz deve analisar se é possível a absolvição su- cedendo-se na forma dos arts. 125 a 144 do Decreto-Lei no
mária. Não faria sentido determinar-se a citação do acusado 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal.
para comparecer à audiência de instrução e julgamento se o § 1o Decretadas quaisquer das medidas previstas neste
juiz já está convencido acerca da presença de uma das hipó- artigo, o juiz facultará ao acusado que, no prazo de 5
teses que autorizam a absolvição sumária. Caso o acusado (cinco) dias, apresente ou requeira a produção de pro-
não seja absolvido sumariamente, o procedimento seguirá vas acerca da origem lícita do produto, bem ou valor objeto
seu curso normal (designação de audiência e citação). da decisão.
• O acusado será citado. A citação deve ser pessoal. § 2o Provada a origem lícita do produto, bem ou va-
Se o acusado não for encontrado, deve ser citado por edital. lor, o juiz decidirá pela sua liberação.
No caso do réu revel citado por edital nomeia-se defensor § 3o Nenhum pedido de restituição será conhecido sem
dativo e, como não houve ato de comunicação dando ciên- o comparecimento pessoal do acusado, podendo o juiz de-
cia pessoal ao acusado, impõe-se a aplicação do art. 366 do terminar a prática de atos necessários à conservação de
bens, direitos ou valores.
CPP (suspensão do processo e da prescrição).
§ 4o A ordem de apreensão ou sequestro de bens, di-
• O Ministério Público será intimado, tal como assis-
reitos ou valores poderá ser suspensa pelo juiz, ouvido o
tente, se houver.
Ministério Público, quando a sua execução imediata possa
• O juiz também requisitará laudos periciais, se o
comprometer as investigações.
caso.
• Nas infrações de tráfico e equiparadas, o juiz pode
Art. 61. Não havendo prejuízo para a produção da
afastar das funções o acusado funcionário público. prova dos fatos e comprovado o interesse público ou so-
• O juiz designará audiência de instrução e julgamen- cial, ressalvado o disposto no art. 62 desta Lei, mediante
to, no prazo de 30 dias do recebimento da denúncia, ou em autorização do juízo competente, ouvido o Ministério
90 dias se for preciso avaliação de dependência de drogas. Público e cientificada a Senad, os bens apreendidos
Obs.: Há controvérsia se na lei de drogas há resposta poderão ser utilizados pelos órgãos ou pelas entidades
à acusação. Parte da doutrina entende inaplicável a resposta que atuam na prevenção do uso indevido, na atenção e
à acusação na lei de drogas. Para Renato Brasileiro, o ideal reinserção social de usuários e dependentes de drogas e na
é entender que não pode haver 2 manifestações da defesa, repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de
logo, o acusado deveria apresentar a defesa preliminar e a drogas, exclusivamente no interesse dessas atividades.
resposta à acusação no mesmo momento. Num primeiro Parágrafo único. Recaindo a autorização sobre veículos,
momento, o sujeito pediria a rejeição da peça acusatória, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de
num segundo momento, buscaria sua absolvição sumária. trânsito ou ao equivalente órgão de registro e controle a ex-
Ordem da oitiva na audiência pedição de certificado provisório de registro e licenciamento,
• 1o: Interrogatório do acusado; em favor da instituição à qual tenha deferido o uso, ficando
• 2o: Oitiva das testemunhas. esta livre do pagamento de multas, encargos e tributos an-
Debates orais teriores, até o trânsito em julgado da decisão que decretar o
• A sustentação oral será de 20 minutos, para cada seu perdimento em favor da União.
parte, prorrogáveis, a critério do juiz, por mais 10 minutos.
Sentença Art. 62. Os veículos, embarcações, aeronaves e
• Encerrados os debates, o juiz proferirá sentença de quaisquer outros meios de transporte, os maquinários,
imediato, ou o fará em 10 dias, ordenando que os autos para utensílios, instrumentos e objetos de qualquer nature-
isso lhe sejam conclusos. za, utilizados para a prática dos crimes definidos nesta
Apelação e prisão Lei, após a sua regular apreensão, ficarão sob custódia
• A lei diz que o réu não poderá apelar sem recolher- da autoridade de polícia judiciária, excetuadas as armas,
-se à prisão, salvo se for primário e de bons antecedentes, que serão recolhidas na forma de legislação específica.
assim reconhecido na sentença condenatória. Contudo, a § 1o Comprovado o interesse público na utilização de
súmula 347 do STJ diz que “o conhecimento de recurso qualquer dos bens mencionados neste artigo, a autoridade
de apelação do réu independe de sua prisão”. No mesmo de polícia judiciária poderá deles fazer uso, sob sua respon-
sentido tem decidido o STF. sabilidade e com o objetivo de sua conservação, mediante
autorização judicial, ouvido o Ministério Público.

66
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 2o Feita a apreensão a que se refere o caput deste arti- Art. 63. Ao proferir a sentença de mérito, o juiz decidirá
go, e tendo recaído sobre dinheiro ou cheques emitidos como sobre o perdimento do produto, bem ou valor apreendi-
ordem de pagamento, a autoridade de polícia judiciária que do, sequestrado ou declarado indisponível.
presidir o inquérito deverá, de imediato, requerer ao juízo § 1o Os valores apreendidos em decorrência dos crimes tipi-
competente a intimação do Ministério Público. ficados nesta Lei e que não forem objeto de tutela cautelar, após
§ 3o Intimado, o Ministério Público deverá requerer ao decretado o seu perdimento em favor da União, serão revertidos
juízo, em caráter cautelar, a conversão do numerário apreen- diretamente ao Funad.
dido em moeda nacional, se for o caso, a compensação dos § 2o Compete à Senad a alienação dos bens apreendidos e
cheques emitidos após a instrução do inquérito, com cópias não leiloados em caráter cautelar, cujo perdimento já tenha sido
autênticas dos respectivos títulos, e o depósito das corres- decretado em favor da União.
pondentes quantias em conta judicial, juntando-se aos autos § 3o A Senad poderá firmar convênios de cooperação, a fim
o recibo. de dar imediato cumprimento ao estabelecido no § 2o deste artigo.
§ 4o Após a instauração da competente ação penal, o § 4o Transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz do
Ministério Público, mediante petição autônoma, requererá processo, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, reme-
terá à Senad relação dos bens, direitos e valores declarados per-
ao juízo competente que, em caráter cautelar, proceda à
didos em favor da União, indicando, quanto aos bens, o local em
alienação dos bens apreendidos, excetuados aqueles que a
que se encontram e a entidade ou o órgão em cujo poder estejam,
União, por intermédio da Senad, indicar para serem coloca-
para os fins de sua destinação nos termos da legislação vigente.
dos sob uso e custódia da autoridade de polícia judiciária, de
órgãos de inteligência ou militares, envolvidos nas ações de Art. 64. A União, por intermédio da Senad, poderá firmar
prevenção ao uso indevido de drogas e operações de repres- convênio com os Estados, com o Distrito Federal e com or-
são à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, ganismos orientados para a prevenção do uso indevido de
exclusivamente no interesse dessas atividades. drogas, a atenção e a reinserção social de usuários ou de-
§ 5o Excluídos os bens que se houver indicado para os pendentes e a atuação na repressão à produção não autoriza-
fins previstos no § 4o deste artigo, o requerimento de aliena- da e ao tráfico ilícito de drogas, com vistas na liberação de equi-
ção deverá conter a relação de todos os demais bens apreen- pamentos e de recursos por ela arrecadados, para a implantação
didos, com a descrição e a especificação de cada um deles, e e execução de programas relacionados à questão das drogas.
informações sobre quem os tem sob custódia e o local onde
se encontram. TÍTULO V
§ 6o Requerida a alienação dos bens, a respectiva petição DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
será autuada em apartado, cujos autos terão tramitação au-
tônoma em relação aos da ação penal principal. Art. 65. De conformidade com os princípios da não-inter-
§ 7o Autuado o requerimento de alienação, os autos se- venção em assuntos internos, da igualdade jurídica e do respeito
rão conclusos ao juiz, que, verificada a presença de nexo de à integridade territorial dos Estados e às leis e aos regulamentos
instrumentalidade entre o delito e os objetos utilizados para nacionais em vigor, e observado o espírito das Convenções das
a sua prática e risco de perda de valor econômico pelo decur- Nações Unidas e outros instrumentos jurídicos internacionais
so do tempo, determinará a avaliação dos bens relacionados, relacionados à questão das drogas, de que o Brasil é parte, o
cientificará a Senad e intimará a União, o Ministério Público governo brasileiro prestará, quando solicitado, cooperação
e o interessado, este, se for o caso, por edital com prazo de a outros países e organismos internacionais e, quando ne-
5 (cinco) dias. cessário, deles solicitará a colaboração, nas áreas de:
§ 8o Feita a avaliação e dirimidas eventuais divergências I - intercâmbio de informações sobre legislações, ex-
sobre o respectivo laudo, o juiz, por sentença, homologará o periências, projetos e programas voltados para atividades de
prevenção do uso indevido, de atenção e de reinserção social de
valor atribuído aos bens e determinará sejam alienados em
usuários e dependentes de drogas;
leilão.
II - intercâmbio de inteligência policial sobre produção
§ 9o Realizado o leilão, permanecerá depositada em con-
e tráfico de drogas e delitos conexos, em especial o tráfico
ta judicial a quantia apurada, até o final da ação penal res- de armas, a lavagem de dinheiro e o desvio de precursores quí-
pectiva, quando será transferida ao Funad, juntamente com micos;
os valores de que trata o § 3o deste artigo. III - intercâmbio de informações policiais e judiciais so-
§ 10. Terão apenas efeito devolutivo os recursos inter- bre produtores e traficantes de drogas e seus precursores
postos contra as decisões proferidas no curso do procedi- químicos.
mento previsto neste artigo.
§ 11. Quanto aos bens indicados na forma do § 4o deste TÍTULO VI
artigo, recaindo a autorização sobre veículos, embarcações DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou
ao equivalente órgão de registro e controle a expedição de Art. 66. Para fins do disposto no parágrafo único do art.
certificado provisório de registro e licenciamento, em favor 1o desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da lista
da autoridade de polícia judiciária ou órgão aos quais tenha mencionada no preceito, denominam-se drogas substân-
deferido o uso, ficando estes livres do pagamento de multas, cias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras
encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da sob controle especial, da Portaria SVS/MS no 344, de 12
decisão que decretar o seu perdimento em favor da União. de maio de 1998.

67
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 67. A liberação dos recursos previstos na Lei no Art. 73. A União poderá estabelecer convênios com os
7.560, de 19 de dezembro de 1986, em favor de Estados e Estados e o com o Distrito Federal, visando à prevenção
do Distrito Federal, dependerá de sua adesão e respeito às e repressão do tráfico ilícito e do uso indevido de dro-
diretrizes básicas contidas nos convênios firmados e do gas, e com os Municípios, com o objetivo de prevenir o uso
fornecimento de dados necessários à atualização do sis- indevido delas e de possibilitar a atenção e reinserção social
tema previsto no art. 17 desta Lei, pelas respectivas polícias de usuários e dependentes de drogas.
judiciárias.
Art. 74. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco)
Art. 68. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- dias após a sua publicação.
nicípios poderão criar estímulos fiscais e outros, destina-
dos às pessoas físicas e jurídicas que colaborem na pre- Art. 75. Revogam-se a Lei no 6.368, de 21 de outubro de
venção do uso indevido de drogas, atenção e reinserção 1976, e a Lei no 10.409, de 11 de janeiro de 2002.
social de usuários e dependentes e na repressão da produ-
ção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas.

Art. 69. No caso de falência ou liquidação extraju- LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE (4.898/65);
dicial de empresas ou estabelecimentos hospitalares,
de pesquisa, de ensino, ou congêneres, assim como nos
serviços de saúde que produzirem, venderem, adquirirem,
consumirem, prescreverem ou fornecerem drogas ou de Regula o Direito de Representação e o processo de
qualquer outro em que existam essas substâncias ou pro- Responsabilidade Administrativa Civil e Penal, nos casos
dutos, incumbe ao juízo perante o qual tramite o feito: de abuso de autoridade.
I - determinar, imediatamente à ciência da falência ou
liquidação, sejam lacradas suas instalações; Art. 1º O direito de representação e o processo de res-
II - ordenar à autoridade sanitária competente a urgen- ponsabilidade administrativa civil e penal, contra as auto-
te adoção das medidas necessárias ao recebimento e ridades que, no exercício de suas funções, cometerem
guarda, em depósito, das drogas arrecadadas; abusos, são regulados pela presente lei.
III - dar ciência ao órgão do Ministério Público, para Objeto da lei: direito de representação e processo de
acompanhar o feito. responsabilidade contra autoridades que cometam abusos
§ 1o Da licitação para alienação de substâncias ou pro- ao exercer suas funções.
dutos não proscritos referidos no inciso II do caput deste
artigo, só podem participar pessoas jurídicas regularmente Art. 2º O direito de representação será exercido por
habilitadas na área de saúde ou de pesquisa científica que meio de petição:
comprovem a destinação lícita a ser dada ao produto a ser a) dirigida à autoridade superior que tiver competência
arrematado. legal para aplicar, à autoridade civil ou militar culpada, a
§ 2o Ressalvada a hipótese de que trata o § 3o deste ar- respectiva sanção;
tigo, o produto não arrematado será, ato contínuo à hasta b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver
pública, destruído pela autoridade sanitária, na presença dos competência para iniciar processo-crime contra a autorida-
Conselhos Estaduais sobre Drogas e do Ministério Público. de culpada.
§ 3o Figurando entre o praceado e não arrematadas es- Parágrafo único. A representação será feita em duas
pecialidades farmacêuticas em condições de emprego tera- vias e conterá a exposição do fato constitutivo do abuso
pêutico, ficarão elas depositadas sob a guarda do Ministério de autoridade, com todas as suas circunstâncias, a quali-
da Saúde, que as destinará à rede pública de saúde. ficação do acusado e o rol de testemunhas, no máximo
de três, se as houver.
Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos Direito de representação consiste na prerrogativa de
nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado ilícito transna- apresentar denúncias administrativas contra pessoa deter-
cional, são da competência da Justiça Federal. minada, no caso, contra autoridade que tenha cometido
Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios abuso.
que não sejam sede de vara federal serão processados e jul- O instrumento para seu exercício é a petição, em duas
gados na vara federal da circunscrição respectiva. vias, com os seguintes elementos formais:
- Exposição do fato que caracterizou o abuso e suas
Art. 71. (VETADO) circunstâncias;
- Qualificação do acusado;
Art. 72. Encerrado o processo penal ou arquivado o - Rol de até 3 testemunhas.
inquérito policial, o juiz, de ofício, mediante representação A petição será dirigida à autoridade superior daquela
do delegado de polícia ou a requerimento do Ministério Pú- que cometeu o abuso denunciado (pode ser um delegado
blico, determinará a destruição das amostras guardadas ou outra autoridade policial, no caso de abuso cometido
para contraprova, certificando isso nos autos. por policial; ou o juiz, no caso de abuso cometido por ser-
ventuário; ou ainda a corregedoria de justiça, no caso de

68
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

abuso cometido por juiz; etc...) ou ao órgão do Ministé- i) à incolumidade física do indivíduo;
rio Público competente para a investigação. Nota-se que, Art. 5o, caput, CF – Garante o direito à vida – Abrange
diferente das infrações comuns, não se representa pura e incolumidade física.
simplesmente direto em delegacia – o motivo é que a auto- Artigo 5º, III, CF. Ninguém será submetido a tortura nem
ridade que cometeu o abuso, muitas vezes, poderá ser um a tratamento desumano ou degradante.
policial ou o próprio delegado.
A garantia do direito à representação não significa que j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exer-
a ação penal seja condicionada à representação. Todos cício profissional.
crimes de abuso de autoridade são de ação penal pública Artigo 5º, XIII, CF. É livre o exercício de qualquer tra-
incondicionada. O objetivo do direito de representação é balho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
meramente informativo do ocorrido. profissionais que a lei estabelecer.
Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:
atentado: Colacionam-se aqui condutas atentatórias a direitos
Colacionam-se aqui condutas atentatórias a direitos fundamentais sagrados no texto constitucional e que ve-
fundamentais sagrados no texto constitucional e que ve- nham a ser cometidas por autoridade que exceda seus po-
nham a ser cometidas por autoridade que exceda seus po- deres, em teor especificamente voltado às práticas de abu-
deres. so de autoridade de detenção ilegal e excesso nos poderes
de captura e detenção.
a) à liberdade de locomoção;
Artigo 5º, XV, CF. É livre a locomoção no território a) ordenar ou executar medida privativa da liberda-
nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos de individual, sem as formalidades legais ou com abuso
termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus
de poder;
bens.
Artigo 5º, LXI, CF. Ninguém será preso senão em fla-
grante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
b) à inviolabilidade do domicílio;
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de trans-
Artigo 5º, XI, CF. A casa é asilo inviolável do indivíduo,
gressão militar ou crime propriamente militar, definidos em
ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do mo-
lei.
rador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a
c) ao sigilo da correspondência; vexame ou a constrangimento não autorizado em lei;
Artigo 5º, XII, CF. É inviolável o sigilo da correspon- Artigo 5º, XLIX, CF. É assegurado aos presos o respeito
dência e das comunicações telegráficas, de dados e das à integridade física e moral.
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz com-
fins de investigação criminal ou instrução processual penal. petente a prisão ou detenção de qualquer pessoa;
Artigo 5º, LXII, CF. A prisão de qualquer pessoa e o lo-
d) à liberdade de consciência e de crença; cal onde se encontre serão comunicados imediatamente ao
e) ao livre exercício do culto religioso; juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele
Artigo 5º, VI, CF. É inviolável a liberdade de consciên- indicada.
cia e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão
aos locais de culto e a suas liturgias. ou detenção ilegal que lhe seja comunicada;
Artigo 5º, LXV, CF. A prisão ilegal será imediatamente
f) à liberdade de associação; relaxada pela autoridade judiciária.
Artigo 5º, XVII, CF. É plena a liberdade de associação
para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar. e) levar à prisão e nela deter quem quer que se pro-
ponha a prestar fiança, permitida em lei;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao Artigo 5º, LXVI, CF. Ninguém será levado à prisão ou
exercício do voto; nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória,
Art. 14, CF. A soberania popular será exercida pelo sufrá- com ou sem fiança.
gio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual
para todos, e, nos termos da lei, mediante: [...] f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade poli-
cial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer ou-
h) ao direito de reunião; tra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em
Artigo 5º, XVI, CF. Todos podem reunir-se pacificamen- lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor;
te, sem armas, em locais abertos ao público, independen- g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade po-
temente de autorização, desde que não frustrem outra re- licial recibo de importância recebida a título de carce-
união anteriormente convocada para o mesmo local, sendo ragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra des-
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente. pesa;

69
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Custas, emolumentos e outras despesas – Somente d) destituição de função;


podem ser cobradas nos casos previstos em lei e, carac- e) demissão;
terizando-se um destes casos, o carcereiro ou o agente de f) demissão, a bem do serviço público.
autoridade policial têm o dever de receber as importâncias § 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor
devidas. do dano, consistirá no pagamento de uma indenização de
quinhentos a dez mil cruzeiros.
h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pes- § 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as
soa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou regras dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá em:
desvio de poder ou sem competência legal;
a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;
Artigo 5º, LIV, CF. Ninguém será privado da liberdade ou
b) detenção por dez dias a seis meses;
de seus bens sem o devido processo legal.
c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de
i) prolongar a execução de prisão temporária, de qualquer outra função pública por prazo até três anos.
pena ou de medida de segurança, deixando de expedir § 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão
em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente or- ser aplicadas autônoma ou cumulativamente.
dem de liberdade. § 5º Quando o abuso for cometido por agente de au-
Caracterizando-se excesso de prazo de prisão tempo- toridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria,
rária, pena ou medida de seguraná, a pessoa deve ser li- poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de
bertada. não poder o acusado exercer funções de natureza poli-
Artigo 5º, LXI, CF. Ninguém será preso senão em fla- cial ou militar no município da culpa, por prazo de um a
grante delito ou por ordem escrita e fundamentada de cinco anos.
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de trans- Sanção administrativa
gressão militar ou crime propriamente militar, definidos em - Advertência – verbal.
lei.
- Repreensão – escrita.
Artigo 5º, LXVI, CF. Ninguém será levado à prisão ou
nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, - Suspensão do cargo, função ou posto por prazo de
com ou sem fiança. cinco a cento e oitenta dias, com perda de vencimentos e
vantagens – o agente não exercerá o cargo por um período
O uso de algemas em contrariedade à súmula vincu- determinado, sem receber remuneração.
lante no 11 do STF caracteriza abuso de autoridade: “Só é - Destituição de função – o agente será destituído de
lícito o uso de algemas em casos de resistência e de funda- função de confiança ou cargo em comissão.
do receio de fuga ou de perigo à integridade física própria - Demissão – o servidor será desvinculado dos quadros
ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a da Administração.
excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilida- - Demissão, a bem do serviço público – o servidor será
de disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e desvinculado dos quadros da Administração.
de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, Sanção civil
sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado”. Indenização – danos morais + danos materiais. Como o
valor está desatualizado, em cruzeiros, o juiz arbitrará caso
Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta
lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de a caso.
natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e Sanção penal
sem remuneração. - Multa – o juiz utilizará os critérios do Código Penal
O sujeito ativo de todos os crimes descritos nesta lei é para fixar o valor;
pessoa que exerça posição de autoridade, embora seja ad- - Detenção, de 10 dias a 6 meses;
missível coautoria e participação de terceiros particulares. - Perda do cargo e inabilitação ao exercício de função
Assim, o particular jamais pode agir sozinho cometendo por até 3 anos.
abuso de autoridade, precisa estar em concurso com fun- Podem ser aplicadas as três penas ou apenas uma de-
cionário público. las isoladamente.
A autoridade será qualquer pessoa que exerça cargo, Se a autoridade que cometeu o abuso for policial, será
emprego ou função pública, civil ou militar, de forma per- possível aplicar a pena de proibição do exercício de fun-
manente ou transitória, de forma gratuita ou remunerada. ções policiais no município em que o ato foi praticado, por
1 a 5 anos.
Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à
sanção administrativa civil e penal.
§ 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo Art. 7º Recebida a representação em que for solicitada
com a gravidade do abuso cometido e consistirá em: a aplicação de sanção administrativa, a autoridade civil ou
a) advertência; militar competente determinará a instauração de inquéri-
b) repreensão; to para apurar o fato.
c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de § 1º O inquérito administrativo obedecerá às normas
cinco a cento e oitenta dias, com perda de vencimentos estabelecidas nas leis municipais, estaduais ou federais,
e vantagens; civis ou militares, que estabeleçam o respectivo processo.

70
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 2º Não existindo no município no Estado ou na le- de conhecimento, ser provada e reconhecida a existência
gislação militar normas reguladoras do inquérito adminis- do direito ao ressarcimento, de acordo com o grau de cog-
trativo serão aplicadas supletivamente, as disposições dos nição e convicção próprios da seara civil (na esfera penal,
arts. 219 a 225 da Lei nº 1.711, de 28 de outubro de 1952 a decisão de condenação somente pode ser lastreada em
(Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União). juízo de certeza, tendo em vista o princípio constitucional
§ 3º O processo administrativo não poderá ser sobres- do estado de inocência)”.
tado para o fim de aguardar a decisão da ação penal A responsabilidade civil e a penal são passíveis de apu-
ou civil. ração perante a justiça. No caso, em regra, a competên-
Exercido o direito de representação, instaura-se in- cia será da justiça estadual, salvo se forem afetados bens,
quérito no âmbito administrativo para apurar o fato. Não serviços ou interesses da União ou de suas autarquias e
havendo regra específica sobre o inquérito administrativo, fundações públicas (art. 109, CF).
aplica-se a legislação federal, no caso, o Estatuto dos Ser- Em se tratando de funcionário público federal – civil ou
vidores Públicos Civis Federais – Lei no 8.112/1990 e a Lei militar que pratique o abuso contra civil – a competência é
do Processo Administrativo – Lei no 9.784/1999. O proces- da justiça federal para a apuração penal. (súmula 172, STJ).
so administrativo corre independente dos processos cível
e penal, justamente devido à independência das esferas. Art. 10. (Vetado).

Art. 8º A sanção aplicada será anotada na ficha fun- Art. 11. À ação civil serão aplicáveis as normas do Có-
cional da autoridade civil ou militar. digo de Processo Civil.
A sanção aplicada será anotada na ficha funcional. Sendo a ação civil, aplicam-se as normas processuais
civis, que são regidas pelo CPC.
Art. 9º Simultaneamente com a representação dirigida à
autoridade administrativa ou independentemente dela, po- Art. 12. A ação penal será iniciada, independente-
derá ser promovida pela vítima do abuso, a responsa- mente de inquérito policial ou justificação por denúncia
bilidade civil ou penal ou ambas, da autoridade culpada. do Ministério Público, instruída com a representação da
Destaca-se aqui a independência entre as esferas pe- vítima do abuso.
nal, civil e administrativa, sendo cabível a punição da au-
toridade que cometeu o abuso nas três esferas, cumulati- Art. 13. Apresentada ao Ministério Público a repre-
vamente. Se as responsabilidades se cumularem, também sentação da vítima, aquele, no prazo de quarenta e
as sanções serão cumuladas. Daí afirmar-se que tais res- oito horas, denunciará o réu, desde que o fato narrado
ponsabilidades são independentes, ou seja, não dependem constitua abuso de autoridade, e requererá ao Juiz a sua
uma da outra. citação, e, bem assim, a designação de audiência de ins-
Determinadas decisões na esfera penal geram exclusão trução e julgamento.
da responsabilidade nas esferas civil e administrativa, quais § 1º A denúncia do Ministério Público será apresentada
sejam: absolvição por inexistência do fato ou negativa de em duas vias.
autoria. A absolvição criminal por falta de provas não gera
exclusão da responsabilidade civil e administrativa. Art. 14. Se a ato ou fato constitutivo do abuso de auto-
A absolvição proferida na ação penal, em regra, nada ridade houver deixado vestígios o ofendido ou o acusado
prejudica a pretensão de reparação civil do dano ex delicto, poderá:
conforme artigos 65, 66 e 386, IV do CPP: “art. 65. Faz coisa a) promover a comprovação da existência de tais vestí-
julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o gios, por meio de duas testemunhas qualificadas;
ato praticado em estado de necessidade, em legítima defe- b) requerer ao Juiz, até setenta e duas horas antes da
sa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício audiência de instrução e julgamento, a designação de um
regular de direito” (excludentes de antijuridicidade); “art. perito para fazer as verificações necessárias.
66. não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, § 1º O perito ou as testemunhas farão o seu relatório
a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, ca- e prestarão seus depoimentos verbalmente, ou o apresen-
tegoricamente, reconhecida a inexistência material do tarão por escrito, querendo, na audiência de instrução e
fato”; “art. 386, IV –  estar provado que o réu não concor- julgamento.
reu para a infração penal”. § 2º No caso previsto na letra a deste artigo a repre-
Entendem Fuller, Junqueira e Machado1: “a absolvição sentação poderá conter a indicação de mais duas testemu-
dubitativa (motivada por juízo de dúvida), ou seja, por falta nhas.
de provas, (art. 386, II, V e VII, na nova redação conferida ao
CPP), não empresta qualquer certeza ao âmbito da jurisdi- Art. 15. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de
ção civil, restando intocada a possibilidade de, na ação civil apresentar a denúncia requerer o arquivamento da repre-
sentação, o Juiz, no caso de considerar improcedentes as
1 FULLER, Paulo Henrique Aranda; JUNQUEIRA, razões invocadas, fará remessa da representação ao Procu-
Gustavo Octaviano Diniz; MACHADO, Angela C. Cangia- rador-Geral e este oferecerá a denúncia, ou designará outro
no. Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribu- órgão do Ministério Público para oferecê-la ou insistirá no
nais, 2010. (Coleção Elementos do Direito) arquivamento, ao qual só então deverá o Juiz atender.

71
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 16. Se o órgão do Ministério Público não oferecer a Art. 24. Encerrado o debate, o Juiz proferirá imediata-
denúncia no prazo fixado nesta lei, será admitida ação mente a sentença.
privada. O órgão do Ministério Público poderá, porém, adi-
tar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva Art. 25. Do ocorrido na audiência o escrivão lavrará no
e intervir em todos os termos do processo, interpor recursos e, livro próprio, ditado pelo Juiz, termo que conterá, em resumo,
a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar os depoimentos e as alegações da acusação e da defesa, os re-
a ação como parte principal. querimentos e, por extenso, os despachos e a sentença.

Art. 17. Recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de Art. 26. Subscreverão o termo o Juiz, o representante do
quarenta e oito horas, proferirá despacho, recebendo ou Ministério Público ou o advogado que houver subscrito a quei-
rejeitando a denúncia. xa, o advogado ou defensor do réu e o escrivão.
§ 1º No despacho em que receber a denúncia, o Juiz
designará, desde logo, dia e hora para a audiência de ins- Art. 27. Nas comarcas onde os meios de transporte fo-
trução e julgamento, que deverá ser realizada, improrroga- rem difíceis e não permitirem a observância dos prazos fixados
velmente, dentro de cinco dias. nesta lei, o juiz poderá aumentá-los, sempre motivadamente,
§ 2º A citação do réu para se ver processar, até julga- até o dobro.
mento final e para comparecer à audiência de instrução e
julgamento, será feita por mandado sucinto que, será acom- Art. 28. Nos casos omissos, serão aplicáveis as normas
panhado da segunda via da representação e da denúncia. do Código de Processo Penal, sempre que compatíveis com o
sistema de instrução e julgamento regulado por esta lei.
Art. 18. As testemunhas de acusação e defesa poderão Parágrafo único. Das decisões, despachos e sentenças, cabe-
ser apresentadas em juízo, independentemente de intimação. rão os recursos e apelações previstas no Código de Processo Penal.
Parágrafo único. Não serão deferidos pedidos de pre-
Art. 29. Revogam-se as disposições em contrário.
catória para a audiência ou a intimação de testemunhas ou,
salvo o caso previsto no artigo 14, letra “b”, requerimentos
Procedimento penal
para a realização de diligências, perícias ou exames, a não ser
- Denúncia do MP, em 48hs do recebimento de represen-
que o Juiz, em despacho motivado, considere indispensáveis
tação que efetivamente relate abuso de autoridade, em duas
tais providências.
vias, instruída com representação da vítima;
Obs.: O MP pode pedir arquivamento, cabendo ao Juiz
Art. 19. A hora marcada, o Juiz mandará que o porteiro homologar ou então remeter ao Procurador-Geral de Justiça
dos auditórios ou o oficial de justiça declare aberta a au- para que ofereça denúncia ou designe quem o faça ou então
diência, apregoando em seguida o réu, as testemunhas, o para que insista no arquivamento.
perito, o representante do Ministério Público ou o advogado Obs.: Desrespeitado o prazo de 48hs, cabe ação privada
que tenha subscrito a queixa e o advogado ou defensor do réu. subsidiária da pública. O MP poderá neste caso aditar a quei-
Parágrafo único. A audiência somente deixará de reali- xa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva e intervir nos
zar-se se ausente o Juiz. autos.
- Apuração de vestígios, por testemunhas ou perito, se
Art. 20. Se até meia hora depois da hora marcada o existentes, conforme indicação na representação;
Juiz não houver comparecido, os presentes poderão reti- - Recebida a denúncia, o juiz em 48hs decidirá, recebendo
rar-se, devendo o ocorrido constar do livro de termos de au- ou rejeitando. Se receber, já designará a audiência de instru-
diência. ção e julgamento para os próximos 5 dias;
- Citação do réu para comparecer à audiência;
Art. 21. A audiência de instrução e julgamento será pú- - Na audiência, as testemunhas podem ser apresentadas
blica, se contrariamente não dispuser o Juiz, e realizar-se-á independente de intimação e, salvo se indispensável, não ca-
em dia útil, entre dez (10) e dezoito (18) horas, na sede berá oitiva por carta precatória;
do Juízo ou, excepcionalmente, no local que o Juiz designar. - Audiência: declarada aberta e apregoada; podendo as
partes se retirarem se o juiz atrasar por mais de 30 minutos;
Art. 22. Aberta a audiência o Juiz fará a qualificação e o será pública; em dia útil e horário das 10hs às 18hs; o primei-
interrogatório do réu, se estiver presente. ro ato é a qualificação e o interrogatório do réu; possível a
Parágrafo único. Não comparecendo o réu nem seu advo- nomeação de defensor dativo; segue-se com oitiva de teste-
gado, o Juiz nomeará imediatamente defensor para funcio- munhas e peritos e memoriais – ouve-se a acusação, ouve-se
nar na audiência e nos ulteriores termos do processo. a defesa, 15 minutos cada, prorrogáveis por mais 10 – e en-
cerra-se com a sentença imediatamente proferida pelo juiz; o
Art. 23. Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, escrivão lavrará termo, subscrito pelos presentes;
o Juiz dará a palavra sucessivamente, ao Ministério Pú- - Possível flexibilização de prazos;
blico ou ao advogado que houver subscrito a queixa e ao - Aplica-se a Lei no 9.099/1995;
advogado ou defensor do réu, pelo prazo de quinze minu- - Aplicação subsidiária do CPP.
tos para cada um, prorrogável por mais dez (10), a critério
do Juiz. Brasília, 9 de dezembro de 1965; 144º da Independência
e 77º da República.

72
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

EXERCÍCIOS

1. (FCC/2017 - DPE-RS - Técnico - Segurança) Um ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


agente público de natureza civil, no exercício de seu cargo, (LEI 8.069/90);
executou medida privativa da liberdade individual para um
cidadão, sem as formalidades legais. De acordo com a Lei
n° 4.898/1965, esse agente público está sujeito à sanção
administrativa que Noções introdutórias e disciplina constitucional
a) consistirá em multa de valor fixado pela legislação
vigente; detenção por dez dias a seis meses; perda do car- Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Es-
go e a inabilitação para o exercício de qualquer outra fun- tado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
ção pública por prazo até três anos. absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimenta-
b) consistirá no pagamento de uma indenização com ção, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
valor pré-fixado pela legislação vigente, caso não seja pos- dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
sível fixar o valor do dano. e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
c) será aplicada de acordo com a gravidade do abuso de negligência, discriminação, exploração, violência,
cometido, que poderá consistir em advertência; repreen- crueldade e opressão. 
são; suspensão do cargo, função ou posto por prazo de 5 § 1º O Estado promoverá programas de assistência
a 180 dias, com perda de vencimentos e vantagens; des- integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, ad-
tituição de função; demissão; demissão, a bem do serviço mitida a participação de entidades não governamentais,
público. mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes
d) poderá ser cominada a pena autônoma ou acessó- preceitos: 
ria, de não poder o acusado exercer funções de natureza I - aplicação de percentual dos recursos públicos desti-
policial ou militar no município em questão, por prazo de nados à saúde na assistência materno-infantil;
um a cinco anos. II - criação de programas de prevenção e atendimen-
e) consistirá, dentre outros, em detenção de dez dias a to especializado para as pessoas portadoras de deficiência
um ano, pagamento de uma indenização com valor pré-fi- física, sensorial ou mental, bem como de integração social
xado pela legislação vigente e demissão, a bem do serviço
do adolescente e do jovem portador de deficiência, me-
público.
diante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a
R: C. O art. 6o, § 1º da Lei de Abuso de Autoridade pre-
facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eli-
vê: “A sanção administrativa será aplicada de acordo com
minação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas
a gravidade do abuso cometido e consistirá em: a) adver-
de discriminação. 
tência; b) repreensão; c) suspensão do cargo, função ou
§ 2º A lei disporá sobre normas de construção dos lo-
posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias, com perda
de vencimentos e vantagens; d) destituição de função; e) gradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de
demissão; f) demissão, a bem do serviço público”. veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso
adequado às pessoas portadoras de deficiência.
2. (FCC/2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Técnico Judiciário § 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguin-
- Segurança e Transporte) Genival, Delegado de Polícia tes aspectos:
Civil do Estado X, prende em flagrante delito Marcos, pelo I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao
crime de estupro. Ao encarcerá-lo junto a outros detentos trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII;
determina que Marcos passe a noite despido, devolvendo- II - garantia de direitos previdenciários e trabalhis-
-lhe suas vestes somente na manhã seguinte. De acordo tas;
com a Lei n° 4.898 de 1965, sem prejuízo de outras sanções III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e
penais, Genival estará sujeito a sanções jovem à escola; 
a) penal e disciplinar, sendo vedada a sanção civil. IV - garantia de pleno e formal conhecimento da
b) administrativa, somente, por não ter observado as atribuição de ato infracional, igualdade na relação pro-
determinações em vigor para encarceramento de detento. cessual e defesa técnica por profissional habilitado, se-
c) civil, eximindo-se as demais sanções com a efetiva gundo dispuser a legislação tutelar específica;
reparação dos danos morais provocados. V - obediência aos princípios de brevidade, excepcio-
d) penal, somente, que absorverá as sanções das de- nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em de-
mais esferas. senvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida
e) administrativa, penal e civil. privativa da liberdade;
R: E. O ato consiste em abuso de autoridade, confor- VI - estímulo do Poder Público, através de assistência
me o art. 4º, “b” da Lei de Abuso de Autoridade: “Constitui jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei,
também abuso de autoridade: [...] b) submeter pessoa sob ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou ado-
sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento lescente órfão ou abandonado;
não autorizado em lei”. Quanto à cumulação de esferas, VII - programas de prevenção e atendimento especia-
prevê o art. 6º da lei: “O abuso de autoridade sujeitará o lizado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de
seu autor à sanção administrativa civil e penal”. entorpecentes e drogas afins.

73
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a 30 de março de 2007, foi promulgado após aprovação no
exploração sexual da criança e do adolescente. Congresso Nacional nos moldes da Emenda Constitucional
§ 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na nº 45/2004, tendo força de norma constitucional e não de
forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efe- lei ordinária. A preocupação com o direito da pessoa porta-
tivação por parte de estrangeiros. dora de deficiência se estende ao §2º do artigo 227, CF: “a
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casa- lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e
mento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qua- dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos
lificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado
relativas à filiação. às pessoas portadoras de deficiência”.
§ 7º No atendimento dos direitos da criança e do ado- A proteção especial que decorre do princípio da prio-
lescente levar-se-á em consideração o disposto no art. ridade absoluta está prevista no §3º do artigo 227. Liga-se,
2042. ainda, à proteção especial, a previsão do §4º do artigo 227:
§ 8º A lei estabelecerá:  “A lei punirá severamente o abuso, a violência e a explora-
I - o estatuto da juventude, destinado a regular os di- ção sexual da criança e do adolescente”.
reitos dos jovens;  Tendo em vista o direito de toda criança e adolescente
II - o plano nacional de juventude, de duração dece- de ser criado no seio de uma família, o §5º do artigo 227 da
nal, visando à articulação das várias esferas do poder públi- Constituição prevê que “a adoção será assistida pelo Poder
co para a execução de políticas públicas.  Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condi-
ções de sua efetivação por parte de estrangeiros”. Neste
No caput do artigo 227, CF se encontra uma das prin- sentido, a Lei nº 12.010, de 3 de agosto de 2009, dispõe
cipais diretrizes do direito da criança e do adolescente que sobre a adoção.
é o princípio da prioridade absoluta. Significa que cada A igualdade entre os filhos, quebrando o paradigma da
criança e adolescente deve receber tratamento especial do Constituição anterior e do até então vigente Código Civil
Estado e ser priorizado em suas políticas públicas, pois são de 1916 consta no artigo 227, § 6º, CF: “os filhos, havidos
o futuro do país e as bases de construção da sociedade. ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os
A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 dispõe sobre o mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer de-
Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providên- signações discriminatórias relativas à filiação”.
cias, seguindo em seus dispositivos a ideologia do princí- Quando o artigo 227 dispõe no § 7º que “no atendi-
pio da absoluta prioridade. mento dos direitos da criança e do adolescente levar-se-á
No §1º do artigo 227 aborda-se a questão da assistên- em consideração o disposto no art. 204” tem em vista a
cia à saúde da criança e do adolescente. Do inciso I se de- adoção de práticas de assistência social, com recursos da
preende a intrínseca relação entre a proteção da criança e seguridade social, em prol da criança e do adolescente.
do adolescente com a proteção da maternidade e da infân- Por seu turno, o artigo 227, § 8º, CF, preconiza: “A lei
cia, mencionada no artigo 6º, CF. Já do inciso II se depreen- estabelecerá: I - o estatuto da juventude, destinado a re-
de a proteção de outro grupo vulnerável, que é a pessoa gular os direitos dos jovens; II - o plano nacional de juven-
portadora de deficiência, valendo lembrar que o Decreto nº tude, de duração decenal, visando à articulação das várias
6.949, de 25 de agosto de 2009, que promulga a Convenção esferas do poder público para a execução de políticas pú-
Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência blicas”. A Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013, institui
e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos
jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de
2 Art. 204. As ações governamentais na área da as-
juventude e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE.
Mais informações sobre a Política mencionada no inciso II
sistência social serão realizadas com recursos do orça-
e sobre a Secretaria e o Conselho Nacional de Juventude
mento da seguridade social, previstos no art. 195, além
de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes que direcionam a implementação dela podem ser obtidas
diretrizes: I - descentralização político-administrativa, na rede3.
cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera fede- Aprofundando o tema, a cabeça do art. 227, da Lei Fun-
ral e a coordenação e a execução dos respectivos progra- damental, preconiza ser dever da família, da sociedade e do
mas às esferas estadual e municipal, bem como a entida- Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
des beneficentes e de assistência social; II - participação absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
da população, por meio de organizações representativas, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dig-
na formulação das políticas e no controle das ações em nidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
todos os níveis. Parágrafo único. É facultado aos Estados comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio à in- negligência, discriminação, exploração, violência, cruelda-
clusão e promoção social até cinco décimos por cento de de e opressão.
sua receita tributária líquida, vedada a aplicação desses A leitura do art. 227, caput, da Constituição Federal
recursos no pagamento de: I - despesas com pessoal e permite concluir que se adotou, neste país, a chamada
encargos sociais; II - serviço da dívida; III - qualquer outra “Doutrina da Proteção Integral da Criança”, ao lhe assegu-
despesa corrente não vinculada diretamente aos investi- rar a absoluta prioridade em políticas públicas, medidas
mentos ou ações apoiados. 3 http://www.juventude.gov.br/politica

74
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

sociais, decisões judiciais, respeito aos direitos humanos, Também, o art. 229 traz uma “via de mão dupla” entre
e observância da dignidade da pessoa humana. Neste sen- pais e filhos, isto é, os pais têm o dever de assistir, criar e
tido, o parágrafo único, do art. 5º, do “Estatuto da Crian- educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever
ça e do Adolescente”, prevê que a garantia de priorida- de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou en-
de compreende a primazia de receber proteção e socorro fermidade. Tal dispositivo, inclusive, permite que os filhos
em quaisquer circunstâncias (alínea “a”), a precedência de peçam alimentos aos pais, e que os pais peçam alimentos
atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública aos filhos.
(alínea “b”), a preferência na formulação e na execução das Por fim, há se mencionar o acrescentado parágrafo oi-
políticas sociais públicas (alínea “c”), e a destinação privi- tavo (pela Emenda Constitucional nº 65/2010), ao art. 227,
legiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a da Constituição Federal, segundo o qual a lei estabelecerá
proteção à infância e à juventude (alínea “d”). o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos
Ademais, a proteção à criança, ao adolescente e ao jo- jovens (inciso I), e o plano nacional de juventude, de du-
ração decenal, visando à articulação das várias esferas do
vem representa incumbência atribuída não só ao Estado,
poder público para a execução de políticas públicas (inciso
mas também à família e à sociedade. Sendo assim, há se
II). Nada obstante a exigência constitucional desde 2010,
prestar bastante atenção nas provas de concurso, tendo
somente bem recentemente o Estatuto da Juventude foi
em vista que só se costuma colocar o Estado como obser- aprovado (Lei nº 12.852/2013), como visto acima, carecen-
vador da “Doutrina da Proteção Integral”, sendo que isso do, ainda, o Plano Nacional de Juventude de maior regula-
também compete à família e à sociedade. mentação infraconstitucional.
Nesta frequência, o direito à proteção especial abran-
gerá os seguintes aspectos (art. 227, §3º, CF): Evolução histórica
- A idade mínima de dezesseis anos para admissão ao
trabalho, salvo a partir dos quatorze anos, na condição de Na Grécia antiga, a criança era colocada numa posição
aprendiz (inciso I de acordo com o art. 7º, XXXIII, CF, pós-al- de inferioridade, tida como um ser irracional, sem capaci-
teração promovida pela Emenda Constitucional nº 20/98); dade de tomar qualquer tipo de decisão. Trata-se de marco
- A garantia de direitos previdenciários e trabalhistas da cultura grega, que enxergava apenas poucos homens de
(inciso II); posses como cidadãos. Estes homens concentravam para
- A garantia de acesso ao trabalhador adolescente e si o pátrio poder, isto é, o poder do pai. Devido ao pátrio
jovem à escola (inciso III); poder, o pai de família concentrava em suas mãos plena
- A garantia de pleno e formal conhecimento da atri- possibilidade de gerir a vida das crianças e adolescentes
buição do ato infracional, igualdade na relação processual e estes não tinham nenhuma possibilidade de participar
destas decisões. Na Idade Média se manteve o sistema do
e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dis-
“pátrio poder”. As crianças eram submetidas ao absoluto
puser a legislação tutelar específica (inciso IV);
poder do pai e seus destinos seguiam a mesma sorte.
- A obediência aos princípios de brevidade, excepcio-
A partir da Idade Moderna, com o Renascimento e o
nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em de- Iluminismo, as crianças e os adolescentes saíram ligeira-
senvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida mente da margem social. A moral da época passa a impor
privativa de liberdade (inciso V); aos pais o dever de educar seus filhos. Entretanto, a educa-
- O estímulo do Poder Público, através de assistência ção costumava ser oferecida apenas aos homens. Aqueles
jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao que possuíam melhores condições enviavam seus filhos
acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adoles- para estudarem nas universidades que começavam a des-
cente órfão ou abandonado (inciso VI); pontar na Europa, aqueles que possuíam condições piores
- Programas de prevenção e atendimento especializa- ao menos passavam a ensinar seus ofícios a estes jovens.
do à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de Já as meninas permaneciam marginalizadas das atividades
entorpecentes e drogas afins (inciso VII). educacionais e profissionalizantes, apenas lhes era ensina-
Prosseguindo, o parágrafo sexto, do art. 227, da Cons- do como desempenhar atividades domésticas.
tituição, garante o “Princípio da Igualdade entre os Filhos”, Desde o final da Revolução Francesa e, com destaque,
ao dispor que os filhos, havidos ou não da relação do ca- a partir da Revolução Industrial, que alterou substancial-
samento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e quali- mente os modos e métodos de produção, a criança e o
ficações, proibidas quaisquer designações discriminatórias adolescente passam a ocupar papel central na sociedade,
relativas à filiação. desempenhando atividades trabalhistas de caráter equiva-
lente a dos adultos. Foram vítimas de inúmeros acidentes
Assim, com a Constituição Federal, os filhos não têm
de trabalho, morriam em meio à insalubridade das fábricas,
mais “valor” para efeito de direitos alimentícios e suces-
então movidas predominantemente a carvão. Foi apenas
sórios. Não se pode falar em um filho receber metade da com a emergência da Organização Internacional do Tra-
parte que originalmente lhe cabia por ser “bastardo”, en- balho – OIT, em 1919, que aos poucos se consolidou uma
quanto aquele fruto da sociedade conjugal receber a quan- consciência a respeito da necessidade de se limitar a parti-
tia integral. Aliás, nem mesmo a expressão “filho bastardo” cipação das crianças e adolescentes no espaço de trabalho.
pode mais ser utilizada, por representar uma forma de dis- Este foi o estopim para o reconhecimento da condição es-
criminação designatória. pecial da criança e do adolescente.

75
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Internacionalmente, a proteção efetiva da criança e em desenvolvimento, posto que, somente com o término
do adolescente começa a tomar corpo com o reconheci- da adolescência é que o menor completará o processo de
mento internacional dos direitos humanos e a fundação aquisição de mecanismos mentais relacionados ao pensa-
da UNICEF. A UNICEF, inicialmente conhecida como Fundo mento, percepção, reconhecimento, classificação etc. [...]
Internacional de Emergência das Nações Unidas para as Com isso, o Estatuto da Criança e do Adolescente, sabia-
Crianças, foi criada em dezembro de 1946 para ajudar as mente, se preocupou em envolver não somente a família,
crianças da Europa vítimas da II Guerra Mundial. No início mas, ainda, a comunidade, a sociedade e o próprio Estado,
da década de 50 o seu mandato foi alargado para respon- para que todos, em conjunto, exerçam seus direitos e deve-
der às necessidades das crianças e das mães nos países em res sem oprimir aqueles que, em condição inferior, viviam
desenvolvimento. Em 1953, torna-se uma agência perma- a mercê da sociedade. Mas, qual a razão dessa inclusão tão
nente das Nações Unidas, e passa a ocupar-se especial- abrangente? Pois bem, a intenção do Estatuto da Criança
mente das crianças dos países mais pobres da África, Ásia, e do Adolescente foi conferir ao menor, de forma integral,
América Latina e Médio Oriente. Passa então a designar-se todas as condições para que o mesmo possa desenvolver-
Fundo das Nações Unidas para a Infância, mas mantém a -se plenamente, evitando-se, com isso, que haja alguma
sigla que a tornara conhecida em todo o mundo – UNICEF. deficiência em sua formação. Desta forma, a melhor solu-
Desde então, sobrevieram no âmbito das Nações Unidas ção apresentada pelo legislador foi incluir todos os seg-
documentos bastante relevantes sobre a condição jurídica mentos da sociedade, para que ninguém ficasse isento de
peculiar da criança, já estudados neste material. qualquer responsabilidade, uma vez que a doutrina da pro-
No Brasil, no final do século XIX e início do século XX, teção integral apresentada pelo Estatuto da Criança e do
foi instituído no Rio de Janeiro o Instituto de Proteção e Adolescente exige a participação de todos, sem qualquer
Assistência à Infância, primeiro estabelecimento público exceção”5. Com efeito, o objeto formal do direito da criança
nacional de atendimento a crianças e adolescentes. Em se- e do adolescente é a proteção jurídica especial da criança
guida, veio a Lei nº 4.242/1921, que autorizou o governo e do adolescente. Já o objeto material é a própria criança
a organizar o Serviço de Assistência e Proteção à Infância ou adolescente.
Abandonada e Dellinquente. Em 1927 foi aprovado o pri-
meiro Código de Menores. Em 1941, durante o governo Princípios
Vargas, foi criado o Serviço de Assistência ao Menor, cujo
fim era dar tratamento penal teoricamente diferenciado Não se pode olvidar que os princípios sempre desem-
aos menores (na prática, eram tratados como criminosos penharam um importante papel social, mas foi somente na
comuns). Em 1964 surge a Política Nacional do Bem-estar atual dogmática jurídica que eles adquiriram normativida-
do Menor (Lei nº 4.513/1964), que criou a FUNABEM. Surge de. Hoje em dia, os princípios servem para condensar va-
novo Código de Menores em 1979 (Lei nº 6.697), cujo ob- lores, dar unidade ao sistema e condicionar a atividade do
jeto era a proteção e vigilância de crianças e adolescentes intérprete. Os princípios são normas jurídicas, não meros
em situação irregular. Na década de 80 começa um mo- conteúdos axiológicos, aceitando aplicação autônoma6.
vimento de reelaboração da concepção de infância e ju- Em resumo, a teoria dos princípios chega à presente
ventude. O destaque repercute na Constituição Federal de fase do Pós-positivismo com os seguintes resultados já
1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, consolidados: a passagem dos princípios da especulação
que revogou o Código de Menores e substituiu a doutrina metafísica e abstrata para o campo concreto e positivo do
da situação irregular pela doutrina da proteção integral4. Direito, com baixíssimo teor de densidade normativa; a
transição crucial da ordem jusprivatista (sua antiga inser-
Relações jurídicas no direito da criança e do ado- ção nos Códigos) para a órbita juspublicística (seu ingresso
lescente nas Constituições); a suspensão da distinção clássica entre
princípios e normas; o deslocamento dos princípios da es-
“As relações jurídicas são formas qualificadas de re- fera da jusfilosofia para o domínio da Ciência Jurídica; a
lações interpessoais, indicando, assim, a ligação entre proclamação de sua normatividade; a perda de seu cará-
pessoas, em razão de algum objeto, devidamente regu- ter de normas programáticas; o reconhecimento definitivo
lada pelo direito. Desta forma, o Direito da Criança e do de sua positividade e concretude por obra sobretudo das
Adolescente, sob o aspecto objetivo e formal, representa Constituições; a distinção entre regras e princípios, como
a disciplina das relações jurídicas entre Crianças e Adoles- espécies diversificadas do gênero norma, e, finalmente, por
centes, de um lado, e de outro, a família, a comunidade, a expressão máxima de todo esse desdobramento doutriná-
sociedade e o próprio Estado. [...] Percebemos que a inten- rio, o mais significativo de seus efeitos: a total hegemonia
ção dos doutrinadores e do próprio legislador foi, sempre, e preeminência dos princípios7.
criar uma doutrina da proteção integral não somente para
a Criança, como, ainda, para o Adolescente, ambos ainda 5 MENDES, Moacyr Pereira. As relações jurídicas
decorrentes do Estatuto da Criança e do Adolescente.
4 DEZEM, Guilherme Madeira; AGUIRRE, João Ri- Âmbito Jurídico, Rio Grande, XII, n. 70, nov. 2009.
cardo Brandão; FULLER, Paulo Henrique Aranda. Estatu- 6 Ibid., p.327.
to da Criança e do Adolescente. São Paulo: Revista dos 7 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito consti-
Tribunais, 2009. (Coleção Elementos do Direito) tucional. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 294.

76
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

No campo do direito da criança e do adolescente, al- princípio da dignidade da pessoa humana, subsistem como
guns princípios assumem destaque, entre eles: conquista da humanidade, razão pela qual auferiram pro-
a) Princípio da prioridade absoluta: previsto nos ar- teção especial consistente em indenização por dano moral
tigos 227, CF e 4º, ECA preconiza que é dever de todos – decorrente de sua violação”9.
Estado, sociedade, comunidade e família – assegurar com Para Reale10, a evolução histórica demonstra o domínio
absoluta prioridade direitos fundamentais às crianças e de um valor sobre o outro, ou seja, a existência de uma
adolescentes. Por isso, estabelece-se com primazia a ado- ordem gradativa entre os valores; mas existem os valores
ção de políticas públicas, a destinação de recursos e a pres- fundamentais e os secundários, sendo que o valor fonte
tação de serviços essenciais àqueles que se encontram na é o da pessoa humana. Nesse sentido, são os dizeres de
faixa etária inferior a 18 anos. Reale11: “partimos dessa ideia, a nosso ver básica, de que a
b) Princípio da proteção integral: previsto no artigo pessoa humana é o valor-fonte de todos os valores. O ho-
1º, ECA estabelece que a proteção da criança e do adoles- mem, como ser natural biopsíquico, é apenas um indivíduo
cente não pode se restringir às situações de irregularidade, entre outros indivíduos, um ente animal entre os demais
o que teria um caráter estigmatizante, mas deve abranger da mesma espécie. O homem, considerado na sua objeti-
todas as situações de vida pelas quais passa a criança e o vidade espiritual, enquanto ser que só realiza no sentido
adolescente, mesmo as regulares. Neste sentido, ao se as- de seu dever ser, é o que chamamos de pessoa. Só o ho-
segurar direitos na regularidade, evita-se que a criança e o mem possui a dignidade originária de ser enquanto deve
adolescente caiam em irregularidade. ser, pondo-se essencialmente como razão determinante
c) Princípio da dignidade da pessoa humana: A dig- do processo histórico”.
nidade da pessoa humana é o valor-base de interpretação Quando a Constituição Federal assegura a dignidade
de qualquer sistema jurídico, internacional ou nacional, da pessoa humana como um dos fundamentos da Repúbli-
que possa se considerar compatível com os valores éticos, ca, faz emergir uma nova concepção de proteção de cada
notadamente da moral, da justiça e da democracia. Pensar membro do seu povo. Tal ideologia de forte fulcro huma-
em dignidade da pessoa humana significa, acima de tudo, nista guia a afirmação de todos os direitos fundamentais
colocar a pessoa humana como centro e norte para qual- e confere a eles posição hierárquica superior às normas
quer processo de interpretação jurídico, seja na elaboração organizacionais do Estado, de modo que é o Estado que
da norma, seja na sua aplicação. está para o povo, devendo garantir a dignidade de seus
Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou membros, e não o inverso.
plena, é possível conceituar dignidade da pessoa humana d) Princípio da participação popular: previsto no ar-
como o principal valor do ordenamento ético e, por con- tigo 227, §§ 3º e 7º e no artigo 204, II, CF, assegura a par-
sequência, jurídico que pretende colocar a pessoa humana ticipação popular, através de organizações representativas,
como um sujeito pleno de direitos e obrigações na or- na elaboração de políticas públicas direcionadas à infância
dem internacional e nacional, cujo desrespeito acarreta a e à juventude.
própria exclusão de sua personalidade. e) Princípio da excepcionalidade: previsto no artigo
Aponta Barroso8: “o princípio da dignidade da pessoa 227, §3º, V, CF assegura que quando da imposição de me-
humana identifica um espaço de integridade moral a ser dida privativa de liberdade esta não será imposta a não
assegurado a todas as pessoas por sua só existência no ser que se trate de um caso excepcional, em que nenhuma
mundo. É um respeito à criação, independente da crença outra medida sócio-educativa possa ser utilizada.
que se professe quanto à sua origem. A dignidade rela- f) Princípio da brevidade: previsto no artigo 227, §3º,
ciona-se tanto com a liberdade e valores do espírito como V, CF assegura que quando da aplicação de medida privati-
com as condições materiais de subsistência”. va de liberdade esta não se estenderá no tempo, devendo
O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, do ser a mais breve possível, perdurando apenas pelo prazo
Tribunal Superior do Trabalho, trouxe interessante conceito necessário para a ressocialização do adolescente. No caso,
numa das decisões que relatou: “a dignidade consiste na o ECA limita a aplicação de medidas desta natureza ao pra-
percepção intrínseca de cada ser humano a respeito dos zo máximo de 3 anos.
direitos e obrigações, de modo a assegurar, sob o foco de g) Princípio da condição peculiar da pessoa em de-
condições existenciais mínimas, a participação saudável e senvolvimento: a criança e o adolescente estão em pro-
ativa nos destinos escolhidos, sem que isso importe des- cesso de formação e de transformação física e psíquica,
tilação dos valores soberanos da democracia e das liber- logo, possuem uma condição peculiar que deve ser respei-
dades individuais. O processo de valorização do indivíduo tada quando da aplicação da lei.
articula a promoção de escolhas, posturas e sonhos, sem
olvidar que o espectro de abrangência das liberdades in- 9 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso
dividuais encontra limitação em outros direitos fundamen- de Revista n. 259300-59.2007.5.02.0202. Relator: Alber-
tais, tais como a honra, a vida privada, a intimidade, a ima- to Luiz Bresciani de Fontan Pereira. Brasília, 05 de setem-
gem. Sobreleva registrar que essas garantias, associadas ao bro de 2012j1. Disponível em: www.tst.gov.br. Acesso em:
17 nov. 2012.
8 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e 10 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed.
aplicação da Constituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva, São Paulo: Saraiva, 2002, p. 228.
2009, p. 382. 11 Ibid., p. 220.

77
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Autonomia da criança e do adolescente 4. No caso específico da inteligência, o desenvolvimen-


to é extremamente influenciável por fatores extrínsecos ao
Coloca-se o trecho do trabalho de Cláudio Leone12 em indivíduo: as experiências, os estímulos, o ambiente, a edu-
que reflete sobre a construção da autonomia do infante: cação, a cultura, etc., o que também acaba por reforçar sua
“Conceitualmente, a análise do respeito à autonomia de evolução extremamente individualizada.
uma criança ou de um adolescente só tem sentido se for con- Segundo Piaget, a capacidade de operar o pensamen-
duzida a partir do conhecimento da evolução de suas compe- to concreto estendendo-o à compreensão do outro e às
tências nas diferentes idades. É de conhecimento de todos que possíveis consequências de boa parte dos seus atos se
a criança nasce totalmente dependente de cuidados alheios e aperfeiçoa na idade escolar, entre os 6 e os 11 anos de
que passa por um processo de desenvolvimento progressivo vida. Este amadurecimento se completa na adolescência,
que a leva a alcançar a completa independência na maturi- com a capacidade crescente de abstração que a criança
dade, o que, nas sociedades modernas, se situa por volta dos desenvolve nesta fase da existência. Como consequência,
vinte anos de idade. é possível admitir que é na segunda fase da adolescência,
Entretanto, para que este processo de análise de sua auto- em geral a partir dos 15 anos, que o indivíduo atingiria as
nomia transcorra de maneira isenta, fundamentalmente cen- competências necessárias para o exercício de sua autono-
trado nas peculiaridades do desenvolvimento do ser humano,
mia, competências estas que necessitariam apenas serem
o primeiro ponto a ser considerado é a necessidade de abdicar
lapidadas ao longo das vivências e de uma maior expe-
de alguns conceitos preestabelecidos, como é o caso da atitu-
riência de vida.
de paternalista. [...]
O segundo ponto a considerar neste percurso, em geral Entretanto, isto não significa que a autonomia da
decorrente do primeiro, é a própria legislação que, mesmo criança e do adolescente só possa (ou deva) ser respeitada
tendo o melhor dos intuitos, praticamente nivela todos os me- a partir desta fase.
nores a uma mesma condição: a de incapacidade, criando a Compete ao pediatra e aos demais profissionais de
necessidade de se ter figuras aptas a decidir e responder por saúde, utilizando suas competências profissionais, definir
eles, como se estas figuras fossem sempre e inevitavelmente já desde os primeiros anos de vida em que etapa a criança
imbuídas das melhores intenções em relação à criança e ao se encontra ao longo do seu processo evolutivo, tentando
adolescente. diferenciar se se está diante de uma tomada de decisão
No entender de Kopelman, para que toda esta legislação ditada apenas pelo receio do desconhecido, por um capri-
fosse realmente válida seria necessário definir melhor, de ma- cho ou vontade decorrente apenas de sua visão egocên-
neira bem precisa, o que se entende por um padrão mínimo trica, natural em determinadas idades, ou se a mesma já é
de benefício ou o que é ‘o melhor’ para os interesses da crian- o resultado de uma reflexão mais amadurecida. São estes
ça ou do adolescente, de modo que a definição não fique em extremos que dão a entender a ampla gama de estágios
aberto para a interpretação de quem detém o poder de deci- de desenvolvimento, portanto de autonomia, que entre
dir em nome deles. Além disso, estas definições deveriam estar eles podem se apresentar. [...]
em constante revisão, para que não acabem sendo ultrapassa- Novamente, cabe enfatizar que o risco que se corre ao
das, frente à evolução histórico-social dos fatos que geraram a se utilizar definições bastante precisas como estas é o de
necessidade de sua criação. acabar classificando um indivíduo de maneira dicotômica,
Superados estes dois pontos, que apesar de potencial- no caso específico da autonomia, como sendo capaz ou
mente limitantes do processo de discussão da autonomia da incapaz, desistindo assim de uma possível análise de sua
criança e do adolescente não podem ser simplesmente igno- real capacidade.
rados, como se não existissem, chega-se ao terceiro e mais Consequentemente, a ausência de uma ou de mais
importante: a interpretação do conceito de autonomia à luz das características anteriormente citadas não deve ser uti-
do momento de desenvolvimento em que uma determinada lizada para qualificar a criança ou o adolescente como in-
criança ou adolescente se encontra.
capaz. Deve, isto sim, servir de embasamento para que se
Nesse sentido, diversas características do desenvolvimen-
possa tentar entender como suas decisões se originaram.
to devem ser levadas em consideração:
Em face de situações específicas, individualizadas,
1. Trata-se de um processo que evolui continuamente à
medida que habilidades se aperfeiçoam, novas capacidades como ocorre no dia-a-dia da prática pediátrica, esta é a
são adquiridas, novas vivências são acumuladas e integradas e, única forma que o profissional tem de realmente respeitar
portanto, passível de rápidas e extremas mudanças no tempo; a autonomia da criança ou do adolescente.
2. A aquisição das competências é progressiva, não se dá A interpretação adequada da legislação e o dimen-
saltos, como se se tratasse de compartimentos estanques, e sionamento correto da decisão dos pais ou responsáveis
segue sempre uma ordem preestabelecida, sendo, portanto, dependerão fundamentalmente deste tipo de análise da
razoavelmente previsível; autonomia da criança ou adolescente. Deste modo, mes-
3. Os tempos e o ritmo em que o desenvolvimento se pro- mo que resulte em situações de conflito entre as posições,
cessa são muito individualizados, fazendo com que dois indi- servirá de embasamento para um trabalho, muitas vezes
víduos de uma mesma idade possam estar em momentos exaustivo, de apresentação, de reflexão e de discussão
diferentes de desenvolvimento; de argumentos e fatos, capaz de conduzir a uma decisão
amadurecida e o mais isenta possível, que, respeitando a
12 LEONE, Cláudio. A criança, o adolescente e a au- posição da criança ou do adolescente, poderá efetivamen-
tonomia. Revista Bioética, v. 6, n. 1. te redundar em seu benefício.

78
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

No leque das diferentes situações da prática pediá- Basicamente, tinha-se na doutrina da situação irregu-
trica, que se estende desde o recém-nascido no limite de lar que era necessário disciplinar um estatuto jurídico da
viabilidade ao qual se quer prestar cuidados intensivos de criança e do adolescente que apenas abordasse situações
validade questionável naquelas circunstâncias, passando em que ele estivesse irregular, seja por uma desproteção,
pelas pesquisas científicas que envolvem crianças e ado- como no caso de abandono, ou pela violação da lei, como
lescentes, até a criança cujo pátrio poder pertence a pais nos casos de atos infracionais.
adolescentes, portanto autônomos nas decisões que lhes Entretanto, o direito evoluiu e passou a contemplar uma
dizem respeito, todas estas situações, onde nem sempre o noção de proteção mais ampla da criança e do adolescente,
real interesse que está em jogo é o da criança, mas sim o que não apenas abordasse situações de irregularidade (em-
dos responsáveis por ela, clarificam que não há uma única bora ainda o fizesse), mas que abrangesse todo o arcabouço
resposta ou solução mágica, perfeita, para a questão da jurídico protetivo da criança e do adolescente.
autonomia da criança e do adolescente.
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a
Na realidade, o que deve existir é a construção conjun-
pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente
ta de uma verdade para aquele momento, amadurecida no aquela entre doze e dezoito anos de idade.
crescimento e evolução de todos: juízes e legisladores, pais Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se ex-
ou responsáveis, médicos e profissionais de saúde e, prin- cepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte
cipalmente, a criança ou o adolescente, como parte de um e um anos de idade.
processo de interação franco, sincero, isento e realmente O Estatuto da Criança e do Adolescente opta por cate-
participativo que de fato respeite a autonomia, qualquer gorizar separadamente estas duas categorias de menores.
que seja o nível de competência que a criança ou o adoles- Criança é aquele que tem até 12 anos de idade (na data de
cente estejam apresentando para tal”. aniversário de 12 anos, passa a ser adolescente), adolescente
é aquele que tem entre 12 e 18 anos (na data de aniversário
Imputabilidade penal de 18 anos, passa a ser maior). Em situações excepcionais o
ECA se aplica ao maior de 18 anos, até os 21 anos de idade,
Art. 228, CF. São penalmente inimputáveis os meno- por exemplo, no caso do menor infrator sujeito a internação
em fundação CASA que tenha 17 anos e 11 meses na data
res de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação es-
do ato infracional poderá ficar detido até o limite de seus
pecial. 20 anos e 11 meses (eis que 3 anos é o tempo máximo de
internação).
O artigo 228, CF dispõe: “são penalmente inimputáveis
os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legis- Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direi-
lação especial”. Percebe-se que a normativa não está no tos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuí-
rol de cláusulas pétreas, razão pela qual seria possível uma zo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-
emenda constitucional que alterasse a menoridade penal. -lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
Inclusive, há projetos de lei neste sentido. facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberda-
Comentários à lei de e de dignidade.
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei apli-
Parte geral cam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discrimina-
ção de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia
ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de de-
Título I senvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambien-
Das Disposições Preliminares te social, região e local de moradia ou outra condição que dife-
rencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem.
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à O artigo 3º volta-se à concretização dos direitos da
criança e ao adolescente. criança e do adolescente. Concretização significa viabilização
O princípio da proteção integral se associa ao princípio prática, consecução real dos fins que a lei descreve. Como
da prioridade absoluta, colacionado no artigo 4º do ECA se percebe pela leitura até o momento, o legislador brasilei-
e no artigo 227, CF. “Com a positivação desse princípio ro preocupou-se em elaborar uma legislação cujo objetivo é
tem-se também a positivação da proteção integral, que se concretizar estes direitos da criança e do adolescente. Entre-
opõe à antiga e superada doutrina da situação irregular, tanto, a lei é apenas uma carta de intenções. É necessário co-
que era prevista no antigo Código de Menores e espe- locar seu conteúdo em prática, porque sozinha ela nada faz.
cificava que sua incidência se restringia aos menores em A implementação na prática dos direitos da criança e do
adolescente depende da adoção de posturas por parte de
situação irregular, apresentando um conjunto de normas
todos aqueles colocados como responsáveis para tanto: Es-
destinadas ao tratamento e prevenção dessas situações”13.
tado, sociedade, comunidade e família. Especificamente no
13 DEZEM, Guilherme Madeira; AGUIRRE, João Ri- que se refere ao Estado, mostra-se essencial que ele desen-
cardo Brandão; FULLER, Paulo Henrique Aranda. Estatu- volve políticas públicas adequadas em respeito à peculiar
to da Criança e do Adolescente. São Paulo: Revista dos condição do infante.
Tribunais, 2009. (Coleção Elementos do Direito)

79
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

“O Direito da Criança e do Adolescente deve ter con- O artigo 4º do ECA colaciona em seu caput teor idênti-
dições suficientemente próprias de promoção e concreti- co ao do caput do artigo 227, CF, onde se encontra uma das
zação de direitos. Para isso deve-se desvencilhar do dog- principais diretrizes do direito da criança e do adolescente
matismo e do mero positivismo jurídico acrítico. O Direito que é o princípio da prioridade absoluta. Significa que cada
da Criança e do Adolescente enquanto ramo autônomo criança e adolescente deve receber tratamento especial do
do direito é responsável por ressignificar a atuação estatal, Estado e ser priorizado em suas políticas públicas, pois são
principalmente no campo das políticas públicas e impõe o futuro do país e as bases de construção da sociedade.
corresponsabilidades compartilhadas”14. Explica Liberati15: “Por absoluta prioridade, devemos
Vale ressaltar que às crianças e aos adolescentes são entender que a criança e o adolescente deverão estar em
garantidos os mesmos direitos fundamentais que aos primeiro lugar na escala de preocupação dos governantes;
adultos, entretanto, o ECA aprofunda alguns direitos fun- devemos entender que, primeiro, devem ser atendidas to-
damentais em espécie, abordando-os na vertente da con- das as necessidades das crianças e adolescentes [...]. Por
dição especial dos que pertencem a este grupo. absoluta prioridade, entende-se que, na área administra-
As crianças e adolescentes gozam de igualdade de di- tiva, enquanto não existirem creches, escolas, postos de
reitos em relação às demais pessoas, podendo usufruir de saúde, atendimento preventivo e emergencial às gestantes
todos eles. O próprio estatuto contempla em seu título II dignas moradias e trabalho, não se deveria asfaltar ruas,
os direitos fundamentais da criança e do adolescente, entre construir praças, sambódromos monumentos artísticos
eles incluindo-se: vida, saúde, liberdade, respeito, dignida- etc., porque a vida, a saúde, o lar, a prevenção de doenças
de, convivência familiar e comunitária, educação, cultura, são importantes que as obras de concreto que ficam par a
esporte, lazer, profissionalização e proteção no trabalho. demonstrar o poder do governante”.
Não se trata de rol taxativo de direitos fundamentais ga- O parágrafo único do artigo 4º especifica a abrangência
rantidos à criança e ao adolescente, eis que ele possui to- da absoluta prioridade, esclarecendo que é necessário con-
dos os direitos humanos e fundamentais que as demais ferir atendimento prioritário às crianças e aos adolescentes
pessoas. O título II do ECA tem por objetivo aprofundar diante de situações de perigo e risco (como no salvamento
especificidades acerca de algumas das categorias de direi- em incêndios e enchentes, etc.), bem como nos serviços
públicos em geral (chegada aos hospitais, por exemplo).
tos fundamentais assegurados à criança e ao adolescente.
Além disso, devem ser priorizadas políticas públicas que
Deste artigo 3º do ECA é possível, ainda, extrair o des-
favoreçam a criança e o adolescente e também devem ser
taque ao princípio da igualdade, no sentido de que há ple-
reservados recursos próprios prioritariamente a eles.
na igualdade na garantia de direitos entre todas as crian-
ças e adolescentes, não sendo permitido qualquer tipo de
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimen-
discriminação.
to:
I - políticas sociais básicas;
A leitura dos artigos 4º e 5º, em conjunto com outros II - serviços, programas, projetos e benefícios de as-
dispositivos do ECA, por sua vez, permite detectar a pre- sistência social de garantia de proteção social e de preven-
sença de um tríplice sistema de garantias. ção e redução de violações de direitos, seus agravamentos
Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente adota ou reincidências;
uma estrutura que contempla três sistemas de garantia – III - serviços especiais de prevenção e atendimento
primário, secundário e terciário. médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tra-
a) Sistema primário – artigos 4º e 87, ECA – aborda tos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
políticas públicas de atendimento de crianças e adolescen- IV - serviço de identificação e localização de pais,
tes. responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da socie- dos direitos da criança e do adolescente.
dade em geral e do poder público assegurar, com abso- VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
luta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, abreviar o período de afastamento do convívio familiar
à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à familiar de crianças e adolescentes;
liberdade e à convivência familiar e comunitária. VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreen- forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do
de: convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial,
a) primazia de receber proteção e socorro em quais- de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades
quer circunstâncias; específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de ir-
b) precedência de atendimento nos serviços públicos mãos. 
ou de relevância pública; O artigo 87 descreve linhas de ação na política de
c) preferência na formulação e na execução das po- atendimento, que compõem a delimitação do princípio da
líticas sociais públicas; prioridade absoluta na vertente da priorização na adoção
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas de políticas públicas e na delimitação de recursos financei-
áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. ros para execução de tais políticas.
14 http://t.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto. 15 LIBERATI, Wilson Donizeti. O Estatuto da Crian-
asp?id=2236 ça e do Adolescente: Comentários. São Paulo: IBPS.

80
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

b) Sistema secundário – artigos 98 e 101, ECA – abor- e se enquadra perfeitamente no conceito abstrato da nor-
da as medidas de proteção destinadas à criança e ao ado- ma, dá-se o fenômeno da subsunção. Há casos, no entanto,
lescente em situação de risco pessoal ou social. em que tal enquadramento não ocorre, não encontrando o
Obs.: as medidas de proteção são estudadas adiante juiz nenhuma norma aplicável à hipótese sub judice. Deve,
neste material. então, proceder à integração normativa, mediante o em-
c) Sistema terciário – artigo 112, ECA – aborda as prego da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do
medidas socioeducativas, destinadas à responsabilização direito. [...] Para verificar se a norma é aplicável ao caso em
penal do adolescente infrator, isto é, àquele entre 12 e 18 julgamento (subsunção) ou se deve proceder à integração
anos que comete atos infracionais. normativa, o juiz procura descobrir o sentido da norma, in-
Obs.: as medidas socioeducativas são estudadas adian- terpretando-a. Interpretar é descobrir o sentido e o alcance
te neste material. da norma jurídica”.
O sistema tríplice deve operar de forma harmônica, A hermenêutica possui 3 categorias de métodos.
com o acionamento gradual de cada um deles. Nas situa- Quanto às fontes ou origem, a interpretação pode ser
ções em que a criança ou adolescente escape ao sistema autêntica ou legislativa, jurisprudencial ou judicial e dou-
primário de prevenção, ou seja, nos casos de ineficácia das trinária. Quanto aos meios, pode ser gramatical ou literal,
políticas públicas específicas, deve ser acionado o sistema examinando o texto normativo linguísticamente; lógica ou
secundário, operado predominantemente pelo Conselho racional, apurando o sentido e a finalidade da norma; sis-
Tutelas. Por sua vez, em casos extremos, é necessário partir temática, analisando a lei de maneira comparativa com ou-
para a adoção de medidas socioeducativas, operadas pre- tras leis pertencentes à mesma província do Direito (livro,
dominantemente pelo Ministério Público e pelo Judiciário. título, capítulo, seção, parágrafo); histórica, baseando-se
na verificação dos antecedentes do processo legislativo;
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de sociológica, adaptando o sentido ou finalidade da nor-
qualquer forma de negligência, discriminação, explora- ma às novas exigências sociais (artigo 5°, LINDB). Quanto
ção, violência, crueldade e opressão, punido na forma da aos resultados pode ser declarativa, quando o texto legal
lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos corresponde ao pensamento do legislador; extensiva ou
fundamentais. ampliativa, quando o alcance da lei é mais amplo que o in-
O artigo 5º ressalta o verdadeiro objetivo geral do ECA: dicado pelo seu texto; e restritiva, na qual se limita o cam-
proteger a criança de qualquer forma de negligência, dis-
po de aplicação da lei. Nenhum destes métodos se opera
criminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
isoladamente17.
Neste sentido, coloca-se a possibilidade de responsabiliza-
O artigo 6º do ECA, tal como o artigo 5º da LINDB, ex-
ção de todos que atentarem contra esse propósito. A res-
pressa o método de interpretação sociológico, chamando
ponsabilização poderá se dar em qualquer uma das três es-
atenção à interpretação da lei levando em conta os seus
feras, isolada ou cumulativamente: penal, respondendo por
fins sociais, as exigências do bem comum, os direitos e de-
crimes e contravenções penais todo aquele que praticá-lo
veres individuais e coletivos, e vai além: exige que se leve
contra criança e adolescente, bem como respondendo por
atos infracionais as crianças e adolescentes que atentarem em conta a condição peculiar da criança e do adolescente.
um contra o outro; civil, estabelecendo-se o dever de inde- Logo, ao se interpretar o ECA não se pode nunca perder de
nizar por danos causados a crianças e a adolescentes, que vista que o seu objeto material, a criança e o adolescente, é
se estende a toda e qualquer pessoa física ou jurídica que extremamente peculiar, dotado de especificidades as quais
o faça, inclusive o próprio Estado; e administrativa, impon- sempre se deve atentar.
do-se penas disciplinares a funcionários sujeitos a regime
jurídico administrativo em trabalhos privados ou em car- Título II
gos, empregos e funções públicos. Dos Direitos Fundamentais

Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta Capítulo I


os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem Do Direito à Vida e à Saúde
comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a
condição peculiar da criança e do adolescente como pes- Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção
soas em desenvolvimento. à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais
públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimen-
É pacífico que o processo de interpretação hoje faz to sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
parte do Direito, principalmente se considerada a constan-
te evolução da sociedade, demandando diariamente por Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos
novos modos de aplicação das normas. Como a sociedade programas e às políticas de saúde da mulher e de pla-
é dinâmica e o Direito existe para servi-la, cabe a ele ade- nejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequa-
quar-se às novas exigências sociais, aplicando-se da ma- da, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpé-
neira mais justa à vasta gama de casos concretos. Sobre a rio e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral
interpretação, explica Gonçalves16: “Quando o fato é típico no âmbito do Sistema Único de Saúde.
16 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Bra-
sileiro. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, v. 1. 17 Ibid.

81
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 1º O atendimento pré-natal será realizado por pro- Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de
fissionais da atenção primária. atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são
§ 2º Os profissionais de saúde de referência da gestan- obrigados a:
te garantirão sua vinculação, no último trimestre da ges- I - manter registro das atividades desenvolvidas, através
tação, ao estabelecimento em que será realizado o parto, de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
garantido o direito de opção da mulher. II - identificar o recém-nascido mediante o registro
§ 3º Os serviços de saúde onde o parto for realizado de sua impressão plantar e digital e da impressão digital
assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela
alta hospitalar responsável e contrarreferência na atenção autoridade administrativa competente;
primária, bem como o acesso a outros serviços e a grupos III - proceder a exames visando ao diagnóstico e tera-
de apoio à amamentação. pêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nasci-
§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar assis- do, bem como prestar orientação aos pais;
tência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e IV - fornecer declaração de nascimento onde constem
pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as necessariamente as intercorrências do parto e do desenvol-
consequências do estado puerperal. vimento do neonato;
§ 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deverá V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neo-
ser prestada também a gestantes e mães que manifestem nato a permanência junto à mãe.
interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como VI - acompanhar a prática do processo de amamen-
a gestantes e mães que se encontrem em situação de pri- tação, prestando orientações quanto à técnica adequada,
vação de liberdade. enquanto a mãe permanecer na unidade hospitalar, utili-
§ 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) zando o corpo técnico já existente.
acompanhante de sua preferência durante o período do
pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato. Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de
§ 7º A gestante deverá receber orientação sobre alei- cuidado voltadas à saúde da criança e do adolescen-
tamento materno, alimentação complementar saudável e te, por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado
o princípio da equidade no acesso a ações e serviços para
crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre
promoção, proteção e recuperação da saúde.
formas de favorecer a criação de vínculos afetivos e de es-
§ 1º A criança e o adolescente com deficiência serão
timular o desenvolvimento integral da criança.
atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas
§ 8º A gestante tem direito a acompanhamento sau-
necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e
dável durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso,
reabilitação.
estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras inter-
§ 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamen-
venções cirúrgicas por motivos médicos.
te, àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses,
§ 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa da
próteses e outras tecnologias assistivas relativas ao tra-
gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas de tamento, habilitação ou reabilitação para crianças e adoles-
pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às centes, de acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas
consultas pós-parto. necessidades específicas.
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e § 3º Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
à mulher com filho na primeira infância que se encontrem frequente de crianças na primeira infância receberão for-
sob custódia em unidade de privação de liberdade, am- mação específica e permanente para a detecção de sinais
biência que atenda às normas sanitárias e assistenciais do de risco para o desenvolvimento psíquico, bem como para
Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em o acompanhamento que se fizer necessário.
articulação com o sistema de ensino competente, visando
ao desenvolvimento integral da criança. Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde,
inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de
Art. 9º O poder público, as instituições e os emprega- cuidados intermediários, deverão proporcionar condições
dores propiciarão condições adequadas ao aleitamento para a permanência em tempo integral de um dos pais
materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a me- ou responsável, nos casos de internação de criança ou ado-
dida privativa de liberdade. lescente.
§ 1º Os profissionais das unidades primárias de saúde
desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas, Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de cas-
visando ao planejamento, à implementação e à avaliação tigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de
de ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigato-
materno e à alimentação complementar saudável, de for- riamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva
ma contínua. localidade, sem prejuízo de outras providências legais.
§ 2º Os serviços de unidades de terapia intensiva neo- § 1º As gestantes ou mães que manifestem interesse
natal deverão dispor de banco de leite humano ou unidade em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamen-
de coleta de leite humano. te encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infân-
cia e da Juventude.

82
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas de O artigo 16 aborda diversas facetas do direito de liber-
entrada, os serviços de assistência social em seu compo- dade: locomoção, opinião e expressão, religiosa e política.
nente especializado, o Centro de Referência Especializado Cria, ainda, duas facetes específicas deste direito: liberdade
de Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Siste- para brincar e divertir-se e liberdade para buscar refúgio,
ma de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente auxílio e orientação, processos estes essenciais para o de-
deverão conferir máxima prioridade ao atendimento das senvolvimento do infante.
crianças na faixa etária da primeira infância com suspeita
ou confirmação de violência de qualquer natureza, formu- Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilida-
lando projeto terapêutico singular que inclua intervenção de da integridade física, psíquica e moral da criança e
em rede e, se necessário, acompanhamento domiciliar. do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá progra- espaços e objetos pessoais.
mas de assistência médica e odontológica para a pre-
venção das enfermidades que ordinariamente afetam a po- Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da
pulação infantil, e campanhas de educação sanitária para criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer
pais, educadores e alunos. tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexató-
§ 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos rio ou constrangedor.
recomendados pelas autoridades sanitárias. Os direitos ao respeito e à dignidade abrangem a pro-
§ 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à teção da criança e do adolescente em todas facetas de sua
saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma trans- integridade: física, psíquica e moral.
versal, integral e intersetorial com as demais linhas de cui-
dado direcionadas à mulher e à criança. Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de
§ 3º A atenção odontológica à criança terá função ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou
educativa protetiva e será prestada, inicialmente, antes de de tratamento cruel ou degradante, como formas de cor-
o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e, reção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto,
posteriormente, no sexto e no décimo segundo anos de vida, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos res-
com orientações sobre saúde bucal. ponsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas so-
§ 4º A criança com necessidade de cuidados odontoló- cioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar
gicos especiais será atendida pelo Sistema Único de Saúde. deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
Parágrafo único.  Para os fins desta Lei, considera-se:
§ 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou pu-
seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou ou-
nitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança
tro instrumento construído com a finalidade de facilitar a
ou o adolescente que resulte em: 
detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento da
a) sofrimento físico; ou
criança, de risco para o seu desenvolvimento psíquico.
b) lesão;
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou for-
Capítulo II
ma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adoles-
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade cente que:
a) humilhe; ou
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liber- b) ameace gravemente; ou
dade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas c) ridicularize.
em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos
civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os
leis. responsáveis, os agentes públicos executores de medidas so-
Entre os direitos fundamentais garantidos à criança e cioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar
ao adolescente que são especificados e aprofundados no de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou pro-
ECA estão os direitos à liberdade, ao respeito e à dignida- tegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou
de. degradante como formas de correção, disciplina, educação
ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão
aspectos: aplicadas de acordo com a gravidade do caso:
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços I - encaminhamento a programa oficial ou comunitá-
comunitários, ressalvadas as restrições legais; rio de proteção à família;
II - opinião e expressão; II - encaminhamento a tratamento psicológico ou
III - crença e culto religioso; psiquiátrico;
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; III - encaminhamento a cursos ou programas de
V - participar da vida familiar e comunitária, sem orientação;
discriminação; IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento
VI - participar da vida política, na forma da lei; especializado;
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. V - advertência.

83
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Parágrafo único.  As medidas previstas neste artigo se- § 2o A permanência da criança e do adolescente em pro-
rão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras grama de acolhimento institucional não se prolongará por
providências legais.  mais de 18 (dezoito meses), salvo comprovada necessida-
de que atenda ao seu superior interesse, devidamente funda-
Os artigos 18-A e 18-B foram incluídos no ECA pela Lei mentada pela autoridade judiciária.
nº 13.010, de 26 de junho de 2014, que estabelece o direito § 3º A manutenção ou a reintegração de criança ou
da criança e do adolescente de serem educados e cuidados adolescente à sua família terá preferência em relação a
sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou de- qualquer outra providência, caso em que será esta incluí-
gradante. Também ficou conhecida como “Lei do Menino da em serviços e programas de proteção, apoio e promoção,
Bernardo”18 e “Lei da Palmada”. nos termos do § 1o do art. 23, dos incisos I e IV do caput do
Em que pesem as aparentes boas intenções da lei no
art. 101 e dos incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei. 
sentido de evitar situações extremas como a do menino
§ 4º Será garantida a convivência da criança e do
Bernardo, assassinado após incontáveis ameaças e agres-
adolescente com a mãe ou o pai privado de liberdade,
sões físicas por parte de seus responsáveis, seu conteúdo
é bastante criticado. Afinal, é claro que a lei coloca todo e por meio de visitas periódicas promovidas pelo responsável
qualquer tipo de agressão física no mesmo patamar. Con- ou, nas hipóteses de acolhimento institucional, pela entidade
siderado o teor da lei, mesmo uma palmada numa criança responsável, independentemente de autorização judicial.
é proibida. § 5o Será garantida a convivência integral da crian-
Os críticos da “Lei da Palmada” apontam que ela adota ça com a mãe adolescente que estiver em acolhimento
uma posição extrema e impõe uma indevida intervenção institucional.
do Estado nos ambientes familiares, retirando o poder dis- § 6o A mãe adolescente será assistida por equipe espe-
ciplinar garantido aos pais na educação de seus filhos. cializada multidisciplinar.
Os defensores da “Lei da Palmada” utilizam estudos de Como se depreende do artigo 19, a família natural é
psicólogos e educadores para argumentar que não é ne- a regra e a família substituta é a exceção. A criança e o
cessário utilizar qualquer tipo de agressão física, mesmo a adolescente podem ser inseridos em programa de acolhi-
mais leve, para educar uma criança. mento familiar ou institucional, pelo limite temporal de 18
meses, cujo caráter é o de permitir a sua retirada de poten-
Capítulo III cial ou efetiva situação de risco. Durante este programa,
Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária reavaliado a cada 3 meses, se verificará se é possível a rein-
serção no ambiente da família natural (o que é preferencial)
Seção I
ou se é o caso de colocação definitiva em família substituta.
Disposições Gerais

Quando se aborda o direito à convivência familiar e Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse
comunitária no ECA confere-se destaque à distinção entre em entregar seu filho para adoção, antes ou logo após
família natural e substituta e aos procedimentos que carac- o nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância e
terizam a inserção e a retirada da criança e do adolescente da Juventude.
destes ambientes. § 1o A gestante ou mãe será ouvida pela equipe in-
terprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, que
Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser apresentará relatório à autoridade judiciária, conside-
criado e educado no seio de sua família e, excepcional- rando inclusive os eventuais efeitos do estado gestacional
mente, em família substituta, assegurada a convivência e puerperal.
familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desen- § 2o De posse do relatório, a autoridade judiciária
volvimento integral. poderá determinar o encaminhamento da gestante ou
§ 1o Toda criança ou adolescente que estiver inserido em mãe, mediante sua expressa concordância, à rede pública
programa de acolhimento familiar ou institucional terá de saúde e assistência social para atendimento especiali-
sua situação reavaliada, no máximo, a cada 3 (três) me- zado.
ses, devendo a autoridade judiciária competente, com base § 3o A busca à família extensa, conforme definida nos
em relatório elaborado por equipe interprofissional ou
termos do parágrafo único do art. 25 desta Lei, respeitará
multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela pos-
o prazo máximo de 90 (noventa) dias, prorrogável por
sibilidade de reintegração familiar ou pela colocação em
igual período.
família substituta, em quaisquer das modalidades previs-
tas no art. 28 desta Lei. § 4o Na hipótese de não haver a indicação do genitor
e de não existir outro representante da família exten-
18 O nome da lei é uma homenagem ao menino sa apto a receber a guarda, a autoridade judiciária com-
Bernardo Boldrini, morto em abril de 2014, aos 11 anos, petente deverá decretar a extinção do poder familiar e
em Três Passos (RS). Os acusados são o pai e a ma- determinar a colocação da criança sob a guarda provi-
drasta do menino, com ajuda de uma amiga e do irmão sória de quem estiver habilitado a adotá-la ou de enti-
dela. Segundo as investigações, Bernardo procurou dade que desenvolva programa de acolhimento familiar ou
ajuda para denunciar as ameaças que sofria. institucional.

84
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 5o Após o nascimento da criança, a vontade da mãe O artigo 20 destaca a igualdade entre todos os filhos,
ou de ambos os genitores, se houver pai registral ou pai sejam eles havidos dentro ou fora do casamento, sejam
indicado, deve ser manifestada na audiência a que se re- eles inseridos em família natural ou substituta.
fere o § 1o do art. 166 desta Lei, garantido o sigilo sobre a
entrega. A disciplina sobre a perda e suspensão do poder de fa-
§ 6o (VETADO). mília no ECA se encontra em dois blocos, o primeiro do ar-
§ 7o Os detentores da guarda possuem o prazo de 15 tigo 21 ao 24, que aborda questões materiais, e o segundo
(quinze) dias para propor a ação de adoção, contado do do artigo 155 a 163, que foca em questões procedimentais:
dia seguinte à data do término do estágio de convivência.
§ 8o Na hipótese de desistência pelos genitores - ma- Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualda-
nifestada em audiência ou perante a equipe interprofissional de de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que
- da entrega da criança após o nascimento, a criança será dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o
mantida com os genitores, e será determinado pela Justiça direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade
judiciária competente para a solução da divergência. 
da Infância e da Juventude o acompanhamento familiar
pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias.
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guar-
§ 9o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nas-
da e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no
cimento, respeitado o disposto no art. 48 desta Lei. interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as
§ 10. (VETADO). determinações judiciais.
O artigo 19-A trata do procedimento aplicável nos Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm
casos em que a família biológica pretenda entregar re- direitos iguais e deveres e responsabilidades comparti-
cém-nascido para adoção, assegurando-se o acompanha- lhados no cuidado e na educação da criança, devendo ser
mento por equipe multidisciplinar e também a tomada de resguardado o direito de transmissão familiar de suas cren-
providências de busca de pessoa da família extensa apta a ças e culturas, assegurados os direitos da criança estabele-
assumir o encargo. cidos nesta Lei.

Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais
acolhimento institucional ou familiar poderão participar de não constitui motivo suficiente para a perda ou a sus-
programa de apadrinhamento. pensão do poder familiar. 
§ 1o O apadrinhamento consiste em estabelecer e pro- § 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize
porcionar à criança e ao adolescente vínculos externos à a decretação da medida, a criança ou o adolescente será
instituição para fins de convivência familiar e comu- mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigato-
nitária e colaboração com o seu desenvolvimento nos riamente ser incluída em serviços e programas oficiais de
aspectos social, moral, físico, cognitivo, educacional e finan- proteção, apoio e promoção.
ceiro. §2º A condenação criminal do pai ou da mãe não im-
§ 2o (VETADO). plicará a destituição do poder familiar, exceto na hipótese
§ 3o Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou de condenação por crime doloso, sujeito à pena de reclu-
adolescente a fim de colaborar para o seu desenvolvimento. são, contra o próprio filho ou filha.
§ 4o O perfil da criança ou do adolescente a ser apa-
drinhado será definido no âmbito de cada programa de Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão
apadrinhamento, com prioridade para crianças ou ado- decretadas judicialmente, em procedimento contraditório,
nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese
lescentes com remota possibilidade de reinserção familiar
de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a
ou colocação em família adotiva.
que alude o art. 22. 
§ 5o Os programas ou serviços de apadrinhamento
apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude poderão O instituto do poder familiar surgiu no direito romano
ser executados por órgãos públicos ou por organizações e era conhecido naquela época como pátrio poder, pois
da sociedade civil. o pai exercia mais poderes sobre os filhos do que a mãe,
§ 6o Se ocorrer violação das regras de apadrinhamen- o que vinha a representar um poder absoluto por parte
to, os responsáveis pelo programa e pelos serviços de aco- do genitor, inclusive sobre a vida e a morte dos próprios
lhimento deverão imediatamente notificar a autoridade filhos19.
judiciária competente. O Código Civil de 1916 atribuiu o poder familiar ao pai,
Os programas de apadrinhamento visam permitir a que era considerado o chefe da sociedade conjugal, e a
convivência comunitária da criança e do adolescente que mãe possuía um papel secundário, conforme apontava o
estão no sistema de adoção, especialmente com relação artigo 380 do Código Civil de 1916 que dizia que “durante
àqueles que dificilmente sairão dele. o casamento compete o pátrio poder aos pais, exercendo-
-o o marido com a colaboração da mulher [...]”.
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casa-
mento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qua- 19 AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compar-
lificações, proibidas quaisquer designações discrimina- tilhada: um Avanço para a Família. 2. ed. São Paulo:
tórias relativas à filiação. Atlas, 2010.

85
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

De acordo com Santos Neto20: “[...] o exercício da auto- sempre intransferível. Logo, não sendo possível ao titular
ridade parental pela mãe era admitido apenas em caráter do poder familiar abrir mão de seu dever, a renúncia é in-
excepcional. Ao homem era dada, em condições normais, viável, existindo apenas uma exceção, qual seja, a decor-
a titularidade exclusiva do direito em pauta. Sua vontade rente da adoção.
prevalecia e contra ela não havia remédio previsto, salvo, é Existe apenas uma exceção, que é o caso do pedido de
claro, no caso de comportamento abusivo e contrário aos colocação do menor em família substituta, disponibilizan-
interesses dos menores”. do o filho para a adoção, caso em que os direitos e deveres
O Código Civil de 2002, por seu turno, seguindo a toa- decorrentes do poder familiar serão exercidos por novos
da da Constituição Federal de 1988, trouxe significativas titulares, ou seja, pelos pais adotivos.
modificações ao instituto em análise, surgindo então o A esse respeito, os direitos e deveres dos pais dispos-
chamado poder familiar, onde ambos os pais exercem de tos nos artigos 1.630 a 1.638 do Código Civil regulam, den-
forma igualitária o poder sobre os filhos menores, equili- tre os deveres e poderes decorrentes do poder familiar,
brando dessa forma a relação familiar. também os de ordem pessoal, ou seja, o cuidado existen-
O artigo 1.630 do atual Código Civil, sem definir o po- cial do menor, a educação, a correição, e os de ordem ma-
der familiar, dispõe que “os filhos estão sujeitos ao poder terial, que envolvem a administração dos bens dos filhos.
familiar enquanto menores”, ou seja, enquanto não com- Os principais atributos do poder familiar são a guarda, a
pletarem dezoito anos ou não alcançarem a maioridade criação e a educação, que se refletem nos deveres dos pais
civil por meio de uma das formas previstas no artigo 5º, para com os filhos; tanto que, não cumprindo algum des-
parágrafo único e seus incisos, do mesmo diploma legal. ses atributos, o detentor do poder poderá sofrer sanções
No mesmo sentido, o citado artigo 21, ECA. cíveis e até criminais.
O poder familiar, conhecido também como autoridade O poder familiar, conforme disposição do próprio or-
parental, é um conjunto de direitos e deveres que são atri- denamento civil, não é um instituto irrevogável e pode ser
buídos aos pais para que esses administrem de forma legal extinto, suspenso ou destituído a qualquer tempo. Basica-
a pessoa dos filhos e também de seus bens. mente, as formas de extinção se aplicam quando o exercí-
“O poder familiar pode ser definido como um conjunto cio do poder familiar não é mais necessário; ao passo que
de direitos e obrigações, quanto às pessoas e bens do filho as regras de perda e suspensão constituem casos de priva-
ção do exercício do poder familiar pelo descumprimento
menor não emancipado, exercido, em igualdade de condi-
de seus deveres.
ções, por ambos os pais, para que possam desempenhar os
Sendo assim, o Estado poderá interferir na relação fa-
encargos que a norma jurídica lhes impõe, tendo em vista o
miliar, com o objetivo de resguardar os interesses do me-
interesse e a proteção do filho”21.
nor, sendo que a lei disciplina os casos em que o titular do
poder familiar ficará privado de exercê-lo, seja de forma
Artigo 1.634, CC. Compete aos pais, quanto à pessoa dos
temporária ou até mesmo definitiva.
filhos menores:
I – dirigir-lhes a criação e educação; Artigo 1.637, CC. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua auto-
II – tê-los em sua companhia e guarda; ridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando
III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente,
casarem; ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça re-
IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento clamada pela segurança do menor e seus haveres, até sus-
autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobre- pendendo o poder familiar, quando convenha.
vivo não puder exercer o poder familiar; Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do
V – representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da poder familiar ao pai ou à mãe condenados por sentença ir-
vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que fo- recorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos
rem partes, suprindo-lhes o consentimento; de prisão.
VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os Nestes casos, a suspensão não será definitiva, é apenas
serviços próprios de sua idade e condição. uma sanção imposta pelo Poder Judiciário visando preser-
var os interesses dos filhos, assim, diante da comprovação
Em relação às suas características, o poder familiar é de que os problemas que levaram à suspensão desapare-
indisponível e decorre da paternidade natural ou legal, ceram, o poder familiar poderá retornar aos genitores.
por isso, não há a possibilidade de seu titular o transfe- Assim sendo, os pais podem ser suspensos de exercer
rir a terceiros por iniciativa própria, tampouco existindo a os direitos e deveres decorrentes do poder familiar quan-
viabilidade de ocorrer a sua prescrição pelo desuso. O po- do ficar evidenciado perante a autoridade competente o
der familiar é indelegável, sendo, em regra, irrenunciável e abuso. Como visto, existe, também, a probabilidade de se
decretar a suspensão do poder familiar, caso um dos pais
20 SANTOS NETO, José Antônio de Paula. Do seja condenado por crime cuja pena exceda a dois anos de
Pátrio Poder. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. prisão.
21 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Há, ainda, as hipóteses de perda ou destituição do po-
Brasileiro: Direito de Família. 22. ed. São Paulo: Sarai- der familiar, que é a sanção mais grave imposta aos pais
va, 2007. v. 5. que faltarem com os deveres em relação aos filhos:

86
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Artigo 1.638, CC. Perderá por ato judicial o poder fami- Parágrafo único.  Entende-se por família extensa ou
liar o pai ou a mãe que: ampliada aquela que se estende para além da unidade
I – castigar imoderadamente o filho; pais e filhos ou da unidade do casal, formada por paren-
II – deixar o filho em abandono; tes próximos com os quais a criança ou adolescente convive
III – praticar atos contrários à moral e aos bons costu- e mantém vínculos de afinidade e afetividade. 
mes; A família natural é composta por pais e filhos que for-
IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no arti- mam vínculo entre si desde o nascimento, por questão bio-
go antecedente. lógica.
O conceito de família pode ser visto de uma manei-
Nessa linha de pensamento, os artigos 24 e 22 do Es- ra mais ampla, o que se denomina família extensa ou am-
tatuto da Criança e do Adolescente, citados anteriormente, pliada. Por exemplo, avós e tios que sejam muito próximos
além de preverem a suspensão e destituição do poder fa- e participem diretamente do convívio familiar, formando
miliar, trazem também os motivos que poderão acarretá- para com a criança e o adolescente vínculos de afinidade
-las. e afetividade.
São bastante frequentes nos casos de pais que perdem
o poder familiar os atos de violência e espancamento; as- Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão
ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente,
sim como o de abandono, no qual os menores, ao se ve-
no próprio termo de nascimento, por testamento, me-
rem abandonados, começam a relacionar-se com pessoas
diante escritura ou outro documento público, qualquer
delinquentes e usuárias de drogas, que não vão colaborar
que seja a origem da filiação.
em nada com seu desenvolvimento e crescimento. Nessas Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o
situações, os detentores do poder familiar podem sofrer a nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se
perda do poder familiar. deixar descendentes.
Cabe aqui consignar que, no caso da perda do poder Como o artigo 20 estabelece a igualdade entre os filhos
familiar, se no decorrer do tempo o menor não vier a ser havidos dentro ou fora do casamento, sentido em que se
adotado por outra família e as causas que levaram a perda compreende que tanto os filhos inseridos no matrimônio
do poder desaparecerem, os genitores poderão requerer quanto os que não o estão fazem parte da família natural, o
judicialmente a reintegração do poder familiar, desde que artigo 26 tece detalhes sobre a possibilidade de reconheci-
comprovem realmente que o motivo que os levou a perder mento do vínculo de filiação, que pode se dar antes mesmo
esse poder já não existe mais. do nascimento do filho ou extrapolar a sua vida, devendo
Por seu turno, pelo que se verifica na análise da legis- ser feito em documento público.
lação, quando o legislador estabeleceu as hipóteses de ex-
tinção do poder familiar, em regra, o fez por perceber que a Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é di-
pessoa que a ele se encontrava sujeita adquiriu maturidade reito personalíssimo, indisponível e imprescritível, po-
o suficiente para guiar a sua vida, não havendo razão para dendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem
que permaneça tal vínculo. Há casos, entretanto, que a vio- qualquer restrição, observado o segredo de Justiça.
lação aos direitos inerentes ao poder familiar tornou irre- O direito à filiação é personalíssimo, indisponível e im-
versível o seu restabelecimento, como ocorre na adoção. prescritível. Mesmo que um filho passe a vida toda ou boa
parte de sua vida sem buscar o seu reconhecimento, ele
Artigo 1.635, CC. Extingue-se o poder familiar: I – pela não se perde. Logo, a ação de investigação de paternidade
morte dos pais ou do filho; II – pela emancipação, nos termos é imprescritível, pois também o é o vínculo que ela reco-
do artigo 5º, parágrafo único; III – pela maioridade; IV – pela nhece em caso de procedência.
adoção; V – por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.
Seção III
Da Família Substituta
A extinção do poder familiar é mais complexa, pois
nesta situação os pais, extintos do poder, não poderão
Subseção I
requerer a reintegração do poder familiar se houve inter-
Disposições Gerais
ferência deles para sua extinção. Na maioria dos casos, é
possível identificar facilmente a existência da extinção do Dos artigos 28 a 32 aborda-se a família substituta, nos
poder familiar, por se tratarem de hipóteses objetivas. seguintes termos:
Seção II Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á
Da Família Natural mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente
da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos
Dos artigos 25 a 27 o ECA aborda a família natural, nos desta Lei.
seguintes termos: § 1o  Sempre que possível, a criança ou o adolescen-
te será previamente ouvido por equipe interprofissional,
Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de com-
formada pelos pais ou qualquer deles e seus descenden- preensão sobre as implicações da medida, e terá sua opinião
tes. devidamente considerada. 

87
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 2o  Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, apenas um ou um terceiro exerce a guarda (o que ocorre
será necessário seu consentimento, colhido em audiência.  apenas na guarda). Trata-se de situação excepcional, eis
§ 3o  Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o que em regra a criança deve permanecer na família natural,
grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afeti- vinculada ao poder familiar atribuído a ambos os pais.
vidade, a fim de evitar ou minorar as consequências decor- Neste tipo de circunstância, deve-se buscar sempre
rentes da medida.  ouvir a criança ou o adolescente. Caso já possua 12 anos
§ 4o  Os grupos de irmãos serão colocados sob ado- completos, a oitiva é obrigatória. Trata-se de respeito à au-
ção, tutela ou guarda da mesma família substituta, res- tonomia da criança e do adolescente.
salvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra Os irmãos devem permanecer unidos em qualquer cir-
situação que justifique plenamente a excepcionalidade de cunstância, sendo a separação de irmãos medida excep-
solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o cional. Por exemplo, se um casal estiver disposto a adotar
rompimento definitivo dos vínculos fraternais.  4 filhos e existirem 4 irmãos, será dada prioridade a ele,
§ 5o  A colocação da criança ou adolescente em família passando na frente dos demais candidatos à adoção.
substituta será precedida de sua preparação gradativa e
Subseção II
acompanhamento posterior, realizados pela equipe inter-
Da Guarda
profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,
preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis
Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência
pela execução da política municipal de garantia do direito à material, moral e educacional à criança ou adolescente,
convivência familiar.  conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros,
§ 6o  Em se tratando de criança ou adolescente indí- inclusive aos pais. 
gena ou proveniente de comunidade remanescente de qui- § 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de
lombo, é ainda obrigatório:  fato, podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade procedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por
social e cultural, os seus costumes e tradições, bem como estrangeiros.
suas instituições, desde que não sejam incompatíveis com os § 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos
direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e pela Cons- casos de tutela e adoção, para atender a situações pecu-
tituição Federal;  liares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável,
II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente podendo ser deferido o direito de representação para a práti-
no seio de sua comunidade ou junto a membros da mes- ca de atos determinados.
ma etnia;  § 3º A guarda confere à criança ou adolescente a con-
III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão dição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito,
federal responsável pela política indigenista, no caso de inclusive previdenciários.
crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, pe- § 4o  Salvo expressa e fundamentada determinação em
rante a equipe interprofissional ou multidisciplinar que irá contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando
acompanhar o caso.  a medida for aplicada em preparação para adoção, o de-
ferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros
Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta não impede o exercício do direito de visitas pelos pais,
a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilida- assim como o dever de prestar alimentos, que serão objeto
de com a natureza da medida ou não ofereça ambiente de regulamentação específica, a pedido do interessado ou do
familiar adequado. Ministério Público. 

Art. 34.  O poder público estimulará, por meio de as-


Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá
sistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhi-
transferência da criança ou adolescente a terceiros ou
mento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente
a entidades governamentais ou não-governamentais,
afastado do convívio familiar. 
sem autorização judicial. § 1o  A inclusão da criança ou adolescente em pro-
gramas de acolhimento familiar terá preferência a seu
Art. 31. A colocação em família substituta estrangei- acolhimento institucional, observado, em qualquer caso, o
ra constitui medida excepcional, somente admissível na caráter temporário e excepcional da medida, nos termos
modalidade de adoção. desta Lei. 
§ 2o  Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal
Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá
prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o receber a criança ou adolescente mediante guarda, obser-
encargo, mediante termo nos autos. vado o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei. 
§ 3º A União apoiará a implementação de serviços
Existem três formas de colocação em família substituta: de acolhimento em família acolhedora como política
guarda, tutela e adoção. Neste sentido, a criança é retirada pública, os quais deverão dispor de equipe que organize o
da esfera do poder familiar de ambos os pais (o que pode acolhimento temporário de crianças e de adolescentes em
acontecer na tutela e na adoção), ou então permanece residências de famílias selecionadas, capacitadas e acompa-
vinculado ao poder familiar de ambos genitores enquanto nhadas que não estejam no cadastro de adoção.

88
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 4º Poderão ser utilizados recursos federais, esta- A guarda definitiva expressa o modelo de guarda ado-
duais, distritais e municipais para a manutenção dos ser- tado pelos pais. Porém, mesmo tratando-se de guarda de-
viços de acolhimento em família acolhedora, facultando-se o finitiva, tal modelo poderá ser alterado a qualquer tempo,
repasse de recursos para a própria família acolhedora. pois o que regula o instituto da guarda é o melhor interes-
se do menor e, não sendo isso possível, a guarda é passível
Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tem- de modificação.
po, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério a) Guarda Comum ou Guarda Originária
Público. A guarda comum ou guarda originária não é uma guar-
da judicial, existindo quando os genitores possuem vínculo
Na definição de Santos Neto22 a guarda trata-se de um matrimonial ou vivem em união estável e moram juntos
“direito consistente na posse de menor oponível a terceiros
com seus filhos, situação na qual exercem plenamente e
e que acarreta deveres de vigilância em relação a este”.
simultaneamente todos os poderes inerentes do poder fa-
No entender de Ishida23, a guarda é vinculada ao poder
miliar e, consequentemente, a guarda. Não existe a figura
familiar, “todavia, pode ocorrer a separação dos dois ins-
titutos, por exemplo, com a separação judicial do marido do guardião e nem arbitramento judicial sobre a questão.
e da mulher, onde o poder familiar continua pertencendo Ambos pais exercem juntos a guarda em plenitude.
aos dois, no entanto um só poderá ficar com a guarda da b) Guarda Unilateral ou Guarda Única
prole”. ou seja, tanto o pai como a mãe são detentores do Observando-se sempre o princípio do melhor interesse
poder familiar mesmo após a separação, mas nos tipos de do menor, a guarda excepcionalmente poderá ser atribuí-
guarda comum, apenas um terá a guarda do filho. da de forma unilateral a uma terceira pessoa quando os
Logo, a dissolução do vínculo conjugal não exclui o genitores não estiverem em condições de exercê-la, pois,
poder familiar, mas pode excluir a guarda de um dos pais, conforme determina o artigo 1.583, §1º, do Código Civil,
reservando-o apenas o direito de visitas, dependendo da “compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só
modalidade de guarda adotada. Com a dissolução da união dos genitores ou a alguém que o substitua”. Neste viés,
conjugal, hoje se estabeleceu que a prole poderá ficar com dispõe o artigo 1.584, §5º, do mesmo diploma legal: “Se o
o genitor que tiver melhor condições de assistir o filho. juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda
“Mesmo que a mãe seja considerada culpada pela se- do pai ou da mãe, deferirá a guarda à pessoa que revele
paração, pode o juiz deferir-lhe a guarda dos filhos me- compatibilidade com a natureza da medida, considerados,
nores, se estiver comprovado que o pai, por exemplo, é de preferência, o grau de parentesco e as relações de afini-
alcoólatra e não tem condições de cuidar bem deles. Não dade e afetividade”. Vale ressaltar que a guarda unilateral
se indaga, portanto, quem deu causa à separação e quem
também é possível quando nenhum dos pais tem condi-
é o cônjuge inocente, mas qual deles revela melhores con-
ções de exercê-la, por exemplo, atribuindo a guarda aos
dições para exercer a guarda dos filhos menores, cujos
interesses foram colocados em primeiro plano. A solução avós ou aos tios.
será, portanto, a mesma se ambos os pais forem culpados Usualmente, nesse contexto, podemos constatar a
pela separação e se a hipótese for de ruptura da vida em existência da guarda unilateral, que é atribuída somen-
comum ou de separação por motivo de doença mental. A te a um dos genitores, e da guarda compartilhada, que é
regra amolda-se ao princípio do melhor interesse da crian- atribuída a ambos, sendo que a previsão das duas moda-
ça, identificado como direito fundamental na Constituição lidades de guarda encontra-se no artigo 1.583, da Lei n.
Federal (art. 5º, §2º), em razão da ratificação pela Conven- 11.698/2008, que constitui que “a guarda será unilateral ou
ção Internacional sobre os Direitos da Criança – ONU/89”24. compartilhada”.
O juiz antes de decidir o mérito de uma ação de guar- A Lei alterou a redação do artigo 1.583 e passou a es-
da, separação ou divórcio, tem que determinar a guarda tabelecer nos incisos do §2º do dispositivo algumas das
provisória do menor a um dos pais, o qual não se trata de situações que deverão ser consideradas pelo magistrado
um modelo de guarda, mas de definir uma situação mo- ao atribuir a guarda a um dos genitores: afeto nas relações
mentânea em que a prole se encontra. Somente com o jul- com o genitor e com o grupo familiar; saúde e segurança;
gamento do mérito será estabelecida a guarda definitiva, e educação.
que deverá adotar um dos modelos de guarda permitida Na guarda unilateral atribuída a apenas um dos pais,
no ordenamento jurídico brasileiro. apesar de um dos genitores não ser o guardião, continuam
ambos a exercerem a guarda jurídica. A diferença é que,
22 SANTOS NETO, José Antônio de Paula. Do Pá- em virtude da guarda, o genitor guardião tem o poder de
trio Poder. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. decisão, enquanto o genitor não guardião tem o poder de
23 ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do fiscalização, podendo contestar a decisão do genitor guar-
Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. 9. ed. São Paulo: dião e até mesmo recorrer à justiça, caso entenda que a
Atlas, 2008. decisão tomada não seja a melhor para a prole, conforme
24 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Bra- prevê o artigo 1.583, §3º, do Código Civil: “a guarda unila-
sileiro: Direito de Família. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. teral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervi-
v. 6. sionar os interesses dos filhos”.

89
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

c) Guarda Alternada ou Guarda Partilhada Com esse propósito, a recente Lei nº 11.698/2008 insti-
Nesse modelo de guarda, cada um dos genitores terá tuiu expressamente no ordenamento jurídico o instituto da
a possibilidade de ter sobre sua guarda o menor ou ado- guarda compartilhada. Embora tenha sido sancionada em
lescente de forma alternada e exclusiva, ou seja, o casal 13 de junho de 2008 e publicada no Diário Oficial da União
determinará o período em que o menor ficará com o pai em 16 de junho do mesmo ano, por força da vacatio legis
ou com a mãe, existindo dessa forma sempre uma alter- instituída no artigo 2º, a lei somente entrou em vigor no
nância na guarda jurídica do menor. O período em que a país 60 (sessenta) dias após a sua publicação, ou seja, em
guarda ficará com o pai ou com a mãe na guarda alternada, 16 de agosto de 2008 (vide anexo).
poderá ser de um dia, uma semana, uma parte da semana, A nova lei trás em seu bojo o conceito de guarda com-
um mês, um ano, ou até mais, dependendo do acordo dos partilhada nos seguintes termos: “compreende-se por [...]
genitores, sendo que, ao término desse período, os papéis guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o
se invertem. Os direitos e deveres deste modelo de guarda exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não
ficarão sempre com o cônjuge que estiver com a guarda vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar
do menor, cabendo ao outro os direitos inerentes do não dos filhos comuns”.
guardião, ou seja, o de visita e o de fiscalização25. Assim, de acordo com o novo diploma legal, pode-
d) Guarda Dividida -se verificar que na guarda compartilhada os pais terão os
Na guarda dividida, são os próprios pais que contes- mesmos direitos e deveres com relação ao filho, ou seja, as
tam e procuram novos meios de garantir uma maior parti- tarefas serão divididas de forma igualitária, não sobrecar-
cipação na vida da prole, pois neste modelo o menor vive regando somente um dos genitores.
em um lar fixo e determinado e recebe periodicamente a
visita do pai ou da mãe que não tem a guarda. Subseção III
Na guarda dividida o filho tem um lar fixo e recebe Da Tutela
nele a visita de ambos os genitores em tempos diferentes,
sendo que a guarda é exercida por aquele que estiver com Art. 36.  A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a
a criança, o que é diferente da guarda unilateral, pois nela pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos. 
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a
a guarda é de um dos genitores e o infante vai, em dias
prévia decretação da perda ou suspensão do poder fa-
determinados, receber a visita do outro não guardião.
miliar e implica necessariamente o dever de guarda.
e) Guarda por Aninhamento ou Nidação
A guarda por aninhamento, conhecida também como
Art. 37.  O tutor nomeado por testamento ou qual-
guarda por nidação, ocorre quando a prole possui um lar
quer documento autêntico, conforme previsto no parágra-
fixo e os pais se revezam, mudando-se para a casa do(s)
fo único do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de
filho(s) em períodos alternados de tempo, para conviver e
2002 - Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias
atender as suas necessidades. Basicamente, os pais se reve-
após a abertura da sucessão, ingressar com pedido des-
zam na residência do filho. tinado ao controle judicial do ato, observando o procedi-
f) Guarda Compartilhada mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei. 
Considerando a evolução da família, especialmente a Parágrafo único.  Na apreciação do pedido, serão ob-
da mulher na sociedade, bem como o grande número de servados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei,
separações ocorridas nos últimos anos, o ordenamento ju- somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na dispo-
rídico busca com o instituto da guarda compartilhada evitar sição de última vontade, se restar comprovado que a medida
prejuízos ainda maiores aos filhos de casal separado, que, é vantajosa ao tutelando e que não existe outra pessoa em
além de não terem o convívio diário com um dos genitores, melhores condições de assumi-la. 
têm que vivenciar os problemas conjugais de seus pais e
ainda se tornarem, em muitos casos, vítimas da Síndrome Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no
da Alienação Parental. art. 24.
Segundo Akel26, “a guarda compartilhada surgiu da ne-
cessidade de se encontrar uma maneira que fosse capaz de A tutela é forma de colocação de criança e adolescente
fazer com que os pais, que não mais convivem, e seus filhos em família substituta. Pressupõe, ao contrário da guarda,
mantivessem os vínculos afetivos latentes, mesmo após o a prévia destituição ou suspensão do poder familiar dos
rompimento”. pais (família natural). Visa essencialmente a suprir carência
de representação legal, assumindo o tutor tal munus na
25 COSTA, Luiz Jorge Valente Pontes. Guarda
ausência dos genitores. Na hipótese de os pais serem fale-
Conjunta: em busca do maior interesse do menor. Dis- cidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder fa-
ponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/13965/ miliar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de
guarda-conjunta-em-busca-do-maior-interesse-do-me- colocação em família substituta, este poderá ser formulado
nor/2>. Acesso em: 16 out. 2010. diretamente em cartório, em petição assinada pelos pró-
26 AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compar- prios requerentes, dispensada a assistência por advogado
tilhada: um Avanço para a Família. 2. ed. São Paulo: (art. 166, ECA). Em outras circunstâncias, deve passar pelo
Atlas, 2010. crivo do Judiciário.

90
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Subseção IV Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais


Da Adoção vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legíti-
mos.
A disciplina do ECA a respeito da adoção também se
divide em dois blocos, um voltado a aspectos materiais, Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração
do artigo 39 ao 52-D, e outro voltado a aspectos procedi- e saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador ado-
mentais, notadamente no que se refere à habilitação para a tar o pupilo ou o curatelado.
adoção, do artigo 197-A a 197-D.
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais
Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á ou do representante legal do adotando.
segundo o disposto nesta Lei. § 1º O consentimento será dispensado em relação à
§ 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou
qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos tenham sido destituídos do poder familiar.
de manutenção da criança ou adolescente na família natural § 2º Em se tratando de adotando maior de doze anos
ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei.  de idade, será também necessário o seu consentimento.
§ 2o É vedada a adoção por procuração. 
§ 3o Em caso de conflito entre direitos e interesses do Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convi-
adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais biológicos, vência com a criança ou adolescente, pelo prazo máxi-
devem prevalecer os direitos e os interesses do adotando. mo de 90 (noventa) dias, observadas a idade da criança ou
adolescente e as peculiaridades do caso.
Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, de- § 1o  O estágio de convivência poderá ser dispensado
zoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guar- se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do
da ou tutela dos adotantes.
adotante durante tempo suficiente para que seja possível
avaliar a conveniência da constituição do vínculo. 
Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado,
§ 2o  A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a
com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios,
dispensa da realização do estágio de convivência.  
desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo
§ 2o-A. O prazo máximo estabelecido no caput deste
os impedimentos matrimoniais.
artigo pode ser prorrogado por até igual período, mediante
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho
do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adota- decisão fundamentada da autoridade judiciária.
do e o cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos § 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente
parentes. ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência será
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, de, no mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta e
seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descen- cinco) dias, prorrogável por até igual período, uma única vez,
dentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária.
vocação hereditária. § 3o-A. Ao final do prazo previsto no § 3o deste artigo,
deverá ser apresentado laudo fundamentado pela equipe
Art. 42.  Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) mencionada no § 4o deste artigo, que recomendará ou não o
anos, independentemente do estado civil.  deferimento da adoção à autoridade judiciária.
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do § 4o O estágio de convivência será acompanhado pela
adotando. equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da
§ 2o  Para adoção conjunta, é indispensável que os ado- Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos res-
tantes sejam casados civilmente ou mantenham união es- ponsáveis pela execução da política de garantia do direito
tável, comprovada a estabilidade da família.  à convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos acerca da conveniência do deferimento da medida.
mais velho do que o adotando. § 5o O estágio de convivência será cumprido no terri-
§ 4o  Os divorciados, os judicialmente separados e os tório nacional, preferencialmente na comarca de residência
ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contanto da criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade
que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência
que o estágio de convivência tenha sido iniciado na cons- do juízo da comarca de residência da criança.
tância do período de convivência e que seja comprovada a
existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença
não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade judicial, que será inscrita no registro civil mediante manda-
da concessão.   do do qual não se fornecerá certidão.
§ 5o  Nos casos do § 4o deste artigo, desde que de- § 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes
monstrado efetivo benefício ao adotando, será assegurada como pais, bem como o nome de seus ascendentes.
a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da § 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará
Lei no10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil.  o registro original do adotado.
§ 6o  A adoção poderá ser deferida ao adotante que, § 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser
após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua
curso do procedimento, antes de prolatada a sentença. residência.

91
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato po- § 5o  Serão criados e implementados cadastros esta-
derá constar nas certidões do registro.   duais e nacional de crianças e adolescentes em condições
§ 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do adotan- de serem adotados e de pessoas ou casais habilitados à
te e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modi- adoção. 
ficação do prenome.   § 6o  Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais
§ 6o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo residentes fora do País, que somente serão consultados na
adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o dis- inexistência de postulantes nacionais habilitados nos ca-
posto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.   dastros mencionados no § 5o deste artigo. 
§ 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em § 7o  As autoridades estaduais e federais em matéria de
julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese prevista
adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-
no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa
-lhes a troca de informações e a cooperação mútua, para
à data do óbito. 
melhoria do sistema. 
§ 8o O processo relativo à adoção assim como outros a
ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se § 8o  A autoridade judiciária providenciará, no prazo
seu armazenamento em microfilme ou por outros meios, ga- de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e
rantida a sua conservação para consulta a qualquer tempo.  adolescentes em condições de serem adotados que não
§ 9º Terão prioridade de tramitação os processos de ado- tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das
ção em que o adotando for criança ou adolescente com de- pessoas ou casais que tiveram deferida sua habilitação à
ficiência ou com doença crônica. adoção nos cadastros estadual e nacional referidos no §
§ 10. O prazo máximo para conclusão da ação de adoção 5o deste artigo, sob pena de responsabilidade. 
será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única vez § 9o  Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela
por igual período, mediante decisão fundamentada da auto- manutenção e correta alimentação dos cadastros, com
ridade judiciária. posterior comunicação à Autoridade Central Federal Bra-
sileira. 
Art. 48.  O adotado tem direito de conhecer sua origem § 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência
biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no de pretendentes habilitados residentes no País com perfil
qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após compatível e interesse manifesto pela adoção de criança
completar 18 (dezoito) anos.  ou adolescente inscrito nos cadastros existentes, será reali-
Parágrafo único.  O acesso ao processo de adoção poderá
zado o encaminhamento da criança ou adolescente à ado-
ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos,
ção internacional.
a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e
§ 11.  Enquanto não localizada pessoa ou casal interes-
psicológica. 
sado em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre
Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder que possível e recomendável, será colocado sob guarda de
familiar dos pais naturais.  família cadastrada em programa de acolhimento familiar. 
§ 12.  A alimentação do cadastro e a convocação cri-
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comar- teriosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo
ca ou foro regional, um registro de crianças e adolescentes Ministério Público. 
em condições de serem adotados e outro de pessoas inte- § 13.  Somente poderá ser deferida adoção em favor
ressadas na adoção.   de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previa-
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia mente nos termos desta Lei quando: 
consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Ministério I - se tratar de pedido de adoção unilateral; 
Público. II - for formulada por parente com o qual a criança ou
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade; 
satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das hi- III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda
póteses previstas no art. 29. legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde
§ 3o  A inscrição de postulantes à adoção será precedida que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação
de um período de preparação psicossocial e jurídica, orienta-
de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a
do pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude,
ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela
arts. 237 ou 238 desta Lei. 
execução da política municipal de garantia do direito à con-
vivência familiar.  § 14.  Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o
§ 4o  Sempre que possível e recomendável, a preparação candidato deverá comprovar, no curso do procedimento,
referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com crianças que preenche os requisitos necessários à adoção, confor-
e adolescentes em acolhimento familiar ou institucional em me previsto nesta Lei. 
condições de serem adotados, a ser realizado sob a orienta- § 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pes-
ção, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da In- soas interessadas em adotar criança ou adolescente com
fância e da Juventude, com apoio dos técnicos responsáveis deficiência, com doença crônica ou com necessidades es-
pelo programa de acolhimento e pela execução da política pecíficas de saúde, além de grupo de irmãos.
municipal de garantia do direito à convivência familiar. 

92
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade
qual o pretendente possui residência habitual em país-parte Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangei-
da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à ra com a nacional, além do preenchimento por parte dos
Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Ado- postulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos
ção Internacional, promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe
junho de 1999, e deseja adotar criança em outro país-parte esta Lei como da legislação do país de acolhida, será expe-
da Convenção. dido laudo de habilitação à adoção internacional, que terá
§ 1o A adoção internacional de criança ou adolescente validade por, no máximo, 1 (um) ano; 
brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quan- VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado
do restar comprovado: será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o
I - que a colocação em família adotiva é a solução ade- Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encontra
quada ao caso concreto; a criança ou adolescente, conforme indicação efetuada pela
II - que foram esgotadas todas as possibilidades de colo- Autoridade Central Estadual. 
cação da criança ou adolescente em família adotiva brasilei- § 1o  Se a legislação do país de acolhida assim o auto-
ra, com a comprovação, certificada nos autos, da inexistên- rizar, admite-se que os pedidos de habilitação à adoção
cia de adotantes habilitados residentes no Brasil com perfil internacional sejam intermediados por organismos creden-
compatível com a criança ou adolescente, após consulta aos ciados. 
cadastros mencionados nesta Lei; § 2o  Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira
III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este o credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros
foi consultado, por meios adequados ao seu estágio de de- encarregados de intermediar pedidos de habilitação à ado-
senvolvimento, e que se encontra preparado para a medida, ção internacional, com posterior comunicação às Autorida-
mediante parecer elaborado por equipe interprofissional, des Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de
observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.  imprensa e em sítio próprio da internet. 
§ 2o  Os brasileiros residentes no exterior terão prefe- § 3o  Somente será admissível o credenciamento de or-
rência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional ganismos que: 
de criança ou adolescente brasileiro.  I - sejam oriundos de países que ratificaram a Conven-
§ 3o  A adoção internacional pressupõe a intervenção ção de Haia e estejam devidamente credenciados pela Auto-
das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria ridade Central do país onde estiverem sediados e no país de
de adoção internacional.  acolhida do adotando para atuar em adoção internacional
no Brasil; 
Art. 52.  A adoção internacional observará o procedi- II - satisfizerem as condições de integridade moral, com-
mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguin- petência profissional, experiência e responsabilidade exigi-
tes adaptações:  das pelos países respectivos e pela Autoridade Central Fede-
I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar ral Brasileira; 
criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua for-
de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em mação e experiência para atuar na área de adoção interna-
matéria de adoção internacional no país de acolhida, assim cional; 
entendido aquele onde está situada sua residência habitual;  IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento
II - se a Autoridade Central do país de acolhida consi- jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autori-
derar que os solicitantes estão habilitados e aptos para ado- dade Central Federal Brasileira. 
tar, emitirá um relatório que contenha informações sobre a § 4o  Os organismos credenciados deverão ainda: 
identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitan- I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condi-
tes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu ções e dentro dos limites fixados pelas autoridades compe-
meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para tentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhida
assumir uma adoção internacional;  e pela Autoridade Central Federal Brasileira; 
III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualifica-
relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a das e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada
Autoridade Central Federal Brasileira;  formação ou experiência para atuar na área de adoção in-
IV - o relatório será instruído com toda a documenta- ternacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia Fe-
ção necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por deral e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasileira,
equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada da mediante publicação de portaria do órgão federal compe-
legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova de tente; 
vigência;  III - estar submetidos à supervisão das autoridades com-
V - os documentos em língua estrangeira serão devida- petentes do país onde estiverem sediados e no país de aco-
mente autenticados pela autoridade consular, observados os lhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e
tratados e convenções internacionais, e acompanhados da situação financeira; 
respectiva tradução, por tradutor público juramentado;  IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasilei-
VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigên- ra, a cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas,
cias e solicitar complementação sobre o estudo psicossocial bem como relatório de acompanhamento das adoções inter-
do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de nacionais efetuadas no período, cuja cópia será encaminha-
acolhida;  da ao Departamento de Polícia Federal; 

93
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autori- Parágrafo único.  Eventuais repasses somente poderão
dade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central ser efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adoles-
Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O cente e estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conse-
envio do relatório será mantido até a juntada de cópia au- lho de Direitos da Criança e do Adolescente. 
tenticada do registro civil, estabelecendo a cidadania do país
de acolhida para o adotado;  Art. 52-B.  A adoção por brasileiro residente no ex-
VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os terior em país ratificante da Convenção de Haia, cujo pro-
adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Brasi- cesso de adoção tenha sido processado em conformidade
leira cópia da certidão de registro de nascimento estrangeira com a legislação vigente no país de residência e atendido o
e do certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam con- disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da referida Convenção,
cedidos.  será automaticamente recepcionada com o reingresso
§ 5o  A não apresentação dos relatórios referidos no § no Brasil. 
4  deste artigo pelo organismo credenciado poderá acarre-
o
§ 1o  Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea
tar a suspensão de seu credenciamento.  “c” do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença
§ 6o  O credenciamento de organismo nacional ou es- ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.  
trangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção § 2o  O pretendente brasileiro residente no exterior em
internacional terá validade de 2 (dois) anos.  país não ratificante da Convenção de Haia, uma vez rein-
§ 7o  A renovação do credenciamento poderá ser con- gressado no Brasil, deverá requerer a homologação da sen-
cedida mediante requerimento protocolado na Autoridade tença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça. 
Central Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores
ao término do respectivo prazo de validade.  Art. 52-C.  Nas adoções internacionais, quando o
§ 8o  Antes de transitada em julgado a decisão que con- Brasil for o país de acolhida, a decisão da autoridade
cedeu a adoção internacional, não será permitida a competente do país de origem da criança ou do adolescen-
§ 9o  Transitada em julgado a decisão, a autoridade ju- te será conhecida pela Autoridade Central Estadual que
diciária determinará a expedição de alvará com autoriza- tiver processado o pedido de habilitação dos pais ado-
ção de viagem, bem como para obtenção de passaporte, tivos, que comunicará o fato à Autoridade Central Fe-
constando, obrigatoriamente, as características da criança deral e determinará as providências necessárias à expedição
ou adolescente adotado, como idade, cor, sexo, eventuais
do Certificado de Naturalização Provisório.  
sinais ou traços peculiares, assim como foto recente e a
§ 1o  A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério
aposição da impressão digital do seu polegar direito, ins-
Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela
truindo o documento com cópia autenticada da decisão e
decisão se restar demonstrado que a adoção é manifesta-
certidão de trânsito em julgado. 
mente contrária à ordem pública ou não atende ao interes-
§ 10.  A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a
se superior da criança ou do adolescente. 
qualquer momento, solicitar informações sobre a situação
§ 2o  Na hipótese de não reconhecimento da adoção,
das crianças e adolescentes adotados. 
§ 11.  A cobrança de valores por parte dos organismos prevista no § 1o deste artigo, o Ministério Público deverá
credenciados, que sejam considerados abusivos pela Auto- imediatamente requerer o que for de direito para resguar-
ridade Central Federal Brasileira e que não estejam devida- dar os interesses da criança ou do adolescente, comunican-
mente comprovados, é causa de seu descredenciamento.  do-se as providências à Autoridade Central Estadual, que
§ 12.  Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem fará a comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira
ser representados por mais de uma entidade credenciada e à Autoridade Central do país de origem. 
para atuar na cooperação em adoção internacional. 
§ 13.  A habilitação de postulante estrangeiro ou domi- Art. 52-D.  Nas adoções internacionais, quando o Brasil
ciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano, for o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no
podendo ser renovada.  país de origem porque a sua legislação a delega ao país de
§ 14.  É vedado o contato direto de representantes de acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo com decisão, a
organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com di- criança ou o adolescente ser oriundo de país que não tenha
rigentes de programas de acolhimento institucional ou fa- aderido à Convenção referida, o processo de adoção segui-
miliar, assim como com crianças e adolescentes em condi- rá as regras da adoção nacional. 
ções de serem adotados, sem a devida autorização judicial. 
§ 15.  A Autoridade Central Federal Brasileira poderá A adoção no Código Civil de 1916 era tratada em seu
limitar ou suspender a concessão de novos credenciamen- capítulo V. A adoção seguia um critério de ter um filho
tos sempre que julgar necessário, mediante ato administra- para que a família tivesse sucessão e para configurar a fa-
tivo fundamentado.  mília da época que só tinha uma configuração costumeira
se houvesse pai, mãe e filhos. A idade de 30 (trinta) anos
Art. 52-A.  É vedado, sob pena de responsabilidade e para que as pessoas pudessem não se arrepender do feito.
descredenciamento, o repasse de recursos provenientes de Quando se falava do casamento criava-se o critério de que
organismos estrangeiros encarregados de intermediar pe- tenha se passado 05 (cinco) anos de matrimônio para que
didos de adoção internacional a organismos nacionais o casal possa adotar, pois o ideal era que os filhos fossem
ou a pessoas físicas.  consanguíneos. A adoção poderia se dissolver por vontade

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

das partes. Caso houvessem filhos naturais reconhecidos - Proteção integral e prioritária: Toda e qualquer norma
ou legitimados os filhos adotivos não participavam da su- contida dentro da lei 8.069/90 deve ser voltada a proteção
cessão além de não se desfazer o vínculo com os parentes integral dos interesses do menor;
naturais, somente no que dizia respeito ao pátrio poder. - Responsabilidade primária e solidaria do poder público:
Houve um grande salto no que concerne a adoção que tanto nos casos ressalvados pelo E.C.A (Estatuto da Criança e
foi a letra trazida pela Constituição Federal de 1988 em seu do Adolescente) quanto nos casos que a CF/88 (Constituição
artigo 227 e com o ECA, que versa sobre todas as garantias Federal de 1988) e demais objetos legais específicos, é, dever
constitucionais e no que tange a adoção vem dos artigos dos três poderes atuarem no que for necessário para a pro-
39 ao 52-D falando sobre a regularização da adoção e traz teção do menor;
como princípio basilar o melhor interesse da criança, além - Interesse superior da criança e do adolescente: median-
de ter como fundamento o afeto de pai para filho sem que te a necessidade da intervenção estatal é necessário que se
haja qualquer diferenciação para com os filhos biológicos. dê privilégio ao interesse do que for melhor para a criança e/
Ainda no que concerne a adoção, foi criada para dar ou adolescente. O primeiro interesse a ser observado é o que
efetividade ao ECA a Lei nº 12.010 de 03 de agosto de 2009, trouxer melhor benefício a estes;
que tem o intuito de alterar o direito à convivência familiar - Privacidade: A promoção dos direitos deve ser sempre
mostrando com clareza como deve ocorrer a adoção. feita respeitando a privação e o direito da imagem, a sua vida
Para ser candidato a adoção deve ter cumprido uma privada e a intimidade;
série de requisitos para se tornar hábil, estes requisitos são - Intervenção precoce: Ao primeiro sinal de perigo e ris-
elencados na lei. O primeiro deles é a qualificação comple- co ao menor, o Estado deve intervir para reverter a situação
ta: da pessoa que deseja adotar ou das pessoas que dese- presente;
jam no caso de casais juntamente com os dados familiares, - Intervenção mínima;
dados que vão completar não só a ficha do casal ou pessoa - Proporcionalidade e atualidade: Ser a atitude tomada
que deseja adotar, mais da família onde o menor vai residir de acordo com a proporção de perigo existente no momento,
e ter sua formação os documentos pessoais como cópias evitando e revertendo o risco de morte;
de certidão de nascimento (quando solteiros), de certidão - Responsabilidade parental: a intervenção deve ser a
de casamento (quando casados), cópias de declaração de princípio para que os pais tomem responsabilidade sobre
período de união estável, Cópias de Certidão de identidade seus filhos;
(RG), Comprovante da renda da pessoa ou casal, compro- - Prevalência da família: Primeiro se dará a preferência a
vante que demostre que as condições vão suprir a neces- família natural para que a criança continue com seus pais de-
sidade de se incluir mais um membro naquele lar, compro- pois a preferência vai ser da família contínua (família natural
vante de moradia em que prove a pessoa ter sua residência a primeira e extensa a segunda), em último caso a criança/
que acolherá o novo integrante. adolescente vai ser direcionada a família substituta.
O interessado em adotar deve juntar atestados de saú- - Obrigatoriedade da informação: respeitando o estágio
de física onde a pessoa vai demonstrar ser capaz de cuidar de desenvolvimento e compreensão da criança ou adolescen-
e garantir uma boa vida para o adotando e atestado de te, além de seus pais e responsáveis devem ser informados o
saúde mental, comprovando que a pessoa é capaz legal- motivo em que se dá a intervenção e como esta se processou;
mente. - Oitiva obrigatória e participação: a criança ou adoles-
Nos aspectos judiciais inerentes ao caso devem ser cente separados ou na companhia de seus pais, responsáveis
juntados Certidão de antecedentes criminais, que demos- ou pessoas por ela indicados; bem como seus pais e respon-
tra conduta legal do indivíduo perante a sociedade, Cer- sáveis, tem o direito de serem ouvidas e sua opinião deve ser
tidão negativa de distribuição civil, além da manifestação considerada pelas autoridades do judiciário.
do M.P (Ministério Público) apresentando quesitos a serem - Afastamento da criança e do adolescente do convívio
respondidos pela equipe interdisciplinar, designação de familiar: É um processo contencioso que importara aos pais
audiência para oitiva de testemunhas e requerentes, soli- o direito do contraditório e da ampla defesa, este procedi-
citar juntada de documentos complementares que sejam mento é de competência do judiciário (procedimento judicial)
necessários. Deve ser obrigatório o estudo psicossocial artigo 28 §§ 1° e 2° do E.C.A;
onde se testa a capacidade dos indivíduos para se torna- - Acolhimento familiar: medida de proteção criada para o
rem pai ou mãe, o de incluir mais um membro junto aos amparo da criança até que seja resolvida a situação;
filhos já existente. Os programas de capacitação também - Guia de acolhimento: será elaborado pelo poder Judi-
devem ser aderido a este sistema, levando esclarecimentos ciário um guia para encaminhar à criança a entidade de aco-
aos pretendentes a adoção além, de manter contato com a lhimento (guia deve conter a causa da retirada e permanência
criança em regime de acolhimento familiar. do menor fora da sua família natural além de todos os dados)
Sendo os adotantes inscritos são chamados por ordem - Plano individual de atendimento: cada criança vai ter
cronológica de acordo com a habilitação, e que só poderá um plano a ser desenvolvido visando sua adaptação a nova
ser dispensada se for pelo melhor interesse do adotando. família;
Os seguintes princípios e diretrizes devem guiar a de- - Destituição do poder familiar: Promovida pelo M.P
cisão pela adoção: (Ministério público) sendo para isto necessário prévio aviso
- Condição da criança e do adolescente como ser de a entidade de acolhimento familiar, ou, responsáveis pela
direitos: As crianças são detentoras de direitos previstos na execução da política municipal de garantia do direito a
lei 8.069/90 e na Constituição Federal de 1988; convivência familiar.

95
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

- Cadastro de crianças a adolescentes à regime institu- Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de ma-
cional e familiar: é um cadastro para crianças e adolescen- tricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
tes que necessitem de acolhimento familiar ou institucional
devido a algum registro de maus tratos. Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino
A Lei no 13.509 de 22 de novembro de 2017 surgiu com fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:
o propósito de maximizar a efetividade das disposições do I - maus-tratos envolvendo seus alunos;
ECA, inclusive no âmbito da adoção, possuindo a peculia- II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão es-
ridade de ser mais rigorosa no que tange ao cumprimento colar, esgotados os recursos escolares;
de prazos para maior celeridade do processo. III - elevados níveis de repetência.

Capítulo IV Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiên-


Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao cias e novas propostas relativas a calendário, seriação,
Lazer currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas
à inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educa- fundamental obrigatório.
ção, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, pre-
paro para o exercício da cidadania e qualificação para o tra- Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os va-
balho, assegurando-se-lhes: lores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto
I - igualdade de condições para o acesso e perma- social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a
nência na escola; liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura.
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da
recorrer às instâncias escolares superiores; União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos
IV - direito de organização e participação em entida- e espaços para programações culturais, esportivas e de
des estudantis; lazer voltadas para a infância e a juventude.
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
residência. Capítulo V
Do Direito à Profissionalização e à Proteção no
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis
Trabalho
ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da
definição das propostas educacionais.
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de
quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz. 
Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao ado-
Preconiza o artigo 7º, XXXIII, CF a “proibição de tra-
lescente:
balho noturno, perigoso ou insalubre a menores de
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclu-
dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis
sive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gra- anos”.
tuidade ao ensino médio; Portanto, em decorrência da própria norma constitu-
III - atendimento educacional especializado aos por- cional, nenhuma criança ou adolescente pode trabalhar an-
tadores de deficiência, preferencialmente na rede regular tes dos 14 anos de idade. Evidentemente que há algumas
de ensino; exceções a esta regra, devidamente fiscalizadas pelo Con-
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de selho Tutelar, como é o caso dos artistas mirins.
zero a cinco anos de idade; Entre 14 anos e 16 anos de idade somente será possí-
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da vel o trabalho na condição de menor aprendiz, cuja natu-
pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de reza é de ensino técnico-profissional, viabilizando a futura
cada um; inserção do adolescente no mercado de trabalho.
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às A partir dos 16 anos, o menor pode trabalhar, mas não
condições do adolescente trabalhador; no período noturno ou em condições de periculosidade e
VII - atendimento no ensino fundamental, através de insalubridade.
programas suplementares de material didático-escolar,
transporte, alimentação e assistência à saúde. Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é re-
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é di- gulada por legislação especial, sem prejuízo do disposto
reito público subjetivo. nesta Lei.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo
poder público ou sua oferta irregular importa responsabi- Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação téc-
lidade da autoridade competente. nico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases
§ 3º Compete ao poder público recensear os educan- da legislação de educação em vigor.
dos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar,
junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola. Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos
seguintes princípios:

96
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao en- § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade
sino regular; laboral em que as exigências pedagógicas relativas ao
II - atividade compatível com o desenvolvimento do desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem
adolescente; sobre o aspecto produtivo.
III - horário especial para o exercício das atividades. § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo tra-
Aquele que trabalha na condição de menor aprendiz balho efetuado ou a participação na venda dos produtos de
é obrigado a frequentar a escola, devendo ser facilitadas seu trabalho não desfigura o caráter educativo.
as condições para que o faça, notadamente pelo estabe- Os programas sociais voltados à capacitação dos adoles-
lecimento de horário especial de trabalho. Além disso, a centes devem sempre ter por objetivo educá-lo para que ele
atividade laboral deve ser compatível com as atividades de adquira condições de inserir-se no mercado de trabalho. Deve
ensino, até mesmo por se tratar de ensino técnico-profis- ser ensinado, logo, dele não se deve cobrar tanta produtivida-
sionalizante. de, mas sim deve ser avaliado pelo seu aprendizado. O fato
Ex.: um jovem pode trabalhar no período matutino, fre- do trabalho ser remunerado não desvirtua este propósito.
quentar o SENAI na parte da tarde e ir ao colégio no ensino
médio noturno. Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização
e à proteção no trabalho, observados os seguintes aspectos,
Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é entre outros:
assegurada bolsa de aprendizagem. I - respeito à condição peculiar de pessoa em desenvol-
Toda criança e adolescente que necessitar receberá fo- vimento;
mento para que não se desvincule das atividades de ensi- II - capacitação profissional adequada ao mercado de tra-
no. Trata-se de incentivo àquele que sem auxílio acabaria balho.
entrando em situação irregular e trabalhando. Com efeito, profissionalização e proteção no trabalho são
direitos fundamentais garantidos ao adolescente, exigindo-se
Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze neste campo que sua condição peculiar inerente ao processo
anos, são assegurados os direitos trabalhistas e previden- de aprendizado seja respeitada e que o trabalho sirva para
ciários. permitir a sua inserção no mercado de trabalho.
Uma vez que o adolescente está autorizado a trabalhar,
mesmo que na condição de menor aprendiz, possui direi- Título III
tos trabalhistas e previdenciários. Da Prevenção

Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é asse- Capítulo I


gurado trabalho protegido. Disposições Gerais
O adolescente que possui deficiência não pode ser ex-
posto a uma situação de risco em decorrência da atividade Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de amea-
laboral. ça ou violação dos direitos da criança e do adolescente.

Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regi- Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
me familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido nicípios deverão atuar de forma articulada na elaboração
em entidade governamental ou não-governamental, é ve- de políticas públicas e na execução de ações destinadas
dado trabalho: a coibir o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um degradante e difundir formas não violentas de educação
dia e as cinco horas do dia seguinte; de crianças e de adolescentes, tendo como principais ações:
II - perigoso, insalubre ou penoso; I - a promoção de campanhas educativas permanentes
III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e para a divulgação do direito da criança e do adolescente de
ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social; serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de
IV - realizado em horários e locais que não permitam a tratamento cruel ou degradante e dos instrumentos de prote-
frequência à escola. ção aos direitos humanos;
O menor aprendiz está proibido de trabalhar no perío- II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do Mi-
do noturno, em trabalho que o coloque exposto a pericu- nistério Público e da Defensoria Pública, com o Conselho Tute-
losidade (ex.: em andaimes, em áreas com risco de incêndio lar, com os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente
ou choques), insalubridade (ex.: em freezers de frigoríficos, e com as entidades não governamentais que atuam na promo-
expostos a radiação) ou penosidade (ex.: excesso de força ção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente;
física exigida). III - a formação continuada e a capacitação dos profis-
sionais de saúde, educação e assistência social e dos demais
Art. 68. O programa social que tenha por base o tra- agentes que atuam na promoção, proteção e defesa dos di-
balho educativo, sob responsabilidade de entidade governa- reitos da criança e do adolescente para o desenvolvimento
mental ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá das competências necessárias à prevenção, à identificação
assegurar ao adolescente que dele participe condições de de evidências, ao diagnóstico e ao enfrentamento de todas
capacitação para o exercício de atividade regular remu- as formas de violência contra a criança e o adolescente;
nerada.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pací- Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e es-
fica de conflitos que envolvam violência contra a criança e petáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil
o adolescente; acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada
V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem sobre a natureza do espetáculo e a faixa etária especificada
a garantir os direitos da criança e do adolescente, desde a no certificado de classificação.
atenção pré-natal, e de atividades junto aos pais e respon-
sáveis com o objetivo de promover a informação, a reflexão, Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às di-
o debate e a orientação sobre alternativas ao uso de casti- versões e espetáculos públicos classificados como ade-
go físico ou de tratamento cruel ou degradante no processo quados à sua faixa etária.
educativo; Parágrafo único. As crianças menores de dez anos so-
VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para a mente poderão ingressar e permanecer nos locais de apre-
articulação de ações e a elaboração de planos de atuação sentação ou exibição quando acompanhadas dos pais ou
conjunta focados nas famílias em situação de violência, com responsável.
participação de profissionais de saúde, de assistência social
e de educação e de órgãos de promoção, proteção e defesa Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exi-
dos direitos da criança e do adolescente. birão, no horário recomendado para o público infanto ju-
Parágrafo único.   As famílias com crianças e adoles- venil, programas com finalidades educativas, artísticas,
centes com deficiência terão prioridade de atendimento nas culturais e informativas.
ações e políticas públicas de prevenção e proteção. Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado
ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua
Art. 70-B.  As entidades, públicas e privadas, que atuem transmissão, apresentação ou exibição.
nas áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem
contar, em seus quadros, com pessoas capacitadas a re- Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcioná-
conhecer e comunicar ao Conselho Tutelar suspeitas ou rios de empresas que explorem a venda ou aluguel de fitas
de programação em vídeo cuidarão para que não haja
casos de maus-tratos praticados contra crianças e adoles-
venda ou locação em desacordo com a classificação
centes.
atribuída pelo órgão competente.
Parágrafo único.  São igualmente responsáveis pela co-
Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão
municação de que trata este artigo, as pessoas encarrega-
exibir, no invólucro, informação sobre a natureza da obra e a
das, por razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão
faixa etária a que se destinam.
ou ocupação, do cuidado, assistência ou guarda de crianças
e adolescentes, punível, na forma deste Estatuto, o injustifi-
Art. 78. As revistas e publicações contendo material
cado retardamento ou omissão, culposos ou dolosos. 
impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes de-
verão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a
Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a infor- advertência de seu conteúdo.
mação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas
produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de que contenham mensagens pornográficas ou obscenas se-
pessoa em desenvolvimento. jam protegidas com embalagem opaca.
Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao pú-
da prevenção especial outras decorrentes dos princípios blico infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fo-
por ela adotados. tografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas al-
coólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respeitar
Art. 73. A inobservância das normas de prevenção im- os valores éticos e sociais da pessoa e da família.
portará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica,
nos termos desta Lei. Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que explo-
rem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por
Capítulo II casas de jogos, assim entendidas as que realizem apostas,
Da Prevenção Especial ainda que eventualmente, cuidarão para que não seja per-
mitida a entrada e a permanência de crianças e adoles-
Seção I centes no local, afixando aviso para orientação do público.
Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões
e Espetáculos Seção II
Dos Produtos e Serviços
Art. 74. O poder público, através do órgão competente,
regulará as diversões e espetáculos públicos, informan- Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adoles-
do sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se cente de:
recomendem, locais e horários em que sua apresentação se I - armas, munições e explosivos;
mostre inadequada. II - bebidas alcoólicas;

98
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

III - produtos cujos componentes possam causar depen- Art. 87. São linhas de ação da política de atendimen-
dência física ou psíquica ainda que por utilização indevi- to:
da; I - políticas sociais básicas;
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles II - serviços, programas, projetos e benefícios de as-
que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de provocar sistência social de garantia de proteção social e de preven-
qualquer dano físico em caso de utilização indevida; ção e redução de violações de direitos, seus agravamentos
V - revistas e publicações a que alude o art. 78; ou reincidências;
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes. III - serviços especiais de prevenção e atendimento
médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tra-
Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou ado- tos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
lescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento IV - serviço de identificação e localização de pais,
congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
pais ou responsável. V - proteção jurídico-social por entidades de defesa
dos direitos da criança e do adolescente;
Seção III VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
Da Autorização para Viajar abreviar o período de afastamento do convívio familiar
e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência
Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora familiar de crianças e adolescentes;
da comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob
responsável, sem expressa autorização judicial. forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do
§ 1º A autorização não será exigida quando: convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial,
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades
criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de ir-
mesma região metropolitana; mãos.
b) a criança estiver acompanhada:
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:
grau, comprovado documentalmente o parentesco; I - municipalização do atendimento;
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo II - criação de conselhos municipais, estaduais e
pai, mãe ou responsável. nacional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais deliberativos e controladores das ações em todos os níveis,
ou responsável, conceder autorização válida por dois assegurada a participação popular paritária por meio de or-
anos. ganizações representativas, segundo leis federal, estaduais e
municipais;
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a au- III - criação e manutenção de programas específicos,
torização é dispensável, se a criança ou adolescente: observada a descentralização político-administrativa;
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou res- IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e mu-
ponsável; nicipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado criança e do adolescente;
expressamente pelo outro através de documento com V - integração operacional de órgãos do Judiciário,
firma reconhecida. Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e As-
sistência Social, preferencialmente em um mesmo local,
Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, ne- para efeito de agilização do atendimento inicial a adoles-
nhuma criança ou adolescente nascido em território na- cente a quem se atribua autoria de ato infracional;
cional poderá sair do País em companhia de estrangeiro VI - integração operacional de órgãos do Judiciário,
residente ou domiciliado no exterior. Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e en-
carregados da execução das políticas sociais básicas e de
Parte Especial assistência social, para efeito de agilização do atendimento
de crianças e de adolescentes inseridos em programas de
Título I acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua rá-
Da Política de Atendimento pida reintegração à família de origem ou, se tal solução se
mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em famí-
Capítulo I lia substituta, em quaisquer das modalidades previstas no
Disposições Gerais art. 28 desta Lei;
VII - mobilização da opinião pública para a indispen-
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança sável participação dos diversos segmentos da sociedade;
e do adolescente far-se-á através de um conjunto articu- VIII - especialização e formação continuada dos pro-
lado de ações governamentais e não-governamentais, fissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção à
da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre direitos
da criança e sobre desenvolvimento infantil;

99
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

IX - formação profissional com abrangência dos di- Art. 91. As entidades não-governamentais somente
versos direitos da criança e do adolescente que favoreça poderão funcionar depois de registradas no Conselho
a intersetorialidade no atendimento da criança e do adoles- Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o
cente e seu desenvolvimento integral; qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autori-
X - realização e divulgação de pesquisas sobre de- dade judiciária da respectiva localidade.
senvolvimento infantil e sobre prevenção da violência. § 1o  Será negado o registro à entidade que: 
a) não ofereça instalações físicas em condições adequa-
Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dos das de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança;
conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do b) não apresente plano de trabalho compatível com os
adolescente é considerada de interesse público relevante princípios desta Lei;
e não será remunerada. c) esteja irregularmente constituída;
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas.
Capítulo II e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e
Das Entidades de Atendimento deliberações relativas à modalidade de atendimento pres-
tado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do
Seção I
Adolescente, em todos os níveis.
Disposições Gerais
§ 2o  O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos,
Art. 90. As entidades de atendimento são respon- cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e
sáveis pela manutenção das próprias unidades, assim do Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de
como pelo planejamento e execução de programas de prote- sua renovação, observado o disposto no § 1o deste artigo.
ção e socioeducativos destinados a crianças e adolescentes,
em regime de:  Art. 92.  As entidades que desenvolvam programas de
I - orientação e apoio sociofamiliar; acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os se-
II - apoio socioeducativo em meio aberto; guintes princípios:
III - colocação familiar; I - preservação dos vínculos familiares e promoção
IV - acolhimento institucional; da reintegração familiar;
V - prestação de serviços à comunidade; II - integração em família substituta, quando esgo-
VI - liberdade assistida; tados os recursos de manutenção na família natural ou ex-
VII - semiliberdade; e tensa;
VIII - internação. III - atendimento personalizado e em pequenos gru-
§ 1o  As entidades governamentais e não governamen- pos;
tais deverão proceder à inscrição de seus programas, es- IV - desenvolvimento de atividades em regime de
pecificando os regimes de atendimento, na forma definida coeducação;
neste artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da Crian- V - não desmembramento de grupos de irmãos;
ça e do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições VI - evitar, sempre que possível, a transferência para
e de suas alterações, do que fará comunicação ao Conselho outras entidades de crianças e adolescentes abrigados;
Tutelar e à autoridade judiciária. VII - participação na vida da comunidade local;
§ 2o  Os recursos destinados à implementação e ma- VIII - preparação gradativa para o desligamento;
nutenção dos programas relacionados neste artigo serão IX - participação de pessoas da comunidade no pro-
previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos públicos cesso educativo.
encarregados das áreas de Educação, Saúde e Assistência § 1o  O dirigente de entidade que desenvolve progra-
Social, dentre outros, observando-se o princípio da priori-
ma de acolhimento institucional é equiparado ao guardião,
dade absoluta à criança e ao adolescente preconizado pelo
para todos os efeitos de direito. 
caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput e
§ 2o  Os dirigentes de entidades que desenvolvem pro-
parágrafo único do art. 4o desta Lei.
§ 3o  Os programas em execução serão reavaliados pelo gramas de acolhimento familiar ou institucional remeterão
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adoles- à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses,
cente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se relatório circunstanciado acerca da situação de cada crian-
critérios para renovação da autorização de funcionamento: ça ou adolescente acolhido e sua família, para fins da rea-
I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem valiação prevista no § 1o do art. 19 desta Lei. 
como às resoluções relativas à modalidade de atendimento § 3o  Os entes federados, por intermédio dos Poderes
prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a per-
do Adolescente, em todos os níveis;  manente qualificação dos profissionais que atuam direta
II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido, ou indiretamente em programas de acolhimento institucio-
atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e nal e destinados à colocação familiar de crianças e adoles-
pela Justiça da Infância e da Juventude;  centes, incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério
III - em se tratando de programas de acolhimento insti- Público e Conselho Tutelar. 
tucional ou familiar, serão considerados os índices de sucesso § 4o  Salvo determinação em contrário da autorida-
na reintegração familiar ou de adaptação à família substitu- de judiciária competente, as entidades que desenvolvem
ta, conforme o caso. programas de acolhimento familiar ou institucional, se ne-

100
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

cessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos XII - propiciar assistência religiosa àqueles que deseja-
de assistência social, estimularão o contato da criança ou rem, de acordo com suas crenças;
adolescente com seus pais e parentes, em cumprimento ao XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.  XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com inter-
§ 5o  As entidades que desenvolvem programas de aco- valo máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à
lhimento familiar ou institucional somente poderão rece- autoridade competente;
ber recursos públicos se comprovado o atendimento dos XV - informar, periodicamente, o adolescente interna-
princípios, exigências e finalidades desta Lei.  do sobre sua situação processual;
§ 6o  O descumprimento das disposições desta Lei XVI - comunicar às autoridades competentes todos os
pelo dirigente de entidade que desenvolva programas de casos de adolescentes portadores de moléstias infectocon-
acolhimento familiar ou institucional é causa de sua desti- tagiosas;
tuição, sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade XVII - fornecer comprovante de depósito dos perten-
administrativa, civil e criminal.  ces dos adolescentes;
§ 7o  Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) XVIII - manter programas destinados ao apoio e
anos em acolhimento institucional, dar-se-á especial aten- acompanhamento de egressos;
ção à atuação de educadores de referência estáveis e quali-
XIX - providenciar os documentos necessários ao
tativamente significativos, às rotinas específicas e ao atendi-
exercício da cidadania àqueles que não os tiverem;
mento das necessidades básicas, incluindo as de afeto como
XX - manter arquivo de anotações onde constem data
prioritárias. 
e circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus
Art. 93.  As entidades que mantenham programa de pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade, acom-
acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional panhamento da sua formação, relação de seus pertences e
e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia demais dados que possibilitem sua identificação e a in-
determinação da autoridade competente, fazendo comuni- dividualização do atendimento.
cação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da § 1o  Aplicam-se, no que couber, as obrigações cons-
Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade.  tantes deste artigo às entidades que mantêm programas
Parágrafo único.  Recebida a comunicação, a autoridade de acolhimento institucional e familiar. 
judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com o § 2º No cumprimento das obrigações a que alude este
apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas neces- artigo as entidades utilizarão preferencialmente os recur-
sárias para promover a imediata reintegração familiar da sos da comunidade.
criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for
isso possível ou recomendável, para seu encaminhamento a Art. 94-A.  As entidades, públicas ou privadas, que abri-
programa de acolhimento familiar, institucional ou a família guem ou recepcionem crianças e adolescentes, ainda que em
substituta, observado o disposto no § 2o do art. 101 desta Lei.  caráter temporário, devem ter, em seus quadros, profissio-
nais capacitados a reconhecer e reportar ao Conselho
Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de Tutelar suspeitas ou ocorrências de maus-tratos.
internação têm as seguintes obrigações, entre outras:
I - observar os direitos e garantias de que são titula- Seção II
res os adolescentes; Da Fiscalização das Entidades
II - não restringir nenhum direito que não tenha sido
objeto de restrição na decisão de internação; Art. 95. As entidades governamentais e não-governa-
III - oferecer atendimento personalizado, em peque- mentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo Judi-
nas unidades e grupos reduzidos; ciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tute-
IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de
lares.
respeito e dignidade ao adolescente;
V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da
Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de
preservação dos vínculos familiares;
VI - comunicar à autoridade judiciária, periodica- contas serão apresentados ao estado ou ao município,
mente, os casos em que se mostre inviável ou impossível o conforme a origem das dotações orçamentárias.
reatamento dos vínculos familiares;
VII - oferecer instalações físicas em condições ade- Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de aten-
quadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segu- dimento que descumprirem obrigação constante do art. 94,
rança e os objetos necessários à higiene pessoal; sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de
VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e seus dirigentes ou prepostos:
adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos; I - às entidades governamentais:
IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odonto- a) advertência;
lógicos e farmacêuticos; b) afastamento provisório de seus dirigentes;
X - propiciar escolarização e profissionalização; c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de d) fechamento de unidade ou interdição de progra-
lazer; ma.

101
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

II - às entidades não-governamentais: IV - interesse superior da criança e do adolescente: a in-


a) advertência; tervenção deve atender prioritariamente aos interesses e di-
b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas reitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da conside-
públicas; ração que for devida a outros interesses legítimos no âmbito
c) interdição de unidades ou suspensão de programa; da pluralidade dos interesses presentes no caso concreto;  
d) cassação do registro. V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da
§ 1o  Em caso de reiteradas infrações cometidas por en- criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela
tidades de atendimento, que coloquem em risco os direitos intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada; 
assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comunicado ao VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades
Ministério Público ou representado perante autoridade ju- competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo
diciária competente para as providências cabíveis, inclusive seja conhecida;  
suspensão das atividades ou dissolução da entidade.  VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exerci-
§ 2o  As pessoas jurídicas de direito público e as orga- da exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação
nizações não governamentais responderão pelos danos que seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à prote-
seus agentes causarem às crianças e aos adolescentes, carac- ção da criança e do adolescente; 
terizado o descumprimento dos princípios norteadores das VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção
atividades de proteção específica.  deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em
que a criança ou o adolescente se encontram no momento
Título II em que a decisão é tomada; 
Das Medidas de Proteção IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser
efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres
Capítulo I para com a criança e o adolescente; 
Disposições Gerais X - prevalência da família: na promoção de direitos e na
proteção da criança e do adolescente deve ser dada preva-
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente lência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua
são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei família natural ou extensa ou, se isso não for possível, que
forem ameaçados ou violados: promovam a sua integração em família adotiva;
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o ado-
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou respon- lescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e capa-
sável; cidade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser
III - em razão de sua conduta. informados dos seus direitos, dos motivos que determinaram
a intervenção e da forma como esta se processa; 
Capítulo II XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o ado-
Das Medidas Específicas de Proteção lescente, em separado ou na companhia dos pais, de respon-
sável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus pais
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar nos
aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como subs- atos e na definição da medida de promoção dos direitos e de
tituídas a qualquer tempo. proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela
autoridade judiciária competente, observado o disposto nos
Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. 
as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que vi-
sem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no
Parágrafo único.  São também princípios que regem a art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre
aplicação das medidas:  outras, as seguintes medidas:
I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de I - encaminhamento aos pais ou responsável, me-
direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direitos diante termo de responsabilidade;
previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constituição II - orientação, apoio e acompanhamento temporá-
Federal;   rios;
II - proteção integral e prioritária: a interpretação e apli- III - matrícula e frequência obrigatórias em estabele-
cação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser cimento oficial de ensino fundamental;
voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou co-
crianças e adolescentes são titulares;   munitários de proteção, apoio e promoção da família, da
III - responsabilidade primária e solidária do poder públi- criança e do adolescente;
co: a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças e V - requisição de tratamento médico, psicológico ou
a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
nos casos por esta expressamente ressalvados, é de respon- VI - inclusão em programa oficial ou comunitário
sabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de gover- de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxi-
no, sem prejuízo da municipalização do atendimento e da cômanos;
possibilidade da execução de programas por entidades não VII - acolhimento institucional;  
governamentais;   VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; 
IX - colocação em família substituta. 

102
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 1o O acolhimento institucional e o acolhimento fa- § 8o  Verificada a possibilidade de reintegração familiar,
miliar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis o responsável pelo programa de acolhimento familiar ou
como forma de transição para reintegração familiar ou, não institucional fará imediata comunicação à autoridade judi-
sendo esta possível, para colocação em família substituta, ciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de 5
não implicando privação de liberdade.  (cinco) dias, decidindo em igual prazo.
§ 2o  Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais § 9o  Em sendo constatada a impossibilidade de reinte-
para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e gração da criança ou do adolescente à família de origem,
das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afasta- após seu encaminhamento a programas oficiais ou comu-
mento da criança ou adolescente do convívio familiar é de nitários de orientação, apoio e promoção social, será envia-
competência exclusiva da autoridade judiciária e importará do relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual
na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem conste a descrição pormenorizada das providências toma-
tenha legítimo interesse, de procedimento judicial conten- das e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos
cioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal da entidade ou responsáveis pela execução da política mu-
o exercício do contraditório e da ampla defesa. nicipal de garantia do direito à convivência familiar, para a
§ 3o  Crianças e adolescentes somente poderão ser destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou
encaminhados às instituições que executam programas guarda. 
de acolhimento institucional, governamentais ou não, por § 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o
meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autori- prazo de 15 (quinze) dias para o ingresso com a ação de
dade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre destituição do poder familiar, salvo se entender necessária
outros:  a realização de estudos complementares ou de outras pro-
I - sua identificação e a qualificação completa de seus vidências indispensáveis ao ajuizamento da demanda.
pais ou de seu responsável, se conhecidos;  § 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca
II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, ou foro regional, um cadastro contendo informações atua-
com pontos de referência;  lizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de aco-
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados lhimento familiar e institucional sob sua responsabilidade,
em tê-los sob sua guarda;  com informações pormenorizadas sobre a situação jurídica
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao de cada um, bem como as providências tomadas para sua
convívio familiar.  reintegração familiar ou colocação em família substituta,
§ 4o  Imediatamente após o acolhimento da criança ou em qualquer das modalidades previstas no art. 28 desta
do adolescente, a entidade responsável pelo programa de Lei. 
acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano § 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o
individual de atendimento, visando à reintegração familiar, Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os
ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adoles-
em contrário de autoridade judiciária competente, caso em cente e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar
que também deverá contemplar sua colocação em família sobre a implementação de políticas públicas que permitam
substituta, observadas as regras e princípios desta Lei.  reduzir o número de crianças e adolescentes afastados do
§ 5o  O plano individual será elaborado sob a respon- convívio familiar e abreviar o período de permanência em
sabilidade da equipe técnica do respectivo programa de programa de acolhimento.
atendimento e levará em consideração a opinião da criança
ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável.  Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capí-
§ 6o  Constarão do plano individual, dentre outros:  tulo serão acompanhadas da regularização do registro ci-
I - os resultados da avaliação interdisciplinar;  vil. 
II - os compromissos assumidos pelos pais ou respon- § 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o as-
sável; e  sento de nascimento da criança ou adolescente será feito
III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com à vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da
a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou res- autoridade judiciária.
ponsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja § 2º Os registros e certidões necessários à regulariza-
esta vedada por expressa e fundamentada determinação ju- ção de que trata este artigo são isentos de multas, custas e
dicial, as providências a serem tomadas para sua colocação emolumentos, gozando de absoluta prioridade.
em família substituta, sob direta supervisão da autoridade § 3o  Caso ainda não definida a paternidade, será  defla-
judiciária.  grado procedimento específico destinado à sua averigua-
§ 7o  O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá ção, conforme previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezem-
no local mais próximo à residência dos pais ou do respon- bro de 1992. 
sável e, como parte do processo de reintegração familiar, § 4o  Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é dis-
sempre que identificada a necessidade, a família de origem pensável o ajuizamento de ação de investigação de pater-
será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio nidade pelo Ministério Público se, após o não compareci-
e de promoção social, sendo facilitado e estimulado o con- mento ou a recusa do suposto pai em assumir a paternidade
tato com a criança ou com o adolescente acolhido.  a ele atribuída, a criança for encaminhada para adoção. 

103
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 5º Os registros e certidões necessários à inclusão, a Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores
qualquer tempo, do nome do pai no assento de nascimento de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.
são isentos de multas, custas e emolumentos, gozando de Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser con-
absoluta prioridade. siderada a idade do adolescente à data do fato.
§ 6º São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação re-
querida do reconhecimento de paternidade no assento de Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança
nascimento e a certidão correspondente. corresponderão as medidas previstas no art. 101.

As normas de prevenção do ECA são destinadas a Capítulo II


crianças e adolescentes em situação de risco. Existirá situa- Dos Direitos Individuais
ção de risco quando a criança ou o adolescente estiverem
privados de assistência. Essa assistência pode ser material Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua
(quando não se tem onde dormir, o que comer, vestir etc.), liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por
moral (quando a criança ou o adolescente permanece em ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
local inadequado, como locais de prática de jogo, prostitui- competente.
ção etc.) ou jurídica (quando não tem quem o represente). Parágrafo único. O adolescente tem direito à identifi-
O menor que pratica ato infracional está em situação cação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser
de risco por estar privado de assistência moral. A situação informado acerca de seus direitos.
de risco pode decorrer de ação ou omissão do Poder Pú-
blico; ação ou omissão dos pais ou dos responsáveis; por Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local
conduta própria. onde se encontra recolhido serão incontinenti comunicados
O art. 101 do ECA traz um rol das medidas protetivas à autoridade judiciária competente e à família do apreendi-
diante da situação de risco. Essas medidas poderão ser do ou à pessoa por ele indicada.
aplicadas tanto para a criança quanto para o adolescente. Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena
São elas: de responsabilidade, a possibilidade de liberação imedia-
- encaminhamento da criança e do adolescente aos ta.
pais ou responsáveis, mediante termo ou responsabilidade;
- orientação, apoio e acompanhamentos temporários Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser de-
por pessoa nomeada pelo Juiz; terminada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
- matrícula e frequência obrigatória em estabelecimen- Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e
to oficial de ensino fundamental (o Juiz determina aos pais basear-se em indícios suficientes de autoria e materia-
a obrigação); lidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.
- inclusão em programa comunitário ou oficial de auxí-
lio à família, à criança e ao adolescente; Art. 109. O adolescente civilmente identificado não
- requisição de tratamento médico, psicológico ou psi- será submetido a identificação compulsória pelos ór-
quiátrico em regime hospitalar (internação) ou ambulato- gãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito
rial (consultas periódicas); de confrontação, havendo dúvida fundada.
- abrigo em entidade (não se fala em orfanato). A dou-
trina chama de “Tutela de Estado” quando a criança está O adolescente não é preso, é apreendido.
em abrigo sob a proteção do Estado; A internação é a medida mais gravosa para o adoles-
- colocação em família substituta (é utilizada somente cente. O ECA permite a internação provisória durante o
em situações muito graves). processo. É fixado o prazo máximo de 45 dias. Os funda-
O Juiz pode aplicar essas medidas isolada ou cumulati- mentos para que o Juiz decrete essa internação provisória
vamente. Pode, também, substituir uma medida pela outra são: indícios suficientes de autoria e materialidade e neces-
a qualquer tempo (art. 99 do ECA). Antes de aplicar qual- sidade da medida.
quer uma dessas medidas, o Juiz deverá ouvir os pais ou Esse prazo de internação provisória será descontado
responsáveis, realizar estudo social do caso e ouvir o MP. na internação definitiva. Em nenhuma hipótese a criança
Essa oitiva do MP é obrigatória, sob pena de nulidade (art. poderá ser internada. Criança, que é todo aquele menor
204 do ECA). Esse rol do art. 101 é taxativo. de 12 anos, não se sujeita a medida sócio-educativa, mas
apenas a medida de proteção.
Título III
Da Prática de Ato Infracional Capítulo III
Das Garantias Processuais
Capítulo I
Disposições Gerais Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liber-
dade sem o devido processo legal.
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta des-
crita como crime ou contravenção penal. Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras,
as seguintes garantias:

104
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato A medida de segurança não poderá ser aplicada ao
infracional, mediante citação ou meio equivalente; adolescente, tendo em vista ser medida para maior de ida-
II - igualdade na relação processual, podendo con- de que apresenta periculosidade. No caso de adolescente
frontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as doente mental, será aplicada medida de proteção, podendo
provas necessárias à sua defesa; ser requisitado tratamento médico.
III - defesa técnica por advogado; O Juiz poderá cumular medidas socioeducativas, desde
que sejam compatíveis (ex.: prestação de serviço à comu-
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos ne-
nidade cumulada com reparação de danos). Com exceção
cessitados, na forma da lei;
da internação, o Juiz poderá substituir as medidas socioe-
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade ducativas de acordo com o caso concreto, visto não haver
competente; taxatividade.
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou Se o Promotor discordar com a medida socioeducativa
responsável em qualquer fase do procedimento. aplicada, deverá entrar com recurso de apelação. Essa ape-
lação do ECA possui juízo de retratação, ou seja, o Juiz pode
Capítulo IV voltar atrás na decisão. O Tribunal competente para julgar
Das Medidas Socioeducativas essa apelação é o TJ.

Seção I Seção II
Disposições Gerais Da Advertência

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autori- Art. 115. A advertência consistirá em admoestação ver-
bal, que será reduzida a termo e assinada.
dade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes
medidas: Disposta no art. 115 do ECA, é uma medida sócio-edu-
I - advertência; cativa que consiste em uma admoestação verbal que é apli-
II - obrigação de reparar o dano; cada pelo Juiz ao adolescente e que é reduzida a termo. É
III - prestação de serviços à comunidade; destinada a atos de menor gravidade.
IV - liberdade assistida; Para a aplicação da advertência, o Juiz deve levar em
V - inserção em regime de semi-liberdade; consideração a prova da materialidade e indícios suficientes
VI - internação em estabelecimento educacional; de autoria. É a única medida que o Juiz poderá aplicar fun-
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. damentando-se somente em indícios de autoria.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em con-
ta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a Seção III
gravidade da infração. Da Obrigação de Reparar o Dano
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será
Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos
admitida a prestação de trabalho forçado.
patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso,
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou defi- que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento
ciência mental receberão tratamento individual e espe- do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima.
cializado, em local adequado às suas condições. Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a
medida poderá ser substituída por outra adequada.
Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts.
99 e 100. Obrigação de reparar o dano (art. 116 do ECA). Há um
pressuposto: o ato infracional deve ter causado um dano à
Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos vítima. Essa reparação é para a vítima que sofreu o dano. É
II a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas suficien- uma medida voltada para o adolescente, então deve ser es-
tes da autoria e da materialidade da infração, ressalva- tabelecida de acordo com a possibilidade de cumprimento
da a hipótese de remissão, nos termos do art. 127. pelo adolescente (ex.: devolução da coisa furtada, pequenos
Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada serviços a título de reparação etc.).
A jurisprudência admite que essa reparação de dano
sempre que houver prova da materialidade e indícios sufi-
pode ser aplicada à criança (ex.: devolução da coisa furtada).
cientes da autoria.
Seção IV
As medidas socioeducativas dependem de um proce- Da Prestação de Serviços à Comunidade
dimento judicial, só podendo ser aplicadas pelo Juiz. O ECA
apresenta dois critérios genéricos para a aplicação de me- Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste
dida socioeducativa: na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por
- capacidade do adolescente para cumprir a medida; período não excedente a seis meses, junto a entidades
- circunstâncias e gravidade da infração. assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos
A internação é uma exceção, existindo hipóteses legais congêneres, bem como em programas comunitários ou go-
para sua aplicação. vernamentais.

105
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as Seção VI


aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jor- Do Regime de Semiliberdade
nada máxima de oito horas semanais, aos sábados, domin-
gos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determi-
frequência à escola ou à jornada normal de trabalho. nado desde o início, ou como forma de transição para o
meio aberto, possibilitada a realização de atividades exter-
Disposta no art. 117 do ECA, o adolescente será obri- nas, independentemente de autorização judicial.
gado a prestar serviços em benefício da coletividade. São § 1º São obrigatórias a escolarização e a profissio-
tarefas gratuitas de interesse geral junto a entidades as- nalização, devendo, sempre que possível, ser utilizados os
sistenciais, hospitais, escolas ou estabelecimentos congê- recursos existentes na comunidade.
neres. § 2º A medida não comporta prazo determinado
Como a medida é mais gravosa, a lei fixa um prazo aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à in-
máximo de 6 meses para essa prestação e um máximo de ternação.
8 horas semanais. Essas 8 horas poderão ser estabeleci-
das discricionariamente, desde que não prejudiquem a fre- Disposta no art. 120 do ECA, é uma medida que impor-
quência ao trabalho e à escola. Deverá ser levada em conta ta em privação de liberdade ao adolescente que pratica um
a aptidão do adolescente para a aplicação da medida. ato infracional mais grave. O adolescente é retirado de sua
família e colocado em um estabelecimento apropriado de
Seção V semiliberdade, podendo realizar atividades externas (estu-
Da Liberdade Assistida dar, trabalhar etc.) somente com autorização do diretor do
estabelecimento, não havendo necessidade de autorização
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre judicial. Pode ser usada tanto como medida principal quan-
que se afigurar a medida mais adequada para o fim de to como medida progressiva ou regressiva.
acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. A semiliberdade não tem prazo fixado em lei, nem
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para mínimo nem máximo. A doutrina e a jurisprudência deter-
acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por
minam a aplicação da medida por analogia dos prazos da
entidade ou programa de atendimento.
internação, tendo como prazo máximo 3 anos. Há a obri-
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo míni-
gatoriedade de escolarização e profissionalização na semi-
mo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorro-
liberdade.
gada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o
orientador, o Ministério Público e o defensor.
Seção VII
Da Internação
Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a su-
pervisão da autoridade competente, a realização dos seguin-
tes encargos, entre outros: Art. 121. A internação constitui medida privativa da
I - promover socialmente o adolescente e sua família, liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcio-
fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência so- desenvolvimento.
cial; § 1º Será permitida a realização de atividades externas,
II - supervisionar a frequência e o aproveitamento es- a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa de-
colar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula; terminação judicial em contrário.
III - diligenciar no sentido da profissionalização do ado- § 2º A medida não comporta prazo determinado, de-
lescente e de sua inserção no mercado de trabalho; vendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão
IV - apresentar relatório do caso. fundamentada, no máximo a cada seis meses.
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de inter-
É a última medida em que o adolescente permanece nação excederá a três anos.
com sua família. O Juiz irá determinar um acompanhamen- § 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo ante-
to permanente ao adolescente, designando, para isso, um rior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regi-
orientador, que poderá ser substituído a qualquer tempo. A me de semiliberdade ou de liberdade assistida.
lei fixa um prazo mínimo de 6 meses para a duração dessa § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos
medida. O orientador terá as seguintes obrigações legais: de idade.
- promover socialmente o adolescente, bem como a § 6º Em qualquer hipótese a desinternação será prece-
sua família, inserindo-os em programas sociais. Promover dida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
socialmente é fazer com que o adolescente realize ativida- § 7o  A determinação judicial mencionada no § 1o pode-
des valorizadas socialmente (teatro, música etc.); rá ser revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária.
- supervisionar a frequência e o aproveitamento esco-
lar do adolescente; Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada
- profissionalizar o adolescente (nos termos da EC n. quando:
20); I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave
- apresentar relatório do caso ao Juiz. ameaça ou violência a pessoa;

106
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

II - por reiteração no cometimento de outras infrações A internação deve durar o menor tempo possível (prin-
graves; cípio da brevidade), é uma medida de exceção que só de-
III - por descumprimento reiterado e injustificável da verá ser utilizada em último caso (princípio da excepcio-
medida anteriormente imposta. nalidade) e deve seguir o princípio do respeito à condição
§ 1o  O prazo de internação na hipótese do inciso III peculiar do adolescente como pessoa em desenvolvimen-
deste artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, de- to. Em nenhuma hipótese pode ser aplicada à criança.
vendo ser decretada judicialmente após o devido processo O ECA estabelece hipóteses de internação para:
legal. - prática de ato infracional mediante grave ameaça ou
§ 2º Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, violência à pessoa;
havendo outra medida adequada. - reiteração de infrações graves;
- descumprimento reiterado e injustificado da medi-
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entida- da anteriormente imposta (é uma hipótese de regressão).
de exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele Neste caso, a internação não pode ultrapassar o prazo de
destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por cri- 3 meses.
térios de idade, compleição física e gravidade da infração. Nas duas primeiras hipóteses, o prazo máximo para in-
Parágrafo único. Durante o período de internação, inclu- ternação é de 3 anos. Por força desse prazo, o ECA poderá
sive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas. atingir o maior de 18 anos. Em rigor, todas as medidas só-
cio-educativas poderão atingir o maior de 18 anos.
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberda- A medida só poderá ser aplicada com o devido pro-
de, entre outros, os seguintes: cesso legal e em nenhuma hipótese poderá ser aplicada à
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do criança. Quando o adolescente completar 21 anos, a libe-
Ministério Público; ração será obrigatória. Caso o adolescente tenha passado
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade; por internação provisória, esses dias serão computados na
III - avistar-se reservadamente com seu defensor; internação (detração). A diferença entre semi-liberdade e
IV - ser informado de sua situação processual, sempre internação é que, nesta, o adolescente depende de auto-
rização expressa do juiz para praticar atividades externas,
que solicitada;
ou seja, o adolescente internado somente se ausentará do
V - ser tratado com respeito e dignidade;
estabelecimento em que se achar se autorizado pelo juiz.
VI - permanecer internado na mesma localidade ou na-
O art. 123 dispõe que o local para a internação deve
quela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsá-
ser distinto do abrigo, devendo-se obedecer a separação
vel;
por idade, composição física (tamanho), sexo e gravidade
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;
do ato infracional. Há, também, a obrigatoriedade de reali-
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos; zação de atividades pedagógicas.
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio O art. 124 dispõe sobre direitos específicos dos ado-
pessoal; lescentes:
X - habitar alojamento em condições adequadas de hi- - entrevista pessoal com o representante do MP;
giene e salubridade; - entrevista reservada com seu defensor, dentre outros.
XI - receber escolarização e profissionalização; As visitas podem ser suspensas pelo juiz, sob o funda-
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer: mento de segurança e proteção do menor, entretanto, em
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social; nenhuma hipótese o menor poderá ficar incomunicável.
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença,
e desde que assim o deseje; Capítulo V
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de Da Remissão
local seguro para guardá-los, recebendo comprovante da-
queles porventura depositados em poder da entidade; Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial
XVI - receber, quando de sua desinternação, os docu- para apuração de ato infracional, o representante do
mentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade. Ministério Público poderá conceder a remissão, como
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade. forma de exclusão do processo, atendendo às circunstâncias
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender tem- e consequências do fato, ao contexto social, bem como à per-
porariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se sonalidade do adolescente e sua maior ou menor participa-
existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialida- ção no ato infracional.
de aos interesses do adolescente. Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão
da remissão pela autoridade judiciária importará na suspen-
Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física são ou extinção do processo.
e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas ade-
quadas de contenção e segurança. Art. 127. A remissão não implica necessariamente o
reconhecimento ou comprovação da responsabilidade,
Disposta no art. 121 e seguintes do ECA, é a medida re- nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo in-
servada para os atos infracionais de natureza grave. O ECA cluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas
estabelece princípios específicos para a internação, pois é previstas em lei, exceto a colocação em regime de semi-li-
medida de privação de liberdade sempre excepcional. berdade e a internação.

107
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 128. A medida aplicada por força da remissão pode- I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou
rá ser revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante comunitários de proteção, apoio e promoção da família;
pedido expresso do adolescente ou de seu representante le- II - inclusão em programa oficial ou comunitário de au-
gal, ou do Ministério Público. xílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psi-
Tem por conceito o perdão, a indulgência ao menor. quiátrico;
Podem conceder remissão tanto o MP quanto o Juiz. São IV - encaminhamento a cursos ou programas de orien-
hipóteses de natureza jurídica diferentes. A remissão ju- tação;
dicial é forma de extinção ou de suspensão do processo V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompa-
(portanto, pressupõe o processo em curso). Já a remissão nhar sua frequência e aproveitamento escolar;
ministerial é forma de exclusão do processo (logo, deve VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente
ser concedida antes do processo - administrativamente). a tratamento especializado;
Quando a remissão é concedida pelo MP, segue-se o se- VII - advertência;
guinte procedimento: VIII - perda da guarda;
- o menor é ouvido pelo Promotor que concederá a IX - destituição da tutela;
remissão; X - suspensão ou destituição do poder familiar.
- o Promotor encaminha a remissão para homologação Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas
pelo Juiz; nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos
- se o Juiz não aceitar a remissão, deverá remeter para arts. 23 e 24.
o Procurador de Justiça, que poderá insistir na remissão
ou designar outro representante do MP para apresentar Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão
representação contra o menor. Essa remissão concedida ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a auto-
pelo MP é causa de exclusão do processo, visto que, ao
ridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar,
conceder a remissão, inexiste o processo.
o afastamento do agressor da moradia comum.
Quando a remissão é concedida pelo Juiz, segue-se o
Parágrafo único.  Da medida cautelar constará, ainda, a
seguinte procedimento:
fixação provisória dos alimentos de que necessitem a criança
- o Promotor oferece a representação;
ou o adolescente dependentes do agressor.
- na audiência de apresentação, o menor será ouvido
pelo Juiz, que poderá decidir pela remissão;
- o representante do MP deverá, obrigatoriamente, ser Capítulo I
ouvido sobre a possibilidade da remissão antes de ela ser Disposições Gerais
aplicada. A remissão concedida pelo Juiz causa extinção do
processo. Havendo discordância por parte do MP, este de- Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e au-
verá ingressar com uma apelação para reformar a decisão tônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de
do Juiz. zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adoles-
Tanto a doutrina quanto a jurisprudência admitem a cente, definidos nesta Lei.
cumulação da remissão com uma medida sócio-educativa
que seja compatível (ex.: reparação do dano, advertência Art. 132.  Em cada Município e em cada Região Admi-
etc.). Neste caso, a remissão é causa de suspensão do pro- nistrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um)
cesso. Conselho Tutelar como órgão integrante da administração
O ECA traz quatro requisitos genéricos para a aplicação pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos
da remissão, devendo ficar a critério do membro do MP ou pela população local para mandato de 4 (quatro) anos,
do Juiz a sua concessão. São eles: permitida 1 (uma) recondução, mediante novo processo
- circunstâncias e conseqüências do fato; de escolha. 
- contexto social em que o fato foi praticado;
- personalidade do agente; Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho
- maior ou menor participação no ato infracional. Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos:
A remissão, quer concedida pelo MP quer pelo Juiz, I - reconhecida idoneidade moral;
não implica confissão de culpa. Existe uma divergência na II - idade superior a vinte e um anos;
doutrina em considerar a remissão como um acordo ou III - residir no município.
não. A posição majoritária entende que a remissão não é
um acordo, tendo em vista a lei falar em concessão e, ain- Art. 134.  Lei municipal ou distrital disporá sobre o
da, pelo fato de não haver nenhum prejuízo para o adoles- local, dia e horário de funcionamento do Conselho Tu-
cente, não possuindo a remissão nenhum efeito, podendo telar, inclusive quanto à remuneração dos respectivos mem-
ser concedida quantas vezes forem necessárias. bros, aos quais é assegurado o direito a:
I - cobertura previdenciária; 
Título IV II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3
Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável (um terço) do valor da remuneração mensal;
III - licença-maternidade;
Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsá- IV - licença-paternidade; 
vel: V - gratificação natalina. 

108
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Parágrafo único.  Constará da lei orçamentária munici- Capítulo III


pal e da do Distrito Federal previsão dos recursos necessários Da Competência
ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e
formação continuada dos conselheiros tutelares. Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de com-
petência constante do art. 147.
Art. 135.  O exercício efetivo da função de conselheiro
constituirá serviço público relevante e estabelecerá presun- Capítulo IV
ção de idoneidade moral.  Da Escolha dos Conselheiros

Capítulo II Art. 139. O processo para a escolha dos membros do


Das Atribuições do Conselho Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal e rea-
lizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: Direitos da Criança e do Adolescente, e a fiscalização do
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses pre- Ministério Público. 
vistas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no § 1o  O processo de escolha dos membros do Conse-
art. 101, I a VII; lho Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o território
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplican- nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do
do as medidas previstas no art. 129, I a VII; mês de outubro do ano subsequente ao da eleição pre-
III - promover a execução de suas decisões, podendo sidencial. 
para tanto: § 2o  A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, edu- 10 de janeiro do ano subsequente ao processo de escolha. 
cação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; § 3o  No processo de escolha dos membros do Con-
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de selho Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, pro-
descumprimento injustificado de suas deliberações. meter ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno valor. 
que constitua infração administrativa ou penal contra os di-
reitos da criança ou adolescente; Capítulo V
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua Dos Impedimentos
competência;
VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conse-
judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o lho marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro
adolescente autor de ato infracional; e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio,
VII - expedir notificações; tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado.
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conse-
criança ou adolescente quando necessário; lheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade judi-
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da ciária e ao representante do Ministério Público com atuação
proposta orçamentária para planos e programas de atendi- na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na co-
mento dos direitos da criança e do adolescente; marca, foro regional ou distrital.
X - representar, em nome da pessoa e da família, contra
a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Título VI
Constituição Federal; Do Acesso à Justiça
XI - representar ao Ministério Público para efeito das
ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgota- Capítulo I
das as possibilidades de manutenção da criança ou do ado- Disposições Gerais
lescente junto à família natural;
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos gru- Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou
pos profissionais, ações de divulgação e treinamento para o adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público
reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
adolescentes. § 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos
Parágrafo único.  Se, no exercício de suas atribuições, o que dela necessitarem, através de defensor público ou ad-
Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do con- vogado nomeado.
vívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério § 2º As ações judiciais da competência da Justiça da
Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal Infância e da Juventude são isentas de custas e emolu-
entendimento e as providências tomadas para a orientação, mentos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.
o apoio e a promoção social da família. 
Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão repre-
Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente po- sentados e os maiores de dezesseis e menores de vinte e
derão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na
quem tenha legítimo interesse. forma da legislação civil ou processual.

109
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador Tradicionalmente, são enumerados pela doutrina os
especial à criança ou adolescente, sempre que os interes- seguintes princípios inerentes à jurisdição: investidura,
ses destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou porque somente exerce jurisdição quem ocupa o cargo de
quando carecer de representação ou assistência legal ainda juiz; aderência ao território, posto que juízes somente têm
que eventual. autoridade no território nacional e nos limites de sua com-
petência; indelegabilidade, não podendo o Poder Judiciário
Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, po- delegar sua competência; inafastabilidade, pois a lei não
liciais e administrativos que digam respeito a crianças e pode excluir da apreciação do Poder Judiciário nenhuma
adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional. lesão ou ameaça a direito.
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato Embora a jurisdição seja una, em termos doutrinários
não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se é possível classificá-la: a) quanto ao objeto – penal, traba-
fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco, lhista e civil (a civil é subsidiária, envolvendo todo direito
residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome.  material que não seja penal ou trabalhista, não somente
questões inerentes ao direito civil); b) quanto ao organismo
Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a que a exerce – comum (estadual ou federal) ou especial
que se refere o artigo anterior somente será deferida pela (trabalhista, militar, eleitoral); c) quanto à hierarquia – su-
perior e inferior.
autoridade judiciária competente, se demonstrado o interes-
Neste sentido, com vistas a instrumentalizar a jurisdi-
se e justificada a finalidade.
ção, impedindo que ela seja exercida de maneira caótica,
ela é distribuída entre juízos e foros (órgãos competentes
O homem necessita do convívio social, não é um ser
em localidades determinadas). A esta distribuição das par-
capaz de viver de maneira autônoma e totalmente des- celas de jurisdição dá-se o nome de competência.
vinculada dos demais. Neste sentido, a imposição de re- As tutelas jurisdicionais diferenciadas, por sua vez,
gramentos e normas permitiu que a sociedade atingisse o são aquelas que apresentam procedimentos diversos do
atual grau de evolução. comum. Possuem procedimentos ditos especiais, os quais
Obviamente, no ambiente social surgem conflitos de buscam garantir um processo mais rápido e compatível
interesses. Afinal, nem sempre os bens e valores existem com as necessidades específicas do direito em discussão.
em quantidade suficiente para atender a todas as pessoas. No âmbito do direito da criança e do adolescente, tem-se
Inicialmente, estes conflitos eram solucionados pelos pró- o estabelecimento de uma tutela jurisdicional diferenciada,
prios envolvidos, na denominada fase da autotutela. eis que existem inúmeras regras específicas aplicáveis aos
Contudo, a solução possibilidade pela autotutela era processos que envolvem de algum modo criança ou ado-
bastante insatisfatória e fazia com que prevalecesse a lei do lescente.
mais forte. Então, surgiu o Estado apresentando um melhor A noção de jurisdição inclusiva também se aplica à tu-
sistema para a solução dos conflitos. tela jurisdicional da criança e do adolescente. Basicamente,
O Estado assumiu para si o poder-dever de dizer o Di- refere-se à propiciação de uma jurisdição que esteja atenta
reito, de solucionar os conflitos, conhecido como jurisdi- às peculiaridades das minorias e dos grupos vulneráveis.
ção. Assim, o Estado irá elaborar as leis (direito material) No caso, as crianças e adolescentes são considerados um
e prever como elas serão aplicadas (direito processual). A grupo vulnerável devido à condição especial que ocupam.
autotutela para a ser punida como regra geral e o Estado
exerce a heterotutela por meio da atividade jurisdicional. Capítulo II
Jurisdição é o poder-dever do Estado de dizer o Direi- Da Justiça da Infância e da Juventude
to. Sendo assim, trata-se de atividade estatal exercida por
intermédio de um agente constituído com competência Seção I
para exercê-la, o juiz. Disposições Gerais
Nos primórdios da humanidade não existia o Direito e
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar
nem existiam as leis, de modo que a justiça era feita pelas
varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude,
próprias mãos, na denominada autotutela. Com a evolução
cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionali-
das instituições, o Estado avocou para si o poder-dever de
dade por número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura e
solucionar os litígios, o que é feito pela jurisdição.
dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões.
O poder-dever de dizer o direito é uno, apenas existin-
do uma separação de funções: o Legislativo regulamenta Seção II
normas gerais e abstratas (função legislativa) e o Judiciário Do Juiz
as aplica no caso concreto (função jurisdicional).
Entretanto, vale destacar que na sociedade contempo- Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da
rânea, devido às inúmeras mazelas que se apresentaram Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na
envolvendo o abarrotamento de processos pelo Judiciário, forma da lei de organização judiciária local.
passou-se a incentivar a adoção de métodos de autocom-
posição, como conciliação, mediação e arbitragem. Art. 147. A competência será determinada:

110
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

I - pelo domicílio dos pais ou responsável; a) estádio, ginásio e campo desportivo;


II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, b) bailes ou promoções dançantes;
à falta dos pais ou responsável. c) boate ou congêneres;
§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a d) casa que explore comercialmente diversões eletrôni-
autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as re- cas;
gras de conexão, continência e prevenção. e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à II - a participação de criança e adolescente em:
autoridade competente da residência dos pais ou respon- a) espetáculos públicos e seus ensaios;
sável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a b) certames de beleza.
criança ou adolescente. § 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade
§ 3º Em caso de infração cometida através de trans- judiciária levará em conta, dentre outros fatores:
missão simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais a) os princípios desta Lei;
de uma comarca, será competente, para aplicação da pe- b) as peculiaridades locais;
nalidade, a autoridade judiciária do local da sede estadual c) a existência de instalações adequadas;
da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas d) o tipo de freqüência habitual ao local;
as transmissoras ou retransmissoras do respectivo estado. e) a adequação do ambiente a eventual participação ou
freqüência de crianças e adolescentes;
f) a natureza do espetáculo.
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é compe-
§ 2º As medidas adotadas na conformidade deste ar-
tente para:
tigo deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as
I - conhecer de representações promovidas pelo Minis- determinações de caráter geral.
tério Público, para apuração de ato infracional atribuído a
adolescente, aplicando as medidas cabíveis; Seção III
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou Dos Serviços Auxiliares
extinção do processo;
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses indi- proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de
viduais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescen- equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da
te, observado o disposto no art. 209; Infância e da Juventude.
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em
entidades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis; Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre ou-
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de in- tras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação lo-
frações contra norma de proteção à criança ou adolescente; cal, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou ver-
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tu- balmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos
telar, aplicando as medidas cabíveis. de aconselhamento, orientação, encaminhamento, preven-
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou ado- ção e outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade
lescente nas hipóteses do art. 98, é também competente a judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista
Justiça da Infância e da Juventude para o fim de: técnico.
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela; Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de servi-
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, dores públicos integrantes do Poder Judiciário responsáveis
perda ou modificação da tutela ou guarda;  pela realização dos estudos psicossociais ou de quaisquer
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casa- outras espécies de avaliações técnicas exigidas por esta Lei
mento; ou por determinação judicial, a autoridade judiciária poderá
d) conhecer de pedidos baseados em discordância pater- proceder à nomeação de perito, nos termos do art. 156 da
Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
na ou materna, em relação ao exercício do poder familiar; 
Civil).
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil,
quando faltarem os pais;
Capítulo III
f) designar curador especial em casos de apresentação Dos Procedimentos
de queixa ou representação, ou de outros procedimentos ju-
diciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou Seção I
adolescente; Disposições Gerais
g) conhecer de ações de alimentos;
h) determinar o cancelamento, a retificação e o supri- Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei apli-
mento dos registros de nascimento e óbito. cam-se subsidiariamente as normas gerais previstas na
legislação processual pertinente.
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, § 1o É assegurada, sob pena de responsabilidade, prio-
através de portaria, ou autorizar, mediante alvará: ridade absoluta na tramitação dos processos e proce-
I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, dimentos previstos nesta Lei, assim como na execução dos
desacompanhado dos pais ou responsável, em: atos e diligências judiciais a eles referentes. 

111
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos Art. 156. A petição inicial indicará:
seus procedimentos são contados em dias corridos, ex- I - a autoridade judiciária a que for dirigida;
cluído o dia do começo e incluído o dia do vencimento, veda- II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do
do o prazo em dobro para a Fazenda Pública e o Ministério requerente e do requerido, dispensada a qualificação em se
Público. tratando de pedido formulado por representante do Minis-
tério Público;
Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não cor- III - a exposição sumária do fato e o pedido;
responder a procedimento previsto nesta ou em outra lei, a IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde
autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar logo, o rol de testemunhas e documentos.
de ofício as providências necessárias, ouvido o Ministé-
rio Público. Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade
Parágrafo único.  O disposto neste artigo não se aplica judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão
para o fim de afastamento da criança ou do adolescente de do poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o julga-
sua família de origem e em outros procedimentos necessa- mento definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente
riamente contenciosos.  confiado a pessoa idônea, mediante termo de responsabili-
dade. 
Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214. § 1o Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária
determinará, concomitantemente ao despacho de citação e
A tutela sócio-individual abrange aspectos do direito independentemente de requerimento do interessado, a reali-
da criança e do adolescente voltado à criança e ao adoles- zação de estudo social ou perícia por equipe interprofissional
cente individualmente concebidos, isto é, pensados como ou multidisciplinar para comprovar a presença de uma das
sujeitos de direitos individuais que possam ser por eles causas de suspensão ou destituição do poder familiar, ressal-
exercidos. vado o disposto no § 10 do art. 101 desta Lei, e observada a
A tutela sócio-educativa abrange aspectos do direito Lei no 13.431, de 4 de abril de 2017.
da criança e do adolescente voltados às atividades de en- § 2o Em sendo os pais oriundos de comunidades indíge-
sino e aprendizagem, tanto no que se refere à educação nas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe inter-
profissional ou multidisciplinar referida no § 1o deste artigo,
formal quanto em relação à educação informal.
de representantes do órgão federal responsável pela política
A tutela coletiva volta-se à proteção de direitos difu-
indigenista, observado o disposto no § 6o do art. 28 desta Lei.
sos e coletivos da criança e do adolescente. Aos direitos
difusos e coletivos são conferidos mecanismos de tutela
Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez
específicos para sua proteção, bem como atribuída com-
dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem
petência para tanto a órgãos determinados que exercerão
produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas
um papel representativo. No Brasil, destacam-se institui-
e documentos.
ções como o Ministério Público e a Defensoria Pública. Sem § 1º A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os
prejuízo, como visto, há remédios constitucionais que se meios para sua realização.
voltam à proteção de interesses desta categoria, como o § 2º O requerido privado de liberdade deverá ser cita-
mandado de segurança coletivo e a própria ação popu- do pessoalmente.
lar, sem falar na ação civil pública, também mencionada no § 3o Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça hou-
texto constitucional. ver procurado o citando em seu domicílio ou residência sem
Considerados os diferentes tipos de tutelas inseridas o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, infor-
no direito da criança e do adolescente, justifica-se a tutela mar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer
jurisdicional diferenciada, adaptada à condição em desen- vizinho do dia útil em que voltará a fim de efetuar a citação,
volvimento da criança e do adolescente, que deve ser ágil, na hora que designar, nos termos do art. 252 e seguintes da
efetiva, atenta às peculiaridades do caso concreto. Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
Os procedimentos especiais do ECA se referem a: per- Civil).
da e suspensão de poder familiar, destituição de tutela, co- § 4o Na hipótese de os genitores encontrarem-se em lo-
locação em família substituta, apuração de ato infracional cal incerto ou não sabido, serão citados por edital no prazo
atribuído a adolescente, apuração de irregularidades em de 10 (dez) dias, em publicação única, dispensado o envio de
atendimento, apuração de infração administrativa às nor- ofícios para a localização.
mas de proteção da criança e do adolescente e habilitação
em adoção. Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de cons-
tituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento e de sua
Seção II família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja nomea-
Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar do dativo, ao qual incumbirá a apresentação de resposta,
contando-se o prazo a partir da intimação do despacho de
Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão nomeação.
do poder familiar terá início por provocação do Ministério Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de
Público ou de quem tenha legítimo interesse. liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no momento
da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado defensor.

112
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária re- Seção III


quisitará de qualquer repartição ou órgão público a apre- Da Destituição da Tutela
sentação de documento que interesse à causa, de ofício ou
a requerimento das partes ou do Ministério Público. Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o pro-
cedimento para a remoção de tutor previsto na lei proces-
Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido sual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior.
concluído o estudo social ou a perícia realizada por equi-
pe interprofissional ou multidisciplinar, a autoridade judi- A destituição da tutela pode, assim, ser decretada ju-
ciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por 5 dicialmente, em procedimento contraditório, nos casos
(cinco) dias, salvo quando este for o requerente, e decidirá previstos na legislação civil, bem como na hipótese de des-
em igual prazo. cumprimento injustificado dos deveres e obrigações.
§ 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimen-
to das partes ou do Ministério Público, determinará a oi- Seção IV
tiva de testemunhas que comprovem a presença de uma Da Colocação em Família Substituta
das causas de suspensão ou destituição do poder familiar
previstas nos arts. 1.637 e 1.638 da Lei no 10.406, de 10 de Dos artigos 165 a 170 estão descritos procedimentos
janeiro de 2002 (Código Civil), ou no art. 24 desta Lei. adotados na colocação em família substituta:
§ 2o (Revogado).
§ 3o Se o pedido importar em modificação de guarda, Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de
será obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da colocação em família substituta:
criança ou adolescente, respeitado seu estágio de desen- I - qualificação completa do requerente e de seu even-
volvimento e grau de compreensão sobre as implicações da tual cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência deste;
medida. II - indicação de eventual parentesco do requerente e de
§ 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adolescente,
forem identificados e estiverem em local conhecido, ressal- especificando se tem ou não parente vivo;
vados os casos de não comparecimento perante a Justiça III - qualificação completa da criança ou adolescente e
quando devidamente citados. de seus pais, se conhecidos;
§ 5o Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberda- IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento,
de, a autoridade judicial requisitará sua apresentação para anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão;
a oitiva. V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou
rendimentos relativos à criança ou ao adolescente.
Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judi- Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se-
ciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por -ão também os requisitos específicos.
cinco dias, salvo quando este for o requerente, designando,
desde logo, audiência de instrução e julgamento. Art. 166.  Se os pais forem falecidos, tiverem sido
§ 1º (Revogado). destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houve-
§ 2o Na audiência, presentes as partes e o Ministério Pú- rem aderido expressamente ao pedido de colocação em
blico, serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oralmen- família substituta, este poderá ser formulado diretamente
te o parecer técnico, salvo quando apresentado por escrito, em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes,
manifestando-se sucessivamente o requerente, o requerido e dispensada a assistência de advogado. 
o Ministério Público, pelo tempo de 20 (vinte) minutos cada § 1o Na hipótese de concordância dos pais, o juiz:
um, prorrogável por mais 10 (dez) minutos. I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes,
§ 3o A decisão será proferida na audiência, podendo a devidamente assistidas por advogado ou por defensor públi-
autoridade judiciária, excepcionalmente, designar data para co, para verificar sua concordância com a adoção, no prazo
sua leitura no prazo máximo de 5 (cinco) dias. máximo de 10 (dez) dias, contado da data do protocolo da
§ 4o Quando o procedimento de destituição de poder fa- petição ou da entrega da criança em juízo, tomando por ter-
miliar for iniciado pelo Ministério Público, não haverá neces- mo as declarações; e
sidade de nomeação de curador especial em favor da criança II - declarará a extinção do poder familiar.
ou adolescente. § 2o O consentimento dos titulares do poder familiar será
precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela
Art. 163. O prazo máximo para conclusão do proce- equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventu-
dimento será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao juiz, de, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade
no caso de notória inviabilidade de manutenção do poder da medida.
familiar, dirigir esforços para preparar a criança ou o adoles- § 3o São garantidos a livre manifestação de vontade
cente com vistas à colocação em família substituta. dos detentores do poder familiar e o direito ao sigilo das
Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou informações.
a suspensão do poder familiar será averbada à margem do § 4o O consentimento prestado por escrito não terá va-
registro de nascimento da criança ou do adolescente. lidade se não for ratificado na audiência a que se refere o §
1o deste artigo.

113
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 5o O consentimento é retratável até a data da reali- Parágrafo único. Havendo repartição policial especiali-
zação da audiência especificada no § 1o deste artigo, e os zada para atendimento de adolescente e em se tratando de
pais podem exercer o arrependimento no prazo de 10 (dez) ato infracional praticado em co-autoria com maior, prevalece-
dias, contado da data de prolação da sentença de extinção rá a atribuição da repartição especializada, que, após as provi-
do poder familiar. dências necessárias e conforme o caso, encaminhará o adulto à
§ 6o O consentimento somente terá valor se for dado repartição policial própria.
após o nascimento da criança.
§ 7o A família natural e a família substituta receberão Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido
a devida orientação por intermédio de equipe técnica inter- mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a autoridade po-
profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, licial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, parágrafo único, e
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela 107, deverá:
execução da política municipal de garantia do direito à con- I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o
vivência familiar. adolescente;
II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a reque- III - requisitar os exames ou perícias necessários à compro-
rimento das partes ou do Ministério Público, determinará a vação da materialidade e autoria da infração.
realização de estudo social ou, se possível, perícia por equi- Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a la-
pe interprofissional, decidindo sobre a concessão de guarda vratura do auto poderá ser substituída por boletim de ocorrência
provisória, bem como, no caso de adoção, sobre o estágio de circunstanciada.
convivência.
Parágrafo único.  Deferida a concessão da guarda pro- Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável,
visória ou do estágio de convivência, a criança ou o ado- o adolescente será prontamente liberado pela autoridade poli-
lescente será entregue ao interessado, mediante termo de cial, sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apre-
responsabilidade.   sentação ao representante do Ministério Público, no mesmo dia
ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quan-
Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pe- do, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social,
ricial, e ouvida, sempre que possível, a criança ou o adoles-
deva o adolescente permanecer sob internação para garantia de
cente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Público, pelo
sua segurança pessoal ou manutenção da ordem pública.
prazo de cinco dias, decidindo a autoridade judiciária em
igual prazo.
Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial
encaminhará, desde logo, o adolescente ao representante do Mi-
Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a
nistério Público, juntamente com cópia do auto de apreensão ou
perda ou a suspensão do poder familiar constituir pressupos-
boletim de ocorrência.
to lógico da medida principal de colocação em família subs-
tituta, será observado o procedimento contraditório previsto § 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a autori-
nas Seções II e III deste Capítulo.   dade policial encaminhará o adolescente à entidade de aten-
Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda dimento, que fará a apresentação ao representante do Minis-
poderá ser decretada nos mesmos autos do procedimento, tério Público no prazo de vinte e quatro horas.
observado o disposto no art. 35. § 2º Nas localidades onde não houver entidade de aten-
dimento, a apresentação far-se-á pela autoridade policial. À
Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á falta de repartição policial especializada, o adolescente aguar-
o disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art. dará a apresentação em dependência separada da destinada a
47. maiores, não podendo, em qualquer hipótese, exceder o prazo
Parágrafo único.  A colocação de criança ou adolescen- referido no parágrafo anterior.
te sob a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhi-
mento familiar será comunicada pela autoridade judiciária à Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade policial
entidade por este responsável no prazo máximo de 5 (cinco) encaminhará imediatamente ao representante do Ministério
dias.   Público cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência.

Seção V Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indí-


Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Ado- cios de participação de adolescente na prática de ato infracional,
lescente a autoridade policial encaminhará ao representante do Minis-
tério Público relatório das investigações e demais documentos.
Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem
judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciá- Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato
ria. infracional não poderá ser conduzido ou transportado em com-
partimento fechado de veículo policial, em condições atentató-
Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato rias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integri-
infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade po- dade física ou mental, sob pena de responsabilidade.
licial competente.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante § 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a
do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente.
apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, devi- § 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade
damente autuados pelo cartório judicial e com informação judiciária expedirá mandado de busca e apreensão, deter-
sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e minando o sobrestamento do feito, até a efetiva apresen-
informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais tação.
ou responsável, vítima e testemunhas. § 4º Estando o adolescente internado, será requisitada
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o repre- a sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais
sentante do Ministério Público notificará os pais ou respon- ou responsável.
sável para apresentação do adolescente, podendo requisitar
o concurso das polícias civil e militar. Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela au-
toridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabeleci-
Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo mento prisional.
anterior, o representante do Ministério Público poderá: § 1º Inexistindo na comarca entidade com as carac-
I - promover o arquivamento dos autos; terísticas definidas no art. 123, o adolescente deverá ser
II - conceder a remissão; imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
III - representar à autoridade judiciária para aplicação § 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adoles-
de medida sócio-educativa. cente aguardará sua remoção em repartição policial, desde
que em seção isolada dos adultos e com instalações apro-
Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou con- priadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco
cedida a remissão pelo representante do Ministério Público, dias, sob pena de responsabilidade.
mediante termo fundamentado, que conterá o resumo dos
fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária para Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou res-
homologação. ponsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mes-
§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a au- mos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado.
toridade judiciária determinará, conforme o caso, o cum- § 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a
remissão, ouvirá o representante do Ministério Público,
primento da medida.
proferindo decisão.
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa
§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medi-
dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante des-
da de internação ou colocação em regime de semi-liberda-
pacho fundamentado, e este oferecerá representação, de-
de, a autoridade judiciária, verificando que o adolescente
signará outro membro do Ministério Público para apresen-
não possui advogado constituído, nomeará defensor, de-
tá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só
signando, desde logo, audiência em continuação, podendo
então estará a autoridade judiciária obrigada a homologar.
determinar a realização de diligências e estudo do caso.
§ 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado,
Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do Mi- no prazo de três dias contado da audiência de apresenta-
nistério Público não promover o arquivamento ou conceder ção, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.
a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária, § 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemu-
propondo a instauração de procedimento para aplicação da nhas arroladas na representação e na defesa prévia, cum-
medida sócio-educativa que se afigurar a mais adequada. pridas as diligências e juntado o relatório da equipe inter-
§ 1º A representação será oferecida por petição, que profissional, será dada a palavra ao representante do Mi-
conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato nistério Público e ao defensor, sucessivamente, pelo tempo
infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, po- de vinte minutos para cada um, prorrogável por mais dez,
dendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá
pela autoridade judiciária. decisão.
§ 2º A representação independe de prova pré-consti-
tuída da autoria e materialidade. Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não
comparecer, injustificadamente à audiência de apresenta-
Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a con- ção, a autoridade judiciária designará nova data, determi-
clusão do procedimento, estando o adolescente internado nando sua condução coercitiva.
provisoriamente, será de quarenta e cinco dias.
Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou sus-
Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judi- pensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase
ciária designará audiência de apresentação do adolescente, do procedimento, antes da sentença.
decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção
da internação, observado o disposto no art. 108 e parágrafo. Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer
§ 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão medida, desde que reconheça na sentença:
cientificados do teor da representação, e notificados a I - estar provada a inexistência do fato;
comparecer à audiência, acompanhados de advogado. II - não haver prova da existência do fato;

115
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

III - não constituir o fato ato infracional; Art. 190-B. As informações da operação de infiltração
IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela
para o ato infracional. autorização da medida, que zelará por seu sigilo.
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o
adolescente internado, será imediatamente colocado em li- acesso aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Públi-
berdade. co e ao delegado de polícia responsável pela operação, com
o objetivo de garantir o sigilo das investigações.
Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de
internação ou regime de semi-liberdade será feita: Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a
I - ao adolescente e ao seu defensor; sua identidade para, por meio da internet, colher indícios de
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts. 240,
ou responsável, sem prejuízo do defensor. 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se- A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
-á unicamente na pessoa do defensor. de dezembro de 1940 (Código Penal).
§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar
deverá este manifestar se deseja ou não recorrer da sen- de observar a estrita finalidade da investigação responderá
tença. pelos excessos praticados.

Seção V-A Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público po-


Da Infiltração de Agentes de Polícia para a Investi- derão incluir nos bancos de dados próprios, mediante pro-
gação de Crimes contra a Dignidade Sexual de Criança cedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as
e de Adolescente informações necessárias à efetividade da identidade fictícia
criada.
Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na inter- Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata
net com o fim de investigar os crimes previstos nos arts. 240, esta Seção será numerado e tombado em livro específico.
241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-
A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos ele-
de dezembro de 1940 (Código Penal), obedecerá às seguin- trônicos praticados durante a operação deverão ser registra-
tes regras: dos, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e ao
I – será precedida de autorização judicial devidamente Ministério Público, juntamente com relatório circunstancia-
circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os limites do.
da infiltração para obtenção de prova, ouvido o Ministério Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados
Público; no caput deste artigo serão reunidos em autos apartados e
II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Pú- apensados ao processo criminal juntamente com o inquéri-
blico ou representação de delegado de polícia e conterá a to policial, assegurando-se a preservação da identidade do
demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas dos agente policial infiltrado e a intimidade das crianças e dos
policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e, adolescentes envolvidos.
quando possível, os dados de conexão ou cadastrais que per-
mitam a identificação dessas pessoas; Seção VI
III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, Da Apuração de Irregularidades em Entidade de
sem prejuízo de eventuais renovações, desde que o total não Atendimento
exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demonstrada
sua efetiva necessidade, a critério da autoridade judicial. Art. 191. O procedimento de apuração de irregularida-
§ 1º A autoridade judicial e o Ministério Público pode- des em entidade governamental e não-governamental terá
rão requisitar relatórios parciais da operação de infiltração início mediante portaria da autoridade judiciária ou repre-
antes do término do prazo de que trata o inciso II do § 1º sentação do Ministério Público ou do Conselho Tutelar, onde
deste artigo. conste, necessariamente, resumo dos fatos.
§ 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a auto-
artigo, consideram-se: ridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar limi-
I – dados de conexão: informações referentes a hora, narmente o afastamento provisório do dirigente da entidade,
data, início, término, duração, endereço de Protocolo de In- mediante decisão fundamentada.
ternet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão;
II – dados cadastrais: informações referentes a nome e Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no
endereço de assinante ou de usuário registrado ou autenti- prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar
cado para a conexão a quem endereço de IP, identificação documentos e indicar as provas a produzir.
de usuário ou código de acesso tenha sido atribuído no mo-
mento da conexão. Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo neces-
§ 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não sário, a autoridade judiciária designará audiência de instru-
será admitida se a prova puder ser obtida por outros meios. ção e julgamento, intimando as partes.

116
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o Seção VIII


Ministério Público terão cinco dias para oferecer alegações Da Habilitação de Pretendentes à Adoção
finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou de- Art. 197-A.  Os postulantes à adoção, domiciliados no
finitivo de dirigente de entidade governamental, a auto- Brasil, apresentarão petição inicial na qual conste: 
ridade judiciária oficiará à autoridade administrativa ime- I - qualificação completa; 
diatamente superior ao afastado, marcando prazo para a II - dados familiares; 
substituição. III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autorida- casamento, ou declaração relativa ao período de união es-
de judiciária poderá fixar prazo para a remoção das irregu- tável; 
laridades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Ca-
será extinto, sem julgamento de mérito. dastro de Pessoas Físicas; 
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigen- V - comprovante de renda e domicílio; 
te da entidade ou programa de atendimento. VI - atestados de sanidade física e mental; 
VII - certidão de antecedentes criminais; 
Seção VII VIII - certidão negativa de distribuição cível. 
Da Apuração de Infração Administrativa às Nor-
mas de Proteção à Criança e ao Adolescente Art. 197-B.  A autoridade judiciária, no prazo de 48
(quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério
Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá: 
administrativa por infração às normas de proteção à criança I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe
e ao adolescente terá início por representação do Ministério interprofissional encarregada de elaborar o estudo técnico a
Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de infração elabo- que se refere o art. 197-C desta Lei; 
rado por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assi- II - requerer a designação de audiência para oitiva dos
nado por duas testemunhas, se possível. postulantes em juízo e testemunhas; 
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração, III - requerer a juntada de documentos complementares
poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a e a realização de outras diligências que entender necessá-
natureza e as circunstâncias da infração. rias. 
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração se-
guir-se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso con- Art. 197-C.  Intervirá no feito, obrigatoriamente, equi-
trário, dos motivos do retardamento. pe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da
Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que con-
Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apre- terá subsídios que permitam aferir a capacidade e o prepa-
sentação de defesa, contado da data da intimação, que será ro dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou
feita: maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios
I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavra- desta Lei. 
do na presença do requerido; § 1o É obrigatória a participação dos postulantes em
II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente habi- programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventu-
litado, que entregará cópia do auto ou da representação ao de, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis
requerido, ou a seu representante legal, lavrando certidão; pela execução da política municipal de garantia do direito
III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for à convivência familiar e dos grupos de apoio à adoção devi-
encontrado o requerido ou seu representante legal; damente habilitados perante a Justiça da Infância e da Ju-
IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou ventude, que inclua preparação psicológica, orientação e es-
não sabido o paradeiro do requerido ou de seu representante tímulo à adoção inter-racial, de crianças ou de adolescentes
legal. com deficiência, com doenças crônicas ou com necessidades
específicas de saúde, e de grupos de irmãos.
Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo le- § 2o Sempre que possível e recomendável, a etapa obri-
gal, a autoridade judiciária dará vista dos autos do Ministé- gatória da preparação referida no § 1o deste artigo incluirá
rio Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo. o contato com crianças e adolescentes em regime de acolhi-
mento familiar ou institucional, a ser realizado sob orien-
Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária tação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça
procederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo ne- da Infância e da Juventude e dos grupos de apoio à adoção,
cessário, designará audiência de instrução e julgamento. com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de aco-
Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão lhimento familiar e institucional e pela execução da política
sucessivamente o Ministério Público e o procurador do re- municipal de garantia do direito à convivência familiar.
querido, pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorro- § 3o É recomendável que as crianças e os adolescentes
gável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, que acolhidos institucionalmente ou por família acolhedora se-
em seguida proferirá sentença. jam preparados por equipe interprofissional antes da inclu-
são em família adotiva.

117
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 197-D.  Certificada nos autos a conclusão da par- VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior
ticipação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no caso
autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) ho- de agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho funda-
ras, decidirá acerca das diligências requeridas pelo Ministé- mentado, mantendo ou reformando a decisão, no prazo de
rio Público e determinará a juntada do estudo psicossocial, cinco dias;
designando, conforme o caso, audiência de instrução e jul- VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão
gamento.  remeterá os autos ou o instrumento à superior instância den-
Parágrafo único.  Caso não sejam requeridas diligências, tro de vinte e quatro horas, independentemente de novo pe-
ou sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determi- dido do recorrente; se a reformar, a remessa dos autos depen-
nará a juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista derá de pedido expresso da parte interessada ou do Ministé-
rio Público, no prazo de cinco dias, contados da intimação.
dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo
em igual prazo. 
Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art.
149 caberá recurso de apelação.
Art. 197-E.  Deferida a habilitação, o postulante será ins-
crito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a Art. 199-A.  A sentença que deferir a adoção produz efei-
sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem to desde logo, embora sujeita a apelação, que será recebida
cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de ado-
crianças ou adolescentes adotáveis.  ção internacional ou se houver perigo de dano irreparável ou
§ 1o A ordem cronológica das habilitações somente po- de difícil reparação ao adotando. 
derá deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas
hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando com- Art. 199-B.  A sentença que destituir ambos ou qualquer
provado ser essa a melhor solução no interesse do adotando. dos genitores do poder familiar fica sujeita a apelação, que
§ 2o A habilitação à adoção deverá ser renovada no mí- deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo. 
nimo trienalmente mediante avaliação por equipe interpro-
fissional. Art. 199-C.  Os recursos nos procedimentos de adoção e
§ 3o Quando o adotante candidatar-se a uma nova ado- de destituição de poder familiar, em face da relevância das
ção, será dispensável a renovação da habilitação, bastando questões, serão processados com prioridade absoluta, de-
a avaliação por equipe interprofissional. vendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado que
aguardem, em qualquer situação, oportuna distribuição, e
§ 4o Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilitado, à
serão colocados em mesa para julgamento sem revisão e com
adoção de crianças ou adolescentes indicados dentro do per-
parecer urgente do Ministério Público.  
fil escolhido, haverá reavaliação da habilitação concedida.
§ 5o A desistência do pretendente em relação à guarda Art. 199-D.  O relator deverá colocar o processo em mesa
para fins de adoção ou a devolução da criança ou do adoles- para julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, con-
cente depois do trânsito em julgado da sentença de adoção tado da sua conclusão. 
importará na sua exclusão dos cadastros de adoção. Parágrafo único.  O Ministério Público será intimado da
data do julgamento e poderá na sessão, se entender necessá-
Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da habili- rio, apresentar oralmente seu parecer. 
tação à adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável
por igual período, mediante decisão fundamentada da auto- Art. 199-E.  O Ministério Público poderá requerer a ins-
ridade judiciária. tauração de procedimento para apuração de responsabili-
dades se constatar o descumprimento das providências e do
Capítulo IV prazo previstos nos artigos anteriores.  
Dos Recursos
Capítulo V
Art. 198.  Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância Do Ministério Público
e da Juventude, inclusive os relativos à execução das me-
Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta
didas socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da Lei
Lei serão exercidas nos termos da respectiva lei orgânica.
no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Ci-
vil), com as seguintes adaptações: (Redação dada pela Lei nº Art. 201. Compete ao Ministério Público:
12.594, de 2012) I - conceder a remissão como forma de exclusão do pro-
I - os recursos serão interpostos independentemente de cesso;
preparo; II - promover e acompanhar os procedimentos relativos
II - em todos os recursos, salvo nos embargos de decla- às infrações atribuídas a adolescentes;
ração, o prazo para o Ministério Público e para a defesa será III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os
sempre de 10 (dez) dias; (Redação dada pela Lei nº 12.594, procedimentos de suspensão e destituição do poder familiar,
de 2012) nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem
III - os recursos terão preferência de julgamento e dis- como oficiar em todos os demais procedimentos da compe-
pensarão revisor; tência da Justiça da Infância e da Juventude; 

118
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

IV - promover, de ofício ou por solicitação dos interes- a) reduzir a termo as declarações do reclamante, instau-
sados, a especialização e a inscrição de hipoteca legal e a rando o competente procedimento, sob sua presidência;
prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer ad- b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade
ministradores de bens de crianças e adolescentes nas hipó- reclamada, em dia, local e horário previamente notificados ou
teses do art. 98; acertados;
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para c) efetuar recomendações visando à melhoria dos serviços
a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos re- públicos e de relevância pública afetos à criança e ao adoles-
lativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos no cente, fixando prazo razoável para sua perfeita adequação.
art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal;
VI - instaurar procedimentos administrativos e, para ins- Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for
truí-los: parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na defesa
a) expedir notificações para colher depoimentos ou es- dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipótese em
clarecimentos e, em caso de não comparecimento injusti- que terá vista dos autos depois das partes, podendo juntar do-
ficado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia cumentos e requerer diligências, usando os recursos cabíveis.
civil ou militar;
b) requisitar informações, exames, perícias e documen- Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer
tos de autoridades municipais, estaduais e federais, da admi- caso, será feita pessoalmente.
nistração direta ou indireta, bem como promover inspeções e
diligências investigatórias; Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público
c) requisitar informações e documentos a particulares e acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo
instituições privadas; juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências inves-
tigatórias e determinar a instauração de inquérito policial, Art. 205. As manifestações processuais do representante
para apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção do Ministério Público deverão ser fundamentadas.
à infância e à juventude;
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias Capítulo VI
legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo Do Advogado
as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e ha- Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou respon-
beas corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na de- sável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse na so-
fesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à lução da lide poderão intervir nos procedimentos de que trata
criança e ao adolescente; esta Lei, através de advogado, o qual será intimado para todos
X - representar ao juízo visando à aplicação de penali- os atos, pessoalmente ou por publicação oficial, respeitado o
dade por infrações cometidas contra as normas de proteção segredo de justiça.
à infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da res- Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária inte-
ponsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível; gral e gratuita àqueles que dela necessitarem.
XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de
atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prá-
de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessá- tica de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será    
rias à remoção de irregularidades porventura verificadas; processado sem defensor.
XII - requisitar força policial, bem como a colaboração § 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á no-
dos serviços médicos, hospitalares, educacionais e de assis- meado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo,
tência social, públicos ou privados, para o desempenho de constituir outro de sua preferência.
suas atribuições. § 2º A ausência do defensor não determinará o adia-
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações mento de nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear
cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas substituto, ainda que provisoriamente, ou para o só efeito
mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e do ato.
esta Lei. § 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não ex- tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver sido
cluem outras, desde que compatíveis com a finalidade do indicado por ocasião de ato formal com a presença da au-
Ministério Público. toridade judiciária.
§ 3º O representante do Ministério Público, no exercí-
cio de suas funções, terá livre acesso a todo local onde se Capítulo VII
encontre criança ou adolescente. Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Di-
§ 4º O representante do Ministério Público será res- fusos e Coletivos
ponsável pelo uso indevido das informações e documentos
que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo. Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações
§ 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inci- de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à
so VIII deste artigo, poderá o representante do Ministério criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou
Público: oferta irregular:

119
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

I - do ensino obrigatório; Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar


II - de atendimento educacional especializado aos por- dos interessados compromisso de ajustamento de sua con-
tadores de deficiência; duta às exigências legais, o qual terá eficácia de título exe-
III - de atendimento em creche e pré-escola às crianças cutivo extrajudicial.
de zero a cinco anos de idade;
IV - de ensino noturno regular, adequado às condições Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos
do educando; por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações per-
V - de programas suplementares de oferta de material tinentes.
didático-escolar, transporte e assistência à saúde do educan- § 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as
do do ensino fundamental; normas do Código de Processo Civil.
VI - de serviço de assistência social visando à proteção § 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pú-
à família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem blica ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribui-
como ao amparo às crianças e adolescentes que dele neces- ções do poder público, que lesem direito líquido e certo
sitem; previsto nesta Lei, caberá ação mandamental, que se rege-
VII - de acesso às ações e serviços de saúde; rá pelas normas da lei do mandado de segurança.
VIII - de escolarização e profissionalização dos adoles-
centes privados de liberdade. Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento
IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tute-
e promoção social de famílias e destinados ao pleno exercício la específica da obrigação ou determinará providências que
do direito à convivência familiar por crianças e adolescentes.  assegurem o resultado prático equivalente ao do adimple-
X - de programas de atendimento para a execução das mento.
medidas socioeducativas e aplicação de medidas de prote- § 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e ha-
ção. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)  vendo justificado receio de ineficácia do provimento final,
§ 1o As hipóteses previstas neste artigo não excluem da é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após jus-
proteção judicial outros interesses individuais, difusos ou tificação prévia, citando o réu.
coletivos, próprios da infância e da adolescência, protegi- § 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior
dos pela Constituição e pela Lei.  ou na sentença, impor multa diária ao réu, independente-
§ 2o A investigação do desaparecimento de crianças mente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível
ou adolescentes será realizada imediatamente após noti- com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumpri-
ficação aos órgãos competentes, que deverão comunicar mento do preceito.
o fato aos portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e compa- § 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em
nhias de transporte interestaduais e internacionais, forne- julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida
cendo-lhes todos os dados necessários à identificação do desde o dia em que se houver configurado o descumpri-
desaparecido. mento.

Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propos- Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo ge-
tas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou rido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente
omissão, cujo juízo terá competência absoluta para proces- do respectivo município.
sar a causa, ressalvadas a competência da Justiça Federal e § 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o
a competência originária dos tribunais superiores. trânsito em julgado da decisão serão exigidas através de
execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos
Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
coletivos ou difusos, consideram-se legitimados concorren- § 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o di-
temente: nheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de cré-
I - o Ministério Público; dito, em conta com correção monetária.
II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal
e os territórios; Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos re-
III - as associações legalmente constituídas há pelo me- cursos, para evitar dano irreparável à parte.
nos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a
defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, dis- Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser
pensada a autorização da assembleia, se houver prévia au- condenação ao poder público, o juiz determinará a remessa
torização estatutária. de peças à autoridade competente, para apuração da res-
§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Mi- ponsabilidade civil e administrativa do agente a que se atri-
nistérios Públicos da União e dos estados na defesa dos bua a ação ou omissão.
interesses e direitos de que cuida esta Lei.
§ 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado
associação legitimada, o Ministério Público ou outro legiti- da sentença condenatória sem que a associação autora lhe
mado poderá assumir a titularidade ativa. promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, fa-
cultada igual iniciativa aos demais legitimados.

120
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar Título VII


ao réu os honorários advocatícios arbitrados na conformi- Dos Crimes e Das Infrações Administrativas
dade do § 4º do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de
1973 (Código de Processo Civil), quando reconhecer que a Capítulo I
pretensão é manifestamente infundada. Dos Crimes
Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a as-
sociação autora e os diretores responsáveis pela propositura Seção I
da ação serão solidariamente condenados ao décuplo das Disposições Gerais
custas, sem prejuízo de responsabilidade por perdas e danos.
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados
Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não ha- contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem
verá adiantamento de custas, emolumentos, honorários pe- prejuízo do disposto na legislação penal.
riciais e quaisquer outras despesas.
Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as
Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público
normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao     pro-
deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, prestan-
cesso, as pertinentes ao Código de Processo Penal.
do-lhe informações sobre fatos que constituam objeto de
ação civil, e indicando-lhe os elementos de convicção.
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pú-
Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e blica incondicionada.
tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar
a propositura de ação civil, remeterão peças ao Ministério Seção II
Público para as providências cabíveis. Dos Crimes em Espécie

Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente
poderá requerer às autoridades competentes as certidões e de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de man-
informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no ter registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo
prazo de quinze dias. referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à par-
turiente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica,
Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua declaração de nascimento, onde constem as intercorrências
presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pes- do parto e do desenvolvimento do neonato:
soa, organismo público ou particular, certidões, informações, Pena - detenção de seis meses a dois anos.
exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não pode- Parágrafo único. Se o crime é culposo:
rá ser inferior a dez dias úteis. Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
§ 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas
as diligências, se convencer da inexistência de fundamento Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de
para a propositura da ação cível, promoverá o arquivamen- estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identifi-
to dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, car corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do
fazendo-o fundamentadamente. parto, bem como deixar de proceder aos exames referidos no
§ 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informa- art. 10 desta Lei:
ção arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer Pena - detenção de seis meses a dois anos.
em falta grave, no prazo de três dias, ao Conselho Superior Parágrafo único. Se o crime é culposo:
do Ministério Público.
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
§ 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção
de arquivamento, em sessão do Conselho Superior do Mi-
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liber-
nistério público, poderão as associações legitimadas apre-
dade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante
sentar razões escritas ou documentos, que serão juntados
aos autos do inquérito ou anexados às peças de informa- de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autorida-
ção. de judiciária competente:
§ 4º A promoção de arquivamento será submetida a Pena - detenção de seis meses a dois anos.
exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que pro-
Público, conforme dispuser o seu regimento. cede à apreensão sem observância das formalidades legais.
§ 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a
promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela
órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação. apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata co-
municação à autoridade judiciária competente e à família
Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as do apreendido ou à pessoa por ele indicada:
disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985. Pena - detenção de seis meses a dois anos.

121
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua au- Art. 241.  Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou
toridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangi- outro registro que contenha cena de sexo explícito ou porno-
mento: gráfica envolvendo criança ou adolescente: 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 

Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa Art. 241-A.  Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou ado- distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive
lescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da por meio de sistema de informática ou telemático, fotogra-
apreensão: fia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo ex-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. plícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:  
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. 
Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado § 1o  Nas mesmas penas incorre quem: 
nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberdade: I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento
Pena - detenção de seis meses a dois anos. das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste
artigo; 
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de
judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do
computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata
Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei:
o caput deste artigo.
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
 § 2o  As condutas tipificadas nos incisos I e II do §
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de 1  deste artigo são puníveis quando o responsável legal
o

quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judi- pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa
cial, com o fim de colocação em lar substituto: de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa. o caput deste artigo. 

Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pu-  Art. 241-B.  Adquirir, possuir ou armazenar, por qual-
pilo a terceiro, mediante paga ou recompensa: quer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa. contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolven-
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece do criança ou adolescente: 
ou efetiva a paga ou recompensa.  Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 § 1o  A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois ter-
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato des- ços) se de pequena quantidade o material a que se refere
tinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior o caput deste artigo. 
com inobservância das formalidades legais ou com o fito de  § 2o  Não há crime se a posse ou o armazenamento
obter lucro: tem a finalidade de comunicar às autoridades competentes
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa. a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por:
ameaça ou fraude:   I – agente público no exercício de suas funções; 
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena  II – membro de entidade, legalmente constituída, que
correspondente à violência. inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento,
o processamento e o encaminhamento de notícia dos cri-
Art. 240.  Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar mes referidos neste parágrafo; 
ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou  III – representante legal e funcionários responsáveis de
pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:  
provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 
de computadores, até o recebimento do material relativo à
§ 1o  Incorre nas mesmas penas quem agencia, faci-
notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou
lita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a
participação de criança ou adolescente nas cenas referidas ao Poder Judiciário. 
no caputdeste artigo, ou ainda quem com esses contrace-  § 3o  As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão
na.   manter sob sigilo o material ilícito referido. 
§ 2o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente
comete o crime:   Art. 241-C.  Simular a participação de criança ou adoles-
I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto cente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de
de exercê-la;   adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo
II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabita- ou qualquer outra forma de representação visual: 
ção ou de hospitalidade; ou    Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 
III – prevalecendo-se de relações de parentesco consan- Parágrafo único.  Incorre nas mesmas penas quem ven-
güíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tu- de, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga
tor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem, por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material
a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com produzido na forma do caput deste artigo. 
seu consentimento.  

122
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

 Art. 241-D.  Aliciar, assediar, instigar ou constranger, § 1o  Incorre nas penas previstas no caput deste arti-
por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de go quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de
com ela praticar ato libidinoso:  quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.  internet. 
 Parágrafo único.  Nas mesmas penas incorre quem:  § 2o  As penas previstas no caput deste artigo são aumen-
 I – facilita ou induz o acesso à criança de material con- tadas de um terço no caso de a infração cometida ou induzida
tendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho
com ela praticar ato libidinoso;  de 1990. 
 II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo
com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográ- Capítulo II
fica ou sexualmente explícita.  Das Infrações Administrativas

Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por


 Art. 241-E.  Para efeito dos crimes previstos nesta Lei,
estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental,
a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” com-
pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente
preende qualquer situação que envolva criança ou adoles-
os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou
cente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente:
ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adoles- Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplican-
cente para fins primordialmente sexuais.  do-se o dobro em caso de reincidência.
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de entidade
entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma, de atendimento o exercício dos direitos constantes nos incisos
munição ou explosivo: II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.  Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplican-
do-se o dobro em caso de reincidência.
Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar,
ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização
a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou do-
produtos cujos componentes possam causar dependência fí- cumento de procedimento policial, administrativo ou judicial
sica ou psíquica: relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato infra-
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se cional:
o fato não constitui crime mais grave. Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplican-
do-se o dobro em caso de reincidência.
Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou § 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcial-
entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos mente, fotografia de criança ou adolescente envolvido em
de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga respeito
reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma a per-
dano físico em caso de utilização indevida: mitir sua identificação, direta ou indiretamente.
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa. § 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou
emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista neste
artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreen-
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais
são da publicação ou a suspensão da programação da emisso-
definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à
ra até por dois dias, bem como da publicação do periódico até
exploração sexual: 
por dois números. (Expressão declarada inconstitucional pela
Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da ADIN 869-2).
perda de bens e valores utilizados na prática criminosa em
favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária de
unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de regularizar
cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé. a guarda, adolescente trazido de outra comarca para a pres-
§ 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o ge- tação de serviço doméstico, mesmo que autorizado pelos pais
rente ou o responsável pelo local em que se verifique a ou responsável:
submissão de criança ou adolescente às práticas referidas Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplican-
no caputdeste artigo.  do-se o dobro em caso de reincidência, independentemente
§ 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cas- das despesas de retorno do adolescente, se for o caso.
sação da licença de localização e de funcionamento do es-
tabelecimento.  Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres
inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda,
Art. 244-B.  Corromper ou facilitar a corrupção de menor bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conse-
de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou lho Tutelar: 
induzindo-o a praticá-la:  Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.  cando-se o dobro em caso de reincidência.

123
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 250.  Hospedar criança ou adolescente desacompa- Pena - multa de três a vinte salários de referência, du-
nhado dos pais ou responsável, ou sem autorização escrita plicando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de
desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel apreensão da revista ou publicação.
ou congênere: 
Pena – multa.  Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o
§ 1º  Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso
multa, a autoridade judiciária poderá determinar o fecha- de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre
mento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias.  sua participação no espetáculo:
§ 2º  Se comprovada a reincidência em período inferior Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
fechado e terá sua licença cassada.  minar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.

Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qual- Art. 258-A.  Deixar a autoridade competente de provi-
quer meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 e denciar a instalação e operacionalização dos cadastros pre-
85 desta Lei: vistos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei: 
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
cando-se o dobro em caso de reincidência. (três mil reais). 
Parágrafo único.  Incorre nas mesmas penas a autori-
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetá- dade que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de
culo público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas
entrada do local de exibição, informação destacada sobre a ou casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes
natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária especifi- em regime de acolhimento institucional ou familiar.  
cada no certificado de classificação:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- Art. 258-B.  Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de
cando-se o dobro em caso de reincidência.
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar
imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso
Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer re-
de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada
presentações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade
em entregar seu filho para adoção:  
a que não se recomendem:
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
Pena - multa de três a vinte salários de referência, du-
(três mil reais). 
plicada em caso de reincidência, aplicável, separadamente,
Parágrafo único.  Incorre na mesma pena o funcionário
à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publi-
de programa oficial ou comunitário destinado à garantia do
cidade.
direito à convivência familiar que deixa de efetuar a comu-
Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espe- nicação referida no caput deste artigo. 
táculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sua
classificação: Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no in-
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; du- ciso II do art. 81:
plicada em caso de reincidência a autoridade judiciária po- Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$
derá determinar a suspensão da programação da emissora 10.000,00 (dez mil reais);
por até dois dias. Medida Administrativa - interdição do estabelecimento
comercial até o recolhimento da multa aplicada.
Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congêne-
re classificado pelo órgão competente como inadequado às Disposições Finais e Transitórias
crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da
reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dispondo
do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às diretrizes da
quinze dias. política de atendimento fixadas no art. 88 e ao que estabele-
ce o Título V do Livro II.
Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita Parágrafo único. Compete aos estados e municípios pro-
de programação em vídeo, em desacordo com a classificação moverem a adaptação de seus órgãos e programas às dire-
atribuída pelo órgão competente: trizes e princípios estabelecidos nesta Lei.
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter- Art. 260.  Os contribuintes poderão efetuar doações aos
minar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias. Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional,
distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprova-
Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e das, sendo essas integralmente deduzidas do imposto de
79 desta Lei: renda, obedecidos os seguintes limites: 

124
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido § 3o  O pagamento da doação deve ser efetuado até a
apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lu- data de vencimento da primeira quota ou quota única do
cro real; e imposto, observadas instruções específicas da Secretaria
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apu- da Receita Federal do Brasil.
rado pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, § 4o  O não pagamento da doação no prazo estabeleci-
observado o disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de do no § 3o implica a glosa definitiva desta parcela de dedu-
dezembro de 1997. ção, ficando a pessoa física obrigada ao recolhimento da di-
§ 1º - (Revogado) ferença de imposto devido apurado na Declaração de Ajuste
§ 1o-A.  Na definição das prioridades a serem atendidas Anual com os acréscimos legais previstos na legislação. 
com os recursos captados pelos fundos nacional, estaduais § 5o  A pessoa física poderá deduzir do imposto apu-
e municipais dos direitos da criança e do adolescente, serão rado na Declaração de Ajuste Anual as doações feitas, no
consideradas as disposições do Plano Nacional de Promo- respectivo ano-calendário, aos fundos controlados pelos
ção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente mu-
à Convivência Familiar e Comunitária e as do Plano Nacio- nicipais, distrital, estaduais e nacional concomitantemente
nal pela Primeira Infância.  
com a opção de que trata o caput, respeitado o limite pre-
§ 2o  Os conselhos nacional, estaduais e municipais
visto no inciso II do art. 260.
dos direitos da criança e do adolescente fixarão critérios de
utilização, por meio de planos de aplicação, das dotações
Art. 260-B.  A doação de que trata o inciso I do art. 260
subsidiadas e demais receitas, aplicando necessariamen-
te percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma poderá ser deduzida:
de guarda, de crianças e adolescentes e para programas de I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas jurí-
atenção integral à primeira infância em áreas de maior ca- dicas que apuram o imposto trimestralmente; e
rência socioeconômica e em situações de calamidade.   II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual,
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministé- para as pessoas jurídicas que apuram o imposto anualmen-
rio da Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará te. 
a comprovação das doações feitas aos fundos, nos termos Parágrafo único.  A doação deverá ser efetuada dentro
deste artigo. do período a que se refere a apuração do imposto.
§ 4º O Ministério Público determinará em cada comar-
ca a forma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo Muni- Art. 260-C.  As doações de que trata o art. 260 desta Lei
cipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, dos incen- podem ser efetuadas em espécie ou em bens. 
tivos fiscais referidos neste artigo. Parágrafo único.  As doações efetuadas em espécie de-
§ 5o  Observado o disposto no § 4o do art. 3o da Lei no vem ser depositadas em conta específica, em instituição fi-
9.249, de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que trata nanceira pública, vinculadas aos respectivos fundos de que
o inciso I do caput:  trata o art. 260.
I - será considerada isoladamente, não se submetendo a
limite em conjunto com outras deduções do imposto; e Art. 260-D.  Os órgãos responsáveis pela administração
II - não poderá ser computada como despesa operacio- das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adoles-
nal na apuração do lucro real. cente nacional, estaduais, distrital e municipais devem emitir
recibo em favor do doador, assinado por pessoa competente
Art. 260-A.  A partir do exercício de 2010, ano-calen- e pelo presidente do Conselho correspondente, especifican-
dário de 2009, a pessoa física poderá optar pela doação de do:
que trata o inciso II do caput do art. 260 diretamente em sua I - número de ordem; 
Declaração de Ajuste Anual. 
II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ)
§ 1o  A doação de que trata o caput poderá ser deduzida
e endereço do emitente; 
até os seguintes percentuais aplicados sobre o imposto apu-
III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF)
rado na declaração:
do doador;
I - (VETADO);
II - (VETADO);  IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e
III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012. V - ano-calendário a que se refere a doação.
§ 2o  A dedução de que trata o caput: § 1o  O comprovante de que trata o caput deste artigo
I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do impos- pode ser emitido anualmente, desde que discrimine os valo-
to sobre a renda apurado na declaração de que trata o inciso res doados mês a mês. 
II do caput do art. 260; § 2o  No caso de doação em bens, o comprovante
II - não se aplica à pessoa física que:  deve conter a identificação dos bens, mediante descrição
a) utilizar o desconto simplificado; em campo próprio ou em relação anexa ao comprovante,
b) apresentar declaração em formulário; ou  informando também se houve avaliação, o nome, CPF ou
c) entregar a declaração fora do prazo; CNPJ e endereço dos avaliadores.
III - só se aplica às doações em espécie; e 
IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções Art. 260-E.  Na hipótese da doação em bens, o doador
em vigor. deverá:

125
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

I - comprovar a propriedade dos bens, mediante docu- Parágrafo único.  O descumprimento do disposto nos
mentação hábil; arts. 260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder por
II - baixar os bens doados na declaração de bens e direi- ação judicial proposta pelo Ministério Público, que poderá
tos, quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, no atuar de ofício, a requerimento ou representação de qual-
caso de pessoa jurídica; e quer cidadão.
III - considerar como valor dos bens doados:
a) para as pessoas físicas, o valor constante da última Art. 260-K.  A Secretaria de Direitos Humanos da Pre-
declaração do imposto de renda, desde que não exceda o sidência da República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria
valor de mercado; da Receita Federal do Brasil, até 31 de outubro de cada ano,
b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens. arquivo eletrônico contendo a relação atualizada dos Fundos
Parágrafo único.  O preço obtido em caso de leilão não dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital,
será considerado na determinação do valor dos bens doados, estaduais e municipais, com a indicação dos respectivos nú-
exceto se o leilão for determinado por autoridade judiciária. meros de inscrição no CNPJ e das contas bancárias especí-
ficas mantidas em instituições financeiras públicas, destina-
Art. 260-F.  Os documentos a que se referem os arts. das exclusivamente a gerir os recursos dos Fundos.
260-D e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por um
prazo de 5 (cinco) anos para fins de comprovação da dedu- Art. 260-L.  A Secretaria da Receita Federal do Brasil ex-
ção perante a Receita Federal do Brasil. pedirá as instruções necessárias à aplicação do disposto nos
arts. 260 a 260-K.
Art. 260-G.  Os órgãos responsáveis pela administração
das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adoles- Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos da
cente nacional, estaduais, distrital e municipais devem: criança e do adolescente, os registros, inscrições e alterações
I - manter conta bancária específica destinada exclusi- a que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91 desta Lei
vamente a gerir os recursos do Fundo;  serão efetuados perante a autoridade judiciária da comarca
II - manter controle das doações recebidas; e  a que pertencer a entidade.
III - informar anualmente à Secretaria da Receita Fede- Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar aos
ral do Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando estados e municípios, e os estados aos municípios, os recur-
os seguintes dados por doador: sos referentes aos programas e atividades previstos nesta Lei,
a) nome, CNPJ ou CPF; tão logo estejam criados os conselhos dos direitos da criança
b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie e do adolescente nos seus respectivos níveis.
ou em bens.
Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tute-
Art. 260-H.  Em caso de descumprimento das obrigações lares, as atribuições a eles conferidas serão exercidas pela
previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal do autoridade judiciária.
Brasil dará conhecimento do fato ao Ministério Público.
Art. 263. O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
Art. 260-I.  Os Conselhos dos Direitos da Criança e do 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes alte-
Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais divul- rações:
garão amplamente à comunidade: 1) Art. 121 (...)
I - o calendário de suas reuniões; § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um
II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de terço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica
atendimento à criança e ao adolescente; de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
III - os requisitos para a apresentação de projetos a se- imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conse-
rem beneficiados com recursos dos Fundos dos Direitos da quências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante.
Criança e do Adolescente nacional, estaduais, distrital ou Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de um terço,
municipais; se o crime é praticado contra pessoa menor de catorze anos.
IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-ca- 2) Art. 129 (...)
lendário e o valor dos recursos previstos para implementa- § 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qual-
ção das ações, por projeto; quer das hipóteses do art. 121, § 4º.
V - o total dos recursos recebidos e a respectiva destina- § 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do
ção, por projeto atendido, inclusive com cadastramento na art. 121.
base de dados do Sistema de Informações sobre a Infância e 3) Art. 136 (...)
a Adolescência; e § 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é prati-
VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficiados cado contra pessoa menor de catorze anos.
com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do Ado- 4) Art. 213 (...)
lescente nacional, estaduais, distrital e municipais. Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos:
Pena - reclusão de quatro a dez anos.
Art. 260-J.  O Ministério Público determinará, em cada 5) Art. 214 (...)
Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos incenti- Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze anos:
vos fiscais referidos no art. 260 desta Lei. Pena - reclusão de três a nove anos.”

126
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de dezembro - fixar, mediante normas e procedimentos, a padroni-
de 1973, fica acrescido do seguinte item: zação de critérios técnicos, financeiros e administrativos
“Art. 102 (...) para a execução das atividades de trânsito;
6º) a perda e a suspensão do pátrio poder.” - estabelecer a sistemática de fluxos permanentes de
informações entre os seus diversos órgãos e entidades, a
Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da fim de facilitar o processo decisório e a integração do Sis-
União, da administração direta ou indireta, inclusive funda- tema.
ções instituídas e mantidas pelo poder público federal pro- É composto pelos seguintes órgãos e entidades previs-
moverão edição popular do texto integral deste Estatuto, que tos no art. 7º do Código mencionado acima:
será posto à disposição das escolas e das entidades de aten- - o Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, coorde-
dimento e de defesa dos direitos da criança e do adolescente. nador do Sistema e órgão máximo normativo e consultivo;
- os Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e o
Art. 265-A.   O poder público fará periodicamente am- Conselho de Trânsito do Distrito Federal - CONTRANDIFE,
órgãos normativos, consultivos e coordenadores;
pla divulgação dos direitos da criança e do adolescente nos
- os órgãos e entidades executivos de trânsito da
meios de comunicação social.
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
Parágrafo único.  A divulgação a que se refere o caput
- os órgãos e entidades executivos rodoviários da
será veiculada em linguagem clara, compreensível e ade- União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
quada a crianças e adolescentes, especialmente às crianças - a Polícia Rodoviária Federal;
com idade inferior a 6 (seis) anos. - as Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal;
e
Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua - as Juntas Administrativas de Recursos de Infrações -
publicação. JARI.
Parágrafo único. Durante o período de vacância deverão
ser promovidas atividades e campanhas de divulgação e es- 2. Normas gerais de circulação e conduta.
clarecimentos acerca do disposto nesta Lei. O Código de Trânsito Brasileiro estabelece normas de
circulação em relação aos usuários das vias terrestres, bem
Art. 267. Revogam-se as Leis nº 4.513, de 1964, e 6.697, como a forma de organização das vias para circulação dos
de 10 de outubro de 1979 (Código de Menores), e as demais veículos.
disposições em contrário. O art. 26 preceitua que os usuários das vias terrestres
devem:
Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e - abster-se de todo ato que possa constituir perigo ou
102º da República. obstáculo para o trânsito de veículos, de pessoas ou de
animais, ou ainda causar danos a propriedades públicas ou
privadas;
- abster-se de obstruir o trânsito ou torná-lo perigoso,
CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO (LEI atirando, depositando ou abandonando na via objetos ou
9.503/97); substâncias, ou nela criando qualquer outro obstáculo.
Os usuários das vias terrestres, portanto, devem abster-
-se de praticar qualquer conduta que possa trazer qualquer
risco a todos que possam circular na via, inclusive animais.
Também não podem praticar qualquer conduta que
1. Sistema Nacional de Trânsito: disposições gerais;
possa ocasionar danos nas propriedades, sejam elas pú-
composição e competência do Sistema Nacional de
blicas como as ruas e avenidas, por exemplo ou privadas
Trânsito.
como os imóveis.
O Sistema Nacional de Trânsito, conforme preceitua o Ademais, os usuários também devem abster-se de dei-
art. 5º do Código de Trânsito, é o conjunto de órgãos e xar qualquer objeto na via que possa ocasionar qualquer
entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos tipo de risco.
Municípios. Dentre outras das normas de conduta previstas pelo
Compete ao SINETRAN, o exercício das atividades de CTB estão:
planejamento, administração, normatização, pesquisa, re- - Observar as condições do veículo, mantendo equipa-
gistro e licenciamento de veículos, formação, habilitação mentos em boas condições de funcionamento, bem como
e reciclagem de condutores, educação, engenharia, opera- atentando para a existência de combustível suficiente, de
ção do sistema viário, policiamento, fiscalização, julgamen- forma que não haja qualquer parada imprevista do veículo
to de infrações e de recursos e aplicação de penalidades. na via.
Seus objetivos básicos estão estabelecidos no art. 6º e Art. 27. Antes de colocar o veículo em circulação nas
são os seguintes: vias públicas, o condutor deverá verificar a existência e
 - estabelecer diretrizes da Política Nacional de Trânsi- as boas condições de funcionamento dos equipamentos
to, com vistas à segurança, à fluidez, ao conforto, à defe- de uso obrigatório, bem como assegurar-se da existên-
sa ambiental e à educação para o trânsito, e fiscalizar seu cia de combustível suficiente para chegar ao local de
cumprimento; destino.

127
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

- Cabe ao condutor ter domínio de seu veículo, com a Trânsito de veículos sobre passeios, calçadas e nos
observância dos cuidados do trânsito, conforme previsto acostamentos, só poderá ocorrer para que se adentre
no art. 28. ou se saia dos imóveis ou áreas especiais de estaciona-
Art. 28. O condutor deverá, a todo momento, ter do- mento;
mínio de seu veículo, dirigindo-o com atenção e cuida- Veículos especiais
dos indispensáveis à segurança do trânsito. Os veículos de batedores terão prioridade de passa-
Outro dos deveres do condutor é manter o domínio do gem.
seu veículo. Deve dirigir com cuidado e atenção indispen- Em caso de veículos que prestem socorro, há priorida-
sáveis para a manutenção da segurança no trânsito. des que lhe são garantidas como de livre circulação, esta-
Nas vias terrestres, tendo em vista o excesso de veícu- cionamento e parada.
los, devem ser observadas normas de circulação. Estes veículos devem, porém, acionar dispositivos de
Destaca-se que a circulação deve ocorrer pelo lado di- alarme sonoro e iluminação vermelha para que os demais
reito, admitindo exceções, desde que devidamente sina- condutores possam atentar-se da necessidade de sua pas-
lizadas. sagem e deixar livre o lado esquerdo, inclusive, se neces-
O condutor deve também guardar distância lateral e sário estacionando o carro para não impedir o trânsito do
frontal em relação aos demais veículos e em relação à via. carro de socorro.
Art. 29. O trânsito de veículos nas vias terrestres Inclusive, para a passagem de veículos especiais, até
abertas à circulação obedecerá às seguintes normas: mesmo os pedestres devem atentar-se para as normas de
I - a circulação far-se-á pelo lado direito da via, ad- conduta, devendo aguardar para realização da travessia,
mitindo-se as exceções devidamente sinalizadas; ainda que esteja aberta em seu favor.
II - o condutor deverá guardar distância de seguran- Os veículos precedidos de batedores terão priori-
ça lateral e frontal entre o seu e os demais veículos, bem dade de passagem, respeitadas as demais normas de
como em relação ao bordo da pista, considerando-se, circulação;
no momento, a velocidade e as condições do local, da Os veículos destinados a socorro de incêndio e sal-
circulação, do veículo e as condições climáticas; vamento, os de polícia, os de fiscalização e operação de
- Quando não houver sinalização da via, a preferên- trânsito e as ambulâncias, além de prioridade de trânsi-
cia de passagem do condutor será da seguinte forma: to, gozam de livre circulação, estacionamento e parada,
- daquele que estiver circulando na rodovia de um flu- quando em serviço de urgência e devidamente identifi-
xo único; cados por dispositivos regulamentares de alarme sono-
- na rotatória, a preferência será daquele que estiver ro e iluminação vermelha intermitente, observadas as
nela circulando; seguintes disposições:
- nas outras situações, a preferência será do condutor a) quando os dispositivos estiverem acionados,
que vier pela direita. indicando a proximidade dos veículos, todos os con-
- Quando veículos, transitando por fluxos que se dutores deverão deixar livre a passagem pela faixa da
cruzem, se aproximarem de local não sinalizado, terá esquerda, indo para a direita da via e parando, se ne-
preferência de passagem: cessário;
a) no caso de apenas um fluxo ser proveniente de b) os pedestres, ao ouvir o alarme sonoro, deverão
rodovia, aquele que estiver circulando por ela; aguardar no passeio, só atravessando a via quando o
b) no caso de rotatória, aquele que estiver circulan- veículo já tiver passado pelo local;
do por ela; c) o uso de dispositivos de alarme sonoro e de ilumi-
c) nos demais casos, o que vier pela direita do con- nação vermelha intermitente só poderá ocorrer quando
dutor; da efetiva prestação de serviço de urgência;
Em uma pista de rolamento em que haja várias faixas d) a prioridade de passagem na via e no cruzamen-
de circulação no mesmo sentido, os veículos mais lentos to deverá se dar com velocidade reduzida e com os
devem deslocar-se pela direita. Também devem manter- devidos cuidados de segurança, obedecidas as demais
-se na pista da direita aqueles veículos de maior porte, de normas deste Código;
forma que a esquerda fique livre para o deslocamento em Quando se tratar de um veículo de utilidade pública,
maior velocidade. ele poderá parar e estacionar no local para prestação do
- Quando uma pista de rolamento comportar várias serviço. Deverá, porém, sinalizar sobre esta parada.
faixas de circulação no mesmo sentido, são as da direita Os veículos prestadores de serviços de utilidade
destinadas ao deslocamento dos veículos mais lentos pública, quando em atendimento na via, gozam de livre
e de maior porte, quando não houver faixa especial a parada e estacionamento no local da prestação de ser-
eles destinada, e as da esquerda, destinadas à ultrapas- viço, desde que devidamente sinalizados, devendo es-
sagem e ao deslocamento dos veículos de maior velo- tar identificados na forma estabelecida pelo CONTRAN;
cidade; Norma de circulação e conduta de grande importância
Outra regra de conduta de grande relevância: os veícu- e a que deve ser destinada muita atenção é sobre a ultra-
los não poderão de forma injustificada transitar nas calça- passagem.
das, passeios e acostamentos. A exceção, porém, será para Isto porque aquele que pretende fazer uma ultrapassa-
saída dos imóveis ou de áreas especiais de estacionamento. gem deverá observar o seguinte:

128
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

- que o veículo que venha atrás também não pretenda Por sua vez, as vias urbanas podem ser: de trânsito rá-
ultrapassá-lo; pido, via arterial; via coletora e via local.
- que o veículo que venha logo à frente também não Já as vias rurais se subdividem em rodovias e estradas.
esteja efetuando uma ultrapassagem; O Código de Trânsito traz as velocidades permitidas
- que haja espaço suficiente na pista para que realize a em cada uma das vias.
ultrapassagem, sem que haja qualquer risco de invasão da Art. 60. As vias abertas à circulação, de acordo com
pista contrária; sua utilização, classificam-se em:
Ainda: deverá o condutor indicar com antecedência a I - vias urbanas:
manobra que pretende realizar, podendo fazê-lo por meio a) via de trânsito rápido;
da seta ou até mesmo utilizando-se do gesto convencional b) via arterial;
com o braço. c) via coletora;
A ultrapassagem de outro veículo em movimento d) via local;
deverá ser feita pela esquerda, obedecida a sinalização II - vias rurais:
regulamentar e as demais normas estabelecidas neste a) rodovias;
Código, exceto quando o veículo a ser ultrapassado es- b) estradas.
tiver sinalizando o propósito de entrar à esquerda; O CTB determina que a velocidade máxima das vias
X - todo condutor deverá, antes de efetuar uma ul- será indicada por meio de sinalização (art. 61). Em sua au-
trapassagem, certificar-se de que: sência, porém, as velocidades vigentes serão:
a) nenhum condutor que venha atrás haja começa- Vias urbanas:
do uma manobra para ultrapassá-lo; - 80 km/h: vias de trânsito rápido;
b) quem o precede na mesma faixa de trânsito não - 60 km/h: vias arteriais;
haja indicado o propósito de ultrapassar um terceiro; - 40 km/h: vias coletoras;
c) a faixa de trânsito que vai tomar esteja livre - 30 km/h: vias locais.
numa extensão suficiente para que sua manobra não Vale atenta-se para a velocidade das vias rurais, ten-
ponha em perigo ou obstrua o trânsito que venha em do em vista terem sofrido importante alteração pela Lei
sentido contrário; 13.281/2016, conforme segue:
XI - todo condutor ao efetuar a ultrapassagem de-
verá:
Rodovias de pista dupla:
a) indicar com antecedência a manobra pretendida,
- Para automóveis, camionetas e motocicletas: 110
acionando a luz indicadora de direção do veículo ou por
km/h;
meio de gesto convencional de braço;
- Demais veículos: 90 km/h;
b) afastar-se do usuário ou usuários aos quais ultra-
passa, de tal forma que deixe livre uma distância late-
ral de segurança; Rodovias de pista simples:
c) retomar, após a efetivação da manobra, a faixa - Para automóveis, camionetas e mot;ocicletas: 100
de trânsito de origem, acionando a luz indicadora de km/h;
direção do veículo ou fazendo gesto convencional de - Para os demais veículos: 90 km/h.
braço, adotando os cuidados necessários para não pôr Estradas: 60 km/h.
em perigo ou obstruir o trânsito dos veículos que ultra-
passou; Transporte de crianças
XII - os veículos que se deslocam sobre trilhos terão Outra norma de conduta de grande relevância e inci-
preferência de passagem sobre os demais, respeitadas dência em provas trata do transporte de crianças com ida-
as normas de circulação. de inferior a dez anos que deve ocorrer sempre no banco
Outra importante norma de conduta se refere à proibi- traseiro, conforme preceitua o art. 64 do CTB.
ção de que o condutor ou passageiros deixem a porta do Sobre o transporte de crianças vale ressaltar que a
veículo aberta ou mesmo desçam do carro sem certifica- Resolução CONTRAN 277/2008 determinam que além do
rem-se de que há segurança para este desembarque. transporte de crianças (até dez anos) ter que ocorrer no
Inclusive, o Código de Trânsito determina que embar- banco traseiro, deverão sê-lo com cinto de segurança ou
que e desembarque sempre devem ocorrer pelo lado da sistema de retenção equivalente.
calçada, exceto se tratar-se do condutor. Importa esclarecer que isto deve ocorrer da seguinte
Art. 49. O condutor e os passageiros não deverão forma:
abrir a porta do veículo, deixá-la aberta ou descer do - Crianças com até um ano de idade: deverão ser trans-
veículo sem antes se certificarem de que isso não cons- portadas com dispositivo de retenção denominado “bebê
titui perigo para eles e para outros usuários da via. conforto ou conversível”;
Parágrafo único. O embarque e o desembarque de- - Crianças com idade superior a um ano e inferior ou
vem ocorrer sempre do lado da calçada, exceto para o igual a quatro anos deverão ser transportadas com dispo-
condutor. sitivo de retenção denominado “cadeirinha”;
Classificação das vias abertas Crianças com idade superior a quatro anos e inferior
O art. 60 traz importante classificação referente às vias ou igual a sete anos e meio deverão ser transportadas com
abertas. Sendo que primeiramente se dividem em: vias ur- dispositivo de retenção denominado “assento de eleva-
banas e vias rurais. ção”;

129
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Crianças com idade superior a sete anos e meio e in-  Art. 75. O CONTRAN estabelecerá, anualmente, os te-
ferior ou igual a dez anos deverão utilizar o cinto de segu- mas e os cronogramas das campanhas de âmbito nacional
rança do veículo. que deverão ser promovidas por todos os órgãos ou en-
tidades do Sistema Nacional de Trânsito, em especial nos
3. DOS PEDESTRES E CONDUTORES DE VEÍCULOS períodos referentes às férias escolares, feriados prolonga-
NÃO MOTORIZADOS dos e à Semana Nacional de Trânsito.
O Código de Trânsito traz as normas que também de- § 1º Os órgãos ou entidades do Sistema Nacional de
vem ser seguidas por pedestres e pelos condutores de veí- Trânsito deverão promover outras campanhas no âmbito
culos não motorizados. de sua circunscrição e de acordo com as peculiaridades lo-
Ao pedestre é permitida a utilização dos passeios (cal- cais.
çadas) ou passagens apropriadas das vias urbanas e acos- § 2º As campanhas de que trata este artigo são de ca-
tamentos das vias rurais para que circulem nas vias. ráter permanente, e os serviços de rádio e difusão sonora
Na ausência de passeios, os pedestres terão prioridade de sons e imagens explorados pelo poder público são obri-
de circulação na pista de rolamento. Porém, se houver sina- gados a difundi-las gratuitamente, com a frequência reco-
lização que proíba esta passagem ou mesmo a segurança mendada pelos órgãos competentes do Sistema Nacional
puder ser comprometida, não poderá transitar por estas de Trânsito.
vias, conforme assegura o art. 68 abaixo transcrito: Necessário observar que a educação para o trânsito
Art. 68. É assegurada ao pedestre a utilização dos deve ser promovida em todos os níveis de ensino, desde a
passeios ou passagens apropriadas das vias urbanas e pré-escola até o terceiro grau (ensino universitário). Estas
dos acostamentos das vias rurais para circulação, po- ações devem ser coordenadas e ficarem a cargo do Siste-
dendo a autoridade competente permitir a utilização de ma Nacional de Trânsito e de Educação.
parte da calçada para outros fins, desde que não seja Ademais, caberá aos entes da federação promoverem
prejudicial ao fluxo de pedestres. referidas campanhas em suas respectivas áreas de atuação.
 § 1º O ciclista desmontado empurrando a bicicleta Art. 76. A educação para o trânsito será promovi-
equipara-se ao pedestre em direitos e deveres. da na pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus, por
 § 2º Nas áreas urbanas, quando não houver passeios meio de planejamento e ações coordenadas entre os ór-
ou quando não for possível a utilização destes, a circulação gãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de
de pedestres na pista de rolamento será feita com priorida- Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e
de sobre os veículos, pelos bordos da pista, em fila única, dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação.
exceto em locais proibidos pela sinalização e nas situações   Parágrafo único. Para a finalidade prevista neste ar-
tigo, o Ministério da Educação e do Desporto, mediante
em que a segurança ficar comprometida.
proposta do CONTRAN e do Conselho de Reitores das Uni-
Importante: o ciclista, apenas quando estiver desmon-
versidades Brasileiras, diretamente ou mediante convênio,
tado empurrando a bicicleta está equiparado ao pedestre.
promoverá:
Desta forma, deverá agir em observância à via como
 I - a adoção, em todos os níveis de ensino, de um
faria o pedestre, estando também garantidos seus direitos
currículo interdisciplinar com conteúdo programático
em caso de eventual acidente.
sobre segurança de trânsito;
Importante observar que a calçada é destinada ao pe- II - a adoção de conteúdos relativos à educação para
destre. Se, por alguma razão, houver uma obstrução que o trânsito nas escolas de formação para o magistério e
impeça o livre trânsito de pedestres, o órgão responsável o treinamento de professores e multiplicadores;
deverá providenciar a sinalização e proteção para circula- III - a criação de corpos técnicos interprofissionais
ção dos pedestres. para levantamento e análise de dados estatísticos rela-
tivos ao trânsito;
4. DA EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO IV - a elaboração de planos de redução de acidentes
A educação também é necessária em relação ao trân- de trânsito junto aos núcleos interdisciplinares univer-
sito. Constitui, por força do determinado no artigo 74 do sitários de trânsito, com vistas à integração universida-
CTB, um direito de todos e um dever, cuja competência des-sociedade na área de trânsito.
será do Sistema Nacional de Trânsito.  
Nos artigos seguintes são trazidas as determinações 5. DA SINALIZAÇÃO DE TRÂNSITO
para as campanhas educativas de trânsito. A forma como deve ocorrer a sinalização de trânsito
Art. 74. A educação para o trânsito é direito de to- está prevista a partir do art. 80 do Código de Trânsito Bra-
dos e constitui dever prioritário para os componentes sileiro.
do Sistema Nacional de Trânsito.  Art. 80. Sempre que necessário, será colocada ao lon-
§ 1º É obrigatória a existência de coordenação educa- go da via, sinalização prevista neste Código e em legislação
cional em cada órgão ou entidade componente do Sistema complementar, destinada a condutores e pedestres, veda-
Nacional de Trânsito. da a utilização de qualquer outra.
 § 2º Os órgãos ou entidades executivos de trânsito Caberá ao CONTRAN estabelecer normas em relação à
deverão promover, dentro de sua estrutura organizacional forma de colocação das sinalizações de trânsito.
ou mediante convênio, o funcionamento de Escolas Públi- Inclusive, poderá autorizar, em caráter experimental
cas de Trânsito, nos moldes e padrões estabelecidos pelo que sejam utilizados sinais não previstos no Código, desde
CONTRAN. que por período predeterminado.

130
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 1º A sinalização será colocada em posição e condi- III - as indicações dos sinais sobre as demais normas
ções que a tornem perfeitamente visível e legível durante o de trânsito.
dia e a noite, em distância compatível com a segurança do Art. 90. Não serão aplicadas as sanções previstas
trânsito, conforme normas e especificações do CONTRAN. neste Código por inobservância à sinalização quando
§ 2º O CONTRAN poderá autorizar, em caráter experi- esta for insuficiente ou incorreta.
mental e por período prefixado, a utilização de sinalização § 1º O órgão ou entidade de trânsito com circunscrição
não prevista neste Código. sobre a via é responsável pela implantação da sinalização,
§ 3º  A responsabilidade pela instalação da sinalização respondendo pela sua falta, insuficiência ou incorreta co-
nas vias internas pertencentes aos condomínios constituí- locação.
dos por unidades autônomas e nas vias e áreas de estacio- § 2º O CONTRAN editará normas complementares no
namento de estabelecimentos privados de uso coletivo é que se refere à interpretação, colocação e uso da sinaliza-
de seu proprietário.
ção.
Necessário atentar-se para algumas proibições quanto
às sinalizações, tais quais: luzes, informes publicitários ou
mesmo vegetação que possa interferir na visibilidade das 6. VEÍCULOS
sinalizações. Disposições gerais
Inclusive, caso isto ocorra, o órgão de trânsito com- O art. 96 do CTB traz uma classificação dos veículos,
petente poderá promover a retirada de qualquer destes conforme a seguir transcrito:
elementos que estejam interferindo na visibilidade da sina- Art. 96. Os veículos classificam-se em:
lização de trânsito. I - quanto à tração:
Art. 81. Nas vias públicas e nos imóveis é proibido a) automotor;
colocar luzes, publicidade, inscrições, vegetação e mo- b) elétrico;
biliário que possam gerar confusão, interferir na visi- c) de propulsão humana;
bilidade da sinalização e comprometer a segurança do d) de tração animal;
trânsito. e) reboque ou semi-reboque;
Art. 82. É proibido afixar sobre a sinalização de
II - quanto à espécie:
trânsito e respectivos suportes, ou junto a ambos, qual-
a) de passageiros:
quer tipo de publicidade, inscrições, legendas e símbo-
los que não se relacionem com a mensagem da sinali- 1 - bicicleta;
zação. 2 - ciclomotor;
Art. 83. A afixação de publicidade ou de quaisquer 3 - motoneta;
legendas ou símbolos ao longo das vias condiciona-se 4 - motocicleta;
à prévia aprovação do órgão ou entidade com circuns- 5 - triciclo;
crição sobre a via. 6 - quadriciclo;
Art. 84. O órgão ou entidade de trânsito com cir- 7 - automóvel;
cunscrição sobre a via poderá retirar ou determinar a 8 - microônibus;
imediata retirada de qualquer elemento que prejudique 9 - ônibus;
a visibilidade da sinalização viária e a segurança do 10 - bonde;
trânsito, com ônus para quem o tenha colocado. 11 - reboque ou semi-reboque;
12 - charrete;
FIQUE ATENTO! b) de carga:
O art. 89. Determina que há uma ordem de 1 - motoneta;
prevalência entre a sinalização que deve ser 2 - motocicleta;
respeitada, qual seja: 3 - triciclo;
1ª ordens dos agentes de trânsito prevalecem 4 - quadriciclo;
sobre qualquer outra norma ou sinal; 5 - caminhonete;
2ª indicações semafóricas prevalecem sobre
outros sinais; 6 - caminhão;
3ª indicações dos sinais sobre as demais 7 - reboque ou semi-reboque;
normas de trânsito. 8 - carroça;
9 - carro-de-mão;
c) misto:
1 - camioneta;
  Art. 89. A sinalização terá a seguinte ordem de
2 - utilitário;
prevalência:
3 - outros;
  I - as ordens do agente de trânsito sobre as normas
de circulação e outros sinais; d) de competição;
II - as indicações do semáforo sobre os demais si- e) de tração:
nais; 1 - caminhão-trator;

131
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

2 - trator de rodas; § 1º A gravação será realizada pelo fabricante ou mon-


3 - trator de esteiras; tador, de modo a identificar o veículo, seu fabricante e as
4 - trator misto; suas características, além do ano de fabricação, que não
f) especial; poderá ser alterado.
g) de coleção; § 2º As regravações, quando necessárias, dependerão
III - quanto à categoria: de prévia autorização da autoridade executiva de trânsito
a) oficial; e somente serão processadas por estabelecimento por ela
b) de representação diplomática, de repartições credenciado, mediante a comprovação de propriedade do
consulares de carreira ou organismos internacionais veículo, mantida a mesma identificação anterior, inclusive
acreditados junto ao Governo brasileiro; o ano de fabricação.
c) particular; § 3º Nenhum proprietário poderá, sem prévia permis-
d) de aluguel; são da autoridade executiva de trânsito, fazer, ou ordenar
e) de aprendizagem. que se faça, modificações da identificação de seu veículo.
Ademais, sobre os veículos o CTB estabelece que cabe- DOS VEÍCULOS EM CIRCULAÇÃO INTERNACIONAL
rá ao CONTRAN estabelecer as normas para registro, licen- Sobre a circulação de veículos estrangeiros em territó-
ciamento e circulação dos veículos. rio nacional necessário observar que as repartições adua-
Destaque para o art. 98 do CTB que proíbe ao proprie-
neiras e órgãos de controle de fronteiras devem comunicar
tário do veículo realizar modificações nas características de
diretamente ao RENAVAM, a entrada e saída de veículos.
fábrica, sem antes obter autorização da autoridade com-
Ademais, veículos que sejam licenciados no exterior
petente. Ou seja, a autorização deve ser prévia a qualquer
modificação que pretenda fazer. não poderão sair do território nacional sem o pagamen-
to prévio de quaisquer valores decorrentes de multas por
Segurança dos veículos infrações de trânsito ou ressarcimento de danos que por
Para o trânsito do veículo nas vias, devem ser atendi- ventura tenham sido causados no patrimônio público.
dos os requisitos e condições de segurança previstos no Inclusive, caso saiam sem o pagamento das respecti-
CTB vas despesas, serão retidos até a regularização da situação,
Ademais, existem equipamentos obrigatórios nos veí- conforme arts. 118 e 119 do CTB. 
culos previstos no art. 105 do CTB, quais sejam:
- cinto de segurança. Exceto: nos veículos destinados Registro de veículos
ao transporte de passageiros em percursos em que seja  Sobre o registro de veículos, o CTB determina, no art.
permitido viajar em pé; 120, que todo veículo automotor, elétrico, articulado, rebo-
- nos veículos de transporte e de condução escolar, os que ou semi-reboque, deve ser registrado perante o órgão
de transporte de passageiros com mais de dez lugares e executivo de trânsito do Estado ou do Distrito Federal, no
os de carga com peso bruto total superior a quatro mil, Município de domicílio ou residência de seu proprietário.
quinhentos e trinta e seis quilogramas, equipamento regis- Com o registro do veículo, será expedido o CRV- Cer-
trador instantâneo inalterável de velocidade e tempo; tificado de Registro de Veículo que deve conter as caracte-
- encosto de cabeça, para todos os tipos de veículos rísticas e condições, de forma a tornar impossível a falsifi-
automotores, segundo normas estabelecidas pelo CON- cação e adulteração. Assim preceitua o art. 121:
TRAN;  Art. 121. Registrado o veículo, expedir-se-á o Cer-
- dispositivo destinado ao controle de emissão de ga- tificado de Registro de Veículo - CRV de acordo com os
ses poluentes e de ruído, segundo normas estabelecidas modelos e especificações estabelecidos pelo CONTRAN,
pelo CONTRAN. contendo as características e condições de invulnerabi-
- para as bicicletas, a campainha, sinalização noturna lidade à falsificação e à adulteração.
dianteira, traseira, lateral e nos pedais, e espelho retrovisor A expedição do CRV dependerá que o proprietário
do lado esquerdo.
apresente os seguintes documentos (art. 122): 
- equipamento suplementar de retenção - air bag fron-
- nota fiscal fornecida pelo fabricante ou revendedor,
tal para o condutor e o passageiro do banco dianteiro.     
ou documento equivalente expedido por autoridade com-
Identificação do veículo petente;
Sobre a identificação estabelece o CTB que o veículo - documento fornecido pelo Ministério das Relações
deverá ser identificado com caracteres gravados no chassi Exteriores, quando se tratar de veículo importado por
ou monobloco.  membro de missões diplomáticas, de repartições consula-
Ademais, a identificação do veículo deverá ocorrer por res de carreira, de representações de organismos interna-
meio de placas dianteira e traseira, respeitadas especifica- cionais e de seus integrantes.
ções e modelos que serão estabelecidos pelo CONTRAN, Ademais, sempre que houver transferência de proprie-
conforme arts. 114 e 115. dade, mudança de município de domicílio ou residência,
Art. 114. O veículo será identificado obrigatoria- alteração de características do veículo ou mudança de ca-
mente por caracteres gravados no chassi ou no mo- tegoria, será necessária a expedição de novo CRV, confor-
nobloco, reproduzidos em outras partes, conforme dis- me determina o art. 123 CTB.
puser o CONTRAN.

132
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

- cintos de segurança em número igual à lotação;


FIQUE ATENTO! - outros requisitos e equipamentos obrigatórios esta-
belecidos pelo CONTRAN
- Prazo para que o proprietário providencie
Além disto, para a condução destes veículos, a pessoa
novo CRV quando houver mudança de
deverá preencher os seguintes requisitos (art. 138 CTB):
propriedade : 30 dias;
- ter idade superior a vinte e um anos;
- Prazo para que o proprietário comunique - ser habilitado na categoria D;
mudança de domicílio ou residência no mesmo - não ter cometido nenhuma infração grave ou gravís-
município : 30 dias. sima, ou ser reincidente em infrações médias durante os
doze últimos meses;
- ser aprovado em curso especializado, nos termos da
Licenciamento regulamentação do CONTRAN.
O licenciamento de qualquer veículo automotor, elé-
trico, articulado, reboque ou semi-reboque deverá ocorrer 8. Condução de Motofrete.
anualmente perante o órgão executivo de trânsito do Es- A circulação de motocicletas e motonetas destinadas
tado ou Distrito Federal, onde houver sido registrado, con- ao transporte remunerado de mercadorias chamadas no
forme preceitua o art. 130. CTB (art. 139-A) de moto-fretes dependerão para circula-
O condutor deverá obrigatoriamente portar o Certifi- ção, de autorização emitida pelo órgão ou entidade execu-
tivo de trânsito dos Estados ou do Distrito Federal.
cado de Licenciamento Anual, conforme determina o art.
Para tanto devem cumprir os seguintes requisito (art.
133 CTB.
139-A):
- registro como veículo da categoria de aluguel;
– instalação de protetor de motor mata-cachorro, fi-
FIQUE ATENTO! xado no chassi do veículo, destinado a proteger o motor
e a perna do condutor em caso de tombamento, nos ter-
- se houver transferência de propriedade, o
mos de regulamentação do Conselho Nacional de Trânsito
proprietário antigo deverá encaminhar ao
– Contran;
órgão executivo de trânsito do Estado em que - instalação de aparador de linha antena corta-pipas,
o veículo estiver registrado, no prazo de trinta nos termos de regulamentação do Contran.
dias, a cópia autenticada do comprovante de - inspeção semestral para verificação dos equipamen-
transferência de propriedade, devidamente tos obrigatórios e de segurança.
assinado e datado. Necessário constar que é proibido que estes veículos
Caso não cumpra esta providência, poderá ter transportem combustíveis, produtos inflamáveis ou tóxicos
que se responsabilizar de forma solidária pelas e de galões, conforme preceitua o art. 139-A, § 2º CTB.
penas impostas ao veículo e suas reincidências Poderão apenas transportar gás de cozinha e galões
até a data da comunicação. contendo água mineral.

9. Habilitação.
7. Condução de escolares. Para que a pessoa possa obter sua habilitação para
Os veículos de condução escolares dependerão de au- condução de veículos automotor e elétrico deverá realizar
torização emitida pelo órgão ou entidade executivos de exames perante o órgão ou entidade executivos do Estado
trânsito dos Estados e Distrito Federal para circulação na ou Distrito Federal.
via, conforme determina o art. 136 CTB. O órgão competente para realização destes exames
Para tanto devem preencher as seguintes exigências será do domicílio ou residência do candidato ou na sede
(art. 136 CTB): estadual ou distrital do próprio órgão, conforme previsto
no art. 140 do CTB.
- registro como veículo de passageiros;
Para tanto, a pessoa deve preencher os seguintes re-
- inspeção semestral para verificação dos equipamen-
quisitos:
tos obrigatórios e de segurança;
- ser penalmente imputável: a pessoa deverá ter ca-
- pintura de faixa horizontal na cor amarela, com qua- pacidade para poder ser responsabilizada por infrações
renta centímetros de largura, à meia altura, em toda a ex- penais;
tensão das partes laterais e traseira da carroçaria, com o - saber ler e escrever;
dístico ESCOLAR, em preto, sendo que, em caso de veículo - possuir Carteira de Identidade ou equivalente.
de carroçaria pintada na cor amarela, as cores aqui indica- A habilitação será concedida nas categorias da seguin-
das devem ser invertidas; te forma (art. 143):
- equipamento registrador instantâneo inalterável de - Categoria A - condutor de veículo motorizado de
velocidade e tempo; duas ou três rodas, com ou sem carro lateral;
- lanternas de luz branca, fosca ou amarela dispostas - Categoria B - condutor de veículo motorizado, não
nas extremidades da parte superior dianteira e lanternas de abrangido pela categoria A, cujo peso bruto total não exce-
luz vermelha dispostas na extremidade superior da parte da a três mil e quinhentos quilogramas e cuja lotação não
traseira; exceda a oito lugares, excluído o do motorista;

133
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

- Categoria C - condutor de veículo motorizado utiliza- 10. Infrações. Penalidades. Medidas e processos ad-
do em transporte de carga, cujo peso bruto total exceda a ministrativos.
três mil e quinhentos quilogramas; Infrações de trânsito são as condutas que não obser-
Fique Atento!: para que a pessoa busque sua habilita- vem qualquer preceito previsto no Código de Trânsito Bra-
ção na Categoria C, deverá estar habilitada há um ano na sileiro, a legislação complementar ou qualquer das resolu-
categoria B e não ter cometido nenhuma infração grave ou ções do CONTRAN, conforme determina o art. 161 do CTB.
gravíssima, ou ser reincidente em infrações médias, duran- O infrator estará sujeito às penalidades e medidas ad-
te os últimos doze meses. ministrativas determinadas no Código.
- Categoria D - condutor de veículo motorizado utiliza- Os artigos 162 a 255 preceituam todas as condutas
do no transporte de passageiros, cuja lotação exceda a oito consideradas infrações de trânsito, as respectivas penalida-
lugares, excluído o do motorista; des e medidas administrativas.
- Categoria E - condutor de combinação de veículos Para consulta e estudo das infrações, veja este link:
em que a unidade tratora se enquadre nas categorias B, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9503.htm
C ou D e cuja unidade acoplada, reboque, semirreboque, O art. 256 estabelece quais são as penalidades a que
trailer ou articulada tenha 6.000 kg (seis mil quilogramas) estarão sujeitos os infratores de trânsito.
ou mais de peso bruto total, ou cuja lotação exceda a 8 São as seguintes:
(oito) lugares. - advertência por escrito;
Ainda, importa dizer que o indivíduo para habilitar-se - multa;
nas categorias D e E ou ainda quando pretender conduzir - suspensão do direito de dirigir;
veículos de transporte coletivo de passageiros, escolares, - cassação da Carteira Nacional de Habilitação;
de emergência ou de produtos perigosos deverá preencher - cassação da Permissão para Dirigir;
os seguintes requisitos (art. 145 CTB): - frequência obrigatória em curso de reciclagem.
I - ser maior de vinte e um anos; Importa esclarecer que a pessoa que pratique uma in-
II - estar habilitado: fração de trânsito poderá sofrer uma penalidade, o que não
a) no mínimo há dois anos na categoria B, ou no impede que também sofra uma pena, caso esta infração
mínimo há um ano na categoria C, quando pretender constitua um ilício penal, ou seja, um crime de trânsito (art.
habilitar-se na categoria D; e 256, § 1º CTB).
b) no mínimo há um ano na categoria C, quando As penalidades podem ser impostas conta o condutor,
pretender habilitar-se na categoria E; proprietário, embarcador e transportador.
III - não ter cometido nenhuma infração grave ou O condutor, responderá sempre que a infração decor-
gravíssima ou ser reincidente em infrações médias du- rer de ato praticado na direção do veículo (art. 257, § 3º
rante os últimos doze meses; CTB);
IV - ser aprovado em curso especializado e em curso O proprietário responderá por infrações sempre que a
de treinamento de prática veicular em situação de risco, responsabilidade decorrer de prévia regularização e preen-
nos termos da normatização do CONTRAN. chimento de formalidades exigidas para o trânsito do veí-
Quando o candidato for aprovado, após a realização culo (art. 257, § 2º CTB);
dos exames, para dirigir receberá a Permissão para Dirigir O embarcador responde pela infração relativa ao trans-
que terá validade de um ano (art. 148, § 2º). porte de carga com excesso de peso nos eixos ou peso
Assim, transcorrido o primeiro ano, receberá a Carteira bruto total, desde que seja o único remetente da carga e se
Nacional de Habilitação, desde que não tenha cometido o peso declarado for inferior ao que houver sido informado
qualquer infração de natureza grave ou gravíssima ou que na documentação por ele apresentada (art. 257, § 4º CTB);
não seja reincidente em infração média (art. 148, § 3º). O transportador responderá pela infração se o trans-
O condutor deverá sempre que estiver dirigindo portar porte de carga em excesso de peso for proveniente de mais
a Permissão para Dirigir ou a Carteira Nacional de Habilita- de um embarcador e ultrapassar o peso bruto total. Obser-
ção, conforme determina o art. 159, § 1º CTB). ve que nesta situação, fica excluída a responsabilidade do
Importante regra está prevista no art. 160 CTB. O con- embarcador. (art. 257, § 5º CTB).
dutor condenado por delito de trânsito deverá ser subme- O transportador responderá solidariamente ao embar-
tido a novos exames para que que possa voltar a dirigir, de cador pela infração relativa ao excesso do peso bruto total,
acordo com as normas estabelecidas pelo CONTRAN. se o peso declarado na documentação for superior ao limi-
Inclusive, em caso de acidente grave, o condutor en- te legal (art. 257, § 6º CTB).
volvido poderá ser submetido a outros exames que pode- A cada infração cometida são computados os seguin-
rão ser determinados pela autoridade executiva estadual tes números de pontos (art. 259 CTB):
de trânsito. I - gravíssima - sete pontos;
Destaca-se que a autoridade de trânsito poderá tam- II - grave - cinco pontos;
bém apreender o documento de habilitação do condutor III - média - quatro pontos;
até a sua aprovação nos exames realizados (art. 160, § § 1º IV - leve - três pontos.
e 2º). A aplicação das penalidades será realizada da seguinte
forma:

134
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Suspensão para dirigir (art. 261 CTB): Julgamento (art. 281 CTB): caberá à autoridade de trân-
- sempre que o infrator atingir a contagem de 20 (vin- sito por meio da análise do auto de infração.
te) pontos, no período de 12 (doze) meses; Será arquivado o auto:
II - por transgressão às normas estabelecidas neste Có- - se considerado inconsistente ou irregular;
digo, cujas infrações preveem, de forma específica, a pena- - se, no prazo de trinta dias, não for expedida a notifi-
lidade de suspensão do direito de dirigir cação da autuação.
Cassação do documento de habilitação ocorrerá(art. Aplicação da penalidade (art. 282 CTB): na sequência
263 CTB) deverá ser expedida notificação ao proprietário do veículo
I - quando, suspenso o direito de dirigir, o infrator con- ou ao infrator.
duzir qualquer veículo;
II - no caso de reincidência, no prazo de doze meses, 11. Crimes de Trânsito.
das infrações previstas no inciso III do art. 162 e nos arts. Nos crimes de trânsito serão aplicadas as normas ge-
163, 164, 165, 173, 174 e 175; rais do Código Penal e do Código de Processo Penal, bem
III - quando condenado judicialmente por delito de como a Lei 9.099/95.
trânsito, observado o disposto no art. 160.
Quando se tratar de crime de trânsito em que ocorrer
O condutor poderá requerer sua reabilitação, transcor-
lesão corporal culposa poderão ser aplicadas a composição
ridos dois anos da data em que houve a cassação da CNH.
de danos; aplicação imediata de penas restritivas de direi-
Para tanto, deverá submeter-se a todos os exames neces-
tos e multa; suspensão condicional do processo.
sários (art. 263, § 2º CTB).
Destaca-se que as penalidades de suspensão do direi- Tratam-se de benefícios estabelecidos em lei que po-
to de dirigir e de cassação da CNH, deverão advir de deci- derão ser oferecidos ao réu.
são fundamentada da autoridade de trânsito, proferida em Porém, não fará jus a referidos benefícios aquele que
processo administrativo, assegurado ao infrator o direito à houver praticado o crime nas seguintes circunstâncias (art.
ampla defesa. (art. 265 CTB). 291, § 1º CTB):
Finalmente, o infrator será submetido a curso de reci- - sob a influência de álcool ou qualquer outra substân-
clagem nas seguintes situações (art. 268 CTB): cia psicoativa que determine dependência;
I - quando, sendo contumaz, for necessário à sua ree- - participando, em via pública, de corrida, disputa ou
ducação; competição automobilística, de exibição ou demonstração
II - quando suspenso do direito de dirigir; de perícia em manobra de veículo automotor, não autori-
III - quando se envolver em acidente grave para o qual zada pela autoridade competente;
haja contribuído, independentemente de processo judicial; - transitando em velocidade superior à máxima per-
IV - quando condenado judicialmente por delito de mitida para a via em 50 km/h (cinquenta quilômetros por
trânsito; hora).
V - a qualquer tempo, se for constatado que o condu- As penalidades de suspensão ou a proibição de se ob-
tor está colocando em risco a segurança do trânsito; ter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo auto-
VI - em outras situações a serem definidas pelo CON- motor poderão ser impostas isolada ou cumulativamente
TRAN. com outras penalidades (art. 292 CTB).
Dentre as medidas administrativas podem ocorrer: re- A penalidade de suspensão ou de proibição de se ob-
tenção do veículo; remoção do veículo; recolhimento da ter a permissão ou a habilitação, para dirigir veículo auto-
CNH ou do Certificado de Registro, conforme previsto no motor, tem a duração de dois meses a cinco anos (art. 293
art. 269 CTB. CTB).
Processo Administrativo
O processo administrativo terá as seguintes fases:
Fique Atento!:
- autuação;
- 48 horas: é o prazo que o réu terá, para entregar a
- julgamento;
Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação, após o
- aplicação das penalidades.
trânsito em julgado da sentença condenatória,
Autuação (art. 280 CTB): ocorrerá com a lavratura do
auto de infração decorrente da infração cometida. Durante a investigação ou ação penal, o juiz poderá
No auto deverá constar: determinar de forma motivada decretar, em decisão mo-
I- tipificação da infração; tivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para
II - local, data e hora do cometimento da infração; dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção
III - caracteres da placa de identificação do veículo, sua (art. 294 CTB).
marca e espécie, e outros elementos julgados necessários Circunstâncias que sempre agravam as penalidades
à sua identificação; dos crimes de trânsito (art. 298 CTB):
IV - o prontuário do condutor, sempre que possível; I - com dano potencial para duas ou mais pessoas ou
V - identificação do órgão ou entidade e da autorida- com grande risco de grave dano patrimonial a terceiros;
de ou agente autuador ou equipamento que comprovar a II - utilizando o veículo sem placas, com placas falsas
infração; ou adulteradas;
VI - assinatura do infrator, sempre que possível, valen- III - sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de
do esta como notificação do cometimento da infração. Habilitação;

135
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

IV - com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilita- § 3o  A decisão que fixar as metas anuais estabelecerá
ção de categoria diferente da do veículo; as respectivas margens de tolerância.
V - quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados § 4o  As metas serão fixadas pelo Contran para cada
especiais com o transporte de passageiros ou de carga; um dos Estados da Federação e para o Distrito Federal, me-
VI - utilizando veículo em que tenham sido adulterados diante propostas fundamentadas dos Cetran, do Contran-
equipamentos ou características que afetem a sua segu- dife e do Departamento de Polícia Rodoviária Federal, no
rança ou o seu funcionamento de acordo com os limites âmbito das respectivas circunscrições.   
de velocidade prescritos nas especificações do fabricante; Ademais, o § 4º acima mencionado, informa que serão
VII - sobre faixa de trânsito temporária ou permanen- fixadas metas no âmbito dos Estados e do Distrito Federal
temente destinada a pedestres pelo CONTRAN de cada um destes.      
O condutor que se envolver em acidente de trânsito § 5o  Antes de submeterem as propostas ao Contran,
com vítima não será preso em flagrante e nem poderá lhe os Cetran, o Contrandife e o Departamento de Polícia Ro-
ser imposta fiança, desde que preste imediato e integral doviária Federal realizarão consulta ou audiência pública
socorro à vítima (art. 301 CTB). para manifestação da sociedade sobre as metas a serem
Os crimes de trânsito estão previstos nos artigos 302 à propostas.
312-A do Código de Trânsito Brasileiro. Por sua vez, o § 5º afirma que antes de definirem tais
A Lei 13.614 promulgada em 11 de janeiro de 2018 tem metas no âmbito dos Estados, o Departamento de Polícia
por objetivo a criação do Plano Nacional de Redução de Rodoviária Federal deverá realizar consultas públicas para
Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans). que a sociedade possa participar no intuito de manifestar-
Assim, foram acrescentados, por força da referida lei, -se sobre as metas propostas.
dispositivos à Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Có- § 6o  As propostas dos Cetran, do Contrandife e do
digo de Trânsito Brasileiro), para estabelecer regras sobre o Departamento de Polícia Rodoviária Federal serão encami-
regime de metas de redução de índice de mortos no trân- nhadas ao Contran até o dia 1o de agosto de cada ano,
sito por grupos de habitantes e de índice de mortos no acompanhadas de relatório analítico a respeito do cumpri-
trânsito por grupos de veículos. mento das metas fixadas para o ano anterior e de exposi-
É de conhecimento notório que as mortes de trânsito, ção de ações, projetos ou programas, com os respectivos
nos últimos anos, atingiram níveis muito altos em virtude orçamentos, por meio dos quais se pretende cumprir as
metas propostas para o ano seguinte.
da inobservância das regras de trânsito, bem como impru-
§ 7o  As metas fixadas serão divulgadas em setembro,
dência dos motoristas na condução de veículos automo-
durante a Semana Nacional de Trânsito, assim como o de-
tores motivada também pelo uso de álcool e substâncias
sempenho, absoluto e relativo, de cada Estado e do Distrito
ilícitas.
Federal no cumprimento das metas vigentes no ano an-
Assim, foi criado o Plano Nacional de Redução de Mor-
terior, detalhados os dados levantados e as ações realiza-
tes e Lesões no Trânsito (Pnatrans). O art. 326-A inserido no
das por vias federais, estaduais e municipais, devendo tais
Código de Trânsito Brasileiro preceitua que os integrantes
informações permanecer à disposição do público na rede
do SINETRAN devem objetivar o cumprimento de metas mundial de computadores, em sítio eletrônico do órgão
anuais para a redução de índice de mortos por grupos de máximo executivo de trânsito da União
veículos e também por grupo de habitantes. As propostas para fixação das metas deverão ser enca-
Art. 326-A. A atuação dos integrantes do Sistema Na- minhadas anualmente até 1º de agosto, acompanhadas de
cional de Trânsito, no que se refere à política de segurança relatório que informe os avanços obtidos no ano anterior.
no trânsito, deverá voltar-se prioritariamente para o cumpri- Em setembro de cada ano, durante a Semana Nacional
mento de metas anuais de redução de índice de mortos por de Trânsito, as metas serão divulgadas, juntamente com o
grupo de veículos e de índice de mortos por grupo de habi- relatório referente ao trabalho de cada Estado no ano an-
tantes, ambos apurados por Estado e por ano, detalhando-se terior para redução dos índices de mortes.
os dados levantados e as ações realizadas por vias federais, § 8o  O Contran, ouvidos o Departamento de Polícia
estaduais e municipais. Rodoviária Federal e demais órgãos do Sistema Nacional
§ 1o  O objetivo geral do estabelecimento de metas é, de Trânsito, definirá as fórmulas para apuração dos índices
ao final do prazo de dez anos, reduzir à metade, no míni- de que trata este artigo, assim como a metodologia para
mo, o índice nacional de mortos por grupo de veículos e o a coleta e o tratamento dos dados estatísticos necessários
índice nacional de mortos por grupo de habitantes, relati- para a composição dos termos das fórmulas.
vamente aos índices apurados no ano da entrada em vigor § 9o  Os dados estatísticos coletados em cada Estado e
da lei que cria o Plano Nacional de Redução de Mortes e no Distrito Federal serão tratados e consolidados pelo res-
Lesões no Trânsito (Pnatrans).      pectivo órgão ou entidade executivos de trânsito, que os
Conforme se verifica do § 1º, o objetivo geral do Plano repassará ao órgão máximo executivo de trânsito da União
é a redução pela metade do número de mortos por grupo até o dia 1o de março, por meio do sistema de registro na-
de veículos e o índice nacional de mortos por grupos de cional de acidentes e estatísticas de trânsito.
habitantes no prazo já determinado de dez anos.     § 10.  Os dados estatísticos sujeitos à consolidação pelo
§ 2o  As metas expressam a diferença a menor, em órgão ou entidade executivos de trânsito do Estado ou do
base percentual, entre os índices mais recentes, oficialmen- Distrito Federal compreendem os coletados naquela circuns-
te apurados, e os índices que se pretende alcançar. crição:

136
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

I - pela Polícia Rodoviária Federal e pelo órgão executivo Destaca-se que a obrigação de sinalizar é do respon-
rodoviário da União; sável pela execução ou manutenção da obra ou do evento
II - pela Polícia Militar e pelo órgão ou entidade executi- (art. 95, § 1º CTB).
vos rodoviários do Estado ou do Distrito Federal; 48 horas: é o prazo mínimo para que a autoridade de
III - pelos órgãos ou entidades executivos rodoviários e trânsito com circunscrição sobre a via avise a comunidade,
pelos órgãos ou entidades executivos de trânsito dos Muni- por intermédio dos meios de comunicação social, sobre
cípios. qualquer interdição da via, indicando-se os caminhos alter-
§ 11.  O cálculo dos índices, para cada Estado e para o nativos a serem utilizados, salvo situações de emergência
Distrito Federal, será feito pelo órgão máximo executivo de (art. 95, § 2º CTB).
trânsito da União, ouvidos o Departamento de Polícia Ro-
doviária Federal e demais órgãos do Sistema Nacional de 13. Distribuição de competências dos órgãos exe-
Trânsito. cutivos de trânsito.
§ 12.  Os índices serão divulgados oficialmente até o dia O Sistema Nacional de Trânsito é composto pelos se-
31 de março de cada ano. guintes órgãos e entidades (art. 7º):
§ 13.  Com base em índices parciais, apurados no de- -Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, coorde-
correr do ano, o Contran, os Cetran e o Contrandife poderão nador do Sistema e órgão máximo normativo e consultivo;
recomendar aos integrantes do Sistema Nacional de Trânsito - Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e o Conse-
alterações nas ações, projetos e programas em desenvolvi- lho de Trânsito do Distrito Federal - CONTRANDIFE, órgãos
mento ou previstos, com o fim de atingir as metas fixadas normativos, consultivos e coordenadores;
para cada um dos Estados e para o Distrito Federal. - Órgãos e entidades executivos de trânsito da União,
§ 14.  A partir da análise de desempenho a que se re- dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
fere o § 7o deste artigo, o Contran elaborará e divulgará, - Órgãos e entidades executivos rodoviários da União,
também durante a Semana Nacional de Trânsito: dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
I - duas classificações ordenadas dos Estados e do Distri- - Polícia Rodoviária Federal;
to Federal, uma referente ao ano analisado e outra que con- - Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal; e
sidere a evolução do desempenho dos Estados e do Distrito - Juntas Administrativas de Recursos de Infrações -
Federal desde o início das análises; JARI.
II - relatório a respeito do cumprimento do objetivo geral O Código de Trânsito estabelece competências para
cada um deles, sendo assim dividas:
do estabelecimento de metas previsto no § 1o deste artigo.
CONTRAN (art. 12 CTB):
Os índices serão acompanhados e com base nas par-
- estabelecer as normas regulamentares referidas neste
ciais informadas anualmente, o Contran, os Cetrans e o
Código e as diretrizes da Política Nacional de Trânsito;
Contrandife poderão recomendar aos integrantes no SINE-
- coordenar os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito,
TRAN, alterações nas ações, projetos e programas, sempre
objetivando a integração de suas atividades;
com o objetivo de alcance das metas fixadas para cada um
- criar Câmaras Temáticas;
dos Estados e Distrito Federal.
- estabelecer seu regimento interno e as diretrizes para
o funcionamento dos CETRAN e CONTRANDIFE;
12. Engenharia de Tráfico, Operação, Fiscalização e - estabelecer as diretrizes do regimento das JARI;
Policiamento Ostensivo de Trânsito. - zelar pela uniformidade e cumprimento das normas
O CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito) é um ór- contidas neste Código e nas resoluções complementares;
gão consultivo e normativo que compõe o SINETRAN, pre- - estabelecer e normatizar os procedimentos para a
visto no art. 7º, inciso I. imposição, a arrecadação e a compensação das multas por
Caberá ao órgão estabelecer as normas e regulamen- infrações cometidas em unidade da Federação diferente da
tos a serem adotados em todo o território nacional quando do licenciamento do veículo;
da implementação das soluções adotadas pela Engenharia - estabelecer e normatizar os procedimentos para a
de Tráfego, assim como padrões a serem praticados por aplicação das multas por infrações, a arrecadação e o re-
todos os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trân- passe dos valores arrecadados;
sito (art. 91 CTB). - responder às consultas que lhe forem formuladas, re-
Um projeto de edificação que possa transformar-se em lativas à aplicação da legislação de trânsito;
pólo atrativo de trânsito, deverá ser aprovado pelo órgão - normatizar os procedimentos sobre a aprendizagem,
ou entidade que tenha circunscrição sobre a via. Ademais, habilitação, expedição de documentos de condutores, e re-
para que ocorra esta aprovação, no projeto deverá constar gistro e licenciamento de veículos;
área para estacionamento e indicação de vias de acesso - aprovar, complementar ou alterar os dispositivos de
adequadas (art. 93 CTB). sinalização e os dispositivos e equipamentos de trânsito;
Além disso, obras ou eventos que possam perturbar - apreciar os recursos interpostos contra as decisões
ou interromper a livre circulação de veículos e pedestres, das instâncias inferiores, na forma deste Código;
ou colocar em risco sua segurança, necessitará de permis- - avocar, para análise e soluções, processos sobre con-
são prévia do órgão ou entidade de trânsito com circuns- flitos de competência ou circunscrição, ou, quando neces-
crição sobre a via (art. 95 CTB). sário, unificar as decisões administrativas; e

137
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

- dirimir conflitos sobre circunscrição e competência Normas do CONTRAN e do DENATRAN aplicadas à


de trânsito no âmbito da União, dos Estados e do Distrito Fiscalização e Operação de Trânsito.
Federal. O CONTRAN é órgão normativo e consultivo do SINE-
- normatizar o processo de formação do candidato à TRAN, previsto no art. 7º, inciso I do Código de Trânsito
obtenção da Carteira Nacional de Habilitação, estabele- Brasileiro.
cendo seu conteúdo didático-pedagógico, carga horária, Terá competência para estabelecer as normas e regu-
avaliações, exames, execução e fiscalização. lamentos a serem adotados em todo o território nacional
Conselhos Estaduais de Trânsito- CETRAN e Conselho quando da implementação das soluções adotadas pela En-
de Trânsito do Distrito Federal (art. 14 CTB): genharia de Tráfego, assim como padrões a serem pratica-
Dentre outras competências, caberá a estes órgãos: dos por todos os órgãos e entidades do Sistema Nacional
- cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de de Trânsito.
trânsito, no âmbito das respectivas atribuições; O DENATRAN (Departamento Nacional de Trânsito) é
- elaborar normas no âmbito das respectivas compe- um órgão executivo do SINETRAN (Sistema Nacional de
Trânsito). Sua sede fica localizada em Brasília. Caberá ao
tências;
órgão, além de fiscalização do cumprimento das normas
- responder a consultas relativas à aplicação da legisla-
de trânsito, a execução de diretrizes estabelecidas pelo
ção e dos procedimentos normativos de trânsito;
CONTRAN.
- estimular e orientar a execução de campanhas edu- Assim, CONTRAN e DENATRAN atuam de forma coor-
cativas de trânsito; denada, à medida que o primeiro estabelece as normas e o
JARI (art. 17 CTB): segundo será responsável por sua execução.
- julgar os recursos interpostos pelos infratores; Dentre as normas aplicadas à fiscalização e operação
- solicitar aos órgãos e entidades executivos de trânsi- de trânsito é possível mencionar:
to e executivos rodoviários informações complementares
relativas aos recursos, objetivando uma melhor análise da Resolução n.º 108 de 21 de dezembro de 1999:
situação recorrida; “Art. 1º. Fica estabelecido que o proprietário do veículo
- encaminhar aos órgãos e entidades executivos de será sempre responsável pelo pagamento da penalidade
trânsito e executivos rodoviários informações sobre pro- de multa, independente da infração cometida, até mesmo
blemas observados nas autuações e apontados em recur- quando o condutor for indicado como condutor-infrator
sos, e que se repitam sistematicamente. nos termos da lei, não devendo ser registrado ou licencia-
As competências dos demais órgãos estão estabeleci- do o veículo sem que o seu proprietário efetue o pagamen-
das da seguinte forma: no artigo 19 (órgão máximo exe- to do débito de multas, excetuando-se as infrações resul-
cutivo de trânsito da União); artigo 20 (Polícia Rodoviária tantes de excesso de peso que obedecem ao determinado
Federal); artigo 21 (órgãos e entidades executivos rodoviá- no art. 257 e parágrafos do Código de Trânsito Brasileiro.”
rios); artigo 22 (órgãos ou entidades executivos de trânsito
Resolução n.º 391 de 30 de agosto de 2011: “Art.
dos Estados e do Distrito Federal); artigo 23 (Polícia Militar
2º O transporte de criança com idade inferior a dez anos
dos Estados e do Distrito Federal); artigo 24 (órgãos e enti- poderá ser realizado no banco dianteiro do veículo, com
dades executivos de trânsito dos Municípios). o uso do dispositivo de retenção adequado ao seu peso e
altura, nas seguintes situações:
Política Nacional de Trânsito I – quando o veículo for dotado exclusivamente deste
Trata-se de instrumento de política do governo expres- banco;
sado no Plano Brasil para todos e que têm como macro- II – quando a quantidade de crianças com esta idade
-objetivos: exceder a lotação do banco traseiro;
- O crescimento com geração de trabalho, emprego e III – quando o veículo for dotado originalmente (fabri-
renda, ambientalmente sustentável e redutor de desigual- cado) de cintos de segurança subabdominais (dois pontos)
dades regionais; nos bancos traseiros.
- Inclusão social e redução das desigualdades sociais; Parágrafo único. Excepcionalmente, as crianças com
- Promoção e expansão da cidadania e fortalecimento idade superior a quatro anos e inferior a sete anos e meio
da democracia. poderão ser transportadas utilizando cinto de segurança
Suas diretrizes gerais estão fixadas pela Resolução de dois pontos sem o dispositivo denominado “assento de
166/2004 do CONTRAN, sendo assim estabelecidas: elevação”, nos bancos traseiros, quando o veículo for dota-
do originalmente destes cintos.””
- aumento da segurança de trânsito;
- promoção da educação para o trânsito;
Resolução n.º 432 de 23 de janeiro de 2013: esta Re-
- garantia da mobilidade e acessibilidade com segu-
solução dispõe sobre os procedimentos a serem adotados
rança e qualidade ambiental a toda população; pelas autoridades de trânsito e seus agentes na fiscalização
- promoção do exercício da cidadania, a participação e do consumo de álcool ou de outra substância psicoativa
a comunicação com a sociedade; que determine dependência, para aplicação do disposto
- fortalecimento do Sistema Nacional de Trânsito. nos arts. 165, 276, 277 e 306 da Lei nº 9.503, de 23 de se-
tembro de 1997 – Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

138
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Resolução n.º 643 de 14 de dezembro de 2016: esta As medidas são:


Resolução regulamenta o emprego de película retrorrefle- - Retenção do veículo: consistente na imobilização no
tiva em veículos com objetivo de prover melhores condi- local de abordagem para que se chegue à solução de de-
ções de visibilidade diurna e noturna. terminada irregularidade.
As resoluções do CONTRAN estão disponíveis em: Ocorrerá nas infrações em que haja previsão desta me-
http://www.denatran.gov.br/index.php/resolucoes dida e também nos casos de veículos reprovados na inspe-
ção de segurança e de emissão de fases poluentes e ruídos.
Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito. - Remoção do veículo: esta medida tem por objetivo
O Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito foi restabelecer as condições de segurança e fluidez da via,
aprovado por meio da Resolução n.º 371 de 10 de dezem- bem como garantir a boa ordem administrativa. Consiste
bro de 2010. Elaborado pelo Grupo Técnico e por Especia- na retirada do veículo do local onde ocorreu a infração
listas da Câmara Temática de Esforço Legal, seu objetivo é e sua condução para depósito fixado pela autoridade de
uniformizar e estabelecer padronização da fiscalização das trânsito com circunscrição sobre a via.
infrações cuja competência seja dos municípios. Importante esclarecer que não é uma penalidade e sim,
O documento abrange os procedimentos gerais que medida administrativa. A penalidade seria de apreensão,
devem ser observados pelos agentes de trânsito, bem porém, para sua aplicação depende que seja dada ao infra-
como conceitos e definições utilizados na apuração das tor, a oportunidade de ampla defesa, para somente após
infrações. isto, ser aplicada ao caso.
Ainda traz a Lista de Abreviaturas e Siglas comumente - Recolhimento do Documento de Habilitação: seu ob-
utilizadas pelos agentes de fiscalização. jetivo imediato é impedir a condução de veículos nas vias
Sobre o agente da autoridade de trânsito, o Manual es- públicas enquanto perdurar a irregularidade constatada;
tabelece que o profissional é competente para lavrar o auto - Recolhimento do Certificado de Licenciamento Anual:
de infração de trânsito (AIT) e que para o desempenho da consiste no recolhimento do documento que certifica o li-
função, o profissional poderá ser servidor civil, estatutário cenciamento do veículo e tem como objetivo garantir que
ou celetista, bem como policial militar que seja designado o proprietário promova a regularização da infração cons-
pela autoridade de trânsito com circunscrição sobre a via. tatada.
Para exercício de suas funções, o agente deverá estar - Transbordo do excesso de carga: consiste na retirada
uniformizado. da carga de um veículo que exceda o limite de peso ou
Ao presenciar uma infração, deverá lavrar o AIT e apli-
capacidade máxima de tração. Caberá ao proprietário arcar
car as medidas administrativas cabíveis. É importante cons-
com as despesas do ato, bem como de eventual penalida-
tar que o agente não poderá lavrar o auto de infração por
de aplicada pelo auto de infração.
pedido de terceiro, mas apenas se tiver, de fato, presencia-
- Recolhimento de animais que se encontrem soltos na
do o cometimento da infração.
via e na faixa de domínio das vias de circulação: seu obje-
Ainda, no Manual consta a classificação das infrações
tivo é garantir a segurança dos usuários, evitando perigo
de acordo com sua gravidade e pela quantidade de pon-
potencial gerado à segurança do trânsito.
tos que será atribuída à carteira nacional de habilitação do
infrator:
I - infração de natureza gravíssima, 7 pontos; Cidadania e trânsito.
II - infração de natureza grave, 5 pontos; A cidadania é um dos fundamentos da República Fe-
III - infração de natureza média, 4 pontos; derativa do Brasil, assim como a dignidade da pessoa hu-
IV - infração de natureza leve, 3 pontos. mana, prevista no art. 1º, inciso II da Constituição Federal.
Ademais, o Manual também traz explicações sobre a Cidadãos somos todos nós, sujeitos de direitos e deve-
quem caberá a responsabilidade pela infração e a forma res, que fazem parte do povo.
como deve ocorrer a autuação. Assim, também devemos ser cidadãos no trânsito. To-
Também faz parte do conteúdo do Manual, as medidas dos têm direito ao trânsito seguro e à preservação da vida
administrativas aplicáveis às infrações. e dignidade da pessoa.
Segundo conceito ali definido, as medidas administra- Contudo, com o acréscimo do fluxo de carros em to-
tivas são providências de caráter complementar, exigidas dos os municípios, especialmente nos grandes centros ur-
para a regularização de situações infracionais. Seu objetivo banos, nem sempre cidadania e trânsito caminham juntos
precípuo é impedir que o agente continue praticando a in- como deve ser.
fração, garantindo assim proteção à vida e à incolumidade Para que uma pessoa seja, de fato, um cidadão tam-
física das pessoas. bém no trânsito, deverá além de conhecer e respeitar as
Importante dizer que medida administrativa não se normas de trânsito previstas no Código de Trânsito Bra-
confunde com a penalidade. Assim, quando da prática de sileiro e as normas e resoluções, manter posturas que, de
uma infração de trânsito, o agente estará sujeito à penali- fato, respeitem ao próximo.
dade, à imputação de pontos em sua carteira e finalmente, Todos são pedestres e muitos são condutores. Des-
à medida administrativa necessária para que seja interrom- ta forma, é de grande importância que algumas atitudes
pida a infração e os possíveis riscos que dela podem de- sejam tomadas diariamente tanto por condutores quanto
correr. pedestres.

139
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Os condutores devem sempre ter consciência que um Respeitar as normas em relação ao consumo de álcool
veículo, além de um valioso meio de transporte, é um ins- também é questão necessária a ser sempre abordada. Mui-
trumento que se não for bem manejado, pode ocasionar tas pessoas ainda mantém a ideia de que uma pequena
acidentes, lesões e mortes. Diante disto, todos os condu- ingestão de bebida alcóolica não interfere em seu desem-
tores precisam manter a atenção máxima quando estão penho no volante, o que é uma grande falácia.
dirigindo. Ademais, também é necessário que os condutores res-
Ademais, devem respeitar as faixas de pedestres, per- peitem as velocidades permitidas em cada via, de forma
mitindo a travessia, especialmente nas situações em que que a vida de fato seja preservada.
não há sinalização semafórica. A relação interpessoal também deve ser de total res-
Também se mostra uma atitude de cidadania, conceder peito entre motoristas e motociclistas, bem como em re-
passagem a outros veículos, ter paciência com os demais lação aos ciclistas. Caberá a todos, além do respeito às
motoristas e especialmente, ser tolerante, não devendo em normas de trânsito, a manutenção de comportamentos de
situação alguma tomar atitudes extremadas que culminem respeito e educação em relação ao outro.
em atos de violência. Também é necessário o respeito de todos os condu-
Deve também haver respeito aos ciclistas e às ciclovias, tores no momento em que um veículo de socorro pede
cabendo ao condutor manter a distância obrigatória de passagem.
segurança, contribuindo assim para que outros meios de Em resumo, a relação interpessoal no trânsito, assim
transporte possam circular nas vias urbanas e rurais. como na vida, deve ser de respeito, tolerância e cidadania,
O pedestre, por sua vez, deve atentar-se para o mo- de forma que todos tenham em mente que fazem parte de
mento em que for atravessar uma via e aguardar o semáfo- um todo em que o objetivo maior é manter a segurança e
ro que lhe seja favorável, sempre fazendo esta travessia na a dignidade preservada em qualquer situação.
faixa de pedestres. Também não deve atravessar no meio
de vias, rodovias ou estradas, mas sim, fazer uso de passa- Portaria Denatran 94/2017. Deliberação Contran
relas. 100/10.
É importante que se tenha consciência que todos so- A Portaria DENATRAN 94/2017: publicada no DOU
mos sujeitos de um todo, composto pelo sistema de trân- de 02 de junho de 2017, instituiu o Curso de Agente de
sito, em que circulam diariamente muitos pedestres e mo- Trânsito para profissionais que executem as atividades de
toristas, todos sujeitos de direitos e deveres e que buscam fiscalização, operação, policiamento ostensivo de trânsito
ou patrulhamento nos órgãos integrantes do Sistema Na-
deslocar-se com mais facilidade e em total segurança.
cional de Trânsito.
A Portaria foi necessária, pois, até hoje não havia regu-
Relacionamento Interpessoal
lamentação sobre o curso necessário para os profissionais
No trânsito, todos os sujeitos envolvidos são detento-
que atuem nas operações de trânsito.
res de direitos e deveres.
O curso, conforme consta na norma, será ministrado
O art. 1º, § 1º do Código de Trânsito Brasileiro define
por órgãos integrantes do Sistema Nacional de Trânsito ou
como trânsito: a utilização das vias por pessoas, veículos e
por entidades e instituições por eles autorizadas e creden-
animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para ciadas. Sua carga horária de 200 horas/aula.
fins de circulação, parada, estacionamento e operação de A norma define também que o profissional que exer-
carga ou descarga. ce a atividade de agente da autoridade de trânsito deverá
Assim, são diversos os sujeitos envolvidos no trânsito, realizar curso de atualização, a cada três anos, com carga
sendo que todos terão direito à segurança, como bem de- horária de 32 horas.
termina o § 2º do mesmo artigo. A Deliberação CONTRAN 100/10 foi publicada no DOU
Diante disto, é evidente que o relacionamento inter- em 06 de setembro de 2010.
pessoal é indispensável para que o trânsito seja, de fato, Seu objetivo foi determinar a alteração da Resolução
seguro. nº 277, de 28 de maio de 2008, que dispõe sobre o trans-
Caberá a todos os envolvidos terem consciência de porte de menores de 10 anos e a utilização do dispositivo
que sua atitude é necessária para que se mantenha a segu- de retenção para o transporte de crianças em veículos.
rança no trânsito. Em razão da indisponibilidade de dispositivos de re-
Necessário assim que sejam adotados comportamen- tenção para transporte de crianças em veículos original-
tos que envolvam respeito, paciência, generosidade e to- mente fabricados com o cinto de segurança de dois pon-
lerância. tos, a Resolução determinou o seguinte:
Os condutores devem ter ciência que, quando estão Art. 1º O artigo 2º da Resolução nº 277, de 28 de
dirigindo, o veículo é um instrumento em seu poder, que maio de 2008, passa a vigorar
embora se destine para o deslocamento, poderá se trans- com a seguinte redação:
formar em uma arma que causa lesões e até mesmo a mor- Art. 2º O transporte de criança com idade inferior
te. a dez anos poderá ser realizado no banco dianteiro do
Por isto, além de observar e respeitar as normas de veículo, com o uso do dispositivo de retenção adequado
trânsito, caberá ao condutor agir de forma serena e equili- ao seu peso e altura, nas seguintes situações:
brada, devendo abster-se de dirigir em situações nas quais I - quando o veículo for dotado exclusivamente des-
esteja acometido de nervosismo ou tensão. te banco;

140
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

II - quando a quantidade de crianças com esta idade A Resolução 315 publicada em 20.05.09 estabelece a
exceder a lotação do banco traseiro; equiparação dos veículos ciclo-elétricos, aos ciclomotores
III - quando o veículo for dotado originalmente (fa- e os equipamentos obrigatórios para condução nas vias
bricado) de cintos de segurança subabdominais (dois públicas abertas à circulação.
pontos) nos bancos traseiros. A Resolução 290 publicada em 29.09.08 disciplina a
Parágrafo único. Excepcionalmente, as crianças inscrição de pesos e capacidades em veículos de tração, de
com idade superior a quatro anos e inferior a sete anos carga e de transporte coletivo de passageiros, de acordo
e meio poderão ser transportadas utilizando cinto de com os artigos 117, 230-XXI, 231-V e X, do Código de Trân-
segurança de dois pontos sem o dispositivo denomina- sito Brasileiro.
do ‘assento de elevação nos bancos traseiros, quando o A Resolução 278 publicada em 09.06.08 proíbe a uti-
veículo for dotado originalmente destes cintos. lização de dispositivos que travem, afrouxem ou modifi-
quem o funcionamento dos cintos de segurança.
Resoluções Consolidadas CONTRAN Nº: 432/13; A Resolução 277 publicada em 09.06.08 dispõe sobre
352/10; 375 e 382/11; 349/10; 315/09; 290, 278 e o transporte de menores de 10 anos e a utilização do dis-
277/08; 235/07; 216, 206, 205 e 203/06; 168 e 158/04; positivo de retenção para o transporte de crianças em veí-
36 e 14/98. culos.
As Resoluções do CONTRAN estabelecem normas para A Resolução 235 publicada em 21.05.07 altera o art. 3º
circulação dos veículos e de conduta para os motoristas. da Resolução nº 205, de 20 de outubro de 2006, do CON-
A Resolução 432 publicada em 29.01.13 dispõe sobre TRAN, que dispõe sobre os documentos de porte obriga-
os procedimentos a serem adotados pelas autoridades de tório.
trânsito e seus agentes na fiscalização do consumo de ál- A Resolução 216 publicada em 27.12.06 fixa exigên-
cool ou de outra substância psicoativa que determine de- cias sobre condições de segurança e visibilidade dos con-
pendência, para aplicação do disposto nos arts. 165, 276, dutores em pára-brisas em veículos automotores, para fins
277 e 306 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 – de circulação nas vias públicas.
Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A Resolução 206: foi revogada.
Uma das questões de maior importância regulamenta-
A Resolução 205 publicada em 10.11.06 dispõe sobre
da pela Resolução é prevista no art. 3º que determina quais
os documentos de porte obrigatório e dá outras provi-
são os procedimentos a serem realizados pelo agente de
dências. A norma estabelece que os documentos de porte
fiscalização para confirmação da alteração da capacidade
obrigatório do condutor do veículo são: autorização para
psicomotora do condutor. São os seguintes: exame de san-
conduzir ciclomotor- ACC; permissão para dirigir ou Cartei-
gue; exames realizados em laboratórios, indicados pelo ór-
ra Nacional de Habilitação (CNH) original e o Certificado de
gão ou entidade de trânsito ou pela Polícia Judiciária; tes-
Registro e Licenciamento Anual- CRLV original.
te por meio de aparelho destinado para medição do teor
alcoólico no ar alveolar (etilômetro); verificação de sinais A Resolução 203: foi revogada.
que indiquem a alteração da capacidade psicomotora do A Resolução 168 publicada em 22.12.04 e republicada
condutor. em 22.03.05 estabelece Normas e Procedimentos para a
A Resolução 352 publicada em 18.06.10 dá nova reda- formação de condutores de veículos automotores e elétri-
ção ao inciso III do art.7.º da Resolução n.º 277, de 28 de cos, a realização dos exames, a expedição de documentos
maio de 2008, do CONTRAN. de habilitação, os cursos de formação, especializados, de
O dispositivo passa a preceituar o seguinte: III – A partir reciclagem e dá outras providências.
de 1.º de setembro de 2010, os órgãos e entidades compo- A Resolução 158 publicada em 07.05.04 proíbe o uso
nentes do Sistema Nacional de Trânsito fiscalizarão o uso de pneus reformados em ciclomotores, motonetas, moto-
obrigatório do sistema de retenção para o transporte de cicletas e triciclos, bem como rodas que apresentem que-
crianças ou equivalente28.03.11 bras, trincas e deformações.
A Resolução 375 publicada em 18.03.11 acrescenta os A Resolução 36 publicada em 22.05.98 estabelece a
§§ 2º e 3º ao artigo 1º da Resolução CONTRAN nº 315/2009, forma de sinalização de advertência para os veículos que,
que estabelece a equiparação dos veículos ciclo-elétricos em situação de emergência, estiverem imobilizados no
aos ciclomotores e os equipamentos obrigatórios para a leito viário. A norma determina que o condutor deverá
condução nas vias públicas abertas à circulação. acionar de imediato as luzes de advertência (pisca-alerta)
A Resolução 382 publicada em 07.06.11 dispõe sobre providenciando a colocação do triângulo de sinalização ou
notificação e cobrança de multa por infração de trânsito equipamento similar à distância mínima de 30 (trinta) me-
praticada com veículo licenciado no exterior em trânsito tros da parte traseira do veículo.
no território nacional. A norma estabelece que os veículos A Resolução 14 publicada 12.02.98 estabelece os equi-
licenciados no exterior apenas poderão deixar o território pamentos obrigatórios para a frota de veículos em circula-
nacional mediante a prévia quitação do valor da multa cor- ção e dá outras providências.
respondente.
A Resolução 349 publicada em 20.05.10 dispõe sobre
o transporte eventual de cargas ou de bicicletas nos veí-
culos classificados nas espécies automóvel, caminhonete,
camioneta e utilitário.

141
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Leis Federais nº 11.705/08 e 13281/16 e Decreto - normatizar o processo de formação do candidato à


6.488/08. obtenção da Carteira Nacional de Habilitação, estabelecendo
seu conteúdo didático-pedagógico, carga horária, avaliações,
Lei 11.705/08 exames, execução e fiscalização.
A Lei 11.705/08 determina em seu art. 2º que são veda- Ademais, também altera competências do órgão máximo
dos a venda à varejo ou o oferecimento de bebidas alcoóli- executivo de trânsito da União (art. 19 CTB):
cas para consumo no local, na faixa de domínio de rodovia - coordenar a administração do registro das infrações de
federal ou em terrenos contíguos à faixa de domínio que trânsito, da pontuação e das penalidades aplicadas no pron-
dê acesso à rodovia. tuário do infrator, da arrecadação de multas e do repasse de
Ainda, no § 1º do art. 2º é fixada multa de R$ 1.500,00 que trata o § 1º do art. 320;
(um mil e quinhentos reais) para quem violar referida nor- - organizar e manter o Registro Nacional de Infrações de
ma. Trânsito (Renainf).
Em caso de reincidência num período de doze meses, Finalmente, altera competências dos órgãos e entidades
o § 2º determina que a multa será aplicada em dobro e executivos de trânsito dos Municípios estabelecendo o se-
suspensa a autorização para acesso à rodovia, pelo prazo guinte:
de um ano. - executar a fiscalização de trânsito em vias terrestres,
A Lei também estabelece algumas alterações no Códi- edificações de uso público e edificações privadas de uso co-
go de Trânsito Brasileiro estabelecendo que o art. 165 pas- letivo, autuar e aplicar as medidas administrativas cabíveis e
sa a vigorar com a seguinte redação: as penalidades de advertência por escrito e multa, por infra-
Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra ções de circulação, estacionamento e parada previstas neste
substância psicoativa que determine dependência:  Código, no exercício regular do poder de polícia de trânsito,
Infração - gravíssima;  notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar,
Penalidade - multa (cinco vezes) e suspensão do direito exercendo iguais atribuições no âmbito de edificações priva-
de dirigir por 12 (doze) meses; das de uso coletivo, somente para infrações de uso de vagas
 Medida Administrativa - retenção do veículo até a reservadas em estacionamentos.
apresentação de condutor habilitado e recolhimento do O inteiro teor da lei poderá ser acessado em: http://www.
documento de habilitação. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13281.htm
O art. 276 do CTB também foi alterado passando a pre-
ver que: Decreto 6.488/08
Qualquer concentração de álcool por litro de sangue su- O Decreto 6.488 regulamenta os arts. 276 e 306 da Lei
jeita o condutor às penalidades previstas no art. 165 deste no 9.503, de 23 de setembro de 1997 - Código de Trânsito
Código. Brasileiro, disciplinando a margem de tolerância de álcool no
 Parágrafo único.  Órgão do Poder Executivo federal sangue e a equivalência entre os distintos testes de alcoole-
disciplinará as margens de tolerância para casos específi- mia para efeitos de crime de trânsito.
cos. Dentre as regulamentações, o Decreto traz no art. 1º que
Importante alteração trazida pela Lei 11.705 a se des- qualquer concentração de álcool por litro de sangue sujeitará
tacar diz respeito à redação do art. 296 e 306 do CTB que o condutor ao recebimento de penalidades administrativas
passaram a prever o seguinte: previstas no art. 165 do CTB.
Art. 296. Se o réu for reincidente na prática de crime pre- Determina também que as margens de tolerância de ál-
visto neste Código, o juiz aplicará a penalidade de suspensão cool no sangue serão fixadas por Resolução do CONTRAN.
da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor, Porém, enquanto não houvesse a edição do ato, a tolerância
sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis. seria de duas decigramas por litro de sangue para todos os
Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, casos.
estando com concentração de  álcool por litro de sangue Vale esclarecer que a Resolução 432 de 23.01.2013 esta-
igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência beleceu como limite regulamentar a quantia de 0,10 mg/L de
de qualquer outra substância psicoativa que determine de- tolerância.
pendência.
Estas alterações são de grande importância, tendo em
vista tratarem de forma mais rígida a questão da embria-
guez ao volante. Em razão dos inúmeros casos noticiados LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS
de acidentes motivados por pessoas que dirigiam e haviam (LEI 9.099/95);
ingerido bebidas alcoólicas ou outras substâncias psicoa-
tivas.

Lei 13.281/16 LEI Nº 9.099, DE 26 DE SETEMBRO DE 1995.


A Lei 13.281 estabelece alterações ao art. 12 do Códi-
go de Trânsito Brasileiro, fixando como competências do Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e
CONTRAN: dá outras providências.
- estabelecer e normatizar os procedimentos para a
aplicação das multas por infrações, a arrecadação e o re- O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
passe dos valores arrecadados; gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

142
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

CAPÍTULO I § 2º Ficam excluídas da competência do Juizado Es-


Disposições Gerais pecial as causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e
de interesse da Fazenda Pública, e também as relativas a
Art. 1º Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, órgãos acidentes de trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade
da Justiça Ordinária, serão criados pela União, no Distrito das pessoas, ainda que de cunho patrimonial.
Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para conciliação, § 3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei im-
processo, julgamento e execução, nas causas de sua com- portará em renúncia ao crédito excedente ao limite esta-
petência. belecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação.

Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da ora- Art. 4º É competente, para as causas previstas nesta Lei,
lidade, simplicidade, informalidade, economia processual e o Juizado do foro:
celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação I - do domicílio do réu ou, a critério do autor, do local
ou a transação. onde aquele exerça atividades profissionais ou econômicas
ou mantenha estabelecimento, filial, agência, sucursal ou
Comentários aos artigos 1º e 2 º: escritório;
Os Juizados Especiais Cíveis têm como intuito resolver II - do lugar onde a obrigação deva ser satisfeita;
causas de menor complexidade com maior rapidez, bus- III - do domicílio do autor ou do local do ato ou fato,
cando, sempre que possível, o acordo entre as partes. São nas ações para reparação de dano de qualquer natureza.
consideradas causas cíveis de menor complexidade aque- Parágrafo único. Em qualquer hipótese, poderá a ação
las cujo valor não exceda a 40 salários mínimos. Nas causas ser proposta no foro previsto no inciso I deste artigo.
de até 20 salários mínimos não é obrigatória a assistência
de advogado; nas de valor superior, a assistência é obriga- Comentários aos artigos 3º e 4º: Concernente à com-
tória. petência do juizado, o art. 3º da lei dispõe que as causas
Já os Juizados Criminais são órgãos do Poder Judiciá- não podem exceder a quarenta vezes o salário mínimo; as
rio que julgam todas as contravenções penais e crimes de enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo
menor potencial ofensivo, ou seja, de baixa gravidade, se- Civil; as ações de despejo para uso próprio e as ações pos-
gundo o entendimento do legislador. Hoje, são considera- sessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao
dos crimes de menor potencial ofensivo, todos aqueles que fixado no inciso I do art. 3º. Verifica-se que o inciso I do
têm pena máxima de até 2 anos. artigo tem a limitação pelo valor. E os incisos II a IV, limitam
O Juizado Especial Criminal é órgão da Justiça que exis- a competência pela matéria.
te no âmbito da União, do Distrito Federal e dos Estados.
Tem competência para conciliação, processo e julgamento Seção II
Do Juiz, dos Conciliadores e dos Juízes Leigos
dos crimes de menor potencial ofensivo, mediante a orali-
dade e abreviação do rito pelo procedimento sumaríssimo.
Art. 5º O Juiz dirigirá o processo com liberdade para
Estes órgãos jurisdicionais devem ser orientados pela con-
determinar as provas a serem produzidas, para apreciá-las
ciliação e transação penal como forma de composição, e o
e para dar especial valor às regras de experiência comum
julgamento de recursos por turmas de juízes.
ou técnica.
Capítulo II Art. 6º O Juiz adotará em cada caso a decisão que re-
Dos Juizados Especiais Cíveis putar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais da
Seção I lei e às exigências do bem comum.
Da Competência
Art. 7º Os conciliadores e Juízes leigos são auxiliares da
Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para Justiça, recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os
conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de bacharéis em Direito, e os segundos, entre advogados com
menor complexidade, assim consideradas: mais de cinco anos de experiência.
I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o Parágrafo único. Os Juízes leigos ficarão impedidos de
salário mínimo; exercer a advocacia perante os Juizados Especiais, enquan-
II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de to no desempenho de suas funções.
Processo Civil;
III - a ação de despejo para uso próprio; Comentários aos artigos 5º 6º e 7º: O juiz togado é o
IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor magistrado de carreira lotado no Juizado Especial, também
não excedente ao fixado no inciso I deste artigo. designado como “juiz presidente” pela Lei nº 10.259/2001
§ 1º Compete ao Juizado Especial promover a execu- (art. 18). Além dele, a norma classifica os conciliadores e
ção: juízes leigos como auxiliares da Justiça, ou seja, não inte-
I - dos seus julgados; gram o quadro de carreira do Judiciário (em decorrência do
II - dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até exercício da função, não havendo impedimento para que
quarenta vezes o salário mínimo, observado o disposto no os próprios servidores sejam escolhidos como conciliado-
§ 1º do art. 8º desta Lei. res)

143
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

O Conciliador poderá ser bacharel em Direito e atuará § 2º O Juiz alertará as partes da conveniência do patro-
na solução de conflitos. Exerce fundamental papel, pois seu cínio por advogado, quando a causa o recomendar.
desempenho conciliatório resulta, muitas vezes, na auto § 3º O mandato ao advogado poderá ser verbal, salvo
composição amigável da demanda. quanto aos poderes especiais.
A função exige tendência conciliatória e elevado inte- § 4º O réu, sendo pessoa jurídica ou titular de firma
resse pelo instituto da conciliação. individual, poderá ser representado por preposto creden-
Os Juízes leigos deve ser bacharel em Direito, estar re- ciado, munido de carta de preposição com poderes para
gularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, transigir, sem haver necessidade de vínculo empregatício.
possuir pelo menos dois anos de experiência jurídica. Im-
portante elucidar que as atribuições do juiz leigo são: Art. 10. Não se admitirá, no processo, qualquer forma
a) presidir as audiências de conciliação; de intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á
b) presidir audiências de instrução e julgamento, po- o litisconsórcio.
dendo, inclusive, colher provas;
c) proferir parecer, em matéria de competência dos Jui- Art. 11. O Ministério Público intervirá nos casos previs-
zados Especiais, a ser submetido ao Juiz Supervisor da uni- tos em lei.
dade de Juizado Especial onde exerça suas funções, para
Comentários aos artigos 8º, 9º 10 e 11: Poderão ser
homologação por sentença.
partes: As Pessoas físicas, capazes, ou seja, maiores de 18
A atuação dos juízes leigos ficará limitada aos feitos anos, Microempresas – ME, Empresas de Pequeno Porte –
de competência dos Juizados Especiais Cíveis e da Fazenda EPP, Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público
Pública. – OSCIP.
Os juízes leigos ficam impedidos de exercer a advoca- O artigo 8º dispõe as pessoas que não poderão recla-
cia perante a Unidade do Juizado Especial da Comarca ou mar nos Juizados Especiais Cíveis.
Foro onde forem designados.
Seção IV
Seção III Dos atos processuais
Das Partes
Art. 12. Os atos processuais serão públicos e poderão
Art. 8º Não poderão ser partes, no processo instituído realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem as
por esta Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de di- normas de organização judiciária.
reito público, as empresas públicas da União, a massa falida
e o insolvente civil. Art. 13. Os atos processuais serão válidos sempre que
§ 1º Somente serão admitidas a propor ação perante o preencherem as finalidades para as quais forem realizados,
Juizado Especial: atendidos os critérios indicados no art. 2º desta Lei.
I - as pessoas físicas capazes, excluídos os cessionários § 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que
de direito de pessoas jurídicas tenha havido prejuízo.
II - as pessoas enquadradas como microempreende- § 2º A prática de atos processuais em outras comarcas
dores individuais, microempresas e empresas de pequeno poderá ser solicitada por qualquer meio idôneo de comu-
porte na forma da Lei Complementar nº 123, de 14 de de- nicação.
zembro de 2006; (Redação dada pela Lei Complementar nº § 3º Apenas os atos considerados essenciais serão re-
147, de 2014) gistrados resumidamente, em notas manuscritas, datilo-
III - as pessoas jurídicas qualificadas como Organização grafadas, taquigrafadas ou estenotipadas. Os demais atos
poderão ser gravados em fita magnética ou equivalente,
da Sociedade Civil de Interesse Público, nos termos da Lei
que será inutilizada após o trânsito em julgado da decisão.
no 9.790, de 23 de março de 1999;
§ 4º As normas locais disporão sobre a conservação das
IV - as sociedades de crédito ao microempreendedor,
peças do processo e demais documentos que o instruem.
nos termos do art. 1º da Lei nº 10.194, de 14 de fevereiro
de 2001. Comentários aos artigos 12 e 13: No procedimento
§ 2º O maior de dezoito anos poderá ser autor, inde- da presente Lei, os atos são mais simplificados, são públi-
pendentemente de assistência, inclusive para fins de con- cos e podem ocorrer, inclusive, em horário noturno, se as-
ciliação. sim dispuserem as normas de organização judiciária, o que
facilita o acesso das partes as audiências.
Art. 9º Nas causas de valor até vinte salários mínimos, Preenchendo os atos as finalidades a que se destinam
as partes comparecerão pessoalmente, podendo ser assis- e atendidos os critérios do artigo 2º, serão considerados
tidas por advogado; nas de valor superior, a assistência é válidos.
obrigatória.
§ 1º Sendo facultativa a assistência, se uma das partes Seção V
comparecer assistida por advogado, ou se o réu for pessoa Do pedido
jurídica ou firma individual, terá a outra parte, se quiser,
assistência judiciária prestada por órgão instituído junto ao Art. 14. O processo instaurar-se-á com a apresentação
Juizado Especial, na forma da lei local. do pedido, escrito ou oral, à Secretaria do Juizado.

144
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 1º Do pedido constarão, de forma simples e em lin- III - sendo necessário, por oficial de justiça, indepen-
guagem acessível: dentemente de mandado ou carta precatória.
I - o nome, a qualificação e o endereço das partes; § 1º A citação conterá cópia do pedido inicial, dia e
II - os fatos e os fundamentos, de forma sucinta; hora para comparecimento do citando e advertência de
III - o objeto e seu valor. que, não comparecendo este, considerar-se-ão verdadeiras
§ 2º É lícito formular pedido genérico quando não for as alegações iniciais, e será proferido julgamento, de plano.
possível determinar, desde logo, a extensão da obrigação. § 2º Não se fará citação por edital.
§ 3º O pedido oral será reduzido a escrito pela Secre- § 3º O comparecimento espontâneo suprirá a falta ou
taria do Juizado, podendo ser utilizado o sistema de fichas nulidade da citação.
ou formulários impressos.
Art. 19. As intimações serão feitas na forma prevista
Art. 15. Os pedidos mencionados no art. 3º desta Lei para citação, ou por qualquer outro meio idôneo de comu-
poderão ser alternativos ou cumulados; nesta última hipó- nicação.
tese, desde que conexos e a soma não ultrapasse o limite § 1º Dos atos praticados na audiência, considerar-se-ão
fixado naquele dispositivo. desde logo cientes as partes.
§ 2º As partes comunicarão ao juízo as mudanças de
endereço ocorridas no curso do processo, reputando-se
Art. 16. Registrado o pedido, independentemente de
eficazes as intimações enviadas ao local anteriormente indi-
distribuição e autuação, a Secretaria do Juizado designará a
cado, na ausência da comunicação.
sessão de conciliação, a realizar-se no prazo de quinze dias.
Comentários aos artigos 18 e 19: A citação em regra
Art. 17. Comparecendo inicialmente ambas as partes, ocorre pelo correio, não se admitindo a citação por edital e
instaurar-se-á, desde logo, a sessão de conciliação, dispen- as intimações são feitas da mesma forma prevista para as
sados o registro prévio de pedido e a citação. citações.
Parágrafo único. Havendo pedidos contrapostos, po- O que se pretende com o procedimento é a solução
derá ser dispensada a contestação formal e ambos serão do conflito de forma mais célere, especialmente, através da
apreciados na mesma sentença. conciliação, principal objetivo do Juizado Especial.

Comentários aos artigos 14, 15, 16 e 17: Os requisi- Seção VII


tos mínimos para interpor ação no procedimento do Jui- Da Revelia
zado Especial estão previstos no artigo 14 e em razão da
simplicidade e informalidade deste procedimento, o mes- Art. 20. Não comparecendo o demandado à sessão de
mo pode ser feito por escrito ou oralmente. Desse modo, conciliação ou à audiência de instrução e julgamento, repu-
o cidadão pode se dirigir até o cartório do Juizado Especial tar-se-ão verdadeiros os fatos alegados no pedido inicial,
e ingressar com uma ação de menor complexidade cujo salvo se o contrário resultar da convicção do Juiz.
valor seja de até vinte salários mínimos, bastando para isso,
informar a qualificação das partes, os fatos, o objeto e o va- Seção VIII
lor da mesma. O pedido poderá ser verbal e será reduzido Da Conciliação e do Juízo Arbitral
a escrito pelo funcionário ou a própria parte pode trazer
por escrito o seu pedido. Ilustre-se que a pessoa que pode Art. 21. Aberta a sessão, o Juiz togado ou leigo esclare-
ingressar com ação neste procedimento, o pedido inicial cerá as partes presentes sobre as vantagens da conciliação,
não necessita conter fundamentação jurídica, pois se trata mostrando-lhes os riscos e as consequências do litígio, es-
de um leigo, bastando uma explicação de forma clara e pecialmente quanto ao disposto no § 3º do art. 3º desta Lei.
simples dos fatos e delimitação do objetivo da causa.
Art. 22. A conciliação será conduzida pelo Juiz togado
Por outro lado, quando a parte é assistida por advoga-
ou leigo ou por conciliador sob sua orientação.
do, mesmo tratando-se de procedimento do Juizado Espe-
Parágrafo único. Obtida a conciliação, esta será reduzi-
cial, deve a peça inicial conter uma fundamentação jurídica. da a escrito e homologada pelo Juiz togado, mediante sen-
Após a apresentação do pedido, fica designada a au- tença com eficácia de título executivo.
diência de conciliação, devendo o demandado ser citado
para comparecer a mesma. Art. 23. Não comparecendo o demandado, o Juiz toga-
do proferirá sentença.
Seção VI
Das Citações e Intimações Art. 24. Não obtida a conciliação, as partes poderão op-
tar, de comum acordo, pelo juízo arbitral, na forma prevista
Art. 18. A citação far-se-á: nesta Lei.
I - por correspondência, com aviso de recebimento em § 1º O juízo arbitral considerar-se-á instaurado, inde-
mão própria; pendentemente de termo de compromisso, com a escolha
II - tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, do árbitro pelas partes. Se este não estiver presente, o Juiz
mediante entrega ao encarregado da recepção, que será convocá-lo-á e designará, de imediato, a data para a au-
obrigatoriamente identificado; diência de instrução.

145
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 2º O árbitro será escolhido dentre os juízes leigos. Seção X


Da Resposta do Réu
Art. 25. O árbitro conduzirá o processo com os mesmos
critérios do Juiz, na forma dos arts. 5º e 6º desta Lei, po- Art. 30. A contestação, que será oral ou escrita, conterá
dendo decidir por equidade. toda matéria de defesa, exceto arguição de suspeição ou
impedimento do Juiz, que se processará na forma da legis-
Art. 26. Ao término da instrução, ou nos cinco dias sub- lação em vigor.
sequentes, o árbitro apresentará o laudo ao Juiz togado
para homologação por sentença irrecorrível. Art. 31. Não se admitirá a reconvenção. É lícito ao réu,
na contestação, formular pedido em seu favor, nos limites
Comentários aos artigos 21, 22, 23, 24, 25, 26: Os do art. 3º desta Lei, desde que fundado nos mesmos fatos
conciliadores estão aptos a dirigir sob a orientação do juiz que constituem objeto da
togado ou do leigo as audiências de conciliação e os juízes Parágrafo único. O autor poderá responder ao pedido
leigos podem realizar tanto as audiências de conciliação do réu na própria audiência ou requerer a designação da
quanto as de instrução e julgamento. nova data, que será desde logo fixada, cientes todos os
Poderão ocorrer duas audiências, uma de conciliação presentes.
e outra de instrução e julgamento. Nas audiências de con-
ciliação, os conciliadores devem tentar demonstrar as van- Comentários aos artigos 30 e 31: A contestação deve
tagens de uma composição e as consequências e riscos do ser apresentada até a audiência de instrução e julgamento,
prosseguimento do feito, fazendo com que as partes en- assim como o pedido contraposto, podendo o autor res-
volvidas compreendam a importância da referida audiên- ponder oralmente na própria audiência ou requerer desig-
cia e possam optar por solucionar o conflito desde já pelo nação de nova data.
acordo.
Caso seja realizado o acordo entre as partes, o termo Seção XI
é submetido ao juiz togado para homologação, o qual Das Provas
passará a valer como título executivo. Não sendo exitosa a
tentativa de conciliação, o processo prossegue com a au- Art. 32. Todos os meios de prova moralmente legíti-
mos, ainda que não especificados em lei, são hábeis para
diência de instrução e julgamento.
provar a veracidade dos fatos alegados pelas partes.
Seção IX
Art. 33. Todas as provas serão produzidas na audiência
Da Instrução e Julgamento
de instrução e julgamento, ainda que não requeridas pre-
viamente, podendo o Juiz limitar ou excluir as que conside-
Art. 27. Não instituído o juízo arbitral, proceder-se-á
rar excessivas, impertinentes ou protelatórias.
imediatamente à audiência de instrução e julgamento, des-
de que não resulte prejuízo para a defesa.
Art. 34. As testemunhas, até o máximo de três para
Parágrafo único. Não sendo possível a sua realização cada parte, comparecerão à audiência de instrução e jul-
imediata, será a audiência designada para um dos quinze gamento levadas pela parte que as tenha arrolado, inde-
dias subsequentes, cientes, desde logo, as partes e teste- pendentemente de intimação, ou mediante esta, se assim
munhas eventualmente presentes. for requerido.
§ 1º O requerimento para intimação das testemunhas
Art. 28. Na audiência de instrução e julgamento serão será apresentado à Secretaria no mínimo cinco dias antes
ouvidas as partes, colhida a prova e, em seguida, proferida da audiência de instrução e julgamento.
a sentença.
§ 2º Não comparecendo a testemunha intimada, o Juiz
Art. 29. Serão decididos de plano todos os incidentes poderá determinar sua imediata condução, valendo-se, se
que possam interferir no regular prosseguimento da au- necessário, do concurso da força pública.
diência. As demais questões serão decididas na sentença.
Parágrafo único. Sobre os documentos apresentados Art. 35. Quando a prova do fato exigir, o Juiz pode-
por uma das partes, manifestar-se-á imediatamente a parte rá inquirir técnicos de sua confiança, permitida às partes a
contrária, sem interrupção da audiência. apresentação de parecer técnico.
Parágrafo único. No curso da audiência, poderá o Juiz,
Comentários aos artigos 27, 28 e 29: Na audiência de ofício ou a requerimento das partes, realizar inspeção
de instrução e julgamento, o juiz togado ou o leigo, tentará em pessoas ou coisas, ou determinar que o faça pessoa de
novamente a conciliação das partes, eis que esse é o princi- sua confiança, que lhe relatará informalmente o verificado.
pal objetivo deste procedimento e, não obtendo êxito, co-
lherá as provas, isto é, receberá documentos, contestação, Art. 36. A prova oral não será reduzida a escrito, deven-
contra pedido, fará a oitiva das partes e das testemunhas. do a sentença referir, no essencial, os informes trazidos nos
depoimentos.

146
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 37. A instrução poderá ser dirigida por Juiz leigo, § 1º O preparo será feito, independentemente de inti-
sob a supervisão de Juiz togado. mação, nas quarenta e oito horas seguintes à interposição,
sob pena de deserção.
Comentários acerca dos artigos 32 a 37: Acerca das § 2º Após o preparo, a Secretaria intimará o recorrido
provas no Juizado Especial, leciona Humberto Theodoro para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.
Júnior27:
Art. 43. O recurso terá somente efeito devolutivo, po-
“A prova técnica é admissível no Juizado Especial, dendo o Juiz dar-lhe efeito suspensivo, para evitar dano
quando o exame do fato controvertido a exigir. Não assu- irreparável para a parte.
mirá, porém, a forma de uma perícia, nos moldes habituais
do Código de Processo Civil. O perito escolhido pelo Juiz,
Art. 44. As partes poderão requerer a transcrição da
será convocado para a audiência, onde prestará as infor-
mações solicitadas pelo instrutor da causa (art. 35, caput). gravação da fita magnética a que alude o § 3º do art. 13
Se não for possível solucionar a lide à base de simples es- desta Lei, correndo por conta do requerente as despesas
clarecimentos do técnico em audiência, a causa deverá ser respectivas.
considerada complexa. O feito será encerrado no âmbito
do Juizado Especial, sem julgamento do mérito, e as partes Art. 45. As partes serão intimadas da data da sessão de
serão remetidas à justiça comum. Isto porque os Juizados julgamento.
Especiais, por mandamento constitucional, são destinados
apenas a compor ‘causas cíveis de menor complexidade’ Art. 46. O julgamento em segunda instância consta-
(CF, art. 98, inc. I).” rá apenas da ata, com a indicação suficiente do processo,
fundamentação sucinta e parte dispositiva. Se a sentença
Nesse sentido: for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do
julgamento servirá de acórdão.
“Admite-se a prova técnica nos Juizados Especiais, atra-
vés de simples esclarecimentos do experto, em audiência.” Art. 47. (Vetado)
(JEC, Apelação 100/96, 1ª Turma Recursal, Belo Horizonte,
rel. Marine da Costa - in Informa Jurídico 25). Comentários aos artigos 38 ao 46: Realizada a au-
diência de conciliação e, não comparecendo o demandado,
Seção XII
o juiz proferirá a sentença ou, ainda, após a produção de
Da Sentença
provas na audiência de instrução e julgamento o juiz pro-
Art. 38. A sentença mencionará os elementos de con- ferirá a sentença.
vicção do Juiz, com breve resumo dos fatos relevantes A sentença no procedimento do Juizado Especial Cível
ocorridos em audiência, dispensado o relatório. o relatório está dispensado, bastando um breve resumo
Parágrafo único. Não se admitirá sentença condenató- dos fatos relevantes que fundamentaram a decisão. E, ain-
ria por quantia ilíquida, ainda que genérico o pedido. da, a mesma deve ser líquida, já que neste procedimento
está vedada a produção de sentença ilíquida.
Art. 39. É ineficaz a sentença condenatória na parte que Da sentença proferida caberá recurso, o qual é deno-
exceder a alçada estabelecida nesta Lei. minado de recurso inominado, no prazo de dez dias, para
o próprio Juizado e esse será julgado pela Turma Recursal
Art. 40. O Juiz leigo que tiver dirigido a instrução pro- composta por três juízes togados em exercício no primeiro
ferirá sua decisão e imediatamente a submeterá ao Juiz grau de jurisdição.
togado, que poderá homologá-la, proferir outra em subs-
tituição ou, antes de se manifestar, determinar a realização Seção XIII
de atos probatórios indispensáveis. Dos Embargos de Declaração
Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de
Art. 48. Caberão embargos de declaração quando, na
conciliação ou laudo arbitral, caberá recurso para o próprio
Juizado. sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição,
§ 1º O recurso será julgado por uma turma composta omissão ou dúvida.
por três Juízes togados, em exercício no primeiro grau de Parágrafo único. Os erros materiais podem ser corrigi-
jurisdição, reunidos na sede do Juizado. dos de ofício.
§ 2º No recurso, as partes serão obrigatoriamente re-
presentadas por advogado. Art. 49. Os embargos de declaração serão interpostos
por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados
Art. 42. O recurso será interposto no prazo de dez dias, da ciência da decisão.
contados da ciência da sentença, por petição escrita, da
qual constarão as razões e o pedido do recorrente. Art. 50. Quando interpostos contra sentença, os em-
27 Humberto Theodoro Júnior. Curso de Direito Pro- bargos de declaração suspenderão o prazo para recurso.
cessual Civil. 31ª ed., v. III, p. 436.

147
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Comentários aos artigos 48, 49 e 50: Os embargos plemento. Não cumprida a obrigação, o credor poderá re-
de declaração são cabíveis da sentença ou do acórdão pro- querer a elevação da multa ou a transformação da conde-
ferido e quando interpostos da sentença suspenderão o nação em perdas e danos, que o Juiz de imediato arbitrará,
prazo para recursos. seguindo-se a execução por quantia certa, incluída a multa
vencida de obrigação de dar, quando evidenciada a malícia
Seção XIV do devedor na execução do julgado;
Da Extinção do Processo Sem Julgamento do Mé- VI - na obrigação de fazer, o Juiz pode determinar o
rito cumprimento por outrem, fixado o valor que o devedor
deve depositar para as despesas, sob pena de multa diária;
Art. 51. Extingue-se o processo, além dos casos previs- VII - na alienação forçada dos bens, o Juiz poderá auto-
tos em lei: rizar o devedor, o credor ou terceira pessoa idônea a tratar
I - quando o autor deixar de comparecer a qualquer da alienação do bem penhorado, a qual se aperfeiçoará em
das audiências do processo; juízo até a data fixada para a praça ou leilão. Sendo o preço
II - quando inadmissível o procedimento instituído por inferior ao da avaliação, as partes serão ouvidas. Se o pa-
esta Lei ou seu prosseguimento, após a conciliação;
gamento não for à vista, será oferecida caução idônea, nos
III - quando for reconhecida a incompetência territorial;
casos de alienação de bem móvel, ou hipotecado o imóvel;
IV - quando sobrevier qualquer dos impedimentos pre-
VIII - é dispensada a publicação de editais em jornais,
vistos no art. 8º desta Lei;
quando se tratar de alienação de bens de pequeno valor;
V - quando, falecido o autor, a habilitação depender de
sentença ou não se der no prazo de trinta dias; IX - o devedor poderá oferecer embargos, nos autos da
VI - quando, falecido o réu, o autor não promover a execução, versando sobre:
citação dos sucessores no prazo de trinta dias da ciência a) falta ou nulidade da citação no processo, se ele cor-
do fato. reu à revelia;
§ 1º A extinção do processo independerá, em qualquer b) manifesto excesso de execução;
hipótese, de prévia intimação pessoal das partes. c) erro de cálculo;
§ 2º No caso do inciso I deste artigo, quando compro- d) causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obri-
var que a ausência decorre de força maior, a parte poderá gação, superveniente à sentença.
ser isentada, pelo Juiz, do pagamento das custas.
Art. 53. A execução de título executivo extrajudicial, no
Comentário: O presente artigo trata da extinção do valor de até quarenta salários mínimos, obedecerá ao dis-
processo, no caso de ocorrer algum dos impedimentos do posto no Código de Processo Civil, com as modificações
artigo 8º e, ainda, em alguns casos de falecimento do autor introduzidas por esta Lei.
e do réu. § 1º Efetuada a penhora, o devedor será intimado a
comparecer à audiência de conciliação, quando poderá
Seção XV oferecer embargos (art. 52, IX), por escrito ou verbalmente.
Da Execução § 2º Na audiência, será buscado o meio mais rápido e
eficaz para a solução do litígio, se possível com dispensa
Art. 52. A execução da sentença processar-se-á no pró- da alienação judicial, devendo o conciliador propor, entre
prio Juizado, aplicando-se, no que couber, o disposto no outras medidas cabíveis, o pagamento do débito a prazo
Código de Processo Civil, com as seguintes alterações: ou a prestação, a dação em pagamento ou a imediata ad-
I - as sentenças serão necessariamente líquidas, con- judicação do bem penhorado.
tendo a conversão em Bônus do Tesouro Nacional - BTN § 3º Não apresentados os embargos em audiência, ou
ou índice equivalente; julgados improcedentes, qualquer das partes poderá re-
II - os cálculos de conversão de índices, de honorários,
querer ao Juiz a adoção de uma das alternativas do pará-
de juros e de outras parcelas serão efetuados por servidor
grafo anterior.
judicial;
§ 4º Não encontrado o devedor ou inexistindo bens
III - a intimação da sentença será feita, sempre que
penhoráveis, o processo será imediatamente extinto, de-
possível, na própria audiência em que for proferida. Nessa
intimação, o vencido será instado a cumprir a sentença tão volvendo-se os documentos ao autor.
logo ocorra seu trânsito em julgado, e advertido dos efei-
tos do seu descumprimento (inciso V); Comentários aos artigos 52 e 53: Nas execuções dos
IV - não cumprida voluntariamente a sentença transita- julgados, o demandante vitorioso pretende obter, sempre,
da em julgado, e tendo havido solicitação do interessado, aquilo que ganhou com a sentença. Somente a sentença
que poderá ser verbal, proceder-se-á desde logo à execu- condenatória enseja um novo processo de execução.
ção, dispensada nova citação; Após a prolação da sentença, caso esta não seja cum-
V - nos casos de obrigação de entregar, de fazer, ou prida voluntariamente, poderá o exequente solicitar seja o
de não fazer, o Juiz, na sentença ou na fase de execução, executado compelido judicialmente a satisfazer a obriga-
cominará multa diária, arbitrada de acordo com as condi- ção que assumiu em sede de acordo, ou que lhe foi impos-
ções econômicas do devedor, para a hipótese de inadim- ta por sentença condenatória.

148
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

As sentenças proferidas no Juizado serão nele executa- Capítulo III


das, extinguindo-se o processo ao final com a obtenção da Dos Juizados Especiais Criminais
pretensão do exequente ou com a frustração da execução Disposições Gerais
diante da inexistência de bens em posse ou propriedade do
devedor, que sejam suficientes para garantir a satisfação do Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes
crédito. togados ou togados e leigos, tem competência para a con-
ciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de
Seção XVI menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de cone-
Das Despesas xão e continência.
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o
Art. 54. O acesso ao Juizado Especial independerá, em juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplica-
primeiro grau de jurisdição, do pagamento de custas, taxas ção das regras de conexão e continência, observar-se-ão
ou despesas. os institutos da transação penal e da composição dos da-
Parágrafo único. O preparo do recurso, na forma do § nos civis.
1º do art. 42 desta Lei, compreenderá todas as despesas
processuais, inclusive aquelas dispensadas em primeiro grau Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor po-
de jurisdição, ressalvada a hipótese de assistência judiciária tencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções
gratuita. penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não
superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.
Art. 55. A sentença de primeiro grau não condenará o
vencido em custas e honorários de advogado, ressalvados Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orien-
os casos de litigância de má-fé. Em segundo grau, o recor- tar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, infor-
rente, vencido, pagará as custas e honorários de advogado, malidade, economia processual e celeridade, objetivando,
que serão fixados entre dez por cento e vinte por cento do sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela
valor de condenação ou, não havendo condenação, do valor vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.
corrigido da causa. (Redação dada pela Lei nº 13.603, de 2018)
Parágrafo único. Na execução não serão contadas cus-
tas, salvo quando: Comentários aos artigos 60, 61 e 62: Fica a cargo da
I - reconhecida a litigância de má-fé; Lei de Organização Judiciária de cada Estado fazer a opção
II - improcedentes os embargos do devedor; pela inclusão de leigos no âmbito dos Juizados. Esses juízes
III - tratar-se de execução de sentença que tenha sido leigos jamais terão competência para o julgamento, limi-
objeto de recurso improvido do devedor. tam- se à conciliação. A homologação de eventual acordo
deve ser feita exclusivamente pelo juiz togado.
Comentários aos artigos 54 e 55: No âmbito dos Jui- - Ainda que a competência dos JECrim para o processo
zados Especiais, não são devidas despesas para efeito do e julgamento de infrações de menor potencial ofensivo de-
cumprimento de diligências, inclusive, quando da expedição rive do art. 98, I, da CF/88, ela admite modificações, sendo,
de cartas precatórias. Assim, nos Juizados Especiais as partes portanto, COMPETÊNCIARELATIVA
não estão sujeitas ao pagamento de custas processuais e
honorários de advogado, o que ocorrerá, apenas, se a parte Seção I
vencida, insatisfeita, recorrer da sentença. Da Competência e dos Atos Processuais

Seção XVII Art. 63. A competência do Juizado será determinada


Disposições Finais pelo lugar em que foi praticada a infração penal.

Art. 56. Instituído o Juizado Especial, serão implantadas Art. 64. Os atos processuais serão públicos e poderão
as curadorias necessárias e o serviço de assistência judiciária. realizar-se em horário noturno e em qualquer dia da se-
mana, conforme dispuserem as normas de organização
Art. 57. O acordo extrajudicial, de qualquer natureza ou judiciária.
valor, poderá ser homologado, no juízo competente, inde-
pendentemente de termo, valendo a sentença como título Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que
executivo judicial. preencherem as finalidades para as quais foram realizados,
Parágrafo único. Valerá como título extrajudicial o acor- atendidos os critérios indicados no art. 62 desta Lei.
do celebrado pelas partes, por instrumento escrito, referen- § 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que
dado pelo órgão competente do Ministério Público. tenha havido prejuízo.
§ 2º A prática de atos processuais em outras comarcas
Art. 58. As normas de organização judiciária local pode- poderá ser solicitada por qualquer meio hábil de comuni-
rão estender a conciliação prevista nos arts. 22 e 23 a causas cação.
não abrangidas por esta Lei. § 3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente os
atos havidos por essenciais. Os atos realizados em audiên-
Art. 59. Não se admitirá ação rescisória nas causas su- cia de instrução e julgamento poderão ser gravados em fita
jeitas ao procedimento instituído por esta Lei. magnética ou equivalente.

149
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Comentário: Pode ocorrer de uma das partes, ou até
Juizado, sempre que possível, ou por mandado. ambas as partes não comparecerem à audiência por algum
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser motivo, sendo ele particular ou por força maior, e acon-
citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo co- tecer desta audiência ser designada para um outro dia.
mum para adoção do procedimento previsto em lei. Quando isso acontece, as partes têm que ser devidamente
intimadas para a próxima audiência que se fará realizar.
Art. 67. A intimação far-se-á por correspondência, com
aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos
jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarre- envolvidos, a Secretaria providenciará sua intimação e, se
gado da recepção, que será obrigatoriamente identificado, for o caso, a do responsável civil, na forma dos arts. 67 e
ou, sendo necessário, por oficial de justiça, independente- 68 desta Lei.
mente de mandado ou carta precatória, ou ainda por qual-
quer meio idôneo de comunicação. Art. 72. Na audiência preliminar, presente o represen-
Parágrafo único. Dos atos praticados em audiência tante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se
considerar-se-ão desde logo cientes as partes, os interes- possível, o responsável civil, acompanhados por seus advo-
sados e defensores. gados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da compo-
sição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação
imediata de pena não privativa de liberdade.
Art. 68. Do ato de intimação do autor do fato e do
mandado de citação do acusado, constará a necessidade
Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por
de seu comparecimento acompanhado de advogado, com
conciliador sob sua orientação.
a advertência de que, na sua falta, ser-lhe-á designado de-
Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da Jus-
fensor público. tiça, recrutados, na forma da lei local, preferentemente en-
tre bacharéis em Direito, excluídos os que exerçam funções
Comentário art. 67 e 68: As intimações ou notifica- na administração da Justiça Criminal.
ções são permitidas por qualquer meio válido (princípio da
informalidade). Assim, a intimação pode ser feita por cor- Comentário: A conciliação entre as partes será reali-
respondência com A. R., por oficial de justiça, fax, telefone, zada por um juiz titular do Juizado, ou ainda por um Con-
e-mail etc. ciliador. O conciliador é uma pessoa nomeada perante o
juiz, que tenha um conhecimento breve perante as normas,
Seção II mas não obrigatoriamente precisa ter o curso superior em
Da Fase Preliminar bacharel em Direito. Este Conciliador é considerado, den-
tro da classificação dos entes atuantes no judiciário, como
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento auxiliares da Justiça, assim como os Oficiais de Justiça e
da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encami- Comissários de Menor.
nhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a
vítima, providenciando-se as requisições dos exames peri- Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a
ciais necessários. escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irre-
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura corrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil
do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou competente.
assumir o compromisso de a ele comparecer, não se impo- Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de inicia-
rá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de tiva privada ou de ação penal pública condicionada à re-
violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medi- presentação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao
da de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de direito de queixa ou representação.
convivência com a vítima.
Comentário: Na composição civil dos danos, o foco
são os interesses patrimoniais e, portanto, de natureza in-
Comentário: Termo circunstanciado: a autoridade po-
dividual disponível. Não há necessidade de intervenção do
licial lavrará o termo e encaminhará ao Juizado o autor do
MP, a não ser que se trate de causa em que haja interesse
fato e a vítima, requisitando os exames periciais necessá-
de incapazes.
rios. Direito Público Subjetivo (art. 69, parágrafo único). É
Ocorrendo a composição de danos civis, o acordo será
vedada a prisão em flagrante ou exigência de fiança se o reduzido a escrito e homologado pelo juiz mediante sen-
autor do fato comprometer-se a comparecer ao Juizado. tença irrecorrível, que terá eficácia de título a ser executado
no juízo cível competente.
Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a vítima, e
não sendo possível a realização imediata da audiência pre- Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será
liminar, será designada data próxima, da qual ambos sairão dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exer-
cientes. cer o direito de representação verbal, que será reduzida a
termo.

150
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Parágrafo único. O não oferecimento da representação Seção III


na audiência preliminar não implica decadência do direito, Do Procedimento Sumaríssimo
que poderá ser exercido no prazo previsto em lei.
Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não
Comentário: Caso não haja composição civil a vítima houver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato,
pode exercer a representação/queixa oral Na audiência, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 des-
que será reduzida a termo. ta Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato,
Importante ilustrar que a representação pode ser ofe- denúncia oral, se não houver necessidade de diligências
recida perante a autoridade policial, o MP ou o juízo (art. imprescindíveis.
39 do CPP), não necessariamente após a composição civil § 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elabo-
não obtida.
rada com base no termo de ocorrência referido no art. 69
A representação não exige formalismo, bastando que
desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-
fique evidenciado o interesse da vítima na persecução pe-
nal. -se-á do exame do corpo de delito quando a materialida-
de do crime estiver aferida por boletim médico ou prova
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de cri- equivalente.
me de ação penal pública incondicionada, não sendo caso § 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não
de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a permitirem a formulação da denúncia, o Ministério Público
aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças exis-
a ser especificada na proposta. tentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.
§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única apli- § 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá
cável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade. ser oferecida queixa oral, cabendo ao Juiz verificar se a
§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: complexidade e as circunstâncias do caso determinam a
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática adoção das providências previstas no parágrafo único do
de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença de- art. 66 desta Lei.
finitiva;
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no Art. 78. Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a
prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou termo, entregando-se cópia ao acusado, que com ela ficará
multa, nos termos deste artigo; citado e imediatamente cientificado da designação de dia
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social
e hora para a audiência de instrução e julgamento, da qual
e a personalidade do agente, bem como os motivos e as
também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido,
circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da me-
dida. o responsável civil e seus advogados.
§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu de- § 1º Se o acusado não estiver presente, será citado na
fensor, será submetida à apreciação do Juiz. forma dos arts. 66 e 68 desta Lei e cientificado da data da
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita audiência de instrução e julgamento, devendo a ela trazer
pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de suas testemunhas ou apresentar requerimento para inti-
direitos ou multa, que não importará em reincidência, sen- mação, no mínimo cinco dias antes de sua realização.
do registrada apenas para impedir novamente o mesmo § 2º Não estando presentes o ofendido e o responsável
benefício no prazo de cinco anos. civil, serão intimados nos termos do art. 67 desta Lei para
§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá comparecerem à audiência de instrução e julgamento.
a apelação referida no art. 82 desta Lei. § 3º As testemunhas arroladas serão intimadas na for-
§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste ma prevista no art. 67 desta Lei.
artigo não constará de certidão de antecedentes criminais,
salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não Art. 79. No dia e hora designados para a audiência de
terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação instrução e julgamento, se na fase preliminar não tiver ha-
cabível no juízo cível. vido possibilidade de tentativa de conciliação e de ofereci-
mento de proposta pelo Ministério Público, proceder-se-á
Comentário: Havendo representação ou tratando-se
nos termos dos arts. 72, 73, 74 e 75 desta Lei.
de crime de ação penal pública incondicionada, poderá
ocorrer a transação penal, a qual é acordo celebrado entre
o MP (ou querelante, nos crimes de ação privada) e o autor Comentários aos artigos 77, 78 e 79: O rito sumarís-
do fato delituoso, por meio da qual é proposta a aplicação simo é adotado para julgamento das infrações penais de
imediata de pena restritiva de direitos ou multa, evitando- menor potencial ofensivo, quais sejam, as contravenções
-se, assim, a instauração do processo. Quando se trata de penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não
infração de menor potencial ofensivo, ainda que haja las- superior a 2 anos, cumulada ou não com multa.
tro probatório suficiente para o oferecimento de denúncia, Caso o autor dos fatos não compareça à audiência pre-
desde que o autor do fato preencha os requisitos objetivos liminar ou não ocorra as hipóteses previstas no artigo 76
e subjetivos do art. 76, ao invés do MP oferecer denúncia, da Lei, o Ministério Público oferecerá, oralmente, denúncia,
deve propor a transação penal, com a aplicação imediata se não houver a necessidade da realização de diligência
de penas restritivas de direito ou multa. imprescindível.

151
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

O MP em caso de complexidade, poderá requerer o § 4º As partes serão intimadas da data da sessão de


encaminhamento das peças existentes, pois sua denuncia julgamento pela imprensa.
se baseará nos relatos do Termo Circunstanciado elabora- § 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios fun-
do pela Autoridade Policial. damentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.
Em caso de ação penal de inciativa privada, a queixa
também poderá ser oral, sendo que a denuncia ou queixa Comentários aos artigos 81 e 82: Caso a denúncia
oral serão reduzidas a escrito e uma cópia será entregue ao ou queixa sejam rejeitadas, caberá apelação da decisão no
autor dos fatos ficando citado e imediatamente cientifica- prazo de 10 dias, contados da ciência da sentença pelo MP,
do da data da audiência de instrução e julgamento, deven- réu e defensor. Ainda, caberá apelação da sentença em que
do apresentar suas testemunhas. O ofendido será intimado absolver ou condenar o acusado.
da data e hora da referida audiência. O recurso de apelação deverá ser apresentado por pe-
Sendo a denúncia recebida, ouvir-se-á a vítima, as tes- tição escrita, constando dessa as razões e os pedidos do
temunhas de acusação, as testemunhas de defesa, o acusa- recorrente. Frise- se que o recorrido terá 10 dias para apre-
do será interrogado, passando-se aos debates orais. sentar suas contrarrazões.
A apelação poderá ser julgada por turma composta
Art. 80. Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz, por 3 juízes em exercício 1º grau de jurisdição, reunidos na
quando imprescindível, a condução coercitiva de quem sede do Juizado.
deva comparecer.
Art. 83. Caberão embargos de declaração quando, em
Comentário: Como a autodefesa é renunciável, tendo sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição,
o acusado o direito de permanecer em silêncio, prevale- omissão ou dúvida. (Vide Lei nº 13.105, de 2015)
ce que não é possível que o juiz determine sua condução § 1º Os embargos de declaração serão opostos por es-
coercitiva, salvo se necessária para eventual reconhecimen- crito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da
to de pessoas, meio de prova que não está protegido pelo ciência da decisão.
princípio que veda a autoincriminação. § 2º Quando opostos contra sentença, os embargos de
A Lei 9.099 confere à defesa a oportunidade de se ma- declaração suspenderão o prazo para o recurso. (Vide Lei
nifestar oralmente antes de haver o recebimento da peça nº 13.105, de 2015)
acusatória (defesa preliminar oral). § 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.

Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao de- Comentário: os embargos de declaração serão opos-
fensor para responder à acusação, após o que o Juiz rece- tos no prazo de 5 dias, contados da ciência da decisão. Este
berá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, caberá quando houver obscuridade, contradição, omissão
serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e ou dúvida acerca da sentença. Deverão ser opostos por es-
defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, crito ou oralmente.
passando-se imediatamente aos debates orais e à prolação Os Embargos de Declaração contra sentença SUSPEN-
da sentença. DEM o prazo para interpor outro recurso. Já os Embargos
§ 1º Todas as provas serão produzidas na audiência de de Declaração contra Acórdão da Turma Recursal, INTER-
instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as ROMPEM o prazo para interpor out
que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias.
§ 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado Seção IV
termo, assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve Da Execução
resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a
sentença. Art. 84. Aplicada exclusivamente pena de multa, seu
§ 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os cumprimento far-se-á mediante pagamento na Secretaria
elementos de convicção do Juiz. do Juizado.
Parágrafo único. Efetuado o pagamento, o Juiz declara-
Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa rá extinta a punibilidade, determinando que a condenação
e da sentença caberá apelação, que poderá ser julgada por não fique constando dos registros criminais, exceto para
turma composta de três Juízes em exercício no primeiro fins de requisição judicial.
grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.
§ 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias, Comentário: O presente artigo dispõe que, sendo a
contados da ciência da sentença pelo Ministério Público, pena de multa aplicada exclusivamente sem cumprimento
pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual cons- se dará mediante o seu pagamento, quando o Juiz declara-
tarão as razões e o pedido do recorrente. rá extinta a punibilidade do autor.
§ 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta No caso da suspensão do processo, expirado o prazo,
escrita no prazo de dez dias. o Juiz declarará extinta a punibilidade. Caso a multa não
§ 3º As partes poderão requerer a transcrição da gra- seja paga, a procuradoria fiscal deverá proceder à execução
vação da fita magnética a que alude o § 3º do art. 65 desta da pena de multa.
Lei.

152
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 85. Não efetuado o pagamento de multa, será feita Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos
a conversão em pena privativa da liberdade, ou restritiva de processos penais cuja instrução já estiver iniciada. (Vide
direitos, nos termos previstos em lei. ADIN nº 1.719-9)

Art. 86. A execução das penas privativas de liberdade Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no
e restritivas de direitos, ou de multa cumulada com estas, âmbito da Justiça Militar.
será processada perante o órgão competente, nos termos
da lei. Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir re-
presentação para a propositura da ação penal pública, o
Seção V ofendido ou seu representante legal será intimado para
Das Despesas Processuais oferecê-la no prazo de trinta dias, sob pena de decadência.

Art. 87. Nos casos de homologação do acordo civil e Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições
aplicação de pena restritiva de direitos ou multa (arts. 74 e dos Códigos Penal e de Processo Penal, no que não forem
76, § 4º), as despesas processuais serão reduzidas, confor- incompatíveis com esta Lei.
me dispuser lei estadual.
Capítulo IV
Seção VI Disposições Finais Comuns
Disposições Finais
Art. 93. Lei Estadual disporá sobre o Sistema de Juiza-
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da le- dos Especiais Cíveis e Criminais, sua organização, composi-
gislação especial, dependerá de representação a ação pe- ção e competência.
nal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões
culposas. Art. 94. Os serviços de cartório poderão ser prestados,
e as audiências realizadas fora da sede da Comarca, em
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada bairros ou cidades a ela pertencentes, ocupando instala-
for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta ções de prédios públicos, de acordo com audiências pre-
Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá viamente anunciadas.
propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não Art. 95. Os Estados, Distrito Federal e Territórios criarão
tenha sido condenado por outro crime, presentes os de- e instalarão os Juizados Especiais no prazo de seis meses, a
mais requisitos que autorizariam a suspensão condicional contar da vigência desta Lei.
da pena (art. 77 do Código Penal). Parágrafo único. No prazo de 6 (seis) meses, contado
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, da publicação desta Lei, serão criados e instalados os Jui-
na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá zados Especiais Itinerantes, que deverão dirimir, prioritaria-
suspender o processo, submetendo o acusado a período mente, os conflitos existentes nas áreas rurais ou nos locais
de prova, sob as seguintes condições: de menor concentração populacional.
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de frequentar determinados lugares; Art. 96. Esta Lei entra em vigor no prazo de sessenta
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, dias após a sua publicação.
sem autorização do Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, Art. 97. Ficam revogadas a Lei nº 4.611, de 2 de abril de
mensalmente, para informar e justificar suas atividades. 1965 e a Lei nº 7.244, de 7 de novembro de 1984.
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que
fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao Brasília, 26 de setembro de 1995; 174º da Indepen-
fato e à situação pessoal do acusado. dência e 107º da República.
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não Nelson A. Jobim
efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado
vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção,
ou descumprir qualquer outra condição imposta.
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará
extinta a punibilidade.
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de sus-
pensão do processo.
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste
artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos.

153
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social


e a personalidade do condenado, bem como os motivos
DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE e as circunstâncias do crime indicarem que a substituição
(LEI 9.605/98); seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do
crime.
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que
se refere este artigo terão a mesma duração da pena priva-
LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998. tiva de liberdade substituída.
Art. 8º As penas restritivas de direito são:
Mensagem de veto I - prestação de serviços à comunidade;
Dispõe sobre as sanções penais e administrativas deri- II - interdição temporária de direitos;
vadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e III - suspensão parcial ou total de atividades;
dá outras providências. IV - prestação pecuniária;
V - recolhimento domiciliar.
O PRESIDENTE  DA  REPÚBLICA  Faço saber que o Art. 9º A prestação de serviços à comunidade consis-
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: te na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas junto a
parques e jardins públicos e unidades de conservação, e,
CAPÍTULO I no caso de dano da coisa particular, pública ou tombada,
DISPOSIÇÕES GERAIS na restauração desta, se possível.
Art. 10. As penas de interdição temporária de direito
Art. 1º (VETADO) são a proibição de o condenado contratar com o Poder
Público, de receber incentivos fiscais ou quaisquer outros
Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prá-
benefícios, bem como de participar de licitações, pelo pra-
tica dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes
zo de cinco anos, no caso de crimes dolosos, e de três anos,
cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o
no de crimes culposos.
diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão Art. 11. A suspensão de atividades será aplicada quan-
técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário do estas não estiverem obedecendo às prescrições legais.
de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de Art. 12. A prestação pecuniária consiste no pagamen-
outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir to em dinheiro à vítima ou à entidade pública ou privada
para evitá-la. com fim social, de importância, fixada pelo juiz, não inferior
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas ad- a um salário mínimo nem superior a trezentos e sessenta
ministrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante
Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de eventual reparação civil a que for condenado o infrator.
de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão Art. 13. O recolhimento domiciliar baseia-se na au-
colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. todisciplina e senso de responsabilidade do condenado,
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídi- que deverá, sem vigilância, trabalhar, freqüentar curso ou
cas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou exercer atividade autorizada, permanecendo recolhido nos
partícipes do mesmo fato. dias e horários de folga em residência ou em qualquer local
Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica destinado a sua moradia habitual, conforme estabelecido
sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarci- na sentença condenatória.
mento de prejuízos causados à qualidade do meio ambien- Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:
te. I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;
Art. 5º (VETADO) II - arrependimento do infrator, manifestado pela es-
CAPÍTULO II pontânea reparação do dano, ou limitação significativa da
DA APLICAÇÃO DA PENA degradação ambiental causada;
III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminen-
Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a au- te de degradação ambiental;
toridade competente observará: IV - colaboração com os agentes encarregados da vigi-
I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da lância e do controle ambiental.
Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quan-
infração e suas conseqüências para a saúde pública e para
do não constituem ou qualificam o crime:
o meio ambiente;
I - reincidência nos crimes de natureza ambiental;
II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimen-
II - ter o agente cometido a infração:
to da legislação de interesse ambiental;
a) para obter vantagem pecuniária;
III - a situação econômica do infrator, no caso de multa. b) coagindo outrem para a execução material da in-
Art. 7º As penas restritivas de direitos são autônomas e fração;
substituem as privativas de liberdade quando: c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a
I - tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena saúde pública ou o meio ambiente;
privativa de liberdade inferior a quatro anos; d) concorrendo para danos à propriedade alheia;

154
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

e) atingindo áreas de unidades de conservação ou II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou


áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime especial atividade;
de uso; III - proibição de contratar com o Poder Público, bem
f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamen- como dele obter subsídios, subvenções ou doações.
tos humanos; § 1º A suspensão de atividades será aplicada quando
g) em período de defeso à fauna; estas não estiverem obedecendo às disposições legais ou
h) em domingos ou feriados; regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente.
i) à noite; § 2º A interdição será aplicada quando o estabeleci-
j) em épocas de seca ou inundações; mento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida
l) no interior do espaço territorial especialmente pro- autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com
tegido; violação de disposição legal ou regulamentar.
m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou § 3º A proibição de contratar com o Poder Público e
captura de animais; dele obter subsídios, subvenções ou doações não poderá
n) mediante fraude ou abuso de confiança; exceder o prazo de dez anos.
o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela
autorização ambiental; pessoa jurídica consistirá em:
p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou I - custeio de programas e de projetos ambientais;
parcialmente, por verbas públicas ou beneficiada por in- II - execução de obras de recuperação de áreas degra-
centivos fiscais; dadas;
q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relató- III - manutenção de espaços públicos;
rios oficiais das autoridades competentes; IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais
r) facilitada por funcionário público no exercício de públicas.
suas funções. Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, pre-
Art. 16. Nos crimes previstos nesta Lei, a suspensão ponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocul-
condicional da pena pode ser aplicada nos casos de con- tar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua
denação a pena privativa de liberdade não superior a três liquidação forçada, seu patrimônio será considerado ins-
anos. trumento do crime e como tal perdido em favor do Fundo
Art. 17. A verificação da reparação a que se refere o § Penitenciário Nacional.
2º do art. 78 do Código Penal será feita mediante laudo
de reparação do dano ambiental, e as condições a serem CAPÍTULO III
impostas pelo juiz deverão relacionar-se com a proteção DA APREENSÃO DO PRODUTO E DO INSTRUMEN-
ao meio ambiente. TO DE INFRAÇÃO
Art. 18. A multa será calculada segundo os critérios do ADMINISTRATIVA OU DE CRIME
Código Penal; se revelar-se ineficaz, ainda que aplicada no
valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus
em vista o valor da vantagem econômica auferida. produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos.
Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, § 1o  Os animais serão prioritariamente libertados em
sempre que possível, fixará o montante do prejuízo causa- seu habitat ou, sendo tal medida inviável ou não recomen-
do para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa. dável por questões sanitárias, entregues a jardins zooló-
Parágrafo único. A perícia produzida no inquérito civil gicos, fundações ou entidades assemelhadas, para guarda
ou no juízo cível poderá ser aproveitada no processo penal, e cuidados sob a responsabilidade de técnicos habilita-
instaurando-se o contraditório. dos.        (Redação dada pela Lei nº 13.052, de 2014)
Art. 20. A sentença penal condenatória, sempre que § 2º Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras,
possível, fixará o valor mínimo para reparação dos danos serão estes avaliados e doados a instituições científicas,
causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos hospitalares, penais e outras com fins beneficentes. 
pelo ofendido ou pelo meio ambiente. § 2o  Tratando-se de produtos perecíveis, serão estes
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença avaliados e doados a instituições científicas, hospitalares,
condenatória, a execução poderá efetuar-se pelo valor fi- penais e outras com fins beneficentes.         (Redação dada
xado nos termos do caput, sem prejuízo da liquidação para pela Medida provisória nº 62, de 2002)   Prejudicada
apuração do dano efetivamente sofrido. § 2o  Até que os animais sejam entregues às instituições
Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou al- mencionadas no § 1o deste artigo, o órgão autuante zelará
ternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o dis- para que eles sejam mantidos em condições adequadas de
posto no art. 3º, são: acondicionamento e transporte que garantam o seu bem-
I - multa; -estar físico.        (Redação dada pela Lei nº 13.052, de 2014)
II - restritivas de direitos; § 3º Tratando-se de produtos perecíveis ou madei-
III - prestação de serviços à comunidade. ras, serão estes avaliados e doados a instituições cientí-
Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurí- ficas, hospitalares, penais e outras com fins beneficen-
dica são: tes.        (Renumerando do §2º para §3º pela Lei nº 13.052,
I - suspensão parcial ou total de atividades; de 2014)

155
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 4° Os produtos e subprodutos da fauna não perecí- Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.
veis serão destruídos ou doados a instituições científicas, § 1º Incorre nas mesmas penas:
culturais ou educacionais.       (Renumerando do §3º para I - quem impede a procriação da fauna, sem licença,
§4º pela Lei nº 13.052, de 2014) autorização ou em desacordo com a obtida;
§ 5º Os instrumentos utilizados na prática da infra- II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou
ção serão vendidos, garantida a sua descaracterização por criadouro natural;
meio da reciclagem.        (Renumerando do §4º para §5º III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire,
pela Lei nº 13.052, de 2014) guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta
ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em
CAPÍTULO IV rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriun-
DA AÇÃO E DO PROCESSO PENAL dos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem
a devida permissão, licença ou autorização da autoridade
Art. 26. Nas infrações penais previstas nesta Lei, a ação competente.
penal é pública incondicionada. § 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre
Parágrafo único. (VETADO) não considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, consi-
Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial derando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
ofensivo, a proposta de aplicação imediata de pena restri- § 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles
tiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer
de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte
desde que tenha havido a prévia composição do dano am- de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do terri-
biental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso tório brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras.
de comprovada impossibilidade. § 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é pra-
Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de ticado:
26 de setembro de 1995, aplicam-se aos crimes de menor I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de
potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes extinção, ainda que somente no local da infração;
modificações: II - em período proibido à caça;
I - a declaração de extinção de punibilidade, de que III - durante a noite;
trata o § 5° do artigo referido no caput, dependerá de laudo IV - com abuso de licença;
de constatação de reparação do dano ambiental, ressalva- V - em unidade de conservação;
da a impossibilidade prevista no inciso I do § 1° do mesmo VI - com emprego de métodos ou instrumentos capa-
artigo; zes de provocar destruição em massa.
II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar § 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decor-
não ter sido completa a reparação, o prazo de suspensão re do exercício de caça profissional.
do processo será prorrogado, até o período máximo pre- § 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos
visto no artigo referido no caput, acrescido de mais um atos de pesca.
ano, com suspensão do prazo da prescrição; Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de an-
III - no período de prorrogação, não se aplicarão as fíbios e répteis em bruto, sem a autorização da autoridade
condições dos incisos II, III e IV do § 1° do artigo mencio- ambiental competente:
nado no caput; Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem pare-
lavratura de novo laudo de constatação de reparação do cer técnico oficial favorável e licença expedida por autori-
dano ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser no- dade competente:
vamente prorrogado o período de suspensão, até o máxi- Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
mo previsto no inciso II deste artigo, observado o disposto Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mu-
no inciso III; tilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nati-
V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a decla- vos ou exóticos:
ração de extinção de punibilidade dependerá de laudo de Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
constatação que comprove ter o acusado tomado as provi- § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiên-
dências necessárias à reparação integral do dano. cia dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins
didáticos ou científicos, quando existirem recursos alterna-
CAPÍTULO V tivos.
DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se
Seção I ocorre morte do animal.
Dos Crimes contra a Fauna Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carrea-
mento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna
Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espéci- aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou
mes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem águas jurisdicionais brasileiras:
a devida permissão, licença ou autorização da autoridade Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou am-
competente, ou em desacordo com a obtida: bas cumulativamente.

156
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, ou multa, ou
I - quem causa degradação em viveiros, açudes ou es- ambas as penas cumulativamente.       (Incluído pela Lei nº
tações de aqüicultura de domínio público; 11.428, de 2006).
II - quem explora campos naturais de invertebrados Parágrafo único.  Se o crime for culposo, a pena será
aquáticos e algas, sem licença, permissão ou autorização reduzida à metade.       (Incluído pela Lei nº 11.428, de
da autoridade competente; 2006).
III - quem fundeia embarcações ou lança detritos de Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de pre-
qualquer natureza sobre bancos de moluscos ou corais, servação permanente, sem permissão da autoridade com-
devidamente demarcados em carta náutica. petente:
Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibi- Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou am-
da ou em lugares interditados por órgão competente: bas as penas cumulativamente.
Pena - detenção de um ano a três anos ou multa, ou Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de
ambas as penas cumulativamente. Conservação e às áreas de que trata o art. 27 do Decreto
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem: nº 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de
I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espé- sua localização:
cimes com tamanhos inferiores aos permitidos; Pena - reclusão, de um a cinco anos.
II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou § 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Pro-
mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e teção Integral as Estações Ecológicas, as Reservas Biológi-
métodos não permitidos; cas, os Parques Nacionais, os Monumentos Naturais e os
III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa Refúgios de Vida Silvestre.       (Redação dada pela Lei nº
espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibi- 9.985, de 2000)
das. § 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaça-
Art. 35. Pescar mediante a utilização de: das de extinção no interior das Unidades de Conservação
I - explosivos ou substâncias que, em contato com a de Proteção Integral será considerada circunstância agra-
água, produzam efeito semelhante; vante para a fixação da pena.        (Redação dada pela Lei
II - substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela nº 9.985, de 2000)
autoridade competente: § 3º Se o crime for culposo, a pena será reduzida à
Pena - reclusão de um ano a cinco anos. metade.
Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pes- Art. 40-A. (VETADO)         (Incluído pela Lei nº 9.985,
ca todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, de 2000)
apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, § 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Uso
crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou Sustentável as Áreas de Proteção Ambiental, as Áreas de
não de aproveitamento econômico, ressalvadas as espé- Relevante Interesse Ecológico, as Florestas Nacionais, as
cies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais
Reservas Extrativistas, as Reservas de Fauna, as Reservas de
da fauna e da flora.
Desenvolvimento Sustentável e as Reservas Particulares do
Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando reali-
Patrimônio Natural.        (Incluído pela Lei nº 9.985, de 2000)
zado:
§ 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaça-
I - em estado de necessidade, para saciar a fome do
das de extinção no interior das Unidades de Conservação
agente ou de sua família;
de Uso Sustentável será considerada circunstância agra-
II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da
vante para a fixação da pena.         (Incluído pela Lei nº
ação predatória ou destruidora de animais, desde que legal
9.985, de 2000)
e expressamente autorizado pela autoridade competente;
III – (VETADO) § 3o Se o crime for culposo, a pena será reduzida à me-
IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracte- tade.       (Incluído pela Lei nº 9.985, de 2000)
rizado pelo órgão competente. Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:
Seção II Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
Dos Crimes contra a Flora Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de de-
Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de tenção de seis meses a um ano, e multa.
preservação permanente, mesmo que em formação, ou uti- Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões
lizá-la com infringência das normas de proteção: que possam provocar incêndios nas florestas e demais for-
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou am- mas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de
bas as penas cumulativamente. assentamento humano:
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será Pena - detenção de um a três anos ou multa, ou ambas
reduzida à metade. as penas cumulativamente.
Art. 38-A.  Destruir ou danificar vegetação primária ou Art. 43. (VETADO)
secundária, em estágio avançado ou médio de regenera- Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou con-
ção, do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com infringência sideradas de preservação permanente, sem prévia autori-
das normas de proteção:        (Incluído pela Lei nº 11.428, zação, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais:
de 2006). Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

157
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 45. Cortar ou transformar em carvão madeira de a) no período de queda das sementes;
lei, assim classificada por ato do Poder Público, para fins b) no período de formação de vegetações;
industriais, energéticos ou para qualquer outra exploração, c) contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ain-
econômica ou não, em desacordo com as determinações da que a ameaça ocorra somente no local da infração;
legais: d) em época de seca ou inundação;
Pena - reclusão, de um a dois anos, e multa. e) durante a noite, em domingo ou feriado.
Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou in-
dustriais, madeira, lenha, carvão e outros produtos de ori- Seção III
gem vegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor, Da Poluição e outros Crimes Ambientais
outorgada pela autoridade competente, e sem munir-se da
via que deverá acompanhar o produto até final beneficia- Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em ní-
mento: veis tais que resultem ou possam resultar em danos à saú-
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. de humana, ou que provoquem a mortandade de animais
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem ven- ou a destruição significativa da flora:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
de, expõe à venda, tem em depósito, transporta ou guarda
§ 1º Se o crime é culposo:
madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vege-
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
tal, sem licença válida para todo o tempo da viagem ou do
§ 2º Se o crime:
armazenamento, outorgada pela autoridade competente. I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a
Art. 47. (VETADO) ocupação humana;
Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de II - causar poluição atmosférica que provoque a retira-
florestas e demais formas de vegetação: da, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afe-
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. tadas, ou que cause danos diretos à saúde da população;
Art. 49. Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qual- III - causar poluição hídrica que torne necessária a in-
quer modo ou meio, plantas de ornamentação de logra- terrupção do abastecimento público de água de uma co-
douros públicos ou em propriedade privada alheia: munidade;
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou IV - dificultar ou impedir o uso público das praias;
ambas as penas cumulativamente. V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líqui-
Parágrafo único. No crime culposo, a pena é de um a dos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas,
seis meses, ou multa. em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou
Art. 50. Destruir ou danificar florestas nativas ou plan- regulamentos:
tadas ou vegetação fixadora de dunas, protetora de man- Pena - reclusão, de um a cinco anos.
gues, objeto de especial preservação: § 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a
Art. 50-A. Desmatar, explorar economicamente ou de- autoridade competente, medidas de precaução em caso de
gradar floresta, plantada ou nativa, em terras de domínio risco de dano ambiental grave ou irreversível.
público ou devolutas, sem autorização do órgão compe- Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recur-
tente:      (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006) sos minerais sem a competente autorização, permissão,
Pena - reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e mul- concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida:
ta.         (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006) Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
§ 1o Não é crime a conduta praticada quando neces- Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem dei-
sária à subsistência imediata pessoal do agente ou de sua xa de recuperar a área pesquisada ou explorada, nos ter-
mos da autorização, permissão, licença, concessão ou de-
família.       (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)
terminação do órgão competente.
§ 2o  Se a área explorada for superior a 1.000 ha (mil
Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, expor-
hectares), a pena será aumentada de 1 (um) ano por milhar
tar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guar-
de hectare.        (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006) dar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica,
Art. 51. Comercializar motosserra ou utilizá-la em flo- perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente,
restas e nas demais formas de vegetação, sem licença ou em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou
registro da autoridade competente: nos seus regulamentos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Art. 52. Penetrar em Unidades de Conservação condu- § 1o  Nas mesmas penas incorre quem:         (Redação
zindo substâncias ou instrumentos próprios para caça ou dada pela Lei nº 12.305, de 2010)
para exploração de produtos ou subprodutos florestais, I - abandona os produtos ou substâncias referidos
sem licença da autoridade competente: no caput ou os utiliza em desacordo com as normas am-
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. bientais ou de segurança;         (Incluído pela Lei nº 12.305,
Art. 53. Nos crimes previstos nesta Seção, a pena é au- de 2010)
mentada de um sexto a um terço se: II - manipula, acondiciona, armazena, coleta, transpor-
I - do fato resulta a diminuição de águas naturais, a ta, reutiliza, recicla ou dá destinação final a resíduos peri-
erosão do solo ou a modificação do regime climático; gosos de forma diversa da estabelecida em lei ou regula-
II - o crime é cometido: mento.         (Incluído pela Lei nº 12.305, de 2010)

158
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 2º Se o produto ou a substância for nuclear ou ra- Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e mul-
dioativa, a pena é aumentada de um sexto a um terço. ta.         (Redação dada pela Lei nº 12.408, de 2011)
§ 3º Se o crime é culposo: § 1o  Se o ato for realizado em monumento ou coisa
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou
Art. 57. (VETADO) histórico, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de deten-
Art. 58. Nos crimes dolosos previstos nesta Seção, as ção e multa.        (Renumerado do parágrafo único pela Lei
penas serão aumentadas: nº 12.408, de 2011)
I - de um sexto a um terço, se resulta dano irreversível § 2o  Não constitui crime a prática de grafite realizada
à flora ou ao meio ambiente em geral; com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou priva-
II - de um terço até a metade, se resulta lesão corporal do mediante manifestação artística, desde que consentida
de natureza grave em outrem; pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou ar-
III - até o dobro, se resultar a morte de outrem. rendatário do bem privado e, no caso de bem público, com
Parágrafo único. As penalidades previstas neste artigo a autorização do órgão competente e a observância das
somente serão aplicadas se do fato não resultar crime mais posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos
grave. governamentais responsáveis pela preservação e conserva-
Art. 59. (VETADO)
ção do patrimônio histórico e artístico nacional.       (Incluí-
Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer
do pela Lei nº 12.408, de 2011)
funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabe-
lecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores,
Seção V
sem licença ou autorização dos órgãos ambientais compe-
tentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares Dos Crimes contra a Administração Ambiental
pertinentes:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa, ou am- Art. 66. Fazer o funcionário público afirmação falsa ou
bas as penas cumulativamente. enganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados
Art. 61. Disseminar doença ou praga ou espécies que técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de
possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à licenciamento ambiental:
flora ou aos ecossistemas: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Art. 67. Conceder o funcionário público licença, autori-
zação ou permissão em desacordo com as normas ambien-
Seção IV tais, para as atividades, obras ou serviços cuja realização
Dos Crimes contra o Ordenamento Urbano e o Pa- depende de ato autorizativo do Poder Público:
trimônio Cultural Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três
Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar: meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa.
I - bem especialmente protegido por lei, ato adminis- Art. 68. Deixar, aquele que tiver o dever legal ou con-
trativo ou decisão judicial; tratual de fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante inte-
II - arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, ins- resse ambiental:
talação científica ou similar protegido por lei, ato adminis- Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
trativo ou decisão judicial: Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. meses a um ano, sem prejuízo da multa.
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena é de Art. 69. Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Po-
seis meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa. der Público no trato de questões ambientais:
Art. 63. Alterar o aspecto ou estrutura de edificação Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
ou local especialmente protegido por lei, ato administrati-
Art. 69-A. Elaborar ou apresentar, no licenciamento,
vo ou decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico,
concessão florestal ou qualquer outro procedimento ad-
ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso,
ministrativo, estudo, laudo ou relatório ambiental total ou
arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autoriza-
parcialmente falso ou enganoso, inclusive por omissão: (In-
ção da autoridade competente ou em desacordo com a
concedida: cluído pela Lei nº 11.284, de 2006)
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e mul-
Art. 64. Promover construção em solo não edificável, ta.       (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)
ou no seu entorno, assim considerado em razão de seu va- § 1o  Se o crime é culposo:        (Incluído pela Lei nº
lor paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cul- 11.284, de 2006)
tural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.       (Incluído
sem autorização da autoridade competente ou em desa- pela Lei nº 11.284, de 2006)
cordo com a concedida: § 2o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. terços), se há dano significativo ao meio ambiente, em de-
Art. 65.  Pichar ou por outro meio conspurcar edifica- corrência do uso da informação falsa, incompleta ou enga-
ção ou monumento urbano:       (Redação dada pela Lei nº nosa.        (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)
12.408, de 2011)

159
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

CAPÍTULO VI § 3º A multa simples será aplicada sempre que o agen-


DA INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA te, por negligência ou dolo:
I - advertido por irregularidades que tenham sido pra-
Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental ticadas, deixar de saná-las, no prazo assinalado por órgão
toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, competente do SISNAMA ou pela Capitania dos Portos, do
gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambien- Ministério da Marinha;
te. II - opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do SIS-
§ 1º São autoridades competentes para lavrar auto de NAMA ou da Capitania dos Portos, do Ministério da Mari-
infração ambiental e instaurar processo administrativo os nha.
funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema § 4° A multa simples pode ser convertida em serviços
Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, designados para de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do
as atividades de fiscalização, bem como os agentes das Ca- meio ambiente.
pitanias dos Portos, do Ministério da Marinha. § 5º A multa diária será aplicada sempre que o cometi-
§ 2º Qualquer pessoa, constatando infração ambiental, mento da infração se prolongar no tempo.
poderá dirigir representação às autoridades relacionadas § 6º A apreensão e destruição referidas nos incisos IV
no parágrafo anterior, para efeito do exercício do seu po- e V do caput obedecerão ao disposto no art. 25 desta Lei.
der de polícia.
§ 7º As sanções indicadas nos incisos VI a IX do caput se-
§ 3º A autoridade ambiental que tiver conhecimento de
rão aplicadas quando o produto, a obra, a atividade ou o
infração ambiental é obrigada a promover a sua apuração
estabelecimento não estiverem obedecendo às prescrições
imediata, mediante processo administrativo próprio, sob
pena de co-responsabilidade. legais ou regulamentares.
§ 4º As infrações ambientais são apuradas em processo § 8º As sanções restritivas de direito são:
administrativo próprio, assegurado o direito de ampla de- I - suspensão de registro, licença ou autorização;
fesa e o contraditório, observadas as disposições desta Lei. II - cancelamento de registro, licença ou autorização;
Art. 71. O processo administrativo para apuração de III - perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais;
infração ambiental deve observar os seguintes prazos má- IV - perda ou suspensão da participação em linhas de
ximos: financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;
I - vinte dias para o infrator oferecer defesa ou impug- V - proibição de contratar com a Administração Públi-
nação contra o auto de infração, contados da data da ciên- ca, pelo período de até três anos.
cia da autuação; Art. 73. Os valores arrecadados em pagamento de mul-
II - trinta dias para a autoridade competente julgar o tas por infração ambiental serão revertidos ao Fundo Na-
auto de infração, contados da data da sua lavratura, apre- cional do Meio Ambiente, criado pela Lei nº 7.797, de 10 de
sentada ou não a defesa ou impugnação; julho de 1989, Fundo Naval, criado pelo Decreto nº 20.923,
III - vinte dias para o infrator recorrer da decisão con- de 8 de janeiro de 1932, fundos estaduais ou municipais de
denatória à instância superior do Sistema Nacional do Meio meio ambiente, ou correlatos, conforme dispuser o órgão
Ambiente - SISNAMA, ou à Diretoria de Portos e Costas, do arrecadador.
Ministério da Marinha, de acordo com o tipo de autuação; Art. 74. A multa terá por base a unidade, hectare, metro
IV – cinco dias para o pagamento de multa, contados cúbico, quilograma ou outra medida pertinente, de acordo
da data do recebimento da notificação. com o objeto jurídico lesado.
Art. 72. As infrações administrativas são punidas com Art. 75. O valor da multa de que trata este Capítulo será
as seguintes sanções, observado o disposto no art. 6º: fixado no regulamento desta Lei e corrigido periodicamen-
I - advertência; te, com base nos índices estabelecidos na legislação per-
II - multa simples; tinente, sendo o mínimo de R$ 50,00 (cinqüenta reais) e o
III - multa diária; máximo de R$ 50.000.000,00 (cinqüenta milhões de reais).
IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos
Art. 76. O pagamento de multa imposta pelos Estados,
da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos
Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a multa
ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração;
federal na mesma hipótese de incidência.
V - destruição ou inutilização do produto;
VI - suspensão de venda e fabricação do produto;
VII - embargo de obra ou atividade; CAPÍTULO VII
VIII - demolição de obra; DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL PARA A PRE-
IX - suspensão parcial ou total de atividades; SERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
X – (VETADO)
XI - restritiva de direitos. Art. 77. Resguardados a soberania nacional, a ordem
§ 1º Se o infrator cometer, simultaneamente, duas ou pública e os bons costumes, o Governo brasileiro prestará,
mais infrações, ser-lhe-ão aplicadas, cumulativamente, as no que concerne ao meio ambiente, a necessária coope-
sanções a elas cominadas. ração a outro país, sem qualquer ônus, quando solicitado
§ 2º A advertência será aplicada pela inobservância das para:
disposições desta Lei e da legislação em vigor, ou de pre- I - produção de prova;
ceitos regulamentares, sem prejuízo das demais sanções II - exame de objetos e lugares;
previstas neste artigo. III - informações sobre pessoas e coisas;

160
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

IV - presença temporária da pessoa presa, cujas de- III - a descrição detalhada de seu objeto, o valor do
clarações tenham relevância para a decisão de uma causa; investimento previsto e o cronograma físico de execução e
V - outras formas de assistência permitidas pela legis- de implantação das obras e serviços exigidos, com metas
lação em vigor ou pelos tratados de que o Brasil seja parte. trimestrais a serem atingidas;       (Redação dada pela Me-
§ 1° A solicitação de que trata este artigo será dirigida dida Provisória nº 2.163-41, de 2001)
ao Ministério da Justiça, que a remeterá, quando necessá- IV - as multas que podem ser aplicadas à pessoa físi-
rio, ao órgão judiciário competente para decidir a seu res- ca ou jurídica compromissada e os casos de rescisão, em
peito, ou a encaminhará à autoridade capaz de atendê-la. decorrência do não-cumprimento das obrigações nele
§ 2º A solicitação deverá conter: pactuadas;        (Redação dada pela Medida Provisória nº
I - o nome e a qualificação da autoridade solicitante; 2.163-41, de 2001)
II - o objeto e o motivo de sua formulação; V - o valor da multa de que trata o inciso IV não poderá
III - a descrição sumária do procedimento em curso no ser superior ao valor do investimento previsto;        (Reda-
país solicitante; ção dada pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 2001)
IV - a especificação da assistência solicitada; VI - o foro competente para dirimir litígios entre as par-
V - a documentação indispensável ao seu esclareci- tes.       (Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41, de
mento, quando for o caso. 2001)
§ 2o  No tocante aos empreendimentos em curso até
Art. 78. Para a consecução dos fins visados nesta Lei e
o dia 30 de março de 1998, envolvendo construção, insta-
especialmente para a reciprocidade da cooperação inter-
lação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e
nacional, deve ser mantido sistema de comunicações apto
atividades utilizadores de recursos ambientais, considera-
a facilitar o intercâmbio rápido e seguro de informações
dos efetiva ou potencialmente poluidores, a assinatura do
com órgãos de outros países. termo de compromisso deverá ser requerida pelas pessoas
físicas e jurídicas interessadas, até o dia 31 de dezembro de
CAPÍTULO VIII 1998, mediante requerimento escrito protocolizado junto
DISPOSIÇÕES FINAIS aos órgãos competentes do SISNAMA, devendo ser firma-
do pelo dirigente máximo do estabelecimento.       (Reda-
Art. 79. Aplicam-se subsidiariamente a esta Lei as dis- ção dada pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 2001)
posições do Código Penal e do Código de Processo Penal. § 3o  Da data da protocolização do requerimento pre-
Art. 79-A. Para o cumprimento do disposto nesta Lei, visto no § 2o e enquanto perdurar a vigência do correspon-
os órgãos ambientais integrantes do SISNAMA, responsá- dente termo de compromisso, ficarão suspensas, em rela-
veis pela execução de programas e projetos e pelo con- ção aos fatos que deram causa à celebração do instrumen-
trole e fiscalização dos estabelecimentos e das atividades to, a aplicação de sanções administrativas contra a pessoa
suscetíveis de degradarem a qualidade ambiental, ficam física ou jurídica que o houver firmado.       (Redação dada
autorizados a celebrar, com força de título executivo extra- pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 2001)
judicial, termo de compromisso com pessoas físicas ou ju- § 4o  A celebração do termo de compromisso de que
rídicas responsáveis pela construção, instalação, ampliação trata este artigo não impede a execução de eventuais
e funcionamento de estabelecimentos e atividades utiliza- multas aplicadas antes da protocolização do requerimen-
dores de recursos ambientais, considerados efetiva ou po- to.       (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.163-41,
tencialmente poluidores.         (Redação dada pela Medida de 2001)
Provisória nº 2.163-41, de 2001) § 5o  Considera-se rescindido de pleno direito o ter-
§ 1o  O termo de compromisso a que se refere este mo de compromisso, quando descumprida qualquer
artigo destinar-se-á, exclusivamente, a permitir que as de suas cláusulas, ressalvado o caso fortuito ou de força
pessoas físicas e jurídicas mencionadas no caput possam maior.        (Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41,
promover as necessárias correções de suas atividades, para de 2001)
o atendimento das exigências impostas pelas autoridades § 6o  O termo de compromisso deverá ser firmado em
até noventa dias, contados da protocolização do requeri-
ambientais competentes, sendo obrigatório que o respec-
mento.        (Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41,
tivo instrumento disponha sobre:        (Redação dada pela
de 2001)
Medida Provisória nº 2.163-41, de 2001)
§ 7o  O requerimento de celebração do termo de com-
I  -  o nome, a qualificação e o endereço das partes
promisso deverá conter as informações necessárias à verifi-
compromissadas e dos respectivos representantes le- cação da sua viabilidade técnica e jurídica, sob pena de in-
gais;        (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.163- deferimento do plano.       (Incluído pela Medida Provisória
41, de 2001) nº 2.163-41, de 2001)
II - o prazo de vigência do compromisso, que, em fun- § 8o   Sob pena de ineficácia, os termos de compro-
ção da complexidade das obrigações nele fixadas, poderá misso deverão ser publicados no órgão oficial competente,
variar entre o mínimo de noventa dias e o máximo de três mediante extrato.        (Incluído pela Medida Provisória nº
anos, com possibilidade de prorrogação por igual perío- 2.163-41, de 2001)
do;        (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.163-41, Art. 80. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no
de 2001) prazo de noventa dias a contar de sua publicação.

161
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 81. (VETADO) “Mais do que nunca justifica-se a edição, fiscalização e


Art. 82. Revogam-se as disposições em contrário. manutenção de uma legislação que possa proteger a parte
Brasília, 12 de fevereiro de 1998; 177º da Independên- desigualmente considerada, assim porque hipossuficiente
cia e 110º da República. diante da ‘elite’ representada pelo megamercado produtor
e comercial que se impõe. É público e notório que existem
ainda em nosso mundo contemporâneo focos deléveis de
escravidão, sendo que, poder-se-á afirmar que das existen-
DOS CRIMES CONTRA O CONSUMIDOR (LEI tes atualmente, a escravidão econômica seja a mais cruel”28.
8.078); Com foco protecionista, o Código de Defesa do Consu-
midor foi o responsável por regulamentar as garantias do
consumidor em suas relações, considerando-o uma parte
vulnerável, sempre mais fraca do que a sociedade de con-
TÍTULO I sumo, naturalmente massacrante.
Dos Direitos do Consumidor O elemento guia de interpretação de todo o Código
de Defesa do Consumidor é a Política Nacional das Rela-
CAPÍTULO I
ções de Consumo. Por política entenda-se um conjunto de
Disposições Gerais
ações ou maneiras de agir. Referida política é composta
por um conjunto de normas programáticas e é composta
Art. 1° O presente código estabelece normas de prote-
ção e defesa do consumidor, de ordem pública e interes- de 3 partes – objetivos, princípios e instrumentos (artigos
se social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, 4º e 5º).
da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Tran- Neste sentido, consumidor é aquele que adquire ou
sitórias. utiliza produto ou serviço, enquanto destinatário final. As-
sim define, aliás, o artigo 2° do Código de Defesa do Con-
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica sumidor: “consumidor é toda pessoa física ou jurídica que
que adquire ou utiliza produto ou serviço como desti- adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário
natário final. final”.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a cole- O conceito do artigo 2° se estende nos artigos 17 e
tividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja 29. Dispõe o artigo 17 que “[...] equiparam-se aos consu-
intervindo nas relações de consumo. midores todas as vítimas do evento”; e o artigo 29 que
“para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não,
pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como expostas às práticas nele previstas”, quais sejam as práti-
os entes despe rsonalizados, que desenvolvem atividade cas comerciais (assim, a mera propaganda já cria deveres
de produção, montagem, criação, construção, transfor- e direitos numa provável relação de consumo, seja quando
mação, importação, exportação, distribuição ou comer- tenha caráter enganoso ou abusivo, seja quando prometa
cialização de produtos ou prestação de serviços. condições que vinculam o proponente).
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, ma-
terial ou imaterial. CAPÍTULO II
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mer- Da Política Nacional de Relações de Consumo
cado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de
natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo Art. 4° A Política Nacional das Relações de Consumo tem
as decorrentes das relações de caráter trabalhista. por objetivo o atendimento das necessidades dos consu-
midores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança,
O Direito do Consumidor pode ser considerado um
a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria
ramo recente do Direito. No Brasil, a legislação que o re-
da sua qualidade de vida, bem como a transparência e
gulamentou foi promulgada nos anos 90, qual seja a Lei n.
8.078, de 11 de setembro de 1990, conforme determinado harmonia das relações de consumo, atendidos os seguin-
pela Constituição Federal de 1988, que estabeleceu no arti- tes princípios:
go 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias: I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor
“o Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da no mercado de consumo;
promulgação da Constituição, elaborará código de defesa II - ação governamental no sentido de proteger efeti-
do consumidor”. Referida disposição foi uma vitória muito vamente o consumidor:
importante no campo do direito consumerista. a) por iniciativa direta;
A elaboração do Código de Defesa do Consumidor foi b) por incentivos à criação e desenvolvimento de asso-
um grande passo para a proteção da pessoa nas relações ciações representativas;
de consumo que estabeleça, respeitando-se a condição de c) pela presença do Estado no mercado de consumo;
hipossuficiente técnico daquele que adquire um bem ou
faz uso de determinado serviço, enquanto consumidor. Na 28 RADLOFF, Stephan Klaus. A inversão do
conjuntura atual, percebe-se que a consciência coletiva já ônus da prova no Código de Defesa do Consumi-
não admite teses contrárias à proteção dos consumidores. dor. Rio de Janeiro: Forense, 2002.

162
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões 2º) Harmonização de interesses – busca-se equilíbrio e
adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desem- compatibilidade de interesses. Tem por instrumento o di-
penho. rigismo contratual por parte do Estado. É mais uma norma
III - harmonização dos interesses dos participantes geral de conduta que um princípio.
das relações de consumo e compatibilização da proteção do 3º) Princípio da segurança – garante aos consumidores
consumidor com a necessidade de desenvolvimento econô- que os bens de consumo não causem lesões à vida, à saúde
mico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos e à integridade física, atuando de forma preventiva pelos
quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição órgãos e agências reguladores, e de forma repressiva pela
Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas rela- responsabilização civil, penal e administrativa.
ções entre consumidores e fornecedores; 4º) Princípio da informação – atrela-se ao princípio da
IV - educação e informação de fornecedores e con- educação, derivando da boa-fé objetiva. O consumidor
sumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à deve receber informações corretas para tomar suas deci-
melhoria do mercado de consumo; sões adequadamente. Projeta-se, assim, no acesso à infor-
V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios mação e na compreensão da informação.
eficientes de controle de qualidade e segurança de pro- 5º) Princípio da repressão de práticas abusivas e des-
dutos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de leais no mercado de consumo – artigo 39, CDC.
solução de conflitos de consumo; Aprofundando, “a proteção do consumidor é um desa-
VI - coibição e repressão eficientes de todos os abu- fio da nossa era e representa, em todo o mundo, um dos
sos praticados no mercado de consumo, inclusive a concor- temas mais atuais do Direito. Não é difícil explicar tão gran-
rência desleal e utilização indevida de inventos e criações in- de dimensão para um fenômeno jurídico totalmente des-
dustriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, conhecido no século passado e em boa parte deste. O ho-
que possam causar prejuízos aos consumidores; mem do século XX vive em função de um modelo novo de
VII - racionalização e melhoria dos serviços públi- associativismo: a sociedade de consumo (mass consump-
cos; tion society ou Konsumgesellschaft), caracterizada por um
VIII - estudo constante das modificações do mercado de número crescente de produtos e serviços, pelo domínio do
consumo. crédito e do marketing, assim como pelas dificuldades de
acesso à justiça. São esses aspectos que marcaram o nasci-
Art. 5º. Para a execução da Política Nacional das Rela- mento e desenvolvimento do Direito do Consumidor como
ções de Consumo, contará o poder público com os seguin- disciplina jurídica autônoma. A sociedade de consumo, ao
tes instrumentos, entre outros: contrário do que se imagina, não trouxe apenas benefícios
I - manutenção de assistência jurídica, integral e gra- para os seus atores. Muito ao revés, em certos cacos, a po-
tuita para o consumidor carente; sição do consumidor, dentre desse modelo, piorou em vez
II - instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do de melhorar”29.
Consumidor, no âmbito do Ministério Público; Os princípios gerais de direito do consumidor podem
III - criação de delegacias de polícia especializadas ser extraídos principalmente do artigo 4º do Código em
no atendimento de consumidores vítimas de infrações pe- estudo, embora recebam o nome de princípios da Política
nais de consumo; Nacional de Relações de Consumo. Tais princípios são des-
IV - criação de Juizados Especiais de Pequenas Cau- critos por Giancoli30 nos seguintes termos:
sas e Varas Especializadas para a solução de litígios de a) Princípio da vulnerabilidade: a vulnerabilidade é o
consumo; reconhecimento jurídico da fragilidade do consumidor no
V - concessão de estímulos à criação e desenvolvimento mercado de consumo. Trata-se de uma qualidade intrín-
das Associações de Defesa do Consumidor. seca e indissociável de todos os consumidores (presunção
absoluta). A vulnerabilidade é uma qualidade única, porém,
Em suma, são objetivos da política nacional: 1º) Preser- ela se manifesta de diferentes formas, com maior ou menor
vação dos interesses dos consumidores; 2º) Harmonização intensidade, especificadamente: vulnerabilidade técnica,
do mercado – os interesses dos consumidores devem ser que se traduz na falta de conhecimentos específicos que
preservados, assim como os do mercado; 3º) Sustentabi- o consumidor tem sobre os produtos e serviços que está
lidade do mercado de consumo – mercado sustentável é adquirindo; vulnerabilidade jurídica, que resulta na falta de
o que permite um crescimento adequado, atendendo aos informação do consumidor a respeito dos seus direitos, in-
interesses sociais e, inclusive, aos interesses ambientais do clusive no que diz respeito a quem recorrer ou reclamar;
mercado de consumo. e vulnerabilidade fática ou socioeconômica, referente à
Após, enumeram-se os princípios, que funcionam
como normas de otimização do sistema. 29 GRINOVER, Ada Pelegrini; et. al. Código Bra-
Cabe fazer um resumo dos princípios previstos na le- sileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos
gislação consumerista: autores do Anteprojeto. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense
1º) Vulnerabilidade – trata-se do reconhecimento ju- Universitária, 2001.
rídico da fragilidade do consumidor, premissa que guiará 30 GIANCOLI, Bruno. Direito do consumidor. São
todas regras materiais e processuais do direito do consu- Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Coleção Elementos
midor (estudada em detalhes adiante). do Direito)

163
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

exposição dos consumidores às mais variadas técnicas de VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive
marketing, as quais interferem e manipulam o poder de com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo
decidibilidade do consumidor. civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
b) Princípio da harmonização de interesses: busca-se quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias
equilíbrio e compatibilidade de interesses, isto é, a susten- de experiências;
tabilidade das relações de consumo. Para tanto, o Estado IX - (Vetado);
adota uma postura dirigista. X - a adequada e eficaz prestação dos serviços pú-
c) Princípio da segurança: garante aos seus consumi- blicos em geral.
dores que os bens de consumo não causem lesões à vida, Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III
à saúde e à integridade física. Vide artigos 8º a 11 abai- do caput deste artigo deve ser acessível à pessoa com defi-
xo colacionados, aos quais correspondem os tópicos 1.3 ciência, observado o disposto em regulamento.
e 1.4 deste estudo. O mercado seguro é aquele que não
causa riscos à pessoa do consumidor, atuando de forma Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem
preventiva (órgãos reguladores, como agências regulado- outros decorrentes de tratados ou convenções interna-
ras, a exemplo da ANTT) e repressiva (punição cível, penal cionais de que o Brasil seja signatário, da legislação
e administrativa). interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas au-
d) Princípio da informação: está atrelado ao princípio toridades administrativas competentes, bem como dos que
da educação. Trata-se de derivação do princípio da boa-fé derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes
objetiva. Tanto a boa-fé quanto a informação relacionam- e equidade.
-se à confiança, à submissão a um padrão ético de conduta. Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, to-
A informação é uma base valorativa pois interfere na deci- dos responderão solidariamente pela reparação dos da-
dibilidade do consumidor para a aquisição de produtos e nos previstos nas normas de consumo.
serviços.
e) Princípio da repressão de práticas abusivas e des- É importante estudar os direitos básicos do consumi-
leais no mercado de consumo: base do art. 39, CDC, que dor, que são, na verdade, expressões de princípios da po-
lítica nacional, como a segurança, a informação, a adequa-
trata das práticas abusivas. Relaciona-se ao dirigismo con-
ção e a vulnerabilidade. A condição de consumidor garante
tratual pelo Estado. É importante para práticas sociais inse-
à pessoa uma vasta gama de direitos, além da garantia de
ridas no mercado e que ainda não foram regulamentadas
facilitação da defesa em juízo. Podem ser numerados como
pelo Código de Defesa do Consumidor.
os principais direitos dos consumidores, segundo Mazzilli31:
“a) direito ao consumo (acesso a bens e serviços básicos);
CAPÍTULO III
b) direito à segurança (garantia contra produtos ou servi-
Dos Direitos Básicos do Consumidor
ços que possam ser nocivos à vida ou à saúde); c) direi-
to à escolha (opção entre vários produtos e serviços com
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: qualidade satisfatória e preços competitivos); d) direito à
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os informação (conhecimento dos dados indispensáveis sobre
riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos produtos ou serviços para uma decisão consciente); e) di-
e serviços considerados perigosos ou nocivos; reito a serem ouvidos (os interesses dos consumidores de-
II - a educação e divulgação sobre o consumo ade- vem ser levados em conta no planejamento e execução de
quado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de políticas econômicas); f) direito à indenização (reparação
escolha e a igualdade nas contratações; financeira por danos causados por produtos ou serviços);
III - a informação adequada e clara sobre os diferen- g) direito à educação para o consumo (meios para os ci-
tes produtos e serviços, com especificação correta de quan- dadãos exercitarem conscientemente sua função no mer-
tidade, características, composição, qualidade e preço, bem cado); h) direito a um meio ambiente saudável (a defesa
como sobre os riscos que apresentem; do equilíbrio ecológico para melhorar a qualidade de vida
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e presente e preservá-la para o futuro)”.
abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais,
bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou im- Vulnerabilidade do consumidor
postas no fornecimento de produtos e serviços; A vulnerabilidade é um princípio norteador do Direito
V - a modificação das cláusulas contratuais que es- do Consumidor pelo qual se compreende que o consumi-
tabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em dor é uma parte frágil no mercado de consumo. Trata-se
razão de fatos supervenientes que as tornem excessiva- de uma qualidade intrínseca e indissociável de todos os
mente onerosas; consumidores (presunção absoluta).
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patri- A vulnerabilidade é uma característica única, mas que
moniais e morais, individuais, coletivos e difusos; pode se manifestar de diferentes maneiras:
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrati-
vos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimo- 31 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos inte-
niais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a resses difusos em juízo. 24. ed. São Paulo: Saraiva,
proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; 2011.

164
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

1º) Vulnerabilidade técnica – se traduz na falta de co- Considerado o ônus sob o aspecto objetivo, o juiz não
nhecimentos específicos que o consumidor tem sobre os pode deixar de julgar porque não se convenceu. Se não ti-
produtos e serviços que está adquirindo. O consumidor ver outras provas para determinar (princípio inquisitório) e
não tem como avaliar a qualidade do produto. Todo con- ainda não estiver plenamente convencido, deve valer-se do
sumidor, em maior ou menos intensidade, tem vulnerabi- ônus da prova, ou seja, se houver dúvida invencível.
lidade. Em geral, ônus é de quem alega, de quem tem interes-
2º) Vulnerabilidade jurídica – resulta da falta de infor- se na comprovação, regra que se altera na inversão.
mação do consumidor a respeito de seus direitos, inclusive A inversão do ônus pode ser:
no que diz respeito a quem recorrer ou reclamar. Ex.: Segu- a) Convencional, quando decorrer da vontade das par-
ro cobre roubo, mas não furto. tes no contrato, não sendo permitida se for dificultar muito
3º) Vulnerabilidade fática ou socioeconômica – trata-se o direito de defesa (artigo 333, parágrafo único, CPC).
da exposição do consumidor às mais variadas técnicas de b) Legal, quando decorrer da lei, se verificando quando
marketing, as quais interferem e manipulam o poder de for prevista em lei alguma presunção relativa (por exemplo,
decidibilidade do consumidor. quem ostenta o título, presumivelmente, o pagou). Somen-
Existem categorias de consumidores cuja vulnerabili- te na presunção relativa há inversão porque o adversário
dade está acentuada, caracterizando a hipervulnerabilida- pode provar a inveracidade do fato presumido (as simples
de, notadamente, crianças, idosos, portadores de necessi- decorrem da observação do que acontece, as legais da lei).
dades especiais e consumidores virtuais. Segundo Medina e Wambier32, “através da presunção,
Nota-se que a vulnerabilidade possui viés material, não permite-se inferir, do conhecimento da ocorrência de um
processual. Todo consumidor é vulnerável, mesmo os mais fato, a grande probabilidade de que tenha ocorrido outro
poderosos. No entanto, processualmente, não se adota a fato. Interessa, para a atividade probatória, a presunção re-
vulnerabilidade, mas a hipossuficiência. lativa, já que a presunção absoluta é ficção legal que não
admite prova em contrário. Estabelecida uma presunção
Hipossuficiência do consumidor relativa, inverte-se o ônus da prova”. Um exemplo seria a
A hipossuficiência é adotada sob a perspectiva proces-
presunção da paternidade do réu que recusa se submeter
sual, permitindo a inversão do ônus da prova processual ci-
ao exame de DNA, conforme veremos em detalhes mais
vil, mas há uma zona cinzenta entre ela e a vulnerabilidade,
adiante.
até porque são conceitos correlatos.
c) Judicial, a decidida pelo juiz quando autorizado pela
A definição de hipossuficiência não é pacífica nem na
lei (como no caso em que o juiz pode inverter o ônus em
doutrina, nem na jurisprudência. Via de regra, são destaca-
favor do consumidor, que também será analisado poste-
dos 2 aspectos do consumidor que autorizam a caracteri-
zação, a saber: riormente em detalhes).
1º) Vulnerabilidade técnico-processual (falta de conhe- Watanabe tece relevante consideração no sentido de
cimentos técnicos e dificuldade probatória natural) que quando a lei determina ou autoriza a inversão do ônus
2º) Fragilidade financeira (consumidor carente) da prova não caberia falar em prevalência do artigo 130,
CPC. Bedaque33 considera que o magistrado não pode pau-
Inversão do ônus tar sua atuação processual com fulcro em garantir even-
Quando uma questão de fato se apresenta como irre- tual direito que tenha a parte a favor da qual se inverteu
dutivelmente incerta no processo, o juiz poderá, teorica- o ônus, devendo o juiz buscar sempre um resultado justo,
mente, deixar de resolvê-la ou então insistir em resolvê-la. não havendo que se falar em alteração de postura devido à
Adotada a segunda postura, será possível: que o problema quebra do ônus da prova.
seja adiado por uma decisão provisória, que seja utilizado O artigo 6°, VIII da Lei n. 8.078/90 autoriza a inversão
um meio mecânico de prova (como o duelo ou o juramen- do ônus da prova em favor do consumidor:
to) ou então, o que parece mais adequado, empregar as “Art. 6º São direitos básicos do consumidor: [...] VIII - a
regras de distribuição do ônus da prova. Trata-se do único facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inver-
critério equânime e racional. A premissa do ônus da pro- são do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quan-
va é a de que a parte que deseje obter sucesso numa de- do, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
manda judicial irá buscar de todas as formas convencer o for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de ex-
magistrado. Assim, as partes não tem apenas o encargo periências;”
de alegar, mas também de provar. Faz-se uma distribuição Não se admite a incidência do dispositivo de não com-
porque não seria justo que apenas uma das partes tivesse provada a existência de relação de consumo ou se inexis-
o ônus. tente justificativa convincente quanto à pertinência e ve-
Então, os critérios que permitem ao juiz decidir a con- rossimilhança dos fatos alegados.
trovérsia enquanto não resulte provada a existência dos fa- 32 MEDINA, José Miguel Garcia; WAMBIER, Te-
tos principais se encontram na disciplina do ônus da prova.
A necessidade de regulação pelo sistema processual resa Arruda Alvim. Processo Moderno: parte geral e
do ônus da prova minuciosamente decorre do princípio se- processo de conhecimento. 2. ed. São Paulo: Revista
gundo o qual o juiz não pode se eximir de julgar, mesmo dos Tribunais, 2011.
em caso de dúvida invencível. Por isso, a lei deverá prescre- 33 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Pode-
ver qual das partes sofrerá as consequências da insuficiên- res instrutórios do juiz. 5. ed. São Paulo: Revista dos
cia probatória. Tribunais, 2011.

165
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

A inversão do ônus da prova, no caso, visa facilitar a § 1º Em se tratando de produto industrial, ao fabrican-
defesa dos direitos do consumidor, aludindo às situações te cabe prestar as informações a que se refere este artigo,
de verossimilhança e hipossuficiência. através de impressos apropriados que devam acompanhar
“A neutralidade do procedimento ordinário, também o produto.
marcada pela vã ilusão da ‘busca da verdade’, encobriu por § 2º O fornecedor deverá higienizar os equipamentos e
muito tempo a evidência de que o ônus da prova deve ser utensílios utilizados no fornecimento de produtos ou servi-
tratado de acordo com as necessidades do direito material. ços, ou colocados à disposição do consumidor, e informar,
O artigo 6°, VIII, do CDC, rompe com um vício que deve ter de maneira ostensiva e adequada, quando for o caso, sobre
sido herdado do racionalismo - que, como se sabe, impôs ao o risco de contaminação.
pensamento jurídico a lógica e a metodologia das ciências
experimentais -, ao permitir tratamento diferenciado às rela- Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencial-
ções de consumo. Em relação à questão do ônus da prova, mente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá
os direitos do consumidor devem ser tratados de forma di- informar, de maneira ostensiva e adequada, a respei-
ferenciada, uma vez que, nas relações que lhe são próprias, to da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da
muitas vezes é impossível a produção de prova do seu di-
adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto.
reito. Tomando-se como certo que ao consumidor pode ser
‘praticamente impossível ou muito difícil produzir esta pro-
Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado
va’, impõe-se ao juiz o dever de inverter o ônus da prova
em favor do consumidor, nos casos de ‘verossimilhança’ e de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria sa-
‘hipossuficiência’ capaz de dificultar a sua produção”34. ber apresentar alto grau de nocividade ou periculosida-
Assim, a inversão do ônus da prova nas relações de consu- de à saúde ou segurança.
mo não é automática. Somente será reconhecida se demons- § 1° O fornecedor de produtos e serviços que, poste-
trado pelo consumidor – até mesmo em decorrência dos fatos riormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver
levantados – quando a alegação for verossímil e o consumidor conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá
demonstrar dificuldade na produção probatória (por exemplo, comunicar o fato imediatamente às autoridades compe-
se precisar de provas periciais e técnicas específicas). tentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitá-
Quanto ao momento da inversão, existem 3 correntes: rios.
a) despacho da petição inicial, sendo muito minoritária, dada § 2° Os anúncios publicitários a que se refere o pará-
a falta de maturidade do processo; b) na sentença, pois se grafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e te-
trata de regra de julgamento, posição que é aceita, embo- levisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço.
ra há quem alegue cerceamento de defesa, reconhecido em § 3° Sempre que tiverem conhecimento de periculosi-
fase recursal; c) para que não haja surpresa e se privilegie o dade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos
princípio da ampla defesa, é melhor que se inverta o ônus consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os
no momento do saneador, sendo esta a posição majoritária Municípios deverão informá-los a respeito.
hoje em dia.
O problema fica nos Juizados Especiais Cíveis: não há sa- Art. 11. (Vetado).
neamento do processo. Então, somente restariam as opções
de determinar na sentença ou no despacho da inicial. Para SEÇÃO II
quem entende que cabe determinar só na sentença, ocorre Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do
que a hipossuficiência do consumidor é regra de julgamento Serviço
e, por essa razão, o juiz pode deixar para decidir na sentença
se determina ou não a inversão (a posição é temerária, pois Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacio-
coíbe o contraditório). No STJ, ainda não se decidiu a questão.
nal ou estrangeiro, e o importador respondem, indepen-
dentemente da existência de culpa, pela reparação dos
CAPÍTULO IV
danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes
Da Qualidade de Produtos e Serviços, da Prevenção
e da Reparação dos Danos de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas,
manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus
SEÇÃO I produtos, bem como por informações insuficientes ou inade-
Da Proteção à Saúde e Segurança quadas sobre sua utilização e riscos.
§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a
Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de segurança que dele legitimamente se espera, levando-se
consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
dos consumidores, exceto os considerados normais e I - sua apresentação;
previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obri- II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
gando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as III - a época em que foi colocado em circulação.
informações necessárias e adequadas a seu respeito. § 2º O produto não é considerado defeituoso pelo
fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no
34 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sér- mercado.
gio Cruz. Manual do processo de conhecimento. 3. § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importa-
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. dor só não será responsabilizado quando provar:

166
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

I - que não colocou o produto no mercado; Quanto à responsabilidade pelo fato do produto, no-
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o ta-se que o artigo 12 exclui o fornecedor deste tipo de
defeito inexiste; responsabilidade. Já o comerciante, conforme o artigo 13,
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. tem responsabilidade subsidiária (só responde quando as
pessoas indicadas - fabricante, produtor, construtor e im-
Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos portador - não forem encontradas ou a sua identificação
termos do artigo anterior, quando: for capaz de prejudicar a indenização do consumidor), ex-
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o impor- ceto no caso do inciso III, qual seja quando o acidente de
tador não puderem ser identificados; consumo tiver como causa a má-conservação de produtos
II - o produto for fornecido sem identificação clara do perecíveis36.
seu fabricante, produtor, construtor ou importador; Quanto à responsabilidade pelo fato do serviço, o
III - não conservar adequadamente os produtos pe- fornecedor é o responsável, mas a expressão pode ser es-
recíveis. tendida a todos os prestadores envolvidos com o evento
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao danoso. Os profissionais liberais que prestam serviço não
prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os se sujeitam à responsabilidade objetiva, havendo apuração
demais responsáveis, segundo sua participação na causação de sua culpa37.
do evento danoso. Já o vício do produto está disciplinado adiante nos
artigos 18 e 19 e o vício do serviço no artigo 20. A ori-
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, indepen- gem é uma falha do dever de adequação. O tema é o da
dentemente da existência de culpa, pela reparação dos qualidade e quantidade. A consequência é uma frustração
danos causados aos consumidores por defeitos relativos de consumo, uma quebra de expectativa. A expectativa do
à prestação dos serviços, bem como por informações in- consumidor deve ser avaliada de forma objetiva. Assim,
suficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. percepções pessoais são irrelevantes para a caracterização
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a do vício. Preenchidos os requisitos materiais e formais, o
segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se consumidor poderá pedir a substituição do produto por
em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: outro da mesma espécie ou similar, abatimento proporcio-
I - o modo de seu fornecimento; nal ou restituição da quantia paga acrescida de perdas e
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se danos38.
esperam;
III - a época em que foi fornecido. SEÇÃO III
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela Da Responsabilidade por Vício do Produto e do
adoção de novas técnicas. Serviço
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabi-
lizado quando provar: Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo du-
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; ráveis ou não duráveis respondem solidariamente pe-
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. los vícios de qualidade ou quantidade que os tornem
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais libe- impróprios ou inadequados ao consumo a que se des-
rais será apurada mediante a verificação de culpa. tinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles
decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do
Art. 15. (Vetado). recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publi-
citária, respeitadas as variações decorrentes de sua nature-
Art. 16. (Vetado). za, podendo o consumidor exigir a substituição das partes
viciadas.
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de
consumidores todas as vítimas do evento. trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e
à sua escolha:
O Código de Defesa do Consumidor busca proteger a
saúde e a segurança do consumidor e a partir de tal pers-
pectiva abrange a responsabilidade por fato do produto e Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Coleção Elementos
por vício do produto, como se aprofunda adiante. do Direito)
A origem da responsabilidade pelo fato do produto ou 36 GIANCOLI, Bruno. Direito do consumidor. São
do serviço está ligada a uma falha de segurança, que não Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Coleção Elementos
basta, é preciso visualizar uma consequência, que é um aci- do Direito)
dente de consumo. A posição dominante da doutrina e da 37 GIANCOLI, Bruno. Direito do consumidor. São
jurisprudência exigem a caracterização fática do acidente Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Coleção Elementos
para a imputação da responsabilidade, embora a falha de do Direito)
segurança autorize penas criminais e administrativas (como 38 GIANCOLI, Bruno. Direito do consumidor. São
a retirada do produto do mercado)35. Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Coleção Elementos
35 GIANCOLI, Bruno. Direito do consumidor. São do Direito)

167
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

I - a substituição do produto por outro da mesma I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e
espécie, em perfeitas condições de uso; quando cabível;
II - a restituição imediata da quantia paga, mone- II - a restituição imediata da quantia paga, monetaria-
tariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas mente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
e danos; III - o abatimento proporcional do preço.
III - o abatimento proporcional do preço. § 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a
§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou am- terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do
pliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não po- fornecedor.
dendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta § 2° São impróprios os serviços que se mostrem inade-
dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá
quados para os fins que razoavelmente deles se esperam,
ser convencionada em separado, por meio de manifestação
bem como aqueles que não atendam as normas regula-
expressa do consumidor.
§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das al- mentares de prestabilidade.
ternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da
extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por
comprometer a qualidade ou características do produto, di- objetivo a reparação de qualquer produto considerar-se-á
minuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial. implícita a obrigação do fornecedor de empregar com-
§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do in- ponentes de reposição originais adequados e novos, ou
ciso I do § 1° deste artigo, e não sendo possível a substitui- que mantenham as especificações técnicas do fabricante,
ção do bem, poderá haver substituição por outro de espé- salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do
cie, marca ou modelo diversos, mediante complementação consumidor.
ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo
do disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo. Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,
§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra for-
será responsável perante o consumidor o fornecedor ime- ma de empreendimento, são obrigados a fornecer servi-
diato, exceto quando identificado claramente seu produtor. ços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essen-
§ 6° São impróprios ao uso e consumo: ciais, contínuos.
I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou
II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, ava-
parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pes-
riados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou
à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as soas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos
normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apre- causados, na forma prevista neste código.
sentação;
III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de
inadequados ao fim a que se destinam. qualidade por inadequação dos produtos e serviços não o
exime de responsabilidade.
Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamen-
te pelos vícios de quantidade do produto sempre que, Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou
respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu serviço independe de termo expresso, vedada a exoneração
conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do contratual do fornecedor.
recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem pu-
blicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusu-
sua escolha: la que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de
I - o abatimento proporcional do preço; indenizar prevista nesta e nas seções anteriores.
II - complementação do peso ou medida; § 1° Havendo mais de um responsável pela causação
III - a substituição do produto por outro da mesma espé- do dano, todos responderão solidariamente pela repara-
cie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios;
ção prevista nesta e nas seções anteriores.
IV - a restituição imediata da quantia paga, monetaria-
§ 2° Sendo o dano causado por componente ou peça
mente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.
§ 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo incorporada ao produto ou serviço, são responsáveis so-
anterior. lidários seu fabricante, construtor ou importador e o que
§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando realizou a incorporação.
fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não
estiver aferido segundo os padrões oficiais. No Direito do Consumidor, são cabíveis ações diversas
por vício do produto e do serviço e por fato do produto e
Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos ví- do serviço. Daí ser de suma importância saber diferenciar
cios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo as questões.
ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decor- O vício do produto e do serviço (VPS) encontra-se dos
rentes da disparidade com as indicações constantes da artigos 18 a 25, buscando-se a qualidade da adequação. Já
oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor o fato do produto e do serviço (FPS), artigos 12 a 17, volta-
exigir, alternativamente e à sua escolha: -se à qualidade da segurança.

168
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Para diferenciar com um exemplo: se uma mulher com- to proporcional uma ação estimatória ou quanti minoris e
pra um sapato e, quando o tira da caixa em sua casa, ele para c uma ação indenizatória. O simples fato de causar
veio com o salto quebrado, trata-se de um VPS, de uma embaraço ao consumidor, obrigando-o a ir para o Judiciá-
quebra da expectativa legítima de consumo, mas da qual rio, já tem grandes chances de gerar reconhecimento de
não decorreu nenhum dano. No mesmo caso, imagine que dano moral.
este salto quebrou com a mulher chegando a uma festa, Não obstante, há a ação por FPS, de caráter indeniza-
fazendo com que ela se lesionasse e passasse por um em- tório, sem prejuízo da cumulação com eventual pedido de
baraço geral na frente dos presentes. Aí se terá FPS, pois troca do produto ou abatimento proporcional ou indeniza-
não é mais simplesmente um produto sem qualidade, é um ção pela aquisição (se for o caso). A responsabilidade será
produto inseguro. O VPS gerou um FPS, isto é, o vício foi objetiva, baseada em defeito do produto ou serviço, dano
causa de danos patrimoniais e morais, que deverão ser in- e nexo causal.
denizados. Fala-se, no caso, em déficit de segurança, consistente
Diferenciando de maneira mais aprofundada VPS de na frustração da legítima expectativa objetiva (legitima-
FPS, tem-se o seguinte: no VPS caberá resgate do sinalag- mente se esperar aquele nível de segurança) quanto aos
ma (troca, devolução do valor ou abatimento do preço), riscos possíveis e ordinários. A pessoa experimenta danos
enquanto que no FPS haverá responsabilidade objetiva inesperados e imprevisíveis, jamais aqueles consumidores
por todos os danos decorrentes do acidente de consumo; poderiam espera-lo. Vale distinguir periculosidade inerente
não obstante, no VPS somente a vítima-consumidora pode e exagerada da periculosidade adquirida, sendo que so-
ajuizar ação, enquanto que no FPS cabe o ajuizamento com mente a última gera o dever de indenizar.
base na responsabilidade objetiva todas as vítimas do aci- No polo passivo podem constar todos os fornecedo-
dente de consumo (consumidores por equiparação). res envolvidos na cadeia de consumo, porque respondem
Uma ação que verse apenas sobre um VPS em produto solidariamente, isto é, fornecedor real (fabricante), forne-
irá se basear, notadamente, no artigo 18 do CDC. A atenção cedor aparente (importador) e fornecedor imediato (co-
vai para o §1º, que traz as possibilidades que o consumidor merciante). O fornecedor imediato não se responsabiliza, a
tem no caso de não ter sua expectativa de consumo aten- princípio, pelo FPS, só pelo VPS (salvo anonimato ou pro-
dida. Para tanto, exige-se que o produto ofertado tenha dutos perecíveis).
um defeito, isto é, um déficit de qualidade substancial, fu- Estas pessoas no polo passivo podem levantar alguns
gindo totalmente do esperado por parte dele. O produto argumentos, presentes no §3º do artigo 12 (ausência de
ou o serviço não precisam ser perfeitos, mas devem estar conduta, ausência de defeito, ausência de nexo causal).
dentro do esperado por expectativas razoáveis.
Assim, quando o tema é VPS, a origem é uma falha do SEÇÃO IV
dever de adequação sob o aspecto da qualidade e/ou da Da Decadência e da Prescrição
quantidade. A consequência é uma frustração de consumo,
uma quebra de expectativa. A expectativa do consumidor Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes
deve ser avaliada de forma objetiva, logo, percepções pes- ou de fácil constatação caduca em:
soais são irrelevantes para a caracterização do vício. I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e
Vale lembrar que o produto não deve ser adequado de produtos não duráveis;
permanentemente, o desgaste é algo natural nos bens de II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de servi-
consumo. Mas qual o prazo para reclamar? A garantia legal ço e de produtos duráveis.
é de 90 dias para os duráveis e de 30 dias para os não durá- § 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir
veis, mas este prazo só começa a correr depois do prazo da da entrega efetiva do produto ou do término da execu-
garantia contratual. O prazo conta-se, para os vícios apa- ção dos serviços.
rentes ou de fácil constatação, da entrega do produto ou § 2° Obstam a decadência:
do término do serviço; enquanto que para os vícios ocultos I - a reclamação comprovadamente formulada pelo con-
corre a partir da percepção do vício, mas dentro do limite sumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a
temporal consistente na vida útil do bem (o problema é resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida
determinar esta vida útil, o que tem sido feito por normas de forma inequívoca;
regulamentares, por prazos de validade e por usos e costu- II - (Vetado).
mes obrigacionais). III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramen-
O fornecedor possui o direito de saneamento no prazo to.
de 30 dias, que pode ser reduzido ou ampliado (de 7 a 180), § 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial
mas por cláusula em separado. Contudo, este prazo de sa- inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito.
neamento não vale para qualquer situação, notadamente,
excluindo-se se o vício comprometer as características do Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à repa-
produto ou seu valor econômico, ou ainda se recair sobre ração pelos danos causados por fato do produto ou do
bem essencial (os quais o CDC não discrimina). serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a
Se não o fizer, o consumidor escolhe entre as 3 opções contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de
do §1º, discricionariamente, cabendo para a troca do pro- sua autoria.
duto uma ação de obrigação de fazer, para o abatimen- Parágrafo único. (Vetado).

169
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

SEÇÃO V A manipulação da autonomia das pessoas jurídicas é


Da Desconsideração da Personalidade Jurídica instrumento para a realização de fraude contra credores e
abuso de direito. Para evitar e coibir tais práticas, serve a
Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalida- desconsideração da personalidade jurídica (do inglês, dis-
de jurídica da sociedade quando, em detrimento do regard doctrine ou piercing the veil).
consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, O principal sistematizador da teoria internacionalmen-
infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos esta- te foi Rolf Serick, em 1953. No final dos anos 60, Rubens
tutos ou contrato social. A desconsideração também será Requião a trouxe para o Brasil.
efetivada quando houver falência, estado de insolvência, A teoria da desconsideração da personalidade jurídi-
encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provo- ca não é contra o princípio da autonomia das sociedades
empresárias, pelo contrário, visa a preservação do mesmo,
cados por má administração.
coibindo práticas fraudulentas que o deturpem. A limita-
§ 1° (Vetado).
ção das perdas é fator essencial para disciplina da ativida-
§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e de econômica capitalista. Além disso, se ela não existisse,
as sociedades controladas, são subsidiariamente responsá- somente seriam buscados investimentos de alto lucro, com
veis pelas obrigações decorrentes deste código. redução de custos e preços elevados, prejudicando a so-
§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente ciedade.
responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código. O simples fato de a sociedade não ter patrimônio para
§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa. pagar os credores não é suficiente para a desconsideração
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurí- da personalidade jurídica. A desconsideração é uma regra
dica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, de responsabilização extraordinária dos sócios. É medida
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos con- excepcional, de exceção. Devem ser satisfeitos os requisitos
sumidores. legais, específicos.
Contudo, a desconsideração não atinge em nada a
Teoria da desconsideração da personalidade jurídica é pessoa jurídica, não retira a personalidade. Se for declarada
uma regra de responsabilização por dívidas da pessoa jurí- na falência, o que dissolve a sociedade é a sentença, não
dica. Devido ao princípio da autonomia patrimonial, a des- a desconsideração. Em outras palavras, aplicada a descon-
consideração da personalidade jurídica é exceção. Quando sideração, a personalidade jurídica permanece válida para
todos os fins. Há apenas ineficácia episódica, num único
o juiz determina a desconsideração desrespeita este princí-
caso. Não há dissolução ou anulação da sociedade.
pio, porque certos tipos de atos ilícitos devem ser punidos,
Há vários sistemas com regras específicas de descon-
não podendo o sócio se acobertar na sociedade. sideração (ex.: lei antitruste, lei ambiental, lei consumerista,
A regra geral é que o credor deve cobrar a pessoa jurí- etc.). Para o Código Civil, que traz a regra geral, exige-se
dica, somente depois de esgotado o patrimônio da socie- confusão patrimonial ou desvio de finalidade (artigo 50),
dade que o devedor responde (isto quando responde). Em através de abuso de personalidade – teoria maior.
outras palavras, o empresário responde subsidiariamente Os sistemas normativos sobre a desconsideração da
em relação à sociedade, a não ser que a responsabilidade personalidade jurídica ora irão adotar uma teoria maior,
seja ilimitada, quando não responderá. com requisitos próprios, ora uma teoria menor, bastando
A desconsideração da personalidade jurídica é um ata- a insuficiência patrimonial.
lho para que os credores cobrem diretamente os sócios. Ela A teoria menor, tida por Fábio Ulhoa Coelho como
torna a responsabilidade direta e ilimitada em relação aos aplicação incorreta, consiste na desconsideração pelo sim-
sócios e administradores. ples desatendimento do crédito titularizado perante uma
Ex.: A e B estão sendo processados e sabem que even- sociedade, em razão da insolvibilidade ou falência desta.
tual condenação levará à falência da empresa. Começam O artigo 28 prevê expressamente a desconsideração
outra sociedade igual do zero e passam a investir tanto de maneira um pouco ampla, mas exige a comprovação
nela que a anterior perde seus clientes por falta de qualida- de fraude (perto do exigido pelo artigo 50) ou, além disso,
de. Aplicada a teoria, A e B pagariam a indenização. que a falência ou insolvência resultem de má administração
(as possibilidades são mais amplas que a do Código Civil).
Ex.: Sociedade A propõe às sociedades BCD indicar os
Ainda que seja mais amplo, aparentemente, o Código de
administradores delas, em troca de garantia de rentabilida-
Defesa do Consumidor adota uma teoria maior.
de mínima. A princípio, há concorrência, quando na verda- O problema é que o §5º fala que é possível desconsi-
de se tem monopólio. Aplicada a teoria, restaria caracteri- derar sempre que a personalidade for obstáculo, jogando
zado o monopólio. no lixo a necessidade de fraude e adotando a teoria menor.
Obs.: notem que em ambos exemplos os atos seriam Há julgados nos dois sentidos, mas de uns tempos para cá
a princípio lícitos e não merecem validação para não pre- o STJ tem caminhado pela teoria menor.
judicarem os credores. Este é o chamado pressuposto da Fábio Ulhoa é um dos mais ferrenhos críticos da teoria
licitude, de forma que cabe invocar a teoria quando a con- menor, afirmando que o §5º não pode ser mal interpretado
sideração da sociedade empresária implica a ilicitude dos para desvirtuar o caput, servindo apenas como referência
atos praticados. Não se aplica se desde logo verificado um exclusiva à extensão das sanções aplicadas ao empresário
ato ilícito do sócio ou administrador, quando será o caso (ex.: abrir outra sociedade e continuar produzindo o pro-
de responsabilização direta. duto nocivo).

170
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

CAPÍTULO V SEÇÃO III


Das Práticas Comerciais Da Publicidade

SEÇÃO I Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma


Das Disposições Gerais que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como
tal.
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equi- Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus
param-se aos consumidores todas as pessoas determi- produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informa-
náveis ou não, expostas às práticas nele previstas. ção dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e
científicos que dão sustentação à mensagem.
SEÇÃO II
Da Oferta Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abu-
siva.
Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficiente- § 1° É enganosa qualquer modalidade de informação
mente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcial-
comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos mente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por
ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito
dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. da natureza, características, qualidade, quantidade, pro-
priedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre
Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços produtos e serviços.
devem assegurar informações corretas, claras, precisas, os- § 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discrimina-
tensivas e em língua portuguesa sobre suas características, tória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore
qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de
de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre julgamento e experiência da criança, desrespeita valores
os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumi- ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a
dores. se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde
Parágrafo único.  As informações de que trata este arti- ou segurança.
go, nos produtos refrigerados oferecidos ao consumidor, se- § 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enga-
rão gravadas de forma indelével.  nosa por omissão quando deixar de informar sobre dado
essencial do produto ou serviço.
Art. 32. Os fabricantes e importadores deverão assegu- § 4° (Vetado).
rar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto
não cessar a fabricação ou importação do produto. Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da
Parágrafo único. Cessadas a produção ou importação, informação ou comunicação publicitária cabe a quem as
a oferta deverá ser mantida por período razoável de tempo, patrocina.
na forma da lei.
SEÇÃO IV
Art. 33. Em caso de oferta ou venda por telefone ou Das Práticas Abusivas
reembolso postal, deve constar o nome do fabricante e en-
dereço na embalagem, publicidade e em todos os impressos Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços,
utilizados na transação comercial. dentre outras práticas abusivas:
Parágrafo único.  É proibida a publicidade de bens e ser- I - condicionar o fornecimento de produto ou de servi-
viços por telefone, quando a chamada for onerosa ao consu- ço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como,
midor que a origina.  sem justa causa, a limites quantitativos;
II - recusar atendimento às demandas dos consumido-
Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço é solidaria- res, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e,
mente responsável pelos atos de seus prepostos ou represen- ainda, de conformidade com os usos e costumes;
tantes autônomos. III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação
prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço;
Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consu-
cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o con- midor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou
sumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha: condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos ter- V - exigir do consumidor vantagem manifestamente ex-
mos da oferta, apresentação ou publicidade; cessiva;
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equi- VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orça-
valente; mento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de decorrentes de práticas anteriores entre as partes;
quantia eventualmente antecipada, monetariamente atua- VII - repassar informação depreciativa, referente a ato
lizada, e a perdas e danos. praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos;

171
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produ- Art. 42-A.  Em todos os documentos de cobrança de dé-
to ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos bitos apresentados ao consumidor, deverão constar o nome,
órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não o endereço e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou Físicas – CPF ou no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica –
outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Me- CNPJ do fornecedor do produto ou serviço correspondente. 
trologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro);
IX - recusar a venda de bens ou a prestação de servi- SEÇÃO VI
ços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante Dos Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores
pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação
regulados em leis especiais;  Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art.
X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou ser- 86, terá acesso às informações existentes em cadastros, fi-
viços.  chas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados
XI -  Dispositivo  incluído pela MPV  nº 1.890-67, de sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes.
22.10.1999, transformado em inciso  XIII, quando da conver- § 1° Os cadastros e dados de consumidores devem
são na Lei nº 9.870, de 23.11.1999 ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil
XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de
compreensão, não podendo conter informações negativas
sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu
referentes a período superior a cinco anos.
exclusivo critério.
§ 2° A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pes-
XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do
legal ou contratualmente estabelecido.  soais e de consumo deverá ser comunicada por escrito ao
XIV - permitir o ingresso em estabelecimentos comer- consumidor, quando não solicitada por ele.
ciais ou de serviços de um número maior de consumidores § 3° O consumidor, sempre que encontrar inexatidão
que o fixado pela autoridade administrativa como máximo. nos seus dados e cadastros, poderá exigir sua imediata cor-
Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos re- reção, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias úteis,
metidos ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista comunicar a alteração aos eventuais destinatários das in-
no inciso III, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo formações incorretas.
obrigação de pagamento. § 4° Os bancos de dados e cadastros relativos a consu-
midores, os serviços de proteção ao crédito e congêneres
Art. 40. O fornecedor de serviço será obrigado a entregar são considerados entidades de caráter público.
ao consumidor orçamento prévio discriminando o valor da § 5° Consumada a prescrição relativa à cobrança de
mão-de-obra, dos materiais e equipamentos a serem empre- débitos do consumidor, não serão fornecidas, pelos res-
gados, as condições de pagamento, bem como as datas de pectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer infor-
início e término dos serviços. mações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao
§ 1º Salvo estipulação em contrário, o valor orçado terá crédito junto aos fornecedores.
validade pelo prazo de dez dias, contado de seu recebi-
mento pelo consumidor. Art. 44. Os órgãos públicos de defesa do consumidor
§ 2° Uma vez aprovado pelo consumidor, o orçamento manterão cadastros atualizados de reclamações fundamen-
obriga os contraentes e somente pode ser alterado me- tadas contra fornecedores de produtos e serviços, devendo
diante livre negociação das partes. divulgá-lo pública e anualmente. A divulgação indicará se a
§ 3° O consumidor não responde por quaisquer ônus reclamação foi atendida ou não pelo fornecedor.
ou acréscimos decorrentes da contratação de serviços de § 1° É facultado o acesso às informações lá constantes
terceiros não previstos no orçamento prévio. para orientação e consulta por qualquer interessado.
§ 2° Aplicam-se a este artigo, no que couber, as mes-
Art. 41. No caso de fornecimento de produtos ou de ser-
mas regras enunciadas no artigo anterior e as do parágrafo
viços sujeitos ao regime de controle ou de tabelamento de
único do art. 22 deste código.
preços, os fornecedores deverão respeitar os limites oficiais
sob pena de não o fazendo, responderem pela restituição da
quantia recebida em excesso, monetariamente atualizada, Art. 45. (Vetado).
podendo o consumidor exigir à sua escolha, o desfazimento
do negócio, sem prejuízo de outras sanções cabíveis. CAPÍTULO VI
Da Proteção Contratual
SEÇÃO V
Da Cobrança de Dívidas SEÇÃO I
Disposições Gerais
Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadim-
plente não será exposto a ridículo, nem será submetido a Art. 46. Os contratos que regulam as relações de con-
qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. sumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia in- a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu con-
devida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao teúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de
dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção mo- modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.
netária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.

172
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato uni-
maneira mais favorável ao consumidor. lateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consu-
midor;
Art. 48. As declarações de vontade constantes de escritos XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de co-
particulares, recibos e pré-contratos relativos às relações de brança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja con-
consumo vinculam o fornecedor, ensejando inclusive execu- ferido contra o fornecedor;
ção específica, nos termos do art. 84 e parágrafos. XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmen-
te o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebra-
Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no ção;
prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas
recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata- ambientais;
ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção
estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a ao consumidor;
domicílio. XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização
Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de
por benfeitorias necessárias.
arrependimento previsto neste artigo, os valores eventual-
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a van-
mente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão,
tagem que:
serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.
I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico
Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e a que pertence;
será conferida mediante termo escrito. II - restringe direitos ou obrigações fundamentais ine-
Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente rentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu
deve ser padronizado e esclarecer, de maneira adequada em objeto ou equilíbrio contratual;
que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo III - se mostra excessivamente onerosa para o consu-
e o lugar em que pode ser exercitada e os ônus a cargo do midor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato,
consumidor, devendo ser-lhe entregue, devidamente preen- o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao
chido pelo fornecedor, no ato do fornecimento, acompanha- caso.
do de manual de instrução, de instalação e uso do produto § 2° A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não
em linguagem didática, com ilustrações. invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, ape-
sar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a
SEÇÃO II qualquer das partes.
Das Cláusulas Abusivas § 3° (Vetado).
§ 4° É facultado a qualquer consumidor ou entidade
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláu- que o represente requerer ao Ministério Público que ajuíze
sulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e a competente ação para ser declarada a nulidade de cláu-
serviços que: sula contratual que contrarie o disposto neste código ou
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsa- de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio entre
bilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos direitos e obrigações das partes.
produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição
de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que
consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limita- envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento
da, em situações justificáveis; ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos,
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da informá-lo prévia e adequadamente sobre:
quantia já paga, nos casos previstos neste código;
I - preço do produto ou serviço em moeda corrente na-
III - transfiram responsabilidades a terceiros;
cional;
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abu-
II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual
sivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exage-
de juros;
rada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;
V - (Vetado); III - acréscimos legalmente previstos;
VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo IV - número e periodicidade das prestações;
do consumidor; V - soma total a pagar, com e sem financiamento.
VII - determinem a utilização compulsória de arbitra- § 1° As multas de mora decorrentes do inadimplemen-
gem; to de obrigações no seu termo não poderão ser superiores
VIII - imponham representante para concluir ou realizar a dois por cento do valor da prestação.
outro negócio jurídico pelo consumidor; § 2º É assegurado ao consumidor a liquidação anteci-
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o pada do débito, total ou parcialmente, mediante redução
contrato, embora obrigando o consumidor; proporcional dos juros e demais acréscimos.
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, § 3º (Vetado).
variação do preço de maneira unilateral;

173
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou § 3° Os órgãos federais, estaduais, do Distrito Federal
imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas e municipais com atribuições para fiscalizar e controlar o
alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de mercado de consumo manterão comissões permanentes
pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das para elaboração, revisão e atualização das normas referidas
prestações pagas em benefício do credor que, em razão do no § 1°, sendo obrigatória a participação dos consumidores
inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a reto- e fornecedores.
mada do produto alienado. § 4° Os órgãos oficiais poderão expedir notificações
§ 1° (Vetado). aos fornecedores para que, sob pena de desobediência,
§ 2º Nos contratos do sistema de consórcio de produ- prestem informações sobre questões de interesse do con-
tos duráveis, a compensação ou a restituição das parcelas sumidor, resguardado o segredo industrial.
quitadas, na forma deste artigo, terá descontada, além da
vantagem econômica auferida com a fruição, os prejuízos Art. 56. As infrações das normas de defesa do consu-
que o desistente ou inadimplente causar ao grupo. midor ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções
§ 3° Os contratos de que trata o caput deste artigo se- administrativas, sem prejuízo das de natureza civil, penal e
rão expressos em moeda corrente nacional. das definidas em normas específicas:
I - multa;
SEÇÃO III II - apreensão do produto;
Dos Contratos de Adesão III - inutilização do produto;
IV - cassação do registro do produto junto ao órgão
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas competente;
tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou es- V - proibição de fabricação do produto;
tabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou VI - suspensão de fornecimento de produtos ou serviço;
serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar VII - suspensão temporária de atividade;
substancialmente seu conteúdo.  VIII - revogação de concessão ou permissão de uso;
§ 1° A inserção de cláusula no formulário não desfigura IX - cassação de licença do estabelecimento ou de ati-
a natureza de adesão do contrato. vidade;
§ 2° Nos contratos de adesão admite-se cláusula re- X - interdição, total ou parcial, de estabelecimento, de
solutória, desde que a alternativa, cabendo a escolha ao obra ou de atividade;
consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo XI - intervenção administrativa;
anterior. XII - imposição de contrapropaganda.
§ 3° Os contratos de adesão escritos serão redigidos Parágrafo único. As sanções previstas neste artigo serão
em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, aplicadas pela autoridade administrativa, no âmbito de sua
cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de atribuição, podendo ser aplicadas cumulativamente, inclusi-
modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.  ve por medida cautelar, antecedente ou incidente de proce-
§ 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito dimento administrativo.
do consumidor deverão ser redigidas com destaque, per-
mitindo sua imediata e fácil compreensão. Art. 57. A pena de multa, graduada de acordo com a
§ 5° (Vetado) gravidade da infração, a vantagem auferida e a condição
econômica do fornecedor, será aplicada mediante procedi-
CAPÍTULO VII mento administrativo, revertendo para o Fundo de que trata
Das Sanções Administrativas a Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, os valores cabíveis à
União, ou para os Fundos estaduais ou municipais de prote-
(Vide Lei nº 8.656, de 1993) ção ao consumidor nos demais casos. 
Parágrafo único. A multa será em montante não inferior
Art. 55. A União, os Estados e o Distrito Federal, em ca- a duzentas e não superior a três milhões de vezes o valor
ráter concorrente e nas suas respectivas áreas de atuação da Unidade Fiscal de Referência (Ufir), ou índice equivalente
administrativa, baixarão normas relativas à produção, in- que venha a substituí-lo. 
dustrialização, distribuição e consumo de produtos e servi-
ços. Art. 58. As penas de apreensão, de inutilização de pro-
§ 1° A União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni- dutos, de proibição de fabricação de produtos, de suspensão
cípios fiscalizarão e controlarão a produção, industrializa- do fornecimento de produto ou serviço, de cassação do re-
ção, distribuição, a publicidade de produtos e serviços e o gistro do produto e revogação da concessão ou permissão
mercado de consumo, no interesse da preservação da vida, de uso serão aplicadas pela administração, mediante proce-
da saúde, da segurança, da informação e do bem-estar do dimento administrativo, assegurada ampla defesa, quando
consumidor, baixando as normas que se fizerem necessá- forem constatados vícios de quantidade ou de qualidade por
rias. inadequação ou insegurança do produto ou serviço.
§ 2° (Vetado).

174
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 59. As penas de cassação de alvará de licença, de in- Art. 65. Executar serviço de alto grau de periculosidade,
terdição e de suspensão temporária da atividade, bem como contrariando determinação de autoridade competente:
a de intervenção administrativa, serão aplicadas median- Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.
te procedimento administrativo, assegurada ampla defesa, § 1º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo
quando o fornecedor reincidir na prática das infrações de das correspondentes à lesão corporal e à morte.
maior gravidade previstas neste código e na legislação de § 2º A prática do disposto no inciso XIV do art. 39 des-
consumo. ta Lei também caracteriza o crime previsto no caput deste
§ 1° A pena de cassação da concessão será aplicada à artigo.
concessionária de serviço público, quando violar obrigação
legal ou contratual. Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir
§ 2° A pena de intervenção administrativa será aplicada informação relevante sobre a natureza, característica, qua-
sempre que as circunstâncias de fato desaconselharem a lidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade,
cassação de licença, a interdição ou suspensão da ativida- preço ou garantia de produtos ou serviços:
de. Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.
§ 3° Pendendo ação judicial na qual se discuta a impo- § 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a
sição de penalidade administrativa, não haverá reincidên- oferta.
cia até o trânsito em julgado da sentença. § 2º Se o crime é culposo;
Pena Detenção de um a seis meses ou multa.
Art. 60. A imposição de contrapropaganda será comina-
da quando o fornecedor incorrer na prática de publicidade Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou de-
enganosa ou abusiva, nos termos do art. 36 e seus parágra- veria saber ser enganosa ou abusiva:
fos, sempre às expensas do infrator. Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.
§ 1º A contrapropaganda será divulgada pelo respon- Parágrafo único. (Vetado).
sável da mesma forma, frequência e dimensão e, preferen-
Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou de-
cialmente no mesmo veículo, local, espaço e horário, de
veria saber ser capaz de induzir o consumidor a se comportar
forma capaz de desfazer o malefício da publicidade enga-
de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança:
nosa ou abusiva.
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa:
§ 2° (Vetado)
Parágrafo único. (Vetado).
§ 3° (Vetado).
Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e
TÍTULO II científicos que dão base à publicidade:
Das Infrações Penais Pena - Detenção de um a seis meses ou multa.
Art. 61. Constituem crimes contra as relações de consu- Art. 70. Empregar na reparação de produtos, peça ou
mo previstas neste código, sem prejuízo do disposto no Códi- componentes de reposição usados, sem autorização do con-
go Penal e leis especiais, as condutas tipificadas nos artigos sumidor:
seguintes. Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.
Art. 62. (Vetado). Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça,
coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas
Art. 63. Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a noci- incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento
vidade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou
invólucros, recipientes ou publicidade: interfira com seu trabalho, descanso ou lazer:
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa. Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.
§ 1° Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de aler-
tar, mediante recomendações escritas ostensivas, sobre a Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às
periculosidade do serviço a ser prestado. informações que sobre ele constem em cadastros, banco de
§ 2° Se o crime é culposo: dados, fichas e registros:
Pena Detenção de um a seis meses ou multa. Pena - Detenção de seis meses a um ano ou multa.

Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade competente Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informação
e aos consumidores a nocividade ou periculosidade de pro- sobre consumidor constante de cadastro, banco de dados,
dutos cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no fichas ou registros que sabe ou deveria saber ser inexata:
mercado: Pena - Detenção de um a seis meses ou multa.
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.
Parágrafo único. Incorrerá nas mesmas penas quem dei- Art. 74. Deixar de entregar ao consumidor o termo de
xar de retirar do mercado, imediatamente quando determi- garantia adequadamente preenchido e com especificação
nado pela autoridade competente, os produtos nocivos ou clara de seu conteúdo;
perigosos, na forma deste artigo. Pena - Detenção de um a seis meses ou multa.

175
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os TÍTULO III


crimes referidos neste código, incide as penas a esses comi- Da Defesa do Consumidor em Juízo
nadas na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor,
administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, CAPÍTULO I
permitir ou por qualquer modo aprovar o fornecimento, Disposições Gerais
oferta, exposição à venda ou manutenção em depósito de
produtos ou a oferta e prestação de serviços nas condições Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumi-
por ele proibidas. dores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individual-
mente, ou a título coletivo.
Art. 76. São circunstâncias agravantes dos crimes tipifi- Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando
cados neste código: se tratar de:
I - serem cometidos em época de grave crise econômica I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para
ou por ocasião de calamidade; efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivi-
II - ocasionarem grave dano individual ou coletivo; sível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e liga-
III - dissimular-se a natureza ilícita do procedimento; das por circunstâncias de fato;
IV - quando cometidos: II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos,
a) por servidor público, ou por pessoa cuja condição eco- para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza
nômico-social seja manifestamente superior à da vítima; indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de
b) em detrimento de operário ou rurícola; de menor de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma
dezoito ou maior de sessenta anos ou de pessoas portadoras relação jurídica base;
de deficiência mental interditadas ou não; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim
V - serem praticados em operações que envolvam ali- entendidos os decorrentes de origem comum.
mentos, medicamentos ou quaisquer outros produtos ou ser-
viços essenciais . Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legi-
timados concorrentemente: 
I - o Ministério Público,
Art. 77. A pena pecuniária prevista nesta Seção será fixa-
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Fede-
da em dias-multa, correspondente ao mínimo e ao máximo
ral;
de dias de duração da pena privativa da liberdade cominada
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, di-
ao crime. Na individualização desta multa, o juiz observará
reta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, es-
o disposto no art. 60, §1° do Código Penal.
pecificamente destinados à defesa dos interesses e direitos
protegidos por este código;
Art. 78. Além das penas privativas de liberdade e de
IV - as associações legalmente constituídas há pelo me-
multa, podem ser impostas, cumulativa ou alternadamente, nos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a
observado odisposto nos arts. 44 a 47, do Código Penal: defesa dos interesses e direitos protegidos por este código,
I - a interdição temporária de direitos; dispensada a autorização assemblear.
II - a publicação em órgãos de comunicação de grande § 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispen-
circulação ou audiência, às expensas do condenado, de notí- sado pelo juiz, nas ações previstas nos arts. 91 e seguintes,
cia sobre os fatos e a condenação; quando haja manifesto interesse social evidenciado pela
III - a prestação de serviços à comunidade. dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do
bem jurídico a ser protegido.
Art. 79. O valor da fiança, nas infrações de que trata este § 2° (Vetado).
código, será fixado pelo juiz, ou pela autoridade que presidir § 3° (Vetado).
o inquérito, entre cem e duzentas mil vezes o valor do Bônus
do Tesouro Nacional (BTN), ou índice equivalente que venha Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos
a substituí-lo. por este código são admissíveis todas as espécies de ações
Parágrafo único. Se assim recomendar a situação econô- capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.
mica do indiciado ou réu, a fiança poderá ser: Parágrafo único. (Vetado).
a) reduzida até a metade do seu valor mínimo;
b) aumentada pelo juiz até vinte vezes. Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela es-
Art. 80. No processo penal atinente aos crimes previstos pecífica da obrigação ou determinará providências que asse-
neste código, bem como a outros crimes e contravenções que gurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
envolvam relações de consumo, poderão intervir, como as- § 1° A conversão da obrigação em perdas e danos
sistentes do Ministério Público, os legitimados indicados no somente será admissível se por elas optar o autor ou se
art. 82, inciso III e IV, aos quais também é facultado propor impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado
ação penal subsidiária, se a denúncia não for oferecida no prático correspondente.
prazo legal. § 2° A indenização por perdas e danos se fará sem pre-
juízo da multa (art. 287, do Código de Processo Civil).

176
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 3° Sendo relevante o fundamento da demanda e ha- II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Fe-
vendo justificado receio de ineficácia do provimento final, deral, para os danos de âmbito nacional ou regional, apli-
é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após jus- cando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de
tificação prévia, citado o réu. competência concorrente.
§ 4° O juiz poderá, na hipótese do § 3° ou na sentença,
impor multa diária ao réu, independentemente de pedido Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão
do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, oficial, a fim de que os interessados possam intervir no pro-
fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito. cesso como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação
§ 5° Para a tutela específica ou para a obtenção do re-
pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de
sultado prático equivalente, poderá o juiz determinar as
defesa do consumidor.
medidas necessárias, tais como busca e apreensão, remo-
ção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento
de atividade nociva, além de requisição de força policial. Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a condena-
ção será genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos
Art. 85. (Vetado). danos causados.

Art. 86. (Vetado). Art. 96. (Vetado).

Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este código não Art. 97. A liquidação e a execução de sentença poderão
haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários ser promovidas pela vítima e seus sucessores, assim como
periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da pelos legitimados de que trata o art. 82.
associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários Parágrafo único. (Vetado).
de advogados, custas e despesas processuais.
Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a as- Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovi-
sociação autora e os diretores responsáveis pela propositura da pelos legitimados de que trata o art. 82, abrangendo as
da ação serão solidariamente condenados em honorários vítimas cujas indenizações já tiveram sido fixadas em sen-
advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da res- tença de liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de outras
ponsabilidade por perdas e danos. execuções. 
§ 1° A execução coletiva far-se-á com base em certidão
Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste
das sentenças de liquidação, da qual deverá constar a ocor-
código, a ação de regresso poderá ser ajuizada em proces-
so autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos rência ou não do trânsito em julgado.
mesmos autos, vedada a denunciação da lide. § 2° É competente para a execução o juízo:
I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória,
Art. 89. (Vetado) no caso de execução individual;
II - da ação condenatória, quando coletiva a execução.
Art. 90. Aplicam-se às ações previstas neste título as
normas do Código de Processo Civil e da Lei n° 7.347, de 24 Art. 99. Em caso de concurso de créditos decorrentes
de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, de condenação prevista na Lei n° 7.347, de 24 de julho de
naquilo que não contrariar suas disposições. 1985 e de indenizações pelos prejuízos individuais resultan-
tes do mesmo evento danoso, estas terão preferência no pa-
CAPÍTULO II gamento.
Das Ações Coletivas Para a Defesa de Interesses Parágrafo único. Para efeito do disposto neste arti-
Individuais Homogêneos go, a destinação da importância recolhida ao fundo criado
pela Lei n° 7.347 de 24 de julho de 1985, ficará sustada en-
Art. 91. Os legitimados de que trata o art. 82 poderão quanto pendentes de decisão de segundo grau as ações de
propor, em nome próprio e no interesse das vítimas ou seus indenização pelos danos individuais, salvo na hipótese de o
sucessores, ação civil coletiva de responsabilidade pelos da-
patrimônio do devedor ser manifestamente suficiente para
nos individualmente sofridos, de acordo com o disposto nos
responder pela integralidade das dívidas.
artigos seguintes. 

Art. 92. O Ministério Público, se não ajuizar a ação, Art. 100. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação
atuará sempre como fiscal da lei. de interessados em número compatível com a gravidade do
Parágrafo único. (Vetado). dano, poderão os legitimados do art. 82 promover a liquida-
ção e execução da indenização devida.
Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é Parágrafo único. O produto da indenização devida re-
competente para a causa a justiça local: verterá para o fundo criado pela Lei n° 7.347, de 24 de julho
I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, de 1985.
quando de âmbito local;

177
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

CAPÍTULO III forma prevista neste código, mas, se procedente o pedi-


Das Ações de Responsabilidade do Fornecedor de do, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão
Produtos e Serviços proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts.
96 a 99.
Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do forne- § 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sen-
cedor de produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos tença penal condenatória.
Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes
normas: Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e
I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor; do parágrafo único do art. 81, não induzem litispendência
II - o réu que houver contratado seguro de responsa- para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada
bilidade poderá chamar ao processo o segurador, vedada a erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do
integração do contraditório pelo Instituto de Resseguros do artigo anterior não beneficiarão os autores das ações indivi-
Brasil. Nesta hipótese, a sentença que julgar procedente o duais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta
pedido condenará o réu nos termos do art. 80 do Código de dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação
Processo Civil. Se o réu houver sido declarado falido, o sín- coletiva.
dico será intimado a informar a existência de seguro de res-
ponsabilidade, facultando-se, em caso afirmativo, o ajuiza- TÍTULO IV
mento de ação de indenização diretamente contra o segura- Do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor
dor, vedada a denunciação da lide ao Instituto de Resseguros
do Brasil e dispensado o litisconsórcio obrigatório com este. Art. 105. Integram o Sistema Nacional de Defesa do
Consumidor (SNDC), os órgãos federais, estaduais, do Dis-
trito Federal e municipais e as entidades privadas de defesa
Art. 102. Os legitimados a agir na forma deste código
do consumidor.
poderão propor ação visando compelir o Poder Público com-
petente a proibir, em todo o território nacional, a produção,
Art. 106. O Departamento Nacional de Defesa do Con-
divulgação distribuição ou venda, ou a determinar a altera-
sumidor, da Secretaria Nacional de Direito Econômico (MJ),
ção na composição, estrutura, fórmula ou acondicionamento
ou órgão federal que venha substituí-lo, é organismo de
de produto, cujo uso ou consumo regular se revele nocivo ou
coordenação da política do Sistema Nacional de Defesa do
perigoso à saúde pública e à incolumidade pessoal. Consumidor, cabendo-lhe:
§ 1° (Vetado). I - planejar, elaborar, propor, coordenar e executar a po-
§ 2° (Vetado) lítica nacional de proteção ao consumidor;
II - receber, analisar, avaliar e encaminhar consultas,
CAPÍTULO IV denúncias ou sugestões apresentadas por entidades repre-
Da Coisa Julgada sentativas ou pessoas jurídicas de direito público ou privado;
III - prestar aos consumidores orientação permanente
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sobre seus direitos e garantias;
sentença fará coisa julgada: IV - informar, conscientizar e motivar o consumidor
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improce- através dos diferentes meios de comunicação;
dente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer V - solicitar à polícia judiciária a instauração de inquéri-
legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico funda- to policial para a apreciação de delito contra os consumido-
mento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do res, nos termos da legislação vigente;
parágrafo único do art. 81; VI - representar ao Ministério Público competente para
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria fins de adoção de medidas processuais no âmbito de suas
ou classe, salvo improcedência por insuficiência de provas, atribuições;
nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese VII - levar ao conhecimento dos órgãos competentes as
prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81; infrações de ordem administrativa que violarem os interes-
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pe- ses difusos, coletivos, ou individuais dos consumidores;
dido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na VIII - solicitar o concurso de órgãos e entidades da
hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81. União, Estados, do Distrito Federal e Municípios, bem como
§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I auxiliar a fiscalização de preços, abastecimento, quantidade
e II não prejudicarão interesses e direitos individuais dos e segurança de bens e serviços;
integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe. IX - incentivar, inclusive com recursos financeiros e ou-
§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de im- tros programas especiais, a formação de entidades de defesa
procedência do pedido, os interessados que não tiverem do consumidor pela população e pelos órgãos públicos esta-
intervindo no processo como litisconsortes poderão pro- duais e municipais;
por ação de indenização a título individual. X - (Vetado).
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, XI - (Vetado).
combinado com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de XII - (Vetado)
1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos XIII - desenvolver outras atividades compatíveis com
pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na suas finalidades.

178
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Parágrafo único. Para a consecução de seus objetivos, o § 3° Não se exime de cumprir a convenção o forne-
Departamento Nacional de Defesa do Consumidor poderá cedor que se desligar da entidade em data posterior ao
solicitar o concurso de órgãos e entidades de notória espe- registro do instrumento.
cialização técnico-científica.
Art. 108. (Vetado).
“O Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC)
congrega Procons, Ministério Público, Defensoria Pública TÍTULO VI
e entidades civis de defesa do consumidor, que atuam de Disposições Finais
forma articulada e integrada com a Secretaria Nacional do
Consumidor (Senacon). Art. 109. (Vetado).
O SNDC se reúne trimestralmente para analisar con-
juntamente os desafios enfrentados pelos consumidores e Art. 110. Acrescente-se o seguinte inciso IV ao art. 1° da
para a formulação de estratégias de ação, tais como fis- Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985:
calizações conjuntas, harmonização de entendimentos e “IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo”.
elaboração de políticas públicas de proteção e defesa do
consumidor. Art. 111. O inciso II do art. 5° da Lei n° 7.347, de 24 de
Os órgãos do SNDC têm competência concorrente e julho de 1985, passa a ter a seguinte redação:
atuam de forma complementar para receber denúncias, “II - inclua, entre suas finalidades institucionais, a prote-
apurar irregularidades e promover a proteção e defesa dos ção ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio artís-
consumidores. tico, estético, histórico, turístico e paisagístico, ou a qualquer
Os Procons são órgãos estaduais e municipais de pro- outro interesse difuso ou coletivo”.
teção e defesa do consumidor, criados especificamente
para este fim, com competências, no âmbito de sua ju- Art. 112. O § 3° do art. 5° da Lei n° 7.347, de 24 de julho
risdição, para exercer as atribuições estabelecidas pela de 1985, passa a ter a seguinte redação:
Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, e pelo Decreto nº “§ 3°  Em caso de desistência infundada ou abandono
2.181/97. Os Procons são, portanto, os órgãos que atuam
da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou
no âmbito local, atendendo diretamente os consumidores
outro legitimado assumirá a titularidade ativa”.
e monitorando o mercado de consumo local. Têm papel
fundamental na execução da Política Nacional de Defesa
Art. 113. Acrescente-se os seguintes §§ 4°, 5° e 6° ao art.
do Consumidor.
5º. da Lei n.° 7.347, de 24 de julho de 1985:
O Ministério Público e a Defensoria Pública, no âmbito
“§ 4° O requisito da pré-constituição poderá ser dispen-
de suas atribuições, também atuam na proteção e na defe-
sado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evi-
sa dos consumidores e na construção da Política Nacional
das Relações de Consumo. O Ministério Público, de acordo denciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela
com sua competência constitucional, além de fiscalizar a relevância do bem jurídico a ser protegido.
aplicação da lei, instaura inquéritos e propõe ações coleti- § 5° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os
vas. A Defensoria, além de propor ações, defende os inte- Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Es-
resses dos desassistidos, promove acordos e conciliações. tados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta
A Secretaria Nacional do Consumidor, por sua vez, tem lei. (Vide Mensagem de veto) (Vide REsp 222582 /MG - STJ)
por atribuição legal a coordenação do SNDC e está volta- § 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar
da à análise de questões que tenham repercussão nacio- dos interessados compromisso de ajustamento de sua con-
nal e interesse geral, além do planejamento, elaboração, duta às exigências legais, mediante combinações, que terá
coordenação e execução da Política Nacional de Defesa do eficácia de título executivo extrajudicial». (Vide Mensagem
Consumidor”39. de veto)  (Vide REsp 222582 /MG - STJ)

TÍTULO V Art. 114. O art. 15 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de


Da Convenção Coletiva de Consumo 1985, passa a ter a seguinte redação:
“Art. 15. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado
Art. 107. As entidades civis de consumidores e as as- da sentença condenatória, sem que a associação autora lhe
sociações de fornecedores ou sindicatos de categoria eco- promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, fa-
nômica podem regular, por convenção escrita, relações de cultada igual iniciativa aos demais legitimados”.
consumo que tenham por objeto estabelecer condições rela-
tivas ao preço, à qualidade, à quantidade, à garantia e ca- Art. 115. Suprima-se o caput do art. 17 da Lei n° 7.347,
racterísticas de produtos e serviços, bem como à reclamação de 24 de julho de 1985, passando o parágrafo único a cons-
e composição do conflito de consumo. tituir o caput, com a seguinte redação:
§ 1° A convenção tornar-se-á obrigatória a partir do re- “Art. 17. “Art. 17. Em caso de litigância de má-fé, a as-
gistro do instrumento no cartório de títulos e documentos. sociação autora e os diretores responsáveis pela propositura
§ 2° A convenção somente obrigará os filiados às enti- da ação serão solidariamente condenados em honorários
dades signatárias. advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da res-
39 http://portal.mj.gov.br/ ponsabilidade por perdas e danos”.

179
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 116. Dê-se a seguinte redação ao art. 18 da Lei n° § 2o Incorre, ainda, na mesma pena quem: 
7.347, de 24 de julho de 1985: I - utiliza, na atividade econômica ou financeira,
“Art. 18.  Nas ações de que trata esta lei, não haverá bens, direitos ou valores provenientes de infração penal; 
adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais II - participa de grupo, associação ou escritório ten-
e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação do conhecimento de que sua atividade principal ou se-
autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, cundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta
custas e despesas processuais”. Lei.
§ 3º A tentativa é punida nos termos do parágrafo úni-
Art. 117. Acrescente-se à Lei n° 7.347, de 24 de julho de co do art. 14 do Código Penal.
1985, o seguinte dispositivo, renumerando-se os seguintes: § 4o A pena será aumentada de um a dois terços, se os
“Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difu- crimes definidos nesta Lei forem cometidos de forma reite-
sos, coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do rada ou por intermédio de organização criminosa. 
Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor”.
§ 5o A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e
ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultan-
Art. 118. Este código entrará em vigor dentro de cento e
oitenta dias a contar de sua publicação. do-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qual-
quer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor,
Art. 119. Revogam-se as disposições em contrário. coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as
autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam
Brasília, 11 de setembro de 1990; 169° da Independência e à apuração das infrações penais, à identificação dos
102° da República. autores, coautores e partícipes, ou à localização dos
bens, direitos ou valores objeto do crime. 
Bem jurídico
Para a posição dominante, é a ordem econômico-fi-
CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO (LEI nanceira. Sendo este o bem protegido, aplica-se o posicio-
9.613/98); namento do STF e do STJ sobre a aplicabilidade do princí-
pio da insignificância quando o valor lavado/ocultado for
inferior a R$20.000,00 (STF, HC no 126191).
Tipo objetivo
Dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de Dissimular a natureza, origem, localização, disposi-
bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do siste- ção, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou
ma financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Con-
valores é a conduta de “lavagem” de dinheiro, do inglês,
selho de Controle de Atividades Financeiras - COAF, e dá
money laundering. A conduta envolve, geralmente, 3 fases:
outras providências.
Basicamente, o papel da lei consiste em: colocação do dinheiro ilícito no sistema financeiro dificul-
- Tipificar os crimes de “lavagem” e ocultação de bens, di- tando-se a análise de procedência; realização de negócios
reitos e valores; e movimentações para impedir o rastreamento e impedir
- Criar medidas de prevenção do uso do sistema financei- a descoberta da origem ilícita; e incorporação dos bens
ro para a prática destes ilícitos; ao sistema econômico conferindo-se aparência lícita (por
- Criar o Conselho de Controle de Atividades Financeiras exemplo, mediante transações, superfaturamentos e aqui-
– COAF. sição de bens).
O caput abrange também a conduta de ocultar a na-
CAPÍTULO I tureza, origem, localização, disposição, movimentação ou
Dos Crimes de “Lavagem” ou Ocultação de Bens, Di- propriedade de bens, direitos ou valores. Já o § 1o, I traz
reitos e Valores condutas fragmentadas que são usuais na prática do deli-
to descrito no caput, mas que não implicam em resultado
Art. 1o Ocultar ou dissimular a natureza, origem, locali- material necessário. Assim, o caput traz crimes materiais e
zação, disposição, movimentação ou propriedade de bens, o § 1o, I traz crimes formais (se o resultado ocorrer, incide-
direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, -se no caput). O § 1o, II descreve a conduta do receptador
de infração penal. de bens, direitos e valores provenientes de infração penal,
I a VIII – (Revogados).
responsável pelo encaminhamento do patrimônio para a
Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa.
lavagem. O § 1o, III descreve a conduta de exportação e
§ 1o Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissi-
mular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de de importação com o propósito de ocultação. Adiante, o
infração penal: § 2o tipifica no inciso I a conduta de utilização dos bens,
I - os converte em ativos lícitos; direitos e valores provenientes de infração penal (cabe o
II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em dolo eventual, bastando a suspeita razoável do autor do
garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou trans- fato acerca da ilicitude dos bens, direitos e valores); e no
fere; inciso II a de participação em grupo, associação ou escri-
III - importa ou exporta bens com valores não cor- tório ciente de que a atividade primária ou secundária nele
respondentes aos verdadeiros. desenvolvida é de lavagem/ocultação.

180
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Trata-se de crime derivado, pois depende da prática § 2o No processo por crime previsto nesta Lei, não se
de outra infração penal. Na redação originária, as infrações aplica o disposto no art. 366 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de
penais eram discriminadas em rol taxativo, mas em 2012 outubro de 1941 (Código de Processo Penal), devendo o acu-
a legislação foi alterada para suprir o rol. Logo, qualquer sado que não comparecer nem constituir advogado ser
infração pode estar conexa à lavagem/ocultação, sendo citado por edital, prosseguindo o feito até o julgamento,
exemplos: corrupção passiva, tráfico de drogas, peculato, com a nomeação de defensor dativo. 
entre outros. Pode ser sido cometida pela mesma pessoa Acessoriedade limitada (art. 2o, II e § 1o)
que cometeu lavagem/ocultação (selflaundering, cabendo O crime de lavagem/ocultação é autônomo, não de-
concurso material – soma-se a pena dos crimes) ou por pendendo de condenação pela infração penal que lhe deu
outrem. origem. Contudo, não existe absoluta independência por-
A tentativa é expressamente admitida (aplica-se o CP, que a infração penal é elementar do crime, logo, é preciso
reduzindo de 1/3 a 2/3). comprovar que a infração penal anterior ocorreu, sob pena
Elemento subjetivo de atipicidade, mas não é necessário condenar-se por prá-
Dolo. Deve haver ciência de que o bem, direito ou valor tica dela e mesmo que quanto a ela ocorra extinção de
objeto da lavagem é fruto de infração penal prévia. Contu- punibilidade ainda subsiste o delito de lavagem/ocultação
do, se a pessoa propositalmente, para evitar a imputabili- (STJ, HC no 36.837/GO).
dade, se esquiva de tomar conhecimento sobre a ilicitude Competência
do bem, direito ou valor responde como se tivesse conhe- Regra – competência da justiça estadual; se atingir o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, em
cimento – aplica-se a teoria da cegueira deliberada (will-
detrimento de bens, serviços e interesses da União, se a in-
ful blindness), conhecida como doutrina das instruções da
fração penal anterior for de competência da justiça federal,
avestruz (ostrich instructions) ou da evitação da consciência
ou se a lavagem/ocultação for praticada além do território
(conscious avoidance doctrine). nacional – competência da justiça federal.
Causa de aumento de pena – 1/3 a 2/3 – forma reite- Procedimento
rada ou intermédio de organização criminosa. Código de Processo Penal, não se aplicando a regra de
Causa de diminuição de pena – 1/3 a 2/3 + regime suspensão do processo nos casos de réu revel citado por
aberto/semiaberto, perdão judicial e substituição por PRD edital que não constitua advogado (o feito prossegue nor-
(juiz no mínimo dará a redução e o regime mais favorável, malmente e é nomeado um defensor dativo).
mas facultativamente pode conceder perdão judicial ou co- A ação penal é pública incondicionada.
mutar a pena) – COLABORAÇÃO PREMIADA – colaboração Não necessariamente precisa ser processado de forma
espontânea com autoridades mediante esclarecimentos conexa o processo penal que apure a infração penal que
que permitam apurar as infrações, identificar envolvidos, deu origem ao patrimônio ilícito lavado/ocultado.
localizar bens/valores/direitos.
Art. 3º (Revogado)
CAPÍTULO II
Disposições Processuais Especiais Art. 4o O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério
Público ou mediante representação do delegado de po-
Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos lícia, ouvido o Ministério Público em 24 (vinte e quatro)
nesta Lei: horas, havendo indícios suficientes de infração penal,
I - obedecem às disposições relativas ao procedi- poderá decretar medidas assecuratórias de bens, direitos
mento comum dos crimes punidos com reclusão, da ou valores do investigado ou acusado, ou existentes em
competência do juiz singular; nome de interpostas pessoas, que sejam instrumento,
II - independem do processo e julgamento das infra- produto ou proveito dos crimes previstos nesta Lei ou das
ções penais antecedentes, ainda que praticados em outro infrações penais antecedentes. 
país, cabendo ao juiz competente para os crimes previstos § 1o Proceder-se-á à alienação antecipada para pre-
nesta Lei a decisão sobre a unidade de processo e julgamen- servação do valor dos bens sempre que estiverem sujeitos
a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou quando
to;
houver dificuldade para sua manutenção.
III - são da competência da Justiça Federal:
§ 2oO juiz determinará a liberação total ou parcial dos
a) quando praticados contra o sistema financeiro e a
bens, direitos e valores quando comprovada a licitude de
ordem econômico-financeira, ou em detrimento de bens, sua origem, mantendo-se a constrição dos bens, direitos e
serviços ou interesses da União, ou de suas entidades au- valores necessários e suficientes à reparação dos danos e
tárquicas ou empresas públicas; ao pagamento de prestações pecuniárias, multas e custas
b) quando a infração penal antecedente for de compe- decorrentes da infração penal. 
tência da Justiça Federal. § 3o  Nenhum pedido de liberação será conhecido
§ 1o A denúncia será instruída com indícios suficientes sem o comparecimento pessoal do acusado ou de inter-
da existência da infração penal antecedente, sendo pu- posta pessoa a que se refere o caput deste artigo, podendo
níveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido o juiz determinar a prática de atos necessários à conserva-
ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da ção de bens, direitos ou valores, sem prejuízo do disposto
infração penal antecedente.  no § 1o.

181
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 4o Poderão ser decretadas medidas assecuratórias § 6o A instituição financeira depositária manterá contro-
sobre bens, direitos ou valores para reparação do dano le dos valores depositados ou devolvidos. 
decorrente da infração penal antecedente ou da prevista § 7o Serão deduzidos da quantia apurada no leilão to-
nesta Lei ou para pagamento de prestação pecuniária, mul- dos os tributos e multas incidentes sobre o bem aliena-
ta e custas. do, sem prejuízo de iniciativas que, no âmbito da competên-
O dispositivo traz medidas cautelares de natureza pa- cia de cada ente da Federação, venham a desonerar bens
trimonial e ao confisco de valores ilícitos. sob constrição judicial daqueles ônus.
§ 8o Feito o depósito a que se refere o § 4o deste artigo,
Art. 4o-A.  A alienação antecipada para preservação os autos da alienação serão apensados aos do processo
de valor de bens sob constrição será decretada pelo juiz, principal.
de ofício, a requerimento do Ministério Público ou por § 9o Terão apenas efeito devolutivo os recursos inter-
solicitação da parte interessada, mediante petição au- postos contra as decisões proferidas no curso do procedi-
tônoma, que será autuada em apartado e cujos autos terão mento previsto neste artigo.
tramitação em separado em relação ao processo principal. § 10.  Sobrevindo o trânsito em julgado de sentença
§ 1o O requerimento de alienação deverá conter a rela- penal condenatória, o juiz decretará, em favor, conforme o
ção de todos os demais bens, com a descrição e a espe- caso, da União ou do Estado:
cificação de cada um deles, e informações sobre quem I - a perda dos valores depositados na conta remu-
os detém e local onde se encontram. nerada e da fiança;
§ 2o O juiz determinará a avaliação dos bens, nos autos II - a perda dos bens não alienados antecipadamen-
apartados, e intimará o Ministério Público. te e daqueles aos quais não foi dada destinação prévia;
§ 3o Feita a avaliação e dirimidas eventuais divergências e
sobre o respectivo laudo, o juiz, por sentença, homologará III - a perda dos bens não reclamados no prazo de 90
o valor atribuído aos bens e determinará sejam aliena- (noventa) dias após o trânsito em julgado da sentença
dos em leilão ou pregão, preferencialmente eletrônico, por condenatória, ressalvado o direito de lesado ou terceiro
valor não inferior a 75% (setenta e cinco por cento) da de boa-fé.
avaliação. § 11.  Os bens a que se referem os incisos II e III do §
§ 4o Realizado o leilão, a quantia apurada será depo- 10 deste artigo serão adjudicados ou levados a leilão,
sitada em conta judicial remunerada, adotando-se a se- depositando-se o saldo na conta única do respectivo ente.
guinte disciplina:
§ 12.  O juiz determinará ao registro público compe-
I - nos processos de competência da Justiça Federal e da
tente que emita documento de habilitação à circulação e
Justiça do Distrito Federal: 
utilização dos bens colocados sob o uso e custódia das enti-
a) os depósitos serão efetuados na Caixa Econômica Fe-
dades a que se refere o caput deste artigo. 
deral ou em instituição financeira pública, mediante docu-
§ 13.  Os recursos decorrentes da alienação anteci-
mento adequado para essa finalidade;
pada de bens, direitos e valores oriundos do crime de tráfico
b) os depósitos serão repassados pela Caixa Econômica
ilícito de drogas e que tenham sido objeto de dissimulação
Federal ou por outra instituição financeira pública para a
Conta Única do Tesouro Nacional, independentemente de e ocultação nos termos desta Lei permanecem submetidos
qualquer formalidade, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas; à disciplina definida em lei específica (art. 62 da Lei no
e  11.343/06).
c) os valores devolvidos pela Caixa Econômica Federal O artigo 4o-A disciplina o procedimento judicial da
ou por instituição financeira pública serão debitados à Conta venda antecipada de bens (móveis ou imóveis), direitos ou
Única do Tesouro Nacional, em subconta de restituição;  valores constritos em razão de medida cautelar patrimonial
II - nos processos de competência da Justiça dos Estados:  ou que tenham sido apreendidos, havendo risco de perda
a) os depósitos serão efetuados em instituição financeira do valor econômico pelo decurso do tempo ou dificuldade
designada em lei, preferencialmente pública, de cada Esta- de manutenção. É necessária a presença de dois requisitos:
do ou, na sua ausência, em instituição financeira pública da bem sujeito a deterioração/depreciação e dificuldade de
União;  manutenção do bem constrito.
b) os depósitos serão repassados para a conta única de Legitimidade ativa – juiz, MP, parte interessada (assis-
cada Estado, na forma da respectiva legislação.  tente de acusação, acusado, terceiro interessado).
§ 5o Mediante ordem da autoridade judicial, o valor do
depósito, após o trânsito em julgado da sentença proferida Art. 4o-B.  A ordem de prisão de pessoas ou as medidas
na ação penal, será: assecuratórias de bens, direitos ou valores poderão ser sus-
I - em caso de sentença condenatória, nos processos de pensas pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a
competência da Justiça Federal e da Justiça do Distrito sua execução imediata puder comprometer as investi-
Federal, incorporado definitivamente ao patrimônio da gações.
União, e, nos processos de competência da Justiça Esta- As ordens de prisão e de medidas assecuratórias po-
dual, incorporado ao patrimônio do Estado respectivo; dem ser suspensas, ouvido o MP, se a execução imedia-
II - em caso de sentença absolutória extintiva de pu- ta delas comprometer as investigações. Trata-se de ação
nibilidade, colocado à disposição do réu pela instituição controlada, que visa assegurar a efetividade da atuação na
financeira, acrescido da remuneração da conta judicial. persecução penal.

182
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 5o  Quando as circunstâncias o aconselharem, o CAPÍTULO IV


juiz, ouvido o Ministério Público, nomeará pessoa física Dos Bens, Direitos ou Valores Oriundos de Crimes
ou jurídica qualificada para a administração dos bens, Praticados no Estrangeiro
direitos ou valores sujeitos a medidas assecuratórias, me-
diante termo de compromisso. Art. 8o O juiz determinará, na hipótese de existência de
Cabe a nomeação de administrador judicial. tratado ou convenção internacional e por solicitação de
autoridade estrangeira competente, medidas assecura-
Art. 6o  A pessoa responsável pela administração dos tórias sobre bens, direitos ou valores oriundos de crimes
bens: descritos no art. 1o praticados no estrangeiro.
I - fará jus a uma remuneração, fixada pelo juiz, que § 1º Aplica-se o disposto neste artigo, independente-
será satisfeita com o produto dos bens objeto da adminis-
mente de tratado ou convenção internacional, quando
tração;
o governo do país da autoridade solicitante prometer
II - prestará, por determinação judicial, informações
periódicas da situação dos bens sob sua administração, reciprocidade ao Brasil.
bem como explicações e detalhamentos sobre investimentos § 2o Na falta de tratado ou convenção, os bens, di-
e reinvestimentos realizados. reitos ou valores privados sujeitos a medidas assecuratórias
Parágrafo único. Os atos relativos à administração dos por solicitação de autoridade estrangeira competente ou os
bens sujeitos a medidas assecuratórias serão levados ao co- recursos provenientes da sua alienação serão repartidos
nhecimento do Ministério Público, que requererá o que entre o Estado requerente e o Brasil, na proporção de
entender cabível. metade, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro
O administrador judicial será remunerado e prestará de boa-fé.
informações periódicas, sendo sua atuação fiscalizada pelo A colaboração internacional se realizará por carta ro-
MP. gatória, seguindo a disciplina de tratados ou convenções
internacionais celebrados entre os países ou mediante
CAPÍTULO III acordos de reciprocidade.
Dos Efeitos da Condenação
CAPÍTULO V
Art. 7º São efeitos da condenação, além dos previstos DAS PESSOAS SUJEITAS AO MECANISMO DE CON-
no Código Penal: TROLE
I - a perda, em favor da União - e dos Estados, nos
casos de competência da Justiça Estadual -, de todos
O artigo 9o disciplina pessoas que são obrigadas a
os bens, direitos e valores relacionados, direta ou indire-
tamente, à prática dos crimes previstos nesta Lei, inclusive identificar clientes, manter registros e comunicar opera-
aqueles utilizados para prestar a fiança, ressalvado o direito ções financeiras.
do lesado ou de terceiro de boa-fé; 
II - a interdição do exercício de cargo ou função pú- Art. 9o Sujeitam-se às obrigações referidas nos arts.
blica de qualquer natureza e de diretor, de membro de 10 e 11 as pessoas físicas e jurídicas que tenham, em
conselho de administração ou de gerência das pessoas caráter permanente ou eventual, como atividade prin-
jurídicas referidas no art. 9º, pelo dobro do tempo da pena cipal ou acessória, cumulativamente ou não:
privativa de liberdade aplicada. I - a captação, intermediação e aplicação de recursos
§ 1o A União e os Estados, no âmbito de suas compe- financeiros de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira;
tências, regulamentarão a forma de destinação dos bens, II - a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro
direitos e valores cuja perda houver sido declarada, assegu- como ativo financeiro ou instrumento cambial;
rada, quanto aos processos de competência da Justiça Fe- III - a custódia, emissão, distribuição, liquidação, nego-
deral, a sua utilização pelos órgãos federais encarregados ciação, intermediação ou administração de títulos ou valores
da prevenção, do combate, da ação penal e do julgamento mobiliários.
dos crimes previstos nesta Lei, e, quanto aos processos de Parágrafo único. Sujeitam-se às mesmas obrigações:
competência da Justiça Estadual, a preferência dos órgãos I - as bolsas de valores, as bolsas de mercadorias ou fu-
locais com idêntica função.
turos e os sistemas de negociação do mercado de balcão
§ 2o Os instrumentos do crime sem valor econômico cuja
organizado;
perda em favor da União ou do Estado for decretada serão
inutilizados ou doados a museu criminal ou a entidade pú- II - as seguradoras, as corretoras de seguros e as entida-
blica, se houver interesse na sua conservação. des de previdência complementar ou de capitalização;
Diferentemente do Código de Processo Penal, a lei pre- III - as administradoras de cartões de credenciamento ou
vê a perda do valor dado em fiança como efeito da con- cartões de crédito, bem como as administradoras de consór-
denação, não importando se o acusado quebrou a fiança cios para aquisição de bens ou serviços;
ou se deixou de comparecer para o cumprimento de pena. IV - as administradoras ou empresas que se utilizem
Também se perdem outros bens, direitos e valores relacio- de cartão ou qualquer outro meio eletrônico, magnético ou
nados direta ou indiretamente ao ilícito. Sem prejuízo, há equivalente, que permita a transferência de fundos;
interdição para exercício de cargo ou função pública pelo V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e
dobro do tempo da pena aplicada. as de fomento comercial (factoring);

183
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

VI - as sociedades que efetuem distribuição de dinheiro II - manterão registro de toda transação em moeda
ou quaisquer bens móveis, imóveis, mercadorias, serviços, nacional ou estrangeira, títulos e valores mobiliários, títu-
ou, ainda, concedam descontos na sua aquisição, mediante los de crédito, metais, ou qualquer ativo passível de ser
sorteio ou método assemelhado; convertido em dinheiro, que ultrapassar limite fixado pela
VII - as filiais ou representações de entes estrangeiros que autoridade competente e nos termos de instruções por esta
exerçam no Brasil qualquer das atividades listadas neste arti- expedidas;
go, ainda que de forma eventual; III - deverão adotar políticas, procedimentos e contro-
VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de les internos, compatíveis com seu porte e volume de opera-
autorização de órgão regulador dos mercados financeiro, de ções, que lhes permitam atender ao disposto neste artigo e
câmbio, de capitais e de seguros; no art. 11, na forma disciplinada pelos órgãos competentes; 
IX - as pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estran- IV - deverão cadastrar-se e manter seu cadastro atua-
geiras, que operem no Brasil como agentes, dirigentes, procu- lizado no órgão regulador ou fiscalizador e, na falta deste,
radoras, comissionárias ou por qualquer forma representem no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf),
interesses de ente estrangeiro que exerça qualquer das ativi- na forma e condições por eles estabelecidas; 
dades referidas neste artigo; V - deverão atender às requisições formuladas pelo
X - as pessoas físicas ou jurídicas que exerçam atividades Coaf na periodicidade, forma e condições por ele estabele-
de promoção imobiliária ou compra e venda de imóveis;  cidas, cabendo-lhe preservar, nos termos da lei, o sigilo das
XI - as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem joias, informações prestadas.
pedras e metais preciosos, objetos de arte e antiguidades. § 1º Na hipótese de o cliente constituir-se em pessoa
XII - as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem bens jurídica, a identificação referida no inciso I deste artigo de-
de luxo ou de alto valor, intermedeiem a sua comercialização verá abranger as pessoas físicas autorizadas a representá-
ou exerçam atividades que envolvam grande volume de recur- -la, bem como seus proprietários.
sos em espécie;  § 2º Os cadastros e registros referidos nos incisos I e
XIII - as juntas comerciais e os registros públicos;  II deste artigo deverão ser conservados durante o período
XIV - as pessoas físicas ou jurídicas que prestem, mesmo mínimo de cinco anos a partir do encerramento da conta
que eventualmente, serviços de assessoria, consultoria, conta- ou da conclusão da transação, prazo este que poderá ser
doria, auditoria, aconselhamento ou assistência, de qualquer ampliado pela autoridade competente.
natureza, em operações:  § 3º O registro referido no inciso II deste artigo será
a) de compra e venda de imóveis, estabelecimentos co- efetuado também quando a pessoa física ou jurídica, seus
merciais ou industriais ou participações societárias de qual- entes ligados, houver realizado, em um mesmo mês-calen-
quer natureza;
dário, operações com uma mesma pessoa, conglomerado
b) de gestão de fundos, valores mobiliários ou outros ati-
ou grupo que, em seu conjunto, ultrapassem o limite fixado
vos;
pela autoridade competente.
c) de abertura ou gestão de contas bancárias, de poupan-
ça, investimento ou de valores mobiliários;
Art. 10-A. O Banco Central manterá registro centrali-
d) de criação, exploração ou gestão de sociedades de qual-
zado formando o cadastro geral de correntistas e clien-
quer natureza, fundações, fundos fiduciários ou estruturas
análogas; tes de instituições financeiras, bem como de seus procu-
e) financeiras, societárias ou imobiliárias; e radores.
f) de alienação ou aquisição de direitos sobre contratos re-
lacionados a atividades desportivas ou artísticas profissionais; CAPÍTULO VII
XV - pessoas físicas ou jurídicas que atuem na promoção, Da Comunicação de Operações Financeiras
intermediação, comercialização, agenciamento ou negociação
de direitos de transferência de atletas, artistas ou feiras, expo- Art. 11. As pessoas referidas no art. 9º:
sições ou eventos similares;  I - dispensarão especial atenção às operações que,
XVI - as empresas de transporte e guarda de valores; nos termos de instruções emanadas das autoridades compe-
XVII - as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem tentes, possam constituir-se em sérios indícios dos crimes
bens de alto valor de origem rural ou animal ou intermedeiem previstos nesta Lei, ou com eles relacionar-se;
a sua comercialização; e II - deverão comunicar ao Coaf, abstendo-se de dar
XVIII - as dependências no exterior das entidades mencio- ciência de tal ato a qualquer pessoa, inclusive àquela à qual
nadas neste artigo, por meio de sua matriz no Brasil, relativa- se refira a informação, no prazo de 24 (vinte e quatro)
mente a residentes no País. horas, a proposta ou realização:
a) de todas as transações referidas no inciso II do art. 10,
CAPÍTULO VI acompanhadas da identificação de que trata o inciso I do
Da Identificação dos Clientes e Manutenção de Re- mencionado artigo; e
gistros b) das operações referidas no inciso I;
III - deverão comunicar ao órgão regulador ou fisca-
Art. 10. As pessoas referidas no art. 9º: lizador da sua atividade ou, na sua falta, ao Coaf, na
I - identificarão seus clientes e manterão cadastro periodicidade, forma e condições por eles estabelecidas, a
atualizado, nos termos de instruções emanadas das autori- não ocorrência de propostas, transações ou operações
dades competentes; passíveis de serem comunicadas nos termos do inciso II.

184
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 1º As autoridades competentes, nas instruções refe- Art. 13. O procedimento para a aplicação das sanções
ridas no inciso I deste artigo, elaborarão relação de opera- previstas neste Capítulo será regulado por decreto, assegu-
ções que, por suas características, no que se refere às partes rados o contraditório e a ampla defesa.
envolvidas, valores, forma de realização, instrumentos uti-
lizados, ou pela falta de fundamento econômico ou legal, Caberá responsabilidade administrativa na falha dos
possam configurar a hipótese nele prevista. deveres de identificação de clientes, manutenção de regis-
§ 2º As comunicações de boa-fé, feitas na forma pre- tros e comunicação de operações financeiras por parte das
vista neste artigo, não acarretarão responsabilidade civil ou pessoas jurídicas descritas no artigo 9o e de seus adminis-
administrativa. tradores. A sanção aplicável será de advertência nos casos
§ 3o O Coaf disponibilizará as comunicações recebidas menos graves, multa nos casos intermediários, inabilitação
com base no inciso II do caput aos respectivos órgãos res- temporária nos casos mais sérios e cassação da autorização
ponsáveis pela regulação ou fiscalização das pessoas a que nos casos de reincidência em infração punida com inabili-
se refere o art. 9o. tação temporária.
Art. 11-A. As transferências internacionais e os saques
CAPÍTULO IX
em espécie deverão ser previamente comunicados à ins-
Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras
tituição financeira, nos termos, limites, prazos e condições
fixados pelo Banco Central do Brasil.
Art. 14. É criado, no âmbito do Ministério da Fazen-
CAPÍTULO VIII da, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras
Da Responsabilidade Administrativa - COAF, com a finalidade de disciplinar, aplicar penas ad-
ministrativas, receber, examinar e identificar as ocor-
Art. 12. Às pessoas referidas no art. 9º, bem como rências suspeitas de atividades ilícitas previstas nesta Lei,
aos administradores das pessoas jurídicas, que deixem sem prejuízo da competência de outros órgãos e entidades.
de cumprir as obrigações previstas nos arts. 10 e 11 serão § 1º As instruções referidas no art. 10 destinadas às
aplicadas, cumulativamente ou não, pelas autoridades com- pessoas mencionadas no art. 9º, para as quais não exista
petentes, as seguintes sanções: órgão próprio fiscalizador ou regulador, serão expedidas
I - advertência; pelo COAF, competindo-lhe, para esses casos, a definição
II - multa pecuniária variável não superior:  das pessoas abrangidas e a aplicação das sanções enume-
a) ao dobro do valor da operação; radas no art. 12.
b) ao dobro do lucro real obtido ou que presumivel- § 2º O COAF deverá, ainda, coordenar e propor me-
mente seria obtido pela realização da operação; ou canismos de cooperação e de troca de informações que
c) ao valor de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de viabilizem ações rápidas e eficientes no combate à ocultação
reais); ou dissimulação de bens, direitos e valores.
III - inabilitação temporária, pelo prazo de até dez § 3o O COAF poderá requerer aos órgãos da Adminis-
anos, para o exercício do cargo de administrador das tração Pública as informações cadastrais bancárias e fi-
pessoas jurídicas referidas no art. 9º; nanceiras de pessoas envolvidas em atividades suspei-
IV - cassação ou suspensão da autorização para o tas.
exercício de atividade, operação ou funcionamento.
§ 1º A pena de advertência será aplicada por irregula- Art. 15. O COAF comunicará às autoridades compe-
ridade no cumprimento das instruções referidas nos incisos I tentes para a instauração dos procedimentos cabíveis,
e II do art. 10. quando concluir pela existência de crimes previstos nesta Lei,
§ 2o A multa será aplicada sempre que as pessoas referi-
de fundados indícios de sua prática, ou de qualquer outro
das no art. 9o, por culpa ou dolo:
ilícito.
I - deixarem de sanar as irregularidades objeto de ad-
vertência, no prazo assinalado pela autoridade competente;
II - não cumprirem o disposto nos incisos I a IV do art. Art. 16.  O Coaf será composto por servidores públi-
10;  cos de reputação ilibada e reconhecida competência, de-
III - deixarem de atender, no prazo estabelecido, a re- signados em ato do Ministro de Estado da Fazenda, den-
quisição formulada nos termos do inciso V do art. 10;  tre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco
IV - descumprirem a vedação ou deixarem de fazer a Central do Brasil, da Comissão de Valores Mobiliários, da
comunicação a que se refere o art. 11. Superintendência de Seguros Privados, da Procuradoria-Ge-
§ 3º A inabilitação temporária será aplicada quando ral da Fazenda Nacional, da Secretaria da Receita Federal
forem verificadas infrações graves quanto ao cumprimen- do Brasil, da Agência Brasileira de Inteligência, do Ministério
to das obrigações constantes desta Lei ou quando ocor- das Relações Exteriores, do Ministério da Justiça, do Departa-
rer reincidência específica, devidamente caracterizada em mento de Polícia Federal, do Ministério da Previdência Social
transgressões anteriormente punidas com multa. e da Controladoria-Geral da União, atendendo à indicação
§ 4º A cassação da autorização será aplicada nos casos dos respectivos Ministros de Estado.
de reincidência específica de infrações anteriormente § 1º O Presidente do Conselho será nomeado pelo
punidas com a pena prevista no inciso III do caput deste Presidente da República, por indicação do Ministro de
artigo. Estado da Fazenda.

185
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 2o Caberá recurso das decisões do Coaf relativas às


aplicações de penas administrativas ao Conselho de Recur-
sos do Sistema Financeiro Nacional. ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI
10.826/03);
Art. 17. O COAF terá organização e funcionamento
definidos em estatuto aprovado por decreto do Poder
Executivo.
Regulamenta-se no Decreto no 2.799/1998. “As regras para se comprar uma arma e os mecanismos
de controle destas no Brasil sempre foram falhos ou pra-
CAPÍTULO X ticamente inexistentes. Isto gerou, por muitos anos, uma
DISPOSIÇÕES GERAIS grande entrada de armas em circulação no país. O fácil
acesso às armas de fogo sempre transformou os conflitos
Art. 17-A. Aplicam-se, subsidiariamente, as disposi- existentes na sociedade brasileira em tragédias.
ções do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Có- Em 1997, apareceram os primeiros movimentos pró-
digo de Processo Penal), no que não forem incompatíveis -desarmamento no Brasil e o controle de armas de fogo
com esta Lei.  começou a entrar na pauta de preocupações nacional.
Neste mesmo ano, houve a primeira mudança na legisla-
Art. 17-B. A autoridade policial e o Ministério Pú- ção, ainda bastante insipiente frente à realidade brasileira.
blico terão acesso, exclusivamente, aos dados cadastrais Afinal, mais de 80% dos crimes eram cometidos por armas
do investigado que informam qualificação pessoal, filiação de fogo.
e endereço, independentemente de autorização judicial, Os movimentos não pararam. Organizações passaram
mantidos pela Justiça Eleitoral, pelas empresas telefônicas, a realizar eventos e atos públicos chamando a atenção da
pelas instituições financeiras, pelos provedores de internet e população brasileira. Somando-se a isso, os dados e pes-
pelas administradoras de cartão de crédito. quisas que apareciam mostravam relação direta entre o
fácil acesso às armas de fogo e o aumento do número de
Art. 17-C. Os encaminhamentos das instituições fi- homicídios, comprovando que quanto mais armas em cir-
nanceiras e tributárias em resposta às ordens judiciais culação, mais morte.
Em junho de 2003, foi organizada uma Marcha Silen-
de quebra ou transferência de sigilo deverão ser, sempre
ciosa, com sapatos de vítimas de armas de fogo em frente
que determinado, em meio informático, e apresentados
ao congresso nacional. Este fato chamou bastante atenção
em arquivos que possibilitem a migração de informa-
da mídia e da opinião pública. Os legisladores tomaram
ções para os autos do processo sem redigitação.
para si o tema e criaram uma comissão mista, com deputa-
dos federais e senadores para formular uma nova lei. Esta
Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor pú-
comissão analisou todos os projetos que falavam sobre o
blico, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e tema nas duas casas e reescreveram uma lei conjunta: o
demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente Estatuto do Desarmamento.
autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno. Depois de redigido, faltava a aprovação, tanto no Se-
Questiona-se a constitucionalidade do dispositivo, pois nado quanto na Câmara dos Deputados. O Estatuto foi fa-
o mero indiciamento seria suficiente para afastamento, não cilmente aprovado no Senado, mas logo em seguida ficou,
se examinando a real necessidade da medida cujo caráter mais de 3 meses parado esperando a aprovação na Câmara
é cautelar. dos Deputados. Lá enfrentou o poderosíssimo lobby das
armas, ou seja, deputados federais que na sua maioria tive-
Art. 17-E. A Secretaria da Receita Federal do Brasil ram as campanhas financiadas pelas indústrias de armas e
conservará os dados fiscais dos contribuintes pelo prazo munições, a chamada Bancada da Bala.
mínimo de 5 (cinco) anos, contado a partir do início do No entanto, a pressão popular foi mais forte e o Es-
exercício seguinte ao da declaração de renda respectiva ou tatuto foi aprovado em outubro de 2004 na Câmara dos
ao do pagamento do tributo. Deputados. Voltou para o Senado novamente onde outra
vez foi aprovado rapidamente. No dia 23 de Dezembro o
Art. 18. Esta Lei entra em vigor na data de sua publica- Estatuto do Desarmamento foi sancionado pelo presidente
ção. Luis Inácio Lula da Silva”40.
Alguns pontos essenciais do Estatuto merecem desta-
Brasília, 3 de março de 1998; 177º da Independência e que em separado:
110º da República. 1) Armas
O estatuto do desarmamento se aplica apenas às ar-
mas de fogo, munições e acessórios. Não se aplica às ar-
mas brancas.
As armas podem ser próprias quando fabricadas para
serem armas desde a sua origem, ou impróprias quando
não tem como finalidade ser arma mas ser usada como tal.
40 http://www.deolhonoestatuto.org.br/

186
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

2) Registro 5) Prazo de regularização da arma ou entrega - ar-


Posse ou guarda - artigo 5º. tigos 30 a 32
A finalidade é autorizar o proprietário a manter a arma O prazo limite foi prorrogado e já se encerrou em 31
de fogo exclusivamente no interior de sua casa, domicílio de dezembro de 2009 - artigo 20 (Lei nº 11706/08). Tra-
ou local de trabalho. ta-se de abolitio criminis temporária: o fato deixa de ser
A falta de registro leva à criminalização - artigo 12. considerado crime por algum tempo.
Posse irregular de arma: delito previsto no artigo 12. Os artigos 30 a 32 se aplicam só à posse, não ao porte.
A posse irregular é a posse sem registro. Trata-se de crime O artigo 30 fala que só se aplica à arma de uso permitido. O
comum (qualquer pessoa pode praticar), de perigo abstra- artigo 31 fala em arma regularmente adquirida, presumin-
to (presume-se o perigo), de conteúdo múltiplo ou variado do-se logicamente que só se aplica às armas de uso per-
mitido, porque não é possível adquirir regularmente arma
(mais de um verbo no tipo - possuir ou guardar), unissub-
de uso proibido. Já o artigo 32 não é expresso quanto à
jetivo (pode ser praticado por uma só pessoa), doloso, para
aplicação restrita às armas de uso permitido. Isto criou uma
o qual não se admite tentativa. divergência nos tribunais, que majoritariamente (inclusive
3) SINARM STJ) têm decidido que não se aplica às armas de uso proi-
As armas de fogo possuem algumas características bido.
como: marca, calibre, quantidade de cartuchos (balas), e 6) Exame pericial
outras mais complexas, como tipo da coronha, raias, etc. Posição amplamente majoritária diz que o exame peri-
Existem ainda as armas comuns como garruchas e revol- cial é indispensável. A minoritária parte do pressuposto de
veres, que se diferenciam das armas automáticas, como que o que a polícia diz que é arma, é arma. O laudo é nulo
pistolas, metralhadoras e outras impróprias para o uso co- se o exame pericial for feito pelos policiais que fizeram a
mum, que são utilizadas pelas policias em operações espe- prisão em flagrante.
ciais. Cabe ao SINARM catalogar e registrar todas as armas 7) Arma com defeito
em circulação no Brasil. Se o defeito existia e não era possível disparar a arma, a
Assim, o Sistema Nacional de Armas (SINARM), instituí- doutrina majoritária diz que não há crime, porque não exis-
do no Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, te arma de fogo; a doutrina minoritária diz que há crime,
com circunscrição em todo o território nacional, é respon- porque o objetivo da lei é proteger a segurança pública.
sável pelo controle de armas de fogo em poder da popu- 8) Arma sem munição
lação, conforme previsto na Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Existem 3 posições: exige munição, porque não há cri-
me sem potencialidade lesiva; no se exige munição, desde
Desarmamento).
que ela esteja ao alcance (ex: arma no porta-malas e mu-
4) Porte
nição no bolso); não interessa se a arma está com munição
Autoriza a pessoa a ter a arma consigo fora de casa ou ou não por causa da objetividade jurídica, que é proteger
do trabalho. Para ter porte, precisa ter posse. a segurança e a incolumidade (majoritária, recomendável
O porte de uso para pessoas comuns em regra não é para o concurso da PRF).
permitido - artigo 10. 9) Concurso de crimes
O porte para funcionários de segurança e coleciona- - Posse de mais de 1 arma: jurisprudência diz que é um
dores que participam de eventos esportivos é eventual, ou só crime.
seja, somente é aceito em algumas situações - artigos 6º - Posse de 1 arma e de munição de calibre diferente: 2
e 9º. crimes em concurso formal.
Magistratura e Ministério Público possuem porte fun- - Posse só de munição: 1 só crime independente da
cional, assegurado nas respectivas leis orgânicas. quantidade.
No porte ilegal não interessa se a arma é permitida ou 10) Disparo
de uso restrito, se há registro ou não. Significa ter a arma Previsto no artigo 15. Trata-se de crime comum, de
consigo fora dos limites do trabalho e da residência, sem mera conduta, unissubjetivo, de perigo abstrato. Seu ob-
autorização para isso, o que já constitui ato ilícito. Logo, jeto jurídico é a proteção da incolumidade pública. Seu
uma pessoa pode ter a posse legal ou regular (arma regis- objeto material é a arma de fogo ou munição. O crime é
trada) e praticar o crime de porte ilegal, previsto no artigo subsidiário, pois é preciso que não se tenha como finali-
dade a prática de outro crime (ex: tentativa de homicídio).
14. Caso a posse seja ilegal, o delito é o do artigo 16.
Consuma-se com o disparo.
O porte ilegal de arma do artigo 14 é um crime co-
mum (qualquer pessoa pode cometer), de merda conduta Dispõe sobre registro, posse e comercialização de ar-
(não depende de resultado), de perigo abstrato (não pre- mas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de
cisa sacar a arma), conteúdo múltiplo (13 núcleos de tipo), Armas – Sinarm, define crimes e dá outras providências.
unissubjetivo (basta ser praticado por 1 pessoa). Seu objeto
material é a arma ou acessório de uso permitido devida- CAPÍTULO I
mente numerado. DO SISTEMA NACIONAL DE ARMAS
O tipo do artigo 16 se aplica tanto ao porte quanto
à posse de arma de uso restrito (mesma classificação do Art. 1º O Sistema Nacional de Armas – Sinarm, ins-
artigo 14). O parágrafo único traz 6 ações diferentes que tituído no Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia
constituem crimes autônomos. Federal, tem circunscrição em todo o território nacional.

187
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 2º Ao Sinarm compete: § 2º A aquisição de munição somente poderá ser fei-


I – identificar as características e a propriedade de armas ta no calibre correspondente à arma registrada e na quan-
de fogo, mediante cadastro; tidade estabelecida no regulamento desta Lei.
II – cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas § 3º A empresa que comercializar arma de fogo em
e vendidas no País; território nacional é obrigada a comunicar a venda à au-
III – cadastrar as autorizações de porte de arma de fogo toridade competente, como também a manter banco de
e as renovações expedidas pela Polícia Federal; dados com todas as características da arma e cópia dos do-
IV – cadastrar as transferências de propriedade, extra- cumentos previstos neste artigo.
vio, furto, roubo e outras ocorrências suscetíveis de alterar os § 4º A empresa que comercializa armas de fogo, aces-
dados cadastrais, inclusive as decorrentes de fechamento de sórios e munições responde legalmente por essas merca-
empresas de segurança privada e de transporte de valores; dorias, ficando registradas como de sua propriedade en-
V – identificar as modificações que alterem as caracte- quanto não forem vendidas.
rísticas ou o funcionamento de arma de fogo; § 5º A comercialização de armas de fogo, acessórios
VI – integrar no cadastro os acervos policiais já existen- e munições entre pessoas físicas somente será efetivada
tes; mediante autorização do Sinarm.
VII – cadastrar as apreensões de armas de fogo, inclusive § 6º A expedição da autorização a que se refere o § 1º
as vinculadas a procedimentos policiais e judiciais; será concedida, ou recusada com a devida fundamentação,
VIII – cadastrar os armeiros em atividade no País, bem no prazo de 30 (trinta) dias úteis, a contar da data do re-
como conceder licença para exercer a atividade; querimento do interessado.
IX – cadastrar mediante registro os produtores, atacadis- § 7º O registro precário a que se refere o § 4º prescinde
tas, varejistas, exportadores e importadores autorizados de do cumprimento dos requisitos dos incisos I, II e III deste
armas de fogo, acessórios e munições; artigo.
X – cadastrar a identificação do cano da arma, as carac- § 8º Estará dispensado das exigências constantes do
terísticas das impressões de raiamento e de microestriamen- inciso III do caput deste artigo, na forma do regulamento, o
to de projétil disparado, conforme marcação e testes obriga- interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido que
toriamente realizados pelo fabricante; comprove estar autorizado a portar arma com as mesmas
XI – informar às Secretarias de Segurança Pública dos características daquela a ser adquirida.
Estados e do Distrito Federal os registros e autorizações de
porte de armas de fogo nos respectivos territórios, bem como Art. 5º O certificado de Registro de Arma de Fogo,
manter o cadastro atualizado para consulta. com validade em todo o território nacional, autoriza o seu
Parágrafo único. As disposições deste artigo não alcan- proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no in-
çam as armas de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem terior de sua residência ou domicílio, ou dependência desses,
como as demais que constem dos seus registros próprios. ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titu-
lar ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.
CAPÍTULO II § 1º O certificado de registro de arma de fogo será ex-
DO REGISTRO pedido pela Polícia Federal e será precedido de autori-
zação do Sinarm.
Art. 3º É obrigatório o registro de arma de fogo no § 2º Os requisitos de que tratam os incisos I, II e III
órgão competente. do art. 4º deverão ser comprovados periodicamente, em
Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão período não inferior a 3 (três) anos, na conformidade do
registradas no Comando do Exército, na forma do regula- estabelecido no regulamento desta Lei, para a renovação do
mento desta Lei. Certificado de Registro de Arma de Fogo.
§ 3º O proprietário de arma de fogo com certificados
Art. 4º Para adquirir arma de fogo de uso permitido de registro de propriedade expedido por órgão estadual
o interessado deverá, além de declarar a efetiva neces- ou do Distrito Federal até a data da publicação desta Lei
sidade, atender aos seguintes requisitos: que não optar pela entrega espontânea prevista no art. 32
I – comprovação de idoneidade, com a apresentação desta Lei deverá renová-lo mediante o pertinente registro
de certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas federal, até o dia 31 de dezembro de 2008, ante a apresen-
pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não es- tação de documento de identificação pessoal e compro-
tar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, vante de residência fixa, ficando dispensado do pagamento
que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; de taxas e do cumprimento das demais exigências constan-
II – apresentação de documento comprobatório de ocu- tes dos incisos I a III do caput do art. 4º desta Lei.
pação lícita e de residência certa; § 4º Para fins do cumprimento do disposto no § 3º
III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão deste artigo, o proprietário de arma de fogo poderá obter,
psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na no Departamento de Polícia Federal, certificado de registro
forma disposta no regulamento desta Lei. provisório, expedido na rede mundial de computadores - in-
§ 1º O Sinarm expedirá autorização de compra de ternet, na forma do regulamento e obedecidos os procedi-
arma de fogo após atendidos os requisitos anteriormente mentos a seguir:
estabelecidos, em nome do requerente e para a arma indi- I - emissão de certificado de registro provisório pela
cada, sendo intransferível esta autorização. internet, com validade inicial de 90 (noventa) dias; e

188
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

II - revalidação pela unidade do Departamento de I - submetidos a regime de dedicação exclusiva;


Polícia Federal do certificado de registro provisório pelo II - sujeitos à formação funcional, nos termos do regu-
prazo que estimar como necessário para a emissão definitiva lamento; e
do certificado de registro de propriedade. III - subordinados a mecanismos de fiscalização e de
controle interno.
CAPÍTULO III § 1º-C. (VETADO).
DO PORTE § 2º A autorização para o porte de arma de fogo aos
integrantes das instituições descritas nos incisos V, VI, VII e
Art. 6º É proibido o porte de arma de fogo em todo X do caput deste artigo está condicionada à comprovação
o território nacional, salvo para os casos previstos em do requisito a que se refere o inciso III do caput do art.
legislação própria e para: 4º desta Lei nas condições estabelecidas no regulamento
I – os integrantes das Forças Armadas; desta Lei.
II – os integrantes de órgãos referidos nos incisos I, II, III, § 3º A autorização para o porte de arma de fogo das
IV e V do caput do art. 144 da Constituição Federal e os guardas municipais está condicionada à formação funcio-
da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP); nal de seus integrantes em estabelecimentos de ensino de
III – os integrantes das guardas municipais das ca- atividade policial, à existência de mecanismos de fiscaliza-
pitais dos Estados e dos Municípios com mais de 500.000 ção e de controle interno, nas condições estabelecidas no
(quinhentos mil) habitantes, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei, observada a supervisão do Ministé-
regulamento desta Lei; rio da Justiça.
IV - os integrantes das guardas municipais dos Municí- § 4º Os integrantes das Forças Armadas, das polícias
pios com mais de 50.000 (cinquenta mil) e menos de 500.000 federais e estaduais e do Distrito Federal, bem como os
(quinhentos mil) habitantes, quando em serviço; militares dos Estados e do Distrito Federal, ao exercerem
V – os agentes operacionais da Agência Brasileira de o direito descrito no art. 4º, ficam dispensados do cumpri-
Inteligência e os agentes do Departamento de Segurança mento do disposto nos incisos I, II e III do mesmo artigo, na
do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência forma do regulamento desta Lei.
da República; § 5º Aos residentes em áreas rurais, maiores de 25
VI – os integrantes dos órgãos policiais referidos no (vinte e cinco) anos que comprovem depender do empre-
art. 51, IV, e no art. 52, XIII, da Constituição Federal;
go de arma de fogo para prover sua subsistência alimen-
VII – os integrantes do quadro efetivo dos agentes e
tar familiar será concedido pela Polícia Federal o porte de
guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e
arma de fogo, na categoria caçador para subsistência, de
as guardas portuárias;
uma arma de uso permitido, de tiro simples, com 1 (um) ou
VIII – as empresas de segurança privada e de trans-
2 (dois) canos, de alma lisa e de calibre igual ou inferior a
porte de valores constituídas, nos termos desta Lei;
16 (dezesseis), desde que o interessado comprove a efetiva
IX – para os integrantes das entidades de desporto
necessidade em requerimento ao qual deverão ser anexados
legalmente constituídas, cujas atividades esportivas de-
mandem o uso de armas de fogo, na forma do regula- os seguintes documentos:
mento desta Lei, observando-se, no que couber, a legislação I - documento de identificação pessoal;
ambiental. II - comprovante de residência em área rural; e
X - integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita III - atestado de bons antecedentes.
Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, car- § 6º O caçador para subsistência que der outro uso à
gos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário. sua arma de fogo, independentemente de outras tipifica-
XI - os tribunais do Poder Judiciário descritos no art. ções penais, responderá, conforme o caso, por porte ilegal
92 da Constituição Federal e os Ministérios Públicos da ou por disparo de arma de fogo de uso permitido.
União e dos Estados, para uso exclusivo de servidores de § 7º Aos integrantes das guardas municipais dos Mu-
seus quadros pessoais que efetivamente estejam no exercício nicípios que integram regiões metropolitanas será autori-
de funções de segurança, na forma de regulamento a ser zado porte de arma de fogo, quando em serviço.
emitido pelo Conselho Nacional de Justiça - CNJ e pelo Con-
selho Nacional do Ministério Público - CNMP. Art. 7º As armas de fogo utilizadas pelos empregados
§ 1º As pessoas previstas nos incisos I, II, III, V e VI do das empresas de segurança privada e de transporte de
caput deste artigo terão direito de portar arma de fogo de valores, constituídas na forma da lei, serão de propriedade,
propriedade particular ou fornecida pela respectiva corpo- responsabilidade e guarda das respectivas empresas,
ração ou instituição, mesmo fora de serviço, nos termos do somente podendo ser utilizadas quando em serviço, deven-
regulamento desta Lei, com validade em âmbito nacional do essas observar as condições de uso e de armazenagem
para aquelas constantes dos incisos I, II, V e VI. estabelecidas pelo órgão competente, sendo o certificado de
§ 1o-A (Revogado) registro e a autorização de porte expedidos pela Polícia Fe-
§ 1º-B. Os integrantes do quadro efetivo de agentes e deral em nome da empresa.
guardas prisionais poderão portar arma de fogo de pro- § 1º O proprietário ou diretor responsável de empresa
priedade particular ou fornecida pela respectiva corpora- de segurança privada e de transporte de valores responde-
ção ou instituição, mesmo fora de serviço, desde que es- rá pelo crime previsto no parágrafo único do art. 13 desta
tejam: Lei, sem prejuízo das demais sanções administrativas e ci-

189
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

vis, se deixar de registrar ocorrência policial e de comunicar Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo
à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de de uso permitido, em todo o território nacional, é de com-
extravio de armas de fogo, acessórios e munições que este- petência da Polícia Federal e somente será concedida
jam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte e quatro) horas após autorização do Sinarm.
depois de ocorrido o fato. § 1º A autorização prevista neste artigo poderá ser
§ 2º A empresa de segurança e de transporte de va- concedida com eficácia temporária e territorial limitada,
lores deverá apresentar documentação comprobatória do nos termos de atos regulamentares, e dependerá de o re-
preenchimento dos requisitos constantes do art. 4º desta Lei querente:
quanto aos empregados que portarão arma de fogo. I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício
§ 3º A listagem dos empregados das empresas referidas
de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua inte-
neste artigo deverá ser atualizada semestralmente junto ao
Sinarm. gridade física;
II – atender às exigências previstas no art. 4º desta Lei;
Art. 7º-A. As armas de fogo utilizadas pelos servidores III – apresentar documentação de propriedade de arma
das instituições descritas no inciso XI do art. 6º serão de pro- de fogo, bem como o seu devido registro no órgão compe-
priedade, responsabilidade e guarda das respectivas ins- tente.
tituições, somente podendo ser utilizadas quando em serviço, § 2º A autorização de porte de arma de fogo, prevista
devendo estas observar as condições de uso e de armazena- neste artigo, perderá automaticamente sua eficácia caso o
gem estabelecidas pelo órgão competente, sendo o certificado portador dela seja detido ou abordado em estado de em-
de registro e a autorização de porte expedidos pela Polícia briaguez ou sob efeito de substâncias químicas ou aluci-
Federal em nome da instituição. nógenas.
§ 1º A autorização para o porte de arma de fogo de que
trata este artigo independe do pagamento de taxa. Art. 11. Fica instituída a cobrança de taxas, nos valores
§ 2º O presidente do tribunal ou o chefe do Ministério
constantes do Anexo desta Lei, pela prestação de serviços
Público designará os servidores de seus quadros pessoais no
exercício de funções de segurança que poderão portar arma relativos:
de fogo, respeitado o limite máximo de 50% (cinquenta por I – ao registro de arma de fogo;
cento) do número de servidores que exerçam funções de II – à renovação de registro de arma de fogo;
segurança. III – à expedição de segunda via de registro de arma de
§ 3º O porte de arma pelos servidores das instituições fogo;
de que trata este artigo fica condicionado à apresentação IV – à expedição de porte federal de arma de fogo;
de documentação comprobatória do preenchimento dos V – à renovação de porte de arma de fogo;
requisitos constantes do art. 4º desta Lei, bem como à for- VI – à expedição de segunda via de porte federal de
mação funcional em estabelecimentos de ensino de ativi- arma de fogo.
dade policial e à existência de mecanismos de fiscalização e § 1º Os valores arrecadados destinam-se ao custeio e
de controle interno, nas condições estabelecidas no regula- à manutenção das atividades do Sinarm, da Polícia Federal
mento desta Lei. e do Comando do Exército, no âmbito de suas respectivas
§ 4º A listagem dos servidores das instituições de que
responsabilidades.
trata este artigo deverá ser atualizada semestralmente no
§ 2º São isentas do pagamento das taxas previstas
Sinarm.
§ 5º As instituições de que trata este artigo são obri- neste artigo as pessoas e as instituições a que se referem
gadas a registrar ocorrência policial e a comunicar à Polícia os incisos I a VII e X e o § 5º do art. 6º desta Lei.
Federal eventual perda, furto, roubo ou outras formas de
extravio de armas de fogo, acessórios e munições que este- Art. 11-A. O Ministério da Justiça disciplinará a forma
jam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte e quatro) horas e as condições do credenciamento de profissionais pela
depois de ocorrido o fato. Polícia Federal para comprovação da aptidão psicológica
e da capacidade técnica para o manuseio de arma de fogo.
Art. 8º As armas de fogo utilizadas em entidades despor- § 1º Na comprovação da aptidão psicológica, o valor
tivas legalmente constituídas devem obedecer às condições cobrado pelo psicólogo não poderá exceder ao valor mé-
de uso e de armazenagem estabelecidas pelo órgão com- dio dos honorários profissionais para realização de avalia-
petente, respondendo o possuidor ou o autorizado a portar ção psicológica constante do item 1.16 da tabela do Con-
a arma pela sua guarda na forma do regulamento desta Lei. selho Federal de Psicologia.
§ 2º Na comprovação da capacidade técnica, o valor
Art. 9º Compete ao Ministério da Justiça a autorização
do porte de arma para os responsáveis pela segurança de cobrado pelo instrutor de armamento e tiro não poderá
cidadãos estrangeiros em visita ou sediados no Brasil e, exceder R$ 80,00 (oitenta reais), acrescido do custo da mu-
ao Comando do Exército, nos termos do regulamento desta nição.
Lei, o registro e a concessão de porte de trânsito de arma § 3º A cobrança de valores superiores aos previstos
de fogo para colecionadores, atiradores e caçadores e de nos §§ 1º e 2º deste artigo implicará o descredenciamento
representantes estrangeiros em competição internacional do profissional pela Polícia Federal.
oficial de tiro realizada no território nacional.

190
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

CAPÍTULO IV II – modificar as características de arma de fogo, de for-


DOS CRIMES E DAS PENAS ma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou
restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir
Posse irregular de arma de fogo de uso permitido a erro autoridade policial, perito ou juiz;
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explo-
acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com sivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, no interior de sua re- determinação legal ou regulamentar;
sidência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma
trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de
estabelecimento ou empresa: identificação raspado, suprimido ou adulterado;
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente,
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou
adolescente; e
Omissão de cautela VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal,
Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.
impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora
de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja Comércio ilegal de arma de fogo
sob sua posse ou que seja de sua propriedade: Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir,
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adul-
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o pro- terar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em
prietário ou diretor responsável de empresa de segurança e proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial
transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem auto-
policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo rização ou em desacordo com determinação legal ou regula-
ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou mentar:
munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vin- Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
te quatro) horas depois de ocorrido o fato. Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou in-
dustrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestação
Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino,
Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em inclusive o exercido em residência.
depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, em-
Tráfico internacional de arma de fogo
prestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar
Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do
arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessó-
autorização e em desacordo com determinação legal ou re- rio ou munição, sem autorização da autoridade competente:
gulamentar: Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafian- Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é au-
çável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em mentada da metade se a arma de fogo, acessório ou munição
nome do agente. (Vide Adin 3.112-1) forem de uso proibido ou restrito.

Disparo de arma de fogo Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18,
Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em a pena é aumentada da metade se forem praticados por in-
lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou tegrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6º, 7º e 8º
em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como desta Lei.
finalidade a prática de outro crime:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são in-
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafian- suscetíveis de liberdade provisória. (Adin 3.112-1 – declarou
inconstitucional a vedação de liberdade provisória)
çável. (Vide Adin 3.112-1)
CAPÍTULO V
Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber,
ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamen- Art. 22. O Ministério da Justiça poderá celebrar convênios
te, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou com os Estados e o Distrito Federal para o cumprimento do
ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido disposto nesta Lei.
ou restrito, sem autorização e em desacordo com determina-
ção legal ou regulamentar: Art. 23. A classificação legal, técnica e geral bem como
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. a definição das armas de fogo e demais produtos controlados,
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: de usos proibidos, restritos, permitidos ou obsoletos e de valor
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer histórico serão disciplinadas em ato do chefe do Poder Exe-
sinal de identificação de arma de fogo ou artefato; cutivo Federal, mediante proposta do Comando do Exército.

191
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

§ 1º Todas as munições comercializadas no País deve- Art. 26. São vedadas a fabricação, a venda, a co-
rão estar acondicionadas em embalagens com sistema de mercialização e a importação de brinquedos, réplicas
código de barras, gravado na caixa, visando possibilitar a e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam
identificação do fabricante e do adquirente, entre outras confundir.
informações definidas pelo regulamento desta Lei. Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e
§ 2º Para os órgãos referidos no art. 6º, somente serão os simulacros destinados à instrução, ao adestramento, ou
expedidas autorizações de compra de munição com identi- à coleção de usuário autorizado, nas condições fixadas pelo
ficação do lote e do adquirente no culote dos projéteis, na Comando do Exército.
forma do regulamento desta Lei.
§ 3º As armas de fogo fabricadas a partir de 1 (um) ano Art. 27. Caberá ao Comando do Exército autorizar,
da data de publicação desta Lei conterão dispositivo intrín- excepcionalmente, a aquisição de armas de fogo de uso
seco de segurança e de identificação, gravado no corpo da restrito.
arma, definido pelo regulamento desta Lei, exclusive para Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às
os órgãos previstos no art. 6º. aquisições dos Comandos Militares.
§ 4º As instituições de ensino policial e as guardas
Art. 28. É vedado ao menor de 25 (vinte e cinco)
municipais referidas nos incisos III e IV do caput do art. 6º
anos adquirir arma de fogo, ressalvados os integrantes
desta Lei e no seu § 7º poderão adquirir insumos e máqui-
das entidades constantes dos incisos I, II, III, V, VI, VII e X do
nas de recarga de munição para o fim exclusivo de supri- caput do art. 6º desta Lei.
mento de suas atividades, mediante autorização concedida
nos termos definidos em regulamento. Art. 29. As autorizações de porte de armas de fogo já
concedidas expirar-se-ão 90 (noventa) dias após a publica-
Art. 24. Excetuadas as atribuições a que se refere o art. ção desta Lei.
2º desta Lei, compete ao Comando do Exército autorizar e Parágrafo único. O detentor de autorização com prazo
fiscalizar a produção, exportação, importação, desem- de validade superior a 90 (noventa) dias poderá renová-la,
baraço alfandegário e o comércio de armas de fogo e perante a Polícia Federal, nas condições dos arts. 4º, 6º e 10
demais produtos controlados, inclusive o registro e o porte desta Lei, no prazo de 90 (noventa) dias após sua publicação,
de trânsito de arma de fogo de colecionadores, atiradores e sem ônus para o requerente.
caçadores.
Art. 30. Os possuidores e proprietários de arma de fogo
Art. 25. As armas de fogo apreendidas, após a elabo- de uso permitido ainda não registrada deverão solicitar seu
ração do laudo pericial e sua juntada aos autos, quando registro até o dia 31 de dezembro de 2008, mediante apre-
não mais interessarem à persecução penal serão enca- sentação de documento de identificação pessoal e compro-
minhadas pelo juiz competente ao Comando do Exér- vante de residência fixa, acompanhados de nota fiscal de
cito, no prazo máximo de 48 (quarenta e oito) horas, para compra ou comprovação da origem lícita da posse, pelos
destruição ou doação aos órgãos de segurança pública ou meios de prova admitidos em direito, ou declaração firmada
às Forças Armadas, na forma do regulamento desta Lei. na qual constem as características da arma e a sua condição
§ 1º As armas de fogo encaminhadas ao Comando do de proprietário, ficando este dispensado do pagamento de
Exército que receberem parecer favorável à doação, obe- taxas e do cumprimento das demais exigências constantes
decidos o padrão e a dotação de cada Força Armada ou dos incisos I a III do caput do art. 4º desta Lei.
órgão de segurança pública, atendidos os critérios de prio- Parágrafo único. Para fins do cumprimento do disposto
ridade estabelecidos pelo Ministério da Justiça e ouvido no caput deste artigo, o proprietário de arma de fogo po-
derá obter, no Departamento de Polícia Federal, certificado
o Comando do Exército, serão arroladas em relatório re-
de registro provisório, expedido na forma do § 4º do art. 5º
servado trimestral a ser encaminhado àquelas instituições,
desta Lei.
abrindo-se-lhes prazo para manifestação de interesse.
§ 2º O Comando do Exército encaminhará a relação Art. 31. Os possuidores e proprietários de armas de fogo
das armas a serem doadas ao juiz competente, que deter- adquiridas regularmente poderão, a qualquer tempo,
minará o seu perdimento em favor da instituição benefi- entregá-las à Polícia Federal, mediante recibo e indeni-
ciada. zação, nos termos do regulamento desta Lei.
§ 3º O transporte das armas de fogo doadas será de
responsabilidade da instituição beneficiada, que procederá Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo
ao seu cadastramento no Sinarm ou no Sigma poderão entregá-la, espontaneamente, mediante recibo,
§ 4º (VETADO) e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na forma
§ 5º O Poder Judiciário instituirá instrumentos para do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual
o encaminhamento ao Sinarm ou ao Sigma, conforme se posse irregular da referida arma.
trate de arma de uso permitido ou de uso restrito, semes-
tralmente, da relação de armas acauteladas em juízo, men- Art. 33. Será aplicada multa de R$ 100.000,00 (cem mil
cionando suas características e o local onde se encontram. reais) a R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), conforme espe-
cificar o regulamento desta Lei:

192
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

I – à empresa de transporte aéreo, rodoviário, ferroviá- çáveis e insuscetíveis de graça, anistia ou indulto (artigo 5o,
rio, marítimo, fluvial ou lacustre que deliberadamente, por XLIII, CF). O mesmo artigo 5o, XLIII, CF estabelece que se
qualquer meio, faça, promova, facilite ou permita o trans- equiparam aos hediondos o tráfico (apenas no que tange
porte de arma ou munição sem a devida autorização ou com aos crimes descritos nos artigos 33 a 36 da Lei de Drogas
inobservância das normas de segurança; – Lei no 11.343/2006), o terrorismo (Lei no 13.260/2016) e a
II – à empresa de produção ou comércio de armamen- tortura (Lei no 9.455/1997).
tos que realize publicidade para venda, estimulando o uso
indiscriminado de armas de fogo, exceto nas publicações es- Art. 1o São considerados hediondos os seguintes cri-
pecializadas. mes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de de-
zembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
Art. 34. Os promotores de eventos em locais fecha- I – homicídio (art. 121), quando praticado em ativi-
dos, com aglomeração superior a 1000 (um mil) pessoas, dade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido
adotarão, sob pena de responsabilidade, as providências por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o,
necessárias para evitar o ingresso de pessoas armadas, incisos I, II, III, IV, V, VI e VII);
ressalvados os eventos garantidos pelo inciso VI do art. 5º da Art. 121. Matar alguém:
Constituição Federal. Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Parágrafo único. As empresas responsáveis pela presta- Não é qualquer homicídio simples, mas apenas aquele
ção dos serviços de transporte internacional e interestadual praticado em atividade de grupo de extermínio (por um
de passageiros adotarão as providências necessárias para agente ou mais).
evitar o embarque de passageiros armados. Art. 121, § 2°, Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por
CAPÍTULO VI outro motivo torpe;
DISPOSIÇÕES FINAIS II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia,
Art. 35. É proibida a comercialização de arma de tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa
fogo e munição em todo o território nacional, salvo para resultar perigo comum;
as entidades previstas no art. 6º desta Lei. IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação
§ 1º Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa
de aprovação mediante referendo popular, a ser realizado do ofendido;
em outubro de 2005. V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunida-
§ 2º Em caso de aprovação do referendo popular, o de ou vantagem de outro crime;
disposto neste artigo entrará em vigor na data de publica- VI - contra a mulher por razões da condição de sexo
ção de seu resultado pelo Tribunal Superior Eleitoral. feminino:
VII - contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142
Art. 36. É revogada a Lei nº 9.437, de 20 de fevereiro de e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisio-
1997. nal e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício
da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
Art. 37. Esta Lei entra em vigor na data de sua publica- companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em
ção. razão dessa condição:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Brasília, 22 de dezembro de 2003; 182º da Independên- No caso dos homicídios qualificados, todos eles são
cia e 115º da República. abrangidos.
Obs.: No caso de homicídio privilegiado (art. 121, §1o,
CP), mesmo que cometido com instrumentos materiais tí-
picos de homicídio qualificado, tem-se o que a doutrina
CRIMES HEDIONDOS (LEI 8.072/90). chama de homicídio qualificado-privilegiado. Quanto a
este, a doutrina diz não se caracterizar crime hediondo.

I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima


LEI Nº 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990 (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art.
129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agen-
Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. te descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Se-
providências. gurança Pública, no exercício da função ou em decorrên-
cia dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
Hediondo é o crime bárbaro, asqueroso, repugnante. consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição;
Não é subjetivo o critério de definir quais são os crimes Art. 129, § 2° Se resulta:
hediondos, pois a lei cumpre este papel. O artigo 1o desta I - Incapacidade permanente para o trabalho;
lei traz o rol de crimes hediondos. Estes crimes são inafian- II - enfermidade incurável;

193
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função; Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato
IV - deformidade permanente; libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
V - aborto: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
Pena - reclusão, de dois a oito anos. § 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações des-
Art. 129, § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evi- critas no caput com alguém que, por enfermidade ou defi-
denciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o ciência mental, não tem o necessário discernimento para a
risco de produzi-lo: prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. oferecer resistência.
Não é qualquer lesão gravíssima ou seguida de mor- § 2o (VETADO).
te, mas apenas praticado contra autoridade ou agente do § 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza
sistema de segurança pública, no exercício ou em razão da grave:
função, ou então seu parente até 3o grau/cônjuge/compa- Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
nheiro, em razão da função. § 4o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine);
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o);
Art. 157, § 3º [...] se resulta morte, a reclusão é de vinte
Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de
a trinta anos, sem prejuízo da multa.
germes patogênicos:
Trata-se do roubo seguido de morte.
Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
§ 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o); dobro.
Art. 157, § 2º Aplica-se à extorsão praticada mediante
violência o disposto no § 3º do artigo anterior. VII-A - (VETADO);
Trata-se de extorsão da qual resultou morte, aplican- VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alte-
do-se pena de reclusão de 20 a 30 anos, tal como a do ração de produto destinado a fins terapêuticos ou medi-
latrocínio. cinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação
dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998);
IV - extorsão mediante sequestro e na forma quali- Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar pro-
ficada (art. 159, caput, e §§ 1o, 2o e 3o); duto destinado a fins terapêuticos ou medicinais:
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa.
si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou § 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, ven-
preço do resgate: de, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) ho- falsificado, corrompido, adulterado ou alterado.
ras, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de § 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere
60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os insu-
quadrilha. mos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de
Pena - reclusão, de doze a vinte anos. uso em diagnóstico.
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza gra- § 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica
ve: as ações previstas no § 1º em relação a produtos em qual-
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. quer das seguintes condições:
§ 3º - Se resulta a morte: I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. sanitária competente;
II - em desacordo com a fórmula constante do registro
Abrangem-se todas as modalidades de extorsão me-
previsto no inciso anterior;
diante sequestro.
III - sem as características de identidade e qualidade ad-
mitidas para a sua comercialização;
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o); IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou atividade;
grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou per- V - de procedência ignorada;
mitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da auto-
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. ridade sanitária competente.
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza
grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 VIII - favorecimento da prostituição ou de outra for-
(catorze) anos: ma de exploração sexual de criança ou adolescente ou
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º).
§ 2o Se da conduta resulta morte: Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (de-
zoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental,
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
2 , 3o e 4o);
o
facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:

194
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. II – modificar as características de arma de fogo, de for-
§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem ma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido
econômica, aplica-se também multa. ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo
§ 2o Incorre nas mesmas penas: induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidino- III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explo-
so com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (cator- sivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com
ze) anos na situação descrita no caput deste artigo; determinação legal ou regulamentar;
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer
em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro si-
artigo. nal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuita-
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos o mente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a
crime de genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei no criança ou adolescente; e
2.889, de 1o de outubro de 1956, e o de posse ou porte VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização le-
ilegal de arma de fogo de uso restrito, previsto no art. gal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.
16 da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, todos
tentados ou consumados. Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o
Lei no 2.889/1956 tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terro-
Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em rismo são insuscetíveis de:
parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: I - anistia, graça e indulto;
a) matar membros do grupo; II - fiança.
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de Repete-se a disciplina constitucional do artigo 5o, XLIII,
membros do grupo; CF. O dispositivo constitucional não menciona o indulto,
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de mas o STF já firmou entendimento de que a vedação é ex-
existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total tensível.
ou parcial; O STF julgou no Habeas Corpus 104339 que embora
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos não seja cabível fiança, é cabível liberdade provisória, sem-
no seio do grupo; pre que ausentes os requisitos do art. 312, CPP.
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo
para outro grupo; § 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumpri-
Será punido: da inicialmente em regime fechado.
Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso O STF julgou no Habeas Corpus 111.840 que o dispo-
da letra a; sitivo é inconstitucional e cabe, conforme o caso, o início
Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b;
do cumprimento da pena em regime diverso do fechado.
Com as penas do art. 270, no caso da letra c;
Com as penas do art. 125, no caso da letra d;
§ 2o A progressão de regime, no caso dos condenados
Com as penas do art. 148, no caso da letra e;
aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumpri-
Art. 2º Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para prá-
mento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for
tica dos crimes mencionados no artigo anterior:
primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.
Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos.
2/5 – apenado primário
Art. 3º Incitar, direta e publicamente alguém a cometer
3/5 – apenado reincidente
qualquer dos crimes de que trata o art. 1º:
Pena: Metade das penas ali cominadas.
§ 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de § 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz deci-
crime incitado, se este se consumar. dirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando liberdade.
a incitação for cometida pela imprensa. Havendo condenação de primeira instância, o juiz de-
Lei no 10.826/2003 verá decidir se o réu poderá ou não apelar em liberdade.
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber,
ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamen- § 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no
te, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos nes-
ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido te artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por
ou restrito, sem autorização e em desacordo com determina- igual período em caso de extrema e comprovada neces-
ção legal ou regulamentar: sidade.
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. A Lei no 7.960/1989 prevê prazo máximo de 5 dias
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: (prorrogável por mais 5), que é ampliado para os crimes
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer hediondos, chegando a 30 dias (prorrogável por mais 30).
sinal de identificação de arma de fogo ou artefato;

195
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 3º A União manterá estabelecimentos penais, de Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena
segurança máxima, destinados ao cumprimento de pe- prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de
nas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de
permanência em presídios estaduais ponha em risco a or- entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.
dem ou incolumidade pública. Parágrafo único. O participante e o associado que de-
nunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando
Art. 4º (Vetado). seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois
terços.
Art. 5º Ao art. 83 do Código Penal é acrescido o seguinte Art. 288, CP. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas,
inciso: para o fim específico de cometer crimes:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
“Art. 83. [...] V - cumprido mais de dois terços da pena, Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a
associação é armada ou se houver a participação de criança
nos casos de condenação por crime hediondo, prática da tor-
ou adolescente.
tura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terro-
Redução da pena – delação premiada – 1/3 a 2/3.
rismo, se o apenado não for reincidente específico em
crimes dessa natureza.” Art. 9º As penas fixadas no art. 6º para os crimes capi-
Trata-se de requisito para o livramento condicional tulados nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º,
para os casos de crimes hediondos. Cabe o livramento 2º e 3º, 213, caput e sua combinação com o art. 223, caput
após 2/3 da pena cumpridos, exceto se o apenado for rein- e parágrafo único, 214 e sua combinação com o art. 223,
cidente em crime hediondo ou equiparado. caput e parágrafo único, todos do Código Penal, são acresci-
das de metade, respeitado o limite superior de trinta anos de
Art. 6º Os arts. 157, § 3º; 159, caput e seus §§ 1º, 2º e reclusão, estando a vítima em qualquer das hipóteses referi-
3º; 213; 214; 223, caput e seu parágrafo único; 267, caput e das no art. 224 também do Código Penal.
270; caput, todos do Código Penal, passam a vigorar com a O art. 224, CP foi revogado, logo, o dispositivo em co-
seguinte redação: mento perde efeito.

“Art. 157. [...] Art. 10. O art. 35 da Lei nº 6.368, de 21 de outubro de


§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena 1976, passa a vigorar acrescido de parágrafo único, com a
é de reclusão, de cinco a quinze anos, além da multa; se seguinte redação:
resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem pre- “Art. 35. [...]
juízo da multa. Parágrafo único. Os prazos procedimentais deste capí-
Art. 159. [...] tulo serão contados em dobro quando se tratar dos crimes
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. previstos nos arts. 12, 13 e 14”.
§ 1º [...]
Pena - reclusão, de doze a vinte anos. Art. 11. (Vetado).
§ 2º [...]
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. Art. 12. Esta lei entra em vigor na data de sua publica-
§ 3º [...] ção.
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
Art. 13. Revogam-se as disposições em contrário.
Art. 213. [...]
Pena - reclusão, de seis a dez anos.
Brasília, 25 de julho de 1990; 169º da Independência e
Art. 214. [...]
102º da República.
Pena - reclusão, de seis a dez anos.
Art. 223. [...] EXERCÍCIOS
Pena - reclusão, de oito a doze anos.
Parágrafo único. [...] 1. (VUNESP/2015 - MPE-SP - Analista de Promoto-
Pena - reclusão, de doze a vinte e cinco anos. ria) A Lei n° 8.072/90 (crimes hediondos)
Art. 267. [...] a) define no seu artigo 1° os crimes considerados he-
Pena - reclusão, de dez a quinze anos. diondos, todos previstos no Código Penal, sem prejuízo,
Art. 270. [...] contudo, de outros delitos considerados hediondos pela
Pena - reclusão, de dez a quinze anos”. Legislação Penal Especial.
b) não permite a interposição de apelação antes do re-
Art. 7º Ao art. 159 do Código Penal fica acrescido o se- colhimento do condenado à prisão, em razão do disposto
guinte parágrafo: no seu artigo 2°, § 1° (a pena será cumprida em regime
“Art. 159. [...] inicial fechado).
§ 4º Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o c) prevê progressão de regime para os condenados
coautor que denunciá-lo à autoridade, facilitando a liberta- pela prática de crime hediondo após o cumprimento de
ção do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois 1/6 da pena se o apenado for primário e 2/5 se for reinci-
terços”. dente.

196
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

d) traz no rol do seu art. 1° o crime de roubo impróprio R: A. O artigo 227, §3º, CF fixa os aspectos que abran-
(art. 157, § 1°, CP), o roubo circunstanciado (art. 157, § 2°, I, gem a proteção especial da criança e do adolescente: “I -
II, III, IV e V, CP) e o roubo qualificado pelo resultado (art. idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho,
157, § 3o, CP). observado o disposto no art. 7º, XXXIII; II - garantia de di-
e) estabelece o prazo de 30 (trinta) dias (podendo ser reitos previdenciários e trabalhistas; III - garantia de acesso
prorrogado por mais 30 dias) da prisão temporária decre- do trabalhador adolescente e jovem à escola; IV - garantia
tada nas investigações pela prática de crime hediondo. de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato in-
R: E. O prazo de 30 dias de prisão temporária é fixado fracional, igualdade na relação processual e defesa técnica
no artigo 2o, §4o. O rol da lei é taxativo. Para o STF, o regime por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação
inicial de cumprimento de pena não necessariamente deve tutelar específica; V - obediência aos princípios de brevi-
ser fechado. O regime de progressão é de 2/5 para apena- dade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de
do primário e de 3/5 para apenado reincidente. Roubo não pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qual-
é hediondo, salvo se resultar em morte (latrocínio). quer medida privativa da liberdade; VI - estímulo do Poder
Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e
2. (INSTITUTO AOCP/2017 - SEJUS - Agente Pe- subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma
nitenciário) Constitui crime hediondo, previsto na Lei de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandona-
8.072/1990, do; VII - programas de prevenção e atendimento especiali-
a) o favorecimento da prostituição ou de outra forma zado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de
de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vul- entorpecentes e drogas afins”.
nerável.
b) constranger alguém, mediante violência ou grave 2. (Alternative Concursos/2017 - Prefeitura de Sul
ameaça e com o intuito de obter para si ou para outrem Brasil/SC - Agente Educativo) De acordo com o Estatu-
indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça to da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 60, é
ou deixar de fazer alguma coisa. proibido qualquer trabalho a menores:
c) lesão corporal leve quando cometida contra agente a) De quatorze anos de idade, inclusive na condição de
do sistema prisional. aprendiz.
d) homicídio simples praticado por qualquer cidadão. b) De quatorze anos de idade, salvo na condição de
R: A. Trata-se de tipo descrito no art. 1o, VIII da lei de aprendiz.
crimes hediondos. c) De dezesseis anos de idade, salvo na condição de
aprendiz.
EXERCÍCIOS d) De dezesseis anos de idade, inclusive na condição
de aprendiz.
1. (FCC/2014 - Prefeitura de Recife/PE - Procurador) e) De dezessete anos de idade, inclusive na condição
Nos termos do art. 226 da Constituição Federal, “a família, de aprendiz.
base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. Entre R: B. Em que pese o teor do art. 64 do ECA, que pode-
os aspectos abrangidos pelo direito à proteção especial, ria dar a entender que um menor de 14 anos pode traba-
segundo o texto constitucional, encontram-se os seguin- lhar, prevalece o que diz o texto da Constituição Federal:
tes: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais,
a) garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; e além de outros que visem à melhoria de sua condição so-
obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade cial: [...] XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou
e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvi- insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a
mento, quando da aplicação de qualquer medida privativa menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz,
da liberdade. a partir de quatorze anos”. Logo, o menor pode trabalhar
b) garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; e em qualquer serviço, desde que não seja noturno, perigoso
acesso universal à educação infantil, em creche e pré-esco- e insalubre, dos 16 aos 18 anos; e entre 14 e 16 anos ape-
la, às crianças até 5 (cinco) anos de idade. nas pode trabalhar como aprendiz.
c) erradicação do analfabetismo; e estímulo do Poder
Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e 3. (FCC/2016 - AL-MS - Agente de Polícia Legislati-
subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma vo) Sobre a adoção, nos termos preconizados pelo Estatu-
de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandona- to da Criança e do Adolescente,
do. a) o adotante deve ser, no mínimo, 18 anos mais velho
d) punição severa ao abuso, à violência e à exploração que o adotando.
sexual da criança e do adolescente; e garantia às presidiá- b) é permitida a adoção por procuração.
rias de condições para que possam permanecer com seus c) se um dos cônjuges adota o filho do outro, mantêm-
filhos durante o período de amamentação. -se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge do
e) punição severa ao abuso, à violência e à exploração adotante e os respectivos parentes.
sexual da criança e do adolescente; e estímulo do Poder d) é vedada a adoção conjunta pelos divorciados, se-
Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e parados judicialmente e pelos ex-companheiros.
subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma e) o estágio de convivência que precede a adoção não
de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandona- poderá, em nenhuma hipótese, ser dispensado pela auto-
do. ridade judiciária.

197
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

R: C. Neste sentido, disciplina o art. 41, § 1º, ECA: “Se a) à liberdade, de forma a compreender a liberdade de
um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitá-
mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o côn- rios, ressalvadas as restrições legais; a liberdade de opinião
juge ou concubino do adotante e os respectivos parentes”. e de expressão; a liberdade de brincar e de praticar espor-
A alternativa “a” está errada porque o adotante deve ser, tes, a liberdade de participar da vida familiar e comunitária;
pelo menos, 16 anos mais velho que o adotado e possuir a liberdade de buscar refúgio, auxílio e orientação, excetua-
pelo menos 18 anos (art. 42, § 3º, ECA); a alternativa “b” das dessa tutela a liberdade de crença e culto religioso e de
está incorreta porque é vedada a adoção por procuração, participar da vida política.
pois a adoção é ato personalíssimo (art. 39, § 2º, ECA); a b) ao respeito, consistente na inviolabilidade da sua
alternativa “d” está incorreta porque é possível a adoção integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preser-
conjunta desde que preencha os requisitos de serem casa- vação da imagem, da identidade, da autonomia, de seus
dos civilmente ou mantenham união estável, comprovada valores, ideias e crenças, excluída a tutela dos seus espaços
a estabilidade da família (art. 42, § 1º, ECA); e a alternativa e objetos pessoais.
c) de serem educados e cuidados sem o uso de castigo
“e” está incorreta porque pode ser dispensado o estágio de
físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas
convivência quando o adotando já estiver sob a tutela ou
de correção, disciplina, educação ou a qualquer outro pre-
guarda do adotante (art. 46, § 1º, ECA).
texto, por parte dos pais, de integrantes da família amplia-
da, dos responsáveis, dos agentes públicos executores de
4. (FCC/2016 - AL-MS - Agente de Polícia Legislati- medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarre-
vo) Sobre a prática de ato infracional à luz do Estatuto da gada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
Criança e do Adolescente, é INCORRETO afirmar que a d) de serem criados e educados no seio de sua família
a) medida socioeducativa de internação pode ser de- biológica, não se admitindo a sua inserção em família subs-
terminada por descumprimento reiterado e injustificável tituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em
da medida anteriormente imposta. ambiente que garanta seu desenvolvimento integral.
b) internação, antes da sentença, poderá ser determi- R: C. Nestes termos, preconiza o artigo 18-A do ECA: “A
nada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias. criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cui-
c) medida socioeducativa de internação não pode- dados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou
rá exceder em nenhuma hipótese três anos, liberando-se degradante, como formas de correção, disciplina, educação
compulsoriamente o menor infrator aos vinte e um anos ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes
de idade. da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes pú-
d) medida socioeducativa de liberdade assistida será blicos executores de medidas socioeducativas ou por qual-
fixada pelo prazo mínimo de trinta dias, podendo a qual- quer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-
quer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por -los ou protegê-los”. A alternativa “a” está errada porque o
outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e artigo 16 do ECA fixa que o direito à liberdade envolve os
o defensor. seguintes aspectos: “I - ir, vir e estar nos logradouros públi-
e) remissão não implica necessariamente o reconhe- cos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;
cimento ou comprovação da responsabilidade, nem pre- II - opinião e expressão; III - crença e culto religioso; IV
valece para efeito de antecedentes, podendo incluir even- - brincar, praticar esportes e divertir-se; V - participar da
tualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas vida familiar e comunitária, sem discriminação; VI - partici-
em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e par da vida política, na forma da lei; VII - buscar refúgio,
a internação. auxílio e orientação”. A alternativa “b” está errada porque o
artigo 17 do ECA prevê que “o direito ao respeito consis-
R: D. A lei exige como prazo mínimo de medida so-
te na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral
cioeducativa o período de 6 meses, conforme art. 118, § 2º,
da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da
ECA, não 30 dias conforme a alternativa “d”, razão pela qual
imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias
está incorreta. A alternativa “a” está prevista no art. 122, § e crenças, dos espaços e objetos pessoais”. A alternativa
1º, ECA; a alternativa “b” está prevista no art. 108 do ECA; “d” está errada porque o artigo 18 do ECA assegura que “é
a alternativa “c” está prevista no art. 121, §§ 3º e 5º, ECA; a direito da criança e do adolescente ser criado e educado no
alternativa “e” está prevista no art. 127 ECA. seio de sua família e, excepcionalmente, em família substi-
tuta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em
5. (COMPERVE/2016 - Câmara de Natal/RN - Guar- ambiente que garanta seu desenvolvimento integral”.
da Legislativo) As crianças e os adolescentes, qualificados
pelo direito hoje vigente como pessoas em desenvolvimen- 6. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos)
to, receberam do direito positivo brasileiro, tutela especial Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
através da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, mais conhe- 8.069/90), é considerado criança
cida como Estatuto da Criança e do Adolescente. Seguindo a) a pessoa até seis anos incompletos de idade.
as diretrizes traçadas pela Constituição de 1988, o Estatuto b) a pessoa até oito anos incompletos de idade.
da Criança e do Adolescente trouxe a previsão normativa c) a pessoa até 12 anos incompletos de idade.
da absoluta prioridade e de variados direitos fundamentais. d) a pessoa até 18 anos incompletos de idade.
Em tal seara, foi determinado que as crianças e os adoles- e) a pessoa até 14 anos incompletos, desde que não
centes têm direito, tenha cometido nenhum crime.

198
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

R: C. O Estatuto da Criança e do Adolescente opta por c) A garantia de prioridade para o adolescente com-
categorizar separadamente estas duas categorias de me- preende a primazia na formulação das políticas sociais pú-
nores. Criança é aquele que tem até 12 anos de idade (na blicas para o lazer.
data de aniversário de 12 anos, passa a ser adolescente), d) Na aplicação dessa Lei, deverão ser levados em con-
adolescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos (na data ta os fins políticos a que ela se destina.
de aniversário de 18 anos, passa a ser maior), conforme o e) Destinação privilegiada de recursos públicos nas
artigo 2º do ECA. áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
R: E. Conforme o artigo 4º, parágrafo único, ECA, “a
7. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos) A garantia de prioridade compreende: [...] d) destinação pri-
intenção principal do Estatuto da Criança e do Adolescente vilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com
(Lei nº 8.069/90) é a proteção à infância e à juventude”.
a) prover uma boa escola para que crianças e adoles-
centes possam trabalhar o mais cedo possível. 10. (Prefeitura de Cruzeiro - SP - Auxiliar de Desen-
b) questionar políticas sociais que venham a proteger volvimento Infantil - Instituto Excelência/2016) Assinale
quem não merece. a alternativa CORRETA conforme o artigo 15 do ECA:
c) distribuir renda entre os mais empobrecidos da po-
a) na dignidade da criança e do adolescente, pondo-os
pulação.
a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, ater-
d) proteger integralmente crianças e adolescentes, ga-
rorizante, vexatório ou constrangedor.
rantindo políticas públicas neste sentido.
e) proteger crianças e adolescentes da prisão. b) no direito de ser educados e cuidados sem o uso de
R: D. Conforme o artigo 1º do ECA, “esta Lei dispõe castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como
sobre a proteção integral à criança e ao adolescente”. O formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro
princípio da proteção integral se associa ao princípio da pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada,
prioridade absoluta, colacionado no artigo 4º do ECA e no pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de
artigo 227, CF. De uma doutrina da situação irregular, o di- medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarre-
reito evoluiu e passou a contemplar uma noção de prote- gada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
ção mais ampla da criança e do adolescente, que não ape- c) no direito à liberdade, ao respeito e à dignidade
nas abordasse situações de irregularidade (embora ainda como pessoas humanas em processo de desenvolvimento
o fizesse), mas que abrangesse todo o arcabouço jurídico e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garan-
protetivo da criança e do adolescente, que é a doutrina da tidos na Constituição e nas leis.
proteção integral. d) na inviolabilidade da integridade física, psíquica e
moral da criança e do adolescente, abrangendo a preserva-
8. (Prefeitura de Cruzeiro - SP - Auxiliar de Desen- ção da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores,
volvimento Infantil - Instituto Excelência/2016) O Esta- ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
tuto da Criança e do Adolescente em seu art. 4º, parágrafo R: D. Dispõe o ECA em seu artigo 15: “A criança e o
único fixa a garantia de prioridade. Assinale a alternativa adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à digni-
CORRETA que compreende uma dessas prioridades: dade como pessoas humanas em processo de desenvolvi-
a) Nenhuma criança ou adolescente será objeto de mento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais
qualquer forma de negligência, descriminação e exploração. garantidos na Constituição e nas leis”.
b) É assegurado atendimento integral á saúde da crian-
ça e do adolescente por intermédio do sistema único de 11. (TRT - 1ª REGIÃO - Juiz do Trabalho Substituto
saúde. - FCC/2016) Sobre o trabalho da criança e do adolescente,
c) Precedência de atendimento, nos serviços públicos é correto afirmar:
ou de relevância pública.
a) É proibido o trabalho de adolescentes em atividades
d) Manter alojamento conjunto, possibilitando ao neo-
lúdicas.
nato a permanência junto á mãe.
b) É proibido para os menores de 16, salvo na condição
R: C. Conforme o artigo 4º, parágrafo único, ECA, “a
garantia de prioridade compreende: [...] b) precedência de de aprendizes.
atendimento nos serviços públicos ou de relevância públi- c) É proibido o trabalho noturno de menores de 16
ca”. anos, salvo na condição de aprendizes.
d) É proibido o trabalho de adolescentes em hospitais,
9. (FUNDAÇÃO CASA - Agente Administrativo - VU- salvo na condição de aprendizes de enfermagem.
NESP/2010) Relativamente às Disposições Preliminares do e) É proibido o trabalho de crianças em peças teatrais e
Estatuto da Criança e do Adolescente, assinale a alternativa atividades cinematográficas.
correta. R: B. Nos termos do artigo 60, ECA, “é proibido qual-
a) Considera-se criança a pessoa com até doze anos quer trabalho a menores de quatorze anos de idade, sal-
completos, e adolescente aquela entre treze e dezoito anos vo na condição de aprendiz”. Aceita-se o trabalho como
de idade incompletos. aprendiz entre 14 e 16 anos. A partir dos 16 anos, o adoles-
b) Nos casos em que a lei determinar, deverá ser cons- cente pode trabalhar, não necessariamente como aprendiz,
tantemente aplicado o Estatuto da Criança e do Adolescen- embora a lei fixe outras restrições.
te às pessoas entre dezenove e vinte anos de idade.

199
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

12. (TRT - 1ª REGIÃO - Juiz do Trabalho Substituto -


FCC/2016) A formação técnico-profissional do adolescen- ANOTAÇÕES
te NÃO deverá obedecer a
a) horário especial, estabelecido em lei.
b) horário especial, de acordo com a atividade. ___________________________________________________
c) peculiaridades do seu desenvolvimento pessoal.
d) adequação ao mercado de trabalho. ___________________________________________________
e) prevalência das atividades educativas sobre as pro-
___________________________________________________
dutivas.
R: A. Dispõe o ECA: “Art. 63. A formação técnico-pro- ___________________________________________________
fissional obedecerá aos seguintes princípios: [...] III - horário
especial para o exercício das atividades”. Especificamente, ___________________________________________________
o horário deve ser fixado sem prejudicar a frequência à es-
cola (artigo 67, IV, ECA) e é proibido o trabalho noturno. ___________________________________________________
Entretanto, a lei não fixa com precisão o horário de traba- ___________________________________________________
lho permitido ao adolescente.
___________________________________________________
13. (IDECAN/2016 - UFPB - Auxiliar em Assuntos
Educacionais) Considerando a prática de ato infracional ___________________________________________________
por adolescentes e os direitos individuais assegurados,
nessa situação, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente ___________________________________________________
(ECA), assinale a alternativa correta. ___________________________________________________
a) Considera-se ato infracional a conduta descrita como
crime e não a estabelecida como contravenção penal. ___________________________________________________
b) O adolescente não pode ser privado de sua liberda-
de senão em flagrante de ato infracional ou por ordem es- ___________________________________________________
crita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
___________________________________________________
c) O adolescente que comete ato infracional perde o
direito à identificação dos responsáveis pela sua apreen- ___________________________________________________
são, devendo, contudo, ser informado acerca de seus di-
reitos. ___________________________________________________
d) O adolescente civilmente identificado será subme-
tido à identificação compulsória pelos órgãos policiais, de ___________________________________________________
proteção e judiciais, independente se para efeito de con- ___________________________________________________
frontação em caso de dúvida fundada.
R: B. Conforme preconiza o art. 106, “nenhum adoles- ___________________________________________________
cente será privado de sua liberdade senão em flagrante de
ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da ___________________________________________________
autoridade judiciária competente”.
___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

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___________________________________________________

___________________________________________________

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200
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Inquérito policial. ..................................................................................................................................................................................................... 01


Auto de resistência. ................................................................................................................................................................................................ 01
Ação Penal. ................................................................................................................................................................................................................. 04
Prisão Cautelar: disposições gerais; prisão em flagrante; prisão temporária e prisão preventiva. .......................................... 06
Competência e atribuição. ................................................................................................................................................................................... 06
Liberdade provisória. .............................................................................................................................................................................................. 06
Atividade de Polícia Judiciária. ........................................................................................................................................................................... 18
Diligências de investigação e medidas assecuratórias.............................................................................................................................. 18
Da busca e apreensão............................................................................................................................................................................................. 18
Da prova. ..................................................................................................................................................................................................................... 21
Das garantias constitucionais do Processo Penal........................................................................................................................................ 26
Leis dos Juizados Especiais Criminais (Leis 9.099/95 e 10.259/01)....................................................................................................... 28
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Os destinatários do IP são os autores da Ação Penal,


- INQUÉRITO POLICIAL. AUTO DE ou seja, o Ministério Público ( no caso de ação Penal de
RESISTÊNCIA. Iniciativa Pública) ou o querelante (no caso de Ação Penal
de Iniciativa Privada). Excepcionalmente o juiz poderá ser
destinatário do Inquérito, quando este estiver diante de
cláusula de reserva de jurisdição.
Inquérito Policial O inquérito policial não é indispensável para a propo-
situra da ação penal. Este será dispensável quando já se
O Inquérito Policial é o procedimento administrativo tiver a materialidade e indícios de autoria do crime. Entre-
persecutório, informativo, prévio e preparatório da Ação tanto, se não se tiver tais elementos, o IP será indispensá-
Penal. É um conjunto de atos concatenados, com unidade vel, conforme disposição do artigo 39, § 5º do Código de
e fim de perseguir a materialidade e indícios de autoria de Processo Penal.
um crime. O inquérito Policial averígua determinado crime A sentença condenatória será nula, quando funda-
e precede a ação penal, sendo considerado, portanto como mentada exclusivamente nas provas produzidas no inqué-
pré-processual. rito policial. Conforme o artigo 155 do CPP, o Inquérito
Composto de provas de autoria e materialidade de cri- serve apenas como reforço de prova.
me, que, comumente são produzidas por Investigadores de O inquérito deve ser escrito, sigiloso, unilateral e inqui-
Polícia e Peritos Criminais, o inquérito policial é organizado
sitivo. A competência de instauração poderá ser de ofício
e numerado pelo Escrivão de Polícia, e presidido pelo De-
(Quando se tratar de ação penal pública incondicionada),
legado de Polícia.
por requisição da autoridade judiciária ou do Ministério
Importante esclarecer que não há litígio no Inquérito
Público, a pedido da vítima ou de seu representante legal
Policial, uma vez que inexistem autor e réu. Apenas figura a
ou mediante requisição do Ministro da Justiça.
presença do investigado ou acusado.
O Inquérito Policial se inicia com a notitia criminis, ou
Do mesmo modo, há a ausência do contraditório e da
seja, com a notícia do crime. O Boletim de Ocorrência (BO)
ampla defesa, em função de sua natureza inquisitória e em
não é uma forma técnica de iniciar o Inquérito, mas este
razão d a polícia exercer mera função administrativa e não
se destina às mãos do delegado e é utilizado para realizar
jurisdicional.
Sob a égide da constituição federal, Aury Lopes Jr. de- a Representação, se o crime for de Ação de Iniciativa Penal
fine: Pública condicionada à Representação, ou para o requeri-
“Inquérito é o ato ou efeito de inquirir, isto é, procurar mento, se o crime for de Ação Penal da Iniciativa Privada.
informações sobre algo, colher informações acerca de um No que concerne à delacio criminis inautêntica, ou
fato, perquirir”. (2008, p. 241). seja, a delação ou denúncia anônima, apesar de a Consti-
Em outras palavras, o inquérito policial é um procedi- tuição Federal vedar o anonimato, o Supremo Tribunal de
mento administrativo preliminar, de caráter inquisitivo, pre- Justiça se manifestou a favor de sua validade, desde que
sidido pela autoridade policial, que visa reunir elementos utilizada com cautela.
informativos com objetivo de contribuir para a formação As peças inaugurais do inquérito policial são a Portaria
da “opinio delicti” do titular da ação penal. (Ato de ofício do delegado, onde ele irá instaurar o inqué-
A Polícia ostensiva ou de segurança (Polícia Militar) rito), o Auto de prisão em flagrante (Ato pelo qual o dele-
tem por função evitar a ocorrência de crimes. Já a Polícia gado formaliza a prisão em flagrante), o Requerimento do
Judiciária (Civil e Federal) se incumbe se investigar a ocor- ofendido ou de seu representante legal (Quando a vítima
rência de infrações penais. Desta forma, a Polícia Judiciária, ou outra pessoa do povo requer, no caso de Ação Penal
na forma de seus delegados é responsável por presidir o de Iniciativa Privada), a Requisição do Ministério Público
Inquérito Policial. ou do Juiz.
Entretanto, conforme o artigo 4º do Código de Pro- No IP a decretação de incomunicabilidade (máximo
cesso Penal Brasileiro, em seu parágrafo único, outras au- de três dias) é exclusiva do juiz, a autoridade policial não
toridades também poderão presidir o inquérito, como nos poderá determiná-la de ofício. Entretanto, o advogado po-
casos de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI’s), derá comunicar-se com o preso, conforme dispõe o artigo
Inquéritos Policiais Militares (IPM’s) e investigadores par- 21 do Código de Processo Penal, em seu parágrafo único.
ticulares. Este último exemplo é aceito pela jurisprudência, Concluídas as investigações, a autoridade policial en-
desde que respeite as garantias constitucionais e não utili- caminha o ofício ao juiz, desta forma, depois de saneado
ze provas ilícitas. o juiz o envia ao promotor, que por sua vez oferece a de-
A atribuição para presidir o inquérito se dá em função núncia ou pede arquivamento.
da competência ratione loci, ou seja, em razão do lugar O prazo para a conclusão do inquérito, conforme o
onde se consumou o crime. Desta forma, ocorrerá a inves- artigo 10 caput e § 3º do Código de Processo Penal, será
tigação onde ocorreu o crime. A atribuição do delegado de dez dias se o réu estiver preso, e de trinta dias se estiver
será definida pela sua circunscrição policial, com exceção solto. Entretanto, se o réu estiver solto, o prazo poderá ser
das delegacias especializadas, como a delegacia da mulher prorrogado se o delegado encaminhar seu pedido ao juiz,
e de tóxicos, dentre outras. e este para o Ministério Público.

1
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Na Polícia Federal, o prazo é de quinze dias se o in- como é o exemplo do juiz, do promotor de justiça e do
diciado estiver preso (prorrogável por mais quinze). Nos advogado do ofendido, vide Estatuto da OAB, lei 8.906/94,
crimes de tráfico ilícito de entorpecentes o prazo é de trinta art. 7º, XIX. O advogado tem o direito de consultar os autos
dias se o réu estiver preso e noventa dias se estiver solto, dos IP, ainda que sem procuração para tal.
esse prazo é prorrogável por igual período, conforme dis- Nesse sentido, a súmula vinculante nº 14, do STF: “É
posição da Lei 11.343 de 2006. direito do defensor, no interesse do representado, ter aces-
O arquivamento do inquérito consiste da paralisação so amplo aos elementos de prova, que já documentados
das investigações pela ausência de justa causa (materia- em procedimento investigatório realizado por órgão com
lidade e indícios de autoria), por atipicidade ou pela ex- competência de polícia judiciária, digam respeito ao exer-
tinção da punibilidade. Este deverá ser realizado pelo Mi- cício do direito de defesa.” Em observação mais detalhada,
nistério Público. O juiz não poderá determinar de ofício, o conclui-se que o que está em andamento não é de direi-
arquivamento do inquérito, sem a manifestação do Minis- to do advogado, mas somente o que já fora devidamente
tério Público documentado. Diante disso, faz-se necessária a seguinte
O desarquivamento consiste na retomada das investi- reflexão: Qual o real motivo da súmula? O Conselho fe-
gações paralisadas, pelo surgimento de uma nova prova. deral da OAB, - indignado pelo não cumprimento do que
disposto no Estatuto da OAB - decidiu provocar o STF para
Procedimento inquisitivo: edição da súmula vinculante visando garantir ao advogado
Todas as funções estão concentradas na mão de única acesso aos autos. Como precedentes da súmula: HC 87827
pessoa, o delegado de polícia. e 88190 – STF; HC 120.132 – STJ.
Recordando sobre sistemas processuais, suas moda- Importante ressaltar que quanto ao sigilo, a súmula nº
lidades são: inquisitivo, acusatório e misto. O inquisitivo 14 não garante ao advogado o direito de participar nas di-
possui funções concentradas nas mãos de uma pessoa. O ligências. O sigilo é dividido em interno e externo. Sigilo
juiz exerce todas as funções dentro do processo. No acusa- interno: possui duas vertentes, sendo uma positiva e ou-
tório puro, as funções são muito bem definidas. O juiz não tra negativa. A positiva versa sobre a possibilidade do juiz/
busca provas. O Brasil adota o sistema acusatório não-or- MP acessarem o IP. A negativa, sobre a não possibilidade
todoxo. No sistema misto: existe uma fase investigatória, de acesso aos autos pelo advogado e investigado (em al-
presidida por autoridade policial e uma fase judicial, presi- gumas diligências). E na eventualidade do delegado negar
dida pelo juiz inquisidor. vista ao advogado? Habeas corpus preventivo (profilático);
mandado de segurança (analisado pelo juiz criminal).
Discricionariedade:
Existe uma margem de atuação do delegado que atua- Procedimento escrito:
rá de acordo com sua conveniência e oportunidade. A ma- Os elementos informativos produzidos oralmente de-
terialização dessa discricionariedade se dá, por exemplo, vem ser reduzidos a termo. O termo “eventualmente da-
no indeferimento de requerimentos. O art. 6º do Código tilografado” deve ser considerado, através de uma inter-
de Processo Penal, apesar de trazer diligências, não retira pretação analógica, como “digitado”. A partir de 2009, a lei
a discricionariedade do delegado. Diante da situação apre- 11.900/09 passou a autorizar a documentação e captação
sentada, poderia o delegado indeferir quaisquer diligên- de elementos informativos produzidos através de som e
cias? A resposta é não, pois há exceção. Não cabe ao de- imagem (através de dispositivos de armazenamento).
legado de polícia indeferir a realização do exame de corpo
de delito, uma vez que o ordenamento jurídico veda tal
Indisponível:
prática. Caso o delegado opte por indeferir o exame, duas
A autoridade policial não pode arquivar o inquérito po-
serão as possíveis saídas: a primeira, requisitar ao Ministé-
licial. O delegado pode sugerir o arquivamento, enquanto
rio Público. A segunda, segundo Tourinho Filho, recorrer
o MP pede o arquivamento. O sistema presidencialista é o
ao Chefe de Polícia (analogia ao art. 5º, §2º, CPP). Outra
que vigora para o trâmite do IP, ou seja, deve passar pelo
importante observação: O fato de o MP e juiz realizarem
magistrado.
requisição de diligências mitigaria a discricionariedade do
delegado? Não, pois a requisição no processo penal é tra-
tada como ordem, ou seja, uma imposição legal. O dele- Importante ilustrar que poderá o delegado deixar de
gado responderia pelo crime de prevaricação (art. 319 do instaurar o inquérito nas seguintes hipóteses:
Código Penal), segundo a doutrina majoritária. 1) se o fato for atípico (atipicidade material);
2) não ocorrência do fato;
Procedimento sigiloso: 3) se estiverem presentes causas de extinção de puni-
O inquérito policial tem o sigilo natural como caracte- bilidade, como no caso da prescrição.
rística em razão de duas finalidades: 1) Eficiência das inves- Contudo o delegado não poderá invocar o princípio da
tigações; 2) Resguardar imagem do investigado. O sigilo é insignificância com o objetivo de deixar de lavrar o auto de
intrínseco ao IP, diferente da ação penal, uma vez que não prisão em flagrante ou de instaurar inquérito policial. No
é necessária a declaração de sigilo no inquérito. Apesar de que tange à excludente de ilicitude, a doutrina majoritária
sigiloso, deve-se considerar a relativização do mesmo, uma entende que o delegado deve instaurar o inquérito e ratifi-
vez que alguns profissionais possuem acesso ao mesmo, car o auto de prisão em flagrante, uma vez que a função da
autoridade policial é subsunção do fato à norma.

2
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Dispensável: CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL


Dita o art. 12 do CPP:
Art. 12 - O inquérito policial acompanhará a denúncia A peça de encerramento chama-se relatório, definido
ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra. como uma prestação de contas daquilo que foi realizado
O termo “sempre que servir” corresponde ao fato de durante todo o inquérito policial ao titular da ação penal.
que, possuindo o titular da ação penal, elementos para Em outras palavras, é a síntese das principais diligências
propositura, lastro probatório idôneo de fontes diversas, realizadas no curso do inquérito. O mesmo só passa pelo
por exemplo, o inquérito poderá ser dispensado. juiz devido ao fato de o Código de Processo Penal adotar
o sistema presidencialista, já citado anteriormente. Entre-
Segundo o art. 46, §1º do mesmo dispositivo legal: tanto, apesar dessa adoção, este caminho adotado pela
“Art. 46 - O prazo para oferecimento da denúncia, es- autoridade policial poderia ser capaz de ferir o sistema
tando o réu preso, será de 5 (cinco) dias, contado da data acusatório, que é adotado pelo CPP (pois ainda não há
em que o órgão do Ministério Público receber os autos relação jurídica processual penal).
do inquérito policial, e de 15 (quinze) dias, se o réu estiver Os estados do Rio de Janeiro e Bahia adotaram a Cen-
solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução tral de inquéritos policiais, utilizada para que a autoridade
do inquérito à autoridade policial (Art. 16), contar-se-á o policial remetesse os autos à central gerida pelo Ministé-
prazo da data em que o órgão do Ministério Público rece- rio Público. Os respectivos tribunais reagiram diante da
ber novamente os autos. situação.
§ 1º - Quando o Ministério Público dispensar o in-
quérito policial, o prazo para o oferecimento da denúncia INDICIAMENTO
contar-se-á da data em que tiver recebido as peças de
informações ou a representação.” O indiciamento é a individualização do investigado/
suspeito. Há a transição do plano da possibilidade para o
OUTRAS FORMAS DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL campo da probabilidade, ou seja, da potencialização do
a) CPIs: Inquérito parlamentar. Infrações ou faltas fun- suspeito. Na presente hipótese, deve o delegado comuni-
cionais e aqueles crimes de matéria de alta relevância; car os órgãos de identificação e estatística. Sobre o mo-
b) IPM: Inquérito policial militar. Instrumento para in- mento do indiciamento, o CPP não prevê de forma exata,
podendo ser realizado em todas as fases do inquérito po-
vestigação de infrações militares próprias;
licial (instauração, curso e conclusão).
c) Crimes cometidos pelo magistrado: investigação
Não é possível desindiciar o indivíduo uma vez que
presidida pelo juiz presidente do tribunal;
representa uma espécie de arquivamento subjetivo em re-
d) MP: PGR/PGJ;
lação ao indiciado. Em contrapartida, há posicionamento
e) Crimes cometidos por outras autoridades com foro
diverso, com assentamento na idéia de que o desindicia-
privilegiado: ministro ou desembargador do respectivo
mento é possível pelo fato de o IP ser um procedimento
tribunal.
administrativo. Assim sendo, a autoridade policial goza de
autotutela, ou seja, da capacidade de rever os próprios
Os elementos informativos colhidos durante a fase do atos.
inquérito policial não poderão ser utilizados para funda- Com relação às espécies de desindiciamento, o mes-
mentar sentença penal condenatória. O valor de tais ele- mo pode ser de ofício, ou seja, realizado pela própria au-
mentos é relativo, uma vez que os mesmos servem para toridade policial e coato/coercitivo, que decorre do defe-
fundamentar o recebimento de uma inicial, mas não são rimento de ordem de habeas corpus.
suficientes para fundamentar eventual condenação.
PRAZOS PARA ENCERRAMENTO DO INQUÉRITO PO-
PROCEDIMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL LICIAL
No caso da justiça estadual, 10 dias se acusado preso;
1ª fase: Instauração; 30 dias se acusado solto. Os 10 dias são improrrogáveis,
2º fase: Desenvolvimento/evolução; os 30 dias são prorrogáveis por “n” vezes. No caso da jus-
3ª fase: Conclusão tiça federal, 15 dias se o acusado estiver preso; 30 dias se
o acusado estiver solto. Os 15 dias são prorrogáveis por
1ª fase: Instaurado por peças procedimentais: uma vez, enquanto os 30 dias são prorrogáveis por “n”
vezes.
1ª peça: Portaria; No caso da lei de drogas (11.343/2006), o prazo é di-
2ª peça: APFD (auto de prisão em flagrante delito); verso: 30 dias se o acusado estiver preso, 90 dias se estiver
3ª peça: Requisição do juiz/MP/ministro da justiça; solto. Nessa modalidade, os prazos podem ser duplica-
4ª peça: Requerimento da vítima dos. Com relação aos crimes contra a economia popular
(lei 1.521/51, art. 10, §1º), o prazo para conclusão do IP é
de 10 dias, independente se o acusado estiver preso ou
solto.

3
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

MEIOS DE AÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO


1) Primeiramente, oferecer denúncia, caso haja justa AÇÃO PENAL.
causa. Em regra, o procedimento é o ordinário. (Sumário:
cabe Recurso em sentido estrito, vide art. 581, I, CPP). Do
recebimento da denúncia, cabe habeas corpus. Da rejeição
da denúncia no procedimento sumaríssimo, cabe apelação.
(JESPCRIM, prazo de 10 dias); Ação Penal
2) O MP pode requisitar novas diligências, mas deve
especificá-las. No caso do indeferimento pelo magistrado, Trata-se do direito público subjetivo de pedir ao Es-
cabe a correição parcial; tado-juízo a aplicação do direito penal objetivo ao caso
3) MP pode defender o argumento de que não tem concreto.
atribuição para atuar naquele caso e que o juiz não tem Ação não é pretensão. Ação é simplesmente o direito
competência. Nesse caso, o juiz pode concordar ou não de provocar a tutela jurisdicional do Estado. Absolutamen-
com o MP. No caso de não concordar, o juiz fará remessa te errado falar, por exemplo, que ação penal é o exercício
do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, da pretensão punitiva estatal, visto que se estaria ligando
e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Mi- ao conceito de ação o objeto que se pede, vinculando di-
nistério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de reito abstrato com direito material, como faz a doutrina
arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a imanentista.
atender, como menciona o art. 28 do CPP; Ação penal, repito, é o direito de provocar a jurisdição
4) MP pode pedir arquivamento. Se o juiz homologa, penal. Por isso que o direito de ação é exercido contra o
encerra-se o mesmo. Trata-se de ato complexo, ou seja, Estado, pois o Estado é quem possui, única e exclusiva-
que depende de duas vontades. mente, o poder-dever de dizer o direito.
Assim, erram promotores e Procuradores da República
A natureza jurídica do arquivamento é de ato admi- que, na denúncia, escrevem: “ofereço ação penal pública
nistrativo judicial, procedimento que deriva de jurisdição incondicionada contra fulano de tal...” A ação não é contra
voluntária. É ato judicial, mas não jurisdicional. Com relação fulano. A ação é contra o Estado (provocando o Estado),
ao art. 28 do CPP e a obrigação do outro membro do Mi- para dizer o direito substantivo penal aplicável EM FACE
nistério Público ser ou não obrigado a oferecer a denúncia, de fulano.
existem duas correntes sobre o tema. A primeira corrente,
representada por Cláudio Fontelis, defende o argumento Características
de que o promotor não é obrigado a oferecer denúncia a) Autônoma: ela não se confunde com o direito ma-
porque o termo deve ser interpretado como designação, terial. Preexiste à pretensão punitiva.
com base na independência funcional. A segunda corren- b) Abstração: independe do resultado do processo.
te, majoritária, defende o ponto de que o termo deve ser Mesmo que a demanda seja julgada improcedente, o direi-
interpretado como delegação, atuando o promotor como to de ação terá sido exercido.
“longa manus” do Procurador Geral de Justiça. Diante da c) Subjetiva: o titular do direito é especificado na
questão trazida, estaria a independência funcional com- própria legislação. Em geral, é o MP, excepcionalmente sen-
prometida? Não, pois o novo promotor pode pedir a ab- do um particular.
solvição/condenação, uma vez que o mesmo possui tal d) Pública: a atividade provocada é de natureza pú-
liberdade. blica, sendo a ação exercida pelo próprio Estado.
A importância do inquérito policial se materializa do e) Instrumental: é um meio para se alcançar a efetivi-
ponto de vista de uma garantia contra apressados juízos, dade do direito material.
formados quando ainda não há exata visão do conjunto de
todas as circunstâncias de determinado fato. Daí a deno- Condições da Ação ou Condições de Procedibilidade
minação de instituto pré-processual, que de certa forma, Conceito
protege o acusado de ser jogado aos braços de uma Justiça Trata-se dos requisitos necessários e condicionantes
apressada e talvez, equivocada. O erro faz parte da essên- ao regular exercício do direito de ação.
cia humana e nem mesmo a autoridade policial, por mais Condição da ação (ou de procedibilidade) é uma con-
competente que seja, está isenta de equívocos e falsos dição que deve estar presente para que o processo penal
juízos. Delegados e advogados devem trabalhar em prol possa ter início.
de um bom comum, qual seja, a efetivação da justiça. Im-
prescindível a participação do advogado, dentro dos limi- Possibilidade Jurídica do Pedido
tes estabelecidos pela lei, na participação da defesa de seu O pedido deve ser legalmente amparável na seara do
cliente. Diante disso, é de imensa importância que o inqué- Direito Penal ou não deve ser vedado. Por exemplo, ao se
rito policial seja desenvolvido sob a égide constitucional, denunciar um membro de um corpo diplomático, o juiz
respeitando os direitos, garantias fundamentais do acusa- deve intimar a representação do país de origem para ver
do e, principalmente, o princípio da dignidade da pessoa ser eles abrem mão da imunidade diplomática. Caso nega-
humana, norteador do ordenamento jurídico brasileiro. tivo, deve o juiz extinguir o processo por impossibilidade
jurídica do pedido.

4
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Interesse de Agir Lembrar que a falta de justa causa é motivo de rejeição


Subdivide-se e materializa-se no trinômio necessidade/ da denúncia ou queixa, havendo um dispositivo específico
adequação/utilidade. que separa este tema da rejeição por inépcia formal (diz-se
O interesse-necessidade objetiva identificar se a lide que a falta de justa causa é causa de inépcia material):
pode ou não ser resolvida na seara judicial. Ela é presumida,
em função da proibição da autotutela, tendo como exceção Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
a transação penal. [...]
O interesse-adequação se manifesta com a utilização III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.
do instrumento adequado para a manifestação da pretensão. Não há justa causa para a ação penal quando a de-
V.g., não pode a parte pleitear trancar com HC ação penal monstração da autoria ou da materialidade do crime de-
cuja sanção máxima cominada à conduta seja de multa, já correr apenas de prova ilícita (assim como ocorre com a
que seu direito à livre locomoção não se encontra ameaçado. denúncia fundada apenas em IP viciado)
Já o interesse-utilidade se manifesta quando o exercício
do direito de ação possa resultar na realização do jus punien- Síntese sobre a justa causa:
di estatal. Daqui decorre justificativa para se acatar a prescri- 1. Trata-se do lastro probatório mínimo de materia-
ção da pena em perspectiva. lidade e autoria necessário para o recebimento da inicial;
2. Inexistindo justa causa, a denúncia deve ser rejei-
Legitimidade tada com fulcro no art. 395, III, do CPP (diz-se que há inép-
A ação só pode ser proposta por quem é titular do inte- cia material);
resse que se quer realizar e contra aquele cujo interesse deve 3. Somente cabe HC para trancar o processo penal
ficar subordinado ao do autor. (extinguir sem julgamento do mérito) se houver evidente
A pessoa jurídica tem legitimidade para figurar no polo pas- atipicidade da conduta, causa extintiva de punibilidade ou
sivo da demanda penal nos casos previstos em lei, devendo a ausência total de indícios de autoria;
ação também ser movida contra a pessoa física responsável por 4. Não há justa causa se a ação penal decorrer ape-
sua administração (teoria da dupla imputação). Também pode- nas de prova ilícita ou de IP viciado.
rá figurar no polo ativo, devendo ser representada por aqueles
designados nos contratos ou estatutos sociais. A Ação Civil Ex Delicto, ou actio civilis ex delicto

Réu Menor no Processo Penal: Ilegitimidade ou Incom- É uma ação ajuizada pelo ofendido na esfera cível para
petência? obter indenização pelo dano causado pela infração penal,
Se o réu for menor, não deverá o processo ser extinto por quando existente. Esta ação parte do princípio da neminem
impossibilidade jurídica do pedido ou por ilegitimidade da laedere, ou seja, não é permitido a ninguém lesar direito de
parte, mas sim por ausência de competência do juiz penal outrem, e quem o faz, pratica um ato ilícito. Mais especifi-
para apreciar o feito. camente, nesse caso, o prejuízo sofrido por alguém não é
na esfera civil, e sim na penal, sendo a causa de pedir o fato
Justa Causa ou Aptidão Material da Denúncia criminoso. Toda vez que se comete um ilícito penal, surge
Trata-se do lastro probatório mínimo de autoria e ma- uma pretensão punitiva que enseja em ação penal e apli-
terialidade delitivas necessário à propositura da ação penal. cação de pena ou medida de segurança aos culpados, e na
A justa causa é compreendida como conjunto de provas maioria das vezes, uma pretensão civil, a fim de se reparar
sobre o fato criminoso, suas circunstâncias e respectiva auto- o dano causado. Assim o é, pois em regra a violação de um
ria capaz de alicerçar, embasar a acusação contida na denún- interesse penalmente protegido também enseja em pre-
cia. Esse conjunto de provas, de elementos informativos ser- juízo. Em contrapartida, cometendo-se um ilícito civil, só
ve para dar verossimilhança à acusação. Evidentemente, não haveria em uma pretensão punitiva penal se o ato estivesse
se exige para a instauração da ação penal prova completa, tipificado no Código Penal.
plena ou cabal (induvidosa); este tipo de prova é exigido para A legislação criminal incentiva, sempre que possível, o
fundamentar a sentença condenatória. Para a instauração da ressarcimento da vítima. Tal fato é visivelmente observado
ação penal basta que haja alguma prova idônea, lícita, que no Código Penal, quando estabelece que a obrigação de
demonstre a verossimilhança da acusação. Deve haver prova reparar o dano é efeito da condenação (art. 91, I-CP); que é
da materialidade e indícios de autoria. causa de diminuição da pena (art. 16-CP); condição para a
E se o juiz, malgrado a ausência de justa causa, recebe a concessão do livramento condicional, salvo impossibilida-
denúncia? Haverá constrangimento ilegal porquanto injustifi- de de fazê-lo (art. 83, IV-CP); condição de reabilitação (art.
cável a ausência de justa causa. Cabe recurso contra esta deci- 94, III-CP) etc.
são? Não, não há recurso contra a decisão de recebimento da O Código de Processo Penal também prevê institutos
denúncia. Possível, no entanto, a impetração de habeas corpus para a reparação da vítima, sendo estes ação civil ex delic-
para trancar a ação penal. Ou em uma linguagem mais técnica, to e as medidas cautelares para garantir os bens, alvos da
habeas corpus para extinguir o processo penal sem resolução indenização (busca e apreensão, sequestro, arresto e hipo-
de mérito, com fundamento no artigo 648, I do CPP1. teca legal). De acordo com Tourinho Filho e Fernando da
1 Art. 648.A coação considerar-se-á ilegal: Costa, o Estado procurou exercer uma tutela administrativa
I - quando não houver justa causa; dos interesses privados atingidos pelo crime. A ação civil

5
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

ex delicto é uma ação de execução a ser proposta pela víti- Espécies de Flagrante
ma, contra o agente do crime, a fim de se obter reparação.
Mesmo estando prevista no Código de Processo Penal, em Flagrante Próprio, Propriamente Dito, Real ou Verda-
seus artigos 63 ao 68, essa ação é proposta no âmbito deiro (art. 302, I e II, CPP)
cível. Nele, o agente é surpreendido com a mão na massa,
cometendo a infração penal ou quando acaba de cometê-
Independência entre Ação no âmbito Civil e no âmbito -la. A prisão deve ocorrer de imediato, sem o decurso de
Penal qualquer intervalo de tempo.
Existindo algum dano em decorrência de um ilícito pe-
nal, pode o interessado entrar com ação na sede civil a fim Flagrante Impróprio, Irreal ou Quase-Flagrante (art.
de satisfazê-lo, independentemente de ajuizamento de 302, III)
ação de condenação pelo crime cometido na sede penal. Flagrante em que o agente é perseguido logo após
a infração, em situação que faça presumir ser o autor do
fato. Não existe prazo certo para a expressão logo após,
PRISÃO CAUTELAR: DISPOSIÇÕES sendo equivocada a doutrina que aponta o prazo de 24
GERAIS; PRISÃO EM FLAGRANTE; PRISÃO horas.
TEMPORÁRIA E PRISÃO PREVENTIVA. Não havendo solução de continuidade, isto é, se a
perseguição não for interrompida, mesmo que dure dias
COMPETÊNCIA E ATRIBUIÇÃO. LIBERDADE ou até mesmo semanas, em havendo êxito na captura do
PROVISÓRIA. perseguido, estar-se-á diante de flagrante delito.

Flagrante Presumido, Ficto ou Assimilado (art. 302, IV)


A Prisão pode ser significa o cerceamento da liberdade Flagrante em que o agente é preso após cometer a
de locomoção. É o restrição do direito de ir, vir ou ficar. infração, quando encontrado com instrumentos ou pro-
dutos do crime, armas, objetos ou papéis que permitam
È uma medida restritiva de liberdade, de natureza
presumir ser ele o autor da infração.
cautelar e caráter eminentemente administrativo, que não
Nessa espécie de flagrante não se exige persegui-
exige ordem escrita do juiz, porque o fato ocorre de inopi-
ção. Exige-se, entretanto, que a autoridade ponha-se a
no (art. 5º, LXI, CR/88). A invasão do lar é permitida pela
procurar o agente logo após ter notícia do acontecimento
Constituição Federal em caso de flagrante.
do crime.
Pode se originar da decisão condenatória transitada
em julgado, chamada de prisão-pena, a qual possui ca-
Flagrante Compulsório ou Obrigatório
ráter satisfatório; pode ocorrer durante a persecução pe- Alcança a atuação das forças de segurança engloban-
nal, antes do marco final do processo, ao se demonstrar do as polícias civis, militares, federal, rodoviárias, ferroviá-
a existência de risco face a permanência em liberdade do rias e o corpo de bombeiros. Elas têm o dever de, enquan-
agente. É conhecida como prisão sem pena, prisão caute- to em serviço, efetuar a prisão em flagrante.
lar, prisão provisória ou prisão processual.
Flagrante Facultativo
Prisões: É a permissão constitucional de que qualquer do povo
a) Prisão decorrente de flagrante delito; efetue a prisão em flagrante. Ela abrange também as auto-
b) Prisão temporária; ridades policiais fora de serviço.
c) Prisão preventiva;
d) Prisão decorrente de sentença (ou acórdão) con- Flagrante Esperado
denatória transitada em julgado. Não está disciplinado na legislação, sendo uma idea-
lização doutrinária. Ocorre quando a polícia, sabendo que
Prisão em Flagrante (arts. 301 a 310) um crime irá se consumar, fica de tocaia, realizando a pri-
são quando os atos executórios são deflagrados. Apesar
É uma medida restritiva de liberdade, de natureza cau- de não indicado, o particular também poderá efetuar o
telar e caráter eminentemente administrativo, que não exi- flagrante esperado.
ge ordem escrita do juiz, porque o fato ocorre de inopino
(art. 5º, LXI, CR/88). É uma forma de autopreservação e au- Flagrante Preparado ou Provocado
todefesa da sociedade, facultando-se a qualquer do povo Flagrante em que o agente é induzido ou instigado a
a sua realização, sendo que os posteriores atos de docu- cometer o delito, sendo preso no ato. É artifício onde ver-
mentação ocorrerão normalmente na delegacia de polícia. dadeira armadilha é maquinada no intuito de prender em
Relativamente à proteção ao lar, a pessoa pode ser flagrante aquele que cede à tentação e acaba praticando
presa em flagrante delito a qualquer tempo, de acordo a infração.
com o art. 5º, XI, da CR/88.
Súmula 145, STF: “Não há crime quando a preparação
do flagrante pela polícia torna impossível a sua consuma-
ção”.

6
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

A súmula para o STF, com a preparação do flagrante e de menor potencial ofensivo (por isso que caiu em desu-
consequente realização da prisão, existiria crime só na apa- so). A jurisprudência majoritariamente (STJ e STF) entende
rência, já que o resultado da prática supostamente delituo- que os crimes de menor potencial ofensivo são os crimes
sa já era conhecido pela polícia de antemão e ela já estaria com pena máxima de até 02 anos. Assim, a hipótese de
com toda a estrutura montada para prender o agente logo incidência do artigo 323 será aplicada na hipótese excep-
após a conduta. Assim, haveria verdadeiro crime impossí- cional de o indivíduo não assumir o compromisso (aliás,
vel, por absoluta ineficácia do meio ou absoluta improprie- o descumprimento do compromisso de comparecimento
dade do objeto criminoso. não traz qualquer consequência para o indivíduo, mesmo
Entretanto, se, preparando o flagrante, o agente conse- se ele não comparecer).
gue consumar o delito e fugir, o crime restará plenamente 2. A Lei nº 9.503/97 (CTB) (artigo 301) prevê que ao
caracterizado. condutor por delito de trânsito NÃO se imporá a prisão em
Não é flagrante preparado o caso de se prender al- flagrante se ele prestar pronto e integral socorro à vítima.
guém, que adentra no território nacional portando drogas, 3. No caso do art. 28 da Lei de Drogas.
após o recebimento de notícias sobre esse fato. A polícia
esperará a pessoa chegar e efetuará a prisão. Note-se que Flagrante nas Várias Espécies de Crime
o indivíduo já estava com o crime em andamento. a) Crimes permantentes: enquanto não cessada a
permanência poderá haver flagrante a qualquer tempo.
Flagrante Prorrogado, Retardado, Diferido, Postergado b) Crime habitual: de acordo com Tourinho, não é
ou Ação Controlada possível o flagrante no crime habitual, já que este ocorre
Ocorre quando a polícia deixa de efetuar a prisão, mes- somente quando a conduta típica se integra com a prática
mo presenciando o crime, pois do ponto de vista estratégi- de diversas açoes. Se houver o flagrante antes da consu-
co seria a melhor opção. mação, os atos realizados serão indiferentes penais, não
Previsto no art. 2º, II, da Lei nº 9.034/95 (Lei de Comba- passíveis de configurar qualquer crime.
te às Organizações Criminosas). Não é necessária autoriza- c) Crime de ação penal privada e ação pública con-
ção judicial nem prévia oitiva do MP, cabendo à autoridade dicionada: nada impede a realizaçao do flagrante nestes
policial administrar a conveniência ou não da postergação. crimes. Porém, para a lavratura do APFD, deverá haver
Ela não pode ser utilizada para abarcar atividades de qua- manifestação de vontade da pessoa legitimada a pro-
drilhas ou bandos, apenas de organizações criminosas. por a ação ou a representar. Caso a vítima não possa
ir imediatamente à delegacia, por ter sido conduzida ao
Já no flagrante diferido previsto na Lei nº 11.343/06, é hospital ou por qualquer outro motivo relevante, poderá
necessária autorização judicial e prévia oitiva do MP, além fazê-lo no prazo de entrega da nota de culpa. Caso preso o
do conhecimento do provável itinerário da droga e dos agente em flagrante e a vítima não autorize, não poderá ser
eventuais agentes do delito ou colaboradores. lavrado o auto, devendo o agente ser liberado.
d) Crime continuado: o flagrante se dará de forma
Flagrante Forjado fracionada, já que as várias ações são independentes en-
É o flagrante armado, fabricado para incriminar pessoa tre si, somente havendo a continuidade para fins de dimi-
inocente. Evidentemente é ilícito, sendo o único infrator nuição da pena quando da dosimetria penal. O flagrante é
aqui o agente executor da prisão. possível para cada crime isoladamente.
e) Infração de menor potencial ofensivo: não haverá
Flagrante por Apresentação lavratura de APFD, e sim de TCO (Termo Circunstanciado
Não é flagrante propriamente dito, pois quem se en- de Ocorrência), desde que o infrator seja imediatamente
trega à polícia não se enquadra em nenhuma das hipóteses enaminhado ao JECrim ou assuma o compromisso de lá
legais autorizadoras do flagrante. Assim, não será lavrado comparecer na data designada pela autoridade policial. En-
APFD, apesar de poder o agente ter sua prisão preventiva tretanto, se ele se negar a tanto, lavra-se o APFD, reco-
decretada pela autoridade policial. lhendo-se o infrator ao cárcere, salvo se for admitida e
paga a fiança. Lembrar que, no crime do art. 28 da Lei nº
Flagrante Vedado 11.343/06, é absolutamente impossível a prisão.
São hipóteses em que a autoridade não pode, de for- Nos crimes particados com violência doméstica contra
ma alguma, decretar o flagrante delito, sob pena de ilega- a mulher, não se aplica a Lei nº 9.099/95; assim, mediante
lidade manifesta. uma infraçao de menor potencial ofensivo, ao invés de TCO
Assim, não se decreta a prisão em flagrante, ou seja, se será lavrado APFD (art. 41, lei nº 11.340/06).
decretada, deverá ser relaxada:
1. Com o advento da lei dos juizados especiais crimi- Sujeitos do Flagrante
nais, aquele que for capturado em flagrante pela prática de
crimes de menor potencial ofensivo, e assumir o compro- Sujeito Ativo
misso de comparecer ao Juizado, a ele não será imposta a É aquele que efetua a prisão. Pode ser qualquer pes-
prisão em flagrante (será elaborado o Termo Circunstan- soa, policial ou não. Não se confunde o sujeito ativo com
ciado). Assim, praticamente, todas as hipóteses em que o o condutor, que é a pessoa que apresenta o preso à polícia
réu se livra solto estão abrangidas pelo conceito de crime (evidentemente, poderão ser a mesma pessoa).

7
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Sujeito Passivo c) Oitiva das testemunhas: suas declarações serão


É aquele detido na situação de flagrância. Em regra, reduzidas a termo e assinadas. Devem ser, no mínimo, duas
pode ser qualquer pessoa, respeitadas as exceções de de- testemunhas para o flagrante ser regular, ainda que uma ou
terminados indivíduos, quais sejam: ambas sejam meramente instrumentárias, aquelas simples-
a) Presidente da República: nunca poderá ser pre- mente presentes na delegacia e que são convidadas a assinar
so em flagrante ou por outra prisão cautelar (art. 86, § 3º, como testemunha o ato de ver a entrega do agente.
CR/88). d) Oitiva da vítima: não é requisito imposto pela lei,
b) Diplomatas estrangeiros: podem não ser presos mas é prática corrente no procedimento, até mesmo para
em flagrante, a depender de tratados e convenções inter- fortalecer o valor probatório.
nacionais. e) Oitiva do conduzido: o preso será ouvido, poden-
c) Membros do Congresso Nacional e Assembleias do, entretanto, calar-se. Admite-se a presença do advogado,
Legislativas: só podem ser presos em flagrante delito por o qual, entretanto não é imprescindível. Lembrar que o pro-
prática de crime inafiançável, devendo os autos, no caso, ser cedimento pré-processual não é contraditório. Se o interro-
remetidos à respectiva Casa para que, mediante provocação gatório não for realizado por força maior, o ato não restará
de partido e pelo voto da maioria de seus membros, resolva viciado.
sobre a prisão (art. 53, § 2º, CR/88). f) Decisão da autoridade: se a autoridade estiver
d) Magistrados: só poderão ser presos em flagrante convencida de que o flagrante é legítimo, determinará ao
por crime inafiançável, devendo os autos serem encaminha- escrivão que lavre e encerre o auto de flagrante. Porém, tam-
dos ao Presidente do respectivo Tribunal (art. 33, II, LOMAN). bém poderá liberar o detido caso verifique ilegalidade.
e) Membros do MP: idem, devendo os autos serem Assim, o policial também pode efetuar o relaxamento
encaminhados ao respectivo Procurador-Geral (art. 40, III, de prisão. Decorre do princípio administrativo da autotute-
LONMP). la, pelo qual a administração deve anular seus próprios atos
f) Advogados: somente poderá ser preso em flagran- quando ilegais.
te, por motivo de exercício da profissão, em caso de crime
inafiançável, sendo necessária a presença de representante Nota de Culpa
da OAB para se lavrar o auto, sob pena de nulidade (art. 7º, A nota de culpa se presta a informar ao preso os res-
§ 3º, EOAB). ponsáveis por sua prisão e os motivos de fato da mesma,
g) Menores de 18 anos: penalmente inimputáveis, contendo o nome do condutor e das tetemunhas, sendo as-
somente poderão ser privados da liberdade, mediante de- sinada pela autoridade (art. 306, § 2º, CPP).
terminação escrita e fundamentada do juiz ou mediante fla- Será entregue em 24 horas da realização da prisão, me-
grante de prática de ato infracional (art. 106, ECA). diante recibo. Se o preso se negar a assinar, 02 testemunhas
h) Motoristas: no caso de crime de trânsito, se pres- suprirão o ato.
tarem pronto e integral socorro à vítima de acidente de A entrega da nota de culpa é de vital importância
trânsito no qual se envolveu, não poderá ser preso em fla- para a validade da prisão. Com a nota de culpa, a garantia
grante nem poderá ser-lhe exigida fiança (art. 301, CTB). da informação é assegurada, tendo o preso a cientificação
formal dos motivos pelo qual foi encarcerado, com a indica-
Autoridade Competente ção de seus responsáveis.
Via de regra, é competente para presidir a lavratura do
auto a autoridade policial da circunscrição onde foi efetua- Remessa à Autoridade e Manifestação sobre o Flagrante
da a prisão (art. 290, CPP). Em 24 horas da realização da prisão, será encaminhado
à autoridade judicial competente o APFD acompanhado de
Procedimentos e Formalidades Legais todas as oitivas colhidas e demais documentos e, caso o au-
De acordo com Luís Flávio Gomes, a prisão em flagrante tuado não indique advogado, será remetida cópia integral
conta com quatro momentos distintos: à defensoria pública (art. 306, § 1º).
a) Captura do agente; Recebidos os autos, o juiz poderá relaxar a prisão, se ti-
b) Condução coercitiva até a presença da autoridade ver sido ilegal, concederá a liberdade provisória com ou sem
policial ou judicial; medida cautelar, ou decretará a prisão preventiva, se presen-
c) Lavratura do auto de prisão em flagrante; tes alguma das situações do art. 312 e se não se revelarem
d) Recolhimento ao cárcere. adequadas ou suficientes as medidas cautelares previstas no
Deve ser dada especial atenção ao aspecto formal art. 319.
do ato, com a documentação da prisão efetuada em razão Tudo isso terá que ser feito de forma fundamentada.
da captura. Deve-se, pois, seguir os seguintes passos:
a) Comunicação à família do preso ou pessoa por ele Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz
indicada sobre a prisão, antes de lavrar o auto (art. 5º, LXIII, deverá fundamentadamente:
CR/88). I - relaxar a prisão ilegal; ou
b) Oitiva do condutor: quem apresentou o “melian- II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quan-
te” na delegacia deverá ser ouvido, sendo suas declarações do presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Có-
reduzidas a termo, colhida sua assinatura e entregue cópia digo, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medi-
do termo e recibo de entrega do preso (esse recibo tem das cautelares diversas da prisão; ou
função acautelatória para o próprio condutor). III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.

8
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato nas condições cons-
tantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, poderá,
fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de comparecimento a todos os
atos processuais, sob pena de revogação.
O art. 310 impede que ocorra as situações do sujeito ficar preso indefinidamente em flagrante. Ou ele é solto, ou é
decretada sua prisão preventiva ou alguma medida cautelar. A não adoção de alguma dessas determinações constituirá
flagrante ilegalidade por desrespeito à lei processual.

Prisão em Flagrante: Réu Preso e Excesso de Prazo


É muito comum de ocorrer a manutenção do flagrante sem decretação da prisão preventiva, o que não deveria se dar.
Logo que recebe os autos, o juiz teria que, necessariamente, se manifestar sobre o cabimento ou não. Logo, a prisao em
flagrante deve ocorrer pelo tempo suficiente para análise dos autos pelo juiz, e não como justificativa para o condenado
ficar encarcerado até seu julgamento, o que é ilegal. Às vezes a ilegalidade ocorre até mesmo em função da demora da
remessa dos autos do flagrante da repartição policial para o juízo.

Passemos a analisar a seguinte tabela:

Prisão em Flagrante
Flagrante Próprio, Propriamente Cometendo a infração penal ou quando acaba de cometê-la. A prisão deve ocorrer
Dito, Real ou Verdadeiro de imediato, sem o decurso de qualquer intervalo de tempo.
Flagrante em que o agente é perseguido logo após a infração, em situação que
Flagrante Impróprio, Irreal ou faça presumir ser o autor do fato. Ele não é visto praticando a infração, mas é
Quase-Flagrante perseguido. Não existe prazo certo para a expressão logo após, sendo equivocada
a doutrina que aponta o prazo de 24 horas.
Caso em que o agente é preso após cometer a infração, quando encontrado com
Flagrante Presumido, Ficto ou instrumentos ou produtos do crime, armas, objetos ou papéis que permitam
Assimilado presumir ser ele o autor da infração.
Nessa espécie de flagrante não se exige perseguição.
Alcança a atuação das forças de segurança englobando as polícias civis, militares,
Flagrante Compulsório ou
federal, rodoviárias, ferroviárias e o corpo de bombeiros. Elas têm o dever de,
Obrigatório
enquanto em serviço, efetuar a prisão em flagrante.
É a permissão constitucional de que qualquer pessoa efetue a prisão em flagrante,
Flagrante Facultativo
incluindo as autoridades policiais fora de serviço.
Quando a polícia, sabendo que um crime irá se consumar, fica de tocaia, realizando
Flagrante Esperado
a prisão quando os atos executórios são deflagrados.
Flagrante em que o agente é induzido ou instigado a cometer o delito, sendo preso
Flagrante Preparado ou
no ato. É artifício onde verdadeira armadilha é maquinada no intuito de prender em
Provocado
flagrante aquele que cede à tentação e acaba praticando a infração.
Flagrante Prorrogado, Ocorre quando a polícia deixa de efetuar a prisão, mesmo presenciando o crime,
Retardado, Diferido, pois do ponto de vista estratégico seria a melhor opção. Organizações criminosas:
Postergado não precisa de autorização judicial e oitiva do MP. Drogas: precisa.
É o flagrante armado, fabricado para incriminar pessoa inocente. Evidentemente é
Flagrante Forjado
ilícito, sendo o único infrator aqui o agente executor da prisão.
Não é flagrante propriamente dito, pois quem se entrega à polícia não se enquadra
em nenhuma das hipóteses legais autorizadoras do flagrante. Assim, não será
Flagrante por Apresentação
lavrado APFD, apesar de poder o agente ter sua prisão preventiva decretada pela
autoridade policial.
São hipóteses em que a autoridade não pode, de forma alguma, decretar o flagrante
Flagrante Vedado
delito, sob pena de ilegalidade manifesta.
Procedimento: deverá ser o agente conduzido à delegacia, identificados e ouvidos os condutores, as testemunhas,
a vítima e, por fim, o agente. Se não relaxada a prisão ou se não arbitrada fiança, deve ser entregue ao condutor a
nota de culpa. Assim, no prazo máximo de 24 horas, devem os autos serem remetidos ao juiz, que deverá relaxar
a prisão, conceder liberdade provisória com ou sem medida cautelar, ou decretar a prisão preventiva presentes os
pressupostos.

9
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Prisão Preventiva Enfoque constitucional


É cediço pelo artigo 5º, LVII, da CF/88 que ninguém
A prisão preventiva é uma espécie de prisão cautelar será considerado culpado até o trânsito em julgado de
de natureza processual, consistente na medida restritiva de sentença penal condenatória.
liberdade, em qualquer fase da investigação policial ou do Aos adeptos da corrente garantista extremada, a inter-
processo penal, a ser decretada pelo juiz, de ofício, se no pretação gramatical desta regra supra, poderia mergulhar
curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Pú- em conclusões no sentido de que qualquer prisão cautelar
blico, do querelante ou do assistente, ou por representação seria inconstitucional.
da autoridade policial. Para quase a maioria esmagadora da doutrina, contu-
A prisão preventiva somente poderá ser decretada do, não se trata de um instituto que atenta a Carta Política
quando houver prova da existência do crime e indícios su- de 1988, mas sim, uma medida indispensável para a ma-
ficientes de autoria. nutenção da ordem social e para administração da justiça.
Note-se que a prisão preventiva, nos termos do artigo Segundo CLAUS ROXIN, “ entre as medidas que asse-
313, do Código Processual Penal, somente poderá ser de- guram o procedimento penal, a prisão preventiva é a inge-
cretada nos crimes dolosos punidos com pena privativa de rência mais grave na liberdade individual; por outra parte,
liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; se tiver sido ela é indispensável em alguns casos para a administração
condenado por outro crime doloso, em sentença transitada da justiça penal eficiente.” [02]
em julgado. Contrário a isso, o disposto no inciso I do caput
do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de Bases legais
1940 - Código Penal; se o crime envolver violência domés- Tendo por base o artigo 312 do CPP, para que se de-
tica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, crete a preventiva é necessária à demonstração de prova
enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a exe- da existência do crime, trazendo à tela a materialidade e
cução das medidas protetivas de urgência; quando houver indícios suficientes da autoria ou de participação no fato
dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta típico.
Interessante notar que o delito deve ter ocorrido in-
não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, de-
contestavelmente, e sua comprovação pode ser feita pelos
vendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade
diversos meios de prova admitidos em direito, entretanto,
após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a
no que toca a autoria, apenas se tem a necessidade de in-
manutenção da medida.
dícios de vinculação do individuo à prática do crime.
Ainda nesse pensamento, há de se ressaltar os pressu-
Fundamentação:
postos da preventiva e esses formam exatamente ofumus
Arts. 311 a 316 do CPP
commissi delicti, que oferece o básico de segurança para a
decretação da medida.
A prisão preventiva não é uma pena aplicada anteci- Pelo entendimento do artigo 313 do CPP, a preventi-
padamente ao trânsito em julgado, é uma medida cautelar. va somente possui envergadura em crimes dolosos, cuja
Por esse motivo, não viola a garantia constitucional depre- pena, via de regra, ultrapasse quatro anos. Logo, crimes
sunção de inocência se a decisão for devidamente motiva- culposos e contravenções parecem ser rechaçados pelo
da e a prisão estritamente necessária. instituto.
É uma prisão cautelar que tem o objetivo de evitar que É de se observar que caso o réu seja reincidente e com
o réu cometa novos crimes ou ainda que em liberdade pre- respeito ao que reza o artigo 64, I do Código Penal, pode-
judique a colheita de provas ou fuja. De acordo com o pro- -se aplicar a prisão preventiva ainda que o novo crime não
cessualista Paulo Rangel, « se o indiciado ou acusado em tenha pena maior que quatro anos.
liberdade continuar a praticar ilícitos penais, haverá pertur- Com ressalva de parte da doutrina, pode ser decre-
bação da ordem pública, e a medida extrema é necessária tada a medida cautelar de segregação da liberdade em
se estiverem presentes os demais requisitos legais» (RAN- tela também quando da dúvida sobre a identidade civil do
GEL, Paulo. Direito processual penal. 12. ed. rev. atual. ampl. agente e ele não forneça elementos de comprovação de
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 613). esclarecimentos. A doutrina que vê como medida extrema
Pode ser decretada inclusive na fase investigatória da excepcional revela cabimento na hipótese do acusado se
persecução criminal, ou seja, durante o inquérito policial. recusar a se submeter a identificação criminal.
No artigo 311 do CPP reside determinação no sentido
É prisão provisória na medida em que ainda não pesa de se permanecer viva a possibilidade de decretação da
condenação contra o possível criminoso; medida cautelar, preventiva em qualquer fase da investigação policial ou
pois tenta resguardar a harmonia social da ordem públi- do processo penal. Assim, é medida que tem alicerce em
ca ou da ordem econômica; excepcional, decorrente do qualquer fase da persecução criminal.
poder geral de cautela dado ao magistrado; subsidiária, Necessário notar que apesar de reclamar maior cuida-
muito mais após a promulgação da lei 12.403/2011, sendo do, a decretação da preventiva ainda no inquérito policial
somente permitida quando a lei não assegurar outra medi- é fato costumeiro na prática penal cotidiana, onde quase
da cautelar substitutiva. sempre há a segregação cautelar da liberdade sem a devi-
da preocupação.

10
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Observação importante é que não mais se faz presen- É possível a decretação da preventiva, não só na pre-
te no ordenamento jurídico após a lei 12.403/2011 qual- sença das circunstâncias fáticas do art. 312, cpp, mas sem-
quer opção de prisão preventiva obrigatória. Frise-se que pre que for necessário para garantir a execução de outra me-
apenas autoridade judiciária competente, em consonância dida cautelar, diversa da prisão (art. 282, § 4º, cpp).
com artigo 5º, LXI, da CF/88 pode decretar a prisão pre-
ventiva. A prisão preventiva, apresenta duas características bem
definidas, a saber:
Pressupostos a) autônoma, podendo ser decretada independente-
A prisão preventiva não é uma punição aplicada ante- mente de qualquer outra providência cautelar anterior;
cipadamente, inclusive porque a legislação brasileira proí- b) subsidiária, a ser decretada em razão do descumpri-
be a ocorrência de qualquer sanção antes da condenação mento de medida cautelar anteriormente imposta.
judicial.
Essa modalidade de prisão é determinada pela Justiça Existem ainda quatro situações claras em que poderá ser
imposta a prisão preventiva:
para impedir que o acusado (réu) atrapalhe a investigação,
a) A qualquer momento da fase de investigação ou do
a ordem pública ou econômica e aplicação da lei.
processo, de modo autônomo e independente (art. 311, CPP);
O réu pode ser mantido preso preventivamente até o
b) Como conversão da prisão em flagrante, quando
seu julgamento ou pelo período necessário para não atra-
insuficientes ou inadequadas outras medidas cautelares (art.
palhar as investigações. 310, II, CPP);
Caso exista a necessidade, a prisão preventiva pode ser c) Em substituição à medida cautelar eventualmente
decretada inclusive na fase inicial do inquérito policial, e descumprida (art. 282, § 4º, CPP);
não dá ao acusado o direito de defesa prévia. d) Quando houver fundadas dúvidas sobre a identi-
A prisão preventiva é a prisão de natureza cautelar mais dade do acusado, devendo ele ser imediatamente liberado
ampla existente, sendo uma eficiente ferramenta de encar- assim que confirmada for.
ceramento durante toda a persecução penal, já que pode
ser decretada tanto durante o IP quanto na fase processual. De outro modo, não será cabível a preventiva:
A prisão preventiva, por ser medida de natureza caute- a) Para os crimes culposos, contravenção penal ou se
lar, só se sustenta se presentes o lastro probatório mínimo no caso concreto está presente qualquer causa excludente
a indicar a ocorrência da infração e os eventuais envolvi- de ilicitude, isso decorre do postulado da proporcionalidade,
dos, além de algum motivo legal que fundamente a neces- na perspectiva da proibição do excesso, a impedir que uma
sidade de encarceramento. medida cautelar seja mais grave e onerosa que o resultado
Admite-se a decretação da preventiva até mesmo sem final do processo condenatório;
a instauração do IP, desde que o atendimento aos requisitos b) Quando não for prevista pena privativa da liber-
legais seja demonstrado por outros elementos indiciários. dade para o delito (art. 283,§ 1º, CPP).
Ela é medida de exceção e deve ser aplicada restritiva-
mente, a fim de compatibilizá-la com o princípio constitu- LEI Nº 12.403, DE 4 DE MAIO DE 2011.
cional da presunção de inocência (art. 5º, LVII, CR/88).
Se a prisão em flagrante busca sua justificativa e funda- Altera dispositivos do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de ou-
mentação, primeiro, na proteção do ofendido, e, depois, na tubro de 1941 - Código de Processo Penal, relativos à prisão
garantia da qualidade probatória, a prisão preventiva revela processual, fiança, liberdade provisória, demais medidas cau-
a sua cautelaridade na tutela da persecução penal, obje- telares, e dá outras providências.
tivando impedir que eventuais condutas praticadas pelo
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
alegado autor e/ou por terceiros possam colocar em risco
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
a efetividade do processo.
Referida modalidade de prisão, por trazer como conse-
Art. 1o Os arts. 282, 283, 289, 299, 300, 306, 310, 311, 312,
quência a privação da liberdade antes do trânsito em jul- 313, 314, 315, 317, 318, 319, 320, 321, 322, 323, 324, 325, 334,
gado, somente se justifica enquanto e na medida em que 335, 336, 337, 341, 343, 344, 345, 346, 350 e 439 do Decreto-
puder realizar a proteção da persecução penal, em todo o -Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo
seu iter procedimental, e, mais, quando se mostrar a única Penal, passam a vigorar com a seguinte redação:
maneira de satisfazer tal necessidade.
A prisão preventiva, somente deve ser aplicando, “TÍTULO IX
como regra, quando as outras medidas cautelares não DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA LI-
forem suficientes. BERDADE PROVISÓRIA”
Em razão da sua gravidade, e como decorrência do sis-
tema de garantias individuais constitucionais, somente se “Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título
decretará a prisão preventiva “por ordem escrita e funda- deverão ser aplicadas observando-se a:
mentada da autoridade judiciária competente”, conforme I - necessidade para aplicação da lei penal, para a in-
se observa com todas as letras no art. 5º, LXI, da Carta de vestigação ou a instrução criminal e, nos casos expressa-
1988. mente previstos, para evitar a prática de infrações penais;

11
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

II - adequação da medida à gravidade do crime, cir- “Art. 300. As pessoas presas provisoriamente ficarão se-
cunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou paradas das que já estiverem definitivamente condenadas,
acusado. nos termos da lei de execução penal.
§ 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas isola- Parágrafo único. O militar preso em flagrante delito,
da ou cumulativamente. após a lavratura dos procedimentos legais, será recolhido a
§ 2o As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, quartel da instituição a que pertencer, onde ficará preso à
de ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso disposição das autoridades competentes.” (NR)
da investigação criminal, por representação da autoridade “Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se
policial ou mediante requerimento do Ministério Público. encontre serão comunicados imediatamente ao juiz com-
§ 3o Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de petente, ao Ministério Público e à família do preso ou à
ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida pessoa por ele indicada.
cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acom- § 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização
panhada de cópia do requerimento e das peças necessá- da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de
rias, permanecendo os autos em juízo. prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome
§ 4o No caso de descumprimento de qualquer das obri- de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.
gações impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimen- § 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante
to do Ministério Público, de seu assistente ou do querelan- recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o moti-
vo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas.” (NR)
te, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação,
“Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o
ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312,
juiz deverá fundamentadamente:
parágrafo único).
I - relaxar a prisão ilegal; ou
§ 5o O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substi-
II - converter a prisão em flagrante em preventiva,
tuí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 des-
bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que te Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as
a justifiquem. medidas cautelares diversas da prisão; ou
§ 6o A prisão preventiva será determinada quando não III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
for cabível a sua substituição por outra medida cautelar Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de prisão
(art. 319).” (NR) em flagrante, que o agente praticou o fato nas condições
“Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em fla- constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do De-
grante delito ou por ordem escrita e fundamentada da creto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
autoridade judiciária competente, em decorrência de sen- Penal, poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado
tença condenatória transitada em julgado ou, no curso da liberdade provisória, mediante termo de comparecimento
investigação ou do processo, em virtude de prisão tempo- a todos os atos processuais, sob pena de revogação.” (NR)
rária ou prisão preventiva. “Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou
§ 1o As medidas cautelares previstas neste Título não do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada
se aplicam à infração a que não for isolada, cumulativa ou pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a reque-
alternativamente cominada pena privativa de liberdade. rimento do Ministério Público, do querelante ou do assis-
§ 2o A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a tente, ou por representação da autoridade policial.” (NR)
qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à inviola- “Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada
bilidade do domicílio.” (NR) como garantia da ordem pública, da ordem econômica,
“Art. 289. Quando o acusado estiver no território nacio- por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a
nal, fora da jurisdição do juiz processante, será deprecada aplicação da lei penal, quando houver prova da existência
a sua prisão, devendo constar da precatória o inteiro teor do crime e indício suficiente de autoria.
do mandado. Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá
§ 1o Havendo urgência, o juiz poderá requisitar a pri- ser decretada em caso de descumprimento de qualquer
das obrigações impostas por força de outras medidas cau-
são por qualquer meio de comunicação, do qual deverá
telares (art. 282, § 4o).” (NR)
constar o motivo da prisão, bem como o valor da fiança se
“Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será
arbitrada.
admitida a decretação da prisão preventiva:
§ 2o A autoridade a quem se fizer a requisição tomará
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de
as precauções necessárias para averiguar a autenticidade liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;
da comunicação. II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em
§ 3o O juiz processante deverá providenciar a remoção sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no
do preso no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
efetivação da medida.” (NR) dezembro de 1940 - Código Penal;
“Art. 299. A captura poderá ser requisitada, à vista de III - se o crime envolver violência doméstica e familiar
mandado judicial, por qualquer meio de comunicação, to- contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou
madas pela autoridade, a quem se fizer a requisição, as pre- pessoa com deficiência, para garantir a execução das me-
cauções necessárias para averiguar a autenticidade desta.” didas protetivas de urgência;
(NR) IV - (revogado).

12
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Parágrafo único. Também será admitida a prisão pre- VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegu-
ventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da rar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstru-
pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes ção do seu andamento ou em caso de resistência injustifi-
para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imedia- cada à ordem judicial;
tamente em liberdade após a identificação, salvo se outra IX - monitoração eletrônica.
hipótese recomendar a manutenção da medida.” (NR) § 1o (Revogado).
“Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será de- § 2o (Revogado).
cretada se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos § 3o (Revogado).
ter o agente praticado o fato nas condições previstas nos § 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposi-
incisos I, II e III do caputdo art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, ções do Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada
de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal.” (NR) com outras medidas cautelares.” (NR)
“Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar “Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será co-
a prisão preventiva será sempre motivada.” (NR) municada pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscali-
zar as saídas do território nacional, intimando-se o indicia-
“CAPÍTULO IV do ou acusado para entregar o passaporte, no prazo de 24
DA PRISÃO DOMICILIAR” (vinte e quatro) horas.” (NR)
“Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a de-
“Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento cretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liber-
do indiciado ou acusado em sua residência, só podendo dade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cau-
dela ausentar-se com autorização judicial.” (NR) telares previstas no art. 319 deste Código e observados os
“Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva critérios constantes do art. 282 deste Código.
pela domiciliar quando o agente for: I - (revogado)
I - maior de 80 (oitenta) anos; II - (revogado).” (NR)
II - extremamente debilitado por motivo de doença “Art. 322. A autoridade policial somente poderá con-
grave; ceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos.
menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência;
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será reque-
IV - gestante a partir do 7o (sétimo) mês de gravidez ou
rida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas.”
sendo esta de alto risco.
(NR)
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova
“Art. 323. Não será concedida fiança:
idônea dos requisitos estabelecidos neste artigo.” (NR)
I - nos crimes de racismo;
II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecen-
“CAPÍTULO V
tes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes
DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES”
hediondos;
“Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado De-
condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar ativi- mocrático;
dades; IV - (revogado);
II - proibição de acesso ou frequência a determinados V - (revogado).” (NR)
lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, “Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança:
deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado
locais para evitar o risco de novas infrações; fiança anteriormente concedida ou infringido, sem motivo
III - proibição de manter contato com pessoa determi- justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts.
nada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva 327 e 328 deste Código;
o indiciado ou acusado dela permanecer distante; II - em caso de prisão civil ou militar;
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a III - (revogado);
permanência seja conveniente ou necessária para a inves- IV - quando presentes os motivos que autorizam a de-
tigação ou instrução; cretação da prisão preventiva (art. 312).” (NR)
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos “Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade
dias de folga quando o investigado ou acusado tenha resi- que a conceder nos seguintes limites:
dência e trabalho fixos; a) (revogada);
VI - suspensão do exercício de função pública ou de b) (revogada);
atividade de natureza econômica ou financeira quando c) (revogada).
houver justo receio de sua utilização para a prática de in- I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se
frações penais; tratar de infração cuja pena privativa de liberdade, no grau
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de máximo, não for superior a 4 (quatro) anos;
crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos,
os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável quando o máximo da pena privativa de liberdade comina-
(art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; da for superior a 4 (quatro) anos.

13
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

§ 1o Se assim recomendar a situação econômica do Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem mo-
preso, a fiança poderá ser: tivo justo, qualquer das obrigações ou medidas impostas,
I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código; aplicar-se-á o disposto no § 4o do art. 282 deste Código.”
II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou (NR)
III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes. “Art. 439. O exercício efetivo da função de jurado cons-
§ 2o (Revogado): tituirá serviço público relevante e estabelecerá presunção
I - (revogado); de idoneidade moral.” (NR)
II - (revogado);
III - (revogado).” (NR) Art. 2o O Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941
“Art. 334. A fiança poderá ser prestada enquanto não - Código de Processo Penal, passa a vigorar acrescido do
transitar em julgado a sentença condenatória.” (NR) seguinte art. 289-A:
“Art. 335. Recusando ou retardando a autoridade po- “Art. 289-A. O juiz competente providenciará o ime-
licial a concessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, diato registro do mandado de prisão em banco de dados
poderá prestá-la, mediante simples petição, perante o juiz mantido pelo Conselho Nacional de Justiça para essa fina-
competente, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas.” lidade.
(NR) § 1o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão
“Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança ser- determinada no mandado de prisão registrado no Conse-
virão ao pagamento das custas, da indenização do dano, da lho Nacional de Justiça, ainda que fora da competência ter-
prestação pecuniária e da multa, se o réu for condenado. ritorial do juiz que o expediu.
Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação ainda § 2o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão
no caso da prescrição depois da sentença condenatória decretada, ainda que sem registro no Conselho Nacional
(art. 110 do Código Penal).” (NR) de Justiça, adotando as precauções necessárias para averi-
“Art. 337. Se a fiança for declarada sem efeito ou pas- guar a autenticidade do mandado e comunicando ao juiz
sar em julgado sentença que houver absolvido o acusado que a decretou, devendo este providenciar, em seguida, o
ou declarada extinta a ação penal, o valor que a constituir, registro do mandado na forma do caput deste artigo.
atualizado, será restituído sem desconto, salvo o disposto § 3o A prisão será imediatamente comunicada ao juiz
no parágrafo único do art. 336 deste Código.” (NR) do local de cumprimento da medida o qual providenciará
a certidão extraída do registro do Conselho Nacional de
“Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acu-
Justiça e informará ao juízo que a decretou.
sado:
§ 4o O preso será informado de seus direitos, nos ter-
I - regularmente intimado para ato do processo, deixar
mos do inciso LXIII do art. 5o da Constituição Federal e,
de comparecer, sem motivo justo;
caso o autuado não informe o nome de seu advogado, será
II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao an-
comunicado à Defensoria Pública.
damento do processo;
§ 5o Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a
III - descumprir medida cautelar imposta cumulativa-
legitimidade da pessoa do executor ou sobre a identidade
mente com a fiança;
do preso, aplica-se o disposto no § 2o do art. 290 deste
IV - resistir injustificadamente a ordem judicial; Código.
V - praticar nova infração penal dolosa.” (NR) § 6o O Conselho Nacional de Justiça regulamentará o
“Art. 343. O quebramento injustificado da fiança im- registro do mandado de prisão a que se refere o caput des-
portará na perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz te artigo.”
decidir sobre a imposição de outras medidas cautelares ou,
se for o caso, a decretação da prisão preventiva.” (NR) Art. 3o Esta Lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após a
“Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor data de sua publicação oficial.
da fiança, se, condenado, o acusado não se apresentar para
o início do cumprimento da pena definitivamente imposta.” Art. 4o São revogados o art. 298, o inciso IV do art. 313,
(NR) os §§ 1o a 3o do art. 319, os incisos I e II do art. 321, os inci-
“Art. 345. No caso de perda da fiança, o seu valor, de- sos IV e V do art. 323, o inciso III do art. 324, o § 2o e seus
duzidas as custas e mais encargos a que o acusado estiver incisos I, II e III do art. 325 e os arts. 393 e595, todos do
obrigado, será recolhido ao fundo penitenciário, na forma Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de
da lei.” (NR) Processo Penal.
“Art. 346. No caso de quebramento de fiança, feitas as
deduções previstas no art. 345 deste Código, o valor res- Brasília, 4 de maio de 2011; 190o da Independência e
tante será recolhido ao fundo penitenciário, na forma da 123o da República.
lei.” (NR) DILMA ROUSSEFF
“Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, veri-
ficando a situação econômica do preso, poderá conceder- Princípio da necessidade
-lhe liberdade provisória, sujeitando-o às obrigações cons- Princípio da menor ingerência possível. Princípio se-
tantes dos arts. 327 e 328 deste Código e a outras medidas gundo o qual, nas suas relações, a administração pública
cautelares, se for o caso. deve adotar os meios menos onerosos para os particulares.

14
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Prisão Especial Prisão Temporária


É o direito conferido a determinadas pessoas em razão A prisão temporária é a única prisão de natureza cau-
da função desempenhada, enquanto estiverem na condição telar com prazo de duração preestabelecido, cabível, ex-
de presos provisórios. clusivamente, na fase pré-processual, durante o inquérito
O status de preso especial confere ao detento o direito policial, cujo objetivo é o encarceramento em razão das
de ser recolhido em local distinto da prisão comum, e não infrações seletamente indicadas na legislação, para possi-
havendo estabelecimento específico para o preso especial, bilitar uma investigação policial eficiente e sem obstáculos
o mesmo ficará em cela separada dentro do estabelecimen- que poderiam ser opostos pelo investigado.
to penal comum. É espécie de prisão cautelar com prazo determinado
Destarte dispõe o Código Processual Penal as pessoas decretada no curso das investigações quando a prisão for
que possuem esse privilégio: indispensável para a colheita de elementos probatórios re-
Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão espe- lativos às infrações do artigo 1, III, da Lei nº 7.960/89 e de
cial, à disposição da autoridade competente, quando sujei- crimes hediondos e equiparados.
tos a prisão antes de condenação definitiva:
Originou-se da medida provisória nº 101, de 1989.
I - os ministros de Estado;
Hoje MP não pode versar sobre Direito Processual Penal,
II - os governadores ou interventores de Estados ou Ter-
conforme EC 32/01, o que fez com que muitos discutissem
ritórios, o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos se-
a constitucionalidade da prisão temporária.
cretários, os prefeitos municipais, os vereadores e os chefes
a) Paulo Rangel entende que seria inconstitucional.
de Polícia; (Redação dada pela Lei nº 3.181, de 11.6.1957)
Para ele teria um vício de inconstitucionalidade formal, mas
III - os membros do Parlamento Nacional, do Conselho
esta posição não é majoritária.
de Economia Nacional e das Assembleias Legislativas dos
Estados; b) O STF julgou a ADI 162 sobre o assunto e rejeitou a
IV - os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”; tese, entendendo pela constitucionalidade da lei a prisão
V – os oficiais das Forças Armadas e os militares dos temporária.
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; (Redação dada
pela Lei nº 10.258, de 11.7.2001) Decretação
VI - os magistrados; Ela está adstrita à cláusula de reserva jurisdicional, so-
VII - os diplomados por qualquer das faculdades supe- mente podendo ser decretada pela autoridade judiciária,
riores da República; mediante representação da autoridade policial ou a reque-
VIII - os ministros de confissão religiosa; rimento do MP.
IX - os ministros do Tribunal de Contas; A prisão temporária nunca poderá ser decretada de
X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a ofício pelo juiz, assim como não poderá a vítima requerer a
função de jurado, salvo quando excluídos da lista por moti- sua decretação. Evidencia isso a própria natureza da medi-
vo de incapacidade para o exercício daquela função; da, já que, se ela visa a uma efetividade do procedimento
XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos Es- investigatório, somente quem investiga (MP ou polícia ju-
tados e Territórios, ativos e inativos. (Redação dada pela Lei diciária) poderia saber sobre sua necessidade ou não.
nº 5.126, de 20.9.1966)
§ 1o A prisão especial, prevista neste Código ou em ou- Cabimento
tras leis, consiste exclusivamente no recolhimento em local É essencial a presença do fumus comissi delicti (mate-
distinto da prisão comum. (Incluído pela Lei nº 10.258, de rialidade) e do periculum libertatis para sua decretação. Ou
11.7.2001) seja, o fumus boni iuris seria a materialidade, enquanto o
§ 2o Não havendo estabelecimento específico para periculum in mora seria o perigo representado pela liber-
o preso especial, este será recolhido em cela distinta do dade do investigado para as investigações. Além disso, o
mesmo estabelecimento. (Incluído pela Lei nº 10.258, de art. 1º da Lei nº 7.960/89 exige:
11.7.2001) i. Imprescindibilidade para as investigações do inquéri-
§ 3o A cela especial poderá consistir em alojamento co- to policial: deve haver elementos suficientes que demons-
letivo, atendidos os requisitos de salubridade do ambien- trem que a liberdade do indiciado poderá frustrar as inves-
te, pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e tigações.
condicionamento térmico adequados à existência humana. ii. Indiciado não ter residência fixa ou não fornecer ele-
(Incluído pela Lei nº 10.258, de 11.7.2001) mentos para sua identificação: aqui, é necessário que haja
§ 4o O preso especial não será transportado juntamen- um risco efetivo do indivíduo fugir. Não basta a ausência
te com o preso comum. (Incluído pela Lei nº 10.258, de de residência fixa. Relativamente à identificação, a autori-
11.7.2001) dade deve proceder a identificação criminal caso não seja
§ 5o Os demais direitos e deveres do preso especial se- possível a identificação civil, permanecendo o indiciado em
rão os mesmos do preso comum. liberdade.
Não havendo estabelecimento adequado para se efe- iii. Quanto houver fundada suspeita de autoria ou par-
tivar a prisão especial, O PRESO PODERÁ SER COLOCADO ticipação nos seguintes crimes (taxativos): homicídio dolo-
EM PRISÃO PROVISÓRIA DOMICILIAR, por deliberação do so, sequestro ou cárcere privado, roubo, extorsão, extorsão
magistrado, ouvido o MP (Lei nº 5.256/67). mediante sequestro, estupro, atentado violento ao puder,

15
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

epidemia com resultado morte, envenenamento de água LEI FEDERAL Nº 7.960/1989


potável, quadrilha ou bando, genocídio, tráfico de drogas, (PRISÃO TEMPORÁRIA).
crime contra o sistema financeiro, crimes hediondos ou
equiparados. Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989.
A corrente majoritária admite a prisão temporária desde
que esteja obrigatoriamente presente uma das hipóteses da Dispõe sobre prisão temporária.
letra “c” conjugada com as das letras “a” ou “b”, alternativa-
mente. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Con-
Decretação da prisão temporária requer: inciso III+ in- gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
cisos I ou II
Não é apenas o indiciado, sujeito formalmente apon- Art. 1° Caberá prisão temporária:
tado pela autoridade policial como autor da infração penal, I - quando imprescindível para as investigações do in-
que estará sujeito à prisão temporária, mas também outras quérito policial;
pessoas que influam na investigação criminal. II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não
fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua
Prazos identidade;
a) Regra geral: 05 dias, prorrogável por mais 05 em caso III - quando houver fundadas razões, de acordo com
de extrema e comprovada necessidade. Se o pedido de qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou
prorrogação vier da polícia, o MP necessariamente deverá participação do indiciado nos seguintes crimes:
ser ouvido. a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);
b) Crimes hediondos e equiparados: prazo de 30 dias, b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus
prorrogável por mais 30, em caso de comprovada e extrema §§ 1° e 2°);
necessidade. c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
São prazos limites, não sendo o juiz obrigado a decretar d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
sempre por 30 dias. Se ele entender que 10 dias são sufi- e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus
cientes, basta. §§ 1°, 2° e 3°);
a) Se pessoa se apresenta às 23 horas já vale como um f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art.
dia. 223, caput, e parágrafo único);
b) Decorrido o prazo da prisão temporária, o preso de- g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua
verá ser colocado em liberdade, salvo se tiver sido decretada combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único);
sua prisão preventiva. h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art.
A prorrogação, se pedida pela autoridade policial, deve- 223 caput, e parágrafo único);
rá ser precedida obrigatoriamente da oitiva do MP. Entretan- i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
to, ela sempre deverá ser fundamentada, devendo o legiti- j) envenenamento de água potável ou substância ali-
mado demonstrar ao juiz o que fez no primeiro período e o mentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270,
que pretende fazer no segundo. caput, combinado com art. 285);
O prazo da prisão temporária será acrescentado ao pra- l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
zo que a autoridade policial possui para concluir o IP. m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de
outubro de 1956), em qualquer de sua formas típicas;
Procedimento n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de
a) Representação policial ou requerimento do MP; outubro de 1976);
b) Despacho fundamentado do juiz, em 24 horas, de- o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de
cidindo sobre a temporária, ouvindo o MP se tiver havido 16 de junho de 1986).
representação;
c) Expedição de mandado de prisão em duas vias, sendo Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em
uma entregue ao preso como nota de culpa; face da representação da autoridade policial ou de reque-
d) Durante o prazo da temporária, pode o juiz, de ofício rimento do Ministério Público, e terá o prazo de 5 (cinco)
ou a requerimento do MP ou do defensor, determinar que dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e
o preso lhe seja apresentado, solicitar informações e escla- comprovada necessidade.
recimentos da autoridade policial e submetê-lo a exame de § 1° Na hipótese de representação da autoridade po-
corpo de delito; licial, o Juiz, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público.
e) Decorrido o prazo legal, o preso deve ser posto ime- § 2° O despacho que decretar a prisão temporária de-
diatamente em liberdade, salvo se decretada a prisão pre- verá ser fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24
ventiva; (vinte e quatro) horas, contadas a partir do recebimento da
f) Como a liberdade é imediata, é desnecessário ao de- representação ou do requerimento.
legado receber o alvará de soltura para liberar o investigado, § 3° O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do
salvo se para soltar antes do prazo fixado pelo juiz, hipótese Ministério Público e do Advogado, determinar que o preso
em que deve haver o alvará de soltura expedido pelo juiz. lhe seja apresentado, solicitar informações e esclarecimen-
Por fim, lembrar que o preso temporariamente deve per- tos da autoridade policial e submetê-lo a exame de corpo
manecer obrigatoriamente separado dos demais detentos. de delito.

16
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

§ 4° Decretada a prisão temporária, expedir-se-á man- b) As medidas cautelares, quando diversas da prisão,
dado de prisão, em duas vias, uma das quais será entregue podem ser impostas independentemente de prévia prisão
ao indiciado e servirá como nota de culpa. em flagrante (art. 282, § 2º, CPP), ao contrário da legisla-
§ 5° A prisão somente poderá ser executada depois da ção anterior, que somente previa a concessão de liberdade
expedição de mandado judicial. provisória para aquele que fosse aprisionado em flagrante
§ 6° Efetuada a prisão, a autoridade policial informará delito. Por isso, podem ser impostas tanto na fase de in-
o preso dos direitos previstos no art. 5° da Constituição vestigação quanto na do processo, com exceção da prisão
Federal. domiciliar;
§ 7° Decorrido o prazo de cinco dias de detenção, o c) As referidas medidas cautelares, diversas da prisão,
preso deverá ser posto imediatamente em liberdade, salvo poderão também substituir a prisão em flagrante (art. 310,
se já tiver sido decretada sua prisão preventiva. II, e art. 321, CPP), quando não for cabível e adequada a
prisão preventiva (art. 310, II, CPP);
Art. 3° Os presos temporários deverão permanecer, d) A liberdade provisória, agora, passa a significar ape-
obrigatoriamente, separados dos demais detentos. nas a diversidade de modalidades de restituição da liber-
dade, após a prisão em flagrante. O art. 321, CPP (ausen-
Art. 4° O art. 4° da Lei n° 4.898, de 9 de dezembro de tes os requisitos que autorizam a prisão preventiva, o juiz
deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o
1965, fica acrescido da alínea i, com a seguinte redação:
caso, as medidas cautelares previstas no art. 319...) deve
ser entendido nesse sentido (de restituição da liberdade do
“Art. 4° ...............................................................
aprisionado) e não como fundamento para a decretação
de medidas cautelares sem anterior prisão em flagrante.
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena A base legal para estas últimas providências reside no art.
ou de medida de segurança, deixando de expedir em tem- 282, § 2º, CPP;
po oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de li- e) A prisão preventiva tanto poderá ser decretada inde-
berdade;” pendentemente da anterior imposição de alguma medida
cautelar (art. 282, § 6º, art. 311, art. 312 e art. 313, CPP),
Art. 5° Em todas as comarcas e seções judiciárias ha- quanto em substituição àquelas (cautelares) previamente
verá um plantão permanente de vinte e quatro horas do impostas e eventualmente descumpridas (art. 282, § 4º, art.
Poder Judiciário e do Ministério Público para apreciação 312, parágrafo único, CPP);
dos pedidos de prisão temporária. f) Poderá, do mesmo modo, ser decretada como con-
versão da prisão em flagrante, quando presentes os seus
Art. 6° Esta Lei entra em vigor na data de sua publi- requisitos (art. 310, II, CPP), e forem insuficientes as demais
cação. cautelares;
g) A prisão preventiva poderá também ser substituída
Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário. por medida cautelar menos gravosa, quando esta se revelar
mais adequada e suficiente para a efetividade do processo
Brasília, 21 de dezembro de 1989; 168° da Indepen- (art. 282, § 5º, CPP);
dência e 101° da República. h) Quando decretada autonomamente, ou seja, como
JOSÉ SARNEY medida independente do flagrante, ou, ainda, como con-
versão deste, a prisão preventiva submete-se às exigências
Medidas Cautelares e Liberdade e Provisória do art. 312 e do art. 313, ambos do CPP; quando, porém,
for decretada subsidiariamente, isto é, como substitutiva
A Lei nº 12.403/11 modificou completamente o capí- de outra cautelar descumprida, não se exigirá a presença
tulo sobre liberdade provisória. Ela substituiu quase por das situações do art. 313, CPP;
completo o capítulo V, extinguindo uma série de institutos i) Nenhuma medida cautelar (prisão ou outra qualquer)
poderá ser imposta quando não for cominada à infração,
então previstos.
objeto de investigação ou de processo, pena privativa da
As medidas cautelares são aquelas que visam a res-
liberdade, cumulativa ou isoladamente (art. 283, § 3º, CPP);
guardar a persecução penal. Entre elas há uma série de
do mesmo modo, não se admitirá a imposição de cautela-
possibilidades, inclusive a decretação da liberdade provi-
res e, menos ainda, da prisão preventiva, aos crimes para os
sória com fiança, que passou a ser uma modalidade de quais seja cabível a transação penal, bem como nos casos
medida cautelar na nova redação do CPP. em que seja proposta e aceita a suspensão condicional do
processo, conforme previsto na Lei 9.099/95, que cuida dos
Sobre as modificações, podemos sintetizá-las: Juizados Especiais Criminais e das infrações de menor po-
a) Embora a Lei nº 12.403/11 mantenha a distinção tencial ofensivo;
conceitual entre prisões, medidas cautelares e liberdade j) Em se tratando de crimes culposos, a imposição de
provisória, é bem de ver que todas elas exercem o mesmo medida cautelar, em princípio, não será admitida, em face
papel e a mesma função processual de acautelamento dos do postulado da proporcionalidade; contudo, quando – e
interesses da jurisdição criminal; somente quando – se puder antever a possibilidade con-

17
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

creta de imposição de pena privativa da liberdade ao fi-


nal do processo, diante das condições pessoais do agente, ATIVIDADE DE POLÍCIA JUDICIÁRIA.
serão cabíveis, excepcionalmente para os crimes culposos,
DILIGÊNCIAS DE INVESTIGAÇÃO E MEDIDAS
as cautelares do art. 319 e art. 320, segundo a respectiva
necessidade e fundamentação. ASSECURATÓRIAS. DA BUSCA E APREENSÃO.

Liberdade Provisória
A liberdade provisória é instituto que se presta a com-
bater a prisão em flagrante legal. Ela poderia ser, na antiga A Polícia Judiciária tem sua atuação regida, entre ou-
redação, obrigatória, permitida ou vedada. Este o motivo tros dispositivos legais, pelo Código de Processo Penal,
pelo qual pode ela ser condicionada. Somente não poderá predominando o seu caráter repressivo, pois sua princi-
o juiz impor condições no caso de relaxamento de prisão, já pal função é punir os infratores das leis penais. De acordo
que este é o remédio para combater a prisão ilegal. com seu próprio nome, a Polícia Judiciária atua em auxílio
A liberdade provisória é uma “moeda de troca”, conce- à Justiça, apurando as infrações criminais e as respectivas
dida mediante determinados requisitos, com ônus ao acu- autorias. Nesse sentido, Guilherme de Souza Nucci (2005,
sado para que se livre da prisão cautelar. p. 123) destaca que:
Agora, entretanto, a liberdade provisória passou a con- O nome polícia judiciária tem sentido na medida em
correr com as outras medidas cautelares. Ademais, a Lei que não se cuida de uma atividade policial ostensiva (típica
nº 11.403/11 corrigiu uma falha do sistema, que permitia da Polícia Militar para a garantia da segurança nas ruas),
que a pessoa fosse presa em flagrante e continuasse nesse mas investigatória, cuja função se volta a colher provas
estado indefinidamente. para o órgão acusatório e, na essência, para que o Judiciá-
Isso não mais ocorre. Efetivada a prisão em flagrante rio avalie no futuro.
delito, os autos devem ser imediatamente encaminhados Para melhor elucidar a questão da diferenciação entre
para o juiz, o qual ou relaxará a prisão da pessoa se hou- as duas categorias das polícias recorremos a Álvaro Lazza-
ver ilegalidade, ou decretará a prisão preventiva ou alguma rini, citado pela professora Maria Sylvia Di Pietro (LAZZARI-
medida cautelar, ou então concederá a liberdade provisó-
NI, 2000, apud DI PIETRO, 2002, p. 112):
ria, com ou sem fiança.
A linha de diferenciação está na ocorrência ou não de
ilícito penal. Com efeito, quando atua na área do ilícito pu-
Fiança
ramente administrativo (preventiva ou repressivamente), a
A fiança é uma garantia do cumprimento das obriga-
polícia é administrativa. Quando o ilícito penal é praticado,
ções do réu durante todo o processo penal, sendo também
é a polícia judiciária que age.
um direito inerente ao mesmo previsto constitucionalmente.
A Liberdade provisória será concedida sem a fiança no
caso em que a infração praticada for um crime de menor Medidas Assecuratórias
potencial ofensivo, consoante disposição do artigo 69, Pa- (arts. 125 a 144, CPP)
rágrafo Único da Lei 9099 de 1995; se a pena aplicada à
infração praticada não for de prisão ou se for, que esta não As medidas assecuratórias visam a garantir o ressar-
seja superior a seis meses, de acordo com o artigo 321 do cimento pecuniário da vítima em face do delito ocorrido,
Código de Processo Penal; se o agente praticou o crime além de obstar o enriquecimento ilícito do infrator. Servem
acobertado por uma das excludentes da ilicitude previstas também para o pagamento de custas e de eventual multa
no artigo 23 do Código Penal Brasileiro, mesmo sendo o que vier a ser aplicada.
crime inafiançável, como prevê o artigo 310 do Código de Trata-se de processos incidentes, que devem ser pro-
Processo Penal; e por finalmente se o juiz verificar a ausên- cessados em apartado pelo juízo criminal.
cia dos requisitos da Prisão Preventiva, em qualquer crime.
A Liberdade concedida com o pagamento de fiança,
como dito anteriormente, é a liberdade concedida ao réu
mediante o pagamento de uma caução em dinheiro como
uma garantia de que este irá cumprir com suas obrigações
processuais.
A Constituição Federal, dispõe em seu texto os crimes
inafiançáveis existentes no nosso ordenamento jurídico,
são eles: os crimes de Racismo, Ação de Grupos Terroris-
tas Armados e os Crimes Hediondos. Contudo, o Código
Processual Penal, diz serem inafiançáveis os crimes punidos
com reclusão e com pena mínima superior a dois anos.
Frise-se que não será concedida fiança se o réu for re-
incidente em crime doloso; se em qualquer caso, for ocio-
so; nos crimes punidos com reclusão, que provoquem cla-
mor público ou que tenham sido cometidos com violência
ou grave ameaça contra a pessoa.

18
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Sequestro de Bens Imóveis Hipoteca Legal


Pode ser determinado tanto no IP quanto no curso do Medida assecuratória que recai apenas sobre imóveis
processo, desde que antes do trânsito em julgado da de- de origem lícita. Sua decretação só é cabível durante o
cisão condenatória. Recai sobre bens imóveis adquiridos processo, nunca durante o IP, tendo o fito de viabilizar a
pelo indivíduo ou acusado com os proventos da infração, reparação do dano causado pelo crime. Ela possui natureza
ainda que já tenham sido transferidos a terceiros (art. 125, cautelar, visando à reparação do dano. Indeferido o pedido
CPP). de hipoteca, cabe apelação.
Para a decretação do sequestro, bastará a existência de A especificação de bens para hipoteca legal é medi-
indicios veementes da proveniênia ilícita dos bens. da cautelar destinada a onerar apenas bem de natureza
A ordem de sequestro deve ser proferida de ofício ou imóvel do agente com o fim de assegurar a reparação do
a requerimento do MP ou do ofendido. Após o sequestro, dano, das despesas processuais e da pena pecuniária; pode
deve o fato ser averbado no Registro de Imóveis. Contra ser proposta – perante o Juízo Criminal – pelo Ministério
a decisão que determina o sequestro cabem EMBARGOS, Público ou pela vítima depois de instaurado o processo e
mediante os seguintes fundamentos: envolve a estimação da responsabilidade patrimonial e a
avaliação do bem, e objetiva a decisão ordenando o re-
a) Não terem os bens sido adquiridos com os pro- gistro na matrícula ou transcrição do imóvel, da hipoteca;
ventos da infração; essa decisão – que perde eficácia no caso de absolvição ou
b) Tê-los adquiridos de boa-fé o terceiro a quem haja extinção da punibilidade – pode ser objeto de apelação.
sido tranferido os bens. São requisitos necessários para a concessão de hipo-
Da decisão que concede ou nega o pedido de seques- teca legal: a certeza da infração e indícios suficientes de
tro cabe apelação. O sequestro não subsiste se (será levan- autoria (CPP, art. 134). A materialidade do crime deve estar
tado): demonstrada. Quanto à autoria, bastam indícios suficientes
c) A ação criminal não for intentada em 60 (sessenta) que apontem o acusado como autor do fato. Inexistindo
dias; nos autos provas concretas de que o erário tenha sido in-
d) Se o terceiro prestar caução idônea;
tegralmente ressarcido, não há que se falar em perda do
e) Se houver sentença absolutória ou extintiva da pu-
objeto.
nibilidade.
Arresto de Bens Móveis
Modalidade Especial de Sequestro: Lesão à Fazenda
Ocorre quando o acusado não dispõe de imóveis su-
Pública
ficientes para garantir a indenização, razão pela qual ele é
O Decreto-Lei nº 3.240/41 sujeita a sequestro os bens
subsidiário e complementar ao sequestro. Recai sobre bens
de pessoas indiciadas por crimes de que resulta prejuízo
móveis lícitos do acusado, somente podendo ser decretado
para a fazenda pública. Mister lê-lo para concursos fede-
rais. se houver prova do crime e indícios de autoria.

Sequestro de Bens Móveis Arresto de Bens Imóveis


Cabível somente quando o bem for provento do cri- É medida preventiva que recai sobre bens imóveis de
me (adquirido com o produto do crime), não produto, já origem lícita, a serem submetidos, posteriormente, à hipo-
que neste caso deve ocorrer a apreensão e confisco. Contra teca legal. Caso não seja promovido o procedimento de
essa medida assecuratória é cabível apelação. especialização da hipoteca no prazo de 15 dias, o arresto
será revogado.
Da decisão que decreta ou denega o arresto de bens
móveis e imóveis não cabe recurso específico, sendo
plausível admitir mandado de segurança como sucedâ-
neo recursal.

Medidas Assecuratórias e Habeas Corpus


A ordem de busca e apreensão empreendida na hipó-
tese foi determinada em procedimento administrativo ins-
taurado para apurar a prática de diversos ilícitos (lavagem
de dinheiro e crimes contra a ordem tributária e contra o
sistema financeiro).

Alienação Antecipada de Bens Objeto de Medidas As-


securatórias (art. 144-A)
Art. 144-A.O juiz determinará a alienação antecipada
para preservação do valor dos bens sempre que estiverem
sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação,
ou quando houver dificuldade para sua manutenção.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

§ 1°O leilão far-se-á preferencialmente por meio ele- No Brasil, o trânsito em julgado de uma sentença con-
trônico. denatória pode demorar às vezes 10 anos ou até mais. Nes-
§ 2°Os bens deverão ser vendidos pelo valor fixado na se período, os bens que foram objeto de medidas assecu-
avaliação judicial ou por valor maior. Não alcançado o valor ratórias ficam perecendo e, ao final do processo, não valem
estipulado pela administração judicial, será realizado novo nada ou têm seu valor reduzido absurdamente. Tome-se
leilão, em até 10 (dez) dias contados da realização do pri- como exemplo um automóvel que seja apreendido. Este
meiro, podendo os bens ser alienados por valor não inferior veículo, ao final do processo, ou seja, ao longo de 10 anos
a 80% (oitenta por cento) do estipulado na avaliação judi- em que ficou sem manutenção, valerá muito pouco.
cial. A solução que tem sido defendida pelos estudiosos
§ 3°O produto da alienação ficará depositado em conta para esses casos, sendo, inclusive, recomendada pelo Con-
vinculada ao juízo até a decisão final do processo, proce- selho Nacional de Justiça (Recomendação nº 30/2010), é a
dendo-se à sua conversão em renda para a União, Estado alienação antecipada dos bens.
ou Distrito Federal, no caso de condenação, ou, no caso de
absolvição, à sua devolução ao acusado. A alienação antecipada é
§ 4°Quando a indisponibilidade recair sobre dinheiro, - a venda,
inclusive moeda estrangeira, títulos, valores mobiliários ou - por meio de leilão,
cheques emitidos como ordem de pagamento, o juízo de- - antes do trânsito em julgado da ação penal,
terminará a conversão do numerário apreendido em moeda - dos bens que foram objeto de medidas assecurató-
nacional corrente e o depósito das correspondentes quan- rias e
tias em conta judicial. - que estão sujeitos a qualquer grau de deterioração
§ 5°No caso da alienação de veículos, embarcações ou ou depreciação,
aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou ao - ou quando houver dificuldade para sua manutenção.
equivalente órgão de registro e controle a expedição de Forma pela qual os bens serão alienados antecipada-
certificado de registro e licenciamento em favor do arrema- mente:
tante, ficando este livre do pagamento de multas, encargos Por intermédio de leilão, realizado preferencialmente
e tributos anteriores, sem prejuízo de execução fiscal em por meio eletrônico.
relação ao antigo proprietário. Valor pelo qual os bens deverão ser vendidos:
§ 6°O valor dos títulos da dívida pública, das ações das Os bens deverão ser vendidos pelo valor fixado na ava-
sociedades e dos títulos de crédito negociáveis em bolsa liação judicial ou por valor maior.
será o da cotação oficial do dia, provada por certidão ou Não alcançado o valor estipulado pela administração
publicação no órgão oficial. judicial, será realizado novo leilão, em até 10 (dez) dias
O combate a determinados tipos de criminalidade, como contados da realização do primeiro, podendo os bens ser
o tráfico de drogas, o crime organizado, os crimes contra a alienados por valor não inferior a 80% (oitenta por cento)
ordem tributária, os crimes contra o sistema financeiro, os cri- do estipulado na avaliação judicial.
mes contra a administração pública e outros delitos que ge- Desse modo, na primeira tentativa de alienação, os
ram para seus autores lucros financeiros, somente pode ser bens são vendidos pelo preço mínimo da avaliação judicial.
feito de forma eficaz se houver medidas estatais que persi- Se não conseguir nenhuma proposta nesse valor na pri-
gam o produto e os proveitos decorrentes desses crimes. meira vez, deverá ser realizado um segundo leilão. Nesse
O objetivo, portanto, é o de privar as pessoas dedicadas segundo leilão, os bens podem ser vendidos pelo preço
a certos crimes do produto de suas atividades criminosas e, mínimo de 80% da avaliação judicial.
assim, eliminar o principal incentivo a essa atividade. O que acontece com o recurso arrecadado com a alie-
A experiência mostra que, mesmo a prisão cautelar, sem nação antecipada?
a indisponibilidade dos bens, é de pouca utilidade nesse A quantia apurada com a alienação antecipada fica de-
tipo de criminalidade porque a organização criminosa con- positada em conta judicial, até o final da ação penal. Se o
tinua atuando. Os líderes, mesmo presos, comandam as réu for absolvido, os recursos serão devolvidos a ele.
atividades de dentro das unidades prisionais ou então a or- Em caso de condenação, o réu será privado definitiva-
ganização escolhe substitutos que continuam a praticar os mente dessa quantia, cujo destino irá variar de acordo com
mesmos delitos, considerando que ainda detêm os recursos o crime cometido:
financeiros para a prática criminosa. a) Se o crime é de competência da Justiça Federal, o
Desse modo, é indispensável que sejam tomadas me- valor deverá ser convertido em renda para a União;
didas para garantir a indisponibilidade dos bens e valores b) Se o crime é de competência da Justiça Estadual, o
pertences ao criminoso ou à organização criminosa, ainda valor deverá ser convertido em renda para o Estado/DF.
que estejam em nome de interpostas pessoas, vulgarmente c) Na hipótese de tráfico de drogas, a quantia arreca-
conhecidas como “laranjas”. dada será destinada ao Fundo Nacional Antidrogas (art. 62,
Ocorre que, após tornar indisponíveis os bens dos in- § 9º, da Lei nº 11.343/2006).
vestigados, acusados ou interpostas pessoas, surge um pro- Se os bens a serem alienados forem veículos, embarca-
blema prático para o Poder Público: o que fazer com tais ções ou aeronaves:
bens enquanto não ocorre o trânsito em julgado de uma O juiz ordenará à autoridade de trânsito ou ao equi-
sentença condenatória, quando então haveria o perdimen- valente órgão de registro e controle a expedição de certi-
to desses bens em favor da União? ficado de registro e licenciamento em favor do arrematan-

20
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

te, ficando este livre do pagamento de multas, encargos Art. 243.O mandado de busca deverá:
e tributos anteriores, sem prejuízo de execução fiscal em I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que
relação ao antigo proprietário. Isso, evidentemente, busca será realizada a diligência e o nome do respectivo proprie-
incentivar o sucesso do leilão, liberando o arrematante de tário ou morador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da
qualquer ônus que sobre o bem pendia. pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem;
Se os bens apreendidos forem dinheiro (inclusive moe- II - mencionar o motivo e os fins da diligência;
da estrangeira), títulos, valores mobiliários ou cheques: III - ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autori-
O juízo determinará a conversão do numerário apreen- dade que o fizer expedir.
dido em moeda nacional corrente e o depósito das corres- §  1oSe houver ordem de prisão, constará do próprio
pondentes quantias em conta judicial. texto do mandado de busca.
O valor dos títulos da dívida pública, das ações das so- § 2oNão será permitida a apreensão de documento em
ciedades e dos títulos de crédito negociáveis em bolsa será poder do defensor do acusado, salvo quando constituir
o da cotação oficial do dia, provada por certidão ou publi- elemento do corpo de delito.
cação no órgão oficial. Art. 244.A busca pessoal independerá de mandado, no
caso de prisão ou quando houver fundada suspeita de que
O devido processo legal não é afrontado, consideran- a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos
do que a constrição sobre os bens da pessoa não é feita ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a
de forma arbitrária, sendo, ao contrário, prevista na lei que medida for determinada no curso de busca domiciliar.
traz os balizamentos para que ela possa ocorrer. Art.  245.As buscas domiciliares serão executadas de
Não há violação ao princípio da presunção de inocên- dia, salvo se o morador consentir que se realizem à noite,
cia, considerando que este não é absoluto e não impede a e, antes de penetrarem na casa, os executores mostrarão
decretação de medidas cautelares contra o réu desde que e lerão o mandado ao morador, ou a quem o represente,
se revelem necessárias e proporcionais no caso concreto. intimando-o, em seguida, a abrir a porta.
Nesse mesmo sentido, não é inconstitucional a prisão pre- § 1oSe a própria autoridade der a busca, declarará pre-
ventiva, o arresto, o sequestro, a busca e apreensão etc. viamente sua qualidade e o objeto da diligência.
O direito de propriedade, que também não é absoluto, § 2oEm caso de desobediência, será arrombada a porta
não é vilipendiado porque o réu somente irá perder efeti- e forçada a entrada.
vamente o valor econômico do bem se houver o trânsito § 3oRecalcitrando o morador, será permitido o empre-
em julgado da condenação. go de força contra coisas existentes no interior da casa,
para o descobrimento do que se procura.
CAPÍTULO XI § 4oObservar-se-á o disposto nos §§ 2o e 3o, quando ausen-
DA BUSCA E DA APREENSÃO tes os moradores, devendo, neste caso, ser intimado a assistir à
diligência qualquer vizinho, se houver e estiver presente.
Art. 240.A busca será domiciliar ou pessoal. § 5oSe é determinada a pessoa ou coisa que se vai pro-
§ 1oProceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas curar, o morador será intimado a mostrá-la.
razões a autorizarem, para: § 6oDescoberta a pessoa ou coisa que se procura, será
a) prender criminosos; imediatamente apreendida e posta sob custódia da autori-
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios cri- dade ou de seus agentes.
minosos; § 7oFinda a diligência, os executores lavrarão auto cir-
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contra- cunstanciado, assinando-o com duas testemunhas presen-
fação e objetos falsificados ou contrafeitos; ciais, sem prejuízo do disposto no § 4o.
d) apreender armas e munições, instrumentos utiliza- Art. 246.Aplicar-se-á também o disposto no artigo an-
dos na prática de crime ou destinados a fim delituoso; terior, quando se tiver de proceder a busca em compar-
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou timento habitado ou em aposento ocupado de habitação
à defesa do réu; coletiva ou em compartimento não aberto ao público,
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acu- onde alguém exercer profissão ou atividade.
sado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o co- Art. 247.Não sendo encontrada a pessoa ou coisa
nhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação procurada, os motivos da diligência serão comunicados a
do fato; quem tiver sofrido a busca, se o requerer.
g) apreender pessoas vítimas de crimes; Art. 248.Em casa habitada, a busca será feita de modo
h) colher qualquer elemento de convicção. que não moleste os moradores mais do que o indispensá-
§ 2oProceder-se-á à busca pessoal quando houver fun- vel para o êxito da diligência.
dada suspeita de que alguém oculte consigo arma proibida Art. 249.A busca em mulher será feita por outra mulher,
ou objetos mencionados nas letras b a f e letra h do pará- se não importar retardamento ou prejuízo da diligência.
grafo anterior. Art. 250.A autoridade ou seus agentes poderão pene-
Art. 241.Quando a própria autoridade policial ou judi- trar no território de jurisdição alheia, ainda que de outro
ciária não a realizar pessoalmente, a busca domiciliar deve- Estado, quando, para o fim de apreensão, forem no segui-
rá ser precedida da expedição de mandado. mento de pessoa ou coisa, devendo apresentar-se à com-
Art. 242.A busca poderá ser determinada de ofício ou a petente autoridade local, antes da diligência ou após, con-
requerimento de qualquer das partes. forme a urgência desta.

21
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

§  1oEntender-se-á que a autoridade ou seus agentes Contudo, a atividade probatória deve restringir-se aos
vão em seguimento da pessoa ou coisa, quando: fatos relevantes, aqueles que são pertinentes e úteis ao jul-
a) tendo conhecimento direto de sua remoção ou gamento da ação penal. Observe-se portanto que, que exis-
transporte, a seguirem sem interrupção, embora depois a te um critério para a produção de provas numa ação penal.
percam de vista;
b) ainda que não a tenham avistado, mas sabendo, por Desnecessidade da prova
informações fidedignas ou circunstâncias indiciárias, que De acordo com a redação do art. 400, § 1o, CPP diz que
está sendo removida ou transportada em determinada di- o juiz poderá “indeferir (as provas) consideradas irrelevan-
reção, forem ao seu encalço. tes, impertinentes ou protelatórias”.
§  2oSe as autoridades locais tiverem fundadas razões Temos, então, que será o juiz quem estabelecerá o que
para duvidar da legitimidade das pessoas que, nas referidas deve ser provado, de acordo com o que julgar relevante
diligências, entrarem pelos seus distritos, ou da legalidade para a formação do seu convencimento.
dos mandados que apresentarem, poderão exigir as pro- Entretanto, existe a desnecessidade de se provar al-
vas dessa legitimidade, mas de modo que não se frustre a guns fatos, quais sejam: os evidentes, os notórios e as pre-
diligência. sunções legais.
Evidentes são os fatos que prescindem de prova para
serem tidos como verdadeiros. São fatos incontroversos,
evidentes por si mesmos, intuitivos, axiomáticos.
DA PROVA. Notórios são fatos que também prescindem de prova.
São os acontecimentos ou situações de conhecimento ge-
ral, como as datas histórias, os fatos políticos ou sociais de
conhecimento público – ou seja, fatos que pertencem ao
Prova, é o ato ou o complexo de atos que visam a es- patrimônio cultural do cidadão médio.
tabelecer a veracidade de um fato ou da prática de um ato Já as presunções legais são os fatos presumidos verda-
tendo como finalidade a formação da convicção da enti- deiros pela própria lei, que podem ser duas ordens: abso-
dade decidente - juiz ou tribunal - acerca da existência ou luta e relativa. A presunção absoluta (“juris et de jure”) não
inexistência de determinada situação factual. Em regra, é admite fato em contrário. Exemplo disso é o art. 27, CP que
produzida na fase judicial com a participação dialética das diz que menor de 18 anos é inimputável. Já a presunção
partes (contraditório real e ampla defesa que são elabora- relativa (“juris tantum”) admite prova em contrário, como
dos perante o juiz). no caso do art. 217-A, CP que diz que a vulnerabilidade do
menor de 14 anos é relativa. Essa flexibilidade justifica-se
Destarte a prova é o elemento fundamental para a de-
diante da possibilidade de se prejudicar o réu.
cisão de uma lide. Tem como objeto fato jurídico relevante,
isto é, aquele que possa influenciar no julgamento do feito.
Ônus da prova
Assim, não é qualquer fato que carece ser provado, mas
De acordo com a primeira parte do art. 156, CPP o ônus
sim, aquele que, no processo penal, possa influenciar na ti-
da prova é a prova da alegação por quem a fizer. Cabe ao
pificação do fato delituoso ou na exclusão de culpabilidade
ou de antijuridicidade. autor da ação penal (MP ou querelante) o exercício da
Convém lembrar, ainda, que o objeto da prova é fato atividade probatória principal. Incumbe-lhe demonstrar a
e não opinião, muito embora, em alguns casos (especial- existência dos fatos constitutivos afirmados na pretensão,
mente quando se trata de dosar a pena) a opinião da tes- devendo provar a existência do ilícito penal e sua autoria.
temunha pode ter relevo para a fixação da pena quando Por outro lado, sobre o acusado só recai o ônus de
ela afirma, por exemplo, que o réu é honesto, trabalhador provas o álibi que apresentar. Contudo, se apresentar fatos
e bom pai de família. impeditivos, modificativos ou extintivos, relacionados com
a pretensão acusatória, ele será obrigado a prová-los. Nes-
Objeto de prova se caso, inverte-se o ônus da prova. Exemplo: alegação de
Tem a prova um objeto, que são os fatos da causa. O legítima defesa.
objeto da prova consiste nos fatos cuja evidenciação se tor- Segundo o princípio da comunhão da prova, quando a
ne imprescindível, no processo, para o juiz convencer-se de prova ingressa no processo deixa de ser exclusiva da parte
sua veracidade. Em outras palavras, objeto da prova é o que a produziu. O juiz examina todo o contexto da prova
fato ilícito alegado na peça acusatória. podendo inclusive valorá-la de modo prejudicial a quem a
Em toda ação penal, deve-se provar dois pontos cru- apresentou. Ou seja, a utilização das provas por qualquer
ciais, a saber: a materialidade e a autoria do fato criminoso. das partes é de ser plenamente aceita, independentemente
Além disso, é preciso dar conhecimento ao juiz de todas de quem a tenha produzido, porque interessa ao juiz des-
as circunstâncias objetivas (aspectos externos do crime) e cobrir a verdade.
subjetivas (motivos do crime e aspectos pessoais do agen- Já na segunda parte e incisos do art. 156, CPP é fa-
te) que possam determinar a certeza de sua convicção so- cultado ao juiz, de ofício, ordenar a produção de provas
bre a responsabilidade criminal. As circunstâncias que cer- e determinar a realização de diligências. Vê-se aqui que o
cam o caso concreto devem ser provadas, ainda, em razão juiz tem poderes para influir na produção de provas unila-
de serem relevantes no momento de fixação da pena. teralmente.

22
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

No inciso I identificamos os poderes inquisitórios, que Admissibilidade das provas, que é o deferimento ju-
permitem ao juiz influir livremente nas provas. O legisla- dicial dos requerimentos formulados pelas partes, ou seja,
dor permitiu ao juiz ordenar a produção de provas antes quando o juiz estabelece quais provas serão apresentadas
do oferecimento da denúncia e, ao fazer isso, o magistra- ou não (no processo civil é o despacho saneador).
do substitui a autoridade policial ou o promotor (MP) – e Produção da prova, que, em regra, se dá na audiência
isso fere o princípio da imparcialidade do juiz. Esse é um de instrução e julgamento, na qual todos os sujeitos parti-
dispositivo amplamente criticado. (Crítica: o ato unilateral cipam. Nesse momento, serão tomadas as declarações do
(sem provocação) do juiz pode ser considerado parcial, na ofendido, haverá o interrogatório do acusado, inquirição das
prática?) testemunhas arroladas, esclarecimentos dos peritos etc.
No inciso II identificamos os poderes instrutórios, Valoração da prova, que significa dizer que o julgador,
onde o juiz pode interferir na prova para resolver ponto ao fundamentar a sentença, deve manifestar-se sobre to-
das as provas produzidas.
relevantes, independente de requerimento das partes.
Vale dizer que, havendo recurso, a prova será sempre
Esse dispositivo está relacionado à instrução do processo
substancial, i.e., será reavaliada.
e é plenamente aceito. O inciso II está intimamente ligado
com o descobrimento da verdade, uma vez que o juizpode Os Meios de Prova
solicitar a produção de provas para formação do seu con- Desde o princípio desse debate vale a ressalva: meio de
vencimento. prova é diferente de objeto de prova. Meio de prova pode
ser todo fato, documento ou alegação que sirva, direta
Princípio do juiz natural ou indiretamente, ao descobrimento da verdade. Ou seja,
No art. 5º, LIII, CF tem-se que “ninguém será processa- meio de prova é todo instrumento que se destina a levar
do nem sentenciado senão pela autoridade competente”. ao processo um elemento, uma informação a ser utilizada
Em seu inciso XXXVII, tem-se que “não haverá juízo ou tri- pelo juiz para formar a sua convicção acerca das alegações.
bunal de exceção”.
Esse princípios constitucionais relacionam-se com a Prova pericial
produção de provas, conforme veremos a seguir. No Código de Processo Penal a prova pericial é tratada
O art. 399, §2o, CPP dita que “o juiz que presidiu a nos arts. 158 usque 184.
instrução deverá proferir a sentença”,evidenciando a apli- A perícia é a diligência realizada ou executada por peri-
cação princípio da identidade física do juiz. to, a fim de esclarecer ou evidenciar certos fatos, de forma
científica e técnica. Perito é aquele que tem conhecimento
técnico sobre determinada área e sua função é a da verifi-
No processo civil, o art. 132, CPC dita que, caso o juiz
cação da verdade ou da realidade de certos fatos.
não possa julgar a lide (por motivos como aposentadoria,
No processo penal, a perícia é, via de regra, realizada
afastamento ou convocação), os autos passarão para o seu por perito oficial, ligado ao Estado, sendo que cada estado
sucessos. Ocorre que o CPP silencia quanto a essa questão. da federação possui seu próprio instituto de criminalística.
Assim, valendo-nos do seu art. 3o, é possível que aplique- O perito é um auxiliar da justiça, não está subordinado a
-se as disposições do art. 132, CPC. autoridade policia, estando sua autonomia garantida.
A Lei 8.038/90 estabelece os procedimentos nos casos Conforme o art. 184, CPP a prova pericial cabe somente
em que uma pessoa é processada nos casos de compe- quando for útil para o descobrimento da verdade.
tência originária do STF ou STJ. Em seu art. 3o, III temos a No art. 159, CPP temos que o laudo pode ser subscrito
exceção ao princípio da identidade física do juiz a medi- por apenas um perito. A conclusão do perito pode ou não
da que juízes e desembargadores serão convocados para ser subjetiva. (Ex: perícia psicológica x perícia toxicológica)
auxiliar na coleta de provas. Portanto, a lei autoriza essa A defesa pode formular quesitos ao perito. No proces-
exceção ao princípio da identidade física do juiz. so penal, isso não é comum porque geralmente a perícia
é realizada logo depois do acontecimento do crime. Por-
Momentos probatórios tanto, essa perícia pode ser questionada em juízo porque
Para podermos adentrar a discussão acerca dos mo- à época de sua realização não havia defensor constituído.
mentos probatórios, é necessário que façamos as seguin- Isso é o que se chama de contraditório diferido (posterga-
tes considerações iniciais: as provas só podem ser produzi- do, transferido).
De acordo com o art. 5o, LVIII, CF o criminoso “civil-
das no processo, que é quando haverá o contraditório. São
mente identificado não será submetido a identificação cri-
sujeitos processuais principais no processo penal a acusa-
minal”. A Lei 12.037/09, em seus arts. 2o, 3o e 5o apresenta
ção (MP ou querelante), defesa (réu e defensor) e o juiz. esclarecimentos e requisitos quando a identificação do cri-
minoso.
Compreendido isso, são 4 os momentos para produ- A realização do exame de DNA (ácido desoxirribonu-
ção de provas: cléico) também é um meio eficaz de identificação do cri-
Propositura da prova, que se dá na fase postulatória. minoso. O DNA constitui parte dos cromossomos, sendo
Para a acusação, isso dar-se-á na peça acusatória (denúncia encontrado no núcleo das células dos seres vivos. São
ou queixa-crime), enquanto que para o acusado, será na transmitidos de geração em geração, sendo 50% do pai e
sua resposta, na sua defesa. 50% da mãe.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Na realização do exame de DNA temos a prova invasiva Exumação


e a prova não invasiva. A primeira é aquela que necessita Com previsão no art. 163, CPP, a exumação tem como
de intervenção no organismo humano. A segunda é aque- objeto da prova o cadáver já sepultado. A exumação só
la onde não há necessidade de se penetrar no organismo pode ser feita mediante autorização judicial e em dois ca-
humano. sos: a) caso deva ter sido realizado o exame necroscópi-
Para a produção da prova invasiva é absolutamente co e não foi, gerando, depois do sepultamento, dúvidas a
necessária a obtenção do consentimento. Na produção da respeito da causa da morte; e b) casos que coloquem em
prova não invasiva não depende do contato físico. É o juiz duvida o laudo necroscópico.
que decide a validade da prova não invasiva. (ex.: fio de
cabelo, saliva no copo) Prova documental
Documento é todo objeto material que condense em
Exame de corpo de delito si a manifestação de um pensamento ou fato a ser repro-
Em relação aos crimes que deixarem vestígios, será in- duzido em juízo. Considera-se objeto material todo ma-
dispensável a realização do exame de corpo de delito (art. terial visual, auditivo, audiovisual, bem como o registrado
158, CPP) em meios mecânicos óticos ou magnéticos de armazena-
Corpo de delito é o conjunto dos vestígios que caracte- mento.
rizam a existência do crime. Não se confunde corpo de de- A prova documental está disciplinada no CPP nos arts.
lito com o exame das lesões da vitima. O primeiro é gênero 231 usque 238.
do qual o segundo é espécie.
O exame de corpo de delito envolve inclusive o proces- Documento eletrônico
samento da cena do crime e pode ser tanto direto (art. 161) Consiste em uma seqüência de bytes, e em determina-
quanto indireto (art. 167, CPP). do programa de computador se torna a representação de
A materialidade dos fatos muitas vezes deve ser com- um fato. Os crimes que são praticados por meio da internet
provada por meio de exame pericial. Nesse sentido, po- ou por outros meios cibernéticos têm conseqüências no
demos ter 3 situações: exame de lesões corporais, exame que dizem respeitos à provas.
necroscópico e exumação. Analisaremos cada uma dessas Um dos meios para combater esse tipo de ilícito penal
situações a seguir. é recrutar os crackers para trabalharem a favor da polícia.
Importante ressaltar a distinção entre os hackers e os
Exame de lesões corporais crackers: os primeiros ultrapassam barreiras de segurança
Esse é um meio de prova relacionado a um tipo penal
para se gabar, enquanto que os segundos invadem siste-
(lesão corporal, art. 129, CP), que visa estabelecer a natu-
mas para causarem prejuízo, visando lucro.
reza da gravidade da lesão provocada na vitima. O proce-
dimento (art. 394, CPP) depende da gravidade da lesão, e,
Sigilo telemático
portanto, da pena. Contudo, temos duas exceções a aplica-
É um mecanismo de proteção do usuário do aparelho,
ção desse exame.
o que gera certa dificuldade para obter informações e mui-
A primeira refere-se ao caso de lesão corporal de natu-
tas vezes será necessária autorização judicial para o acesso
reza leve, quando o juízo competente será o JECRIM. Nessa
de dados. Quando se tratar de crime em que a polícia tem
hipótese, o procedimento será sumaríssimo, que é célere e
informal. Assim, não será exigido o exame de lesões cor- o dever e a obrigação de apurar, tem-se as delegacias que
porais. A lei 9.099, art. 77, §1o diz que essa prova pode ser estão incumbidas de investigar crimes cibernéticos
substituída pelo boletim medico ou prova equivalente.
A segunda exceção trata dos crimes domésticos, so- Ata notarial
bretudo os praticados contra a mulher, que estão disci- Constatação de um fato ou de um ato que é atestada
plinados na Lei 11.340/06. No art. 12, §3o, temos que as pelo tabelião, com fé publica. Feito isso, e apresentado ao
provas podem ser laudos ou prontuários médicos. Isso por- delegado, teremos uma prova pré-constituída e com fé-pú-
que, na prática, o Ministério Público pode atuar exofficio blica. Isso é bom para as provas nos meio eletrônico que
em casos graves. podem ser apagadas instantaneamente. Estamos diante de
uma presunção de verdade relativa, podendo, portanto, ser
Exame necroscópico impugnada. Pode servir como prova tanto na esfera penal
O cadáver aqui é o objeto da prova. Sua finalidade é quanto na esfera civil.
estabelecer a causa mortis (art. 162). Esse exame será rea-
lizado sempre que a morte estiver relacionada a um fato Prova emprestada
criminoso. Do texto do Parágrafo Único do dispositivo ex- Prova emprestada é aquela que é transladada em for-
trai-se que esse exame é desnecessário nos casos de morte ma de documento para um processo penal no qual se dis-
violenta e não haja infração penal a ser apurada (como é cutirá a sua validade e o seu valor probante.
o caso, por exemplo, dos acidentes automobilísticos) ou Geralmente a prova emprestada no processo penal se
quando as lesões externas permitirem precisar a causa relaciona com depoimento de vítima ou uma declaração
mortis. que foi dada em um caso e a testemunha após um tempo
morreu, desapareceu, etc.


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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Do ponto de vista da acusação é interessante que a O número de testemunhas depende do procedimento,


prova seja emprestada de tempo que foi dada, e que seja conforme passaremos a demonstrar.
encarada como uma prova testemunhal, de inteiro teor, e No procedimento ordinário (art. 394, CPP), é possível
não apenas como um documento. Do ponto de vista da arrolar até 8 testemunhas (art. 401, caput, CPP). No pro-
defesa, o que se alega é que o princípio da ampla defesa cedimento comum sumário, podem ser arroladas até 5
não foi respeitado pois se caso o réu morreu, não teve tem- testemunhas (art. 532, CPP). Já no procedimento comum
po de contestar, ou caso de testemunha desaparecida, que sumaríssimo, não há referência expressa. O art. 81 da Lei
não houve possibilidade de perguntas da defesa para tal. 9.099 diz que pode-se arrolar de 3 a 5 testemunhas.
São requisitos para a utilização da prova emprestada: Para entendermos a questão das testemunhas no Tri-
a) que no processo anterior tenha sido respeitado o prin- bunal do Júri, é preciso entender seu procedimento bifási-
cípio do contraditório;
b) que a prova no processo anterior co. Na primeira fase se encerra por meio de uma decisão,
tenha sido produzida pelo juiz natural; e c) que o réu tenha que pode ser: decisão de absolvição sumaria, decisão de
comparecido no outro processo. desclassificação, decisão de impronúncia (efeito seme-
lhante ao arquivamento) ou decisão de pronúncia. Caso
Prova oral haja pronúncia, prossegue-se para a próxima fase. Essa
A prova oral, prevista no art. 201, CPP, refere-se princi- segunda fase cuida da preparação do julgamento e do jul-
palmente às declarações do ofendido. gamento em plenário.
Os sujeitos processuais podem ser principais ou secun- Superada a explicação, temos o seguinte: na primeira
dários. Os principais são o Ministério Público, o querelante, fase os atos seguem a sequência do procedimento comum
o réu e o juiz. Os secundários são a testemunha, o perito e ordinário, ou seja, até 8 testemunhas podem ser arroladas
o escrivão. O ofendido é tradicionalmente esquecido. (art. 406, §2o e 3o, CPP). Na segunda fase podem ser arro-
Com a Lei 9.099/95, o Estado passa a olhar para a vítima ladas até 5 testemunhas (art. 422, CPP).
de modo distinto. Essa lei trata do procedimento sumarís- A Lei 11.3434, em seu art. 34, trata do tráfico de dro-
simo, que tem como característica principal o surgimento gas. Esse crime admite procedimento especial, podendo
da transação penal entre o autor do fato e o ofendido para arrolar até 5 testemunhas, com previsão no art. 54, III, e
que seja tentado ao menos a auto composição das partes. 55, §1o.
Em 2008 o legislador altera o art. 201, CPP. A partir dai, o Por fim, nos casos complexos o juiz pode intervir para
ofendido é o sujeito passivo da infração penal. que sejam arroladas mais do que 8 testemunhas. As teste-
munhas excedentes são inquiridas como testemunhas do
A oitiva da vítima na ação penal não é obrigatória. Se juízo.
a vítima for intimada a comparecer em juízo e não o fizer,
poderá ser conduzida à presença da autoridade. A vítima A desobrigação de testemunhar
não presta o compromisso de dizer a verdade. Parte-se do Em princípio, toda pessoa pode ser testemunha, até
princípio que a vítima está dizendo a verdade porque tem mesmo um menor. Porém, uma vez que a testemunha é
interesse na sentença condenatória e numa eventual repa- intimada a depor, esta não pode deixar de depor, sob pena
ração do dano. de ser conduzida coercitivamente, ou até mesmo de res-
Quanto se tratar do querelante, ele estará obrigado ponder criminalmente por desobediência.
com a verdade. Caso contrário, poderá responder pelo cri- Existem alguma pessoas que se tornam desobrigadas,
me de denunciação caluniosa. pela lei, a prestar o testemunho, segundo disposição dos
arts. 206 e 208, CPP. Se o juiz, mesmo assim, quiser ouvir
Prova testemunhal as declarações desta pessoa, tal testemunha não estará
Testemunha é a pessoa que atesta a veracidade de um obrigada em prestar compromisso com a verdade. Neste
fato. Portanto, a testemunha presta o compromisso de di- caso, será ouvida na condição de informante.
De acordo
zer a verdade (art. 203, CPP). com o art. 207, serão proibidas de depor aquelas que em
Uma das mais inseguras do processo, a prova teste- razão de função, ofício ou profissão devam guardar segre-
munhal está prevista no CPP nos arts. 202 usque 255. Do do, salvo se desobrigadas pela parte interessada, quiserem
ponto de vista quantitativo, é uma prova interessante. Do prestar testemunho.
ponto de vista qualitativo, não.
Diz-se isso porque a testemunha pode não se lembrar Interrogatório
com exatidão dos fatos. Ou então, aliada ao critério subjetivo Quando tratamos de interrogatório como meio de
das convicções pessoais da vítima, pode influenciar no de- prova, é importante observar que três correntes se forma-
poimento da testemunha. Ainda, há também o temor da tes- ram.
temunha sofrer repressões em virtude de suas declarações. A primeira corrente, no princípio, entendia como o in-
terrogatório sendo um meio de prova. A segunda, por sua
O número de testemunhas vez, dizia que o interrogatório era um meio de defesa. Já a
O nosso sistema processual penal é regido por proce- terceira e mais aceita corrente afirma que o interrogatório
dimento. Dependendo do crime, ele deve obedecer deter- é predominantemente um meio de defesa, mas não deixa
minado procedimento, podendo arrolar ou não testemu- de ser um meio de prova, pois o juiz pode levar em conta
nhas, tendo que obedecer ao número permitido. o que o réu está falando para formular a sua convicção.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Ressalte-se que o interrogatório é um ato pessoal do Indícios


juiz, não podendo delegar para qualquer outra pessoa. Disciplinados no art. 239, CPP, os indícios não são con-
Além disso, deve ser realizado na presença de um defensor, siderados como provas diretas, mas sim fazem parte do
inclusive no JECRIM, sob pena de nulidade, e cada réu tem contexto de prova indireta (ou prova circunstancial).
que ser ouvido separadamente. Os indícios podem ser utilizados para efeitos de forma-
No tocante ao procedimento, o art. 400, CPP dita que o ção do convencimento do juiz, mas não pode haver conde-
réu será o último a ser interrogado, para que possa ter co- nação apenas com base neles. Essa regra aplica-se apenas
nhecimento de toda as provas produzidas contra ele. Já no ao julgador togado, vez que os jurados do Tribunal do Júri
Tribunal do Júri o réu será interrogado duas vezes, a saber: podem convencer-se através de indícios, considerando-os
pela polícia e na plenária. suficientes para condenação.
A realização do interrogatório é obrigatória. Contudo, é Para a utilização de indícios no convencimento do juiz,
previsto o direito de o sujeito interrogado manter-se cala- impõe-se que eles sejam graves, precisos e concordantes
do, vez que ninguém pode ser obrigado a produzir provas com o fato que se quer provar.
contra si mesmo.
Busca e apreensão
Confissão Com previsão legal nos arts. 240 usque 250, CPP, a bus-
Confissão é o ato de reconhecimento, pelo acusado, da ca e apreensão depende de autorização judicial. Trata-se,
imputação que lhe é feita. Alguns doutrinadores entendem em verdade, de uma medida cautelar, sendo considerada
que a confissão é um meio atípico de prova, uma vez que um meio atípico de prova – diz-se, então, que é instrumen-
seria declaração de vontade do réu em sua defesa. to de obtenção da prova.
Na Idade Média, a confissão era considerada a rainha Considerando a previsão constitucional de inviolabili-
das provas (“Regina probatorium”), válida ainda que obtida dade da privacidade, da intimidade, do domicilio, a decre-
por meio de tortura. tação da busca e apreensão é medida só pode ser auto-
De acordo com as disposições do Código de Processo rizada pelo juiz competente e em decisão fundamentada.
Penal a confissão deve ser corroborada por outras provas.
Por se tratar de medida assecuratória (ou cautelar),o
No processo penal não predomina a idéia do fato incontro-
juiz só pode deferi-la se ficar convencido de que naquele
verso, como no processo civil.
caso específico que lhe é apresentado existem elementos
A confissão não supre o exame pericial a medida que é
de que o que está sendo alegado possui verossimilhança e
necessário confirmar a materialidade do delito. O valor da
que há necessidade da urgência (fumus boni juris e pericu-
confissão é o mesmo que das outras provas.
lum in mora).
Na prática, a busca e apreensão pode ser pleiteada
Delação premiada
Esse é um instituto que está ligado ao réu. A delação pelo delegado ao juiz por meio de uma representação. Em
premiada ocorre quando o acusado admite a prática do cri- sua manifestação, o promotor de justiça pode reforçar a
me e delata a participação de outrem ou de outras pessoas, necessidade ou se opor a isso. A busca e apreensão pode
fazendo-o em troca da redução da pena ou até mesmo da ser requerida antes do inquérito, durante a investigação ou
obtenção do perdão judicial.
 no curso da ação penal. Pode ainda ser requerida pela de-
A delação premiada somente pode ser apresentada por fesa, se lhe for interessante.
um co-réu, posto que irá delatar para se beneficiar. Caso A busca e apreensão também pode ser determinada
não tenha benefício será apenas uma testemunha. Não há de ofício pelo juiz, segundo o art. 242, CPP. Contudo, não é
garantia de que co-réu seja beneficiado, pois não existe ne- conveniente que o juiz o faça, vez que isso pode compro-
nhum diploma disciplinando tal instituto.
 meter sua imparcialidade.
Essa delação não tem o mesmo valor que o depoimen- Pode-se buscar e apreender aquilo que estiver previsto
to de testemunha. Isso se explica à medida que as testemu- no art. 240, mas o rol não é taxativo. Tudo que estiver rela-
nhas prestam o compromisso de dizer a verdade, e o co-réu cionado com a elucidação de um crime pode ser objeto de
está numa posição de mero informante, devendo suas ale- busca e apreensão.
gações serem confirmadas. Com base no art. 5o, XI, CF, temos que, mesmo sendo
De acordo com o princípio da obrigatoriedade da ação expedido o mandado de busca e apreensão, a autoridade
penal, o membro do Ministério Público não pode simples- policial não poderá ingressar o domicílio alheio durante
mente alocar o delator como testemunha. Em verdade, deve o período de repouso noturno. Assim, o cumprimento do
admitir o delator como co-réu e, posteriormente, considerar mandado judicial deverá aguardar até a manhã.
sua redução de pena ou perdão judicial por ter colaborado Se no flagrante delito forem apreendidos objetos rela-
com suas importantes declarações. tivos a outros crimes, a jurisprudência diz que a apreensão
será convalidada mesmo sem mandado de busca e apreen-
Instrumentos do crime são específico para isso.
Todos os objetos usados para a consumação do crime Ainda, é possível que haja a busca pessoal como medi-
deverão ser analisados e periciados, com o fim de lhes verifi- da preventiva, como por exemplo a revista da pessoa, sem
car a natureza e a eficiência.
 Além da necessidade de se exa- a exigência de mandado para tanto.
minar o instrumento utilizado na atividade criminosa, deve-se
também elaborar o auto de avaliação (art. 172, CPP)

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

O processo penal possui princípios constitucionais e


DAS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO processuais, vamos a eles:
PROCESSO PENAL. Princípio do Devido Processo Legal (art. 5º, LIV, da CF),
não há privação de liberdade ou perda de bens sem o de-
vido processo legal.
Princípio do Estado ou Presunção de Inocência (art. 5º,
1. DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO LVII, da CF), ninguém será declarado culpado, e não, que
DIREITO PROCESSUAL PENAL todos se presumem inocentes antes do trânsito em julgado
O Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, Có- da sentença penal condenatória.
digo de Processo Penal, foi recepcionado pela Constituição Princípio da Bilateralidade da Audiência ou Contradi-
Federal, e por isso, quando falamos de princípios do proces- tório e Ampla Defesa (CF, art. 5º, V, da CF), supõe conheci-
so penal, devemos observar em primeiro lugar os que estão mento dos atos processuais pelo acusado e seu direito de
contidos na Carta Magna. resposta e de reação.
Para compreendermos bem o processo penal vamos fi- Princípio da Verdade Real, o processo penal busca des-
xar o seguinte: o Estado possui duas funções: vendar como os fatos efetivamente se passaram, não admi-
• Jus puniendi: a competência de impor sanção. O jus tindo ficções e presunções processuais, diferentemente do
puniendi abstrato nasce com a norma penal incriminadora e que ocorre no processo civil.
o jus puniendi concreto, com a prática da conduta; Princípio da Oralidade consagra a preponderância da
• Jus persequend: a legitimidade de estar em juízo, linguagem falada sobre a escrita em relação aos atos des-
reconhecer o direito de punir. Em regra, é dever do Estado, tinados a formar o convencimento do juiz. Decorre desse
e por exceção pode ser do ofendido. princípio a opção pela qual os depoimentos de testemu-
O processo penal está relacionado diretamente com a nhas são prestados oralmente, salvo em casos excepcio-
infração penal, cabendo ao Estado solucionar o conflito pu- nais, em que a forma escrita é expressamente admitida.
niendi versus libertatis. Princípio da Publicidade (art. 5º, LX, e art. 93, IX, da CF),
Sobre o sistema processual penal há três espécies: poder ser geral ou especial, ou seja, para todo ou para as
• Inquisitivo, inquisitório ou judicialiforme: é o siste- partes de um determinado processo.
ma em que cabe a um só órgão acusar e julgar. O juiz dá Princípio da Obrigatoriedade, o promotor não pode
início à ação penal e, ao final, ele mesmo profere a sentença. transigir ou perdoar o autor do crime de ação pública. Caso
É criticado por não garantir a imparcialidade do julgador. entenda, de acordo com sua própria apreciação dos ele-
Era admitido em nossa legislação em relação à apuração de mentos de prova, pois a ele cabe formar a opinio delicti,
todas as contravenções penais e dos crimes de homicídio e que há indícios suficientes de autoria e materialidade de
lesões corporais culposos. Esse sistema foi banido de nossa
crime que se apura mediante ação pública, estará obriga-
legislação pelo art. 129, I, da CF, que conferiu ao Ministério
do a oferecer denúncia, salvo se houver causa impeditiva,
Público a iniciativa exclusiva da ação pública. Observe que
como, por exemplo, a prescrição, hipótese em que deverá
nesse sistema processual, o direito de defesa dos acusados
nem sempre era observado em sua plenitude em razão de requerer o reconhecimento da extinção da punibilidade e,
os seus requerimentos serem julgados pelo próprio órgão por consequência, o arquivamento do feito.
acusador. Princípio da Oficialidade (art. 129, I, da CF), o Ministério
• Acusatório ou contraditório: há separação entre os Púbico Militar é o exclusivo dono da ação penal militar, que
órgãos incumbidos de realizar a acusação e o julgamento, o é sempre pública incondicionada, ressalvada a possibilidade
que garante a imparcialidade do julgador e, por conseguin- da ação privada subsidiária da pública (art. 5º, LIX, da CF).
te, assegura a plenitude de defesa e o tratamento igualitário Princípio da Indisponibilidade do Processo, nos termos
das partes. Considerando que a iniciativa é do órgão acusa- do art. 42, do CPP, o Ministério Público não pode desistir da
dor, o defensor tem sempre o direito de se manifestar por ação por ele proposta. Tampouco pode desistir de recurso
último. A produção das provas é incumbência das partes. que tenha interposto (art. 576, do CPP).
• Misto ou acusatório formal: há uma fase investi- Princípio do Juiz Natural ou Constitucional (art. 5º,
gatória e persecutória preliminar conduzida por um juiz e XXXVII, da CF), não haverá juízo ou tribunal de exceção.
não por autoridade policial, seguida de uma fase acusatória Princípio da Iniciativa das Partes e o Impulso Oficial
em que são assegurados todos os direitos do acusado e a (CPP, art. 251, do CPP), o juiz não pode dar início ao pro-
independência entre acusação, defesa e juiz. Atualmente é cesso sem a provocação da parte legítima. Neste sentido,
adotado em diversos países europeus e sua característica o juiz não pode dar início à ação penal. Antes da promul-
marcante é a existência do Juizado de Instrução, fase preli- gação da Constituição de 1988, existiam os chamados
minar instrutória presidida por juiz. processos judicialiformes em que o magistrado, mediante
No Brasil, o sistema adotado é acusatório, pois há clara portaria, dava início à ação penal para apurar contraven-
separação entre a função acusatória e a julgadora. É preci- ções penais (art. 26 do CPP) e crimes de homicídio ou lesão
so, entretanto, salientar que não se trata do sistema acusa- corporal culposa (art. 1º da Lei n. 4.611/65). É evidente que
tório puro, uma vez que, apesar de a regra ser a de que as esses dispositivos não foram recepcionados pela Constitui-
partes devam produzir suas provas, admitem-se exceções ção, posto que o art. 129, I, da Constituição Federal con-
em que o próprio juiz pode determinar, de ofício, sua pro- feriu ao Ministério Público a titularidade exclusiva para a
dução de forma suplementar. iniciativa da ação nos crimes de ação pública. Nos crimes

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

de ação privada exclusiva não existe previsão específica no Princípio do Duplo Grau de Jurisdição também não
texto constitucional, mas é evidente que o juiz não pode está descrito de forma expressa na Constituição, mas é fa-
dar início à ação neste tipo de delito por absoluta falta de cilmente percebido, posto que a competência recursal dos
legitimidade e interesse de agir. diversos órgãos do Poder Judiciário está contida nos arts.
Princípio do Impulso Oficial ou Ativação da Causa, ape- 102, II e III; 105, II e III; 108, II, e 125, § 1º, da CF. Por este
sar de a iniciativa da ação ser do Ministério Público ou do princípio as partes têm direito a uma nova apreciação, total
ofendido, não é necessário que, ao término de cada fase ou parcial, da causa, por órgão superior do Poder Judiciário.
processual, requeiram que se passe à próxima. Pelo princí- Princípio da Oportunidade ou da Conveniência signifi-
pio do impulso oficial deve o juiz, de ofício, determinar que ca que, ainda que haja provas cabais contra os autores da
se passe à fase seguinte. infração penal, pode o ofendido preferir não os processar.
Princípio da Identidade Física do Juiz, segundo o art. Na ação privada, o ofendido ou seu representante legal de-
399, § 2º, do Código de Processo Penal, o juiz que presidir cide, de acordo com seu livre-arbítrio, se vai ou não ingres-
a audiência deverá proferir a sentença. Tal dispositivo é de sar com a ação penal.
óbvia relevância já que as impressões daquele que colheu Princípio da Intranscendência (art. 5º, XLV, da CF) signi-
pessoalmente a prova são relevantíssimas no processo de- fica que a pena não pode passar da pessoa do condenado,
cisório. Como o Código de Processo Penal não disciplina podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do
o tema, aplica-se, por analogia, o disposto no art. 132 do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
Código de Processo Civil: “o juiz, titular ou substituto, que sucessores e contra eles executadas até o limite do valor do
concluir a audiência, julgará a lide (...)”. patrimônio transferido.
Proibição das Provas Ilícitas (art. 5º, LVI, da CF), ver- Princípio da Correlação impede que o juiz, ao proferir
sa sobre a inadmissibilidade das provas obtidas mediante sentença, extrapole os limites da acusação. Trata-se da ve-
prática de algum ilícito penal, civil ou administrativo. dação ao julgamento extra petita, ou seja, ao sentenciar a
Princípio “Favor Rei”, significa que, na dúvida, o juiz ação, deve ater-se ao fato descrito na denúncia ou queixa,
deve optar pela solução mais favorável ao acusado (in du- não podendo extrapolar seus limites.
bio pro reo). Dessa forma, havendo duas interpretações Princípio Contra a Autoincriminação significa que o
acerca de determinado tema, deve-se optar pela mais be- Poder Público não pode constranger o indiciado ou acusa-
néfica. Se a prova colhida gerar dúvida quanto à autoria, o do a cooperar na investigação penal ou a produzir provas
réu deve ser absolvido. contra si próprias. É evidente que o indiciado ou réu não
Princípio do Promotor Natural é o princípio decorren- estão proibidos de confessar o crime ou de apresentar pro-
te da interpretação de que a garantia contida no art. 5º, vas que possam incriminá-los. Eles apenas não podem ser
LIII, da CF, de “ninguém será processado nem sentenciado obrigados a fazê-lo e, da recusa, não podem ser extraídas
senão pela autoridade competente” consagra não ape- consequências negativas no campo da convicção do juiz.
nas o princípio do juiz natural, mas, também, o direito de Princípio da Motivação das Decisões Judiciais É eviden-
toda pessoa ser acusada por um órgão estatal imparcial, te que em um Estado de Direito os juízes devem expor as
cujas atribuições tenham sido previamente definidas pela razões de fato e de direito que os levaram a determinada
lei. Desse modo, há violação do devido processo legal na decisão. O texto constitucional é claro em salientar a nuli-
hipótese de alteração casuística de critérios prefixados de dade da sentença cuja fundamentação seja deficiente.Tal
atribuição. Veda-se, portanto, que chefe da instituição de- deficiência é nítida quando o juiz utiliza argumentos ge-
signe membros para atuar em casos específicos. néricos, sem apontar nos autos as provas específicas que
Princípio da Razoável Duração do Processo e Garantia o levaram à absolvição ou condenação ou ao reconheci-
da Celeridade Processual (EC nº 45, da CF), objetivo a ser mento de qualquer circunstância que interfira na pena. Não
alcançado. Assegura às partes o direito de obter provimen- pode o juiz se limitar a dizer, por exemplo, que a prova é
to jurisdicional em prazo razoável e de dispor de meios que robusta e, por isso, embasa a condenação. Deve apontar
garantam a celeridade da tramitação do processo. O pro- especificamente na sentença quais são e em que consistem
cesso é instrumento para aplicação efetiva do direito ma- estas provas.
terial, razão pela qual sua existência não pode se eternizar O processo penal observa, além desses princípios ou-
ou ser demasiado longa, sob pena de esvaziamento de sua tros dispositivos contidos nos incisos do art. 5º da Consti-
finalidade. Como consequência desse princípio, o juiz pode tuição Federal, como assegurar a liberdade de locomoção
de indeferir as provas consideradas irrelevantes, imperti- dentro do território nacional (inciso XV), dispor a cerca da
nentes ou protelatórias (art. 400, § 1º, do CPP). personalização da pena (inciso XLV), cuidar do princípio do
Princípio da Imparcialidade do Juiz é um princípio que contraditório e da ampla defesa, assim como da presunção
não existe artigo expresso na constituição dizendo que o da inocência (inciso LV e LVII, respectivamente), no sentido
juiz deve ser imparcial, pois a própria função de magistrado de que “Ninguém será preso senão em flagrante delito, ou
tem, na imparcialidade, a sua essência, a sua razão de exis- por ordem escrita e fundamentada da autoridade compe-
tir. O que se encontra no texto constitucional são garantias tente...”.
aos juízes para lhes assegurar a imparcialidade, ou seja, vi- Acrescenta do art. 5º, da CF, o inciso LXV, traz que “a
taliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios, prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade
como descrito no art. 95, caput, da CF, assim como a veda- judiciária”, o inciso LXVI, que estabelece que ninguém será
ção a juízes e tribunais de exceção (art. 5º, XXXVII, da CF). levado à prisão ou nela mantido quando a lei admitir a li-

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

berdade provisória, com ou sem o pagamento de fiança. O II - sobre bens imóveis da União, autarquias e funda-
inciso LXVII, que não haverá prisão civil por dívida, exceto ções públicas federais;
a do responsável pelo inadimplemento voluntário e ines- III - para a anulação ou cancelamento de ato adminis-
cusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel. trativo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de
Inclui o inciso LXVIII, onde prescreve que será conce- lançamento fiscal;
dido habeas corpus sempre que alguém sofrer ou julgar-se IV - que tenham como objeto a impugnação da pena
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de demissão imposta a servidores públicos civis ou de san-
de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. E ain- ções disciplinares aplicadas a militares.
da o inciso LXXV, que o Estado indenizará toda a pessoa § 2o Quando a pretensão versar sobre obrigações vin-
condenada por erro judiciário, bem como aquela que ficar cendas, para fins de competência do Juizado Especial, a
presa além do tempo fixado na sentença. soma de doze parcelas não poderá exceder o valor referido
no art. 3o, caput.
§ 3o No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Es-
pecial, a sua competência é absoluta.
LEIS DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS Art. 4o O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das
LEIS 9.099/95 partes, deferir medidas cautelares no curso do processo,
para evitar dano de difícil reparação.
Art. 5o Exceto nos casos do art. 4o, somente será admi-
tido recurso de sentença definitiva.
Prezado Candidato, a lei acima supracitada, já foi Art. 6o  Podem ser partes no Juizado Especial Federal
abordada na matéria “Direito Penal” Cível:
I – como autores, as pessoas físicas e as microempre-
sas e empresas de pequeno porte, assim definidas na Lei
no 9.317, de 5 de dezembro de 1996;
LEI Nº 10.259/01). II – como rés, a União, autarquias, fundações e empre-
sas públicas federais.
Art. 7o As citações e intimações da União serão feitas
LEI No 10.259, DE 12 DE JULHO DE 2001. na forma prevista nos arts. 35 a 38 da Lei Complementar
no 73, de 10 de fevereiro de 1993.
Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis Parágrafo único. A citação das autarquias, fundações
e Criminais no âmbito da Justiça Federal. e empresas públicas será feita na pessoa do representan-
te máximo da entidade, no local onde proposta a causa,
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- quando ali instalado seu escritório ou representação; se
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: não, na sede da entidade.
Art. 1o São instituídos os Juizados Especiais Cíveis e Cri- Art. 8o As partes serão intimadas da sentença, quando
minais da Justiça Federal, aos quais se aplica, no que não não proferida esta na audiência em que estiver presente
conflitar com esta Lei, o disposto na Lei no 9.099, de 26 de seu representante, por ARMP (aviso de recebimento em
setembro de 1995. mão própria).
Art. 2o  Compete ao Juizado Especial Federal Criminal § 1o  As demais intimações das partes serão feitas na
processar e julgar os feitos de competência da Justiça Fe- pessoa dos advogados ou dos Procuradores que oficiem
deral relativos às infrações de menor potencial ofensivo, nos respectivos autos, pessoalmente ou por via postal.
respeitadas as regras de conexão e continência. (Redação § 2o Os tribunais poderão organizar serviço de intima-
dada pela Lei nº 11.313, de 2006) ção das partes e de recepção de petições por meio eletrô-
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o nico.
juízo comum ou o tribunal do júri, decorrente da aplica- Art. 9o  Não haverá prazo diferenciado para a prática
ção das regras de conexão e continência, observar-se-ão os de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de di-
institutos da transação penal e da composição dos danos reito público, inclusive a interposição de recursos, devendo
civis. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006) a citação para audiência de conciliação ser efetuada com
Art. 3o Compete ao Juizado Especial Federal Cível pro- antecedência mínima de trinta dias.
cessar, conciliar e julgar causas de competência da Justi- Art. 10. As partes poderão designar, por escrito, repre-
ça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem sentantes para a causa, advogado ou não.
como executar as suas sentenças. Parágrafo único. Os representantes judiciais da União,
§ 1o Não se incluem na competência do Juizado Espe- autarquias, fundações e empresas públicas federais, bem
cial Cível as causas: como os indicados na forma do caput, ficam autorizados a
I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constitui- conciliar, transigir ou desistir, nos processos da competên-
ção Federal, as ações de mandado de segurança, de desa- cia dos Juizados Especiais Federais.
propriação, de divisão e demarcação, populares, execuções Art. 11. A entidade pública ré deverá fornecer ao Juiza-
fiscais e por improbidade administrativa e as demandas so- do a documentação de que disponha para o esclarecimen-
bre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais to da causa, apresentando-a até a instalação da audiência
homogêneos; de conciliação.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Parágrafo único. Para a audiência de composição dos § 9o Publicado o acórdão respectivo, os pedidos retidos
danos resultantes de ilícito criminal (arts. 71, 72 e 74 da Lei referidos no § 6o serão apreciados pelas Turmas Recursais,
no 9.099, de 26 de setembro de 1995), o representante da que poderão exercer juízo de retratação ou declará-los
entidade que comparecer terá poderes para acordar, desis- prejudicados, se veicularem tese não acolhida pelo Supe-
tir ou transigir, na forma do art. 10. rior Tribunal de Justiça.
Art. 12. Para efetuar o exame técnico necessário à con- § 10. Os Tribunais Regionais, o Superior Tribunal de
ciliação ou ao julgamento da causa, o Juiz nomeará pessoa Justiça e o Supremo Tribunal Federal, no âmbito de suas
habilitada, que apresentará o laudo até cinco dias antes da competências, expedirão normas regulamentando a com-
audiência, independentemente de intimação das partes. posição dos órgãos e os procedimentos a serem adotados
§ 1o Os honorários do técnico serão antecipados à con- para o processamento e o julgamento do pedido de unifor-
ta de verba orçamentária do respectivo Tribunal e, quando mização e do recurso extraordinário.
vencida na causa a entidade pública, seu valor será incluído Art. 15. O recurso extraordinário, para os efeitos desta
na ordem de pagamento a ser feita em favor do Tribunal. Lei, será processado e julgado segundo o estabelecido nos
§ 2o Nas ações previdenciárias e relativas à assistência §§ 4o a 9o do art. 14, além da observância das normas do
social, havendo designação de exame, serão as partes in- Regimento.
timadas para, em dez dias, apresentar quesitos e indicar Art. 16. O cumprimento do acordo ou da sentença,
assistentes. com trânsito em julgado, que imponham obrigação de fa-
Art. 13. Nas causas de que trata esta Lei, não haverá zer, não fazer ou entrega de coisa certa, será efetuado me-
reexame necessário. diante ofício do Juiz à autoridade citada para a causa, com
Art. 14. Caberá pedido de uniformização de interpre- cópia da sentença ou do acordo.
tação de lei federal quando houver divergência entre de- Art. 17. Tratando-se de obrigação de pagar quantia
cisões sobre questões de direito material proferidas por certa, após o trânsito em julgado da decisão, o pagamento
Turmas Recursais na interpretação da lei. será efetuado no prazo de sessenta dias, contados da en-
§ 1o  O pedido fundado em divergência entre Turmas trega da requisição, por ordem do Juiz, à autoridade citada
da mesma Região será julgado em reunião conjunta das para a causa, na agência mais próxima da Caixa Econômi-
Turmas em conflito, sob a presidência do Juiz Coordenador. ca Federal ou do Banco do Brasil, independentemente de
§ 2o O pedido fundado em divergência entre decisões precatório.
de turmas de diferentes regiões ou da proferida em contra- § 1o Para os efeitos do § 3o do art. 100 da Constitui-
riedade a súmula ou jurisprudência dominante do STJ será ção Federal, as obrigações ali definidas como de pequeno
julgado por Turma de Uniformização, integrada por juízes valor, a serem pagas independentemente de precatório,
terão como limite o mesmo valor estabelecido nesta Lei
de Turmas Recursais, sob a presidência do Coordenador da
para a competência do Juizado Especial Federal Cível (art.
Justiça Federal.
3o, caput).
§ 3o A reunião de juízes domiciliados em cidades diver-
§ 2o Desatendida a requisição judicial, o Juiz determi-
sas será feita pela via eletrônica.
nará o seqüestro do numerário suficiente ao cumprimento
§ 4o Quando a orientação acolhida pela Turma de Uni-
da decisão.
formização, em questões de direito material, contrariar sú-
§ 3o São vedados o fracionamento, repartição ou que-
mula ou jurisprudência dominante no Superior Tribunal de
bra do valor da execução, de modo que o pagamento se
Justiça -STJ, a parte interessada poderá provocar a manifes- faça, em parte, na forma estabelecida no § 1o deste artigo,
tação deste, que dirimirá a divergência. e, em parte, mediante expedição do precatório, e a expedi-
§ 5o No caso do § 4o, presente a plausibilidade do di- ção de precatório complementar ou suplementar do valor
reito invocado e havendo fundado receio de dano de difícil pago.
reparação, poderá o relator conceder, de ofício ou a reque- § 4o  Se o valor da execução ultrapassar o estabeleci-
rimento do interessado, medida liminar determinando a do no § 1o, o pagamento far-se-á, sempre, por meio do
suspensão dos processos nos quais a controvérsia esteja precatório, sendo facultado à parte exeqüente a renúncia
estabelecida. ao crédito do valor excedente, para que possa optar pelo
§ 6o Eventuais pedidos de uniformização idênticos, re- pagamento do saldo sem o precatório, da forma lá prevista.
cebidos subseqüentemente em quaisquer Turmas Recur- Art. 18. Os Juizados Especiais serão instalados por de-
sais, ficarão retidos nos autos, aguardando-se pronuncia- cisão do Tribunal Regional Federal. O Juiz presidente do
mento do Superior Tribunal de Justiça. Juizado designará os conciliadores pelo período de dois
§ 7o  Se necessário, o relator pedirá informações ao anos, admitida a recondução. O exercício dessas funções
Presidente da Turma Recursal ou Coordenador da Turma será gratuito, assegurados os direitos e prerrogativas do
de Uniformização e ouvirá o Ministério Público, no prazo jurado (art. 437 do Código de Processo Penal).
de cinco dias. Eventuais interessados, ainda que não se- Parágrafo único. Serão instalados Juizados Especiais
jam partes no processo, poderão se manifestar, no prazo Adjuntos nas localidades cujo movimento forense não jus-
de trinta dias. tifique a existência de Juizado Especial, cabendo ao Tribu-
§ 8o Decorridos os prazos referidos no § 7o, o relator in- nal designar a Vara onde funcionará.
cluirá o pedido em pauta na Seção, com preferência sobre Art. 19. No prazo de seis meses, a contar da publicação
todos os demais feitos, ressalvados os processos com réus desta Lei, deverão ser instalados os Juizados Especiais nas
presos, os habeas corpus e os mandados de segurança. capitais dos Estados e no Distrito Federal.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Parágrafo único. Na capital dos Estados, no Distrito Fe- QUESTÕES


deral e em outras cidades onde for necessário, neste últi-
mo caso, por decisão do Tribunal Regional Federal, serão 01. (TJ-BA - Técnico Judiciário - Escrevente - Área
instalados Juizados com competência exclusiva para ações Judiciária – 2015 - FGV) Durante os debates orais no Tri-
previdenciárias. bunal do Júri:
Art. 20. Onde não houver Vara Federal, a causa poderá (A) se houver mais de um acusador, caberá ao juiz dis-
ser proposta no Juizado Especial Federal mais próximo do ciplinar a divisão do tempo, independentemente da com-
foro definido no art. 4o da Lei no 9.099, de 26 de setembro binação entre eles;
de 1995, vedada a aplicação desta Lei no juízo estadual. (B) havendo mais de um acusado, o tempo para acusa-
Art. 21. As Turmas Recursais serão instituídas por deci- ção não sofrerá acréscimo algum;
são do Tribunal Regional Federal, que definirá sua compo- (C) se houver mais de um defensor, caberá ao juiz dis-
sição e área de competência, podendo abranger mais de ciplinar a divisão do tempo, independentemente da com-
uma seção. binação entre eles;
Art. 22. Os Juizados Especiais serão coordenados por (D) o assistente de acusação também deve ser consul-
Juiz do respectivo Tribunal Regional, escolhido por seus pa- tado se deseja ou não fazer uso da réplica;
res, com mandato de dois anos. (E) os apartes deverão ser coibidos pelo Juiz Presiden-
Parágrafo único. O Juiz Federal, quando o exigirem as
te, já que não regulamentados por lei.
circunstâncias, poderá determinar o funcionamento do Jui-
zado Especial em caráter itinerante, mediante autorização
02. (TJ-CE - Analista Judiciário - Execução de Man-
prévia do Tribunal Regional Federal, com antecedência de
dados - 2014 – CESPE)
dez dias.
Art. 23. O Conselho da Justiça Federal poderá limitar, (A) Não há previsão de recurso acerca da admissibilida-
por até três anos, contados a partir da publicação desta Lei, de ou não do desaforamento, admitindo-se a possibilidade
a competência dos Juizados Especiais Cíveis, atendendo à de impetração de mandado de segurança.
necessidade da organização dos serviços judiciários ou ad- (B) Se um secretário de Estado, com foro por prerro-
ministrativos. gativa de função estabelecido pela Constituição estadual,
Art. 24. O Centro de Estudos Judiciários do Conselho cometer um crime doloso contra a vida, ele terá de ser jul-
da Justiça Federal e as Escolas de Magistratura dos Tribu- gado pelo tribunal do júri.
nais Regionais Federais criarão programas de informática (C) A audiência da defesa é prescindível para o desafo-
necessários para subsidiar a instrução das causas submeti- ramento de processo da competência do tribunal júri.
das aos Juizados e promoverão cursos de aperfeiçoamento (D) O desaforamento pode ocorrer na pendência de
destinados aos seus magistrados e servidores. recurso contra a decisão de pronúncia, de tal modo que
Art. 25. Não serão remetidas aos Juizados Especiais as o pronunciamento pela instância superior dar-se-á após a
demandas ajuizadas até a data de sua instalação. remessa dos autos para a outra jurisdição.
Art. 26. Competirá aos Tribunais Regionais Federais (E) O desaforamento não pode ser decretado simples-
prestar o suporte administrativo necessário ao funciona- mente para se assegurar a segurança pessoal do réu, sendo
mento dos Juizados Especiais. imprescindível que exista dúvida sobre a imparcialidade do
Art. 27. Esta Lei entra em vigor seis meses após a data júri ou que o interesse da ordem pública o reclame.
de sua publicação.
Brasília, 12 de julho de 2001; 180o da Independência e 03. (MPE-SC - Promotor de Justiça – 2013 - MPE-
113o da República. -SC) No procedimento relativo aos processos de compe-
tência do Tribunal do Júri, apresentada a defesa, o juiz ouvi-
rá o Ministério Público ou o querelante sobre preliminares
e documentos, em 10 (dez) dias.
( ) Certo ( ) Errado

04. (MPDFT - Promotor de Justiça – 2013 - MPDFT)


Sobre o Tribunal do Júri, é INCORRETO afirmar:
(A) Seu procedimento desdobra-se em juízo da acusa-
ção, que analisa a admissibilidade da pretensão punitiva,
e juízo da causa, que diz respeito ao mérito da acusação.
(B) Se o acusado houver permanecido preso durante a
instrução criminal, a pronúncia do juiz importará em auto-
mática manutenção da cautela extrema, sendo, por outro
lado, necessária a motivação do decreto de prisão na hipó-
tese de o pronunciado encontrar-se solto.
(C) A decisão de impronúncia não faz coisa julgada for-
mal e material.

31
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

(D) Se o advogado do acusado, regularmente intima- 08. (MPE-SP - Analista de Promotoria - 2015 – VU-
do, não comparecer à sessão de julgamento, e não houver NESP) A prisão em flagrante, cautelar, realiza-se
escusa legítima, o julgamento será adiado uma única vez, (A) sem necessidade de avaliação posterior por autori-
cabendo ao juiz-presidente intimar a Defensoria Pública dade judiciária, porque pode ser relaxada, a qualquer tem-
para o novo julgamento. po, pela autoridade policial.
(E) Nos termos da lei, o sistema de colheita de depoi- (B) diante de aparente tipicidade (fumus boni juris),
mentos em plenário é, para as partes, o do exame direto mas confirmados ilicitude e culpabilidade.
e cruzado, ao passo que, para os jurados, o sistema é o (C) no momento em que está ocorrendo ou termina de
indireto, ou presidencialista. ocorrer o crime.
(D) mediante expedição de mandado de prisão pela
05. (DPE-MA - Defensor Público - Ano: 2015 - FCC) autoridade judiciária.
O inquérito policial (E) única e tão somente pela polícia judiciária.
(A) após seu arquivamento, poderá ser desarquivado a
qualquer momento para possibilitar novas investigações, 09. (PC-SP -Investigador de Polícia – 2014 - VU-
desde que haja concordância do Ministério Público. NESP) O inquérito policial
(B) em curso poderá ser avocado por superior por mo- (A) somente será instaurado por determinação do juiz
tivo de interesse público. competente.
(C) poderá ser instaurado por requisição judicial, a de- (B) pode ser arquivado por determinação da Autorida-
pender da análise de conveniência e oportunidade do de- de Policial.
legado de polícia. (C) estando o indiciado solto, deverá ser concluído no
(D) nos casos de ação penal privada e ação penal pú- máximo em 10 dias.
blica condicionada poderá ser instaurado mesmo sem a (D) nos crimes de ação pública poderá ser iniciado de
representação da vítima ou seu representante legal, desde ofício.
que se trate de crime hediondo. (E) não poderá ser iniciado por requisição do Ministério
(E) independentemente do crime investigado deverá Público.
ser impreterivelmente concluído no prazo de 30 dias se o
investigado estiver solto. 10. (TJ-SE - Titular de Serviços de Notas e de Regis-
tros – Provimento - 2014 - CESPE) No curso da tramita-
06. (PC-CE - Escrivão de Polícia Civil de 1ª Classe – ção do inquérito policial, o delegado de polícia,
2015 - VUNESP) A Lei nº 7.960/89 estabelece, em seu art. (A) nos crimes em que a pena máxima cominada não
1º, inciso III, o rol de crimes para os quais é cabível a de- extrapole oito anos de reclusão, poderá conceder liberdade
cretação da prisão temporária quando imprescindível para provisória, independentemente de fiança.
as investigações do inquérito policial. Esse rol inclui (B) independentemente de pronunciamento do juiz
(A) o crime de assédio sexual. competente, deverá proceder à instauração de incidente de
(B) o crime de receptação qualificada. insanidade mental do indiciado, desde que este apresente
(C) o crime de estelionato. indícios dessa insanidade.
(D) o crime de furto qualificado. (C) a requerimento de qualquer pessoa, poderá deferir
(E) os crimes contra o sistema financeiro. a interceptação das comunicações telefônicas de indiciado.
(D) quando verificada a inexistência de indícios de au-
07. (MPE-SE - Analista – Direito - 2013 - FCC) Em toria, deverá arquivar os autos do inquérito policial.
relação ao inquérito policial, (E) ao ter conhecimento da infração penal, deverá pro-
(A) o ofendido, ou seu representante legal, e o indicia- ceder ao reconhecimento de pessoas e coisas e providen-
do poderão requerer qualquer diligência, que será realiza- ciar a realização de acareações.
da, ou não, a juízo da autoridade.
(B) nos crimes de ação penal de iniciativa pública, so- 11. (SEDS-TO - Analista Socioeducador – Direito -
mente pode ser iniciado de ofício. 2014 - FUNCAB) Considerando os temas inquérito policial
(C) a autoridade policial poderá mandar arquivar os au- e ação penal, assinale a alternativa correta.
tos de inquérito policial em caso de evidente atipicidade da (A) A autoridade policial não poderá mandar arquivar
conduta investigada. autos de inquérito.
(D) se o indiciado estiver preso em flagrante, o inquéri- (B) O inquérito deverá terminar no prazo de 30 dias, se
to policial deverá terminar no prazo máximo de cinco dias, o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso
salvo disposição em contrário. preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir
(E) é indispensável à propositura da ação penal de ini- do dia em que se executar a ordem de prisão.
ciativa pública. (C) O Ministério Público poderá desistir da ação penal.
(D) O prazo para oferecimento da denúncia, estando o
réu preso, será de 30 dias, contado da data em que o órgão
do Ministério Público receber os autos do inquérito policial.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

12. (PC-SP - Investigador de Polícia – 2014 - VU- 15. (TRE-RS - Analista Judiciário – Administrativa –
NESP) A prisão preventiva 2015 - CESPE) No que se refere a intimações e citações no
(A) é decretada pelo juiz. processo penal, assinale a opção correta.
(B) somente poderá ser decretada como garantia da (A) A citação ou a intimação do militar da ativa será
ordem pública. feita mediante a expedição pelo juízo processante de um
(C) não poderá ser revogada pelo juiz. ofício, que será remetido ao chefe do serviço, cabendo ao
(D) poderá ser decretada pelo delegado de polícia. oficial de justiça a citação do acusado.
(E) é admitida para qualquer crime ou contravenção. (B) Na hipótese de expedição de carta precatória para
a citação, se o acusado não se encontrar na comarca do
13. (PC-GO - Delegado de Polícia – 2013 - UEG) So- juiz deprecado e estiver em local conhecido, a precatória
bre a prisão em flagrante, tem-se o seguinte: deverá ser devolvida ao juiz deprecante para uma nova ex-
(A) o auto de prisão em flagrante deverá ser lavrado pedição.
pela autoridade do local do crime onde foi efetivada a cap- (C) A citação ficta ou presumida será realizada por edi-
tura, sob pena de nulidade absoluta. tal, pelo correio ou por email.
(B) em até 24 (vinte e quatro) horas da realização da (D) Na hipótese de o réu estar no estrangeiro, em local
prisão, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de sabido, será sempre citado por carta rogatória, mesmo que
culpa, assinada pelo juiz, sendo que a errônea capitulação a infração penal seja afiançável.
dos fatos no mencionado documento gera nulidade do fla- (E) De acordo com o CPP, será pessoal a intimação do
grante. MP, do defensor constituído, do advogado do querelante e
(C) o reconhecimento da nulidade do auto de prisão do advogado do assistente de acusação.
em flagrante atinge unicamente o seu valor como instru-
mento de coação cautelar, não tendo repercussão no pro- RESPOSTAS:
cesso-crime.
(D) a falta de comunicação, no prazo legal, da prisão 1. D.
em flagrante à autoridade judiciária nulifica-a, devendo o A Alternativa D está CORRETA: Consoante Código Pro-
magistrado, após oitiva do Ministério Público, determinar cessual Penal:
seu imediato relaxamento. Art. 476, § 1º “O assistente falará depois do Ministério
Público”, do mesmo modo deverá ser consultado quando
14. (TRE-RS - Analista Judiciário – Administrativa – à réplica.
2015 - CESPE) Foi recebida pelo juiz denúncia oferecida
pelo MP contra Pedro e João, imputando-lhes a prática de 02. B.
crime de extorsão realizada dentro de uma universidade. Súmula 721 STF: A competência constitucional do Tri-
Uma das vítimas resolveu intervir no processo, como assis- bunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de
tente de acusação. função estabelecido exclusivamente pela Constituição es-
Tendo como referência a situação hipotética apresen- tadual.
tada, assinale a opção correta.
(A) Deferida a habilitação, o assistente de acusação re- 03. Errado.
ceberá a causa desde a petição inicial e, conforme o caso, Código Processual Penal:
deverão ser repetidos os atos anteriores a sua habilitação. Art. 409. Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o Ministé-
(B) Da decisão que admitir ou denegar a intervenção rio Público ou o querelante sobre preliminares e documen-
da vítima caberá recurso em sentido estrito ao juízo de se- tos, em 5 (cinco) dias.
gundo grau.
(C) Ao assistente de acusação será permitido propor 04. B.
meios de provas, tais como perícias e acareações, participar A Alternativa B está incorreta, pois a decisão precisa
de debates orais e aditar articulados, e também arrazoar os ser motivada.
recursos interpostos pelo MP. Senão vejamos:
(D) A vítima poderá habilitar-se como assistente de Código Processual Penal:
acusação na fase preliminar das investigações, após a ins- Art. 413, § 3º. O juiz decidirá, motivadamente, no caso
tauração do inquérito policial. de manutenção, revogação ou substituição da prisão ou
(E) O assistente de acusação poderá arrolar testemu- medida restritiva de liberdade anteriormente decretada e,
nhas e aditar a denúncia oferecida pelo MP. tratando-se de acusado solto, sobre a necessidade da de-
cretação da prisão ou imposição de quaisquer das medidas
previstas no Título IX do Livro I deste Código.

33
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

05. B. 10. E.
De acordo com a Lei n. 12.830/13 CPP - Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática
Art. 2. da infração penal, a autoridade policial deverá:
(...) VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e
§ 4º O inquérito policial ou outro procedimento pre- a acareações;
visto em lei em curso somente poderá ser avocado ou re-
distribuído por superior hierárquico, mediante despacho 11. A.
fundamentado, por motivo de interesse público ou nas hi- Dispõe o artigo 17 do CPP: A autoridade policial não
póteses de inobservância dos procedimentos previstos em poderá mandar arquivar autos de inquérito.
regulamento da corporação que prejudique a eficácia da
investigação. 12. A.
Conforme o Art. 238 do CPP:
06. E. Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagran-
De acordo com a Legislação: te delito ou por ordem escrita e fundamentada da autori-
Art. 1° Caberá prisão temporária: dade judiciária competente, em decorrência de sentença
(...) condenatória transitada em julgado ou, no curso da inves-
III - quando houver fundadas razões, de acordo com tigação ou do processo, em virtude de prisão temporária
qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou ou prisão preventiva.
participação do indiciado nos seguintes crimes:
(...) 13. C.
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de Código Processual Penal:
16 de junho de 1986). Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se
encontre serão comunicados imediatamente ao juiz com-
07. A. petente, ao Ministério Público e à família do preso ou à
Código Processual Penal: pessoa por ele indicada
Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o § 1º Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização
indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de
realizada, ou não, a juízo da autoridade.
prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome
de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.
08. C.
Código Processual Penal:
14. C.
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
A presente questão está embasada no artigo 271 do
I - está cometendo a infração penal;
Código Processual Penal que dita:
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo Art. 271. Ao assistente será permitido propor meios de
ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça prova, requerer perguntas às testemunhas, aditar o libelo e
presumir ser autor da infração; os articulados, participar do debate oral e arrazoar os re-
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, ar- cursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele pró-
mas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor prio, nos casos dos arts. 584, § 1o, e 598.
da infração.
15. D.
Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o Acerca da citação, na hipótese de o réu estar no estran-
agente em flagrante delito enquanto não cessar a perma- geiro, em local sabido, será sempre citado por carta roga-
nência. tória, mesmo que a infração penal seja afiançável. Sobre a
citação, dispõe o CPP:
09. D. Art. 368. Estando o acusado no estrangeiro, em lugar
A) ERRADA: O IP pode ser instaurado por diversas for- sabido, será citado mediante carta rogatória, suspenden-
mas (de ofício, por requisição do MP, etc.). do-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumpri-
B) ERRADA: A autoridade policial NUNCA poderá man- mento.
dar arquivar autos de IP, nos termos do art. 17 do CPP.
C) ERRADA: Estando o indiciado solto o prazo para a
conclusão do IP é de 30 dias, prorrogáveis.
D) CORRETA: Item correto, pois nos crimes de ação pe-
nal pública o IP pode ser instaurado de ofício, ainda que
seja necessário, no caso de crimede ação penal pública
condicionada à representação, que a autoridade já dispo-
nha de manifestação inequívoca da vítima (representação)
no sentido de que deseja a persecução penal.
e) ERRADA: Item errado, pois o IP pode ser instaurado
por requisição do MP.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Inquérito policial. ..................................................................................................................................................................................................... 01


Auto de resistência. ................................................................................................................................................................................................ 01
Ação Penal. ................................................................................................................................................................................................................. 04
Prisão Cautelar: disposições gerais; prisão em flagrante; prisão temporária e prisão preventiva. .......................................... 06
Competência e atribuição. ................................................................................................................................................................................... 06
Liberdade provisória. .............................................................................................................................................................................................. 06
Atividade de Polícia Judiciária. ........................................................................................................................................................................... 18
Diligências de investigação e medidas assecuratórias.............................................................................................................................. 18
Da busca e apreensão............................................................................................................................................................................................. 18
Da prova. ..................................................................................................................................................................................................................... 21
Das garantias constitucionais do Processo Penal........................................................................................................................................ 26
Leis dos Juizados Especiais Criminais (Leis 9.099/95 e 10.259/01)....................................................................................................... 28
DIREITO ADMINISTRATIVO

Trata-se de pessoa jurídica, e não física, porque o Esta-


- CONCEITO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. do não é uma pessoa natural determinada, mas uma estru-
HIERARQUIA ADMINISTRATIVA. tura organizada e administrada por pessoas que ocupam
cargos, empregos e funções em seu quadro. Logo, pode-se
dizer que o Estado é uma ficção, eis que não existe em
si, mas sim como uma estrutura organizada pelos próprios
Administração pública: princípios básicos homens.
“O conceito de Estado varia segundo o ângulo em que É de direito público porque administra interesses que
é considerado. Do ponto de vista sociológico, é corpora- pertencem a toda sociedade e a ela respondem por desvios
ção territorial dotada de um poder de mando originário; na conduta administrativa, de modo que se sujeita a um
sob o aspecto político, é comunidade de homens, fixada regime jurídico próprio, que é objeto de estudo do direito
sobre um território, com potestade superior de ação, de administrativo.
mando e de coerção; sob o prisma constitucional, é pes- Em face da organização do Estado, e pelo fato deste
soa jurídica territorial soberana; na conceituação do nosso assumir funções primordiais à coletividade, no interesse
Código Civil, é pessoa jurídica de Direito Público Interno desta, fez-se necessário criar e aperfeiçoar um sistema ju-
(art. 14, I). Como ente personalizado, o Estado tanto pode rídico que fosse capaz de regrar e viabilizar a execução de
atuar no campo do Direito Público como no do Direito Pri- tais funções, buscando atingir da melhor maneira possível
vado, mantendo sempre sua única personalidade de Direi- o interesse público visado. A execução de funções exclusi-
to Público, pois a teoria da dupla personalidade do Estado vamente administrativas constitui, assim, o objeto do Direi-
acha-se definitivamente superada. O Estado é constituído to Administrativo, ramo do Direito Público. A função admi-
de três elementos originários e indissociáveis: Povo, Terri- nistrativa é toda atividade desenvolvida pela Administração
tório e Governo soberano. Povo é o componente humano (Estado) representando os interesses de terceiros, ou seja,
do Estado; Território, a sua base física; Governo soberano, os interesses da coletividade.
o elemento condutor do Estado, que detém e exerce o Devido à natureza desses interesses, são conferidos à
poder absoluto de autodeterminação e auto-organização Administração direitos e obrigações que não se estendem
emanado do Povo. Não há nem pode haver Estado inde- aos particulares. Logo, a Administração encontra-se numa
pendente sem Soberania, isto é, sem esse poder absoluto, posição de superioridade em relação a estes.
indivisível e incontrastável de organizar-se e de conduzir-se Se, por um lado, o Estado é uno, até mesmo por se
segundo a vontade livre de seu Povo e de fazer cumprir legitimar na soberania popular; por outro lado, é necessá-
ria a divisão de funções das atividades estatais de maneira
as suas decisões inclusive pela força, se necessário. A von-
equilibrada, o que se faz pela divisão de Poderes, a qual
tade estatal apresenta-se e se manifesta através dos de-
resta assegurada no artigo 2º da Constituição Federal. A
nominados Poderes de Estado. Os Poderes de Estado, na
função típica de administrar – gerir a coisa pública e aplicar
clássica tripartição de Montesquieu, até hoje adotada nos
a lei – é do Poder Executivo; cabendo ao Poder Legislativo
Estados de Direito, são o Legislativo, o Executivo e o ju-
a função típica de legislar e ao Poder Judiciário a função
diciário, independentes e harmônicos entre si e com suas
típica de julgar. Em situações específicas, será possível que
funções reciprocamente indelegáveis (CF, art. 2º). A organi-
no exercício de funções atípicas o Legislativo e o Judiciário
zação do Estado é matéria constitucional no que concerne
exerçam administração.
à divisão política do território nacional, a estruturação dos Destaca-se o artigo 41 do Código Civil:
Poderes, à forma de Governo, ao modo de investidura dos
governantes, aos direitos e garantias dos governados. Após Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:
as disposições constitucionais que moldam a organização I - a União;
política do Estado soberano, surgem, através da legislação II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
complementar e ordinária, e organização administrati- III - os Municípios;
va das entidades estatais, de suas autarquias e entidades IV - as autarquias;
paraestatais instituídas para a execução desconcentrada e V - as demais entidades de caráter público criadas
descentralizada de serviços públicos e outras atividades de por lei.
interesse coletivo, objeto do Direito Administrativo e das Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pes-
modernas técnicas de administração”1. soas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estru-
Com efeito, o Estado é uma organização dotada de tura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao
personalidade jurídica que é composta por povo, território seu funcionamento, pelas normas deste Código.
e soberania. Logo, possui homens situados em determina-
da localização e sobre eles e em nome deles exerce poder. Nestes moldes, o Estado é pessoa jurídica de direito
É dotado de personalidade jurídica, isto é, possui a aptidão público interno. Mas há características peculiares distintivas
genérica para adquirir direitos e contrair deveres. Nestes que fazem com que afirmá-lo apenas como pessoa jurídica
moldes, o Estado tem natureza de pessoa jurídica de di- de direito público interno seja correto, mas não suficiente.
reito público. Pela peculiaridade da função que desempenha, o Estado é
1 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo verdadeira pessoa administrativa, eis que concentra para
brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1993. si o exercício das atividades de administração pública.

1
DIREITO ADMINISTRATIVO

A expressão pessoa administrativa também pode ser impessoalidade correlaciona-se ao princípio da finalidade,
colocada em sentido estrito, segundo o qual seriam pes- pelo qual o alvo a ser alcançado pela administração públi-
soas administrativas aquelas pessoas jurídicas que integram ca é somente o interesse público. Com efeito, o interesse
a administração pública sem dispor de autonomia política particular não pode influenciar no tratamento das pessoas,
(capacidade de auto-organização). Em contraponto, pes- já que deve-se buscar somente a preservação do interesse
soas políticas seriam as pessoas jurídicas de direito público coletivo.
interno – União, Estados, Distrito Federal e Municípios. c) Princípio da moralidade: A posição deste princí-
pio no artigo 37 da CF representa o reconhecimento de
Princípios uma espécie de moralidade administrativa, intimamente
Os princípios da Administração Pública são regras que relacionada ao poder público. A administração pública não
surgem como parâmetros para a interpretação das demais atua como um particular, de modo que enquanto o des-
normas jurídicas, sendo a base da disciplina do direito ad- cumprimento dos preceitos morais por parte deste parti-
ministrativo. Têm a função de oferecer coerência e harmo- cular não é punido pelo Direito (a priori), o ordenamento
nia para o ordenamento jurídico. Quando houver mais de jurídico adota tratamento rigoroso do comportamento
uma norma, deve-se seguir aquela que mais se compatibi- imoral por parte dos representantes do Estado. O princípio
liza com os princípios elencados na Constituição Federal, da moralidade deve se fazer presente não só para com os
ou seja, interpreta-se, sempre, consoante os ditames da administrados, mas também no âmbito interno. Está indis-
Constituição. sociavelmente ligado à noção de bom administrador, que
não somente deve ser conhecedor da lei, mas também dos
Princípios constitucionais expressos princípios éticos regentes da função administrativa. TODO
São princípios da administração pública, nesta ordem: ATO IMORAL SERÁ DIRETAMENTE ILEGAL OU AO MENOS
Legalidade IMPESSOAL, daí a intrínseca ligação com os dois princípios
Impessoalidade anteriores.
Moralidade d) Princípio da publicidade: A administração pública
Publicidade é obrigada a manter transparência em relação a todos seus
Eficiência atos e a todas informações armazenadas nos seus ban-
Para memorizar: veja que as iniciais das palavras for- cos de dados. Daí a publicação em órgãos da imprensa e
mam o vocábulo LIMPE, que remete à limpeza esperada da a afixação de portarias. Por exemplo, a própria expressão
Administração Pública. É de fundamental importância um concurso público (art. 37, II, CF) remonta ao ideário de que
olhar atento ao significado de cada um destes princípios, todos devem tomar conhecimento do processo seletivo de
posto que eles estruturam todas as regras éticas prescritas servidores do Estado. Diante disso, como será visto, se ne-
no Código de Ética e na Lei de Improbidade Administrativa, gar indevidamente a fornecer informações ao administrado
tomando como base os ensinamentos de Carvalho Filho2 e caracteriza ato de improbidade administrativa.
Spitzcovsky3: No mais, prevê o §1º do artigo 37, CF, evitando que
a) Princípio da legalidade: Para o particular, legali-
o princípio da publicidade seja deturpado em propaganda
dade significa a permissão de fazer tudo o que a lei não
político-eleitoral:
proíbe. Contudo, como a administração pública representa
os interesses da coletividade, ela se sujeita a uma relação
Artigo 37, §1º, CF. A publicidade dos atos, programas,
de subordinação, pela qual só poderá fazer o que a lei ex-
obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter
pressamente determina (assim, na esfera estatal, é preciso
caráter educativo, informativo ou de orientação social,
lei anterior editando a matéria para que seja preservado o
dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que
princípio da legalidade). A origem deste princípio está na
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servido-
criação do Estado de Direito, no sentido de que o próprio
Estado deve respeitar as leis que dita. res públicos.
b) Princípio da impessoalidade: Por força dos interes-
ses que representa, a administração pública está proibida Somente pela publicidade os indivíduos controlarão
de promover discriminações gratuitas. Discriminar é tratar a legalidade e a eficiência dos atos administrativos. Os
alguém de forma diferente dos demais, privilegiando ou instrumentos para proteção são o direito de petição e as
prejudicando. Segundo este princípio, a administração pú- certidões (art. 5°, XXXIV, CF), além do habeas data e - resi-
blica deve tratar igualmente todos aqueles que se encon- dualmente - do mandado de segurança. Neste viés, ainda,
trem na mesma situação jurídica (princípio da isonomia ou prevê o artigo 37, CF em seu §3º: 
igualdade). Por exemplo, a licitação reflete a impessoalida-
de no que tange à contratação de serviços. O princípio da Artigo 37, §3º, CF. A lei disciplinará as formas de par-
ticipação do usuário na administração pública direta e
2 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de indireta, regulando especialmente:
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, I -  as reclamações relativas à prestação dos serviços
2010. públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de
3 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e
ed. São Paulo: Método, 2011. interna, da qualidade dos serviços;

2
DIREITO ADMINISTRATIVO

II -  o acesso dos usuários a registros administrativos e um ou mais comportamentos possíveis, de acordo com um
a informações sobre atos de governo, observado o disposto juízo de conveniência e oportunidade), a doutrina é unísso-
no art. 5º, X e XXXIII; na na determinação da obrigatoriedade de motivação com
III -  a disciplina da representação contra o exercício ne- relação aos atos administrativos vinculados; todavia, diverge
gligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na admi- quanto à referida necessidade quanto aos atos discricioná-
nistração pública. rios.
Meirelles5 entende que o ato discricionário, editado sob
e) Princípio da eficiência: A administração pública os limites da Lei, confere ao administrador uma margem de
deve manter o ampliar a qualidade de seus serviços com liberdade para fazer um juízo de conveniência e oportunida-
controle de gastos. Isso envolve eficiência ao contratar pes- de, não sendo necessária a motivação. No entanto, se houver
soas (o concurso público seleciona os mais qualificados ao tal fundamentação, o ato deverá condicionar-se a esta, em
exercício do cargo), ao manter tais pessoas em seus cargos razão da necessidade de observância da Teoria dos Motivos
(pois é possível exonerar um servidor público por ineficiên- Determinantes. O entendimento majoritário da doutrina, po-
cia) e ao controlar gastos (limitando o teto de remunera- rém, é de que, mesmo no ato discricionário, é necessária a
ção), por exemplo. O núcleo deste princípio é a procura motivação para que se saiba qual o caminho adotado pelo
por produtividade e economicidade. Alcança os serviços administrador. Gasparini6, com respaldo no art. 50 da Lei n.
públicos e os serviços administrativos internos, se referindo 9.784/98, aponta inclusive a superação de tais discussões
diretamente à conduta dos agentes. doutrinárias, pois o referido artigo exige a motivação para
todos os atos nele elencados, compreendendo entre estes,
Outros princípios administrativos tanto os atos discricionários quanto os vinculados.
c) Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos:
Além destes cinco princípios administrativo-constitu- O Estado assumiu a prestação de determinados serviços, por
cionais diretamente selecionados pelo constituinte, podem considerar que estes são fundamentais à coletividade. Apesar
ser apontados como princípios de natureza ética relaciona- de os prestar de forma descentralizada ou mesmo delega-
dos à função pública a probidade e a motivação: da, deve a Administração, até por uma questão de coerência,
oferecê-los de forma contínua e ininterrupta. Pelo princípio
a) Princípio da probidade:  um princípio constitucio-
da continuidade dos serviços públicos, o Estado é obrigado
nal incluído dentro dos princípios específicos da licitação,
a não interromper a prestação dos serviços que disponibiliza.
é o dever de todo o administrador público, o dever de ho-
A respeito, tem-se o artigo 22 do Código de Defesa do Con-
nestidade e fidelidade com o Estado, com a população, no
sumidor:
desempenho de suas funções. Possui contornos mais defi-
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, con-
nidos do que a moralidade. Diógenes Gasparini4 alerta que
cessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de
alguns autores tratam veem como distintos os princípios
empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados,
da moralidade e da probidade administrativa, mas não há  eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
características que permitam tratar os mesmos como pro- Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou
cedimentos distintos, sendo no máximo possível afirmar parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas
que a probidade administrativa é um aspecto particular da jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causa-
moralidade administrativa. dos, na forma prevista neste código.
b) Princípio da motivação: É a obrigação conferida d) Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre
ao administrador de motivar todos os atos que edita, ge- o Particular e Princípio da Indisponibilidade: Na maioria
rais ou de efeitos concretos. É considerado, entre os demais das vezes, a Administração, para buscar de maneira eficaz tais
princípios, um dos mais importantes, uma vez que sem a interesses, necessita ainda de se colocar em um patamar de
motivação não há o devido processo legal, uma vez que a superioridade em relação aos particulares, numa relação de
fundamentação surge como meio interpretativo da decisão verticalidade, e para isto se utiliza do princípio da supremacia,
que levou à prática do ato impugnado, sendo verdadeiro conjugado ao princípio da indisponibilidade, pois, tecnica-
meio de viabilização do controle da legalidade dos atos da mente, tal prerrogativa é irrenunciável, por não haver facul-
Administração. dade de atuação ou não do Poder Público, mas sim “dever”
Motivar significa mencionar o dispositivo legal aplicá- de atuação.
vel ao caso concreto e relacionar os fatos que concreta- Sempre que houver conflito entre um interesse individual
mente levaram à aplicação daquele dispositivo legal. Todos e um interesse público coletivo, deve prevalecer o interesse
os atos administrativos devem ser motivados para que o público. São as prerrogativas conferidas à Administração Pú-
Judiciário possa controlar o mérito do ato administrativo blica, porque esta atua por conta de tal interesse. Com efeito,
quanto à sua legalidade. Para efetuar esse controle, devem o exame do princípio é predominantemente feito no caso
ser observados os motivos dos atos administrativos. concreto, analisando a situação de conflito entre o particu-
Em relação à necessidade de motivação dos atos ad- lar e o interesse público e mensurando qual deve prevalecer.
ministrativos vinculados (aqueles em que a lei aponta um
único comportamento possível) e dos atos discricionários 5 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo
(aqueles que a lei, dentro dos limites nela previstos, aponta brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1993.
4 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª 6 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2004. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

3
DIREITO ADMINISTRATIVO

e) Princípios da Tutela e da Autotutela da Adminis- - adequação, pertinência ou idoneidade: significa que


tração Pública: a Administração possui a faculdade de re- o meio escolhido é de fato capaz de atingir o objetivo pre-
ver os seus atos, de forma a possibilitar a adequação destes tendido;
à realidade fática em que atua, e declarar nulos os efeitos - necessidade ou exigibilidade: a adoção da medida
dos atos eivados de vícios quanto à legalidade. O sistema restritiva de um direito humano ou fundamental somente é
de controle dos atos da Administração adotado no Brasil é legítima se indispensável na situação em concreto e se não
o jurisdicional. Esse sistema possibilita, de forma inexorável, for possível outra solução menos gravosa;
ao Judiciário, a revisão das decisões tomadas no âmbito - proporcionalidade em sentido estrito: tem o sentido
da Administração, no tocante à sua legalidade. É, portanto, de máxima efetividade e mínima restrição a ser guardado
denominado controle finalístico, ou de legalidade. com relação a cada ato jurídico que recaia sobre um direito
À Administração, por conseguinte, cabe tanto a anu- humano ou fundamental, notadamente verificando se há
lação dos atos ilegais como a revogação de atos válidos uma proporção adequada entre os meios utilizados e os
e eficazes, quando considerados inconvenientes ou ino- fins desejados.
portunos aos fins buscados pela Administração. Essa for-
ma de controle endógeno da Administração denomina-se Centralização, descentralização, concentração e
princípio da autotutela. Ao Poder Judiciário cabe somente a desconcentração
anulação de atos reputados ilegais. O embasamento de tais
condutas é pautado nas Súmulas 346 e 473 do Supremo Em linhas gerais, descentralização significa transferir
Tribunal Federal. a execução de um serviço público para terceiros que não
Súmula 346. A administração pública pode declarar a se confundem com a Administração direta; centralização
nulidade dos seus próprios atos. significa situar na Administração direta atividades que, em
Súmula 473. A administração pode anular seus próprios tese, poderiam ser exercidas por entidades de fora dela;
atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque desconcentração significa transferir a execução de um ser-
deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de viço público de um órgão para o outro dentro da própria
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adqui- Administração; concentração significa manter a execução
ridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial. central ao chefe do Executivo em vez de atribui-la a outra
Os atos administrativos podem ser extintos por revo- autoridade da Administração direta.
gação ou anulação. A Administração tem o poder de rever Passemos a esmiuçar estes conceitos:
seus próprios atos, não apenas pela via da anulação, mas Desconcentração implica no exercício, pelo chefe do
também pela da revogação. Aliás, não é possível revogar Executivo, do poder de delegar certas atribuições que são
atos vinculados, mas apenas discricionários. A revogação de sua competência privativa. Neste sentido, o previsto na
se aplica nas situações de conveniência e oportunidade, CF:
quanto que a anulação serve para as situações de vício de
legalidade. Artigo 84, parágrafo único, CF. O Presidente da Repúbli-
f) Princípios da Razoabilidade e Proporcionalidade: ca poderá delegar as atribuições mencionadas nos inci-
Razoabilidade e proporcionalidade são fundamentos de sos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado,
caráter instrumental na solução de conflitos que se esta- ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da
beleçam entre direitos, notadamente quando não há legis- União, que observarão os limites traçados nas respectivas
lação infraconstitucional específica abordando a temática delegações.
objeto de conflito. Neste sentido, quando o poder público
toma determinada decisão administrativa deve se utilizar Neste sentido:
destes vetores para determinar se o ato é correto ou não,
se está atingindo indevidamente uma esfera de direitos ou Artigo 84, VI, CF. dispor, mediante decreto, sobre: 
se é regular. Tanto a razoabilidade quanto a proporciona- a) organização e funcionamento da administração
lidade servem para evitar interpretações esdrúxulas mani- federal, quando não implicar aumento de despesa nem
festamente contrárias às finalidades do texto declaratório. criação ou extinção de órgãos públicos; 
Razoabilidade e proporcionalidade guardam, assim, a b) extinção de funções ou cargos públicos, quando
mesma finalidade, mas se distinguem em alguns pontos. vagos; 
Historicamente, a razoabilidade se desenvolveu no direito Artigo 84, XII, CF. conceder indulto e comutar penas,
anglo-saxônico, ao passo que a proporcionalidade origina- com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei;
-se do direito germânico (muito mais metódico, objetivo e Artigo 84, XXV, CF. prover e extinguir os cargos pú-
organizado), muito embora uma tenha buscado inspiração blicos federais, na forma da lei; (apenas o provimento é
na outra certas vezes. Por conta de sua origem, a propor- delegável, não a extinção)
cionalidade tem parâmetros mais claros nos quais pode ser
trabalhada, enquanto a razoabilidade permite um processo Com efeito, o chefe do Poder Executivo federal tem op-
interpretativo mais livre. Evidencia-se o maior sentido jurí- ções de delegar parte de suas atribuições privativas para
dico e o evidente caráter delimitado da proporcionalidade os Ministros de Estado, o Procurador-Geral da República
pela adoção em doutrina de sua divisão clássica em 3 sen- ou o Advogado-Geral da União. O Presidente irá delegar
tidos: com relação de hierarquia cada uma destas essencialida-

4
DIREITO ADMINISTRATIVO

des dentro da estrutura organizada do Estado. Reforça-se, XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e
desconcentrar significa delegar com hierarquia, pois o Conselho de Defesa Nacional;
há uma relação de subordinação dentro de uma estrutura XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira,
centralizada, isto é, os Ministros de Estado, o Procurador- autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele,
-Geral da República e o Advogado-Geral da União respon- quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas
dem diretamente ao Presidente da República e, por isso, mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobi-
não possuem plena discricionariedade na prática dos atos lização nacional;
administrativos que lhe foram delegados. XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do
Congresso Nacional;
Concentrar, ao inverso, significa exercer atribuições XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas;
privativas da Administração pública direta no âmbito mais XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar,
central possível, isto é, diretamente pelo chefe do Poder que forças estrangeiras transitem pelo território nacional
Executivo, seja porque não são atribuições delegáveis, seja ou nele permaneçam temporariamente;
porque se optou por não delegar. XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano pluria-
nual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as pro-
Artigo 84, CF. Compete privativamente ao Presidente postas de orçamento previstos nesta Constituição;
da República: XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional,
I - nomear e exonerar os Ministros de Estado; dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa,
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a di- as contas referentes ao exercício anterior;
reção superior da administração federal; XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais,
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos na forma da lei;
previstos nesta Constituição; XXVI - editar medidas provisórias com força de lei,
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, nos termos do art. 62;
bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta
execução; Constituição.
V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
VI - dispor, mediante decreto, sobre:  Descentralizar envolve a delegação de interesses es-
a) organização e funcionamento da administração tatais para fora da estrutura da Administração direta, o que
federal, quando não implicar aumento de despesa nem é possível porque não se refere a essencialidades, ou seja,
criação ou extinção de órgãos públicos;  a atos administrativos que somente possam ser praticados
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando pela Administração direta porque se referem a interesses
vagos;  estatais diversos previstos ou não na CF. Descentralizar é
VII - manter relações com Estados estrangeiros e uma delegação sem relação de hierarquia, pois é uma
acreditar seus representantes diplomáticos; delegação de um ente para outro (não há subordinação
VIII - celebrar tratados, convenções e atos interna- nem mesmo quanto ao chefe do Executivo, há apenas uma
cionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; espécie de tutela ou supervisão por parte dos Ministérios –
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio; se trata de vínculo e não de subordinação).
X - decretar e executar a intervenção federal; Basicamente, se está diante de um conjunto de pessoas
XI - remeter mensagem e plano de governo ao Con- jurídicas estatais criadas ou autorizadas por lei para presta-
gresso Nacional por ocasião da abertura da sessão legislati- rem serviços de interesse do Estado. Possuem patrimônio
va, expondo a situação do País e solicitando as providências próprio e são unidades orçamentárias autônomas. Ainda,
que julgar necessárias; exercem em nome próprio direitos e obrigações, respon-
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiên- dendo pessoalmente por seus atos e danos.
cia, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; Existem duas formas pelas quais o Estado pode efetuar
XIII - exercer o comando supremo das Forças Arma- a descentralização administrativa: outorga e delegação.
das, nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e A outorga se dá quando o Estado cria uma entidade
da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá- e a ela transfere, através de previsão em lei, determinado
-los para os cargos que lhes são privativos;  serviço público e é conferida, em regra, por prazo indeter-
XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os minado. Isso é o que acontece quanto às entidades da Ad-
Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais ministração Indireta prestadoras de serviços públicos. Nes-
Superiores, os Governadores de Territórios, o Procura- te sentido, o Estado descentraliza a prestação dos serviços,
dor-Geral da República, o presidente e os diretores do ban- outorgando-os a outras entidades criadas para prestá-los,
co central e outros servidores, quando determinado em lei; as quais podem tomar a forma de autarquias, empresas pú-
XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Minis- blicas, sociedades de economia mista e fundações públicas.
tros do Tribunal de Contas da União; A delegação ocorre quando o Estado transfere, por
XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta contrato ou ato unilateral, apenas a execução do serviço,
Constituição, e o Advogado-Geral da União; para que o ente delegado o preste ao público em seu pró-
XVII - nomear membros do Conselho da República, prio nome e por sua conta e risco, sob fiscalização do Esta-
nos termos do art. 89, VII; do. A delegação é geralmente efetivada por prazo determi-

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DIREITO ADMINISTRATIVO

nado. Ela se dá, por exemplo, nos contratos de concessão a) Órgãos independentes – encabeçam o poder ou es-
ou nos atos de permissão, pelos quais o Estado transfere trutura do Estado, gozando de independência para agir e
aos concessionários e aos permissionários apenas a execu- não se submetendo a outros órgãos. Cabe a eles definir as
ção temporária de determinado serviço. políticas que serão implementadas. É o caso da Presidên-
Centralizar envolve manter na estrutura da Adminis- cia da República, órgão complexo composto pelo gabinete,
tração direta o desempenho de funções administrativas de pela Advocacia-Geral da União, pelo Conselho da Repúbli-
interesses não essenciais do Estado, que poderiam ser atri- ca, pelo Conselho de Defesa, e unitário (pois o Presidente
buídos a entes de fora da Administração por outorga ou da República é o único que toma as decisões).
delegação. b) Órgãos autônomos – estão no primeiro escalão do
poder, com autonomia funcional, porém subordinados po-
Administração Pública Direta liticamente aos independentes. É o caso de todos os minis-
térios de Estado.
Administração Pública direta é aquela formada pelos c) Órgãos superiores – são desprovidos de autonomia
entes integrantes da federação e seus respectivos órgãos. ou independência, sendo plenamente vinculados aos ór-
Os entes políticos são a União, os Estados, o Distrito Fe- gãos autônomos. Ex.: Delegacia Regional do Trabalho, vin-
deral e os Municípios. À exceção da União, que é dotada culada ao Ministério do Trabalho e Emprego; Departamen-
de soberania, todos os demais são dotados de autonomia. to da Polícia Federal, vinculado ao Ministério da Justiça.
Dispõe o Decreto nº 200/1967: d) Órgãos subalternos – são vinculados a todos acima
deles com plena subordinação administrativa. Ex.: órgãos
Art. 4° A Administração Federal compreende: que executam trabalho de campo, policiais federais, fiscais
I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços do MTE.
integrados na estrutura administrativa da Presidência da Re-
pública e dos Ministérios. ATENÇÃO: O Ministério Público, os Tribunais de Contas
e as Defensorias Públicas não se encaixam nesta estrutura,
A administração direta é formada por um conjunto de sendo órgãos independentes constitucionais. Em verdade,
núcleos de competências administrativas, os quais já foram para Canotilho e outros constitucionalistas, estes órgãos
tidos como representantes do poder central (teoria da re- não pertencem nem mesmo aos três poderes.
presentação) e como mandatários do poder central (teoria Conforme Carvalho Filho7, “a noção de Estado, como
do mandato). Hoje, adota-se a teoria do órgão, de Otto visto, não pode abstrair-se da de pessoa jurídica. O Es-
Giërke, segundo a qual os órgãos são apenas núcleos ad- tado, na verdade, é considerado um ente personalizado,
ministrativos criados e extintos exclusivamente por lei, mas seja no âmbito internacional, seja internamente. Quando
que podem ser organizados por decretos autônomos do se trata de Federação, vigora o pluripersonalismo, porque
Executivo (art. 84, VI, CF), sendo desprovidos de personali- além da pessoa jurídica central existem outras internas que
dade jurídica própria. compõem o sistema político. Sendo uma pessoa jurídica,
Assim, os órgãos da Administração direta não possuem o Estado manifesta sua vontade através de seus agentes,
patrimônio próprio; e não assumem obrigações em nome ou seja, as pessoas físicas que pertencem a seus quadros.
próprio e nem direitos em nome próprio (não podem ser Entre a pessoa jurídica em si e os agentes, compõe o Esta-
autor nem réu em ações judiciais, exceto para fins de man- do um grande número de repartições internas, necessárias
dado de segurança – tanto como impetrante como quan- à sua organização, tão grande é a extensão que alcança e
to impetrado). Já que não possuem personalidade, atuam tamanha as atividades a seu cargo. Tais repartições é que
apenas no cumprimento da lei, não atuando por vontade constituem os órgãos públicos”.
própria. Logo, órgãos e agentes públicos são impessoais “Várias teorias surgiram para explicar as relações do
quando agem no estrito cumprimento de seus deveres, Estado, pessoa jurídica, com suas agentes: Pela teoria do
não respondendo diretamente por seus atos e danos. mandato, o agente público é mandatário da pessoa jurí-
Esta impossibilidade de se imputar diretamente a res- dica; a teoria foi criticada por não explicar como o Estado,
ponsabilidade a agentes públicos ou órgãos públicos que que não tem vontade própria, pode outorgar o mandato”8.
estejam exercendo atribuições da Administração direta é A origem desta teoria está no direito privado, não tendo
denominada teoria da imputação objetiva, de Otto Giërke, como prosperar porque o Estado não pode outorgar man-
que institui o princípio da impessoalidade. dato a alguém, afinal, não tem vontade própria.
Quando se faz desconcentração da autoridade central Num momento seguinte, adotou-se a teoria da repre-
– chefe do Executivo – para os seus órgãos, se depara com sentação: “Posteriormente houve a substituição dessa con-
diversos níveis de órgãos, que podem ser classificados em cepção pela teoria da representação, pela qual a vontade
simples ou complexos (simples se possuem apenas uma dos agentes, em virtude de lei, exprimiria a vontade do Es-
estrutura administrativa, complexos se possuem uma rede
de estruturas administrativas) e em unitários ou colegia- 7 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
dos (unitário se o poder de decisão se concentra em uma direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
pessoa, colegiado se as decisões são tomadas em conjunto 2010.
e prevalece a vontade da maioria): 8 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Admi-
nistrativo. 23. ed. São Paulo: Atlas editora, 2010.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

tado, como ocorre na tutela ou na curatela, figuras jurídicas conferidas prerrogativas aos agentes, indispensáveis à con-
que apontam para representantes dos incapazes. Ocorre secução dos fins públicos, que são os poderes adminis-
que essa teoria, além de equiparar o Estado, pessoa jurí- trativos. Em contrapartida, surgirão deveres específicos,
dica, ao incapaz (sendo que o Estado é pessoa jurídica do- que são deveres administrativos.
tada de capacidade plena), não foi suficiente para alicerçar Os poderes conferidos à administração surgem como
um regime de responsabilização da pessoa jurídica perante instrumentos para a preservação dos interesses da cole-
terceiros prejudicados nas circunstâncias em que o agente tividade. Caso a administração se utilize destes poderes
ultrapassasse os poderes da representação”9. Criticou-se a para fins diversos de preservação dos interesses da socie-
teoria porque o Estado estaria sendo visto como um su- dade, estará cometendo abuso de poder, ou seja, incidin-
jeito incapaz, ou seja, uma pessoa que não tem condições do em ilegalidade. Neste caso, o Poder Judiciário poderá
plenas de manifestar, de falar, de resolver pendências; bem efetuar controle dos atos administrativos que impliquem
como porque se o representante estatal exorbitasse seus em excesso ou abuso de poder.
poderes, o Estado não poderia ser responsabilizado.
Quanto aos poderes administrativos, eles podem ser
Finalmente, adota-se a teoria do órgão, de Otto Giër-
colocados como prerrogativas de direito público conferi-
ke, segundo a qual os órgãos são apenas núcleos adminis-
das aos agentes públicos, com vistas a permitir que o Esta-
trativos criados e extintos exclusivamente por lei, mas que
do alcance os seus fins. Evidentemente, em contrapartida a
podem ser organizados por decretos autônomos do Exe-
cutivo (art. 84, VI, CF), sendo desprovidos de personalidade estes poderes, surgem deveres ao administrador.
jurídica própria. Com efeito, o Estado brasileiro responde “O poder administrativo representa uma prerrogativa
pelos atos que seus agentes praticam, mesmo se estes atos especial de direito público
extrapolam das atribuições estatais conferidas, sendo-lhe outorgada aos agentes do Estado. Cada um desses
assegurado o intocável e assustador direito de regresso. terá a seu cargo a execução de certas
Apresenta-se a classificação dos órgãos: funções. Ora, se tais funções foram por lei cometidas
aos agentes, devem eles exercê-las, pois que seu exercício
a) Quanto à pessoa federativa: federais, estaduais, dis- é voltado para beneficiar a coletividade. Ao fazê-lo, dentro
tritais e municipais. dos limites que a lei traçou, pode dizer-se que usaram
b) Quanto à situação estrutural: os diretivos, que são normalmente os seus poderes.
aqueles que detêm condição de comando e de direção, Uso do poder, portanto, é a utilização normal, pe-
e os subordinados, incumbidos das funções rotineiras de los agentes públicos, das prerrogativas que a lei lhes
execução. confere”10.
c) Quanto à composição: singulares, quando integra- Neste sentido, “os poderes administrativos são ou-
dos em um só agente, e os coletivos, quando compostos torgados aos agentes do Poder Público para lhes permitir
por vários agentes. atuação voltada aos interesses da coletividade. Sendo as-
d) Quanto à esfera de ação: centrais, que exercem atri- sim, deles emanam duas ordens de consequência: 1ª) são
buições em todo o território nacional, estadual, distrital e eles irrenunciáveis; e 2ª) devem ser obrigatoriamente
municipal, e os locais, que atuam em parte do território. exercidos pelos titulares. Desse modo, as prerrogativas
e) Quanto à posição estatal: são os que representam públicas, ao mesmo tempo em que constituem poderes
os poderes do Estado – o Executivo, o Legislativo e o Ju- para o administrador público, impõem-lhe o seu exercício
diciário. e lhe vedam a inércia, porque o reflexo desta atinge, em
f) Quanto à estrutura: simples ou unitários e compos- última instância, a coletividade, esta a real destinatária de
tos. Os órgãos compostos são constituídos por vários ou- tais poderes. Esse aspecto dúplice do poder administra-
tros órgãos.
tivo é que se denomina de poder-dever de agir”11. Per-
cebe-se que, diferentemente dos particulares aos quais,
quando conferido um poder, podem optar por exercê-lo
ou não, a Administração não tem faculdade de agir, afinal,
POLÍCIA E PODER DE POLÍCIA: CONCEITOS.
sua atuação se dá dentro de objetos de interesse público.
DIVISÃO DE POLÍCIA. LIMITAÇÕES DO Logo, a abstenção não pode ser aceita, o que transforma o
PODER DE POLÍCIA. poder de agir também num dever de fazê-lo: daí se afirmar
um poder-dever. Com efeito, o agente omisso poderá ser
responsabilizado.
O Estado possui papel central de disciplinar a socieda- Os poderes da Administração se dividem em: vincula-
de. Como não pode fazê-lo sozinho, constitui agentes que do, discricionário, hierárquico, disciplinar, regulamen-
exercerão tal papel. No exercício de suas atribuições, são tar e de polícia.

9 NOHARA, Irene Patrícia. Direito Administrati- 10 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direi-
vo – esquematizado, completo, atualizado, temas polêmicos, to administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
conteúdo dos principais concursos públicos. 3. ed. São Paulo: 11 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direi-
Atlas editora, 2013. to administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

7
DIREITO ADMINISTRATIVO

Poder vinculado berdade para decidir de outra forma que o fará sem come-
No poder vinculado não há qualquer liberdade quan- ter arbitrariedades e, caso o faça, incidirá em ilicitude. O ato
to à atividade que deva ser praticada, cabendo ao adminis- discricionário que ofenda os parâmetros da razoabilidade é
trador se sujeitar por completo ao mandamento da lei. Nos atentatório à lei. Afinal, não obstante a discricionariedade
atos vinculados, o agente apenas reproduz os elementos da seja uma prerrogativa da administração, o seu maior obje-
lei. Afinal, o administrador se encontra diante de situações tivo é o atendimento aos interesses da coletividade.
que comportam solução única anteriormente prevista por
lei. Portanto, não há espaço para que o administrador faça Poder regulamentar
um juízo discricionário, de conveniência e oportunidade. Em linhas gerais, poder regulamentar é o poder confe-
Ele é obrigado a praticar o ato daquela forma, porque a lei rido à administração de elaborar decretos e regulamen-
assim prevê. Ex.: pedido de aposentadoria compulsória por tos. Percebe-se que o Poder Executivo, nestas situações,
servidor que já completou 70 anos; pedido de licença para exerce força normativa, expedindo normas que se reves-
prestar serviço militar obrigatório. tem, como qualquer outra, de abstração e generalidade.
Quando o Poder Legislativo edita suas leis nem sempre
Poder discricionário possibilita que elas sejam executadas. A aplicação prática
Existem situações em que o próprio agente tem a pos- fica a cargo do Poder Executivo, que irá editar decretos
sibilidade de valorar a sua conduta. Logo, no poder discri- e regulamentos com capacidade de dar execução às leis
cionário o administrador não está diante de situações que editadas pelo Poder Legislativo. Trata-se de prerrogativa
comportam solução única. Possui, assim, um espaço para complementar à lei, não podendo em hipótese alguma
exercer um juízo de valores de conveniência e oportunidade. o Executivo alterar o seu conteúdo. Entretanto, poderá o
Executivo criar obrigações subsidiárias, que se impõem
Conveniência = condições em que irá agir ao administrado ao lado das obrigações primárias fixadas
Oportunidade = momento em que irá agir na própria lei.
Discricionariedade = oportunidade + conveniência Caso ocorra abuso ao poder regulamentar, caberá ao
Congresso Nacional sustar o ato: “Art. 49, CF. É da compe-
tência exclusiva do Congresso Nacional: [...] V - sustar os
A discricionariedade pode ser exercida tanto quando o
atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do po-
ato é praticado quanto, num momento futuro, na circuns-
der regulamentar ou dos limites de delegação legislativa”.
tância de sua revogação.
Segundo entendimento majoritário, tanto os decretos
Uma das principais limitações ao poder discricionário é
quanto os regulamentos podem ser autônomos (atos de
a adequação, correspondente à adequação da conduta es-
natureza originária ou primária) ou de execução (atos de
colhida pelo agente à finalidade expressa em lei. O segundo
natureza derivada ou secundária), embora a essência do
limite é o da verificação dos motivos12. Neste sentido, discri- poder regulamentar seja composta pelos decretos e regu-
cionariedade não pode se confundir com arbitrariedade – a lamentos de execução. O regulamento autônomo pode ser
última é uma conduta ilegítima e quanto a ela caberá con- editado independentemente da existência de lei anterior,
trole de legalidade perante o Poder Judiciário. se encontrando no mesmo patamar hierárquico que a lei –
“O controle judicial, entretanto, não pode ir ao extre- por isso, é passível de controle de constitucionalidade. Os
mo de admitir que o juiz se substitua ao administrador. Vale regulamentos de execução dependem da existência de lei
dizer: não pode o juiz entrar no terreno que a lei reservou anterior para que possam ser editados e devem obedecer
aos agentes da Administração, perquirindo os critérios de aos seus limites, sob pena de ilegalidade – deste modo, se
conveniência e oportunidade que lhe inspiraram a conduta. sujeitam a controle de legalidade.
A razão é simples: se o juiz se atém ao exame da legalida- Nos termos do artigo 84, IV, CF, compete privativamen-
de dos atos, não poderá questionar critérios que a própria te ao Presidente da República expedir decretos e regula-
lei defere ao administrador. [...] Modernamente, os doutri- mentos para a fiel execução da lei, atividade que não pode
nadores têm considerado os princípios da razoabilidade e ser delegada, nos termos do parágrafo único. Em que pese
da proporcionalidade como valores que podem ensejar o o teor do dispositivo que poderia dar a entender que a
controle da discricionariedade, enfrentando situações que, existência de decretos autônomos é impedida, o próprio
embora com aparência de legalidade, retratam verdadeiro STF já reconheceu decretos autônomos como válidos em
abuso de poder. [...] A exacerbação ilegítima desse tipo de situações excepcionais. Carvalho Filho14, a respeito, afirma
controle reflete ofensa ao princípio republicano da separa- que somente são decretos e regulamentos que tipicamen-
ção dos poderes”13. te caracterizam o poder regulamentar aqueles que são de
Há quem diga que, por haver tal liberdade, não existe natureza derivada – o autor admite que existem decretos
o dever de motivação, mas isso não está correto: aqui, mais e regulamentos autônomos, mas diz que não são atos do
que nunca, o dever de motivar se faz presente, demonstran- poder regulamentar.
do que não houve arbítrio na decisão tomada pelo adminis- A classificação dos decretos e regulamentos em au-
trador. Basicamente, não é porque o administrador tem li- tônomos e de execução é bastante relevante para fins de
12 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direi- controle judicial. Em se tratando de decreto de execução, o
to administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. parâmetro de controle será a lei a qual o decreto está vin-
13 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direi- 14 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direi-
to administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. to administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

8
DIREITO ADMINISTRATIVO

culado, ocorrendo mero controle de legalidade como re- lizar-se com a legalidade. É certo que nem toda ilegalidade
gra – não caberá controle de constitucionalidade por ações decorre de conduta abusiva; mas todo abuso se reveste de
diretas de inconstitucionalidade ou de constitucionalidade, ilegalidade e, como tal, sujeita-se à revisão administrativa
mas caberá por arguição de descumprimento de preceito ou judicial”16.
fundamental – ADPF, cujo caráter é mais amplo e permite Se é possível o excesso ou o abuso de poder, é claro que
o controle sobre atos regulamentares derivados de lei, tal a legislação não apenas confere poderes ao administrador,
como será cabível mandado de injunção. Em se tratan- mas também estabelece deveres.
do de decreto autônomo, o parâmetro de controle sempre
será a Constituição Federal, possuindo o decreto a mesma Uso do poder e deveres da administração
posição hierárquica das demais leis infraconstitucionais, Conforme Carvalho Filho, uso do poder “é a utilização
ocorrendo genuíno controle de constitucionalidade no normal, pelos agentes públicos, das prerrogativas que a lei
caso concreto, por qualquer das vias. lhes confere”17. Significa que se um agente toma suas ati-
Outra observação que merece ser feita se refere ao tudes dentro dos limites dos poderes administrativos, está
conceito de deslegalização. O fenômeno tem origem na agindo conforme a lei. Um dos principais guias para deter-
França e corresponde à transferência de certas matérias de minar se a ação está ou não em conformidade é o dos deve-
caráter estritamente técnico da lei ou ato congênere para res administrativos.
outras fontes normativas, com autorização do próprio le- Assim, além de poderes, os agentes administrativos,
gislador. Na verdade, o legislador efetuará uma espécie de obviamente, detêm deveres, em razão das atribuições que
delegação, que não será completa e integral, pois ainda ca- exercem. Dentre os principais, podem ser citados os seguin-
berá ao Legislativo elaborar o regramento básico, ocorren- tes, conforme aponta doutrina a respeito do assunto:
do a transferência estritamente do aspecto técnico (deno- - Dever de probidade: trata-se de um dos deveres mais
mina-se delegação com parâmetros). Há quem diga que relevantes, correspondendo à obrigação do agente público
nestes casos não há poder regulamentar, mas sim poder de agir de forma honesta e reta, respeitando a moralidade
regulador. É exemplo do que ocorre com as agências regu- administrativa e o interesse público. A violação desse dever
ladoras, como ANATEL, ANEEL, entre outras. caracteriza ato de improbidade, punível, conforme artigo
37, §4º, CF e Lei nº 8.429/92, que se sujeita a diversas pe-
Abuso de poder nas, como suspensão de direitos políticos, perda da função
Havendo poderes, naturalmente será possível o abuso pública, proibição de contratar com o poder público, multa,
deles. Abuso de poder é a utilização inadequada por parte além de restituição ao erário por enriquecimento ilícito e/ou
dos administradores das prerrogativas a eles conferidas no reparação de danos causados ao erário.
âmbito dos poderes da administração, por violação expres- - Dever de prestar contas: como o que é gerido pelo
sa ou tácita da lei. administrador não lhe pertence, é seu dever prestar contas
“A conduta abusiva dos administradores pode decor- do que realizou à coletividade, isto é, informar em detalhes
rer de duas causas: 1ª) o agente atua fora dos limites de qual o destino dado às verbas e aos bens sob sua gestão.
sua competência; e 2ª) o agente, embora dentro de sua Este dever abrange não só aqueles que são agentes públi-
competência, afasta-se do interesse público que deve nor- cos, mas a todos que tenham sob sua responsabilidade di-
tear todo o desempenho administrativo. No primeiro caso, nheiros, bens ou interesses públicos, independentemente de
diz-se que o agente atuou com ‘excesso de poder’ e no serem ou não administradores públicos.
segundo, com ‘desvio de poder’”15. Basicamente, havendo “A prestação de contas de administradores pode ser reali-
abuso de poder é possível que se caracterize excesso de zada internamente através dos órgãos escalonados em graus
poder ou desvio de poder. No excesso de poder, o agente hierárquicos, ou externamente. Neste caso, o controle de con-
nem teria competência para agir naquela questão e o tas é feito pelo Poder Legislativo por ser ele o órgão de repre-
faz. No abuso de poder, o agente possui competência sentação popular. No Legislativo se situa, organicamente, o Tri-
para agir naquela questão, mas não o faz em respeito bunal de Contas, que, por sua especialização, auxilia o Congres-
ao interesse público, ou seja, desvirtua-se do fim que de- so Nacional na verificação de contas dos administradores”18.
veria atingir o seu ato, por isso o desvio de poder também - Dever de eficiência: a atividade administrativa deve
é denominado desvio de finalidade. A conduta abusiva é ser célere e técnica, mesclando qualidade e quantidade. Para
passível de controle, inclusive judicial. tanto, é necessário atribuir competências aos cargos confor-
me a qualificação exigida para ocupá-los; bem como desem-
EXCESSO DE PODER = INCOMPETÊNCIA penhar atividades com perfeição, coordenação, celeridade e
ABUSO DE PODER = COMPETÊNCIA = DESVIO DE técnica. Não significa que perfeccionismo em excesso seja
FINALIDADE valorizado, pois ele afeta o elemento quantitativo do ser-
viço, que também é essencial para que ele seja eficiente.
“Pela própria natureza do fato em si, todo abuso de po-
der se configura como ilegalidade. Não se pode conceber 16 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direi-
que a conduta de um agente, fora dos limites de sua com- to administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
petência ou despida da finalidade da lei, possa compatibi- 17 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direi-
to administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
15 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direi- 18 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direi-
to administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. to administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

- Dever de agir: o administrador possui um poder-de- Poder disciplinar.


ver de agir. Não se trata de mero poder, porque priorizam
atender ao interesse da coletividade e, em razão disso, Trata-se de decorrência do poder hierárquico, pois é
o poder de agir é também um dever, que é irrenunciá- a hierarquia que permite aos agentes de nível superior fis-
vel e obrigatório. Ao administrador é vedada a inércia. calizar as ações dos subordinados. Assim, poder disciplinar
Logo, poderá ser responsabilizado por omissão ou silên- é o poder conferido à administração para aplicar sanções
cio, abrindo possibilidade de obter o ato não realizado: aos seus servidores que pratiquem infrações disciplinares.
pela via extrajudicial, notadamente ao exercer o direito de Estas sanções aplicadas são apenas as que possuem
petição; ou por via judicial, por intermédio de mandado natureza administrativa, não envolvendo sanções civis ou
de segurança, quando ferir direito líquido e certo do inte- penais. Entre as penas que podem ser aplicadas, destacam-
ressado comprovado de plano, ou por ação de obrigação -se a de advertência, suspensão, demissão e cassação de
de fazer. aposentadoria.
ATENÇÃO: nem toda omissão do poder público é ile- Evidentemente que tais punições não podem ser apli-
gal. As denominadas omissões genéricas, que envolvem cadas sem alguns requisitos, como a abertura de sindicân-
cia ou processo disciplinar em que se garanta o contradi-
prerrogativas de ação do administrador de caráter geral e
tório e a ampla defesa (obs.: existem cargos que somente
sem prazo determinado para atendimento, inseridas em
são passíveis de demissão por sentença judicial, que são os
seu poder discricionário, não autorizam a alegação de ile-
vitalícios, como os de magistrado e promotor de justiça).
galidade por violação do poder-dever de agir. Insere-se
aqui a denominada reserva do possível – por óbvio sem- Poder de polícia. Liberdades públicas e poder de
pre existirão algumas omissões tendo em vista a escassez polícia.
de recursos financeiros. Ex.: deixar de reformar a entrada
de um edifício, não construir um estabelecimento de en- É o poder conferido à administração para limitar, dis-
sino. São ilegais, com efeito, as omissões específicas, que ciplinar, restringir e condicionar direitos e atividades
são omissões do poder público mesmo diante de imposi- particulares para a preservação dos interesses da coleti-
ção expressa legal e prazo fixado em lei para atendimen- vidade. É ainda, fato gerador de tributo, notadamente, a
to. Nestas situações, caberá até mesmo responsabilização taxa (artigo 145, II, CF), não podendo ser gerador de tarifa
civil, penal ou administrativa do agente omisso. que se caracteriza como preço público e não podendo ser
cobrada sem o exercício efetivo do poder de polícia.
Hierarquia: poder hierárquico e suas manifesta- “A expressão poder de polícia comporta dois sentidos,
ções. um amplo e um estrito. Em sentido amplo, poder de polícia
significa toda e qualquer ação restritiva do Estado em
“Hierarquia é o escalonamento em plano vertical dos relação aos direitos individuais. [...] Em sentido estrito, o
órgãos e agentes da Administração que tem como obje- poder de polícia se configura como atividade administra-
tivo a organização da função administrativa. E não pode- tiva, que consubstancia, como vimos, verdadeira prerroga-
ria ser de outro modo. Tantas são as atividades a cargo tiva conferida aos agentes da Administração, consistente
da Administração Pública que não se poderia conceber no poder de restringir e condicionar a liberdade e a pro-
sua normal realização sem a organização, em escalas, dos priedade”20.
agentes e dos órgãos públicos. Em razão desse escalona- No sentido amplo, é possível incluir até mesmo a ati-
mento firma-se uma relação jurídica entre os agentes, que vidade do Poder Legislativo, considerando que ninguém é
se denomina relação hierárquica”19. Nesta relação hierár- obrigado a fazer ou deixar de fazer algo se a lei não impu-
quica, surge para a autoridade superior o poder de co- ser (artigo 5º, II, CF). No sentido estrito, tem-se a atividade
da polícia administrativa, envolvendo apenas as prerro-
mando e para o seu subalterno o dever de obediência.
gativas dos agentes da Administração.
Com efeito, poder hierárquico é o poder conferido à
Em destaque, coloca-se o conceito que o próprio legis-
administração de fixar campos de competência quanto às
lador estabelece no Código Tributário Nacional: “Conside-
figuras que compõem sua estrutura. É um poder de auto-
ra-se poder de polícia a atividade da administração pública
-organização. É exercido tanto na distribuição de compe- que, limitando o disciplinando direito, interesse ou liber-
tências entre os órgãos quanto na divisão de deveres en- dade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em ra-
tre os servidores que o compõem. Se o ato for praticado zão de interesse público [...]” (art. 78, primeira parte, CTN).
por órgão incompetente, é inválido. Da mesma forma, se A atividade de polícia é tipicamente administrativa, razão
o for praticado por servidor que não tinha tal atribuição. pela qual é estudada no ramo do direito administrativo.
Por fim, ressalta-se que do poder hierárquico deriva Vale ressaltar, por fim, um dos principais atributos do
o poder de revisão, consistente no poder das autorida- poder de polícia: a autoexecutoriedade. Neste sentido, a
des superiores de revisar os atos praticados por seus su- administração não precisa de manifestação do Poder Ju-
bordinados. diciário para colocar seus atos em prática, efetivando-os.

20 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de


19 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direi- direito administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
to administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. 2015.

10
DIREITO ADMINISTRATIVO

Polícia-função e polícia-corporação o é por órgãos administrativos de caráter mais fiscalizador.


“Apenas com o intuito de evitar possíveis dúvidas em Outra diferença reside na circunstância de que a Polícia
decorrência da identidade de vocábulos, vale a pena real- Administrativa incide basicamente sobre atividades dos
çar que não há como confundir polícia-função com po- indivíduos, enquanto a Polícia Judiciária preordena-se
lícia-corporação: aquela é a função estatal propriamente ao indivíduo em si, ou seja, aquele a quem se atribui
dita e deve ser interpretada sob o aspecto material, indi- o cometimento de ilícito penal”22. Além disso, essencial-
cando atividade administrativa; esta, contudo, correspon- mente, a Polícia Administrativa tem caráter preventivo
de à ideia de órgão administrativo, integrado nos sistemas (busca evitar o dano social), enquanto que a Polícia Judi-
de segurança pública e incumbido de prevenir os delitos ciária tem caráter repressivo (busca a punição daquele
e as condutas ofensivas à ordem pública, razão por que que causou o dano social).
deve ser vista sob o aspecto subjetivo (ou formal). A polí-
cia-corporação executa frequentemente funções de polícia Liberdades públicas e poder de polícia
administrativa, mas a polícia-função, ou seja, a atividade Evidentemente, abusos no exercício do poder de po-
oriunda do poder de polícia, é exercida por outros órgãos lícia não podem ser tolerados. Por mais que todo direito
administrativos além da corporação policial”21. individual seja relativo perante o interesse público, exis-
tem núcleos mínimos de direitos que devem ser preser-
Competência vados, mesmo no exercício do poder de polícia. Neste
A competência para exercer o poder de polícia é, a sentido, a faculdade repressiva deve respeitar os direitos
princípio, da pessoa administrativa que foi dotada de com- do cidadão, as prerrogativas individuais e as liberda-
petência no âmbito do poder regulamentar. Se a compe- des públicas que são consagrados no texto constitucio-
tência for concorrente, também o poder de polícia será nal.
exercido de forma concorrente. Para compreender a questão, interessante suscitar
qual o caráter do poder de polícia, se discricionário ou
Delegação e transferência vinculado. A doutrina de Meirelles23 e Carvalho Filho24 re-
comenda que quando o poder de polícia vai ter os seus
O poder de polícia pode ser exercido de forma origi-
limites fixados há discricionariedade (por exemplo, quan-
nária, pelo próprio órgão ao qual se confere a competên-
do o poder público vai decidir se pode ou não ocorrer
cia de atuação, ou de forma delegada, mediante lei que
pesca num determinado rio), mas quando já existem os
transfira a mera prática de atos de natureza fiscalizatória
limites o ato se torna vinculado (no mesmo exemplo, não
(poder de polícia seria de caráter executório, não inovador)
se pode decidir por multar um pescador e não multar o
a pessoas jurídicas que tenham vinculação oficial com en-
outro por pescarem no rio em que a pesca é proibida, de-
tes públicos.
vendo ambos serem multados). Tal raciocínio é relevante
Obs.: A transferência de tarefas de operacionalização,
para verificar, num caso concreto, se houve ou não abuso
no âmbito de simples constatação, não é considerada de- do poder de polícia. Vamos supor que a lei fixe os limites
legação do poder de polícia. Delegação ocorre quando a para o ato, mas que na prática tais limites tenham sido
atividade fiscalizatória em si é transferida. Por exemplo, ignorados: não haverá discricionariedade, então.
uma empresa contratada para operar radares não recebeu Com efeito, os principais limites do Poder de Polícia
delegação do poder de polícia, mas uma guarda municipal são:
instituída na forma de empresa pública com poder de apli- “- Necessidade – a medida de polícia só deve ser
car multas recebeu tal delegação. adotada para evitar ameaças reais ou prováveis de per-
turbações ao interesse público;
Polícia judiciária e polícia administrativa - Proporcionalidade/razoabilidade – é a relação entre
Uma das mais importantes classificações doutrinárias a limitação ao direito individual e o prejuízo a ser evitado;
corresponde à distinção entre polícia administrativa e po- - Eficácia – a medida deve ser adequada para impedir
lícia judiciária, assim explanada por Carvalho Filho: “ambos o dano a interesse público. Para ser eficaz a Administra-
se enquadram no âmbito da função administrativa, vale di- ção não precisa recorrer ao Poder Judiciário para executar
zer, representam atividades de gestão de interesses públi- as suas decisões, é o que se chama de autoexecutorieda-
cos. A Polícia Administrativa é atividade da Administra- de”25.
ção que se exaure em si mesma, ou seja, inicia e se com-
pleta no âmbito da função administrativa. O mesmo não 22 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
ocorre com a Polícia Judiciária que, embora seja atividade direito administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
administrativa, prepara a atuação da função jurisdicional 2015.
penal, o que a faz regulada pelo Código de Processo Pe- 23 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo bra-
nal (arts. 4º ss) e executada por órgãos de segurança (po- sileiro. São Paulo: Malheiros, 1993.
lícia civil ou militar), ao passo que a Polícia Administrativa 24 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
21 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de 2015.
direito administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 25 http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/di-
2015. reito-administrativo/conceito-de-direito-administrativo

11
DIREITO ADMINISTRATIVO

Importante colocar, como limite, ainda, a necessida- te, envolve os interesses particulares da Administração, que
de de garantia de contraditório e ampla defesa ao admi- são secundários, para que ela possa atender aos interesses
nistrado. Neste sentido, a súmula nº 312, STJ: “no processo primários – no âmbito destes interesses primários (inte-
administrativo para imposição de multa de trânsito, são ne- resses públicos, difusos e coletivos) é que surgem os atos
cessárias as notificações da atuação e da aplicação da pena administrativos, que são atos públicos da Administração,
decorrentes da infração”. sujeitos a regime jurídico de direito público.

Principais setores de atuação da polícia administrativa Atos da Administração ≠ Atos administrativos.


Considerando que todos os direitos individuais são li- Atos privados da Administração = atos da Adminis-
mitados pelo interesse da coletividade, já se pode deduzir tração → regime jurídico de direito privado.
que o âmbito de atuação do poder de polícia é o mais am- Atos públicos da Administração = atos administra-
plo possível. Entre eles, cabe mencionar, polícia sanitária, tivos → regime jurídico de direito público.
polícia ambiental, polícia de trânsito e tráfego, polícia de
profissões (OAB, CRM, etc.), polícia de construções, etc. Os atos administrativos se situam num plano superior
Neste sentido, será possível atuar tanto por atos nor- de direitos e obrigações, que visam atender aos interes-
mativos (atos genéricos, abstratos e impessoais, como de- ses públicos primários, denominados difusos e coletivos.
cretos, regulamentos, portarias, instruções, resoluções, en- Logo, são atos de regime público, sujeitos a pressupostos
tre outros) e por atos concretos (voltados a um indivíduo de existência e validade diversos dos estabelecidos para
específico e isolado, que podem ser determinações, como os atos jurídicos no Código Civil, e sim previstos na Lei de
a multa, ou atos de consentimento, como a concessão ou Ação Popular e na Lei de Processo Administrativo Federal.
revogação de licença ou autorização por alvará). Ao invés de autonomia da vontade, haverá a obrigatorie-
dade do cumprimento da lei e, portanto, a administração
só poderá agir nestas hipóteses desde que esteja expressa
e previamente autorizada por lei27.
ATOS ADMINISTRATIVOS FORMAIS:
DECRETOS, RESOLUÇÕES, PORTARIAS, Requisitos ou elementos
ORDENS DE SERVIÇO.
1) Competência: é o poder-dever atribuído a determi-
nado agente público para praticar certo ato administrativo.
A pessoa jurídica, o órgão e o agente público devem estar
O ato administrativo é uma espécie de fato administra-
revestidos de competência. A competência é sempre fixada
tivo e é em torno dele que se estrutura a base teórica do
por lei.
direito administrativo.
Por seu turno, “a expressão atos da Administração 2) Finalidade: é a razão jurídica pela qual um ato ad-
traduz sentido amplo e indica todo e qualquer ato que ministrativo foi abstratamente criado pela ordem jurídica.
se origine dos inúmeros órgãos que compõem o sistema A lei estabelece que os atos administrativos devem ser
administrativo em qualquer dos Poderes. [...] Na verdade, praticados visando a um fim, notadamente, a satisfação do
entre os atos da Administração se enquadram atos que interesse público. Contudo, embora os atos administrativos
não se caracterizam propriamente como atos adminis- sempre tenham por objeto a satisfação do interesse públi-
trativos, como é o caso dos atos privados da Administra- co, esse interesse é variável de acordo com a situação. Se
ção. Exemplo: os contratos regidos pelo direito privado, a autoridade administrativa praticar um ato fora da finali-
como a compra e venda, a locação etc. No mesmo plano dade genérica ou fora da finalidade específica, estará prati-
estão os atos materiais, que correspondem aos fatos ad- cando um ato viciado que é chamado “desvio de poder ou
ministrativos, noção vista acima: são eles atos da Adminis- desvio de finalidade”.
tração, mas não configuram atos administrativos típicos. 3) Forma: é a maneira pela qual o ato se revela no
Alguns autores aludem também aos atos políticos ou de mundo jurídico. Usualmente, adota-se a forma escrita.
governo”26. Eventualmente, pode ser praticado por sinais ou gestos (ex:
Com efeito, a expressão atos da Administração é mais trânsito). A forma é sempre fixada por lei.
ampla. Envolve, também, os atos privados da Administra- 4) Motivo (vontade): vontade é o querer do ato admi-
ção, referentes às ações da Administração no atendimento nistrativo e dela se extrai o motivo, que é o acontecimento
de seus interesses e necessidades operacionais e instru- real que autoriza/determina a prática do ato administrati-
mentais, agindo no mesmo plano de direitos e obrigações vo. É o ato baseado em fatos e circunstâncias, que o ad-
que os particulares. O regime jurídico será o de direito pri- ministrador pode escolher, mas deve respeitar os limites
vado. Ex.: contrato de aluguel de imóveis, compra de bens e intenções da lei. Nem sempre os atos administrativos
de consumo, contratação de água/luz/internet. Basicamen- possuem motivo legal. Nos casos em que o motivo legal
não está descrito na norma, a lei deu competência discri-
26 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 27 BALDACCI, Roberto Geists. Direito administra-
2015. tivo. São Paulo: Prima Cursos Preparatórios, 2004.

12
DIREITO ADMINISTRATIVO

cionária para que o sujeito escolha o motivo legal (o moti- mediante ação declaratória de falsidade, que irá argumen-
vo deve ser oportuno e conveniente). A teoria dos Motivos tar que houve uma falsidade material (violação física do
Determinantes afirma que os motivos alegados para a prá- documento que traz o ato) ou uma falsidade ideológica
tica de um ato administrativo ficam a ele vinculados de tal (documento que expressa uma inverdade).
modo que a prática de um ato administrativo mediante a 4) Presunção de legitimidade: Sempre que a Ad-
alegação de motivos falsos ou inexistentes determina a sua ministração agir se presume que o fez conforme a lei. Tal
invalidade. presunção é relativa (juris tantum), podendo contudo ser
5) Objeto (conteúdo): é o que o ato afirma ou declara, ilidida por qualquer meio de prova.
manifestando a vontade do Estado. A lei não fixa qual deve Obs.: Todo ato administrativo tem presunção de vera-
ser o conteúdo ou objeto de um ato administrativo, restan- cidade e de legitimidade, mas nem todo ato administrativo
do ao administrador preencher o vazio nestas situações. O é imperativo (pode precisar da concordância do particular,
ato é branco/indefinido. No entanto, deve se demonstrar a exemplo dos atos negociais).
que a prática do ato é oportuna e conveniente.
Obs.: Quando se diz que a escolha do motivo e do ob- Fato administrativo é a “atividade material no exercí-
jeto do ato é discricionária não significa que seja arbitrária, cio da função administrativa, que visa a efeitos de ordem
pois deve se demonstrar a oportunidade e a conveniência. prática para a Administração. [...] Os fatos administrativos
Mérito = oportunidade + conveniência podem ser voluntários e naturais. Os fatos administrativos
voluntários se materializam de duas maneiras: 1ª) por atos
Classificação administrativos, que formalizam a providência dese-
jada pelo administrador através da manifestação da
a) Quanto ao seu alcance: vontade; 2ª) por condutas administrativas, que refletem
1) Atos internos: praticados no âmbito interno da Ad- os comportamentos e as ações administrativas, sejam ou
ministração, incidindo sobre órgãos e agentes administra- não precedidas de ato administrativo formal. Já os fatos
tivos. administrativos naturais são aqueles que se originam de
2) Atos externos: praticados no âmbito externo da fenômenos da natureza, cujos efeitos se refletem na órbita
Administração, atingindo administrados e contratados. São administrativa. Assim, quando se fizer referência a fato ad-
obrigatórios a partir da publicação. ministrativo, deverá estar presente unicamente a noção de
que ocorreu um evento dinâmico da Administração”28.
b) Quanto ao seu objeto: a) Atos normativos: são atos gerais e abstratos visando
1) Atos de império: praticados com supremacia em a correta aplicação da lei. É o caso dos decretos, regula-
relação ao particular e servidor, impondo o seu obrigatório mentos, regimentos, resoluções, deliberações.
cumprimento. b) Atos ordinatórios: disciplinam o funcionamento da
2) Atos de gestão: praticados em igualdade de condi- Administração e a conduta de seus agentes. É o caso de
ção com o particular, ou seja, sem usar de suas prerrogati- instruções, circulares, avisos, portarias, ofícios, despachos
vas sobre o destinatário. administrativos, decisões administrativas.
3) Atos de expediente: praticados para dar andamen- c) Atos negociais: são aqueles estabelecidos entre Ad-
to a processos e papéis que tramitam internamente na ad- ministração e administrado em consenso. É o caso de licen-
ministração pública. São atos de rotina administrativa. ças, autorizações, permissões, aprovações, vistos, dispensa,
homologação, renúncia.
Obs.: Demais classificações do tópico 4.11 ao 4.14. d) Atos enunciativos: são aqueles em que a Administra-
ção certifica ou atesta um fato sem vincular ao seu conteú-
Atributos do. É o caso de atestados, certidões, pareceres.
e) Atos punitivos: são aqueles que emanam punições
1) Imperatividade: em regra, a Administração decreta aos particulares e servidores.
e executa unilateralmente seus atos, não dependendo da
participação e nem da concordância do particular. Do po- “Uma questão interessante que merece ser analisada
der de império ou extroverso, que regula a forma unilateral no tocante ao ato administrativo é a omissão da Admi-
e coercitiva de agir da Administração, se extrai a imperati- nistração Pública ou, o chamado silêncio administrativo.
vidade dos atos administrativos. Essa omissão é verificada quando a administração deveria
2) Autoexecutoriedade: em regra, a Administração expressar uma pronúncia quando provocada por adminis-
pode concretamente executar seus atos independente da trado, ou para fins de controle de outro órgão, e não o
manifestação do Poder Judiciário, mesmo quando estes faz. Para Celso Antônio Bandeira de Mello, o silêncio da
afetam diretamente a esfera jurídica de particulares. administração não é um ato jurídico, mas quando produz
3) Presunção de veracidade: todo ato editado ou pu- efeitos jurídicos, pode ser um fato jurídico administrativo.
blicado pela Administração é presumivelmente verdadeiro, [...] Denota-se que o silêncio pode consistir em omissão,
seja na forma, seja no conteúdo, o que se denomina “fé pú- 28 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
blica”. Evidente que tal presunção é relativa (juris tantum), direito administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
mas é muito difícil de ser ilidida. Só pode ser quebrada 2015.

13
DIREITO ADMINISTRATIVO

ausência de manifestação de vontade, ou não. Em deter- reexame de ofício; g) deixem de aplicar jurisprudência fir-
minadas situações poderá a lei determinar a Administra- mada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos,
ção Pública manifestar-se obrigatoriamente, qualificando propostas e relatórios oficiais; h) importem anulação, revo-
o silêncio como manifestação de vontade. Nesses casos, gação, suspensão ou convalidação de ato administrativo. A
é possível afirmar que estaremos diante de um ato admi- motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo
nistrativo. [...] Desta forma, quando o silêncio é uma forma consistir em declaração de concordância com fundamentos
de manifestação de vontade, produz efeitos de ato admi- de anteriores pareceres, informações, decisões ou propos-
nistrativo. Isto porque a lei pode atribuir ao silêncio deter- tas, que, neste caso, serão parte integrante do ato”30.
minado efeito jurídico, após o decurso de certo prazo. En-
tretanto, na ausência de lei que atribua determinado efeito CAPÍTULO I
jurídico ao silêncio, estaremos diante de um fato jurídico DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
administrativo”29.
Cassação é a retirada do ato administrativo em decor- Art. 1o Esta Lei estabelece normas básicas sobre o pro-
rência do beneficiário ter descumprido condição tida como cesso administrativo no âmbito da Administração Federal
indispensável para a manutenção do ato. Embora legítimo direta e indireta, visando, em especial, à proteção dos direi-
na sua origem e na sua formação, o ato se torna ilegal na tos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins
sua execução a partir do momento em que o destinatário da Administração.
descumpre condições pré-estabelecidas. Por exemplo, uma
Processo é “a relação jurídica integrada por algumas
pessoa obteve permissão para explorar o serviço público,
pessoas, que nela exercem várias atividades direcionadas
porém descumpriu uma das condições para a prestação
para determinado fim”. Tratando-se de uma relação admi-
desse serviço. Vem o Poder Público e, a título de penalida-
nistrativa, a relação jurídica traduzirá um processo adminis-
de, procede a cassação da permissão. trativo. Logo, processo administrativo é “o instrumento que
A anulação é a retirada do ato administrativo em de- formaliza a sequência ordenada de atos e de atividades do
corrência de sua invalidade, reconhecida judicial ou admi- Estado e dos particulares a fim de ser produzida uma von-
nistrativamente, preservando-se os direitos dos terceiros de tade final da Administração”31.
boa-fé. Trata-se da supressão do ato administrativo, com Processo administrativo não se confunde com procedi-
efeito retroativo, por razões de ilegalidade e ilegitimidade. mento administrativo. O primeiro pressupõe a sucessão or-
Cabe o exame pelo Poder Judiciário (razões de legalidade e denada de atos concatenados visando à edição de um ato
legitimidade) e pela Administração Pública (aspectos legais final, ou seja, é o conjunto de atos que visa à obtenção de
e no mérito). Gera efeitos retroativos (ex tunc), invalida as decisão sobre uma controvérsia no âmbito administrativo;
consequências passadas, presentes e futuras. o segundo corresponde ao rito, conjunto de formalidades
A revogação é a retirada do ato administrativo em que deve ser observado para a prática de determinados
decorrência da sua inconveniência ou inoportunidade em atos, e é realizado no interior do processo, para viabilizá-lo.
face dos interesses públicos, sendo o ato válido e praticado A Lei n° 9.784/99 estabelece as regras para o processo
dentro da Lei, efetuando-se a revogação na via administra- administrativo e institui um sistema normativo que fornece
tiva. Trata-se da extinção de um ato administrativo legal e uniformidade aos diversos procedimentos administrativos
perfeito, por razões de conveniência e oportunidade, pela em trâmite.
Administração, no exercício do poder discricionário. O ato
revogado conserva os efeitos produzidos durante o tempo § 1o Os preceitos desta Lei também se aplicam aos ór-
em que operou. A partir da data da revogação é que cessa gãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União, quan-
a produção de efeitos do ato até então perfeito e legal. Só do no desempenho de função administrativa.
pode ser praticado pela Administração Pública por razões Vale para as três esferas de poder.
de oportunidade e conveniência, não cabendo a interven-
ção do Poder Judiciário. A revogação não pode atingir os § 2o Para os fins desta Lei, consideram-se:
direitos adquiridos, logo, produz efeitos ex nunc, não re- I - órgão - a unidade de atuação integrante da estrutu-
ra da Administração direta e da estrutura da Administração
troage.
indireta;
O processo administrativo é instrumento para a práti-
II - entidade - a unidade de atuação dotada de perso-
ca de atos administrativos. “No processo administrativo os
nalidade jurídica;
atos administrativos deverão ser motivados, com indicação
III - autoridade - o servidor ou agente público dotado
dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: a) neguem, de poder de decisão.
limitem ou afetem direitos ou interesses; b) imponham ou
agravem deveres, encargos ou sanções; c) decidam proces-
sos administrativos de concurso ou seleção pública; d) dis- 30 http://www.normaslegais.com.br/guia/clientes/pro-
pensem ou declarem a inexigibilidade de processo licita- cesso-administrativo-administracao-publica-parte3.htm
tório; e) decidam recursos administrativos; f) decorram de 31 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
29 SCHUTA, Andréia. Breves considerações acerca do direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
silêncio administrativo. Migalhas, 24 jul. 2008. 2010.

14
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre ou- VIII - observância das formalidades essenciais à garan-
tros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, tia dos direitos dos administrados;
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla IX - adoção de formas simples, suficientes para pro-
defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse pú- piciar adequado grau de certeza, segurança e respeito aos
blico e eficiência. direitos dos administrados;
Respeito às formalidades não significa excesso de for-
Legalidade é o respeito estrito da lei; finalidade é a malismo.
prática de todo e qualquer ato visando um único fim, o in- X - garantia dos direitos à comunicação, à apresenta-
teresse público; motivação é a necessidade de fundamen- ção de alegações finais, à produção de provas e à inter-
tação de todas as decisões; razoabilidade é a tomada de posição de recursos, nos processos de que possam resultar
decisões racionais e corretas; proporcionalidade é o equi- sanções e nas situações de litígio;
líbrio que deve se fazer presente na tomada de decisões; XI - proibição de cobrança de despesas processuais,
moralidade é o conhecimento das leis éticas que repousam ressalvadas as previstas em lei;
no seio social; ampla defesa é a necessidade de se garantir XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo,
meios para a pessoa responder acusações e buscar as re- sem prejuízo da atuação dos interessados;
formas previstas em lei para decisões que a prejudiquem; XIII - interpretação da norma administrativa da forma
contraditório é a oitiva da outra pessoa sempre que a que que melhor garanta o atendimento do fim público a que se
se encontra no outro polo da relação se manifestar; segu- dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.
rança jurídica é a garantia social de que as leis serão respei- Se o entendimento mudar, não atinge casos passados.
tadas e cobrirão o mais vasto rol de relações socialmente
relevantes possível; interesse público é o interesse de toda CAPÍTULO II
a coletividade; eficiência é a junção da economicidade com DOS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS
a produtividade, aliando gastos sem que se perca em qua-
lidade da atividade desempenhada. Art. 3o O administrado tem os seguintes direitos pe-
Há, ainda, princípios implícitos no decorrer da lei: pu- rante a Administração, sem prejuízo de outros que lhe se-
blicidade; oficialidade; informalismo ou formalismo mo- jam assegurados:
derado; gratuidade (a atuação na esfera administrativa é I - ser tratado com respeito pelas autoridades e servi-
gratuita); pluralidade de instâncias; economia processual; dores, que deverão facilitar o exercício de seus direitos e o
participação popular. cumprimento de suas obrigações;
II - ter ciência da tramitação dos processos administra-
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão tivos em que tenha a condição de interessado, ter vista dos
observados, entre outros, os critérios de: autos, obter cópias de documentos neles contidos e conhecer
I - atuação conforme a lei e o Direito; as decisões proferidas;
II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a re- III - formular alegações e apresentar documentos an-
núncia total ou parcial de poderes ou competências, salvo tes da decisão, os quais serão objeto de consideração pelo
autorização em lei; órgão competente;
O interesse coletivo deve sempre predominar. IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado,
III - objetividade no atendimento do interesse público, salvo quando obrigatória a representação, por força de lei.
vedada a promoção pessoal de agentes ou autoridades; Quando for parte num processo administrativo a pes-
IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, de- soa tem direito a ser tratada com respeito, a obter infor-
coro e boa-fé; mações sobre o trâmite, a nele se manifestar e juntar do-
V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressal- cumentos e, apenas se quiser, ser assistida por advogado.
vadas as hipóteses de sigilo previstas na Constituição; Logo, é opcional a presença de advogado.
Neste sentido, o art. 5°, XXXIII, CF: “todos têm direito
a receber dos órgãos públicos informações de seu interes- CAPÍTULO III
se particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão DOS DEVERES DO ADMINISTRADO
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segu- Art. 4o São deveres do administrado perante a Adminis-
rança da sociedade e do Estado”. tração, sem prejuízo de outros previstos em ato normativo:
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposi- I - expor os fatos conforme a verdade;
ção de obrigações, restrições e sanções em medida superior II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé;
àquelas estritamente necessárias ao atendimento do inte- III - não agir de modo temerário;
resse público; IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e
A única razão para o Estado interferir é em razão do colaborar para o esclarecimento dos fatos.
interesse da coletividade. O administrado não pode tentar se aproveitar da Ad-
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito ministração, trazendo fatos irreais, tumultuando e confun-
que determinarem a decisão; dindo o processo. Deve sempre proceder para esclarecer os
Não basta que a decisão indique os fundamentos ju- fatos de maneira verdadeira.
rídicos, devendo também associá-los aos fatos apurados.

15
DIREITO ADMINISTRATIVO

CAPÍTULO IV de nulidade originária, ou por infração das normas legais


DO INÍCIO DO PROCESSO no decorrer da execução, ou, ainda, por interesse público
superveniente que justifique a revogação da outorga com
A partir deste ponto, são visíveis as fases do processo a devida indenização, que pode chegar ao caso de prévia
administrativo: a) instauração, com apresentação escrita desapropriação.
dos fatos e indicação do direito que ensejam o processo,
ou seja, é preciso descrever os fatos e delimitar o objeto c) Processo de controle: todo aquele em que a Ad-
da controvérsias, sem o que não há plenitude de defesa; b) ministração realiza verificações e declara situações, direitos
instrução, fase de elucidação dos fatos, na qual são pro- ou condutas do administrado ou de servidor, com caráter
duzidas as provas, com a participação do interessado; c) vinculante para as partes. Tais processos, normalmente,
defesa, que deve ser ampla; d) relatório, que é elaborado têm rito próprio e, quando neles se deparam irregularida-
pelo presidente do processo, sendo uma peça opinativa, des puníveis, exigem oportunidade de defesa ao interessa-
que não vincula a autoridade competente; e) julgamen- do, antes do seu encerramento, sob pena de invalidade do
to, quando a decisão é proferida pela autoridade ou órgão resultado da apuração. O processo de controle, também
competente sobre o objeto do processo. chamado de determinação ou de declaração, não se con-
No entendimento de Hely Lopes Meirelles32, os proces- funde com o processo punitivo, porque, enquanto neste
sos administrativos são divididos em quatro modalidades, se apura a falta e se aplica a penalidade cabível, naquele
da seguinte maneira: apenas se verifica a situação ou a conduta do agente e se
proclama o resultado para efeitos futuros. São exemplos de
a) Processo de expediente: denominação imprópria processos administrativos de controle os de prestação de
conferida a toda autuação que tramita pelas repartições contas perante órgãos públicos, os de verificação de ativi-
públicas por provocação do interessado ou por determina- dades sujeitas à fiscalização, o de lançamento tributário e
ção interna da Administração, para receber solução conve- o de consulta fiscal. Nesses processos a decisão final é vin-
niente. Não tem procedimento próprio ou rito sacramental, culante para a Administração e para o interessado, embora
seguindo pelos canais rotineiros para informações, pare- nem sempre seja autoexecutável, dependendo da instaura-
ceres, despacho final da chefia competente e subsequente ção de outro processo administrativo, de caráter punitivo
arquivamento. Tais expedientes, que a rotina chama inde- ou disciplinar, ou, mesmo, de ação civil ou criminal, ou, ain-
vidamente de “processo”, não geram, nem alteram, nem da, do pronunciamento executório de outro Poder.
suprimem direitos dos administrados, da Administração
ou de seus servidores, apenas encerram papéis, registram d) Processo punitivo: todo aquele promovido pela Ad-
situações administrativas, recebem pareceres e despachos ministração para imposição de penalidade por infração à
de tramitação ou meramente enunciativos de situações lei, regulamento ou contrato. Esses processos devem ser
pré-existentes, a exemplo dos pedidos de certidões, das necessariamente contraditórios, com oportunidade de de-
apresentações de documentos para certos registros inter- fesa e estrita observância do devido processo legal, sob
nos e outros da rotina burocrática. pena de nulidade da sanção imposta. A sua instauração
deve ser baseada em auto de infração, representação ou
b) Processo de outorga: todo aquele em que se plei- peça equivalente, iniciando-se com a exposição minucio-
teia algum direito ou situação individual perante a Admi- sa dos atos ou fatos ilegais ou administrativamente ilícitos,
nistração. Em regra, tem rito especial, mas não contraditó- atribuídos ao indiciado e indicação da norma ou convenção
rio, a não ser quando há oposição de terceiros ou impug- infringida. O processo punitivo poderá ser realizado por
nação da própria Administração. Nestes casos, é preciso um só representante da Administração ou por comissão. O
dar oportunidade de defesa ao interessado, sob pena de essencial é que se desenvolva com regularidade formal em
nulidade da decisão final. São exemplos desse tipo os pro- todas as suas fases, para legitimar a sanção imposta a final.
cessos de licenciamento de edificações, de licença de habi- Nesses procedimentos são adotáveis, subsidiariamente, os
te-se, de alvará de funcionamento, de isenção tributária e preceitos do processo penal comum, quando não confli-
outros que consubstanciam pretensões de natureza nego- tantes com as normas administrativas pertinentes. Embora
cial entre o particular e a Administração ou envolvam ativi- a graduação das sanções administrativas – demissão, mul-
dades sujeitas à fiscalização do Poder Público. As decisões ta, embargo de obra, destruição de coisas, interdição de
finais proferidas nesses processos tornam-se vinculantes e atividade e outras – seja discricionária, não é arbitrária e,
irretratáveis pela Administração porque, geralmente, ge- por isso, deve guardar correspondência e proporcionalida-
ram direito subjetivo para o beneficiário, salvo quando aos de com a infração apurada no respectivo processo, além
atos precários, que, por sua natureza, admitam modifica- de estar expressamente prevista em norma administrativa,
ção ou supressão sumária a qualquer tempo. Nos demais pois não é dado à Administração aplicar penalidade não
casos a decisão é definitiva e só modificável quando eivada estabelecida em lei, decreto ou contrato, como não o é sem
o devido processo legal, que se erige em garantia indivi-
32 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo dual de nível constitucional.
brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1993.

16
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 5o O processo administrativo pode iniciar-se de Art. 10. São capazes, para fins de processo administrati-
ofício ou a pedido de interessado. vo, os maiores de dezoito anos, ressalvada previsão especial
A autoridade responsável pelo processamento pode em ato normativo próprio.
iniciar o processo administrativo, mas um interessado tam- “Além das pessoas físicas ou jurídicas titulares de di-
bém pode pedir que o faça. reitos e interesses diretos, podem ser interessadas pessoas
que possam ter direitos ameaçados em decorrência da de-
Art. 6o O requerimento inicial do interessado, salvo ca- cisão do processo; também as organizações e associações
sos em que for admitida solicitação oral, deve ser formulado representativas podem defender interesses coletivos e as
por escrito e conter os seguintes dados: pessoas ou associações legítimas podem invocar a tutela de
I - órgão ou autoridade administrativa a que se dirige; interesses difusos”33.
II - identificação do interessado ou de quem o repre- Interesses coletivos são os que pertencem a um grupo que
não se sabe o número total, mas cujo número total é possível
sente;
ser definido, pois os critérios para definir quem faz parte dele
III - domicílio do requerente ou local para recebimento
são claros, sendo necessário que o número de atingidos seja
de comunicações;
relevante (sob pena de se caracterizar apenas interesse indi-
IV - formulação do pedido, com exposição dos fatos e vidual homogêneo). O interesse coletivo se difere do interes-
de seus fundamentos; se difuso porque no interesse difuso não é possível estabelecer
V - data e assinatura do requerente ou de seu repre- com clareza quem faz parte do grupo e quem não faz. 
sentante.
Parágrafo único. É vedada à Administração a recusa CAPÍTULO VI
imotivada de recebimento de documentos, devendo o ser- DA COMPETÊNCIA
vidor orientar o interessado quanto ao suprimento de even-
tuais falhas. Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos
órgãos administrativos a que foi atribuída como própria, sal-
Art. 7o Os órgãos e entidades administrativas deverão vo os casos de delegação e avocação legalmente admitidos.
elaborar modelos ou formulários padronizados para as- Se a um órgão administrativo foi atribuído o dever de
suntos que importem pretensões equivalentes. apurar determinadas matérias por processo administrativo,
ele não pode se omitir.
Art. 8o Quando os pedidos de uma pluralidade de in-
teressados tiverem conteúdo e fundamentos idênticos, Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se
não houver impedimento legal, delegar parte da sua compe-
poderão ser formulados em um único requerimento, salvo
tência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe se-
preceito legal em contrário.
jam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente,
em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômi-
As regras a respeito do início do processo administra- ca, jurídica ou territorial.
tivo mostram que a Administração tem interesse de que o Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo apli-
administrado tenha acesso à via decisória administrativa. ca-se à delegação de competência dos órgãos colegiados aos
Por isso, embora exija formalidades, se coloca numa posi- respectivos presidentes.
ção de esclarecedora de falhas e de responsável por dire-
cionamentos quanto ao conteúdo dos requerimentos. Não Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
obstante, aceita requerimento coletivo se o conteúdo e o I - a edição de atos de caráter normativo;
fundamento dele for idêntico. II - a decisão de recursos administrativos;
III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou
CAPÍTULO V autoridade.
DOS INTERESSADOS
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser
Art. 9  São legitimados como interessados no processo
o publicados no meio oficial.
administrativo: § 1o O ato de delegação especificará as matérias e po-
I - pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como titu- deres transferidos, os limites da atuação do delegado, a du-
ração e os objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo
lares de direitos ou interesses individuais ou no exercício
conter ressalva de exercício da atribuição delegada.
do direito de representação;
§ 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo
II - aqueles que, sem terem iniciado o processo, têm di-
pela autoridade delegante.
reitos ou interesses que possam ser afetados pela decisão a § 3o As decisões adotadas por delegação devem men-
ser adotada; cionar explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão
III - as organizações e associações representativas, editadas pelo delegado.
no tocante a direitos e interesses coletivos;
IV - as pessoas ou as associações legalmente constituí- 33 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
das quanto a direitos ou interesses difusos. direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
2010.

17
DIREITO ADMINISTRATIVO

Delegação é a transferência da competência para deci- CAPÍTULO VIII


dir, não havendo lei que a proíba. O ato de delegação não DA FORMA, TEMPO E LUGAR DOS ATOS DO PRO-
pode ser genérico, devendo delimitar qual a abrangência CESSO
da transferência (matérias e poderes). Tal delegação pode
ser cancelada a qualquer tempo. Art. 22. Os atos do processo administrativo não depen-
dem de forma determinada senão quando a lei expressa-
Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por mente a exigir.
motivos relevantes devidamente justificados, a avocação § 1o Os atos do processo devem ser produzidos por es-
temporária de competência atribuída a órgão hierarquica- crito, em vernáculo, com a data e o local de sua realização
mente inferior. e a assinatura da autoridade responsável.
Avocar é trazer de volta para si aquilo que delegou a § 2o Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma
outrem, o que poderá ocorrer por um período de tempo. somente será exigido quando houver dúvida de autentici-
dade.
Art. 16. Os órgãos e entidades administrativas divulga- § 3o A autenticação de documentos exigidos em cópia
rão publicamente os locais das respectivas sedes e, quando poderá ser feita pelo órgão administrativo.
conveniente, a unidade fundacional competente em matéria § 4o  O processo deverá ter suas páginas numeradas
de interesse especial. sequencialmente e rubricadas.

Art. 17. Inexistindo competência legal específica, o pro- Art. 23. Os atos do processo devem realizar-se em dias
cesso administrativo deverá ser iniciado perante a autorida- úteis, no horário normal de funcionamento da repartição
de de menor grau hierárquico para decidir. na qual tramitar o processo.
Parágrafo único. Serão concluídos depois do horário
CAPÍTULO VII normal os atos já iniciados, cujo adiamento prejudique o
DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO curso regular do procedimento ou cause dano ao interessado
ou à Administração.
Art. 18. É impedido de atuar em processo administrati-
Art. 24. Inexistindo disposição específica, os atos do ór-
vo o servidor ou autoridade que:
gão ou autoridade responsável pelo processo e dos adminis-
I - tenha interesse direto ou indireto na matéria;
trados que dele participem devem ser praticados no prazo de
II - tenha participado ou venha a participar como pe-
cinco dias, salvo motivo de força maior.
rito, testemunha ou representante, ou se tais situações ocor-
Parágrafo único. O prazo previsto neste artigo pode ser
rem quanto ao cônjuge, companheiro ou parente e afins até
dilatado até o dobro, mediante comprovada justificação.
o terceiro grau;
III - esteja litigando judicial ou administrativamente com Art. 25. Os atos do processo devem realizar-se preferen-
o interessado ou respectivo cônjuge ou companheiro. cialmente na sede do órgão, cientificando-se o interessado
se outro for o local de realização.
Art. 19. A autoridade ou servidor que incorrer em impe-
dimento deve comunicar o fato à autoridade competente, Não existem muitas formalidades que cercam os atos
abstendo-se de atuar. do processo administrativo, mas é preciso que eles se-
Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar o im- jam escritos em vocabulário adequado com data, local e
pedimento constitui falta grave, para efeitos disciplinares. assinatura. Diante da dispensa de formalidades, não seria
razoável sempre exigir reconhecimento da assinatura. Os
Art. 20. Pode ser arguida a suspeição de autoridade atos são praticados em dias úteis (segunda a sábado), no
ou servidor que tenha amizade íntima ou inimizade notória horário regular de funcionamento da repartição. O prazo
com algum dos interessados ou com os respectivos cônjuges, para a prática dos atos é de cinco dias, prorrogáveis para
companheiros, parentes e afins até o terceiro grau. 10 mediante justificação (na prática, não é o que acontece
porque a Administração é sobrecarregada de processos e
Art. 21. O indeferimento de alegação de suspeição pode- não há sanção pelo descumprimento do prazo).
rá ser objeto de recurso, sem efeito suspensivo.
No impedimento é vedada a participação porque in- CAPÍTULO IX
tensa a possibilidade de que não se permaneça isento na DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS
condução do processo, na suspeição o risco é menor mas
- ainda assim - o afastamento é conveniente34 (por isso o Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o
processo continua em andamento se a alegação de suspei- processo administrativo determinará a intimação do inte-
ção for afastada e dela se recorrer). ressado para ciência de decisão ou a efetivação de dili-
gências.
§ 1o A intimação deverá conter:
34 GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Novo curso I - identificação do intimado e nome do órgão ou enti-
de direito processual civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. dade administrativa;
v. 1. II - finalidade da intimação;

18
DIREITO ADMINISTRATIVO

III - data, hora e local em que deve comparecer; Atividades de instrução são as atividades de produção
IV - se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou de provas no processo. Sob o aspecto objeto, prova é “o
fazer-se representar; conjunto de meios produtores da certeza jurídica ou o con-
V - informação da continuidade do processo indepen- junto de meios utilizados para demonstrar a existência de
dentemente do seu comparecimento; fatos relevantes para o processo”; sob o aspecto subjetivo,
VI - indicação dos fatos e fundamentos legais perti- prova “é a própria convicção que se forma no espírito do
nentes. julgador a respeito da existência ou inexistência de fatos
§ 2o A intimação observará a antecedência mínima de alegados no processo”35.
três dias úteis quanto à data de comparecimento.
§ 3o A intimação pode ser efetuada por ciência no pro- Art. 30. São inadmissíveis no processo administrativo as
cesso, por via postal com aviso de recebimento, por tele- provas obtidas por meios ilícitos.
grama ou outro meio que assegure a certeza da ciência
do interessado. Art. 31. Quando a matéria do processo envolver assun-
§ 4o  No caso de interessados indeterminados, desco- to de interesse geral, o órgão competente poderá, median-
nhecidos ou com domicílio indefinido, a intimação deve ser te despacho motivado, abrir período de consulta pública
efetuada por meio de publicação oficial. para manifestação de terceiros, antes da decisão do pedido,
§ 5o As intimações serão nulas quando feitas sem ob- se não houver prejuízo para a parte interessada.
servância das prescrições legais, mas o comparecimento do § 1o A abertura da consulta pública será objeto de di-
administrado supre sua falta ou irregularidade. vulgação pelos meios oficiais, a fim de que pessoas físicas
ou jurídicas possam examinar os autos, fixando-se prazo
Art. 27. O desatendimento da intimação não importa para oferecimento de alegações escritas.
o reconhecimento da verdade dos fatos, nem a renúncia a § 2o O comparecimento à consulta pública não confere,
direito pelo administrado. por si, a condição de interessado do processo, mas confere
Parágrafo único. No prosseguimento do processo, será o direito de obter da Administração resposta fundamenta-
garantido direito de ampla defesa ao interessado.
da, que poderá ser comum a todas as alegações substan-
cialmente iguais.
Art. 28. Devem ser objeto de intimação os atos do pro-
Consulta Pública é um sistema criado com o objetivo
cesso que resultem para o interessado em imposição de de-
de auxiliar na elaboração e coleta de opiniões da sociedade
veres, ônus, sanções ou restrição ao exercício de direitos
sobre temas de importância. Esse sistema permite intensi-
e atividades e os atos de outra natureza, de seu inte-
ficar a articulação entre a representatividade e a sociedade,
resse.
permitindo que a sociedade participe da formulação e defi-
Intimação é o ato pelo qual se dá ciência ao interes- nição de políticas públicas. O IBAMA costuma utilizar deste
sado de alguma decisão ou do dever de comparecer para recurso na tomada de suas decisões36.
prestar informações. Ela possui um conteúdo específico e
deve ser feita pessoalmente, a não ser quando o interes- Art. 32. Antes da tomada de decisão, a juízo da autori-
sado for indeterminado, desconhecido ou com domicílio dade, diante da relevância da questão, poderá ser realizada
desconhecido, caso em que se aceitará intimação por edi- audiência pública para debates sobre a matéria do pro-
tal. Não obedecidas as formalidades, a intimação é nula, de cesso.
forma que é como se os atos do processo que deveriam
ser cientificados não o tivessem sido, fazendo com que ele “Audiência pública é um instrumento que leva a uma
volte ao estágio em que a pessoa deveria ter sido intimada. decisão política ou legal com legitimidade e transparência.
O desatendimento de uma intimação não faz com que se Cuida-se de uma instância no processo de tomada da de-
presuma que o intimado estava errado. Destaque para o cisão administrativa ou legislativa, através da qual a auto-
art. 28, que delimita as espécies de situações em que cabe ridade competente abre espaço para que todas as pessoas
intimação. que possam sofrer os reflexos dessa decisão tenham opor-
tunidade de se manifestar antes do desfecho do processo.
CAPÍTULO X É através dela que o responsável pela decisão tem acesso,
DA INSTRUÇÃO simultaneamente e em condições de igualdade, às mais va-
riadas opiniões sobre a matéria debatida, em contato dire-
Art. 29. As atividades de instrução destinadas a averi- to com os interessados”37. 
guar e comprovar os dados necessários à tomada de decisão
realizam-se de ofício ou mediante impulsão do órgão res-
35 LOPES, João Batista. A prova no Direito Proces-
ponsável pelo processo, sem prejuízo do direito dos interes-
sados de propor atuações probatórias. sual Civil. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
§ 1o O órgão competente para a instrução fará constar 36 http://www.ibama.gov.br/servicos/consulta-publica
dos autos os dados necessários à decisão do processo. 37 SOARES, Evanna. A audiência pública no processo
§ 2o  Os atos de instrução que exijam a atuação dos administrativo. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 58, 1 ago.
interessados devem realizar-se do modo menos oneroso 2002 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/3145>.
para estes. Acesso em: 26 mar. 2013.

19
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 33. Os órgãos e entidades administrativas, em ma- O interessado deve ser intimado quando for necessária
téria relevante, poderão estabelecer outros meios de parti- a apresentação de informações ou provas e, não compare-
cipação de administrados, diretamente ou por meio de orga- cendo perante a Administração, embora não se presuma
nizações e associações legalmente reconhecidas. que ela esteja correta, será feito o arquivamento do pro-
cesso. Diante disso, o interessado poderá, no futuro, abri-lo
Art. 34. Os resultados da consulta e audiência pública novamente.
e de outros meios de participação de administrados deverão
ser apresentados com a indicação do procedimento adotado. Art. 41. Os interessados serão intimados de prova ou
diligência ordenada, com antecedência mínima de três
Art. 35. Quando necessária à instrução do processo, a au- dias úteis, mencionando-se data, hora e local de realização.
diência de outros órgãos ou entidades administrativas poderá
ser realizada em reunião conjunta, com a participação de Art. 42. Quando deva ser obrigatoriamente ouvido um
titulares ou representantes dos órgãos competentes, lavran- órgão consultivo, o parecer deverá ser emitido no prazo
do-se a respectiva ata, a ser juntada aos autos. máximo de quinze dias, salvo norma especial ou compro-
vada necessidade de maior prazo.
Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que te- § 1o Se um parecer obrigatório e vinculante deixar de
nha alegado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão com- ser emitido no prazo fixado, o processo não terá seguimento
petente para a instrução e do disposto no art. 37 desta Lei. até a respectiva apresentação, responsabilizando-se quem
der causa ao atraso.
Art. 37. Quando o interessado declarar que fatos e da- § 2o Se um parecer obrigatório e não vinculante dei-
dos estão registrados em documentos existentes na pró- xar de ser emitido no prazo fixado, o processo poderá ter
pria Administração responsável pelo processo ou em outro prosseguimento e ser decidido com sua dispensa, sem prejuí-
órgão administrativo, o órgão competente para a instrução zo da responsabilidade de quem se omitiu no atendimento.
proverá, de ofício, à obtenção dos documentos ou das As situações são diferentes conforme o parecer obri-
respectivas cópias. gue que a decisão seja tomada num determinado sentido
O interessado deve provar o que alegou, salvo quan- (vinculante) ou não.
do a prova estiver em documento que esteja em poder da
Administração, caso em que ela deverá de ofício provê-los Art. 43. Quando por disposição de ato normativo devam
(ou cópias). ser previamente obtidos laudos técnicos de órgãos admi-
nistrativos e estes não cumprirem o encargo no prazo assi-
Art. 38. O interessado poderá, na fase instrutória e antes nalado, o órgão responsável pela instrução deverá solicitar
da tomada da decisão, juntar documentos e pareceres, re- laudo técnico de outro órgão dotado de qualificação e ca-
querer diligências e perícias, bem como aduzir alegações pacidade técnica equivalentes.
referentes à matéria objeto do processo.
§ 1o  Os elementos probatórios deverão ser considerados Art. 44. Encerrada a instrução, o interessado terá o direi-
na motivação do relatório e da decisão. to de manifestar-se no prazo máximo de dez dias, salvo se
§ 2o  Somente poderão ser recusadas, mediante deci- outro prazo for legalmente fixado.
são fundamentada, as provas propostas pelos interessados Produzidas as provas, antes da decisão, o interessado
quando sejam ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou poderá se manifestar.
protelatórias.
O interessado tem direito à prova, juntando documen- Art. 45. Em caso de risco iminente, a Administração Pú-
tos e requerendo diligências e perícias, mas não pode abu- blica poderá motivadamente adotar providências acautela-
sar deste direito, requerendo provas não autorizadas pelo doras sem a prévia manifestação do interessado.
direito, que não tenham a ver com o caso ou que apenas Providências acautelatórias são aquelas que deveriam
visem prorrogar o processo. ser tomadas num determinado momento do processo mas,
para evitar que ela se torne impossível posteriormente, ela
Art. 39. Quando for necessária a prestação de informa- é antecipada. Por exemplo, oitiva de uma testemunha que
ções ou a apresentação de provas pelos interessados ou ter- está no leito de morte.
ceiros, serão expedidas intimações para esse fim, mencio-
nando-se data, prazo, forma e condições de atendimento. Art. 46. Os interessados têm direito à vista do processo
Parágrafo único. Não sendo atendida a intimação, po- e a obter certidões ou cópias reprográficas dos dados e
derá o órgão competente, se entender relevante a matéria, documentos que o integram, ressalvados os dados e docu-
suprir de ofício a omissão, não se eximindo de proferir a mentos de terceiros protegidos por sigilo ou pelo direito à
decisão. privacidade, à honra e à imagem.

Art. 40. Quando dados, atuações ou documentos solicita- Art. 47. O órgão de instrução que não for competente
dos ao interessado forem necessários à apreciação de pedido para emitir a decisão final elaborará relatório indicando o
formulado, o não atendimento no prazo fixado pela Admi- pedido inicial, o conteúdo das fases do procedimento e for-
nistração para a respectiva apresentação implicará arqui- mulará proposta de decisão, objetivamente justificada, en-
vamento do processo. caminhando o processo à autoridade competente.

20
DIREITO ADMINISTRATIVO

CAPÍTULO XI CAPÍTULO XIII


DO DEVER DE DECIDIR DA DESISTÊNCIA E OUTROS CASOS DE EXTINÇÃO
DO PROCESSO
Art. 48. A Administração tem o dever de explicitamen-
te emitir decisão nos processos administrativos e sobre so- Art. 51. O interessado poderá, mediante manifestação
licitações ou reclamações, em matéria de sua competência. escrita, desistir total ou parcialmente do pedido formu-
lado ou, ainda, renunciar a direitos disponíveis.
Art. 49. Concluída a instrução de processo administra- § 1o Havendo vários interessados, a desistência ou re-
tivo, a Administração tem o prazo de até trinta dias para núncia atinge somente quem a tenha formulado.
decidir, salvo prorrogação por igual período expressamente § 2o A desistência ou renúncia do interessado, confor-
motivada. me o caso, não prejudica o prosseguimento do processo,
A autoridade competente não pode se eximir de deci- se a Administração considerar que o interesse público as-
dir, possuindo um prazo de 30 dias após o fim do processo sim o exige.
administrativo para tanto.
Art. 52. O órgão competente poderá declarar extinto
CAPÍTULO XII o processo quando exaurida sua finalidade ou o objeto
DA MOTIVAÇÃO da decisão se tornar impossível, inútil ou prejudicado por
fato superveniente.
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados,
com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, Caso o interessado não queira prosseguir com o pro-
quando: cesso, poderá desistir dele por completo ou de parte dele.
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses; No entanto, se o interesse público for maior, a Adminis-
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou san- tração poderá continuar (por exemplo, indícios de que o
ções; interessado praticou um ilícito contra a Administração). Se
III - decidam processos administrativos de concurso ou existir mais de um interessado, a desistência só atinge o
que desistiu.
seleção pública;
Extinção é o término do processo, que se dará quando
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de proces-
sua finalidade tiver acabado ou quando seu objeto se tor-
so licitatório;
nar impossível, inútil ou prejudicado.
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofício;
CAPÍTULO XIV
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a
DA ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO
questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e re-
latórios oficiais;
Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos,
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou con- quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los
validação de ato administrativo. por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados
§ 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruen- os direitos adquiridos.
te, podendo consistir em declaração de concordância com
fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões Art. 54. O direito da Administração de anular os atos
ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato. administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os
§ 2o Na solução de vários assuntos da mesma natureza, destinatários decai em cinco anos, contados da data em que
pode ser utilizado meio mecânico que reproduza os fun- foram praticados, salvo comprovada má-fé.
damentos das decisões, desde que não prejudique direito ou § 1o No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo
garantia dos interessados. de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pa-
§ 3o A motivação das decisões de órgãos colegiados e gamento.
comissões ou de decisões orais constará da respectiva ata § 2o Considera-se exercício do direito de anular qual-
ou de termo escrito. quer medida de autoridade administrativa que importe im-
pugnação à     validade do ato.
A Administração não pode impor arbitrariamente suas
decisões, devendo justificá-las. Quando da decisão de um Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarreta-
processo administrativo, deverá explicar em que normas rem lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os
jurídicas se baseou e como elas se interligam aos fatos apu- atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser conva-
rados. É possível fazer remissões a pareceres, informações, lidados pela própria Administração.
decisões ou propostas, mas é preciso fazê-lo de forma ex-
plícita, clara e congruente. O uso de tecnologias otimiza Os atos viciados, ou seja, que tenham sido praticados
os serviços, mas é preciso atenção a cada caso, não preju- contrários às formalidades legais, deverão ser anulados.
dicando direito ou garantia do interessado. Toda decisão Poderão também ser anulados atos não viciados no exer-
deverá ser transcrita, caso seja proferida oralmente. cício da discricionariedade administrativa, mas para tanto
é preciso respeitar os direitos adquiridos dos interessados.

21
DIREITO ADMINISTRATIVO

CAPÍTULO XV Art. 60. O recurso interpõe-se por meio de requerimen-


DO RECURSO ADMINISTRATIVO E DA REVISÃO to no qual o recorrente deverá expor os fundamentos do
pedido de reexame, podendo juntar os documentos que jul-
Art. 56. Das decisões administrativas cabe recurso, em gar convenientes.
face de razões de legalidade e de mérito.
§ 1o O recurso será dirigido à autoridade que proferiu Art. 61. Salvo disposição legal em contrário, o recurso
a decisão, a qual, se não a reconsiderar no prazo de cinco não tem efeito suspensivo.
dias, o encaminhará à autoridade superior. Parágrafo único. Havendo justo receio de prejuízo de
§ 2o Salvo exigência legal, a interposição de recurso ad- difícil ou incerta reparação decorrente da execução, a au-
ministrativo independe de caução. toridade recorrida ou a imediatamente superior poderá, de
§ 3o  Se o recorrente alegar que a decisão administrativa ofício ou a pedido, dar efeito suspensivo ao recurso.
contraria enunciado da súmula vinculante, caberá à auto- Significa que a decisão recorrida será cumprida, inde-
ridade prolatora da decisão impugnada, se não a reconside- pendentemente de haver recurso pendente. No entanto,
rar, explicitar, antes de encaminhar o recurso à autoridade tal efeito suspensivo pode ser concedido, conforme a exce-
superior, as razões da aplicabilidade ou inaplicabilidade da ção do parágrafo único.
súmula, conforme o caso.
O recurso poderá questionar se houve correta aplica- Art. 62. Interposto o recurso, o órgão competente para
ção da lei ou se houve correta interpretação dos fatos. Ele dele conhecer deverá intimar os demais interessados para
será interposto para a autoridade que proferiu a decisão, que, no prazo de cinco dias úteis, apresentem alegações.
que poderá reconsiderar em 5 dias e, caso não o faça, en- Antes de decidir se irá apreciar o recurso, ou seja, dar
caminhará à autoridade superior. início ao seu processamento, as partes devem ser ouvidas
Súmula vinculante é uma espécie de orientação profe- no prazo de 5 dias.
rida pelo Supremo Tribunal Federal de observância obriga-
tória em todas instâncias de julgamento, judiciais ou admi- Art. 63. O recurso não será conhecido quando inter-
nistrativas. posto:
I - fora do prazo;
Art. 57. O recurso administrativo tramitará no máximo
II - perante órgão incompetente;
por três instâncias administrativas, salvo disposição legal
III - por quem não seja legitimado;
diversa.
IV - após exaurida a esfera administrativa.
§ 1o Na hipótese do inciso II, será indicada ao recorren-
Art. 58. Têm legitimidade para interpor recurso admi-
te a autoridade competente, sendo-lhe devolvido o prazo
nistrativo:
para recurso.
I - os titulares de direitos e interesses que forem parte
§ 2o O não conhecimento do recurso não impede a Ad-
no processo;
ministração de rever de ofício o ato ilegal, desde que não
II - aqueles cujos direitos ou interesses forem indireta-
mente afetados pela decisão recorrida; ocorrida preclusão administrativa.
III - as organizações e associações representativas, no Por não conhecimento entende-se a não apreciação do
tocante a direitos e interesses coletivos; mérito do recurso porque ele não preencheu alguma das
IV - os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou formalidades legais.
interesses difusos.
Para recorrer a parte tem que ter interesse, de forma Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso po-
que algum direito ou garantia que ela estava defendendo derá confirmar, modificar, anular ou revogar, total ou
no processo tenha obtido uma decisão contrária. parcialmente, a decisão recorrida, se a matéria for de sua
competência.
Art. 59. Salvo disposição legal específica, é de dez dias Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste ar-
o prazo para interposição de recurso administrativo, con- tigo puder decorrer gravame à situação do recorrente, este
tado a partir da ciência ou divulgação oficial da decisão re- deverá ser cientificado para que formule suas alegações an-
corrida. tes da decisão.
§ 1o  Quando a lei não fixar prazo diferente, o recur- Se a situação do recorrente puder piorar, deverá ele ser
so administrativo deverá ser decidido no prazo máximo de cientificado para se manifestar.
trinta dias, a partir do recebimento dos autos pelo órgão
competente. Art. 64-A.  Se o recorrente alegar violação de enuncia-
§ 2o O prazo mencionado no parágrafo anterior poderá do da súmula vinculante, o órgão competente para decidir
ser prorrogado por igual período, ante justificativa explícita. o recurso explicitará as razões da aplicabilidade ou inaplica-
Se a lei não dispuser de modo diverso, a parte tem até bilidade da súmula, conforme o caso.
10 dias para recorrer e, do recebimento dos autos, a au-
toridade tem até 30 dias para julgar, os quais podem ser Art. 64-B.  Acolhida pelo Supremo Tribunal Federal a re-
prorrogados por mais 30. clamação fundada em violação de enunciado da súmula
vinculante, dar-se-á ciência à autoridade prolatora e ao ór-

22
DIREITO ADMINISTRATIVO

gão competente para o julgamento do recurso, que deverão As sanções aplicadas serão: pagamento de quantia cer-
adequar as futuras decisões administrativas em casos seme- ta, ou seja, de valor em dinheiro; ou então obrigação de
lhantes, sob pena de responsabilização pessoal nas esferas fazer ou não fazer algo.
cível, administrativa e penal.
Ao julgar procedente a reclamação, o STF anulará o ato CAPÍTULO XVIII
administrativo ou cassará a decisão judicial impugnada, DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
determinando que outra seja proferida com ou sem aplica-
ção da súmula, conforme o caso. Também se dará ciência à Art. 69. Os processos administrativos específicos conti-
autoridade prolatora para que passe a decidir conforme a nuarão a reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes apenas
Súmula VInculante violada. subsidiariamente os preceitos desta Lei.

Art. 65. Os processos administrativos de que resultem Art. 69-A.  Terão prioridade na tramitação, em qual-
sanções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a pedido quer órgão ou instância, os procedimentos administrativos
ou de ofício, quando surgirem fatos novos ou circunstân- em que figure como parte ou interessado:
cias relevantes suscetíveis de justificar a inadequação da I - pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta)
sanção aplicada. anos;
Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá re- II - pessoa portadora de deficiência, física ou mental;
sultar agravamento da sanção. III - (VETADO)
Se surgirem novos fatos ou circunstâncias um processo IV - pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose
já encerrado pode ser revisto, mas eventual sanção aplica- múltipla, neoplasia maligna, hanseníase, paralisia irreversí-
da não poderá ser agravada. vel e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson,
espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopa-
CAPÍTULO XVI tia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte de-
DOS PRAZOS formante), contaminação por radiação, síndrome de imuno-
deficiência adquirida, ou outra doença grave, com base em
Art. 66. Os prazos começam a correr a partir da data
conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença
da cientificação oficial, excluindo-se da contagem o dia
tenha sido contraída após o início do processo.
do começo e incluindo-se o do vencimento.
§ 1o  A pessoa interessada na obtenção do benefício,
§ 1o Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro
juntando prova de sua condição, deverá requerê-lo à auto-
dia útil seguinte se o vencimento cair em dia em que não
ridade administrativa competente, que determinará as pro-
houver expediente ou este for encerrado antes da hora nor-
vidências a serem cumpridas.
mal.
§ 2o  Deferida a prioridade, os autos receberão identi-
§ 2o Os prazos expressos em dias contam-se de modo
contínuo. ficação própria que evidencie o regime de tramitação prio-
§ 3o  Os prazos fixados em meses ou anos contam-se ritária.
de data a data. Se no mês do vencimento não houver o dia § 3o  (VETADO) 
equivalente àquele do início do prazo, tem-se como termo o § 4o  (VETADO) 
último dia do mês.
Art. 70. Esta Lei entra em vigor na data de sua publica-
Art. 67. Salvo motivo de força maior devidamente com- ção.
provado, os prazos processuais não se suspendem. A Lei nº 9.784/99 é apenas subsidiária às demais leis
Publicados oficialmente os atos, o prazo começa a cor- que de alguma forma abordem os procedimentos admi-
rer, excluído o dia da publicação e incluído o dia do ven- nistrativos. Ou seja, será usada quando não houver regula-
cimento. Ex: prazo de 10 dias - decisão proferida dia 1º, mentação específica.
começa a contar do dia 2º, indo até o dia 11, dia do venci-
mento, que é incluído. Se dia 2º não fosse dia útil, começa- Brasília 29 de janeiro de 1999; 178o da Independência e
ria a se contar do 1º dia útil que o seguisse, assim como se 111o da República.
dia 11 não o fosse somente haveria vencimento no 1º dia
útil que o seguisse. 4.8 Fatos da administração pública:
Somente se suspende um prazo por motivo de força atos da administração pública
maior. e fatos administrativos.

CAPÍTULO XVII Vide tópico 4.2.


DAS SANÇÕES
4.9 Formação do ato administrativo:
Art. 68. As sanções, a serem aplicadas por autoridade elementos, procedimento administrativo.
competente, terão natureza pecuniária ou consistirão em
obrigação de fazer ou de não fazer, assegurado sempre o Vide tópico 4.1.
direito de defesa.

23
DIREITO ADMINISTRATIVO

4.10 Validade, eficácia e auto 4.12 Atos administrativos unilaterais,


executoriedade do ato administrativo. bilaterais e multilaterais.

Destaca-se esquemática trazida por Baldacci38: Atos unilaterais: São aqueles formados pela manifesta-
- Quando todos os pressupostos especiais exigidos ção de vontade de uma única pessoa. Ex.: Demissão - Para
por lei estiverem presentes, falamos que o ato é perfeito Hely Lopes Meirelles, só existem os atos administrativos
(P). unilaterais.
- Quando estes pressupostos preenchidos respeitarem Atos bilaterais: São aqueles formados pela manifesta-
o que a lei exige, falamos que é válido (V). ção de vontade de duas pessoas.
- Quando está apto a surtir seus efeitos próprios fala- Atos multilaterais: São aqueles formados pela vontade
mos que é eficaz (E). de mais de duas pessoas.
1) P + V = E. Os atos perfeitos e válidos são eficazes Ex.: Contrato administrativo.
em regra.
2) P + V = ineficaz. Os atos perfeitos e válidos po- Classificação quanto ao destinatário:
dem não ser eficazes se estiver pendente o implemento 1) Atos gerais: dirigidos à coletividade em geral, com
de condição. finalidade normativa, atingindo uma gama de pessoas que
3) P + inválido = ineficaz. O ato perfeito e inválido é, estejam na mesma situação jurídica nele estabelecida. O par-
em regra, ineficaz. ticular não pode impugnar, pois os efeitos são para todos.
4) P + inválido = eficaz. O ato perfeito e inválido 2) Atos individuais: dirigidos a pessoa certa e deter-
pode ser eficaz se já tiver gerado efeitos próprios e for minada, criando situações jurídicas individuais. O particular
relevante para a segurança jurídica manter tais efeitos. atingido pode impugnar.
5) Imperfeito = inválido + ineficaz. O ato imperfeito
não é válido e nem eficaz. Classificação quanto ao seu regramento:
6) Imperfeito = inválido + eficaz. O ato imperfei- 1) Atos vinculados: são os que possuem todos os
to pode gerar efeitos impróprios, que não dependem da pressupostos e elementos necessários para sua prática e
perfeição previamente estabelecidos em lei que autoriza a
execução do ato, como o efeito impróprio reflexo (reper-
prática daquele ato. O administrador é um “mero cumpri-
cussão em outros atos ou situações jurídicas) e o efeito
dor de leis”. Também se denomina ato de exercício obri-
impróprio prodrômico (efeito de natureza procedimental
gatório.
que implica numa providência ou etapa necessária para
2) Atos discricionários: são os atos que possuem par-
aperfeiçoamento do ato, como a manifestação de um se-
te de seus pressupostos e elementos previamente fixados
gundo agente ou órgão).
pela lei autorizadora. No mínimo, a competência, a finali-
7) Imperfeito = válido + ineficaz. O ato imperfeito
dade e a forma estão previamente fixados na lei – são os
pode preencher os requisitos de validade, mas se lhe faltar
pressupostos vinculados. Aquilo que está em branco ou
um pressuposto especial será imperfeito e, logo, ineficaz. indefinido na lei será preenchido pelo administrador. Tal
preenchimento deve ser feito motivadamente com base
Quanto à autoexecutoriedade, atributo do ato admi- em fatos e circunstâncias que somente o administrador
nistrativo, em regra, a Administração pode concretamente pode escolher. Contudo, tal escolha não é livre, os fatos e
executar seus atos independente da manifestação do Po- circunstâncias devem ser adequados (razoáveis e propor-
der Judiciário, mesmo quando estes afetam diretamente a cionais) aos limites e intenções da lei.
esfera jurídica de particulares. Quanto ao grau de subordinação à norma, os atos ad-
ministrativos se classificam em vinculados ou discricioná-
4.11 Atos administrativos rios. “Os atos vinculados são aqueles que tem o procedi-
simples, complexos e compostos. mento quase que plenamente delineados em lei, enquanto
os discricionários são aqueles em que o dispositivo norma-
Classificação dos atos quanto à formação (processo tivo permite certa margem de liberdade para a atividade
de elaboração): pessoal do agente público, especialmente no que tange à
1) Ato simples: nasce por meio da manifestação de conveniência e oportunidade, elementos do chamado mé-
vontade de um órgão (unipessoal ou colegiado) ou agente rito administrativo. A discricionariedade como poder da
da Administração. Administração deve ser exercida consoante determinados
2) Ato complexo: nasce da manifestação de vontade limites, não se constituindo em opção arbitrária para o ges-
de mais de um órgão ou agente administrativo. tor público, razão porque, desde há muito, doutrina e juris-
3) Ato composto: nasce da manifestação de vontade prudência repetem que os atos de tal espécie são vincula-
de um órgão ou agente, mas depende de outra vontade dos em vários de seus aspectos, tais como a competência,
que o ratifique para produzir efeitos e tornar-se exequível. forma e fim”39. O ato discricionário, por não se sujeitar aos
mesmos limites da lei,

38 BALDACCI, Roberto Geists. Direito administra- 39 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.


tivo. São Paulo: Prima Cursos Preparatórios, 2004. php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=3741

24
DIREITO ADMINISTRATIVO

A doutrina, de forma amplamente majoritária, nega re- Os vícios dos atos administrativos também podem se
levância jurídica aos chamados atos administrativos inexis- referir ao objeto, quando ele for proibido por lei – ato ilegal
tentes sob o fundamento de que seriam equivalentes aos = nulo; diverso do previsto legalmente para o caso concre-
atos nulos. to; impossível (exemplo: a nomeação para cargo que não
Feita a ressalva, coloca-se a lição de Celso Antonio existe); imoral; indeterminado (desapropriação de bem não
Bandeira de Melo ao discorrer sobre os atos administra- definido com precisão).
tivos inexistentes no sentido de que “consistem em com- Os vícios podem atingir a forma, quando a lei expressa-
portamentos que correspondem a condutas criminosas, mente exige e não é respeitada, e ainda o motivo, quando
portanto, fora do possível jurídico e radicalmente vedadas pressupostos de fato e/ou de direito não existem e/ou são
pelo Direito”. falsos.
O ato inexistente é aquele que não reúne os elemen- Por fim, tem-se os vícios relativos à finalidade, que são
tos necessários à sua formação e, assim, não produz qual- desvio de poder ou desvio de finalidade, quando o agente
quer consequência jurídica. Já o ato nulo é o ato que em- pratica ato administrativo sem observar o interesse público
bora reúna os elementos necessários a sua existência, foi e/ou o objetivo (finalidade) previsto em lei.
praticado com violação da lei, da ordem pública, dos bons “A teoria dos motivos determinantes está relaciona-
costumes ou com inobservância da forma legal40. da à prática de atos administrativos e impõe que, uma vez
declarado o motivo do ato, este deve ser respeitado. Esta
teoria vincula o administrador ao motivo declarado. Para
“Ato nulo é aquele que nasce com vício insanável, nor- que haja obediência ao que prescreve a teoria, no entanto,
malmente resultante da ausência de um de seus elemen- o motivo há de ser legal, verdadeiro e compatível com o
tos constitutivos, ou de defeito substancial em algum de- resultado. Vale dizer, a teoria dos motivos determinantes
les (por exemplo, o ato com motivo inexistente, o ato com não condiciona a existência do ato, mas sim sua validade”42.
objeto não previsto em lei e o ato praticado com desvio de Convalidação é o ato administrativo que, com efeitos
finalidade). O ato nulo está em desconformidade com a lei retroativos, sana vício de ato antecedente, de modo a tor-
e com os princípios jurídicos (é um ato ilegal e ilegítimo) ná-lo válido desde o seu nascimento, ou seja, é um ato pos-
e seu defeito não pode ser convalidado (corrigido). O ato terior que sana um vício de um ato anterior, transforman-
nulo não pode produzir efeitos válidos entre as partes. [...] do-o em válido desde o momento em que foi praticado.
Ato inexistente é aquele que possui apenas aparência de Há alguns autores que não aceitam a convalidação dos
atos, sustentando que os atos administrativos somente po-
manifestação de vontade da administração pública, mas,
dem ser nulos. Os únicos atos que se ajustariam à convali-
em verdade, não se origina de um agente público, mas de
dação seriam os atos anuláveis.
alguém que se passa por tal condição, como o usurpador
Existem três formas de convalidação:
de função. [...] Ato anulável é o que apresenta defeito sa-
- Ratificação: é a convalidação feita pela própria autori-
nável, ou seja, passível de convalidação pela própria ad-
dade que praticou o ato;
ministração que o praticou, desde que ele não seja lesivo
- Confirmação: é a convalidação feita por autoridade
ao interesse público, nem cause prejuízo a terceiros. São
superior àquela que praticou o ato;
sanáveis o vício de competência quanto à pessoa, exceto
- Saneamento: é a convalidação feita por ato de tercei-
se se tratar de competência exclusiva, e o vício de forma, a ro, ou seja, não é feita nem por quem praticou o ato nem
menos que se trate de forma exigida pela lei como condi- por autoridade superior.
ção essencial à validade do ato”41. Não se deve confundir a convalidação com a conversão
Os vícios dos atos administrativos podem se referir do ato administrativo. Há um ato viciado e, para regulari-
a sujeitos, notadamente: a) Vícios de incompetência do zar a situação, ele é transformado em outro, de diferente
sujeito – pode restar caracterizado o crime de usurpação tipologia. O ato nulo, embora não possa ser convalidado,
de função (artigo 328, CP), gerando ato inexistente; pode poderá ser convertido, transformando-se em ato válido.
caracterizar excesso de poder, quando excede os limites
da competência que tem, o sujeito pode incidir no crime Extinção dos atos administrativos: revogação, anu-
de abuso de autoridade; pode se detectar função de fato, lação e cassação
quando quem pratica o ato está irregularmente investido
no cargo, emprego ou função – situação com aparência de Pode se dar nas seguintes situações:
legalidade – ato considerado válido; b) Vícios de incapaci- 1) Cumprimento dos seus Efeitos: Cumprindo todos
dade do sujeito – pode haver impedimento ou suspeição, os seus efeitos, não terá mais razão de existir sob o ponto
ambos casos de anulabilidade. de vista jurídico.
2) Desaparecimento do Sujeito ou do Objeto do
40 http://www.tecnolegis.com/estudo-dirigido/auditor- Ato: Se o sujeito ou o objeto perecer, o ato será conside-
-fiscal-do-trabalho-2009/direito-administrativo-ato-adminis- rado extinto.
trativo-inexistente.html
41 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Di- 42 https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2605114/em-
reito administrativo descomplicado. 16. ed. São Paulo: Mé- -que-consiste-a-teoria-dos-motivos-determinantes-aurea-ma-
todo, 2008. ria-ferraz-de-sousa

25
DIREITO ADMINISTRATIVO

3) Retirada: Ocorre a edição de outro ato jurídico que Quanto às entidades às quais o agente pode estar vin-
elimina o ato. Pode se dar por anulação, que é a retirada do culado, tem-se o artigo 1º da Lei nº 8.429/92:
ato administrativo em decorrência de sua invalidade, reco-
nhecida judicial ou administrativamente, preservando-se os Os atos de improbidade praticados por qualquer agente
direitos dos terceiros de boa-fé; por revogação, que é a re- público, servidor ou não, contra a administração direta,
tirada do ato administrativo em decorrência da sua inconve- indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da
niência ou inoportunidade em face dos interesses públicos, União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios,
sendo o ato válido e praticado dentro da Lei, efetuando-se de Território, de empresa incorporada ao patrimônio
a revogação na via administrativa; cassação, que é a retira- público ou de entidade para cuja criação ou custeio o
da do ato administrativo em decorrência do beneficiário ter erário haja concorrido ou concorra com mais de cinquen-
descumprido condição tida como indispensável para a ma- ta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão puni-
nutenção do ato; contraposição ou derrubada, que é a re- dos na forma desta lei.
tirada do ato administrativo em decorrência de ser expedido
outro ato fundado em competência diversa da do primeiro,
Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades
mas que projeta efeitos antagônicos ao daquele, de modo
desta lei os atos de improbidade praticados contra o pa-
a inibir a continuidade da sua eficácia; caducidade, que é a
trimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou
retirada do ato administrativo em decorrência de ter sobre-
vindo norma superior que torna incompatível a manutenção incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como
do ato com a nova realidade jurídica instaurada. daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja con-
4) Renúncia: É a extinção do ato administrativo eficaz corrido ou concorra com menos de cinquenta por cento do
em virtude de seu beneficiário não mais desejar a sua conti- patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos,
nuidade. A renúncia só tem cabimento em atos que conce- a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contri-
dem privilégios e prerrogativas. buição dos cofres públicos.
5) Recusa: É a extinção do ato administrativo ineficaz em
decorrência do seu futuro beneficiário não manifestar concor- Os agentes públicos subdividem-se em:
dância, tida como indispensável para que o ato pudesse proje-
tar regularmente seus efeitos. Se o futuro beneficiário recusa a a) agentes políticos – “são os titulares dos cargos es-
possibilidade da eficácia do ato, esse será extinto. truturais à organização política do País [...], Presidente da
República, Governadores, Prefeitos e respectivos vices, os
auxiliares imediatos dos chefes de Executivo, isto é, Minis-
SERVIDOR PÚBLICO: CONCEITO. tros e Secretários das diversas pastas, bem como os Sena-
dores, Deputados Federais e Estaduais e os Vereadores”44.
O agente político é aquele detentor de cargo eletivo, elei-
Agente público é expressão que engloba todas as pes- to por mandatos transitórios.
soas lotadas na Administração, isto é, trata-se daqueles que b) servidores públicos, que se dividem em funcioná-
servem ao Poder Público. “A expressão agente público tem rio público, empregado público e contratados em caráter
sentido amplo, significa o conjunto de pessoas que, a qual- temporário. Os servidores públicos formam a grande mas-
quer título, exercem uma função pública como prepostos do sa dos agentes do Estado, desenvolvendo variadas fun-
Estado. Essa função, é mister que se diga, pode ser remune- ções. O funcionário público é o tipo de servidor público
rada ou gratuita, definitiva ou transitória, política ou jurídica. que é titular de um cargo, se sujeitando a regime estatu-
O que é certo é que, quando atuam no mundo jurídico, tais
tário (previsto em estatuto próprio, não na CLT). O empre-
agentes estão de alguma forma vinculados ao Poder Públi-
gado público é o tipo de servidor público que é titular
co. Como se sabe, o Estado só se faz presente através das
de um emprego, sujeitando-se ao regime celetista (CLT).
pessoas físicas que em seu nome manifestam determinada
Tanto o funcionário público quanto o empregado público
vontade, e é por isso que essa manifestação volitiva acaba
por ser imputada ao próprio Estado. São todas essas pessoas somente se vinculam à Administração mediante concurso
físicas que constituem os agentes públicos”43. público, sendo nomeados em caráter efetivo. Contratados
Neste sentido, o artigo 2º da Lei nº 8.429/92 (Lei de Im- em caráter temporário são servidores contratados por
probidade Administrativa): um período certo e determinado, por força de uma situa-
ção de excepcional interesse público, não sendo nomea-
Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo dos em caráter efetivo, ocupando uma função pública.
aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem re- c) particulares em colaboração com o Estado – são
muneração, por eleição, nomeação, designação, contratação agentes que, embora sejam particulares, executam fun-
ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, man- ções públicas especiais que podem ser qualificadas como
dato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas públicas. Ex.: mesário, jurado, recrutados para serviço mi-
no artigo anterior. litar.

43 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de


direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 44 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Di-
2010. reito Administrativo. 32. ed. São Paulo: Malheiros, 2015.

26
DIREITO ADMINISTRATIVO

REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS CI- § 2o  Às pessoas portadoras de deficiência é assegu-
VIS DA UNIÃO (LEI Nº 8.112/1990 E SUAS ALTERAÇÕES) rado o direito de se inscrever em concurso público para pro-
vimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com
Título II a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão
Do Provimento, Vacância, Remoção, Redistribuição reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas
e Substituição no concurso.
Cotas para deficientes.
Basicamente, provimento é a ocupação do cargo
por uma pessoa, transformando-a em servidora públi- § 3o  As universidades e instituições de pesquisa cientí-
ca; enquanto vacância é o que se dá quando um cargo fica e tecnológica federais poderão prover seus cargos com
fica livre; remoção é o deslocamento do servidor; redis- professores, técnicos e cientistas estrangeiros, de acordo
tribuição é o deslocamento de um cargo para outro ór- com as normas e os procedimentos desta Lei.
gão; substituição é a mudança de uma pessoa que está Exceção ao inciso I do art. 5°.
ocupando cargo de chefia ou direção por outra.
Art. 6o  O provimento dos cargos públicos far-se-á me-
Capítulo I diante ato da autoridade competente de cada Poder.
Do Provimento
Art. 7o  A investidura em cargo público ocorrerá com
Segundo Hely Lopes Meirelles , provimento “é o
45
a posse.
ato pelo qual se efetua o preenchimento do cargo pú- Por investidura entende-se a instalação formal em um
blico, com a designação de seu titular”, podendo ser cargo público, o que se dará quando a pessoa for empos-
originário ou inicial se o agente não possui vinculação sada.
anterior com a Administração Pública; ou derivado, que
pressupõe a existência de um vínculo com a Adminis- Art. 8o  São formas de provimento de cargo público:
tração, o qual pode ser horizontal, sem ascensão na car- I - nomeação;
reira, ou vertical, com ascensão na carreira. II - promoção;
III e IV - (Revogados)
Seção I V - readaptação;
Disposições Gerais VI - reversão;
VII - aproveitamento;
Art. 5o  São requisitos básicos para investidura em car- VIII - reintegração;
go público: IX - recondução.
I - a nacionalidade brasileira; Detalhes adiante.
Nacional é o que possui vínculo político-jurídico com
um Estado, fazendo parte de seu povo na qualidade de ci- Seção II
dadão. Da Nomeação

II - o gozo dos direitos políticos; Art. 9o  A nomeação far-se-á:


Direitos políticos são os direitos garantidos ao cidadão I - em caráter efetivo, quando se tratar de cargo isola-
que envolvem sua participação direta ou indireta nas deci- do de provimento efetivo ou de carreira;
sões políticas do Estado. No Brasil, se encontram nos arti- II - em comissão, inclusive na condição de interino,
gos 14 e 15 da Constituição Federal. para cargos de confiança vagos. 
Parágrafo único.  O servidor ocupante de cargo em co-
III - a quitação com as obrigações militares e eleito- missão ou de natureza especial poderá ser nomeado para ter
rais; exercício, interinamente, em outro cargo de confiança, sem
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do prejuízo das atribuições do que atualmente ocupa, hipótese
cargo; em que deverá optar pela remuneração de um deles du-
Ensino fundamental, ensino médio ou ensino superior, rante o período da interinidade.
conforme a complexidade das funções do cargo. O cargo em comissão é temporário e não depende de
concurso público. Se o servidor for nomeado para outro
V - a idade mínima de dezoito anos; cargo em comissão poderá exercer ambos de maneira in-
VI - aptidão física e mental. terina (temporária), mas somente poderá receber remune-
§ 1o  As atribuições do cargo podem justificar a exigência ração por um deles, o que optar.
de outros requisitos estabelecidos em lei.
P. ex., 3 anos de atividade jurídica para cargos de mem- Art. 10.  A nomeação para cargo de carreira ou cargo
bros do Ministério Público ou da Magistratura. isolado de provimento efetivo depende de prévia habilita-
ção em concurso público de provas ou de provas e títulos,
45 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo obedecidos a ordem de classificação e o prazo de sua vali-
brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1993. dade.

27
DIREITO ADMINISTRATIVO

Parágrafo único.  Os demais requisitos para o ingresso § 6o  Será tornado sem efeito o ato de provimento se a
e o desenvolvimento do servidor na carreira, mediante pro- posse não ocorrer no prazo previsto no § 1o deste artigo.
moção, serão estabelecidos pela lei que fixar as diretrizes do O termo de posse é dotado de conteúdo específico. É
sistema de carreira na Administração Pública Federal e seus possível tomar posse mediante procuração específica. Não
regulamentos. há posse nos cargos em comissão. A declaração de bens e
valores visa permitir a verificação da situação financeira do
Seção III servidor, de forma a perceber se ele enriqueceu despropor-
Do Concurso Público cionalmente durante o exercício do cargo.

Art. 11.  O concurso será de provas ou de provas e títu- Art. 14.  A posse em cargo público dependerá de prévia
los, podendo ser realizado em duas etapas, conforme dispu- inspeção médica oficial.
serem a lei e o regulamento do respectivo plano de carreira, Parágrafo único.  Só poderá ser empossado aquele que
condicionada a inscrição do candidato ao pagamento do for julgado apto física e mentalmente para o exercício do
valor fixado no edital, quando indispensável ao seu custeio, cargo.
e ressalvadas as hipóteses de isenção nele expressamente
previstas. Art. 15.  Exercício é o efetivo desempenho das atribui-
ções do cargo público ou da função de confiança.
Art. 12.  O concurso público terá validade de até 2 § 1o  É de quinze dias o prazo para o servidor empossa-
(dois) anos, podendo ser prorrogado uma única vez, por do em cargo público entrar em exercício, contados da data
igual período. da posse. 
§ 1o  O prazo de validade do concurso e as condições de § 2o  O servidor será exonerado do cargo ou será tor-
sua realização serão fixados em edital, que será publicado nado sem efeito o ato de sua designação para função de
no Diário Oficial da União e em jornal diário de grande cir- confiança, se não entrar em exercício nos prazos previstos
culação. neste artigo, observado o disposto no art. 18. 
§  2o   Não se abrirá novo concurso enquanto houver §  3o  À autoridade competente do órgão ou entidade
candidato aprovado em concurso anterior com prazo de va- para onde for nomeado ou designado o servidor compete
dar-lhe exercício. 
lidade não expirado.
§ 4o  O início do exercício de função de confiança coin-
No concurso de provas o candidato é avaliado apenas
cidirá com a data de publicação do ato de designação,
pelo seu desempenho nas provas, ao passo que nos con-
salvo quando o servidor estiver em licença ou afastado por
cursos de provas e títulos o seu currículo em toda sua ativi-
qualquer outro motivo legal, hipótese em que recairá no pri-
dade profissional também é considerado.
meiro dia útil após o término do impedimento, que não po-
O edital delimita questões como valor da taxa de ins-
derá exceder a trinta dias da publicação. 
crição, casos de isenção, número de vagas e prazo de va-
Nota-se que para as funções em confiança não há pra-
lidade. zo de 15 dias da posse, até mesmo porque ela não existe
nestas funções. Então, o prazo para exercício será o do dia
Seção IV da publicação do ato de designação.
Da Posse e do Exercício
Art. 16.  O início, a suspensão, a interrupção e o rei-
Art. 13.  A posse dar-se-á pela assinatura do respecti- nício do exercício serão registrados no assentamento indi-
vo termo, no qual deverão constar as atribuições, os deve- vidual do servidor.
res, as responsabilidades e os direitos inerentes ao cargo Parágrafo único.  Ao entrar em exercício, o servidor
ocupado, que não poderão ser alterados unilateralmente, apresentará ao órgão competente os elementos necessários
por qualquer das partes, ressalvados os atos de ofício pre- ao seu assentamento individual.
vistos em lei.
§ 1o  A posse ocorrerá no prazo de trinta dias contados Art. 17.  A promoção não interrompe o tempo de exer-
da publicação do ato de provimento. cício, que é contado no novo posicionamento na carreira a
§ 2o  Em se tratando de servidor, que esteja na data de partir da data de publicação do ato que promover o ser-
publicação do ato de provimento, em licença prevista nos vidor.
incisos I, III e V do art. 81, ou afastado nas hipóteses dos Na promoção não há nova posse. Então, o servidor não
incisos I, IV, VI, VIII, alíneas «a», «b», «d», «e» e «f», IX e X do tem 15 dias para entrar em exercício, o fazendo no dia da
art. 102, o prazo será contado do término do impedimento. publicação do ato.
§  3o  A posse poderá dar-se mediante procuração es-
pecífica. Art. 18.  O servidor que deva ter exercício em outro
§ 4o  Só haverá posse nos casos de provimento de cargo município em razão de ter sido removido, redistribuído,
por nomeação. requisitado, cedido ou posto em exercício provisório
§ 5o  No ato da posse, o servidor apresentará declaração terá, no mínimo, dez e, no máximo, trinta dias de prazo,
de bens e valores que constituem seu patrimônio e declara- contados da publicação do ato, para a retomada do efetivo
ção quanto ao exercício ou não de outro cargo, emprego ou desempenho das atribuições do cargo, incluído nesse prazo
função pública. o tempo necessário para o deslocamento para a nova sede.

28
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1o  Na hipótese de o servidor encontrar-se em licença §  5o  O estágio probatório ficará suspenso durante as
ou afastado legalmente, o prazo a que se refere este artigo licenças e os afastamentos previstos nos arts. 83, 84, § 1o,
será contado a partir do término do impedimento. 86 e 96, bem assim na hipótese de participação em curso
§ 2o  É facultado ao servidor declinar dos prazos esta- de formação, e será retomado a partir do término do impe-
belecidos no caput. dimento. 
Se o servidor estava em exercício em outro município
e é convocado por publicação para retomar a posição su- Desde a Emenda Constitucional nº 19 de 1998, a disci-
perior tem um prazo entre 10 e 30 dias, dos quais pode plina do estágio probatório mudou, notadamente aumen-
desistir, se quiser. tando o prazo de 2 anos para 3 anos. Tendo em vista que a
norma constitucional prevalece sobre a lei federal, mesmo
Art. 19.  Os servidores cumprirão jornada de trabalho que ela não tenha sido atualizada, deve-se seguir o dispos-
fixada em razão das atribuições pertinentes aos respectivos to no artigo 41 da Constituição Federal:
cargos, respeitada a duração máxima do trabalho semanal
de quarenta horas e observados os limites mínimo e má- Art. 41, CF. São estáveis após três anos de efetivo exer-
ximo de seis horas e oito horas diárias, respectivamente. 
cício os servidores nomeados para cargo de provimento
§ 1o  O ocupante de cargo em comissão ou função de
efetivo em virtude de concurso público.
confiança submete-se a regime de integral dedicação ao
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
serviço, observado o disposto no art. 120, podendo ser con-
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
vocado sempre que houver interesse da Administração.
§ 2o  O disposto neste artigo não se aplica a duração de II - mediante processo administrativo em que lhe seja
trabalho estabelecida em leis especiais. assegurada ampla defesa;
III - mediante procedimento de avaliação periódica de
Art. 20.  Ao entrar em exercício, o servidor nomeado desempenho, na forma de lei complementar, assegurada
para cargo de provimento efetivo ficará sujeito a estágio ampla defesa.
probatório por período de 24 (vinte e quatro) meses, duran- § 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do ser-
te o qual a sua aptidão e capacidade serão objeto de ava- vidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante
liação para o desempenho do cargo, observados os seguinte da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, sem
fatores:  direito a indenização, aproveitado em outro cargo ou pos-
I - assiduidade; to em disponibilidade com remuneração proporcional ao
II - disciplina; tempo de serviço.
III - capacidade de iniciativa; § 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade,
IV - produtividade; o servidor estável ficará em disponibilidade, com remune-
V - responsabilidade. ração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado
§ 1o  4 (quatro) meses antes de findo o período do es- aproveitamento em outro cargo.
tágio probatório, será submetida à homologação da autori- § 4º Como condição para a aquisição da estabilidade,
dade competente a avaliação do desempenho do servidor, é obrigatória a avaliação especial de desempenho por co-
realizada por comissão constituída para essa finalidade, de missão instituída para essa finalidade.
acordo com o que dispuser a lei ou o regulamento da res-
pectiva carreira ou cargo, sem prejuízo da continuidade de Seção V
apuração dos fatores enumerados nos incisos I a V do caput Da Estabilidade
deste artigo.
§ 2o  O servidor não aprovado no estágio probatório será Art. 21.  O servidor habilitado em concurso público e
exonerado ou, se estável, reconduzido ao cargo anterior- empossado em cargo de provimento efetivo adquirirá esta-
mente ocupado, observado o disposto no parágrafo único
bilidade no serviço público ao completar 2 (dois) anos de
do art. 29.
efetivo exercício. 
§ 3o  O servidor em estágio probatório poderá exercer
ATENÇÃO: Vale o prazo de 3 anos, conforme Constitui-
quaisquer cargos de provimento em comissão ou fun-
ção Federal (artigo 41 retrocitado).
ções de direção, chefia ou assessoramento no órgão ou
entidade de lotação, e somente poderá ser cedido a outro
órgão ou entidade para ocupar cargos de Natureza Espe- Art. 22.  O servidor estável só perderá o cargo em
cial, cargos de provimento em comissão do Grupo-Direção virtude de sentença judicial transitada em julgado ou
e Assessoramento Superiores - DAS, de níveis 6, 5 e 4, ou de processo administrativo disciplinar no qual lhe seja
equivalentes.  assegurada ampla defesa.
§ 4o  Ao servidor em estágio probatório somente pode-
rão ser concedidas as licenças e os afastamentos previstos Seção VI
nos arts. 81, incisos I a IV, 94, 95 e 96, bem assim afasta- Da Transferência
mento para participar de curso de formação decorrente de
aprovação em concurso para outro cargo na Administração Art. 23. (Execução suspensa)
Pública Federal.

29
DIREITO ADMINISTRATIVO

Seção VII Art. 26. (Revogado)


Da Readaptação
Art. 27.  Não poderá reverter o aposentado que já tiver
Art. 24.  Readaptação é a investidura do servidor em completado 70 (setenta) anos de idade.
cargo de atribuições e responsabilidades compatíveis Merece destaque a impossibilidade de cumulação da
com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade aposentadoria com a remuneração caso o servidor retorne
física ou mental verificada em inspeção médica. às funções.
§ 1o  Se julgado incapaz para o serviço público, o rea-
daptando será aposentado. Seção IX
§ 2o  A readaptação será efetivada em cargo de atribui- Da Reintegração
ções afins, respeitada a habilitação exigida, nível de escola-
ridade e equivalência de vencimentos e, na hipótese de ine- Art. 28.  A reintegração é a reinvestidura do servidor
xistência de cargo vago, o servidor exercerá suas atribuições estável no cargo anteriormente ocupado, ou no cargo re-
como excedente, até a ocorrência de vaga. sultante de sua transformação, quando invalidada a sua
demissão por decisão administrativa ou judicial, com
Se o funcionário deixa de ter condições físicas ou psi- ressarcimento de todas as vantagens.
cológicas para ocupar seu cargo, deverá ser readaptado § 1o  Na hipótese de o cargo ter sido extinto, o servidor
para cargo semelhante que não exija tais aptidões. Ex: fun- ficará em disponibilidade, observado o disposto nos arts.
cionário trabalhava como atendente numa repartição, se 30 e 31.
movimentando o tempo todo e sofre um acidente, ficando §  2o   Encontrando-se provido o cargo, o seu eventual
paraplégico. Sua capacidade mental não ficou prejudicada, ocupante será reconduzido ao cargo de origem, sem direito à
embora seja inconveniente ele ter que fazer tantos mo- indenização ou aproveitado em outro cargo, ou, ainda, posto
vimentos no exercício das funções. Por isso, pode ser re- em disponibilidade.
conduzido para outro cargo técnico na repartição que seja
mais burocrático e exija menos movimentação física, como Se um servidor for injustamente demitido e a sua de-
o de assistente de um superior. missão for invalidada, será reinvestido no cargo, sendo to-
talmente ressarcido (por exemplo, recebendo os salários
Seção VIII do período em que foi afastado). Caso o cargo esteja ex-
Da Reversão tinto, será posto em disponibilidade; caso o cargo exista
e alguém o estiver ocupando, este será retirado do cargo,
Art. 25.  Reversão é o retorno à atividade de servidor devolvendo-o ao seu legítimo titular.
aposentado: 
I - por invalidez, quando junta médica oficial declarar Seção X
insubsistentes os motivos da aposentadoria; ou  Da Recondução
II - no interesse da administração, desde que: 
a) tenha solicitado a reversão;  Art. 29.  Recondução é o retorno do servidor estável
b) a aposentadoria tenha sido voluntária;  ao cargo anteriormente ocupado e decorrerá de:
c) estável quando na atividade; I - inabilitação em estágio probatório relativo a outro
d) a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos ante- cargo;
riores à solicitação;  II - reintegração do anterior ocupante.
e) haja cargo vago. Parágrafo único.  Encontrando-se provido o cargo de
§ 1o  A reversão far-se-á no mesmo cargo ou no cargo origem, o servidor será aproveitado em outro, observado o
resultante de sua transformação. disposto no art. 30.
§ 2o  O tempo em que o servidor estiver em exercício será Como visto, quando um servidor é promovido ele se
considerado para concessão da aposentadoria. sujeita a novo estágio probatório e, caso seja inabilitado,
§ 3o  No caso do inciso I, encontrando-se provido o cargo, voltará ao cargo que antes ocupava. Ainda, se alguém esti-
o servidor exercerá suas atribuições como excedente, até a ver ocupando o cargo de um servidor que tenha sido injus-
ocorrência de vaga.  tamente demitido, quando este voltar deverá desocupar o
§  4o  O servidor que retornar à atividade por interesse cargo. Se a posição antes ocupada não estiver livre, deverá
da administração perceberá, em substituição aos proventos ser reaproveitado em outro cargo semelhante.
da aposentadoria, a remuneração do cargo que voltar a
exercer, inclusive com as vantagens de natureza pessoal Seção XI
que percebia anteriormente à aposentadoria.  Da Disponibilidade e do Aproveitamento
§ 5o  O servidor de que trata o inciso II somente terá os
proventos calculados com base nas regras atuais se perma- Art. 30.  O retorno à atividade de servidor em disponibi-
necer pelo menos cinco anos no cargo.  lidade far-se-á mediante aproveitamento obrigatório em
§ 6o  O Poder Executivo regulamentará o disposto neste cargo de atribuições e vencimentos compatíveis com o
artigo.  anteriormente ocupado.

30
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 31.  O órgão Central do Sistema de Pessoal Civil REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS CI-
determinará o imediato aproveitamento de servidor em VIS DA UNIÃO (LEI Nº 8.112/1990 E SUAS ALTERAÇÕES)
disponibilidade em vaga que vier a ocorrer nos órgãos ou
entidades da Administração Pública Federal. Capítulo IV
Parágrafo único.  Na hipótese prevista no § 3o do art. Das Responsabilidades
37, o servidor posto em disponibilidade poderá ser man-
tido sob responsabilidade do órgão central do Sistema de Art. 121.  O servidor responde civil, penal e adminis-
Pessoal Civil da Administração Federal - SIPEC, até o seu trativamente pelo exercício irregular de suas atribuições.
adequado aproveitamento em outro órgão ou entidade. Segundo Carvalho Filho46, “a responsabilidade se origi-
na de uma conduta ilícita ou da ocorrência de determinada
Art. 32.  Será tornado sem efeito o aproveitamento e situação fática prevista em lei e se caracteriza pela natureza
cassada a disponibilidade se o servidor não entrar em do campo jurídico em que se consuma. Desse modo, a res-
exercício no prazo legal, salvo doença comprovada por ponsabilidade pode ser civil, penal e administrativa. Cada
junta médica oficial. responsabilidade é, em princípio, independente da outra”.
Servidor posto em disponibilidade não é servidor apo- É possível que o mesmo fato gere responsabilidade ci-
sentado. É apenas um servidor aguardando que surja um vil, penal e administrativa, mas também é possível que este
posto adequado para que ocupe. Quando ele surgir, deve- gere apenas uma ou outra espécie de responsabilidade.
rá entrar em exercício, sob pena de ter revogada a dispo- Daí o fato das responsabilidades serem independentes: o
nibilidade, deixando de ser servidor público. mesmo fato pode gerar a aplicação de qualquer uma delas,
cumulada ou isoladamente.
Capítulo II
Da Vacância Art. 122.  A responsabilidade civil decorre de ato omis-
sivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em
Art. 33.  A vacância do cargo público decorrerá de: prejuízo ao erário ou a terceiros.
I - exoneração; § 1o  A indenização de prejuízo dolosamente causado ao
erário somente será liquidada na forma prevista no art. 46,
II - demissão;
na falta de outros bens que assegurem a execução do débito
III - promoção;
pela via judicial.
IV e V - (Revogados)
§ 2o  Tratando-se de dano causado a terceiros, responde-
VI - readaptação;
rá o servidor perante a Fazenda Pública, em ação regressiva.
VII - aposentadoria;
§ 3o  A obrigação de reparar o dano estende-se aos su-
VIII - posse em outro cargo inacumulável;
cessores e contra eles será executada, até o limite do valor
IX - falecimento.
da herança recebida.
Art. 34.  A exoneração de cargo efetivo dar-se-á a pedi- O instituto da responsabilidade civil é parte integran-
do do servidor, ou de ofício. te do direito obrigacional, uma vez que a principal conse-
Parágrafo único.  A exoneração de ofício dar-se-á: quência da prática de um ato ilícito é a obrigação que gera
I - quando não satisfeitas as condições do estágio para o seu auto de reparar o dano, mediante o pagamen-
probatório; to de indenização que se refere às perdas e danos. Afinal,
II - quando, tendo tomado posse, o servidor não entrar quem pratica um ato ou incorre em omissão que gere dano
em exercício no prazo estabelecido. deve suportar as consequências jurídicas decorrentes, res-
Sendo o cargo efetivo, somente será exonerado de taurando-se o equilíbrio social.47
ofício se não for habilitado no estágio probatório e se não A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal, po-
entrar em exercício no prazo legal. dendo recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até os
limites da herança, embora existam reflexos na ação que
Art. 35.  A exoneração de cargo em comissão e a dispen- apure a responsabilidade civil conforme o resultado na es-
sa de função de confiança dar-se-á:  fera penal (por exemplo, uma absolvição por negativa de
I - a juízo da autoridade competente; autoria impede a condenação na esfera cível, ao passo que
II - a pedido do próprio servidor. uma absolvição por falta de provas não o faz).
Como o cargo em comissão refere-se a uma relação Genericamente, os elementos da responsabilidade civil
de confiança para com a autoridade competente, esta po- se encontram no art. 186 do Código Civil: “aquele que, por
derá exonerar o servidor. ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusiva-
mente moral, comete ato ilícito”. Este é o artigo central do
46 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
2010.
47 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade
Civil. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

31
DIREITO ADMINISTRATIVO

instituto da responsabilidade civil, que tem como elemen- Quando o servidor pratica um ilícito administrativo,
tos: ação ou omissão voluntária (agir como não se deve a ele é atribuída responsabilidade administrativa. O ilícito
ou deixar de agir como se deve), culpa ou dolo do agente pode verificar-se por conduta comissiva ou omissiva e os
(dolo é a vontade de cometer uma violação de direito e fatos que o configuram são os previstos na legislação esta-
culpa é a falta de diligência), nexo causal (relação de causa tutária. Por exemplo, as sanções aplicadas pela Comissão de
e efeito entre a ação/omissão e o dano causado) e dano Ética por violação ao Decreto n° 1.171/94 são administrativas.
(dano é o prejuízo sofrido pelo agente, que pode ser in-
dividual ou coletivo, moral ou material, econômico e não Art. 125.  As sanções civis, penais e administrativas pode-
econômico). rão cumular-se, sendo independentes entre si.
Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal:
Se as responsabilidades se cumularem, também as san-
As pessoas jurídicas de direito público e as de direito pri- ções serão cumuladas. Daí afirmar-se que tais responsabili-
vado prestadoras de serviços públicos responderão pelos da- dades são independentes, ou seja, não dependem uma da
nos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, outra.
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa. Art. 126.  A responsabilidade administrativa do servidor
será afastada no caso de absolvição criminal que negue a
Este artigo deixa clara a formação de uma relação jurí- existência do fato ou sua autoria.
dica autônoma entre o Estado e o agente público que cau-
sou o dano no desempenho de suas funções. Nesta rela- Determinadas decisões na esfera penal geram exclusão
ção, a responsabilidade civil será subjetiva, ou seja, caberá da responsabilidade nas esferas civil e administrativa, quais
ao Estado provar a culpa do agente pelo dano causado, ao sejam: absolvição por inexistência do fato ou negativa de
qual foi anteriormente condenado a reparar. Direito de re- autoria. A absolvição criminal por falta de provas não gera
gresso é justamente o direito de acionar o causador direto exclusão da responsabilidade civil e administrativa.
do dano para obter de volta aquilo que pagou à vítima, A absolvição proferida na ação penal, em regra, nada
considerada a existência de uma relação obrigacional que prejudica a pretensão de reparação civil do dano ex delicto,
se forma entre a vítima e a instituição que o agente com- conforme artigos 65, 66 e 386, IV do CPP: “art. 65. Faz coisa
põe. julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o
Assim, o Estado responde pelos danos que seu agen- ato praticado em estado de necessidade, em legítima defe-
te causar aos membros da sociedade, mas se este agen- sa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
te agiu com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do regular de direito” (excludentes de antijuridicidade); “art.
que foi pago à vítima. O agente causará danos ao praticar 66. não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a
condutas incompatíveis com o comportamento ético dele ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, cate-
esperado.48 goricamente, reconhecida a inexistência material do fato”;
A responsabilidade civil do servidor exige prévio pro- “art. 386, IV –  estar provado que o réu não concorreu para
cesso administrativo disciplinar no qual seja assegurado a infração penal”.
contraditório e ampla defesa. Entendem Fuller, Junqueira e Machado49: “a absolvição
Trata-se de responsabilidade civil subjetiva ou com dubitativa (motivada por juízo de dúvida), ou seja, por falta
culpa. Havendo ação ou omissão com culpa do servidor de provas, (art. 386, II, V e VII, na nova redação conferida ao
que gere dano ao erário (Administração) ou a terceiro (ad- CPP), não empresta qualquer certeza ao âmbito da jurisdi-
ministrado), o servidor terá o dever de indenizar. ção civil, restando intocada a possibilidade de, na ação civil
de conhecimento, ser provada e reconhecida a existência do
Art. 123.  A responsabilidade penal abrange os crimes direito ao ressarcimento, de acordo com o grau de cognição
e contravenções imputadas ao servidor, nessa qualidade. e convicção próprios da seara civil (na esfera penal, a decisão
A responsabilidade penal do servidor decorre de uma de condenação somente pode ser lastreada em juízo de cer-
conduta que a lei penal tipifique como infração penal, ou teza, tendo em vista o princípio constitucional do estado de
seja, como crime ou contravenção penal. inocência)”.
O servidor poderá ser responsabilizado apenas penal-
mente, uma vez que somente caberá responsabilização civil Art. 126-A. Nenhum servidor poderá ser responsabilizado
se o ato tiver causado prejuízo ao erário (elemento dano). civil, penal ou administrativamente por dar ciência à autorida-
Os crimes contra a Administração Pública se encon- de superior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta,
tram nos artigos 312 a 326 do Código Penal, mas existem a outra autoridade competente para apuração de informação
outros crimes espalhados pela legislação específica. concernente à prática de crimes ou improbidade de que te-
nha conhecimento, ainda que em decorrência do exercício
Art. 124.  A responsabilidade civil-administrativa re- de cargo, emprego ou função pública.
sulta de ato omissivo ou comissivo praticado no desem-
penho do cargo ou função. 49 FULLER, Paulo Henrique Aranda; JUNQUEIRA,
Gustavo Octaviano Diniz; MACHADO, Angela C. Cangia-
48 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. no. Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
13. ed. São Paulo: Método, 2011. 2010. (Coleção Elementos do Direito)

32
DIREITO ADMINISTRATIVO

Este dispositivo visa garantir que os servidores públi- § 5º - O candidato que, ao ser designado para o es-
cos denunciem os servidores hierarquicamente superiores. tágio experimental, for ocupante, em caráter efetivo, de
Afinal, todos teriam receio de denunciar se pudessem ser cargo ou emprego em órgão da Administração Estadual
responsabilizados civil, penal ou administrativamente por direta ou autárquica ficará dele afastado com a perda do
tal denúncia caso no curso da apuração se verificasse que vencimento ou salário e vantagens, observado o disposto
ela não procedia. no inciso IV do art. 20 e ressalvado o salário-família, con-
tinuando filiado à mesma instituição de previdência, sem
alteração da base de contribuição.
ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS § 6º - O candidato não aprovado no estágio experi-
CIVIS DO PODER EXECUTIVO DO RIO DE mental será considerado inabilitado no concurso e voltará
automaticamente ao cargo ou emprego de que se tenha
JANEIRO (DECRETO-LEI Nº 220/75) E SEU
afastado, na hipótese do parágrafo anterior.
REGULAMENTO (DECRETO Nº 2.479/79). § 7º - O candidato aprovado permanecerá na situação
de estagiário até a data da publicação do ato de nomeação,
considerada a mesma data, para, todos os efeitos, início do
exercício do cargo ressalvado o disposto no parágrafo ter-
DECRETO-LEI Nº 220 DE 18 DE JULHO DE 1975.
ceiro antecedente e no artigo seguinte.
§ 8º -  As atribuições inerentes ao cargo servirão de
Dispõe sobre o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis base para o estabelecimento dos requisitos a serem exigi-
do Poder Executivo do Estado do Riode Janeiro. dos para inscrição no concurso, inclusive a limitação da ida-
O Governador do Estado do Rio de Janeiro, no uso de, que não poderá ser inferior a 18 (dezoito) nem superior
da atribuição que lhe confere o § 1º do art. 3º da Lei Com- a 45 (quarenta e cinco) anos.
plementar nº 20, de 1º de julho de 1974, § 9º - Não ficará sujeito ao limite máximo de idade o
servidor de órgão da administração pública, direta ou in-
DECRETA direta.
§ 10 - Além dos requisitos de que trata o § 8º deste
Art. 1º - Este Decreto-lei institui o regime jurídico dos artigo, são exigíveis para inscrição em concurso público:
funcionários públicos civis do Poder Executivo do Estado 1) nacionalidade brasileira;
do Rio de Janeiro. 2) pleno gozo dos direitos políticos;
3) quitação das obrigações militares.
Parágrafo único -  Para os efeitos deste Decreto-lei
* § 11 A norma contida no item 3 do § 1º deste artigo
funcionário é a pessoa legalmente investida em cargo pú-
não se aplica ao candidato habilitado nas provas para o
blico estadual do Quadro I (Permanente).
preenchimento de cargo de professor ou de cargos desti-
nados ao pessoal de apoio ao magistério.
Título I * Nova redação dada pela Lei nº 2289/1994.
DO PROVIMENTO, DO EXERCÍCIO E DA VACÂNCIA Art. 3º - O funcionário nomeado na forma do artigo
(Art. 2º a 17) anterior adquirirá estabilidade após 2 (dois) anos de efetivo
exercício, computando-se, para esse efeito, o período de
Art. 2º - A nomeação para cargo de provimento efe- estágio experimental em que tenha sido aprovado.
tivo depende de prévia habilitação em concurso público. Parágrafo único - O funcionário que se desvincular de
§ 1º - O concurso objetivará avaliar: um cargo público do Estado do Rio de Janeiro ou de suas
1) conhecimento e qualificação profissionais, median- autarquias para investir-se em outro conservará a estabili-
te provas ou provas e títulos; dade já adquirida.
2) condições de sanidade físico-mental; e Art. 4º - O funcionário estável poderá ser transferido
* 3)  desempenho das atividades do cargo, inclusive da administração direta para a autárquica e reciprocamen-
condições psicológicas, mediante estágio experimental, te, ou de um para outro Quadro de mesma entidade, desde
ressalvado o disposto no § 11 deste artigo. que para cargo de retribuição equivalente, atendida a ha-
* Nova redação dada pela Lei nº 1820/1991 bilitação profissional; ou removido de uma Unidade Admi-
§ 3º - A designação prevista no parágrafo anterior nistrativa para outra do mesmo órgão ou entidade, desde
observará a ordem de classificação nas provas e o limite que haja claro na lotação.
das vagas a serem preenchidas, percebendo o estagiário Art. 5º - Invalidada a demissão do funcionário, será ele
retribuição correspondente a 80% (oitenta por cento) do reintegrado e ressarcido.
vencimento do cargo, assegurada a diferença, se nomeado § 1º - Far-se-á a reintegração no cargo anteriormente
afinal. ocupado; se alterado, no resultante da alteração; se extinto,
§ 4º - O prazo de validade das provas será fixado nas noutro de vencimento equivalente, atendida a habilitação
instruções reguladoras do concurso, aprovadas pelo Ór- profissional.
gão Central do Sistema de Pessoal Civil do Estado e pode- § 2º - Não ocorrendo qualquer das hipóteses previstas
no parágrafo anterior, restabelecer-se-á o cargo anterior-
rá ser prorrogado, uma vez, por período não excedente a
mente exercido, que ficará como excedente, e nele se fará
12 (doze) meses.
a reintegração.

33
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 3º - A reintegração ocorrerá, sempre, no sistema de III - desempenho de cargo ou função de confiança na
classificação a que pertencia o funcionário. administração pública federal, estadual ou municipal;
§ 4º - Reintegrado o funcionário, aquele que não ocu- IV - o estágio experimental;
paria cargo de igual classe se não tivesse ocorrido o ato de V - licença-prêmio, licença à gestante, acidente em ser-
demissão objeto da medida será exonerado ou reconduzi- viço ou doença profissional;
do ao cargo anterior, sem direito a qualquer ressarcimento, VI - licença para tratamento de saúde;
se não estável; caso contrário, será ele provido em vaga VII - doença de notificação compulsória;
existente ou permanecerá como excedente até a ocorrên- VIII - missão oficial;
cia da vaga. IX - estudo no exterior ou em qualquer parte do terri-
Art. 6º - O funcionário em disponibilidade poderá ser tório nacional desde que de interesse para a Administração
aproveitado em cargo de natureza e vencimento compatí- e não ultrapasse o prazo de 12 (doze) meses;
veis com os do anteriormente ocupado. * X - prestação de prova ou exame em concurso pú-
Art. 7º - O funcionário estável fisicamente incapacita- blico.
do para o pleno exercício do cargo poderá ser ajustado em * Nova redação dada pela Lei Complementar nº
outro de vencimento equivalente e compatível com suas 110/2005.
aptidões e qualificações profissionais. XI - recolhimento à prisão, se absolvido afinal;
Art. 8º - A investidura em cargo de provimento efeti- XII - suspensão preventiva, se inocentado afinal;
vo ocorrerá com o exercício, que, nos casos de nomeação, XIII - convocação para serviço militar, júri e outros ser-
reintegração, transferência e aproveitamento, se iniciará no viços obrigatórios por lei; e
prazo de 30 (trinta) dias, contado da publicação do ato de XIV - trânsito para ter exercício em nova sede.
provimento. * § 1º - As faltas do servidor por motivo de doença, in-
§ 1º - São requisitos essenciais para essa investidura, clusive em pessoa da família, até o máximo de 03 (três) dias
verificada a subsistência dos previstos no § 10 do art. 2º, durante o mês, serão abonadas mediante a apresentação
os seguintes: de atestado ou laudo médico expedido pelo órgão médico
1) habilitação em exame de sanidade e capacidade fí- oficial competente do Estado ou por outros aos quais ele
sica realizada exclusivamente por órgão oficial do Estado; transferir ou delegar atribuições. (AC)
* Acrescido pela Lei Complementar nº 110/2005.
2) declaração de bens;
* § 2º - Admitir-se-á, na hipótese de inexistência de ór-
3) habilitação em concurso público;
gão médico oficial do Estado na localidade, atestado expe-
4) bons antecedentes;
dido por órgão médico de outra entidade pública, dentre
5)  prestação de fiança, quando a natureza da função
estes os Hospitais do IASERJ, da Polícia Militar e do Corpo
o exigir;
de Bombeiros. (AC)
6) declaração sobre se detém outro cargo, função ou
* Acrescido pela Lei Complementar nº 110/2005.
emprego, ou se percebe proventos de inatividade; e
Art. 12 -  O afastamento para o exterior, exceto em
7) inscrição no Cadastro de Pessoa Física (CPF). gozo de férias ou licença, dependerá, salvo delegação de
§ 2º - A prova dos requisitos a que se referem os itens competência, de prévia autorização do Governador do Es-
1 e 3 do § 10 do art.2º e 3 e 4 do parágrafo anterior não tado.
será exigida nos casos de reintegração e aproveitamento. Art. 13 - O afastamento do funcionário de sua unida-
§ 3º -  A critério da administração, ocorrendo motivo de administrativa dar-se-á somente para desempenho de
relevante, o prazo para o exercício poderá ser prorrogado. cargo ou função de confiança e com ônus para a unidade
§ 4º - Será tornada sem efeito a nomeação se o exercí- requisitante.
cio não se verificar no prazo estabelecido. * Art. 14 - O cargo ou função de confiança poderá ser
Art. 9º - O funcionário que deva entrar em exercício exercido, eventualmente, em substituição. hipótese em que
em nova sede terá, para esse efeito, prazo de 5 (cinco) dias, a investidura independerá da posse.
contados da data da publicação do ato que o determinar. § 1º - Ressalvada a hipótese prevista em regulamento,
Art. 10 - A investidura em cargo em comissão ocorrerá a substituição será gratuita, salvo quando o afastamento
com a posse, da qual se lavrará termo incluindo o compro- exceder de 30 (trinta) dias.
misso de fiel cumprimento dos deveres da função pública. § 2º - A substituição não poderá recair em possa estra-
§ 1º - O termo de posse consignará a apresentação de nha ao serviço público.
declaração de bens.
§ 2º - A competência para dar posse será a indicada em * Nova Redação alterada pela Lei nº 214/1978
legislação específica. * Art. 15 - Dar-se-á a vacância do cargo ou função na
§ 3º - Quando a investidura de que trata este artigo re- data do fato ou da publicação do ato que implique desin-
cair em pessoas estranhas ao serviço público, será exigida vestidura.
a comprovação dos requisitos a que se referem os itens 1 a Parágrafo único - Na vacância do cargo ou função, e
3 do § 10 do art. 2º e 1, 2, 4, 6 e 7 do § 1º do art. 8º. até o seu provimento, poderá ser designado, pela autorida-
Art. 11 - Considerar-se-á em efetivo exercício o funcio- de imediatamente superior, responsável pelo expediente,
nário afastado por motivo de: aplicando-se à hipótese o disposto no art. 14.
I - férias; * Nova Redação alterada pela Lei nº 214/1978.
II - casamento e luto, até 8 (oito) dias;

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 16 - A exoneração ou dispensa, ocorrerá: * VIII - sem vencimentos, para trato de interesses par-
I - a pedido; e ticulares.
II - ex-officio. * Acrescentado pela Lei nº 490/1981.
Parágrafo único - Aplicar-se-á a exoneração ou dis- IX  Sem vencimento, pelo prazo de cinco anos, pror-
pensa ex-officio: rogável uma única vez, ao servidor da área da saúde, que
1) no caso de exercício de cargo ou função de confian- for contratado por empresa ou aderir a cooperativa que
ça; administre hospitais públicos terceirizados, nos termos fi-
2)  no caso de abandono de cargo, quando extinta a xados em Lei, sendo-lhe garantida a contagem de tempo
punibilidade por prescrição e o funcionário não houver re- de serviço para fins de aposentadoria, se obedecido o que
querido a exoneração; e prevê o § 5º deste artigo.
3) na hipótese prevista no art. 5º, § 4º. § 1º - No caso de inciso V, existindo, na localidade, uni-
Art. 17 - Declarar-se-á a perda do cargo: dade administrativa onde haja claro na lotação ou vaga,
I - nas hipóteses previstas na legislação penal; e processar-se-á a movimentação cabível.
II - nos demais casos especificados em lei. § 2º - Suspender-se-á, até o limite de 90 (noventa) dias,
em cada caso, a contagem de tempo de serviço para efeito
Título II de Licença-Prêmio, durante as licenças:
DOS DIREITOS E DAS VANTAGENS (Art. 18 a 32) 1) para tratamento de saúde;
2) por motivo de doença em pessoa da família; e
Art. 18 - O funcionário gozará, por ano de exercício, 30 3) por motivo de afastamento do cônjuge.
(trinta) dias consecutivos de férias, que somente poderão § 4º - expirado o prazo da licença a que se refere o
ser acumuladas até o máximo de 2 (dois) períodos, em face inciso IX deste artigo, o servidor deverá retornar imediata-
de imperiosa necessidade do serviço. mente ao serviço público.
Nota: O Decreto-Lei Nº 363, de 04 de outubro de 1977, § 5º - Durante o período de licença a que se refere o
uniformiza a concessão de férias nos quadros I e III e dá inciso IX deste artigo o servidor deverá continuar contri-
outras providências.
buindo para o Instituto de Previdência do Estado do Rio
§ 1º - É vedado levar à conta de férias qualquer falta ao
de Janeiro IPERJ, com base no valor da última remuneração
serviço.
recebida dos cofres públicos, corrigida no tempo em fun-
Nota: O Decreto-Lei Nº 363, de 04 de outubro de 1977,
ção e pelos mesmos percentuais dos reajustes gerais e da
uniformiza a concessão de férias nos quadros I e III e dá
categoria.
outras providências.
§ 6º - A extinção, por qualquer motivo, do contrato de
* Revogado pela Lei Complementar nº 121/2008.
trabalho do servidor licenciado na forma do inciso IX deste
Art. 19 - Conceder-se-á licença:
I - para tratamento de saúde, com vencimento e vanta- artigo com a sociedade prestadora de serviços hospitalares
gens, pelo prazo máximo de 24 (vinte e quatro) meses; terceirizados, ou seu desligamento da cooperativa a esse
II - por motivo de doença em pessoa da família, com fim direcionada, importará em imediata suspensão da li-
vencimento e vantagens integrais nos primeiros 12 (doze) cença sem vencimento, obrigando o servidor a retornar ao
meses; e, com dois terços, por outros 12 (doze) meses, no serviço público ou a converter sua licença para uma das
máximo; outras modalidades previstas neste Decreto-Lei.
* III – à gestante, com vencimentos e vantagens, pelo § 7º - Na hipótese do parágrafo anterior, as coopera-
prazo de seis meses, prorrogável, no caso de aleitamento tivas e as empresas de serviços hospitalares terceirizados
materno, por no mínimo trinta e no máximo noventa dias, deverão comunicar à Secretaria de Estado de Saúde, no dia
mediante a apresentação de laudo médico circunstancia- útil imediatamente posterior, a extinção do contrato de tra-
do emitido pelo serviço de perícia médica oficial do Estado, balho ou o desligamento do cooperado que se encontrar
podendo retroagir sua prorrogação até 15 (quinze) dias, a licenciado do serviço público.
partir da data do referido laudo. (NR) * § 8º - No caso do inciso III, a licença à gestante de re-
* Nova redação dada pela Lei COMPLEMENTAR Nº cém-nascidos pré-termo será acrescida do número de se-
128, DE 26 DE JUNHO DE 2009. manas equivalente à diferença entre o nascimento a termo
IV - para serviço militar, na forma da legislação espe- – 37 semanas de idade gestacional – e a idade gestacional
cífica; do recém-nascido, devidamente comprovada.
V - sem vencimento, para acompanhar o cônjuge eleito * Acrescentado pela Lei nº 3862, de 17/06/2002
para o Congresso Nacional ou mandado servir em outras * §9º A servidora pública em gozo da licença materni-
localidades se militar, servidor público ou com vínculo em- dade e ou aleitamento materno será concedida, imediata-
pregatício em empresa estadual ou particular; mente após o término das mesmas, licença prêmio a que
* Nova redação dada pela Lei nº 800/1984. tiver direito, mediante requerimento da servidora.
VI - a título de prêmio, pelo prazo de 3 (três) meses; * Acrescentado pela Lei COMPLEMENTAR Nº 128,
com vencimento e vantagens do cargo efetivo, depois de DE 26 DE JUNHO DE 2009.
cada quinquênio ininterrupto de efetivo exercício no serviço Art. 20 - O funcionário deixará de receber vencimen-
público estadual ou autárquico do Estado do Rio de Janeiro; tos e vantagens, exceto gratificação adicional por tempo de
VII - sem vencimento, para desempenho de mandato serviço, quando se afastar do exercício do cargo:
eletivo.

35
DIREITO ADMINISTRATIVO

I - para prestar serviço à União, a outro Estado, a Muni- * VIII - gratificação de encargos especiais.
cípio, à Sociedade de Economia Mista, à Empresa Pública, à * Inciso acrescentado pelo art. 34 da Lei nº 720/1981.
Fundação ou à Organização Internacional, salvo quando, a * Art. 29. Para efeito de aposentadoria, observado o
juizo do Governador, reconhecido o afastamento como de limite temporal estabelecido no art. 4º da Emenda Consti-
interesse do Estado; tucional n.º 20, de 15 de dezembro de 1998, e de disponi-
II - em decorrência de prisão administrativa, salvo se bilidade, será computado:(NR)
inocentado afinal; * Nova redação dada pela Lei Complementar nº
III - para exercer cargo ou função de confiança, ressal- 121/2008.
vado o direito de opção legal; e I - o tempo de serviço público civil federal, estadual, ou
IV - para estágio experimental. municipal, na administração direta ou indireta;
Art. 21 - O funcionário deixará de receber: II - o tempo de serviço militar; e
* I – um terço do vencimento e vantagens, durante o III - o tempo de disponibilidade.
recolhimento à prisão por ordem judicial não decorrente * IV - em dobro, inclusive para os efeitos do art. 224 do
de condenação definitiva, ressalvado o direito à diferença Decreto nº 2479, de 8 de março de 1979, os períodos de
se absolvido afinal. férias e de licença prêmio não gozadas e, para os servido-
* Nova redação dada pela Lei Complementar nº res que apurem, nos termos do art. 76 § § 1º e 2º do men-
96/2001. cionado Decreto nº 2479/79, tempo de serviço não inferior
II - dois terços do vencimento e vantagens, durante o a 20 (vinte) anos, o de exercício de cargo em comissão na
cumprimento, sem perda do cargo, de pena privativa de Administração Direta do Estado.*
liberdade; e * Inciso acrescentado pela Lei nº 1713/1990, e suprimi-
III - o vencimento e vantagens do dia em que não do pelo art. 10 da Lei nº 1820/1991.)
comparecer ao serviço, salvo por motivo de força maior *  AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
devidamente comprovado. Nr.404 - Em 01/04/2004 - JULGAMENTO DO PLENO DO
* Parágrafo único – Na hipótese do artigo 59 o re- STF - PROCEDENTE - Decisão: O Tribunal, por unani-
cebimento do vencimento e vantagens será proporcional midade, julgou procedente o pedido e declarou a in-
ao tempo de serviço, ressalvado o direito à diferença em constitucionalidade de parte do artigo 3º - “e, para os
caso de arquivamento do inquérito. servidores que apurem, nos termos do art. 76 § § 1º e 2º
* Incluído pela Lei Complementar nº 96/2001. do mencionado Decreto nº 2479/79, tempo de serviço não
Art. 22 - As reposições e indenizações à Fazenda Pú- inferior a 20 (vinte) anos, o de exercício de cargo em comis-
blica far-se-ão em parcelas mensais não excedentes à dé- são na Administração Direta do Estado.” - e da totalidade
cima parte do vencimento, exceto na ocorrência de má fé, do artigo 4º da Lei nº 1713/1990.
hipótese em que não se admitirá parcelamento. STF - Aposentadoria: Fixação de Tempo Ficto
Parágrafo único -  Será dispensada a reposição nos Iniciado o julgamento do mérito do pedido formula-
casos em que a percepção indevida tiver ocorrido de en- do em ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo
tendimento expressamente aprovado pelo Órgão Central Partido Democrático Trabalhista – PDT contra a parte final
do Sistema de Pessoal Civil ou pela Procuradoria Geral do do art. 3º e o art. 4º da Lei 1.713/90, do Estado do Rio de
Estado. Janeiro, que prevêem a contagem em dobro do tempo de
Art. 23 - O vencimento e as vantagens pecuniárias do exercício em cargos de comissão na Administração direta
funcionário não serão objeto de penhora, salvo quando do mencionado Estado, para fins de aposentadoria. O Min.
se tratar: Carlos Velloso, relator, entendendo que os dispositivos im-
I - de prestação de alimentos; e pugnados, ao reduzirem indiretamente o tempo fixado na
II - de dívida para com a Fazenda Pública. Constituição para a aposentadoria, estabelecendo tempo
Art. 24 -  O Poder Executivo disciplinará a conces- ficto, ofenderiam o disposto no art. 40, §§ 4º e 10 da CF,
são de: proferiu voto no sentido de julgar procedente o pedido
I - ajuda de custo e transporte ao funcionário manda- para declarar a inconstitucionalidade da parte final do art.
do servir em nova sede; 3º, e da totalidade do art. 4º da Lei 1.713/90, no que foi
II - diárias ao funcionário que, em objeto de serviço, acompanhado pelo Min. Joaquim Barbosa. Após,o julga-
se deslocar eventualmente da sede; mento foi adiado em virtude do pedido de vista do Min.
III - indenização de representação de gabinete; Carlos Britto.
IV - prêmio por sugestões que visem ao aumento de ADI 404-RJ, rel. Min. Carlos Velloso, 9.10.2003. (ADI-404)
produtividade e à redução de custos operacionais da Ad- § 1º - O tempo de serviço a que se referem os incisos I
ministração; e II deste artigo será, também, computado para concessão
V -  gratificação pela participação em órgão de deli- de adicional por tempo de serviço.
beração coletiva; § 2º - O tempo de serviço computar-se-á somente uma
VI - gratificação pelo encargo de auxiliar ou membro vez para cada efeito, vedada a acumulação daquele presta-
de banca ou de comissão examinadora de concurso, ou do concomitantemente.
pela atividade temporária de auxiliar ou professor de cur- § 3º - A prestação de serviço gratuito será excepcional
so oficialmente instituído; e e somente surtirá efeito honorífico.
VII - adicional por tempo de serviço. * Revogado pela Lei Complementar nº 121/2008.

36
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 31 -  É assegurado aos funcionários o direito de § 2º - O regime de acumulação abrange cargos fun-
requerer ou representar. ções e empregos da União, dos Territórios, dos Estados,
Parágrafo único - O recurso não tem efeito suspen- do Distrito Federal e dos Municípios, bem como das Autar-
sivo; seu provimento retroagirá à data do ato impugnado. quias, das Sociedades de Economia Mista e das Empresas
Art. 32 - O direito de requerer prescreverá: Públicas.
I - em 5 (cinco) anos, quanto aos atos de demissão, de § 3º - Não se compreende na proibição de acumular,
cassação de aposentadoria ou de disponibilidade e quanto nem está sujeita a quaisquer limites, a percepção:
às questões que envolvam direitos patrimoniais; 1) conjunta, de pensões civis ou militares;
II - em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos, res- 2)  de pensões com vencimento, remuneração ou sa-
salvados os previstos em leis especiais. lário;
§ 1º - O prazo de prescrição contar-se-á da data da 3) de pensões com proventos de disponibilidade, apo-
ciência do interessado, a qual se presumirá da publicação sentadoria, jubilação ou reforma;
do ato. 4) de proventos resultantes de cargos legalmente acu-
§ 2º - Não correrá a prescrição enquanto o processo muláveis; e
estiver em estudo. 5) de proventos com vencimento ou remuneração, nos
§ 3º - O recurso interrompe a prescrição até duas casos de acumulação legal.
vezes. * Art. 35 - o funcionário não poderá participar de mais
de um órgão de deliberação coletiva, com direito a remu-
Título III neração, nem exercer mais de uma função gratificada.»
DA PREVIDÊNCIA E DA ASSISTÊNCIA (Art. 33) * Nova redação dada pela Lei nº 252/1979
Art. 36 - Poderá o aposentado, sem prejuízo dos pro-
Art. 33 - O Poder Executivo disciplinará a previdência ventos, desempenhar mandato eletivo, exercer cargo ou
e a assistência ao funcionário e à sua família, compreen- função de confiança ou ser contratado para prestar ser-
dendo: viços técnicos ou especializados, bem como participar de
I - salário-família; órgão de deliberação coletiva.
II - auxílio-doença; Art. 37 - Considerada ilegítima, pelo órgão competen-
III - assistência médica, farmacêutica, dentária e hos- te, acumulação informada, oportunamente, pelo funcioná-
pitalar; rio, será este obrigado a optar por um dos cargos.
IV - financiamento imobiliário; Parágrafo único - O funcionário que não houver in-
V - auxílio-moradia; formado, oportunamente, acumulação considerada ilegí-
VI - auxílio para a educação dos dependentes; tima quando conhecida pela Administração, sujeitar- se-á
VII - tratamento por acidente em serviço, doença pro- a inquérito administrativo, após o qual, se apurada má fé,
fissional ou internação compulsória para tratamento psi- perderá os cargos envolvidos na situação cumulativa ou
quiátrico; sofrerá a cassação da aposentadoria ou disponibilidade,
VIII - auxílio-funeral, com base no vencimento, remu- obrigando-se, ainda, a restituir o que tiver percebido in-
neração ou provento; devidamente.
IX - pensão em caso de morte por acidente em serviço
ou doença profissional; Capítulo I
X - plano de seguro compulsório para complementa- INFRAÇÃO DISCIPLINAR (ART. 38)
ção de proventos e pensões.
Parágrafo único - A família do funcionário constitui- Art. 38 -  Constitui infração disciplinar toda ação ou
-se dos dependentes que, necessária e comprovadamente, omissão do funcionário capaz de comprometer a dignida-
vivam a suas expensas. de e o decoro da função pública, ferir a disciplina e a hie-
rarquia, prejudicar a eficiência do serviço ou causar dano à
Título IV Administração Pública.
DA ACUMULAÇÃO (Art. 34 a 37)
Capítulo II
Art. 34 - É vedada a acumulação remunerada de car- DOS DEVERES (ART. 39)
gos e funções públicos, exceto o de:
I - um cargo de juiz com outro de professor; Art. 39 - São deveres do funcionário:
II - dois cargos de professor; I - assiduidade;
III - um cargo de professor com outro técnico ou cien- II - pontualidade;
tífico; ou III - urbanidade;
IV - dois cargos privativos de médico. IV - discrição;
§ 1º - Em qualquer dos casos, a acumulação somen- V - boa conduta;
te será permitida quando houver correlação de matérias e VI - lealdade e respeito às instituições constitucionais e
compatibilidade de horários. administrativas a que servir;
VII - observância das normas legais e regulamentares;

37
DIREITO ADMINISTRATIVO

VIII - obediência às ordens superiores, exceto quando X - cometer a pessoa estranha ao serviço do Estado,
manifestamente ilegais; salvo nos casos previstos em lei, o desempenho de encargo
IX - levar ao conhecimento de autoridade superior ir- que lhe competir ou a seus subordinados;
regularidades de que tiver ciência em razão do cargo ou XI - dedicar-se, nos locais e horas de trabalho, a pales-
função; tras, leituras ou quaisquer outras atividades estranhas ao ser-
X - zelar pela economia e conservação do material que viço, inclusive ao trato de interesses de natureza particular;
lhe for confiado; XII - deixar de comparecer ao trabalho sem causa jus-
XI - providenciar para que esteja sempre em ordem, no tificada;
assentamento individual, sua declaração de família; XIII - empregar material ou quaisquer bens do Estado
XII - atender prontamente às requisições para defesa em serviço particular;
da Fazenda Pública e à expedição de certidões para defesa XIV - retirar objetos de órgãos estaduais, salvo quando
de direito; autorizado por escrito pela autoridade competente;
XIII - guardar sigilo sobre a documentação e os assun- XV - fazer cobranças ou despesas em desacordo com o
tos de natureza reservada de que tenha conhecimento em estabelecido na legislação fiscal e financeira;
razão do cargo ou função; XVI - deixar de prestar declaração em inquérito admi-
XIV - submeter-se à inspeção médica determinada por nistrativo, quando regularmente intimado;
autoridade competente, salvo justa causa. XVII - exercer cargo ou função pública antes de aten-
dido os requisitos legais, ou continuar a exercê-los saben-
Capítulo III do-o indevidamente.
DAS PROIBIÇÕES (ART.40)
Capítulo IV
Art. 40 - Ao funcionário é proibido: DA RESPONSABILIDADE (ART. 41 a 45)
I - referir-se de modo depreciativo, em informação, pa-
recer ou despacho, às autoridades e atos da Administração Art. 41 -  Pelo exercício irregular de suas atribuições,
Pública, ou censurá-los, pela imprensa ou qualquer outro o funcionário responde civil, penal e administrativamente.
órgão de divulgação pública, podendo, porém, em traba- Art. 42 - A responsabilidade civil decorre de procedi-
lho assinado, criticá-los, do ponto de vista doutrinário ou mento doloso ou culposo que importe em prejuízo da Fa-
da organização do serviço; zenda Estadual ou de terceiros.
II - retirar, modificar ou substituir livro ou documento § 1º -  Ressalvado o disposto no art. 22, o prejuízo
de órgão estadual, com o fim de criar direito ou obrigação, causado à Fazenda Estadual no que exceder os limites da
ou de alterar a verdade dos fatos, bem como apresentar fiança, poderá ser ressarcido mediante desconto em pres-
documento falso com a mesma finalidade; tações mensais não excedentes da décima parte do venci-
III - valer-se do cargo ou função para lograr proveito mento ou remuneração à falta de outros bens que respon-
pessoal em detrimento da dignidade da função pública; dam pela indenização.
IV - coagir ou aliciar subordinados com objetivo de na- § 2º - Tratando-se de dano causado a terceiros, res-
tureza partidária; ponderá o funcionário perante a Fazenda Estadual em ação
V -  participar de diretoria, gerência, administração, regressiva proposta depois de transitar em julgado a deci-
conselho técnico ou administrativo, de empresa ou socie- são de última instância que houver condenado a Fazenda a
dade: indenizar o terceiro prejudicado.
1)  contratante, permissionária ou concessionária de Art. 43 - A responsabilidade penal abrange os crimes e
serviço público; contravenções imputados ao funcionário nessa qualidade.
2) fornecedora de equipamento ou material de qual- Art. 44 - A responsabilidade administrativa resulta de
quer natureza ou espécie, a qualquer órgão estadual; atos praticados ou omissões ocorridas no desempenho do
3) de consultoria técnica que execute projetos e estu- cargo ou função, ou fora dele, quando comprometedores
dos, inclusive de viabilidade, para órgãos públicos. da dignidade e do decoro da função pública.
VI - praticar a usura, em qualquer de suas formas, no Art. 45 - As cominações civis, penais e disciplinares po-
âmbito do serviço público; derão cumular-se, sendo umas e outras independentes en-
VII - pleitear, como procurador ou intermediário, junto tre si, bem assim as instâncias civil, penal e administrativa.
aos órgãos estaduais, salvo quando se tratar de percepção
de vencimento, remuneração, provento ou vantagem de Capítulo V
parente, consanguíneo ou afim, até o segundo grau civil; DAS PENALIDADES (ART. 46 a 57)
VIII - exigir, solicitar ou receber propinas, comissões,
presentes ou vantagens de qualquer espécie em razão do Art. 46 - São penas disciplinares:
cargo ou função, ou aceitar promessa de tais vantagens; I - advertência;
IX -  revelar fato ou informação de natureza sigilosa, II - repreensão;
de que tenha ciência em razão do cargo ou função, salvo III - suspensão;
quando se tratar de depoimento em processo judicial, po- IV - multa;
licial ou administrativo; V - destituição de função;

38
DIREITO ADMINISTRATIVO

VI - demissão; § 2º - Entender-se-á por ausência ao serviço com justa


VII - cassação de aposentadoria, jubilação ou disponi- causa a que assim for considerada após a devida compro-
bilidade. vação em inquérito administrativo, caso em que as faltas
Art. 47 -  Na aplicação das penas disciplinares serão serão justificadas apenas para fins disciplinares.
consideradas a natureza e a gravidade da infração, os da- Art. 53 - O ato de demissão mencionará sempre a cau-
nos que dela provierem para o serviço público e os antece- sa da penalidade.
dentes funcionais do servidor. Art. 54 -  Conforme a gravidade da falta, a demissão
Parágrafo único -  As penas impostas ao funcionário poderá ser aplicada com a nota a bem do serviço público.
serão registradas em seus assentamentos. Art. 55 - A pena de cassação de aposentadoria ou de
Art. 48 - A pena de advertência será aplicada verbal- disponibilidade será aplicada se ficar provado, em inquéri-
mente em casos de negligência e comunicada ao órgão de to administrativo, que o aposentado ou disponível:
pessoal. I - praticou, quando ainda no exercício do cargo, falta
Art. 49 - A pena de repreensão será aplicada por es- suscetível de determinar demissão;
crito em casos de desobediência ou falta de cumprimen- II - aceitou, ilegalmente, cargo ou função pública, pro-
to dos deveres, bem como de reincidência específica em vada a má fé;
transgressão punível com pena de advertência. III - perdeu a nacionalidade brasileira.
Art. 50 - A pena de suspensão será aplicada em ca- Parágrafo único -  Será cassada a disponibilidade ao
sos de: funcionário que não assumir, no prazo legal, o exercício do
I - falta grave; cargo ou função em que for aproveitado.
II - desrespeito a proibições que, pela sua natureza, Art. 56 - São competentes para aplicação de penas
não ensejarem pena de demissão; disciplinares:
III - reincidência em falta já punida com repreensão. I - o Governador, em qualquer caso e, privativamente,
§ 1º - A pena de suspensão não poderá exceder a 180 nos casos de demissão, cassação de aposentadoria ou dis-
(cento e oitenta) dias. ponibilidade;
§ 2º - O funcionário suspenso perderá todas as vanta- II - os Secretários de Estado e demais titulares de ór-
gens e direitos decorrentes do exercício do cargo. gãos diretamente subordinados ao Governador em todos
§ 3º -  Quando houver conveniência para o serviço, a os casos, exceto nos de competência privativa do Gover-
pena de suspensão, por inciativa do chefe imediato do fun- nador;
cionário, poderá ser convertida em multa, na base de 50% III - os dirigentes de unidades administrativas em geral,
(cinquenta por cento) por dia de vencimento ou remune- nos casos de penas de advertência, repreensão, suspensão
ração, obrigado, nesse caso, o funcionário a permanecer até 30 (trinta) dias e multa correspondente.
no serviço durante o número de horas de trabalho normal. § 1º -  A aplicação da pena de destituição de função
Art. 51 - A destituição de função dar-se-á quando veri-
caberá à autoridade que houver feito a designação do fun-
ficada falta de exação no cumprimento do dever.
cionário.
Art. 52 - A pena de demissão será aplicada nos casos
§ 2º - Nos casos dos incisos II e III, sempre que a pena
de:
decorrer de inquérito administrativo, a competência para
I - falta relacionada no art. 40, quando de natureza
decidir e para aplicá-la é do Secretário de Estado de Ad-
grave, a juízo da autoridade competente, e se compro-
ministração.
vada má fé;
Art. 57 - Prescreverá:
II -  incontinência pública e escandalosa; prática de
jogos proibidos; I - em 2 (dois) anos, a falta sujeita às penas de adver-
III - embriaguez habitual ou em serviço; tência, repreensão, multa ou suspensão;
IV -  ofensa física em serviço, contra funcionário ou II - em 5 (cinco) anos, a falta sujeita:
particular, salvo em legítima defesa; 1) à pena de demissão ou destituição de função;
V - abandono de cargo; 2) à cassação da aposentadoria ou disponibilidade.
* VI - ausência ao serviço, sem causa justificada, por § 1º - A falta também prevista como crime na lei penal
(vinte) dias, interpoladamente, durante o período de 12 prescreverá juntamente com este.
(doze) meses; § 2º - O curso da prescrição começa a fluir da data do
* Nova redação dada pela Lei Complementar nº evento punível disciplinarmente e interrompe-se pela aber-
85/1996 tura de inquérito administrativo.
VII - insubordinação grave em serviço; * Art. 58 e §§ - revogados pela  Lei Complementar nº
VIII - ineficiência comprovada, com caráter de habitua- 96/2001.
lidade, no desempenho dos encargos de sua competência; Art. 59 -  A suspensão preventiva até 30 (trinta) dias
IX - desídia no cumprimento dos deveres. será ordenada pelas autoridades mencionadas no art. 56,
* § 1º - Para fins exclusivamente disciplinares, conside- desde que o afastamento do funcionário seja necessário
ra-se como abandono de cargo a que se refere o inciso V para que este não venha a influir na apuração da falta.
deste artigo, a ausência ao serviço, sem justa causa, por 10 * § 1º - A suspensão de que trata este artigo poderá
(dez) dias consecutivos. ser ordenada, a qualquer tempo, no curso inquérito admi-
* Nova redação dada pela Lei Complementar nº nistrativo pela autoridade competente para instaurá-lo e
85/1996 estendida até 90 (noventa) dias.

39
DIREITO ADMINISTRATIVO

* Nova redação dada pela Lei Complementar nº * Parágrafo único - Mesmo que seja outra a autoria de
96/2001. seu órgão competente para a apuração, por meios sumá-
* § 3º - O funcionário que responder por malversação, rios, sindicância ou mediante inquérito administrativo, de
alcance de dinheiro público ou infração de que possa re- grave irregularidade de que tenha ciência no Serviço Públi-
sultar a pena de demissão, poderá permanecer suspenso co (artigo 40 e 52) e secretário de Estado de administração
preventivamente, a critério da autoridade que determinar a será sempre competente para determinar, de imediato, a
abertura do respectivo inquérito, até decisão final do pro- instauração de inquérito, inclusive em relação a servido-
cesso administrativo. res autárquicos, quando chega a seu conhecimento, inde-
* Nova redação dada pela Lei Complementar nº pendentemente de qualquer comunicação, a ocorrência de
96/2001. irregularidade, inobservância de deveres ou infrações de
* § 4º - Os policiais civis, suspensos preventivamente, proibições funcionais, em quaisquer área do Poder Execu-
terão a arma, o distintivo, a carteira funcional ou qualquer tivo Estadual.
outro bem patrimonial, que mantenham mediante cautela, * Parágrafo único, acrescentado pela Lei nº 386/1980
devidamente recolhidos, caso tal providência ainda não te- Art. 66 - Promoverá o inquérito uma das Comissões
nha sido tomada.” Permanentes de Inquérito Administrativo da Secretaria de
* Acrescido pela Lei Complementar nº 96/2001. Estado de Administração.
* Art. 60 – A suspensão preventiva é medida acautela- Art. 67 - Se, de imediato ou no curso do inquérito ad-
tória e não constitui pena. ministrativo, ficar evidenciado que a irregularidade envolve
* Nova redação dada pela Lei Complementar nº crime, a autoridade instauradora ou o Presidente da Co-
96/2001. missão a comunicará ao Ministério Público.
Parágrafo único - Quando a autoridade policial tiver
Capítulo VII conhecimento de crime praticado por funcionário público
DA APURAÇÃO SUMÁRIA DA IRREGULARIDADE com violação de dever inerente ao cargo, ou com abuso de
(ART.61 a 63) poder, fará comunicação do fato à autoridade administra-
tiva competente para a instauração do inquérito cabível.
* Art. 61 - A autoridade que tiver ciência de qualquer Art. 68 - O inquérito deverá estar concluído no prazo
de 90 (noventa) dias, contados a partir do dia em que os
irregularidade no serviço público é obrigada a promover
autos chegarem à Comissão, prorrogáveis, sucessivamente,
, imediatamente, a apuração sumária, por meio de sindi-
por períodos de 30 (trinta) dias, em caso de força maior a
cância.
juízo do Secretário de Estado de Administração, até o má-
Parágrafo único - A autoridade promoverá a apura-
ximo de 180 (cento e oitenta) dias.
ção da irregularidade diretamente por meio de inquérito
§ 1º - A não observância desses prazos não acarretará
administrativo, sem a necessidade de sindicância sumária,
nulidade do processo, importando, porém, quando não se
quando:
tratar de sobrestamento, em responsabilidade administra-
1 - Já existir denúncia do Ministério Público:
tiva dos membros da Comissão.
2 - Tiver ocorrido prisão em flagrante; e § 2º - O sobrestamento de inquérito administrativo só
3 - For apurar abandono de cargo ou função. ocorrerá em caso de absoluta impossibilidade de prosse-
* Nova redação dada pela Lei nº 2945, de 15/05/1998 guimento, a juízo do Secretário de Estado de Administra-
Art. 62 - A apuração sumária, por meio de sindicância ção.
não ficará adstrita ao rito determinado para o inquérito ad- * § 3º - Em se tratando de abandono de cargo o inqué-
ministrativo, constituindo simples averiguação, que poderá rito deverá estar concluído no prazo de 60 dias, contados a
ser realizada por um único funcionário. partir da chegada dos autos à Comissão, prorrogáveis por
Art. 63 -  Se no curso da apuração sumária ficar evi- 2 (dois) períodos de 30 (trinta) dias cada um, a juízo do
denciada falta punível com pena superior à advertência, Secretário de Estado de Administração.
repreensão, suspensão até 30 (trinta) dias ou multa corres- * Parágrafo acrescentado pela Lei nº 1497/89.
pondente, o responsável pela apuração comunicará o fato Art. 69 - Os órgãos estaduais, sob pena de responsabi-
ao superior imediato, que solicitará, pelos canais compe- lidade de seus titulares, atenderão com a máxima presteza
tentes, a instauração do inquérito administrativo. às solicitações da Comissão, inclusive requisição de técni-
cos e peritos, devendo comunicar prontamente a impossi-
Capítulo VIII bilidade de atendimento, em caso de força maior.
DO INQUÉRITO ADMINISTRATIVO (ART. 64 a 76) * Art. 70 - Ultimada a instrução será feita no prazo de 3
(três) dias a citação do indiciado para apresentação de de-
Art. 64 - O inquérito administrativo precederá sempre fesa no prazo de 10 (dez) dias, que será comum sendo mais
à aplicação das penas de suspensão por mais de 30 (trinta) de um indiciado, com vista dos autos na sede da Comissão.
dias, destituição de função, demissão e cassação de apo- § 1º - Estando o indiciado em lugar incerto, será citado
sentadoria ou disponibilidade. por edital, no órgão oficial de divulgação do Estado por 3
Art. 65 - A determinação de instauração de inquérito é (três) dias consecutivos.
da competência do Secretário de Estado de Administração, § 2º - O prazo de defesa será contado a partir da última
inclusive em relação a servidores autárquicos. publicação do edital de citação.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 3º - As diligências e oitivas de testemunhas requeri- Parágrafo único - O julgamento caberá ao Governador,
das pela defesa ficarão a cargo do interessado e deverão no prazo de 30 (trinta) dias, podendo, antes, o Secretário de
ser concluídas no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de perda Estado de Administração determinar diligências, concluídas
de prova. as quais se renovará o prazo.
* Artigo 70, § 1º, § 2º e § 3º - Nova redação dada pela Art. 82 - Julgada procedente a revisão, será tornada
Lei nº 1497/1989. sem efeito a pena imposta, restabelecendo-se todos os di-
Art. 71 -  Nenhum acusado será julgado sem defesa reitos por ela atingidos.
que poderá ser produzida em causa própria.
Parágrafo único - Será permitido o acompanhamento Título
do inquérito pelo funcionário acusado ou por seu defensor. DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS (Art. 83 a 88)
Art. 72 - Em caso de revelia, o Presidente da Comissão
designará, de ofício, um funcionário efetivo, bacharel em Art. 83 -  As disposições de natureza estatutária que se
Direito, para defender o indiciado. contiverem no Plano de Classificação de Cargos previsto no
* Art. 73 - Concluída a defesa a Comissão opinará sobre art. 18 da Lei Complementar n.º 20, de 1º de julho de 1974,
bem como no Plano de Retribuição, e que vier a lhe correspon-
a inocência ou a responsabilidade do indiciado em relatório
der, integrar-se-ão para todos os efeitos, neste diploma legal.
circunstanciado que deverá ser concluído no prazo de 60
Art. 84 -  As normas legais e regulamentares referentes à
(sessenta) dias, contados do encerramento da defesa.
promoção e acesso, bem como as vantagens pessoais de funcio-
* Nova redação dada pela Lei nº 1497/1989. nários dos Quadros II e III (Suplementares) continuam em vigor
Art. 74 -  Recebido o processo, o Secretário de Esta- no que não colidirem com as disposições deste Decreto-Lei e até
do de Administração proferirá a decisão no prazo de 20 posterior disciplinamento da matéria, enquanto não forem incluí-
(vinte) dias, ou o submeterá, no prazo de 8 (oito) dias, ao dos no Quadro I (Permanente), nos termos do que vier a dispor
Governador do Estado, para que julgue nos 20 (vinte) dias o Plano de Classificação de Cargos do Estado do Rio de Janeiro.
seguintes ao seu recebimento. Art. 85 - Contar-se-ão por dias corridos os prazos previs-
§ 1º - A autoridade julgadora decidirá à vista dos fatos tos neste Decreto-Lei.
apurados pela Comissão, não ficando, todavia, vinculada § 1º - Na contagem dos prazos, exclui-se o dia do come-
às conclusões do relatório. ço e inclui-se o do vencimento.
§ 2º - Se a autoridade julgadora entender que os fatos § 2º - Prorroga-se para o primeiro dia útil seguinte o pra-
não foram apurados devidamente, determinará o reexame zo vincendo em dia em que não haja expediente.
do inquérito pelo órgão competente. Art. 86 - É vedada a subordinação imediata do funcio-
Art. 75 - Em caso de abandono de cargo ou função, nário ao cônjuge ou parente até segundo grau, salvo em fun-
a Comissão iniciará seu trabalho, fazendo publicar, por 3 ções de confiança, limitadas a duas.
(três) vezes, edital de chamada do acusado, no prazo má- Art. 87 - O dia 28 de outubro é consagrado ao serviço
ximo de 20 (vinte) dias. público estadual.
Art. 76 - O funcionário só poderá ser exonerado a pe- Art. 88 - Este Decreto-lei entrará em vigor na data de sua
dido após a conclusão do inquérito administrativo a que publicação, revogadas as disposições em contrário.
responder e do qual não resultar pena de demissão. Rio de Janeiro, 18 de julho de 1975.

Capítulo IX DECRETO Nº 2479 DE 08 DE MARÇO DE 1979


DA REVISÃO (ART. 77 a 82)
Aprova O Regulamento Do Estatuto Dos Funcionários Pú-
Art. 77 -  Poderá ser requerida a revisão do inquéri- blicos Civis Do Poder Executivo Do Estado Do Rio De Janeiro
to administrativo de que haja resultado pena disciplinar,
O Governador do Estado do Rio de Janeiro, no uso da
quando forem aduzidos fatos ainda não conhecidos, com-
atribuição que lhe confere o art. 70, inciso III, da Consti-
probatórios da inocência do funcionário punido.
tuição Estadual, decreta:
Parágrafo único - Tratando-se de funcionário faleci-
Art. 1º - Fica aprovado o Regulamento do Estatuto dos
do, desaparecido ou incapacitado de requerer, a revisão Funcionários Públicos Civis do Poder Executivo do Estado do
poderá ser solicitada por qualquer pessoa. Rio de Janeiro, baixado pelo  Decreto-Lei nº 220, de 18 de
Art. 78 - A revisão processar-se-á em apenso ao pro- julho de 1975, que acompanha o presente decreto.
cesso originário. Art. 2º - Este decreto entrará em vigor na data de sua
Art. 79 -  Não constitui fundamento para a revisão a publicação, revogadas as disposições em contrário.
simples alegação de injustiça da penalidade. Rio de Janeiro, 08 de março de 1979.
Art. 80 - O requerimento, devidamente instruído, será FLORIANO FARIA LIMA, Ilmar Penna Marinho Júnior,
encaminhado ao Governador, que decidirá sobre o pedido. José Resende Peres, Myrthes De Luca Wenzel, Luiz Rogé-
Art. 81 - Autorizada a revisão, o processo será enca- rio Mitraud de Castro Leite, Carlos Balthazar da Silveira,
minhado à Comissão Revisora, que concluirá o encargo no Marcel Dezon Costa Hasslocher, Laudo de Almeida Ca-
prazo de 90 (noventa) dias, prorrogável pelo período de margo, Hugo de Mattos Santos, Ronaldo Costa Couto,
30 (trinta) dias, a juízo do Secretário de Estado de Admi- Woodrow Pimentel Pantoja, Hélio Freire, Antônio Car-
nistração. los de Almeida Pizarro.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

REGULAMENTO DO ESTATUTO DOS III – o desempenho das atividades do cargo, inclusive


FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS CIVIS DO PODER as condições psicológicas do candidato, mediante estágio
EXECUTIVO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO experimental.
Art. 8º - Das instruções para o concurso constarão:
TÍTULO I I – o limite de idade dos candidatos, que poderá variar
Disposições Preliminares de 18 (dezoito) anos completos até 45 (quarenta e cinco)
CAPÍTULO ÚNICO incompletos, dependendo da natureza do cargo a ser pro-
vido;
Art. 1º - O regime jurídico dos funcionários públicos II – o grau de instrução exigível, a ser comprovado me-
civis do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro, insti- diante apresentação de documento hábil;
tuído pelo Decreto-Lei nº 220, de 18 de julho de 1975, fica III – o número de vagas a ser preenchido, distribuído
disciplinado na forma deste Regulamento. por especialização, quando for o caso;
IV – o prazo de validade das provas, de 2 (dois) anos
§ 1º - Para os efeitos deste Regulamento, funcionário no máximo, só prorrogável uma vez, por período não ex-
é a pessoa legalmente investida em cargo público estadual cedente a 12 (doze) meses, havendo motivos relevantes, a
do Quadro I (Permanente), de provimento efetivo ou em
juízo do Secretário de Estado de Administração, contados
comissão, previsto no Plano de Cargos e Vencimentos do
da publicação da classificação geral;
Estado do Rio de Janeiro.
V – o prazo de duração do estágio experimental, que
§ 2º - Aos servidores contratados no exercício de fun- não será inferior a 6 (seis) nem superior a 12 (doze) meses.
ção gratificada, com suspensão dos respectivos contratos § 1º - As instruções reguladoras do concurso serão
de trabalho, e aos estagiários, somente serão reconhecidos aprovadas pelo Órgão Central do Sistema de Pessoal Civil
e concedidos os direitos e vantagens que expressamente do Estado.
lhes estejam assegurados por este Regulamento. § 2º - Independe de limite de idade a inscrição em
concurso de servidores da Administração Direta ou Indire-
TÍTULO II ta, ressalvados os casos em que, pela tipicidade das tarefas
Do Provimento, do Exercício e da Vacância ou atribuições de cada cargo, deva ser fixado limite pró-
CAPÍTULO I prio pelas instruções especiais de cada concurso.
Disposições Gerais § 3º - Além dos requisitos de que trata este artigo, são
exigíveis para inscrição em concurso público:
Art. 2º - Os cargos públicos são providos por: 1) nacionalidade brasileira ou portuguesa, desde que
I – nomeação; reconhecida, na forma da legislação federal pertinente, a
II – reintegração; igualdade de direitos e obrigações civis;
III – transferência; 2) pleno gozo dos direitos políticos;
IV – aproveitamento; 3) quitação das obrigações militares.
V – readaptação; § 4º - Encerradas as inscrições, regularmente proces-
VI – outras formas determinadas em lei. sadas, para concurso destinado ao provimento de qual-
Art. 3º  - O funcionário não poderá, sem prejuízo de quer cargo, não se abrirão novas inscrições para a mesma
seu cargo, ser provido em outro cargo efetivo ou admitido categoria funcional antes da publicação da homologação
como contratado, salvo nos casos de acumulação legal. do concurso.
Art. 4º  - O ato de provimento deverá indicar neces- § 5º - Para as vagas que ocorrerem após a publicação
sariamente a existência de vaga, com todos os elementos das instruções reguladoras do concurso, a critério da Ad-
capazes de identificá-la. ministração poderão ser designados para estágio candi-
Art. 5º - A nomeação para cargo de provimento efeti-
datos habilitados, desde que dentro do prazo de validade
vo depende de prévia habilitação em concurso público de
das provas.
provas ou de provas e títulos.
Art. 9º - O candidato habilitado nas provas e no exa-
SEÇÃO I me de sanidade físico-mental será submetido a estágio
Do Concurso experimental, mediante ato de designação do Secretário
de Estado, titular de órgão integrante da Governadoria ou
Art. 6º - O concurso de provas ou de provas e títulos dirigente de autarquia.
para provimento de cargos por nomeação será sempre pú- Parágrafo único – O ato de designação indicará ex-
blico, dele se dando prévia e ampla publicidade da abertu- pressamente o prazo do estágio, conforme o fixado pelas
ra de inscrições, requisitos exigidos, programas, realização, respectivas instruções reguladoras do concurso.
critérios de julgamento e tudo quanto disser respeito ao Art. 10  – A designação prevista no artigo anterior
interesse dos possíveis candidatos. observará a ordem de classificação nas provas e o limite
Art. 7º - O concurso objetivará avaliar: de vagas a serem preenchidas, percebendo o estagiário
I – o conhecimento e a qualificação profissionais, me- retribuição correspondente a 80% (oitenta por cento) do
diante provas ou provas e títulos; vencimento do cargo, assegurada a diferença se nomeado
II – as condições de sanidade físico-mental; afinal.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º - O candidato que, ao ser designado para estágio § 1º - Mediante requerimento do interessado e ocor-
experimental, for ocupante, em caráter efetivo, de cargo ou rendo motivo relevante, o prazo para investidura poderá
emprego em órgão da Administração Estadual Direta ou ser prorrogado ou revalidado, a critério da Administração,
Autárquica, ficará dele afastado com a perda do vencimento em até 60 (sessenta) dias, contados do término do prazo de
ou salário, das vantagens e do auxílio-moradia, ressalvado o que trata este artigo.
adicional por tempo de serviço. § 2º - Será tornado sem efeito o ato de provimento, se
§ 2º - Este afastamento não alterará a filiação ao sistema a posse ou o exercício não se verificar nos prazos estabe-
previdenciário do estagiário, nem a base de contribuição. lecidos.
§ 3º - Não se exigirá o afastamento referido no § 1º, se o Art. 15 – São requisitos para a posse, além dos enume-
cargo efetivo for acumulável com o do objeto do concurso. rados nos itens 1 a 3, do § 3º, do artigo 8º:
Art. 11 – O candidato não aprovado no estágio experi- I – habilitação em exame de sanidade físico-mental
mental será considerado inabilitado no concurso e retorna- realizado exclusivamente por órgão oficial do Estado;
rá automaticamente ao cargo ou emprego de que se tenha II – declaração de bens;
III – bom procedimento, comprovado por atestado de
afastado, se for o caso.
antecedentes expedido por órgão de identificação do Es-
Art. 12 – Expirado o prazo de duração do estágio ex-
tado do domicílio do candidato à investidura ou mediante
perimental, a autoridade que tiver designado o estagiário
informação, em processo, ratificada pelo Secretário de Es-
comunicará ao órgão promotor do concurso o resultado do
tado de Segurança Pública;
desempenho das atividades exercidas no cargo, inclusive IV – declaração sobre se detém outro cargo, função ou
suas condições psicológicas, idoneidade moral, assiduida- emprego, na Administração Direta ou Indireta de qualquer
de, disciplina e eficiência, concluindo pela aprovação ou não esfera de Poder Público, ou se percebe proventos de ina-
do candidato. tividade;
§ 1º  - O chefe imediato do estagiário encaminhará à V – atendimento às condições especiais previstas em
autoridade referida neste artigo, nos 15 (quinze) dias ante- lei ou regulamento para determinados cargos.
riores ao término do estágio, relatório circunstanciado so- § 1º  - Quando o funcionário efetivo for provido em
bre o desempenho das atividades do interessado, se motivo cargo em comissão, não se exigirá a comprovação dos re-
relevante não justificar encaminhamento antes deste prazo. quisitos de que trata este artigo, exceto os indicados nos
§ 2º - Quando a autoridade competente para a avalia- incisos II e VI.
ção concluir desfavoravelmente ao estagiário, fará publicar § 2º  - Quando o provimento recair em inativo, este
sua imediata dispensa. atenderá às exigências do artigo, além do requisito estabe-
§ 3º - Recebidos pelo órgão promotor do concurso os lecido no item 2, do § 3º, do artigo 8º.
resultados da avaliação de todos os estagiários, será publi- Art. 16 – Da posse se lavrará termo do qual constará
cada no órgão oficial a classificação final do concurso, que compromisso de fiel cumprimento dos deveres da função
se homologará por ato do Secretário de Estado de Admi- pública, e se consignará a apresentação de declaração de
nistração. bens do empossado, incluídos os do seu cônjuge, se for o
§ 4º  - O prazo de validade do concurso é de 90 (no- caso.
venta) dias, contados de sua homologação, dentro do qual Parágrafo único  – Os termos de posse, acompanha-
serão nomeados, por proposta do Secretário de Estado de dos das respectivas declarações de bens, deverão ser en-
Administração, os candidatos habilitados, observada rigo- caminhados, dentro de 48 (quarenta e oito) horas, à Secre-
rosamente a classificação obtida. taria de Estado de Administração, ressalvados os relativos
§ 5º  - Enquanto não publicado o ato de nomeação a às autarquias.
que se refere o parágrafo anterior, o candidato permanece- Art. 17 – São competentes para dar posse:
I – O Governador, aos Secretários de Estado e demais
rá na condição de estagiário.
autoridades que lhe sejam diretamente subordinadas;
Art. 13  – A data da publicação do ato de nomeação
II – os Secretários de Estados, aos ocupantes de cargo
será considerada, para todos os efeitos, o início do exercício
em comissão no âmbito das respectivas Secretarias, inclusi-
do cargo, salvo para a percepção da diferença de retribuição
ve aos dirigentes de autarquias a estas vinculadas;
a que se refere o artigo 10 e para aquisição de estabilidade, III – o Chefe do Gabinete Militar, o Procurador-Geral
quando se computará o período do estágio experimental. do Estado e o Procurador-Geral da Justiça, aos ocupantes
de cargo em comissão no âmbito dos respectivos órgãos;
SEÇÃO II IV – os dirigentes de autarquias, aos ocupantes de car-
Da Investidura go em comissão das respectivas entidades.
Art. 18 – São requisitos para o exercício os mesmos es-
Art. 14  – A investidura em cargo em comissão, inte- tabelecidos para a posse, bem como a prestação de fiança,
grante do Grupo I – Direção e Assessoramento Superiores quando a natureza da função o exigir.
– DAS, ocorrerá com a posse; em cargo de provimento efe- Parágrafo único  – A comprovação dos requisitos a
tivo, do Grupo III – Cargos Profissionais, com o exercício. Em que se referem os itens 1 e 3, do § 3º, do artigo 8º, e o
ambos os casos, iniciar-se-á dentro do prazo de 30 (trinta) inciso III, do artigo 15, não será exigida nos casos de rein-
dias, contados da publicação do ato de provimento. tegração e aproveitamento.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 19 – É competente para dar exercício o Secretário § 1º  - Exonerado do cargo em comissão, o servidor
de Estado de Administração, quando se tratar de investidu- reverterá imediatamente ao exercício do contrato.
ra em cargos de provimento efetivo. § 2º - O afastamento em virtude da condição temporá-
Art. 20 – A competência para dar posse e exercício po- ria do exercício do cargo em comissão e o retorno à situa-
derá ser objeto de delegação. ção primitiva serão obrigatoriamente anotados na carteira
profissional, bem como nos registros relativos ao servidor.
SEÇÃO III § 3º - A retribuição pelo exercício de cargo em comis-
Da Fiança são será o valor do respectivo símbolo, não podendo o ser-
vidor contratado exercer a opção prevista no artigo 23.
Art. 21 – Quando o provimento em cargo ou função § 4º - O regime previdenciário dos servidores no exer-
depender de prestação de fiança, não se dará investidura cício de cargo em comissão é o dos funcionários efetivos da
sem a prévia satisfação dessa exigência. Administração Direta.
§ 1º - A fiança poderá ser prestada em: Art. 25  – Somente após ter sido colocado à disposi-
1) dinheiro; ção do Poder Executivo do Estado, para o fim determinado,
2) títulos de dívida pública da União ou do Estado; poderá o ato de nomeação recair em funcionário de outro
3) apólices de seguro de fidelidade funcional, emitidas Poder ou de outra esfera de Governo.
por instituição oficial ou legalmente autorizada para esse Parágrafo único – Na hipótese do artigo, desde que o
fim. funcionário tenha sido colocado à disposição do Governo
§ 2º -  Não poderá ser autorizado o levantamento da Estadual sem ônus para a esfera do poder a que pertence,
fiança, antes de tomadas as contas do funcionário. receberá, pelo exercício do cargo em comissão, o venci-
§ 3º - O responsável por alcance ou desvio de material mento para este fixado; caso contrário, observará o proce-
não ficará isento do procedimento administrativo e crimi- dimento estabelecido no artigo 23.
nal que couber, ainda que o valor da fiança seja superior ao Art. 26 – O inativo provido em cargo em comissão per-
prejuízo verificado. ceberá integralmente o vencimento para este fixado, cumu-
lativamente com o respectivo provento.
CAPÍTULO II Art. 27 – A posse em cargo em comissão determinará o
Das Funções de Confiança concomitante afastamento do funcionário do cargo efetivo
SEÇÃO I de que for titular, ressalvados os casos de acumulação legal.
Dos Cargos em Comissão
SEÇÃO II
Art. 22  – O cargo em comissão se destina a atender Das Funções Gratificadas
a encargos de direção e de chefia, consulta ou assessora-
mento superiores, e é provido mediante livre escolha do Art. 28 – Função gratificada de preenchimento em con-
Governador, podendo esta recair em funcionário, em ser- fiança, integrante do Grupo II – Chefia e Assistência Interme-
vidor regido pela legislação trabalhista ou em pessoa es- diárias – CAI, é a criada pelo Poder Executivo, com símbolo
tranha ao serviço público, desde que reúna os requisitos próprio, para atender a encargos de chefia, secretariado, as-
necessários e a habilitação profissional para a respectiva sessoramento e outros, em níveis intermediário e inferior.
investidura. Art. 29 – O Poder Executivo, ao criar as funções gratifi-
§ 1º - A competência e as atribuições dos cargos em cadas, observará os recursos orçamentários existentes para
comissão e de seus titulares serão definidas nos regimen- esse fim, bem como os símbolos e respectivas gratificações
tos dos respectivos órgãos. prefixadas em lei.
§ 2º  - Não poderão ocupar cargo em comissão os Art. 30 – O exercício da função gratificada, não consti-
maiores de 70 (setenta) anos e os que tenham sido apo- tuindo emprego, guardará correspondência de atribuições
sentados por invalidez para o Serviço Público, desde que com as do cargo efetivo exercido pelo funcionário designa-
subsistentes os motivos que determinaram a inatividade. do, e a gratificação respectiva tem o caráter de vantagem
Art. 23 – Recaindo a nomeação em funcionário do Es- acessória ao seu vencimento, de acordo com o ANEXO II do
tado, este optará pelo vencimento do cargo em comissão Decreto-Lei nº 408, de 02 de fevereiro de 1979.
ou pela percepção do vencimento e vantagens do seu car- Art. 31 – Com exceção dos aposentados e dos ocupan-
go efetivo acrescida de uma gratificação correspondente tes de empregos cujos contratos tenham sido suspensos,
a 70% (setenta por cento) do valor fixado para o cargo em nos termos do Decreto-Lei nº 147, de 26 de junho de 1975,
comissão. somente poderá ser designado para prover função gratifi-
Parágrafo único  – A opção pelo vencimento do car- cada funcionário efetivo do Estado.
go em comissão não prejudicará o adicional por tempo de § 1º - A retribuição pelo exercício de função gratifica-
serviço devido ao funcionário, que será calculado sobre o da corresponderá ao valor do respectivo símbolo, a que se
valor do cargo que ocupa em caráter efetivo. acrescentará, como gratificação suplementar temporária, o
Art. 24 – O servidor contratado, que aceitar nomeação valor correspondente ao que o servidor vinha percebendo
para cargo em comissão da estrutura da Administração Di- no exercício do contrato suspenso.
reta ou das autarquias, terá suspenso seu contrato de tra- § 2º - Aplicam-se à função gratificada as regras do § 2º,
balho, enquanto durar o exercício do cargo em comissão. do artigo 22 e do artigo 24 e seus § § 1º, 2º e 4º.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 32 – São competentes para designar e dispensar Art. 39 – A nomeação em caráter efetivo obedecerá à
ocupantes de funções gratificadas, no âmbito das respec- ordem rigorosa de classificação dos candidatos habilitados
tivas unidades administrativas, e dentre os servidores que em concurso.
lhes são mediata ou imediatamente subordinados, as auto-
ridades referidas nos incisos II, III e IV, do artigo 17. SEÇÃO II
Parágrafo único  – Quando a designação deva recair Da Reintegração
em servidor lotado em órgão diferente, é indispensável a
prévia concordância do dirigente desse órgão. Art. 40 – A reintegração, que decorrerá de decisão ad-
Art. 33 – Independe de exame de sanidade físico-men- ministrativa ou judicial, é o reingresso do funcionário exo-
tal a investidura em função gratificada, salvo quando a de- nerado ex officio ou demitido do serviço público estadual,
signação recair em inativo ou em servidor regido pela legis- com ressarcimento do vencimento e vantagens e reconhe-
lação trabalhista. cimento dos direitos ligados ao cargo.
Art. 34  – Compete à autoridade a que ficar subordi- Parágrafo único  – A decisão administrativa que de-
nado o servidor designado para função gratificada dar-lhe terminar a reintegração será sempre proferida em pedido
exercício no prazo de 30 (trinta) dias, independentemente de reconsideração, recurso hierárquico ou revisão de pro-
de posse. cesso.
Parágrafo único – Aplica-se à função gratificada o dis- Art. 41 – A reintegração será feita no cargo anterior-
posto nos § § 1º e 2º, do artigo 14. mente ocupado; se alterado, no resultante da alteração; se
extinto, noutro de vencimento equivalente, observada a
SEÇÃO III habilitação profissional.
Da Substituição Parágrafo único – Não ocorrendo qualquer das hipó-
teses previstas nesse artigo, o funcionário será reintegrado
Art. 35 – Os cargos em comissão ou funções gratificadas no cargo extinto, que será restabelecido, como excedente.
poderão ser exercidos, eventualmente, em substituição, nos Art. 42  – A reintegração ocorrerá sempre no sistema
casos de impedimento legal e afastamento de seus titulares.
de classificação a que pertencia o funcionário.
§ 1º - A substituição, que será automática ou depende-
Art. 43 – Reintegrado o funcionário, quem lhe houver
rá de ato de designação, independe de posse.
ocupado o lugar, se não estável, será exonerado de plano;
§ 2º - A substituição automática é a estabelecida em lei,
ou, se exercia outro cargo e este estiver vago, a ele ou a ou-
regulamento ou regimento, e processar-se-á independen-
tro vago da mesma classe será reconduzido, em qualquer
temente de ato.
das hipóteses sem direito à indenização.
§ 3º - Quando depender de ato e se a substituição for
Parágrafo único – Se estável, o funcionário que hou-
indispensável, o substituto será designado pela autoridade
imediatamente superior àquela substituída. ver ocupado o lugar do reintegrado será obrigatoriamente
§ 4º - Pelo tempo de substituição o substituto percebe- provido em igual cargo, ainda que necessária a sua criação,
rá o vencimento e vantagens atribuídas ao cargo em comis- como excedente ou não.
são ou função gratificada, ressalvado o caso de opção pelo Art. 44 – O funcionário reintegrado será submetido à
vencimento e vantagens do seu cargo efetivo. inspeção médica e aposentado se julgado incapaz.
§ 5º - Quando se tratar de detentor de cargo em comis-
são ou função gratificada, o substituto fará jus somente à SEÇÃO III
diferença de remunerações. Da Transferência
Art. 36 – A substituição não poderá recair em servidor
contratado ou em pessoa estranha ao serviço público esta- Art. 45 – Transferência, quando não se tratar da defi-
dual, salvo na hipótese do § 5º do artigo anterior. nida no inciso IV, alínea “c”, do artigo 14 do Decreto-Lei nº
Art. 37  – Na vacância de cargo em comissão ou de 408, de 02 de fevereiro de 1979, é o ato de provimento do
funções gratificadas, e até o seu provimento, poderão ser funcionário em outro cargo de denominação diversa e de
designados funcionários do Estado para responder pelo seu retribuição equivalente.
expediente. Art. 46  – A transferência se fará à vista de compro-
Parágrafo único – Aplicam-se ao responsável pelo ex- vação competitiva de habilitação dos interessados para o
pediente as disposições desta Seção. exercício do novo cargo, realizada perante a Fundação Es-
cola de Serviço Público do Estado do Rio de Janeiro.
CAPÍTULO III Art. 47 – A transferência poderá ser feita de cargo de
Das Formas de Provimento Administração Direta para outro da autárquica, ou recipro-
SEÇÃO I camente; e de um para outro cargo de quadros diferentes
Da Nomeação da mesma entidade.
Art. 48 – Quando se tratar de cargo de classe inicial de
Art. 38 – A nomeação será feita: série de classes, a transferência não poderá ser feita para
I – em caráter efetivo, quando se tratar de cargo de clas- cargo vago destinado a provimento por concurso já aberto.
se singular ou de cargo de classe inicial de série de classes; Art. 49 – A transferência será feita a pedido do funcio-
II – em comissão, quando se tratar de cargo que, em nário, atendidos o interesse e a conveniência da Adminis-
virtude de lei, assim deva ser provido. tração.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 50 – A transferência não interromperá o exercício CAPÍTULO IV


para efeito de adicional por tempo de serviço. Da Vacância
Art. 51  – No caso de transferência para cargo corres-
pondente à atividade profissional regulamentada, a habilita- Art. 60 – Dar-se-á vacância do cargo ou da função na
ção será condicionada à prévia comprovação de que o inte- data do fato ou da publicação do ato que implique desin-
ressado satisfaz às exigências para o exercício da profissão. vestidura.
Art. 52 – Não poderá ser transferido o funcionário que Art. 61 – A vacância decorrerá de:
não tenha adquirido estabilidade. I – exoneração;
II – demissão;
SEÇÃO IV III – transferência;
Do Aproveitamento IV – aposentadoria;
V – falecimento;
Art. 53 – Aproveitamento é o retorno ao serviço público VI – perda do cargo;
estadual do funcionário colocado em disponibilidade. VII – determinação em lei;
Art. 54 – O funcionário em disponibilidade poderá ser VIII – dispensa;
aproveitado em cargo de natureza e vencimento compatível IX – destituição de função.
com os do anteriormente ocupado. Art. 62 – Dar-se-á exoneração ou dispensa:
§ 1º - Restabelecido o cargo, ainda que modificada sua I – a pedido;
denominação, poderá nele ser aproveitado o funcionário II – ex-officio.
posto em disponibilidade quando da sua extinção. Parágrafo único – A exoneração ou dispensa ex offi-
§ 2º - O aproveitamento dependerá de prova de sanida- cio ocorrerá nas seguintes hipóteses:
de físico-mental verificada mediante inspeção médica. 1) de exercício de cargo em comissão ou função grati-
Art. 55  – Havendo mais de um concorrente à mesma ficada, salvo se a pedido, aceito pela Administração;
vaga, terá preferência o de maior tempo de disponibilidade 2) de abandono de cargo, quando, extinta a punibili-
e, no caso de empate, o de maior tempo de serviço público
dade administrativa por prescrição, o funcionário não hou-
estadual.
ver requerido exoneração;
Art. 56 – Será tornado sem efeito o aproveitamento e
3) na prevista no artigo 43, primeira parte.
cassada a disponibilidade, se o funcionário não entrar em
Art. 63 – O funcionário perderá o cargo:
exercício no prazo legal, salvo caso de doença comprovada
I – em virtude de sentença judicial ou mediante pro-
em inspeção médica.
cesso administrativo disciplinar em que se lhe tenha asse-
Parágrafo único – Provada a incapacidade definitiva em
gurado ampla defesa;
inspeção médica, será decretada a aposentadoria.
II – quando, por ser desnecessário, for extinto, ficando
SEÇÃO V o seu ocupante, se estável, em disponibilidade;
Da Readaptação III – nos demais casos especificados em lei.

Art. 57  – O funcionário estável poderá ser readapta- TÍTULO III


do ex officio ou a pedido em função mais compatível, por Da Remoção
motivo de saúde ou incapacidade física. CAPÍTULO ÚNICO
Art. 58 – A readaptação de que trata o artigo anterior
se fará por: Art. 64 – A remoção, a pedido ou ex officio, é o des-
I – redução ou cometimento de encargos diversos da- locamento do funcionário de sua lotação para a de outra
queles que o funcionário estiver exercendo, respeitadas as Secretaria de Estado ou órgão diretamente subordinado
atribuições da série de classes a que pertencer, ou do cargo ao Governador.
de classe singular de que for ocupante; § 1º  - A remoção só poderá dar-se para lotação em
II – provimento em outro cargo. que houver claro.
§ 1º - A readaptação dependerá sempre de prévia inspe- § 2º - O funcionário removido, quando em férias, não
ção realizada por junta médica do órgão oficial competente. as interromperá.
§ 2º  - A readaptação referida no inciso II deste artigo Art. 65 – A remoção por permuta será processada a
não acarretará descenso nem elevação de vencimento. pedido escrito de ambos os interessados.
Art. 59 – A readaptação será processada: Art. 66 – Cabe ao Secretário de Estado de Administra-
I – quando provisória, mediante ato do Secretário de Es- ção expedir os atos de remoção, após audiência dos titula-
tado de Administração, pela redução ou atribuição de novos res dos órgãos interessados.
encargos ao funcionário, na mesma ou em outra unidade Parágrafo único – Quando se tratar de provimento de
administrativa, consideradas a hierarquia e as funções do cargo em comissão, a remoção decorrerá da publicação do
seu cargo; respectivo ato de nomeação.
II – quando definitiva, por ato do Governador, para car-
go vago, mediante transferência, observados os requisitos
de habilitação fixados para a classe respectiva.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

TÍTULO IV Art. 74  – O funcionário será afastado do exercício de


Do Tempo de Serviço seu cargo:
CAPÍTULO I I – enquanto durar o mandato legislativo ou executivo,
Disposições Gerais federal ou estadual;
II – enquanto durar o mandato de Prefeito ou Vice-Pre-
Art. 67 – O início, a interrupção e o reinício do exercí- feito;
cio serão registrados no assentamento individual do fun- III – enquanto durar o mandato de Vereador, se não exis-
cionário. tir compatibilidade de horário entre o seu exercício e o da
§ 1º - Ao entrar em exercício o funcionário apresentará função pública;
ao órgão competente os elementos necessários à abertura IV – durante o lapso de tempo que mediar entre o regis-
de seu assentamento individual. tro da candidatura eleitoral e o dia seguinte ao da eleição.
§ 2º  - O início do exercício e as alterações que nele Art. 75 – Preso preventivamente, pronunciado, denun-
ocorrerem serão comunicados ao órgão setorial de pes- ciado por crise funcional ou condenado por crime inafiançá-
vel em processo no qual não haja pronúncia, o funcionário
soal, pelo titular da unidade administrativa em que estiver
será afastado do exercício do cargo, até decisão transitada
servindo o funcionário.
em julgado.
Art. 68 – O funcionário entrará em exercício no prazo
§ 1º - Será, ainda, afastado o funcionário condenado por
de 30 (trinta) dias contados da data:
sentença definitiva à pena que não determine demissão.
I – da publicação do ato de nomeação em cargo efe- § 2º - O funcionário suspenso disciplinar ou preventiva-
tivo; mente, ou preso administrativamente, será afastado do exer-
II – da publicação do ato de reintegração, de transfe- cício do cargo.
rência ou de aproveitamento;
III – da publicação do ato de provimento em função CAPÍTULO II
gratificada. Da Apuração
Art. 69 – A transferência, a promoção e a readaptação
por motivo de saúde não interrompem o exercício, que é Art. 76 – A apuração do tempo de serviço será feita em
contado na nova classe a partir da validade do ato. dias, não considerado, para qualquer efeito, o exercício de
Art. 70 – O funcionário removido para outra unidade função gratuita.
administrativa terá prazo de 5 (cinco) dias, contados da § 1º - O número de dias será convertido em anos, con-
data da publicação do respectivo ato, para reiniciar suas siderado o ano como de 365 (trezentos e sessenta e cinco)
atividades. dias.
§ 1º - Quando em férias, licenciado ou afastado legal- § 2º - Feita a conversão, os dias restantes até 182 (cento
mente de seu cargo, esse prazo será contado a partir do e oitenta e dois) não serão computados, arredondando-se
término do impedimento. para um ano quando exceder esse número, nos casos de cál-
§ 2º - O prazo a que se refere este artigo será consi- culo para aposentadoria.
derado como período de trânsito, computável como de Art. 77 – Os dias de efetivo exercício serão computados
efetivo exercício para todos os efeitos. à vista de documentação própria que comprove a frequência.
§ 3º - O prazo referido no caput deste artigo poderá Art. 78  – Admitir-se-á como documentação própria
ser prorrogado, no máximo por igual período, por solicita- comprobatória do tempo de serviço público:
ção do interessado, a juízo da autoridade competente para I – certidão de tempo de serviço, extraída de folha de
dar-lhe exercício. pagamento;
II – certidão de frequência, extraída de folha de paga-
Art. 71 – O funcionário terá exercício na unidade ad-
mento;
ministrativa para a qual for designado.
III – justificação judicial.
Art. 72 – Haverá lotação única de funcionários em
§ 1º - Os elementos probantes indicados nos incisos aci-
cada Secretaria de Estado ou órgão diretamente subordi-
ma são exigíveis na ordem direta de sua enumeração, so-
nado ao chefe do Poder Executivo. mente sendo admitido o posterior quando acompanhado de
§ 1º - Entende-se por lotação o número de funcioná- certidão negativa, fornecida pelo órgão competente para a
rios de cada série de classes ou de classes singulares, in- expedição do elemento a que se refere o anterior.
clusive de ocupantes de funções de confiança, que, segun- § 2º  - Sobre tempo de serviço comprovado mediante
do as necessidades, devam ter exercício em cada órgão de justificação judicial, será prévia e obrigatoriamente ouvida a
Governo referido neste artigo. Procuradoria-Geral do Estado.
§ 2º  - O funcionário nomeado integrará lotação na Art. 79 – Será considerado como de efetivo exercício o
qual houver claro, observando-se igual critério quanto às afastamento por motivo de:
demais formas de provimento. I – férias;
Art. 73 – O afastamento do funcionário de sua unida- II – casamento e luto, até 8 (oito) dias;
de administrativa, quando para desempenho de função de III – exercício de outro cargo ou função de governo ou
confiança no Estado, dar-se-á somente com ônus para a de direção, de provimento em comissão ou em substitui-
unidade requisitante. ção, no serviço público do Estado do Rio de Janeiro, inclusi-

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DIREITO ADMINISTRATIVO

ve respectivas autarquias, empresas públicas e sociedades III – o tempo de serviço prestado como extranumerário
de economia mista, ou serviço prestado à Presidência da ou sob qualquer outra forma de admissão, desde que re-
República em virtude de requisição oficial; munerado pelos cofres públicos;
IV – exercício de outro cargo ou função de governo ou IV – o tempo de serviço prestado em autarquia, empre-
de direção, de provimento em comissão ou em substituição, sa pública ou sociedade de economia mista;
no serviço público da União, de outros Estados e dos Mu- V – o período de trabalho prestado à instituição de ca-
nicípios, inclusive respectivas autarquias, empresas públicas ráter privado que tiver sido transformada em estabeleci-
e sociedades de economia mista, quando o afastamento mento de serviço público;
houver sido autorizado pelo Governador, sem prejuízo do VI – o tempo em que o funcionário esteve em disponi-
vencimento do funcionário; bilidade ou aposentado;
V – estágio experimental; VII – em dobro, o tempo de licença-prêmio não gozada;
VI – licença-prêmio; VIII – em dobro, os períodos de férias não gozadas a
VII – licença para repouso à gestante; partir do exercício de 1977, limitadas a 60 (sessenta) dias,
VIII – licença para tratamento de saúde; ressalvado o direito à contagem de períodos anteriores
IX – licença por motivo de doença em pessoa da família, para os amparados por legislação vigente até a edição do
desde que não exceda o prazo de 12 (doze) meses; Decreto-Lei nº 363, de 04 de outubro de 1977.
X – acidente em serviço ou doença profissional; Art. 81 – Ao funcionário será assegurada a contagem,
XI – doença de notificação compulsória; qualquer que tenha sido o regime da relação empregatícia,
XII – missão oficial; como de serviço público estadual, do tempo prestado an-
XIII – estudo no exterior ou em qualquer parte do terri- teriormente à Administração Direta ou Indireta do Estado.
tório nacional, desde que de interesse para a Administração Parágrafo único – O disposto neste artigo não se apli-
e não ultrapasse o prazo de 12 (doze) meses; ca para os efeitos de concessão de licença-prêmio.
XIV – prestação de prova ou de exame em curso regular Art. 82 – É vedada a acumulação de tempo de servi-
ou em concurso público; ço prestado, concorrente ou simultaneamente, em dois ou
XV – recolhimento à prisão, se absolvido afinal; mais cargos, funções ou empregos em qualquer das hipó-
XVI – suspensão preventiva, se inocentado afinal; teses previstas no art. 80.
XVII – convocação para serviço militar ou encargo da se- CAPÍTULO III
gurança nacional, júri e outros serviços obrigatórios por lei; Da Frequência e do Horário
XVIII – trânsito para ter exercício em nova sede;
XIX – faltas por motivo de doença comprovada, inclusi- Art. 83 – A frequência será apurada por meio de ponto.
ve em pessoas da família, até o máximo de 3 (três) durante
§ 1º - Ponto é o registro pelo qual se verificarão, diaria-
o mês, e outros casos de força maior;
mente, as entradas e saídas do funcionário.
XX – candidatura a cargo eletivo, conforme o disposto
§ 2º - Nos registros do ponto deverão ser lançados to-
nos incisos IV e V, do artigo 74;
dos os elementos necessários à apuração da frequência.
XXI – mandato legislativo ou executivo, federal ou es-
Art. 84 – É vedado dispensar o funcionário do registro
tadual;
do ponto, bem como abonar faltas ao serviço, salvo nos
XXII – mandato de Prefeito ou Vice-Prefeito;
casos expressamente previstos em lei ou regulamento.
XXIII – mandato de Vereador, nos termos do disposto
§ 1º  - A falta abonada é considerada, para todos os
no inciso III, do artigo 74;
XXI – mandato legislativo ou executivo, federal ou es- efeitos, presença ao serviço.
tadual; § 2º  - Excepcionalmente e apenas para elidir efeitos
XXII – mandato de Prefeito ou Vice-Prefeito; disciplinares, poderá ser justificada falta ao serviço.
XXIII – mandato de Vereador, nos termos do disposto § 3º - O abono e a justificação de faltas ao serviço se-
no inciso III, do artigo 74. rão da competência do chefe imediato do funcionário.
Parágrafo único – O afastamento para o exterior, ex- Art. 85 – O Governador, mediante expediente subme-
ceto em gozo de férias ou licenças, dependerá de prévia tido a sua apreciação pelo Secretário de Estado de Admi-
autorização do Governador. nistração, e quando assim considerar de interesse público,
*  Art. 80. Para efeito de aposentadoria, observado o poderá dispensar do registro de ponto funcionários que,
limite temporal estabelecido no art. 4º da Emenda Consti- comprovadamente, participarem de Congressos, Seminá-
tucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998, e de disponibi- rios, Jornadas ou quaisquer outras formas de reunião de
lidade, será computado: (NR) profissionais, técnicos, especialistas, religiosos ou despor-
*  Nova redação dada pela Lei Complementar nº tistas.
121/2008. Art. 86 – O Governador determinará, quando não dis-
I – o tempo de serviço público federal, estadual e mu- criminado em lei ou regulamento, o número de horas diá-
nicipal; rias de trabalho dos órgãos e unidades administrativas do
II – o período de serviço ativo nas Forças Armadas, Estado e das várias categorias profissionais.
computado pelo dobro o tempo em operações de guerra, § 1º - O funcionário deverá permanecer em serviço du-
inclusive quando prestado nas Forças Auxiliares e na Mari- rante as horas de trabalho ordinário e as do extraordinário,
nha Mercante; quando convocado.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 2º - Nos dias úteis, somente por determinação do Go- Art. 91 – É proibida a acumulação de férias, salvo im-
vernador, poderão deixar de funcionar os serviços públicos periosa necessidade de serviço, não podendo a acumula-
ou ser suspensos os seus trabalhos, no todo ou em parte. ção, nesse caso, abranger mais de dois períodos.
Parágrafo único – O impedimento decorrente de ne-
TÍTULO V cessidade de serviço, para o gozo de férias pelo funcio-
Dos Direitos e das Vantagens nário, não será presumido, devendo o seu chefe imediato
CAPÍTULO I fazer comunicação expressa do fato ao órgão competente
Da Estabilidade de pessoal, sob pena de perda do direito à acumulação ex-
cepcional de dois períodos.
Art. 87 – Estabilidade é o direito que adquire o funcio- Art. 92  – No absoluto interesse do serviço, as férias
nário de não ser demitido senão em virtude de sentença poderão ser interrompidas ou admitido o seu gozo par-
judicial ou processo administrativo disciplinar em que se celado.
lhe tenha assegurado ampla defesa. § 1º - As férias parceladas poderão ser gozadas:
Parágrafo único – O disposto neste artigo não se apli- 1) em períodos de 10 (dez) dias;
ca aos ocupantes dos cargos em comissão. 2) em períodos de 15 (quinze) dias.
Art. 88 – A estabilidade será adquirida pelo funcioná- § 2º  - Na hipótese de interrupção de férias, se o pe-
rio, quando nomeado em caráter efetivo, depois de apro- ríodo restante não se ajustar ao estabelecido nos itens do
vado no estágio experimental. parágrafo anterior, o prazo será contado para efeito da
§ 1º - É de 2 (dois) anos de efetivo exercício o prazo acumulação de que trata o artigo precedente.
aquisitivo da estabilidade, computando-se, para esse efei- Art. 93 – Por motivo de provimento em outro cargo,
to, o período e estágio experimental. o funcionário em gozo de férias não será obrigado a in-
§ 2º - As disposições deste Capítulo não se aplicam ao terrompê-las; a investidura decorrente, quando for o caso,
contratado ocupante de função gratificada, que continua- terá como termo inicial do seu prazo a data em que o fun-
rá subordinado, necessariamente, ao regime de tempo de cionário voltar ao serviço.
serviço a que estava vinculado, nos termos da legislação Art. 94 – Todos os servidores, que operem diretamente
trabalhista. com Raios X ou substâncias radioativas, gozarão obrigato-
Art. 89 – A estabilidade já adquirida será conservada riamente férias remuneradas de 20 (vinte) dias consecuti-
se, sem interrupção do exercício, o funcionário desvincular- vos por semestre de atividade, não parceláveis nem acu-
-se de seu cargo estadual, inclusive autárquico, para inves- muláveis.
tir-se em outro. Parágrafo único  – O Secretário de Estado de Admi-
nistração, em ato próprio, poderá estender o disposto no
CAPÍTULO II presente artigo aos servidores que lidem diretamente com
Das Férias outras substâncias consideradas altamente tóxicas ou in-
salubres, ou estejam em contato direto e permanente com
Art. 90  – O funcionário gozará, obrigatoriamente, 30 portadores de doenças infecto-contagiosas.
(trinta) dias consecutivos de férias remuneradas por ano Art. 95 – O funcionário, ao entrar em férias, comunica-
civil, de acordo com escala respectiva. rá ao chefe imediato o seu endereço eventual.
§ 1º - A escala de férias poderá ser alterada, de acordo Art. 96 – As disposições deste Capítulo são extensivas
com as necessidades do serviço, por iniciativa do chefe in- aos contratados em exercício de função gratificada, e aos
teressado, comunicada a alteração ao órgão competente. estagiários, na hipótese do § 5º do artigo 12.
§ 2º - Somente depois do primeiro ano de efetivo exer-
cício adquirirá o funcionário direito a férias, as quais corres- CAPÍTULO III
ponderão ao ano em que se completar esse período. Das Licenças
§ 3º - É vedado levar à conta de férias qualquer falta SEÇÃO I
ao trabalho. Disposições Gerais
§ 4º - Não serão concedidas férias com início em um
exercício e término no seguinte. Art. 97- Conceder-se-á licença:
§ 5º - Os ocupantes de cargo em comissão ou função I – para tratamento de saúde;
gratificada farão jus a 30 (trinta) dias ininterruptos de fé- II – por motivo de doença em pessoa da família;
rias, ainda que o regime de seu cargo efetivo estabeleça III – para repouso à gestante;
período diverso. IV – para serviço militar, na forma da legislação espe-
§ 6º - O funcionário aposentado que exerça cargo em cífica;
comissão fará jus ao gozo das férias previstas neste artigo, V – para acompanhar o cônjuge;
inclusive as relativas ao ano da publicação do ato de apo- VI – a título de prêmio;
sentadoria, caso não utilizado o respectivo período. VII – para desempenho de mandato legislativo ou exe-
§ 7º - Quando o ocupante de cargo efetivo participar, cutivo.
como membro, de órgão de deliberação coletiva, as res- Art. 98 – Salvo os casos previstos nos incisos IV, V e VII,
pectivas férias serão gozadas, obrigatória e simultanea- do artigo anterior, o funcionário não poderá permanecer
mente, nas duas situações funcionais. em licença por prazo superior a 24 (vinte e quatro) meses.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º - Excetua-se do prazo estabelecido neste artigo a § 1º  - Considerado apto, o funcionário reassumirá o
licença para tratamento de saúde, quando o funcionário for exercício, sob pena de serem computados como faltas os
considerado recuperável, a juízo da junta médica. dias de ausência ao serviço.
§ 2º - Nas licenças dependentes de inspeção médica, § 2º  - Se da inspeção ficar constatada simulação do
expirado o prazo deste artigo e ressalvada a hipótese refe- funcionário, as ausências serão havidas como faltas ao ser-
rida no parágrafo anterior, o funcionário será submetido a viço, e o fato será comunicado ao órgão de pessoal para as
nova inspeção, que concluirá pela sua volta ao serviço, pela providências disciplinares cabíveis.
readaptação, ou pela aposentadoria, se for julgado definiti- Art. 103 – Ao funcionário provido em comissão, ou de-
vamente inválido para o serviço público em geral. signado para função gratificada, não se concederão, nesta
Art. 99  – As licenças nos incisos I, II e III, do art. 97, qualidade, as licenças referidas nos incisos IV, V, VI e VII, do
serão concedidas pelo órgão médico oficial competente ou artigo 97.
por outros aos quais aquele transferir ou delegar atribui- § 1º - Aos contratados, quando no exercício de função
ções, e pelo prazo indicado nos respectivos laudos. gratificada, conceder-se-ão apenas as licenças de que tra-
§ 1º - Estando o funcionário, ou pessoa de sua família, tam os incisos I a III, do artigo 97.
absolutamente impossibilitado de locomover-se e não ha- § 2º - As disposições do parágrafo precedente aplicam-
vendo na localidade qualquer dos órgãos referidos neste -se ao ocupante de cargo em comissão não detentor de
artigo, poderá ser admitido laudo expedido por órgão mé- cargo efetivo estadual.
dico de outra entidade pública e, na falta, atestado passado § 3º - Aos providos em substituição não se concederão,
por médico particular, com firma reconhecida. nesta qualidade, as licenças referidas no artigo 97.
§ 2º - Nas hipóteses referidas no parágrafo anterior, o Art. 104 – A concessão de licença ao funcionário, ex-
laudo ou atestado deverá ser encaminhado ao órgão médi- ceto a decorrente de acidente em serviço ou de doença
co competente, no prazo máximo de 3 (três) dias contados profissional, não impedirá a sua exoneração ou dispensa,
da primeira falta ao serviço; a licença respectiva somente quando esta se der em virtude do caráter precário ou tem-
será considerada concedida com a homologação do laudo porário de seu provimento.
Art. 105 – A licença superior a 90 (noventa) dias, com
ou atestado, a qual será sempre publicada.
fundamento nos incisos I e II, do artigo 97, dependerá de
§ 3º - Será facultado ao órgão competente, em caso de
inspeção por junta médica.
dúvida razoável, exigir nova inspeção por outro médico ou
Art. 106 – No processamento das licenças dependen-
junta oficial.
tes de inspeção médica, será observado o devido sigilo so-
§ 4º - No caso do laudo ou atestado não ser homolo-
bre os respectivos laudos ou atestados.
gado, o funcionário será obrigado a reassumir o exercício
Art. 107 – No curso das licenças a que se referem os
do cargo dentro de 3 (três) dias contados da publicação
incisos I e II, do artigo 97, o funcionário abster-se-á de qual-
do despacho denegatório, sendo considerados como de quer atividade remunerada, sob pena de interrupção da li-
efetivo exercício os dias em que deixou de comparecer ao cença, com perda total do vencimento e demais vantagens,
serviço, por esse motivo. até que reassuma o exercício do cargo.
§ 5º - Se, na hipótese do parágrafo anterior, a não ho- Parágrafo único – Os dias correspondentes à perda de
mologação decorrer de falsa afirmativa por parte do médi- vencimento, de que trata este artigo, serão considerados
co atestante, os dias de ausência do funcionário serão tidos como faltas ao serviço.
como faltas ao serviço, sujeitos, um e outro, a processo ad- Art. 108 – O funcionário licenciado comunicará ao che-
ministrativo disciplinar, que apurará e definirá responsabi- fe imediato o local onde poderá ser encontrado.
lidades; caso o médico atestante não esteja vinculado ao Art. 109 – Os estagiários não gozarão, nesta condição,
Estado para fins disciplinares, este comunicará o fato ao das licenças referidas no artigo 97; a ocorrência de qualquer
Ministério Público e ao Conselho Regional de Medicina, em fato ou circunstância tipificadora daquelas licenças impor-
que seja inscrito. tará no seu imediato afastamento do estágio e eliminação
Art. 100 – Terminada a licença, o funcionário reassu- do respectivo concurso.
mirá imediatamente o exercício, ressalvados os casos de § 1º - Na hipótese do estagiário sofrer acidente em ser-
prorrogação e o previsto no artigo 111. viço, contrair doença profissional ou sofrer internação com-
Art. 101 – A licença poderá ser prorrogada  ex offi- pulsória para tratamento psiquiátrico, a eliminação do con-
cio ou a pedido. curso não prejudicará a percepção de sua retribuição, que
§ 1º - O pedido de prorrogação deverá ser apresentado se fará até que o órgão médico oficial competente declare
antes de findo o prazo da licença; se indeferido, contar-se-á seu pleno restabelecimento.
como de licença o período compreendido entre a data do § 2º  - Aplica-se aos estagiários o disposto no artigo
término e a da publicação oficial do despacho. 246, excetuada a regra estabelecida em seu § 1º.
§ 2º - A licença concedida dentro de 60 (sessenta) dias
contados do término da anterior será, a critério médico, SEÇÃO II
considerada como sua prorrogação. Da Licença para Tratamento de Saúde
Art. 102  – Ressalvada a hipótese referida na primei-
ra parte do inciso XIX, do artigo 79, que será tida como Art. 110 – A licença para tratamento de saúde será con-
de abono de faltas, o tempo necessário à inspeção médica cedida, ou prorrogada, ex officio ou a pedido do funcioná-
será considerado como de licença. rio ou de seu representante, quando não possa ele fazê-lo.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º - Em qualquer dos casos é indispensável a inspe- Art. 117 – O funcionário poderá obter licença por mo-
ção médica, que será realizada, sempre que necessário, no tivo de doença na pessoa de ascendente, descendente, co-
local onde se encontrar o funcionário. lateral consanguíneo ou afim, até o 2º grau civil, cônjuge
§ 2º - Incumbe à chefia imediata promover a apresen- do qual não esteja legalmente separado, ou pessoa que
tação do funcionário à inspeção médica, sempre que este vive a suas expensas e conste do respectivo assentamento
a solicitar. individual, desde que prove ser indispensável sua assistên-
Art. 111 – O funcionário não reassumirá o exercício do cia pessoal e esta não possa ser prestada simultaneamente
cargo sem nova inspeção médica, quando a licença conce- com o exercício do cargo.
dida assim o tiver exigido; realizada essa nova inspeção, o Art. 118  – A licença referida no artigo anterior será
respectivo atestado ou laudo médico concluirá pela volta concedida, ou prorrogada, a pedido do funcionário.
ao serviço, pela prorrogação da licença, pela readaptação Art. 119 – A licença de que trata esta Seção será con-
do funcionário ou pela sua aposentadoria. cedida com vencimento e vantagens integrais nos primei-
Art. 112  – Em caso de doença grave, contagiosa ou ros 12 (doze) meses, e com 2/3 (dois terços) por outros 12
não, que imponha cuidados permanentes, poderá a junta (doze) meses, no máximo.
médica, se considerar o doente irrecuperável, determinar,
como resultado da inspeção, sua imediata aposentadoria. SEÇÃO IV
Parágrafo único  – A inspeção, para os efeitos deste Da Licença para Repouso à Gestante
artigo, será realizada obrigatoriamente por uma junta com-
posta de pelo menos 3 (três) médicos. Art. 120 – À funcionária gestante será concedida licen-
Art. 113 – O funcionário que se recusar à inspeção mé- ça, pelo prazo de 4 (quatro) meses.
dica ficará impedido do exercício do seu cargo, até que se Parágrafo único  – Salvo prescrição médica em con-
verifique a inspeção. trário, a licença será concedida a partir do oitavo mês de
Parágrafo único – Os dias em que o funcionário, por gestação.
força do disposto neste artigo, ficar impedido do exercício Art. 121 – À funcionária gestante, quando em serviço
do cargo, serão tidos como faltas ao serviço.
incompatível com seu estado, se aplicará, a partir do quinto
Art. 114  – No curso da licença poderá o funcionário
mês da gestação e até o início da licença de que trata o
requerer inspeção médica, caso se julgue em condições de
artigo anterior, o disposto no inciso I, do artigo 58.
reassumir o exercício ou de ser aposentado.
Art. 122 – A licença de que trata esta Seção será con-
Art. 115 – Quando a licença para tratamento de saúde
cedida com vencimento e vantagens integrais.
for concedida em decorrência de acidente em serviço ou
de doença profissional, esta circunstância se fará expressa-
SEÇÃO V
mente consignada.
Da Licença para Serviço Militar
§ 1º  - Considera-se acidente em serviço todo aquele
que se verifique pelo exercício das atribuições do cargo,
provocando, direta ou indiretamente, lesão corporal, per- Art. 123 – Ao funcionário que for convocado para ser-
turbação funcional ou doença que determine a morte; a viço militar ou outro encargo da segurança nacional, será
perda total ou parcial, permanente ou temporária, da capa- concedida licença pelo prazo que durar a sua incorporação
cidade física ou mental para o trabalho. ou convocação.
§ 2º - Equipara-se ao acidente em serviço o ocorrido § 1º - A licença será concedida à vista do documento
no deslocamento entre a residência e o local do trabalho, oficial que prove a incorporação ou convocação.
bem como o dano resultante da agressão não provocada, § 2º  - Do vencimento descontar-se-á a importância
sofrida pelo funcionário no desempenho do cargo ou em que o funcionário percebe na qualidade de incorporado,
razão dele. salvo se optar pelas vantagens do serviço militar.
§ 3º - A prova do acidente será feita em processo espe- § 3º - Ao funcionário desincorporado ou desconvoca-
cial, no prazo de 8 (oito) dias, prorrogável por igual perío- do conceder-se-á prazo não excedente de 30 (trinta) dias
do, quando as circunstâncias o exigirem. para que reassuma o exercício, sem perda do vencimento.
§ 4º  - Entende-se por doença profissional a que se Art. 124  – Ao funcionário oficial da reserva das For-
deve atribuir, como relação de efeito e causa, às condições ças Armadas será também concedida a licença referida no
inerentes ao serviço ou fatos nele ocorridos. artigo anterior durante os estágios previstos pelos regula-
§ 5º - A prova pericial da relação de causa e efeito a mentos militares.
que se refere o parágrafo anterior será produzida por junta Parágrafo único – Quando o estágio for remunerado,
médica oficial. assegurar-se-lhe-á o direito de opção.
Art. 116  – A licença para tratamento de saúde será
concedida sempre com vencimento e vantagens integrais. SEÇÃO VI
Da Licença para Acompanhar o Cônjuge
SEÇÃO III
Da Licença por Motivo de Doença em Pessoa da Art. 125 – O funcionário casado terá direito à licença
Família sem vencimento quando se cônjuge for exercer mandato
eletivo ou, sendo militar ou servidor da Administração Di-

51
DIREITO ADMINISTRATIVO

reta, de autarquia, de empresa pública, de sociedade de Art. 133 – Quando o funcionário ocupar cargo em co-
economia mista ou de fundação instituída pelo Poder Pú- missão ou função gratificada por mais de 5 (cinco) anos, apu-
blico, for mandado servir,  ex officio, em outro ponto do rados na forma do artigo 129, assegurar-se-lhe-á, no gozo
território estadual, nacional ou no exterior. da licença, importância igual à que venha percebendo pelo
Parágrafo único – Existindo no novo local de residência exercício do cargo em comissão ou da função gratificada.
órgão estadual, o funcionário nele será lotado, havendo cla- Parágrafo único  – Adquirido o direito à licença-prê-
ro, ou não havendo, poderá ser-lhe concedida, em caso de mio de acordo com o estabelecido neste artigo, a ulterior
interesse da Administração, permissão de exercício, enquan- exoneração do cargo em comissão ou dispensa da função
to ali durar sua permanência. gratificada não prejudicará a forma de remuneração nele
Art. 126 – A licença dependerá de pedido devidamente adotada, quando do efetivo gozo da licença pelo funcio-
instruído, que deverá ser renovado de 2 (dois) em 2 (dois) nário.
anos; finda a sua causa, o funcionário deverá reassumir o Art. 134 – Em caso de acumulação de cargos, a licen-
exercício dentro de 30 (trinta) dias, a partir dos quais a sua ça-prêmio será concedida em relação a cada um deles, si-
ausência será computada como falta ao trabalho. multânea ou separadamente.
Art. 127 – Independentemente do regresso do cônjuge, Parágrafo único – Será independente o cômputo do
o funcionário poderá reassumir o exercício a qualquer tem- quinquênio em relação a cada um dos cargos acumuláveis.
po, não podendo, neste caso, renovar o pedido de licença Art. 135  – A licença-prêmio poderá ser gozada inte-
senão depois de 2 (dois) anos da data da reassunção, salvo gralmente, ou em períodos de 1 (um) a 2 (dois) meses.
se o cônjuge for transferido novamente. Parágrafo único – Se a licença for gozada em períodos
Art. 128 – As normas desta Seção aplicam-se aos fun- parcelados, deve ser observado intervalo obrigatório de 1
cionários que vivem maritalmente, desde que haja impe- (um) ano entre o término de um período e o início de outro.
dimento legal ao casamento e convivência por mais de 5 Art. 136 – O funcionário poderá, a qualquer tempo, reas-
(cinco) anos. sumir o exercício do seu cargo, condicionado o gozo dos dias
restantes da licença à regra contida no artigo anterior.
SEÇÃO VII Parágrafo único – Se na interrupção da licença se ve-
Da Licença-Prêmio rificar que o funcionário gozou período não conforme o
disposto no artigo 135, o prazo restante da licença refe-
Art. 129 – Após cada quinquênio de efetivo exercício rente ao mesmo quinquênio, qualquer que seja ele, ficará
prestado ao Estado, ou a suas autarquias, ao funcionário que insuscetível de gozo, sendo computável apenas para efeito
a requerer, conceder-se-á licença-prêmio de 3 (três) meses, de aposentadoria, nos termos do artigo 80, inciso VII.
com todos os direitos e vantagens de seu cargo efetivo. Art. 137  – É vedado transformar em licença-prêmio
§ 1º - Não será concedida a licença-prêmio se houver o faltas ao serviço ou qualquer outra licença concedida ao
funcionário, no quinquênio correspondente: funcionário.
1) sofrido pena de suspensão ou de multa;
2) faltado ao serviço, salvo se abonada a falta; SEÇÃO VIII
3) gozado as licenças para tratamento de saúde, por Da Licença para Desempenho de Mandato Legisla-
motivo de doença em pessoa da família e por motivo de tivo ou Executivo
afastamento do cônjuge, por prazo superior a 90 (noventa)
dias, em cada caso. Art. 138  – O funcionário será licenciado sem venci-
§ 2º - Suspender-se-á, até o limite de 90 (noventa) dias, mento ou vantagens de seu cargo efetivo, para desempe-
em cada uma das licenças referidas no item 3, do parágrafo nho de mandato eletivo, federal ou estadual.
anterior, a contagem de tempo de serviço para efeito de li- Parágrafo único – A licença a que se refere este artigo
cença-prêmio. será concedida a partir da diplomação do eleito, pela Justi-
§ 3º - O gozo da licença prevista no inciso III, do art. 97, ça Eleitoral, e perdurará pelo prazo do mandato.
não prejudicará a contagem do tempo de serviço para efeito Art. 139 – O funcionário investido no mandato eletivo
de licença-prêmio. de Prefeito ou Vice-Prefeito ficará licenciado desde a di-
§ 4º  - Para apuração do quinquênio computar-se-á, plomação pela Justiça Eleitoral, até o término do mandato,
também, o tempo de serviço prestado anteriormente em sendo-lhe facultado optar pela percepção do vencimento e
outro cargo estadual, desde que entre um e outro não haja vantagens do seu cargo efetivo.
interrupção de exercício. Art. 140 – Quando o funcionário exercer, por nomea-
Art. 130  – O direito à licença-prêmio não tem prazo ção, mandato executivo federal ou municipal, ficará, desde
para ser exercitado. a posse, licenciado sem vencimento e vantagens do seu
Art. 131  – A competência para a concessão de licen- cargo efetivo, ressalvado, para o âmbito municipal, o direi-
ça-prêmio é do Diretor da Divisão de Pessoal do Departa- to de opção pela remuneração do cargo efetivo.
mento de Administração de cada Secretaria de Estado ou de Art. 141 – Investido o funcionário no mandato de Ve-
órgão diretamente subordinado ao Governador. reador e havendo compatibilidade de horários, perceberá o
Art. 132 – O funcionário investido em cargo de provi- vencimento e as vantagens do seu cargo sem prejuízo dos
mento em comissão ou função gratificada será licenciado subsídios a que faz jus; inexistindo compatibilidade, ficará
com o vencimento e vantagens do cargo de que seja ocu- afastado do exercício do seu cargo sem percepção do ven-
pante efetivo. cimento e vantagens.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

CAPÍTULO IV Art. 146 – Nenhum funcionário poderá perceber me-


O Vencimento nos do que o salário-mínimo vigente na capital do Estado.
Art. 147 – O vencimento, o provento, ou qualquer vanta-
Art. 142 – Vencimento é a retribuição pelo efetivo exer- gem pecuniária não sofrerá descontos além dos previstos em
cício do cargo, correspondente à referência ou símbolo fi- lei, nem será objeto de penhora, salvo quando se tratar de:
xado em lei. I – prestação de alimentos determinada judicialmente;
Art. 143 – Perderá o vencimento e vantagens do cargo II – dívida para com a Fazenda Pública.
efetivo o funcionário que se afastar: Art. 148 – As reposições e indenizações devidas à Fa-
I – para prestar serviço à União, a outro Estado, a Mu- zenda Estadual serão descontadas, em parcelas mensais
nicípio, a sociedade de economia mista, a empresa pública, consecutivas, não excedentes da décima parte do venci-
a fundação instituída pelo Poder Público ou a Organização mento ou provento, exceto na ocorrência de má fé, hipóte-
Internacional, salvo quando, a juízo do Governador, reco- se em que não se admitirá parcelamento.
nhecido o afastamento como de interesse do Estado; § 1º - Será dispensada a reposição nos casos em que
II – em decorrência de prisão administrativa, salvo se a percepção indevida tiver decorrido de entendimento ex-
inocentado afinal; pressamente aprovado pelo Órgão Central do Sistema de
III – para exercer cargo em comissão, ressalvado o direi- Pessoal Civil ou pela Procuradoria-Geral do Estado.
to de opção e o de acumulação legal; § 2º - Quando o funcionário for exonerado, demitido
IV – para estágio experimental. ou vier a falecer, a quantia devida será inscrita como dívida
Parágrafo único – Os afastamentos de que tratam os ativa e cobrada judicialmente.
incisos deste artigo não implicam suspensão de pagamento
adicional por tempo de serviço, em cujo gozo se encontre CAPÍTULO V
o funcionário. Das Vantagens
Art. 144 – O funcionário perderá, ainda, o vencimento SEÇÃO I
e vantagens do seu cargo: Disposições Gerais
I – enquanto durar o mandato eletivo, federal ou esta-
dual; Art. 149 – Além do vencimento, poderá o funcionário
II – enquanto durar o mandato executivo municipal, ele- perceber as seguintes vantagens pecuniárias:
tivo ou por nomeação, salvo o direito de opção previsto nos I – adicional por tempo de serviço;
artigos 139 e 140; II – gratificações;
III – quando estiver no efetivo exercício de seu manda- III – ajuda de custo e transporte ao funcionário manda-
to, se eleito Vereador, e se, havendo incompatibilidade de do servir em nova sede;
horários com o exercício de seu cargo, dele ficar afastado. IV – diárias, àquele que, em objeto de serviço, se des-
Art. 145 – O funcionário deixará de receber: locar eventualmente da sede.
I – 1/3 (um terço) do vencimento e vantagens, durante
o afastamento por motivo de suspensão preventiva ou re- SEÇÃO II
colhimento à prisão por ordem judicial não decorrente de Do Adicional por Tempo de Serviço
condenação definitiva, ressalvado o direito à diferença se
absolvido afinal, ou se o afastamento exceder o prazo de Art. 150 – O adicional por tempo de serviço será obje-
condenação definitiva; to de disciplina própria a ser baixada, observado o disposto
II – 2/3 (dois terços) do vencimento e vantagens, duran- no artigo 19, do Decreto-Lei nº 408, de 02 de fevereiro de
te o cumprimento, sem perda do cargo, de pena privativa 1979, e no § 6º do artigo 7º do Decreto-Lei nº 415, de 20
de liberdade; de fevereiro de 1979.
III – vencimento e vantagens do dia em que não compa-
recer ao serviço, salvo o disposto no inciso XIX, do artigo 79; SEÇÃO III
IV – vencimento e vantagens do dia, se comparecer ao Das Gratificações
serviço após os 60 (sessenta) minutos seguintes à hora ini- SUBSEÇÃO I
cial do expediente, ou se sem autorização por mais de 60 Disposições Gerais
(sessenta) minutos;
V – 1/3 (um terço) do vencimento e vantagens do dia, Art. 151 – Conceder-se-á gratificação:
se comparecer ao serviço dentro dos 60 (sessenta) minutos I – de função;
seguintes à hora inicial do expediente ou retirar-se sem au- II – pelo exercício de cargo em comissão;
torização, dentro dos 60 (sessenta) minutos finais, ou, ainda, III – pela prestação de serviço extraordinário;
ausentar-se sem autorização por período inferior a 60 (ses- IV – de representação de Gabinete;
senta) minutos. V – de representação de Gabinete;
§ 1º - No caso de faltas sucessivas serão computados, VI – pela participação em órgão de deliberação coletiva;
para efeito de descontos, os sábados, domingos, feriados e VII – pelo exercício:
pontos facultativos intercalados. a) de encargos de auxiliar ou membro de banca ou co-
§ 2º - Na hipótese do inciso V, os descontos acumulá- missão examinadora de concurso;
veis havidos em um mesmo mês não serão convertidos em b) de atividade temporária de auxiliar ou professor de
faltas para efeito de contagens de tempo de serviço. curso oficialmente instituído.

53
DIREITO ADMINISTRATIVO

SUBSEÇÃO II Art. 160 – O acréscimo de horas extraordinárias, pro-


Da Gratificação de Função posto pelo chefe da unidade administrativa interessada e
ouvida a Inspetoria Setorial de Finanças sobre a existên-
Art. 152 – Gratificação de função é a que corresponde cia de saldo na dotação orçamentária, será submetido às
ao exercício de função gratificada instituída e remunerada autoridades diretamente subordinadas ao Governador, para
na forma do que dispõe a Seção II, Capítulo II, Título II. autorização, que será publicada no órgão oficial.
Art. 153 – A gratificação de função será mantida nos Parágrafo único – A proposta deverá caracterizar a na-
casos de afastamento previstos nos incisos I, II, VII, VIII, X, tureza da medida e justificar a necessidade da prestação do
XI, XII, XIII, XIV, XVII, exceto convocação para serviço militar, serviço em horário extraordinário.
e XIX, do artigo 79. Art. 161  – A gratificação pela prestação de serviço
Parágrafo único – Na hipótese do afastamento referi- extraordinário será paga por hora de trabalho prorrogado
do no inciso VI do artigo 79, obedecer-se-á, quando for o ou antecipado, ressalvados os casos previstos neste regu-
caso, ao disposto no artigo 133. lamento.
Art. 154 – O exercício de função gratificada impede o § 1º - O valor da hora extraordinária será obtido dividin-
do-se o valor da referência correspondente ao vencimento
recebimento da gratificação pela prestação de serviço ex-
mensal, que regulou a duração normal do trabalho, por 30
traordinário.
(trinta) vezes o número de horas da jornada normal, aumen-
Art. 155 – Além do exercício de função gratificada re-
tado de 25% (vinte e cinco por cento) o resultado, salvo
gularmente instituída, poderá ser atribuída, na forma de em se tratando de serviço extraordinário noturno, como tal
regulamentação específica, gratificação de função a funcio- considerado o que for prestado entre as 22 (vinte e duas)
nários que desempenhem atividades especiais ou exceden- horas de um dia e as 5 (cinco) horas do dia imediato, hipó-
tes às atribuições de seu cargo, vedado o seu recebimento tese em que o aumento será de 50% (cinquenta por cento).
cumulativo com as gratificações específicas das funções de § 2º - A gratificação pela prestação de serviço extraor-
confiança. dinário não poderá exceder, em cada mês, a 50% (cinquenta
por cento) do valor da referência correspondente ao venci-
SUBSEÇÃO III mento.
Da Gratificação pelo Exercício de Art. 162 – Ao funcionário não se concederá gratificação
Cargo em Comissão por serviço extraordinário quando:
I – no exercício de cargo em comissão ou função gra-
Art. 156  – A gratificação pelo exercício de cargo em tificada;
comissão equivale a 70% do valor fixado para o símbolo II – a prestação do serviço extraordinário decorrer de
a ele correspondente, e a ela faz jus o funcionário que, no execução de atividade a ser retribuída pela gratificação:
exercício desse cargo, haja optado pelo vencimento do seu a) de representação de Gabinete;
cargo efetivo, conforme o estabelecido no artigo 23, se- b) de encargo de auxiliar ou membro de banca ou co-
gunda parte. missão examinadora de concurso;
Art. 157 – À gratificação de que trata o artigo anterior, c) de atividade temporária de auxiliar ou professor de
aplica-se o disposto nos artigos 153 e 154. curso oficialmente instituído;
III – em regime de acumulação de cargos, empregos ou
SUBSEÇÃO IV funções.
Da Gratificação pela Prestação de Art. 163  – Considerar-se-ão automaticamente autori-
Serviço Extraordinário zadas as horas extraordinárias ocorridas em virtude de aci-
dente com o equipamento de trabalho, incêndio, inundação
e outros motivos de casos fortuitos ou de força maior.
Art. 158  – A gratificação pela prestação de serviço
Parágrafo único – As horas extraordinárias a que se re-
extraordinário se destina a remunerar as atividades exe-
fere este artigo poderão ser compensadas posteriormente
cutadas fora do período normal de trabalho a que estiver
por folga em período equivalente.
sujeito o funcionário, no desempenho de seu cargo efetivo. Art. 164  – Não será submetido ao regime de serviço
Parágrafo único – A prestação de serviço extraordiná- extraordinário:
rio poderá dar-se em outro órgão que não o de lotação do I – o funcionário em gozo de férias ou licenciado;
funcionário, desde que se manifestem favoravelmente os II – o ocupante de cargo beneficiado por horário espe-
respectivos dirigentes. cial em virtude do exercício de atividades com risco de vida
Art. 159 – A duração normal do trabalho dos funcio- ou saúde.
nários da Administração Direta poderá, excepcionalmente, Art. 165 – A gratificação por serviço extraordinário tem
ser acrescida de horas extraordinárias, respeitado o limite caráter transitório, não gerando a sua percepção qualquer
de duas horas diárias, não se admitindo recusa por parte direito de incorporação ao vencimento ou provento de apo-
do funcionário em prestá-las. sentadoria, sobre ela não incidindo o cálculo de qualquer
Parágrafo único – Os limites a que se refere o artigo vantagem.
poderão ser ampliados, havendo concordância expressa do Parágrafo único  – O desempenho de atividades em
funcionário designado para a realização do serviço extraor- horas extraordinárias não será computado como tempo de
dinário, observado, porém, o disposto no artigo 161. serviço público para qualquer efeito.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

SUBSEÇÃO V Art. 171  – A gratificação pela participação em órgão


Da Gratificação de Representação de Gabinete de deliberação coletiva é acumulável com quaisquer outras
vantagens pecuniárias atribuídas ao funcionário.
Art. 166 – A gratificação de representação de Gabinete Parágrafo único – Durante os afastamentos legais do
é a que tem por fundamento a compensação de despesas titular, apenas o suplente perceberá a gratificação pela par-
de apresentação inerentes ao local do exercício ou a remu- ticipação em órgão de deliberação coletiva.
neração de encargos especiais.
Parágrafo único  – A representação dos funcionários SUBSEÇÃO VII
ocupantes de cargo em comissão ou função gratificada é Da Gratificação pela Participação em Banca Exami-
a fixada em lei. nadora
Art. 167 – A gratificação poderá ser concedida: De Concurso ou em Curso Oficialmente Instituído
I – aos funcionários em exercício nos Gabinetes dos Se-
cretários de Estado, nos Gabinetes da Governadoria e nos Art. 172  – Pelo exercício de encargo de auxiliar ou
da Procuradoria Geral do Estado e Procuradoria Geral da membro de banca ou comissão examinadora de concur-
Justiça; so ou de atividade temporária de auxiliar ou professor de
II – Aos funcionários que, a critério dos titulares dos curso oficialmente instituído, ao funcionário será atribuída
órgãos referidos no inciso anterior, assim devam ser remu- gratificação conforme o estabelecido nesta Subseção.
nerados. Art. 173 – Entende-se como encargo de membro de
§ 1º - O valor global da gratificação de representação banca ou comissão examinadora de concurso a tarefa de-
de Gabinete, por Secretaria, será aprovado pelo Governa- sempenhada, por designação especial de autoridade com-
dor, ouvida a Secretaria de Planejamento e Coordenação petente, no planejamento, organização e aplicação de pro-
Geral quanto aos aspectos orçamentários e financeiros. vas, correção e apuração dos resultados, revisão e decisão
§ 2º - O valor individual da gratificação será fixado em dos recursos interpostos, até a classificação definitiva, nos
tabela aprovada pelos titulares dos órgãos referidos no in- concursos, provas de seleção ou de habilitação, quando
ciso II deste artigo, observado o disposto no parágrafo an- eventualmente realizados pelos órgãos da Administração
terior, não podendo exceder a 50% (cinquenta por cento) Direta do Estado para provimento de cargos, preenchimen-
do vencimento do cargo efetivo do funcionário. to de empregos ou admissão a cursos oficialmente insti-
Art. 168 – A gratificação de representação de Gabinete tuídos.
não será suspensa nos afastamentos seguintes: Art. 174 – Professor de curso oficialmente instituído é
I – férias; o designado pela autoridade competente, para exercer ati-
II – casamento; vidade temporária de magistérios nas áreas de treinamento
III – luto; e aperfeiçoamento de pessoal.
IV – júri e outros serviços obrigatórios por lei; Art. 175 – Somente funcionário do Estado poderá ser
V – licenças para tratamento de saúde e repouso à ges- designado para exercer as atividades de auxiliar de banca
tante; ou comissão examinadora de concurso, ou para a atividade
VI – faltas até o máximo de 3 (três) durante o mês, por temporária de auxiliar de curso oficialmente instituído.
motivo de doença comprovada pelo órgão competente, in- Art. 176 – A gratificação pelo exercício de atividade
clusive quando em pessoa da família. temporária de auxiliar de professor de curso oficialmente
instituído somente será atribuída ao funcionário se o tra-
SUBSEÇÃO VI balho for realizado além das horas de expediente a que
Da Gratificação pela Participação em Órgão de está sujeito.
Deliberação Coletiva Art. 177 – As gratificações de que trata esta Subseção
serão arbitradas, em cada caso, pelo Governador, mediante
Art. 169  – A gratificação pela participação em órgão proposta fundamentada do órgão promotor do curso ou
de deliberação coletiva destina-se a remunerar a presen- do concurso.
ça dos componentes dos órgãos colegiados regularmente Art. 178 – A concessão das gratificações de que cuida
instituídos. esta Subseção não prejudicará a percepção cumulativa de
§ 1º - A gratificação de que trata este artigo será fixa- outras vantagens pecuniárias atribuídas ao funcionário.
da por decreto em base percentual calculada sobre o valor
de símbolo de cargo em comissão ou função gratificada, e SEÇÃO IV
paga por dia de presença às sessões do órgão colegiado. Da Ajuda de Custo e da Indenização de Transporte
§ 2º - Compete ao Governador arbitrar a ajuda de cus- Ao Funcionário Mandado Servir em Nova Sede
to a ser paga ao funcionário designado para missão no ex- SUBSEÇÃO I
terior. Da Ajuda de Custo
Art. 170 – É vedada a participação do funcionário em
mais de um órgão de deliberação coletiva, salvo quando na Art. 179 – Será concedida ajuda de custo, a título de
condição de membro nato. compensação das despesas de viagem, mudança e insta-
Parágrafo único – Quando o funcionário for membro lação, ao funcionário que, em razão de exercício em nova
nato de mais de um órgão de deliberação coletiva, poderá sede com caráter de permanência, efetivamente deslocar
optar pela gratificação de valor mais elevado. sua residência.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 180 – A ajuda de custo será arbitrada pelos Se- integral correspondente ao valor da tarifa rodoviária no
cretários de Estado ou dirigentes de órgãos diretamente mesmo percurso, acrescida de 50% (cinquenta por cento)
subordinados ao Governador e não será inferior a uma do referido valor por dependente que o acompanhe, até o
nem superior a três vezes a importância correspondente máximo de 3 (três).
ao vencimento do funcionário, salvo quando se tratar de § 2º - Na hipótese do parágrafo anterior, a Administra-
missão no exterior. ção fornecerá passagens para o transporte rodoviário dos
§ 1º - No arbitramento da ajuda de custo serão leva- dependentes que comprovadamente não viajem em com-
dos em conta o vencimento do cargo do funcionário de- panhia do funcionário.
signado para nova sede ou missão no exterior, as despesas Art. 185 – Nos deslocamentos a que se refere o artigo
a serem por ele realizadas, bem como as condições de vida 179, serão custeados pela Administração o transporte do
no local do novo exercício ou no desempenho da missão. mobiliário e bagagens do funcionário e de seus dependen-
§ 2º - Compete ao Governador arbitrar a ajuda de cus- tes, observado o limite máximo de 12,00m³ (doze metros
to a ser paga ao funcionário designado para missão no cúbicos) ou 4.500kg (quatro mil e quinhentos quilogramas)
exterior. por passagem inteira, até o número de duas, acrescida de
Art. 181 – Sem prejuízo das diárias que lhe couberem, 3,00m³ (três metros cúbicos) ou 900kg (novecentos quilo-
o funcionário obrigado a permanecer fora da sede de sua gramas) por passagem adicional, até o máximo de 3 (três).
unidade administrativa, em objeto de serviço, por mais de Art. 186 – São considerados dependentes do funcioná-
30 (trinta) dias, perceberá ajuda de custo correspondente rio, para efeitos desta Subseção:
a um mês do vencimento de seu cargo. I – o cônjuge ou a companheira legalmente equiparada;
Parágrafo único – A ajuda de custo será calculada so- II – o filho de qualquer condição ou enteado, bem assim
bre o valor atribuído ao símbolo do cargo em comissão, o menor que, mediante autorização judicial, viva sob a guar-
quando o seu ocupante não for também de cargo efetivo. da e o sustento do funcionário;
Art. 182 – Não se concederá ajuda de custo: III – os pais, sem economia própria, que vivam a expen-
I – ao funcionário que, em virtude de mandato legisla- sas do funcionário;
tivo ou executivo, deixar ou reassumir o exercício do cargo; IV – 1 (um) empregado doméstico, desde que compro-
II – ao funcionário posto a serviço de qualquer outra vada essa condição.
entidade de direito público; § 1º  - Atingida a maioridade, os referidos no inciso II
deste artigo perdem a condição de dependente, exceto a
III – quando a designação para a nova sede se der a
filha que se conservar solteira e sem economia própria, o fi-
pedido.
lho inválido e, até completar 24 (vinte e quatro) anos, quem
Art. 183 – O funcionário restituirá a ajuda de custo:
for estudante, sem exercer qualquer atividade lucrativa.
I – quando se transportar para a nova sede ou local da
§ 2º - Para efeito do disposto neste artigo, sem econo-
missão, nos prazos determinados;
mia própria significa não perceber rendimento em impor-
II – quando, antes de decorridos 3 (três) meses do des-
tância igual ou superior ao valor do salário-mínimo vigente
locamento ou do término da incumbência, regressar, pedir na região em que resida.
exoneração ou abandonar o serviço. Art. 187 – Em face da peculiaridade do serviço, poderá
§ 1º - A restituição é de exclusiva responsabilidade do ser concedido o pagamento da indenização de despesa de
funcionário e não poderá ser feita parceladamente. transporte aos funcionários que tenham assegurado o di-
§ 2º - O funcionário que houver percebido ajuda de reito ao uso individual de viaturas oficiais e que utilizarem
custo não entrará em gozo de licença-prêmio antes de de- veículo próprio no desempenho de suas funções, conforme
corridos 90 (noventa) dias de exercício na nova sede, ou faixas de remuneração a serem definidas em Resolução do
de finda a missão. Secretário de Estado de Administração.
§ 3º - Não haverá obrigação de restituir: § 1º - Na Resolução a que se refere este artigo serão
1) quando o regresso do funcionário for determina- reservadas faixas próprias de indenização de despesa de
do  ex officio  ou decorrer de doença comprovada ou de transporte a serem atribuídas aos funcionários que, para o
motivo de força maior; desempenho de seus cargos, tenham de se deslocar habi-
2) quando o pedido de exoneração for apresentado tualmente pelo interior do Estado.
após 90 (noventa) dias de exercício na nova sede ou local § 2º - Os valores da indenização serão fixados de acor-
da missão. do com os índices apurados pela Superintendência de
Transportes Oficiais e aprovados pelo Governador.
SUBSEÇÃO II Art. 188 – A autorização para a utilização da viatura
Da Indenização de Transporte de propriedade do funcionário a serviço do Estado será da
Ao Funcionário Mandado Servir em Nova Sede competência do Secretário de Estado de Administração, por
intermédio da Superintendência de Transportes Oficiais, ou-
Art. 184 – Independentemente da ajuda de custo con- vido o órgão interessado.
cedida ao funcionário, a este será assegurado transporte Art. 189  – Concedida a autorização, o Estado não se
para a nova sede, inclusive para seus dependentes. responsabilizará por danos causados a terceiros, ou ao veí-
§ 1º - O funcionário que utilizar condução própria no culo, ainda que a ocorrência se verifique em serviço.
deslocamento para nova sede fará jus, para indenização Parágrafo único – Todas as despesas decorrentes do
da despesa de transporte, à percepção da importância uso do veículo correrão por conta do usuário.

56
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 190  – Quando convier, o Estado cancelará, em Parágrafo único – O descumprimento do disposto
qualquer época, a atribuição da indenização de despesas neste artigo ocasionará o desconto em folha das importân-
de transporte, cuja concessão não gerará qualquer direito cias recebidas em excesso pelo funcionário, sem prejuízo
à continuidade da respectiva percepção. das sanções disciplinares aplicáveis à espécie.
Art. 191 – É vedado o uso de viatura oficial por quem Art. 198  – A concessão indevida de diárias sujeitará
já seja portador de autorização para utilização de veículo a autoridade que as conceder à reposição de importância
particular a serviço do Estado. correspondente, aplicando-se-lhe, e ao funcionário que as
Parágrafo único – A infração do disposto neste artigo receber, as cominações estatutárias pertinentes.
sujeita o funcionário às penalidades cabíveis, cancelando-
-se, ainda, a autorização concedida em seu favor. CAPÍTULO VI
Art. 192 – Ao receber a autorização para utilização de Do Direito de Petição
viatura própria em serviço, o usuário assinará, na Superin-
tendência de Transportes Oficiais, o competente “Termo de Art. 199  – É assegurado ao funcionário o direito de
Compromisso”, submetendo-se aos preceitos regulamen- petição em toda a sua amplitude, assim como o de repre-
tares da matéria. sentar.
Art. 200 – O requerimento será dirigido à autoridade
SEÇÃO V competente para decidi-lo e encaminhado por intermédio
Das Diárias daquela a quem estiver imediatamente subordinado o re-
querente.
Art. 193  – Ao funcionário que se deslocar, tempora- § 1º - O erro na indicação da autoridade não prejudica-
riamente, em objeto de serviço, da localidade onde estiver rá a parte, devendo o processo ser encaminhado, por quem
sediada sua unidade administrativa, conceder-se-á, além o detiver, à autoridade competente.
de transporte, diária, a título de compensação das despe- § 2º - Do requerimento constará:
sas de alimentação e pousada ou somente de alimentação. 1) o nome, cargo, matrícula, unidade administrativa em
Parágrafo único – A vantagem de que trata este artigo que é lotado o funcionário, e sua residência;
poderá também ser concedida ao servidor contratado, no 2) os fundamentos, de fato e de direito, da pretenção;
exercício de função gratificada, bem como ao estagiário. 3) o pedido, formulado com clareza.
Art. 194 – Será concedida diária: § 3º - Não será recebido, e se o for, não será despa-
I – de alimentação e pousada, nos deslocamentos su- chado, sem a prévia satisfação da exigência, o requerimen-
periores a 100km (cem quilômetros) de distância da sede, to que não contiver as indicações do item 1, do parágrafo
desde que o pernoite se realize por exigência do serviço; anterior.
II – de alimentação, nos deslocamentos inferiores a § 4º - O requerimento será instruído com os documen-
100km (cem quilômetros) e superiores a 50km (cinquenta tos necessários, facultando-se ao funcionário, mediante
quilômetros) de distância da sede; petição fundamentada, a respectiva anexação no curso do
III – em qualquer caso: processo.
a) de alimentação e pousada, quando o afastamento § 5º - Os documentos poderão ser apresentados por
da sede exceder de 18 (dezoito) horas; cópia, fotocópia, xerocópia ou reprodução permanente por
b) de alimentação, quando o afastamento for inferior a processo análogo, autenticada em cartório ou conferida na
18 (dezoito) e superior a 8 (oito) horas. apresentação pelo servidor que a receber.
Art. 195 – O valor da diária resultará da incidência de § 6º  - Excetuam-se da disposição de que trata o pa-
percentuais sobre o valor básico da UFERJ, atendida a ta- rágrafo precedente as certidões de tempo de serviço, que
bela que for expedida por ato do Governador, observados, serão apresentadas sempre em seus originais, e outros do-
em sua elaboração, a natureza, o local, as condições do cumentos que assim sejam exigidos pela Administração.
serviço e o vencimento do funcionário. § 7º  - Nenhum documento será devolvido sem que
Art. 196 – Não se concederá diária: dele fique, no processo, cópia ou reprodução autenticada
I – durante o período de trânsito; pela repartição.
II – quando o deslocamento se constituir em exigência Art. 201 – Da decisão que for prolatada caberá, sem-
permanente do exercício do cargo ou da função; pre, pedido de reconsideração.
III – quando o município para o qual se deslocar o fun- § 1º  - O pedido de reconsideração será diretamente
cionário seja contíguo ao da sua sede, constituindo-se, em encaminhado à autoridade que houver expedido o ato ou
relação a este, em unidade urbana e apresentando facilida- proferido a decisão, não podendo ser renovado.
de de transporte, ressalvadas as hipóteses do inciso III do § 2º - O requerimento e o pedido de reconsideração
artigo 194; terão prazo de 8 (oito) dias para sua instrução e encami-
IV – quando as despesas do deslocamento correrem nhamento, e serão decididos no prazo máximo de 30 (trin-
por conta de outras entidades subordinadas ou vinculadas ta) dias, salvo em caso que obrigue a realização de diligên-
à Administração Pública. cia ou de estudo especial.
Art. 197 – Ao regressar à sede, o funcionário restituirá, § 3º - A autoridade que receber o pedido de recon-
dentro do prazo de 48 (quarenta e oito) horas, as impor- sideração poderá processá-lo como recurso hierárquico,
tâncias recebidas em excesso. encaminhando-o à autoridade superior.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 202 – Caberá recurso hierárquico: Art. 209 – O pedido de certidão será indeferido quando:
I – do indeferimento do pedido de reconsideração; I – o requerente não tiver interesse legítimo no pro-
II – das decisões sobre os recursos sucessivamente in- cesso;
terpostos. II – a matéria a certificar se referir a:
§ 1º - Ressalvado o disposto no Decreto-Lei nº 114, de a) assunto cuja divulgação afete a segurança pública;
22 de maio de 1975, o recurso será decidido pela autorida- b) pareceres ou informações, salvo se a decisão profe-
de imediatamente superior àquela que tiver expedido o ato rida aos mesmos se reporte;
ou proferido a decisão, sucessivamente, em escala ascen- c) processo sem decisão final da Administração.
dente, pelas demais autoridades. Art. 210 – Caberá o pronunciamento da Procuradoria
§ 2º  - No processamento do recurso observar-se-á o Geral do Estado:
disposto no § 2º do artigo 201. I – nos pedidos de certidões formulados pelo Poder
Art. 203 – O pedido de reconsideração e o recurso hie- Judiciário;
rárquico não têm efeito suspensivo, mas o que for provido II – no caso de certidões para prova em juízo, se o Esta-
retroagirá, em seus efeitos, à data do ato impugnado. do for parte na ação em curso ou a ser proposta;
Art. 204 – O direito de pleitear na esfera administrativa III – se a autoridade competente para autorizar a cer-
prescreverá: tidão tiver dúvidas sobre o requerimento, os documentos
I – em 5 (cinco) anos, quanto aos atos de demissão, que o instruem ou sobre a maneira de atendê-lo.
cassação de aposentadoria ou disponibilidade e quanto às Parágrafo único – Nas hipóteses previstas nos incisos
questões que envolvam direitos patrimoniais; I e III, em que o aludido pronunciamento é obrigatório, a
II – em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos, res- autoridade, ao encaminhar o processo, deverá instruí-lo
salvados os previstos em leis especiais. previamente com a minuta da certidão a ser expedida.
§ 1º - Se consumada a prescrição administrativa, pode- Art. 211  – As certidões sobre matéria de pessoal só
rá a Administração relevá-la caso seja ilegal o ato impugna- serão fornecidas pelo Órgão Central do Sistema de Pessoal
do e não estiver exaurido o acesso à via judicial. Civil, à vista de dados e elementos constantes dos seus re-
§ 2º - Os prazos de prescrição estabelecidos neste ar- gistros.
tigo contar-se-ão da data da ciência do interessado, a qual
se presumirá da publicação do ato impugnado, ou quando CAPÍTULO VII
este for de natureza reservada, da data da ciência do inte-
Da Inatividade
ressado, que deverá constar sempre do processo respectivo.
SEÇÃO I
§ 3º - O pedido de reconsideração e o recurso hierár-
Da Disponibilidade
quico, quando cabíveis, interrompem a prescrição até duas
vezes.
Art. 212 – Extinto o cargo, ou declarada sua desneces-
§ 4º - A prescrição interrompida recomeça a correr, pela
sidade, por ato do Poder Executivo, será o funcionário, se
metade do prazo, da data do ato que a interrompeu, ou do
último ato do processo para a interromper. estável, colocado em disponibilidade.
§ 5º  - Não correrá a prescrição enquanto o processo § 1º - O funcionário em disponibilidade perceberá pro-
estiver em estudo. vento proporcional ao tempo de serviço e poderá ser apro-
Art. 205 – Após despacho decisório, ao funcionário in- veitado em cargo de natureza e vencimento compatíveis
teressado ou a seu representante legal é assegurado o direi- com os do anteriormente ocupado.
to de vista do processo administrativo, no recinto do órgão § 2º - Restabelecido o cargo, ainda que modificada a
competente e durante seu horário de expediente. sua denominação, poderá nele ser aproveitado o funcioná-
Art. 206  – É assegurada a expedição de certidões de rio posto em disponibilidade, quando de sua extinção ou
atos ou peças de processos administrativos, requeridas para da declaração de sua desnecessidade, ressalvado o direito
defesa de direito do funcionário ou para esclarecimento de de optar por outro cargo em que já tenha sido aproveitado.
situações. Art. 213  – O funcionário em disponibilidade poderá
Art. 207 – A certidão deverá ser requerida com indica- ser aposentado.
ção de finalidade específica a que se destina, a fim de que
se possa verificar o legítimo interesse do requerente na sua SEÇÃO II
obtenção. Da Aposentadoria
§ 1º - Quando a finalidade da certidão for instruir pro-
cesso judicial, deverão ser mencionados o direito em ques- Art. 217 – Será aposentado o funcionário que for con-
tão, o tipo de ação, o nome das partes e o respectivo juízo, siderado inválido para o serviço e não puder ser readapta-
se a ação já tiver sido proposta. do, conforme o previsto no artigo 57.
§ 2º - Se o requerimento for assinado por procurador, Art. 218 – A aposentadoria por invalidez será sempre
deverá ser juntado o competente instrumento de mandato. precedida de licença por período não inferior a 24 (vinte e
Art. 208  – A competência para decidir sobre o pedi- quatro) meses, salvo quando ocorrer a hipótese prevista no
do de certidão é do Secretário de Estado, das autoridades artigo 112.
do mesmo nível e dos presidentes das autarquias a quem Art. 221  – O funcionário que completar condições
estiver subordinada a autoridade incumbida de expedi-la, para aposentadoria voluntária fará jus à inclusão, no cálcu-
podendo ser delegada. lo do provento, das vantagens do mais elevado cargo em

58
DIREITO ADMINISTRATIVO

comissão de Direção e Assessoramento Superiores – DAS Art. 229 - Os atos que deslocarem ex-offício os funcio-
ou da função gratificada de Chefia e Assistência Interme- nários estudantes de uma para outra cidade ficarão suspen-
diárias – CAI, que tiver exercido na Administração Direta ou sos, se, na nova sede ou em localidade próxima, não existir
Autárquica no mínimo por um ano, desde que: estabelecimento congênere, oficial, reconhecido ou equipa-
I – sem interrupção, nos últimos 5 (cinco) anos imedia- rado àquele em que o interessado esteja matriculado.
tamente anteriores à passagem para a inatividade, o exercí- § 1º - Efetivar-se-á deslocamento se o funcionário con-
cio de cargos em comissão ou funções gratificadas; cluir o curso, for reprovado, ou deixar de renovar sua ma-
II – com interrupção, mas por 10 (dez) anos, o referido trícula.
exercício. § 2º - Anualmente o interessado deverá fazer prova,
§ 1º - Em se tratando de cargo em comissão, a incorpora- perante o órgão setorial de pessoal a que esteja subordi-
ção da vantagem se fará no valor correspondente a 70% (seten- nado, de que está matriculado.
ta por cento) do fixado no respectivo símbolo; tratando-se de Art. 230 - O funcionário estudante matriculado em es-
função gratificada, a vantagem será integralmente incorporada. tabelecimento de ensino que não possua curso noturno,
§ 2º - Para os efeitos deste artigo considerar-se-ão, poderá, sempre que possível, ser aproveitado em serviços
igualmente, quaisquer gratificações deferidas ao funcioná- cujo horário não colida com o relativo ao período das aulas.
rio na qualidade de ocupante de função de confiança, as Parágrafo único - Sendo impossível o aproveitamento
quais se incorporarão ao respectivo provento pelo valor a que se refere o presente artigo, poderá o estudante, com
efetivamente percebido. assentimento do respectivo chefe, iniciar o serviço uma
hora depois do expediente ou dele se retirar uma hora an-
TÍTULO VI tes do seu término, conforme o caso, desde que a com-
Das Concessões pense, prorrogando ou antecipando o expediente normal.
CAPÍTULO I Art. 231 - O funcionário terá preferência, para sua mo-
Disposições Gerais radia, na locação de imóvel pertencente ao Estado.
Parágrafo único - A locação se fará pelo aluguel que for
Art. 225 - Sem prejuízo do vencimento, direitos e van- fixado e mediante concorrência, que versará sobre as qua-
tagens, o funcionário poderá faltar ao serviço até (oito) dias
lificações preferenciais dos candidatos, relativas ao número
consecutivos por motivo de:
de dependentes, remuneração e tempo de serviço público.
I - casamento;
Art. 232 - As concessões estabelecidas neste Título
II - falecimento do cônjuge, companheiro ou compa-
aplicam-se:
nheira, pais, filhos ou irmãos.
I - aos servidores contratados no exercício de função
§ 1º- Computar-se-ão, para os efeitos deste artigo, os
gratificada, as constantes dos artigos 225, 226 e 227 e as
sábados, domingos e feriados compreendidos no período.
§ 2º - A qualidade de companheiro ou companheira, ex- dos Capítulos II, III, IV, VI e VII, do Título VI;
clusivamente para esse efeito, será demonstrada pela coa- II - aos estagiários, as dos artigos 225 e 226 e as dos
bitação por prazo mínimo de 02 (dois) anos, desnecessária Capítulos IV, VI e VII, do Título VI.
em havendo filho comum.
Art. 226 - Ao licenciado para tratamento de saúde em CAPÍTULO II
virtude de acidente em serviço ou doença profissional, que Do Salário-Família
deva ser deslocado de sua sede para qualquer ponto do ter-
ritório nacional, por exigência do laudo médico, será conce- Art. 233 – Salário-família é o auxílio pecuniário espe-
dido transporte à conta dos cofres estaduais, inclusive para cial concedido pelo Estado ao funcionário ou inativo, como
um acompanhante. contribuição ao custeio das despesas de manutenção de
§ 1º - Será, ainda, concedido transporte à família do sua família.
funcionário falecido no desempenho do serviço, fora da Parágrafo único – A cada dependente relacionado no
sede de seus trabalhos, inclusive quando no exterior. artigo seguinte corresponderá uma cota de salário-família.
§ 2º - Correrão, também, por conta do Estado, as des- Art. 234 – Conceder-se-á salário-família:
pesas com a remoção e com o sepultamento do funcionário I – por filho menor de 21 (vinte e um) anos, que não
falecido no desempenho do serviço. exerça atividade remunerada;
Art. 227 - Ao funcionário estudante matriculado em es- II – por filho inválido;
tabelecimento de ensino de qualquer grau, oficial ou reco- III – por filha solteira, separada judicialmente ou divor-
nhecido, será permitido faltar ao serviço, sem prejuízo do ciada sem economia própria;
seu vencimento ou de quaisquer direitos e vantagens, nos IV – por filho estudante que frequente curso médio ou
dias de provas ou de exames, mediante apresentação de superior e que não exerça atividade lucrativa, até a idade
atestado fornecido pelo respectivo estabelecimento.  de 24 (vinte e quatro) anos;
Art. 228 - Ao estudante que necessitar mudar de do- V – pelo ascendente, sem rendimento próprio, que viva
micílio para passar a exercer cargo ou função pública, será a expensas do funcionário;
assegurada transferência do estabelecimento de ensino que VI – pela esposa que não exerça atividade remunerada;
estiver cursando, para outro da nova residência, onde será VII – pelo esposo que não exerça atividade remunera-
matriculado em qualquer época, independentemente de da, por motivo de invalidez permanente;
vaga, se integrante do sistema estadual de ensino. VIII – pela companheira, assim conceituada na lei civil.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Parágrafo único – Compreendem-se neste artigo o fi- Art. 243 – O salário-família, relativo a cada dependen-
lho de qualquer condição, o enteado, o adotivo e o menor te, será devido a partir do mês em que tiver ocorrido o fato
que comprovadamente viva sob a guarda e o sustento do ou ato que lhe deu origem, embora verificado no último
funcionário. dia do mês.
Art. 235 – Quando pai e mãe forem funcionários ou Art. 244 – Deixará de ser devido o salário-família, re-
inativos de qualquer órgão público federal, estadual ou lativo a cada dependente, no mês seguinte ao em que se
municipal, e viverem em comum, o salário-família será tenha verificado o ato ou fato que haja determinado a sua
concedido exclusivamente ao pai. supressão, embora ocorrido no primeiro dia do mês.
Parágrafo único  – Se não viverem em comum, será
concedido ao que tiver os dependentes sob sua guarda; CAPÍTULO III
se ambos os tiverem, de acordo com a distribuição dos Do Auxílio-Doença
dependentes.
Art. 236 – Ao pai e à mãe equiparam-se o padrasto e a Art. 245  – Após cada período de 12 (doze) meses
madrasta e, na falta deste, os representantes legais dos in- consecutivos de licença para tratamento de saúde, o fun-
capazes ou os que, mediante autorização judicial, tenham cionário terá direito a um mês de vencimento, a título de
sob sua guarda e sustento os dependentes a que se refere auxílio-doença.
o artigo 234. § 1º  - Quando ocorrer o falecimento do funcionário,
Art. 237  – A cota de salário-família por dependente o auxílio-doença a que tiver feito jus será pago de acordo
inválido corresponderá ao triplo da cota normal. com as normas que regulam o pagamento de vencimento
Parágrafo único  – A invalidez que caracteriza a de- não recebido.
pendência é a comprovada incapacidade total e perma- § 2º - O auxílio-doença não sofrerá descontos de qual-
nente para o trabalho; ou presumida, em caso de ancia- quer espécie, ainda que para fins de previdência e assis-
nidade. tência.
Art. 238 – O salário-família será pago independente- Art. 246 – O tratamento do funcionário acidentado em
mente de frequência do funcionário e não poderá sofrer serviço, acometido de doença profissional ou internado
qualquer desconto, nem ser objeto de transação ou con- compulsoriamente para tratamento psiquiátrico, correrá
signação em folha de pagamento. integralmente por conta dos cofres do Estado, e será rea-
Parágrafo único – O salário-família não está, também, lizado, sempre que possível, em estabelecimento estadual
sujeito a qualquer imposto ou taxa, nem servirá de base de assistência médica.
para qualquer contribuição, ainda que de finalidades pre- § 1º - Ainda que o funcionário venha a ser aposen-
videnciária e assistencial. tado em decorrência de acidente em serviço, de doença
Art. 239 – O salário-família será pago mesmo nos ca- profissional ou de internação compulsória para tratamento
sos em que o funcionário ou inativo deixar de receber o psiquiátrico, as despesas previstas neste artigo continuarão
respectivo vencimento ou provento. a correr pelos cofres do Estado.
Art. 240 – Nos casos de acumulação legal de cargos, o § 2º - Nas hipóteses deste artigo não será devido ao
salário-família será pago somente em relação a um deles. funcionário o pagamento do auxílio-doença.
Art. 241 – Em caso de falecimento do funcionário ou Art. 247 – O titular do órgão competente para a con-
inativo, o salário-família continuará a ser pago aos seus cessão de licenças médicas aos funcionários do Estado de-
beneficiários. cidirá sobre os pedidos de pagamento do auxílio-doença e
Parágrafo único – Se o funcionário ou inativo falecido do tratamento a que se refere o artigo anterior.
não se houver habilitado ao salário-família, a Administra- Art. 248 – Nos casos de acumulação legal de cargos, o
ção, mediante requerimento de seus beneficiários, provi- auxílio-doença devido será pago somente em relação a um
denciará o seu pagamento, desde que atendidos os requi- deles, e calculado sobre o de maior vencimento, se ambos
sitos necessários à concessão desse benefício. forem estaduais.
Art. 242 – O cancelamento do salário-família será fei-
to de ofício nos casos de implemento da idade pelo de- CAPÍTULO IV
pendente, salvo se o funcionário ou inativo, no caso de fi- Do Auxílio-Funeral
lho estudante que não exerça atividade remunerada, apre-
sentar comprovação de frequência de curso secundário ou Art. 249 – À família do funcionário ou inativo falecido
superior até 30 (trinta) dias antes de completar 21 (vinte e será concedido auxílio-funeral.
um) anos, e anualmente, por ocasião da matrícula escolar, § 1º - o auxílio será pago:
até que atinja 24 (vinte e quatro) anos. 1) no valor correspondente a 10 (dez) UFERJs, quando
Parágrafo único – O cancelamento será feito, a reque- o do vencimento e vantagens ou proventos do falecido for
rimento do interessado, nos casos de exercício de ativida- igual ou inferior a esse quantitativo;
de remunerada, falecimento, abandono de lar, casamento, 2) no valor correspondente a 20 (vinte) UFERJs, nos de-
separação judicial ou divórcio do dependente, responden- mais casos.
do o funcionário ou inativo, civil, penal e administrativa- § 2º - A despesa com auxílio-funeral correrá à conta de
mente pela omissão ou inexatidão de suas declarações. dotação orçamentária própria.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 250 – Aplica-se ao auxílio-funeral a norma estabe- Parágrafo único – Em nenhuma hipótese, a soma das
lecida no artigo 248. pensões será inferior ao valor do salário-mínimo vigente na
§ 1º - Se as despesas do funeral não forem ocorridas capital do Estado.
por pessoa da família do funcionário ou inativo, o respec- Art. 259  – O disposto neste Capítulo aplica-se, tam-
tivo auxílio será pago a quem as tiver comprovadamente bém, aos beneficiários do inativo, quando o evento morte
realizado. for consequência direta de acidente em serviço ou doença
§ 2º  - O pagamento do auxílio-funeral obedecerá a profissional.
processo sumaríssimo, concluído no prazo de 48 (quarenta
e oito) horas da apresentação da certidão de óbito e docu- CAPÍTULO VII
mentos que comprovem a satisfação da despesa pelo re- Do Prêmio por Sugestões de Interesse da Adminis-
querente, incorrendo em pena de suspensão o responsável tração
pelo retardamento.
Art. 260 – A Administração estimulará a apresentação,
CAPÍTULO V por parte de funcionários, de sugestões e trabalhos que
Do Auxílio-Moradia visem ao aumento da produtividade e à redução de custos
operacionais do serviço público.
Art. 251 – Será concedido auxílio-moradia ao funcio- Art. 261 – Será estabelecido um prêmio anual, em im-
nário que for designado ex officio para ter exercício defi- portância a ser fixada pelo Governador, destinado ao traba-
nitivo em nova sede e nesta não vier a residir em imóvel lho que melhor se ajustar às finalidades de sua instituição,
pertencente ao Poder Público. nos termos de regulamentação própria a ser baixada pelo
Art. 252  – O auxílio-moradia corresponderá a 20% Secretário de Estado de Administração.
(vinte por cento) do vencimento-base do funcionário. Art. 262  – Caberá a uma Comissão, composta de 5
Art. 253 – O pagamento do auxílio-moradia é devido (cinco) membros, de reconhecida competência em técnicas
a partir da data em que o funcionário passar a ter exercício de administração, avaliar e julgar os trabalhos recebidos.
na nova sede e cessará: § 1º - Anualmente será designada a Comissão por ato
I – quando completar 1 (um) ano de serviço na nova sede; do Secretário de Estado de Administração, que indicará seu
II – quando passar a residir em imóvel pertencente ao
Presidente.
Poder Público.
§ 2º - Integração a Comissão, indicados pelos respec-
Art. 254 – O auxílio-moradia, pago mensalmente junto
tivos titulares, além do seu Presidente, representantes das
com vencimento do funcionário, será suspenso nas hipó-
Secretarias de Governo, de Planejamento e Coordenação
teses previstas nos incisos III, IV, V, XVIII e XX do artigo 79.
Geral e de Fazenda e da Fundação Escola de Serviço Públi-
Parágrafo único – Será ainda suspenso o pagamento
co do Estado do Rio de Janeiro.
do auxílio quando o funcionário:
§ 3º - O julgamento da Comissão será irrecorrível.
1) exercer mandato legislativo ou executivo, federal ou
Art. 263 – Ao autor do trabalho premiado se reconhe-
estadual;
2) exercer mandato municipal e este importar no afas- cerá a relevância do serviço e o respectivo prêmio será en-
tamento do funcionário do exercício de seu cargo; tregue em ato solene, no dia 28 de outubro.
3) for convocado para prestação de serviço militar. Art. 264 – Não será distribuído o prêmio no ano em
Art. 255 – O período de 1 (um) ano a que se refere o que os trabalhos apresentados forem julgados insatisfató-
inciso I do artigo 253 começa a ser contado a partir da data rios pela Comissão.
em que o funcionário iniciar o exercício na nova sede, re- TÍTULO VII
começando a contagem do prazo a cada nova designação. Da Previdência e da Assistência
CAPÍTULO ÚNICO
CAPÍTULO VI
Da Pensão Especial em Caso de Morte por Aciden- Art. 265 – O Estado prestará assistência ao funcionário,
te em Serviço ou Doença Profissional ao inativo, e a suas famílias.
Art. 266 – Entre as formas de assistência incluem-se:
Art. 256 – Aos beneficiários do funcionário falecido em I – assistência médica, farmacêutica, dentária e hospi-
consequência de acidente ocorrido em serviço ou doença talar, além de outras julgadas necessárias, inclusive em sa-
nele adquirida, é assegurada pensão mensal equivalente ao natórios e creches;
vencimento mais as vantagens percebidas em caráter per- II – a manutenção obrigatória dos sistemas previden-
manente, por ocasião do óbito. ciários e de seguro social, em favor de todos os funcioná-
Art. 257 – A prova das circunstâncias do falecimento rios e inativos;
será feita por junta médica oficial, que se valerá, se neces- III – plano de seguro compulsório para complementa-
sário, de laudo médico-legal, além da comprovação a que ção de proventos e pensões;
se refere o § 3º do artigo 115, quando for o caso. IV – assistência judiciária;
Art. 258  – Do valor da pensão concedida serão aba- V – financiamento para aquisição de imóvel destinado
tidas as importâncias correspondentes à pensão recebida à residência;
do IPERJ. VI – auxílio para a educação dos dependentes;

61
DIREITO ADMINISTRATIVO

VII – cursos e centros de treinamento, aperfeiçoamento Art. 273 – Fica excluído da proibição de acumular pro-
e especialização profissional; vento o aposentado quanto ao exercício de mandato eleti-
VIII – centros de aperfeiçoamento moral e cultural dos vo, cargo em comissão, função gratificada, ou ao contrato
funcionários e suas famílias, fora das horas de trabalho. para prestação de serviços técnicos ou especializados,
Art. 267 – A assistência, sob qualquer das formas, será bem quanto à participação em órgão de deliberação co-
prestada diretamente pelo Estado ou através de institui- letiva.
ções próprias, criadas por lei, às quais poderá o funcionário Parágrafo único  – Exceto quanto ao exercício de
ou inativo ser obrigatoriamente filiado. mandato eletivo, o disposto neste artigo não se aplica ao
Parágrafo único  – Para execução do disposto neste aposentado compulsoriamente, nem ao aposentado por
artigo poderão ser celebrados convênios com entidades invalidez, se não cessadas as causas determinantes de sua
públicas ou privadas. aposentadoria.
Art. 268 – Legislação especial estabelecerá os planos, Art. 274 – Não se compreende na proibição de acu-
bem como as condições de organização e funcionamento mular, nem está sujeita a quaisquer limites, a percepção:
dos serviços assistenciais referidos neste Título. I – conjunta, de pensões civis ou militares;
Art. 269  – Nos trabalhos insalubres executados pe- II – de pensões, com vencimento ou salário;
los servidores do Estado, este é obrigado a fornecer-lhes, III – de pensões, com provento de disponibilidade,
gratuitamente, os equipamentos próprios exigidos pelas aposentadoria, jubilação ou reforma;
disposições específicas relativas à higiene e segurança do IV – de proventos resultantes de cargos legalmente
trabalho. acumuláveis;
Parágrafo único – Os equipamentos de que trata este V – de provento, com vencimento nos casos de acu-
artigo serão de uso obrigatório pelos servidores do Estado, mulação legal.
sob pena de suspensão. Art. 275 – Cargo técnico ou científico é aquele para
Art. 270  – Aos servidores contratados no exercício de cujo exercício seja indispensável e predominante a aplica-
função gratificada, e aos estagiários, aplicam-se as disposi- ção de conhecimento científico ou artístico de nível supe-
ções dos incisos IV, VII e VIII, do artigo 266, e as do artigo 269. rior de ensino.
Parágrafo único  – Aplica-se, ainda, aos servidores Parágrafo único – Considera-se, também, como téc-
contratados quando no exercício de função gratificada, e nico ou científico:
aos estagiários a que se refere o § 1º, do artigo 10, o esta- 1) o cargo para cujo exercício seja exigida habilita-
belecido nos incisos I e VI, do artigo 266. ção em curso legalmente classificado como técnico, de
segundo grau ou de nível superior de ensino;
TÍTULO VIII 2) o cargo de direção, privativo de ocupante de cargo
Do Regime Disciplinar técnico ou científico.
CAPÍTULO I Art. 276 – Cargo de Professor é o que tem como atri-
Da Acumulação buição principal e permanente lecionar em qualquer grau
ou ramo de ensino legalmente previsto.
Art. 271 – É vedada a acumulação remunerada de car- Parágrafo único – Inclui-se, também, para efeito de
gos e funções públicas, exceto a de: acumulação, o cargo de direção privativo de professor.
I – um cargo de juiz com outro de magistério superior; Art. 277  – A simples denominação de “técnico” ou
II – dois cargos de professor;  “científico” não caracteriza como tal o cargo que não sa-
III – um cargo de professor com outro técnico ou cien- tisfizer às condições dos artigos 275 e 276.
tífico Parágrafo único – As atribuições do cargo, para efei-
IV – dois cargos privativos de médico. to de reconhecimento de seu caráter técnico ou científico,
§ 1º - A acumulação, em qualquer dos casos, só é per- serão consideradas na forma do parágrafo único do arti-
mitida quando haja correlação de matérias e compatibili- go 278.
dade de horários. Art. 278 – A correlação de matéria pressupõe a exis-
§ 2º  - A proibição de acumular se estende a cargos, tência de relação íntima e recíproca entre os conhecimen-
funções de qualquer modalidade ou empregos no Poder tos específicos, cujo ensino ou aplicação constitua atri-
Público Federal, Estadual ou Municipal, da Administração buição principal dos cargos acumuláveis, de sorte que o
Centralizada ou Autárquica, inclusive em sociedade de eco- exercício simultâneo favoreça o melhor desempenho de
nomia mista e empresas públicas. ambos os cargos.
§ 3º  - A supressão do pagamento relativo a um dos Parágrafo único – Tal relação não se haverá por pre-
cargos, funções ou empregos referidos no parágrafo ante- sumida, mas terá de ficar provada mediante consulta a
rior, não descaracteriza a proibição de acumular, salvo nas dados objetivos, tais como os programas de ensino, no
hipóteses previstas no § 1º do artigo 10, nos artigos 23 e caso de professor, e as atribuições legais, regulamenta-
24, e no § 4º, do artigo 35. res ou regimentais do cargo, no caso de cargo técnico ou
Art. 272 – O funcionário não poderá participar de mais científico.
de um órgão de deliberação coletiva, com direito à remu- Art. 279 – Para os efeitos deste Capítulo, a expressão
neração, seja qual for a natureza desta, nem exercer mais “cargo” compreende os cargos, funções ou empregos re-
de uma função gratificada. feridos no § 2º do artigo 271.

62
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 280  – A compatibilidade de horários será reco- IV – discrição;


nhecida quando houver possibilidade do exercício dos V – boa conduta;
dois cargos, em horários diversos, sem prejuízo do núme- VI – lealdade e respeito às instituições constitucionais e
ro regulamentar de horas de trabalhos determinado para administrativas a que servir;
cada um. VII – observância das normas legais e regulamentares;
§ 1º - A verificação dessa compatibilidade far-se-á ten- VIII – observância às ordens superiores, exceto quando
do em vista o horário do servidor na unidade administra- manifestamente ilegais;
tiva em que estiver lotado, ainda que ocorra a hipótese de IX – levar ao conhecimento de autoridade superior ir-
estar dela legalmente afastado. regularidades de que tiver ciência em razão do cargo ou
§ 2º - No caso de cargos a serem exercidos no mesmo função;
local ou em municípios diferentes, levar-se-á em conta a X – zelar pela economia e conservação do material que
necessidade de tempo para a locomoção entre um e outro. lhe for confiado;
Art. 281  – O funcionário que ocupe dois cargos em XI – providenciar para que esteja sempre em ordem, no
regime de acumulação legal poderá ser investido em cargo assentamento individual, sua declaração de família;
em comissão, desde que, com relação a um deles, continue XII – atender prontamente às requisições para defesa
no exercício de suas atribuições, observado sempre o dis- da Fazenda Pública e à expedição de certidões para defesa
posto no artigo anterior. de direito;
§ 1º - Ocorrendo a hipótese, o ato de provimento do XIII – guardar sigilo sobre a documentação e os assun-
funcionário mencionará em qual das duas condições fun- tos de natureza reservada de que tenha conhecimento em
cionais está sendo nomeado para que, em relação ao outro razão do cargo ou função;
cargo, seja observado o disposto neste artigo. XIV – submeter-se à inspeção médica determinada por
§ 2º - O tempo de serviço, bem como quaisquer direi- autoridade competente, salvo justa causa.
tos ou vantagens adquiridos em função de determinada
situação jurídica, são insuscetíveis de serem computados CAPÍTULO III
ou usufruídos em outras, salvo se extinto seu fato gerador. Das Proibições
§ 3º - Se computados na hipótese do parágrafo ante-
rior, in fine, em determinada situação, a ela ficarão indisso-
Art. 286 – Ao funcionário é proibido:
luvelmente ligados, ressalvado o caso de ocorrer também
I – referir-se de modo depreciativo, em informação, pa-
sua extinção.
recer ou despacho, às autoridades e atos da Administração
Art. 282 – Verificada, em processo administrativo disci-
Pública, ou censurá-los, pela imprensa ou qualquer outro
plinar, a acumulação proibida, e provada a boa fé, o funcio-
órgão de divulgação pública, podendo, porém, em traba-
nário optará por um dos cargos, sem obrigação de restituir.
§ 1º - Provada a má fé, além de perder ambos os car- lho assinado, criticá-los, do ponto de vista doutrinário ou
gos, restituirá o que tiver percebido indevidamente pelo da organização do serviço;
exercício do cargo que gerou a acumulação. II – retirar, modificar ou substituir livro ou documento
§ 2º - Na hipótese do parágrafo anterior, se o cargo ge- de órgão estadual, com o fim de criar direito ou obrigação,
rador da acumulação proibida for de outra esfera de Poder ou de alterar a verdade dos fatos, bem como apresentar
Público, o funcionário restituirá o que houver percebido documento falso com a mesma finalidade;
desde a acumulação ilegal. III – valer-se do cargo ou função para lograr proveito
§ 3º - Apurada a má fé do inativo, este sofrerá a cas- pessoal em detrimento da dignidade da função pública;
sação de sua aposentadoria ou disponibilidade, obrigado, IV – coagir ou aliciar subordinados com objetivo de na-
ainda, a restituir o que tiver recebido indevidamente. tureza partidária;
Art. 283  – A inexatidão das declarações feitas pelo V – participar de diretoria, gerência, administração,
funcionário no cumprimento da exigência constante do in- conselho técnico ou administrativo, de empresa ou socie-
ciso IV, do artigo 15, constituirá presunção de má fé, ense- dade:
jando, de logo, a suspensão do pagamento do respectivo 1) contratante, permissionária ou concessionária de
vencimento e vantagens, ou provento. serviço público;
Art. 284 – As acumulações serão objeto de estudo e 2) fornecedora de equipamento ou material de qual-
parecer individuais por parte do órgão estadual para esse quer natureza ou espécie, a qualquer órgão estadual;
fim criado, que fará a apreciação de sua legalidade, ainda 3) de consultoria técnica que execute projetos e estu-
que um dos cargos integre os quadros de outra esfera de dos, inclusive de viabilidade, para órgãos públicos.
poder. VI – praticar a usura, em qualquer de suas formas, no
âmbito do serviço público;
CAPÍTULO II VII – pleitear, como procurador ou intermediário, junto
Dos Deveres aos órgãos estaduais, salvo quando se tratar de percepção
de vencimento, remuneração, provento ou vantagem de
Art. 285 – São deveres do funcionário: parente, consanguíneo ou afim, até o segundo grau civil;
I – assiduidade; VIII – exigir, solicitar ou receber propinas, comissões,
II – pontualidade; presentes ou vantagens de qualquer espécie em razão do
III – urbanidade; cargo ou função, ou aceitar promessa de tais vantagens;

63
DIREITO ADMINISTRATIVO

IX – revelar fato ou informação de natureza sigilosa, CAPÍTULO V


de que tenha ciência em razão do cargo ou função, salvo Das Penalidades
quando se tratar de depoimento em processo judicial, po-
licial ou administrativo; Art. 292 – São penas disciplinares:
X – cometer à pessoa estranha ao serviço do Estado, I – advertência;
salvo nos casos previstos em lei, o desempenho de encargo II – repreensão;
que lhe competir ou a seus subordinados; III – suspensão;
XI – dedicar-se, nos locais e horas de trabalho, a pales- VI – multa;
tras, leituras ou quaisquer outras atividades estranhas ao V – destituição de função;
serviço, inclusive ao trato de interesses de natureza parti- VI – demissão;
cular; VII – cassação de aposentadoria, jubilação e disponibilidade.
XII – deixar de comparecer ao trabalho sem causa jus- Art. 293  – Na aplicação das penas disciplinares serão
tificada; consideradas a natureza e a gravidade da infração, os danos
XIII – empregar material ou quaisquer bens do Estado que dela provierem para o serviço público e os antecedentes
em serviço particular; funcionais do servidor.
XIV – retirar objetos de órgãos estaduais, salvo quando Parágrafo único – As penas impostas ao funcionário se-
autorizado por escrito pela autoridade competente; rão registradas em seus assentamentos.
XV – fazer cobranças ou despesas em desacordo com o Art. 294 – A pena de advertência será aplicada verbal-
estabelecido na legislação fiscal e financeira; mente em casos de negligência e comunicada ao órgão de
XVI – deixar de prestar declaração em processo admi- pessoal.
nistrativo disciplinar, quando regularmente intimado; Art. 295 – A pena de repreensão será aplicada por escrito
XVII – exercer cargo ou função pública antes de aten- em casos de desobediência ou falta de cumprimento dos de-
didos os requisitos legais, ou continuar a exercê-lo, saben- veres, bem como de reincidência específica em transgressão
do-o indevidamente. punível com pena de advertência.
Parágrafo único – Havendo dolo ou má fé, a falta de cum-
CAPÍTULO IV
primento dos deveres será punida com pena de suspensão.
Da Responsabilidade
Art. 296 – A pena de suspensão será aplicada nos casos de:
I – falta grave;
Art. 287 – Pelo exercício irregular de suas atribuições,
II – desrespeito a proibições que, pela sua natureza, não
o funcionário responde civil, penal e administrativamente.
ensejarem pena de demissão;
Art. 288 – A responsabilidade civil decorre de proce-
III – reincidência em falta já punida com repreensão.
dimento doloso ou culposo que importe em prejuízo da
§ 1º - A pena de suspensão não poderá exceder a 180
Fazenda Estadual ou de terceiros.
§ 1º - Ressalvado o disposto no artigo 148, in fine, o (cento e oitenta) dias.
prejuízo causado à Fazenda estadual, no que exceder os § 2º - O funcionário suspenso perderá todas as vantagens
limites da fiança, poderá ser ressarcido mediante desconto e direitos decorrentes do exercício do cargo.
em prestações mensais não excedentes da décima parte § 3º - Quando houver conveniência para o serviço, a pena
do vencimento ou remuneração, à falta de outros bens que de suspensão, por iniciativa do chefe imediato do funcionário,
respondam pela indenização. poderá ser convertida em multa, na base de 50% (cinquenta
§ 2º  - Tratando-se de dano causado a terceiros, res- por cento) por dia de vencimento ou remuneração, obrigado,
ponderá o funcionário perante a Fazenda Estadual em ação nesse caso, o funcionário a permanecer no serviço durante o
regressiva proposta depois de transitar em julgado a deci- número de horas de trabalho normal.
são que houver condenado a Fazenda a indenizar o terceiro Art. 297 – A destituição de função dar-se-á quando veri-
prejudicado. ficada falta de exação no cumprimento do dever.
Art. 289 – A responsabilidade penal abrange os crimes Parágrafo único – O disposto neste artigo não impede a
e contravenções imputados ao funcionário nessa qualida- aplicação da pena disciplinar cabível quando o destituído for,
de. também, ocupante de cargo efetivo.
Art. 290 – A responsabilidade administrativa resulta de Art. 298 – A pena de demissão será aplicada nos casos de:
atos praticados ou omissões ocorridas no desempenho do I – falta relacionada no art. 286, quando de natureza gra-
cargo ou função, ou fora dele, quando comprometedores ve, a juízo da autoridade competente, e se comprovada má fé;
da dignidade e do decoro da função pública. II – incontinência pública e escandalosa ou prática de jo-
Art. 291 – As cominações civis, penais e disciplinares gos proibidos;
poderão cumular-se, sendo umas e outras independentes III – embriaguez, habitual ou em serviço;
entre si, bem assim as instâncias civil, penal e administra- IV – ofensa física, em serviço, contra funcionário ou parti-
tiva. cular, salvo em legítima defesa;
Parágrafo único – Só é admissível, porém, a ação dis- V – abandono de cargo;
ciplinar ulterior à absolvição no juízo penal, quando, em- VI – ausência ao serviço, sem causa justificada, por 60
bora afastada a qualificação do fato com crime, persista, (sessenta) dias, interpoladamente, durante o período de 12
residualmente, falta disciplinar. (doze) meses;

64
DIREITO ADMINISTRATIVO

VII – insubordinação grave em serviço; Art. 303 – Prescreverá:


VIII – ineficiência comprovada, com caráter de habi- I – em 2 (dois) anos, a falta sujeita às penas de adver-
tualidade, no desempenho dos encargos de sua compe- tência, repreensão, multa ou suspensão;
tência; II – em 5 (cinco) anos, a falta sujeita:
IX – desídia no cumprimento dos deveres. 1) à pena de demissão ou destituição de função;
§ 1º - Considera-se abandono de cargo a ausência ao 2) à cassação da aposentadoria, jubilação ou disponi-
serviço, sem justa causa, por 30 (trinta) dias consecutivos. bilidade.
§ 2º  - Entender-se-á por ausência ao serviço, com § 1º - A falta também prevista como crime na lei penal
justa causa, a que assim for considerada após a devida prescreverá juntamente com este.
comprovação em processo administrativo disciplinar, caso § 2º - O curso da prescrição começa a fluir da data do
em que as faltas serão justificadas apenas para fins disci- evento punível disciplinarmente, ou do seu conhecimento,
plinares  e interrompe-se pela abertura de processo administrativo
§ 3º  - A demissão aplicada nas hipóteses previstas disciplinar.
nos incisos I a IX, quando estas tiverem uma configuração
penal típica, será cancelada e o funcionário reintegrado
TÍTULO IX
administrativamente, se e quando o pronunciamento da
Do Processo Administrativo Disciplinar e da sua
Justiça for favorável ao indiciado, sem prejuízo, porém, da
Revisão
ação disciplinar que couber, na forma do parágrafo único
do artigo 291. CAPÍTULO I
§ 4º  - Será, ainda, demitido o funcionário que, nos Disposições Gerais
termos da lei penal, incorrer na pena acessória de perda
da função pública. Art. 304 – Poder disciplinar é a faculdade conferida ao
Art. 299 – O ato de demissão mencionará sempre a Administrador Público com o objetivo de possibilitar a pre-
causa da penalidade. venção e repressão de infrações funcionais de seus subor-
Art. 300  – Conforme a gravidade da falta, a demis- dinados, no âmbito interno da Administração.
são poderá ser aplicada com a nota “a bem do serviço Art. 305 – Constitui infração disciplinar toda ação ou
público”. omissão do funcionário capaz de comprometer a dignida-
Art. 301 – A pena de cassação de aposentadoria, jubi- de e o decoro da função pública, ferir a disciplina e a hie-
lação ou de disponibilidade será aplicada se ficar provado, rarquia, prejudicar a eficiência do serviço ou causar dano à
em processo administrativo disciplinar, que o aposentado Administração Pública.
ou disponível: Art. 306 – A autoridade que tiver ciência de qualquer
I – praticou, quando ainda no exercício do cargo, falta irregularidade no serviço público é obrigada a promover-
suscetível de determinar demissão; -lhe a apuração imediata, por meios sumários ou mediante
II – aceitou, ilegalmente, cargo ou função pública, processo administrativo disciplinar.
provada a má fé;
III – perdeu a nacionalidade brasileira, ou, se portu- CAPÍTULO II
guês, for de declarada extinta a igualdade de direitos e Da Prisão Administrativa e da
obrigações civis e do gozo de direitos políticos. Suspensão Preventiva
Parágrafo único – Será cassada a disponibilidade do
funcionário que não assumir, no prazo legal, o exercício Art. 307  – Cabe aos Secretários de Estado e demais
do cargo ou função em que for aproveitado. dirigentes de órgãos diretamente subordinados ao Gover-
Art. 302 – São competentes para aplicação de penas nador ordenar, fundamentalmente e por escrito, a prisão
disciplinares:
administrativa do funcionário responsável pelo alcance,
I – O Governador, em qualquer caso e, privativamente,
desvio ou omissão em efetuar as entradas, nos devidos
nos casos de demissão, cassação de aposentadoria, jubi-
prazos, de dinheiro ou valores pertencentes à Fazenda Es-
lação ou disponibilidade;
II – os Secretários de Estado e demais titulares de ór- tadual ou que se acharem sob a guarda desta.
gãos diretamente subordinados ao Governador em todos § 1º - A autoridade que ordenar a prisão comunicará
os casos, exceto nos de competência privativa do Gover- imediatamente o fato à autoridade judiciária competente e
nador; providenciará no sentido de ser realizado, com urgência, o
III – os dirigentes de unidades administrativas em ge- processo de tomada de contas.
ral, nos casos de penas de advertência, repreensão, sus- § 2º - A prisão administrativa, que será cumprida em
pensão até 30 (trinta) dias e multa correspondente. estabelecimento especial e não excederá de 90 (noventa)
§ 1º - A aplicação da pena de destituição de função dias, será relaxada tão logo seja efetuada a reposição do
caberá à autoridade que houver feito a designação do quantum relativo ao alcance ou desfalque.
funcionário. § 3º - Não se ordenará a prisão administrativa quando
§ 2º - Nos casos dos incisos II e III, sempre que a pena o valor da fiança seja suficiente para garantir o ressarci-
decorrer de processo administrativo disciplinar, a compe- mento de prejuízo causado à Fazenda Estadual, ou quando
tência para decidir e para aplicá-la é do Secretário de Es- o responsável pela malversação, alcance ou desfalque haja
tado de Administração. oferecido as necessárias garantias de indenização.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 308 – A suspensão preventiva até 30 (trinta) dias responsável pela apuração comunicará o fato ao superior
será ordenada pelas autoridades mencionadas no artigo imediato que solicitará, pelos canais competentes, a instau-
308, desde que o afastamento do funcionário seja necessá- ração de processo administrativo disciplinar.
rio para que este não venha a influir na apuração da falta. Art. 314 – São competentes para determinar a apura-
§ 1º - A suspensão de que trata este artigo poderá, ain- ção sumária de irregularidades, ocorridas no serviço públi-
da, ser ordenada pelo Secretário de Estado de Administra- co do Estado, os dirigentes de unidades administrativas até
ção, no ato de instauração de processo administrativo dis- o nível de Chefe de Seção.
ciplinar, e estendida até 90 (noventa) dias, findos os quais § 1º - Se o fato envolver a pessoa do chefe da unidade
cessarão automaticamente os efeitos da mesma, ainda que administrativa, a abertura de sindicância caberá ao superior
o processo não esteja concluído. hierárquico imediato.
§ 2º - O funcionário suspenso preventivamente poderá § 2º  - Em qualquer caso, a designação será feita por
ser administrativamente preso. escrito.
§ 3º - Não estando preso administrativamente, o fun- Art. 315 – O sindicante deverá colher todas as infor-
cionário que responder por malversação ou alcance de di- mações necessárias, ouvindo o denunciante, à autoridade
nheiro ou valores públicos será sempre suspenso preven- que ordenou a sindicância, quando conveniente; o suspei-
tivamente, e seu afastamento se prolongará até a decisão to, se houver; os servidores e os estranhos eventualmente
final do processo administrativo disciplinar. relacionados com o fato, bem como procedendo à juntada
Art. 309 – A prisão administrativa e a suspensão pre- do expediente de instauração da sindicância e de quais-
ventiva são medidas acautelatórias e não constituem pena. quer documentos capazes de bem esclarecer o ocorrido.
Art. 310 – O funcionário, afastado em decorrência das Art. 316 – Por se tratar de apuração sumária, as decla-
medidas acautelatórias referidas no artigo anterior, terá di- rações do servidor suspeito serão recebidas também como
reito: defesa, dispensada a citação para tal fim, assegurada, po-
I – à contagem de tempo de serviço relativo ao afasta- rém, a juntada pelo mesmo, no prazo de 5 (cinco) dias, de
mento, desde que reconhecida sua inocência afinal; quaisquer documentos que considere úteis.
II – à contagem do tempo de serviço relativo à suspen- Art. 317 – A sindicância não poderá exceder o prazo
são preventiva, se do processo resultar pena disciplinar de de 30 (trinta) dias, prorrogável uma única vez até 8 (oito)
advertência ou repreensão; dias em caso de força maior, mediante justificativa à autori-
III – à contagem do período de afastamento que exce- dade que houver determinado a sindicância.
der do prazo da suspensão disciplinar aplicada. Art. 318 – Comprovada a existência ou inexistência de
§ 1º - O cômputo do tempo de serviço nos termos des- irregularidades deverá ser, de imediato, apresentado rela-
te artigo implica o direito à percepção do vencimento e tório de caráter expositivo, contendo, exclusivamente, de
vantagens no período correspondente. modo claro e ordenado, os elementos fáticos colhidos ao
§ 2º - Será computado na duração da pena ou suspen- curso da sindicância, abstendo-se o relator de quaisquer
são disciplinar imposta o período de afastamento decor- observações ou conclusões de cunho jurídico, deixando à
rente de medida acautelatória. autoridade competente a capitulação das eventuais trans-
§ 3º  - Ocorrendo a hipótese do parágrafo anterior, o gressões disciplinares verificadas.
funcionário restituirá, na proporção do que houver rece- Art. 319 – Recebido o relatório, caso tenha sido con-
bido, o vencimento e vantagens percebidos na forma do figurada irregularidade e identificado o seu autor, a auto-
disposto no inciso I, do artigo 145. ridade que houver promovido a sindicância aplicará, de
imediato, a pena disciplinar cabível, ressalvada a hipótese
CAPÍTULO III prevista no artigo 313.
Da Apuração Sumária de Irregularidade
CAPÍTULO IV
Art. 311 – A apuração sumária por meio de sindicân- Do Processo Administrativo Disciplinar
cia não ficará adstrita ao rito determinado para o processo
administrativo disciplinar, constituindo-se em simples ave- Art. 320 – O processo administrativo disciplinar prece-
riguação. derá sempre a aplicação das penas de suspensão por mais
Parágrafo único – A critério da autoridade que a ins- de 30 (trinta) dias, destituição de função, demissão, cassa-
taurar, e segundo a importância maior ou menor do evento, ção de aposentadoria, jubilação ou disponibilidade.
a sindicância poderá ser realizada por um único funcionário Art. 321 – A determinação de instauração do processo
ou por uma Comissão de 3 (três) servidores, preferivelmen- administrativo disciplinar é da competência do Secretário
te efetivos. de Estado de Administração, inclusive em relação a servi-
Art. 312  – A instauração de sindicância não impede dores autárquicos.
a adoção imediata, através de comunicação à autoridade Art. 322 – Promoverá o processo uma das Comissões
competente, das medidas acautelatórias previstas no Capí- Permanentes de Inquérito Administrativo da Secretaria de
tulo II, deste Título. Estado de Administração.
Art. 313 – Se, no curso da apuração sumária, ficar evi- Parágrafo único – Não se aplica a regra estabelecida
denciada falta punível com pena superior à de suspensão neste artigo aos casos previstos no parágrafo único do ar-
por mais de 30 (trinta) dias, ou multa correspondente, o tigo anterior.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 323  – Se, de imediato ou no curso do processo Art. 330 – Nenhum acusado será julgado sem defesa,
administrativo disciplinar, ficar evidenciado que a irregula- que poderá ser produzida em causa própria.
ridade envolve crime, a autoridade instauradora ou o Pre- Parágrafo único  – A constituição de defensor inde-
sidente da Comissão a comunicará ao Ministério Público. penderá de instrumento de mandato, se o acusado o indi-
Parágrafo único – Quando a autoridade policial tiver car por ocasião do interrogatório.
conhecimento de crime praticado por funcionário público Art. 331 – Sempre que o acusado requeira, será desig-
com violação de dever inerente ao cargo, ou com abuso de nado pelo Presidente da Comissão um funcionário estável,
poder, fará comunicação do fato à autoridade administra- bacharel em Direito, para promover-lhe a defesa, ressalva-
tiva competente para a instauração do processo disciplinar do o seu direito de, a todo tempo, nomear outro de sua
cabível. confiança ou a si mesmo, na hipótese da parte final do
Art. 324 – O processo administrativo disciplinar deverá caput do artigo anterior.
estar concluído no prazo de 90 (noventa) dias, contados Art. 332 – Em caso de revelia, o Presidente da Comis-
da data em que os autos chegarem à Comissão prorrogá- são designará, de ofício, um funcionário efetivo, bacharel
veis sucessivamente por períodos de 30 (trinta) dias, até em Direito, para defender o indiciado.
o máximo de 3 (três), em caso de força maior e a juízo do § 1º  - O defensor do acusado, quando designado
Secretário de Estado de Administração. pelo Presidente da Comissão, não poderá abandonar o
§ 1º - A não observância desses prazos não acarretará processo senão por motivo imperioso, sob pena de res-
nulidade do processo, importando, porém, quando não se ponsabilidade.
tratar de sobrestamento, em responsabilidade administra- § 2º  - A falta de comparecimento do defensor, ainda
tiva dos membros da Comissão. que motivada, não determinará o adiantamento de ato al-
§ 2º  - O sobrestamento do processo administrativo gum do processo, devendo o Presidente da Comissão de-
disciplinar só ocorrerá em caso de absoluta impossibilida- signar substituto, ainda que provisoriamente ou para só o
de de prosseguimento, a juízo do Secretário de Estado de efeito do ato.
Administração. Art. 333 – Para assistir pessoalmente aos atos proces-
Art. 325 – Os órgãos estaduais, sob pena de respon- suais, fazendo-se acompanhar de defensor, se assim o qui-
sabilidade de seus titulares, atenderão com a máxima ser, o acusado será sempre intimado, e poderá, nas inqui-
presteza às solicitações da Comissão, inclusive requisição rições, levantar contradita, formular perguntas e reinquirir
testemunhas; nas perícias apresentar assistente e formular
de técnicos e peritos, devendo comunicar prontamente a
quesitos cujas respostas integrarão o laudo; e fazer juntada
impossibilidade de atendimento em caso de força maior.
de documentos em qualquer fase do processo.
Art. 326 – A Comissão assegurará, no processo admi-
Parágrafo único – Se, nas perícias, o assistente divergir
nistrativo disciplinar, o sigilo necessário à elucidação do
dos resultados, poderá oferecer observações escritas que
fato ou o exigido pelo interesse da Administração.
serão examinadas no relatório final e na decisão.
Art. 327 – Quando a infração deixar vestígio, será in-
Art. 334 – No interrogatório do acusado, seu defensor
dispensável o exame pericial, direto ou indireto, não po-
não poderá intervir de qualquer modo nas perguntas e nas
dendo supri-lo a confissão do acusado.
respostas.
Parágrafo único  – A autoridade julgadora não ficará Art. 335 – Antes de indiciado, o funcionário intimado
adstrita ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo a prestar declarações à Comissão poderá fazer-se acompa-
ou em parte. nhar de advogado, que, entretanto, observará o disposto
Art. 328 – A acareação será admitida entre acusados, no artigo anterior.
entre acusados e testemunhas e entre testemunhas, sem- Parágrafo único  – Não se deferirá, nessa fase, qual-
pre que divergirem em suas declarações sobre fatos ou cir- quer diligência requerida.
cunstâncias relevantes. Art. 336 – Concluída a defesa, a Comissão remeterá
Parágrafo único – Os acareados serão reperguntados, o processo à autoridade competente, com relatório onde
para que expliquem os pontos de divergência, reduzindo- será exposta a matéria de fato e de direito, concluindo pela
-se a termo o ato de acareação. inocência ou responsabilidade do indiciado, indicando, no
Art. 329  – Ultimada a instrução, será feita, no prazo último caso, as disposições legais que entender transgredi-
de 3 (três) dias, a citação do indiciado para apresentação das e a pena que julgar cabível.
de defesa no prazo de 10 (dez) dias, sendo-lhe facultada Art. 337 – Recebido o processo, o Secretário de Estado
vista do processo, durante todo esse período, na sede da de Administração proferirá a decisão no prazo de 20 (vinte)
Comissão. dias, ou o submeterá, no prazo de 8 (oito) dias, ao Gover-
§ 1º - Havendo dois ou mais indiciados, o prazo será nador, para que julgue nos 20 (vinte) dias seguintes ao seu
comum e de 20 (vinte) dias. recebimento.
§ 2º - Estando o indiciado em lugar incerto, será citado Parágrafo único  – A autoridade julgadora decidirá à
por edital, publicado 3 (três) vezes no órgão oficial de im- vista dos fatos apurados pela Comissão, não ficando, toda-
prensa durante 15 (quinze) dias, contando-se o prazo de 10 via, vinculada às conclusões do relatório.
(dez) dias para a defesa da última publicação. Art. 338 – Quando a autoridade julgadora entender
§ 3º - O prazo de defesa poderá ser prorrogado pelo que os fatos não foram apurados devidamente, determina-
dobro, para diligências consideradas imprescindíveis. rá o reexame do processo.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º - Na hipótese do artigo, os autos retornarão à Co- Art. 348  – O julgamento caberá ao Governador, no
missão para cumprimento das diligências expressamente prazo de 30 (trinta) dias, podendo, antes, o Secretário de
determinadas e consideradas indispensáveis à decisão da Estado de Administração determinar diligências, concluídas
autoridade julgadora. as quais se renovará o prazo.
§ 2º - As diligências determinadas na forma do pará- Art. 349 – Julgada procedente a revisão, será tornada
grafo anterior serão cumpridas no prazo máximo de 30 sem efeito a pena imposta, restabelecendo-se todos os di-
(trinta) dias. reitos por ela atingidos.
§ 3º - Verificado o caso tratado neste artigo, o prazo
de julgamento será contado da data do novo recebimento TÍTULO X
do processo. Disposições Gerais e Transitórias
Art. 339 – Em caso de abandono de cargo ou função,
a Comissão iniciará seu trabalho fazendo publicar, por 3 Art. 350 – O Secretário de Estado de Administração ex-
(três) vezes, edital de chamada do acusado, no prazo máxi- pedirá os atos complementares de natureza procedimental
mo de 20 (vinte) dias. necessários à plena execução das disposições do presente
§ 1º - O prazo para apresentação da defesa pelo acu- Regulamento.
sado começará a correr da última publicação do edital no Art. 351 – O dia 28 de outubro será consagrado ao
órgão oficial. Servidor Público do Estado.
§ 2º - Findo o prazo do parágrafo anterior e não ha- Art. 352 – Quando, para efeitos específicos, não estiver
vendo manifestação do faltoso, ser-lhe-á designado pelo definido de forma diversa, consideram-se pertencentes à
Presidente da Comissão defensor, que se desincumbirá do família do funcionário, além do cônjuge e filhos, quaisquer
encargo no prazo de 15 (quinze) dias, contados da data de pessoas que, necessária e comprovadamente, vivam a suas
sua designação. expensas e constem do seu assentamento individual.
Art. 340 – A Comissão, recebendo a defesa, fará a sua Art. 353 – Os prazos previstos neste Regulamento se-
apreciação sobre as alegações e encaminhará relatório à rão contados por dias corridos.
autoridade instauradora, propondo o arquivamento do Parágrafo único – Na contagem dos prazos observar-
processo ou a expedição do ato de demissão, conforme -se-á ainda:
o caso. 1) Os prazos dependentes de publicação serão dilata-
dos de tantos dias quantos forem os relativos ao atraso na
Art. 341  – O processo administrativo disciplinar de
circulação do órgão oficial;
abandono de cargo observará, no que couber, as disposi-
2) Excluir-se-á o dia do começo e incluir-se-á o do
ções deste Capítulo.
vencimento, prorrogando-se este para o primeiro dia útil
Art. 342  – O funcionário só poderá ser exonerado a
seguinte, quando incidir em Sábado, Domingo, feriado ou
pedido após a conclusão do processo administrativo dis-
ponto facultativo, ou por qualquer motivo não houver ou
ciplinar a que responder e do qual não resultar pena de
for suspenso o expediente nas repartições públicas.
demissão. Art. 354 – É vedado ao funcionário e ao contratado ser-
vir sob a direção imediata do cônjuge ou parente até o se-
CAPÍTULO V gundo grau, salvo em funções de confiança ou livre escolha,
Da Revisão não podendo, neste caso, exceder de 2 (dois) o seu número.
Art. 355 – A função de jornalista profissional é compa-
Art. 343 – Poderá ser requerida a revisão do proces- tível com a de servidor público, desde que este não exerça
so administrativo de que haja resultado pena disciplinar, aquela atividade no órgão onde trabalha e não incida em
quando forem aduzidos fatos ainda não conhecidos, com- acumulação ilegal.
probatórios da inocência do funcionário punido. Art. 356 – Aos servidores do Estado regidos por legisla-
Parágrafo único  – Tratando-se de funcionário faleci- ção especial não se reconhecerão direitos nem se deferirão
do, desaparecido ou incapacitado de requerer, a revisão vantagens pecuniárias previstos neste regulamento, quan-
poderá ser solicitada por qualquer pessoa. do, por força do regime especial a que se achem sujeitos,
Art. 344 – A revisão processar-se-á em apenso ao pro- fizerem jus a direitos e vantagens com a mesma finalidade,
cesso originário. ressalvado o caso de acumulação legal.
Art. 345 – Não constitui fundamento para a revisão a Art. 357 – Por motivo de convicção filosófica, religiosa
simples alegação de injustiça da penalidade. ou política, nenhum servidor poderá ser privado de qual-
Art. 346 – O requerimento devidamente instruído será quer de seus direitos, nem sofrer alteração em sua atividade
encaminhado ao Governador que decidirá sobre o pedido. funcional.
Art. 347 – Autorizada a revisão, o processo será enca- Art. 358 – Com a finalidade de elevar a produtividade
minhado à Comissão Revisora, que concluirá o encargo no dos servidores e ajustá-los às suas tarefas e ao seu meio de
prazo de 90 (noventa) dias, prorrogável pelo período de trabalho, o Estado promoverá o treinamento necessário, na
30 (trinta) dias, a juízo do Secretário de Estado de Admi- forma de regulamentação própria.
nistração. Art. 359  – Mediante seleção e concurso adequados,
Parágrafo único – No desenvolvimento de seus traba- poderão ser admitidos servidores de capacidade física re-
lhos a Comissão Revisora observará as disposições do Ca- duzida, inclusive os portadores de cegueira parcial ou total,
pítulo anterior, no que couber, e não colidir com as deste. para cargos ou empregos especificados em lei.

68
DIREITO ADMINISTRATIVO

Parágrafo único – Aos servidores admitidos na forma CAPÍTULO I


deste artigo, não se concederão quaisquer benefícios, di- DO INGRESSO
reitos ou vantagens em razão da deficiência física já exis-
tente ao tempo de sua admissão. Art. 2º - A nomeação será feita:
Art. 360 – O funcionário que, sem justa causa, deixar I – em caráter efetivo, mediante concurso público;
de atender a qualquer exigência para cujo cumprimento II – em comissão.
seja assinado prazo certo, terá suspenso o pagamento do Art. 3º - São requisitos para o ingresso no cargo efe-
vencimento e vantagens, até que satisfaça essa exigência, tivo:
sem prejuízo das sanções disciplinares cabíveis. I – ser de nacionalidade brasileira;
Art. 361  – Ao funcionário será fornecida, gratuita e II  – ter no mínimo 18 (dezoito) anos completos e no
obrigatoriamente, carteira de identificação funcional. máximo 35 (trinta e cinco) anos completos à data do encer-
Parágrafo único – A carteira a que se refere este arti- ramento das inscrições;
go será padronizada para todos os funcionários do Estado, III – estar em gozo dos direitos políticos;
segundo modelo a ser aprovado pelo Secretário de Estado IV – estar quite com as obrigações militares e eleitorais;
de Administração, salvo quando, pela natureza da ativida- V – possuir condições sociais e familiares compatíveis
de exercida, deva obedecer o modelo próprio. com a função policial;
Art. 362 – É vedada a prestação de serviços gratuitos, VI  – gozar de boa saúde, comprovada em inspeção
salvo os excepcionalmente prestados, que surtirão apenas médica;
efeito honorífico. VII – possuir aptidão física e psíquica para o exercício
Art. 363 – Este Regulamento é extensivo, no que lhes da função policial;
for aplicável, aos funcionários das autarquias estaduais. VIII  – ter sido habilitado e classificado, previamente,
Art. 364  – As disposições regulamentares de nature- em concurso pú blico de provas ou de provas e títulos, rea-
za estatutária que decorrerem do Plano de Cargos, lavrado lizado pela Academia de Polícia.
para cumprimento ao artigo 18 da Lei Complementar nº § 1º - Dependendo da natureza do cargo a ser provido,
20, de 1º de julho de 1974, bem como do Plano de Venci- o limite máximo de idade previsto no inciso II deste artigo
mentos que lhe corresponde, integrar-se-ão, para todos os poderá ser reduzido para até 25 (vinte e cinco) anos com-
efeitos, neste Regulamento. pletos.
Art. 4º - O período de validade dos concursos ficará a
critério do Secretário de Segurança Pública, assegurando-
-se o provimento dos cargos vagos pelos candidatos para
ESTATUTO DOS POLICIAIS CIVIS DO ESTADO esse fim habilitados em concurso, obedecida a ordem de
DO RIO DE JANEIRO (DECRETO-LEI Nº classificação.
218/75) E SEU REGULAMENTO (DECRETO Nº Art. 5º  - Aos candidatos nomeados será ministrado
3.044/79). curso profissionalizante na Academia de Polícia, sem pre-
juízo do serviço, de acordo com a conveniência da ativida-
de policial.
Art. 6º - Estágio Probatório é o período de 02 (dois)
DECRETO-LEI Nº 218, DE 18 DE JULHO DE 1975. anos de efetivo exercício, a contar da data de início deste,
durante o qual são apurados os requisitos necessários à
Dispõe Sobre O Regime Jurídico Peculiar Aos Funcio- confirmação do funcionário policial ao cargo efetivo para
nários Civis Do Serviço Policial Do Poder Executivo Do Rio o qual foi nomeado.
De Janeiro E Da Outras Providências. § 1º - Os requisitos de que trata este artigo são os se-
guintes:
O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO , 1) aprovação em curso de profissionalização na Acade-
no uso das atribuições que lhe confere o § 1º do art. 2º da mia de Polícia;
Lei Complementar nº 20, de 1º de julho de 1974. 2) idoneidade moral;
3) assiduidade;
DECRETA: 4) disciplina;
5) eficiência.
Título I § 2º  - Não Esta sujeito a novo estágio probatório o
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES funcionário que, nomeado para cargo do serviço policial,
já tenha adquirido estabilidade, sendo, porém, requisito
Art. 1º  - São policiais, abrangidos por este Decreto- indispensável à primeira promoção na série de classes a
-Lei, os funcionários legalmente investidos em cargos do aprovação em curso de profissionalização.
serviço policial. § 3º  - Trimestralmente, o responsável pelo órgão ou
Parágrafo único – Para os efeitos deste Decreto-Lei, é unidade administrativa em que esteja lotado o funcionário
considerado funcionário policial o ocupante do cargo em policial sujeito a estágio probatório, encaminhará ao órgão
comissão ou função gratificada com atribuições e respon- de pessoal, em boletim próprio, a apreciação sobre o com-
sabilidades de natureza policial. portamento do estagiário.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 4º - Quando o funcionário policial em estágio proba- 1 – a fim de prevenir ou reprimir perturbação da ordem
tório não preencher quaisquer dos requisitos numerados pública;
no § 1º deste artigo, deverá o chefe imediato comunicar 2 – quando solicitado por qualquer pessoa carente de
o fato ao órgão de pessoal, para o procedimento na forma socorro policial, encaminhando-a à autoridade competen-
da lei. te, quando insuficientes as providências de suas alçada.
Art. 11 – O policial ao se apresentar ao seu chefe, em
Capítulo II sua primeira lotação, prestará o compromisso seguinte:
DO CARGO E DA FUNÇÃO Prometo observar e fazer observar rigorosa obe-
diência às leis, desempenhar as minhas funções com
Art. 7º  - O exercício de cargo de natureza policial é desprendimento e probidade, considerando inerentes
privativo dos funcionários abrangidos por este Decreto-Lei. à minha pessoa a reputação e honorabilidade do órgão
Art. 8º - Caracteriza a função policial o exercício de ati- policial a que agora passo a servir.
vidades específicas desempenhadas pela autoridade, seus
agentes e auxiliares, para assegurar o cumprimento da lei, Título III
manutenção da ordem pública, a proteção de bens e pes- DA VIOLAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
soas, a prevenção da prática dos ilícitos penais e atribuições Capítulo I
de polícia judiciária. DA RESPONSABILIDADE
Art. 9º - A função policial, fundada na hierarquia e na
disciplina, é incompatível com qualquer outra atividade, sal- Art. 12 – Pelo exercício irregular de suas atribuições o
vo as exceções previstas em lei. funcionário policial responde civil, penal e administrativa-
Parágrafo único – Os círculos hierárquicos são âmbitos mente.
de convivência entre os policiais de mesma classe e têm a fi- Art. 13  – As cominações civis, penais e disciplinares
nalidade de desenvolver o espírito de camaradagem, em am- poderão cumular-se, sendo umas e outras independentes
biente de estima e confiança, sem prejuízo do respeito mútuo. entre si, bem assim as instâncias civil, penal e administra-
tiva.
Título II Art. 14 – São transgressões disciplinares:
Capítulo Único I – falta de assiduidade ou impontualidade habituais;
DO CÓDIGO DE ÉTICA POLICIAL II – interpor ou traficar influência alheia para solicitar
acesso, remoção, transferência ou comissionamento;
Art. 10  – O policial manterá observância, tanto mais III – dar informações inexatas, alterá-las ou desfigurá-
rigorosa quanto mais elevado for o grau hierárquico, dos -las;
seguintes preceitos de ética: IV – usar indevidamente os bens do Estado ou de ter-
I – servir à sociedade como obrigação fundamental; ceiros sob sua guarda ou não;
II – proteger vidas e bens; V – divulgar notícias sobre serviços ou tarefas em de-
III – defender o inocente e o fraco contra o engano e a senvolvimento ou realizadas pela repartição, ou contribuir
opressão; para que sejam divulgadas ou ainda, conceder entrevista
IV – preservar a ordem, repelindo a violência; sobre as mesmas sem autorização da autoridade compe-
V – respeitar os direitos e garantias individuais; tente;
VI – jamais revelar tibieza ante o perigo e o abuso; VI – dar, ceder insígnias ou carteira de identidade fun-
VII – exercer a função policial com probidade, discrição cional;
e moderação, fazendo observar as leis com lhaneza VII – deixar habitualmente de saldar dívidas legítimas
VIII  – não permitir que sentimentos ou animosidades ou de pagar com regularidade pensões a que esteja obri-
pessoais possam influir em suas decisões; gado por decisão judicial;
IX – ser inflexível, porém justo, no trato com os delin- VIII – manter relações de amizade ou exibir-se em pú-
quentes; blico, habitualmente, com pessoas de má reputação, exce-
X – respeitar a dignidade da pessoa humana; to em razão de serviço;
XI – preservar a confiança e o apreço de seus concida- IX – permutar o serviço sem expressa autorização de
dã os pelo exemplo de uma conduta irrepreensível na vida autoridade competente;
pública e na particular; X – ingerir bebidas alcoólicas quando em serviço;
XII – cultuar o aprimoramento técnico profissional; XI – afastar-se do município onde exerce suas ativida-
XIII – amar a verdade e a responsabilidade como fun- des, sem autorização superior;
damentos da ética do serviço policial; XII – deixar, sem justa causa, de submeter-se à inspeção
XIV  – obedecer às ordens superiores, exceto quando médica determinada em lei ou por autoridade competente;
manifestamente ilegais; XIII – valer-se do cargo com o fim ostensivo ou velado
XV – não abandonar o posto em que deva ser substituí- de obter proveito de natureza político-partidária, para si ou
do sem a chegada do substituto; para outrem;
XVI – respeitar e fazer respeitar a hierarquia do serviço XIV – simular doença para esquivar-se do cumprimen-
policial; to do dever;
XVII – prestar auxílio, ainda que não esteja em hora de XV  – agir, no exercício da função, com displicência,
serviço: deslealdade ou negligências;

70
DIREITO ADMINISTRATIVO

XVI  – intitular-se funcionário ou representante de re- Capítulo III


partição ou unidade policial a que não pertença; DAS PENAS DISCIPLINARES
XVII – maltratar preso sob sua guarda ou usar de vio-
lência desnecessária no exercício da função policial; Art. 16 – São penas disciplinares:
XVIII – deixar de concluir, nos prazos legais ou regu- I – advertência;
lamentares, sem motivos justos, inquéritos policiais, sindi- II – repreensão;
câncias, atos ou processos administrativos; III – suspensão;
XIX – participar de atividade comercial ou industrial ex- VI – demissão;
ceto como acionista, quotista ou comanditário; VII – cassação de aposentadoria ou disponibilidade.
XX  – deixar de tratar os superiores hierárquicos e os Art. 17  – Na aplicação das penas disciplinares serão
subordinados com a deferência e urbanidade devidas; considerados:
XXI – coagir ou aliciar subordinados com objetivos po- I – repercussão do fato;
líticos-partidários; II – danos decorrentes da transgressão ao serviço pú-
XXII – praticar usura em qualquer de suas formas; blico;
XXIII – apresentar parte, queixa ou representação in- III – causas de justificação;
fundadas contra superiores hierárquicos; IV – circunstâncias atenuantes;
XXIV  – indispor funcionários contra seus superiores V – circunstâncias agravantes;
hierárquicos ou provocar, velada ou ostensivamente, ani- VI – a classificação da gravidade estabelecida no artigo 15.
mosidade entre funcionários; § 1º - São causas de justificação:
XXV – insubordinar-se ou desrespeitar superior hierár- 1) motivo de forçam maior plenamente comprovado;
quico; 2) ter sido cometida a transgressão na prática de ação
XXVI – empenhar-se em atividades que prejudiquem o meritória, no interesse do serviço, da ordem ou da segu-
fiel desempenho da função policial; rança pública.
XXVII – utilizar, ceder, ou permitir que outrem use ob- § 2º - São circunstâncias atenuantes:
jetos arrecadados, recolhidos ou apreendidos pela polícia; 1)boa conduta funcional;
XXVIII – entregar-se à prática de jogos proibidos, ou 2)relevância dos serviços prestados;
ao vício da embriaguez, ou qualquer outro vício degra- 3)ter sido cometida a transgressão em defesa de direi-
dante; tos próprios ou de terceiros, ou para evitar mal maior.
XXIX – portar-se de modo inconveniente em lugar pú- § 3º - São circunstâncias agravantes:
blico ou acessível ao público; 1) má conduta funcional;
XXX – esquivar-se, na ausência de autoridade compe- 2) prática simultânea ou conexão de duas ou mais
tente, de atender a ocorrências passíveis de intervenção transgressões;
policial que presencie ou de que tenha conhecimento ime- 3) reincidência;
diato, mesmo fora de escala de serviço; 4) ser praticada a transgressão em conluio por duas ou
XXXI  – cometer opiniões ou conceitos desfavoráveis mais pessoas, durante a execução do serviço, em presença
aos superiores hierárquicos; de subordinados ou em público;
XXXII – cometer a pessoa estranha à Organização Poli- 5) ter sido praticada a transgressão com premeditação
cial, fora dos casos previstos em lei, o desempenho de en- ou com abuso de autoridade hierárquica ou funcional.
cargos próprios ou da competência de seus subordinados; § 4º - Não haverá punição quando, no julgamento da
XXXIII  – desrespeitar ou procrastinar o cumprimento transgressão, for reconhecida uma das causas de justifica-
de decisão judicial ou criticá-la; ção previstas.
XXXIV – eximir-se do cumprimento de suas obrigações Art. 18 – A pena de advertência será aplicada em par-
funcionais; ticular e verbalmente, nos casos de falta leve.
XXXV – violar o Código de Ética Policial. Art. 19 – A pena de repreensão será aplicada, por es-
Art. 15 – As transgressões disciplinares são classifica- crito, nos casos de falta leve.
das como: * Art. 20 - A pena de suspensão, que não poderá exce-
I – leves; der a 90 (noventa) dias, será aplicada:
II – médias; I - de 1 (um) a 15 (quinze) dias, nos casos de falta leve;
III – graves. II - de 16 (dezesseis) a 40 (quarenta) dias, nos casos de
§ 1º - São de natureza leve as transgressões enumera- falta média;
das nos incisos I a XII do artigo anterior. III - de 41 (quarenta e um) a 90 (noventa) dias, nos ca-
§ 2º - São de natureza média as transgressões enume- sos de falta grave.
radas nos incisos XIII a XXI do artigo anterior. Parágrafo único - Quando houver conveniência para o
§ 3º - São de natureza grave as transgressões enume- serviço policial, a pena de suspensão poderá ser convertida
radas nos incisos XXII a XXXV do artigo anterior. em multa, na base de 50% (cinquenta por cento) por dia de
§ 4º - A autoridade competente para decidir a punição vencimento ou remuneração, obrigado, nesse caso, o poli-
poderá agravar a classificação atribuída às transgressões cial a permanecer no serviço, cumprindo sua carga horária
atendendo às peculiaridades e consequências do caso con- de trabalho normal.
creto. * Nova redação dada pela lei nº 1693/1990.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 21 – A pena de prisão disciplinar até 30 (trinta) dias * Art. 25 - A autoridade que tiver ciência de irregula-
poderá ser aplicada nos casos de faltas médias ou graves. ridade no serviço público é obrigada a promover sua apu-
Parágrafo único – O cumprimento da pena de prisão ração imediata, mediante sindicância ou processo adminis-
disciplinar deverá ser efetuada em local previamente de- trativo disciplinar, assegurados ao acusado o contraditório
signado pelo Secretário de Segurança Pública e importa na e a ampla defesa.
perda de 50% dos vencimentos correspondentes aos dias * Nova redação dada pela Lei nº 4236/2003. 
de prisão. * Art. 25-A - A apuração das infrações, cuja natureza
Art. 22 – A pena de demissão, cassação de aposenta- autoriza a aplicação das penalidades previstas nos incisos
doria ou disponibilidade será aplicada nos casos previstos 1 a III, do ad. 16, será feita mediante sindicância adminis-
no Estatuto dos Funcionários Públicos Civis. trativa disciplinar, limitada a penalidade de suspensão a 60
Art. 23  – São competentes para aplicação das penas (sessenta) dias.
disciplinares previstas nesse Estatuto: § 1º - A sindicância administrativa disciplinar será con-
* I - o Governador do Estado, em qualquer caso e pri- cluída no prazo de 60 (sessenta) dias, contados a partir de
vativamente nos casos dos incisos VI e VI!, do artigo 16, em sua instauração.
relação aos delegados de polícia; § 2º- Após concluída a sindicância administrativa dis-
* Nova redação dada pela Lei nº 4236/2003.  ciplinar deverá ser encaminhada á autoridade competente
* II - O Secretário de Estado de Segurança Pública, em para decisão.
qualquer caso, e, privativamente, nos casos dos incisos VI e § 3º - Não sendo possível a conclusão da sindicância
VII do artigo 16, em relação aos demais servidores policiais administrativa disciplinar, no prazo de 60 (sessenta) dias, a
e suspensão acima de 60 (sessenta) dias; autoridade sindicante encaminhará, sob pena de respon-
* Nova redação dada pela Lei nº 4236/2003.  sabilidade funcional, no prazo de 10 (dez) dias, ao chefe
* III - o Chefe da Polícia Civil, nos casos dos incisos I e imediato, relatório circunstanciado indicando as diligências
II, do artigo 16, e suspensão até 60 (sessenta) dias; faltantes e solicitando prazo para a sua conclusão, que não
* Nova redação dada pela Lei nº 4236/2003.  poderá exceder a 30 (trinta) dias.
* IV - o Corregedor da Policia Civil, nos casos dos inci-
§ 4º - Excepcionalmente, não sendo concluída a sin-
sos I e II, do artigo 16, e suspensão até 50 (cinquenta) dias;
dicância administrativa disciplinar no prazo total de 90
* Nova redação dada pela Lei nº 4236/2003. 
(noventa) dias, a autoridade sindicante, no prazo de 10
* V - os dirigentes de unidade de polícia administrativa
(dez) dias, justificadamente, sob pena de responsabilidade
e judiciária da Policia Civil, nos casos dos incisos I a III, do
funcional, encaminhará relatório circunstanciado ao chefe
artigo 16, aos servidores policiais que lhes forem subordi-
imediato que, em igual prazo abrirá vista ao Chefe da Poli-
nados, limitada a pena de suspensão ao prazo de 30 (trinta)
dias. cia Civil com a indicação das diligências faltantes e a solici-
* Nova redação dada pela Lei nº 4236/2003.  tação do prazo necessário à sua conclusão.
* Parágrafo único - Quando para qualquer transgres- * Artigo acrescido pela Lei nº 4236/2003. 
são, for prevista mais de uma pena disciplinar, a autoridade * Art. 25-B - Quando à transgressão disciplinar for co-
competente, atenta às circunstâncias de cada caso, decidirá minada pena superior a 60 (sessenta) dias de suspensão,
qual a aplicável. demissão, cassação de aposentadoria ou de disponibilida-
* Nova redação dada pela Lei nº 4236/2003.  de, os autos serão encaminhados ao Chefe da Polícia Civil,
* Art. 24 - Extingue-se a punibilidade pela prescrição: que os remeterá ao Secretário de Estado de Segurança Pú-
I - da transgressão disciplinar sujeita à pena de ad- blica para instauração de processo administrativo discipli-
vertência, repreensão ou suspensão no prazo de 02 (dois) nar, por distribuição a uma das Comissões Permanentes de
anos; Inquérito Administrativo — CPIAs.
II - da transgressão disciplinar sujeita á pena de demis- § 1º - O processo administrativo disciplinar deverá ser
são, cassação de aposentadoria ou de disponibilidade no ultimado pela Comissão respectiva, presidida por delegado
prazo de 05 (cinco) anos; de polícia, no prazo de 90 (noventa) dias, contados a partir
III -  da transgressão disciplinar prevista na Lei como da sua instauração.
infração penal, juntamente com o crime; § 2º - Não sendo possível a conclusão do processo ad-
§ 1º - O curso do prazo prescricional começa a correr ministrativo disciplinar no prazo de 90 (noventa) dias, as
da data em que o fato se tornou conhecido pela Adminis- comissões encaminharão, sob pena de responsabilidade
tração Pública. funcional, no prazo de 10 (dez) dias, ao órgão de supervi-
§ 2º -  O curso do prazo prescricional interrompe-se são, relatório indicando as diligências faltantes e solicitan-
com a instauração da sindicância ou do processo adminis- do prazo para sua conclusão, que não poderá exceder a 90
trativo disciplinar, até decisão final proferida por autorida- (noventa) dias.
de competente. § 3º - Na hipótese de o indiciado ser delegado de po-
§ 3º - o curso do prazo prescricional não corre: lícia, o processoadministrativo disciplinar será presidido
I - enquanto sobrestados a sindicância ou o processo obrigatoriamente por outro de nível igual ou superior.
administrativo disciplinar para aguardar decisão judicial; § 4º - Excepcionalmente, não concluído o processo ad-
II - enquanto insubsistente o vinculo funcional que ve- ministrativo disciplinar no prazo total de 180 (cento e oi-
nha a ser restabelecido. tenta) dias, o órgão de supervisão encaminhará, sob pena
* Nova redação dada pela Lei nº 4236/2003.  de responsabilidade funcional, no prazo de 10 (dez) dias,

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DIREITO ADMINISTRATIVO

ao Secretário de Estado de Segurança Pública relatório IV – desempenho de cargos e funções corresponden-
circunstanciado elaborado pelas comissões, indicando as tes à condição hierárquica;
diligências faltantes e solicitando o prazo necessário á sua V – percepção de vencimento correspondente ao padrão
conclusão. fixado em lei e de vantagens pecuniárias;
* Artigo acrescido pela Lei nº 4236/2003.  VI – percepção de salário família, diárias e ajuda de custo;
* Art. 25-C - O servidor integrante do Quadro de Pes- VII – carteira funcional
soal da Polícia Civil poderá ser afastado do exercício do VIII – promoções regulares e por bravura, inclusive post
cargo ou da função, sem perda de vencimentos, por prazo mortem, ascensões regulares, inclusive post mortem;
não superior a 30 (trinta) dias, a critério do Secretário de IX – medalhas Mérito Policial e Mérito Especial e ou-
Estado de Segurança Pública, nas seguintes hipóteses: tras condecorações previstas em lei;
I -  quando existam indícios suficientes da prática de X – assistência médica, hospitalar, social e quando ferido,
transgressão disciplinar grave; ou acidentado em serviço, ou em razão da função, subme-
II - quando a medida se impuser no interesse da ordem tido a processo em decorrência do estrito cumprimento do
pública; dever legal.
III - quando houver necessidade do afastamento para XI – aposentadoria nos termos da lei, com proventos in-
que o servidor não venha a influir na apuração da falta. tegrais, independente de tempo de serviço, quando for reco-
Parágrafo único - O afastamento de que trata este ar- nhecida a invalidez permanente por motivo de acidente em
tigo é medida acautelatória e não constitui pena. serviço ou em consequência dele.
* Artigo acrescido pela Lei nº 4236/2003.  XII – trânsito quando desligado de uma sede para assu-
* Art. 25-D – As autoridades competentes terão 10 (dez) mir exercício em outra, situada em município diferente;
dias, após recebidas as conclusões das Comissões de Sindi- XIII – auxílio funeral;
câncias e Processos Administrativos, para proferir a decisão XIV – prisão domiciliar por tempo de serviço;
referente ao servidor, sob pena de responsabilidade. XV – férias e licenças previstas em lei;
* Artigo acrescido pela Lei nº 4236/2003.  XVI – gratificação adicional por tempo de serviço;
Art. 26  – Para as recompensas e punições, o policial XVII – acesso e transferência regulamentares;
terá seu comportamento classificado em: XVIII  – garantias devidas ao resguardo da integridade
física do policial em caso de cumprimento de pena em esta-
I – excepcional;
belecimento penal, conquanto sujeito ao sistema disciplinar
II – ótimo;
penitenciário;
III – bom;
XIX – quando aposentado, porte de arma.
IV – regular;
Art. 28 - Aos beneficiários do policial falecido, em con-
V – mau.
sequência de agressão sofrida no desempenho de suas atri-
§ 1º - Ao ingressar no serviço público o servidor terá o
buições ou, ainda, em consequência de acidente ocorrido em
conceito bom. serviço ou de moléstia nele adquirida, será concedida pensão
§ 2º - Os policiais que tiverem anotação de suspensão equivalente ao vencimento mais as vantagens percebidas por
superior a 10 (dez) dias no período anterior à elaboração ocasião do óbito.
do Boletim de Merecimento, serão incluídos no conceito § 1º - a prova das circunstâncias do falecimento será feita
do inciso V e no inciso IV, se tais fatos se registraram no de acordo com a legislação em vigor.
período de 02 (dois) anos. § 2º - O valor da pensão será sempre revisto, nas mes-
§ 3º - O servidor policial somente será incluído nos in- mas bases em que se modificarem os valores dos vencimen-
cisos I e II se não tiver sofrido pena disciplinar de qualquer tos dos funcionários em atividade.
espécie, nos períodos, respectivamente, de 10 (dez) e 05
(cinco) anos que antecederem a elaboração dos respecti- Capítulo II
vos Boletins de Merecimento. DAS FÉRIAS
§ 4º - decorrido o prazo de 10 (dez) anos sem anotação
de penas disciplinares, o policial poderá requerer o cance- Art. 29  – O funcionário gozará, obrigatoriamente, 30
lamento das anotações anteriores, o que será concedido a (trinta) dias de férias por ano, concedidas de acordo com es-
crité rio do Secretário de Segurança Pública. cala organizada pelo chefe imediato.
Art. 30  – É proibida a acumulação de férias, salvo por
Título IV imperiosa necessidade de serviço e pelo máximo de 02 (dois)
DOS DIREITOS E VANTAGENS períodos.
Capítulo I Art. 31 – O funcionário ao entrar em férias, participará ao
DOS DIREITOS chefe imediato seu endereço eventual.
Art. 32 – Mediante convocação do Secretário de Segu-
Art. 27 – São direitos pessoais decorrentes do exercício rança Pública, o funcionário policial será obrigado a inter-
da função policial: romper suas férias em situação de emergente necessidade da
I – garantia do uso do título em toda a sua plenitude, segurança nacional ou para manutenção da ordem pública.
com as vantagens e prerrogativas a ele inerentes; Parágrafo único – O funcionário terá direito a renovar
II – estabilidade, nos termos da legislação em vigor; o gozo do período assim interrompido, em época oportu-
III – uso das designações hierárquicas; na, sempre a critério da administração.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Título V Art. 41 – A requisição do funcionário policial para ter


DAS DISPOSIÇÕES DIVERSAS exercício em outra unidade administrativa, respeitados os
Capítulo I casos previstos em lei, somente será permitida quando
DA APOSENTADORIA houver compatibilidade e correlação entre as atribuições
típicas do cargo com as dos serviços da unidade, sempre
Art. 33 – O servidor policial será aposentado: com expressa autorização do Governador, sujeitando-se o
I – compulsoriamente; servidor a perda das vantagens decorrentes estritamente
II – voluntariamente; da função policial.
III – por invalidez. Art. 42  – Aquele que, comprovadamente, se revelar
§ 1º - O policial será aposentado com limites de idade inapto para o exercício da função policial, sem causa que
e tempo de serviço que vierem a ser fixados em lei. justifique sua demissão ou aposentadoria, será readaptado
§ 2º - A aposentadoria por invalidez será sempre pro- em outra função, mais compatível com a sua capacidade,
cedida de licença por período não inferior a 24 meses, sal- sem que essa readaptação lhe traga qualquer prejuízo fi-
vo quando o laudo médico concluir, anteriormente àquele nanceiro.
prazo, pela incapacidade definitiva para o serviço policial. Art. 43 – Aplicam-se aos servidores policiais as dispo-
Art. 34 – O aposentado receberá provento integral: sições do Estatuto dos Funcionários Públicos Civis e demais
I – no caso do incido II do artigo anterior; normas de pessoal, naquilo que não colidir com este De-
II  – quando a invalidez for em consequência de aci- creto-Lei.
dente no exercício de suas atribuições ou em virtude de Art. 44 – O Poder Executivo, no prazo de 90 (noventa)
doença profissional; dias, baixará o Regulamento deste diploma legal.
III – quando acometido de tuberculose ativa, alienação Art. 45  – Este Decreto-Lei entrará em vigor na data
mental, neoplasia maligna, cegueira, lepra, paralisia irrever- de sua publicaç ão, revogadas as disposições em contrário.
sível e incapacitante, cardiopatia grave, estados adiantados
de Paget (osteíte deformante), com base nas conclusões da DECRETO Nº 3.044 DE 22 DE JANEIRO DE 1980
medicina especializada.
§ 1º - Considera-se acidente o evento que causar me- Aprova O Regulamento Do Estatuto Dos Policiais
diata ou imediatamente, ao policial, dano decorrente do Do Estado Do Rio De Janeiro
exercício das atribuições inerentes ao cargo ou função.
§ 2º  - A autoridade policial competente fará registro O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,
circunstanciado do fato, no qual deverá consignar as pro- no uso de suas atribuições legais 
vas colhidas, em caso de acidente de serviço.
§ 3º - As servidor ocupante de cargo policial em comis- DECRETA:
são, aplicar-se-á o disposto neste artigo, quando enqua-
drado nos termos do inciso II. Art. 1º - Fica aprovado o Regulamento do Estatuto dos
Art. 35 – A aposentadoria voluntária mantém o funcio- Policiais Civis do Estado do Rio de Janeiro, a que se refere o
nário em exercício até a publicação do respectivo ato, salvo artigo 44 do decreto –lei nº 218, de 18 de julho de 1975, o
quando já afastado do cargo. qual acompanha o presente Decreto.
Art. 36 – O aumento de vencimento que for concedido Art. 2º - Este Decreto entrará em vigor na data de sua
ao servidor policial da ativa será dado na mesma propor- publicação, revogadas as disposições em contrário.
ção ao inativo.
Art. 37  – recompensa é o reconhecimento dos bons Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 1980.
serviços prestados pelo servidor policial. A.de P. Chagas Freitas
Art. 38 – São recompensas: Edmundo Adolfo Murgel
I  – agraciamento com as Medalhas  Mérito Poli-
cial e Mérito Especial, na forma instituída em lei; REGULAMENTO DO ESTATUTO DOS POLICIAIS CI-
II – elogios individuais e coletivos; VIS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
III – dispensa total do serviço até 10 (dez) dias;
IV – cancelamento de pena disciplinar.
Art. 39 – São competentes para conceder a dispensa Título I
total do serviço: DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
I – até 10 (dez) dias: O Secretário de Segurança Pública;
II – até 05 (cinco) dias: chefes de órgãos subordinados Art. 1º  - São policiais civis, abrangidos por este De-
diretamente ao Secretário de Segurança Pública; creto, os funcionários legalmente investidos em cargos de
III – até 02 (dois) dias: os titulares de Delegacias. provimento efetivo do quadro do serviço policial civil.
Art. 40 – O cancelamento de pena disciplinar, além da Parágrafo único  – Para os efeitos deste Decreto, é
hipótese prevista no § 4º do artigo 27, pode ser concedido, considerado policial o ocupante de cargo isolado de provi-
como recompensa, em razão de relevantes serviços pres- mento em comissão ou função gratificada, com atribuições
tados à segurança pública, por decisão do Secretário de e responsabilidades de natureza policial.
Estado da Polícia Civil.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

CAPÍTULO I h) Técnico de Necropsia, Fotógrafo Policial, Inspetor de


DO INGRESSO Salvamento – certificado de primeiro grau escolar ou equi-
valente;
Art. 2º - A nomeação será feita: i) Auxiliar Técnico de Comunicações de Segurança e
I – em caráter efetivo, quando se tratar de cargo de Operador de Telecomunicações de Segurança – certificado
classe inicial de série de classe; de primeiro grau ou equivalente e habilitação técnica ine-
II – em comissão, quando se tratar de cargo que em rente ao cargo;
virtude de lei, assim deva ser provido; j) Motorista Policial – conclusão da quarta série do pri-
Art. 3º - O ingresso nos cargos de provimento efetivo meiro grau escolar ou equivalente e habilitação técnica ine-
exige: rente ao cargo;
I – nacionalidade brasileira; l) Servente de Necropsia – conclusão da quarta série
II – idade-limite na forma estabelecida em lei; do primeiro grau escolar ou equivalente;
III – gozo dos direitos políticos, comprovado através de m) Guarda vidas – conclusão de quinta série do primei-
documento fornecido pelas entidades públicas, responsá- ro grau escolar ou equivalente;
veis pelo controle desses direitos; n) Engenheiro de Telecomunicações de Segurança –
IV – certificado expedido por repartição militar compe- diploma de curso de engenharia, devidamente registrado,
tente e título eleitoral que comprovem, respectivamente, a nas especialidades inerentes ao cargo;
quitação das obrigações militares e eleitorais; o) Técnico de Telecomunicações de Segurança – certifi-
V – condições sociais familiares compatíveis com a fun- cado de segundo grau escolar ou equivalente e habilitação
ção policial, a serem apuradas mediante sindicância reser- técnica inerente ao cargo;
vada; Art. 4º - O prazo de validade dos concursos será fixado
VI – boa saúde, comprovada através de inspeção mé- no edital de inscrição assegurando-se o provimento dos
dica, realizada pelo Departamento de Perícias Médicas da cargos vagos aos candidatos habilitados, obedecida a or-
Secretaria de Estado da Administração; dem de classificação e o disposto nos § 3º e § 4º, do artigo
VII – aptidão física e psíquica para o exercício da função 87, da Constituição Estadual.
policial, apurada por profissionais capacitados; Art. 5º - O policial, nomeado na forma do inciso I do
VIII – habilitação prévia, em concurso público de pro- artigo 2º, será matriculado “ex-ofício” no curso de forma-
vas ou de prova e títulos, realizada na Academia de Polícia; ção profissional na Academia de Polícia, com ou sem pre-
IX – classificação do habilitado dentre o número de va- juízo do serviço, de acordo com a conveniência da ativida-
gas existentes na classe inicial da série de classes. de policial.
§ 1º - Os exames e provas práticas, previstas no inciso Art. 6º - O policial ficará sujeito a estágio probatório
VI e VII, terão caráter eliminatório e precederão à realização correspondente ao período de dois anos de efetivo exercí-
das provas mencionadas no inciso VIII. cio, a contar da data do início deste e durante o qual serão
§ 2º - Quando o número de inscritos for elevado, ex- apurados os requisitos indispensáveis a sua confirmação
cepcionalmente os exames e provas práticas previstos nos no cargo.
incisos VI e VII poderão ser realizados “a posteriori”, so- § 1º - O requisito de que trata este artigo são os se-
mente para os aprovados, a critério do Secretário de Estado guintes:
de Polícia Civil. 1 – aprovação no curso de formação profissional, na
§ 3º - Além dos requisitos enunciados nos incisos I e IX Academia de Polícia;
deste artigo, será exigido dos candidatos a cargos policiais 2 – idoneidade moral – conduta do policial apurada
por ocasião da inscrição no concurso público, o seguinte através de pesquisa de seus antecedentes, sob aspectos
grau de escolaridade: sociais e funcionais;
a) Delegado de Polícia – diploma de bacharel em direi- 3 – assiduidade – dever do policial de comparecer à
to, devidamente registrado; repartição onde trabalha, no horário preestabelecido e, a
b) Escrivão de Polícia – certificado de segundo grau es- qualquer hora, quando convocado;
colar ou equivalente; 4 – disciplina – rigorosa observância e acatamento in-
c) Detetive – certificado de segundo grau escolar ou tegral às leis, regulamentos, normas e disposições que fun-
equivalente e carteira de habilitação de motorista profis- damentam o organismo policial e coordenam seu funcio-
sional; namento regular e harmônico, traduzindo-se no perfeito
d) Perito Criminal – diploma de curso superior, devida- cumprimento do dever;
mente registrado nos conselhos respectivos, nas especiali- 5 – eficiência – desempenho com acerto dos encargos
dades inerentes ao cargo; inerente à função policial 
e) Perito Legista – diploma de médico, devidamente re- § 2º - O policial que já tenha adquirido estabilidade no
gistrado no Conselho Regional de Medicina; serviço público não estará sujeito a novo estágio probató-
f) Piloto Policial – certificado de segundo grau escolar rio quando nomeado, reclassificado, transferido, transpos-
ou equivalente e carta de piloto comercial expedida pelo to ou transformado sob qualquer forma legal ou judicial,
Departamento de Aviação Civil (D.A.C.); para cargo no serviço policial, sendo, porém obrigatório
g) Papiloscopista – certificado de segundo grau escolar e requisito indispensável, à primeira promoção, aprovação
ou equivalente; no Curso de Formação Profissional da Academia de Polícia.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 3º - O dirigente do órgão ou unidade administrativa V – respeitar os direitos e as garantias individuais;


em que esteja lotado o policial, sujeito a estágio probató- VI – jamais revelar tibieza ante o perigo e o abuso;
rio, encaminhará ao órgão central de pessoal da Secretaria VII – exercer a função policial com probidade, discrição
de Estado da Polícia Civil, trimestralmente, em boletim pró- e moderação, fazendo observar as leis com clareza;
prio, apreciação e respeito do comportamento do estagiá- VIII – não permitir que sentimentos ou animosidades
rio, para anotações e providências legais que se fizerem pessoais possa influir em suas decisões;
necessárias. IX – ser inflexível, porém justo, no trato com os delin-
Art. 7º - Os cargos em comissão destinam-se a aten- quentes;
der a encargos de direção e assessoramento superiores e X – respeitar a dignidade da pessoa humana;
serão providos, através de livre escolha do Governador, por XI – preservar a confiança e o apreço de seus concida-
indicação do Secretário de Estado da Polícia Civil, dentre dãos pelo exemplo de uma conduta irrepreensível na vida
os policiais e pessoas que possuam aptidões técnicas e pública e na particular;
reúnem as condições necessárias à investidura no serviço XII – cultuar o aprimoramento técnico-profissional;
público. XIII – amar a verdade e a responsabilidade, como fun-
Parágrafo único – Aquele que for indicado para exer- damentos da ética do serviço policial;
cer cargo em comissão, além dos requisitos dos incisos I, III, XIV – obedecer às ordens superiores, exceto quando
IV, V e VI do artigo 3º, deverá: manifestamente ilegais;
1 – Ter aptidão intelectual necessária ao cargo, com- XV – não abandonar o posto em que deva ser substi-
provada pela apresentação de diploma de curso de nível tuído sem a chegada do substituto;
superior; XVI – respeitar e fazer respeitar a hierarquia do servi-
2 – Ter aptidão profissional comprovada através da cor- ço policial;
relação entre os encargos típicos do cargo em comissão e XVII – prestar auxílio, ainda que não esteja em hora
os do cargo efetivo, civil ou militar ou em se tratando de de serviço:
policial inativo, de sua atividade de natureza privada. 1 – a fim de prevenir ou reprimir perturbação da or-
dem pública;
Capítulo II 2 – quando solicitado por qualquer pessoa carente de
DO CARGO E DA FUNÇÃO socorro policial, encaminhando-se à autoridade compe-
tente, quando insuficientes as providências de sua alçada.
Art. 8º  - O exercício de cargo de natureza policial é Art. 12 – O policial ao se apresentar ao seu chefe, em
privativo dos funcionários abrangidos por este Decreto e sua primeira lotação, prestará o compromisso seguinte:
integrantes do quadro do serviço policial civil. “Prometo observar e fazer observar rigorosa obediên-
Art. 9º - Caracteriza a função policial o exercício de ati- cia às leis, desempenhar as minhas funções com despren-
vidades específicas desempenhadas pela autoridades, seus dimento e probidade, considerando inerentes à minha
agentes e auxiliares, para assegurar o cumprimento da lei, pessoa a reputação e honorabilidade do órgão policial
manutenção da ordem pública, proteção de bens e pes- que agora passo a servir.”
soas, prevenção da prática dos ilícitos penais e atribuições
de polícia judiciária. Título III
Art. 10  – A função policial, fundada na hierarquia e DA VIOLAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
na disciplina, é incompatível com qualquer outra atividade, Capítulo I
salvo as exceções previstas em lei. DA RESPONSABILIDADE
Parágrafo único – Os círculos hierárquicos são âmbi-
tos da convivência entre policiais da mesma classe e têm a Art. 13 – Cabe ao policial a responsabilidade integral
finalidade de desenvolver o espírito de camaradagem em pelas decisões que tomar, pelas ordens que emitir e pelos
ambiente de estima e confiança, sem prejuízo do respeito atos que praticar.
mútuo. Art. 14 – Pelo exercício irregular de suas atribuições o
policial responde civil, penal e administrativamente.
Título II Art. 15  – As cominações civis, penais e disciplinares
Capítulo Único poderão acumular-se, sendo umas e outras independen-
DO CÓDIGO DE ÉTICA POLICIAL tes entre si, bem assim as instâncias civil, penal e admi-
nistrativa.
Art. 11  – O policial manterá observância, tanto mais § 1º  - A responsabilidade civil decorre de procedi-
rigorosa quanto mais elevado for o grau hierárquico dos mento doloso ou culposo, que importe em prejuízo à fa-
seguintes preceitos de ética: zenda Estadual ou a terceiros.
I – servir à sociedade como obrigação fundamental; § 2º - O prejuízo causado à Fazenda Estadual poderá
II – proteger vidas e bens; ser ressarcido mediante desconto em prestações mensais
III – defender o inocente e o fraco contra o engano e não excedentes da décima parte do vencimento ou re-
a opressão; muneração à falta de outros bens que respondam pela
IV – preservar a ordem, repelindo a violência; indenização.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 3º - Tratando-se de danos causados a terceiro, res- XVIII – deixar de concluir, nos prazos legais ou regu-
ponderá o policial perante a Fazenda Estadual em ação lamentares, sem motivos justos, inquéritos policiais, sindi-
regressiva proposta depois de transitar em julgado a de- câncias ou processo administrativos;
cisão que houver condenado a Fazenda a indenizar o ter- XIX – participar de atividade comercial ou industrial ex-
ceiro prejudicado. ceto como acionista, quotista ou comanditário;
§ 4º - A responsabilidade penal abrange os crimes e XX – deixar de tratar os superiores hierárquicos e os
contravenções imputados ao policial nessa qualidade. subordinados com a deferência e a urbanidade devida;
§ 5º  - A responsabilidade administrativa resulta de XXI – coagir ou aliciar subordinados com objetivos po-
atos praticados ou omissões ocorridas no desempenho do lítico-partidários;
cargo ou fora dele, quando comprometedores de dignida- XXII – praticar usura em qualquer de suas formas;
de e do decoro da função pública. XXIII – apresentar parte, queixa ou representação in-
§ 6º - Mesmo absolvido criminalmente o policial res- fundada contra superiores hierárquicos;
ponderá disciplinarmente se, na espécie, existir falta admi- XXIV – indispor funcionários contra seus superiores
nistrativa residual. hierárquicos ou provocar, velada ou ostensivamente, ani-
mosidade entre funcionários;
Capítulo II XXV – insubordinar-se ou desrespeitar superior hierár-
DA TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES quico;
XXVI – empenhar-se em atividades que prejudiquem o
Art. 16 – São transgressões disciplinares: fiel desempenho da função policial;
I – falta de assiduidade ou impontualidade habituais; XXVII – utilizar, ceder ou permitir que outrem use ob-
II – interpor ou traficar influência alheia para solicitar jetos arrecadados, recolhidos ou apreendidos pela polícia;
XXVIII – entregar-se a prática de jogos proibidos ou ao
ascensão, remoção, transferência ou comissionamento;
vício da embriaguez, ou qualquer outro vício degradante;
III – dar informações inexatas, alterá-las ou desfigu-
XXIX – portar-se de modo inconveniente em lugar pú-
rá-las:
blico ou acessível ao público;
IV – usar indevidamente os bens do Estado ou de ter-
XXX – esquivar-se, na ausência da autoridade compe-
ceiro, sob sua guarda ou vigilância;
tente, de atender a ocorrências passíveis de intervenção
V – divulgar notícia sobre serviços ou tarefas em de-
policial que presencie ou de que tenha conhecimento ime-
senvolvimento realizadas pela repartição, ou contribuir
diato, mesmo fora da escala de serviço;
para que sejam divulgadas, ou ainda, conceder entrevistas
XXXI – emitir opiniões ou conceitos desfavoráveis aos
sobre as mesmas sem autorização da autoridade compe- superiores hierárquicos;
tente; XXXII – cometer a pessoa estranha à organização poli-
VI – dar, ceder ou emprestar arma, insígnias ou carteira cial, fora dos casos previstos em lei, o desempenho de en-
de identidade funcional; cargos próprios ou da competência de seus subordinados;
VII – deixar habitualmente de saldar dívidas legítimas XXXIII – desrespeitar ou procrastinar o cumprimento de
ou de pagar regularmente pensões a que esteja obrigado decisão judicial ou criticá-la depreciativamente.
por decisão judicial; XXXIV – eximir-se do cumprimento de suas obrigações
VIII – manter relações de amizade ou exibir-se em pú- funcionais 
blico, habitualmente, com pessoas de má reputação, exce- XXXV – violar o código de ética policial.
to em razão de serviço; Art. 17 – As transgressões disciplinares são classifica-
IX – permutar o serviço sem expressa autorização das como:
competente; I – leves;
X – ingerir bebidas alcoólicas quando em serviço; II – médias;
XI – afastar-se do município onde exerce suas ativida- III – graves.
des, sem autorização superior; § 1º - São de natureza leve as transgressões enumera-
XII – deixar, sem justa causa, de submeter-se à inspe- das nos incisos I e XII do artigo anterior;
ção médica determinada em lei ou por autoridade com- § 2º - São de natureza média as transgressões enume-
petente; radas nos incisos XIII e XXI do artigo anterior;
XIII – valer-se do cargo com o fim ostensivo ou velado § 3º - São de natureza grave as transgressões enume-
de obter proveito de natureza político partidária, para si radas nos incisos XXII e XXXV do artigo anterior;
ou para outrem; § 4º - A autoridade competente para decidir a punição
XIV – simular doença para esquivar-se ao cumprimen- poderá agravar a classificação atribuída às transgressões
to do dever; disciplinares, atendendo às peculiaridades e consequências
XV – agir, no exercício da função, com displicência, do caso concreto.
deslealdade ou negligência; § 5º  - O agravamento previsto no parágrafo anterior
XVI – intitular-se funcionário ou representante de re- não ocorrerá nos casos em que já houver sido imposta pe-
partição ou unidade policial a que não pertença; nalidade aos transgressores, salvo se de mera advertência
XVII – maltratar preso sob sua guarda ou usar de vio- ou repreensão.
lência desnecessária no exercício da função policial;

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo III de Estado de Polícia Civil, desde que tenha cometido infra-
DAS PENAS DISCIPLINARES ção disciplinar ou criminal, cuja natureza ou circunstância
do fato gerador se constitua em motivo de desonra para a
Art. 18 – São penas disciplinares: Secretaria de Estado da Polícia Civil ou quando a medida se
I – advertência; impuser ao interesse de ordem pública.
II – repreensão; Parágrafo único  – O policial, ainda, será afastado do
III – suspensão; exercício de seu cargo, nas seguintes situações:
IV – afastamento do serviço, do cargo ou função; I – preso preventivamente, pronunciado, denunciado
V – prisão disciplinar; por crime funcional, ou condenado por crime inafiançável
(Inciso V revogado pelo Art. 5º, inciso LXI da C.F.) em processo no qual não haja pronúncia, até decisão transi-
VI – demissão; tada em julgado;
VII – Cassação de aposentadoria ou disponibilidade. II – condenado por sentença definitiva à pena que não
Art. 19  – Na aplicação das penas disciplinares serão determine demissão, enquanto durar seu cumprimento.
considerados: Art. 24 – Revogado pelo artigo 5º, inciso LXI da C.F.
I – repercussão do fato; Parágrafo único – Revogado pelo artigo 5º, inciso LXI,
II – danos decorrentes da transgressão ao serviço pú- da C.F.
blico; Art. 25  – A aplicação das penas previstas nos incisos
III – causas de justificação; III, IV e V do art. 18, será sempre divulgada em Boletim de
IV – circunstâncias atenuantes; Serviço, de circulação restrita aos órgãos da Secretaria de
V – circunstâncias agravantes; Estado da Polícia Civil.
VI – a classificação da gravidade estabelecida no artigo Parágrafo único  – Qualquer que seja o resultado do
17. procedimento disciplinar instaurado, será obrigatoriamente
§ 1º - São causas de justificação: comunicado à Corregedoria Geral de Polícia e à Divisão de
1 – motivo de força maior, plenamente comprovado; Pessoal para fins de registro e anotação na pasta de assenta-
2 – Ter sido cometida a transgressão na prática de ação mentos funcionais do servidor.
Art. 25 e parágrafo único com redação dada pelo
meritória, no interesse do serviço, da ordem ou da segu-
Decreto nº 10.543, de 29-10-87. O artigo 2º do mesmo
rança pública;
Decreto determina que em todos os dispositivos deste
§ 2º - São circunstâncias atenuantes:
Regulamento as expressões “Secretário ou Secretaria de
1 – boa conduta funcional;
Segurança Pública”, estejam substituídas por “Secretário
2 – relevância de serviços prestados;
ou Secretaria de Estado da Polícia Civil.”
3 – Ter sido cometida a transgressão em defesa de di-
Art. 26 – A pena de demissão, cassação de aposentado-
reitos próprios ou de terceiros ou para evitar mal maior; ria ou disponibilidade será aplicada nos casos previstos no
§ 3º - São circunstâncias agravantes: Estatuto dos Funcionários Públicos Civis.
1 – má conduta funcional; Art. 27  – São competentes para aplicação das penas
2 – prática simultânea de duas ou mais transgressões; disciplinares previstas neste Decreto:
3 – reincidência; I – O Governador do Estado, em qualquer caso e, privati-
4 – ser praticada a transgressão, em conluio, por duas vamente, nos casos de demissão, cassação da aposentadoria
ou mais pessoas, durante a execução de serviço, em pre- ou disponibilidade;
sença de subordinados ou em público; II – O Secretário de Estado da Polícia Civil, nos casos dos
5 – ter sido praticada a transgressão com premeditação incisos III a V do artigo 18;
ou abuso de autoridade hierárquica ou funcional. III – Os dirigentes de unidades administrativas diretamen-
§ 4º - Não haverá punição, quando, na apreciação da te subordinadas ao Secretário, nos casos dos incisos I a III do
falta, for reconhecida uma das causas de justificação pre- artigo 18, aos policiais que lhes forem subordinados e desde
vista no § 1º. que a pena de suspensão não ultrapasse cinquenta dias.
Art. 20 – A pena de advertência será aplicada em par- IV – Os dirigentes de departamentos não subordinados
ticular e verbalmente, nos casos de falta leve. diretamente ao Secretário, diretores de divisão e titulares de
Art. 21 – A pena de repreensão será aplicada, por es- delegacia policial, nos casos dos incisos I a III do artigo 18,
crito, nos casos de falta leve, em caráter reservado. aos policiais que lhes forem subordinados desde que a pena
Art. 22 – A pena de suspensão não excederá de noven- de suspensão não ultrapasse a vinte dias.
ta dias, implicando em perda total dos vencimentos corres- Parágrafo único – Quando, para qualquer transgressão,
pondentes aos dias e era aplicada: for prevista mais de uma pena disciplinar, a autoridade com-
I – de um a quinze dias, nos casos de faltas leves; petente, atenta às circunstâncias de cada caso, decidirá qual
II – de dezesseis a quarenta dias, nos casos de faltas a aplicável.
médias; Art. 28 – Prescrevem:
III – de quarenta e um a noventa dias, nos casos de I – Em dois anos as faltas sujeitas às penas de adver-
faltas graves. tência, repreensão, suspensão, afastamento do serviço, do
Art. 23 – O policial poderá ser afastado do serviço ou do cargo ou função e prisão disciplinar;
exercício do cargo ou de função, sem perda de vencimentos, II – Em cinco anos, as faltas sujeitas às penas de demis-
por prazo não superior a trinta dias, a critério do Secretário são, cassação de aposentadoria ou disponibilidade.

78
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º - A falta prevista como crime na lei penal prescre- Art. 33  – Para as recompensas e punições, o policial
verá juntamente com este. terá o seu comportamento classificados em:
§ 2º - Prescrita a punição, se ainda houver prejuízo ma- I – excepcional;
terial decorrente do ato punível, o infrator ficará sujeito a II – ótimo;
reparação do dano, na forma da legislação civil vigente. III – bom;
§ 3º - O curso da prescrição começa a fluir da data da IV – regular;
prática do evento punível disciplinarmente e interrompe-se V- mau.
pela abertura de sindicância, apuração sumária ou inquéri- Art. 34 – O policial terá conceito bom ao ingressar no
to administrativo. serviço público;
§ 1º  - Os policiais que tiverem anotação de suspen-
Capítulo IV são superior a dez dias, no período de um ano, anterior ao
DA APURAÇÃO DAS TRANSGRESSÕES calendário das promoções, serão classificados no conceito
DISCIPLINAR “mau”; e no conceito “regular”, se tais faltas se registrarem
no período de dois anos.
Art. 29  – A aplicação das penas disciplinares de sus- § 2º - O policial somente será classificado nos concei-
pensão, afastamento do serviço, do cargo ou função e pri- tos “excepcional” e “ótimo”, se não tiver sofrido pena disci-
são disciplinar será sempre antecedida de sindicância ou plinar de qualquer espécie, nos períodos, respectivamente,
apuração sumária da transgressão cometida pelo policial, de dez a cinco anos que antecedam o calendário das pro-
ressalvado o preceituado no artigo 32. moções.
Art. 30 – A investigação a que se refere o artigo ante- Art. 35 – Decorrido o prazo de dez anos sem anotação
rior será ultimada no prazo de dez dias pelo chefe imediato de penas disciplinares, o policial poderá requerer o cance-
do transgressor, que em seu relatório fará consignar: lamento das anotações anteriores, que será concedido a
1 – data, modo e circunstâncias em que teve notícia ou critério do Secretário de Estado de Polícia Civil.
ciência do fato;
2 – versão do fato na forma por que teve conhecimen- Título IV
to:
DOS DIREITOS E VANTAGENS
3 – elemento de prova ou indício colhido ou constata-
Capítulo I
do e informação das testemunhas;
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
4 – defesa do acusado;
5 – conclusão;
Art. 36 – São direitos pessoais decorrentes do exercício
6 – decisão, quando for o caso;
da função policial;
Parágrafo único – Ocorrerá o arquivamento da inves-
I – Garantia de uso do título em toda a sua plenitude,
tigação quando:
com as vantagens prerrogativas a ele inerentes;
a) existir causa de justificação;
b) existir dúvida ou prova insuficiente sobre a autoria; II – Estabilidade, nos termos da legislação em vigor;
c) Ter fluído o prazo prescricional; III – Uso das designações hierárquicas;
d) Não restar provada a existência do fato; IV – Desempenho dos cargos e funções corresponden-
e) Não ter o sindicato concorrido para a irregularidade tes à condição hierárquica;
administrativa; V – Percepção de vencimento correspondente ao pa-
f) Não haver na forma típica adequação para a irregu- drão fixado em lei e das vantagens pecuniárias;
laridade. VI – Percepção de salário-família, diárias e ajuda de
Parágrafo acrescentado pelo Decreto no 13.573, de 22 custo, na forma da legislação em vigor;
de setembro de 1989. VII – Carteira funcional e insígnia na forma estabelecida
Art. 31  – Na hipótese de o chefe imediato do trans- em legislação própria;
gressor ser incompetente para aplicação da pena disci- VIII – Promoções regulares e por bravura, inclusive pos-
plinar cabível, os autos serão imediatamente remetidos à t-mortem, ascensões regulares, inclusive post-mortem.
autoridade superior, dentro de quarenta e oito horas, sob IX – Medalhas “Mérito Policial” e “Mérito Especial” e
pena de conivência. outras condecorações, na forma prevista em lei, com ano-
Art. 32 – Ocorrendo tratar-se de infração prevista nes- tações na folha de assentamentos funcionais;
te Regulamento e no Estatuto do Funcionamento Públicos X – Assistência médico-hospitalar, social e judiciária,
Civis do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro, ins- quando ferido ou acidentado em serviço ou em razão da
tituído pelo Decreto-Lei nº 220, de 18 de julho de 1975, a função, submetido a processo em decorrência do estrito
que seja cominada pena disciplinar superior a cinquenta cumprimento do dever legal;
dias de suspensão ou demissão, ou cassação de aposen- XI – Aposentadoria nos termos da lei, com proventos
tadoria ou disponibilidade, os autos da sindicância serão integrais, independentemente de tempo de serviço, quan-
conclusos ao Secretário de Estado da Polícia Civil com pro- do for reconhecida a invalidez permanente, por motivo de
posição de instauração de inquérito administrativo a ser acidente em serviço, ou em razão da função, ou ainda, em
distribuído a uma das comissões permanentes de inquérito caso de moléstia grave adquirida em serviço ou em conse-
administrativo, da Secretaria Estadual de Administração. quência dele;

79
DIREITO ADMINISTRATIVO

XII – Trânsito: o período correspondente a cinco dias Art. 42  – A escala de férias poderá ser alterada, de
de afastamento total do serviço, concedido ao policial civil, acordo com as necessidades do serviço, por iniciativa do
quando desligado de uma sede para assumir exercício em superior ao qual estiver imediatamente subordinado, co-
outra situada em município diferente e se destina a prepa- municada a alteração ao órgão competente, inclusive para
rativos e à realização de viagem; efeito de acumulação de períodos.
XIII – Concessão de auxílio-funeral; Art. 43 – Somente depois do primeiro ano de efetivo
XIV – Prisão domiciliar cumprida na residência do in- exercício, adquirirá o policial direito a férias, as quais cor-
frator; responderão ao ano em que se completar esse período.
XV – Prisão domiciliar cumprida na residência do in- Art. 44 – é vedado levar à conta de férias qualquer falta
frator; ao trabalho.
XVI – Férias e licenças previstas em lei; Art. 45 – Excepcionalmente, em razão da natureza do
XVII – Gratificação adicional por tempo de serviço, na serviço, serão concedidas férias, com início em um exercí-
forma prevista no art. 90 e seus parágrafos; cio e término no seguinte, bem como parceladas em perío-
XVIII – Ascensão e transferência, na forma da legisla- dos de dez e quinze dias.
ção; Art. 46 – Obrigatoriamente, quando ocorrer movimen-
XIX – Garantias devidas ao resguardo da integridade tação do servidor, deverá ser comunicada a seu novo chefe
física do policial em caso de cumprimento de pena em es- a sua situação sobre o período de férias.
tabelecimento penal; conquanto sujeito ao sistema discipli-
nar penitenciário; Seção II
XX – Portar arma, com discrição, mesmo quando apo- DAS LICENÇAS
sentado. Subseção I
Parágrafo único – O policial, vinte e quatro horas após DAS DISPOSIÇÕES EM GERAIS
o último dia do período de trânsito, deverá apresentar-se à
unidade policial para a qual foi designado. Art. 47 – Conceder-se-á licença:
Art. 37  – Aos beneficiários do policial falecido, em I – Para tratamento de saúde;
consequência da agressão sofrida no desempenho de suas II – Por motivo de doença em pessoa da família;
III – Para repouso à gestante;
atribuições, em serviço ou fora dele, em razão de aciden-
IV – Para serviço militar;
te nele ocorrido ou ainda, de moléstia nele adquirida, será
V – Para acompanhar o cônjuge;
concedida pensão equivalente ao vencimento, acrescida de
VI – A título de prêmio;
todas as vantagens percebidas por ocasião do óbito.
VII – Para desempenho de mandato legislativo ou exe-
§ 1º - A prova das circunstâncias do falecimento será
cutivo.
feita de acordo com a legislação em vigor.
Art. 48 – Salvo os casos previstos nos incisos IV, V e VII
§ 2º - O valor da pensão será sempre revisto, nas mes- do artigo anterior, o policial não poderá permanecer em
mas bases em que se modificarem os valores dos venci- licença por prazo superior a vinte quatro meses;
mentos dos policiais em atividade. § 1º - Excetua-se do prazo estabelecido neste artigo,
a licença para tratamento de saúde, quando o policial for
Capítulo II considerado recuperável a juízo da junta médica.
DOS DIREITOS § 2º - Nas licenças dependentes de inspeção médica,
Seção I expirado o prazo deste artigo e ressalvada a hipótese refe-
DAS FÉRIAS rida no parágrafo anterior, o policial será submetido a nova
inspeção, que concluirá pela sua volta ao serviço, pela sua
Art. 38  – O policial gozará, obrigatoriamente, trinta readaptação, ou pela aposentadoria, se for julgado definiti-
dias de férias por ano, concedida de acordo com escala vamente inválido para o serviço público policial.
organizada pelo dirigente da unidade administrativa a que Art. 49 – As licenças previstas nos incisos I, II e III do ar-
estiver subordinada e comunicada ao órgão central de pes- tigo 47 serão concedidas pelo órgão médico oficial ou por
soal da Secretaria de Estado da Polícia Civil, para fins de outros, aos quais aquele transferir ou delegar atribuições, e
publicação e controle. pelo prazo indicado nos repetidos laudos.
Art. 39 – é proibido a acumulação de férias, salvo por § 1º - estando o policial ou pessoa de sua família abso-
imperiosa necessidade de serviço e pelo máximo de dois lutamente impossibilitado de locomover-se e não havendo
períodos. na localidade qualquer dos órgãos referidos neste artigo,
Art. 40 – O policial, ao entrar em férias, participará ao poderá ser admitido laudo expedido por órgão médico de
chefe imediato seu endereço eventual. outra entidade pública e, na falta, atestado passado por
Art. 41 – Mediante convocação do Secretário de Esta- médico particular com firma reconhecida.
do da Polícia Civil, o policial será obrigado a interromper § 2º - Nas hipóteses referidas no parágrafo anterior, o
suas férias, em situação de emergente necessidade de se- laudo ou atestado deverá ser encaminhado ao órgão mé-
gurança nacional ou para manutenção de ordem pública. dico competente, no prazo máximo de três dias contados
Parágrafo único – O policial terá direito a retornar às da primeira falta ao serviço médico; a licença respectiva so-
férias interrompidas, em época oportuna, sempre a critério mente será considerada concedida com a homologação do
da administração. laudo ou atestado, a qual será sempre publicada.

80
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 3º - Será facultado ao órgão competente, em caso de Subseção II


dúvida razoável, exigir nova inspeção por outro médico ou LICENÇA PARA TRATAMENTO DE SAÚDE
junta oficial.
§ 4º - No caso de o laudo ou atestado não ser homo- Art. 56 – A licença para tratamento de saúde será con-
logado, o policial será obrigado a reassumir o exercício do cedida, ou prorrogada, “ex-ofício” ou a pedido do policial ou
cargo, dentro de três dias contados de publicação do des- de seu representante, quando não possa ele fazê-lo.
pacho ou ciência nos autos, sendo considerados como de § 1º - Em qualquer dos casos é indispensável a inspeção
efetivo exercício os dias em que deixou de comparecer ao médica que será realizada, sempre que necessária, no local
serviço por esse motivo. onde se encontrar o policial.
§ 5º - Se, na hipótese do parágrafo anterior, a não ho- § 2º - Incumbe à chefia imediata promover a apresen-
mologação decorrer de falsa afirmativa por parte do mé- tação do policial à inspeção médica, sempre que este a so-
dico atestante, os dias de ausência do funcionário serão licitar.
tidos como falta ao serviço, sujeitos, um e outro, a processo Art. 57 – O policial não reassumirá o exercício do car-
administrativo disciplinar, que apurará e definirá responsa- go, sem nova inspeção médica, quando a licença concedida
bilidade; caso o médico atestante não esteja vinculado ao assim o tiver exigido; realizada esta nova inspeção, o res-
Estado, para fins disciplinares este comunicará o fato ao pectivo atestado ou laudo médico concluirá pela volta ao
Ministério Público ou a Conselho Regional de Medicina em serviço, pela prorrogação da licença, pela readaptação do
que seja inscrito. policial ou pela sua aposentadoria.
Art. 50  – A licença poderá ser prorrogada “ex-ofício” Art. 58 – Em caso de doença grave, contagiosa ou não,
ou a pedido. que imponha cuidados permanentes, poderá a junta médi-
§ 1º - O pedido de prorrogação deverá ser apresenta- ca, se considerar o doente irrecuperável, determinar, como
do antes de findo o prazo de licença; se indeferido, con- resultado da inspeção, sua imediata aposentadoria.
tar-se-á como de licença o período compreendido entre a Parágrafo Único  – A inspeção, para os efeitos deste
data do término e a da publicação do despacho. artigo, será realizado obrigatoriamente por um junta com-
§ 2º  - A licença concedida dentro de sessenta dias, posta de pelo menos três médicos.
contados do término da anterior, será, a critério médico, Art. 59 – O policial que se recusar à inspeção médica
ficará impedido do exercício de seu cargo, até que se veri-
considerada como sua prorrogação.
fique a inspeção.
Art. 51 – Ressalvada a hipótese de faltas por motivo de
Parágrafo Único – Os dias em que o policial, por for-
doença comprovada, inclusive em pessoa da família, até o
ça do disposto neste artigo, ficar impedido do exercício do
máximo de três, durante o mês, o tempo necessário à ins-
cargo, serão tidos como faltas ao serviço.
peção médica será considerado como de licença.
Art. 60 – No curso da licença, poderá o policial requerer
§ 1º - Considerando apto o policial ou pessoas de sua
inspeção médica, caso se julgue em condições de reassumir
família, reassumirá ele o exercício, sob pena de serem com- o exercício ou de ser aposentado.
putados como faltas os dias de ausência ao serviço. Art. 61 – Quando a licença para tratamento de saúde
§ 2º  - Se da inspeção ficar constatada simulação do for concedida em decorrência de acidente em serviço ou de
policial, as ausências serão havidas como faltas ao serviço doença profissional, esta circunstância se fará expressamen-
e o fato será comunicado ao órgão de pessoal, para as pro- te consignada.
vidências disciplinares cabíveis. Art. 62  – Considera-se acidente em serviço, para os
Art. 52 – Ao policial provido em comissão, ou desig- efeitos deste Regulamento, aquele que ocorra com policial
nado para função gratificada, não concederão, nesta qua- civil da ativa, quando:
lidade, as licenças referidas nos incisos IV, V, VI e VII do I – No exercício de suas atribuições policiais, durante o
artigo 47. expediente normal, ou quando determinado por autoridade
Art. 53 – No processamento das licenças dependentes competente, em sua prorrogação ou antecipação;
de inspeção médica, será observado o devido sigilo sobre II – No decurso de viagens em objetivo de serviço, pre-
os respectivos laudos e atestados. visto em regulamentos, programas de cursos ou autoriza-
Art. 54 – A licença superior a noventa dias, para tra- das por autoridade competente;.
tamento de saúde e por motivo de doença em pessoa da III – No cumprimento de ordem emanada de autorida-
família, dependerá a inspeção por junta médica. de competente;
§ 1º - No curso das licenças a que se refere este artigo IV – No decurso de viagens impostas por remoções;
o policial abster-se-á de qualquer atividade remunerada, V – No deslocamento entre a sua residência e o órgão em
sob pena de interrupção de licença, com perda total do que estiver lotado ou local de trabalho, ou naquele em que sua
vencimento e demais vantagens, até que reassuma o exer- missão deva ter início ou prosseguimento e vice-versa; bem
cício do cargo. como o dano resultante da agressão não provocada, sofrida
§ 2º - Os dias correspondentes à perda de vencimento, pelo policial no desempenho do cargo ou em razão dele;
de que trata o parágrafo anterior, serão considerados como VI – Em ocorrência policial, na defesa e manutenção da
faltas ao serviço. ordem pública mesmo sem determinação explícita;
Art. 55  – O policial licenciado comunicará ao chefe VII – No exercício dos deveres previstos em leis, regu-
imediato o local onde pode ser encontrado. lamentos ou instruções baixadas por autoridade compe-
tente.

81
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º - Aplica-se o disposto neste artigo ao policial que, Art. 68  – À policial gestante, quando em serviço in-
embora aguardando a aposentadoria, esteja, comprova- compatível com seu estado, serão cometidos encargos di-
damente, transmitindo o exercício de suas funções ao seu versos daqueles que estiver exercendo, respeitadas as atri-
substituto, bem como ao policial inativo, quando retorne à buições da série de classes e que pertencer.
atividade. Art. 69  – A licença de que trata esta subseção será
§ 2º - Considera-se também acidente em serviço, para concedida com vencimentos e vantagens integrais.
os fins estabelecidos na legislação vigente, os ocorridos nas
situações do § 1º, ainda quando não sejam eles a causa única Subseção V
e exclusiva da morte ou da perda ou redução da capacidade LICENÇA PARA SERVIÇO MILITAR
do policial, desde que, entre o acidente e a morte ou incapa-
cidade para o serviço policial, haja relação de causa e efeito. Art. 70 – Ao policial que for convocado para serviço
§ 3º - Considera-se acidente em serviço todo aquele que militar ou outro encargo de segurança nacional, será con-
se verifique pelo exercício das atribuições do cargo, provo- cedida licença pelo prazo que durar a sua incorporação ou
cando, direta ou indiretamente lesão corporal, perturbações convocação.
funcional ou doença que determine a morte; a perda total § 1º - A licença será concedida à vista de documento
ou parcial permanente ou temporária, da capacidade física oficial que comprove a incorporação ou convocação.
ou mental para o trabalho. § 2º  - Do vencimento descontar-se-á a importância
§ 4º - Não se aplica o disposto no presente Regulamen- que o policial percebe na qualidade de incorporado, salvo
to quando o acidente for resultado de transgressão disci- se optar pelas vantagens do serviço militar.
plinar, imprudência ou desídia do policial acidentado ou de § 3º  - Ao policial desincorporado ou desconvocado
subordinado seu, com sua aquiescência. conceder-se-á prazo , não excedente de trinta dias para
§ 5º - A autoridade policial competente, nos casos pre- que reassuma o exercício, sem perda de vencimento.
vistos neste artigo, fará registro minucioso do fato, no qual Art. 71 – Ao policial oficial da reserva das Forças Ar-
deverá consignar todas as provas colhidas, encaminhando madas será também concedida a licença referida no artigo
expediente relativo ao apurado do órgão de pessoal da Se- anterior durante os estágios previstos pelos regulamentos
cretaria, para fim de instauração de sindicância, a ser con-
militares.
cluída no prazo de oito dias, prorrogável por igual período,
Parágrafo Único – Quando o estágio for remunerado,
quando as circunstâncias o exigirem.
assegurar-se-lhe-á o direito de opção.
§ 6º - Ao policial ocupante de cargo em comissão ou
função gratificada aplicar-se-á o disposto neste artigo.
Subseção VI
Art. 63 – A licença para tratamento de saúde será con-
LICENÇA PARA ACOMPANHAR O CÔNJUGE
cedida sempre com vencimentos e vantagens integrais.

Subseção III Art. 72 – O policial casado terá direito à licença sem
LICENÇA POR MOTIVO DE DOENÇA EM PESSOA DA vencimento, quando seu cônjuge for exercer mandato ele-
FAMÍLIA tivo ou, sendo militar ou servidor da administração direta,
de autarquia, de empresa pública, de sociedade de econo-
Art. 64 – O policial poderá requerer licença por motivo mia mista ou de fundação instituída pelo Poder Público,
de doença na pessoa de ascendente, descendente, colateral, for mandado servir, “ex-ofício”, em outro ponto do territó-
consanguíneo ou afins, até o 2º grau civil, cônjuge do qual rio estadual, nacional ou no exterior.
não esteja legalmente separado, ou pessoa que viva às suas Parágrafo único – Existindo no novo local de residên-
expensas e conste do respectivo assentamento individual, cia órgão estadual, o policial nele será lotado, havendo
desde que prove ser indispensável sua assistência pessoal e claro, ou não havendo poderá ser-lhe concedida, em caso
esta não possa ser prestada simultaneamente com o exercí- de interesse de administração, permissão de exercício, en-
cio do cargo. quanto ali durar sua permanência.
Art. 65 – A licença referida no artigo anterior poderá ser Art. 73 – A licença dependerá de pedido devidamente
prorrogada, a pedido do policial. instruído, que deverá ser renovada de dois em dois anos;
Art. 66 – A licença de que trata esta subseção não po- finda a sua causa, o policial deverá reassumir o exercício,
derá exceder de vinte e quatro meses e será concedida com dentro de trinta dias, a partir dos quais a sua ausência será
vencimentos e vantagens integrais nos primeiros doze me- computada como falta ao trabalho.
ses e com dois terços nos outros doze meses subsequentes. Art. 74 – Independentemente do regresso do cônjuge,
o policial poderá reassumir o exercício a qualquer tempo,
Subseção IV não podendo, neste caso, renovar o pedido de licença se-
LICENÇA PARA REPOUSO GESTANTE não depois de dois anos da data da reassunção, salvo se o
cônjuge for transferido novamente.
Art. 67 – À policial gestante será concedida licença pelo Art. 75  – As normas desta subseção aplicam-se aos
prazo de quatro meses. policiais que vivam maritalmente, desde que haja impedi-
Parágrafo único  – Salvo prescrição médica em con- mento legal ao casamento e convivência por mais de cinco
trário, a licença será concedida a partir do oitavo mês de anos.
gestação.

82
DIREITO ADMINISTRATIVO

Subseção VII Parágrafo único  – Se, na interrupção da licença, se


LICENÇA A TÍTULO DE PRÊMIO verificar que o policial gozou período não conforme o dis-
posto no artigo 82, o prazo restante da licença, referente
Art. 76  – Após cada quinquênio de efetivo exercício ao mesmo quinquênio, qualquer que seja ele, ficará insus-
prestado ao Estado, ao policial que a requerer, conceder- cetível de gozo, sendo computável em dobro apenas para
-se-á licença-prêmio de três meses com todos os direitos e efeito de aposentadoria.
vantagens de seu cargo efetivo. Art. 84 – é vedado descontar de licença-prêmio, faltas
§ 1º  - Não será concedida licença-prêmio se houver ao serviço ou qualquer licença concedida ao policial.
policial, no quinquênio correspondente:
1 – sofrido pena de suspensão ou de multa; Subseção VIII
2 – faltado ao serviço, salvo se abonada a falta; LICENÇA PARA DESEMPENHO DE MANDATO LE-
3 – gozado as licenças para tratamento de saúde, por GISLATIVO OU EXECUTIVO
motivo de doença em pessoa da família e por motivo de
afastamento do cônjuge, por prazo superior a noventa Art. 85  – O policial será licenciado sem vencimentos
ou vantagens de seu cargo efetivo, para desempenho de
dias, em cada caso.
mandato eletivo, federal ou estadual.
§ 2º - Suspender-se-á, até o limite de noventa dias, em
Parágrafo único – A licença a que se refere este artigo
cada uma das licenças referidas no item 3 do parágrafo
será concedida a partir da diplomação do eleito, pela Justi-
anterior, a contagem do tempo de serviço para efeito de
ça Federal e perdurará pelo prazo do mandato.
licença-prêmio.  Art. 86  – O policial investido no mandato eletivo de
§ 3º - O gozo da licença para repouso à gestante não prefeito ficará licenciado desde a diplomação pela Justiça
prejudicará contagem do tempo de serviço para efeito da Eleitoral até o término do mandato, sendo-lhe facultado
licença-prêmio. optar pela percepção do vencimento e vantagens de seu
§ 4º  - Para apuração do quinquênio, computar-se-á, cargo efetivo.
também, o tempo de serviço prestado anteriormente em Art. 87 – Quando o policial for nomeado governador
outro cargo estadual, desde que entre um e outro não haja de território federal, interventor ou prefeito de Capital ou
interrupção do exercício. Município de área de Segurança Nacional ou estância hi-
Art. 77  – O direito à licença-prêmio não tem prazo dromineral, ficará, desde a posse, licenciado sem venci-
para ser exercitado. mento e vantagens do seu cargo efetivo, ressalvado, para
Art. 78 – A competência para a concessão de licença- âmbito Municipal, o direito de opção pela remuneração do
-prêmio é do Diretor do Departamento de Administração cargo efetivo.
da Secretaria de Estado da Polícia Civil. Art. 88  – Investido o policial no mandato de verea-
Art. 79 – O policial investido em cargo de provimento dor e havendo compatibilidade de horários, perceberá o
em comissão ou função gratificada será licenciado com o vencimento e as vantagens de seu cargo, sem prejuízo dos
vencimento e vantagens do cargo de que seja ocupante subsídios a que faz juz; inexistindo compatibilidade, ficará
efetivo. afastado do exercício de seu cargo, sem percepção do ven-
Art. 80  – Quando o policial ocupar em comissão ou cimento e vantagens.
função gratificada por mais de cinco anos, apurados na
forma do art. 76, assegurar-se-lhe-á, no gozo da licença, Capítulo III
importância igual à que venha percebendo pelo exercício DAS VANTAGENS
no cargo em comissão ou da função gratificada. Seção I
Parágrafo único  – Adquirido o direito à licença-prê- DISPOSIÇÕES GERAIS
mio, de acordo com o estabelecido neste artigo, a ulterior
Art. 89 – Além do vencimento, poderá o policial perce-
exoneração do cargo em comissão ou dispensa da função
ber as seguintes vantagens pecuniárias:
gratificada, não prejudicará a forma de remuneração nele
I – adicional por tempo de serviço;
adotada, quando do efetivo gozo da licença pelo policial.
II – gratificações;
Art. 81 – Em caso de acumulação de cargos, a licença- III – ajuda de custo e transporte ao policial mandado
-prêmio será concedida em relação a cada um deles, simul- servir em nova sede;
tânea ou separadamente. IV – diárias àquele que, em objeto de serviço, se deslo-
Parágrafo Único  – Se independente o cômputo do car eventualmente da sede.
quinquênio em relação a cada um dos cargos acumulados.
Art. 82 – A licença-prêmio poderá ser gozada integral- Seção II
mente, ou em períodos de um a dois meses. ADICIONAL POR TEMPO DE SERVIÇO
Parágrafo único – Se a licença for gozada em períodos
parcelados, deve ser observado intervalo obrigatório de Art. 90 – O adicional por tempo de serviço é o percen-
um ano entre o término de um período e o início de outro. tual calculado sobre o vencimento-base de cargo efetivo, a
Art. 83 - O policial poderá, a qualquer tempo, reassu- que faz jus o policial, por quinquênio de efetivo exercício,
mir o exercício do seu cargo, condicionado o gozo dos dias decorrente de antiguidade no serviço público, apurado na
restantes da licença à regra contida no artigo anterior. forma do título IX.

83
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º - A cada quinquênio de efetivo exercício, corres- nários que desempenhem atividades especiais ou exceden-
ponderá um grau de progressão horizontal até o limite de tes às atribuições do seu cargo, vedado o seu recebimento
sete graus. cumulativo com as gratificações específicas das funções de
§ 2º  - O regime de quinquênio prevalecerá somente confiança.
para o ingresso de novos servidores na carreira policial.
§ 3º - Ficam assegurados os direitos adquiridos pelos Subseção II
policiais ao recebimento de triênios ou de quinquênios, se- DA GRATIFICAÇÃO PELO EXERCÍCIO DE CARGO EM
gundo o Estado de origem, quando ainda percebidos na COMISSÃO
data da entrada em vigor do novo regime de adicional de
tempo de serviço. Art. 95  – A gratificação pelo exercício de cargo em
§ 4º - A cada triênio de efetivo exercício corresponde- comissão é aquela definida no art. 7º deste Regulamento
rá um grau de progressão horizontal até o limite de nove e correspondente a 70% do valor fixado para o cargo em
graus. comissão, que será paga juntamente com o vencimento e
§ 5º - O percentual correspondente a cada quinquênio vantagens do cargo efetivo, quando o policial não optar
ou triênio será de 5% do vencimento-base do policial até o pelo vencimento deste.
limite máximo de 35% ou 50%, respectivamente, de confor- § 1º - Quando a opção não recair sobre o vencimento
midade com o § § 2º e 3º deste artigo. do cargo efetivo, perceberá o policial integralmente o valor
§ 6º - A progressão horizontal é devida a partir do dia correspondente ao símbolo do cargo em comissão.
imediato àquele em que o policial completar o triênio ou § 2º - À gratificação de que trata este artigo, aplica-se
quinquênio e será concedido independentemente de re- o disposto no parágrafo único do artigo 122.
querimento do interessado.
Subseção III
Obs.: O regime hoje em vigor é o de triênios para todo DA GRATIFICAÇÃO DE REPRESENTAÇÃO DE GABI-
o funcionalismo e a Lei nº 1600, de 15-01-90, estabeleceu NETE
o percentual de 60% como limite.
Art. 96 – A gratificação de representação de gabinete
é a que tem por fundamento a compensação de despesas
Seção III
de apresentação inerentes ao local do exercício ou à remu-
GRATIFICAÇÕES
neração de encargos especiais.
Art. 97 – A gratificação será concedida aos policiais em
Art. 91 – Conceder-se-á gratificação:
exercícios no gabinete do Secretário de Estado da Polícia
I – de função;
Civil que, a critério deste, assim devam ser remunerados.
II – pelo exercício de cargo em comissão;
§ 1º - O valor global da gratificação será aprovado pelo
III – de representação de Gabinete; Governador, ouvida a Secretaria de Planejamento e Coor-
IV – pelo participação em órgão de deliberação cole- denação Geral quanto aos aspectos orçamentários e finan-
tiva; ceiros.
a) encargo auxiliar ou membro de banca ou comissão § 2º - O valor individual da gratificação será fixado em
examinadora de concurso; tabela aprovada pelo Secretário de Estado da Polícia Civil,
b) encargo de auxiliar ou professor em curso oficial- não podendo exceder a 50% do cargo efetivo do policial.
mente instituído. Art. 98 – A gratificação de representação de gabinete
não será suspensa nos afastamentos seguintes:
Subseção I I – férias;
GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO II – casamento;
III – luto;
Art. 92 – A gratificação de função de chefia, assistência IV – júri e outros serviços obrigatórios por lei;
intermediária e secretariado é aquela definida no parágrafo V – licença para tratamento de saúde e repouso à ges-
único do artigo 9 (deste Regulamento e correspondente ao tante;
exercício de função gratificada, instituída e remunerada na VI – falta até o máximo de três dias durante o mês,
forma que se dispuser em lei. por motivo de doença comprovada, inclusive quando em
Art. 93  – A gratificação será mantida nos casos de pessoa da família.
afastamentos previstos nos incisos I, II, VII, VIII, X, XI, XII,
XIII, XIV, XV, XVII, exceto convocação para o serviço militar, Subseção IV
e XIX, todos do artigo 259. GRATIFICAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO EM ÓRGÃO DE
Parágrafo único – Na hipótese do afastamento do in- DELIBERAÇÃO COLETIVA
ciso VI do artigo 259, obedecer-se-á, quando for o caso, ao
disposto no artigo 80. Art. 99 – A gratificação pela participação em órgão de
Art. 94 – Além do exercício de função gratificada re- deliberação coletiva destina-se a remunerar a presença dos
gularmente instituída, poderá ser atribuída, na forma de componentes dos órgãos colegiados regularmente instituí-
regulamentação específica, gratificação de função a funcio- dos.

84
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º - A gratificação de que trata este artigo será fixada Seção IV


por Resolução, em base percentual, calculada sobre o va- DA AJUDA DE CUSTO E TRANSPORTE
lor do símbolo de cargo efetivo ou em comissão ou função
gratificada, e paga por dia de presença às sessões do órgão Art. 109 – Será concedida ajuda de custo, a título de
colegiado. compensação das despesas de viagens, mudanças e ins-
§ 2º - Não serão remuneradas as sessões que excede- talação, ao policial que, em razão de remoção, tenha que
rem o número de 12 por mês.  deslocar efetivamente sua residência.
Art. 100 – é vedada a participação do policial em mais Parágrafo único – Considerar-se-á necessária a trans-
de um órgão de deliberação coletiva, salvo quando na con- ferência de residência quando o policial for removido para
dição de membro nato. unidade distante mais de 100KM de sua atual residência.
Parágrafo único – Quando o policial for membro nato Art. 110  – A ajuda de custo será arbitrada pelo Se-
de mais de um órgão de deliberação coletiva, poderá optar cretário de Estado da Polícia Civil e nunca inferior a uma e
pela gratificação de valor mais elevado. nem superior a três vezes a importância correspondente ao
Art. 101  – A gratificação pela participação em órgão vencimento do policial, salvo quando se tratar de missão
de deliberação coletiva é acumulável com quaisquer outras exterior.
vantagens pecuniárias atribuídas ao policial. § 1º - No arbitramento da ajuda de custo serão leva-
Parágrafo único – Durante os afastamentos legais do dos em conta o vencimento do cargo do policial designado
titular, apenas o suplente perceberá a gratificação pela par- para nova sede ou missão no exterior, as despesas a serem
ticipação em órgão de deliberação coletiva. por ele realizadas, bem como as condições de vida no local
do novo exercício ou no desempenho de missão.
Subseção V § 2º - Compete ao Governador arbitrar a ajuda de cus-
GRATIFICAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO EM BANCA EXA- to a ser paga ao policial designado par missão no exterior.
MINADORA DE CONCURSO OU PROFESSOR EM CURSO Art. 111  – Sem prejuízo das diárias que lhe coube-
OFICIALMENTE INSTITUÍDO rem o policial obrigado a permanecer fora da sede de sua
unidade administrativa, em objeto de serviço, por mais de
Art. 102  – Pelo exercício de encargo de auxiliar ou
trinta dias, perceberá ajuda de custo correspondente a um
membro de banca ou comissão examinadora de concurso
mês do vencimento do seu cargo.
ou de atividade temporária de auxiliar ou professor de curso
Parágrafo único – A ajuda de custo será calculada so-
oficialmente instituído, ao policial será atribuída gratificação
bre o valor atribuído ao símbolo do cargo em comissão,
conforme o estabelecido nesta subseção.
quando o seu ocupante não for também de cargo efetivo.
Art. 103  – Entende-se como encargo de membro de
Art. 112 – Não se concederá ajuda de custo:
banca ou comissão examinadora de concurso a tarefa de-
sempenhada, por designação de autoridade competente, I – ao policial que, em virtude de mandato legislativo
no planejamento, organização e aplicação da provas, corre- ou executivo, deixar ou reassumir o exercício do cargo;
ção e apuração dos resultados, revisão e decisão dos recur- II – ao policial posto a serviço de qualquer outra enti-
sos interpostos, até a classificação definitiva, nos concursos, dade do direito público;
provas de seleção ou de habilitação e ascensão pela Acade- III – quando a designação para a nova sede se der a
mia de Polícia, para provimento de cargos, preenchimentos pedido.
de empregos ou admissão a cursos oficialmente instituídos. Art. 113 – O policial restituirá a ajuda de custo:
Art. 104 – Professor de curso oficialmente instituído é I – quando não se transportar para a nova sede ou local
o designado pela autoridade competente, para exercer ati- da missão, nos prazos determinados;
vidade temporária de magistério nas áreas de treinamento III – quando antes de decorridos três meses do deslo-
e aperfeiçoamento de pessoa. camento ou do término da incumbência, regressar, pedir
Art. 105 – Somente policiais civis (ativos e inativos) e, exoneração ou abandonar o serviço;
excepcionalmente, os membros do Ministério Público, Ma- § 1º - A restituição é de exclusiva responsabilidade do
gistratura e Técnicos, de reconhecido saber, poderão ser policial e não poderá ser feita parceladamente.
designados para exercer atividades temporárias de auxiliar § 2º - O policial que houver percebido ajuda de custo
de ensino ou professor e membro de banca ou comissão não entrará em gozo de licença-prêmio antes de decorri-
examinadora de concurso. dos noventa dias de exercício na nova sede, ou e finda a
Art. 106 – A gratificação pelo exercício de atividade missão.
temporária de auxiliar ou professor de curso oficialmente § 3º - Não haverá obrigação de restituir:
instituído somente será atribuída ao policial, se o traba- 1 – quando o regresso do policial for determinado “ex-
lho for realizado além das horas de expediente a que está -ofício” ou decorrer de doença comprovada ou de motivo
sujeito. de força maior.
Art. 107 – As gratificações de que trata esta subseção 2 – quando o pedido de exoneração for apresentado
serão arbitradas, em cada caso, pelo Governador, proposta após noventa dias de exercício na nova sede ou local da
pelo Secretário de Estado da Polícia Civil. missão.
Art. 108 – A concessão das gratificações de que trata Art. 114 – Independentemente da ajuda de custo, con-
esta subseção não prejudicará a percepção cumulativa de cedida ao policial, a este será assegurado transporte para a
outras vantagens pecuniárias atribuídas ao Policial. nova sede, inclusive para seus dependentes.

85
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º - O policial que utilizar condução própria no des- Seção V


locamento para a nova sede fará jus, para indenização da DAS DIÁRIAS
despesa de transporte, à percepção da importância integral
correspondente ao valor da tarifa rodoviária no mesmo per- Art. 122  – Ao policial que se deslocar, temporaria-
curso, acrescida de 50% do referido valor por dependente mente, em objeto de serviço, da localidade onde estiver
que o acompanhe até o máximo de três. sediada sua unidade administrativa, conceder-se-á, além
§ 2º - Na hipótese do parágrafo anterior, a administra- de transporte, diária a título de compensação das despesas
ção fornecerá passagens para o transporte rodoviário dos de alimentação e pousada, ou, somente, de alimentação.
dependentes que comprovadamente não viajem em com- Parágrafo único – A vantagem de que trata este artigo
panhia do policial. poderá também ser concedida ao servidor contratado, no
Art. 115 – Nos deslocamentos a que se refere o art. 109 exercício de função gratificada, bem como estagiário.
serão assegurados, ao policial removido para a nova sede, Art. 123 – Será concedida diária:
transporte do mobiliário e bagagens, inclusive de seus de- I – de alimentação e pousada, nos deslocamentos su-
pendentes, assim considerados: periores a 100 km de distância da sede, desde que o per-
I – o cônjuge ou a companheira legalmente equiparada; noite se realize por exigência do serviço:
II – o filho de qualquer condição ou enteado, bem as- II – de alimentação nos deslocamentos inferiores a 100
sim o menor que, mediante autorização judicial, viva sobre km e superiores a 50 km de distância da sede;
a guarda e o sustento do policial; III – em qualquer outro caso:
III – os pais, sem economia própria, que vivam às expen- a) de alimentação e pousada quando o afastamento da
sas do policial; sede for inferior a oito horas;
IV – em empregado, doméstico, desde que comprova- b) de alimentação, quando o afastamento da sede for
da esta condição. inferior a 18 (dezoito) e superior a 8 (oito) horas;
§ 1º  - Atingida a maioridade, os referidos no inciso II A alínea “C”, constante do texto original foi revogada
deste artigo perdem a condição de dependente, exceto a pela Lei nº 330, de 30-06-80.
filha que se conservar solteira sem economia própria, o filho Art. 124 – O valor da diária resultará da incidência de
inválido e, até completar vinte e quatro anos quem for estu- percentual sobre o valor básico da UFERJ, atendida a tabela
dante, sem exercer qualquer atividade lucrativa. que for expedida por ato do Governador, observados, em
§ 2º - Para efeito do disposto neste artigo, sem econo- sua elaboração, a natureza, o local, as condições de servi-
mia própria significa não perceber rendimento em impor- ços e o vencimento do policial.
tância igual ou superior ao valor do salário mínimo vigente Art. 125 – Não se concederá diárias:
na região em que resida. I – durante o período de trânsito;
Art. 116 – Em face da peculiaridade do serviço, poderá II – quando o deslocamento se constitui em exigência
ser concedido o pagamento da indenização de despesa de permanente do exercício do cargo ou da função;
transporte aos policiais que tenham assegurado o direito ao III – quando o município para o qual se deslocar o po-
uso individual de viaturas oficiais e que utilizarem veículo licial seja contíguo ao da sua sede, constituindo-se, em re-
próprio no desempenho de suas funções, conforme faixas lação a este, em unidade urbana e apresentado facilidade
de remuneração a serem definidas em Resolução do Secre- de transporte, ressalvada a hipótese da alínea “c” do inciso
tário de Estado da Polícia Civil. II do artigo 123.
Art. 117 – A autorização para utilização de veículos de Art. 126  – Ao regressar a sede, o policial restituirá,
propriedade do policial a serviço do Estado será de compe- dentro do prazo de quarenta e oito horas, as importâncias
tência do Secretário de Estado da Polícia Civil, por intermé- recebidas em excesso.
dio do Departamento de Administração. Parágrafo único  – O descumprimento do disposto
Art. 118  – Concedida a autorização, o Estado não se neste artigo ocasionará o desconto em folha da importân-
responsabilizará por danos causados a terceiros ou ao veí- cias recebidas em excesso pelo policial, sem prejuízo das
culo ainda que a ocorrência se verifique em serviço. sanções disciplinares aplicáveis à espécie.
Art. 119  – Quando convier, o Estado cancelará, em Art. 127  – A concessão indevida de diárias sujeitará
qualquer época, a retribuição da indenização de despesas a autoridade que as conceder à reposição da importância
de transporte, cuja concessão não gerará qualquer direto à correspondente, aplicando-se-lhe, e ao policial que as re-
continuidade da respectiva percepção. ceber, as cominações estatutárias pertinentes.
Art. 120 – É vedado o uso de viatura oficial por quem
já seja portador de autorização para utilização de veículo Título V
particular a serviço do Estado. DAS CONCESSÕES
Parágrafo único  – A infração do disposto neste arti- Capítulo I
go sujeita o policial às penalidades cabíveis, cancelando-se, DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
ainda, a autorização concedida em seu favor.
Art. 121 – Ao receber a autorização para utilização de Art. 128 – Sem prejuízo do vencimento, direitos e van-
veículo próprio, em serviço, o usuário assinará termo de tagens, o policial poderá faltar ao serviço até oito dias con-
compromisso no Departamento de Administração da Se- secutivos, por motivo de:
cretaria de Estado da Polícia Civil submetendo-se aos pre- I – casamento;
ceitos regulamentares da matéria. II – falecimento do cônjuge, pais, filhos ou irmãos;

86
DIREITO ADMINISTRATIVO

Parágrafo único – Computar-se-á, para efeitos deste Capítulo II


artigo, os sábados, domingos e feriados compreendidos SALÁRIO-FAMÍLIA
no período.
Art. 129  – Ao licenciado para tratamento de saúde Art. 136  – Salário-família é o auxílio pecuniário con-
em virtude de acidente em serviço ou doença profissional, cedido pelo Estado ao policial na ativa ou inativo, como
que deva ser deslocado de sua sede para qualquer ponto contribuição ao custeio das despesas de manutenção de
do território nacional, por exigência do laudo médico, será sua família.
concedido transporte à conta dos cofres estaduais, inclusi- Parágrafo único – A cada dependente relacionado no
ve para acompanhante. artigo seguinte corresponderá uma cota de salário-família.
§ 1º - Será, ainda, concedido transporte à família do Art. 137 – Conceder-se-á salário-família:
policial falecido no desempenho do serviço, fora da sede I – por filho menor de vinte e um anos, que não exerça
de seus trabalhos, inclusive quando no exterior. atividade remunerada;
§ 2º - Correrão, também, por conta do Estado, as des- II – por filho inválido;
pesas com a remoção e com o sepultamento do policial III – por filha solteira sem economia própria;
falecido no desempenho do serviço. IV – por filha estudante que frequente curso médio ou
Art. 130 – Ao policial estudante matriculado em esta- superior e que não exerça atividade lucrativa, até a idade
belecimento de ensino de qualquer grau, oficial ou reco- de 24 anos;
nhecido, será permitido faltar ao serviço, sem prejuízo de V – pelo ascendente, sem rendimento próprio, que viva
seu vencimento ou de quaisquer direito e vantagens, nos às expensas do policial;
dias de provas ou de exames, mediante apresentação de VI – pela esposa que não exerça atividade remunerada;
atestado fornecido pelo respectivo estabelecimento. VII – pelo esposo que não exerça atividade remunerada
Art. 131 – Ao estudante que necessitar mudar de do- por motivo de invalidez permanente;
micílio para passar a exercer o cargo ou função pública, VIII – pela companheira, mulher solteira, viúva, desqui-
será assegurada transferência do estabelecimento de en- tada ou divorciada que não exerça atividade remunerada,
sino que estiver cursando, para outro de sua nova resi- que com ele coabite há mais de cinco anos, ou que com
dência onde será matriculado em qualquer época, inde- ele tenha filho que comprovadamente tenha direito a ali-
pendentemente de vaga, se integrante do sistema esta- mentação.
dual de ensino. § 1º - Compreende-se neste artigo o filho de qualquer
Art. 132 – Os atos que deslocarem “ex-ofício” os po- condição, enteado, o adotivo e o menor que comprovada-
liciais estudantes de uma para outras cidades ficarão sus- mente viva sob a guarda e o sustento do policial.
pensos se, na nova sede ou em localidade próxima, não § 2º - O disposto no inciso VIII deste artigo somente
existir estabelecimento congênere, oficial, reconhecido ou se aplica ao policial desquitado ou divorciado quando este
equiparado àquele em que o interessado esteja matricu- não tenha o encargo de alimentar a ex-esposa.
lado. § 3º - A cada dependente relacionado neste artigo cor-
§ 1º - Efetivar-se-á o deslocamento se o policial con- responderá a cota de salário-família.
cluir o curso, for reprovado, ou deixar de renovar sua ma- Art. 138 – Quando o pai e mãe forem policiais na ativa
trícula. ou inativos, ou um for policial e outro funcionário estadual
§ 2º  - Anualmente o interessado deverá fazer prova, e viverem em comum, o salário-família será concedido ex-
perante o órgão setorial de pessoa a que esteja subordi- clusivamente ao pai.
nado, de que está matriculado. § 1º - Se não viverem em comum, será concedido ao
Art. 133  – O policial estudante matriculado em es- que tiver os dependentes sob sua guarda; se ambos os ti-
tabelecimento de ensino que não possua curso noturno, verem, de acordo com a distribuição dos dependentes.
poderá, sempre que possível, ser aproveitado em serviços § 2º  - Quando pai e mãe forem ambos funcionários
cujo horário não colida com o relativo ao período das au- ou servidores, um do Estado do Rio de Janeiro e outro de
las. entidade diversa, o Estado pagará o salário-família ao seu
Parágrafo único – Sendo impossível o aproveitamen- funcionário ainda que o outro o perceba da entidade a que
to a que se refere o presente artigo, poderá o estudante, estiver vinculado.
com assentimento do respectivo chefe, iniciar o serviço Art. 139 – Ao pai e à mãe equiparam-se o padrasto
uma hora depois do expediente ou dele se retirar uma e a madrasta e, na falta destes, os representantes legais
hora antes do seu término, conforme o caso, desde que dos incapazes ou os que, mediante autorização judicial,
a compense, prorrogando ou antecipando o expediente tenham sob sua guarda os dependentes a que se refere
normal. o artigo 137.
Art. 134 – O policial terá preferência, para sua mora- Art. 140 – A cota de salário-família por filho inválido
dia, na locação de imóvel pertencente ao Estado. corresponderá ao triplo da cota normalmente paga aos de-
Art. 135  – As concessões estabelecidas neste título mais dependentes.
aplicam-se: Art. 141 – O salário-família será pago independente-
I – aos servidores contratados no exercício de função mente da frequência do policial e não poderá sofrer qual-
gratificada, as constantes dos artigos 128, 129 e 130. quer desconto, nem ser objeto de transação ou consigna-
II – aos estagiários as dos artigos 128 e 129. ção em folha de pagamento.

87
DIREITO ADMINISTRATIVO

Parágrafo único – O salário-família não está, também, Capítulo III


sujeito a qualquer imposto ou taxa, nem servirá de base DO AUXÍLIO-DOENÇA
para qualquer contribuição, ainda que de finalidade previ-
denciária e assistencial. Art. 148 – Após cada período de doze meses conse-
Art. 142 – O salário-família será pago mesmo nos ca- cutivos de licença para tratamento de saúde, o policial terá
sos em que o policial na ativa ou inativo deixar de receber direito a um mês de vencimento, a título de auxílio-doença.
o respectivo vencimento ou provento. § 1º - Quando ocorrer o falecimento do policial, o au-
Art. 143 – Nos casos de acumulação legal de cargos, o xílio-doença a que tiver feito jus será pago de acordo com
salário-família será pago somente em relação a um deles. as normas que regulam o pagamento de vencimento não
Parágrafo único  – No caso de acumulação de cargo recebido.
público, emprego ou provento de servidor da Administra- § 2º - O auxílio-doença não sofrerá descontos de qual-
ção centralizada ou descentralizada estadual, exceto fun- quer espécie, ainda que para fins de assistência e previ-
dações, com idênticas situações de natureza federal, de dência.
outros Estados, ou municipal, o salário-família não deixará Art. 149  – O tratamento do policial acidentado em
de ser pago pelo Estado do Rio de Janeiro ainda que a ou- serviço, acometido de doença profissional ou internado
tra entidade a que se vincule o servidor também o pague. compulsoriamente para tratamento psiquiátrico, correrá
Art. 144 – Em caso de falecimento do policial, na ativa integralmente por conta dos cofres do Estado, e será rea-
ou inativo, o salário-família continuará a ser pago aos seus lizado, sempre que possível, em estabelecimento estadual
beneficiários. de assistência médica.
Parágrafo único  – Se o policial, na ativa ou inativo, § 1º - Ainda que o policial venha a ser aposentado em
falecido, não se houver habilitado ao salário-família, a Ad- decorrência de acidente em serviço, de doença profissional
ministração, mediante requerimento de seus beneficiários, ou de internação compulsória para tratamento psiquiátri-
providenciará o seu pagamento, desde que atendidos os co, as despesas previstas neste artigo continuarão a correr
requisitos necessários à concessão desse benefício. pelos cofres do Estado.
Art. 145 – O cancelamento do salário-família, será fei- § 2º - Nas hipóteses deste artigo não será devido ao
to de ofício nos casos de implemento de idade pelo de- policial o pagamento do auxílio-doença.
pendente, salvo se o policial, na ativa ou inativo, no caso Art. 150 – O Titular do órgão competente para conces-
de filho estudante que não exerça atividade remunerada são de licença médica ao policial do Estado decidirá sobre
apresentar comprovação de frequência em curso secundá- os pedidos de pagamento do auxílio-doença e do trata-
rio ou superior, até trinta dias antes de completar vinte e mento a que se refere o artigo anterior.
um anos, anualmente, por ocasião da matrícula escolar, até Art. 151 – Nos casos de acumulação legal de cargos, o
que atinja vinte e quatro anos. auxílio-doença devido será pago somente em relação a um
Parágrafo único – O cancelamento será feito, a reque- deles, e calculado sobre o de maior vencimento, se ambos
rimento do interessado, nos casos de exercício de atividade forem estaduais.
remunerada, falecimento, abandono de lar, casamento, se-
paração judicial ou divórcio do dependente, respondendo Capítulo IV
o policial na ativa ou inativo, civil, penal e administrativa- DO AUXÍLIO-FUNERAL
mente pela omissão ou inexatidão de suas declarações.
Art. 146  – O salário-família, relativo a cada depen- Art. 152 – À família do policial ativo ou inativo falecido
dente, será devido a partir do mês em que tiver ocorrido será concedido auxílio-funeral.
o fato que lhe deu origem, embora verificado no último § 1º - O auxílio será pago:
dia do mês. 1 – no valor correspondente a dez UFERJ, quando o do
Parágrafo único – Deixará de ser devido o salário-fa- vencimento e vantagens ou proventos do falecido for igual
mília, relativo cada dependente, no mês seguinte em que ou inferior a esse quantitativo;
se retificou o ato ou fato que haja determinado a sua su- 2 – O valor correspondente a vinte UFERJ, nos demais
pressão, embora ocorrido no primeiro dia do mês. casos.
Art. 147 – Não será concedido salário-família por es- § 2º - A despesa com auxílio-funeral correrá à conta de
posa desquitada ou divorciada, sem percepção de alimen- dotação orçamentária própria.
tos, nem quando o valor do benefício não estiver incluído Art. 153 – Aplica-se ao auxílio-funeral a norma estabe-
na sentença judicial que condenou o policial à pensão ali- lecida no art. 151.
mentícia, transitada em julgado. § 1º - Se as despesas do funeral não ocorreram às ex-
§ 1º - Na hipótese de a pessoa desquitada ou divorcia- pensas da família do policial ativo ou inativo, o respectivo
da vir, qualquer tempo, a obter judicialmente, a percepção auxílio será pago a quem se tiver comprovadamente reali-
de salário-família, deixará ele de ser pago pela nova esposa zado.
ou companheira. § 2º  - O pagamento do auxílio-funeral obedecerá a
§ 2º - No caso de cancelamento na forma deste artigo processo sumaríssimo, concluído no prazo de quarenta e
e parágrafo anterior, se ocorrer o falecimento da esposa oito horas da apresentação da certidão de óbito e docu-
desquitada ou divorciada em o requerendo a parte inte- mentos que comprovem a satisfação da despesa pelo re-
ressada e desde que persistam os motivos de sua primeira querente incorrendo em pena de suspensão o responsável
concessão, será o benefício restabelecido. pelo retardamento.

88
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo V Art. 164 – Serão estabelecidos três prêmios anuais, em


DO AUXÍLIO-MORADIA importância a ser fixada pelo Governador, destinados ao
trabalho que melhor se ajustarem às finalidades de sua
Art. 154 – Será concedido auxílio-moradia ao policial instituição nos termos de regulamentação própria a ser
que for designado “ex-ofício” para ter exercício definitivo baixada pelo Secretário de Estado da Polícia Civil.
em nova sede e nesta não vier a residir em imóvel perten- Art. 165 – Caberá a uma comissão, composta de cin-
cente ao Poder Público. co membros, de reconhecida competência em técnica de
Parágrafo Único  – Ao auxílio previsto neste artigo administração policial, avaliar e julgar os trabalhos rece-
aplica-se o disposto no parágrafo único do art. 109. bidos.
Art. 155 – O auxílio-moradia corresponderá a 20% do § 1º - Anualmente será designada a comissão por ato
vencimento base do policial.  do Secretário de Estado da Polícia civil, que indicará seu
Art. 156 – O pagamento do auxílio-moradia é devido presidente.
a partir da data em que o policial passar a ter exercício na § 2º - O julgamento da comissão será irrecorrível.
nova sede e cessará: Art. 166  – Aos autores dos trabalhos premiados se
I – quando completar um ano na nova sede; reconhecerá a relevância do serviço e os respectivos prê-
II – quando passar a residir em imóvel pertencente ao mios serão entregues em ato solene no dia 29 de setem-
Poder Público. bro.
Art. 157 – O auxílio-moradia, pago mensalmente, jun- Art. 167 – Não serão distribuídos os prêmios no ano
to com o vencimento do policial, será suspenso nas hipóte- em que os trabalhos apresentados forem julgados insatis-
ses previstas nos incisos III, IV e XX do artigo 259. fatórios pela comissão.
1 – exercer mandato legislativo ou executivo, federal
ou estadual; Título VI
2 – exercer mandato municipal e neste importar no DA PROMOÇÃO
afastamento do policial do exercício de seu cargo; Capítulo I
3 – for convocado para prestação de serviço militar. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 158 – O período de um ano e que se refere o inci-
so I do artigo 156 começa a ser contado a partir da data em Art. 168 – A promoção é a passagem de uma classe
que o policial iniciar o exercício em nova sede, recomeçan- para classe imediatamente superior, da mesma categoria
do a contagem do prazo a cada nova designação. funcional no serviço policial civil, e será efetuada pelos
critérios de antiguidade e merecimento e, ainda, por bra-
Capítulo VI vura e “post-mortem”.
DA PENSÃO ESPECIAL Art. 169 – As séries de classes de detetive e detetive-
-inspetor, passam a ser consideradas uma série de classes,
Art. 159  – Aos beneficiários do policial falecido em a fim de que, na promoção por bravura, de detetive de
consequência de acidente ocorrido em serviço ou doença 1ª classe para detetive-inspetor de 3ª classe, não sejam
nele adquirida, é assegurada uma pensão mensal equiva- exigidos, excepcionalmente, os requisitos de:
lente ao vencimento mais as vantagens percebidas em ca- I – certificado de 2º grau escolar ou equivalente;
ráter permanente, por ocasião do óbito. II – interstício de setecentos e trinta dias, na 1ª classe;
Art. 160 – A prova das circunstâncias do falecimento III – habilitação em curso específico, ministrado pela
será feita por junta médica oficial, que se valerá, se neces- Academia de Polícia, sempre procedido de prova de se-
sário, de laudo médico-legal, além da comprovação a que leção.
se refere o (5º do art. 62, quando for o caso). § 1º  - O promovido, a que se refere este artigo, so-
Art. 161 – Revogado pela Lei nº 330, de 30-06-80. mente poderá beneficiar-se de outra promoção regular se
Parágrafo único – Revogado pela Lei nº 330, de 30- preencher os requisitos da lei.
06-80. § 2º - Quando for o caso, o promovido por bravura,
Art. 162  – O disposto neste capítulo aplica-se, tam- ou por outra via legal, inclusive por força de decisão ju-
bém, aos beneficiários do inativo, quando o evento morte dicial, o nomeado, o transposto, o reclassificado, o trans-
for consequência direta de acidente em serviço ou doença formado e o aproveitado deverão requerer ao Diretor da
profissional. Academia de Polícia, independentemente de quaisquer
exigências, matrícula no primeiro curso específico perti-
Capítulo VII nente, que deverá ser realizado dentro do período de 02
DO PRÊMIO POR SUGESTÕES DE INTERESSE DA (dois) anos.
ADMINISTRAÇÃO Art. 170 – As promoções por antiguidade e por me-
recimento obedecerão obrigatória e alternativamente à
Art. 163 – A administração estimulará a apresentação, proporção de uma vaga de antiguidade para uma vaga
por parte de policiais, de sugestões e trabalhos que visem de merecimento e ao interstício; mínimo de setecentos e
ao aumento da produtividade e à redução de custos opera- trinta dias.
cionais do serviço público, de trabalhos técnico-científicos Parágrafo único  – A promoção para a última clas-
de natureza policial ou jurídico-penais, julgados do interes- se de cada categoria funcional será feita à razão de uma
se da Secretaria de Estado da Polícia Civil. vaga por antiguidade e duas vagas por merecimento.

89
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 171  – Qualquer outra forma de provimento de Capítulo II


vaga, mesmo aquela por via judicial, não interromperá a DO QUADRO DE PROMOÇÃO
sequência dos critérios de que trata o artigo anterior.
Parágrafo único – Para cumprimento de decisão judicial Art. 180 – O policial para ser promovido por antigui-
o Poder Executivo criará, em quadro suplementar, cargo que dade ou merecimento deverá integrar o Quadro de Pro-
se extinguirá com a sua vacância, ressalvada reintegração. moção (QPA ou QPM), respectivamente.
Art. 172  – As promoções serão realizadas obrigato- Art. 181  – Verificada a vaga originária, a indicação
riamente, no dia 29 de setembro de cada ano, desde que para integrar o Quadro de Promoção (QPM ou QPA) de-
verificada a existência de vagas e na forma das linhas de verá recair nos policiais civis mais antigos, compreendidos
progressão estabelecidas na legislação vigente. nos primeiros dois terços do número de cargos da classe
Art. 173 – Não poderá haver promoção para a classe concorrente a que pertencerem, fixado em lei e na con-
em que existir cargo excedente, ressalvado o disposto no formidade de apuração estabelecida neste Regulamento.
parágrafo único do artigo 171 e no artigo 220. Parágrafo único  – Para os efeitos deste artigo, os
Art. 174 – Para efeito de promoção, o tempo de servi- quantitativos de cargos fixados em lei, serão sempre acres-
ço será contado em anos, meses e dias. cidos dos excedentes resultantes de promoção por ato de
Art. 175 – A antiguidade na classe e o interstício de- bravura, se houver.
verão ser apurados, improrrogavelmente, até o dia 10 de Art. 182 – O policial indicado para integrar o Quadro
julho de cada ano. de Promoção (QP) não sendo promovido por merecimen-
§ 1º - A lista de antiguidade dos policiais civis, em cada to ou antiguidade, retornará à sua posição na lista de an-
classe será publicada no Diário Oficial do Estado, o qual tiguidade.
conterá, em anos, meses e dias, o tempo de serviço na clas- Art. 183 – O Quadro de Promoção (QPA ou QPM) será
se, na categoria funcional, no serviço policial, no serviço publicado no órgão de divulgação oficial do Estado, para
público estadual e no serviço público em geral e o compu- efeito de contestação, no prazo de 10 (dez) dias, publican-
tado para efeito de aposentadoria e disponibilidade.
do-se, entretanto, apenas, no Boletim Informativo (BI), o
§ 2º - A lista de antiguidade poderá ser contestada até
resultado dos eventuais recursos interpostos, para mera
10 (dez) dias de sua publicação. Após a apreciação dos re-
ciência dos interessados.
cursos oferecidos pelos interessados será republicada de
Art. 184 – As vagas ou quaisquer alterações da folha
forma definitiva. 
funcional do policial, que ocorrerem após o último dia do
Art. 176 – Verificada a vaga originária em uma classe,
semestre anterior à data da promoção, serão computadas
serão consideradas abertas todas as decorrentes de seu
para progressão horizontal seguinte.
preenchimento, dentro de sua respectiva série de classes.
Parágrafo único – excetuam-se da regra deste artigo
Parágrafo único – A vaga originária ocorrerá na data:
1 – do falecimento do ocupante do cargo; as vagas decorrentes dos atos da agregação.
2 – da publicação do decreto de aposentadoria, exone- Art. 185 – Não poderá integrar o Quadro de Promo-
ração ou demissão; ção (QPM), o policial civil que:
3 – da vigência do decreto de promoção, ascensão e do I – Não obtiver o grau de merecimento igual, pelo me-
ato de agregação; nos, à metade do máximo atribuído ao primeiro classifi-
4 – da posse, no caso de nomeação ou transferência cado;
para outro cargo; II – Houver sido punido com suspensão acima de 15
5 – da publicação do ato que criar o cargo; (quinze) dias na classe concorrente, por transgressão dis-
Art. 177 – Será considerado promovido, para todos os ciplinar apurada através de procedimento administrativo
efeitos, o policial civil que vier a falecer ou for aposentado, regular;
sem que tenha sido decretada, no prazo legal, a promoção III – Estiver sendo submetido a qualquer procedimento
que lhe cabia por antiguidade. disciplinar decorrente de falta de natureza média ou grave,
Art. 178 – Em benefício do policial, a quem direito ca- ou policial ou judicial penal por infração dolosa, exceto se
bia a promoção, será declarado sem efeito o ato que hou- houver indícios veementes de ação em estrito cumprimen-
ver decretado indevidamente. to do dever legal comprovados pelo interessado perante
§ 1º - O policial promovido indevidamente não ficará à SECOP.
obrigado a devolver o que a mais houver recebido. IV – Houver sido condenado por crime doloso, inclusi-
§ 2º - O policial a quem cabia a promoção será indeni- ve, em sentença não transitada em julgado, ou estiver no
zado de uma só vez, da diferença de padrão de vencimento gozo de sursis, enquanto não for decretada a extinção da
e vantagens a que tiver direito. punibilidade, salvo desclassificação para excesso culposo.
Art. 179  – O policial civil que estiver prestando ser- Parágrafo único  – Ressalvado os incisos III e IV, o
viço fora do organismo da Secretaria de Estado da Polícia disposto neste artigo não se aplica ao policial civil, em
Civil, bem como em exercício de mandato eletivo federal, condições de ser promovido por antiguidade (QPA), reser-
estadual ou municipal, somente poderá ser promovido por vando-se, porém, a respectiva vaga até a decisão final do
antiguidade, exceto quando no desempenho de cargo em inquérito administrativo ou o trânsito em julgado de ação
comissão ou função gratificada, em órgãos considerados penal.
de interesse policial e nos casos previstos em lei.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo III § 2º - Como tempo de serviço público estadual, será


DA PROMOÇÃO POR ANTIGUIDADE computado o exercício interrompido ou não, em qualquer
cargo ou função nos órgãos estaduais da administração di-
Art. 186 –  À promoção por antiguidade recairá no reta ou indireta e fundações instituídas pelo Poder Público.
policial civil que tiver maior tempo de efetivo exercício na § 3º - Será computado como tempo de serviço público
classe, apurado até o último dia de cada semestre. o que tenha sido prestado à União, Estados, Distrito Fede-
Art. 187 – A antiguidade será determinada pelo tempo ral, Territórios e Municípios, em cargo ou função civil ou
líquido de exercício do policial civil na classe a que pertencer. militar, ininterruptamente ou não, em órgão de adminis-
Parágrafo único – Será apenas computado como an- tração direta ou indireta e fundações instituídas pelo Poder
tiguidade no serviço público o tempo líquido de exercício Público, apurado à vista de certidões expedidas pelos re-
interino, continuado ou não, em cargo de mesma denomi- gistros de frequência, folha de pagamento ou dos elemen-
nação e para o qual tenha o policial civil sido nomeado em tos regularmente averbados no assentamento individual
razão de concurso. do então servidor.
Art. 188  – quando houver fusão de classes do mes- Art. 192  – Na apuração do tempo líquido do efetivo
mo padrão de vencimentos, os policiais contarão, na nova exercício para determinação da antiguidade na classe, bem
como de desempate previsto no artigo anterior, serão in-
classe, a antiguidade que tiverem na sua classe anterior,
cluídos os períodos de afastamento decorrentes de:
à data de fusão dos cargos, observados os quadros e as
I – férias;
carreiras a que pertencerem.
II – casamento;
Parágrafo único – O disposto neste artigo é aplicável III – luto;
aos casos de transposição, reclassificação, transformação, IV – exercício de outro cargo de governo, ou de dire-
aproveitamento ou qualquer outra alteração na denomi- ção, de provimento de comissão, ou em substituição, nos
nação de cargos de uma série de classe ou de uma classe órgãos estaduais da administração direta ou indireta e fun-
singular, verificada após 15 de março de 1975. dações instituídas pelo Poder Público:
Art. 189 – quando houver fusão de classes de padrões V – convocação para o serviço militar;
de vencimentos diversos, a antiguidade dos policiais na VI – júri e outros serviços obrigatórios por lei;
nova classe que resultar da fusão será contada do seguinte VII – no exercício de função ou cargo de governo ou
modo:  administração em qualquer parte do território nacional, por
I – Se a fusão de cargos se verificar numa mesma série nomeação do Presidente da República ou serviço prestado
de classes, dever-se-á manter a posição que cada um ocu- à Presidência da República em virtude de requisição oficial;
pava na escala hierárquica funcional, antes de fusão dos VIII – desempenho de função federal, estadual ou mu-
cargos; nicipal;
II – Se a fusão de cargos se verificar entre séries de IX – licença prêmio;
classes de denominações diversas, ou entre classes sin- X – licença para tratamento de saúde;
gulares, ou, ainda, entre estas e a aquelas, prevalecerá o XI – missão ou estudo de interesse e natureza policial,
critério do padrão de vencimento mais elevados para o no estrangeiro ou qualquer parte do Território Nacional,
estabelecimento da hierarquia na nova classe, respeitado quando o afastamento tiver sido autorizado pelo Governa-
o tempo na classe originária.  dor do Estado e pelo Secretário de Estado de Polícia Civil,
Art. 190 – A antiguidade na classe será contada: respectivamente, e não perdurar por tempo superior a um
I – nos casos de nomeação, readmissão, reintegração, ano;
reversão ou aproveitamento a partir da data em que o po- XII – exercício em comissão de cargos de direção em
licial entrar em exercício do cargo; sociedade de economia mista, empresas públicas, ou em
II – nos casos de transferência, ascensão, promoção e fundações instituídas pelo Poder Público.
XIII – faltas até o máximo de três dias durante o mês
readaptação a partir da vigência do ato respectivo ou da
por motivo de doença comprovada na forma regulamentar;
sua publicação.
XIV – expressa determinação legal, em outros casos.
Art. 191  – quando ocorrer empate na classificação
por antiguidade terá preferência, sucessivamente, o po- Capítulo IV
licial civil: DA PROMOÇÃO POR MERECIMENTO
I – de maior tempo de serviço policial;
II – de maior tempo de serviço público estadual; Art. 193 – A promoção por merecimento dar-se-á por
III – de maior tempo de serviço público; escolha entre os policiais civis que integrarem o quadro de
IV – de maior prole; promoção por merecimento (QPM) obedecendo a feitura
V – mais idoso. deste à ordem rigorosa de classificação por pontos obtidos.
§ 1º  - Quando se tratar de classe inicial, o primeiro Parágrafo único – O número de integrantes do Q.P.M.
desempate será feito pela classificação extraída da média corresponderá ao dobro dos cargos vagos a serem preen-
aritmética das notas finais da 1ª fase do concurso público chidos, devendo, porém, ser publicado no B.S. em ocasião
externo e do respectivos curso de formação profissional, e julgada oportuna pela SECOP, a relação dos concorrentes,
das notas finais da prova de seleção e do curso específico, que embora não hajam figurado no aludido Quadro, alcan-
quando se tratar de concurso interno. çarem um total razoável de pontos.

91
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 194 – O merecimento do policial civil será apurado Art. 203 – Aperfeiçoamento funcional é a comprova-
em pontos positivos e negativos, levando-se em conta os ção, pelo policial, de capacidade para melhor desempenho
fatores seguintes: das atividades normais do cargo e para realização de atri-
I – eficiência revelada no desempenho do cargo ou buições superiores, relacionadas com aquelas atividades.
função policial e administração policial no seu nível hie- Art. 204 – A Secretaria Executiva da Comissão de Pro-
rárquico; moção atribuirá ao policial, na apuração dos pontos de que
II – procedimento em sua vida pública, particular e o trata o artigo 195, um conceito, devidamente justificado,
conceito que goza na organização policial; que variará de um a cinco pontos, por fator de avaliação,
III – contribuição à organização e à melhoria dos ser- consoante informações prestadas pelo superior imediato
viços policiais; do policial.
IV – aprimoramento de sua cultura geral específica, Parágrafo único – Considera-se superior imediato aque-
através de cursos especializados; le ao qual está diretamente subordinado o policial, desde o
V – ingresso no serviço policial ou na série de classes mais baixo nível da escala hierárquica administrativa.
a que concorre por promoção, mediante concurso público Art. 205 – O procedimento do policial na vida pública
ou ascensão, ambos de provas escritas de conhecimentos; será apurado através de informação do seu superior ime-
VI – período de curso de formação profissional ou diato, tendo em vista a assiduidade, a pontualidade e a
disciplina consignadas no verso do BM, e, ainda, os assen-
equivalente em estabelecimento de ensino policial, quando
tamentos funcionais.
do ingresso no serviço policial ou na série de classes, a que
Parágrafo único – Para prestar as informações referi-
concorre por promoção;
das neste artigo e no anterior, será vedada a eventual su-
VII – exercício em:
bordinação interpares, cabendo essa tarefa ao chefe hierár-
a) cargo efetivo; quico do policial.
b) direção, chefia, assessoramento, assistência e secre- Art. 206  – A falta de assiduidade será determinada
tariado; pela ausência injustificada do policial ao serviço, compu-
c) magistério policial; tando-se um ponto negativo para cada falta.
Art. 195 – A eficiência no desempenho da função po- Art. 207 – A impontualidade horária será determinada
licial civil será mensurada, através do Boletim de Mereci- pelo número de entradas tardias e saídas antecipadas.
mento (BM), considerando-se a qualidade do trabalho, a § 1º - A entortadas tardias ou saídas antecipadas serão
auto-suficiência, a iniciativa, o tirocínio, a colaboração, a adicionadas umas às outras, computando-se um ponto ne-
ética profissional, o conhecimento do trabalho e o aperfei- gativo para cada grupo de três, sendo desprezadas as que
çoamento profissional. não atingirem aquele número dentro do semestre.
Art. 196 –  A qualidade do trabalho será considerada § 2º - Os Boletins de Merecimento (BM) serão obriga-
tendo em vista o grau de exatidão, precisão e apresenta- toriamente, por quem de direito, encaminhados à SECOP,
ção. entre os dias 11 e 30 dos meses de janeiro e de julho de
Art. 197  – Auto-suficiência é a capacidade demons- cada ano com os esclarecimentos em apenso, sob pena de
trada pelo policial para desempenhar as tarefas de que foi responsabilização administrativa, das reais atividades de-
incumbido, sem necessidade de assistência ou supervisão sempenhadas pelo policial nos últimos seis meses, inclusi-
permanente de outrem. ve, se for o caso, no órgão de onde veio removido, para fins
Art. 198  – Iniciativa é a capacidade de pensar e agir preconizados neste capítulo.
com senso comum, na falta de normas e de processos Art. 208  – A indisciplina será apurada tendo em vis-
de trabalho previamente determinados, assim como o de ta as penalidades de advertência, repreensão, suspensão,
apresentar sugestões ou idéias tendentes ao aperfeiçoa- afastamento do serviço, do cargo ou de função e prisão
mento do serviço. disciplinar, impostas ao policial.
Art. 199 – Tirocínio é a capacidade demonstrada pelo Parágrafo único  – Serão considerados os seguintes
policial para avaliar e discernir a importância das decisões pontos negativos para grupo de três penalidades:
I – três advertências – um ponto negativo;
que deve tomar.
II – duas advertências e uma repreensão – um ponto
Art. 200 – Colaboração é qualidade demonstrada pelo
negativo;
policial de cooperar com a chefia e com os colegas, na rea-
III – uma advertência e duas repreensões – dois pontos
lização dos trabalhos afetos ao órgão em que tem exercício. negativos;
Art. 201 – Ética profissional é a capacidade de discri- IV – três repreensões – dois pontos negativos;
ção demonstrada pelo policial no exercício de sua ativida- V – suspensão, afastamento ou prisão domiciliar – por
de, ou em razão dela, modo de agir com cortesia e polidez dia de penalidade – um ponto negativo.
no trato com os colegas e as partes, na sua apresentação Art. 209 – O procedimento do policial em sua vida par-
pessoal e na rigorosa observância dos preceitos contidos ticular será apurado em investigação reservada, atribuin-
no Código de Ética. do-se, ao final, se for o caso, conceito devidamente justifi-
Art. 202 – Conhecimento do trabalho é a capacidade cado que variará de zero a cinco pontos negativos.
demonstrada pelo policial para realizar as atribuições ine- Parágrafo único – O candidato não integrará o QF res-
rentes ao cargo, com pleno conhecimento dos métodos e pectivo, se lhe for atribuído o conceito negativo – 5 (menos
técnicas de trabalho utilizados. cinco).

92
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 210  – O conceito de que goza o policial na or- c) edição de apostilas de natureza policial: 0,25 (um
ganização deverá ser apurado na classe concorrente, atri- quarto) de ponto por apostila, até o máximo de 01 (um)
buindo-se a cada fator, abaixo relacionado, valorarão que ponto;
variará de zero a dois pontos: d) Comissões Administrativas, instituídas por ato de
I – encargos e missões desempenhadas, entre outros, dirigente de unidade, a nível departamental, excluídas as
os que visem ao aumento de produtividade e à redução de Comissões de Sindicância e as designações por apuração
custos operacionais dos serviços públicos; sumária e investigação de caráter disciplinar ou policial:
II – Elogios decorrentes do exercício da função poli- - como presidente ou membro: 0,5 (meio) ponto por
cial e emanados de autoridade judiciária ou administrativa participação, até o limite de 03 (três) pontos;
competente; - como secretário: 0,25 (um quarto) de ponto por par-
III – medalhas e condecorações; ticipação, até o limite de 02 (dois) pontos.
IV – serviços relevantes prestados a outros órgãos; e) membro de órgão de deliberação coletiva de nature-
V – atos de bravura; za policial civil: 01 (um) ponto por designação, até o limite
VI – zelo dos policiais, componentes de Equipe de de 03 (três) pontos.
Plantão, na vigilância de presos custodiados nos xadrezes
II –  aprimoramento de sua cultura geral e específica,
das unidades policiais, em cada período de 6 (seis) meses,
através de cursos na instituição policial ou fora dela:
sem ocorrência de fuga.
a) cultura geral:
§ 1º  - Nos casos de crimes de homicídio, roubo, ex-
torsão mediante sequestro e tráfico de entorpecentes, será - 02 (dois pontos por curso superior completo, sem li-
atribuído 0,5 (meio) ponto ao agente policial que, em efeti- mite, desde que não exigível para o ingresso na série de
va atividade operacional, efetuar prisão em flagrante, reali- classe;
zada com absoluta observância dos princípios constitucio- - 01 (um) ponto por curso, com duração mínima de 40
nais e legais que a autorizam. Nos demais casos criminais, (quarenta) horas, até o limite de 05 (cinco) pontos.
o agente policial receberá 0,25 (um quarto) de ponto. Se o b) cultura específica:
policial sofrer lesão corporal de natureza grave, ser-lhe-á - 01 (um) ponto por curso, até o limite de 05 (cinco)
concedido 05 (cinco) pontos. pontos.
§ 2º - Ao detetive ou Detetive-Inspetor, sem cujo em- III - ingresso no serviço policial ou na série de classes
penho ou capacidade de iniciativa não teria sido possível o a que concorre por promoção, mediante concurso público
cumprimento de mandado de prisão, será concedido 0,25 ou ascensão, ambos de provas escritas de conhecimento
(um quarto) de ponto. Se, porém, o executor sofrer lesão em que foi exigida:
corporal de natureza grave, ser-lhe-á aplicado o disposto a) escolaridade de nível superior: cinco pontos;
no parágrafo anterior. b) escolaridade de nível técnico ou 2º grau: três pontos;
§ 3º  - Na apreciação de sindicância Sumária por ato c) escolaridade de nível de 1º grau: dois pontos;
de bravura, a Comissão de Promoção, se entendê-lo não d) escolaridade de nível de 1º grau até a 4ª série: um
tipificado, poderá conceder ao policial 05 (cinco) pontos de ponto.
merecimento. IV – período de duração do curso de formação profis-
§ 4º  - Os pontos preconizados nos parágrafos deste sional ou equivalente em estabelecimento de ensino poli-
artigo, serão aplicáveis aos eventos ocorridos a partir de cial, quando ingresso no serviço policial ou na série de clas-
1º de janeiro de 1989, sendo aproveitáveis na promoção ses a que concorre por promoção: um ponto por trimestre
seguinte, se implicar em qualquer eventual retardamento ou por tempo igual ou superior a quarenta e cinco dias, até
de processo protecional em curso. o limite de cinco pontos.
§ 5º  - Caberá à Secretaria Executiva de Comissão de § 1º - Os cursos de cultura geral, não integrantes dos
Promoção a confirmação do enquadramento previsto nos
requisitos essenciais para o ingresso na série de classes, se-
parágrafos anteriores.
rão computados em toda a trajetória da vida funcional do
Art. 211  – Os incisos III, IV, V e VI do artigo 194 se-
titular, desde que sua duração tenha sido igual ou superior
rão mensurados através dos assentamentos funcionais de
curriculum vitae, atribuindo-se ao policial civil conceito na a 240 horas.
classe concorrente, em cada inciso, que variará na forma § 2º - Os incisos III e IV desde artigo, só serão consi-
abaixo: derados na série inicial de classes. O artigo 211, o inciso I
I – contribuição à organização e à melhoria dos servi- e alíneas, as alíneas “a” e “b” e os parágrafos 1º e 2º têm a
ços policiais, com mensurarão máxima de um ponto por redação dada pelo Decreto no 9.460, de 10-12-86.
ano; Art. 212  – O exercício em cargo efetivo, em direção,
a) por publicação de trabalhos técnicos policiais em chefia, 0assessoramento, assistência, secretariado ou ma-
livros ou revistas ou aqueles que resultarem ou venham re- gistério policial será mensurado da seguinte forma:
sultar em Lei, Decreto ou Resolução, desde que comprova- I –  Pelo exercício em cargo efetivo, na classe concor-
da sua autoria pela Administração Policial: 0,5 (meio) ponto rente, por ano de atividade contínua:
por trabalho publicado, até o limite de 03 (três) pontos; Inciso com redação dada pelo Decreto nº 9.460, de 10-
b) edição de livros, manuais, coletâneas de natureza 12-86.
policial: 0,5 (meio) ponto por obra editada, até o máximo a) em Delegacias Policiais:
de 03 (três) pontos; - Dos Municípios da Capital e de Niterói, 02 (dois) pontos;

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DIREITO ADMINISTRATIVO

- Dos demais Municípios, distantes até 150 (cento e Art. 216 – Para a escolha dos proventos integrantes do
cinquenta) km da Capital, 04 (quatro) pontos, mais 01 (um) Q.P.M., a Comissão de Promoção, além dos pontos obtidos
ponto se o servidor tiver domicílio no mesmo Município: através dos critérios objetivos, levará em consideração os
Alínea com redação dada pelo Decreto nº 11.664, de 02- mais antigos na classe concorrente e os que já estiverem
08-88. relacionados em QPM anteriores.
II – pelo exercício em Direção, Chefia, Assessoramento,
Assistência ou secretariado, no cargo ou função desempe- Capítulo V
nhada durante 01 (um) ano: DA PROMOÇÃO POR BRAVURA
Inciso com redação dada pelo Decreto no 9.460, de 10-
12-86.
Art. 217  – A promoção por bravura é aquela confe-
a) de direção superior até o nível de divisão ou delega-
rida ao policial civil pela conduta que resultar da prática
cia: 04 (quatro) pontos até o limite de 12 (doze) pontos;
b) de assessoramento ou assistência superior: 03 (três) de ato ou atos não-comuns de coragem e audácia e que,
pontos até o limite de 09 (nove) pontos; ultrapassando os limites normais do cumprimento do
c) de chefia de serviço ou assistência intermediária: 02 dever, representem feitos úteis às atividades policiais na
(dois) pontos até o limite de 06 (seis) pontos; manutenção de segurança e ordem públicas, pelos resul-
d) de chefia de seção, de setor ou secretariado: 1,5 (um tados alcançados ou pelo exemplo altamente positivo de-
e meio) ponto até o limite de 4.5 (quatro e meio) pontos; les emanados, concretizando-se, independentemente do
e) de substituição imediata ou eventual do titular de de- preenchimento de quaisquer outras condições.
legacia; 2,5 (dois e meio) ponto até o limite de 4,5 (quatro e Parágrafo único  – A bravura, caracterizada nos ter-
meio) pontos; mos deste artigo, determinará a promoção do policial,
f) de substituição imediata ou eventual de chefe de ser- mesmo que do ato praticado tenha resultado sua morte
viço: 1,5 (um e meio) ponto até o limite de 4,5 (quatro e ou invalidez.
meio) pontos; Art. 218 – A autoridade policial civil, para os fins do
g) de substituição imediata ou eventual de chefe de se- artigo anterior, fará registro minucioso do fato, apurando-
ção e de setor; 01 (um) ponto até o limite de 03 (três) pontos. -o por meio de sindicância sumária, ultimada no prazo de
III – pelo exercício do magistério policial, com mensura- dez dias, onde consignará todas as provas colhidas e ofe-
do máxima de 01 (um) ponto por ano: recerá relatório conclusivo e imediata remessa à Comissão
a) em bancas de concurso de provas seletivas: 0,5 (meio)
de Promoção, por intermédio de sua Secretaria Executiva.
ponto por banca ou prova seletiva, até o limite de 03 (três)
pontos;
b) como professor: 0,5 (meio) ponto por grupo de três Capítulo VI
turmas, até o limite de 03 (três) pontos. DA PROMOÇÃO “POST-MORTEM”
§ 1º - Para efeito dos incisos I e II, quando o cargo ou
função é exercido em Delegacia Policial, considera-se como Art. 219  – A promoção “post-mortem” é efetivada
de um ano, o período de tempo igual ou superior a cento e quando o policial civil, independentemente de sua situa-
oitenta dias. ção na lista de antiguidade, vier a falecer em uma das se-
§ 2º - exercendo o policial, no período de um ano, con- guintes situações:
tinuadamente, mais de um cargo ou função enumerados no I – em ação de manutenção da ordem pública; 
inciso II deste artigo, considera-se para efeito de contagem II – em consequência de ferimento recebido na ma-
de pontos o cargo ou função mais elevado, desde que o nutenção da ordem pública, doença, moléstia, ou enfer-
exerça por período mínimo de cento e oitenta dias. midade contraídas nesta situação, ou que nelas tenha sua
§ 3º - O disposto neste artigo aplica-se aos cargos ou causa eficiente.
funções gratificadas exercidas nos antigos Estados da Gua- III – por acidente de serviço;
nabara e do Rio de Janeiro. IV – por ato de bravura.
Art. 213 – Em caso de haver movimentação do policial Art. 220  – A promoção por bravura, inclusive “post-
civil, que importe em outra subordinação, o superior ime- -mortem”, far-se-á automática e independentemente de-
diato ao qual estava anteriormente subordinado poderá ser
vassa, considerando-se excedentes os cargos desta forma
chamado a prestar esclarecimentos para formação do con-
providos, enquanto não ocorrer promoção regular dos be-
ceito.
Art. 214 – O grau de merecimento do policial civil será neficiários.
representado pela soma algébrica dos pontos positivos e Art. 221 – O policial será, também, promovido se, ao
dos pontos negativos. falecer, integrava o quadro de promoção, independente-
Art. 215 – Apurado o merecimento, o conceito final dos mente de sua posição no mesmo, consideradas as vagas
candidatos à promoção deverá ser divulgado na imprensa existentes na data do falecimento.
oficial. Art. 222 – Para efeito de aplicação do artigo anterior,
Parágrafo único – Em igualdade de condições de mere- será considerado, quando for o caso, o último quadro de
cimento, proceder-se-á ao desempate por tempo de serviço promoção em que o policial falecido tenha sido incluído.
na classe e persistindo a igualdade, observar-se-á o dispos-
to no art. 191.

94
DIREITO ADMINISTRATIVO

Título VII Art. 229 – Somente poderá ser provido por ascensão
DA ASCENSÃO o policial que obtiver, pelo menos, grau final cinquenta em
cada disciplina, nos cursos específicos, que terão a seguinte
Art. 223 – Ascensão é a passagem da última classe de apuração: 
uma categoria funcional para a classe inicial de outra ca- I – nível superior – quatrocentas horas/aulas;
tegoria funcional, na linha hierárquica definida na carreira II – nível técnico – trezentas e vinte horas/aulas;
policial, de conformidade com o que se dispuser em orde- III – nível 1º grau – sem exigência de curso técnico –
namento próprio. duzentas e quarenta horas/aulas;
§ 1º - A ascensão far-se-á mediante prova de seleção e IV – nível 1º grau – cento e sessenta horas/aula.
habilitação em curso específico, ministrado na Academia de Art. 230 – Não poderá haver provimento por ascensão
Polícia, atendido o requisito de habilitação profissional com- na classe em que houver cargo excedente.
provado através da apresentação de diploma respectivo, Art. 231 – Em benefício do policial a quem de direito
devidamente registrado, e observado o interstício na última cabia a ascensão, será declarado sem efeito o ato que hou-
classe à época da inscrição na prova de seleção. ver decretado o provimento de forma indevida.
§ 2º - Somente será matriculado no Curso Específico o § 1º - O policial provido indevidamente não ficará obri-
policial civil que obtiver o grau mínimo de 50 (cinquenta) gado a restituir o que a mais houver recebido.
pontos na Prova de Seleção. § 2º - O policial a quem cabia o provimento por ascen-
§ 3º - Entende-se por série de classe auxiliar aquela da são será indenizado de uma só vez, da diferença de venci-
qual for facultada ascensão à outra, de atividade correlata, mentos e vantagens a que tiver direito.
tarefas mais complexas, maior grau de responsabilidade e Art. 232 – A formalização dos atos relativos à ascen-
são será processada pela Secretaria Executiva da Comissão
vencimento superior, entendendo-se esta como série de
de Promoções, ressalvada a competência da Academia de
classes principal.
Polícia.
§ 4º - Metade das vagas da classe inicial das séries de
Art. 233 – Aplicam-se à ascensão, no que couber, os
classes principais, nas linhas de ascensão, serão reservadas
dispositivos referentes à promoção, por merecimento e por
para essa forma de provimento, observadas as exceções es-
antiguidade, inclusive “post-mortem”.
tabelecidas em lei.
Art. 234 – O órgão setorial de pessoal da Secretaria de
§ 5º - Não poderá ser inscrito em prova de seleção, ma-
Estado de Polícia Civil, com os elementos que dispuser e os
triculado em curso específico da ACADEPOL, nem ascendi-
fornecidos pelos dirigentes chefes das unidades adminis-
do, o policial implicado nas situações descritas pelos incisos trativas, manterá conhecimento mensalmente à Secretaria
II, III e IV do artigo 185. Executiva da Comissão de Promoções.
Art. 224  – Será de setecentos e trinta dias de efetivo Art. 235  – Os policiais que satisfaçam as condições
exercício na classe o interstício para o policial concorrer à previstas no presente Regulamento serão inscritos “ex-ofí-
ascensão. cio” na Academia de Polícia, para efeito de prova de seleção
Art. 225 – O policial provido por ascensão passará a in- e curso específico, publicando-se a lista nominal do “Diário
tegrar a nova classe, independentemente de posse. Oficial” do Estado e “Boletim de Serviço”, por três dias con-
Parágrafo único – O policial provido por ascensão terá secutivos, para ciência dos interessados.
reiniciada a contagem de seu tempo de serviço na nova clas- Art. 236  – Dessa publicação contar-se-á o prazo de
se, para efeito de promoção. quinze dias para interposição de recursos, que serão de-
Art. 226 – Só poderá concorrer à ascensão o policial que cididos em igual prazo, findos os quais serão os policiais
possuir o diploma registrado ou certificado de habilitação submetidos a provas de seleção na Academia de Polícia.
em curso exigido pela legislação vigente, para o exercício Art. 237  – A ascensão será feita através de Decreto
das atividades inerentes ao cargo para o qual terá ascensão. coletivo, elaborado pela Secretaria Executiva da Comissão
Art. 227 – As ascensões no Quarto Permanente da Po- de Promoções, a ser submetido pelo Secretário de Estado
lícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, serão realizadas uma da Polícia Civil ao Governador do Estado.
vez por ano, no dia 29 de setembro, observada a existência
de cargos vagos e na forma das linhas de progressão dispos- Título VIII
tas no anexo IV da Lei nº 699, de 14 de dezembro de 1983. DA TRANSFERÊNCIA E DA REMOÇÃO
§ 1º - As vagas que não forem preenchidas pelo insti-
tuto da ascensão poderão ser aproveitadas para concurso Art. 238 – Transferência é o ato de simples investidu-
público. ra do policial em cargo de denominação diversa de outra
§ 2º - A ascensão que não se verificar na data referida no classe, de igual nível de vencimento, na carreira policial.
caput deste artigo terá seus efeitos retroagidos. Art. 239 – A transferência se fará à vista de compro-
Art. 228 – O provimento por ascensão, quando o nú- vação de habilitação dos interessados para o exercício do
mero de vagas for inferior ao número de candidatos que sa- novo cargo, realizada na Academia de Polícia.
tisfaçam às condições estabelecidas, obedecerá à ordem de Art. 240  – Quando se tratar de cargo de classe ini-
classificação na lista respectiva, organizada de acordo com o cial de série de classes, a transferência não poderá ser feita
grau de habilitação obtido pelo policial, nas provas do curso para cargo vago, destinado a provimento por concurso, já
específico ministrado pela Academia de Polícia. aberto, ou ascensão programada.

95
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 241 – A transferência será feita a pedido, atendi- II – enquanto durar o mandato de vereador, se não
dos o interesse e a conveniência do serviço policial. existir compatibilidade de horário entre o seu exercício e o
Art. 242 – No caso de transferência para cargo corres- da função pública;
pondente à atividade profissional, em que se exija habilita- III – enquanto durar o mandato de vereador, se não
ção específica, esta será condicionada à comprovação de existir compatibilidade de horário entre o seu exercício e o
que o interessado satisfaz àquela exigência. da função pública;
Art. 243 – Remoção é o ato mediante o qual o policial IV – durante o lapso de tempo que mediar entre o
passa a ter exercício em outro órgão, preenchendo claro de registro da candidatura eleitora e o dia seguinte ao da
lotação, sem que se modifique sua situação funcional. eleição.
Art. 244 – Dar-se-á remoção:
I – a pedido; Título IX
II – “ex-ofício”. DO TEMPO DE SERVIÇO
§ 1º - A remoção tanto a pedido como “ex-ofício” de- Capítulo I
penderá, em princípio, de claro na lotação. DISPOSIÇÕES GERAIS
§ 2º  - O policial removido, quando de férias, não se
interromperá. Art. 252 – O início, a interrupção e o reinício do exer-
§ 3º  - Não poderá haver remoção de policial que se cício serão registrados no assentamento individual do po-
encontre em licença de qualquer espécie ou frequentando licial.
curso na Academia de Polícia. § 1º - Ao entrar em exercício, o policial apresentará ao
§ 4º - Revogado pelo Decreto nº 14.832, de 23-05-90. órgão competente os elementos necessários à abertura de
Art. 245 – No processamento da remoção “ex-ofício” seu assentamento individual.
serão observados, em princípio, a iniciativa do dirigente ou § 2º  - O início do exercício e as alterações que nele
do chefe da unidade administrativa e a existência de claro ocorrerem serão comunicados ao órgão setorial de pessoa,
na lotação do órgão para onde se pretender a remoção. pelo titular da unidade policial ou administrativa em que
Art. 246 – remoção por permuta será processada a pe-
estiver servindo o policial.
dido, por escrito, de ambas as chefias interessadas.
Art. 253 – O policial entrará em exercício no prazo de
Art. 247 – quando a remoção for a pedido, serão ob-
trinta dias contados da data:
servados o interesse do serviço e a anuência do servidor
Art. 254 – A transferência, a promoção, a ascensão e
indicado para permuta.
a nomeação em novo cargo da carreira policial não inter-
Parágrafo único – Somente decorridos doze meses da
romperão o exercício para efeito de contagem de tempo
lotação do policial, poderá ocorrer sua remoção a pedido.
de serviço.
Art. 248  – No processamento das remoções serão
Art. 255  – O policial removido para outra unidade,
atendidas a qualificação profissional do policial e a neces-
sidade do serviço investigatório da unidade onde virá ter dentro de um mesmo Município, terá prazo de dois dias,
exercício. contados da data da publicação do referido ato, para reini-
Art. 249 – O policial terá exercício no órgão para o qual ciar suas atividades.
for designado. § 1º - Quando em férias, licenciado ou afastado legal-
Art. 250 – Até o dia 20 de janeiro de cada ano, atendi- mente de seu cargo, esse prazo será contado a partir do
das as diretrizes da Secretaria e as necessidades de segu- término do impedimento.
rança pública, serão fixados, por ato resolutivo, os quanti- § 2º  - O prazo a que se refere este artigo será con-
tativos de pessoal que constituirão a lotação de policiais siderado como período de trânsito, computável como de
civis em todos os Órgãos da Secretaria de Estado da Polícia efetivo exercício para todos os efeitos.
Civil, até o nível de Divisão ou Delegacia. § 3º - O prazo referido no “caput” deste artigo poderá
§ 1º  - Entende-se por lotação o número de policiais ser prorrogado, no máximo, por igual período, por solicita-
civis de cada categoria funcional ou cargo isolado, inclusive ção do interessado, a juízo da autoridade competente para
os ocupantes de cargo ou função de confiança que, segun- dar-lhe exercício.
do as necessidades, devam ter exercício em cada Órgão.
§ 2º  - O policial civil nomeado integrará lotação na Capítulo II
qual houver claro. DA APURAÇÃO
§ 3º - As autoridades policiais e seus agentes, providos
nas classes iniciais das respectivas categorias profissionais Art. 256 – A apuração do tempo de serviço será feita
serão preferencialmente lotados nas unidades de Polícia em dias, não considerado, para qualquer efeito, o exercício
Administrativa e Judiciária, durante os dois primeiros anos de função gratuita.
de efetivo exercício. Parágrafo único – O número de dias será convertido
§ 4º - revogado. em anos, considerado o ano como de trezentos e sessenta
Art. 251 – O policial será afastado do exercício de seu e cinco dias.
cargo: Art. 257 – Os dias de efetivo exercício serão compu-
I – enquanto durar o mandato legislativo ou executivo, tados à vista de documentação própria que comprove a
federal ou estadual; frequência.

96
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 258 – Admitir-se-á como documentação própria XXII – mandato de prefeito ou vice-prefeito;
comprobatória do tempo de serviço público: XXIII  – mandato de vereador quando não existir in-
I – certidão de tempo de serviço, extraída de folha de compatibilidade de horário entre o seu exercício e de sua
pagamento; função pública.
II – certidão de frequência, extraída do cartão de ponto; Afastamento para o Exterior – art. 79, parágrafo único REFP.
III – justificação judicial. Art. 260 – Para efeito de aposentadoria ou disponibilida-
§ 1º - Os elementos provantes indicados nos incisos aci- de será computado:
ma são exigíveis na ordem direta de sua enumeração, so- I – tempo de serviço público federal, estadual e municipal;
mente sendo admitido o posterior, quando acompanhado de II – o período de serviço ativo nas Forças Armadas, com-
certidão negativa fornecida pelo órgão competente para a putado pelo dobro o tempo de operações em guerra, in-
expedição do elemento a que se refere o anterior. clusive quando prestado nas forças auxiliares e na Marinha
§ 2º  - Sobre tempo de serviço comprovado mediante Mercante;
justificação judicial, será prévia e obrigatoriamente ouvida a III – o tempo de serviço prestado com extranumerário ou
Procuradoria Geral do Estado. sob qualquer outra forma de admissão, desde que remune-
Art. 259 – Será considerado como de efetivo exercício o rado pelos cofres públicos;
afastamento por motivo de: IV – o tempo de serviço prestado em autarquia, empresa
I – férias; pública ou sociedade de economia mista;
II – casamento e luto, até oito dias; V – o período de trabalho prestado a instituição de cará-
III – exercício de outro cargo ou função de governo ou ter privado que tiver sido transformada em estabelecimento
de direção, de provimento em comissão ou em substituição, de serviço público;
no serviço público do Estado do Rio de Janeiro, inclusive res- VI – o tempo em que o policial esteve em disponibilidade
pectivas autarquias, empresas públicas e sociedades de eco- ou aposentado;
nomia mista e fundações instituídas pelo Poder Público, ou VII – em dobro, o tempo de licença-prêmio não gozada;.
serviço prestados à Presidência da Repúblicas, em virtude de VIII – em dobro, os períodos de férias não gozadas, a
requisição oficial; partir do exercício de 1977, limitadas a sessenta dias, ressal-
vado o direito à contagem de períodos anteriores para os
IV – exercício de outro cargo ou função de governo ou
amparados por legislação vigente até a edição do Decreto-
de direção, de provimento em comissão ou em substituição,
-Lei no 363, de 4 de outubro de 1977;
no serviço público da união, de outros Estados e dos Municí-
IX – o período em que o policial frequentou curso de for-
pios, inclusive respectivas autarquias, empresas públicas e so-
mação profissional em estabelecimento oficial de ensino, inte-
ciedades de economia mista e funções instituídas pelo Poder
grante de estrutura da Secretaria de Estado da Polícia Civil, na
Público, quando o afastamento houver sido autorizado pelo
condição de aluno, em regime diverso do disciplinado no pre-
Governo, sem prejuízo do vencimento do policial;
sente Regulamento, como fora inicial para provimento no cargo.
V – estágio experimental;
Art. 261 – Ao policial será assegurado a contagem qual-
VI – licença-prêmio; quer que tenha sido o regime da relação empregatícia, como
VII – licença para repouso à gestante; de serviço público estadual, do tempo prestado anterior-
VIII – licença para tratamento de saúde; mente à administração direta ou indireta do Estado a Funda-
IX – licença por motivo de doença em pessoa da família, ções instituídas pelo Poder Público.
desde que não exceda o prazo de doze meses; Parágrafo único – O disposto neste artigo não se aplica
X – acidente em serviço  para efeitos de concessão de licença-prêmio.
XI – doença de notificação compulsória; Art. 262 – É vedada a cumulação de tempo de serviço
XII – missão oficial; prestado, concorrentemente ou simultaneamente, em dois
XIII – estudo no exterior ou em qualquer parte do terri- ou mais cargos, funções ou empregos em qualquer das hi-
tório nacional, desde que de interesse para a administração e póteses previstas no artigo 260.
não ultrapasse o prazo de doze meses;
XIV – prestação de prova ou de exame em regular ou em Título X
concurso público; DA APOSENTADORIA
XV – recolhimento à prisão, se absolvido a final;
XVI – suspensão preventiva, se absolvido a final; Art. 263 – O policial será aposentado:
XVII – convocação para serviço militar ou encargo de se- I – compulsoriamente;
gurança nacional, júri e outros serviços obrigatórios por lei; II – voluntariamente
XVIII – trânsito para ter exercício em nova sede; III – por invalidez;
XIX – faltas por motivo de doença, comprovada, inclu- § 1º - O policial será aposentado com limites de idade
sive em pessoa da família, até o máximo de três, durante o e tempo de serviço fixados em lei.
mês, e outros casos de força maior; § 2º - A aposentadoria por invalidez será sempre pre-
XX - candidatura a cargo eletivo, conforme o disposto no cedida de licença por um período contínuo, não inferior a
inciso IV do art. 251; vinte e quatro meses, salvo quando o laudo médico con-
XXI – mandato legislativo ou executivo, federal ou es- cluir, anteriormente aquele prazo, pela incapacidade defini-
tadual; tiva do policial para o serviço.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 264 – O aposentado receberá provento integral: Art. 268 – São recompensas:
I – no caso do inciso II do artigo anterior; I – agraciamento com medalhas de “Mérito Policial”, na
II – quando a invalidez for consequência de acidente forma instituída em lei;
no exercício de suas atribuições ou em virtude de doença II – elogios individuais e coletivos;
profissional; III – dispensa total do serviço até dez dias;
III – quando acometido de tuberculose ativa, alienação IV – cancelamento de pena disciplinar.
mental, neoplasia grave, estados adiantados de Paget (os- Art. 269  – São competentes para conceder dispensa
teíte deformante), com base nas conclusões de medicina total de serviço:
especializada; I – até dez dias: O Secretário de Estado da Polícia Civil;
IV – na inatividade, se acometido de qualquer das II – até cinco dias: os dirigentes de órgãos subordina-
doenças especificadas no inciso anterior e decorrente de dos diretamente ao Secretário de Estado da Polícia Civil;
acidente no exercício de suas atribuições quando na ati- III – até dois dias: os demais dirigentes de órgãos, até o
vidade. nível de divisão, inclusive titulares de delegacias.
Art. 265 – A aposentadoria voluntária; mantém o po- Art. 270 – Na apreciação do pedido de cancelamento
licial em exercício até a publicação do respectivo ato, salvo da pena disciplinar, prevista no artigo 35, poderão ser leva-
quando já afastado do cargo. dos em conta os relevantes serviços prestados à segurança
Art. 266  – O policial que foi ou venha a ser aposen- pública pelo policial, por decisão do Secretário de Estado
tado por incapacidade definitiva e considerado inválido, da Polícia Civil.
impossibilitado total ou permanentemente para qualquer Art. 271  – Aquele que comprovadamente, apurado
trabalho, não podendo provar os meios de sua subsistên- através de inquérito administrativo ou perícia médica, se
cia, fará jus a auxílio-invalidez no valor de 25% calculado revelar inapto para o exercício da função readaptado em
sobre o vencimento do cargo efetivo e demais vantagens, outra função mais compatível com a sua capacidade, sem
incorporadas ou não, desde que satisfaça uma das con- que essa readaptação lhe traga qualquer prejuízo financei-
dições abaixo especificadas, devidamente declarada por ro.
funda médica;
I –  necessitar de internação em instituição hospitalar Título XII
apropriada, pública ou particular, de tratamento especia-
DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS E FINAIS
lizado;
II  – necessitar de assistência médica ou de cuidados
Art. 272  – A requisição do policial, para ter exercício
permanentes de enfermagem.
em órgão da administração direta ou indireta da União,
§ 1º - Quando por deficiência hospitalar ou prescrição
Estado, Município, Distrito Federal ou território e empre-
médica comprovada por junta médica, o policial nas condi-
sas estatais, respeitados os casos previstos em lei, somente
ções acima, receber tratamento médico na própria residên-
cia, também fará jus ao auxílio-invalidez, o policial ficará será permitida quando houver compatibilidade e correla-
sujeito a apresentar anualmente declaração de que não ção entre as atribuições típicas do cargo e aquelas que irá
exerce nenhuma atividade remunerada, pública ou privada, desempenhar na entidade requisitante, sempre com ex-
e a critério da administração submeter-se-á, periodicamen- pressa autorização do Governador, sujeitando-se o policial
te, à inspeção de saúde de controle, sendo que no caso à perda das vantagens decorrentes estritamente da função
de policial mentalmente enfermo aquela declaração deverá policial.
ser firmada por dois policiais em atividade. Art. 273 – Os cargos de direção, chefia, assessoramen-
§ 2º - Para a continuidade do direito ao recebimen- to e assistência de órgãos da Polícia Civil serão exercidos,
to do auxílio invalidez, o policial ficará sujeito a apresentar em princípio, por policiais civis em exercício ou aposenta-
anualmente declaração de que não exerce nenhuma ativi- dos.
dade remunerada, pública ou privada, e a critério da ad- Art. 274 – Na primeira promoção e ascensão a serem
ministração submeter-se-á, periodicamente a inspeção de realizadas em decorrência da aplicação deste Decreto, não
saúde de controle, sendo que no caso de policial mental- se exigirá a publicação do Almanaque previsto no pará-
mente enfermo aquela declaração deverá ser firmada por grafo único do artigo 174, bem como serão reduzidos à
dois policiais em atividade. metade os prazos neles estabelecidos, excetuados os de
§ 3º  - O auxílio-invalidez será suspenso, automatica- interstício e de estágio probatório.
mente, se for verificado que o policial beneficiado exerce Art. 275 – Aplicam-se subsidiariamente aos policiais as
ou tenha exercido, após recebimento do auxílio, qualquer disposições do Estatuto dos funcionários Públicos Civis do
atividade remunerada, sem prejuízo de outras sanções ca- Estado do Rio de Janeiro aprovado pelo Decreto-Lei nº 220,
bíveis, bem como se, em inspeção de saúde, for constatado de 18 de julho de 1975, seu Regulamento e demais normas
não se encontrar nas condições previstas neste artigo. de pessoal, naquilo que não colidir com o Decreto-Lei nº
218, de 18 de julho de 1975, e este Regulamento.
Título XI
DAS RECOMPENSAS

Art. 267 – Recompensa é o reconhecimento dos bons


serviços prestados pelo policial.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

EXERCÍCIOS 04. (SESACRE – FISIOTERAPEUTA - FUNCAB/2013)


O princípio administrativo que impõe o controle de resul-
01. (TRT - 1ª REGIÃO (RJ) - JUIZ SUBSTITUTO - tados da Administração Pública, a redução do desperdício
FCC/2013) Na atuação da Administração Pública Federal, e a execução do serviço público com rendimento funcional
a segurança jurídica é princípio que; é denominado princípio da:
a) justifica a mantença de atos administrativos inváli- a) legalidade.
dos, desde que ampliativos de direitos, independentemen- b) impessoalidade.
te da boa-fé dos beneficiários. c) eficiência.
b) não impede a anulação a qualquer tempo dos atos d) publicidade.
administrativos inválidos, visto que não há prazos prescri- e) moralidade.
cionais ou decadenciais para o exercício de autotutela em
caso de ilegalidade. 05. (PC-RJ - OFICIAL DE CARTÓRIO - IBFC/2013) A
c) justifica o usucapião de imóveis públicos urbanos de Constituição Federal e o ordenamento jurídico em geral
consagram explicitamente alguns princípios orientadores
até duzentos e cinquenta metros quadrados, em favor da-
de toda a atividade da Administração Pública. Assinale a
quele que, não sendo proprietário de outro imóvel urbano
alternativa em que os dois princípios citados decorrem im-
ou rural, exerça a posse sobre tal imóvel por cinco anos,
plicitamente do ordenamento jurídico:
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-o para sua
a) Proporcionalidade e razoabilidade.
moradia ou de sua família. b) Finalidade e motivação.
d) impede que haja aplicação retroativa de nova inter- c) Ampla defesa e contraditório.
pretação jurídica, em desfavor dos administrados. d) Segurança jurídica e interesse público.
e) impede que a Administração anule ou revogue atos e) Autotutela e continuidade dos serviços públicos.
que geraram situações favoráveis para o particular, pois tal
desfazimento afetaria direitos adquiridos.

02. (SMA-RJ – CONTADOR - FJG-RIO/2013) Segun-


do exposição doutrinária, o princípio da impessoalidade
não raramente é chamado de princípio da:
a) igualdade legal
b) razoabilidade dos meios
c) finalidade administrativa
d) subjetividade coletiva

03. (TRT - 15ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO -


ÁREA ADMINISTRATIVA - FCC/2013)
Os princípios que regem a Administração pública po-
dem ser expressos ou implícitos. A propósito deles é pos-
sível afirmar que:
a) moralidade, legalidade, publicidade e impessoalida-
de são princípios expressos, assim como a eficiência, hie-
rarquicamente superior aos demais.
b) supremacia do interesse público não consta como
princípio expresso, mas informa a atuação da Administra-
ção pública assim como os demais princípios, tais como
eficiência, legalidade e moralidade.
c) os princípios da moralidade, legalidade, supremacia
do interesse público e indisponibilidade do interesse públi-
co são expressos e, como tal, hierarquicamente superiores
aos implícitos.
d) eficiência, moralidade, legalidade, impessoalidade
e indisponibilidade do interesse público são princípios ex-
pressos e, como tal, hierarquicamente superiores aos im-
plícitos.
e) impessoalidade, eficiência, indisponibilidade do
interesse público e supremacia do interesse público são
princípios implícitos, mas de igual hierarquia aos princípios
expressos.

99
DIREITO ADMINISTRATIVO

RESPOSTAS 04. Resposta: “C”. Segundo Alexandre Mazza: “Eco-


nomicidade, redução de desperdícios, qualidade, rapidez,
01. Resposta: “D”. Para Dirley da Cunha Júnior, “o va- produtividade e rendimento funcional são valores encare-
lor segurança jurídica é consagrado por vários outros prin- cidos pelo princípio da eficiência”.
cípios: direito adquirido, ato jurídico perfeito, coisa julgada,
irretroatividade da lei entre outros. Este princípio enaltece 05. Resposta: “E”. Tudo indica que a questão foi reti-
a ideia de proteger o passado (relações jurídicas já consoli- rada da Lei nº 9784/99. Repare o que diz a Lei nº 9784/99,
dadas) e tornar o futuro previsível, de modo a não infringir  no seu art. 2º: “A Administração Pública obedecerá, dentre
surpresas desagradáveis ao administrado. Visa à proteção outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação,
da confiança e a garantia de certeza e estabilidade das re- razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla de-
lações e situações jurídicas”. fesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e
eficiência”. Observe que as letras “A”, “B”, “C” e “D” estão
02. Resposta: “C”. Para Hely Lopes Meirelles, o princí- expressas nesta lei e os que não estão expressos são auto-
pio da impessoal idade “nada mais é do que o clássico tutela e continuidade dos serviços públicos.
princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador
público que só pratique o ato para seu fim legal. E o fim
legal é unicamente aquele que a norma de Direito
indica expressa ou virtualmente como objetivo do ato,
de forma impessoal”.

03. Resposta: “B”. Os princípios da Supremacia do


Interesse Público e da Indisponibilidade do Interesse Pú-
blico, apesar de implícitos no ordenamento jurídico, são
tidos como pilares do regime jurídico-administrativo. Isto
se deve ao fato de que todos os demais princípios da ad-
ministração pública são desdobramentos desses dois prin-
cípios em questão, cuja relevância é tanta que são conheci-
dos como supraprincípios da administração pública.
Letra “A”: incorreta. Não há hierarquia entre os princí-
pios, eles se resolvem por ponderação.
Letra “C”: incorreta. O princípio da supremacia do inte-
resse público e indisponibilidade do interesse público não
são expressos.
Letra “D”: incorreta. O princípio da indisponibilidade
do interesse público não é um princípio expresso. Não há
hierarquia entre os princípios expressos em relação aos im-
plícitos.
Letra “E”: incorreta. Os princípios da impessoalidade e
eficiência são princípios expressos.
OBS: Cuidado porque algumas bancas consideram
princípios expressos apenas o que estão previstos na Cons-
tituição Federal e outras consideram que os princípios ad-
ministrativos que estiverem escritos em lei são explícitos.
Proporcionalidade, razoabilidade, finalidade, motivação,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica e interes-
se público constam expressamente no artigo 2º da Lei nº
9784/99.

100
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Direitos e deveres individuais e coletivos. ..................................................................................................................................................... 01


Organização do Estado Federal Brasileiro: repartição de competências. ......................................................................................... 34
Administração pública e servidores públicos civis. .................................................................................................................................... 43
Segurança Pública na Constituição Federal e na Constituição do Estado do Rio de Janeiro..................................................... 57
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Vale destacar que a Constituição vai além da proteção


DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E dos direitos e estabelece garantias em prol da preservação
COLETIVOS. destes, bem como remédios constitucionais a serem utili-
zados caso estes direitos e garantias não sejam preserva-
dos. Neste sentido, dividem-se em direitos e garantias as
O título II da Constituição Federal é intitulado “Direitos previsões do artigo 5º: os direitos são as disposições de-
e Garantias fundamentais”, gênero que abrange as seguin- claratórias e as garantias são as disposições assecuratórias.
tes espécies de direitos fundamentais: direitos individuais e O legislador muitas vezes reúne no mesmo dispositivo
coletivos (art. 5º, CF), direitos sociais (genericamente pre- o direito e a garantia, como no caso do artigo 5º, IX: “é livre
vistos no art. 6º, CF), direitos da nacionalidade (artigos 12 e a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
13, CF) e direitos políticos (artigos 14 a 17, CF). comunicação, independentemente de censura ou licença”
Em termos comparativos à clássica divisão tridimen- – o direito é o de liberdade de expressão e a garantia é a
sional dos direitos humanos, os direitos individuais (maior vedação de censura ou exigência de licença. Em outros ca-
parte do artigo 5º, CF), os direitos da nacionalidade e os sos, o legislador traz o direito num dispositivo e a garantia
direitos políticos se encaixam na primeira dimensão (direi- em outro: a liberdade de locomoção, direito, é colocada
tos civis e políticos); os direitos sociais se enquadram na se- no artigo 5º, XV, ao passo que o dever de relaxamento da
gunda dimensão (direitos econômicos, sociais e culturais) e
prisão ilegal de ofício pelo juiz, garantia, se encontra no
os direitos coletivos na terceira dimensão. Contudo, a enu-
artigo 5º, LXV1.
meração de direitos humanos na Constituição vai além dos
direitos que expressamente constam no título II do texto Em caso de ineficácia da garantia, implicando em viola-
constitucional. ção de direito, cabe a utilização dos remédios constitucionais.
Os direitos fundamentais possuem as seguintes carac- Atenção para o fato de o constituinte chamar os remé-
terísticas principais: dios constitucionais de garantias, e todas as suas fórmulas de
a) Historicidade: os direitos fundamentais possuem direitos e garantias propriamente ditas apenas de direitos.
antecedentes históricos relevantes e, através dos tempos,
adquirem novas perspectivas. Nesta característica se en- Direitos e deveres individuais e coletivos
quadra a noção de dimensões de direitos.
b) Universalidade: os direitos fundamentais perten- O capítulo I do título II é intitulado “direitos e deve-
cem a todos, tanto que apesar da expressão restritiva do res individuais e coletivos”. Da própria nomenclatura do
caput do artigo 5º aos brasileiros e estrangeiros residentes capítulo já se extrai que a proteção vai além dos direitos
no país tem se entendido pela extensão destes direitos, na do indivíduo e também abrange direitos da coletividade. A
perspectiva de prevalência dos direitos humanos. maior parte dos direitos enumerados no artigo 5º do texto
c) Inalienabilidade: os direitos fundamentais não constitucional é de direitos individuais, mas são incluídos
possuem conteúdo econômico-patrimonial, logo, são in- alguns direitos coletivos e mesmo remédios constitucio-
transferíveis, inegociáveis e indisponíveis, estando fora do nais próprios para a tutela destes direitos coletivos (ex.:
comércio, o que evidencia uma limitação do princípio da
mandado de segurança coletivo).
autonomia privada.
d) Irrenunciabilidade: direitos fundamentais não po-
1) Brasileiros e estrangeiros
dem ser renunciados pelo seu titular devido à fundamenta-
lidade material destes direitos para a dignidade da pessoa O caput do artigo 5º aparenta restringir a proteção
humana. conferida pelo dispositivo a algumas pessoas, notadamen-
e) Inviolabilidade: direitos fundamentais não podem te, “aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País”.
deixar de ser observados por disposições infraconstitucionais No entanto, tal restrição é apenas aparente e tem sido in-
ou por atos das autoridades públicas, sob pena de nulidades. terpretada no sentido de que os direitos estarão protegi-
f) Indivisibilidade: os direitos fundamentais compõem dos com relação a todas as pessoas nos limites da sobera-
um único conjunto de direitos porque não podem ser ana- nia do país.
lisados de maneira isolada, separada. Em razão disso, por exemplo, um estrangeiro pode in-
g) Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não gressar com habeas corpus ou mandado de segurança, ou
se perdem com o tempo, não prescrevem, uma vez que são então intentar ação reivindicatória com relação a imóvel
sempre exercíveis e exercidos, não deixando de existir pela seu localizado no Brasil (ainda que não resida no país).
falta de uso (prescrição). Somente alguns direitos não são estendidos a todas as
h) Relatividade: os direitos fundamentais não po- pessoas. A exemplo, o direito de intentar ação popular exi-
dem ser utilizados como um escudo para práticas ilícitas ge a condição de cidadão, que só é possuída por nacionais
ou como argumento para afastamento ou diminuição da titulares de direitos políticos.
responsabilidade por atos ilícitos, assim estes direitos não
são ilimitados e encontram seus limites nos demais direitos
igualmente consagrados como humanos. 1 FARIA, Cássio Juvenal. Notas pessoais tomadas
em teleconferência.

1
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

2) Relação direitos-deveres Não obstante, reforça este princípio em seu primeiro


O capítulo em estudo é denominado “direitos e garan- inciso:
tias deveres e coletivos”, remetendo à necessária relação
direitos-deveres entre os titulares dos direitos fundamen- Artigo 5º, I, CF. Homens e mulheres são iguais em direi-
tais. Acima de tudo, o que se deve ter em vista é a pre- tos e obrigações, nos termos desta Constituição.
missa reconhecida nos direitos fundamentais de que não
há direito que seja absoluto, correspondendo-se para cada Este inciso é especificamente voltado à necessidade de
direito um dever. Logo, o exercício de direitos fundamen- igualdade de gênero, afirmando que não deve haver ne-
tais é limitado pelo igual direito de mesmo exercício por nhuma distinção sexo feminino e o masculino, de modo
que o homem e a mulher possuem os mesmos direitos e
parte de outrem, não sendo nunca absolutos, mas sempre
obrigações.
relativos.
Entretanto, o princípio da isonomia abrange muito
Explica Canotilho2 quanto aos direitos fundamentais: “a
mais do que a igualdade de gêneros, envolve uma pers-
ideia de deveres fundamentais é suscetível de ser entendi-
pectiva mais ampla.
da como o ‘outro lado’ dos direitos fundamentais. Como O direito à igualdade é um dos direitos norteadores
ao titular de um direito fundamental corresponde um de- de interpretação de qualquer sistema jurídico. O primeiro
ver por parte de um outro titular, poder-se-ia dizer que o enfoque que foi dado a este direito foi o de direito civil,
particular está vinculado aos direitos fundamentais como enquadrando-o na primeira dimensão, no sentido de que a
destinatário de um dever fundamental. Neste sentido, um todas as pessoas deveriam ser garantidos os mesmos direi-
direito fundamental, enquanto protegido, pressuporia um tos e deveres. Trata-se de um aspecto relacionado à igual-
dever correspondente”. Com efeito, a um direito funda- dade enquanto liberdade, tirando o homem do arbítrio dos
mental conferido à pessoa corresponde o dever de respei- demais por meio da equiparação. Basicamente, estaria se
to ao arcabouço de direitos conferidos às outras pessoas. falando na igualdade perante a lei.
No entanto, com o passar dos tempos, se percebeu que
3) Direitos e garantias em espécie não bastava igualar todos os homens em direitos e deveres
Preconiza o artigo 5º da Constituição Federal em seu caput: para torná-los iguais, pois nem todos possuem as mesmas
condições de exercer estes direitos e deveres. Logo, não
Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem é suficiente garantir um direito à igualdade formal, mas
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei- é preciso buscar progressivamente a igualdade material.
ros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade No sentido de igualdade material que aparece o direito à
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à igualdade num segundo momento, pretendendo-se do Es-
propriedade, nos termos seguintes [...]. tado, tanto no momento de legislar quanto no de aplicar e
executar a lei, uma postura de promoção de políticas go-
O caput do artigo 5º, que pode ser considerado um vernamentais voltadas a grupos vulneráveis.
dos principais (senão o principal) artigos da Constituição Assim, o direito à igualdade possui dois sentidos notá-
Federal, consagra o princípio da igualdade e delimita as veis: o de igualdade perante a lei, referindo-se à aplicação
cinco esferas de direitos individuais e coletivos que mere- uniforme da lei a todas as pessoas que vivem em socieda-
de; e o de igualdade material, correspondendo à necessi-
cem proteção, isto é, vida, liberdade, igualdade, segurança
dade de discriminações positivas com relação a grupos vul-
e propriedade. Os incisos deste artigos delimitam vários
neráveis da sociedade, em contraponto à igualdade formal.
direitos e garantias que se enquadram em alguma destas
esferas de proteção, podendo se falar em duas esferas es-
Ações afirmativas
pecíficas que ganham também destaque no texto consti- Neste sentido, desponta a temática das ações afirmati-
tucional, quais sejam, direitos de acesso à justiça e direitos vas,que são políticas públicas ou programas privados cria-
constitucionais-penais. dos temporariamente e desenvolvidos com a finalidade de
reduzir as desigualdades decorrentes de discriminações ou
- Direito à igualdade de uma hipossuficiência econômica ou física, por meio da
Abrangência concessão de algum tipo de vantagem compensatória de
Observa-se, pelo teor do caput do artigo 5º, CF, que o tais condições.
constituinte afirmou por duas vezes o princípio da igualdade: Quem é contra as ações afirmativas argumenta que,
em uma sociedade pluralista, a condição de membro de
Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem um grupo específico não pode ser usada como critério de
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei- inclusão ou exclusão de benefícios. Ademais, afirma-se que
ros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade elas desprivilegiam o critério republicano do mérito (se-
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à gundo o qual o indivíduo deve alcançar determinado cargo
propriedade, nos termos seguintes [...]. público pela sua capacidade e esforço, e não por pertencer
2 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito cons- a determinada categoria); fomentariam o racismo e o ódio;
titucional e teoria da constituição. 2. ed. Coimbra: Almedi- bem como ferem o princípio da isonomia por causar uma
na, 1998, p. 479. discriminação reversa.

2
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Por outro lado, quem é favorável às ações afirmativas Artigo 5º, III, CF. Ninguém será submetido a tortura nem
defende que elas representam o ideal de justiça compen- a tratamento desumano ou degradante.
satória (o objetivo é compensar injustiças passadas, dívidas
históricas, como uma compensação aos negros por tê-los A tortura é um dos piores meios de tratamento de-
feito escravos, p. ex.); representam o ideal de justiça dis- sumano, expressamente vedada em âmbito internacional,
tributiva (a preocupação, aqui, é com o presente. Busca- como visto no tópico anterior. No Brasil, além da disciplina
-se uma concretização do princípio da igualdade material); constitucional, a Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997 define
bem como promovem a diversidade. os crimes de tortura e dá outras providências, destacando-
Neste sentido, as discriminações legais asseguram a -se o artigo 1º:
verdadeira igualdade, por exemplo, com as ações afirmati-
vas, a proteção especial ao trabalho da mulher e do menor, Art. 1º Constitui crime de tortura:
as garantias aos portadores de deficiência, entre outras I - constranger alguém com emprego de violência ou
medidas que atribuam a pessoas com diferentes condi- grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
ções, iguais possibilidades, protegendo e respeitando suas a) com o fim de obter informação, declaração ou confis-
diferenças3. Tem predominado em doutrina e jurisprudên- são da vítima ou de terceira pessoa;
cia, inclusive no Supremo Tribunal Federal, que as ações b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
afirmativas são válidas. c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autori-
- Direito à vida dade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso
Abrangência sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a prote- pessoal ou medida de caráter preventivo.
ção do direito à vida. A vida humana é o centro gravitacio- Pena - reclusão, de dois a oito anos.
nal em torno do qual orbitam todos os direitos da pessoa § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa
humana, possuindo reflexos jurídicos, políticos, econômi- presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico
cos, morais e religiosos. Daí existir uma dificuldade em con- ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto
ceituar o vocábulo vida. Logo, tudo aquilo que uma pessoa em lei ou não resultante de medida legal.
possui deixa de ter valor ou sentido se ela perde a vida. § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas,
Sendo assim, a vida é o bem principal de qualquer pessoa, é quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na
o primeiro valor moral inerente a todos os seres humanos4. pena de detenção de um a quatro anos.
No tópico do direito à vida tem-se tanto o direito de § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou
nascer/permanecer vivo, o que envolve questões como gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se
pena de morte, eutanásia, pesquisas com células-tron- resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
co e aborto; quanto o direito de viver com dignidade, § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
o que engloba o respeito à integridade física, psíquica I - se o crime é cometido por agente público;
e moral, incluindo neste aspecto a vedação da tortura, II – se o crime é cometido contra criança, gestante, porta-
bem como a garantia de recursos que permitam viver a dor de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; 
vida com dignidade. III - se o crime é cometido mediante sequestro.
Embora o direito à vida seja em si pouco delimitado § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função
nos incisos que seguem o caput do artigo 5º, trata-se de ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo
um dos direitos mais discutidos em termos jurisprudenciais dobro do prazo da pena aplicada.
e sociológicos. É no direito à vida que se encaixam polêmi- § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de
cas discussões como: aborto de anencéfalo, pesquisa com graça ou anistia.
células tronco, pena de morte, eutanásia, etc. § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a
hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regi-
Vedação à tortura me fechado.
De forma expressa no texto constitucional destaca-se
a vedação da tortura, corolário do direito à vida, conforme - Direito à liberdade
previsão no inciso III do artigo 5º: O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro-
teção do direito à liberdade, delimitada em alguns incisos
3 SANFELICE, Patrícia de Mello. Comentários aos
que o seguem.
artigos I e II. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários
à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Liberdade e legalidade
Fortium, 2008, p. 08. Prevê o artigo 5º, II, CF:
4 BARRETO, Ana Carolina Rossi; IBRAHIM, Fábio
Zambitte. Comentários aos Artigos III e IV. In: BALERA, Wag- Artigo 5º, II, CF. Ninguém será obrigado a fazer ou dei-
ner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos Di- xar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
reitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008, p. 15.

3
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

O princípio da legalidade se encontra delimitado neste Consolida-se outra perspectiva da liberdade de expres-
inciso, prevendo que nenhuma pessoa será obrigada a fazer são, referente de forma específica a atividades intelectuais,
ou deixar de fazer alguma coisa a não ser que a lei assim artísticas, científicas e de comunicação. Dispensa-se, com
determine. Assim, salvo situações previstas em lei, a pessoa relação a estas, a exigência de licença para a manifestação
tem liberdade para agir como considerar conveniente. do pensamento, bem como veda-se a censura prévia.
Portanto, o princípio da legalidade possui estrita rela- A respeito da censura prévia, tem-se não cabe impe-
ção com o princípio da liberdade, posto que, a priori, tudo dir a divulgação e o acesso a informações como modo de
à pessoa é lícito. Somente é vedado o que a lei expres- controle do poder. A censura somente é cabível quando
necessária ao interesse público numa ordem democrática,
samente estabelecer como proibido. A pessoa pode fazer
por exemplo, censurar a publicação de um conteúdo de
tudo o que quiser, como regra, ou seja, agir de qualquer
exploração sexual infanto-juvenil é adequado.
maneira que a lei não proíba. O direito à resposta (artigo 5º, V, CF) e o direito à indeni-
zação (artigo 5º, X, CF) funcionam como a contrapartida para
Liberdade de pensamento e de expressão aquele que teve algum direito seu violado (notadamente
O artigo 5º, IV, CF prevê: inerentes à privacidade ou à personalidade) em decorrência
dos excessos no exercício da liberdade de expressão.
Artigo 5º, IV, CF. É livre a manifestação do pensamen-
to, sendo vedado o anonimato. Liberdade de crença/religiosa
Dispõe o artigo 5º, VI, CF:
Consolida-se a afirmação simultânea da liberdade de
pensamento e da liberdade de expressão. Artigo 5º, VI, CF. É inviolável a liberdade de consciên-
Em primeiro plano tem-se a liberdade de pensamento. cia e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
Afinal, “o ser humano, através dos processos internos de cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção
aos locais de culto e a suas liturgias.
reflexão, formula juízos de valor. Estes exteriorizam nada
mais do que a opinião de seu emitente. Assim, a regra
Cada pessoa tem liberdade para professar a sua fé
constitucional, ao consagrar a livre manifestação do pensa- como bem entender dentro dos limites da lei. Não há uma
mento, imprime a existência jurídica ao chamado direito de crença ou religião que seja proibida, garantindo-se que a
opinião”5. Em outras palavras, primeiro existe o direito de profissão desta fé possa se realizar em locais próprios.
ter uma opinião, depois o de expressá-la. Nota-se que a liberdade de religião engloba 3 tipos
No mais, surge como corolário do direito à liberdade distintos, porém intrinsecamente relacionados de liberda-
de pensamento e de expressão o direito à escusa por con- des: a liberdade de crença; a liberdade de culto; e a liber-
vicção filosófica ou política: dade de organização religiosa.
Consoante o magistério de José Afonso da Silva6, entra
Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por na liberdade de crença a liberdade de escolha da religião,
motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou a liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade
política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação (ou o direito) de mudar de religião, além da liberdade de
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação al- não aderir a religião alguma, assim como a liberdade de
descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnos-
ternativa, fixada em lei.
ticismo, apenas excluída a liberdade de embaraçar o livre
exercício de qualquer religião, de qualquer crença. A liber-
Trata-se de instrumento para a consecução do direito dade de culto consiste na liberdade de orar e de praticar
assegurado na Constituição Federal – não basta permitir que os atos próprios das manifestações exteriores em casa ou
se pense diferente, é preciso respeitar tal posicionamento. em público, bem como a de recebimento de contribuições
Com efeito, este direito de liberdade de expressão é para tanto. Por fim, a liberdade de organização religiosa
limitado. Um destes limites é o anonimato, que consiste na refere-se à possibilidade de estabelecimento e organização
garantia de atribuir a cada manifestação uma autoria cer- de igrejas e suas relações com o Estado.
ta e determinada, permitindo eventuais responsabilizações Como decorrência do direito à liberdade religiosa, as-
por manifestações que contrariem a lei. segurando o seu exercício, destaca-se o artigo 5º, VII, CF:
Tem-se, ainda, a seguinte previsão no artigo 5º, IX, CF:
Artigo 5º, VII, CF. É assegurada, nos termos da lei, a pres-
Artigo 5º, IX, CF. É livre a expressão da atividade inte- tação de assistência religiosa nas entidades civis e mili-
lectual, artística, científica e de comunicação, indepen- tares de internação coletiva.
dentemente de censura ou licença.
O dispositivo refere-se não só aos estabelecimentos
prisionais civis e militares, mas também a hospitais.
5 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vi-
dal Serrano. Curso de direito constitucional. 10. ed. São 6 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitu-
Paulo: Saraiva, 2006. cional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

4
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Ainda, surge como corolário do direito à liberdade reli- A respeito, a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011
giosa o direito à escusa por convicção religiosa: regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art.
5º, CF, também conhecida como Lei do Acesso à Informação.
Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por Não obstante, estabelece o artigo 5º, XXXIV, CF:
motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou po-
lítica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal Artigo 5º, XXXIV, CF. São a todos assegurados, indepen-
a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alterna- dentemente do pagamento de taxas:
tiva, fixada em lei. a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa
de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
Sempre que a lei impõe uma obrigação a todos, por b) a obtenção de certidões em repartições públicas,
exemplo, a todos os homens maiores de 18 anos o alis- para defesa de direitos e esclarecimento de situações de in-
tamento militar, não cabe se escusar, a não ser que tenha teresse pessoal.
fundado motivo em crença religiosa ou convicção filosó-
fica/política, caso em que será obrigado a cumprir uma Quanto ao direito de petição, de maneira prática, cum-
prestação alternativa, isto é, uma outra atividade que não pre observar que o direito de petição deve resultar em uma
contrarie tais preceitos. manifestação do Estado, normalmente dirimindo (resol-
vendo) uma questão proposta, em um verdadeiro exercí-
Liberdade de informação cio contínuo de delimitação dos direitos e obrigações que
O direito de acesso à informação também se liga a uma regulam a vida social e, desta maneira, quando “dificulta
dimensão do direito à liberdade. Neste sentido, prevê o a apreciação de um pedido que um cidadão quer apre-
artigo 5º, XIV, CF: sentar” (muitas vezes, embaraçando-lhe o acesso à Justiça);
“demora para responder aos pedidos formulados” (admi-
Artigo 5º, XIV, CF. É assegurado a todos o acesso à in- nistrativa e, principalmente, judicialmente) ou “impõe res-
formação e resguardado o sigilo da fonte, quando neces- trições e/ou condições para a formulação de petição”, traz
a chamada insegurança jurídica, que traz desesperança e
sário ao exercício profissional.
faz proliferar as desigualdades e as injustiças.
Dentro do espectro do direito de petição se insere, por
Trata-se da liberdade de informação, consistente na liber-
exemplo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar
dade de procurar e receber informações e ideias por quais-
cópias reprográficas e certidões, bem como de ofertar de-
quer meios, independente de fronteiras, sem interferência.
núncias de irregularidades. Contudo, o constituinte, talvez
A liberdade de informação tem um caráter passivo, ao
na intenção de deixar clara a obrigação dos Poderes Públi-
passo que a liberdade de expressão tem uma caracterís-
cos em fornecer certidões, trouxe a letra b) do inciso, o que
tica ativa, de forma que juntas formam os aspectos ativo
gera confusões conceituais no sentido do direito de obter
e passivo da exteriorização da liberdade de pensamento:
certidões ser dissociado do direito de petição.
não basta poder manifestar o seu próprio pensamento, é Por fim, relevante destacar a previsão do artigo 5º, LX, CF:
preciso que ele seja ouvido e, para tanto, há necessidade
de se garantir o acesso ao pensamento manifestado para Artigo 5º, LX, CF. A lei só poderá restringir a publicida-
a sociedade. de dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou
Por sua vez, o acesso à informação envolve o direito de o interesse social o exigirem.
todos obterem informações claras, precisas e verdadeiras a
respeito de fatos que sejam de seu interesse, notadamente Logo,o processo, em regra, não será sigiloso. Apenas
pelos meios de comunicação imparciais e não monopoliza- o será quando a intimidade merecer preservação (ex: pro-
dos (artigo 220, CF). No entanto, nem sempre é possível que cesso criminal de estupro ou causas de família em geral) ou
a imprensa divulgue com quem obteve a informação divul- quando o interesse social exigir (ex: investigações que pos-
gada, sem o que a segurança desta poderia ficar prejudica- sam ser comprometidas pela publicidade). A publicidade é
da e a informação inevitavelmente não chegaria ao público. instrumento para a efetivação da liberdade de informação.
Especificadamente quanto à liberdade de informação
no âmbito do Poder Público, merecem destaque algumas Liberdade de locomoção
previsões. Outra faceta do direito à liberdade encontra-se no ar-
Primeiramente, prevê o artigo 5º, XXXIII, CF: tigo 5º, XV, CF:

Artigo 5º, XXXIII, CF. Todos têm direito a receber dos Artigo 5º, XV, CF. É livre a locomoção no território na-
órgãos públicos informações de seu interesse particular, cional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos ter-
ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no pra- mos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.
zo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas
cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e A liberdade de locomoção é um aspecto básico do di-
do Estado. reito à liberdade, permitindo à pessoa ir e vir em todo o
território do país em tempos de paz (em tempos de guerra

5
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

é possível limitar tal liberdade em prol da segurança). A de armas, totalmente vedado, assim como de substâncias
liberdade de sair do país não significa que existe um direito ilícitas (Ex: embora a Marcha da Maconha tenha sido auto-
de ingressar em qualquer outro país, pois caberá à ele, no rizada pelo Supremo Tribunal Federal, vedou-se que nela
exercício de sua soberania, controlar tal entrada. tal substância ilícita fosse utilizada).
Classicamente, a prisão é a forma de restrição da liber-
dade. Neste sentido, uma pessoa somente poderá ser pre- Liberdade de associação
sa nos casos autorizados pela própria Constituição Federal. No que tange à liberdade de reunião, traz o artigo 5º,
A despeito da normativa específica de natureza penal, re- XVII, CF:
força-se a impossibilidade de se restringir a liberdade de
locomoção pela prisão civil por dívida. Artigo 5º, XVII, CF. É plena a liberdade de associação
Prevê o artigo 5º, LXVII, CF: para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar.

Artigo 5º, LXVII, CF. Não haverá prisão civil por dívi- A liberdade de associação difere-se da de reunião por
da, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e sua perenidade, isto é, enquanto a liberdade de reunião é
inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel. exercida de forma sazonal, eventual, a liberdade de asso-
ciação implica na formação de um grupo organizado que
Nos termos da Súmula Vinculante nº 25 do Supremo se mantém por um período de tempo considerável, dotado
Tribunal Federal, “é ilícita a prisão civil de depositário infiel, de estrutura e organização próprias.
qualquer que seja a modalidade do depósito”. Por isso, a Por exemplo, o PCC e o Comando vermelho são asso-
única exceção à regra da prisão por dívida do ordenamento ciações ilícitas e de caráter paramilitar, pois possuem ar-
é a que se refere à obrigação alimentícia. mas e o ideal de realizar sua própria justiça paralelamente
à estatal.
Liberdade de trabalho O texto constitucional se estende na regulamentação
O direito à liberdade também é mencionado no artigo da liberdade de associação.
5º, XIII, CF: O artigo 5º, XVIII, CF, preconiza:

Artigo 5º, XIII, CF. É livre o exercício de qualquer tra- Artigo 5º, XVIII, CF. A criação de associações e, na for-
balho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações ma da lei, a de cooperativas independem de autorização,
profissionais que a lei estabelecer. sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento.

O livre exercício profissional é garantido, respeitados Neste sentido, associações são organizações resultan-
os limites legais. Por exemplo, não pode exercer a profis- tes da reunião legal entre duas ou mais pessoas, com ou
são de advogado aquele que não se formou em Direito sem personalidade jurídica, para a realização de um obje-
e não foi aprovado no Exame da Ordem dos Advogados tivo comum; já cooperativas são uma forma específica de
do Brasil; não pode exercer a medicina aquele que não fez associação, pois visam a obtenção de vantagens comuns
faculdade de medicina reconhecida pelo MEC e obteve o em suas atividades econômicas.
cadastro no Conselho Regional de Medicina. Ainda, tem-se o artigo 5º, XIX, CF:

Liberdade de reunião Artigo 5º, XIX, CF. As associações só poderão ser com-
Sobre a liberdade de reunião, prevê o artigo 5º, XVI, CF: pulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas
por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito
Artigo 5º, XVI, CF. Todos podem reunir-se pacificamen- em julgado.
te, sem armas, em locais abertos ao público, independen-
temente de autorização, desde que não frustrem outra re- O primeiro caso é o de dissolução compulsória, ou seja,
união anteriormente convocada para o mesmo local, sendo a associação deixará de existir para sempre. Obviamente, é
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente. preciso o trânsito em julgado da decisão judicial que as-
sim determine, pois antes disso sempre há possibilidade
Pessoas podem ir às ruas para reunirem-se com de- de reverter a decisão e permitir que a associação continue
mais na defesa de uma causa, apenas possuindo o dever em funcionamento. Contudo, a decisão judicial pode sus-
de informar tal reunião. Tal dever remonta-se a questões de pender atividades até que o trânsito em julgado ocorra, ou
segurança coletiva. Imagine uma grande reunião de pes- seja, no curso de um processo judicial.
soas por uma causa, a exemplo da Parada Gay, que chega Em destaque, a legitimidade representativa da associa-
a aglomerar milhões de pessoas em algumas capitais: seria ção quanto aos seus filiados, conforme artigo 5º, XXI, CF:
absurdo tolerar tal tipo de reunião sem o prévio aviso do
poder público para que ele organize o policiamento e a as- Artigo 5º, XXI, CF. As entidades associativas, quando ex-
sistência médica, evitando algazarras e socorrendo pessoas pressamente autorizadas, têm legitimidade para represen-
que tenham algum mal-estar no local. Outro limite é o uso tar seus filiados judicial ou extrajudicialmente.

6
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Trata-se de caso de legitimidade processual extraordi- Artigo 5º, XI, CF. A casa é asilo inviolável do indivíduo,
nária, pela qual um ente vai a juízo defender interesse de ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do mo-
outra(s) pessoa(s) porque a lei assim autoriza. rador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
A liberdade de associação envolve não somente o di- prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
reito de criar associações e de fazer parte delas, mas tam-
bém o de não associar-se e o de deixar a associação, con- O domicílio é inviolável, razão pela qual ninguém pode
forme artigo 5º, XX, CF:
nele entrar sem o consentimento do morador, a não ser
EM QUALQUER HORÁRIO no caso de flagrante delito (o
Artigo 5º, XX, CF. Ninguém poderá ser compelido a as-
sociar-se ou a permanecer associado. morador foi flagrado na prática de crime e fugiu para seu
domicílio) ou desastre (incêndio, enchente, terremoto...) ou
- Direitos à privacidade e à personalidade para prestar socorro (morador teve ataque do coração, está
sufocado, desmaiado...), e SOMENTE DURANTE O DIA por
Abrangência determinação judicial.
Prevê o artigo 5º, X, CF: Quanto ao sigilo de correspondência e das comunica-
ções, prevê o artigo 5º, XII, CF:
Artigo 5º, X, CF. São invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o Artigo 5º, XII, CF. É inviolável o sigilo da correspondência
direito a indenização pelo dano material ou moral decorren- e das comunicações telegráficas, de dados e das comunica-
te de sua violação. ções telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
O legislador opta por trazer correlacionados no mesmo
investigação criminal ou instrução processual penal.
dispositivo legal os direitos à privacidade e à personalidade.
Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimida-
de, ao abordar a proteção da vida privada – que, em resu- O sigilo de correspondência e das comunicações está
mo, é a privacidade da vida pessoal no âmbito do domicílio melhor regulamentado na Lei nº 9.296, de 1996.
e de círculos de amigos –, Silva7 entende que “o segredo
da vida privada é condição de expansão da personalidade”, Personalidade jurídica e gratuidade de registro
mas não caracteriza os direitos de personalidade em si. Quando se fala em reconhecimento como pessoa pe-
A união da intimidade e da vida privada forma a pri- rante a lei desdobra-se uma esfera bastante específica dos
vacidade, sendo que a primeira se localiza em esfera mais direitos de personalidade, consistente na personalidade ju-
estrita. É possível ilustrar a vida social como se fosse um rídica. Basicamente, consiste no direito de ser reconhecido
grande círculo no qual há um menor, o da vida privada, e como pessoa perante a lei.
dentro deste um ainda mais restrito e impenetrável, o da Para ser visto como pessoa perante a lei mostra-se
intimidade. Com efeito, pela “Teoria das Esferas” (ou “Teoria necessário o registro. Por ser instrumento que serve como
dos Círculos Concêntricos”), importada do direito alemão,
pressuposto ao exercício de direitos fundamentais, asse-
quanto mais próxima do indivíduo, maior a proteção a ser
conferida à esfera (as esferas são representadas pela inti- gura-se a sua gratuidade aos que não tiverem condição de
midade, pela vida privada, e pela publicidade). com ele arcar.
“O direito à honra distancia-se levemente dos dois an- Aborda o artigo 5º, LXXVI, CF:
teriores, podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa
tem de si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela fa- Artigo 5º, LXXVI, CF. São gratuitos para os reconheci-
zem os outros (honra objetiva), conferindo-lhe respeitabi- damente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nas-
lidade no meio social. O direito à imagem também pos- cimento; b) a certidão de óbito.
sui duas conotações, podendo ser entendido em sentido
objetivo, com relação à reprodução gráfica da pessoa, por O reconhecimento do marco inicial e do marco final
meio de fotografias, filmagens, desenhos, ou em sentido da personalidade jurídica pelo registro é direito individual,
subjetivo, significando o conjunto de qualidades cultivadas não dependendo de condições financeiras. Evidente, seria
pela pessoa e reconhecidas como suas pelo grupo social”8. absurdo cobrar de uma pessoa sem condições a elabora-
ção de documentos para que ela seja reconhecida como
Inviolabilidade de domicílio e sigilo de correspon-
viva ou morta, o que apenas incentivaria a indigência dos
dência
Correlatos ao direito à privacidade, aparecem a invio- menos favorecidos.
labilidade do domicílio e o sigilo das correspondências e
comunicações. Direito à indenização e direito de resposta
Neste sentido, o artigo 5º, XI, CF prevê: Com vistas à proteção do direito à privacidade, do di-
reito à personalidade e do direito à imagem, asseguram-se
7 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitu- dois instrumentos, o direito à indenização e o direito de
cional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. resposta, conforme as necessidades do caso concreto.
8 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de di- Com efeito, prevê o artigo 5º, V, CF:
reito constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

7
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Artigo 5º, V, CF. É assegurado o direito de resposta, No sentido aqui estudado, o direito à segurança pes-
proporcional ao agravo, além da indenização por dano ma- soal é o direito de viver sem medo, protegido pela soli-
terial, moral ou à imagem. dariedade e liberto de agressões, logo, é uma maneira de
garantir o direito à vida.
“A manifestação do pensamento é livre e garantida Nesta linha, para Silva11, “efetivamente, esse conjunto
em nível constitucional, não aludindo a censura prévia em de direitos aparelha situações, proibições, limitações e pro-
diversões e espetáculos públicos. Os abusos porventura cedimentos destinados a assegurar o exercício e o gozo de
ocorridos no exercício indevido da manifestação do pensa- algum direito individual fundamental (intimidade, liberda-
mento são passíveis de exame e apreciação pelo Poder Ju- de pessoal ou a incolumidade física ou moral)”.
diciário com a consequente responsabilidade civil e penal Especificamente no que tange à segurança jurídica,
de seus autores, decorrentes inclusive de publicações inju- tem-se o disposto no artigo 5º, XXXVI, CF:
riosas na imprensa, que deve exercer vigilância e controle
da matéria que divulga”9. Artigo 5º, XXXVI, CF. A lei não prejudicará o direito ad-
O  direito de resposta é o direito que uma pessoa quirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
tem de se defender de críticas públicas no mesmo meio
em que foram publicadas garantida exatamente a mes- Pelo inciso restam estabelecidos limites à retroativida-
ma repercussão. Mesmo quando for garantido o direito de da lei.
de resposta não é possível reverter plenamente os da- Define o artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do
nos causados pela manifestação ilícita de pensamento, Direito Brasileiro:
razão pela qual a pessoa inda fará jus à indenização.
A manifestação ilícita do pensamento geralmente cau- Artigo 6º, LINDB. A Lei em vigor terá efeito imediato e
sa um dano, ou seja, um prejuízo sofrido pelo agente, que geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido
pode ser individual ou coletivo, moral ou material, econô- e a coisa julgada.
mico e não econômico. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado
segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
Dano material é aquele que atinge o patrimônio (ma-
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o
terial ou imaterial) da vítima, podendo ser mensurado fi-
seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles
nanceiramente e indenizado.
cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condi-
“Dano moral direto consiste na lesão a um interesse
ção pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
que visa a satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapa-
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão
trimonial contido nos direitos da personalidade (como a
judicial de que já não caiba recurso.
vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro,
a intimidade, os sentimentos afetivos, a própria imagem)
- Direito à propriedade
ou nos atributos da pessoa (como o nome, a capacidade, o
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro-
estado de família)”10.
teção do direito à propriedade, tanto material quanto inte-
Já o dano à imagem é delimitado no artigo 20 do Có- lectual, delimitada em alguns incisos que o seguem.
digo Civil:
Função social da propriedade material
Artigo 20, CC. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à O artigo 5º, XXII, CF estabelece:
administração da justiça ou à manutenção da ordem públi-
ca, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a Artigo 5º, XXII, CF. É garantido o direito de propriedade.
publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma
pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem pre- A seguir, no inciso XXIII do artigo 5º, CF estabelece o
juízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, principal fator limitador deste direito:
a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins
comerciais. Artigo 5º, XXIII, CF. A propriedade atenderá a sua fun-
ção social.
- Direito à segurança
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro- A propriedade, segundo Silva12, “[...] não pode mais ser
teção do direito à segurança. Na qualidade de direito in- considerada como um direito individual nem como ins-
dividual liga-se à segurança do indivíduo como um todo, tituição do direito privado. [...] embora prevista entre os
desde sua integridade física e mental, até a própria segu- direitos individuais, ela não mais poderá ser considerada
rança jurídica. puro direito individual, relativizando-se seu conceito e
9 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucio- 11 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitu-
nal. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011. cional positivo... Op. Cit., p. 437.
10 ZANNONI, Eduardo. El daño en la responsabili- 12 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitu-
dad civil. Buenos Aires: Astrea, 1982. cional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

8
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

significado, especialmente porque os princípios da ordem Artigo 182, § 4º, CF. É facultado ao Poder Público mu-
econômica são preordenados à vista da realização de seu nicipal, mediante lei específica para área incluída no plano
fim: assegurar a todos existência digna, conforme os di- diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do
tames da justiça social. Se é assim, então a propriedade solo urbano não edificado, subutilizado ou não utiliza-
privada, que, ademais, tem que atender a sua função social, do, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena,
fica vinculada à consecução daquele princípio”. sucessivamente, de:
Com efeito, a proteção da propriedade privada está li- I - parcelamento ou edificação compulsórios;
mitada ao atendimento de sua função social, sendo este o II - imposto sobre a propriedade predial e territorial ur-
requisito que a correlaciona com a proteção da dignidade bana progressivo no tempo;
da pessoa humana. A propriedade de bens e valores em III - desapropriação com pagamento mediante títulos
geral é um direito assegurado na Constituição Federal e, da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo
como todos os outros, se encontra limitado pelos demais Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em
princípios conforme melhor se atenda à dignidade do ser parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real
humano. da indenização e os juros legais14.
A Constituição Federal delimita o que se entende por
função social: Artigo 184, CF. Compete à União desapropriar por in-
teresse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural
Art. 182, caput, CF. A política de desenvolvimento urba- que não esteja cumprindo sua função social, mediante
no, executada pelo Poder Público municipal, conforme dire- prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária,
trizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua
bem-estar de seus habitantes. emissão, e cuja utilização será definida em lei15.

Artigo 182, § 1º, CF. O plano diretor, aprovado pela Câ- Artigo 184, § 1º, CF. As benfeitorias úteis e necessárias
mara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte serão indenizadas em dinheiro.
mil habitantes, é o instrumento básico da política de desen-
volvimento e de expansão urbana. No que tange à desapropriação por necessidade ou
utilidade pública, prevê o artigo 5º, XXIV, CF:
Artigo 182, § 2º, CF. A propriedade urbana cumpre sua
função social quando atende às exigências fundamentais de Artigo 5º, XXIV, CF. A lei estabelecerá o procedimento
ordenação da cidade expressas no plano diretor13. para desapropriação por necessidade ou utilidade pública,
ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização
Artigo 186, CF. A função social é cumprida quando a em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constitui-
propriedade rural atende, simultaneamente, segundo crité- ção.
rios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes
requisitos: Ainda, prevê o artigo 182, § 3º, CF:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponí- Artigo 182, §3º, CF. As desapropriações de imóveis urba-
veis e preservação do meio ambiente; nos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.
III - observância das disposições que regulam as rela-
ções de trabalho; Tem-se, ainda o artigo 184, §§ 2º e 3º, CF:
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprie-
tários e dos trabalhadores.
14 Nota-se que antes de se promover a desapropria-
Desapropriação ção de imóvel urbano por desatendimento à função social é
No caso de desrespeito à função social da proprieda- necessário tomar duas providências, sucessivas: primeiro, o
de cabe até mesmo desapropriação do bem, de modo que parcelamento ou edificação compulsórios; depois, o estabe-
lecimento de imposto sobre a propriedade predial e territorial
pode-se depreender do texto constitucional duas possibi-
urbana progressivo no tempo. Se ambas medidas restarem
lidades de desapropriação: por desrespeito à função social
ineficazes, parte-se para a desapropriação por desatendimen-
e por necessidade ou utilidade pública. to à função social.
A Constituição Federal prevê a possibilidade de desa- 15 A desapropriação em decorrência do desatendimen-
propriação por desatendimento à função social: to da função social é indenizada, mas não da mesma maneira
que a desapropriação por necessidade ou utilidade pública,
13 Instrumento básico de um processo de planejamen- já que na primeira há violação do ordenamento constitucional
to municipal para a implantação da política de desenvolvimen- pelo proprietário, mas na segunda não. Por isso, indeniza-se
to urbano, norteando a ação dos agentes públicos e privados em títulos da dívida agrária, que na prática não são tão valori-
(Lei n. 10.257/2001 - Estatuto da cidade). zados quanto o dinheiro.

9
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Artigo 184, §2º, CF. O decreto que declarar o imóvel quando resultante de desvio do propósito original; e será
como de interesse social, para fins de reforma agrária, auto- lícita quando a Administração Pública dê ao bem finalidade
riza a União a propor a ação de desapropriação. diversa, porém preservando a razão do interesse público.

Artigo 184, §3º, CF. Cabe à lei complementar estabelecer Política agrária e reforma agrária
procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o Enquanto desdobramento do direito à propriedade
processo judicial de desapropriação. imóvel e da função social desta propriedade, tem-se ainda
o artigo 5º, XXVI, CF:
A desapropriação por utilidade ou necessidade pública
deve se dar mediante prévia e justa indenização em dinheiro. Artigo 5º, XXVI, CF. A pequena propriedade rural, as-
O Decreto-lei nº 3.365/1941 a disciplina, delimitando o pro- sim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não
cedimento e conceituando utilidade pública, em seu artigo 5º: será objeto de penhora para pagamento de débitos decor-
rentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os
Artigo 5º, Decreto-lei n. 3.365/1941. Consideram-se ca- meios de financiar o seu desenvolvimento.
sos de utilidade pública:
a) a segurança nacional; Assim, se uma pessoa é mais humilde e tem uma pe-
b) a defesa do Estado; quena propriedade será assegurado que permaneça com
c) o socorro público em caso de calamidade; ela e a torne mais produtiva.
d) a salubridade pública; A preservação da pequena propriedade em detrimento
e) a criação e melhoramento de centros de população, dos grandes latifúndios improdutivos é uma das diretrizes-
seu abastecimento regular de meios de subsistência; -guias da regulamentação da política agrária brasileira, que
f) o aproveitamento industrial das minas e das jazidas tem como principal escopo a realização da reforma agrária.
minerais, das águas e da energia hidráulica; Parte da questão financeira atinente à reforma agrária
g) a assistência pública, as obras de higiene e decoração, se encontra prevista no artigo 184, §§ 4º e 5º, CF:
casas de saúde, clínicas, estações de clima e fontes medicinais;
h) a exploração ou a conservação dos serviços públicos;
Artigo 184, §4º, CF. O orçamento fixará anualmente
i) a abertura, conservação e melhoramento de vias ou
o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o
logradouros públicos; a execução de planos de urbanização;
montante de recursos para atender ao programa de reforma
o parcelamento do solo, com ou sem edificação, para sua
agrária no exercício.
melhor utilização econômica, higiênica ou estética; a cons-
trução ou ampliação de distritos industriais;
Artigo 184, §5º, CF. São isentas de impostos federais, es-
j) o funcionamento dos meios de transporte coletivo;
taduais e municipais as operações de transferência de imó-
k) a preservação e conservação dos monumentos históri-
veis desapropriados para fins de reforma agrária.
cos e artísticos, isolados ou integrados em conjuntos urbanos
ou rurais, bem como as medidas necessárias a manter-lhes
e realçar-lhes os aspectos mais valiosos ou característicos e, Como a finalidade da reforma agrária é transformar
ainda, a proteção de paisagens e locais particularmente do- terras improdutivas e grandes propriedades em atinentes à
tados pela natureza; função social, alguns imóveis rurais não podem ser abran-
l) a preservação e a conservação adequada de arquivos, gidos pela reforma agrária:
documentos e outros bens moveis de valor histórico ou artístico;
m) a construção de edifícios públicos, monumentos co- Art. 185, CF. São insuscetíveis de desapropriação para
memorativos e cemitérios; fins de reforma agrária:
n) a criação de estádios, aeródromos ou campos de pou- I - a pequena e média propriedade rural, assim definida
so para aeronaves; em lei, desde que seu proprietário não possua outra;
o) a reedição ou divulgação de obra ou invento de natu- II - a propriedade produtiva.
reza científica, artística ou literária; Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à
p) os demais casos previstos por leis especiais. propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento
dos requisitos relativos a sua função social.
Um grande problema que faz com que processos que
tenham a desapropriação por objeto se estendam é a inde- Sobre as diretrizes da política agrícola, prevê o artigo 187:
vida valorização do imóvel pelo Poder Público, que geral-
mente pretende pagar valor muito abaixo do devido, ne- Art. 187, CF. A política agrícola será planejada e exe-
cessitando o Judiciário intervir em prol da correta avaliação. cutada na forma da lei, com a participação efetiva do setor
Outra questão reside na chamada tredestinação, pela de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais,
qual há a destinação de um bem expropriado (desapro- bem como dos setores de comercialização, de armazena-
priação) a finalidade diversa da que se planejou inicial- mento e de transportes, levando em conta, especialmente:
mente. A tredestinação pode ser lícita ou ilícita. Será ilícita I - os instrumentos creditícios e fiscais;

10
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

II - os preços compatíveis com os custos de produção e a Além dos requisitos gerais (animus e posse que seja
garantia de comercialização; pública, pacífica, ininterrupta e contínua), são exigidos os
III - o incentivo à pesquisa e à tecnologia; seguintes requisitos específicos:
IV - a assistência técnica e extensão rural; a) Área urbana – há controvérsia. Pela teoria da locali-
V - o seguro agrícola; zação, área urbana é a que está dentro do perímetro urba-
VI - o cooperativismo; no. Pela teoria da destinação, mais importante que a locali-
VII - a eletrificação rural e irrigação; zação é a sua utilização. Ex.: se tem fins agrícolas/pecuários
VIII - a habitação para o trabalhador rural. e estiver dentro do perímetro urbana, o imóvel é rural. Para
§ 1º Incluem-se no planejamento agrícola as atividades fins de usucapião a maioria diz que prevalece a teoria da
agroindustriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais. localização.
§ 2º Serão compatibilizadas as ações de política agríco- b) Imóveis até 250 m² – Pode dentro de uma posse
la e de reforma agrária. maior isolar área de 250m² e ingressar com a ação? A juris-
prudência é pacífica que a posse desde o início deve ficar
As terras devolutas e públicas serão destinadas confor- restrita a 250m². Predomina também que o terreno deve
me a política agrícola e o plano nacional de reforma agrá- ter 250m², não a área construída (a área de um sobrado,
ria (artigo 188, caput, CF). Neste sentido, “a alienação ou a por exemplo, pode ser maior que a de um terreno).
concessão, a qualquer título, de terras públicas com área c) 5 anos – houve controvérsia porque a Constituição
superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física Federal de 1988 que criou esta modalidade. E se antes
ou jurídica, ainda que por interposta pessoa, dependerá de de 05 de outubro de 1988 uma pessoa tivesse há 4 anos
prévia aprovação do Congresso Nacional”, salvo no caso dentro do limite da usucapião urbana? Predominou que
de alienações ou concessões de terras públicas para fins de só corria o prazo a partir da criação do instituto, não só
reforma agrária (artigo 188, §§ 1º e 2º, CF). porque antes não existia e o prazo não podia correr, como
Os que forem favorecidos pela reforma agrária (ho- também não se poderia prejudicar o proprietário.
mens, mulheres, ambos, qualquer estado civil) não poderão d) Moradia sua ou de sua família – não basta ter posse,
negociar seus títulos pelo prazo de 10 anos (artigo 189, CF).
é preciso que a pessoa more, sozinha ou com sua família,
Consta, ainda, que “a lei regulará e limitará a aquisição
ao longo de todo o prazo (não só no início ou no final).
ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa física ou
Logo, não cabe acessio temporis por cessão da posse.
jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão
e) Nenhum outro imóvel, nem urbano, nem rural, no
de autorização do Congresso Nacional” (artigo 190, CF).
Brasil. O usucapiente não prova isso, apenas alega. Se al-
guém não quiser a usucapião, prova o contrário. Este re-
Usucapião
quisito é verificado no momento em que completa 5 anos.
Usucapião é o modo originário de aquisição da pro-
Em relação à previsão da usucapião especial rural, des-
priedade que decorre da posse prolongada por um lon-
taca-se o artigo 191, CF:
go tempo, preenchidos outros requisitos legais. Em outras
palavras, usucapião é uma situação em que alguém tem a
posse de um bem por um tempo longo, sem ser incomo- Art. 191, CF. Aquele que, não sendo proprietário de imó-
dado, a ponto de se tornar proprietário. vel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos inin-
A Constituição regulamenta o acesso à propriedade terruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não
mediante posse prolongada no tempo – usucapião – em superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu
casos específicos, denominados usucapião especial urbana trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adqui-
e usucapião especial rural. rir-lhe-á a propriedade.
O artigo 183 da Constituição regulamenta a usucapião Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiri-
especial urbana: dos por usucapião.

Art. 183, CF. Aquele que possuir como sua área urba- Além dos requisitos gerais (animus e posse que seja
na de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco pública, pacífica, ininterrupta e contínua), são exigidos os
anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para seguintes requisitos específicos:
sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, des- a) Imóvel rural
de que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. b) 50 hectares, no máximo – há também legislação que
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão estabelece um limite mínimo, o módulo rural (Estatuto da
conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, indepen- Terra). É possível usucapir áreas menores que o módulo ru-
dentemente do estado civil. ral? Tem prevalecido o entendimento de que pode, mas é
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo pos- assunto muito controverso.
suidor mais de uma vez. c) 5 anos – pode ser considerado o prazo antes 05 de
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usu- outubro de 1988 (Constituição Federal)? Depende. Se a
capião. área é de até 25 hectares sim, pois já havia tal possibilidade
antes da CF/88. Se área for maior (entre 25 ha e 50 ha) não.

11
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

d) Moradia sua ou de sua família – a pessoa deve morar O Direito do Consumidor pode ser considerado um
na área rural. ramo recente do Direito. No Brasil, a legislação que o re-
e) Nenhum outro imóvel. gulamentou foi promulgada nos anos 90, qual seja a Lei nº
f) O usucapiente, com seu trabalho, deve ter tornado 8.078, de 11 de setembro de 1990, conforme determinado
a área produtiva. Por isso, é chamado de usucapião “pro pela Constituição Federal de 1988, que também estabele-
labore”. Dependerá do caso concreto. ceu no artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias:
Uso temporário
No mais, estabelece-se uma terceira limitação ao di- Artigo 48, ADCT. O Congresso Nacional, dentro de cento
reito de propriedade que não possui o caráter definitivo e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará có-
da desapropriação, mas é temporária, conforme artigo 5º, digo de defesa do consumidor.
XXV, CF:
A elaboração do Código de Defesa do Consumidor foi
Artigo 5º, XXV, CF. No caso de iminente perigo públi-
um grande passo para a proteção da pessoa nas relações
co, a autoridade competente poderá usar de propriedade
de consumo que estabeleça, respeitando-se a condição de
particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior,
hipossuficiente técnico daquele que adquire um bem ou
se houver dano.
faz uso de determinado serviço, enquanto consumidor.
Se uma pessoa tem uma propriedade, numa situação
de perigo, o poder público pode se utilizar dela (ex: montar Propriedade intelectual
uma base para capturar um fugitivo), pois o interesse da Além da propriedade material, o constituinte protege
coletividade é maior que o do indivíduo proprietário. também a propriedade intelectual, notadamente no artigo
5º, XXVII, XXVIII e XXIX, CF:
Direito sucessório
O direito sucessório aparece como uma faceta do di- Artigo 5º, XXVII, CF. Aos autores pertence o direito ex-
reito à propriedade, encontrando disciplina constitucional clusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas
no artigo 5º, XXX e XXXI, CF: obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;

Artigo 5º, XXX, CF. É garantido o direito de herança; Artigo 5º, XXVIII, CF. São assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras
Artigo 5º, XXXI, CF. A sucessão de bens de estrangei- coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, in-
ros situados no País será regulada pela lei brasileira em be- clusive nas atividades desportivas;
nefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não b) o direito de fiscalização do aproveitamento eco-
lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. nômico das obras que criarem ou de que participarem aos
criadores, aos intérpretes e às respectivas representações
O direito à herança envolve o direito de receber – seja sindicais e associativas;
devido a uma previsão legal, seja por testamento – bens
de uma pessoa que faleceu. Assim, o patrimônio passa Artigo 5º, XXIX, CF. A lei assegurará aos autores de in-
para outra pessoa, conforme a vontade do falecido e/ou ventos industriais privilégio temporário para sua utiliza-
a lei determine. A Constituição estabelece uma disciplina ção, bem como proteção às criações industriais, à proprie-
específica para bens de estrangeiros situados no Brasil, as- dade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos
segurando que eles sejam repassados ao cônjuge e filhos
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvi-
brasileiros nos termos da lei mais benéfica (do Brasil ou do
mento tecnológico e econômico do País.
país estrangeiro).
Assim, a propriedade possui uma vertente intelectual
Direito do consumidor
que deve ser respeitada, tanto sob o aspecto moral quanto
Nos termos do artigo 5º, XXXII, CF:
sob o patrimonial. No âmbito infraconstitucional brasileiro,
Artigo 5º, XXXII, CF. O Estado promoverá, na forma da a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, regulamenta os
lei, a defesa do consumidor. direitos autorais, isto é, “os direitos de autor e os que lhes
são conexos”.
O direito do consumidor liga-se ao direito à proprieda- O artigo 7° do referido diploma considera como obras
de a partir do momento em que garante à pessoa que irá intelectuais que merecem a proteção do direito do autor
adquirir bens e serviços que estes sejam entregues e pres- os textos de obras de natureza literária, artística ou científi-
tados da forma adequada, impedindo que o fornecedor se ca; as conferências, sermões e obras semelhantes; as obras
enriqueça ilicitamente, se aproveite de maneira indevida da cinematográficas e televisivas; as composições musicais;
posição menos favorável e de vulnerabilidade técnica do fotografias; ilustrações; programas de computador; coletâ-
consumidor. neas e enciclopédias; entre outras.

12
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Os direitos morais do autor, que são imprescritíveis, processo como algo restrito a apenas duas partes indivi-
inalienáveis e irrenunciáveis, envolvem, basicamente, o di- dualizadas e ocasionando o surgimento de novas institui-
reito de reivindicar a autoria da obra, ter seu nome divul- ções, como o Ministério Público.
gado na utilização desta, assegurar a integridade desta ou Finalmente, Cappelletti e Garth19 apontam uma terceira
modificá-la e retirá-la de circulação se esta passar a afron- onda consistente no surgimento de uma concepção mais
tar sua honra ou imagem. ampla de acesso à justiça, considerando o conjunto de ins-
Já os direitos patrimoniais do autor, nos termos dos tituições, mecanismos, pessoas e procedimentos utilizados:
artigos 41 a 44 da Lei nº 9.610/98, prescrevem em 70 anos “[...] esse enfoque encoraja a exploração de uma ampla va-
contados do primeiro ano seguinte à sua morte ou do riedade de reformas, incluindo alterações nas formas de
falecimento do último coautor, ou contados do primeiro procedimento, mudanças na estrutura dos tribunais ou a
ano seguinte à divulgação da obra se esta for de natureza criação de novos tribunais, o uso de pessoas leigas ou pa-
audiovisual ou fotográfica. Estes, por sua vez, abrangem, raprofissionais, tanto como juízes quanto como defensores,
basicamente, o direito de dispor sobre a reprodução, edi- modificações no direito substantivo destinadas a evitar li-
ção, adaptação, tradução, utilização, inclusão em bases de tígios ou facilitar sua solução e a utilização de mecanismos
dados ou qualquer outra modalidade de utilização; sendo privados ou informais de solução dos litígios. Esse enfoque,
que estas modalidades de utilização podem se dar a título em suma, não receia inovações radicais e compreensivas,
oneroso ou gratuito. que vão muito além da esfera de representação judicial”.
“Os direitos autorais, também conhecidos como co- Assim, dentro da noção de acesso à justiça, diversos
pyright (direito de cópia), são considerados bens móveis, aspectos podem ser destacados: de um lado, deve criar-se
podendo ser alienados, doados, cedidos ou locados. Res- o Poder Judiciário e se disponibilizar meios para que todas
salte-se que a permissão a terceiros de utilização de cria- as pessoas possam buscá-lo; de outro lado, não basta ga-
ções artísticas é direito do autor. [...] A proteção consti- rantir meios de acesso se estes forem insuficientes, já que
tucional abrange o plágio e a contrafação. Enquanto que para que exista o verdadeiro acesso à justiça é necessário
o primeiro caracteriza-se pela difusão de obra criada ou que se aplique o direito material de maneira justa e célere.
produzida por terceiros, como se fosse própria, a segunda
Relacionando-se à primeira onda de acesso à justiça,
configura a reprodução de obra alheia sem a necessária
prevê a Constituição em seu artigo 5º, XXXV:
permissão do autor”16.
Artigo 5º, XXXV, CF. A lei não excluirá da apreciação do
- Direitos de acesso à justiça
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
A formação de um conceito sistemático de acesso à
justiça se dá com a teoria de Cappelletti e Garth, que apon-
O princípio da inafastabilidade da jurisdição é o prin-
taram três ondas de acesso, isto é, três posicionamentos
cípio de Direito Processual Público subjetivo, também
básicos para a realização efetiva de tal acesso. Tais ondas
cunhado como Princípio da Ação, em que a Constituição
foram percebidas paulatinamente com a evolução do Di-
garante a necessária tutela estatal aos conflitos ocorrentes
reito moderno conforme implementadas as bases da onda
anterior, quer dizer, ficou evidente aos autores a emergên- na vida em sociedade. Sempre que uma controvérsia for
cia de uma nova onda quando superada a afirmação das levada ao Poder Judiciário, preenchidos os requisitos de
premissas da onda anterior, restando parcialmente imple- admissibilidade, ela será resolvida, independentemente de
mentada (visto que até hoje enfrentam-se obstáculos ao haver ou não previsão específica a respeito na legislação.
pleno atendimento em todas as ondas). Também se liga à primeira onda de acesso à justiça,
Primeiro, Cappelletti e Garth17 entendem que surgiu no que tange à abertura do Judiciário mesmo aos menos
uma onda de concessão de assistência judiciária aos po- favorecidos economicamente, o artigo 5º, LXXIV, CF:
bres, partindo-se da prestação sem interesse de remunera-
ção por parte dos advogados e, ao final, levando à criação Artigo 5º, LXXIV, CF. O Estado prestará assistência jurí-
de um aparato estrutural para a prestação da assistência dica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiên-
pelo Estado. cia de recursos.
Em segundo lugar, no entender de Cappelletti e Garth18,
veio a onda de superação do problema na representação O constituinte, ciente de que não basta garantir o aces-
dos interesses difusos, saindo da concepção tradicional de so ao Poder Judiciário, sendo também necessária a efeti-
vidade processual, incluiu pela Emenda Constitucional nº
16 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fun-
45/2004 o inciso LXXVIII ao artigo 5º da Constituição:
damentais: teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da
Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e ju-
risprudência. São Paulo: Atlas, 1997. Artigo 5º, LXXVIII, CF. A todos, no âmbito judicial e admi-
17 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à nistrativo, são assegurados a razoável duração do processo
Justiça. Tradução Ellen Grace Northfleet. Porto Alegre: Sér- e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
gio Antônio Fabris Editor, 1998, p. 31-32.  
18 Ibid., p. 49-52 19 Ibid., p. 67-73

13
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Com o tempo se percebeu que não bastava garantir A decisão tomada pelo conselho é soberana. Contu-
o acesso à justiça se este não fosse célere e eficaz. Não do, a soberania dos veredictos veda a alteração das de-
significa que se deve acelerar o processo em detrimento cisões dos jurados, não a recorribilidade dos julgamentos
de direitos e garantias assegurados em lei, mas sim que é do Tribunal do Júri para que seja procedido novo julga-
preciso proporcionar um trâmite que dure nem mais e nem mento uma vez cassada a decisão recorrida, haja vista
menos que o necessário para a efetiva realização da justiça preservar o ordenamento jurídico pelo princípio do duplo
no caso concreto. grau de jurisdição.
Por fim, a competência para julgamento é dos crimes
- Direitos constitucionais-penais dolosos (em que há intenção ou ao menos se assume o
risco de produção do resultado) contra a vida, que são: ho-
Juiz natural e vedação ao juízo ou tribunal de ex- micídio, aborto, induzimento, instigação ou auxílio a sui-
ceção cídio e infanticídio. Sua competência não é absoluta e é
Quando o artigo 5º, LIII, CF menciona: mitigada, por vezes, pela própria Constituição (artigos 29,
X / 102, I, b) e c) / 105, I, a) / 108, I).
Artigo 5º, LIII, CF. Ninguém será processado nem sen-
tenciado senão pela autoridade competente”, consolida o Anterioridade e irretroatividade da lei
princípio do juiz natural que assegura a toda pessoa o direito O artigo 5º, XXXIX, CF preconiza:
de conhecer previamente daquele que a julgará no processo
em que seja parte, revestindo tal juízo em jurisdição com- Artigo5º, XXXIX, CF. Não há crime sem lei anterior que
petente para a matéria específica do caso antes mesmo do o defina, nem pena sem prévia cominação legal.
fato ocorrer.
É a consagração da regra do nullum crimen nulla poena
Por sua vez, um desdobramento deste princípio encon- sine praevia lege. Simultaneamente, se assegura o princípio
tra-se no artigo 5º, XXXVII, CF: da legalidade (ou reserva legal), na medida em que não há
crime sem lei que o defina, nem pena sem prévia comina-
ção legal, e o princípio da anterioridade, posto que não há
Artigo 5º, XXXVII, CF. Não haverá juízo ou tribunal de
crime sem lei anterior que o defina.
exceção.
Ainda no que tange ao princípio da anterioridade, tem-
-se o artigo 5º, XL, CF:
Juízo ou Tribunal de Exceção é aquele especialmente
criado para uma situação pretérita, bem como não reco-
Artigo 5º, XL, CF. A lei penal não retroagirá, salvo para
nhecido como legítimo pela Constituição do país.
beneficiar o réu.
Tribunal do júri
O dispositivo consolida outra faceta do princípio da
A respeito da competência do Tribunal do júri, prevê o
anterioridade: se, por um lado, é necessário que a lei tenha
artigo 5º, XXXVIII, CF: definido um fato como crime e dado certo tratamento pe-
nal a este fato (ex.: pena de detenção ou reclusão, tempo
Artigo 5º, XXXVIII. É reconhecida a instituição do júri, de pena, etc.) antes que ele ocorra; por outro lado, se vier
com a organização que lhe der a lei, assegurados: uma lei posterior ao fato que o exclua do rol de crimes ou
a) a plenitude de defesa; que confira tratamento mais benéfico (diminuindo a pena
b) o sigilo das votações; ou alterando o regime de cumprimento, notadamente), ela
c) a soberania dos veredictos; será aplicada. Restam consagrados tanto o princípio da ir-
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos retroatividade da lei penal in pejus quanto o da retroativi-
contra a vida. dade da lei penal mais benéfica.

O Tribunal do Júri é formado por pessoas do povo, que Menções específicas a crimes
julgam os seus pares. Entende-se ser direito fundamental o O artigo 5º, XLI, CF estabelece:
de ser julgado por seus iguais, membros da sociedade e não
magistrados, no caso de determinados crimes que por sua Artigo 5º, XLI, CF. A lei punirá qualquer discriminação
natureza possuem fortes fatores de influência emocional. atentatória dos direitos e liberdades fundamentais.
Plenitude da defesa envolve tanto a autodefesa quanto
a defesa técnica e deve ser mais ampla que a denominada Sendo assim confere fórmula genérica que remete ao
ampla defesa assegurada em todos os procedimentos judi- princípio da igualdade numa concepção ampla, razão pela
ciais e administrativos. qual práticas discriminatórias não podem ser aceitas. No
Sigilo das votações envolve a realização de votações entanto, o constituinte entendeu por bem prever trata-
secretas, preservando a liberdade de voto dos que com- mento específico a certas práticas criminosas.
põem o conselho que irá julgar o ato praticado. Neste sentido, prevê o artigo 5º, XLII, CF:

14
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Artigo 5º, XLII, CF. A prática do racismo constitui crime Artigo 5º, XLV, CF. Nenhuma pena passará da pessoa
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
nos termos da lei. decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, es-
tendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite
A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 define os crimes do valor do patrimônio transferido.
resultantes de preconceito de raça ou de cor. Contra eles
não cabe fiança (pagamento de valor para deixar a prisão O princípio da personalidade encerra o comando de o
provisória) e não se aplica o instituto da prescrição (perda crime ser imputado somente ao seu autor, que é, por seu
de pretensão de se processar/punir uma pessoa pelo de- turno, a única pessoa passível de sofrer a sanção. Seria fla-
curso do tempo). grante a injustiça se fosse possível alguém responder pelos
Não obstante, preconiza ao artigo 5º, XLIII, CF: atos ilícitos de outrem: caso contrário, a reação, ao invés de
restringir-se ao malfeitor, alcançaria inocentes. Contudo, se
Artigo 5º, XLIII, CF. A lei considerará crimes inafian- uma pessoa deixou patrimônio e faleceu, este patrimônio
çáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da responderá pelas repercussões financeiras do ilícito.
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles Individualização da pena
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo A individualização da pena tem por finalidade concre-
evitá-los, se omitirem. tizar o princípio de que a responsabilização penal é sempre
pessoal, devendo assim ser aplicada conforme as peculia-
Anistia, graça e indulto diferenciam-se nos seguintes ridades do agente.
termos: a anistia exclui o crime, rescinde a condenação e A primeira menção à individualização da pena se en-
extingue totalmente a punibilidade, a graça e o indulto contra no artigo 5º, XLVI, CF:
apenas extinguem a punibilidade, podendo ser parciais; a
anistia, em regra, atinge crimes políticos, a graça e o in- Artigo 5º, XLVI, CF. A lei regulará a individualização da
pena e adotará, entre outras, as seguintes:
dulto, crimes comuns; a anistia pode ser concedida pelo
a) privação ou restrição da liberdade;
Poder Legislativo, a graça e o indulto são de competência
b) perda de bens;
exclusiva do Presidente da República; a anistia pode ser
c) multa;
concedida antes da sentença final ou depois da condena-
d) prestação social alternativa;
ção irrecorrível, a graça e o indulto pressupõem o trânsito
e) suspensão ou interdição de direitos.
em julgado da sentença condenatória; graça e o indulto
apenas extinguem a punibilidade, persistindo os efeitos do
Pelo princípio da individualização da pena, a pena deve
crime, apagados na anistia; graça é em regra individual e
ser individualizada nos planos legislativo, judiciário e exe-
solicitada, enquanto o indulto é coletivo e espontâneo.
cutório, evitando-se a padronização a sanção penal. A in-
Não cabe graça, anistia ou indulto (pode-se considerar dividualização da pena significa adaptar a pena ao conde-
que o artigo o abrange, pela doutrina majoritária) contra nado, consideradas as características do agente e do delito.
crimes de tortura, tráfico, terrorismo (TTT) e hediondos A pena privativa de liberdade é aquela que restringe,
(previstos na Lei nº 8.072 de 25 de julho de 1990). Além com maior ou menor intensidade, a liberdade do condena-
disso, são crimes que não aceitam fiança. do, consistente em permanecer em algum estabelecimento
Ainda, prevê o artigo 5º, XLIV, CF: prisional, por um determinado tempo.
A pena de multa ou patrimonial opera uma diminuição
Artigo 5º, XLIV, CF. Constitui crime inafiançável e im- do patrimônio do indivíduo delituoso.
prescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, A prestação social alternativa corresponde às penas
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. restritivas de direitos, autônomas e substitutivas das penas
privativas de liberdade, estabelecidas no artigo 44 do Có-
Por fim, dispõe a CF sobre a possibilidade de extradi- digo Penal.
ção de brasileiro naturalizado caso esteja envolvido com Por seu turno, a individualização da pena deve também
tráfico ilícito de entorpecentes: se fazer presente na fase de sua execução, conforme se
depreende do artigo 5º, XLVIII, CF:
Artigo 5º, LI, CF. Nenhum brasileiro será extraditado,
salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado Artigo 5º, XLVIII, CF. A pena será cumprida em estabe-
antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento lecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito,
em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na for- a idade e o sexo do apenado.
ma da lei.
A distinção do estabelecimento conforme a natureza
Personalidade da pena do delito visa impedir que a prisão se torne uma faculdade
A personalidade da pena encontra respaldo no artigo do crime. Infelizmente, o Estado não possui aparato sufi-
5º, XLV, CF: ciente para cumprir tal diretiva, diferenciando, no máximo,

15
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

o nível de segurança das prisões. Quanto à idade, desta- trabalho deve se aproximar da realidade do mundo exter-
cam-se as Fundações Casas, para cumprimento de medida no, será remunerado; além disso, condições de dignidade e
por menores infratores. Quanto ao sexo, prisões costumam segurança do trabalhador, como descanso semanal e equi-
ser exclusivamente para homens ou para mulheres. pamentos de proteção, deverão ser respeitados.
Também se denota o respeito à individualização da
pena nesta faceta pelo artigo 5º, L, CF: Respeito à integridade do preso
Prevê o artigo 5º, XLIX, CF:
Artigo 5º, L, CF. Às presidiárias serão asseguradas con-
dições para que possam permanecer com seus filhos duran- Artigo 5º, XLIX, CF. É assegurado aos presos o respeito
te o período de amamentação. à integridade física e moral.

Preserva-se a individualização da pena porque é to- Obviamente, o desrespeito à integridade física e mo-
mada a condição peculiar da presa que possui filho no ral do preso é uma violação do princípio da dignidade da
período de amamentação, mas também se preserva a pessoa humana.
dignidade da criança, não a afastando do seio materno Dois tipos de tratamentos que violam esta integridade
de maneira precária e impedindo a formação de vínculo estão mencionados no próprio artigo 5º da Constituição
pela amamentação. Federal. Em primeiro lugar, tem-se a vedação da tortura
e de tratamentos desumanos e degradantes (artigo 5º, III,
Vedação de determinadas penas CF), o que vale na execução da pena.
O constituinte viu por bem proibir algumas espécies de No mais, prevê o artigo 5º, LVIII, CF:
penas, consoante ao artigo 5º, XLVII, CF:
Artigo 5º, LVIII, CF. O civilmente identificado não será
Artigo 5º, XLVII, CF. não haverá penas: submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos previstas em lei.
termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
Se uma pessoa possui identificação civil, não há por-
c) de trabalhos forçados;
que fazer identificação criminal, colhendo digitais, fotos,
d) de banimento;
etc. Pensa-se que seria uma situação constrangedora
e) cruéis.
desnecessária ao suspeito, sendo assim, violaria a inte-
gridade moral.
Em resumo, o inciso consolida o princípio da humani-
dade, pelo qual o “poder punitivo estatal não pode aplicar
Devido processo legal, contraditório e ampla defesa
sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que
Estabelece o artigo 5º, LIV, CF:
lesionem a constituição físico-psíquica dos condenados”20 .
Quanto à questão da pena de morte, percebe-se que o
constituinte não estabeleceu uma total vedação, autorizan- Artigo 5º, LIV, CF. Ninguém será privado da liberdade ou
do-a nos casos de guerra declarada. Obviamente, deve-se de seus bens sem o devido processo legal.
respeitar o princípio da anterioridade da lei, ou seja, a le-
gislação deve prever a pena de morte ao fato antes dele ser Pelo princípio do devido processo legal a legislação
praticado. No ordenamento brasileiro, este papel é cumpri- deve ser respeitada quando o Estado pretender punir al-
do pelo Código Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.001/1969), guém judicialmente. Logo, o procedimento deve ser livre
que prevê a pena de morte a ser executada por fuzilamento de vícios e seguir estritamente a legislação vigente, sob
nos casos tipificados em seu Livro II, que aborda os crimes pena de nulidade processual.
militares em tempo de guerra. Surgem como corolário do devido processo legal o
Por sua vez, estão absolutamente vedadas em quais- contraditório e a ampla defesa, pois somente um procedi-
quer circunstâncias as penas de caráter perpétuo, de traba- mento que os garanta estará livre dos vícios. Neste sentido,
lhos forçados, de banimento e cruéis. o artigo 5º, LV, CF:
No que tange aos trabalhos forçados, vale destacar
que o trabalho obrigatório não é considerado um trata- Artigo 5º, LV, CF. Aos litigantes, em processo judicial ou
mento contrário à dignidade do recluso, embora o trabalho administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
forçado o seja. O trabalho é obrigatório, dentro das condi- contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
ções do apenado, não podendo ser cruel ou menosprezar ela inerentes.
a capacidade física e intelectual do condenado; como o
trabalho não existe independente da educação, cabe in- O devido processo legal possui a faceta formal, pela
centivar o aperfeiçoamento pessoal; até mesmo porque o qual se deve seguir o adequado procedimento na aplica-
20 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito ção da lei e, sendo assim, respeitar o contraditório e a am-
penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. pla defesa. Não obstante, o devido processo legal tem sua

16
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

faceta material que consiste na tomada de decisões justas, Logo, a prisão somente se dará em caso de flagrante
que respeitem os parâmetros da razoabilidade e da pro- delito (necessariamente antes do trânsito em julgado), ou
porcionalidade. em caráter temporário, provisório ou definitivo (as duas
primeiras independente do trânsito em julgado, preen-
Vedação de provas ilícitas chidos requisitos legais e a última pela irreversibilidade da
Conforme o artigo 5º, LVI, CF: condenação).
Aborda-se no artigo 5º, LXII o dever de comunicação
Artigo 5º, LVI, CF. São inadmissíveis, no processo, as pro- ao juiz e à família ou pessoa indicada pelo preso:
vas obtidas por meios ilícitos.
Artigo 5º, LXII, CF. A prisão de qualquer pessoa e o local
Provas ilícitas, por força da nova redação dada ao arti- onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
go 157 do CPP, são as obtidas em violação a normas cons- competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.
titucionais ou legai, ou seja, prova ilícita é a que viola regra
de direito material, constitucional ou legal, no momento Não obstante, o preso deverá ser informado de todos
da sua obtenção. São vedadas porque não se pode aceitar os seus direitos, inclusive o direito ao silêncio, podendo
o descumprimento do ordenamento para fazê-lo cumprir: entrar em contato com sua família e com um advogado,
seria paradoxal. conforme artigo 5º, LXIII, CF:

Presunção de inocência Artigo 5º, LXIII, CF. O preso será informado de seus di-
Prevê a Constituição no artigo 5º, LVII: reitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado.
Artigo 5º, LVII, CF. Ninguém será considerado culpado
até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Estabelece-se no artigo 5º, LXIV, CF:

Artigo 5º, LXIV, CF. O preso tem direito à identificação


Consolida-se o princípio da presunção de inocência,
dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório
pelo qual uma pessoa não é culpada até que, em definitivo,
policial.
o Judiciário assim decida, respeitados todos os princípios e
garantias constitucionais.
Por isso mesmo, o auto de prisão em flagrante e a ata
do depoimento do interrogatório são assinados pelas auto-
Ação penal privada subsidiária da pública
ridades envolvidas nas práticas destes atos procedimentais.
Nos termos do artigo 5º, LIX, CF:
Ainda, a legislação estabelece inúmeros requisitos para
que a prisão seja validada, sem os quais cabe relaxamento,
Artigo 5º, LIX, CF. Será admitida ação privada nos cri-
tanto que assim prevê o artigo 5º, LXV, CF:
mes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal.
Artigo 5º, LXV, CF. A prisão ilegal será imediatamente
A chamada ação penal privada subsidiária da pública relaxada pela autoridade judiciária.
encontra respaldo constitucional, assegurando que a omis-
são do poder público na atividade de persecução criminal Desta forma, como decorrência lógica, tem-se a previ-
não será ignorada, fornecendo-se instrumento para que o são do artigo 5º, LXVI, CF:
interessado a proponha.
Artigo 5º, LXVI, CF. Ninguém será levado à prisão ou
Prisão e liberdade nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória,
O constituinte confere espaço bastante extenso no ar- com ou sem fiança.
tigo 5º em relação ao tratamento da prisão, notadamente
por se tratar de ato que vai contra o direito à liberdade. Mesmo que a pessoa seja presa em flagrante, devido
Obviamente, a prisão não é vedada em todos os casos, ao princípio da presunção de inocência, entende-se que
porque práticas atentatórias a direitos fundamentais impli- ela não deve ser mantida presa quando não preencher os
cam na tipificação penal, autorizando a restrição da liber- requisitos legais para prisão preventiva ou temporária.
dade daquele que assim agiu.
No inciso LXI do artigo 5º, CF, prevê-se: Indenização por erro judiciário
A disciplina sobre direitos decorrentes do erro judiciá-
Artigo 5º, LXI, CF. Ninguém será preso senão em flagran- rio encontra-se no artigo 5º, LXXV, CF:
te delito ou por ordem escrita e fundamentada de autori-
dade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão Artigo 5º, LXXV, CF. O Estado indenizará o condenado
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei. por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do
tempo fixado na sentença.

17
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Trata-se do erro em que incorre um juiz na apreciação Regra geral, os tratados internacionais comuns ingres-
e julgamento de um processo criminal, resultando em con- sam com força de lei ordinária no ordenamento jurídico
denação de alguém inocente. Neste caso, o Estado inde- brasileiro porque somente existe previsão constitucional
nizará. Ele também indenizará uma pessoa que ficar presa quanto à possibilidade da equiparação às emendas consti-
além do tempo que foi condenada a cumprir. tucionais se o tratado abranger matéria de direitos huma-
nos. Antes da emenda alterou o quadro quanto aos trata-
4) Direitos fundamentais implícitos dos de direitos humanos, era o que acontecia, mas isso não
Nos termos do § 2º do artigo 5º da Constituição Federal: significa que tais direitos eram menos importantes devido
ao princípio da primazia e ao reconhecimento dos direitos
Artigo 5º, §2º, CF. Os direitos e garantias expressos nesta implícitos.
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e Por seu turno, com o advento da Emenda Constitucio-
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacio- nal nº 45/04 se introduziu o §3º ao artigo 5º da Consti-
nais em que a República Federativa do Brasil seja parte. tuição Federal, de modo que os tratados internacionais de
direitos humanos foram equiparados às emendas consti-
Daí se depreende que os direitos ou garantias podem tucionais, desde que houvesse a aprovação do tratado em
estar expressos ou implícitos no texto constitucional. Sen- cada Casa do Congresso Nacional e obtivesse a votação
do assim, o rol enumerado nos incisos do artigo 5º é ape- em dois turnos e com três quintos dos votos dos respecti-
nas exemplificativo, não taxativo. vos membros:

5) Tratados internacionais incorporados ao ordena- Art. 5º, § 3º, CF. Os tratados e convenções interna-
mento interno cionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em
Estabelece o artigo 5º, § 2º, CF que os direitos e garan- cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
tias podem decorrer, dentre outras fontes, dos “tratados quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalen-
internacionais em que a República Federativa do Brasil tes às emendas constitucionais. 
seja parte”.
Logo, a partir da alteração constitucional, os tratados
Para o tratado internacional ingressar no ordenamen-
de direitos humanos que ingressarem no ordenamento ju-
to jurídico brasileiro deve ser observado um procedimento
rídico brasileiro, versando sobre matéria de direitos huma-
complexo, que exige o cumprimento de quatro fases: a ne-
nos, irão passar por um processo de aprovação semelhante
gociação (bilateral ou multilateral, com posterior assinatura
ao da emenda constitucional.
do Presidente da República), submissão do tratado assina-
Contudo, há posicionamentos conflituosos quanto à
do ao Congresso Nacional (que dará referendo por meio
possibilidade de considerar como hierarquicamente cons-
do decreto legislativo), ratificação do tratado (confirmação
titucional os tratados internacionais de direitos humanos
da obrigação perante a comunidade internacional) e a pro-
que ingressaram no ordenamento jurídico brasileiro ante-
mulgação e publicação do tratado pelo Poder Executivo21. riormente ao advento da referida emenda. Tal discussão se
Notadamente, quando o constituinte menciona os tratados deu com relação à prisão civil do depositário infiel, prevista
internacionais no §2º do artigo 5º refere-se àqueles que como legal na Constituição e ilegal no Pacto de São José
tenham por fulcro ampliar o rol de direitos do artigo 5º, ou da Costa Rica (tratado de direitos humanos aprovado antes
seja, tratado internacional de direitos humanos. da EC nº 45/04), sendo que o Supremo Tribunal Federal
O §1° e o §2° do artigo 5° existiam de maneira originá- firmou o entendimento pela supralegalidade do tratado de
ria na Constituição Federal, conferindo o caráter de prima- direitos humanos anterior à Emenda (estaria numa posição
zia dos direitos humanos, desde logo consagrando o prin- que paralisaria a eficácia da lei infraconstitucional, mas não
cípio da primazia dos direitos humanos, como reconhecido revogaria a Constituição no ponto controverso).
pela doutrina e jurisprudência majoritários na época. “O
princípio da primazia dos direitos humanos nas relações 6) Tribunal Penal Internacional
internacionais implica em que o Brasil deve incorporar os Preconiza o artigo 5º, CF em seu § 4º:
tratados quanto ao tema ao ordenamento interno brasilei-
ro e respeitá-los. Implica, também em que as normas vol- Artigo 5º, §4º, CF. O Brasil se submete à jurisdição de
tadas à proteção da dignidade em caráter universal devem Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifes-
ser aplicadas no Brasil em caráter prioritário em relação a tado adesão.
outras normas”22.  
O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional foi
21 VICENTE SOBRINHO, Benedito. Direitos promulgado no Brasil pelo Decreto nº 4.388 de 25 de se-
Fundamentais e Prisão Civil. Porto Alegre: Sérgio An- tembro de 2002. Ele contém 128 artigos e foi elaborado em
tonio Fabris Editor, 2008. Roma, no dia 17 de julho de 1998, regendo a competência
22 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito e o funcionamento deste Tribunal voltado às pessoas res-
Internacional Público e Privado. Salvador: JusPodi- ponsáveis por crimes de maior gravidade com repercussão
vm, 2009. internacional (artigo 1º, ETPI).

18
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

“Ao contrário da Corte Internacional de Justiça, cuja ju- 1) Igualdade material e efetivação dos direitos sociais
risdição é restrita a Estados, ao Tribunal Penal Internacional Independentemente da categoria de direitos que este-
compete o processo e julgamento de violações contra indi- ja sendo abordada, a igualdade nunca deve aparecer num
víduos; e, distintamente dos Tribunais de crimes de guerra sentido meramente formal, mas necessariamente material.
da Iugoslávia e de Ruanda, criados para analisarem crimes Significa que discriminações indevidas são proibidas, mas
cometidos durante esses conflitos, sua jurisdição não está existem certas distinções que não só devem ser aceitas,
restrita a uma situação específica”23. como também se mostram essenciais.
Resume Mello24: “a Conferência das Nações Unidas so- No que tange aos direitos sociais percebe-se que a
bre a criação de uma Corte Criminal Internacional, reunida igualdade material assume grande relevância. Afinal, esta
em Roma, em 1998, aprovou a referida Corte. Ela é perma- categoria de direitos pressupõe uma postura ativa do Es-
nente. Tem sede em Haia. A corte tem personalidade inter- tado em prol da efetivação. Nem todos podem arcar com
nacional. Ela julga: a) crime de genocídio; b) crime contra suas despesas de saúde, educação, cultura, alimentação e
a humanidade; c) crime de guerra; d) crime de agressão. moradia, assim como nem todos se encontram na posição
Para o crime de genocídio usa a definição da convenção de explorador da mão-de-obra, sendo a grande maioria da
de 1948. Como crimes contra a humanidade são citados: população de explorados. Estas pessoas estão numa clara
assassinato, escravidão, prisão violando as normas inter- posição de desigualdade e caberá ao Estado cuidar para
nacionais, violação tortura, apartheid, escravidão sexual, que progressivamente atinjam uma posição de igualdade
prostituição forçada, esterilização, etc. São crimes de guer- real, já que não é por conta desta posição desfavorável que
ra: homicídio internacional, destruição de bens não justifi- se pode afirmar que são menos dignos, menos titulares de
cada pela guerra, deportação, forçar um prisioneiro a servir direitos fundamentais.
nas forças inimigas, etc.”. Logo, a efetivação dos direitos sociais é uma meta a ser
alcançada pelo Estado em prol da consolidação da igual-
Direitos sociais dade material. Sendo assim, o Estado buscará o crescente
A Constituição Federal, dentro do Título II, aborda no aperfeiçoamento da oferta de serviços públicos com quali-
capítulo II a categoria dos direitos sociais, em sua maioria
dade para que todos os nacionais tenham garantidos seus
normas programáticas e que necessitam de uma postura
direitos fundamentais de segunda dimensão da maneira
interventiva estatal em prol da implementação.
mais plena possível.
Os direitos assegurados nesta categoria encontram
Há se ressaltar também que o Estado não possui ape-
menção genérica no artigo 6º, CF:
nas um papel direto na promoção dos direitos econômicos,
sociais e culturais, mas também um indireto, quando por
Artigo 6º, CF. Art. 6º São direitos sociais a educação, a
meio de sua gestão permite que os indivíduos adquiram
saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transpor-
condições para sustentarem suas necessidades pertencen-
te, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
tes a esta categoria de direitos.
à maternidade e à infância, a assistência aos desampa-
rados, na forma desta Constituição. 
2) Reserva do possível e mínimo existencial
Trata-se de desdobramento da perspectiva do Estado Os direitos sociais serão concretizados gradualmente,
Social de Direito. Em suma, são elencados os direitos huma- notadamente porque estão previstos em normas progra-
nos de 2ª dimensão, notadamente conhecidos como direi- máticas e porque a implementação deles gera um ônus
tos econômicos, sociais e culturais. Em resumo, os direitos para o Estado. Diferentemente dos direitos individuais, que
sociais envolvem prestações positivas do Estado (diferente dependem de uma postura de abstenção estatal, os direi-
dos de liberdade, que referem-se à postura de abstenção tos sociais precisam que o Estado assuma um papel ativo
estatal), ou seja, políticas estatais que visem consolidar o em prol da efetivação destes.
princípio da igualdade não apenas formalmente, mas ma- A previsão excessiva de direitos sociais no bojo de uma
terialmente (tratando os desiguais de maneira desigual). Constituição, a despeito de um instante bem-intencionado
Por seu turno, embora no capítulo específico do Título de palavras promovido pelo constituinte, pode levar à ne-
II que aborda os direitos sociais não se perceba uma in- gativa, paradoxal – e, portanto, inadmissível – consequên-
tensa regulamentação destes, à exceção dos direitos tra- cia de uma Carta Magna cujas finalidades não condigam
balhistas, o Título VIII da Constituição Federal, que aborda com seus próprios prescritos, fato que deslegitima o Poder
a ordem social, se concentra em trazer normativas mais Público como determinador de que particulares respeitem
detalhadas a respeitos de direitos indicados como sociais. os direitos fundamentais, já que sequer eles próprios, os
administradores, conseguem cumprir o que consta de seu
23 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito Internacional Estatuto Máximo25.
Público & Direito Internacional Privado. 3. ed. São Paulo: 25 LAZARI, Rafael José Nadim de. Reserva do possí-
Atlas, 2009. vel e mínimo existencial: a pretensão de eficácia da norma
24 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito constitucional em face da realidade. Curitiba: Juruá, 2012, p.
Internacional Público. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. 56-57.

19
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Tecnicamente, nos direitos sociais é possível invocar 4) Direito individual do trabalho


a cláusula da reserva do possível como argumento para a O artigo 7º da Constituição enumera os direitos indi-
não implementação de determinado direito social – seja viduais dos trabalhadores urbanos e rurais. São os direitos
pela absoluta ausência de recursos (reserva do possível fá- individuais tipicamente trabalhistas, mas que não excluem
tica), seja pela ausência de previsão orçamentária nos ter- os demais direitos fundamentais (ex.: honra é um direito
mos do artigo 167, CF (reserva do possível jurídica). no espaço de trabalho, sob pena de se incidir em prática
O Ministro Celso de Mello afirmou em julgamento que de assédio moral).
os direitos sociais “não pode converter-se em promessa
constitucional inconsequente, sob pena de o Poder Públi- Artigo 7º, I, CF. Relação de emprego protegida contra
co, fraudando justas expectativas nele depositadas pela co- despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de
letividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento lei complementar, que preverá indenização compensatória,
de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de dentre outros direitos.
infidelidade governamental ao que determina a própria Lei
Fundamental do Estado”26.
Significa que a demissão, se não for motivada por justa
Sendo assim, a invocação da cláusula da reserva do
causa, assegura ao trabalhador direitos como indenização
possível, embora viável, não pode servir de muleta para
compensatória, entre outros, a serem arcados pelo empre-
que o Estado não arque com obrigações básicas. Neste
viés, geralmente, quando invocada a cláusula é afastada, gador.
entendendo o Poder Judiciário que não cabe ao Estado se
eximir de garantir direitos sociais com o simples argumen- Artigo 7º, II, CF. Seguro-desemprego, em caso de de-
to de que não há orçamento específico para isso – ele de- semprego involuntário.
veria ter reservado parcela suficiente de suas finanças para
atender esta demanda. Sem prejuízo de eventual indenização a ser recebida
Com efeito, deve ser preservado o mínimo existencial, do empregador, o trabalhador que fique involuntariamente
que tem por fulcro limitar a discricionariedade político-ad- desempregado – entendendo-se por desemprego invo-
ministrativa e estabelecer diretrizes orçamentárias básicas luntário o que tenha origem num acordo de cessação do
a serem seguidas, sob pena de caber a intervenção do Po- contrato de trabalho – tem direito ao seguro-desemprego,
der Judiciário em prol de sua efetivação. a ser arcado pela previdência social, que tem o caráter de
assistência financeira temporária.
3) Princípio da proibição do retrocesso
Proibição do retrocesso é a impossibilidade de que Artigo 7º, III, CF. Fundo de garantia do tempo de ser-
uma conquista garantida na Constituição Federal sofra um viço.
retrocesso, de modo que um direito social garantido não
pode deixar de o ser. Foi criado em 1967 pelo Governo Federal para pro-
Conforme jurisprudência, a proibição do retrocesso teger o trabalhador demitido sem justa causa. O FGTS é
deve ser tomada com reservas, até mesmo porque segun- constituído de contas vinculadas, abertas em nome de
do entendimento predominante as normas do artigo 7º, cada trabalhador, quando o empregador efetua o primei-
CF não são cláusula pétrea, sendo assim passíveis de alte- ro depósito. O saldo da conta vinculada é formado pelos
ração. Se for alterada normativa sobre direito trabalhista depósitos mensais efetivados pelo empregador, equivalen-
assegurado no referido dispositivo, não sendo o prejuízo tes a 8,0% do salário pago ao empregado, acrescido de
evidente, entende-se válida (por exemplo, houve alteração atualização monetária e juros. Com o FGTS, o trabalhador
do prazo prescricional diferenciado para os trabalhadores
tem a oportunidade de formar um patrimônio, que pode
agrícolas). O que, em hipótese alguma, pode ser aceito é
ser sacado em momentos especiais, como o da aquisição
um retrocesso evidente, seja excluindo uma categoria de
da casa própria ou da aposentadoria e em situações de
direitos (ex.: abolir o Sistema Único de Saúde), seja dimi-
dificuldades, que podem ocorrer com a demissão sem justa
nuindo sensivelmente a abrangência da proteção (ex.: ex-
cluindo o ensino médio gratuito). causa ou em caso de algumas doenças graves.
Questão polêmica se refere à proibição do retrocesso:
se uma decisão judicial melhorar a efetivação de um direito Artigo 7º, IV, CF. Salário mínimo, fixado em lei, nacio-
social, ela se torna vinculante e é impossível ao legislador nalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades
alterar a Constituição para retirar este avanço? Por um lado, vitais básicas e às de sua família com moradia, alimenta-
a proibição do retrocesso merece ser tomada em conceito ção, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, trans-
amplo, abrangendo inclusive decisões judiciais; por outro porte e previdência social, com reajustes periódicos que
lado, a decisão judicial não tem por fulcro alterar a norma, lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vincula-
o que somente é feito pelo legislador, e ele teria o direito ção para qualquer fim.
de prever que aquela decisão judicial não está incorporada T
na proibição do retrocesso. A questão é polêmica e não há rata-se de uma visível norma programática da Cons-
entendimento dominante. tituição que tem por pretensão um salário mínimo que
26 RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO. atenda a todas as necessidades básicas de uma pessoa e

20
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

de sua família. Em pesquisa que tomou por parâmetro o atividades rurais, é considerado noturno o trabalho execu-
preceito constitucional, detectou-se que “o salário mínimo tado na lavoura entre 21:00 horas de um dia às 5:00 horas
do trabalhador brasileiro deveria ter sido de R$ 2.892,47 do dia seguinte; e na pecuária, entre 20:00 horas às 4:00
em abril para que ele suprisse suas necessidades básicas e horas do dia seguinte.
da família, segundo estudo divulgado nesta terça-feira, 07,
pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Artigo 7º, X, CF. Proteção do salário na forma da lei,
Socioeconômicos (Dieese)”27. constituindo crime sua retenção dolosa.

Artigo 7º, V, CF. Piso salarial proporcional à extensão e Quanto ao possível crime de retenção de salário, não
à complexidade do trabalho. há no Código Penal brasileiro uma norma que determina a
ação de retenção de salário como crime. Apesar do artigo
Cada trabalhador, dentro de sua categoria de empre- 7º, X, CF dizer que é crime a retenção dolosa de salário,
go, seja ele professor, comerciário, metalúrgico, bancário, o dispositivo é norma de eficácia limitada, pois depende
construtor civil, enfermeiro, recebe um salário base, cha- de lei ordinária, ainda mais porque qualquer norma penal
mado de Piso Salarial, que é sua garantia de recebimento incriminadora é regida pela legalidade estrita (artigo 5º,
dentro de seu grau profissional. O Valor do Piso Salarial é XXXIX, CF).
estabelecido em conformidade com a data base da cate-
goria, por isso ele é definido em conformidade com um Artigo 7º, XI, CF. Participação nos lucros, ou resulta-
acordo, ou ainda com um entendimento entre patrão e dos, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, par-
trabalhador. ticipação na gestão da empresa, conforme definido em lei.

Artigo 7º, VI, CF. Irredutibilidade do salário, salvo o A Participação nos Lucros e Resultado (PLR), que é
disposto em convenção ou acordo coletivo. conhecida também por Programa de Participação nos Re-
sultados (PPR), está prevista na Consolidação das Leis do
O salário não pode ser reduzido, a não ser que anão Trabalho (CLT) desde a Lei nº 10.101, de 19 de dezembro
redução implique num prejuízo maior, por exemplo, de- de 2000. Ela funciona como um bônus, que é ofertado pelo
missão em massa durante uma crise, situações que devem empregador e negociado com uma comissão de trabalha-
ser negociadas em convenção ou acordo coletivo. dores da empresa. A CLT não obriga o empregador a forne-
cer o benefício, mas propõe que ele seja utilizado.
Artigo 7º, VII, CF. Garantia de salário, nunca inferior
ao mínimo, para os que percebem remuneração variável. Artigo 7º, XII, CF. Salário-família pago em razão do
dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei.
O salário mínimo é direito de todos os trabalhadores,
mesmo daqueles que recebem remuneração variável (ex.: Salário-família é o benefício pago na proporção do
baseada em comissões por venda e metas); respectivo número de filhos ou equiparados de qualquer
condição até a idade de quatorze anos ou inválido de qual-
Artigo 7º, VIII, CF. Décimo terceiro salário com base na quer idade, independente de carência e desde que o salá-
remuneração integral ou no valor da aposentadoria. rio-de-contribuição seja inferior ou igual ao limite máximo
permitido. De acordo com a Portaria Interministerial MPS/
Também conhecido como gratificação natalina, foi ins- MF nº 19, de 10/01/2014, valor do salário-família será de
tituída no Brasil pela Lei nº 4.090/1962 e garante que o tra- R$ 35,00, por filho de até 14 anos incompletos ou inválido,
balhador receba o correspondente a 1/12 (um doze avos) para quem ganhar até R$ 682,50. Já para o trabalhador que
da remuneração por mês trabalhado, ou seja, consiste no receber de R$ 682,51 até R$ 1.025,81, o valor do salário-
pagamento de um salário extra ao trabalhador e ao apo- -família por filho de até 14 anos de idade ou inválido de
sentado no final de cada ano. qualquer idade será de R$ 24,66.

Artigo 7º, IX, CF. Remuneração do trabalho noturno Artigo 7º, XIII, CF. duração do trabalho normal não su-
superior à do diurno. perior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais,
facultada a compensação de horários e a redução da jorna-
O adicional noturno é devido para o trabalho exercido da, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho.
durante a noite, de modo que cada hora noturna sofre a re-
dução de 7 minutos e 30 segundos, ou ainda, é feito acrés- Artigo 7º, XVI, CF. Remuneração do serviço extraordiná-
cimo de 12,5% sobre o valor da hora diurna. Considera-se rio superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal.
noturno, nas atividades urbanas, o trabalho realizado entre
as 22:00 horas de um dia às 5:00 horas do dia seguinte; nas A legislação trabalhista vigente estabelece que a du-
27 http://exame.abril.com.br/economia/noticias/salario- ração normal do trabalho, salvo os casos especiais, é de
-minimo-deveria-ter-sido-de-r-2-892-47-em-abril 8 (oito) horas diárias e 44 (quarenta e quatro) semanais,

21
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

no máximo. Todavia, poderá a jornada diária de trabalho O salário da trabalhadora em licença é chamado de
dos empregados maiores ser acrescida de horas suple- salário-maternidade, é pago pelo empregador e por ele
mentares, em número não excedentes a duas, no máximo, descontado dos recolhimentos habituais devidos à Previ-
para efeito de serviço extraordinário, mediante acordo in- dência Social. A trabalhadora pode sair de licença a partir
dividual, acordo coletivo, convenção coletiva ou sentença do último mês de gestação, sendo que o período de licen-
normativa. Excepcionalmente, ocorrendo necessidade im- ça é de 120 dias. A Constituição também garante que, do
periosa, poderá ser prorrogada além do limite legalmente momento em que se confirma a gravidez até cinco meses
permitido. A remuneração do serviço extraordinário, des- após o parto, a mulher não pode ser demitida.
de a promulgação da Constituição Federal, deverá cons-
tar, obrigatoriamente, do acordo, convenção ou sentença Artigo 7º, XIX, CF. Licença-paternidade, nos termos fi-
normativa, e será, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) xados em lei.
superior à da hora normal.
O homem tem direito a 5 dias de licença-paternidade
Artigo 7º, XIV, CF. Jornada de seis horas para o traba- para estar mais próximo do bebê recém-nascido e ajudar a
lho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, mãe nos processos pós-operatórios.
salvo negociação coletiva.
Artigo 7º, XX, CF. Proteção do mercado de trabalho da
O constituinte ao estabelecer jornada máxima de 6 ho- mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei.
ras para os turnos ininterruptos de revezamento, expres-
samente ressalvando a hipótese de negociação coletiva, Embora as mulheres sejam maioria na população de
objetivou prestigiar a atuação da entidade sindical. Entre- 10 anos ou mais de idade, elas são minoria na população
tanto, a jurisprudência evoluiu para uma interpretação res- ocupada, mas estão em maioria entre os desocupados.
tritiva de seu teor, tendo como parâmetro o fato de que Acrescenta-se ainda, que elas são maioria também na po-
o trabalho em turnos ininterruptos é por demais desgas- pulação não economicamente ativa. Além disso, ainda há
relevante diferença salarial entre homens e mulheres, sen-
tante, penoso, além de trazer malefícios de ordem fisio-
do que os homens recebem mais porque os empregadores
lógica para o trabalhador, inclusive distúrbios no âmbito
entendem que eles necessitam de um salário maior para
psicossocial já que dificulta o convívio em sociedade e com
manter a família. Tais disparidades colocam em evidência
a própria família.
que o mercado de trabalho da mulher deve ser protegido
de forma especial.
Artigo 7º, XV, CF. Repouso semanal remunerado, pre-
ferencialmente aos domingos.
Artigo 7º, XXI, CF. Aviso prévio proporcional ao tempo
de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei.
O Descanso Semanal Remunerado é de 24 (vinte e
quatro) horas consecutivas, devendo ser concedido prefe- Nas relações de emprego, quando uma das partes de-
rencialmente aos domingos, sendo garantido a todo traba- seja rescindir, sem justa causa, o contrato de trabalho por
lhador urbano, rural ou doméstico. Havendo necessidade prazo indeterminado, deverá, antecipadamente, notificar à
de trabalho aos domingos, desde que previamente auto- outra parte, através do aviso prévio. O aviso prévio tem
rizados pelo Ministério do Trabalho, aos trabalhadores é por finalidade evitar a surpresa na ruptura do contrato de
assegurado pelo menos um dia de repouso semanal re- trabalho, possibilitando ao empregador o preenchimento
munerado coincidente com um domingo a cada período, do cargo vago e ao empregado uma nova colocação no
dependendo da atividade (artigo 67, CLT). mercado de trabalho, sendo que o aviso prévio pode ser
trabalhado ou indenizado.
Artigo 7º, XVII, CF. Gozo de férias anuais remuneradas
com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal. Artigo 7º, XXII, CF. Redução dos riscos inerentes ao tra-
balho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança.
O salário das férias deve ser superior em pelo menos
um terço ao valor da remuneração normal, com todos os Trata-se ao direito do trabalhador a um meio ambiente
adicionais e benefícios aos quais o trabalhador tem direi- do trabalho salubre. Fiorillo28 destaca que o equilíbrio do
to. A cada doze meses de trabalho – denominado período meio ambiente do trabalho está sedimentado na salubri-
aquisitivo – o empregado terá direito a trinta dias corridos dade e na ausência de agentes que possam comprometer
de férias, se não tiver faltado injustificadamente mais de a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores.
cinco vezes ao serviço (caso isso ocorra, os dias das férias
serão diminuídos de acordo com o número de faltas). Artigo 7º, XXIII, CF. Adicional de remuneração para as ati-
vidades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei.
Artigo 7º, XVIII, CF. Licença à gestante, sem prejuízo do 28 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direi-
emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias. to Ambiental brasileiro. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p.
21.

22
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Penoso é o trabalho acerbo, árduo, amargo, difícil, mo- registradas não tem obrigação de conceder o benefício. É
lesto, trabalhoso, incômodo, laborioso, doloroso, rude, que facultativo (ela pode oferecer ou não). Existe a possibilida-
não é perigoso ou insalubre, mas penosa, exigindo atenção de de o benefício ser estendido até os 6 anos de idade e
e vigilância acima do comum. Ainda não há na legislação incluir o trabalhador homem. A duração do auxílio-creche
específica previsão sobre o adicional de penosidade. e o valor envolvido variarão conforme negociação coletiva
São consideradas atividades ou operações insalubres na empresa.
as que se desenvolvem excesso de limites de tolerância
para: ruído contínuo ou intermitente, ruídos de impacto, Artigo 7º, XXVI, CF. Reconhecimento das convenções e
exposição ao calor e ao frio, radiações, certos agentes quí- acordos coletivos de trabalho.
micos e biológicos, vibrações, umidade, etc. O exercício de
trabalho em condições de insalubridade assegura ao traba- Neste dispositivo se funda o direito coletivo do tra-
lhador a percepção de adicional, incidente sobre o salário balho, que encontra regulamentação constitucional nos
base do empregado (súmula 228 do TST), ou previsão mais artigo 8º a 11 da Constituição. Pelas convenções e acor-
benéfica em Convenção Coletiva de Trabalho, equivalen- dos coletivos, entidades representativas da categoria dos
te a 40% (quarenta por cento), para insalubridade de grau trabalhadores entram em negociação com as empresas na
máximo; 20% (vinte por cento), para insalubridade de grau defesa dos interesses da classe, assegurando o respeito aos
médio; 10% (dez por cento), para insalubridade de grau direitos sociais;
mínimo.
O adicional de periculosidade é um valor devido ao Artigo 7º, XXVII, CF. Proteção em face da automação,
empregado exposto a atividades perigosas. São conside- na forma da lei.
radas atividades ou operações perigosas, aquelas que, por
sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco Trata-se da proteção da substituição da máquina pelo
acentuado em virtude de exposição permanente do tra- homem, que pode ser feita, notadamente, qualificando o
balhador a inflamáveis, explosivos ou energia elétrica; e a profissional para exercer trabalhos que não possam ser de-
roubos ou outras espécies de violência física nas atividades
sempenhados por uma máquina (ex.: se criada uma má-
profissionais de segurança pessoal ou patrimonial. O valor
quina que substitui o trabalhador, deve ser ele qualificado
do adicional de periculosidade será o salário do empre-
para que possa operá-la).
gado acrescido de 30%, sem os acréscimos resultantes de
gratificações, prêmios ou participações nos lucros da em-
Artigo 7º, XXVIII, CF. Seguro contra acidentes de tra-
presa.
balho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização
O Tribunal Superior do Trabalho ainda não tem enten-
a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.
dimento unânime sobre a possibilidade de cumulação des-
tes adicionais.
Atualmente, é a Lei nº 8.213/91 a responsável por tra-
tar do assunto e em seus artigos 19, 20 e 21 apresenta a
Artigo 7º, XXIV, CF. Aposentadoria.
definição de doenças e acidentes do trabalho. Não se trata
A aposentadoria é um benefício garantido a todo tra- de legislação específica sobre o tema, mas sim de uma nor-
balhador brasileiro que pode ser usufruído por aquele que ma que dispõe sobre as modalidades de benefícios da pre-
tenha contribuído ao Instituto Nacional de Seguridade So- vidência social. Referida Lei, em seu artigo 19 da preceitua
cial (INSS) pelos prazos estipulados nas regras da Previ- que acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do
dência Social e tenha atingido as idades mínimas previstas. trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do traba-
Aliás, o direito à previdência social é considerado um direi- lho, provocando lesão corporal ou perturbação funcional
to social no próprio artigo 6º, CF. que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou
temporária, da capacidade para o trabalho.
Artigo 7º, XXV, CF. Assistência gratuita aos filhos e Seguro de Acidente de Trabalho (SAT) é uma contri-
dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de ida- buição com natureza de tributo que as empresas pagam
de em creches e pré-escolas. para custear benefícios do INSS oriundos de acidente de
trabalho ou doença ocupacional, cobrindo a aposentadoria
Todo estabelecimento com mais de 30 funcionárias especial. A alíquota normal é de um, dois ou três por cen-
com mais de 16 anos tem a obrigação de oferecer um es- to sobre a remuneração do empregado, mas as empresas
paço físico para que as mães deixem o filho de 0 a 6 meses, que expõem os trabalhadores a agentes nocivos químicos,
enquanto elas trabalham. Caso não ofereçam esse espaço físicos e biológicos precisam pagar adicionais diferencia-
aos bebês, a empresa é obrigada a dar auxílio-creche a mu- dos. Assim, quanto maior o risco, maior é a alíquota, mas
lher para que ela pague uma creche para o bebê de até 6 atualmente o Ministério da Previdência Social pode alterar
meses. O valor desse auxílio será determinado conforme a alíquota se a empresa investir na segurança do trabalho.
negociação coletiva na empresa (acordo da categoria ou Neste sentido, nada impede que a empresa seja res-
convenção). A empresa que tiver menos de 30 funcionárias ponsabilizada pelos acidentes de trabalho, indenizando

23
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

o trabalhador. Na atualidade entende-se que a possibi- Trata-se de norma protetiva do adolescente, estabele-
lidade de cumulação do benefício previdenciário, assim cendo-se uma idade mínima para trabalho e proibindo-se
compreendido como prestação garantida pelo Estado ao o trabalho em condições desfavoráveis.
trabalhador acidentado (responsabilidade objetiva) com
a indenização devida pelo empregador em caso de culpa Artigo 7º, XXXIV, CF. Igualdade de direitos entre o tra-
(responsabilidade subjetiva), é pacífica, estando ampla- balhador com vínculo empregatício permanente e o tra-
mente difundida na jurisprudência do Tribunal Superior do balhador avulso.
Trabalho;
Avulso é o trabalhador que presta serviço a várias em-
Artigo 7º, XXIX, CF. Ação, quanto aos créditos resultantes presas, mas é contratado por sindicatos e órgãos gestores
das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco de mão-de-obra, possuindo os mesmos direitos que um
anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de trabalhador com vínculo empregatício permanente.
dois anos após a extinção do contrato de trabalho. A Emenda Constitucional nº 72/2013, conhecida como
PEC das domésticas, deu nova redação ao parágrafo único
Prescrição é a perda da pretensão de buscar a tutela do artigo 7º:
jurisdicional para assegurar direitos violados. Sendo assim,
há um período de tempo que o empregado tem para re- Artigo 7º, parágrafo único, CF. São assegurados à cate-
querer seu direito na Justiça do Trabalho. A prescrição tra- goria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos
balhista é sempre de 2 (dois) anos a partir do término do nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI,
contrato de trabalho, atingindo as parcelas relativas aos 5 XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições
(cinco) anos anteriores, ou de 05 (cinco) anos durante a estabelecidas em lei e observada a simplificação do cum-
vigência do contrato de trabalho. primento das obrigações tributárias, principais e acessórias,
decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os
Artigo 7º, XXX, CF. Proibição de diferença de salários, previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como
a sua integração à previdência social. 
de exercício de funções e de critério de admissão por motivo
de sexo, idade, cor ou estado civil.
5) Direito coletivo do trabalho
Os artigos 8º a 11 trazem os direitos sociais coletivos
Há uma tendência de se remunerar melhor homens
dos trabalhadores, que são os exercidos pelos trabalha-
brancos na faixa dos 30 anos que sejam casados, sendo
dores, coletivamente ou no interesse de uma coletividade,
patente a diferença remuneratória para com pessoas de
quais sejam: associação profissional ou sindical, greve, subs-
diferente etnia, faixa etária ou sexo. Esta distinção atenta
tituição processual, participação e representação classista29.
contra o princípio da igualdade e não é aceita pelo consti-
A liberdade de associação profissional ou sindical tem
tuinte, sendo possível inclusive invocar a equiparação sala-
escopo no artigo 8º, CF:
rial judicialmente.
Art. 8º, CF. É livre a associação profissional ou sindi-
Artigo 7º, XXXI, CF. Proibição de qualquer discrimina- cal, observado o seguinte:
ção no tocante a salário e critérios de admissão do trabalha- I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para
dor portador de deficiência. a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão
competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a
A pessoa portadora de deficiência, dentro de suas li- intervenção na organização sindical;
mitações, possui condições de ingressar no mercado de II - é vedada a criação de mais de uma organização
trabalho e não pode ser preterida meramente por conta de sindical, em qualquer grau, representativa de categoria
sua deficiência. profissional ou econômica, na mesma base territorial, que
será definida pelos trabalhadores ou empregadores interes-
Artigo 7º, XXXII, CF. Proibição de distinção entre traba- sados, não podendo ser inferior à área de um Município;
lho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interes-
respectivos. ses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em
questões judiciais ou administrativas;
Os trabalhos manuais, técnicos e intelectuais são igual- IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em
mente relevantes e contribuem todos para a sociedade, se tratando de categoria profissional, será descontada em
não cabendo a desvalorização de um trabalho apenas por folha, para custeio do sistema confederativo da representa-
se enquadrar numa ou outra categoria. ção sindical respectiva, independentemente da contribuição
prevista em lei;
Artigo 7º, XXXIII, CF. proibição de trabalho noturno, V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se
perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qual- filiado a sindicato;
quer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na 29 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
condição de aprendiz, a partir de quatorze anos. esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

24
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas 1) Nacionalidade como direito humano fundamental
negociações coletivas de trabalho; Os direitos humanos internacionais são completamen-
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser vo- te contrários à ideia do apátrida – ou heimatlos –, que é o
tado nas organizações sindicais; indivíduo que não possui o vínculo da nacionalidade com
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicali- nenhum Estado. Logo, a nacionalidade é um direito da pes-
zado a partir do registro da candidatura a cargo de direção soa humana, o qual não pode ser privado de forma arbitrá-
ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, ria. Não há privação arbitrária quando respeitados os crité-
até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta rios legais previstos no texto constitucional no que tange à
grave nos termos da lei. perda da nacionalidade. Em outras palavras, o constituinte
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se brasileiro não admite a figura do apátrida.
à organização de sindicatos rurais e de colônias de pes- Contudo, é exatamente por ser um direito que a na-
cadores, atendidas as condições que a lei estabelecer. cionalidade não pode ser uma obrigação, garantindo-se à
pessoa o direito de deixar de ser nacional de um país e
O direito de greve, por seu turno, está previsto no ar- passar a sê-lo de outro, mudando de nacionalidade, por
tigo 9º, CF: um processo conhecido como naturalização.
Prevê a Declaração Universal dos Direitos Humanos em
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos seu artigo 15: “I) Todo homem tem direito a uma nacio-
trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e nalidade. II) Ninguém será arbitrariamente privado de sua
sobre os interesses que devam por meio dele defender. nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade”.
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais A Convenção Americana sobre Direitos Humanos apro-
e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis funda-se em meios para garantir que toda pessoa tenha
da comunidade. uma nacionalidade desde o seu nascimento ao adotar o cri-
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às tério do jus solis, explicitando que ao menos a pessoa terá a
penas da lei. nacionalidade do território onde nasceu, quando não tiver
direito a outra nacionalidade por previsões legais diversas.
A respeito, conferir a Lei nº 7.783/89, que dispõe sobre
“Nacionalidade é um direito fundamental da pessoa
o exercício do direito de greve, define as atividades essen-
humana. Todos a ela têm direito. A nacionalidade de um in-
ciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis
divíduo não pode ficar ao mero capricho de um governo, de
da comunidade, e dá outras providências. Enquanto não
um governante, de um poder despótico, de decisões unila-
for disciplinado o direito de greve dos servidores públicos,
terais, concebidas sem regras prévias, sem o contraditório,
esta é a legislação que se aplica, segundo o STF.
a defesa, que são princípios fundamentais de todo sistema
O direito de participação é previsto no artigo 10, CF:
jurídico que se pretenda democrático. A questão não pode
ser tratada com relativismos, uma vez que é muito séria”30.
Artigo 10, CF. É assegurada a participação dos traba-
lhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos pú- Não obstante, tem-se no âmbito constitucional e in-
blicos em que seus interesses profissionais ou previdenciá- ternacional a previsão do direito de asilo, consistente no
rios sejam objeto de discussão e deliberação. direito de buscar abrigo em outro país quando naquele do
qual for nacional estiver sofrendo alguma perseguição. Tal
Por fim, aborda-se o direito de representação classista perseguição não pode ter motivos legítimos, como a práti-
no artigo 11, CF: ca de crimes comuns ou de atos atentatórios aos princípios
das Nações Unidas, o que subverteria a própria finalidade
Artigo 11, CF. Nas empresas de mais de duzentos em- desta proteção. Em suma, o que se pretende com o direi-
pregados, é assegurada a eleição de um representante to de asilo é evitar a consolidação de ameaças a direitos
destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o enten- humanos de uma pessoa por parte daqueles que deve-
dimento direto com os empregadores. riam protegê-los – isto é, os governantes e os entes sociais
como um todo –, e não proteger pessoas que justamente
Nacionalidade cometeram tais violações.
O capítulo III do Título II aborda a nacionalidade, que
vem a ser corolário dos direitos políticos, já que somente 2) Naturalidade e naturalização
um nacional pode adquirir direitos políticos. O artigo 12 da Constituição Federal estabelece quem são
Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga os nacionais brasileiros, dividindo-os em duas categorias: na-
um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que tos e naturalizados. Percebe-se que naturalidade é diferente
ele passe a integrar o povo daquele Estado, desfrutando de nacionalidade – naturalidade é apenas o local de nasci-
assim de direitos e obrigações. mento, nacionalidade é um efetivo vínculo com o Estado.
Povo é o conjunto de nacionais. Por seu turno, povo 30 VALVERDE, Thiago Pellegrini. Comentários aos ar-
não é a mesma coisa que população. População é o con- tigos XV e XVI. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários
junto de pessoas residentes no país – inclui o povo, os es- à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília:
trangeiros residentes no país e os apátridas. Fortium, 2008, p. 87-88.

25
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Uma pessoa pode ser considerada nacional brasileira b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, resi-
tanto por ter nascido no território brasileiro quanto por dentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze
voluntariamente se naturalizar como brasileiro, como se anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que
percebe no teor do artigo 12, CF. O estrangeiro, num con- requeiram a nacionalidade brasileira.
ceito tomado à base de exclusão, é todo aquele que não é
nacional brasileiro. A naturalização deve ser voluntária e expressa.
O Estatuto do Estrangeiro, Lei nº 6.815/1980, rege a
a) Brasileiros natos questão da naturalização em mais detalhes, prevendo no
Art. 12, CF. São brasileiros: artigo 112:
I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, Art. 112, Lei nº 6.815/1980. São condições para a con-
ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam cessão da naturalização:
a serviço de seu país; I - capacidade civil, segundo a lei brasileira;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou II - ser registrado como permanente no Brasil;
mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço III - residência contínua no território nacional, pelo
da República Federativa do Brasil; prazo mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de ao pedido de naturalização;
mãe brasileira, desde que sejam registrados em reparti- IV - ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as
ção brasileira competente ou venham a residir na Repú- condições do naturalizando;
blica Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, V - exercício de profissão ou posse de bens suficientes à
depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade bra- manutenção própria e da família;
sileira. VI - bom procedimento;
VII - inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação
Tradicionalmente, são possíveis dois critérios para a no Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja comi-
nada pena mínima de prisão, abstratamente considerada,
atribuição da nacionalidade primária – nacional nato –,
superior a 1 (um) ano; e
notadamente: ius soli, direito de solo, o nacional nascido
VIII - boa saúde.
em território do país independentemente da nacionalidade
dos pais; e ius sanguinis, direito de sangue, que não depen-
Destaque vai para o requisito da residência contínua.
de do local de nascimento mas sim da descendência de um
Em regra, o estrangeiro precisa residir no país por 4 anos
nacional do país (critério comum em países que tiveram
contínuos, conforme o inciso III do referido artigo 112. No
êxodo de imigrantes).
entanto, por previsão constitucional do artigo 12, II, “a”, se
O brasileiro nato, primeiramente, é aquele que nasce
o estrangeiro foi originário de país com língua portuguesa
no território brasileiro – critério do ius soli, ainda que fi-
o prazo de residência contínua é reduzido para 1 ano. Daí
lho de pais estrangeiros, desde que não sejam estrangeiros se afirmar que o constituinte estabeleceu a naturalização
que estejam a serviço de seu país ou de organismo inter- ordinária no artigo 12, II, “b” e a naturalização extraordiná-
nacional (o que geraria um conflito de normas). Contudo, ria no artigo 12, II, “a”.
também é possível ser brasileiro nato ainda que não se te- Outra diferença sensível é que à naturalização ordiná-
nha nascido no território brasileiro. ria se aplica o artigo 121 do Estatuto do Estrangeiro, se-
No entanto, a Constituição reconhece o brasileiro nato gundo o qual “a satisfação das condições previstas nesta
também pelo critério do ius sanguinis. Se qualquer dos pais Lei não assegura ao estrangeiro direito à naturalização”.
estiver a serviço do Brasil, é considerado brasileiro nato, Logo, na naturalização ordinária não há direito subjetivo à
mesmo que nasça em outro país. Se qualquer dos pais não naturalização, mesmo que preenchidos todos os requisitos.
estiverem a serviço do Brasil e a pessoa nascer no exte- Trata-se de ato discricionário do Ministério da Justiça. O
rior é exigido que o nascido do exterior venha ao território mesmo não vale para a naturalização extraordinária, quan-
brasileiro e aqui resida ou que tenha sido registrado em do há direito subjetivo, cabendo inclusive a busca do Poder
repartição competente, caso em que poderá, aos 18 anos, Judiciário para fazê-lo valer31.
manifestar-se sobre desejar permanecer com a nacionali-
dade brasileira ou não. c) Tratamento diferenciado
A regra é que todo nacional brasileiro, seja ele nato ou
b) Brasileiros naturalizados naturalizado, deverá receber o mesmo tratamento. Neste
sentido, o artigo 12, § 2º, CF:
Art. 12, CF. São brasileiros: [...]
II - naturalizados: Artigo 12, §2º, CF. A lei não poderá estabelecer distin-
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalida- ção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos ca-
de brasileira, exigidas aos originários de países de língua sos previstos nesta Constituição.
portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto 31 FARIA, Cássio Juvenal. Notas pessoais tomadas
e idoneidade moral; em teleconferência.

26
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Percebe-se que a Constituição simultaneamente esta- 4) Perda da nacionalidade


belece a não distinção e se reserva ao direito de estabele- Artigo 12, § 4º, CF. Será declarada a perda da nacio-
cer as hipóteses de distinção. nalidade do brasileiro que:
Algumas destas hipóteses de distinção já se encontram I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença ju-
enumeradas no parágrafo seguinte. dicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
Artigo 12, § 3º, CF. São privativos de brasileiro nato a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela
os cargos: lei estrangeira;
I - de Presidente e Vice-Presidente da República; b) de imposição de naturalização, pela norma estrangei-
II - de Presidente da Câmara dos Deputados; ra, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como con-
III - de Presidente do Senado Federal; dição para permanência em seu território ou para o exercício
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; de direitos civis.
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas; A respeito do inciso I do §4º do artigo 12, a Lei nº 818,
VII - de Ministro de Estado da Defesa. de 18 de setembro de 1949 regula a aquisição, a perda e
a reaquisição da nacionalidade, e a perda dos direitos po-
A lógica do dispositivo é a de que qualquer pessoa no líticos. No processo deve ser respeitado o contraditório e
exercício da presidência da República ou de cargo que pos- a iniciativa de propositura é do Procurador da República.
sa levar a esta posição provisoriamente deve ser natural do No que tange ao inciso II do parágrafo em estudo,
país (ausente o Presidente da República, seu vice-presiden- percebe-se a aceitação da figura do polipátrida. Na alínea
te desempenha o cargo; ausente este assume o Presiden- “a” aceita-se que a pessoa tenha nacionalidade brasileira
te da Câmara; também este ausente, em seguida, exerce e outra se ao seu nascimento tiver adquirido simultanea-
o cargo o Presidente do Senado; e, por fim, o Presidente mente a nacionalidade do Brasil e outro país; na alínea “b”
do Supremo pode assumir a presidência na ausência dos é reconhecida a mesma situação se a aquisição da nacio-
anteriores – e como o Presidente do Supremo é escolhido
nalidade do outro país for uma exigência para continuar
num critério de revezamento nenhum membro pode ser
lá permanecendo ou exercendo seus direitos civis, pois se
naturalizado); ou a de que o cargo ocupado possui forte
assim não o fosse o brasileiro seria forçado a optar por uma
impacto em termos de representação do país ou de segu-
nacionalidade e, provavelmente, se ver privado da naciona-
rança nacional.
lidade brasileira.
Outras exceções são: não aceitação, em regra, de brasi-
leiro naturalizado como membro do Conselho da Repúbli-
5) Deportação, expulsão e entrega
ca (artigos 89 e 90, CF); impossibilidade de ser proprietário
A deportação representa a devolução compulsória de
de empresa jornalística, de radiodifusão sonora e imagens,
um estrangeiro que tenha entrado ou esteja de forma ir-
salvo se já naturalizado há 10 anos (artigo 222, CF); possi-
bilidade de extradição do brasileiro naturalizado que tenha regular no território nacional, estando prevista na Lei nº
praticado crime comum antes da naturalização ou, depois 6.815/1980, em seus artigos 57 e 58. Neste caso, não hou-
dela, crime de tráfico de drogas (artigo 5º, LI, CF). ve prática de qualquer ato nocivo ao Brasil, havendo, pois,
mera irregularidade de visto.
3) Quase-nacionalidade: caso dos portugueses A expulsão é a retirada “à força” do território brasi-
Nos termos do artigo 12, § 1º, CF: leiro de um estrangeiro que tenha praticado atos tipifica-
dos no artigo 65 e seu parágrafo único, ambos da Lei nº
Artigo 12, §1º, CF. Aos portugueses com residência 6.815/1980:
permanente no País, se houver reciprocidade em favor de
brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao bra- Art. 65, Lei nº 6.815/1980. É passível de expulsão o es-
sileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição. trangeiro que, de qualquer forma, atentar contra a segurança
nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou mo-
É uma regra que só vale se os brasileiros receberem o ralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento
mesmo tratamento, questão regulamentada pelo Tratado o torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais.
de Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Fe- Parágrafo único. É passível, também, de expulsão o es-
derativa do Brasil e a República Portuguesa, assinado em trangeiro que:
22 de abril de 2000 (Decreto nº 3.927/2001). a) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou per-
As vantagens conferidas são: igualdade de direitos ci- manência no Brasil;
vis, não sendo considerado um estrangeiro; gozo de direi- b) havendo entrado no território nacional com infração
tos políticos se residir há 3 anos no país, autorizando-se à lei, dele não se retirar no prazo que lhe for determinado
o alistamento eleitoral. No caso de exercício dos direitos para fazê-lo, não sendo aconselhável a deportação;
políticos nestes moldes, os direitos desta natureza ficam c) entregar-se à vadiagem ou à mendicância; ou
suspensos no outro país, ou seja, não exerce simultanea- d) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei
mente direitos políticos nos dois países. para estrangeiro.

27
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

A entrega (ou surrender) consiste na submissão de um Direitos políticos


nacional a um tribunal internacional do qual o próprio país Como mencionado, a nacionalidade é corolário dos di-
faz parte. É o que ocorreria, por exemplo, se o Brasil en- reitos políticos, já que somente um nacional pode adquirir
tregasse um brasileiro para julgamento pelo Tribunal Penal direitos políticos. No entanto, nem todo nacional é titular
Internacional (competência reconhecida na própria Consti- de direitos políticos. Os nacionais que são titulares de direi-
tuição no artigo 5º, §4º). tos políticos são denominados cidadãos. Significa afirmar
que nem todo nacional brasileiro é um cidadão brasileiro,
6) Extradição mas somente aquele que for titular do direito de sufrágio
A extradição é ato diverso da deportação, da expulsão universal.
e da entrega. Extradição é um ato de cooperação interna-
cional que consiste na entrega de uma pessoa, acusada ou 1) Sufrágio universal
condenada por um ou mais crimes, ao país que a reclama. A primeira parte do artigo 14, CF, prevê que “a sobera-
O Brasil, sob hipótese alguma, extraditará brasileiros natos nia popular será exercida pelo sufrágio universal [...]”.
mas quanto aos naturalizados assim permite caso tenham Sufrágio universal é a soma de duas capacidades elei-
praticado crimes comuns (exceto crimes políticos e/ou de torais, a capacidade ativa – votar e exercer a democracia
opinião) antes da naturalização, ou, mesmo depois da na- direta – e a capacidade passiva – ser eleito como represen-
turalização, em caso de envolvimento com o tráfico ilícito tante no modelo da democracia indireta. Ou ainda, sufrá-
de entorpecentes (artigo 5º, LI e LII, CF). gio universal é o direito de todos cidadãos de votar e ser
Aplicam-se os seguintes princípios à extradição: votado. O voto, que é o ato pelo qual se exercita o sufrágio,
a) Princípio da Especialidade: Significa que o estrangei- deverá ser direto e secreto.
ro só pode ser julgado pelo Estado requerente pelo crime Para ter capacidade passiva é necessário ter a ativa,
objeto do pedido de extradição. O importante é que o ex- mas não apenas isso, há requisitos adicionais. Sendo assim,
traditado só seja submetido às penas relativas aos crimes nem toda pessoa que tem capacidade ativa tem também
que foram objeto do pedido de extradição. capacidade passiva, embora toda pessoa que tenha capa-
b) Princípio da Dupla Punibilidade: O fato praticado
cidade passiva tenha necessariamente a ativa.
deve ser punível no Estado requerente e no Brasil. Logo,
além do fato ser típico em ambos os países, deve ser puní-
2) Democracia direta e indireta
vel em ambos (se houve prescrição em algum dos países,
Art. 14, CF. A soberania popular será exercida pelo su-
p. ex., não pode ocorrer a extradição).
frágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual
c) Princípio da Retroatividade dos Tratados: O fato de
para todos, e, nos termos da lei, mediante:
um tratado de extradição entre dois países ter sido cele-
I - plebiscito;
brado após a ocorrência do crime não impede a extradição.
II - referendo;
d) Princípio da Comutação da Pena (Direitos Humanos):
III - iniciativa popular.
Se o crime for apenado por qualquer das penas vedadas
pelo artigo 5º, XLVII da CF, a extradição não será autoriza-
da, salvo se houver a comutação da pena, transformação A democracia brasileira adota a modalidade semidire-
para uma pena aceita no Brasil. ta, porque possibilita a participação popular direta no po-
der por intermédio de processos como o plebiscito, o refe-
7) Idioma e símbolos rendo e a iniciativa popular. Como são hipóteses restritas,
Art. 13, CF. A língua portuguesa é o idioma oficial da pode-se afirmar que a democracia indireta é predominan-
República Federativa do Brasil. temente adotada no Brasil, por meio do sufrágio univer-
§ 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a sal e do voto direto e secreto com igual valor para todos.
bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais. Quanto ao voto direto e secreto, trata-se do instrumento
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios po- para o exercício da capacidade ativa do sufrágio universal.
derão ter símbolos próprios. Por seu turno, o que diferencia o plebiscito do refe-
rendo é o momento da consulta à população: no plebis-
Idioma é a língua falada pela população, que confere cito, primeiro se consulta a população e depois se toma a
caráter diferenciado em relação à população do resto do decisão política; no referendo, primeiro se toma a decisão
mundo. Sendo assim, é manifestação social e cultural de política e depois se consulta a população. Embora os dois
uma nação. partam do Congresso Nacional, o plebiscito é convocado,
Os símbolos, por sua vez, representam a imagem da ao passo que o referendo é autorizado (art. 49, XV, CF), am-
nação e permitem o seu reconhecimento nacional e inter- bos por meio de decreto legislativo. O que os assemelha é
nacionalmente. que os dois são “formas de consulta ao povo para que de-
Por esta intrínseca relação com a nacionalidade, a pre- libere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza
visão é feito dentro do capítulo do texto constitucional que constitucional, legislativa ou administrativa”32.
aborda o tema. 32 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

28
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Na iniciativa popular confere-se à população o poder Artigo 14, § 4º, CF. São inelegíveis os inalistáveis e os
de apresentar projeto de lei à Câmara dos Deputados, analfabetos.
mediante assinatura de 1% do eleitorado nacional, distri-
buído por 5 Estados no mínimo, com não menos de 0,3% Dos incisos I a III denotam-se requisitos correlatos à
dos eleitores de cada um deles. Em complemento, prevê o nacionalidade e à titularidade de direitos políticos. Logo,
artigo 61, §2°, CF: para ser eleito é preciso ser cidadão.
O domicílio eleitoral é o local onde a pessoa se alista
Art. 61, § 2º, CF. A iniciativa popular pode ser exercida como eleitor e, em regra, é no município onde reside, mas
pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei pode não o ser caso analisados aspectos como o vínculo
subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacio- de afeto com o local (ex.: Presidente Dilma vota em Porto
nal, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não me- Alegre – RS, embora resida em Brasília – DF). Sendo assim,
nos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. para se candidatar a cargo no município, deve ter domicílio
eleitoral nele; para se candidatar a cargo no estado, deve
3) Obrigatoriedade do alistamento eleitoral e do voto ter domicílio eleitoral em um de seus municípios; para se
O alistamento eleitoral e o voto para os maiores de candidatar a cargo nacional, deve ter domicílio eleitoral
dezoito anos são, em regra, obrigatórios. Há facultativi- em uma das unidades federadas do país. Aceita-se a trans-
dade para os analfabetos, os maiores de setenta anos e os ferência do domicílio eleitoral ao menos 1 ano antes das
maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. eleições.
A filiação partidária implica no lançamento da candi-
Artigo 14, § 1º, CF. O alistamento eleitoral e o voto são: datura por um partido político, não se aceitando a filiação
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; avulsa.
II - facultativos para: Finalmente, o §3º do artigo 14, CF, coloca o requisito
a) os analfabetos; etário, com faixa etária mínima para o desempenho de cada
b) os maiores de setenta anos; uma das funções, a qual deve ser auferida na data da posse.
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
5) Inelegibilidade
No mais, esta obrigatoriedade se aplica aos nacionais
Atender às condições de elegibilidade é necessário
brasileiros, já que, nos termos do artigo 14, §2º, CF:
para poder ser eleito, mas não basta. Além disso, é preciso
não se enquadrar em nenhuma das hipóteses de inelegi-
Artigo 14, §2º, CF. Não podem alistar-se como eleitores
bilidade.
os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obri-
A inelegibilidade pode ser absoluta ou relativa. Na
gatório, os conscritos.
absoluta, são atingidos todos os cargos; nas relativas, são
atingidos determinados cargos.
Quanto aos conscritos, são aqueles que estão prestan-
do serviço militar obrigatório, pois são necessárias tropas
disponíveis para os dias da eleição. Artigo 14, § 4º, CF. São inelegíveis os inalistáveis e os
analfabetos.
4) Elegibilidade
O artigo 14, §§ 3º e 4º, CF, descrevem as condições de O artigo 14, §4º, CF traz duas hipóteses de inelegibili-
elegibilidade, ou seja, os requisitos que devem ser preen- dade, que são absolutas, atingem todos os cargos. Para ser
chidos para que uma pessoa seja eleita, no exercício de sua elegível é preciso ser alfabetizado (os analfabetos têm a
capacidade passiva do sufrágio universal. faculdade de votar, mas não podem ser votados) e é preci-
so possuir a capacidade eleitoral ativa – poder votar (inalis-
Artigo 14, § 3º, CF. São condições de elegibilidade, na táveis são aqueles que não podem tirar o título de eleitor,
forma da lei: portanto, não podem votar, notadamente: os estrangeiros
I - a nacionalidade brasileira; e os conscritos durante o serviço militar obrigatório).
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral; Artigo 14, §5º, CF. O Presidente da República, os Go-
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; vernadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e
V - a filiação partidária; quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos
VI - a idade mínima de: mandatos poderão ser reeleitos para um único período sub-
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente sequente.
da República e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Descreve-se no dispositivo uma hipótese de inelegibili-
Estado e do Distrito Federal; dade relativa. Se um Chefe do Poder Executivo de qualquer
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado das esferas for substituído por seu vice no curso do man-
Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; dato, este vice somente poderá ser eleito para um período
d) dezoito anos para Vereador. subsequente.

29
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Ex.: Governador renuncia ao mandato no início do seu Artigo 14, §9º, CF. Lei complementar estabelecerá ou-
último ano de governo para concorrer ao Senado Federal e tros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim
é substituído pelo seu vice-governador. Se este se candida- de proteger a probidade administrativa, a moralidade para
tar e for eleito, não poderá ao final deste mandato se ree- exercício de mandato considerada vida pregressa do candi-
leger. Isto é, se o mandato o candidato renuncia no início dato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a in-
de 2010 o seu mandato de 2007-2010, assumindo o vice fluência do poder econômico ou o abuso do exercício de fun-
em 2010, poderá este se candidatar para o mandato 2011- ção, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.
2014, mas caso seja eleito não poderá se reeleger para o
mandato 2015-2018 no mesmo cargo. Foi o que aconteceu O rol constitucional de inelegibilidades dos parágrafos
com o ex-governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia, do artigo 14 não é taxativo, pois lei complementar pode
que assumiu em 2010 no lugar de Aécio Neves o governo estabelecer outros casos, tanto de inelegibilidades absolu-
do Estado de Minas Gerais e foi eleito governador entre tas como de inelegibilidades relativas. Neste sentido, a Lei
2011 e 2014, mas não pode se candidatar à reeleição, con- Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, estabelece
correndo por isso a uma vaga no Senado Federal. casos de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina
outras providências. Esta lei foi alterada por aquela que fi-
Artigo 14, §6º, CF. Para concorrerem a outros cargos, cou conhecida como Lei da Ficha Limpa, Lei Complementar
o Presidente da República, os Governadores de Estado e do nº 135, de 04 de junho de 2010, principalmente em seu
Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respecti- artigo 1º, que segue.
vos mandatos até seis meses antes do pleito.
Art. 1º, Lei Complementar nº 64/1990. São inelegíveis:
São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos, I - para qualquer cargo:
os chefes do Executivo que não renunciarem aos seus man- a) os inalistáveis e os analfabetos;
datos até seis meses antes do pleito eleitoral, antes das b) os membros do Congresso Nacional, das Assembleias
eleições. Ex.: Se a eleição aconteceu em 05/10/2014, neces- Legislativas, da Câmara Legislativa e das Câmaras Munici-
pais, que hajam perdido os respectivos mandatos por infrin-
sário que tivesse renunciado até 04/04/2014.
gência do disposto nos incisos I e II do art. 55 da Consti-
tuição Federal, dos dispositivos equivalentes sobre perda de
Artigo 14, §7º, CF. São inelegíveis, no território de ju-
mandato das Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos
risdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos
Municípios e do Distrito Federal, para as eleições que se rea-
ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presiden-
lizarem durante o período remanescente do mandato para o
te da República, de Governador de Estado ou Território, do
qual foram eleitos e nos oito anos subsequentes ao término
Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído
da legislatura;
dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular
d) os que tenham contra sua pessoa representação jul-
de mandato eletivo e candidato à reeleição.
gada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada
em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de
São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos, apuração de abuso do poder econômico ou político, para a
cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o se- eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem
gundo grau ou por adoção, dos Chefes do Executivo ou como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes;
de quem os tenha substituído ao final do mandato, a não (Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
ser que seja já titular de mandato eletivo e candidato à e) os que forem condenados, em decisão transitada em
reeleição. julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a
condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após
Artigo 14, §8º, CF. O militar alistável é elegível, aten- o cumprimento da pena, pelos crimes: (Redação dada pela
didas as seguintes condições: Lei Complementar nº 135, de 2010)
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afas- 1. contra a economia popular, a fé pública, a administra-
tar-se da atividade; ção pública e o patrimônio público; (Incluído pela Lei Com-
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado plementar nº 135, de 2010)
pela autoridade superior e, se eleito, passará automatica- 2. contra o patrimônio privado, o sistema financeiro, o
mente, no ato da diplomação, para a inatividade. mercado de capitais e os previstos na lei que regula a falên-
cia; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos, 3. contra o meio ambiente e a saúde pública; (Incluído
os militares que não podem se alistar ou os que podem, pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
mas não preenchem as condições do §8º do artigo 14, CF, 4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de
ou seja, se não se afastar da atividade caso trabalhe há me- liberdade; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
nos de 10 anos, se não for agregado pela autoridade supe- 5. de abuso de autoridade, nos casos em que houver
rior (suspenso do exercício das funções por sua autoridade condenação à perda do cargo ou à inabilitação para o exer-
sem prejuízo de remuneração) caso trabalhe há mais de cício de função pública; (Incluído pela Lei Complementar nº
10 anos (sendo que a eleição passa à condição de inativo). 135, de 2010)

30
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

6. de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores; l) os que forem condenados à suspensão dos direitos
(Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) políticos, em decisão transitada em julgado ou proferida
7. de tráfico de entorpecentes e drogas afins, racismo, por órgão judicial colegiado, por ato doloso de improbidade
tortura, terrorismo e hediondos; administrativa que importe lesão ao patrimônio público e
8. de redução à condição análoga à de escravo; (Incluído enriquecimento ilícito, desde a condenação ou o trânsito em
pela Lei Complementar nº 135, de 2010) julgado até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o
9. contra a vida e a dignidade sexual; e (Incluído pela Lei cumprimento da pena; (Incluído pela Lei Complementar nº
Complementar nº 135, de 2010) 135, de 2010)
10. praticados por organização criminosa, quadrilha ou m) os que forem excluídos do exercício da profissão, por
bando; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) decisão sancionatória do órgão profissional competente, em
f) os que forem declarados indignos do oficialato, ou decorrência de infração ético-profissional, pelo prazo de 8
com ele incompatíveis, pelo prazo de 8 (oito) anos; (Redação (oito) anos, salvo se o ato houver sido anulado ou suspenso
dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010) pelo Poder Judiciário; (Incluído pela Lei Complementar nº
g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de 135, de 2010)
cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade in- n) os que forem condenados, em decisão transitada em
sanável que configure ato doloso de improbidade adminis- julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, em razão
trativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo de terem desfeito ou simulado desfazer vínculo conjugal ou
se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judi- de união estável para evitar caracterização de inelegibilida-
ciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos de, pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão que reconhecer
seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando-se a fraude; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a o) os que forem demitidos do serviço público em decor-
todos os ordenadores de despesa, sem exclusão de manda- rência de processo administrativo ou judicial, pelo prazo de
tários que houverem agido nessa condição; (Redação dada 8 (oito) anos, contado da decisão, salvo se o ato houver sido
pela Lei Complementar nº 135, de 2010) suspenso ou anulado pelo Poder Judiciário; (Incluído pela Lei
h) os detentores de cargo na administração pública di-
Complementar nº 135, de 2010)
reta, indireta ou fundacional, que beneficiarem a si ou a ter-
p) a pessoa física e os dirigentes de pessoas jurídicas res-
ceiros, pelo abuso do poder econômico ou político, que forem
ponsáveis por doações eleitorais tidas por ilegais por decisão
condenados em decisão transitada em julgado ou proferida
transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da
por órgão judicial colegiado, para a eleição na qual concor-
Justiça Eleitoral, pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão,
rem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se
observando-se o procedimento previsto no art. 22; (Incluído
realizarem nos 8 (oito) anos seguintes; (Redação dada pela
pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
Lei Complementar nº 135, de 2010)
q) os magistrados e os membros do Ministério Público que
i) os que, em estabelecimentos de crédito, financiamento
forem aposentados compulsoriamente por decisão sancionató-
ou seguro, que tenham sido ou estejam sendo objeto de pro-
cesso de liquidação judicial ou extrajudicial, hajam exercido, ria, que tenham perdido o cargo por sentença ou que tenham
nos 12 (doze) meses anteriores à respectiva decretação, cargo pedido exoneração ou aposentadoria voluntária na pendência
ou função de direção, administração ou representação, en- de processo administrativo disciplinar, pelo prazo de 8 (oito)
quanto não forem exonerados de qualquer responsabilidade; anos; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
j) os que forem condenados, em decisão transitada em II - para Presidente e Vice-Presidente da República:
julgado ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral, a) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente
por corrupção eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por de seus cargos e funções:
doação, captação ou gastos ilícitos de recursos de campanha 1. os Ministros de Estado:
ou por conduta vedada aos agentes públicos em campanhas 2. os chefes dos órgãos de assessoramento direto, civil e
eleitorais que impliquem cassação do registro ou do diplo- militar, da Presidência da República;
ma, pelo prazo de 8 (oito) anos a contar da eleição; (Incluído 3. o chefe do órgão de assessoramento de informações
pela Lei Complementar nº 135, de 2010) da Presidência da República;
k) o Presidente da República, o Governador de Estado e 4. o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas;
do Distrito Federal, o Prefeito, os membros do Congresso Na- 5. o Advogado-Geral da União e o Consultor-Geral da
cional, das Assembleias Legislativas, da Câmara Legislativa, República;
das Câmaras Municipais, que renunciarem a seus mandatos 6. os chefes do Estado-Maior da Marinha, do Exército e
desde o oferecimento de representação ou petição capaz de da Aeronáutica;
autorizar a abertura de processo por infringência a dispositi- 7. os Comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica;
vo da Constituição Federal, da Constituição Estadual, da Lei 8. os Magistrados;
Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Muni- 9. os Presidentes, Diretores e Superintendentes de autar-
cípio, para as eleições que se realizarem durante o período quias, empresas públicas, sociedades de economia mista e
remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos 8 fundações públicas e as mantidas pelo poder público;
(oito) anos subsequentes ao término da legislatura; (Incluído 10. os Governadores de Estado, do Distrito Federal e
pela Lei Complementar nº 135, de 2010) de Territórios;

31
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

11. os Interventores Federais; I) os que, servidores públicos, estatutários ou não, dos


12. os Secretários de Estado; órgãos ou entidades da Administração direta ou indireta da
13. os Prefeitos Municipais; União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos
14. os membros do Tribunal de Contas da União, dos Territórios, inclusive das fundações mantidas pelo Poder Públi-
Estados e do Distrito Federal; co, não se afastarem até 3 (três) meses anteriores ao pleito, ga-
15. o Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal; rantido o direito à percepção dos seus vencimentos integrais;
16. os Secretários-Gerais, os Secretários-Executivos, os III - para Governador e Vice-Governador de Estado e do
Secretários Nacionais, os Secretários Federais dos Ministérios Distrito Federal;
e as pessoas que ocupem cargos equivalentes; a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-
b) os que tenham exercido, nos 6 (seis) meses anteriores -Presidente da República especificados na alínea a do inciso
à eleição, nos Estados, no Distrito Federal, Territórios e em II deste artigo e, no tocante às demais alíneas, quando se
qualquer dos poderes da União, cargo ou função, de nomea- tratar de repartição pública, associação ou empresas que
ção pelo Presidente da República, sujeito à aprovação prévia operem no território do Estado ou do Distrito Federal, obser-
do Senado Federal; vados os mesmos prazos;
c) (Vetado); b) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente
d) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tiverem de seus cargos ou funções:
competência ou interesse, direta, indireta ou eventual, no 1. os chefes dos Gabinetes Civil e Militar do Governador
lançamento, arrecadação ou fiscalização de impostos, taxas do Estado ou do Distrito Federal;
e contribuições de caráter obrigatório, inclusive parafiscais, 2. os comandantes do Distrito Naval, Região Militar e
ou para aplicar multas relacionadas com essas atividades; Zona Aérea;
e) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tenham 3. os diretores de órgãos estaduais ou sociedades de as-
exercido cargo ou função de direção, administração ou re- sistência aos Municípios;
presentação nas empresas de que tratam os arts. 3° e 5° da 4. os secretários da administração municipal ou mem-
Lei n° 4.137, de 10 de setembro de 1962, quando, pelo âm- bros de órgãos congêneres;
bito e natureza de suas atividades, possam tais empresas
IV - para Prefeito e Vice-Prefeito:
influir na economia nacional;
a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações,
f) os que, detendo o controle de empresas ou grupo de
os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente
empresas que atuem no Brasil, nas condições monopolísti-
da República, Governador e Vice-Governador de Estado e do
cas previstas no parágrafo único do art. 5° da lei citada na
Distrito Federal, observado o prazo de 4 (quatro) meses para
alínea anterior, não apresentarem à Justiça Eleitoral, até 6
a desincompatibilização;
(seis) meses antes do pleito, a prova de que fizeram cessar o
b) os membros do Ministério Público e Defensoria Públi-
abuso apurado, do poder econômico, ou de que transferiram,
ca em exercício na Comarca, nos 4 (quatro) meses anteriores
por força regular, o controle de referidas empresas ou grupo
ao pleito, sem prejuízo dos vencimentos integrais;
de empresas;
c) as autoridades policiais, civis ou militares, com exercí-
g) os que tenham, dentro dos 4 (quatro) meses ante-
riores ao pleito, ocupado cargo ou função de direção, ad- cio no Município, nos 4 (quatro) meses anteriores ao pleito;
ministração ou representação em entidades representativas V - para o Senado Federal:
de classe, mantidas, total ou parcialmente, por contribuições a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Pre-
impostas pelo poder Público ou com recursos arrecadados e sidente da República especificados na alínea a do inciso II
repassados pela Previdência Social; deste artigo e, no tocante às demais alíneas, quando se tra-
h) os que, até 6 (seis) meses depois de afastados das fun- tar de repartição pública, associação ou empresa que opere
ções, tenham exercido cargo de Presidente, Diretor ou Supe- no território do Estado, observados os mesmos prazos;
rintendente de sociedades com objetivos exclusivos de ope- b) em cada Estado e no Distrito Federal, os inelegíveis
rações financeiras e façam publicamente apelo à poupança para os cargos de Governador e Vice-Governador, nas mes-
e ao crédito, inclusive através de cooperativas e da empresa mas condições estabelecidas, observados os mesmos prazos;
ou estabelecimentos que gozem, sob qualquer forma, de VI - para a Câmara dos Deputados, Assembleia Legislativa
vantagens asseguradas pelo poder público, salvo se decor- e Câmara Legislativa, no que lhes for aplicável, por identidade
rentes de contratos que obedeçam a cláusulas uniformes; de situações, os inelegíveis para o Senado Federal, nas mesmas
i) os que, dentro de 6 (seis) meses anteriores ao pleito, condições estabelecidas, observados os mesmos prazos;
hajam exercido cargo ou função de direção, administração VII - para a Câmara Municipal:
ou representação em pessoa jurídica ou em empresa que a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações,
mantenha contrato de execução de obras, de prestação de os inelegíveis para o Senado Federal e para a Câmara dos
serviços ou de fornecimento de bens com órgão do Poder Deputados, observado o prazo de 6 (seis) meses para a de-
Público ou sob seu controle, salvo no caso de contrato que sincompatibilização;
obedeça a cláusulas uniformes; b) em cada Município, os inelegíveis para os cargos de
j) os que, membros do Ministério Público, não se tenham Prefeito e Vice-Prefeito, observado o prazo de 6 (seis) meses
afastado das suas funções até 6 (seis) meses anteriores ao pleito; para a desincompatibilização .

32
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

§ 1° Para concorrência a outros cargos, o Presidente da O inciso III refere-se a um dos possíveis efeitos da con-
República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal denação criminal, que é a suspensão de direitos políticos.
e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos O inciso IV trata da recusa em cumprir a obrigação mi-
até 6 (seis) meses antes do pleito. litar ou a prestação substitutiva imposta em caso de escusa
§ 2° O Vice-Presidente, o Vice-Governador e o Vice-Pre- moral ou religiosa.
feito poderão candidatar-se a outros cargos, preservando O inciso V se refere à ação de improbidade administra-
os seus mandatos respectivos, desde que, nos últimos 6 tiva, que tramita para apurar a prática dos atos de improbi-
(seis) meses anteriores ao pleito, não tenham sucedido ou dade administrativa, na qual uma das penas aplicáveis é a
substituído o titular. suspensão dos direitos políticos.
§ 3° São inelegíveis, no território de jurisdição do titu- Os direitos políticos somente são perdidos em dois
lar, o cônjuge e os parentes, consanguíneos ou afins, até o casos, quais sejam cancelamento de naturalização por
segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, sentença transitada em julgado (o indivíduo naturalizado
de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal,
volta à condição de estrangeiro) e perda da nacionalidade
de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos 6
brasileira em virtude da aquisição de outra (brasileiro se
(seis) meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de man-
naturaliza em outro país e assim deixa de ser considera-
dato eletivo e candidato à reeleição.
do um cidadão brasileiro, perdendo direitos políticos). Nos
§ 4º A inelegibilidade prevista na alínea e do inciso I
deste artigo não se aplica aos crimes culposos e àqueles demais casos, há suspensão. Nota-se que não há perda de
definidos em lei como de menor potencial ofensivo, nem direitos políticos pela prática de atos atentatórios contra a
aos crimes de ação penal privada. (Incluído pela Lei Com- Administração Pública por parte do servidor, mas apenas
plementar nº 135, de 2010) suspensão.
§ 5º A renúncia para atender à desincompatibilização A cassação de direitos políticos, consistente na retirada
com vistas a candidatura a cargo eletivo ou para assunção dos direitos políticos por ato unilateral do poder público,
de mandato não gerará a inelegibilidade prevista na alí- sem observância dos princípios elencados no artigo 5º, LV,
nea k, a menos que a Justiça Eleitoral reconheça fraude ao CF (ampla defesa e contraditório), é um procedimento que
disposto nesta Lei Complementar. (Incluído pela Lei Comple- só existe nos governos ditatoriais e que é absolutamente
mentar nº 135, de 2010). vedado pelo texto constitucional.

6) Impugnação de mandato 8) Anterioridade anual da lei eleitoral


Encerrando a disciplina, o artigo 14, CF, aborda a im-
pugnação de mandato. Art. 16, CF. A lei que alterar o processo eleitoral entrará
em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à elei-
Artigo 14, § 10, CF. O mandato eletivo poderá ser im- ção que ocorra até um ano da data de sua vigência. 
pugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias
contados da diplomação, instruída a ação com provas de É necessário que a lei eleitoral entre em vigor pelo me-
abuso do poder econômico, corrupção ou fraude. nos 1 ano antes da próxima eleição, sob pena de não se
aplicar a ela, mas somente ao próximo pleito.
Artigo 14, § 11, CF. A ação de impugnação de mandato
tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na Partidos políticos
forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé. O pluripartidarismo é uma das facetas do pluralismo
político e encontra respaldo enquanto direito fundamental,
7) Perda e suspensão de direitos políticos
já que regulamentado no Título II, “Dos Direitos e Garantias
Art. 15, CF. É vedada a cassação de direitos políticos,
Fundamentais”, capítulo V, “Dos Partidos Políticos”.
cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
O caput do artigo 17 da Constituição prevê:
I - cancelamento da naturalização por sentença transi-
tada em julgado;
II - incapacidade civil absoluta; Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção
III - condenação criminal transitada em julgado, en- de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o
quanto durarem seus efeitos; regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos funda-
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou mentais da pessoa humana [...].
prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. Consolida-se, assim a liberdade partidária, não estabe-
lecendo a Constituição um limite de números de partidos
O inciso I refere-se ao cancelamento da naturalização, políticos que possam ser constituídos, permitindo também
o que faz com que a pessoa deixe de ser nacional e, por- que sejam extintos, fundidos e incorporados.
tanto, deixe de ser titular de direitos políticos. Os incisos do artigo 17 da Constituição indicam os pre-
O inciso II trata da incapacidade civil absoluta, ou seja, ceitos a serem observados na liberdade partidária: caráter
da interdição da pessoa para a prática de atos da vida civil, nacional, ou seja, terem por objetivo o desempenho de
entre os quais obviamente se enquadra o sufrágio universal. atividade política no âmbito interno do país; proibição de

33
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

recebimento de recursos financeiros de entidade ou gover- O pacto federativo brasileiro se afirmou ao inverso do
no estrangeiros ou de subordinação a estes, logo, o Poder que os Estados federados geralmente se formam. Trata-se
Público não pode financiar campanhas eleitorais; prestação de federalismo por desagregação – tinha-se um Estado
de contas à Justiça Eleitoral, notadamente para resguardar uno, com a União centralizada em suas competências, e di-
a mencionada vedação; e funcionamento parlamentar de vidiu-se em unidades federadas. Difere-se do denominado
acordo com a lei. Ainda, a lei veda a utilização de organi- federalismo por agregação, no qual unidades federativas
zação paramilitar por parte dos partidos políticos (artigo autônomas se unem e formam um Poder federal no qual
17, §4º, CF). se concentrarão certas atividades, tornando o Estado mais
O respeito a estes ditames permite o exercício do par- forte (ex.: Estados Unidos da América).
tidarismo de forma autônoma em termos estruturais e or- No federalismo por agregação, por já vir tradicional-
ganizacionais, conforme o §1º do artigo 17, CF: mente das bases do Estado a questão da autonomia das
unidades federadas, percebe-se um federalismo real na
Art. 17, §1º, CF. É assegurada aos partidos políticos auto- prática. Já no federalismo por desagregação nota-se uma
nomia para definir sua estrutura interna, organização e fun- persistente tendência centralizadora.
cionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime Prova de que nem mesmo o constituinte brasileiro en-
de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vincu- tendeu o federalismo que estava criando é o fato de ter
lação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, colocado o município como entidade federativa autônoma.
distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer No modelo tradicional, o pacto federativo se dá apenas en-
normas de disciplina e fidelidade partidária.  tre União e estados-membros, motivo pelo qual a doutrina
afirma que o federalismo brasileiro é atípico.
Os estatutos que tecem esta regulamentação devem Além disso, pelo que se desprende do modelo de di-
ser registrados no Tribunal Superior Eleitoral (artigo 17, §2º, visão de competências a ser estudado neste capítulo, aca-
CF). bou-se esvaziando a competência dos estados-membros,
Quanto ao financiamento das campanhas e o acesso à mantendo uma concentração de poderes na União e distri-
mídia, prevê o §3º do artigo 17 da CF: buindo vasta gama de poderes aos municípios.

Art. 17, §3º, CF. Os partidos políticos têm direito a re- Art. 18, caput, CF. A organização político-administra-
cursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à tiva da República Federativa do Brasil compreende a União,
televisão, na forma da lei. os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos au-
§ 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de tônomos, nos termos desta Constituição.
organização paramilitar.
§ 5º Ao eleito por partido que não preencher os re- Ainda assim, inegável, pela redação do caput do artigo
quisitos previstos no § 3º deste artigo é assegurado o 18, CF, que o Brasil adota um modelo de Estado Federado
mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato, a no qual são considerados entes federados e, como tais, au-
outro partido que os tenha atingido, não sendo essa filia- tônomos, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni-
ção considerada para fins de distribuição dos recursos do cípios. Esta autonomia se reflete tanto numa capacidade de
fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e auto-organização (normatização própria) quanto numa ca-
de televisão.     (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, pacidade de autogoverno (administrar-se pelos membros
de 2017) eleitos pelo eleitorado da unidade federada).

Artigo 18, §1º, CF. Brasília é a Capital Federal.

ORGANIZAÇÃO DO ESTADO FEDERAL Brasília é a capital da República Federativa do Brasil,


BRASILEIRO: REPARTIÇÃO DE sendo um dos municípios que compõem o Distrito Federal.
COMPETÊNCIAS. O Distrito Federal tem peculiaridades estruturais, não sen-
do nem um Município, nem um Estado, tanto é que o caput
deste artigo 18 o nomeia em separado. Trata-se, assim, de
Da organização político-administrativa unidade federativa autônoma.
O artigo 18 da Constituição Federal tem caráter genéri-
co e regulamenta a organização político-administrativa do Artigo 18, §2º, CF. Os Territórios Federais integram a
Estado. Basicamente, define os entes federados que irão União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegra-
compor o Estado brasileiro. ção ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar.
Neste dispositivo se percebe o Pacto Federativo firma-
do entre os entes autônomos que compõem o Estado bra- Apesar dos Territórios Federais integrarem a União, eles
sileiro. Na federação, todos os entes que compõem o Es- não podem ser considerados entes da federação, logo não
tado têm autonomia, cabendo à União apenas concentrar fazem parte da organização político-administrativa, não
esforços necessários para a manutenção do Estado uno. dispõem de autonomia política e não integram o Estado

34
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Federal. São meras descentralizações administrativo-ter- Artigo 98, CC. São públicos os bens de domínio nacional
ritoriais pertencentes à União. A Constituição Federal de pertencentes as pessoas jurídicas de direito público interno;
1988 aboliu todos os territórios então existentes: Fernando todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que
de Noronha tornou-se um distrito estadual do Estado de pertencerem.
Pernambuco, Amapá e Roraima ganham o status integral
de Estados da Federação. Artigo 99, CC. São bens públicos:
I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares,
Artigo 18, §3º, CF. Os Estados podem incorporar-se en- estradas, ruas e praças;
tre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos
a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, destinados a serviço ou estabelecimento da administração
mediante aprovação da população diretamente interessa- federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de
da, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei suas autarquias;
complementar. III - os dominicais, que constituem o patrimônio das
pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito
Artigo 18, §4º, CF. A criação, a incorporação, a fusão pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.
e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, con-
estadual, dentro do período determinado por Lei Comple- sideram-se dominicais os bens pertencentes às pessoas ju-
mentar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante rídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de
plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após direito privado.
divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresenta-
dos e publicados na forma da lei. Artigo 100, CC. Os bens públicos de uso comum do
povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto con-
Como se percebe pelos dispositivos retro, é possível servarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar.
criar, incorporar e desmembrar os Estados-membros e os
Municípios. No caso dos Estados, exige-se plebiscito e lei Artigo 101, CC. Os bens públicos dominicais podem ser
federal. No caso dos municípios, exige-se plebiscito e lei alienados, observadas as exigências da lei.
estadual.
Ressalta-se que é aceita a subdivisão e o desmembra-
Artigo 102, CC. Os bens públicos não estão sujeitos a
mento no âmbito interno, mas não se permite que uma
usucapião.
parte do país se separe do todo, o que atentaria contra o
pacto federativo.
Artigo 103, CC. O uso comum dos bens públicos pode
ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido le-
Art. 19, CF. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito
galmente pela entidade a cuja administração pertencerem.
Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencio-
ná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com Os bens da União estão enumerados no artigo 20 e os
eles ou seus representantes relações de dependência ou bens dos Estados-membros no artigo 26, ambos da Cons-
aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de inte- tituição, que seguem abaixo. Na divisão de bens estabele-
resse público; cida pela Constituição Federal denota-se o caráter residual
II - recusar fé aos documentos públicos; dos bens dos Estados-membros porque exige-se que estes
III - criar distinções entre brasileiros ou preferências en- não pertençam à União ou aos Municípios.
tre si.
Artigo 20, CF. São bens da União:
Embora o artigo 19 traga algumas vedações expressas I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem
aos entes federados, fato é que todo o sistema constitucio- a ser atribuídos;
nal traz impedimento à atuação das unidades federativas II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das
e de seus administradores. Afinal, não possuem liberdade fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias
para agirem como quiserem e somente podem fazer o que federais de comunicação e à preservação ambiental, defini-
a lei permite (princípio da legalidade aplicado à Adminis- das em lei;
tração Pública). III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em
Repartição de competências e bens terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado,
O título III da Constituição Federal regulamenta a orga- sirvam de limites com outros países, ou se estendam a terri-
nização do Estado, definindo competências administrativas tório estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos
e legislativas, bem como traçando a estrutura organizacio- marginais e as praias fluviais;
nal por ele tomada. IV - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes
Bens Públicos são todos aqueles que integram o pa- com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas
trimônio da Administração Pública direta e indireta, sendo e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de
que todos os demais bens são considerados particulares. Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público
Destaca-se a disciplina do Código Civil: e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II; 

35
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

V - os recursos naturais da plataforma continental e da II - declarar a guerra e celebrar a paz;


zona econômica exclusiva; III - assegurar a defesa nacional;
VI - o mar territorial; IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar,
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; que forças estrangeiras transitem pelo território nacional
VIII - os potenciais de energia hidráulica; ou nele permaneçam temporariamente;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios ar- intervenção federal;
queológicos e pré-históricos; VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. material bélico;
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao VII - emitir moeda;
Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da VIII - administrar as reservas cambiais do País e fisca-
administração direta da União, participação no resultado lizar as operações de natureza financeira, especialmente as
da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros
hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros e de previdência privada;
recursos minerais no respectivo território, plataforma conti- IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais
nental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou com- de ordenação do território e de desenvolvimento econô-
pensação financeira por essa exploração. mico e social;
§ 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
largura, ao longo das fronteiras terrestres, designada XI - explorar, diretamente ou mediante autorização,
como faixa de fronteira, é considerada fundamental para concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações,
defesa do território nacional, e sua ocupação e utilização nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos ser-
serão reguladas em lei. viços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos
institucionais;
Artigo 26, CF. Incluem-se entre os bens dos Estados: XII - explorar, diretamente ou mediante autorização,
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emer- concessão ou permissão:
gentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
lei, as decorrentes de obras da União; b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aprovei-
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que es- tamento energético dos cursos de água, em articulação com
tiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;
União, Municípios ou terceiros; c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à aeroportuária;
União; d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário
IV - as terras devolutas não compreendidas entre as entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que trans-
da União. ponham os limites de Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual
Competência material e legislativa da União, Esta- e internacional de passageiros;
dos e Municípios f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
1) Competência organizacional-administrativa ex- XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Minis-
clusiva da União tério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a
A Constituição Federal, quando aborda a competência Defensoria Pública dos Territórios;
da União, traz no artigo 21 a expressão “compete à União” XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia mi-
e no artigo 22 a expressão “compete privativamente à litar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Fede-
União”. Neste sentido, questiona-se se a competência no ral, bem como prestar assistência financeira ao Distrito
artigo 21 seria privativa. Obviamente, não seria comparti- Federal para a execução de serviços públicos, por meio de
lhada, pois os casos que o são estão enumerados no texto fundo próprio;
constitucional. XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatísti-
Com efeito, entende-se que o artigo 21, CF, enumera ca, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;
competências exclusivas da União. Estas expressões que XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de
a princípio seriam sinônimas assumem significado diverso. diversões públicas e de programas de rádio e televisão;
Privativa é a competência da União que pode ser delegada XVII - conceder anistia;
a outras unidades federadas e exclusiva é a competência da XVIII - planejar e promover a defesa permanente con-
União que somente pode ser exercida por ela. tra as calamidades públicas, especialmente as secas e as
O artigo 21, que traz as competências exclusivas da União, inundações;
trabalha com questões organizacional-administrativas. XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de
recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos
Artigo 21, CF. Compete à União: de seu uso;
I - manter relações com Estados estrangeiros e parti- XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano,
cipar de organizações internacionais; inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;

36
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema 2) Competência legislativa privativa da União
nacional de viação; A competência legislativa da União é privativa e, sendo
XXII - executar os serviços de polícia marítima, aero- assim, pode ser delegada. As matérias abaixo relacionadas
portuária e de fronteiras; somente podem ser legisladas por atos normativos com
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares abrangência nacional, mas é possível que uma lei comple-
de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a mentar autorizar que determinado Estado regulamente
pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a in- questão devidamente especificada.
dustrialização e o comércio de minérios nucleares e seus
Artigo 22, CF. Compete privativamente à União legislar
derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
sobre:
a) toda atividade nuclear em território nacional so-
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
mente será admitida para fins pacíficos e mediante aprova-
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
ção do Congresso Nacional; II - desapropriação;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comer- III - requisições civis e militares, em caso de iminente
cialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e perigo e em tempo de guerra;
usos médicos, agrícolas e industriais; IV - águas, energia, informática, telecomunicações e
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, radiodifusão;
comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida V - serviço postal;
igual ou inferior a duas horas; VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garan-
d) a responsabilidade civil por danos nucleares inde- tias dos metais;
pende da existência de culpa; VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferên-
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho; cia de valores;
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exer- VIII - comércio exterior e interestadual;
cício da atividade de garimpagem, em forma associativa. IX - diretrizes da política nacional de transportes;
X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, ma-
Envolve a competência organizacional-administrativa rítima, aérea e aeroespacial;
da União a atuação regionalizada com vistas à redução das XI - trânsito e transporte;
desigualdade regionais, descrita no artigo 43 da Constitui- XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e me-
talurgia;
ção Federal:
XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;
XIV - populações indígenas;
Artigo 43, CF. Para efeitos administrativos, a União po- XV - emigração e imigração, entrada, extradição e
derá articular sua ação em um mesmo complexo geoeco- expulsão de estrangeiros;
nômico e social, visando a seu desenvolvimento e à redu- XVI - organização do sistema nacional de emprego e
ção das desigualdades regionais. condições para o exercício de profissões;
§ 1º Lei complementar disporá sobre: XVII - organização judiciária, do Ministério Públi-
I - as condições para integração de regiões em desen- co do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria
volvimento; Pública dos Territórios, bem como organização adminis-
II - a composição dos organismos regionais que exe- trativa destes
cutarão, na forma da lei, os planos regionais, integrantes dos XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de
planos nacionais de desenvolvimento econômico e social, geologia nacionais;
aprovados juntamente com estes. XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da
§ 2º Os incentivos regionais compreenderão, além de poupança popular;
outros, na forma da lei: XX - sistemas de consórcios e sorteios;
I - igualdade de tarifas, fretes, seguros e outros itens XXI - normas gerais de organização, efetivos, material
de custos e preços de responsabilidade do Poder Público; bélico, garantias, convocação e mobilização das polícias
II - juros favorecidos para financiamento de atividades militares e corpos de bombeiros militares;
XXII - competência da polícia federal e das polícias ro-
prioritárias;
doviária e ferroviária federais;
III - isenções, reduções ou diferimento temporário de
XXIII - seguridade social;
tributos federais devidos por pessoas físicas ou jurídicas;
XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;
IV - prioridade para o aproveitamento econômico e XXV - registros públicos;
social dos rios e das massas de água represadas ou repre- XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
sáveis nas regiões de baixa renda, sujeitas a secas periódicas. XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em
§ 3º Nas áreas a que se refere o § 2º, IV, a União incenti- todas as modalidades, para as administrações públicas di-
vará a recuperação de terras áridas e cooperará com os pe- retas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito
quenos e médios proprietários rurais para o estabelecimento, Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e
em suas glebas, de fontes de água e de pequena irrigação. para as empresas públicas e sociedades de economia mista,
nos termos do art. 173, § 1°, III; 

37
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Fe-
marítima, defesa civil e mobilização nacional; deral legislar concorrentemente sobre:
XXIX - propaganda comercial. I - direito tributário, financeiro, penitenciário, eco-
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar nômico e urbanístico;
os Estados a legislar sobre questões específicas das ma- II - orçamento;
térias relacionadas neste artigo. III - juntas comerciais;
IV - custas dos serviços forenses;
3) Competência organizacional-administrativa V - produção e consumo;
compartilhada VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da nature-
União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios za, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio
compartilham certas competências organizacional-ad- ambiente e controle da poluição;
ministrativas. Significa que qualquer dos entes federados VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artís-
poderá atuar, desenvolver políticas públicas, nestas áreas. tico, turístico e paisagístico;
Todas estas áreas são áreas que necessitam de atuação in- VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente,
tensa ou vigilância constantes, de modo que mediante ges- ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
tão cooperada se torna possível efetivar o máximo possível histórico, turístico e paisagístico;
os direitos fundamentais em casa uma delas. IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência,
Artigo 23, CF. É competência comum da União, dos Es- tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação;
tados, do Distrito Federal e dos Municípios: X - criação, funcionamento e processo do juizado de
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das ins- pequenas causas;
tituições democráticas e conservar o patrimônio público; XI - procedimentos em matéria processual;
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
e garantia das pessoas portadoras de deficiência; XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;
III - proteger os documentos, as obras e outros bens XIV - proteção e integração social das pessoas porta-
de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as doras de deficiência;
paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; XV - proteção à infância e à juventude;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracte- XVI - organização, garantias, direitos e deveres das po-
rização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, lícias civis.
artístico ou cultural; § 1º No âmbito da legislação concorrente, a compe-
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à edu- tência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
cação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; § 2º A competência da União para legislar sobre normas
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.
em qualquer de suas formas; § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; Estados exercerão a competência legislativa plena, para
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar atender a suas peculiaridades.
o abastecimento alimentar; § 4º A superveniência de lei federal sobre normas ge-
IX - promover programas de construção de moradias rais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for
e a melhoria das condições habitacionais e de sanea- contrário.
mento básico;
X - combater as causas da pobreza e os fatores de O estudo das competências concorrentes permite vis-
marginalização, promovendo a integração social dos seto- lumbrar os limites da atuação conjunta entre União, Esta-
res desfavorecidos; dos e Distrito Federal no modelo Federativo adotado no
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de Brasil, visando à obtenção de uma homogeneidade nacio-
direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e nal, com preservação dos pluralismos regionais e locais.
minerais em seus territórios; O cerne da distinção da competência entre os entes
XII - estabelecer e implantar política de educação para federados repousa na competência da União para o esta-
a segurança do trânsito. belecimento de normas gerais. A competência legislativa
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas dos Estados-membros e dos Municípios nestas questões é
para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito suplementar, ou seja, as normas estaduais agregam deta-
Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do de- lhes que a norma da União não compreende, notadamente
senvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. trazendo peculiaridades regionais.
No caso do artigo 24, CF, a União dita as normas gerais
4) Competência legislativa compartilhada e as normas suplementares ficam por conta dos Estados,
Além de compartilharem competências organizacio- ou seja, as peculiaridades regionais são normatizadas pelos
nal-administrativas, os entes federados compartilham Estados. As normas estaduais, neste caso, devem guardar
competência para legislar sobre determinadas matérias. uma relação de compatibilidade com as normas federais
Entretanto, excluem-se do artigo 24, CF, os entes federa- (relação hierárquica). Diferentemente da competência co-
dos da espécie Município, sendo que estes apenas legislam mum em que as leis estão em igualdade de condições, uma
sobre assuntos de interesse local. não deve subordinação à outra.

38
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Entretanto, os Estados não ficam impedidos de criar leis estabelecido, em espécie, para os Deputados Federais, ob-
regulamentadoras destas matérias enquanto a União não o servado o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153,
faça. Sobrevindo norma geral reguladora, perdem a eficácia III, e 153, § 2º, I.
os dispositivos de lei estadual com ela incompatível. § 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre
seu regimento interno, polícia e serviços administrati-
5) Limitações e regras mínimas aplicáveis à com- vos de sua secretaria, e prover os respectivos cargos.
petência organizacional-administrativa autônoma dos § 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no proces-
Estados-membros so legislativo estadual.

Artigo 25, CF. Os Estados organizam-se e regem-se Artigo 28, CF. A eleição do Governador e do Vice-Go-
pelas Constituições e leis que adotarem, observados os vernador de Estado, para mandato de quatro anos, reali-
princípios desta Constituição. zar-se-á no primeiro domingo de outubro, em primeiro
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que turno, e no último domingo de outubro, em segundo
não lhes sejam vedadas por esta Constituição. turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou me- de seus antecessores, e a posse ocorrerá em primeiro de
diante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais,
forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a o disposto no art. 77. 
sua regulamentação.  § 1º Perderá o mandato o Governador que assumir ou-
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, tro cargo ou função na administração pública direta ou
instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas indireta, ressalvada a posse em virtude de concurso público
e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municí- e observado o disposto no art. 38, I, IV e V.
pios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento § 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governador e
e a execução de funções públicas de interesse comum. dos Secretários de Estado serão fixados por lei de iniciativa
O documento que está no ápice da estrutura norma- da Assembleia Legislativa, observado o que dispõem os
arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
tiva de um Estado-membro é a Constituição estadual. Ela
deve guardar compatibilidade com a Constituição Federal,
6) Limitações e regras mínimas aplicáveis à com-
notadamente no que tange aos princípios nela estabeleci-
petência organizacional-administrativa autônoma dos
dos, sob pena de ser considerada norma inconstitucional.
Municípios
A competência do Estado é residual – tudo o que não
Os Municípios gozam de autonomia no modelo fede-
obrigatoriamente deva ser regulamentado pela União ou
rativo brasileiro e, sendo assim, possuem capacidade de
pelos Municípios, pode ser legislado pelo Estado-membro,
auto-organização, normatização e autogoverno.
sem prejuízo da já estudada competência legislativa con-
Notadamente, mediante lei orgânica, conforme se
corrente com a União.
extrai do artigo 29, caput, CF, o Município se normatiza,
O §3º do artigo 25 regulamenta a conurbação, que devendo esta lei guardar compatibilidade tanto com a
abrange regiões metropolitanas (um município, a metró- Constituição Federal quanto com a respectiva Constituição
pole, está em destaque) e aglomerações urbanas (não há estadual. O dispositivo mencionado traça, ainda, regras mí-
município em destaque), e as microrregiões (não conur- nimas de estruturação do Poder Executivo e do Legislativo
badas, mas limítrofes, geralmente identificada por bacias municipais.
hidrográficas). Por exemplo, só haverá eleição de segundo turno se o
A estrutura e a organização dos Poderes Legislativo e município tiver mais de duzentos mil habitantes. Destaca-
Executivo no âmbito do Estado-membro é detalhada na -se, ainda, a exaustiva regra sobre o número de vereadores
Constituição estadual, mas os artigos 27e 28 trazem bases e a questão dos subsídios. Incidente, também a regra sobre
regulamentadoras que devem ser respeitadas. o julgamento do Prefeito pelo Tribunal de Justiça.
O artigo 29-A, CF, por seu turno, detalha os limites de
Artigo 27, CF. O número de Deputados à Assembleia despesas com o Poder Legislativo municipal, permitindo a
Legislativa corresponderá ao triplo da representação do responsabilização do Prefeito e do Presidente da Câmara
Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o número de por violação a estes limites.
trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os De-
putados Federais acima de doze. Artigo 29, CF. O Município reger-se-á por lei orgâni-
§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados ca, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez
Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara
sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, re- Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios esta-
muneração, perda de mandato, licença, impedimentos belecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo
e incorporação às Forças Armadas. Estado e os seguintes preceitos:
§ 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixa- I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores,
do por lei de iniciativa da Assembleia Legislativa, na para mandato de quatro anos, mediante pleito direto e si-
razão de, no máximo, setenta e cinco por cento daquele multâneo realizado em todo o País;

39
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no q) 41 (quarenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais
primeiro domingo de outubro do ano anterior ao término de 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes e de até
do mandato dos que devam suceder, aplicadas as regras do 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes; 
art. 77, no caso de Municípios com mais de duzentos mil r) 43 (quarenta e três) Vereadores, nos Municípios de
eleitores;  mais de 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habi-
III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de tantes e de até 3.000.000 (três milhões) de habitantes; 
janeiro do ano subsequente ao da eleição; s) 45 (quarenta e cinco) Vereadores, nos Municípios
IV - para a composição das Câmaras Municipais, será de mais de 3.000.000 (três milhões) de habitantes e de até
observado o limite máximo de:  (Vide ADIN 4307) 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes; 
a) 9 (nove) Vereadores, nos Municípios de até 15.000 t) 47 (quarenta e sete) Vereadores, nos Municípios de
(quinze mil) habitantes;  mais de 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes e de até
b) 11 (onze) Vereadores, nos Municípios de mais de 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes; 
15.000 (quinze mil) habitantes e de até 30.000 (trinta mil) u) 49 (quarenta e nove) Vereadores, nos Municípios de
habitantes;  mais de 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes e de até
c) 13 (treze) Vereadores, nos Municípios com mais de 6.000.000 (seis milhões) de habitantes; 
30.000 (trinta mil) habitantes e de até 50.000 (cinquenta mil) v) 51 (cinquenta e um) Vereadores, nos Municípios de
habitantes;  mais de 6.000.000 (seis milhões) de habitantes e de até
d) 15 (quinze) Vereadores, nos Municípios de mais de 7.000.000 (sete milhões) de habitantes; 
50.000 (cinquenta mil) habitantes e de até 80.000 (oitenta w) 53 (cinquenta e três) Vereadores, nos Municípios
mil) habitantes;  de mais de 7.000.000 (sete milhões) de habitantes e de até
e) 17 (dezessete) Vereadores, nos Municípios de mais de 8.000.000 (oito milhões) de habitantes; e  
80.000 (oitenta mil) habitantes e de até 120.000 (cento e x) 55 (cinquenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de
vinte mil) habitantes;  mais de 8.000.000 (oito milhões) de habitantes; 
f) 19 (dezenove) Vereadores, nos Municípios de mais de V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Se-
120.000 (cento e vinte mil) habitantes e de até 160.000 (cen- cretários Municipais fixados por lei de iniciativa da Câma-
to sessenta mil) habitantes;  ra Municipal, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, §
g) 21 (vinte e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; 
160.000 (cento e sessenta mil) habitantes e de até 300.000 VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respec-
(trezentos mil) habitantes;  tivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a subse-
h) 23 (vinte e três) Vereadores, nos Municípios de mais quente, observado o que dispõe esta Constituição, observa-
de 300.000 (trezentos mil) habitantes e de até 450.000 (qua- dos os critérios estabelecidos na respectiva Lei Orgânica e os
seguintes limites máximos: 
trocentos e cinquenta mil) habitantes; 
a) em Municípios de até dez mil habitantes, o subsídio
i) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais
máximo dos Vereadores corresponderá a vinte por cento do
de 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes e de
subsídio dos Deputados Estaduais; 
até 600.000 (seiscentos mil) habitantes; 
b) em Municípios de dez mil e um a cinquenta mil habi-
j) 27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de
tantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a
600.000 (seiscentos mil) habitantes e de até 750.000 (sete-
trinta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; 
centos cinquenta mil) habitantes; 
c) em Municípios de cinquenta mil e um a cem mil ha-
k) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de mais
bitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá
de 750.000 (setecentos e cinquenta mil) habitantes e de até
a quarenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; 
900.000 (novecentos mil) habitantes; 
d) em Municípios de cem mil e um a trezentos mil ha-
l) 31 (trinta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de bitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá
900.000 (novecentos mil) habitantes e de até 1.050.000 (um a cinquenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; 
milhão e cinquenta mil) habitantes;  e) em Municípios de trezentos mil e um a quinhentos mil
m) 33 (trinta e três) Vereadores, nos Municípios de mais habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponde-
de 1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes e de rá a sessenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; 
até 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes;  f) em Municípios de mais de quinhentos mil habitantes,
n) 35 (trinta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a setenta e
de 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes e de até cinco por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; 
1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes;  VII - o total da despesa com a remuneração dos Ve-
o) 37 (trinta e sete) Vereadores, nos Municípios de readores não poderá ultrapassar o montante de cinco por
1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes cento da receita do Município; 
e de até 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes;  VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opi-
p) 39 (trinta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais niões, palavras e votos no exercício do mandato e na cir-
de 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes e de cunscrição do Município; 
até 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes; 

40
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

IX - proibições e incompatibilidades, no exercício da Artigo 30, CF. Compete aos Municípios:


vereança, similares, no que couber, ao disposto nesta Consti- I - legislar sobre assuntos de interesse local;
tuição para os membros do Congresso Nacional e na Consti- II - suplementar a legislação federal e a estadual no
tuição do respectivo Estado para os membros da Assembleia que couber;
Legislativa;  III - instituir e arrecadar os tributos de sua competên-
X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;  cia, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obriga-
XI - organização das funções legislativas e fiscalizadoras toriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos
da Câmara Municipal;  fixados em lei;
XII - cooperação das associações representativas no IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a
planejamento municipal;  legislação estadual;
XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de
específico do Município, da cidade ou de bairros, através de concessão ou permissão, os serviços públicos de interes-
manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado;  se local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter
XIV - perda do mandato do Prefeito, nos termos essencial;
do art. 28, parágrafo único (assumir outro cargo).  VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da
União e do Estado, programas de educação infantil e de
Artigo   29-A, CF.   O total da despesa do Poder Le- ensino fundamental; 
gislativo Municipal, incluídos os subsídios dos Vereadores VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da
e excluídos os gastos com inativos, não poderá ultrapassar União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da
os seguintes percentuais, relativos ao somatório da receita população;
tributária e das transferências previstas no § 5o do art. 153 VIII - promover, no que couber, adequado ordenamen-
e nos arts. 158 e 159, efetivamente realizado no exercício to territorial, mediante planejamento e controle do uso, do
anterior:  parcelamento e da ocupação do solo urbano;
I - 7% (sete por cento) para Municípios com população IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cul-
de até 100.000 (cem mil) habitantes;   (Redação dada pela tural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora
Emenda Constituição Constitucional nº 58, de 2009)   (Pro- federal e estadual.
dução de efeito)
II - 6% (seis por cento) para Municípios com população A fiscalização dos Municípios se dá tanto no âmbito
entre 100.000 (cem mil) e 300.000 (trezentos mil) habitantes;  interno quanto no externo. Externamente, é exercida pelo
III - 5% (cinco por cento) para Municípios com popula- Poder Legislativo com auxílio de Tribunal de Contas. A cons-
ção entre 300.001 (trezentos mil e um) e 500.000 (quinhen- tituição, no artigo 31, CF, veda a criação de novos Tribunais
tos mil) habitantes;  de Contas municipais, mas não extingue os já existentes.
IV - 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos por cento)
para Municípios com população entre 500.001 (quinhentos Artigo 31, CF. A fiscalização do Município será exer-
mil e um) e 3.000.000 (três milhões) de habitantes;  cida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante contro-
V - 4% (quatro por cento) para Municípios com popu- le externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder
lação entre 3.000.001 (três milhões e um) e 8.000.000 (oito Executivo Municipal, na forma da lei.
milhões) de habitantes;  § 1º O controle externo da Câmara Municipal será exer-
VI - 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) para cido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados
Municípios com população acima de 8.000.001 (oito milhões ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Con-
e um) habitantes.  tas dos Municípios, onde houver.
§ 1o  A Câmara Municipal não gastará mais de se- § 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente
tenta por cento de sua receita com folha de pagamento, sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar,
incluído o gasto com o subsídio de seus Vereadores.  só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos
§ 2o  Constitui crime de responsabilidade do Prefeito membros da Câmara Municipal.
Municipal:  § 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta
I - efetuar repasse que supere os limites definidos nes- dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte,
te artigo;  para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a
II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou  legitimidade, nos termos da lei.
III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada § 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou
na Lei Orçamentária.  órgãos de Contas Municipais.
§ 3o  Constitui crime de responsabilidade do Presiden-
te da Câmara Municipal o desrespeito ao § 1o deste artigo. 7) Peculiaridades da competência organizacional-
-administrativa do Distrito Federal e Territórios
As competências legislativas e administrativas dos mu- O Distrito Federal não se divide em Municípios, mas
nicípios estão fixadas no artigo 30, CF. Quanto à compe- em regiões administrativas. Se regulamenta por lei or-
tência legislativa, é suplementar, garantindo o direito de gânica, mas esta lei orgânica aproxima-se do status de
legislar sobre assuntos de interesse local.

41
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Constituição estadual, cabendo controle de constitucio- A intervenção pode ser federal, quando a União inter-
nalidade direto de leis que a contrariem pelo Tribunal de fere nos Estados e no Distrito Federal (artigo 34, CF), ou
Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. estadual, quando os Estados-membros interferem em seus
O Distrito Federal possui um governador e uma Câma- Municípios (artigo 35, CF).
ra Legislativa, eleitos na forma dos governadores e deputa-
dos estaduais. Entretanto, não tem eleições municipais. O Artigo 34, CF. A União não intervirá nos Estados nem
Distrito Federal tem 3 senadores, 8 deputados federais e 24 no Distrito Federal, exceto para:
deputados distritais. I - manter a integridade nacional;
Quanto aos territórios, não existem hoje no país, mas II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da
se vierem a existir serão nomeados pelo Presidente da Re- Federação em outra;
pública. III - pôr termo a grave comprometimento da ordem
pública;
Artigo 32, CF. O Distrito Federal, vedada sua divisão IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes
em Municípios, reger-se-á por lei orgânica, votada em nas unidades da Federação;
dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e aprovada V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais
atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição. de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior;
§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fi-
legislativas reservadas aos Estados e Municípios. xadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;
§ 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador, VI - prover a execução de lei federal, ordem ou deci-
observadas as regras do art. 77, e dos Deputados Distri- são judicial;
tais coincidirá com a dos Governadores e Deputados Es- VII - assegurar a observância dos seguintes princípios
taduais, para mandato de igual duração. constitucionais:
§ 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa a) forma republicana, sistema representativo e regi-
aplica-se o disposto no art. 27. me democrático;
§ 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo b) direitos da pessoa humana;
do Distrito Federal, das polícias civil e militar e do corpo c) autonomia municipal;
de bombeiros militar. d) prestação de contas da administração pública, dire-
ta e indireta.
Artigo 33, CF. A lei disporá sobre a organização admi- e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de
nistrativa e judiciária dos Territórios. impostos estaduais, compreendida a proveniente de transfe-
§ 1º Os Territórios poderão ser divididos em Municí- rências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas
pios, aos quais se aplicará, no que couber, o disposto no Ca- ações e serviços públicos de saúde”. 
pítulo IV deste Título.
§ 2º As contas do Governo do Território serão submeti- Artigo 35, CF. O Estado não intervirá em seus Municí-
das ao Congresso Nacional, com parecer prévio do Tribunal pios, nem a União nos Municípios localizados em Territó-
de Contas da União. rio Federal, exceto quando:
§ 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil ha- I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por
bitantes, além do Governador nomeado na forma desta dois anos consecutivos, a dívida fundada;
Constituição, haverá órgãos judiciários de primeira e se- II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
gunda instância, membros do Ministério Público e defenso- III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita
res públicos federais; a lei disporá sobre as eleições para a municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e
Câmara Territorial e sua competência deliberativa. nas ações e serviços públicos de saúde; 
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representa-
Intervenção nos Estados e Municípios ção para assegurar a observância de princípios indicados
A intervenção consiste no afastamento temporário das na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei,
prerrogativas totais ou parciais próprias da autonomia dos de ordem ou de decisão judicial”.
entes federados, por outro ente federado, prevalecendo a
vontade do ente interventor. Neste sentido, necessária a Artigo 36, CF. A decretação da intervenção dependerá:
verificação de: I - no caso do art. 34, IV (livre exercício dos Poderes), de
a) Pressupostos materiais – requisitos a serem verifica- solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Executivo
dos quanto ao atendimento de uma das justificativas para coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo Tribunal
a intervenção. Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário;
b) Pressupostos processuais – requisitos para que o ato II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judi-
da intervenção seja válido, como prazo, abrangência, condi- ciária, de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Supe-
ções, além da autorização do Poder Legislativo (artigo 36, CF). rior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral;

42
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

III de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de Publicidade


representação do Procurador-Geral da República, na hipó- Eficiência
tese do art. 34, VII (observância de princípios constitucio- Para memorizar: veja que as iniciais das palavras for-
nais), e no caso de recusa à execução de lei federal. mam o vocábulo LIMPE, que remete à limpeza esperada da
§ 1º O decreto de intervenção, que especificará a am- Administração Pública. É de fundamental importância um
plitude, o prazo e as condições de execução e que, se cou- olhar atento ao significado de cada um destes princípios,
ber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação posto que eles estruturam todas as regras éticas prescritas
do Congresso Nacional ou da Assembleia Legislativa do no Código de Ética e na Lei de Improbidade Administrativa,
Estado, no prazo de vinte e quatro horas. tomando como base os ensinamentos de Carvalho Filho33
§ 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional e Spitzcovsky34:
ou a Assembleia Legislativa, far-se-á convocação extraor- a) Princípio da legalidade: Para o particular, legali-
dinária, no mesmo prazo de vinte e quatro horas. dade significa a permissão de fazer tudo o que a lei não
§ 3º Nos casos do art. 34, VI e VII (execução de decisão/ proíbe. Contudo, como a administração pública representa
lei federal e violação de certos princípios constitucionais), os interesses da coletividade, ela se sujeita a uma relação
ou do art. 35, IV (idem com relação à intervenção em mu- de subordinação, pela qual só poderá fazer o que a lei ex-
nicípios), dispensada a apreciação pelo Congresso Nacio- pressamente determina (assim, na esfera estatal, é preciso
nal ou pela Assembleia Legislativa, o decreto limitar-se-á a lei anterior editando a matéria para que seja preservado o
suspender a execução do ato impugnado, se essa medida
princípio da legalidade). A origem deste princípio está na
bastar ao restabelecimento da normalidade.
criação do Estado de Direito, no sentido de que o próprio
§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as autorida-
Estado deve respeitar as leis que dita.
des afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impe-
b) Princípio da impessoalidade: Por força dos inte-
dimento legal.
resses que representa, a administração pública está proi-
bida de promover discriminações gratuitas. Discriminar é
tratar alguém de forma diferente dos demais, privilegian-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E SERVIDORES do ou prejudicando. Segundo este princípio, a adminis-
PÚBLICOS CIVIS. tração pública deve tratar igualmente todos aqueles que
se encontrem na mesma situação jurídica (princípio da
isonomia ou igualdade). Por exemplo, a licitação reflete a
1) Princípios da Administração Pública impessoalidade no que tange à contratação de serviços. O
Os valores éticos inerentes ao Estado, os quais permi- princípio da impessoalidade correlaciona-se ao princípio
tem que ele consolide o bem comum e garanta a preser- da finalidade, pelo qual o alvo a ser alcançado pela ad-
vação dos interesses da coletividade, se encontram exte- ministração pública é somente o interesse público. Com
riorizados em princípios e regras. Estes, por sua vez, são efeito, o interesse particular não pode influenciar no tra-
estabelecidos na Constituição Federal e em legislações in- tamento das pessoas, já que deve-se buscar somente a
fraconstitucionais, a exemplo das que serão estudadas nes- preservação do interesse coletivo.
te tópico, quais sejam: Decreto n° 1.171/94, Lei n° 8.112/90 c) Princípio da moralidade: A posição deste princí-
e Lei n° 8.429/92. pio no artigo 37 da CF representa o reconhecimento de
Todas as diretivas de leis específicas sobre a ética no uma espécie de moralidade administrativa, intimamente
setor público partem da Constituição Federal, que estabe- relacionada ao poder público. A administração pública
lece alguns princípios fundamentais para a ética no setor não atua como um particular, de modo que enquanto
público. Em outras palavras, é o texto constitucional do ar- o descumprimento dos preceitos morais por parte deste
tigo 37, especialmente o caput, que permite a compreen- particular não é punido pelo Direito (a priori), o ordena-
são de boa parte do conteúdo das leis específicas, porque mento jurídico adota tratamento rigoroso do comporta-
possui um caráter amplo ao preconizar os princípios fun- mento imoral por parte dos representantes do Estado.
damentais da administração pública. Estabelece a Consti- O princípio da moralidade deve se fazer presente não
tuição Federal: só para com os administrados, mas também no âmbito
interno. Está indissociavelmente ligado à noção de bom
Artigo 37, CF. A administração pública direta e indireta administrador, que não somente deve ser conhecedor da
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito lei, mas também dos princípios éticos regentes da função
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legali- administrativa. TODO ATO IMORAL SERÁ DIRETAMENTE
dade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, ILEGAL OU AO MENOS IMPESSOAL, daí a intrínseca liga-
também, ao seguinte: [...] ção com os dois princípios anteriores.
33 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
São princípios da administração pública, nesta ordem: direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
Legalidade 2010.
Impessoalidade 34 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13.
Moralidade ed. São Paulo: Método, 2011.

43
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

d) Princípio da publicidade: A administração pública a) Princípio da probidade:  um princípio constitucio-


é obrigada a manter transparência em relação a todos seus nal incluído dentro dos princípios específicos da licitação,
atos e a todas informações armazenadas nos seus ban- é o dever de todo o administrador público, o dever de ho-
cos de dados. Daí a publicação em órgãos da imprensa e nestidade e fidelidade com o Estado, com a população, no
a afixação de portarias. Por exemplo, a própria expressão desempenho de suas funções. Possui contornos mais defi-
concurso público (art. 37, II, CF) remonta ao ideário de que nidos do que a moralidade. Diógenes Gasparini35 alerta que
todos devem tomar conhecimento do processo seletivo de alguns autores tratam veem como distintos os princípios
servidores do Estado. Diante disso, como será visto, se ne- da moralidade e da probidade administrativa, mas não há 
gar indevidamente a fornecer informações ao administrado características que permitam tratar os mesmos como pro-
caracteriza ato de improbidade administrativa. cedimentos distintos, sendo no máximo possível afirmar
No mais, prevê o §1º do artigo 37, CF, evitando que o que a probidade administrativa é um aspecto particular da
princípio da publicidade seja deturpado em propaganda moralidade administrativa.
político-eleitoral: b) Princípio da motivação: É a obrigação conferida ao
administrador de motivar todos os atos que edita, gerais
ou de efeitos concretos. É considerado, entre os demais
Artigo 37, §1º, CF. A publicidade dos atos, programas,
princípios, um dos mais importantes, uma vez que sem a
obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter
motivação não há o devido processo legal, uma vez que a
caráter educativo, informativo ou de orientação social,
fundamentação surge como meio interpretativo da decisão
dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que que levou à prática do ato impugnado, sendo verdadeiro
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servido- meio de viabilização do controle da legalidade dos atos da
res públicos. Administração.
Motivar significa mencionar o dispositivo legal aplicá-
Somente pela publicidade os indivíduos controlarão vel ao caso concreto e relacionar os fatos que concreta-
a legalidade e a eficiência dos atos administrativos. Os mente levaram à aplicação daquele dispositivo legal. Todos
instrumentos para proteção são o direito de petição e as os atos administrativos devem ser motivados para que o
certidões (art. 5°, XXXIV, CF), além do habeas data e - resi- Judiciário possa controlar o mérito do ato administrativo
dualmente - do mandado de segurança. Neste viés, ainda, quanto à sua legalidade. Para efetuar esse controle, devem
prevê o artigo 37, CF em seu §3º:  ser observados os motivos dos atos administrativos.
Em relação à necessidade de motivação dos atos ad-
Artigo 37, §3º, CF. A lei disciplinará as formas de par- ministrativos vinculados (aqueles em que a lei aponta um
ticipação do usuário na administração pública direta e único comportamento possível) e dos atos discricionários
indireta, regulando especialmente: (aqueles que a lei, dentro dos limites nela previstos, aponta
I -  as reclamações relativas à prestação dos serviços um ou mais comportamentos possíveis, de acordo com um
públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de juízo de conveniência e oportunidade), a doutrina é unís-
atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e sona na determinação da obrigatoriedade de motivação
interna, da qualidade dos serviços; com relação aos atos administrativos vinculados; todavia,
II -  o acesso dos usuários a registros administrativos e diverge quanto à referida necessidade quanto aos atos dis-
a informações sobre atos de governo, observado o disposto cricionários.
no art. 5º, X e XXXIII; Meirelles36 entende que o ato discricionário, editado
III -  a disciplina da representação contra o exercício ne- sob os limites da Lei, confere ao administrador uma mar-
gligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na admi- gem de liberdade para fazer um juízo de conveniência e
nistração pública. oportunidade, não sendo necessária a motivação. No en-
tanto, se houver tal fundamentação, o ato deverá condi-
cionar-se a esta, em razão da necessidade de observância
e) Princípio da eficiência: A administração pública
da Teoria dos Motivos Determinantes. O entendimento
deve manter o ampliar a qualidade de seus serviços com
majoritário da doutrina, porém, é de que, mesmo no ato
controle de gastos. Isso envolve eficiência ao contratar
discricionário, é necessária a motivação para que se saiba
pessoas (o concurso público seleciona os mais qualifi- qual o caminho adotado pelo administrador. Gasparini37,
cados ao exercício do cargo), ao manter tais pessoas em com respaldo no art. 50 da Lei n. 9.784/98, aponta inclusive
seus cargos (pois é possível exonerar um servidor público a superação de tais discussões doutrinárias, pois o referido
por ineficiência) e ao controlar gastos (limitando o teto de artigo exige a motivação para todos os atos nele elenca-
remuneração), por exemplo. O núcleo deste princípio é a dos, compreendendo entre estes, tanto os atos discricioná-
procura por produtividade e economicidade. Alcança os rios quanto os vinculados.
serviços públicos e os serviços administrativos internos, se 35 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª
referindo diretamente à conduta dos agentes. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
Além destes cinco princípios administrativo-constitu- 36 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo
cionais diretamente selecionados pelo constituinte, podem brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1993.
ser apontados como princípios de natureza ética relaciona- 37 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª
dos à função pública a probidade e a motivação: ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

44
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

2) Regras mínimas sobre direitos e deveres dos ser- No concurso de provas o candidato é avaliado ape-
vidores nas pelo seu desempenho nas provas, ao passo que nos
O artigo 37 da Constituição Federal estabelece os prin- concursos de provas e títulos o seu currículo em toda sua
cípios da administração pública estudados no tópico ante- atividade profissional também é considerado. Cargo em
rior, aos quais estão sujeitos servidores de quaisquer dos comissão é o cargo de confiança, que não exige concurso
Poderes em qualquer das esferas federativas, e, em seus público, sendo exceção à regra geral.
incisos, regras mínimas sobre o serviço público:
Artigo 37, III, CF. O prazo de validade do concurso públi-
Artigo 37, I, CF. Os cargos, empregos e funções públicas co será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual
são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisi- período.
tos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na
forma da lei. Artigo 37, IV, CF. Durante o prazo improrrogável pre-
visto no edital de convocação, aquele aprovado em concur-
Aprofundando a questão, tem-se o artigo 5º da Lei nº so público de provas ou de provas e títulos será convocado
8.112/1990, que prevê: com prioridade sobre novos concursados para assumir car-
go ou emprego, na carreira.
Artigo 5º, Lei nº 8.112/1990. São requisitos básicos para
investidura em cargo público: Prevê o artigo 12 da Lei nº 8.112/1990:
I - a nacionalidade brasileira;
II - o gozo dos direitos políticos; Artigo 12, Lei nº 8.112/1990. O concurso público terá
III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais; validade de até 2 (dois) anos, podendo ser prorrogado uma
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do única vez, por igual período.
cargo; §1º O prazo de validade do concurso e as condições de
V - a idade mínima de dezoito anos; sua realização serão fixados em edital, que será publicado
VI - aptidão física e mental. no Diário Oficial da União e em jornal diário de grande cir-
§ 1º As atribuições do cargo podem justificar a exigên- culação.
cia de outros requisitos estabelecidos em lei. [...] § 2º Não se abrirá novo concurso enquanto houver
§ 3º As universidades e instituições de pesquisa cientí- candidato aprovado em concurso anterior com prazo de
fica e tecnológica federais poderão prover seus cargos com validade não expirado.
professores, técnicos e cientistas estrangeiros, de acordo com
as normas e os procedimentos desta Lei. O edital delimita questões como valor da taxa de ins-
crição, casos de isenção, número de vagas e prazo de vali-
Destaca-se a exceção ao inciso I do artigo 5° da Lei nº dade. Havendo candidatos aprovados na vigência do prazo
8.112/1990 e do inciso I do artigo 37, CF, prevista no arti- do concurso, ele deve ser chamado para assumir eventual
go 207 da Constituição, permitindo que estrangeiros as- vaga e não ser realizado novo concurso.
sumam cargos no ramo da pesquisa, ciência e tecnologia. Destaca-se que o §2º do artigo 37, CF, prevê:

Artigo 37, II, CF. A investidura em cargo ou emprego pú- Artigo 37, §2º, CF. A não-observância do disposto nos in-
blico depende de aprovação prévia em concurso público cisos II e III implicará a nulidade do ato e a punição da
de provas ou de provas e títulos, de acordo com a na- autoridade responsável, nos termos da lei.
tureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma
prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em Com efeito, há tratamento rigoroso da responsabiliza-
comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração. ção daquele que viola as diretrizes mínimas sobre o ingres-
so no serviço público, que em regra se dá por concurso de
Preconiza o artigo 10 da Lei nº 8.112/1990: provas ou de provas e títulos.

Artigo 10, Lei nº 8.112/90. A nomeação para cargo de Artigo 37, V, CF. As funções de confiança, exercidas ex-
carreira ou cargo isolado de provimento efetivo depende de clusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e
prévia habilitação em concurso público de provas ou de pro- os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores
vas e títulos, obedecidos a ordem de classificação e o prazo de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos
de sua validade. previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de di-
Parágrafo único. Os demais requisitos para o ingresso reção, chefia e assessoramento.
e o desenvolvimento do servidor na carreira, mediante pro-
moção, serão estabelecidos pela lei que fixar as diretrizes do Observa-se o seguinte quadro comparativo38:
sistema de carreira na Administração Pública Federal e seus
regulamentos. 38 http://direitoemquadrinhos.blogspot.com.br/2011/03/
quadro-comparativo-funcao-de-confianca.html

45
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Função de Confiança Cargo em Comissão Artigo 37, IX, CF. A lei estabelecerá os casos de contra-
tação por tempo determinado para atender a necessidade
Exercidas exclusivamen- Qualquer pessoa, observado temporária de excepcional interesse público.
te por servidores ocupan- o percentual mínimo reservado
tes de cargo efetivo. ao servidor de carreira.
A Lei nº 8.745/1993 regulamenta este inciso da Cons-
Com concurso públi- Sem concurso público, ressal- tituição, definindo a natureza da relação estabelecida en-
co, já que somente pode vado o percentual mínimo re- tre o servidor contratado e a Administração Pública, para
exercê-la o servidor de servado ao servidor de carreira.
cargo efetivo, mas a fun-
atender à “necessidade temporária de excepcional interes-
ção em si não prescindí- se público”.
vel de concurso público. “Em se tratando de relação subordinada, isto é, de
relação que comporta dependência jurídica do servidor
Somente são conferidas É atribuído posto (lugar) num
atribuições e responsabi- dos quadros da Administração perante o Estado, duas opções se ofereciam: ou a relação
lidade Pública, conferida atribuições seria trabalhista, agindo o Estado iure gestionis, sem usar
e responsabilidade àquele que das prerrogativas de Poder Público, ou institucional, esta-
irá ocupá-lo tutária, preponderando o ius imperii do Estado. Melhor di-
Destinam-se apenas às Destinam-se apenas às atri- zendo: o sistema preconizado pela Carta Política de 1988 é
atribuições de direção, buições de direção, chefia e as- o do contrato, que tanto pode ser trabalhista (inserindo-se
chefia e assessoramento sessoramento na esfera do Direito Privado) quanto administrativo (situan-
do-se no campo do Direito Público). [...] Uma solução in-
De livre nomeação e De livre nomeação e exone-
exoneração no que se ração termediária não deixa, entretanto, de ser legítima. Pode-se,
refere à função e não em com certeza, abonar um sistema híbrido, eclético, no qual
relação ao cargo efetivo. coexistam normas trabalhistas e estatutárias, pondo-se em
contiguidade os vínculos privado e administrativo, no sen-
Artigo 37, VI, CF. É garantido ao servidor público civil o tido de atender às exigências do Estado moderno, que pro-
direito à livre associação sindical. cura alcançar os seus objetivos com a mesma eficácia dos
empreendimentos não-governamentais”39.
A liberdade de associação é garantida aos servidores
públicos tal como é garantida a todos na condição de di- Artigo 37, X, CF. A remuneração dos servidores pú-
reito individual e de direito social. blicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somen-
te poderão ser fixados ou alterados por lei específica,
observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada
Artigo 37, VII, CF. O direito de greve será exercido nos
revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção
termos e nos limites definidos em lei específica.
de índices.
O Supremo Tribunal Federal decidiu que os servidores
Artigo 37, XV, CF. O subsídio e os vencimentos dos
públicos possuem o direito de greve, devendo se atentar ocupantes de cargos e empregos públicos são irredutí-
pela preservação da sociedade quando exercê-lo. Enquan- veis, ressalvado o disposto nos incisos XI e XIV deste artigo
to não for elaborada uma legislação específica para os fun- e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
cionários públicos, deverá ser obedecida a lei geral de gre-
ve para os funcionários privados, qual seja a Lei n° 7.783/89 Artigo 37, §10, CF. É vedada a percepção simultânea
(Mandado de Injunção nº 20). de proventos de aposentadoria decorrentes do art.
40 ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo,
Artigo 37, VIII, CF. A lei reservará percentual dos car- emprego ou função pública, ressalvados os cargos acu-
gos e empregos públicos para as pessoas portadoras de muláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos e
deficiência e definirá os critérios de sua admissão. os cargos em comissão declarados em lei de livre nomea-
ção e exoneração.
Neste sentido, o §2º do artigo 5º da Lei nº 8.112/1990:
Sobre a questão, disciplina a Lei nº 8.112/1990 nos ar-
Artigo 5º, Lei nº 8.112/90. Às pessoas portadoras de de- tigos 40 e 41:
ficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso
público para provimento de cargo cujas atribuições sejam Art. 40. Vencimento é a retribuição pecuniária pelo
compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para exercício de cargo público, com valor fixado em lei.
tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das
vagas oferecidas no concurso. 39 VOGEL NETO, Gustavo Adolpho. Contratação de
servidores para atender a necessidade temporária de ex-
Prossegue o artigo 37, CF: cepcional interesse público. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_39/Artigos/Art_Gustavo.
htm>. Acesso em: 23 dez. 2014.

46
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Art. 41. Remuneração é o vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas
em lei.
§ 1º A remuneração do servidor investido em função ou cargo em comissão será paga na forma prevista no art. 62.
§ 2º O servidor investido em cargo em comissão de órgão ou entidade diversa da de sua lotação receberá a remunera-
ção de acordo com o estabelecido no § 1º do art. 93.
§ 3º O vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens de caráter permanente, é irredutível.
§ 4º É assegurada a isonomia de vencimentos para cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder, ou
entre servidores dos três Poderes, ressalvadas as vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou ao local de
trabalho.
§ 5º Nenhum servidor receberá remuneração inferior ao salário mínimo.

Ainda, o artigo 37 da Constituição:

Artigo 37, XI, CF. A remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da admi-
nistração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou
outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra
natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplican-
do-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Go-
vernador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo
e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por
cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, apli-
cável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos.

Artigo 37, XII, CF. Os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder Judiciário não poderão ser superiores
aos pagos pelo Poder Executivo.

Prevê a Lei nº 8.112/1990 em seu artigo 42:

Artigo 42, Lei nº 8.112/90. Nenhum servidor poderá perceber, mensalmente, a título de remuneração, importância su-
perior à soma dos valores percebidos como remuneração, em espécie, a qualquer título, no âmbito dos respectivos Poderes,
pelos Ministros de Estado, por membros do Congresso Nacional e Ministros do Supremo Tribunal Federal. Parágrafo único.
Excluem-se do teto de remuneração as vantagens previstas nos incisos II a VII do art. 61.

Com efeito, os §§ 11 e 12 do artigo 37, CF tecem aprofundamentos sobre o mencionado inciso XI:

Artigo 37, § 11, CF. Não serão computadas, para efeito dos limites remuneratórios de que trata o inciso XI do caput
deste artigo, as parcelas de caráter indenizatório previstas em lei.

Artigo 37, § 12, CF. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo, fica facultado aos Estados e ao Distrito
Federal fixar, em seu âmbito, mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgânica, como limite único, o subsídio
mensal dos Desembargadores do respectivo Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centési-
mos por cento do subsídio mensal dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo
aos subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores.

Por seu turno, o artigo 37 quanto à vinculação ou equiparação salarial:

Artigo 37, XIII, CF. É vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remu-
neração de pessoal do serviço público.

Os padrões de vencimentos são fixados por conselho de política de administração e remuneração de pessoal, integra-
do por servidores designados pelos respectivos Poderes (artigo 39, caput e § 1º), sem qualquer garantia constitucional de
tratamento igualitário aos cargos que se mostrem similares.

Artigo 37, XIV, CF. Os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público não serão computados nem acumula-
dos para fins de concessão de acréscimos ulteriores.

47
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

A preocupação do constituinte, ao implantar tal pre- Parágrafo único.  O disposto neste artigo não se aplica
ceito, foi de que não eclodisse no sistema remuneratório à remuneração devida pela participação em conselhos de
dos servidores, ou seja, evitar que se utilize uma vantagem administração e fiscal das empresas públicas e sociedades de
como base de cálculo de um outro benefício. Dessa forma, economia mista, suas subsidiárias e controladas, bem como
qualquer gratificação que venha a ser concedida ao servi- quaisquer empresas ou entidades em que a União, direta ou
dor só pode ter como base de cálculo o próprio vencimen- indiretamente, detenha participação no capital social, obser-
to básico. É inaceitável que se leve em consideração outra vado o que, a respeito, dispuser legislação específica.
vantagem até então percebida.
Art.  120, Lei nº 8.112/1990.   O servidor vinculado ao
Artigo 37, XVI, CF. É vedada a acumulação remune- regime desta Lei, que acumular licitamente dois cargos efeti-
rada de cargos públicos, exceto, quando houver com- vos, quando investido em cargo de provimento em comissão,
patibilidade de horários, observado em qualquer caso o ficará afastado de ambos os cargos efetivos, salvo na hipóte-
disposto no inciso XI: a)  a de dois cargos de professor; se em que houver compatibilidade de horário e local com o
b)   a de um cargo de professor com outro, técnico ou exercício de um deles, declarada pelas autoridades máximas
científico; c)  a de dois cargos ou empregos privativos dos órgãos ou entidades envolvidos.
de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas.
“Os artigos 118 a 120 da Lei nº 8.112/90 ao tratarem da
Artigo 37, XVII, CF. A proibição de acumular estende-se acumulação de cargos e funções públicas, regulamentam,
a empregos e funções e abrange autarquias, fundações, no âmbito do serviço público federal a vedação genérica
empresas públicas, sociedades de economia mista, suas constante do art. 37, incisos VXI e XVII, da Constituição da
subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indire- República. De fato, a acumulação ilícita de cargos públicos
tamente, pelo poder público. constitui uma das infrações mais comuns praticadas por
servidores públicos, o que se constata observando o eleva-
Segundo Carvalho Filho40, “o fundamento da proibição do número de processos administrativos instaurados com
esse objeto. O sistema adotado pela Lei nº 8.112/90 é rela-
é impedir que o cúmulo de funções públicas faça com que
tivamente brando, quando cotejado com outros estatutos
o servidor não execute qualquer delas com a necessária efi-
de alguns Estados, visto que propicia ao servidor incurso
ciência. Além disso, porém, pode-se observar que o Cons-
nessa ilicitude diversas oportunidades para regularizar sua
tituinte quis também impedir a cumulação de ganhos em
situação e escapar da pena de demissão. Também prevê a
detrimento da boa execução de tarefas públicas. [...] Nota-
lei em comentário, um processo administrativo simplifica-
-se que a vedação se refere à acumulação remunerada. Em
do (processo disciplinar de rito sumário) para a apuração
consequência, se a acumulação só encerra a percepção de
dessa infração – art. 133” 41.
vencimentos por uma das fontes, não incide a regra cons-
titucional proibitiva”.
Artigo 37, XVIII, CF. A administração fazendária e
A Lei nº 8.112/1990 regulamenta intensamente a questão:
seus servidores fiscais terão, dentro de suas áreas de com-
petência e jurisdição, precedência sobre os demais setores
Artigo 118, Lei nº 8.112/1990.  Ressalvados os casos pre- administrativos, na forma da lei.
vistos na Constituição, é vedada a acumulação remunera-
da de cargos públicos. Artigo 37, XXII, CF. As administrações tributárias da
§ 1o  A proibição de acumular estende-se a cargos, em- União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
pregos e funções em autarquias, fundações públicas, em- atividades essenciais ao funcionamento do Estado, exercidas
presas públicas, sociedades de economia mista da União, do por servidores de carreiras específicas, terão recursos priori-
Distrito Federal, dos Estados, dos Territórios e dos Municípios. tários para a realização de suas atividades e atuarão de
§ 2o  A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condi- forma integrada, inclusive com o compartilhamento de ca-
cionada à comprovação da compatibilidade de horários. dastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio.
§ 3o  Considera-se acumulação proibida a percepção de
vencimento de cargo ou emprego público efetivo com pro- “O Estado tem como finalidade essencial a garantia
ventos da inatividade, salvo quando os cargos de que decor- do bem-estar de seus cidadãos, seja através dos serviços
ram essas remunerações forem acumuláveis na atividade. públicos que disponibiliza, seja através de investimentos
na área social (educação, saúde, segurança pública). Para
Art.  119, Lei nº 8.112/1990.   O servidor não poderá atingir esses objetivos primários, deve desenvolver uma
exercer mais de um cargo em comissão, exceto no caso atividade financeira, com o intuito de obter recursos indis-
previsto no parágrafo único do art. 9o, nem ser remunerado pensáveis às necessidades cuja satisfação se comprometeu
pela participação em órgão de deliberação coletiva.  41 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos Ser-
40 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de vidores Públicos da União. Disponível em: <http://www.ca-
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, naldosconcursos.com.br/artigos/almirmorgado_artigo1.pdf>.
2010. Acesso em: 11 ago. 2013.

48
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

quando estabeleceu o “pacto” constitucional de 1988. [...] Artigo 37, § 9º, CF. O disposto no inciso XI aplica-se às
A importância da Administração Tributária foi reconhecida empresas públicas e às sociedades de economia mista
expressamente pelo constituinte que acrescentou, no arti- e suas subsidiárias, que receberem recursos da União, dos
go 37 da Carta Magna, o inciso XVIII, estabelecendo a sua Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios para paga-
precedência e de seus servidores sobre os demais setores mento de despesas de pessoal ou de custeio em geral.
da Administração Pública, dentro de suas áreas de compe-
tência”42. Continua o artigo 37, CF:

Artigo 37, XIX, CF. Somente por lei específica pode- Artigo 37, XXI, CF. Ressalvados os casos especificados
rá ser criada autarquia e autorizada a instituição de na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão
empresa pública, de sociedade de economia mista e de contratados mediante processo de licitação pública que
fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, assegure igualdade de condições a todos os concorrentes,
definir as áreas de sua atuação. com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento,
mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da
Artigo 37, XX, CF. Depende de autorização legislati- lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação
va, em cada caso, a criação de subsidiárias das entidades técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumpri-
mencionadas no inciso anterior, assim como a participação mento das obrigações.
de qualquer delas em empresa privada.
A Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, regulamenta
Órgãos da administração indireta somente podem ser o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui nor-
criados por lei específica e a criação de subsidiárias des- mas para licitações e contratos da Administração Pública
tes dependem de autorização legislativa (o Estado cria e e dá outras providências. Licitação nada mais é que o con-
controla diretamente determinada empresa pública ou so- junto de procedimentos administrativos (administrativos
ciedade de economia mista, e estas, por sua vez, passam porque parte da administração pública) para as compras
a gerir uma nova empresa, denominada subsidiária. Ex.:
ou serviços contratados pelos governos Federal, Estadual
Transpetro, subsidiária da Petrobrás). “Abrimos um parên-
ou Municipal, ou seja todos os entes federativos. De forma
tese para observar que quase todos os autores que abor-
mais simples, podemos dizer que o governo deve comprar
dam o assunto afirmam categoricamente que, a despeito
e contratar serviços seguindo regras de lei, assim a licita-
da referência no texto constitucional a ‘subsidiárias das
ção é um processo formal onde há a competição entre os
entidades mencionadas no inciso anterior’, somente em-
interessados.
presas públicas e sociedades de economia mista podem ter
subsidiárias, pois a relação de controle que existe entre a
Artigo 37, §5º, CF. A lei estabelecerá os prazos de pres-
pessoa jurídica matriz e a subsidiária seria própria de pes-
crição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor
soas com estrutura empresarial, e inadequada a autarquias
ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as res-
e fundações públicas. OUSAMOS DISCORDAR. Parece-nos
que, se o legislador de um ente federado pretendesse, por pectivas ações de ressarcimento.
exemplo, autorizar a criação de uma subsidiária de uma
fundação pública, NÃO haveria base constitucional para A prescrição dos ilícitos praticados por servidor encon-
considerar inválida sua autorização”43. tra disciplina específica no artigo 142 da Lei nº 8.112/1990:
Ainda sobre a questão do funcionamento da adminis-
tração indireta e de suas subsidiárias, destaca-se o previsto Art. 142, Lei nº 8.112/1990.  A ação disciplinar pres-
nos §§ 8º e 9º do artigo 37, CF: creverá:
I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com
Artigo 37, §8º, CF. A autonomia gerencial, orçamen- demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e
tária e financeira dos órgãos e entidades da administração destituição de cargo em comissão;
direta e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;
a ser firmado entre seus administradores e o poder público, III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto á advertência.
que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho § 1o  O prazo de prescrição começa a correr da data em
para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre: que o fato se tornou conhecido.
I -  o prazo de duração do contrato; § 2o  Os prazos de prescrição previstos na lei penal aplicam-
II -  os controles e critérios de avaliação de desempenho, -se às infrações disciplinares capituladas também como crime.
direitos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes; § 3o  A abertura de sindicância ou a instauração de pro-
III -  a remuneração do pessoal. cesso disciplinar interrompe a prescrição, até a decisão final
42 http://www.sindsefaz.org.br/parecer_administracao_ proferida por autoridade competente.
tributaria_sao_paulo.htm § 4o  Interrompido o curso da prescrição, o prazo come-
43 ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Administrativo çará a correr a partir do dia em que cessar a interrupção.
Descomplicado. São Paulo: GEN, 2014.

49
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Prescrição é um instituto que visa regular a perda do Com o advento da Lei nº 8.429/1992, os agentes públi-
direito de acionar judicialmente. No caso, o prazo é de 5 cos passaram a ser responsabilizados na esfera civil pelos
anos para as infrações mais graves, 2 para as de gravidade atos de improbidade administrativa descritos nos artigos
intermediária (pena de suspensão) e 180 dias para as me- 9º, 10 e 11, ficando sujeitos às penas do art. 12. A exis-
nos graves (pena de advertência), contados da data em que tência de esferas distintas de responsabilidade (civil, penal
o fato se tornou conhecido pela administração pública. Se e administrativa) impede falar-se em bis in idem, já que,
a infração disciplinar for crime, valerão os prazos prescri- ontologicamente, não se trata de punições idênticas, em-
cionais do direito penal, mais longos, logo, menos favorá- bora baseadas no mesmo fato, mas de responsabilização
veis ao servidor. Interrupção da prescrição significa parar a em esferas distintas do Direito.
contagem do prazo para que, retornando, comece do zero. Destaca-se um conceito mais amplo de agente públi-
Da abertura da sindicância ou processo administrativo dis- co previsto pela lei nº 8.429/1992 em seus artigos 1º e 2º
ciplinar até a decisão final proferida por autoridade com- porque o agente público pode ser ou não um servidor pú-
petente não corre a prescrição. Proferida a decisão, o prazo blico. Ele poderá estar vinculado a qualquer instituição ou
começa a contar do zero. Passado o prazo, não caberá mais órgão que desempenhe diretamente o interesse do Estado.
propor ação disciplinar. Assim, estão incluídos todos os integrantes da administra-
ção direta, indireta e fundacional, conforme o preâmbulo
Artigo 37, §7º, CF. A lei disporá sobre os requisitos e as da legislação. Pode até mesmo ser uma entidade privada
restrições ao ocupante de cargo ou emprego da adminis- que desempenhe tais fins, desde que a verba de criação
tração direta e indireta que possibilite o acesso a informa- ou custeio tenha sido ou seja pública em mais de 50%
ções privilegiadas. do patrimônio ou receita anual. Caso a verba pública que
tenha auxiliado uma entidade privada a qual o Estado não
A Lei nº 12.813, de 16 de maio de 2013 dispõe sobre tenha concorrido para criação ou custeio, também have-
o conflito de interesses no exercício de cargo ou emprego rá sujeição às penalidades da lei. Em caso de custeio/cria-
do Poder Executivo federal e impedimentos posteriores ao ção pelo Estado que seja inferior a 50% do patrimônio ou
exercício do cargo ou emprego; e revoga dispositivos da
receita anual, a legislação ainda se aplica. Entretanto, nes-
Lei nº 9.986, de 18 de julho de 2000, e das Medidas Provi-
tes dois casos, a sanção patrimonial se limitará ao que o
sórias nºs 2.216-37, de 31 de agosto de 2001, e 2.225-45,
ilícito repercutiu sobre a contribuição dos cofres públicos.
de 4 de setembro de 2001.
Significa que se o prejuízo causado for maior que a efetiva
Neste sentido, conforme seu artigo 1º:
contribuição por parte do poder público, o ressarcimento
terá que ser buscado por outra via que não a ação de im-
Artigo 1º, Lei nº 12.813/2013. As situações que configu-
probidade administrativa.
ram conflito de interesses envolvendo ocupantes de cargo ou
A legislação em estudo, por sua vez, divide os atos de
emprego no âmbito do Poder Executivo federal, os requisitos
improbidade administrativa em três categorias:
e restrições a ocupantes de cargo ou emprego que tenham
acesso a informações privilegiadas, os impedimentos poste- a) Ato de improbidade administrativa que importe
riores ao exercício do cargo ou emprego e as competências enriquecimento ilícito (artigo 9º, Lei nº 8.429/1992)
para fiscalização, avaliação e prevenção de conflitos de inte- O grupo mais grave de atos de improbidade adminis-
resses regulam-se pelo disposto nesta Lei. trativa se caracteriza pelos elementos: enriquecimento +
ilícito + resultante de uma vantagem patrimonial indevi-
3) Atos de improbidade administrativa da + em razão do exercício de cargo, mandato, emprego,
A Lei n° 8.429/1992 trata da improbidade administra- função ou outra atividade nas entidades do artigo 1° da
tiva, que é uma espécie qualificada de imoralidade, sinôni- Lei nº 8.429/1992.
mo de desonestidade administrativa. A improbidade é uma O enriquecimento deve ser ilícito, afinal, o Estado não
lesão ao princípio da moralidade, que deve ser respeita- se opõe que o indivíduo enriqueça, desde que obedeça aos
do estritamente pelo servidor público. O agente ímprobo ditames morais, notadamente no desempenho de função
sempre será um violador do princípio da moralidade, pelo de interesse estatal.
qual “a Administração Pública deve agir com boa-fé, since- Exige-se que o sujeito obtenha vantagem patrimo-
ridade, probidade, lhaneza, lealdade e ética”44. nial ilícita. Contudo, é dispensável que efetivamente tenha
A atual Lei de Improbidade Administrativa foi criada ocorrido dano aos cofres públicos (por exemplo, quando
devido ao amplo apelo popular contra certas vicissitudes um policial recebe propina pratica ato de improbidade ad-
do serviço público que se intensificavam com a ineficácia ministrativa, mas não atinge diretamente os cofres públi-
do diploma então vigente, o Decreto-Lei nº 3240/41. De- cos).
correu, assim, da necessidade de acabar com os atos aten- Como fica difícil imaginar que alguém possa se enri-
tatórios à moralidade administrativa e causadores de pre- quecer ilicitamente por negligência, imprudência ou im-
juízo ao erário público ou ensejadores de enriquecimento perícia, todas as condutas configuram atos dolosos (com
ilícito, infelizmente tão comuns no Brasil. intenção). Não cabe prática por omissão.45
44 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional 45 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13.
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. ed. São Paulo: Método, 2011.

50
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

b) Ato de improbidade administrativa que importe Com efeito, os municípios não poderão fixar dentro de
lesão ao erário (artigo 10, Lei nº 8.429/1992) sua competência constitucional alíquotas inferiores a 2%
O grupo intermediário de atos de improbidade admi- para atrair e fomentar investimentos novos (incentivo fis-
nistrativa se caracteriza pelos elementos: causar dano ao cal), prejudicando os municípios vizinhos.
erário ou aos cofres públicos + gerando perda patrimo- Em razão disso, tipifica-se como ato de improbidade
nial ou dilapidação do patrimônio público. Assim como administrativa a eventual concessão do benefício abaixo da
o artigo anterior, o caput descreve a fórmula genérica e alíquota mínima.
os incisos algumas atitudes específicas que exemplificam d) Ato de improbidade administrativa que atente
o seu conteúdo46. contra os princípios da administração pública (artigo
Perda patrimonial é o gênero, do qual são espécies: 11, Lei nº 8.429/1992)
desvio, que é o direcionamento indevido; apropriação, que Nos termos do artigo 11 da Lei nº 8.429/1992, “cons-
é a transferência indevida para a própria propriedade; mal- titui ato de improbidade administrativa que atenta contra
baratamento, que significa desperdício; e dilapidação, que os princípios da administração pública qualquer ação ou
se refere a destruição47. omissão que viole os deveres de honestidade, imparcia-
O objeto da tutela é a preservação do patrimônio pú- lidade, legalidade, e lealdade às instituições [...]”. O gru-
blico, em todos seus bens e valores. O pressuposto exigível po mais ameno de atos de improbidade administrativa se
é a ocorrência de dano ao patrimônio dos sujeitos passivos. caracteriza pela simples violação a princípios da admi-
Este artigo admite expressamente a variante culposa, o nistração pública, ou seja, aplica-se a qualquer atitude do
que muitos entendem ser inconstitucional. O STJ, no REsp sujeito ativo que viole os ditames éticos do serviço público.
n° 939.142/RJ, apontou alguns aspectos da inconstitu- Isto é, o legislador pretende a preservação dos princípios
cionalidade do artigo. Contudo, “a jurisprudência do gerais da administração pública50.
STJ consolidou a tese de que é indispensável a existên- O objeto de tutela são os princípios constitucionais.
cia de dolo nas condutas descritas nos artigos 9º e 11 e Basta a vulneração em si dos princípios, sendo dispensáveis
ao menos de culpa nas hipóteses do artigo 10, nas quais o enriquecimento ilícito e o dano ao erário. Somente é pos-
o dano ao erário precisa ser comprovado. De acordo
sível a prática de algum destes atos com dolo (intenção),
com o ministro Castro Meira, a conduta culposa ocorre
embora caiba a prática por ação ou omissão.
quando o agente não pretende atingir o resultado da-
Será preciso utilizar razoabilidade e proporcionalida-
noso, mas atua com negligência, imprudência ou impe-
de para não permitir a caracterização de abuso de poder,
rícia (REsp n° 1.127.143)”48. Para Carvalho Filho49, não há
diante do conteúdo aberto do dispositivo. Na verdade,
inconstitucionalidade na modalidade culposa, lembrando
trata-se de tipo subsidiário, ou seja, que se aplica quando
que é possível dosar a pena conforme o agente aja com
o ato de improbidade administrativa não tiver gerado ob-
dolo ou culpa.
tenção de vantagem
O ponto central é lembrar que neste artigo não se exi-
Com efeito, os atos de improbidade administrativa
ge que o sujeito ativo tenha percebido vantagens indevi-
não são crimes de responsabilidade. Trata-se de punição
das, basta o dano ao erário. Se tiver recebido vantagem
indevida, incide no artigo anterior. Exceto pela não per- na esfera cível, não criminal. Por isso, caso o ato configure
cepção da vantagem indevida, os tipos exemplificados se simultaneamente um ato de improbidade administrativa
aproximam muito dos previstos nos incisos do art. 9°. desta lei e um crime previsto na legislação penal, o que
c) Ato de Improbidade Administrativa Decorrentes é comum no caso do artigo 9°, responderá o agente por
de Concessão ou Aplicação Indevida de Benefício Fi- ambos, nas duas esferas.
nanceiro ou Tributário (Incluído pela Lei Complementar nº
157, de 2016) Em suma, a lei encontra-se estruturada da seguinte
Uma das alterações recentes à disciplina do ISS visou forma: inicialmente, trata das vítimas possíveis (sujeito pas-
evitar a continuidade da guerra fiscal entre os municípios, sivo) e daqueles que podem praticar os atos de improbida-
fixando-se a alíquota mínima em 2%. de administrativa (sujeito ativo); ainda, aborda a reparação
do dano ao lesionado e o ressarcimento ao patrimônio
46 Ibid. público; após, traz a tipologia dos atos de improbidade ad-
47 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de ministrativa, isto é, enumera condutas de tal natureza; se-
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, guindo-se à definição das sanções aplicáveis; e, finalmente,
2010.
descreve os procedimentos administrativo e judicial.
48 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Improbidade
No caso do art. 9°, categoria mais grave, o agente ob-
administrativa: desonestidade na gestão dos recursos públi-
tém um enriquecimento ilícito (vantagem econômica inde-
cos. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/portal_stj/publica-
cao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=103422>. Acesso vida) e pode ainda causar dano ao erário, por isso, deverá
em: 26 mar. 2013. não só reparar eventual dano causado mas também colo-
49 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de car nos cofres públicos tudo o que adquiriu indevidamente.
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 50 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13.
2010. ed. São Paulo: Método, 2011.

51
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Ou seja, poderá pagar somente o que enriqueceu indevida- - Multa: a lei indica inflexibilidade no limite máximo,
mente ou este valor acrescido do valor do prejuízo causado mas flexibilidade dentro deste limite, podendo os julga-
aos cofres públicos (quanto o Estado perdeu ou deixou de dos nesta margem optar pela mais adequada. Há ainda
ganhar). No caso do artigo 10, não haverá enriquecimento variabilidade na base de cálculo, conforme o tipo de ato
ilícito, mas sempre existirá dano ao erário, o qual será re- de improbidade (a base será o valor do enriquecimento ou
parado (eventualmente, ocorrerá o enriquecimento ilícito, o valor do dano ou o valor da remuneração do agente). A
devendo o valor adquirido ser tomado pelo Estado). Na hi- natureza da multa é de sanção civil, não possuindo caráter
pótese do artigo 10-A, não se denota nem enriquecimento indenizatório, mas punitivo.
ilícito e nem dano ao erário, pois no máximo a prática de - Proibição de receber benefícios: não se incluem as
guerra fiscal pode gerar. Já no artigo 11, o máximo que imunidades genéricas e o agente punido deve ser ao me-
pode ocorrer é o dano ao erário, com o devido ressarci- nos sócio majoritário da instituição vitimada.
mento. Além disso, em todos os casos há perda da função - Proibição de contratar: o agente punido não pode
participar de processos licitatórios.
pública. Nas três categorias, são estabelecidas sanções de
suspensão dos direitos políticos, multa e vedação de con-
4) Responsabilidade civil do Estado e de seus ser-
tratação ou percepção de vantagem, graduadas conforme
vidores
a gravidade do ato. É o que se depreende da leitura do
O instituto da responsabilidade civil é parte integran-
artigo 12 da Lei nº 8.929/1992 como §4º do artigo 37, CF,
te do direito obrigacional, uma vez que a principal conse-
que prevê: “Os atos de improbidade administrativa im- quência da prática de um ato ilícito é a obrigação que gera
portarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da para o seu auto de reparar o dano, mediante o pagamen-
função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressar- to de indenização que se refere às perdas e danos. Afinal,
cimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, quem pratica um ato ou incorre em omissão que gere dano
sem prejuízo da ação penal cabível”. deve suportar as consequências jurídicas decorrentes, res-
A única sanção que se encontra prevista na Lei nº taurando-se o equilíbrio social.53
8.429/1992 mas não na Constituição Federal é a de mul- A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal, po-
ta. (art. 37, §4°, CF). Não há nenhuma inconstitucionalidade dendo recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até os
disto, pois nada impediria que o legislador infraconstitu- limites da herança, embora existam reflexos na ação que
cional ampliasse a relação mínima de penalidades da Cons- apure a responsabilidade civil conforme o resultado na es-
tituição, pois esta não limitou tal possibilidade e porque a fera penal (por exemplo, uma absolvição por negativa de
lei é o instrumento adequado para tanto51. autoria impede a condenação na esfera cível, ao passo que
Carvalho Filho52 tece considerações a respeito de algu- uma absolvição por falta de provas não o faz).
mas das sanções: A responsabilidade civil do Estado acompanha o racio-
- Perda de bens e valores: “tal punição só incide sobre cínio de que a principal consequência da prática de um ato
os bens acrescidos após a prática do ato de improbidade. ilícito é a obrigação que gera para o seu auto de reparar o
Se alcançasse anteriores, ocorreria confisco, o que restaria dano, mediante o pagamento de indenização que se re-
sem escora constitucional. Além disso, o acréscimo deve fere às perdas e danos. Todos os cidadãos se sujeitam às
derivar de origem ilícita”. regras da responsabilidade civil, tanto podendo buscar o
- Ressarcimento integral do dano: há quem entenda ressarcimento do dano que sofreu quanto respondendo
que engloba dano moral. Cabe acréscimo de correção mo- por aqueles danos que causar. Da mesma forma, o Estado
netária e juros de mora. tem o dever de indenizar os membros da sociedade pelos
- Perda de função pública: “se o agente é titular de danos que seus agentes causem durante a prestação do
mandato, a perda se processa pelo instrumento de cassa- serviço, inclusive se tais danos caracterizarem uma violação
aos direitos humanos reconhecidos.
ção. Sendo servidor estatutário, sujeitar-se-á à demissão
Trata-se de responsabilidade extracontratual porque
do serviço público. Havendo contrato de trabalho (servido-
não depende de ajuste prévio, basta a caracterização de
res trabalhistas e temporários), a perda da função pública
elementos genéricos pré-determinados, que perpassam
se consubstancia pela rescisão do contrato com culpa do
pela leitura concomitante do Código Civil (artigos 186, 187
empregado. No caso de exercer apenas uma função públi-
e 927) com a Constituição Federal (artigo 37, §6°).
ca, fora de tais situações, a perda se dará pela revogação Genericamente, os elementos da responsabilidade civil
da designação”. Lembra-se que determinadas autoridades se encontram no art. 186 do Código Civil:
se sujeitam a procedimento especial para perda da função
pública, ponto em que não se aplica a Lei de Improbidade Artigo 186, CC. Aquele que, por ação ou omissão
Administrativa. voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
51 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, comete ato ilícito.
2010. 53 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade
52 Ibid. Civil. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

52
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Este é o artigo central do instituto da responsabilidade provar a culpa do agente pelo dano causado, ao qual foi
civil, que tem como elementos: ação ou omissão voluntária anteriormente condenado a reparar. Direito de regresso é
(agir como não se deve ou deixar de agir como se deve), justamente o direito de acionar o causador direto do dano
culpa ou dolo do agente (dolo é a vontade de cometer uma para obter de volta aquilo que pagou à vítima, considerada
violação de direito e culpa é a falta de diligência), nexo a existência de uma relação obrigacional que se forma entre
causal (relação de causa e efeito entre a ação/omissão e a vítima e a instituição que o agente compõe.
o dano causado) e dano (dano é o prejuízo sofrido pelo Assim, o Estado responde pelos danos que seu agen-
agente, que pode ser individual ou coletivo, moral ou ma- te causar aos membros da sociedade, mas se este agen-
terial, econômico e não econômico). te agiu com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do
1) Dano - somente é indenizável o dano certo, espe- que foi pago à vítima. O agente causará danos ao praticar
cial e anormal. Certo é o dano real, existente. Especial é condutas incompatíveis com o comportamento ético dele
o dano específico, individualizado, que atinge determina- esperado.54
da ou determinadas pessoas. Anormal é o dano que ul- A responsabilidade civil do servidor exige prévio pro-
trapassa os problemas comuns da vida em sociedade (por cesso administrativo disciplinar no qual seja assegurado
exemplo, infelizmente os assaltos são comuns e o Estado contraditório e ampla defesa. Trata-se de responsabilida-
não responde por todo assalto que ocorra, a não ser que de civil subjetiva ou com culpa. Havendo ação ou omis-
na circunstância específica possuía o dever de impedir o são com culpa do servidor que gere dano ao erário (Ad-
assalto, como no caso de uma viatura presente no local - ministração) ou a terceiro (administrado), o servidor terá o
muito embora o direito à segurança pessoal seja um direito dever de indenizar.
humano reconhecido). Não obstante, agentes públicos que pratiquem atos
2) Agentes públicos - é toda pessoa que trabalhe den- violadores de direitos humanos se sujeitam à responsabi-
tro da administração pública, tenha ingressado ou não por lidade penal e à responsabilidade administrativa, todas
concurso, possua cargo, emprego ou função. Envolve os autônomas uma com relação à outra e à já mencionada
agentes políticos, os servidores públicos em geral (funcio- responsabilidade civil. Neste sentido, o artigo 125 da Lei
nários, empregados ou temporários) e os particulares em
nº 8.112/90:
colaboração (por exemplo, jurado ou mesário).
3) Dano causado quando o agente estava agindo nesta
Artigo 125, Lei nº 8.112/1990. As sanções civis, penais
qualidade - é preciso que o agente esteja lançando mão
e administrativas poderão cumular-se, sendo independentes
das prerrogativas do cargo, não agindo como um particular.
entre si.
Sem estes três requisitos, não será possível acionar o
Estado para responsabilizá-lo civilmente pelo dano, por
No caso da responsabilidade civil, o Estado é direta-
mais relevante que tenha sido a esfera de direitos atingida.
mente acionado e responde pelos atos de seus servido-
Assim, não é qualquer dano que permite a responsabiliza-
res que violem direitos humanos, cabendo eventualmente
ção civil do Estado, mas somente aquele que é causado por
ação de regresso contra ele. Contudo, nos casos da res-
um agente público no exercício de suas funções e que ex-
ponsabilidade penal e da responsabilidade administrativa
ceda as expectativas do lesado quanto à atuação do Estado.
aciona-se o agente público que praticou o ato.
É preciso lembrar que não é o Estado em si que viola os
São inúmeros os exemplos de crimes que podem ser
direitos humanos, porque o Estado é uma ficção formada
praticados pelo agente público no exercício de sua função
por um grupo de pessoas que desempenham as atividades
que violam direitos humanos. A título de exemplo, pecula-
estatais diversas. Assim, viola direitos humanos não o Esta-
to, consistente em apropriação ou desvio de dinheiro pú-
do em si, mas o agente que o representa, fazendo com que
o próprio Estado seja responsabilizado por isso civilmente, blico (art. 312, CP), que viola o bem comum e o interesse
pagando pela indenização (reparação dos danos materiais da coletividade; concussão, que é a exigência de vantagem
e morais). Sem prejuízo, com relação a eles, caberá ação de indevida (art. 316, CP), expondo a vítima a uma situação de
regresso se agiram com dolo ou culpa. constrangimento e medo que viola diretamente sua digni-
Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal: dade; tortura, a mais cruel forma de tratamento humano,
cuja pena é agravada quando praticada por funcionário
Artigo 37, §6º, CF. As pessoas jurídicas de direito públi- público (art. 1º, §4º, I, Lei nº 9.455/97); etc.
co e as de direito privado prestadoras de serviços públicos Quanto à responsabilidade administrativa, menciona-
responderão pelos danos que seus agentes, nessa quali- -se, a título de exemplo, as penalidades cabíveis descritas
dade, causarem a terceiros, assegurado o direito de re- no art. 127 da Lei nº 8.112/90, que serão aplicadas pelo
gresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. funcionário que violar a ética do serviço público, como ad-
vertência, suspensão e demissão.
Este artigo deixa clara a formação de uma relação jurídica Evidencia-se a independência entre as esferas civil, pe-
autônoma entre o Estado e o agente público que causou o nal e administrativa no que tange à responsabilização do
dano no desempenho de suas funções. Nesta relação, a res- agente público que cometa ato ilícito.
ponsabilidade civil será subjetiva, ou seja, caberá ao Estado 54 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13.
ed. São Paulo: Método, 2011.

53
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Tomadas as exigências de características dos danos 6) Regime de remuneração e previdência dos servi-
acima colacionadas, notadamente a anormalidade, con- dores públicos
sidera-se que para o Estado ser responsabilizado por um Regulamenta-se o regime de remuneração e previdên-
dano, ele deve exceder expectativas cotidianas, isto é, não cia dos servidores públicos nos artigo 39 e 40 da Constitui-
cabe exigir do Estado uma excepcional vigilância da socie- ção Federal:
dade e a plena cobertura de todas as fatalidades que pos-
sam acontecer em território nacional. Artigo 39, CF. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Diante de tal premissa, entende-se que a responsa- Municípios instituirão conselho de política de administra-
bilidade civil do Estado será objetiva apenas no caso de ção e remuneração de pessoal, integrado por servidores
ações, mas subjetiva no caso de omissões. Em outras pa- designados pelos respectivos Poderes. (Redação dada pela
lavras, verifica-se se o Estado se omitiu tendo plenas con- Emenda Constitucional nº 19, de 1998 e aplicação suspensa
dições de não ter se omitido, isto é, ter deixado de agir pela ADIN nº 2.135-4, destacando-se a redação anterior: “A
quando tinha plenas condições de fazê-lo, acarretando em União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios institui-
prejuízo dentro de sua previsibilidade. rão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e
São casos nos quais se reconheceu a responsabilida- planos de carreira para os servidores da administração pú-
de omissiva do Estado: morte de filho menor em creche blica direta, das autarquias e das fundações públicas”).
municipal, buracos não sinalizados na via pública, tentativa § 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos de-
de assalto a usuário do metrô resultando em morte, danos mais componentes do sistema remuneratório observará:
provocados por enchentes e escoamento de águas pluviais I -  a natureza, o grau de responsabilidade e a complexi-
quando o Estado sabia da problemática e não tomou pro- dade dos cargos componentes de cada carreira;
vidência para evitá-las, morte de detento em prisão, incên- II -  os requisitos para a investidura;
dio em casa de shows fiscalizada com negligência, etc. III -  as peculiaridades dos cargos.
Logo, não é sempre que o Estado será responsabili- § 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão
zado. Há excludentes da responsabilidade estatal, nota- escolas de governo para a formação e o aperfeiçoamento
dos servidores públicos, constituindo-se a participação nos
damente: a) caso fortuito (fato de terceiro) ou força maior
cursos um dos requisitos para a promoção na carreira, facul-
(fato da natureza) fora dos alcances da previsibilidade do
tada, para isso, a celebração de convênios ou contratos entre
dano; b) culpa exclusiva da vítima.
os entes federados.
§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo
5) Exercício de mandato eletivo por servidores públicos
público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII,
A questão do exercício de mandato eletivo pelo servi-
XV,XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabe-
dor público encontra previsão constitucional em seu artigo
lecer requisitos diferenciados de admissão quando a nature-
38, que notadamente estabelece quais tipos de mandatos
za do cargo o exigir.
geram incompatibilidade ao serviço público e regulamenta
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eleti-
a questão remuneratória:
vo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Mu-
nicipais serão remunerados exclusivamente por subsídio
Artigo 38, CF.  Ao servidor público da administração fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer
direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de represen-
eletivo, aplicam-se as seguintes disposições: tação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qual-
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou quer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função; § 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do Municípios poderá estabelecer a relação entre a maior e
cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela a menor remuneração dos servidores públicos, obedecido,
sua remuneração; em qualquer caso, o disposto no art. 37, XI.
III - investido no mandato de Vereador, havendo compa- § 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário pu-
tibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, blicarão anualmente os valores do subsídio e da remunera-
emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo ção dos cargos e empregos públicos.
eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada a § 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
norma do inciso anterior; Municípios disciplinará a aplicação de recursos orçamen-
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o tários provenientes da economia com despesas correntes
exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será em cada órgão, autarquia e fundação, para aplicação no
contado para todos os efeitos legais, exceto para promo- desenvolvimento de programas de qualidade e produtivi-
ção por merecimento; dade, treinamento e desenvolvimento, modernização, rea-
V - para efeito de benefício previdenciário, no caso parelhamento e racionalização do serviço público, inclusive
de afastamento, os valores serão determinados como se no sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade.
exercício estivesse. § 8º A remuneração dos servidores públicos organiza-
dos em carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º.

54
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Artigo 40, CF.  Aos servidores titulares de cargos efeti- § 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de
vos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni- pensão por morte, que será igual:
cípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado I - ao valor da totalidade dos proventos do servidor fa-
regime de previdência de caráter contributivo e solidário, lecido, até o limite máximo estabelecido para os benefícios
mediante contribuição do respectivo ente público, dos ser- do regime geral de previdência social de que trata o art. 201,
vidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados cri- acrescido de setenta por cento da parcela excedente a este
térios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o limite, caso aposentado à data do óbito; ou
disposto neste artigo. II - ao valor da totalidade da remuneração do servidor
§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previ- no cargo efetivo em que se deu o falecimento, até o limite
dência de que trata este artigo serão aposentados, calcula- máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de
dos os seus proventos a partir dos valores fixados na forma previdência social de que trata o art. 201, acrescido de se-
dos §§ 3º e 17: tenta por cento da parcela excedente a este limite, caso em
atividade na data do óbito.
I - por invalidez permanente, sendo os proventos pro-
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para
porcionais ao tempo de contribuição, exceto se decor-
preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, confor-
rente de acidente em serviço, moléstia profissional ou
me critérios estabelecidos em lei.
doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei;
§ 9º O tempo de contribuição federal, estadual ou mu-
II - compulsoriamente, com proventos proporcionais nicipal será contado para efeito de aposentadoria e o
ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, tempo de serviço correspondente para efeito de dispo-
ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei nibilidade.
complementar; § 10. A lei não poderá estabelecer qualquer forma de
III - voluntariamente, desde que cumprido tempo mí- contagem de tempo de contribuição fictício.
nimo de dez anos de efetivo exercício no serviço público § 11. Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma
e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposenta- total dos proventos de inatividade, inclusive quando de-
doria, observadas as seguintes condições: correntes da acumulação de cargos ou empregos públicos,
a)  sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribui- bem como de outras atividades sujeitas a contribuição para
ção, se homem, e cinquenta e cinco anos de idade e trinta o regime geral de previdência social, e ao montante resul-
de contribuição, se mulher; tante da adição de proventos de inatividade com remunera-
b)  sessenta e cinco anos de idade, se homem, e ses- ção de cargo acumulável na forma desta Constituição, cargo
senta anos de idade, se mulher, com proventos propor- em comissão declarado em lei de livre nomeação e exonera-
cionais ao tempo de contribuição. ção, e de cargo eletivo.
§ 2º Os proventos de aposentadoria e as pensões, por § 12. Além do disposto neste artigo, o regime de pre-
ocasião de sua concessão, não poderão exceder a remu- vidência dos servidores públicos titulares de cargo efetivo
neração do respectivo servidor, no cargo efetivo em que observará, no que couber, os requisitos e critérios fixados
se deu a aposentadoria ou que serviu de referência para a para o regime geral de previdência social.
concessão da pensão. § 13. Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo
§ 3º Para o cálculo dos proventos de aposentadoria, em comissão declarado em lei de livre nomeação e exone-
por ocasião da sua concessão, serão consideradas as re- ração bem como de outro cargo temporário ou de emprego
munerações utilizadas como base para as contribuições do público, aplica-se o regime geral de previdência social.
servidor aos regimes de previdência de que tratam este ar- § 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
tigo e o art. 201, na forma da lei. nicípios, desde que instituam regime de previdência com-
plementar para os seus respectivos servidores titulares de
§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios dife-
cargo efetivo, poderão fixar, para o valor das aposenta-
renciados para a concessão de aposentadoria aos abrangidos
dorias e pensões a serem concedidas pelo regime de que
pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos
trata este artigo, o limite máximo estabelecido para os
definidos em leis complementares, os casos de servidores:
benefícios do regime geral de previdência social de que
I -  portadores de deficiência; trata o art. 201.
II -  que exerçam atividades de risco; § 15. O regime de previdência complementar de que
III -  cujas atividades sejam exercidas sob condições es- trata o § 14 será instituído por lei de iniciativa do respectivo
peciais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. Poder Executivo, observado o disposto no art. 202 e seus
§ 5º Os requisitos de idade e de tempo de contribui- parágrafos, no que couber, por intermédio de entidades fe-
ção serão reduzidos em cinco anos, em relação ao disposto chadas de previdência complementar, de natureza pública,
no § 1º, III, a, para o professor que comprove exclusivamen- que oferecerão aos respectivos participantes planos de be-
te tempo de efetivo exercício das funções de magistério na nefícios somente na modalidade de contribuição definida.
educação infantil e no ensino fundamental e médio. § 16. Somente mediante sua prévia e expressa opção,
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos car- o disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor
gos acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada que tiver ingressado no serviço público até a data da publi-
a percepção de mais de uma aposentadoria à conta do cação do ato de instituição do correspondente regime de
regime de previdência previsto neste artigo. previdência complementar.

55
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

§ 17. Todos os valores de remuneração considerados meses, durante o qual a sua aptidão e capacidade serão ob-
para o cálculo do benefício previsto no § 3° serão devida- jeto de avaliação para o desempenho do cargo, observados
mente atualizados, na forma da lei. os seguinte fatores:
§ 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de apo- I - assiduidade;
sentadorias e pensões concedidas pelo regime de que tra- II - disciplina;
ta este artigo que superem o limite máximo estabelecido III - capacidade de iniciativa;
para os benefícios do regime geral de previdência social de IV - produtividade;
que trata o art. 201, com percentual igual ao estabelecido V - responsabilidade.
para os servidores titulares de cargos efetivos. § 1º 4 (quatro) meses antes de findo o período do está-
§ 19. O servidor de que trata este artigo que tenha gio probatório, será submetida à homologação da autori-
completado as exigências para aposentadoria voluntária dade competente a avaliação do desempenho do servidor,
estabelecidas no § 1º, III, a, e que opte por permanecer em realizada por comissão constituída para essa finalidade,
atividade fará jus a um abono de permanência equivalente ao
de acordo com o que dispuser a lei ou o regulamento da
valor da sua contribuição previdenciária até completar as exi-
respectiva carreira ou cargo, sem prejuízo da continuidade
gências para aposentadoria compulsória contidas no § 1º, II.
de apuração dos fatores enumerados nos incisos I a V do
§ 20. Fica vedada a existência de mais de um regime
caput deste artigo.
próprio de previdência social para os servidores titula-
§ 2º O servidor não aprovado no estágio probatório
res de cargos efetivos, e de mais de uma unidade gesto-
ra do respectivo regime em cada ente estatal, ressalvado o será exonerado ou, se estável, reconduzido ao cargo an-
disposto no art. 142, § 3º, X. teriormente ocupado, observado o disposto no parágrafo
§ 21. A contribuição prevista no § 18 deste artigo incidirá único do art. 29.
apenas sobre as parcelas de proventos de aposentadoria e § 3º O servidor em estágio probatório poderá exercer
de pensão que superem o dobro do limite máximo estabeleci- quaisquer cargos de provimento em comissão ou funções
do para os benefícios do regime geral de previdência social de de direção, chefia ou assessoramento no órgão ou enti-
que trata o art. 201 desta Constituição, quando o beneficiário, dade de lotação, e somente poderá ser cedido a outro ór-
na forma da lei, for portador de doença incapacitante. gão ou entidade para ocupar cargos de Natureza Especial,
cargos de provimento em comissão do Grupo-Direção e
7) Estágio probatório e perda do cargo Assessoramento Superiores - DAS, de níveis 6, 5 e 4, ou
Estabelece a Constituição Federal em seu artigo 41, a equivalentes.
ser lido em conjunto com o artigo 20 da Lei nº 8.112/1990: § 4º Ao servidor em estágio probatório somente pode-
rão ser concedidas as licenças e os afastamentos previstos
Artigo 41, CF.  São estáveis após três anos de efetivo nos arts. 81, incisos I a IV, 94, 95 e 96, bem assim afasta-
exercício os servidores nomeados para cargo de provi- mento para participar de curso de formação decorrente de
mento efetivo em virtude de concurso público. aprovação em concurso para outro cargo na Administração
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo: Pública Federal.
I -  em virtude de sentença judicial transitada em julgado; § 5º O estágio probatório ficará suspenso durante
II -  mediante processo administrativo em que lhe as licenças e os afastamentos previstos nos arts. 83, 84,
seja assegurada ampla defesa; § 1o, 86 e 96, bem assim na hipótese de participação em
III -  mediante procedimento de avaliação periódica curso de formação, e será retomado a partir do término do
de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada impedimento.
ampla defesa.
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do
O estágio probatório pode ser definido como um lapso
servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupan-
de tempo no qual a aptidão e capacidade do servidor serão
te da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, sem
avaliadas de acordo com critérios de assiduidade, discipli-
direito a indenização, aproveitado em outro cargo ou posto
na, capacidade de iniciativa, produtividade e responsabili-
em disponibilidade com remuneração proporcional ao tem-
dade. O servidor não aprovado no estágio probatório será
po de serviço.
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessi- exonerado ou, se estável, reconduzido ao cargo anterior-
dade, o servidor estável ficará em disponibilidade, com mente ocupado. Não existe vedação para um servidor em
remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu ade- estágio probatório exercer quaisquer cargos de provimen-
quado aproveitamento em outro cargo. to em comissão ou funções de direção, chefia ou assesso-
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, ramento no órgão ou entidade de lotação.
é obrigatória a avaliação especial de desempenho por co- Desde a Emenda Constitucional nº 19 de 1998, a disci-
missão instituída para essa finalidade. plina do estágio probatório mudou, notadamente aumen-
tando o prazo de 2 anos para 3 anos. Tendo em vista que a
Art. 20, Lei nº 8.112/1990. Ao entrar em exercício, o ser- norma constitucional prevalece sobre a lei federal, mesmo
vidor nomeado para cargo de provimento efetivo ficará su- que ela não tenha sido atualizada, deve-se seguir o dispos-
jeito a estágio probatório por período de 24 (vinte e quatro) to no artigo 41 da Constituição Federal.

56
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Uma vez adquirida a aprovação no estágio probató-


rio, o servidor público somente poderá ser exonerado nos SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO
casos do §1º do artigo 40 da Constituição Federal, nota- FEDERAL E NA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO
damente: em virtude de sentença judicial transitada em DO RIO DE JANEIRO.
julgado; mediante processo administrativo em que lhe
seja assegurada ampla defesa; ou mediante procedi-
mento de avaliação periódica de desempenho, na forma SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDE-
de lei complementar, assegurada ampla defesa (sendo esta RAL.
lei complementar ainda inexistente no âmbito federal.
A segurança tem um duplo aspecto na Constituição Fe-
8) Militares dos estados, do Distrito Federal e dos
deral, a saber, o aspecto de direito e garantia individual e
territórios
coletivo, por estar prevista no caput, do artigo 5º, da Cons-
Prevê o artigo 42, CF:
tituição Federal (ao lado do direito à vida, da liberdade, da
igualdade, e da propriedade), bem como o aspecto de di-
Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de
reito social, por estar prevista no artigo 6º, da Constituição
Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na
Federal. A segurança do caput, do artigo 5º, CF, todavia, se
hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Dis-
refere à “segurança jurídica”. Já a segurança do artigo 6º,
trito Federal e dos Territórios.
CF, se refere à “segurança pública”, a qual encontra discipli-
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito
namento no artigo 144, da Constituição da República.
Federal e dos Territórios, além do que vier a ser fixado em
Ademais, enquanto a Lei Fundamental pátria preceitua
lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art.
142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor so- que a educação e a saúde são “direitos de todos e dever
bre as matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes do Estado”, fala, por outro lado, que a segurança pública,
dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores. antes mesmo de ser direito de todos, é um “dever do Esta-
§ 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Dis- do”. Com isso, isto é, ao colocar a segurança pública antes
trito Federal e dos Territórios aplica-se o que for fixado em de tudo como um dever do Estado, e só depois como um
lei específica do respectivo ente estatal. direito do todos, denota o compromisso dos agentes esta-
tais em prevenir a desordem, e, consequencialmente, evitar
Seção IV a justiça por próprias mãos.
DAS REGIÕES Neste prumo, no art. 144, caput, da Constituição Fede-
ral, se afirma que “a segurança pública, dever do Estado,
Art. 43. Para efeitos administrativos, a União poderá ar- direito e responsabilidade de todos, é exercida para a pre-
ticular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico servação da ordem pública e da incolumidade das pessoas
e social, visando a seu desenvolvimento e à redução das e do patrimônio [...]”. Conforme enumera o próprio artigo
desigualdades regionais. 144, CF em seus incisos, os órgãos responsáveis pela ga-
§ 1º - Lei complementar disporá sobre: rantia da segurança pública, compondo sua estrutura, são:
I - as condições para integração de regiões em desen- polícia federal; polícia rodoviária federal; polícia ferroviária
volvimento; federal; polícias civis; e polícias militares e corpos de bom-
II - a composição dos organismos regionais que execu- beiros militares.
tarão, na forma da lei, os planos regionais, integrantes dos Os parágrafos do artigo 144 regulamentam cada um
planos nacionais de desenvolvimento econômico e social, destes órgãos que devem garantir a segurança pública,
aprovados juntamente com estes. com suas respectivas competências:
§ 2º - Os incentivos regionais compreenderão, além de
outros, na forma da lei: Artigo 144, § 1º, CF. A polícia federal, instituída por lei
I - igualdade de tarifas, fretes, seguros e outros itens como órgão permanente, organizado e mantido pela União
de custos e preços de responsabilidade do Poder Público; e estruturado em carreira, destina-se a:
II - juros favorecidos para financiamento de atividades I - apurar infrações penais contra a ordem política e so-
prioritárias; cial ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União
III - isenções, reduções ou diferimento temporário de ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, as-
tributos federais devidos por pessoas físicas ou jurídicas; sim como outras infrações cuja prática tenha repercussão
IV - prioridade para o aproveitamento econômico e so- interestadual ou internacional e exija repressão uniforme,
cial dos rios e das massas de água represadas ou represá- segundo se dispuser em lei;
veis nas regiões de baixa renda, sujeitas a secas periódicas. II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e
§ 3º - Nas áreas a que se refere o § 2º, IV, a União incen- drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da
tivará a recuperação de terras áridas e cooperará com os pe- ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas
quenos e médios proprietários rurais para o estabelecimento, áreas de competência;
em suas glebas, de fontes de água e de pequena irrigação.

57
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuá- I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de
ria e de fronteiras; trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que asse-
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia gurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e 
judiciária da União. II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades exe-
Artigo 144, § 2º, CF. A polícia rodoviária federal, órgão cutivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira,
permanente, organizado e mantido pela União e estruturado na forma da lei.
em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento
ostensivo das rodovias federais. Constituição do Estado do Rio de Janeiro

Artigo 144, § 3º, CF. A polícia ferroviária federal, ór- TÍTULO V


gão permanente, organizado e mantido pela União e estru- DA SEGURANÇA PÚBLICA 
turado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulha-
CAPÍTULO ÚNICO (arts. 183 a 191)
mento ostensivo das ferrovias federais. 
* Art. 183 - A segurança pública, que inclui a vigilân-
Artigo 144, § 4º, CF. Às polícias civis, dirigidas por de-
cia intramuros nos estabelecimentos penais, dever do
legados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a com- Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para
petência da União, as funções de polícia judiciária e a a preservação da ordem pública e da incolumidade das
apuração de infrações penais, exceto as militares. pessoas e do patrimônio, pelos seguintes órgãos estaduais:
Artigo 144, § 1º, CF. Às polícias militares cabem a po- *  STF - ADIN - 236-8/600, de 1990 - “Por maioria de
lícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos votos, o Tribunal JULGOU PROCEDENTE a ação, para de-
de bombeiros militares, além das atribuições definidas em clarar a inconstitucionalidade das expressões «que inclui
lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. a vigilância intramuros nos estabelecimentos penais” e
do inciso II, todos do art. 180 (atual 183) da Constituição
Artigo 144, § 6º, CF. As polícias militares e corpos de do Estado do Rio de Janeiro, vencidos os Ministros marco
bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, Aurélio, Paulo Brossard, Moreira Alves e Presidente, que a
subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Gover- declaravam improcedente”. - Plenário, 07.05.1992 Publica-
nadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios”. da no D.J. Seção I de 15.05.92. - Acórdão, DJ 01.06.2001.
Sendo que, nos termos do artigo 42, CF, “os membros das EMENTA: Incompatibilidade, com o disposto no art.
Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, institui- 144 da Constituição Federal, da norma do art. 180 (atual
ções organizadas com base na hierarquia e disciplina, são 183) da Carta Estadual do Rio de Janeiro, na parte em que
militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territó- inclui no conceito de segurança pública a vigilância dos
rios. § 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito estabelecimentos penais e, entre os órgãos encarregados
Federal e dos Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, dessa atividade, a ali denominada “Polícia Penitenciária”.
as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, Ação direta julgada procedente, por maioria de votos.
§§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as I - Polícia Civil;
matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos * II - Polícia Penitenciária;
oficiais conferidas pelos respectivos governadores. § 2º Aos III - Polícia Militar;
pensionistas dos militares dos Estados, do Distrito Federal e IV - Corpo de Bombeiros Militar.
dos Territórios aplica-se o que for fixado em lei específica do § 1º. Os municípios poderão constituir guardas munici-
pais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instala-
respectivo ente estatal.
ções, conforme dispuser a lei.
§ 2º. Os órgãos de segurança pública serão assessora-
Artigo 144, § 7º, CF. A lei disciplinará a organização e o
dos pelo Conselho Comunitário de Defesa Social, estrutu-
funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pú-
rado na forma da lei, guardando-se a proporcionalidade
blica, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades. relativa à respectiva representação.
§ 3º. Os membros do Conselho referido no parágrafo
Artigo 144, § 8º, CF. Os Municípios poderão constituir anterior serão nomeados pelo Governador do Estado, após
guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, indicação pelos órgãos e entidades diretamente envolvidos
serviços e instalações, conforme dispuser a lei. na prevenção e combate à criminalidade, bem como pelas
instituições representativas da sociedade, sem qualquer
Artigo 144, § 9º, CF. A remuneração dos servidores po- ônus para o erário ou vínculo com o serviço público.
liciais integrantes dos órgãos relacionados neste artigo será * § 4º. Nas jurisdições policiais com sede nos Municí-
fixada na forma do § 4º do art. 39.  pios, o delegado de polícia será escolhido entre os delega-
dos de carreira, por voto unitário residencial, por período
Artigo 144, § 10, CF. A segurança viária, exercida para de dois anos, podendo ser reconduzido, dentre os compo-
a preservação da ordem pública e da incolumidade das pes- nentes de lista tríplice apresentada pelo Superintendente
soas e do seu patrimônio nas vias públicas:  da Polícia Civil:

58
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

a) o delegado de polícia residirá na jurisdição policial * Parágrafo acrescentado pela Emenda Constitucional
da delegacia da qual for titular; nº 35/2005.
* b) a autoridade policial será destituída, por força de * STF - ADIN - 3644/600, de 2005 - Decisão do Méri-
decisão de maioria simples do Conselho Comunitário da to:O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do
Defesa Social do Município onde atuar; Relator, Ministro Gilmar Mendes (Presidente), julgou pro-
* c) o voto unitário residencial será representado pelo cedente a ação direta. Ausentes, justificadamente, neste
comprovante de pagamento de imposto predial ou territorial. julgamento, os Senhores Ministros Celso de Mello, Carlos
* STF - ADIN - 244-9/600, de 1990 - Decisão da Limi- Britto e Eros Grau. Plenário, 04.03.2009. DATA DE PUBLICA-
nar: “Por unanimidade, o Tribunal deferiu a medida liminar ÇÃO DJE 12/06/2009 - ATA Nº 18/2009. DJE nº 108, divul-
e suspendeu, até o julgamento final da ação, a vigência do gado em 10/06/2009
§ 4º do artigo 180, bem assim das suas alíneas b e c, da * § 6°. Fica autorizada a criação, na forma da lei com-
Constituição do Estado do Rio de Janeiro. Votou o Presi- plementar, do Fundo Estadual de Investimentos e ações de
dente. - Plenário, 18.04.1990. - Acórdão, DJ 25.05.1990. “ Segurança Pública e Desenvolvimento Social, destinado à
Decisão do Mérito: «O Tribunal julgou procedente implementação de programas e projetos nas áreas de se-
o pedido formulado na inicial da ação direta para decla- gurança pública e de desenvolvimento social a ela asso-
rar a inconstitucionalidade, na Constituição do Estado do ciadas.
Rio de Janeiro, do § 4º, alíneas b e c, do artigo 183 (antes, * Incluído pela Emenda Constitucional nº 70, de 12 de
artigo 180). Votou o Presidente, o Senhor Ministro Marco dezembro de 2017..
Aurélio. Decisão unânime. Ausentes, justificadamente, o *  § 7°. Constituirá recurso para o fundo de que trata
Senhor Ministro Gilmar Mendes, e, neste julgamento, os o §6° deste artigo, entre outros, 5% (cinco por cento) da
Senhores Ministros Moreira Alves e Nelson Jobim.» - Ple- compensação financeira a que se refere o Art. 20, §1°, da
nário, 11.09.2002. - Acórdão, DJ 31.10.2002. Constituição Federal, calculados na forma da lei comple-
EMENTA: Polícia Civil: subordinação ao Governador do mentar, a que faz jus o Estado do Rio de Janeiro, quando
Estado e competência deste para prover os cargos de sua se tratar de petróleo e gás extraído da camada do pré-sal.
estrutura administrativa: inconstitucionalidade de normas
* Incluído pela Emenda Constitucional nº 70, de 12 de
da Constituição do Estado do Rio de Janeiro (atual art.183,
dezembro de 2017.
§ 4º, b e c), que subordinam a nomeação dos Delegados de
Polícia à escolha, entre os delegados de carreira, ao “voto
Art. 184 - A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Mi-
unitário residencial” da população do município; sua re-
litar, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se,
condução, a lista tríplice apresentada pela Superintendên-
com a Polícia Civil, ao Governador do Estado.
cia da Polícia Civil, e sua destituição a decisão de Conselho
Art. 185 - O exercício da função policial é privativo do
Comunitário de Defesa Social do município respectivo. 1.
policial de carreira, recrutado exclusivamente por concurso
Além das modalidades explícitas, mas espasmódicas, de
público de provas ou de provas e títulos, submetido a curso
democracia direta - o plebiscito, o referendo e a iniciati-
de formação policial.
va popular (art. 14) - a Constituição da República aventa
oportunidades tópicas de participação popular na admi- Parágrafo único - Os integrantes dos serviços policiais
nistração pública (v.g., art. 5º, XXXVIII e LXXIII; art. 29, XII e serão reavaliados periodicamente, aferindo-se suas condi-
XIII; art. 37 , § 3º; art. 74, § 2º; art. 187; art. 194, § único, VII; ções físicas e mentais para o exercício do cargo, na forma
art. 204, II; art. 206, VI; art. 224). 2. A Constituição não abriu da lei.
ensanchas, contudo, à interferência popular na gestão da Art. 186 - Para atuar em colaboração com organismos
segurança pública: ao contrário, primou o texto fundamen- federais, deles recebendo assistência técnica, operacional e
tal por sublinhar que os seus organismos - as polícias e financeira, poderá ser criado órgão especializado para pre-
corpos de bombeiros militares, assim como as polícias civis, venir e reprimir o tráfico e a facilitação do uso de entorpe-
subordinam-se aos Governadores. 3. Por outro lado, dado centes e tóxicos.
o seu caráter censitário, a questionada eleição da autori- Art. 187 - A pesquisa e a investigação científica aplica-
dade policial é só aparentemente democrática: a redução das, a especialização e o aprimoramento de policiais civis e
do corpo eleitoral aos contribuintes do IPTU - proprietários militares e dos integrantes do Corpo de Bombeiros Militar
ou locatários formais de imóveis regulares - dele tenderia serão orientados para contar com a cooperação das uni-
a subtrair precisamente os sujeitos passivos da endêmica versidades, por intermédio de convênio.
violência policial urbana, a população das áreas periféricas Art. 188 - À Polícia Civil, dirigida por Delegados de Po-
das grandes cidades, nascidas, na normalidade dos casos, lícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da
dos loteamentos clandestinos ainda não alcançados pelo União, as funções de Polícia Judiciária e a apuração das in-
cadastramento imobiliário municipal. frações penais, exceto as militares.
* § 5º - Lei específica definirá a organização, funciona- * § 1º - A carreira de Delegado de Polícia faz parte da
mento e atribuições do órgão responsável pelas perícias carreira única da polícia civil, dependendo o respectivo in-
criminalística e médico-legal, que terá organização e estru- gresso de classificação em concurso público de provas e
tura próprias. títulos e, por ascensão, sendo que metade das vagas será

59
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

reservada para cada uma dessas formas de provimento, § 1º - A lei disporá sobre os limites de competência dos
podendo ser aproveitadas para concurso público as vagas órgãos policiais mencionados no caput deste artigo.
que não forem preenchidas pelo instituto de ascensão. § 2º - As corporações militares do Estado serão coman-
* STF - ADIN - 245-7/600, de 1990 - Decisão do Méri- dadas por oficial combatente da ativa, do último posto dos
to: “Por MAIORIA de votos, o Tribunal julgou PROCEDENTE respectivos quadros, salvo no caso de mobilização nacional.
a ação, declarando a inconstitucionalidade do § 1º do art. *§ 3º - É assegurada aos servidores militares estaduais
185 (atual art. 188) da Constituição do Estado do Rio de isonomia de vencimentos com os servidores militares fe-
Janeiro, vencido o Ministro Marco Aurélio, que a julgava derais.
IMPROCEDENTE, declarando a constitucionalidade de tais * STF - ADIN - 237-6/600, de 1990 - Decisão do Méri-
dispositivos”. Votou o Presidente. - Plenário, 05.08.1992. - to: “Por votação UNÂNIME, o Tribunal julgou PROCEDENTE
Acórdão, DJ 13.11.1992, página 12.157. a ação para declarar a inconstitucionalidade do § 3 º do
Ementa:  Ação Direta de Inconstitucionalidade. Policia artigo 186 (atual art. 189) da parte permanente da Consti-
Civil. Carreira de delegado. Ascensão funcional. - Se a Cons- tuição do Estado do Rio de Janeiro, e dos arts. 61 e 92 do
tituição Federal, no § 4º do artigo 144, estabelece que as Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, da mesma
policias civis dos estados serão dirigidas por delegados de Constituição. Votou o Presidente. – Plenário”, 01.02.1993.
policia de carreira, não será possível, inclusive para as consti- Publicada no D.J. Seção I de 04.02.93. página 758.- Acór-
tuições estaduais, estabelecer uma carreira única nas policias dão, DJ 01.07.1993.
civis, dentro da qual se incluam os delegados, ainda que es- Incidentes - DESISTÊNCIA (exclusão de um dispositivo)
calonados em categorias ascendentes. O que a constituição Ementa: É contrário ao principio federativo (art. 25 da
exige e a existência de carreira especifica de delegado de Constituição Federal) o estabelecimento de equiparação
policia para que membro seu dirija a policia civil, tendo em ou vinculação entre servidores (civis ou militares) estaduais
vista, evidentemente, a formação necessária para o desem- e federais, de modo a que do aumento de remuneração
penho dos cargos dessa carreira. - A ascensão funcional não concedido, aos últimos, por lei da união, pudesse resultar
mais é admitida pelo inciso II do artigo 37 da atual Cons- majoração de despesa para os estados.
tituição. Ação Direta de Inconstitucionalidade que se julga Art. 190 - Na divulgação pelas entidades policiais aos
procedente para declarar inconstitucional o § 1º do artigo órgãos de comunicação social dos fatos pertinentes à apu-
185 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro. ração das infrações penais é assegurada a preservação da
* § 2º - Aos delegados de polícia de carreira aplica-se intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das ví-
o princípio de isonomia de vencimentos previsto no arti- timas envolvidas por aqueles fatos, bem como das teste-
go 82, § 1º, correspondente às carreiras disciplinadas no ar- munhas destes.
tigo 182, ambos desta Constituição, na forma do artigo 241 Art. 191 - Ao abordar qualquer cidadão no cumprimen-
da Constituição da República. to de suas funções, o servidor policial deverá, em primeiro
* STF - ADIN - 138-8/600, de 1989 - Decisão da Limi- lugar, identificar-se pelo nome, cargo, posto ou graduação
nar: “Preliminarmente, o Tribunal REJEITOU, POR UNANI- e indicar o órgão onde esteja lotado.
MIDADE a argüição de ilegitimidade ativa da requerente.
No mérito, por maioria, vencido o Sr. Ministro Célio Borja, o
Tribunal deferiu, em parte, o pedido de Cautelar e suspen- EXERCÍCIOS
deu, ate o julgamento final da Ação, a vigência dos seguin-
tes dispositivos: parágrafo único do art. 179 (atual art. 182), 1. (TJ/MG - Juiz - FUNDEP/2014) Sobre o conceito de
e § 2 º do art. 185 (atual art. 188), ambos da Constituição Constituição, assinale a alternativa CORRETA.
do Estado do Rio de Janeiro. Ausente, ocasionalmente, o (A) É o estatuto que regula as relações entre Estados
Sr Ministro Francisco Rezek. Falou pelo Ministério Publico soberanos.
Federal o Dr. Aristides Junqueira Alvarenga. Votou o Pre- (B) É o conjunto de normas que regula os direitos e
sidente”. - Plenário, 14.02.1990. - Acórdão, DJ 16.11.1990. deveres de um povo.
Decisão do Mérito: “Indicado adiamento, pelo Minis- (C) É a lei fundamental e suprema de um Estado, que
tro Relator, apos a sustentação oral do advogado da As- contém normas referentes à estruturação, à formação dos
sembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Ro- poderes públicos, direitos, garantias e deveres dos cida-
drigo Lopes. - Plenário, 24.03.1993. Por votação UNÂNIME, dãos.
o Tribunal julgou PROCEDENTE, EM PARTE, a ação, para (D) É a norma maior de um Estado, que regula os di-
declarar a inconstitucionalidade do parágrafo único do art. reitos e deveres de um povo nas suas relações.
179 (atual art. 182) da Constituição do Estado do Rio de
Janeiro. Votou o Presidente”. - Plenário, 26.05.1993. - Acór- 2. (TJ/MG - Juiz - FUNDEP/2014) Dentre as formas
dão, DJ 21.06.1996 página. 10.757. de classificação das Constituições, uma delas é quanto à
Art. 189 - Cabem à Polícia Militar a polícia ostensiva e origem.
a preservação da ordem pública; ao Corpo de Bombeiros Em relação às características de uma Constituição
Militar, além das atribuições definidas em lei, incumbe a quanto à sua origem, assinale a alternativa CORRETA.
execução de atividades de defesa civil. (A) Dogmáticas ou históricas.

60
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

(B) Materiais ou formais. 2. Resposta: “D”. Quanto à origem, a Constituição


(C) Analíticas ou sintéticas. pode ser outorgada, quando imposta unilateralmente pelo
(D) Promulgadas ou outorgadas. agente revolucionário, ou promulgada, quando é votada,
sendo também conhecida como democrática ou popular.
3. (TJ/MG - Juiz - FUNDEP/2014) Sobre a supremacia
da Constituição da República, assinale a alternativa COR- 3. Resposta: “B”. A Constituição Federal e os demais
RETA. atos normativos que compõem o denominado bloco de
(A) A supremacia está no fato de o controle da cons- constitucionalidade, notadamente, emendas constitucio-
titucionalidade das leis só ser exercido pelo Supremo Tri- nais e tratados internacionais de direitos humanos apro-
bunal Federal. vados com quórum especial após a Emenda Constitucional
(B) A supremacia está na obrigatoriedade de submis- nº 45/2004, estão no topo do ordenamento jurídico. Sendo
são das leis aos princípios que norteiam o Estado por ela assim, todos os atos abaixo deles devem guardar uma es-
instituído. trita compatibilidade, sob pena de serem inconstitucionais.
(C) A supremacia está no fato de a interpretação da Por isso, estes atos que estão abaixo na pirâmide, se sujei-
constituição não depender da observância dos princípios tam a controle de constitucionalidade.
que a norteiam.
(D) A supremacia está no fato de que os princípios e 4. Resposta: “A”. Carl Schmitt propõe que o conceito
fundamentos da constituição se resumam na declaração de de Constituição não está na Constituição em si, mas nas
soberania. decisões políticas tomadas antes de sua elaboração. Sen-
do assim, o conceito de Constituição será estruturado por
4. (PC/PI - Delegado de Polícia – UESPI/2014) Entre fatores como o regime de governo e a forma de Estado
os chamados sentidos doutrinariamente atribuídos à Cons- vigentes no momento de elaboração da lei maior. A Cons-
tituição, existe um que realiza a distinção entre Constituição tituição é o produto de uma decisão política e variará con-
e lei constitucional. Assinale a alternativa que o contempla. forme o modelo político à época de sua elaboração.
(A) Sentido político
(B) Sentido sociológico. 5. Resposta: “B”. Todas as alternativas descrevem ca-
(C) Sentido jurídico. racterísticas, atributos do Estado Democrático de Direito
(D) Sentido culturalista. que é a República Federativa brasileira, notadamente: er-
(E) Sentido simbólico. radicação da pobreza e diminuição de desigualdades (ar-
tigo 3º, III, CF); soberania, cidadania e pluralismo político
5. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) A Repú- (artigo 1º, I, II e V, CF); princípio da legalidade (artigo 5º, II,
blica Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel CF); liberdade de expressão (artigo 5º, IV, CF); construção
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se de sociedade justa, livre e solidária (artigo 3º, I, CF). Sendo
em Estado Democrático de Direito (art. 1º da CF). assim, incorreta a afirmação de que soberania, cidadania
Com base no enunciado acima é correto afirmar, exceto: e pluralismo político não são fundamentos da República
(A) são objetivos fundamentais da república federati- Federativa do Brasil, pois estão como tais enumerados no
va do Brasil erradicar a pobreza e a marginalização e redu- artigo 1º, CF, além de decorrerem da própria estrutura de
zir as desigualdades sociais e regionais. um Estado Democrático de Direito.
(B) a soberania, a cidadania e o pluralismo político
não são fundamentos da república federativa do brasil.
(C) ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei.
(D) é livre a manifestação de pensamento, sendo ve-
dado o anonimato.
(E) construir uma sociedade livre, justa e solidária é um
dos objetivos fundamentais da república federativa do Brasil.

RESPOSTAS

1. Resposta: “C”. Constituição é muito mais do que


um documento escrito que fica no ápice do ordenamen-
to jurídico nacional estabelecendo normas de limitação e
organização do Estado, mas tem um significado intrínseco
sociológico, político, cultural e econômico. Independente
do conceito, percebe-se que o foco é a organização do Es-
tado e a limitação de seu poder.

61
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

ANOTAÇÕES

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62
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Componentes de um computador: hardware e software........................................................................................................................ 01


Arquitetura básica de computadores: unidade central, memória: tipos e tamanhos.................................................................... 01
Periféricos: impressoras, drives de disco fixo (Winchester), disquete, CD-ROM. ........................................................................... 01
Uso do teclado, uso do mouse, janelas e seus botões, diretórios e arquivos (uso do Windows Explorer): tipos de arqui-
vos, localização, criação, cópia e remoção de arquivos, cópias de arquivos para outros dispositivos e cópias de seguran-
ça, uso da lixeira para remover e recuperar arquivos, uso da ajuda do Windows.......................................................................... 01
Uso do Word for Windows: entrando e corrigindo texto, definindo formato de páginas: margens, orientação, nume-
ração, cabeçalho e rodapé definindo estilo do texto: fonte, tamanho, negrito, itálico e sublinhado, impressão de do-
cumentos: visualizando a página a ser impressa, uso do corretor ortográfico, criação de texto em colunas, criação de
tabelas, criação e inserção de figuras no texto............................................................................................................................................. 60
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

História dos computadores


COMPONENTES DE UM COMPUTADOR: Quando se pensa na história do computador e da In-
HARDWARE E SOFTWARE. ternet, observa-se que, apesar de muitos equipamentos te-
ARQUITETURA BÁSICA DE COMPUTADORES: rem aparecido bem antes, eles surgiram em torno dos anos
UNIDADE CENTRAL, MEMÓRIA: TIPOS E 40 do século passado e eram enormes, ocupando vários
TAMANHOS. metros quadrados.
Esses equipamentos passaram por uma grande evolu-
PERIFÉRICOS: IMPRESSORAS, DRIVES DE
ção, que pode ser dividida em gerações.
DISCO FIXO (WINCHESTER), DISQUETE, CD-
Cada geração é caracterizada pelo desenvolvimento
ROM. tecnológico no modo como o computador opera, resultan-
USO DO TECLADO, USO DO MOUSE, JANELAS do em equipamentos cada vez menores, mais poderosos,
E SEUS BOTÕES, DIRETÓRIOS E ARQUIVOS eficientes rápidos,e baratos.
(USO DO WINDOWS EXPLORER): TIPOS DE
ARQUIVOS, LOCALIZAÇÃO, CRIAÇÃO, CÓPIA Primeira geração (em torno de 1940-1959)
E REMOÇÃO DE ARQUIVOS, CÓPIAS DE - Os computadores eram lentos, enormes, ocupavam
ARQUIVOS PARA OUTROS DISPOSITIVOS E salas inteiras e tinham muitos metros de fios,
CÓPIAS DE SEGURANÇA, USO DA LIXEIRA - Eram equipadas com válvulas eletrônicas e gastavam
PARA REMOVER E RECUPERAR ARQUIVOS, muita energia,
USO DA AJUDA DO WINDOWS. - Sua operação era muito cara e esquentavam muito, o
que era, frequentemente, a causa de mau funcionamento,
- Usavam linguagem de máquina para executar opera-
ções, só podendo resolver um problema de cada vez,
- A memória baseava-se em cilindro magnético,
O que é a Informática? - A velocidade de processamento era da ordem de mi-
Informática é o nome genérico do conjunto das Ciên-
lissegundos e a capacidade de memória era de 2 a 4 kbytes,
cias da Informação que inclui: a teoria da informação, o
- A entrada de dados era feita por meio de cartões ou
processo de cálculo, a análise numérica e os métodos teóri-
fita de papel perfurados,
cos da representação dos conhecimentos e de modelagem
- A saída de dados era feita por impressoras,
dos problemas. E a palavra Informática refere-se, também,
- Não existia sistema operacional. Os programadores
especificamente ao processo de tratamento automático da
eram operadores e controlavam o computador por meio
informação por meio de máquinas eletrônicas, como com-
de chaves, fios e luzes de aviso.
putadores, laptops, netbook, tablets etc ...
Exemplos: ENIAC, UNIVAC
De um modo geral, pode-se pensar em computador
como um equipamento capaz de armazenar e processar,
lógica e matematicamente, quantidades numéricas.

O Computador
O computador é uma máquina programável capaz de
realizar processamentos sobre uma massa de dados, torna-
-los em informação útil e armazená-los.
- Dados: são fatos/descritores de coisas, pessoas, even-
tos não processados;
- Informação: trata-se do conjunto de dados que foram
processados e constituem informação útil.
Concretamente, o computador é um equipamento,
constituído por componentes mecânicos e eletrônicos que,
a partir de dados de entrada, realiza um processamento,
gerando novos dados como saída.
Basicamente um computador é composto de um pro-
cessador central, capaz de efetuar operações lógicas e
matemáticas de modo extremamente rápido, e de salvar
informações, que utiliza vários dispositivos como disco rí-
gido, memória, placa mãe e, também, vários dispositivos ENIAC
de entrada e saída de dados.
Atualmente é considerado quase como um eletrodo- Segunda geração (1959-1964)
méstico e é geralmente associado a um gabinete, a um - Houve a substituição das válvulas eletrônicas por
monitor, um teclado, a um mouse, a uma impressora, sen- transistores e os fios de ligação por circuitos impressos, o
do extremamente importante que haja conexão à Internet. que tornou os computadores mais rápidos, menores, e de
custo mais baixo. Mas ainda esquentavam muito.

1
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

- Mudança da linguagem de máquina binária para as


linguagens simbólicas, como FORTRAN, que permitiram
que os programadores especificassem instruções em pa-
lavras,
- A memória passou de cilindro magnético para a tec-
nologia do núcleo magnético,
- A velocidade de processamento era da ordem de mi-
lissegundos a capacidade de memória era de 20 megaby-
tes,
- Surgiram os primeiros armazenadores externos de in-
formações: fitas magnéticas e discos,
- A entrada de dados era feita por cartões ou fita de
papel perfurados,
- A saída de dados era feita por impressoras,
- Foram criados os sistemas em lote, “batch systems”,
que possibilitaram um melhor uso dos recursos computa-
cionais. Havia um programa monitor, usado para “enfilei-
rar” as tarefas. Cada programa era escrito em cartões ou
fita de papel perfurados, que eram carregados por um ope-
rador, juntamente com seu compilador. O operador em ge- Quarta geração (de 1970 até a época atual)
ral utilizava uma linguagem de controle chamada JCL (job - O microprocessador, com milhares de circuitos inte-
control language). grados em um único “chip” de silicone, proporcionou maior
Exemplos: TRADIC, IBM TX-0 grau de miniaturização, confiabilidade e velocidade, já da
ordem de nanosegundos (bilionésima parte do segundo),
- Outros equipamentos começaram a usar os micro-
processadores,
- Iniciou-se a ligação dos computadores em redes o
que conduziu ao desenvolvimento da Internet,
- Houve o desenvolvimento da interface gráfica - GUI,
“Graphical User Interface” - baseada em símbolos visuais,
como ícones, menus e janelas que promoveram maior in-
teração entre o sistema e o usuário,
- A velocidade de processamento era da ordem de na-
nossegundos,
- Apareceram linguagens múltiplas de programação
como Cobol, Pascal, Basic,
- Começou a transmissão de dados entre computado-
res através de rede,
- Intensificou-se a produção de computadores objeti-
vando o usuário doméstico.
TX-0 Exemplos: Lisa, MacIntosh, IBM 5150, 386.

Terceira geração (1964-1970)


- Os computadores passaram a ter circuitos integra-
dos, sendo que os transistores foram miniaturizados. Estes
aumentaram a velocidade e a eficiência das máquinas, pro-
porcionando redução dos custos e aumento da velocidade
de processamento. Sendo menores e mais baratos torna-
ram-se acessíveis para um grande número de pessoas,
- Teclados e monitores substituíram os cartões e papel
perfurados,
- O sistema operacional passou a permitir que muitos
programas pudessem ser executados ao mesmo tempo
(multitarefa), inclusive monitorando a memória,
- A velocidade de processamento era da ordem de mi-
crossegundos
Exemplos: DCC 6600, Nova

2
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Alguns autores identificam um novo paradigma de so-


ciedade que se baseia num bem precioso, a informação,
atribuindo-lhe várias designações, entre elas a Sociedade
da Informação.
Este novo modelo de organização das sociedades se
assenta em um modo de desenvolvimento social e eco-
nômico em que a informação, como meio de criação de
conhecimento, desempenha um papel fundamental na
produção de riqueza e na contribuição para o bem-estar e
qualidade de vida dos cidadãos.
Condição para a Sociedade da Informação avançar é a
possibilidade de todos poderem aceder às Tecnologias de
Informação e comunicação, presentes no nosso cotidiano,
que constituem instrumentos indispensáveis às comunica-
ções pessoais, de trabalho e de lazer.
Dito isso, Sistema computacional pode ser definido
como algo provindo da interação existente entre os diver-
sos componentes de hardware, software e peopleware que
trabalham de forma conjunta sobre uma determinada mas-
sa de dados de forma a produzir informações/resultados
de interesse para outros sistemas/usuários.
- Peopleware: são os agentes humanos (usuários e pro-
gramadores) que fazem uso e configuram as ações a serem
Intel 386 executadas pelo hardware e software;
- Hardware: diz respeito a toda estrutura física que
compõe o sistema computacional que é responsável pelo
Quinta geração (época atual e futuro)
processamento, aquisição e armazenamento de informa-
- O objetivo é desenvolver equipamentos que respon-
ções, ou seja, o próprio computador em sí e seu periféricos,
dam à entrada de dados por voz e que sejam capazes de
como teclado, mouse, impressora, etc;
aprendizagem e de organização,
- Software: este elemento é composto de toda a lógi-
- Altíssima velocidade de processamento,
ca responsável por controlar os componentes de hardware
- Grande capacidade de armazenamento de dados dos
através de comandos e pela manipulação das informações
discos rígidos (de 40 e 80 GBs já eram comuns em lojas
que são recebidas. Refere-se a toda
brasileiras no início de 2007), o DVD pode acumular uma
quantidade dez vezes maior de dados do que o CDrom, Principais usos da computação
- Alto grau de interatividade, inclusive com reconheci- - Armazenamento de grandes volumes de informação;
mento de voz por alguns aplicativos - Realização de cálculos matemáticos complexos em
- O uso de processamento paralelo e de superconduto- curtos períodos de tempo;
res está impelindo o surgimento da “inteligência artificial”. - Controle e supervisão de processos complexos que
O que é um sistema computacional? envolvam riscos à saúde;
Em poucas palavras, um sistema computacional é um Melhoria do processo de comunicação e agilidade no
conjunto de dispositivos eletrônicos que utilizamos para processo de transmissão;
todo um processamento de alguma informação, ou seja, Geoprocessamento;
união de hardware (parte física) e software (parte lógica). Processamento de imagem e voz;
Muitos são os conceitos e exemplos de um sistema Suporte para desenvolvimento de projetos de enge-
computacional. É importante entender que existe um pro- nharia(CAD);
cesso “eficaz” ou não que envolve tecnologia computacio- Entretenimento através de jogos e ferramentas para
nal e seres humanos. auxiliar o ensino;
Máquinas, programas e pessoas perfazem todo um Realidade virtual que pode ser empregada como auxí-
complexo dinâmico de processos que se relacionam. Nos lio à medicina, definição de ações, etc.;
dias de hoje, todo esse mecanismo de manipulação de da-
dos e informações está se tornando inteligente o suficiente Tipos de computador
para que o tempo de resposta seja muito mais rápido e
eficiente. Desktops ou computadores de mesa
A sociedade não é um elemento estático, muito pelo Desktop, também conhecido como computador de
contrário, está em constante mutação e, como tal, a so- mesa, é o tipo de computador mais usado no mundo, seja
ciedade contemporânea está inserida em um processo de como computador pessoal ou para trabalho.
mudança em que as novas tecnologias são as principais
responsáveis.

3
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Possui hardware flexível, o tornando compatível com


diferentes necessidades. Podem tanto possuir configura-
ções mais simples, com finalidade de acesso à internet e
trabalhos de escritório, como possuir configurações com-
plexas e que exijam alto poder de processamento e gráfico,
como os destinados a executar jogos de última geração e
próprios para trabalhos de edição de foto e vídeo. Pode ser
comprado já com configuração fixa, montado de maneira
personalizada ou até mesmo pode ser turbinado para de-
terminado fim. Dentre os tipos de computadores de mesa,
podemos destacar, além do desktop propriamente dito:
- Servidor: Em resumo, um servidor é, basicamente,
um computador mais potente do que seu desktop comum.
Ele foi desenvolvido especificamente para transmitir infor-
mações e fornecer produtos de software a outros compu- - Workstation ou estação de trabalho: é o computador
tadores que estiverem conectados a ele por uma rede. Os com capacidade de processamento de cálculos e gráficos
servidores têm o hardware para gerenciar o funcionamento superior aos comuns. Eles são destinados principalmente a
em rede wireless e por cabo Ethernet, normalmente através usos profissionais específicos, tais como arquitetura, dese-
de um roteador. nho industrial, criação de filmes 3D ou em laboratórios de
Eles foram desenvolvidos para lidar com cargas de tra- física. Não se trata simplesmente de um desktop “turbina-
balho mais pesadas e com mais aplicativos, aproveitando do”, pois são feitos para atender a uma finalidade especí-
a vantagem de um hardware específico para aumentar a fica. Entenda melhor a definição e veja se você precisa de
produtividade e reduzir o tempo de inatividade. uma workstation.
Os servidores também oferecem ferramentas de ge-
renciamento remoto, o que significa que um membro da - Nettops: são mini desktops, ou seja, minicomputado-
equipe de TI pode verificar o uso e diagnosticar problemas res, que são vendidos por um preço mais em conta, gastam
de outro local. Isso também significa que você pode execu- menos energia, ocupam menos espaço e são bastante mo-
tar manutenções de rotina, como adicionar novos usuários dernos. São muito indicados para centrais de multimídia.
ou alterar senhas. Permitem uma enorme economia de espaço em relação
- Clientes: Cliente é um termo empregado em compu- aos convencionais.
tação e representa uma entidade que consome os serviços Ele é capaz de realizar tarefas que não exigem muito de
de uma outra entidade servidora, em geral através do uso uma máquina, como navegar pela internet, acessar aplicati-
de uma rede de computadores numa arquitetura cliente- vos para Web, processar documentos, ver fotos, vídeos, es-
-servidor cutar músicas e etc… Fazendo uma comparação, um nettop
é para um desktop o que um netbook é para um notebook.

All-in-one: Como o nome em Inglês diz, os PCs “All-In-


-one” têm tudo em um, isto é, tudo é feito para transformar
a instalação dele em seu lar ou escritório em uma expe-
riência muito mais fácil. Você se lembra do gabinete que a
grande maioria dos computadores tem? Esqueça!
Aqui temos monitor e gabinete numa única peça, ocupan-
do menos espaço. Podem ainda possuir tela sensível ao toque.
Tudo que você precisa está em um único bloco: drive
de DVD, entradas para os acessórios USB, leitores de cartão
de memória, ponto para o cabo de rede ou modem banda

4
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

larga, entradas para antena de rádio FM e televisão, com Os notebooks costumam ter muito do hardware ofe-
direito a controle remoto para facilitar na hora de assistir recido em computadores de mesa, como drive de DVD (e
filmes, programas de TV e rádio. até mesmo o formato Blu-ray, dependendo do modelo),
Alguns modelos mais poderosos, oferecem monito- além de acessórios vendidos separadamente por aí, como
res de até 23 polegadas, HDs de 1 terabyte (quanta coisa, leitores de cartão de memória. Portanto, se você quer um
hein?) e contam com função touch: isto é, além do mouse, computador mais flexível para uso como os de casa, então
você pode encostar seu dedo na tela para escolher opções, você quer um notebook.
arrastar ícones e assim por diante. Mas e o netbook, do que se trata? Idealizada em 2007,
esta linha de computadores superportáteis vendida a um
preço mais camarada por uma variedade de razões.
Como seu nome sugere, é um computador para uso
mais constante e facilitado com a Internet. Além do consu-
mo de energia reduzido em comparação aos seus “irmãos
maiores” pelo menos em sua maioria, as telas são menores
e não há o drive de disco ótico. Além disso, os netbooks
costumam ter telas menores (existem modelos com 8 po-
legadas), e também por conta disto são mais leves e fáceis
de transportar.
Ah, sim: muitos netbooks usam discos rígidos do tipo
SSD (Solid State Disc, ou Disco de Estado Sólido), drastica-
mente aumentando a velocidade do acesso aos dados e
também reduzindo as chances de falha de leitura por vi-
Portáteis brações e balanços, pois não faz uso da mesma tecnologia
do HD tradicional.
Computador portátil é todo o computador que pode
ser facilmente transportado. Por vezes usando uma bateria - Ultrabook: Não seria legal se uma máquina portátil
como carga elétrica e possuindo rede Wi-Fi. como um netbook pudesse ser poderosa como um note-
Antigamente, quando falávamos de computador nos book? Foi pensando nisso que a Intel implantou um novo
referíamos a dois tipos de equipamento: os computadores conceito de equipamentos chamado de ultrabook.
de mesa (também chamados de desktop) e os notebooks
(também chamados de laptops). Hoje em dia, o público
está mais amplo, o consumidor mais exigente, e novas ver-
tentes surgiram, principalmente no lado dos portáteis.
Não é difícil ouvir a respeito de netbooks e ultrabooks.
Os notebooks continuam aí, firmes e fortes e, para somar
um pouquinho mais, apareceram também os tablets, que
poderiam ser encaixados fora desse artigo, mas decidimos
manter tamanha a dúvida que geram.
Notebook e netbook: Por muito tempo, os computa-
dores portáteis foram chamados “laptop” (em tradução li-
vre, algo que pode ficar no seu colo); depois de um tempo,
o termo “notebook” (como “caderno” em Inglês) ficou mais
popular e, não mais que de repente, mais um novo nome Um ultrabook é uma máquina ultra portátil que não
apareceu no mercado: “netbook”. abre mão do poder de processamento. São computadores
leves, compactos, sem unidade de mídia óptica na maioria
dos casos (ou seja, leitor e gravador de DVD e CD) que pri-
mam, também, pelo custo mais baixo.

- Tablets: são mais portáteis do que netbooks. Apesar


de alguns modelos oferecerem teclados físicos, são geral-
mente controladas por comandos na tela.

5
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Supercomputador: responsáveis por cálculos super-


velozes, são muito utilizados por universidades e centros
de pesquisas. Basicamente, um supercomputador é um
computador cujo desempenho é extremamente grande.
A velocidade de processamento de uma máquina dessas
supera em milhares (às vezes milhões) de vezes a de um
computador doméstico. Ele também precisa ter uma capa-
cidade de memória absurdamente superior para dar conta
da enorme quantidade de dados apresentados na entrada
e depois produzidos na saída. Por fim, a maioria dos super-
computadores usa um tipo de processamento de informa-
ção chamado de processamento paralelo, o que quer dizer
que pode calcular várias coisas ao mesmo tempo.
Embora essa capacidade de processamento possa
Os tablets não são exatamente computadores, mas parecer fútil, os supercomputadores são bastante úteis.
com a chegada do iPad e de uma avalanche de aparelhos Cálculos e simulações científicas que poderiam levar anos
Android, entre eles o Xoom e o Galaxy Tab, caíram no gosto podem ser feitas em questão de dias ou mesmo horas. Por
dos consumidores. conta disso, os supercomputadores têm lugar cativo em
Mas, atenção: são tipos totalmente diferentes de apare- centros de pesquisa, sejam elas aeroespaciais, militares, de
lhos. A começar pelo fato de que eles possuem tela sensível física, química e medicina.
ao toque e a maior parte dos modelos não possui teclado físi-
co, apenas virtual. Sendo assim, a digitação neles é um pouco
mais desconfortável, a menos que você adquira, também, um
teclado sobressalente específico para usos com tablets.
Outro ponto a ser destacado é que os tablets possuem
sistemas operacionais portáteis, então rodam com progra-
mas diferentes dos computadores tradicionais. Ter um ta-
blet não é suficiente: ele é um aparelho complementar a
um outro computador, seja este de mesa ou portátil. Mas é
ótimo para ver emails, ler notícias e livros digitais (e-books)
e, é claro, navegar na internet!
- PDA: os primeiros computadores portáteis podem ser
também considerados como os pais dos smartphones. Pal-
mtops são os principais representantes da categoria.

Por exemplo, já notou que as previsões de tempo hoje


são muito mais precisas do que há trinta ou mesmo vin-
te anos? Isso ocorre porque os institutos de meteorologia
e clima não mais tentam “adivinhar” o que vai acontecer
pela configuração prévia da atmosfera. Em vez disso, um
supercomputador simula, baseado nas condições atuais e
nas tendências anotadas, como o clima realmente estará.
A quantidade de cálculos para essa simulação é assom-
brosa, e deve acontecer em poucas horas - caso contrá-
rio, não será possível emitir a tempo um alerta de furação
ou de maremoto, por exemplo. Da mesma forma, apenas
o imenso poder dos supercomputadores tornam práticas
as pesquisas científicas e simulações de armas nucleares,
modelagem química e molecular e projeto de aeronaves e
Grandes máquinas carros de corrida.
Computadores comuns não são o suficiente para cál- Mainframe: processam muitas informações ao mesmo
culos que exigem rapidez e precisão extrema. Por essa ra- tempo, mas não são tão poderosos quanto supercompu-
zão, grandes máquinas com milhares de processadores e tadores. São recomendados para empresas e centrais de
quantidades quase infinitas de memória são montadas em dados.
ambientes restritos e com muita refrigeração.

6
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

- Mainframe é um computador de grande porte capaz de realizar processamento de dados complexos. Mainframes
são usados ​​como sistemas centrais em grandes organizações (empresas, instituições, etc.). São caracterizadas por uma alta
velocidade de execução de tarefas individuais e uma arquitetura projetada para permitir que o equilíbrio entre benefícios e
um maior nível de segu rança. Usados, por exemplo, em bancos e órgãos de governo

Componentes de Hardware
Os diversos componentes de hardware do computador são responsáveis por prover os mecanismos de interação entre
o usuário e o sistema, além armazenar informações.
- Componentes de entrada
- Componentes de saída
- Componentes de armazenamento
- Componentes de processamento

Arquitetura de Von Neumman

Componentes de Armazenamento
Estes dispositivos são responsáveis pela guarda de todas as informações que são geradas pelos dispositivos de entrada
ou oriundos de um processamento.
Neste sentido, tais dispositivos são classificados quanto ao tipo de armazenamento que estes fornecem:
- Volátil;
- Não-volátil;
- Programável;
- Não-programável.

Memória de Armazenamento Volátil


Este tipo de dispositivo de armazenamento somente retém a informação enquanto está energizado. Como exemplo
para este tipo de memória podemos citar a memória RAM (Random Access Memory).

Memória de Armazenamento Não-volátil


Este tipo de dispositivo de armazenamento retém a informação independentemente de estar, ou não, energizado.
Como exemplo para este tipo de memória podemos citar as memórias ROM (Read Only Memory), Disco Rígido, CDs, DVDs,
pen drive, etc...

Memória Programável
Este tipo de memória pode ser programada mais de uma vez, ou seja, esta memória pode ser gravada, apagada e gra-
vada novamente. Exemplos destes tipos de memória são: Disco Rígido, memória principal, CD-RW, pen drive, etc...

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NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Memória Não-Programável
Alguns tipos de memória somente podem ser programadas (gravadas) uma única vez. Estes tipos de memória são
conhecidas como memória ROM (Read Only Memory) ou PROM (Programable Read Only Memory). Exemplos destes tipos
de memória são:
CD-R, alguns chips e micro-processadores, etc...

Disco Rígido - HD
O Disco Rígido (Hard Disk), ou memória secundária, é uma memória de massa não-volátil destinada ao ar-
mazenamento de grandes volumes de dados. Este tipo de memória possui um tempo de acesso bem maior, ou seja, ela é
bem mais lenta que outros tipos de memória (Memória Principal, Cache, Registradores).
- Armazena grandes volumes de dados;
- Não-volátil;
- Armazenamento magnético;
- Acesso lento aos dados;
- Barata.

Memória Principal - RAM


A Memória Principal é uma memória que é destinada ao armazenamento dos aplicativos e programas que estão sendo
executados pelo computador. Trata-se de uma memória volátil, ou seja, os dados são armazenados enquanto esta estiver
energizada. Além disso, ela possui um tempo de acesso menor comparativamente à Memória Secundária, ou seja ela é mais
rápida. Para os computadores estas são chamadas de Memória RAM.
- Armazena volumes de dados moderados;
- Volátil;
- Armazenamento eletrônico;
- Acesso rápido aos dados;
- Custo moderado.

Memória Cache
Trata-se de um tipo de memória de alto desempenho que serve para melhorar o desempenho de processamento do
computador através da diminuição do tempo de acesso aos dados da Memória Principal - MP.
Esta memória armazena os dados e instruções que comumente são mais acessados pelo processador visando diminuir
o gargalo existente entre este e a MP.
- Armazena pequenos volumes de dados;
- Volátil;
- Armazenamento eletrônico;
- Acesso rápido aos dados;
- Alto custo.

Registradores
Trata-se de um tipo de memória que está inserida dentro dos processadores e é constituída por material que garante
acesso ultrarrápido aos dados.
Estes dados são retidos por um curto período de tempo, e em geral permite que os dados sejam armazenados apenas
para a execução de uma instrução.
- Armazena pequenos volumes de dados, normalmente uma única palavra de dados;
- Volátil;
- Armazenamento eletrônico;
- Acesso ultra-rápido aos dados;
- Altíssimo custo.

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NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Comparativo

Sistema Binário
Linguagem de computador
O computador trabalha com uma linguagem bastante simples. Como se trata de um sistema eletroeletrônico uma das
formas mais simples de comunicação é através de pulsos elétricos. Assim, o computador trabalha com duas variáveis, 1 e 0
que significam ligado (1) e desligado (0).
Este sistema é conhecido como sistema binário, ou seja, são apenas dois dígitos que compõem os dados. O menor
fragmento de dados usado é o Bit, que vem do inglês Binary Digit. Logo, um Bit significa ou ligado ou desligado, 1 ou 0.
Entretanto 1 bit não constitui um dado, tampouco um arquivo. A menor unidade de dado armazenável é o byte. Um
byte representa um caractere armazenado no computador.
Então qual a diferença entre bit e byte?
Para representar um conjunto completo de caracteres e algumas teclas de comando, como o enter e esc, é necessário
um conjunto de 256 caracteres. Ou seja, para representar todas as letras (a,b,c,d…), números (1,2,3,4…), símbolos (%,¨,*,$…)
e teclas de comando (esc, enter…) essenciais é necessário um espaço para 256 itens, caracteres.

Como representar através de 2 dígitos cada um dos 256 itens?


Para que com apenas 2 dígitos consigamos representar unicamente (cada item deve ter uma representação única)
precisamos de no mínimo 8 dígitos combinados (1 ou 0). Sendo assim, um byte possui 8 bits.

Medidas de Armazenamento
Em Informática é muito importante considerar a capacidade de armazenamento, já que quando se faz algo no compu-
tador, trabalha-se com arquivos que podem ser guardados para uso posterior. Evidentemente, quando se armazena algo,
isto ocupa um certo espaço de armazenamento.
Assim como a água é medida em litros ou o açúcar é medido em quilos, os dados de um computador são medidos
em bits e bytes. Cada valor do código binário foi denominado “bit” (binary digit), que é a menor unidade de informação.
Cada conjunto de 8 bits forma o byte, o qual corresponde a um caractere, seguindo o código binário.

Por que 1 Kb equivale a 1024 bytes?


No caso do quilo e de outras medidas de nosso dia a dia, a estrutura numérica é construída sobre a base 10. O termo
quilo representa a milhar constituída de alguma coisa. Nossa base de trabalho numérica, sendo 10, faz com que, quando a
base é elevada à terceira potência, atinja a milhar exatamente com 1000 unidades.
Mas, quando falamos em bytes, grupos de bits, não estamos falando em base 10, mas sim em uma estrutura funda-
mentada no código binário, ou seja, na base 2, nos 2 modos que o computador detecta, geralmente chamados de 0 e 1.
Assim, quando queremos um quilo de bytes, temos que elevar essa base a algum número inteiro, até conseguir atingir
a milhar.

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NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Mas não há número inteiro possível que atinja exatamente o valor 1.000. Então, ao elevarmos a base 2 à décima po-
tência, teremos 1024.
Com esse raciocínio agora podemos entender a seguinte tabela:

Bits: a menor parte de um dado


Para começar, vamos falar a respeito da origem do nome dos bits. “Bit”vem de BInary digiT,ou seja, dígitos binários.
Isso porque cada bit é exatamente isto: um dígito binário que pode corresponder aos valores “0” ou “1”. O conjunto deles
forma os dados na forma que nós conseguimos compreender.
Quando ainda estão como bits, apenas programadores conseguem decifrá-los, pois respondem a sequências binárias
mais complexas. Nos códigos de programação, você pode encontrar os binários como ativação ou negação de certas tare-
fas. Por padrão, o “0” desativa as opções, enquanto o “1” faz o contrário.

Bytes: a informação tomando forma


Um conjunto de oito bits representa um byte, que é a fração dos dados que pode ser compreendida pelos usuários.
Nesse caso, em vez de duas combinações possíveis, existem 255. Um caractere, por exemplo, pode possuir o tamanho exato
de um byte (dependendo da codificação utilizada), por isso alguns arquivos no formato TXT podem ser encontrados com
menos de 1 kB.
Quanto tem um byte?
Agora, uma curiosidade. Você pode estar se perguntando: “A imagem mostrada diz que o arquivo possui 23 bytes,
mas ocupa 4 kilobytes em disco. Como isso é possível?”. Apesar de possuir poucas informações, o computador gasta os
4 kilobytes para armazená-lo, pois esse é o valor mínimo definido pela formatação do computador utilizado na ocasião.

Kilobytes: os dados tangíveis


Um kilobyte é composto por 1.024 bytes. Essa é a primeira unidade (entre as citadas) que a grande maioria dos usuários
deve conhecer. Muitos arquivos de texto e até mesmo fotografias com resoluções mais baixas possuem alguns kilobytes. Os
antigos disquetes de 1,44 MB permitiam que os usuários carregassem vários arquivos com essas dimensões.
Essa unidade é muito lembrada quando downloads são realizados. As taxas de transferência são medidas em kilobytes
por segundo. E isso já funciona dessa forma há vários anos, desde a época das conexões discadas. Se em 1999 as pessoas
baixavam músicas em velocidades de 3 kB/s, hoje há várias conexões que permitem downloads de 200 kB/s ou mais.

Megabytes: o mundo multimídia


Se os kilobytes armazenam vários arquivos de texto, os megabytes permitem um mundo muito mais multimídia para
os usuários. Em média, uma música em MP3 ocupa 5 MB no disco rígido e uma foto em alta resolução pode passar dos 2
MB facilmente, dependendo do formato de arquivo que for utilizado.

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NOÇÕES DE INFORMÁTICA

CDs (de áudio ou dados) possuem cerca de 700 MB de Petabyte: muito além do uso doméstico
capacidade. Isso garante que muitos arquivos sejam arma- Um milhão de gigabytes. É exatamente isso que repre-
zenados, ou cerca de 20 músicas. “Mas uma música não senta um petabyte, muito mais do que qualquer pessoa
possui apenas 5 MB?”. Sim, uma música em MP3 ocupa precisa para armazenar seus dados. Na verdade, é muito
isso, mas para os CDs de áudio o formato dos arquivos é mais do que muitas empresas gigantes precisam. Petabytes
diferente e ocupa muito mais megabytes. só são tangíveis se somarmos uma grande quantidade de
Discos e mais discos servidores.
Você pode perceber que todo tipo de mídia pode Segundo James S. Huggins (especialista em tecnologia
representar alguns kBs ou muito MBs, tudo depende da da informação), se fôssemos digitalizar livros, apenas 2 pe-
qualidade com que são codificados. Isso inclui fotografias tabytes seriam suficientes para armazenar toda a produção
e músicas, como já dissemos, e também filmes. Um filme acadêmica dos Estados Unidos. Já o Google processa cerca
em qualidade baixa pode ocupar menos de 500 MBs, en- de 24 petabytes de informações todos os dias, o que de-
quanto o mesmo em qualidade 1080p pode chegar aos 25 manda muitos servidores dedicados à atividade.
gigabytes. Exabyte: o tráfego da internet mundial
Não seria possível ouvir 1 bilhão de canções em apenas
Gigabytes: a alta definição uma vida (capacidade de armazenamento de um HD hipo-
Em tempos remotos (mas não tão remotos assim, tético de 1 EB). Os exabytes ainda estão muito distantes
quando o Windows 95 era o sistema operacional mais uti- dos computadores comuns, mas já são uma realidade na
lizado em todo o mundo), discos rígidos não chegavam internet mundial.
a possuir a capacidade de 1 GB. Mas os sistemas foram O Discovery Institute (uma instituição sem fins lucrati-
evoluindo, outros softwares também e a demanda exigiu vos) realizou alguns estudos e concluiu que, todos os me-
melhorias nos componentes de hardware. ses, são transferidos cerca de 30 exabytes de informações
Hoje, dificilmente encontram-se computadores sendo na internet mundial. Isso representa 1 EB por dia, ou 1 bi-
vendidos com discos rígidos inferiores aos 500 GB de ca- lhão de gigabytes de dados circulando a cada 24 horas.
pacidade. Até mesmo HDs externos podem ser encontra-
Zettabyte: todas as palavras do mundo
dos com capacidades maiores do que essas e sem serem
Você consegue imaginar o que são 1 bilhão de HDs de
vendidos por preços absurdos, como acontecia até pouco
1 terabyte? Agora imagine todos eles lotados de dados.
tempo atrás.
Pois isso é o mesmo que ocupar 1 zettabyte com infor-
Podemos afirmar que, nos próximos anos, os giga-
mações. Essa unidade é muito maior do que conseguimos
bytes devem limitar-se às mídias de alta definição e aos
imaginar ao pensarmos em computadores comuns.
pendrives, visto que HDs devem ultrapassar a casa dos te-
O estudo mais curioso que já foi realizado com base
rabytes em larga escala. Quanto às mídias: DVDs possuem
nos zettabytes é de Mark Liberman (linguista da Universi-
4,7 GB; Blu-rays, 25 GB e arquivos digitais podem ir muito dade da Pensilvânia, Estados Unidos). Ele constatou que, se
além disso. fossem gravadas todas as palavras do mundo (de todos os
idiomas, digitalizadas em 16 bits e 16 kHz), seriam necessá-
Terabytes: a nova necessidade rios 42 zettabytes para armazenar toda a gravação.
Quem poderia imaginar, em 2005, que seria possível
dispor de um disco rígido com capacidade para armazenar Yottabyte: mais do que existe
um terabyte de informações? Pois hoje a realidade é outra Some todas as centrais de dados, discos rígidos, pen-
e os HDs permitem exatamente isso. Você já parou para drives e servidores de todo o mundo. Pois saiba que essa
pensar em quantas músicas poderiam ser armazenadas soma não representa um yottabyte. Um trilhão de teraby-
em um disco desses? tes ou um quadrilhão de gigabytes: não é possível (pelo
Cada dia mais frequentes menos por enquanto) atingir essa quantia.
Vamos às contas. Uma música em MP3, com cerca de Dividindo um yottabyte pela população mundial, te-
3 minutos, ocupa 5 MB. Em 1 TB, poderiam ser armazena- ríamos 142 terabytes para cada pessoa. Levanto em conta
das 200 mil músicas. Caso fossem reproduzidas sequen- que apenas 25% das pessoas possuem acesso a compu-
cialmente e sem interrupções, elas levariam 1 milhão de tadores, essa quantia seria aumentada para 568 terabytes
minutos para serem tocadas sem repetições de arquivos. (pouco mais do que a metade de um petabyte). Seriam 23
Isso representaria 17 mil horas ou 728 dias. Exatamente, mil filmes em Blu-ray para cada um.
seriam quase dois anos sem parar de ouvir músicas.
Se o mesmo cálculo fosse feito para filmes em Blu-ray, Discrepância entre a capacidade reportada e a capaci-
com cerca de 90 minutos e 25 GB, chegaríamos à conclu- dade real
são de que 1 TB pode armazenar 40 filmes em alta defi- Muitos clientes ficam confusos quando seus sistemas
nição. O que exigiria dois dias e meio de “maratona” para operacionais reportam, por exemplo, que seu novo disco
que todos pudessem ser vistos sem pausas. Para DVDs o rígido ST31000340AS de 1000 GB estão reportando apenas
período seria de 13 dias. 909 GB de capacidade útil. Diversos fatores podem estar
em jogo quando você vê a capacidade reportada de uma
unidade de disco. Infelizmente, existem dois sistemas nu-

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NOÇÕES DE INFORMÁTICA

méricos diferentes que são usados para expressar unidades da capacidade de armazenamento: o binário, segundo o qual
um kilobyte é igual a 1.024 bytes, e o decimal, segundo o qual um KB é igual a 1.000 bytes. O padrão de armazenamento
do mercado é exibir a capacidade em decimais. Embora no sistema binário você tenha mais bytes, a representação decimal
de um GB mostra capacidade maior. Para entender melhor a verdadeira capacidade de sua unidade de disco, é necessário
saber qual unidade básica de medida (binário ou decimal) está sendo usada para representar a capacidade. Outro fator que
pode causar uma representação incorreta do tamanho de uma unidade de disco são as limitações do BIOS. Muitos BIOS
mais antigos têm um limite para o número de cilindros que podem suportar.

Motivo para prefixos propostos para múltiplos binários


Há muito tempo, os profissionais de computador perceberam que 1.024 ou 2^10 (binário) era quase igual a 1.000 ou
10^3 (decimal) e começaram a usar o prefixo “kilo” para significar 1.024. Isso funcionou bem o suficiente por uma década
ou duas, pois todas as pessoas que usavam o termo kilobytes sabiam que ele significava 1.024 bytes. Mas, de um dia para
outro, um número muito grande de pessoas comprou computadores e os profissionais que trabalham com computadores
passaram a precisar conversar com físicos e engenheiros e até mesmo com pessoas comuns, cuja grande maioria sabia que
um quilômetro equivale a 1.000 metros e um quilograma equivale a 1.000 gramas.

Dois sistemas de medida diferentes

Hertz ou (Hz) ou MegaHertz (MHz)


A velocidade dum processador mede-se em função da velocidade do seu relógio, que se mede em frequência (Hertz
(Hz) ou Mega Hertz (MHz)). A frequência corresponde ao número de ciclos por segundo.
A frequência interna do relógio do processador varia de processador para processador, sendo comuns velocidades
entre 2 MHz e 3200 MHz (3.2 GHz).

Instruções por segundo


Por vezes, erradamente, esta medida é confundida com o número de instruções que o processador realiza por segundo.
Na realidade, cada instrução é realizada num número específico de ciclos, o que torna impossível definir com exatidão o
número de instruções realizadas num segundo. Existem instruções que são realizadas num único ciclo de relógio (no limite
é o que se deseja), enquanto outras demoram várias dezenas. Consequentemente quanto mais ciclos por segundo mais
rápido será seguida as instruções.

Nota: Na tabela acima imagine uma instrução que precise de 80000 ciclos para se completar sendo executada em 2
computadores com processadores de velocidades diferentes, observe a diferença de tempo para resolução

RPM – Rotações por minuto


Característica encontrada por exemplo no Hard Disk
HD de 500 GB / 7200 RPM
O RPM é a velocidade na qual o disco interno do disco rígido gira, sendo assim, quanto maior a velocidade menor será
o tempo para gravar ou ler informações no disco rígido deixando assim seu computador “mais rápido” ou “mais lento”.

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NOÇÕES DE INFORMÁTICA

GABINETE
O gabinete é uma caixa metálica (ou com elementos de plástico) horizontal ou vertical (nesse caso, também é chamado
de torre), em que ficam todos os componentes do computador (placas, HD, processador, etc).
O gabinete possui locais de encaixe para as placas e uma unidade de fonte elétrica, que converte a corrente elétrica
alternada em corrente contínua para alimentar todos os componentes - alguns, como os gabinetes voltados para jogos ou
profissionais, por demandarem mais alimentação de energia, vem sem fonte elétrica, ficando a critério da pessoa respon-
sável pela montagem escolher aa adequada. Assim, a fonte de alimentação elétrica deve ter uma potência adequada para
a quantidade de periféricos que se pretende instalar no microcomputador. Quanto mais componentes se deseja instalar
mais potência será necessária.
Portanto, a placa mãe, os drives, o disco rígido (HD) e o cooler, devem ser ligados à fonte. As placas conectadas nos
slots da placa-mãe recebem energia por meio dela, de modo que dificilmente precisam de um alimentador exclusivo.

Para ajudar a dissipar o calor gerado pela fonte elétrica, o computador tem um ventilador acoplado, que joga o calor
para fora pela parte de trás e pelos orifícios existentes no gabinete.
Dentro do gabinete são instaladas as placas, que são grupos de circuitos eletrônicos que servem para comandar o mi-
crocomputador e seus periféricos. As principais placas já vêm instaladas quando se compra o microcomputador, mas outras
podem ser instaladas, para melhorar o desempenho, tais como placa aceleradora de vídeo ou placa de som.
Atualmente, o modelo padrão de gabinete é o ATX, pois o AT foi descontinuado. É importante lembrar que o gabinete,
a fonte e a placa-mãe precisam ser de um mesmo padrão, pois, se assim não for, acaba ficando praticamente impossível
conectá-los.
Pode haver vários leds (“Light Emitting Diod” =diodo emissor de luz) no gabinete. São pequenos semicondutores que
tem a capacidade de emitir luz visível, quando submetidos a uma corrente elétrica. São as “luzinhas” no gabinete do com-
putador.
O número de baias, localizadas na parte frontal do gabinete, pode variar. E é nesses espaços que os drives de CD, DVD
e outros são encaixados.
Externamente, na parte frontal, os gabinetes podem apresentar os seguintes botões e leds:
- Botão Reset
- Botão ou chave para ligar o computador (“Power”)
- LED de “Power On”
- LED indicador de acesso ao disco rígido (indica que o disco rígido está sendo acessado)

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NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Em gabinetes antigos pode-se ver também:


- Display digital para indicação de clock
- Botão Turbo
- LED indicador de modo turbo

Pode existir, tanto na parte frontal quanto na traseira do gabinete uma ou mais portas USB.

AT ou ATX
Os gabinetes AT são do padrão antigo. Receberam esse nome devido ao tipo de fonte utilizada - Fonte AT* que resu-
midamente, não interrompia a energia para o sistema operacional ao ser desligado. Assim, quando o sistema operacional
era desligado, ficava na tela uma mensagem informando: “ Seu computador já pode ser desligado”. O usuário então tinha
de apertar o botão On/Off do gabinete para conseguir desligar a maquina.
Praticamente hoje em dia já não se acha mais esses tipos de gabinete, Seu Uso Foi Constante De 1983 Até 1996. Nas
Placas-Mãe AT, O Conector Do Teclado Segue O Padrão DIN E O Mouse Utiliza Saída Serial. Já Os Conectores Das Portas
Paralela E Serial Não São Encaixados Diretamente Na Placa. Eles Ficam Disponíveis Num Adaptador, Que É Ligado Na Parte
De Trás Do Gabinete E Ligados À Placa-Mãe Através De Um Cabo.
Outra característica principal para você saber se o gabinete e AT ou ATX e a quantidade de baias Gabinetes AT não
passam de 3 Baias sendo assim acima de 3 baias são gabinetes ATX.
Foi então que surgiu o gabinete ATX, que vinha com muitas mudanças.
Recebeu esse nome por usar o novo padrão de fonte - Fonte ATX. Umas das mudanças foi a forma de desligar o com-
putador. Quando o sistema operacional é desligado, automaticamente a fonte também já interrompe o fornecimento de
energia para as demais peças (Padrão que é utilizado atualmente). Essa mudança alterou também o tipo do botão on do
Gabinete, não mais ligado diferentemente na fonte de alimentação, mais sim na placa-mãe.
Dessa forma, foi extinto o botão Turbo, O led Turbo e o Visor com a velocidade do processador.
Quanto à fonte de Alimentação, também houveram melhoras significativas. A começar pelo conector de energia ligado
à Placa-Mãe. Ao contrário do padrão AT, nele não é possível encaixar o plug de forma invertida. Cada “furo” do conector
possui um formato, impedindo o encaixe incorreto.

PLACA MÃE
É a placa principal, que possui um conjunto de circuitos integrados (“chip set”) o qual reconhece e gerencia o funcio-
namento de todo o equipamento.

Se tomarmos o processador o cérebro do computador, pode-se dizer que a placa-mãe (ou motherboard) é sua a espi-
nha dorsal, pois é por meio dela que o processador se comunica com os demais periféricos.
Ou seja, a placa-mãe interliga todos os dispositivos do equipamento, possuindo vários tipos de conectores. O proces-
sador é instalado em seu socket, o disco rígido (HD) é ligado nas portas IDE ou ATA, a placa de vídeo pode ser conectada
nos slots AGP 8x ou PCI-Express 16x e as outras placas (placa de som, placa de rede ...) podem ser encaixadas nos slots PCI.
E ainda há o conector da fonte e os encaixes das memórias.
Toda placa mãe possui o programa de controle BIOS (“Basic Input Output System”), armazenado em memória ROM,
que é o responsável pelo teste inicial do sistema (“POST - Power On Self Test”) e que guarda as configurações do hardware
e as informações referentes à data e hora.

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NOÇÕES DE INFORMÁTICA

O BIOS faz o chamado “boot”, que consiste em carre- Gravador de CD/DVD. Embora seja feito pelo mesmo
gar o programa do sistema operacional, que está arquiva- equipamento, o sistema de gravação age diferente. O pro-
do no disco rígido para a memória principal. Com o sistema cessador manda os dados a serem gravados para o grava-
operacional carregado, o microcomputador está pronto dor, que interpreta e grava os dados.
para executar os comandos e executar outros programas. As placas mãe estão presas a evolução de outros Har-
Para manter as configurações de BIOS, ou seja, os da- dwares. Quando é lançado um novo processador, dificil-
dos gravados no chip de memória, responsável pelo arma- mente este processador será compatível com uma placa
zenamento das informações sobre a configuração da má- anterior, mesmo se esta for nova. Estes problemas de com-
quina, incluindo a memória RAM disponível, é usada uma patibilidade, juntado ao problema de algumas placas não
bateria de níquel-cádmio ou lítio, normalmente de 3 volts. aceitarem processadores de outras empresas, faz com que
Portanto, mesmo com o computador desligado, o relógio e seja necessário trocar, algumas vezes, o computador intei-
as configurações de hardware são mantidos ativos. Assim, ro. Ainda tem melhorias nos pentes de memória, HD’s lei-
ao ligar o computador o BIOS executa o auto teste inicial tores, gravadores e placa de vídeo.
do sistema. Atualmente, na maioria dos computadores, o BIOS
possui um sistema denominado plug-and-play (PnP), que
detecta automaticamente qualquer novo periférico, facili-
tando a sua instalação.

Chipset
Outro componente de grande importância nas pla-
cas-mãe é o  Chipset. É ele quem controla os barramen-
tos, acesso à memória, dentre outros. Hoje em dia, ele é
divido em dois (na maioria das vezes), que são a Ponte
Norte (North Bridge) – que controla a memória, barra-
mento de vídeo (slot AGP ou slot PCI-Express), e transfere
Se a bateria ficar fraca aparecem as mensagens “Bat- dados com a Ponte Norte – e a Ponte Sul (South Bridge)
tery low” e “Memory size wrong”. Então a bateria deve ser – que controla componentes, periféricos, tais como HDs,
substituída por outra com as mesmas características. Pode portas USB, barramentos PCI, dispositivos de som e rede.
ser encontrada em lojas que vendem pilhas para relógios O Chipset é também uma espécie de delimitador de capa-
e telefones e tem uma vida útil que varia de dois a quatro cidade nas placas-mãe. É ele quem vai definir qual a quan-
anos. A substituição é simples, já que ela é apenas encaixa- tidade e tipo de memória suportada  (confira  aqui  quais
da em um compartimento na placa-mãe. O cabo de força são os tipos de memória existentes), quantos e quais tipos
da tomada deve ser desligado antes de realizar essa opera- de HDs serão suportados (por exemplo, HDs SATA), qual a
ção de remoção e recolocação da bateria. velocidade máxima que o processador que será ligado à
O relógio ajuda a perceber quando a bateria está fican- placa-mãe poderá ter, dentre outros.
do fraca. Se, toda vez que se ligar o pc, aparecer a hora e a
data com informação errada, em muitos minutos ou horas Componentes Onboard
e até dias, é o momento para trocar a bateria. Além de definir tudo o que foi citado acima, o Chip-
As placas mãe se diferem uma da outra pelo formato, set também especifica quais componentes onboard farão
pela tecnologia suportada e pela velocidade de comunica- parte da placa-mãe. Componentes onboard nada mais
ção com os periféricos. são que dispositivos que vêm junto com a placa-mãe – na
Um pouco sobre o que a placa mãe faz com cada peça maioria das vezes composto som, rede e vídeo (este último
conectada: nem sempre está presente) – para que você não precise
Processador: A placa mãe transmite os “pedidos” de comprar placas separadas para poder ter as funcionalida-
dados para a memória RAM e para o HD, e transfere estes des que eles possuem, barateando assim o custo do seu
dados para o processador computador.
Placa de vídeo: A placa mãe envia as informações e da-
dos do Processador e HD para a placa de vídeo, e a placa Slots
de vídeo envia estes para o monitor. - Memórias
Memória RAM: A memória RAM sempre precisa de da- Os slots de memória variam de acordo com o tipo de
dos do HD, estes dados passam pela placa mãe para che- memória suportado. Por exemplo, uma memória do tipo
garem à memória. DDR2 não encaixa em um slot para memórias DDR3, e vi-
HD: A placa mãe pega as informações e dados do HD ce-versa.
quando a memória RAM precisa.
Leitor de CD/DVD: Quando o leitor interpreta os dados -Conexão com HD/Drivers ópticos
do CD ou DVD, ele envia estes dados para a memória RAM, Os slots usados para a conexão entre a placa-mãe e
que por sua vez manda para o processador. Estes dados HDs/drivers de CD/DVD são os famosos IDE e SATA/SATA2.
são enviados para a placa de vídeo, que os transmite pelo
monitor.

15
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Slots de Expansão Bios e Bateria


Os slots de expansão servem para que seja possível
adicionar recursos à sua placa-mãe. Neles você conecta
placas de rede, placa de som, modems, placa de captura,
etc. Os mais usados atualmente são os slots PCI (Periphe-
ral Component Interconnect), PCI-Express 1x, PCI-Express
e AGP

Muitas pessoas não sabem, mas o computador faz uso


Placas de Vídeo de uma bateria. Essa bateria é responsável por manter o
Os conectores de vídeo mais atuais são o PCI-Express, chip do BIOS (Basic Input/Output System) configurado (o
PCI-Express 2,0 e o AGP (este último já se encontra-se pra- que também significa manter as informações da data e
ticamente fora do mercado, mas ainda é muito utilizado). hora do sistema), o qual é responsável pelo controle básico
Assim como frisamos para os slots de memória, para estes do hardware.
slots também é impossível conectar uma placa que possua É no BIOS que se localiza o software do Setup, local
slot AGP em uma que possua slot PCI-Express. Entretanto, onde você configura os dispositivos da placa-mãe. Lá é
é possível conectar placas PCI-Express 2.0 em slots PCI-Ex- possível desativar dispositivos  onboard  (USB, som, rede,
press, porém, haverá redução de desempenho. etc.), ajustar data/hora, configurar velocidade do processa-
Outro item relevante é a possibilidade de ligar duas dor, dentre outros. Para acessá-lo, basta você pressionar a
ou mais placas de vídeo no mesmo computador. Algumas tecla DEL logo após seu computador ligar (em alguns com-
placas-mãe possuem mais de um slot PCI-Express ou PCI- putadores a tecla de acesso pode ser outra). 
-Express 2.0 e permitem que você conecte as placas para
assim conseguir um desempenho superior. Para as placas Jumpers
Nvidia, a tecnologia chama-se SLI, e para as placas ATI, Jumpers são compostos de pequenos “quadradinhos”
Crossfire. plásticos revestidos de metal por dentro. Estas pecinhas
servem para serem colocadas em pequenos pinos que se
Conectores de Alimentação encontram na placa-mãe. De acordo com o modo como
O conector de alimentação é o local onde você deve estes “quadradinhos” são colocados nos pinos, diferentes
conectar a fonte (a qual distribui energia elétrica à placa e configurações da placa-mãe podem ser mudadas.
todos os demais componentes) à placa-mãe. Existem dois
modelos padrão: os AT e os ATX. O primeiro é mais antigo,
e praticamente já está fora de linha.
O segundo é o mais atual, e é o mais usado. Há também
conectores auxiliares que servem para suprir a demanda de
energia do processador, fazendo com que haja maior esta-
bilidade no funcionamento. Vale lembrar que a fonte é um
item de extrema importância para o bom funcionamento
do computador. Confira neste artigo informações detalha-
das a respeito disso.

Existem ainda jumpers que servem para a conexão de


  cabos do gabinete. Estes cabos servem para que funcio-
nem o botão ligar/desligar, reset, os leds do gabinete, etc.
Também existem jumpers que servem para a conexão de
saídas auxiliares, que são aquelas portas USB e de áudio
que se localizam na frente do gabinete, ou ainda, outras

16
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

saídas USB que são ligadas com placas auxiliares atrás do


gabinete. Para mais informações você deve ler o manual da
sua placa-mãe. Saiba mais sobre jumpers neste link.

Principais conectores das placas mãe (portas de entrada)


LAN (conector de rede)
É usada por cabos de rede para conectar o compu-
tador à internet. É importante não confundir essa entrada S/PDIF
com a do Fax Modem, que é menor. Enquanto o HDMI envia imagem e áudio digitais, o conec-
tor S/PDIF transmite apenas áudio de alta qualidade, através de
cabos TOSLINK. É encontrado em dois modelos: óptico e coaxial.

USB
Usadas por diversos aparelhos, as entradas USB têm
modelos diferentes, que apresentam variações de veloci-
dade (vide USB 2.0 e USB 3.0).

eSATA
Abreviação de “External SATA”. É uma maneira de co-
nectar HDs SATA sem precisar instalá-los dentro do seu ga-
VGA (D-Sub) binete. Tem vantagem em cima dos discos rígidos externos
Conector mais comum para monitores e projetores. conectados via USB por ter uma taxa de transmissão de
dados bem maior (até 300 MB/s em comparação aos 60
MB/s da conexão USB).

JACK DE ÁUDIO (três conectores e 5.1)


São as saídas de áudio do computador. As configurações
mais comuns são as com três conectores e as com seis. As
cores de cada conector têm funções diferentes: verde (caixas
DVI frontais/fone), azul (entrada de linha), rosa (microfone), laran-
Usada por monitores, realiza a transmissão digital de ja (subwoofer e central) e cinza (caixas laterais).
imagem, melhor que a exibida através do conector VGA.

HDMI PS/2
Usada para transmissão de imagem e áudio em alta Usada para periféricos como teclados e mouses. É
definição. identificado pelas cores verde (mouse) e roxa (teclado).
Em algumas placas-mãe, são encontrados conectores hí-
bridos que podem ser usados tanto por teclados quanto
por mouses. Existem adaptadores com entrada USB para
conectores PS/2.

17
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

BARRAMENTO
Praticamente todos os componentes de um computa-
dor, como processadores, memórias, placas de vídeo e di-
versos outros, são conectados à placa-mãe a partir do que
chamamos de barramento. Sem entrar em termos técnicos,
ele é o encaixe de que cada peça precisa para funcionar
corretamente.
Há barramentos específicos para praticamente todos
PORTA SERIAL os componentes conectados ao sistema, geralmente em
Utilizada para conectar diversos equipamentos como siglas muito conhecidas pelos usuários, mas que não são
mouses, scanners, entre outros. Entrou em desuso devido atreladas diretamente à função que realizam.
ao surgimento de alternativas melhores (como o USB).
Barramentos e funções
Há três funções distintas nos principais barramentos de
um computador, que, em termos simples, conectam o pro-
cessador, a memória e os outros componentes conectados
a ele pelo que chamamos de barramentos de entrada e
saída.
- Barramento de dados (data bus) – como o próprio
nome já deixa a entender, é por este tipo de barramento
que ocorre as trocas de dados no computador, tanto envia-
dos quanto recebidos.
PORTA PARALELA - Barramento de endereços (address bus) – indica o
Assim como o conector serial, era utilizada para cone- local onde os processos devem ser extraídos e para onde
xão de equipamentos como impressoras e scanners, mas devem ser enviados após o processamento.
entrou em desuso com o surgimento de tecnologias me- - Barramento de controle (control bus) – atua como
lhores. um regulador das outras funções, podendo limitá-las ou
expandi-las em razão de sua demanda.

Barramentos de entrada e saída


Além da comunicação entre o computador e a me-
mória, você pode adicionar diversos outros dispositivos à
sua placa-mãe, com um barramento especial para cada um
GAME PORT deles. Alguns dos formatos mais conhecidos neste quesi-
Comumente utilizado para conectar joysticks em com- to são o PCI, o AGP, o PCI Express e até mesmo o USB,
putadores antigos. amplamente utilizado em pendrives, impressores, teclados,
mouses e outros periféricos.

Os barramentos podem ser chamados também de:


- Interfaces;
- Portas;
- Conectores;
- Slots;

Segue abaixo os principais barramentos:


- USB;
FIREWIRE - Firewire;
Tecnologia criada pela Apple para entrada e saída de - Thunderbolt;
dados em alta velocidade. É comumente encontrada em - Serial;
computadores da empresa da Maçã e câmeras da JVC, Pa- - PS/2 – MiniDin;
nasonic, Canon e Sony. - Serial Din;
- SuperVideo/VGA/

Existem vários tipos de barramentos:


- Barramento do processador
- Barramento de endereços
- Barramento de entrada/saída
- Barramento de memória

18
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

No entanto, quando nos referimos ao “barramento“ Largura do Barramento


de um computador pretendemos quase sempre referir o
Barramento de entrada/saída, o qual também é designado A largura, ou tamanho, de um barramento é uma uni-
por “slots de expansão”. Este é o principal Barramento do dade de medida que caracteriza a quantidade de informa-
sistema e é através do qual a maior parte dos dados circula, ções (bits de uma forma geral) que pode fluir simultanea-
tendo como origem ou como destino, dispositivos como mente pelo barramento. No caso de fiação, conforme visto,
os drives, impressoras ou o sistema de vídeo. Sendo este consiste a priori, na quantidade de fios paralelos existentes
último o mais exigente em termos de recursos. no barramento ao passo que, em circuitos impressos (pla-
cas), consiste nos traços impressos na placa com material
O Barramento do Processador condutor (filetes de cobre) por onde flui a corrente elétrica,
O Barramento do processador é o caminho através do em última estância, as informações.
qual o CPU comunica com o chip de suporte conhecido Esta largura, maior ou menor, também se constitui em
como “Chipset” nos sistemas mais recentes. Este barra- um dos elementos que afetam a medida de desempenho
mento é usado para transferir dados entre o CPU e a me- de um sistema, juntamente com a duração (largura) de
mória Cache, por exemplo. cada bit ou sinal - a taxa de transferência, ‘velocidade’ do
O Barramento da Memória fluxo de informações, é geralmente especificada em bits
O Barramento da Memória é usado para transferir in- (ou Kbits ou Mbits etc.) por segundo e depende, funda-
formação entre o CPU e a memória principal do sistema. mentalmente, da largura do barramento: quanto maior
Este barramento pode ser parte integrante do processador esta maior será a taxa.
ou na maioria dos casos implementado separadamente O intervalo de tempo requerido para mover um grupo
com auxílio de um chipset dedicado. de bits (tantos quanto a quantidade de bits definida pela
Um dos aspectos fundamentais quanto ao barramento, largura do barramento) ao longo do barramento, é deno-
em especial quando tratamos de memória, é a quantidade minado ciclo de tempodo barramento ou, simplesmente,
de bits que ele é capaz de levar por vez. Um ótimo exemplo ciclo de barramento(bus cycle), semelhantemente ao que
para elucidar isso é em relação à placas de vídeo. entendemos para o ciclo do processador e para o ciclo de
Diversos modelos de placas, em especial nas mais an- memória.
tigas, apresentavam versões com barramentos diferentes
de memória dedicada. Embora elas tivessem a mesma apa- Barramentos Síncronos e Assíncronos
rência, clock de processamento e quantidade de memória O barramento síncrono é simples de implementar e
disponível, as diferenças finais eram assustadoras, graças testar justamente devido à sua natureza inflexível (periodi-
ao barramento. cidade) quanto ao tempo; em consequência qualquer ativi-
Como exemplo, existiam modelos de GeForce 4 com dade entre mestre e escravo somente pode realizar-se em
32, 64 e até 128 bits de barramento, com os outros parâ- quantidades fixas de tempo, o que acaba tornando-se uma
metros praticamente iguais entre elas. A diferença na velo- desvantagem porque o barramento pode ter problemas
cidade dos jogos é realmente muito alta. como, por exemplo, ao trabalhar com dispositivos que te-
nham tempos de transferências diferentes – nesta situação
Tipos de Barramentos há necessidade da inserção de estados de espera (wait sta-
Basicamente existem dois: tes) que nada mais são do que ciclos de barramento extras.
- Barramento externo - interliga os diversos compo- Esse inconveniente não ocorre com o barramento as-
nentes de um sistema computacional tais como UCP, ou síncrono que, por não depender de relógio com intervalos
CPU, memória, unidades de entrada/saída etc. fixos de tempo, pode conviver com dispositivos que velo-
- Barramento interno - interliga elementos no interior cidade baixa e alta que utilizam tecnologia antiga e avan-
de um componente (pastilha), como, por exemplo, os re- çada, tirando vantagens das melhorias na tecnologia. Em
gistradores, ou registros, de um microprocessador. contrapartida requer sinais adicionais para prover a devida
sincronização dos eventos.
Quanto ao Fluxo de Informações:
- Barramento unidirecional - só pode transferir dados Slots de Expansão
em um sentido; sendo tipicamente utilizados para interligar Os slots do Barramento de entrada/saída permitem
dois dispositivos um dos quais é sempre a origem e o outro ao CPU comunicar com os periféricos. O barramento e os
é sempre o destino; respectivos slots de expansão são necessários porque os
- Barramento bidirecional - pode transferir dados nos sistemas têm de se adaptar às necessidades de evolução.
dois sentidos, mas não em ambos simultaneamente; eles Possibilitam assim que se adicionem dispositivos ao
são tipicamente utilizados quando qualquer um dos dis- computador para aumentar as suas capacidades. Como
positivos pode ser a origem e qualquer outro pode ser o exemplos, temos as placas de som ou vídeo e mesmo dis-
destino. positivos mais específicos como placas de rede ou placas
A comunicação da CPU, com o restante do sistema é SCSI.
feita através de um barramento de dados bidirecional e de
um barramento de endereços unidirecional (saída).

19
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

PCI - Interconexão de Componentes Periféricos (Peri- ou seja, recebe e envia dados (250 MB/s em cada direção
pheral Component Interconnect) simultaneamente). O PCI Express utiliza, nas suas conexões,
O barramento PCI (Peripheral Component Intercon- linhas LVDS (Low Voltage Differential Signalling).
nect) foi criado originalmente durante o desenvolvimento Pelo fato de ser um barramento serial, sua arquitetu-
do microprocessador Pentium, pela Intel, no inicio da dé- ra de baixa voltagem, permite grande imunidade ao ruído
cada de 1990. O sucesso da PCI encontra-se no fato que e também permite aumentar a largura de banda. Isso foi
o sistema pode automaticamente reconhecer e configurar possível graças à redução de atrasos nas linhas de trans-
a placa, o PnP (Plug and Play) como é chamado, também missão (timing skew).
criado pela Intel. Existem duas versões deste barramento: Cada conexão usada no PCI Express trabalha com 8 bits
Versão 1.0: Utilizado a 33 MHz; Possui largura de 32 bits por vez, sendo 4 em cada direção. A frequência usada é de
em uma conexão de 124 pinos; Desempenho calculado = 2,5 GHz, mas esse valor pode variar. Assim sendo, o PCI
32 (bits) x 33 (MHz) / 8 (bits) = 132 Mbits/s; Suporta muitos Express 1x consegue trabalhar com taxas de 250 MB por
dispositivos Versão 2.0: Projetado para ser independente segundo, um valor bem maior que os 133 MB/s do padrão
do microprocessador; Sincronizado com o Clock do micro- PCI de 32 bits. Existem algumas placas-mãe que possuem
processador de 20 a 33 MHz; Possui largura de 64 bits em um slot PCIe x16 (por exemplo) que na verdade trabalha
uma conexão de 188 pinos; Desempenho calculado = 64 em x8 ou x4, fato que ocorre por depender da quantidade
(bits) x 33 (MHz) / 8 (bits) = 264 Mbits/s; Todos os pon- de linhas disponíveis para uso no chipset e também por
tos citados acima foram vantagens deste barramento em ser possível o uso de slots maiores com menos caminhos
relação aos anteriores. Embora com muitas vantagens, a de dados.
PCI carrega com si o problema de compartilhar largura de O PCI Express é um barramento ponto a ponto, onde
banda entre todos os periféricos conectados, tornando- cada periférico possui um canal exclusivo de comunicação
-se um gargalo para o aumento de velocidade deste bar- com o chipset. Isto contrasta fortemente com o padrão PCI,
ramento. As placas PCI têm 47 pinos (49 para uma placa que é um barramento em que todos os dispositivos com-
com “bus mastering”, que controla o barramento PCI sem partilham a mesma comunicação, de 32 bits (ou 64 bits),
intervenção do processador). O barramento PCI consegue num caminho paralelo.
trabalhar com poucos pinos por causa da multiplexação de Há contradições quanto a forma de se referir ao PCI Ex-
press como sendo um barramento, já que, no sentido estri-
hardware, que significa que o dispositivo enviar mais do
to da palavra, o termo “barramento” surgiu para descrever
que um sinal por pino. Além disso, o PCI é compatível com
um canal de comunicação compartilhado por vários dispo-
dispositivos que usam tanto 5 volts como 3,3 volts. Com o
sitivos ou periféricos, no entanto, em toda a sua documen-
recurso Bus mastering, as placas poderiam ter acesso dire-
tação é usado o termo “PCI Express bus” para mencioná-lo.
to a memória, independente do processador. A PCI tornou-
-se popular com a chegada do Windows 95, em 1995. O
USB
súbito interesse no PCI deveu-se ao fato de o Windows 95
O USB, “Universal Serial Bus” é um tipo de conexão en-
ser compatível com uma característica chamada Plug and
tre computador e periféricos que surgiu em 1995, a partir
Play (PnP), já mencionado anteriormente. E foi largamente de um consórcio de empresas: a “USB Implementers Fo-
utilizada, com placas para praticamente tudo, desde placa rum”, formada por companhias como Intel, Microsoft e
de rede até chegar a placa de som. Philips, com o objetivo de desenvolver uma tecnologia que
facilitasse a vida do usuário. Em pouco tempo surgia o bar-
Barramento PCI Express ramento USB, que pode ser usado para instalar qualquer
PCI Express (também conhecido como PCIe ou PCI - EX) dispositivo que use esse mesmo padrão.
é o padrão de slots para placas de expansão utilizadas em O periférico USB tem fornecimento de energia elétrica
PCs. criada pela Intel. Introduzido pela Intel em 2004, o PCI feito pelo mesmo cabo usado para o tráfego de dados, isto
Express foi concebido para substituir os padrões AGP e PCI. é, dados e energia chegam ao pc pela mesma porta USB à
Sua velocidade vai de 1x até 32x (sendo que atualmente só qual o equipamento é conectado no PC.
existe disponível até 16x). Mesmo a versão 1x consegue ser A porta USB tem capacidade para detectar o disposi-
seis vezes mais rápido que o PCI tradicional. No caso das tivo conectado automaticamente, evitando o uso de um
placas de vídeo, um slot PCI Express 16x é duas vezes mais tipo específico de conector para cada dispositivo. Assim, a
rápido que um AGP 8x. Isto é possível graças a sua tecnolo- instalação de mouse, teclado, impressora, scanner, câmera
gia, que conta com um recurso que permite o uso de uma digital, por exemplo, tornou-se simples.
ou mais conexões seriais para transferência de dados. A interface USB também possibilita conectar e desco-
A tecnologia utilizada no PCI Express conta com um nectar qualquer dispositivo USB com o computador liga-
recurso que permite o uso de uma ou mais conexões seriais do, sem que este sofra danos, sem haver a necessidade
(“caminhos”, também chamados de lanes) para transferên- de reiniciá-lo para que o aparelho instalado possa ser usa-
cia de dados. Se um determinado dispositivo usa apenas do. (Antigamente, existia até o risco de curtos-circuitos, se
um caminho (conexão) a demais que o PCI comum, então houvesse uma instalação com o equipamento ligado).
diz-se que este utiliza o barramento PCI Express 1x, se uti- Uma característica importante do USB é que sua inter-
liza 4 conexões, sua denominação é PCI Express 4x e assim face permite que o dispositivo conectado seja alimentado
por consequentemente. Cada lane pode ser bidirecional, eletricamente pelo cabo de dados, ou seja, não é preciso

20
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

ter um outro cabo para ligar o aparelho à tomada elétrica. acesso bastante baixos, de forma que o USB 2.0 possui es-
Mas, isso só é possível com equipamentos que consomem pecificações de sobra para dar conta desses produtos. Co-
pouca energia, já que a corrente não admite mais que 5 nector USB padrão, tanto para a versão 1.1 até a 2.0
volts.
É importante frisar que os cabos USB devem ter até 5 - USB 3.0 Ainda caminhando à popularização, o USB
metros de comprimento pois, acima disso, o aparelho pode 3.0 fornece uma taxa de transferência de dados (teórica)
não funcionar corretamente. Caso seja necessário instalar de até 4.8 Gbps, e um fornecimento de energia 80% maior
dispositivos em distâncias longas, é recomendável o uso de em relação aos padrões anteriores, o que o torna ideal para
hubs USB a cada cinco metros. gadgets de alta performance como pendrives e discos rí-
gidos mais velozes.  Como muitas vezes acontece na com-
Características do USB putação, uma especificação só se torna padrão devido à
São características do barramento serial universal: po- demanda pelo seu uso, e como o USB 2.0 ainda preenche a
dem ser conectados ao computador até 127 dispositivos, necessidade da maioria dos dispositivos no mercado atual-
diretamente ou através de hubs USB; cabos individuais USB mente os fabricantes ainda oferecem soluções híbridas em
podem ter até 5 metros, os dispositivos podem ficar até 30 seus produtos, com uma ou duas portas USB 3.0 com ou-
m de distâncias do computador, o que equivale a 6 cabos; tras USB 2.0 para baratear o preço final. Outra mudança
um cabo USB possui dois fios para energia(alimentação e implementada no USB 3.0 é a utilização de um conector de
aterramento), e um par trançado para condução de dados; 9 pinos em vez dos 4 pinos utilizados nas versões anterio-
Nos cabos de energia, o computador poderá fornecer até res para um melhor controle no fluxo de dados e geren-
500 mA de energia a 5 volts; Os dispositivos de baixa po- ciamento de energia. Ele pode ser diferenciado dos outros
tência(como mouse e teclado) são alimentados diretamen- anteriores por seu conector de cor azul. Conector USB 3.0
te pelo barramento, já os dispositivos de alta potência (por É importante lembrar que todos os conectores USB são re-
demandarem uma maior quantidade de energia, como im- trocompatíveis, ou seja, um dispositivo USB 2.0 funciona
pressoras) possuem fonte própria de alimentação e exigem em uma entrada USB 3.0 e vice-versa, e o mesmo ocorre
uma energia mínima do barramento - os hubs podem ter com o USB 1.1.
suas próprias fontes de energia para fornecer energia aos dis-
positivos conectados a ele; os dispositivos USB são Plug and Conectores USB 3.02
Play, podem ser conectados e desconectados a qualquer mo- Outro aspecto no qual o padrão USB 3.0 difere do 2.0
mento, o drive é de fácil instalação, geralmente automática. diz respeito ao conector. Os conectores de ambos são bas-
tante parecidos, mas não iguais.
Diferenças entre as versões1
- USB 1.1 - Lançado em 1998, essa versão foi desen- - Conector USB 3.0 A
volvida para unificar o tipo de interface utilizada para co- Como você verá mais adiante, os cabos da tecnologia
nectar periféricos, pois o padrão 1.0, lançado em 1996, de- USB 3.0 são compostos por nove fios, enquanto que os ca-
finia as especificações técnicas para todos os dispositivos bos USB 2.0 utilizam apenas quatro. Isso acontece para que
USB, mas não dizia nada sobre um conector padrão para o padrão novo possa suportar maiores taxas de transmis-
ser utilizado, de forma que existia uma mesma interface de são de dados. Assim, os conectores do USB 3.0 possuem
implementação para todos os dispositivos, mas com vários contatos para esses fios adicionais na parte do fundo. Caso
tipos de conectores. Essa especificação previa velocidades um dispositivo USB 2.0 seja utilizado, este usará apenas os
de 1,5 Mbps até 12 Mbps, dependendo da configuração de contatos da parte frontal do conector. As imagens a seguir
velocidade. Mesmo na época em que foi lançado, o USB mostram um conector USB 3.0 do tipo A:
1.1 trazia velocidades já consideradas lentas em relação a
outros barramentos, como o fireware e o SCSI, mas já era
um grande avanço em ralação às portas seriais e paralelas e
na universalização de um conector padrão para periféricos.

- USB 2.0 A atualização do padrão USB para a versão


2.0 em 2000 deu um grande passo em relação à sua popu-
larização. Com a velocidade máxima teórica de 480 Mbps
de transferência, ele começou a ser bastante utilizado por
dispositivos que exigiam mais largura banda, como pen-
drives e discos rígidos externos e até monitores. Com uma
largura de banda 40 vezes maior que o modelo anterior, a
versão 2.0 é o padrão até hoje, pois preenche a necessida-
de da maioria dos dispositivos que utilizamos. Dispositivos
mais lentos, como teclados, mouses e pendrives, requerem
uma largura de banda, consumo de energia e tempos de
1 Fonte: http://canaltech.com.br/analise/hardware/quais-sao-as-dife-
rencas-entre-o-usb-11-20-e-30-639/ 2 Fonte: http://www.infowester.com/usb30.php

21
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Estrutura interna de um conector USB 3.0 A - Baseado


em imagem da USB.org

Conector micro-USB 3.0 B - imagem por USB.org


Atenção: Para facilitar a diferenciação, fabricantes es-
Conector USB 3.0 A - imagem por USB.org tão adotando a cor azul na parte interna dos conectores
Você deve ter percebido que é possível conectar dis- USB 3.0 e, algumas vezes, nos cabos destes. Note, no en-
positivos USB 2.0 ou 1.1 em portas USB 3.0. Este último é tanto, que é essa não é uma regra obrigatória, portanto, é
compatível com as versões anteriores. Fabricantes também sempre conveniente prestar atenção nas especificações do
podem fazer dispositivos USB 3.0 compatíveis com o pa- produto antes de adquiri-lo.
drão 2.0, mas, nesse caso, a velocidade será a deste último.
E é claro: se você quiser interconectar dois dispositivos via
USB 3.0 e aproveitar a sua alta velocidade, o cabo precisa
estar nesse padrão.

- Conector USB 3.0 B


Tal como acontece na versão anterior, o USB 3.0 tam-
bém conta com conectores diferenciados para se adequar
a determinados dispositivos. Um deles é o conector do tipo
B, utilizado em aparelhos de porte maior, como impresso-
ras ou scanners.
Em relação ao tipo B do padrão USB 2.0, a porta USB
3.0 possui uma área de contatos adicional na parte supe-
rior. Isso significa que nela podem ser conectados tantos Conector micro-USB 3.0 em um smartphone
dispositivos USB 2.0 (que aproveitam só a parte inferior)
quanto USB 3.0. No entanto, dispositivos 3.0 não podem Usb 3.1
ser conectados em portas B 2.0:

Conector USB 3.0 B - imagem por USB.org A conexão USB 3.1 tipo C é um conector mais rápido
do que uma USB 3.0, sua velocidade é de 10Gbps e o USb
- Micro-USB 3.0 3.0 com velocidade de 5Gbps. Sua entrada é menor e
O conector micro-USB, muito utilizado em smartpho- pode ser conectada dos dois lados sem se preocupar com
nes, por exemplo, também sofreu modificações: no padrão o lado certo. Afinal… quem nunca conectou o USB do lado
USB 3.0 - com nome de micro-USB B -, passou a contar errado, não é?
com uma área de contatos adicional que, de certa forma,
diminui a sua praticidade, mas foi a solução encontrada
para dar conta dos contatos extras:

22
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

O que é USB Tipo-C (USB-C ou USB Type-C)?


É um novo tipo de conexão para o padrão USB, que permite que você conecte o cabo em qualquer posição, sem ter
que se preocupar qual o lado correto do cabo. Mas o USB tipo C é muito mais do que isso. Com o sucesso atingido pela
interface USB, notou-se que era necessário remover algumas restrições existentes para facilitar a vida do usuário, oferecer
uma integração maior e permitir o uso da interface em equipamentos cada vez mais compactos, além de suportar tecno-
logias futuras.
O novo USB Tipo-C não é apenas um novo cabo e conector, apesar deste ser o foco da mídia e do marketing.
O USB Tipo-C vai além – sendo o cabo e o conector reversíveis apenas a pontinha do iceberg – com uma engenharia
impressionante e capacidades integradas que farão os consumidores demandarem o USB Tipo-C pelos próximos 20 anos e
onde desenvolvedores irão oferecer soluções com o USB Tipo-C durante o futuro próximo (palavras de John Hyde da USB
Design By Example).

REVERSÍVEL, PEQUENO E ROBUSTO


Um conector reversível facilita a conexão já que você não tem que descobrir qual o lado certo para encaixar, principal-
mente se for difícil a visualização da porta USB.
Outra vantagem é que o conector Tipo-C é bem menor do que o tipo A (e só um pouquinho maior que o tipo B Micro,
presente em quase todos os smartphones – que não sejam da Apple), o que facilita a integração em equipamentos com-
pactos e é robusto o bastante para ser utilizado nos equipamentos maiores (como notebooks e tablets).

UM CONECTOR PARA TUDO


Independente do equipamento ou periférico suportar apenas o padrão USB 2.0 ou o USB 3.0 / 3.1, todos podem fazer
uso do USB Tipo-C. Assim a vida fica mais fácil, pois é possível utilizar um mesmo cabo (sem se preocupar com sua orien-
tação) em várias situações.
Outro ponto muito importante: o USB Tipo-C não oferece suporte apenas para a interface USB, mas também é capaz
de transmitir os protocolos relativos aos padrões DisplayPort, PCI-Express e e-SATA.
E não é só isso. O USB Tipo-C foi o escolhido pela Intel para ser o meio físico pelo qual a interface Thunderbolt 3 será
transmitida.

23
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

- Quadro comparativo entre as versões de USB

THUNDERBOLT
Criada em 2009 pela Intel, a tecnologia Thunderbolt chegou ao mercado em 2011, em produtos da Apple.
Utiliza cabos de cobre (na versão atual) e fibra óptica (em versões futuras) para transferir dados entre o computador
e outros dispositivos (como câmeras fotográficas) ou equipamentos periféricos (como monitores de vídeo). Trata-se de
um novo padrão sugerido pela Intel. Essa tecnologia usa portas e cabos próprios, incompatíveis com outros padrões de
transferência de arquivos no mercado, como o USB.

Thunderbolt 3
Fora a Apple, poucos fabricantes adotaram o padrão Thunderbolt. Mas a Intel continua apostando na ideia: a terceira
versão da tecnologia vem aí. O que há de novo? Conforme previsto, velocidade de transferência de dados de até 40 Gb/s
(gigabits por segundo) e, acredite, conector USB tipo C (USB-C).
A compatibilidade do Thunderbolt 3 com o USB tipo C é, com efeito, questão de conveniência e praticidade. Você
pode ter uma porta USB-C que suporta tanto conexões USB 3.1 quanto Thunderbolt 3.
Essa integração propicia o uso de ambas as tecnologias em dispositivos como o atual MacBook, que tem uma única
porta USB-C para dar conta de conexões HDMI, VGA, USB (obviamente), entre outros.
Quem vai se beneficiar do Thunderbolt 3? Essencialmente, quem precisa de muita velocidade na transferência de
dados. O USB 3.1, a versão mais atual (e ainda pouco usada), transfere dados à taxa máxima de 10 Gb/s. O novo Thun-
derbolt é quatro vezes mais rápido, sendo útil, por exemplo, para profissionais que trabalham com produção de vídeo e
frequentemente precisam transferir dezenas de gigabytes entre dispositivos distintos.

24
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

PROCESSADOR Estrutura interna da UCP


Organização do Processador (UCP)
A UCP (Unidade central de processamento ou no Em resumo, as atividades realizadas pela UCP podem
inglês Central process unit, a famosa CPU ) é a parte prin- ser divididas em duas grandes categorias funcionais:
cipal do computador responsável pelo processamento e - Função processamento - encarrega de realizar as ati-
execução de programas armazenados na memória princi- vidades relacionadas com a efetiva execução de uma ope-
pal. Sua função consiste em coordenar, controlar e realizar ração, ou seja, processar; e
todas as operações (execução de instruções) do sistema. - Função controle - exercida pelos componentes da
UCP que se encarregam das atividades de busca, interpre-
tação e controle da execução das instruções, bem como do
controle da ação dos demais componentes do sistema de
computação (memória, entrada/saída, etc).
a) Organização dos Registradores
O registrador na UCP tem duas funções:
- Registradores visíveis ao usuário: Estes permitem ou
habilitam a máquina ou programador de linguagem As-
sembly a minimizar referências de memória principal aper-
feiçoando uso de registradores.
Estes podem se caracterizar nas seguintes categorias:
de aplicação geral, de dados, de endereço e de códigos de
condição.
- Registradores de controle e de estado: Estes são usa-
dos pela unidade de controle para controlar a operação
da UCP e por privilégio, programas do sistema operacional
para controlar a execução de programas. Quatro registra-
dores são essenciais a execução de instrução: contador de
A UCP com o barramento do sistema programa (CP), registrador de instrução (RI), registrador de
endereço de memória (REM) e o registrador de dados da
Suas partes principais são as seguintes: memória (RDM).
- A unidade aritmética e lógica (UAL): realiza o cálculo
real ou o processamento de dados (realiza as operações b) Organização da Unidade Aritmética e Lógica
aritméticas e lógicas). Em termos muito gerais, a UAL é interconectada com o
- A unidade de controle (UC): controla o movimento de resto da UCP. Os dados são apresentados a UAL através de
dados e instruções dentro e fora da UCP e controla a ope- registradores, e os resultados de uma operação são arma-
ração da UAL, de forma adequada e sincronizada. zenados também em registradores. A UAL também fixará
- Os registradores: memória interna mínima e que con- flags como o resultado de uma operação. A unidade de
siste num conjunto de localizações de armazenamento. controle fornece sinais que controlam a operação da UAL e
- Barramento interno da UCP: é o caminho necessário o movimento dos dados dentro e fora da UAL.
para transferir dados entre os vários registradores e a UAL.

Entradas e saídas da UAL.

c) Organização da Unidade de Controle


A unidade de controle é aquela porção da UCP que,
emite sinais de controle externos à UCP para causar a troca
de dados com a memória e os periféricos. A unidade de
controle também emite sinais de controle internos à UCP
para mover dados entre registradores, fazer com que a
UAL execute uma função especificada e para regular outras
operações internas.
Entrada à unidade de controle consiste no registrador
de instrução, flags e sinais de controle de fontes externas
(por exemplo, sinais de interrupção).

25
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

É visto que a responsabilidade básica da unidade de controle é causar uma sucessão de operações elementares, cha-
mada microoperação, a ocorrerem durante o curso de um ciclo de instrução.
Há duas maneiras, utilizadas no projeto e funcionamento de uma UC, que caracterizam conceitos diferentes de con-
trole:
- Controle programado diretamente no hardware (“hardwired control”); e - controle por microprogramação.
A diferença básica entre os dois tipos está no processo de controle da realização do ciclo de instrução. No primeiro
caso, cada etapa é realizada segundo uma lógica préestabelecida, implementada fisicamente no hardware da área de con-
trole. No caso de controle microprogramado, a interpretação e as conseqüentes etapas do ciclo de instrução são realizadas
passo a passo por um programa, denominado microprograma.

Modelo da Unidade de Controle .

d) Organização do barramento interno da UCP


É uma rede de linhas de comunicação que conecta os elementos internos de uma UCP e também direciona-se para os
conectores externos que ligam a UCP aos outros elementos de um sistema de computação. Os três tipos de barramentos
da UCP são:
- Um barramento de controle: que consiste numa linha que sente sinais de entrada e outra linha que gera sinais de
controle a partir da UCP (linha bidirecional);
- Um barramento de endereço: uma linha unidirecional da UCP que controla a localização de dados em endereços de
memória;
- Um barramento de dados: uma linha de transferência bidirecional que tanto lê como escreve dados na memória.

Soquete
O soquete é o tipo de conexão fisica que o processador usa para se conectar à placa-mãe. Esta é a característica mais
importante na hora de se escolher um processador, pois é com base no soquete do chip que você escolherá o modelo da
sua placa-mãe.
Os soquetes utilizados pelos processadores da AMD são os seguintes: AM3; AM3+; FM1 e FM2. Já os utilizados pela
Intel são o LGA1156; 1155; 1150; 1366 e 2011. Cada um desses soquetes é compatível com gerações distintas de processa-
dores e são compatíveis com diferentes recursos e funcionalidades.
É importante também ressaltar que um processador não encaixa numa placa-mãe cujo soquete seja diferente. Por isso,
fique bem atento ao tipo de soquete utilizado pelo seu processador e pela placa-mãe, para não acabar comprando um
modelo incompatível.

26
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Clock interno ding, o sistema operacional entende que ele possui, na


O clock interno, conhecido simplesmente como clock, verdade, quatro núcleos.
é o número de ciclos por segundo de um sinal de sincronis- Desta forma, esta tecnologia é sempre bem-vinda na
mo usado dentro do processador. Esse ciclo é medido em hora de comprar um novo processador. No entanto, não
Hertz (Hz). Atualmente, os processadores já estão na casa se engane achando que estes núcleos simulados são tão
dos GigaHertz (GHz). eficientes quanto os físicos. Eles existem apenas para com-
Por muito tempo falou-se que o clock era um indicati- plementar o processamento.
vo da velocidade do chip. Quanto maior o clock, mais rá-
pido ele é. Porém, isso não passa de um mito. Visto que os Controlador de vídeo
processadores de gerações e fabricantes diferentes usam Os processadores modernos trazem um outro com-
arquiteturas diversas, é impossível comparar a velocidade ponente que é de grande ajuda para o desempenho geral
deles apenas com a frequência do clock. da máquina: os controladores de vídeo. Assim, quando o
Devido a arquitetura, um processador com clock inter- usuário precisa executar vídeos em HD ou Full HD, a má-
no mais baixo pode ser mais rápido que um outro chip quina não fica travando ou superaquecendo.
que apresente o clock mais alto. A frequência do clock só Desta forma, se você estiver montando um computa-
é parâmetro de comparação de velocidade se levarmos em dor de entrada, que não será usado para jogos, escolha
conta processadores da mesma linha. sempre um processador que tenha um controlador de ví-
deo integrado, pois ele vai melhorar o processamento das
Overclock dinâmico animações do sistema, bem como rodar com mais fluidez
Tanto a Intel quanto a AMD possuem tecnologias que vídeos em alta resolução do YouTube ou do seu próprio
aumentam o clock do processador automaticamente sem- HD.
pre que o chip está com uma grande carga de processa-
mento. Cada uma delas dá um nome diferente para esta APU
prática, que ficou conhecida como overclock dinâmico. Como você pode imaginar, o trabalho de uma UCP
A Intel chamou isso de Turbo Boost e a AMD de Tur- nunca foi fácil, eles sempre precisaram de uma certa aju-
bo CORE. Na prática, ao comprar um processador, cheque da. Chips auxiliares facilitam o trabalho duro de lapidar
se o modelo que você está querendo comprar possui esta os dados, como os coprocessadores aritméticos FPUs, se
tecnologia, pois assim você ganha um pouco mais de de- fosse preciso fazer contas mais elaboradas a CPU recorria
sempenho em momentos cruciais sem que você precise aos FPUs. Esses cálculos eram particularmente importantes
mexer em multiplicador de clock e outros termos comuns para jogos, que usam cálculos complexos para gerar gráfi-
à overclockers. cos melhores.
Como tudo evolui, os jogos e aplicações gráficas exi-
Clock base giam cada vez mais processamento. Então surgiram as
O clock base nada mais é do que um clock de menor GPUs, unidades de processamento gráfico, ou simples-
frequência. O clock interno, falado no primeiro item, é ob- mente placa de vídeo, verdadeiros processadores de ima-
tido ao se multiplicar este clock base. gem, com funções de manipulação de vértices.
Núcleos de processamento As APUs, a grosso modo, são a junção da CPU com
O núcleo de processamento é, na verdade, o próprio GPU, ou seja, um processador com chip de processamento
processador, o chip que na prática faz o processamento de gráfico de uma placa de vídeo, isso mesmo, dois produtos
todos os bits e bytes. Os processadores modernos trazem em um só.
mais de um núcleo. Assim, na prática, ao comprarmos um O termo APU foi apresentado pela primeira vez duran-
processador dual-core, por exemplo, estamos adquirindo te a Computex 2010, o primeiro produto da união da AMD
dois processadores, só que unidos num mesmo encapsu- com a ATI. Uma APU da ADM roda gráficos DirectX 11,
lamento. com processamento paralelo ativado, aceleração de vídeo
É possível encontrarmos à venda processadores com UVD3, com constantes atualizações de drive melhorando
dois, quatro, seis e oito núcleos de processamento, cha- gráficos e desempenho. Apesar de tantos recursos, esse
mados de dual-core, quad-core, hexa-core e octa-core. É tipo de processador oferece baixo consumo de energia e é
importante frisar que processadores com mais núcleos não menor do que você pensa.
necessariamente são mais rápidos que os com menos. Vale lembrar que APU é um termo amplamente utiliza-
Para usar toda a potência de quatro núcleos, por exem- do pela AMD, mas a Intel também possui chips com essa
plo, é importante que o programa que você use seja escrito tecnologia, apesar de evitar essa denominação. Veja abaixo
para fazer uso de quatro ou mais núcleos. Caso contrário, o os chips APU de ambos os fabricantes.
chip será usado da mesma forma que qualquer outro.

Hyper-Threading
A Hyper-Threading é uma tecnologia da Intel que si-
mula mais um núcleo de processamento para cada núcleo
físico. Para exemplificar: um chip dual-core possui dois nú-
cleos de processamento. Com a tecnologia Hyper-Threa-

27
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

A grande vantagem desta junção é o custo mais barato para o fabricante e consequentemente para o consumidor. Uma
APU hoje custa muito mais barato do que uma CPU e uma GPU separadamente e a performance é equivalente. Além disso,
temos uma economia também no consumo de energia e simplicidade na implementação. Já a desvantagem é que se este
chip apresentar problemas, você perde a CPU e o GPU.
A tendência do mercado é usar APUs tanto em computadores, quanto em notebooks, tablets e smartphones. Até os
principais consoles de video game já usam APUs da AMD.

Memória cache
A memória cache é um tipo de memória extremamente rápida e que se localiza dentro do processador. Ela é dividida
em três níveis: L1, L2 e L3. Quanto mais memória cache o chip tiver, mais rápido ele será.
Isso porque a memória cache armazena dados essenciais para o processamento das tarefas mais recentes ou mais utili-
zadas. Isso agiliza o trabalho do processador, que depende mais da memória RAM que é um pouco mais lenta que a cache.

TDP (Thermal Design Power)


Este item indica a quantidade máxima de calor que o processador pode dissipar. Ela é medida em watts (W). Ao com-
prar um novo processador, escolha o que tiver o menor TDP possível dentro da categoria que você estiver analisando.
Quanto menor o TDP, menos energia o chip consome e, consequentemente, mais barata virá a conta de luz. Além dis-
so, quanto menor o TDP, menos calor é gerado. Desta forma, as ventoinhas trabalharão menos e irão gerar menos ruído.

MEMORIA PRINCIPAL
A memória principal (ou memória primária) tem por finalidade o armazenamento de instruções e dados de programas
que serão ou estão sendo executados pela UCP. É considerada como uma memória de trabalho para a UCP, sendo organi-
zada em células com tamanho fixo e igual, cada uma identificada por um número denominado endereço. A MP pode ser
acessada através de duas operações:
a ) leitura: ler da memória - significa requisitar à MP o conteúdo de uma determinada célula. O sentido de operação
dá-se da MP para a UCP.
b) escrita: escrever na memória - significa escrever uma informação em uma célula da MP. O sentido da operação dá-se
da UCP para a MP.

Classificam-se em dois grupos:


. RAM (Memória de Acesso Aleatório) - dinâmica ou estática - esta memória volátil retém as instruções e dados de
programas que estão sendo executados, tornando o tempo de leitura e escrita extremamente rápidos.
. ROM ou ROM padrão - é a memória somente de leitura, pois as informações são gravadas no momento da fabricação
e não mais serão alteradas. Contém basicamente informações necessárias para o funcionamento do computador, como
rotinas que verificam se os meios físicos estão aptos para o funcionamento. Outras versões de ROMs são disponíveis -
PROM, EPROM, EEPROM ou EAPROM e memória flash - as quais podem ser programadas, no mínimo, uma vez; são todas
memórias não voláteis.
A memória cache é uma memória (RAM estática) volátil de alta velocidade, localizada entre a UCP e a memória princi-
pal, usada com a finalidade de acelerar o processamento do subsistema UCP/MP, funcionando como um buffer da memória
principal.
Toda vez que a UCP faz referência a um dado armazenado na memória principal, ela “olha” antes na memória cache.
Se a UCP encontrar o dado na cache, não há necessidade do acesso à memória principal (cache hit); do contrário o acesso
é obrigatório (cache miss ou cache fault).
Apesar de ser uma memória de acesso rápido (tempo de acesso é muito menor em relação à memória principal), seu
uso é limitado em função do alto custo.
A memória cache existe apenas nas placas de microcomputadores com UCP’s mais rápidas, a partir do 386DX de 25
MHz.

28
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

As memórias secundárias (auxiliares ou de massa) são


um tipo de memória não volátil de grande capacidade de
armazenamento, usada para guardar informações (instru-
ções e dados de programas) que não serão imediatamente
usadas pela UCP.
Como exemplos de memórias secundárias tem-se as
fitas magnéticas, discos (fixos e removíveis), disquetes, win-
chesters, tambores magnéticos, CD-ROM, e outros.

Dentre os principais tipos de memória RAM, destacamos:


- SDR-SDRAM (Single Data Rate Sincronous Dynamic
Random Access Memory):
Essa foi a primeira memória capaz de trabalhar sincro-
nizada com os ciclos da placa-mãe, sem tempos de espera. cidades diferentes também cresceu:
Esse tipo de memória superava as antigas memórias EDO
(Extended Data Out) e FPM (Fast Page Mode) por sua capa-
cidade de dividir os módulos de memória em vários ban- - DDR2: A taxa de transferência por ciclo de clock do-
cos, alocando até oito bancos em um módulo DIMM (Dual brou novamente, e as memórias DDR2 são capazes de rea-
Inline Memory Module). Como o próprio nome diz, elas são lizar quatro transferências por ciclo, mas mantendo prati-
capazes de realizar apenas uma transferência por ciclo, o camente o mesmo tempo de acesso inicial, o que resultava
que nos dias de hoje pode parecer pouco, mas na épo- em ótimos resultados em aplicativos que necessitavam de
ca em que eram padrão todos se orgulhavam de ter pen- uma grande quantidade de leitura sequencial, mas para
tes com a denominação “PC-100” instalados na máquina aqueles que exigiam apenas alguns acessos aleatórios ti-
:) Mesmo presentes em alguns computadores ainda hoje, ravam pouco proveito dessa velocidade em relação às me-
são muito difíceis de serem encontradas à venda, pois não mórias DDR. No uso diário de um computador utilizamos
são mais produzidas. Aqui temos os modelos e velocida- vários tipos de aplicativos com necessidades de memória
des desse padrão: bastante distintas, o que torna difícil de observar gran-
des diferenças de desempenho em tarefas cotidianas. Na
verdade, vários usuários que adquiriram placas-mãe com
soquete DDR2 ficaram desapontados na época, pois em
várias tarefas umas memória DDR2-533 leva mais tempo
para responder do que uma DDR-400. Ainda encontradas à
venda, os módulos DDR2 são capazes de rodar os sistemas
operacionais modernos sem gargalos e com bastante flui-
dez. Elas também são consideradas SDRAM, assim como os
modelos subsequentes, então se tornou comum chamar as
memórias apenas como “DDR2” ou “DDR3”.
- DDR-SDRAM (Double Data Rate): As memórias DDR
superavam as memórias SDR por sua capacidade de reali-
zar duas transferências por ciclo, o que não necessariamen-
te dobrava a velocidade efetiva (devido ao mesmo tempo
de acesso inicial), mas chegavam quase lá. Essa caracte-
rística é possível devido à inclusão de circuitos adicionais,
responsáveis por ler/escrever dados duas vezes por ciclo.
Com exceção dessa alteração, as trilhas tanto dos pentes
de memórias como da placa-mãe permaneceram inaltera-
das, assim como as demais características, o que contribuiu
para o baixo preço e popularização desse padrão. Em pro-
gramas de análise de hardware como o CPU-Z, a veloci-
dade efetiva aparece com metade do valor real devido à
transferência dupla, então um modelo DDR-400 (PC-3200)
vai ser mostrado como 200 MHz. Na imagem abaixo fize-
mos a análise de uma máquina com pentes de memória
DDR2, cuja leitura é similar aos pentes DDR: Mesmo com DDR3: O modelo DDR2-1066 foi o último a ser reco-
fôlego para rodar os sistemas operacionais mais atuais, as nhecido oficialmente pelo JEDEC (Joint Electron Device
memórias DDR saíram de linha em favor da geração DDR2. Enginnering Council - Conselho Conjunto para Engenha-
Ainda é possível encontrar modelos à venda em lojas espe- ria de Dispositivos de Elétrons), entidade certificadora de
cializadas, mas a um preço bastante salgado. A quantidade memórias, e já operava a frequências altíssimas (266 MHz
de modelos DDR com velo multiplicado por 4). A partir desse ponto, como acontece

29
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

com os processadores, aumentar a clock base aumentava exponencialmente o consumo de energia e geração de calor, en-
tão a solução mais efetiva foi dobrar de novo a quantidade de transferências por ciclo. Essa simples mudança nos circuitos
de transferência torna possível a criação de memórias operando a 2133 MHz (266 MHz multiplicado por 8), o que é uma
velocidade impressionante mesmo para os padrões atuais. Se o tempo de acesso continuasse o mesmo, as memórias DDR3
não ofereceriam grandes vantagens em relação às DDR2, mas esses novos módulos trouxeram também um sistema de
calibração de sinal, o que diminui a latência sem comprometer o desempenho. A união de uma velocidade de transferência
maior e um tempo de acesso menor ainda supre tanto o mercado de computadores domésticos quanto os de alto desem-
penho nos dias de hoje, e a grande quantidade de chipsets e plataformas suportadas contribuiu para uma queda drástica
nos preços. Veja os modelos e velocidades:

DDR4: A DDR4 oferece melhor desempenho, maiores capacidades DIMM, maior integridade de dados e menor consu-
mo de energia. Alcançando mais de 2Gbps por pino e consumindo menos energia do que a DDR3L (DDR3 Baixa Voltagem),
a DDR4 proporciona até 50 por cento de aumento no desempenho e na largura de banda e, ao mesmo tempo, reduz o
consumo de energia de todo o seu ambiente de computação. Isso representa uma melhora significativa em relação às
tecnologias de memória anteriores e uma economia de energia de até 40 por cento. Além do desempenho otimizado,
computação de baixo custo e mais ecológica, a memória DDR4 também oferece verificações de redundâncias cíclicas (CRC)
para maior confiabilidade dos dados, detecção de paridade no chip para verificação da integridade de ‘transferências de
comando e de endereço a partir de um link, maior integridade do sinal e outros recursos RAS robustos. (Fonte: Kingston)

Diferença no encaixe da chave


O encaixe da chave do módulo DDR4 está em um local diferente do encaixe da chave do módulo DDR3. Ambos os
encaixes estão localizados na borda de inserção, mas o local do encaixe no módulo DDR4 é ligeiramente diferente, para
evitar que o módulo seja instalado em uma placa ou plataforma incompatível.

30
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Maior espessura
Os módulos DDR4 tem uma espessura ligeiramente maior do que os DDR3, para acomodar mais camadas de sinal.

Borda curva
Os módulos DDR4 apresentam uma borda curva para ajudar na inserção e aliviar o estresse no circuito impresso du-
rante a instalação da memória.

DISPOSITIVOS DE ARMAZENAMENTO
Dispositivo de armazenamento é um dispositivo capaz de gravar (armazenar) informação (dado). Essa gravação de da-
dos pode ser feita virtualmente, usando qualquer forma de energia. Um dispositivo de armazenamento retém informação,
processa informação, ou ambos. Um dispositivo que somente guarda informação é chamado mídia de armazenamento.
Dispositivos que processam informações (equipamento de armazenamento de dados) podem tanto acessar uma mídia
de gravação portátil, ou podem ter um componente permanente que armazena e obtém dados. Tipos de dispositivos de
armazenamento:
- Por meios ópticos (CDs, DVDs, Blu-Ray etc).
- Por meios magnéticos (HDs, disquetes).
- Por meios eletrônicos (SSDs) - chip - Exemplos: cartão de memória e pen drive.
Observação: Memória RAM não é um dispositivo de armazenamento, pois armazena apenas temporariamente as in-
formações.

DISCO RÍGIDO (HD - HARD DISK)


O disco rígido - ou HD (Hard Disk) - é o dispositivo de armazenamento não-volátil (permanente) de dados mais utili-
zado nos computadores. Nele é armazenado qualquer tipo de informação, desde uma simples foto pessoal como dados
usados pelo sistema operacional. Basicamente, o papel principal do disco rígido é armazenar dados, mas não é só isso os
sistemas operacionais conseguem utilizar o HD como uma extensão da memória, na chamada Gestão de memória Virtual.
Porém esta função é utilizada somente quando a memória principal (memória RAM) está sobrecarregada.
Para que você possa compreender o funcionamento básico dos discos rígidos, precisa conhecer seus principais com-
ponentes. Os tão mencionados discos (pratos), na verdade, ficam guardados dentro de uma espécie de “caixa de metal”.
Estas caixas são seladas para evitar a entrada de material externo, pois até uma partícula de poeira pode danificar os discos,
já que estes são bastante sensíveis. Isso significa que se você abrir um HD em um ambiente despreparado e sem o uso dos
equipamentos e das técnicas apropriadas, terá grandes chances de perdê-lo.

31
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

é chamada trilha 1 e assim por diante, até chegar à trilha


mais próxima do centro. Cada trilha é dividida em trechos
regulares chamados de setores. Cada setor possui uma
capacidade determinada de armazenamento (geralmente,
512 bytes).
E onde entra os cilindros? Eis uma questão interes-
sante: você já sabe que um HD pode conter vários pratos,
sendo que há uma cabeça de leitura e gravação para cada
lado dos discos. Imagine que é necessário ler a trilha 42 do
lado superior do disco 1. O braço movimentará a cabeça
até esta trilha, mas fará com que as demais se posicionem
de forma igual. Isso ocorre porque normalmente o braço
se movimenta de uma só vez, isto é, ele não é capaz de
mover uma cabeça para uma trilha e uma segunda cabeça
para outra trilha.
Isso significa que, quando a cabeça é direcionada à tri-
lha 42 do lado superior do disco 1, todas as demais cabeças
Os pratos de um HDD são onde os discos são arma- ficam posicionadas sobre a mesma trilha, só que em seus
zenados, normalmente são de alumínio cobertos por um respectivos discos. Quando isso ocorre, damos o nome de
material magnético e por mais uma camada de material cilindro. Em outras palavras, cilindro é a posição das cabe-
protetor. ças sobre as mesmas trilhas de seus respectivos discos.
Os discos ficam posicionados sob o motor (eixo), que Note que é necessário preparar os discos para receber
é responsável por fazê-los girar. Os HDs também possuem dados. Isso é feito por meio de um processo conhecido
um dispositivo chamado de cabeça de leitura e gravação como formatação. Há dois tipos de formatação: formata-
(uma espécie de agulha). Os dados são lidos e gravados ção física e formatação lógica. O primeiro tipo é justamente
sem que a agulha encoste no disco. Isso só acontece por- a “divisão” dos discos em trilhas e setores. Este procedi-
que o HD é hermeticamente fechado e em consequência à mento é feito na fábrica. A formatação lógica, por sua vez,
alta velocidade em que o disco é submetido, a cabeça de consiste na aplicação de um sistema de arquivos apropria-
leitura acaba sendo expelida para cima. Nos últimos mo- do a cada sistema operacional. Por exemplo, o Windows é
delos de HDD, a cabeça de gravação conta com dois com- capaz de trabalhar com sistemas de arquivos FAT e NTFS.
ponentes, um tem a responsabilidade de gravar e outro O Linux pode trabalhar com vários sistemas de arquivos,
dedicado à leitura. entre eles, ext3 e ReiserFS.

O atuador do HD é responsável por mover o braço Interfaces Principais


acima da superfície dos pratos e com isso permitir que as Padrão IDE
cabeças de leitura executam o seu trabalho. O atuador fun- O IDE, do inglês Integrated Drive Electronics, foi o pri-
ciona por atração/repulsão magnética. meiro padrão que integrou a controladora com o Disco Rí-
A parte responsável por todo o armazenamento de da- gido. Os primeiros HDs com interface IDE foram lançados
dos são os discos magnéticos. por volta de 1986 e na época isto já foi uma grande ino-
A superfície de gravação dos pratos é composta por vação porque os cabos utilizados já eram menores e havia
materiais sensíveis ao magnetismo (geralmente, óxido de menos problema de sincronismo, o que deixava os proces-
ferro). O cabeçote de leitura e gravação manipula as mo- sos mais rápidos.
léculas deste material por meio de seus polos. Para isso, a Inicialmente, não havia uma definição de padrão e os
polaridade das cabeças muda em uma frequência muito primeiros dispositivos IDE apresentavam problemas de
alta: quando está positiva, atrai o polo negativo das mo- compatibilidade entre os fabricantes. O ANSI (American
léculas e vice-versa. De acordo com esta polaridade é que National Standards Institute), em 1990, aplicou as devidas
são gravados os bits (0 e 1). No processo de leitura de correções para padronização e foi criado o padrão ATA
dados, o cabeçote simplesmente “lê” o campo magnético (Advanced Technology Attachment). Porém com o nome
gerado pelas moléculas e gera uma corrente elétrica cor- IDE já estava mais conhecido, ele permaneceu, embora al-
respondente, cuja variação é analisada pelo controlador do gumas vezes fosse chamado de IDE/ATA.
HD para determinar os bits.
Para a “ordenação” dos dados no HD, é utilizado um
esquema conhecido como geometria dos discos. Nele, o
disco é “dividido” em cilindros, trilhas e setores:
As trilhas são círculos que começam no centro do disco
e vão até a sua borda, como se estivessem um dentro do
outro. Estas trilhas são numeradas da borda para o centro,
isto é, a trilha que fica mais próxima da extremidade do
disco é denominada trilha 0, a trilha que vem em seguida

32
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

As primeiras placas tinham apenas uma porta IDE e uma FDD (do drive de disquete) e mais tarde passaram a ter ao
menos duas (primária e secundária). Cada uma delas permite a instalação de dois drives, ou seja, que podemos instalar até
quatro Discos Rígidos ou CD/DVD-ROMs na mesma placa. Para diferenciar os drives instalados na mesma porta, existe um
“jumper” para configurá-los como master (mestre) ou slave.
Inicialmente, as interfaces IDE suportavam apenas a conexão de Discos Rígidos e é por isso que há um tempo atrás os
computadores ofereciam como diferencial os famosos “kits multimídia”, que eram compostos por uma placa de som, CD-
-ROM, caixinhas e microfone. O protocolo ATAPI (AT Attachment Packet Interface) foi criado para fazer a integração deste
tipo de drive com o IDE, de forma que se tornou rapidamente o padrão.
Obs.: Também é conhecida como ATA (Advanced Technology Attachment) ou, ainda, PATA (Parallel Advanced Techno-
logy Attachment).

SATA
O SATA ou Serial ATA, do inglês Serial Advanced Technology Attachment, foi o sucessor do IDE. Os Discos Rígidos que
utilizam o padrão SATA transferem os dados em série e não em paralelo como o ATA. Como ele utiliza dois canais separa-
dos, um para enviar e outro para receber dados, isto reduz (ou quase elimina) os problemas de sincronização e interferên-
cia, permitindo que frequências mais altas sejam usadas nas transferências.

Os cabos possuem apenas sete fios, sendo um par para transmissão e outro para recepção de dados e três fios terra.
Por eles serem mais finos, permitem inclusive uma melhor ventilação no gabinete. Um cabo SATA pode ter até um metro de
comprimento e cada porta SATA suporta um único dispositivo (diferente do padrão master/slave do IDE).

Diferenças entre SATA I, SATA II e SATA III


- SATA I (revisão 2.x) conhecida como SATA 1.5Gb/s, uma segunda geração de interface SATA rodando a 1.5 Gb/s. O
caudal de largura de banda que é suportado pela interface é de até 150MB/s.
- SATA II (revisão 2.x), conhecida como SATA 3Gb/s, é uma segunda geração de interface SATA rodando a 3,0 Gb /s. O
caudal de largura de banda que é suportado pela interface é de até 300MB/s.
- SATA III (revisão 3.x), conhecida como SATA 6Gb/s, é uma terceira geração de interface SATA rodando a 6.0Gb /s. O
caudal de largura de banda que é suportado pela interface é de até 600 MB /s. Esta interface é compatível com interface
SATA de 3 Gb/s.

33
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

As especificações SATA II são compatíveis com versões - Em relação à capacidade


anteriores para funcionar em portas SATA I. As especifica- Apesar de ainda encontrarmos hds de tamanhos me-
ções SATA III são compatíveis com versões anteriores para nores, em relação aos hds de 3,5´ os modelos fabricados
funcionar em portas SATA I e SATA II. No entanto, a ve- hoje em dia vão de 500GB até os novos hds de 8TB, volta-
locidade máxima será mais lenta devido às limitações de dos para pequenas e médias empresas, pequenos escritó-
velocidade das portas SATA. rios e para profissionais que trabalham com grande volume
de dados, como edição de vídeos em alta definição.
Cache (buffer) No caso específico dos modelos de 2,5´, os modelos
Ao procurar por especificações de um disco rígido, mais usados são os de 500GB e 1 TB.
você certamente verá um item de nome cache ou buffer, já
mencionado neste texto. Trata-se de outro recurso criado Formatação
para melhorar desempenho do dispositivo.
Os HDs, por si só, não são muito rápidos. Não adianta A formatação de um disco magnético é realizada para
muito contar com processadores velozes se o acesso aos que o sistema operacional seja capaz de gravar e ler dados
dados no HD prejudica o desempenho. Uma maneira en- no disco, criando assim estruturas que permitam gravar os
contrada pelos fabricantes para amenizar este problema foi dados de maneira organizada e recuperá-los mais tarde.
implementar uma pequena quantidade de memória mais Existem dois tipos de formatação, chamados de forma-
rápida no dispositivo. Este é o cache. tação física e formatação lógica. A formatação física é feita
Para esta memória vão, de forma temporária, sequên- na fábrica ao final do processo de fabricação, que consiste
cias de dados que estão relacionadas à informação que em dividir o disco virgem em trilhas, setores, cilindros e
está sendo disponibilizada no momento. Com estas sequên- isolar os bad blocks (danos no HD). Estas marcações fun-
cias no cache, diminui-se a quantidade de procedimentos de cionam como as faixas de uma estrada, permitindo à ca-
leitura, já que muitas vezes os dados encontrados já estão lá. beça de leitura saber em que parte do disco está, e onde
O buffer também pode ser utilizado para processos de ela deve gravar dados. A formatação física é feita apenas
gravação: se, por algum motivo, não for possível gravar um uma vez, e não pode ser desfeita ou refeita através de soft-
ware. Porém, para que este disco possa ser reconhecido e
dado imediatamente após a solicitação, o controlador da
utilizado pelo sistema operacional, é necessária uma nova
unidade pode “jogar” esta informação no cache para gra-
formatação, chamada de formatação lógica. Ao contrário
vá-la logo em seguida.
da formatação física, a formatação lógica não altera a es-
Atualmente, é comum encontrar discos rígidos com até
trutura física do disco rígido, e pode ser desfeita e refei-
64 MB de cache. Ao contrário do que muita gente pensa,
ta quantas vezes for preciso, através do comando Format
o cache não precisa ter grande capacidade para otimizar o
do DOS, por exemplo. O processo de formatação é quase
desempenho da unidade automático; basta executar o programa formatador que é
fornecido junto com o sistema operacional.
S.M.A.R.T.
O S.M.A.R.T (Self-Monitoring, Analysis and Reporting Exemplos de sistema de arquivos
Technology - (Tecnologia de Auto-Monitoramento, Análise Os sistemas de arquivos mais conhecidos são os uti-
e Relatório em português) é uma tecnologia implementada lizados pelo Microsoft Windows: NTFS, FAT32 e FAT 16. O
pelos fabricantes desses equipamentos para que o usuário FAT32 é uma versão evoluída do FAT16 introduzida a partir
possa monitorar o desgaste dos componentes e planejar do MS-DOS 4.0. A partir do Windows NT foi introduzido o
o backup, prevenindo a perda de dados. Para acessar as NTFS, que trouxe novos recursos.
informações coletadas pelo S.M.A.R.T é necessário utilizar
um programa especialista, como HDTune Pro, HDD Health Quando o micro é ligado, o BIOS (um pequeno progra-
ou HDD Scan. O usuário terá acesso a parâmetros como ma gravado em um chip na placa mãe, que tem a função
Taxa de Erros, Temperatura, Velocidade de Rotação dos Dis- de “dar a partida no micro”), tentará inicializar o sistema
cos e inúmeros outros parâmetros para, assim, verificar se operacional. Independentemente de qual sistema de arqui-
os discos estão em boas condições ou se está na hora de vos esteja usando, o primeiro setor do disco rígido será
fazer um backup de dados importantes. reservado para armazenar informações sobre a localização
É um sistema de monitoramento incluído em dispo- do sistema operacional, que permitem ao BIOS “achá-lo” e
sitivos de discos rígidos (HDDs) e dispositivos de estado iniciar seu carregamento.
sólido (SSDs) No setor de boot é registrado qual sistema operacional
está instalado, com qual sistema de arquivos o disco foi forma-
Tamanhos tado e quais arquivos devem ser lidos para inicializar o micro.
- Em relação a dimensões Um setor é a menor divisão física do disco, e possui sempre
Os tamanhos mais comuns são de 3,5 e 2,5 polegadas. 512 bytes. Um cluster é a menor parte reconhecida pelo siste-
Estas medições se referem ao diâmetro dos discos. As uni- ma operacional, e pode ser formado por vários setores.
dades de 3,5 polegadas são comumente empregadas em Um único setor de 512 bytes pode parecer pouco, mas
desktops, workstations e servidores, enquanto que HDs de é suficiente para armazenar o registro de boot devido ao
2,5 polegadas são comuns em notebooks e outros compu- seu pequeno tamanho. O setor de boot também é conhe-
tadores com dimensões reduzidas. cido como “trilha MBR”, “trilha 0”, etc.

34
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

HD Externo Você deve escolher um disco interno ou externo?


O HD ou Hard Disk é o dispositivo que armazena Um disco interno fornece armazenamento integrado
os dados do seu computador. Todos os arquivos, fotos, a velocidades máximas. Um disco externo oferece uma
programas, tudo, está guardado no HD. Todo HD possui maior flexibilidade e armazenamento expandido sempre
um limite de memória, por isso, quando temos arquivos que você precisar.
demais, é necessário liberar espaço, tirando os arquivos Cada opção tem suas vantagens e desvantagens.
menos utilizados e colocando-os em outro lugar, no qual Os discos internos devem ser fisicamente instalados
não haja risco de se perderem tais documentos, mas que abrindo o computador, algo que algumas pessoas hesitam
também tenhamos fácil acesso caso precisemos de algum em fazer. Entretanto, seus arquivos e programas são arma-
deles. Eis que entra o HD externo, que vai armazenar seus zenados diretamente no computador e sempre estarão lá
dados de maneira segura para que você possa utilizá-los quando você precisar.
sempre que necessitar. Discos externos são conectados ao computador por
Outra facilidade do HD externo é que ele é ultra por- meio de cabos de encaixe, como o Backup Plus portátil, ou
tátil, podendo ser levado a qualquer lugar e acoplado em acessados por Wi-Fi, como o Wireless Plus. Isso possibilita
praticamente qualquer computador, sendo assim, você que você leve os arquivos para qualquer lugar, transfira-os
pode levar seu computador ali dentro, todos os dias, para para outros computadores ou adicione armazenamento
onde quer que você vá. Dados seguros num dispositivo instantaneamente ao computador ou rede sem complica-
que cabe na sua mochila, alguns até no seu bolso. ções técnicas.
O HD externo funciona com entrada USB, podendo
vir acompanhado de um cabo USB ou não. Os cabos USB
que acompanham o HD externo geralmente podem ser
utilizados para acoplá-lo em outros dispositivos, como
câmeras fotográficas e ipods.
Atualmente existe uma infinidade de HDs externos,
alguns mais simples, funcionando apenas como um pen
drive de maior potência, e outros que já vêm com progra-
mas instalados e permitem compartilhamento de dados
na rede.
Embora existam alguns modelos do tamanho de uma
carteira masculina, sua portabilidade é um pouco menor
do que a do Pen Drive e em alguns casos necessitam de
fonte de alimentação e proteção como um estabilizador
ou no-break.

SSD

SSD, em inglês, Solid State Disks3, ou mesmo Disco


sólido, em português, é um tipo de HD que usa chips de
memória Flash no lugar dos discos magnéticos usados no
HD normal, semelhantes aos cartões de memória e os pen-
drives. Ele é um tipo de HD mais moderno muito usado
Qual é a importância da velocidade do disco rígido? em notebooks. Sua construção é baseada em um circui-
Quando você inicia o seu computador, abre um arqui- to integrado semicondutor, feito em um único bloco. Este
vo, ouve uma música ou faz qualquer outra coisa, você usa tipo de HD é muito mais resistente ao HD convencional
a unidade de disco rígido. Os discos dentro da unidade pois não possui partes móveis, assim, são mais seguros a
giram. Quanto mais rápido eles giram, mais rapidamente quedas e batidas, além de tudo, o consumo de eletricidade
o computador pode encontrar o arquivo que você deseja. é muito menor e os ruídos praticamente são inexistentes.
Dessa forma, uma unidade de 7.200 RPM será mais Além de todas as vantagens mencionadas acima, os SSDs
rápida do que uma de 5.400 RPM. O que isso significa são considerados mais seguros, pois não ficam expostos
para você no uso diário vai variar. Com discos externos, a ações mecânicas, diminuindo assim, o risco de erros ou
você dificilmente sentirá a diferença. Com discos internos, falhas. Outra vantagem bastante evidente é que, por pos-
a diferença será pouca com arquivos e aplicativos meno- suir tempo de acesso relativamente baixo, o desempenho
res, mas será óbvia com arquivos e aplicativos maiores. ao executar diversos aplicativos e iniciar o computador é
muito melhor. Há de se considerar também o peso menor
3 Fonte: https://www.oficinadanet.com.br/artigo/hardware/qual-a-
-diferenca-entre-hd-e-ssd

35
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

em relação aos discos rígidos, mesmo os mais portáteis e possuir um consumo reduzido de energia; conseguindo trabalhar
em ambientes mais quentes do que os HDs (cerca de 70°C). Acima citamos várias vantagens do uso do SSD, no entanto,
há algumas desvantagens que podem ser cruciais na escolha do HD. No entanto, quem quer bastante espaço, não deve
escolher um SSD, já que, a capacidade de um HD convencional é muito maior. O “ciclo de vida” do SSD, isto é, o tempo
médio de duração do disco, é muito menor se comprado ao tradicional. Os discos de estado sólido não possuem o funcio-
namento igual aos HDs que, podem ser sobrescritos muitas vezes. De acordo com especialistas e os próprios fabricantes,
um mesmo setor de um SSD pode sofrer um número limite de 10 milhões de escritas, isso na melhor hipótese. Abaixo veja
a tabela comparativa entre o HD e o SSD:

Além disso, ainda custam muito caro, com valores muito superiores que o dos HDs. A capacidade de armazenamento
também é uma desvantagem, pois é menor em relação aos discos rígidos. De qualquer forma, eles são vistos como a tec-
nologia do futuro, pois esses dois fatores negativos podem ser suprimidos com o tempo.
Atualmente, encontramos modelos de 60GB a 1TB de capacidade de armazenamento.

CD, DVD e Blu-ray


Apesar da evolução, as mídias CDs, DVDs e Blu-Ray ainda coexistem. Parecidos no formato e diferentes na capacidade,
essas mídias são usadas em muitas aplicações. Conheça mais um pouco sobre cada uma dessas tecnologias e descubra
porque elas ainda sobrevivem a era do stream multimídia e da mobilidade.

CD
Com um preço e uma capacidade menor (até 700 MB de dados), o CD sobreviveu à popularização do DVD e continua
sendo muito usado. Além de ser o mais barato e comum dos três, ele ainda é muito usado, especialmente por gravadoras.
No uso pessoal, o CD é a mídia mais versátil e pode ser usada para guardar gravações de áudio de até 74 minutos, vídeos
de até 20 minutos e arquivos diversos para fazer backup de pequenos dados do computador.

DVD
Sucessor do CD, o DVD pode ser usado para as mesmas funções do CD e um pouco mais, pois tem quase sete vezes
a capacidade (4.7 GB) de seu antecessor (700 MB).  Ele pode ser usado para gravar arquivos da mesma forma que o CD e
também no formato DVD, onde é possível guardar filmes de alta qualidade com até quatro horas em vários idiomas, com
suporte a menus e animações. Para completar, arquivos gravados nesse último formato podem ser reproduzidos por apa-
relhos de DVD, eliminando a necessidade de um computador.

36
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

O principal motivo da longevidade do DVD frente ao Blu-Ray tem sido a popularização lenta deste último (que tem
piorado com a forte adoção de serviços de stream de vídeos). Além disso, o DVD ainda é uma mídia bastante usada para
gravação e distribuição de filmes por grandes empresas do mercado de entretenimento, tanto que muitas fornecem filmes
nas duas mídias.

Blu-Ray
Mesmo tendo uma capacidade altamente superior, o Blu-Ray ainda não está presente no cotidiano da maioria das
pessoas. Ele é mais usado como forma de distribuição de filmes e  jogos, sendo pouco usado para gravação de dados. Isso
em parte se deve ao fato de poucos equipamentos virem com unidades do formato. Na prática, as três mídias ainda são
usadas para jogos de videogame, como os consoles Playstation 3 e Playstation 4 e XBox One.

Compatibilidade
Independente das diferenças, as unidades Blu-Ray podem gravar dados e realizar leituras também em DVDs e CDs. Já
as unidades de DVD, podem gravar e ler em DVDs e CDs, e por último, unidades de CD gravam e lêem dados apenas em
CDs. Tudo isso garante compatibilidade e consequentemente, mais sobrevida às mídias antigas.
Dentro dos padrões do CD e DVD existem algumas variações da tecnologia (CD-R, CD-RW, DVD-R, DVD-RW, DVD+R e
DVD+RW), que estão relacionadas à forma como os dados são gravados e quantas vezes o disco pode ser gravado. Mídias
R são as “Rewritable”, ou seja, graváveis e podem ser usadas para salvar arquivos apenas uma vez. Já as RW são as Rewrita-
ble, o que significa que elas são regraváveis - ou em outras palavras, são capazes de salvar conteúdos infinitas vezes, como
faz um pen drive, por exemplo. Felizmente, essa variação normalmente é coberta por unidades multiformato, que evitam o
trabalho que o usuário teria para entender e lidar suas diferenças.

Diferenças de tecnologia e capacidade


CDs podem armazenar 700 MB de dados, DVDs 4.7 GB (e alguns DVDs podem armazenar até 9 GB no caso dos Dual
Layer) e discos Blu-Ray, podem armazenar até 50 GB (usando duas camadas). O DL -dual layer ou dupla camada, dobra a
capacidade da mídia, possível graças à aplicação de duas camadas de dados em um único lado da mídia. Para conseguir
essa façanha, a primeira camada é feita de um material que a torna semitransparente. Isso permite que o feixe de laser do
aparelho consiga acessar a segunda camada, atravessando a primeira.
O modo como os dados são gravados em cada mídia, é o que determina essa diferença de capacidade, pois a distância
entre as trilhas do Blu-Ray é bem menor que as do DVD, e também há uma diferença nesse quesito entre o DVD e o CD.
Além disso, cada formato de mídia usa um tipo diferente de laser: em CDs, é usado o laser infravermelho, nos DVDs
usa-se luz vermelha para a leitura dos dados e no Blu-Ray, a luz usada é violeta. O tamanho das lentes de leitura também
varia, sendo de 780 nanômetros no CD, 650 no DVD e 405 no Blu-Ray. Cada uma dessas diferenças é responsável pela
evolução de uma mídia sobre a outra.

37
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Velocidade de gravação
A velocidade de gravação varia de acordo com o apa-
relho e a mídia usada, quanto maior for a qualidade da
mídia mais lenta será a gravação, a velocidade varia entre
5x e 24x.

Vantagens
Netbooks e ultrabooks - Os gravadores externos ou
portáteis são muito úteis aos usuários de netbooks, que
naturalmente, em função do tamanho do PC, não possuem
este dispositivo. Ele é vantajoso na instalação de progra-
mas, reprodução de filmes, séries e outros vídeos. Serve
também para reproduzir e converter CDs para arquivos
MP3.
Computadores e Notebooks - Também podem ser uti-
lizados em notebooks e computadores de mesa, os desk-
tops que eventualmente tenham problemas com o grava-
dor interno. Este dispositivo externo pode resolver o pro-
blema e você não precisará recorrer à assistência técnica e
ter gastos indesejados com a máquina.
Unidade de disquete
As unidades de disquete armazenam informações
em  discos, também chamados  discos flexíveis  ou  disque-
tes. Comparado a CDs e DVDs, os disquetes podem ar-
mazenar apenas uma pequena quantidade de dados. Eles
Drives de CD, DVD e Blu-ray também recuperam informações de forma mais lenta e são
mais vulneráveis a danos. Por esses motivos, as unidades
de disquete são cada vez menos usadas, embora ainda se-
É um aparelho que reconhece as informações arma- jam incluídas em alguns computadores.
zenadas nas mídias e transmite estas informações para
o aparelho eletrônico, que lê e interpreta os dados. Este
aparelho pode ser um computador, um aparelho de DVD,
ou qualquer outro dispositivo que tenha um leitor óptico
compatível com o tipo de mídia.
Esta unidade de disco óptico (ODD) ou o famoso leitor
de CD, DVD e do que vem se tornando popular, o Blu-Ray,
é um dos principais ou se não o principal Hardware para
a leitura e gravação de mídias. As unidades antigas eram
capazes apenas e ler, hoje as unidades mais recentes são
capazes de ler e gravar. E para este processo essa unidade Disquete
utiliza um lazer de luz ou ondas eletromagnéticas como Por que estes discos são chamados de “disquetes”?
processo de leitura ou gravação de dado para os discos. Apesar de a parte externa ser composta de plástico rígido,
isso é apenas a capa. O interior do disco é feito de um ma-
Drive externo terial de vinil fino e flexível.
Os gravadores externos são conectados ao computa-
dor por uma porta USB, como um pen drive ou MP3 players Pendrive
e similares. Essa porta deve ser de preferência uma USB 2.0 Pen Drive ou Memória USB Flash Drive é um dispositivo
ou superior, pela rapidez com que esta versão trabalha, o de memória constituído por memória flash, com aspecto
que interfere na velocidade de gravação (queima) do DVD. semelhante a um isqueiro. Surgiu no ano de 2000, com o
objetivo de substituir o disquete, resgatar dados de com-
Modelos putadores estragados, realizar backup com mais facilidade,
Slim: modelos externos, portáteis, leves, finos e práti- abrigar determinados sistemas e aplicativos mais utilizados.
cos, e podem ser levados para qualquer lugar com muita Possui diferentes capacidades de armazenamento que
facilidade. Ideal para quem trabalha fazendo backups de varia entre 64 megabytes e 80 gigabytes. A velocidade com
empresas ou usa vídeos pesados em palestras. que um pen drive armazena um material também é variá-
Gravador doméstico: é um reprodutor e gravador de vel, depende do tipo da entrada disponível no computador.
mídias, que lembra os antigos aparelhos de vídeo cassete. Se este for bem cuidado, pode desempenhar suas funções
Um dos modelos mais completos é o Time Machine da LG. por até dez anos.

38
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Quando os modelos de pen drives são encaixados na Mouse


porta USB do computador, aparecem como um disco re- Mouse é um pequeno dispositivo usado para apontar
movível ou podem aparecer automaticamente como dis- e selecionar itens na tela do computador. Embora existam
positivos removíveis. Para a utilização dos mesmos em mouses de várias formas, o modelo mais comum se asse-
sistemas antigos, deve-se instalar um pacote de software melha a um rato (como diz o nome em inglês). Ele é pe-
denominado device driver para permitir que o sistema o queno e alongado, sendo conectado à unidade de sistema
reconheça como disco removível. por um cabo comprido que faz lembrar uma cauda. Alguns
mouses mais novos são sem fio.
Periféricos

Os Periféricos
Os dispositivos de entrada e saída (E/S) ou input/ou-
tput (I /O) são também denominados periféricos. Eles per-
mitem a interação do processador com o homem, possibi-
litando a entrada e/ou a saída de dados.
O que todos os dispositivos de entrada têm em comum
é que eles codificam a informação que entra em dados que Mouse
possam ser processados pelo sistema digital do computa- O mouse geralmente possui dois botões: um botão
dor. Já os dispositivos de saída decodificam os dados em principal (normalmente o da esquerda) e um botão secun-
informação que pode ser entendida pelo usuário. dário. Muitos mouses também têm uma roda entre os dois
Quando um hardware insere dados no computador, botões, que permite percorrer as telas de informações.
dizemos que ele é um dispositivo de entrada. Agora quan-
do esses dados são colocados a mostra, ou quando saem
para outros dispositivos, dizemos que estes hardwares são
dispositivos de saída.

Dispositivos de entrada
Ponteiros do mouse
Os componentes entrada são responsáveis por fazer
À medida que você move o mouse com a mão, um
a aquisição dados e receber os comandos originários pelo
ponteiro na tela se move na mesma direção. (A aparência
usuário ou por outro sistema computacional.
do ponteiro pode mudar dependendo da sua posição na
Exemplos: teclado, mouse, scanner, leitor ótico, joys-
tela.) Quando quiser selecionar um item, aponte para ele
tick, etc.
e clique no botão principal, ou seja, pressione-o e solte-o.
Dispositivos de Saída Apontar e clicar com o mouse é a principal maneira de in-
Os componentes de saída são responsáveis por apresen- teragir com o computador.
tar ao usuário, ou outro sistema, as informações resultantes
do processamento de uma determinada massa de dados. Usando o Mouse
Além disso, os dispositivos de saída podem atuar dire- Assim como você usa as mãos para interagir com ob-
tamente em um processo, como por exemplo, uma válvula jetos no mundo físico, pode usar o mouse para interagir
que pode ser aberta/fechada por um sistema para contro- com itens na tela do computador. É possível mover objetos,
lar o nível de combustível de um tanque de abastecimento. abri-los, alterá-los, jogá-los fora e executar outras ações,
Exemplos: Monitor, impressora, caixas de som tudo apontando e clicando com o mouse.

Dispositivos de Entrada e Saída Partes básicas


O avanço da tecnologia deu a possibilidade de se criar Um mouse geralmente possui dois botões: um botão
um dispositivo com a capacidade de enviar e transmitir da- principal (normalmente o da esquerda) e um botão secun-
dos. Tais periféricos são classificados como dispositivos de dário(geralmente o da direita). Usaremos o botão prin-
entrada e saída. São eles: cipal com mais frequência. A maioria dos mouses possui
Pen Drives – Tipo de memória portátil e removível com uma roda de rolagementre os botões para ajudar você a
capacidade de transferir dados ou retirar dados de um percorrer documentos e páginas da Web com mais facili-
computador. dade. Em alguns mouses, a roda de rolagem pode ser pres-
Impressora Multifuncional - Como o próprio nome já sionada para funcionar como um terceiro botão. Mouses
diz este tipo impressora poder servir tanto como copiadora avançados podem ter botões adicionais que são capazes
ou scanner. de executar outras funções.
Monitor Touchscreen – Tela de monitor sensível ao
toque. Através dela você recebe dados em forma de ima-
gem e também enviar dados e comandos ao computador
através do toque. A tecnologia é mais usada na indústria
telefônica e seu uso em monitores de computadores ainda
está em fase de expansão.

39
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

A ação de apontar para um objeto normalmente revela


uma mensagem descritiva sobre ele.
A forma do ponteiro pode variar em função de para
onde você está apontado. Por exemplo, quando você apon-
ta para um link no navegador da Web, o ponteiro muda de
uma seta   para uma mão com um dedo apontando  .
A maioria das ações do mouse são uma combinação
de apontar com pressionar um dos botões. Existem quatro
formas básicas de usar os botões do mouse: clicar, clicar
duas vezes, clicar com o botão direito e arrastar.

Clicar (clique único)


Para clicar em um item, aponte para ele na tela e pres-
Partes de um mouse sione e solte o botão principal (normalmente o da esquer-
da).
Pressionando e movendo o mouse O clique costuma ser usado para  selecionar  (marcar)
Coloque o mouse ao lado do teclado em uma superfí- um item ou abrir um menu e às vezes é chamado  clique
cie limpa e macia, como um mouse pad. Pressione o mouse único ou clique com o botão esquerdo.
levemente com o dedo indicador sobre o botão principal e
descanse o polegar na lateral. Para mover o mouse, desli- Clicar duas vezes (clique duplo)
ze-o lentamente em qualquer direção. Não o vire. Mante- Para clicar duas vezes em um item, aponte para ele na
nha a frente do mouse na direção oposta a você. À medida tela e clique rapidamente duas vezes. Se os dois cliques
que você move o mouse, um ponteiro (veja a figura) na tela forem espaçados, poderão ser interpretados como dois cli-
se move na mesma direção. Se você ficar sem espaço para ques individuais em vez de um clique duplo.
mover o mouse na mesa ou no mouse pad, basta levantá- A ação de clicar duas vezes é mais usada para abrir
-lo e trazê-lo de volta para perto de você. itens na área de trabalho. Por exemplo, você pode iniciar
um programa ou abrir uma pasta clicando duas vezes no
ícone correspondente na área de trabalho.
Dica: Se você tiver problemas para clicar duas vezes,
poderá ajustar a velocidade do clique duplo (o intervalo de
tempo aceitável entre os cliques). Siga estas etapas:
Para abrir Propriedades do Mouse, clique no botão Ini-
ciar  e em Painel de Controle. Na caixa de pesquisa, digite
mouse e clique em Mouse.
Clique na guia Botões e, em Velocidade do clique du-
plo, mova o controle deslizante para aumentar ou diminuir
a velocidade.

Segure o mouse levemente, mantendo o pulso reto. Clicar com o botão direito
Para clicar com o botão direito em um item, aponte
Apontando, clicando e arrastando para ele na tela e pressione e solte o botão secundário
Apontar para um item na tela significa mover o mouse (normalmente o da direita).
para que o ponteiro pareça estar tocando o item. Quando A ação de clicar com o botão direito em um item nor-
você aponta para algo, aparece uma pequena caixa que malmente exibe uma lista de coisas que você pode fazer
descreve o item. Por exemplo, quando você aponta para a com ele. Por exemplo, ao clicar com o botão direito na Li-
Lixeira na área de trabalho, é exibida uma caixa com a se- xeira na área de trabalho, será exibido um menu permitin-
guinte informação: “Contém os arquivos e pastas que você do que você a abra, esvazie, exclua ou veja suas proprieda-
excluiu”. des. Se você não tiver certeza do que fazer com algo, clique
com o botão direito nele.

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NOÇÕES DE INFORMÁTICA

O clique com o botão direito na Lixeira abre um menu de comandos relacionados.

Arrastar
Você pode mover itens pela tela arrastando-os. Para arrastar um objeto, aponte para ele na tela, mantenha pressionado
o botão principal, mova o objeto para outro local e solte o botão.
A ação de arrastar (às vezes chamada arrastar-e-soltar) é mais usada para mover arquivos e pastas para um local dife-
rente e mover janelas e ícones pela tela.

Usando a roda de rolagem


Se o mouse tiver uma roda de rolagem, você poderá usá-la para percorrer documentos e páginas da Web. Para rolar
para baixo, role a roda para trás (em direção a você). Para rolar para cima, role a roda para frente (em direção contrária a
você).

Personalizando o mouse
Você pode alterar as configurações do mouse de acordo com as suas preferências. Por exemplo, a aparência do pontei-
ro do mouse ou a velocidade com que ele se move pela tela. Se você for canhoto, poderá fazer com que o botão principal
seja o da direita.

Teclado
A finalidade principal do teclado é digitar texto no computador. Ele possui teclas para letras e números, exatamente
como em uma máquina de escrever. A diferença está nas teclas especiais:
As teclas de função, localizadas na linha superior, executam funções diferentes dependendo de onde são usadas.
O teclado numérico, localizado à direita na maioria dos teclados, permite inserir números rapidamente.
As teclas de navegação, como as teclas de seta, permitem mover sua posição dentro de documentos ou páginas da
Web.

Teclado
Você também pode usar o teclado para executar muitas das mesmas tarefas que executa com um mouse.
Esteja você escrevendo uma carta ou calculando dados numéricos, o teclado é o principal meio de inserir informações
no computador. Mas você sabia que também pode usá-lo para controlar o computador? Se você aprender alguns comando
ssimples (instruções para o computador) do teclado, poderá trabalhar com mais eficiência. Este artigo aborda os conceitos
básicos do uso do teclado e apresenta seus comandos.

41
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Como as teclas estão organizadas


Elas podem ser divididas em sete grupos, de acordo com a função:
Teclas de digitação (alfanuméricas). Incluem as mesmas letras, números, pontuação e símbolos encontrados em uma
máquina de escrever tradicional.
Teclas de controle. São usadas sozinhas ou em combinação com outras teclas para executar determinadas ações. As
teclas de controle mais usadas são Ctrl, Alt, a tecla de logotipo do Windows  e Esc.
Teclas de função. São usadas para executar tarefas específicas. Elas foram rotuladas como F1, F2, F3 e assim por diante
até F12. A funcionalidade dessas teclas varia de programa para programa.
Teclas de navegação. Permitem editar texto e mover-se por documentos ou páginas da Web. Elas incluem as teclas de
direção, Home, End, Page Up, Page Down, Delete e Insert.
Teclado numérico. É útil para digitar números rapidamente. As teclas estão agrupadas em bloco na mesma disposição
de uma calculadora convencional.
A ilustração a seguir mostra como essas teclas estão organizadas em um teclado típico. O layout de seu teclado pode
ser diferente.

Como as teclas estão organizadas em um teclado

Monitor
O monitor exibe informações em forma visual, usando texto e elementos gráficos. A parte do monitor que exibe as
informações é chamada tela. Como a tela de uma televisão, a tela de um computador pode mostrar imagens paradas ou
em movimento.
Existem dois tipos básicos de monitores: CRT (tubo de raios catódicos) e LCD (vídeo de cristal líquido). Ambos produ-
zem imagens nítidas, mas os monitores LCD levam vantagem por serem mais finos e mais leves.

Monitor LCD (à esquerda); monitor CRT (à direita)


O que é comum atualmente
Os anos passaram e a qualidade dos CRTs evoluiu bastante, um bom exemplo disto é que mesmo perante a tecnologia
LCD, a definição de um monitor de tubo se mantém superior. Suas dimensões e seu peso colocam o grandalhão em des-
vantagem, no entanto, seu custo reduzido ainda o fazem presentes em vários computadores pessoais.

42
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Menores, econômicos e nem por isso de um custo elevado, o monitor mais vendido é o LCD. Sua tela de cristal líquido
gera imagens de qualidade que não oscilam nem emite radiações nocivas aos olhos humanos. Alguns modelos têm dupla
função, atuando ao mesmo tempo como monitores e TVs.

Dividir suas funções entre o monitoramento e a TV é também uma característica dos modelos de plasma. Geralmente
utilizados nos LCDs, o touch screen refere-se a um recurso adicional atribuído aos monitores. Consiste em uma tela sensível
ao toque capaz de substituir periféricos de apontamento de maneira intuitiva. Na prática, basta tocar a tela para apontar
suas ações, assim como em terminais de atendimento e em modelos de celular.

43
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

LED LCD: trata-se de uma nova maneira de iluminar os monitores de cristal líquido, no lugar de uma única lâmpada
fluorescente central, utilizam-se várias lâmpadas de led. Desta maneira obtém-se uma imagem mais rica em cores, contras-
te mais acentuado e com uma alta definição. Sua espessura média é apenas 3 centímetros e estes aparelhos consomem
menos da metade da eletricidade de um monitor de LCD comum.
OLED: baseado em um princípio similar ao plasma, o OLED utiliza diodos orgânicos de carbono no lugar das células de
plasma. Além da iluminação, eles se encarregam de gerar as imagens, dispensando o cristal líquido e resultando em uma
imagem melhor e gerada mais rapidamente. Como estas moléculas podem ser posicionadas diretamente sobre a superfície
da tela, apenas 3 mm de espessura são necessários para produzir imagens com uma qualidade excelente.
Monitor 3D: enquanto os monitores comuns reproduzem gráficos tridimensionais na superfície 2D da tela, os moni-
tores 3D aumentam a noção de profundidade, textura e volume dos objetos representados na tela. Exigem placas gráficas
especializadas e, na maior parte dos modelos, óculos específicos também são necessários.

Monitor Holográfico: ficção científica de um futuro distante? Através de uma base posicionada sobre a mesa, holo-
gramas são projetados em um fluido disperso no ar, exatamente como nos filmes futuristas. A imagem não necessita de
nenhum meio sólido para ser projetada e alguns modelos exploram a interação do usuário com a imagem, ou seja, você
utiliza sua mão como mouse diretamente sobre os objetos no ar.

Impressora
Uma impressora transfere dados de um computador para o papel. Você não precisa de impressora para usar o com-
putador, mas, se tiver uma, poderá imprimir emails, cartões, convites, anúncios e outros materiais. Muitas pessoas também
preferem imprimir suas fotos em casa.
Os dois principais tipos de impressora são a jato de tinta e a laser. As impressoras a jato de tinta são as mais populares
para uso doméstico. Elas podem imprimir em preto e branco ou em cores e produzem fotos de alta qualidade quando
usadas com papel especial. As impressoras a laser são mais rápidas e mais adequadas para uso intenso.

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NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Impressora a jato de tinta (à esquerda); impressora a laser (à direita)

Impressora Matricial
A impressora matricial faz parte da categoria impressoras de impacto, ou seja, a impressão é feita por impacto, contra
uma fita tintada que vai realizar a impressão no papel. Ela utiliza dois tipos de tecnologia. Uma delas, chamada de marga-
rida, “busca” a letra que se quer imprimir, lembrando uma máquina de escrever. O outro padrão liga pontos por meio de
agulhas e, desta forma, é até possível obter pequenos gráficos e imagens.
Vantagens da impressora matricial, ainda nos dias de hoje:
- É possível imprimir vários papéis de uma vez só utilizando papel carbono. Esta função pode parecer ultrapassada para
as novas gerações, mas tem utilidade em estabelecimentos comerciais, por exemplo.
- Para quem vai imprimir grande quantidade, terá ainda uma redução no custo final, já que a essa impressora tem a
seu favor a resistência e o baixo preço dos suprimentos, se você levar em consideração que é uma impressora para uso
empresarial.
- A impressora matricial é bem resistente, ideal para fazer parte de indústrias.

Impressora a jato de tinta


Trabalha com o gotejamento de tinta conforme a necessidade da imagem a ser impressa.
Possui apenas algumas cores, as mesmas são misturadas automaticamente pela impressora para obter uma cor dese-
jada.
O preço dos cartuchos é consideravelmente baixo, o que facilita o seu uso doméstico, além do que o preço de um
aparelho do tipo sai mais em conta.

Impressora a laser
A impressora a laser utiliza um método que usa um laser, criando uma carga eletrostática no papel.
Essa carga eletrostática atrai a tinta para a área carregada, criando as imagens e palavras que são impressas.
Isso permite a impressão com maior velocidade e quantidade, causando economia no tempo e na impressão de muitas
unidades.
Possui como carga o toner, uma peça que armazena a tinta que é usada e, por ser cara, muitas empresas utilizam ape-
nas a impressão em preto e branco nas referidas impressoras.
Pode imprimir com muita qualidade, dependendo da impressora, porém impressoras do tipo custam mais se compa-
radas com as a jato de tinta.

ESTABILIZADORES E NOBREAKS

Estabilizadores
Sua principal função é proteger os aparelhos eletrônicos das variações de tensão que recebem da rede elétrica. Por isso,
espera-se que os estabilizadores sejam capazes de nivelar a tensão elétrica e a voltagem da rede, de forma que os picos de
energia não afetem diretamente os aparelhos eletrônicos.
Quando ocorre aumento de tensão na rede, os estabilizadores agem como reguladores da voltagem de cada aparelho,
evitando que eles sejam queimados. E quando a rede sofre queda de tensão, o estabilizador aumenta a sua tensão, impe-
dindo que os aparelhos desliguem.
Porém, estes aparelhos possuem alguns fatores que abalam sua usabilidade, dos quais podemos destacar: a ausência
de dispositivos capazes de purificar a energia elétrica distribuída, um alto tempo de resposta, além da ausência de energia
reserva, o que torna o produto não utilizável em caso de quedas de energia.

No-breaks
Os no-breaks, além de terem a função de proteção dos equipamentos elétricos, também trabalham como estabilizado-
res da tensão elétrica e servem como fonte de energia em casos de interrupção no fornecimento.
Este equipamento funciona usando baterias para armazenar energia, que é carregada enquanto está conectada a uma
tomada. No caso de haver um apagão, o no-break passa a fornecer energia, que permite que os aparelhos continuem fun-
cionando normalmente por um certo período de tempo, que varia de acordo com a autonomia da bateria.
O armazenamento de energia do no-break é uma de suas principais vantagens em relação ao estabilizador, pois so-
mente esta reserva de energia permite que os dados sejam salvos e os equipamentos sejam desligados adequadamente.
Outra vantagem importante do no-break sobre o estabilizador é o nível de proteção e confiabilidade do sistema, que
pode proteger até contra os 9 principais problemas elétricos existentes, dependendo da tecnologia do no-break.

Alto-falantes
Os alto-falantes são usados para tocar som. Eles podem vir embutidos na unidade de sistema ou ser conectados com
cabos. São eles que permitem ouvir música e efeitos de som no computador.

45
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Alto-falantes do computador

SOFTWARE
O conceito de software refere-se a todos os elementos de programação de um sistema de computação, isto é, todos
os programas, sejam de aplicação ou básicos do sistema, contrastando com a parte física e visível do sistema - o hardware.
Podem ser classificados em softwares básicos ou softwares aplicativos.

Softwares básicos

São os programas que definem o padrão do equipamento, sendo necessários para o funcionamento do computador.
Os tipos de software básico são: sistema operacional, ambiente operacional, linguagens de programação, tradutores e
utilitários.

a) Sistema operacional
O sistema operacional (figura 1.16) é a interface básica entre usuário e o computador, pois é um gerenciador de recur-
sos, alocando o hardware, o software e os dados. Em resumo, é um sistema (programa de controle mestre) que controla e
coordena todas as operações básicas do sistema de computação.

46
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Funções do sistema operacional.

Existem diferentes sistemas operacionais. Os sistemas operacionais são compostos por duas (2) partes no que diz res-
peito a localização física na memória do computador.
Uma parte está gravada em chip de memória ROM onde estão as rotinas mais fundamentais de coordenação e tra-
dução de fluxos de dados de fontes não similares (unidades de disco ou disk drives, os co-processadores que são chips
de processamento que trabalha paralelamente à unidade central, mas com operações diferentes), como: acionar e ler a
unidade de disco, colocar mensagens no monitor, verificar se o teclado está funcionando, etc.; sendo que a quantidade de
rotinas gravadas na memória ROM depende de cada fabricante.
A outra parte do sistema operacional será carregada na memória RAM do sistema normalmente em duas (2) etapas:
- A 1ª. é totalmente transferida para a RAM quando o sistema é ligado;
- A 2ª. é carregada na memória à medida que é solicitada.
Os sistemas operacionais são, às vezes, chamados de firmware, por serem programas que podem ser fornecidos pelo
fabricante do equipamento. No caso de PC´s, podem vir gravados na memória ROM ou na EEPROM. O padrão é virem em
disquetes ou já gravados no winchester.
Os programas que compõem o sistema operacional são, na maioria dos casos, escritos em linguagem de programação
de baixo nível.
Os sistemas operacionais podem ser classificados de acordo com suas características de funcionamento em: sistema
monousuário, sistema multiusuário, sistema monotarefa e sistema multitarefa.
b) Ambiente operacional
São ambientes que adicionam recursos ao sistema operacional para permitir uma interface gráfica com o usuário, ou
seja, é um sistema operacional com recursos gráficos.
c) Linguagens de programação
É um conjunto de símbolos (vocabulário) e regras (gramática) que especificam como transmitir informações entre
usuários e computador.
As linguagens de programação estão divididas em: linguagem de máquina, linguagem de baixo nível e linguagem de
alto nível.
A linguagem de máquina é baseada em código binário, em 0s e 1s. É utilizada diretamente pelo computador.
Exemplo:

A linguagem de baixo nível é uma simplificação da linguagem de máquina. Faz uso de códigos mnemônicos para ex-
pressar as instruções. Exemplo: Assembly

47
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

A linguagem de alto nível utiliza a combinação de um conjunto de símbolos de acordo com certas regras de sintaxe
para expressar uma sequência de operações de máquina. É uma linguagem que não exige conhecimento do código de
máquina.

Como exemplos de linguagens de alto nível tem-se: FORTRAN ( FORmula TRANslator), ALGOL (ALGOrithimic Langua-
ge), COBOL (Common Business Oriented Language), BASIC (Beginner’s All-purpose Symbolic Instruction Code), PASCAL,
LOGO, C, LISP, PROLOG, etc.

d) Tradutores
Mas, se os computadores trabalham internamente com a linguagem de máquina, como é que podemos fazer progra-
mas usando linguagem de baixo ou de alto nível?
É que existem tradutores que lêem uma linguagem de programação e a transformam para linguagem de máquina.
Existem 3 tipos de tradutores:
- Montador: lê uma linguagem de baixo nível e transforma para linguagem de máquina.
- Interpretador: lê uma linguagem de alto nível e transforma para linguagem de máquina.
- Compilador: lê uma linguagem de alto nível e transforma para linguagem de máquina.
Mas qual a diferença entre interpretador e compilador?
Compilador
1) Lê e analisa todo o programa fonte (escrito em linguagem de alto nível) e traduz para linguagem de máquina.
2) Cria um programa objeto que corresponde às instruções em linguagem de máquina.
3) Executa-se direto o programa objeto.
4) Traduz tudo de uma vez. Se encontrar erro, é preciso voltar ao programa fonte, corrigir, recompilar e executar nova-
mente o programa objeto.

Interpretador
1) Interpreta cada comando e executa. Faz linha a linha. Não traduz todo o programa para depois executar.
2) Não gera programa objeto.
3) Executa-se o programa fonte e sempre é necessário interpretar antes.
4) Se encontrar erro avisa na hora. Então, se edita o programa fonte, corrige-se o erro e interpreta-se novamente.

e) Utilitários
São programas que ampliam os recursos do sistema facilitando o uso e auxiliando a manutenção de programas. Ad-
ministram o ambiente oferecendo ferramentas ao usuário para organizar os discos, verificar memória, corrigir falhar, etc.
- Formatadores;
- Programas de backup;
- Compactadores de disco
- Desfragmentadores: regravam de forma mais eficiente os arquivos que foram fragmentados pelo sistema operacional.
Ou seja, faz com que um arquivo que foi armazenado em “pedaços” seja armazenado de forma contígua;
- Antivírus: detectam a presença de algum vírus e tenta eliminá-lo.
Estes programas recebem o nome de utilitários por serem úteis ao sistema computacional.

Softwares aplicativos
São os programas voltados para a solução de problemas do usuário. Podem ser de:
- Uso geral: são programas que podem ser utilizados em vários tipos de aplicações. Exemplos: editores de texto, gráfi-
cos, planilhas, gerenciadores de banco de dados, etc.

48
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

- Uso específico: se destinam exclusivamente a um único tipo de aplicação. Exemplos: folha de pagamento, crediário,
imposto de renda, cadastro, contas a pagar e receber, etc.

SISTEMA OPERACIONAL WINDOWS

Windows assim como tudo que envolve a informática passa por uma atualização constante, os concursos públicos em
seus editais acabam variando em suas versões, por isso vamos abordar de uma maneira geral tanto as versões do Windows
quanto do Linux.
O Windows é um Sistema Operacional, ou seja, é um software, um programa de computador desenvolvido por programa-
dores através de códigos de programação. Os Sistemas Operacionais, assim como os demais softwares, são considerados como
a parte lógica do computador, uma parte não palpável, desenvolvida para ser utilizada apenas quando o computador está em
funcionamento. O Sistema Operacional (SO) é um programa especial, pois é o primeiro a ser instalado na máquina.
Quando montamos um computador e o ligamos pela primeira vez, em sua tela serão mostradas apenas algumas rotinas
presentes nos chipsets da máquina. Para utilizarmos todos os recursos do computador, com toda a qualidade das placas
de som, vídeo, rede, acessarmos a Internet e usufruirmos de toda a potencialidade do hardware, temos que instalar o SO.
Após sua instalação é possível configurar as placas para que alcancem seu melhor desempenho e instalar os demais
programas, como os softwares aplicativos e utilitários.
O SO gerencia o uso do hardware pelo software e gerencia os demais programas.
A diferença entre os Sistemas Operacionais de 32 bits e 64 bits está na forma em que o processador do computador
trabalha as informações. O Sistema Operacional de 32 bits tem que ser instalado em um computador que tenha o proces-
sador de 32 bits, assim como o de 64 bits tem que ser instalado em um computador de 64 bits.
Os Sistemas Operacionais de 64 bits do Windows, segundo o site oficial da Microsoft, podem utilizar mais memória que
as versões de 32 bits do Windows. “Isso ajuda a reduzir o tempo despendi- do na permuta de processos para dentro e para
fora da memória, pelo armazenamento de um número maior desses processos na memória de acesso aleatório (RAM) em
vez de fazê-lo no disco rígido. Por outro lado, isso pode aumentar o desempenho geral do programa”.

Windows XP

O Windows XP foi lançado em 2001 e ele era um sistema operacional bastante completo e confiável, por isso pode-se dizer
que ele foi uma versão muito bem sucedida, importante mencionar que o encerramento do seu suporte foi em abril de 2014.

49
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 8: Tela de login do Windows XP

Figura 9: Desktop do Windows XP

Ele foi sucessor de uma versão considerada fracassada que foi o Windows Me (Millennium Edition), lançado em 2000, e
é considerado por muitos o principal responsável em recuperar a confiança dos clientes Microsoft. Seu lançamento foi dia
25 de outubro de 2001 e chamou a atenção por trazer uma nova interface gráfica e eliminar os problemas de estabilidade
encontrados no ME.
A interface gráfica do Windows XP ficou conhecida por ser muito mais intuitiva e agradável, afinal as janelas cinzas, e
barras quadradas foram substituídas por uma interface colorida, com padrão azul, e botões mais arredondados e visíveis.
Outra grande novidade foi o botão iniciar, que ficou maior, com mais atalhos e possibilidades de fixar programas, mudança
essa que permaneceu até o Windows 7.
Outros aspectos visuais trazidos pelo Windows XP, foram as novas camadas e efeitos para o desktop, além de apresen-
tar um papel de parede padrão que viria a se tornar icônico. Os usuários poderiam ainda travar a barra de tarefas e evitar
que houvesse mudanças das configurações no espaço.
O XP foi apresentado ainda em diferentes edições, além de estar disponível em 32 e 64 bits. A versão Home Edition
era voltada para o uso doméstico e trazia ferramentas mais simples para o usuário comum. Já a edição Professional tinha
como público empresas e usuários com conhecimentos avançados. Houve ainda uma versão Media Center Edition, mas
esta nunca foi colocada à venda e era entregue somente sob encomenda.
Em relação as funcionalidades, o grande destaque foi o suporte a dispositivos Plug and Play, famoso plugar e usar que
acabou com etapas burocráticas de instalação, não exigindo que o computador fosse desligado ao remover um dispositivo
externo, como um pendrive.
Outra novidade na funcionalidade foi a tecnologia ClearType, que facilitava a visualização de textos em tela LCD, novi-
dades na época. Além disso, ele melhorou o consumo de energia para a utilização em dispositivos móveis como notebook
e tablets, e incluiu a possibilidade de inicializar a máquina mais rapidamente e hibernar.
Além disso, passou a dar suporte às redes Wireless e DSL, melhorando a alternância entre contas de usuários, permi-
tindo que o indivíduo acesse outra conta sem fechar seus programas abertos. Além disso, introduziu a funcionalidade de
assistência remota, o que possibilitou que pessoas conectadas à Internet pudessem assumir o controle da máquina para
realizar suporte técnico ou auxiliar uma tarefa.

50
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Quanto as atualizações e até mesmo o encerramen- Usabilidade


to do suporte, pode-se dizer que o XP teve três grandes
atualizações, que ficaram conhecidas como Service Packs. O Windows 7 facilita o dia-a-dia das pessoas com no-
O primeiro foi lançado no dia 9 de setembro de 2002, adi- vidades que tornam as tarefas mais rápidas e eficientes.
cionando o suporte ao formato USB 2.0 e a possibilidade Entre elas estão:
de definir padrões de programas. O SP2 chegou em 6 de - Central de Contas do Usuário (UAC) que protege o
agosto de 2004 com foco na segurança do sistema. Já o usuário sem incomodá-lo
SP3 foi distribuído em 6 de maio de 2008 com correções de - Pesquisa integrada ao sistema operacional
segurança e melhoras no desempenho. - Bibliotecas, que organizam os arquivos e facilitam o
No dia 8 de abril de 2014, a Microsoft encerrou o su- seu uso em rede local
porte ao Windows XP SP3, não oferecendo mais atualiza- - Aero Snap, que ao arrastar uma janela para a lateral
ções ou correções de segurança para o sistema. da tela, esta é automaticamente expandida e ocupa meta-
de da tela (ou tela cheia se for arrastada para cima)
Comparando o Windows XP com o Windows 7 - Aero Peek, que torna as janelas transparentes para
você visualizar ou acessar rapidamente o desktop
Estabilidade - Aero Shake, que ao chacoalhar uma janela faz com
que todas as demais sejam automaticamente minimizadas
O Windows 7 é muito mais estável do que o Windo-
ws XP, e isso acontece por diversos motivos. Inicialmente Essas melhorias na usabilidade não devem ser descon-
ele foi desenvolvido para dar maior proteção à memória, sideradas ou vistas como “frescura”, pois elas podem eco-
isolando-a de problemas externos. Exemplo clássico: você nomizar dezenas de horas de trabalho por ano! Mais uma
instala um novo driver de placa de vídeo, e ele trava pois vantagem para o Windows 7 na comparação Windows 7 x
tem um bug. Enquanto o Windows XP trava por completo Windows XP.
(ou o computador é reiniciado), o Windows 7 se recupera
Segurança
normalmente do travamento utilizando um driver padrão
de vídeo, e isso não afeta os demais programas abertos.
Há um mundo de diferença entra a segurança do
O Windows 7 vem com o Monitor de Confiabilidade.
Windows XP e a do Windows 7. Embora algumas pessoas
Ele monitora constantemente o computador, salvando in-
achem que basta instalar um navegador atual para se man-
formações importantes quando há alguma falha de aplica-
ter seguro na web, nada mais ilusório: estes mesmos nave-
tivo ou do Windows, e com isso o usuário tem um pano-
gadores não conseguem proteger o usuário se eles estão
rama geral que permite concluir que aplicativo ou driver
sendo executados em um sistema operacional com capaci-
está causando problemas. Isso é possível pois ele monitora dade de proteção limitada. O navegador não impede ata-
a data de instalação de drivers e programas, execução de ques remotos nem ataques que utilizam vulnerabilidades
aplicativos, updates do Windows, travamento de progra- existentes no sistema operacional.
mas, e tudo mais que possa afetar a estabilidade do sis- Além disso, vulnerabilidades no Windows 7 são mui-
tema operacional - e com isso é fácil concluir quando um to menos perigosas do que a mesma vulnerabilidade no
novo programa ou driver está causando problemas no sis- Windows XP, pois o Windows 7 tem diversas proteções
tema operacional. O Monitor de Confiabilidade também adicionais que diminuem o poder de ação dos malwares.
tem a opção de verificar soluções para todos os problemas Entre elas estão ASLR, PatchGuard, UAC, PMIE e outras tec-
listados. nologias que bloqueiam e impedem ataques externos por
Além disso, o Windows 7 também vem com a opção vias desconhecidas. Além disso, o antivírus gratuito da Mi-
de restauração de sistema e drivers, permitindo que você crosoft (MSE – Microsoft Security Essentials) pode ser uti-
retorne a um status ou driver anterior ao atual caso este lizado por qualquer pessoa que tenha Windows Original,
apresente algum problema. protegendo-a contra malwares.
Por fim, o NTFS (tipo de partição) do Windows 7 é mais
completo e avançado do que o do Windows XP, pois é o Hardware e performance
mesmo utilizado no Windows Server 2008. Quando ocorre
algum problema em disco ou na partição do Windows XP, Atualmente muitos computadores e notebooks vêm
por exemplo, o sistema operacional tenta corrigi-lo (às ve- com 4GB de memória RAM ou mais - e o Windows XP não
zes durante horas) via chkdsk no próximo boot. O NTFS do aproveita isso.
Windows 7, por outro lado, utiliza o self-healing (auto-cor- Tanto o Windows XP quanto o Windows 7 “enxergam”
reção) e o problema é reparado imediatamente sem que o até 4GB RAM nas suas versões 32-bits - mas ao contrário
usuário sequer saiba disso. Além disso, ele permite corrigir do XP, o Windows 7 tem versões 64-bits perfeitamente uti-
problemas em arquivos de sistema (como o Win32k.sys) - lizáveis, isto é, o mercado lançou programas e periféricos
algo que o Windows XP não consegue. Neste item Windo- que funcionam perfeitamente no Windows 7, mas não para
ws 7 x Windows XP, o Windows 7 ganha. o Windows XP.
Embora exista uma versão 64-bits do Windows XP, pra-
ticamente ninguém a usa pois não há drivers para periféri-
cos nem programas que aproveitam o seu potencial.

51
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

E um detalhe que poucos sabem é que o limite de 4GB - Win 7 de 64 bits, sobre Win Vista, 32 bits;
de memória se aplica à soma da memória RAM + memória - Win 7 de 32 bits, sobre Win Vista, 64 bits;
da placa de vídeo + memória dos periféricos PCI + ACPI + - Win 7 de 64 bits, sobre Win Vista, 64 bits;
tudo mais que esteja instalado no computador que utilize - Win 7 em um computador e formatar o HD durante
memória (exceto pendrive, disco rígido e cartões de me- a insta- lação;
mória, obviamente). - Win 7 em um computador sem SO;
Isso significa que se você utiliza  uma poderosa placa Antes de iniciar a instalação, devemos verificar qual
de vídeo de 2GB de memória (algo relativamente comum) tipo de instalação será feita, encontrar e ter em mãos a
no Windows XP, este acessará menos de 2GB de memória chave do produto, que é um código que será solicitado
RAM independentemente da quantidade de memória RAM durante a instalação.
instalada no computador. E quanto menos memória RAM, Vamos adotar a opção de instalação com formatação
menos performance o computador terá. A solução é utili- de disco rígido, segundo o site oficial da Microsoft Corpo-
zar um sistema operacional completo de 64-bits como o ration:
Windows 7. - Ligue o seu computador, de forma que o Windows
seja inicia- lizado normalmente, insira do disco de instala-
Custo Benefício ção do Windows 7 ou a unidade flash USB e desligue o seu
computador.
O Windows XP foi inaugurado em 2001, ou seja, para - Reinicie o computador.
hardwares equivalentes da época, os requisitos mínimos - Pressione qualquer tecla, quando solicitado a fazer
do Windows XP são inferiores até mesmo aos smartphones isso, e siga as instruções exibidas.
mais simples de hoje em dia: Pentium 233 MHz, 64MB RAM - Na página de Instalação Windows, insira seu idioma
e 1,5GB de espaço em disco! É preciso dizer mais? ou outras preferências e clique em avançar.
O Windows 7 funciona muito bem até mesmo em har- - Se a página de Instalação Windows não aparecer e o
dware limitado, como netbooks com 1GB RAM e proces- programa não solicitar que você pressione alguma tecla,
sador de 1GHz, além de estar preparado para utilizar todo
talvez seja necessário alterar algumas configurações do sis-
potencial das tecnologias atuais:  processadores multi-co-
tema. Para obter mais informações sobre como fazer isso,
re, muita memória RAM, discos SSD, drive de Blu-Ray, USB
consulte Inicie o seu computador usando um disco de ins-
3.0, placas de vídeo caseiras que processam 3 trilhões de
talação do Windows 7 ou um pen drive USB.
cálculos por segundo (quatro placas dessas trabalhando
- Na página Leia os termos de licença, se você aceitar
juntas superam o total de cálculos por segundo do super-
os termos de licença, clique em aceito os termos de licença
computador mais rápido do planeta de 2001 - e ele tinha
e em avançar.
8.192 processadores!), e tecnologias que utilizamos atual-
mente e que seriam consideradas coisas de ficção científica - Na página que tipo de instalação você deseja? clique
quando o Windows XP foi criado. em Personalizada.
Na prática não existem motivos razoáveis para um - Na página onde deseja instalar Windows? clique em
computador utilizar o Windows XP ao invés do Windows 7. op- ções da unidade (avançada).
- Clique na partição que você quiser alterar, clique na
Windows 7 opção de formatação desejada e siga as instruções.
- Quando a formatação terminar, clique em avançar.
Para saber se o Windows é de 32 ou 64 bits, basta: - Siga as instruções para concluir a instalação do Win-
1. Clicar no botão Iniciar , clicar com o botão direito dows 7, inclusive a nomenclatura do computador e a confi-
em computador e clique em Propriedades. guração de uma conta do usuário inicial.
2. Em sistema, é possível exibir o tipo de sistema.
“Para instalar uma versão de 64 bits do Windows 7, Conceitos de pastas, arquivos e atalhos, manipula-
você precisará de um processador capaz de executar uma ção de arquivos e pastas, uso dos menus
versão de 64 bits do Windows. Os benefícios de um sistema
operacional de 64 bits ficam mais claros quando você tem Pastas – são estruturas digitais criadas para organizar
uma grande quantidade de RAM (memória de acesso alea- arquivos, ícones ou outras pastas.
tório) no computador, normalmente 4 GB ou mais. Nesses Arquivos– são registros digitais criados e salvos atra-
casos, como um sistema operacional de 64 bits pode pro- vés de programas aplicativos. Por exemplo, quando abri-
cessar grandes quantidades de memória com mais eficácia mos o Microsoft Word, digitamos uma carta e a salvamos
do que um de 32 bits, o sistema de 64 bits poderá respon- no computador, estamos criando um arquivo.
der melhor ao executar vários programas ao mesmo tempo Ícones– são imagens representativas associadas a pro-
e alternar entre eles com frequência”. gramas, arquivos, pastas ou atalhos.
Uma maneira prática de usar o Windows 7 (Win 7) é Atalhos–são ícones que indicam um caminho mais
reinstalá-lo sobre um SO já utilizado na máquina. Nesse curto para abrir um programa ou até mesmo um arquivo.
caso, é possível instalar:
- Sobre o Windows XP;
- Uma versão Win 7 32 bits, sobre Windows Vista (Win
Vista), também 32 bits;

52
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Criação de pastas (diretórios)

Figura 8: Criação de pastas

Clicando com o botão direito do mouse em um espaço vazio da área de trabalho ou outro apropriado, podemos en-
contrar a opção pasta.
Clicando nesta opção com o botão esquerdo do mouse, temos então uma forma prática de criar uma pasta.

Figura 9: Criamos aqui uma pasta chamada “Trabalho”.

Figura 10: Tela da pasta criada

Clicamos duas vezes na pasta “Trabalho” para abrí-la e agora criaremos mais duas pastas dentro dela:

Para criarmos as outras duas pastas, basta repetir o procedimento botão direito, Novo, Pasta.

53
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Área de trabalho:

Figura 11: Área de Trabalho

A figura acima mostra a primeira tela que vemos quando o Windows 7 é iniciado. A ela damos o nome de área de
trabalho, pois a ideia original é que ela sirva como uma prancheta, onde abriremos nossos livros e documentos para dar
início ou continuidade ao trabalho.
Em especial, na área de trabalho, encontramos a barra de tarefas, que traz uma série de particularidades, como:

Figura 12: Barra de tarefas

1) Botão Iniciar: é por ele que entramos em contato com todos os outros programas instalados, programas que fazem
parte do sistema operacional e ambientes de configuração e trabalho. Com um clique nesse botão, abrimos uma lista, cha-
mada Menu Iniciar, que contém opções que nos permitem ver os programas mais acessados, todos os outros programas
instalados e os recursos do próprio Windows. Ele funciona como uma via de acesso para todas as opções disponíveis no
computador.
Através do botão Iniciar, também podemos:
-desligar o computador, procedimento que encerra o Sistema Operacional corretamente, e desliga efetivamente a
máquina;
-colocar o computador em modo de espera, que reduz o consumo de energia enquanto a máquina estiver ociosa, ou
seja, sem uso. Muito usado nos casos em que vamos nos ausentar por um breve período de tempo da frente do compu-
tador;
-reiniciar o computador, que desliga e liga automaticamente o sistema. Usado após a instalação de alguns programas
que precisam da reinicialização do sistema para efetivarem sua insta- lação, durante congelamento de telas ou travamentos
da máquina.
-realizar o logoff, acessando o mesmo sistema com nome e senha de outro usuário, tendo assim um ambiente com
características diferentes para cada usuário do mesmo computador.

54
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 13: Menu Iniciar – Windows 7

Na figura a cima temos o menu Iniciar, acessado com um clique no botão Iniciar.
2) Ícones de inicialização rápida: São ícones colocados como atalhos na barra de tarefas para serem acessados com
facilidade.
3) Barra de idiomas: Mostra qual a configuração de idioma que está sendo usada pelo teclado.
4) Ícones de inicialização/execução: Esses ícones são configurados para entrar em ação quando o computador é
iniciado. Muitos deles ficam em execução o tempo todo no sistema, como é o caso de ícones de programas antivírus que
monitoram constante- mente o sistema para verificar se não há invasões ou vírus tentando ser executados.
5) Propriedades de data e hora: Além de mostra o relógio constantemente na sua tela, clicando duas vezes, com o
botão esquerdo do mouse nesse ícone, acessamos as Propriedades de data e hora.

55
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Alguns arquivos e pastas, por terem um tamanho mui-


to grande, são excluídos sem irem antes para a Lixeira.
Sempre que algo for ser excluído, aparecerá uma mensa-
gem, ou perguntando se realmente deseja enviar aquele
item para a Lixeira, ou avisando que o que foi selecionado
será permanentemente excluído. Outra forma de excluir
documentos ou pastas sem que eles fiquem armazenados
na Lixeira é usar as teclas de atalho Shift+Delete.

A barra de tarefas pode ser posicionada nos quatro


cantos da tela para proporcionar melhor visualização de
outras janelas abertas. Para isso, basta pressionar o botão
esquerdo do mouse em um espaço vazio dessa barra e
com ele pressionado, arrastar a barra até o local desejado
(canto direito, superior, esquerdo ou inferior da tela).

Para alterar o local da Barra de Tarefas na tela, temos


Figura 14: Propriedades de data e hora que verificar se a opção “Bloquear a barra de tarefas” não
Nessa janela, é possível configurarmos a data e a hora, está marcada.
deter- minarmos qual é o fuso horário da nossa região e espe-
cificar se o relógio do computador está sincronizado automa-
ticamente com um servidor de horário na Internet. Este relógio
é atualizado pela bateria da placa mãe, que vimos na figura 26.
Quando ele começa a mostrar um horário diferente do que
realmente deveria mostrar, na maioria das vezes, indica que
a bateria da placa mãe deve precisar ser trocada. Esse horário
também é sincronizado com o mesmo horário do SETUP.
Lixeira: Contém os arquivos e pastas excluídos pelo
usuário. Para excluirmos arquivos, atalhos e pastas, pode-
mos clicar com o botão direito do mouse sobre eles e de-
pois usar a opção “Excluir”. Outra forma é clicar uma vez
sobre o objeto desejado e depois pressionar o botão dele-
te, no teclado. Esses dois procedimentos enviarão para li-
xeira o que foi excluído, sendo possível a restauração, caso
haja necessidade. Para restaurar, por exemplo, um arquivo
enviado para a lixeira, podemos, após abri-la, restaurar o
que desejarmos.

Figura 16: Bloqueio da Barra de Tarefas

Propriedades da barra de tarefas e do menu iniciar:


Através do clique com o botão direito do mouse na bar-
ra de tarefas e do esquerdo em “Propriedades”, podemos
acessar a janela “Propriedades da barra de tarefas e do
menu iniciar”.

Figura 15: Restauração de arquivos enviados para a


lixeira

A restauração de objetos enviados para a lixeira pode


ser feita com um clique com o botão direito do mouse so-
bre o item desejado e depois, outro clique com o esquerdo
em “Restaurar”. Isso devolverá, automaticamente o arquivo
para seu local de origem.

Outra forma de restaurar é usar a opção “Restaurar


este item”, após selecionar o objeto.

56
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 19: Barra de Ferramentas

Painel de controle

O Painel de Controle é o local onde podemos alte-


rar configurações do Windows, como aparência, idioma,
configurações de mouse e teclado, entre outras. Com ele
é possível personalizar o computador às necessidades do
usuário.
Figura 17: Propriedades da barra de tarefas e do menu Para acessar o Painel de Controle, basta clicar no Botão
iniciar Iniciar e depois em Painel de Controle. Nele encontramos
as seguintes opções:
Na guia “Barra de Tarefas”, temos, entre outros: - Sistema e Segurança: “Exibe e altera o status do sis-
tema e da segurança”, permite a realização de backups e
-Bloquear a barra de tarefas – que impede que ela seja restauração das configurações do sistema e de arquivos.
posicionada em outros cantos da tela que não seja o infe- Possui ferramentas que permitem a atualização do Sistema
rior, ou seja, impede que seja arrastada com o botão es- Operacional, que exibem a quantidade de memória RAM
querdo do mouse pressionado. instalada no computador e a velocidade do processador.
-Ocultar automaticamente a barra de tarefas – oculta Oferece ainda, possibilidades de configuração de Firewall
(esconde) a barra de tarefas para proporcionar maior apro- para tornar o computador mais protegido.
veitamento da área da tela pelos programas abertos, e a - Rede e Internet: mostra o status da rede e possibi-
exibe quando o mouse é posicionado no canto inferior do lita configurações de rede e Internet. É possível também
monitor. definir preferências para compartilhamento de arquivos e
computadores.
- Hardware e Sons: é possível adicionar ou remover
hardwares como impressoras, por exemplo. Também per-
mite alterar sons do sistema, reproduzir CDs automatica-
mente, configurar modo de economia de energia e atuali-
zar drives de dispositivos instalados.
- Programas: através desta opção, podemos realizar a
desinstalação de programas ou recursos do Windows.
- Contas de Usuários e Segurança Familiar: aqui alte-
ramos senhas, criamos contas de usuários, determinamos
configurações de acesso.
- Aparência: permite a configuração da aparência da
área de trabalho, plano de fundo, proteção de tela, menu
iniciar e barra de tarefas.
Figura 18: Guia Menu Iniciar e Personalizar Menu Iniciar - Relógio, Idioma e Região: usamos esta opção para
alterar data, hora, fuso horário, idioma, formatação de nú-
Pela figura acima podemos notar que é possível a apa- meros e moedas.
rência e comportamento de links e menus do menu Iniciar. - Facilidade de Acesso: permite adaptarmos o compu-
tador às necessidades visuais, auditivas e motoras do usuá-
rio.

Computador

Através do “Computador” podemos consultar e aces-


sar unidades de disco e outros dispositivos conectados ao
nosso computador.

57
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Para acessá-lo, basta clicar no Botão Iniciar e em Com- desses aplicativos apareça na sua tela inicial, clique com o
putador. A janela a seguir será aberta: botão direito sobre o ícone e vá para a opção Fixar na Tela
Inicial.

Charms Bar
O objetivo do Windows 8 é ter uma tela mais limpa e
esse recurso possibilita “esconder” algumas configurações
e aplicações. É uma barra localizada na lateral que pode ser
acessada colocando o mouse no canto direito e inferior da
tela ou clicando no atalho Tecla do Windows + C. Essa fun-
ção substitui a barra de ferramentas presente no sistema
e configurada de acordo com a página em que você está.
Com a Charm Bar ativada, digite Personalizar na bus-
ca em configurações. Depois escolha a opção tela inicial e
em seguida escolha a cor da tela. O usuário também pode
selecionar desenhos durante a personalização do papel de
parede.

Redimensionar as tiles
Figura 20: Computador Na tela esses mosaicos ficam uns maiores que os ou-
tros, mas isso pode ser alterado clicando com o botão di-
Observe que é possível visualizarmos as unidades de reito na divisão entre eles e optando pela opção menor.
disco, sua capacidade de armazenamento livre e usada. Você pode deixar maior os aplicativos que você quiser des-
Vemos também informações como o nome do computa- tacar no computador.
dor, a quantidade de memória e o processador instalado
na máquina. Grupos de Aplicativos
Pode-se criar divisões e grupos para unir programas
Windows 8 parecidos. Isso pode ser feito várias vezes e os grupos po-
dem ser renomeados.
É o sistema operacional da Microsoft que substituiu o
Windows 7 em tablets, computadores, notebooks, celula- Visualizar as pastas
res, etc. Ele trouxe diversas mudanças, principalmente no A interface do programas no computador podem ser
layout, que acabou surpreendendo milhares de usuários vistos de maneira horizontal com painéis dispostos lado a
acostumados com o antigo visual desse sistema. lado. Para passar de um painel para outro é necessário usar
A tela inicial completamente alterada foi a mudança a barra de rolagem que fica no rodapé.
que mais impactou os usuários. Nela encontra-se todas as
aplicações do computador que ficavam no Menu Iniciar e Compartilhar e Receber
também é possível visualizar previsão do tempo, cotação Comando utilizado para compartilhar conteúdo, enviar
da bolsa, etc. O usuário tem que organizar as pequenas uma foto, etc. Tecle Windows + C, clique na opção Com-
miniaturas que aparecem em sua tela inicial para ter acesso partilhar e depois escolha qual meio vai usar. Há também a
aos programas que mais utiliza. opção Dispositivo que é usada para receber e enviar con-
Caso você fique perdido no novo sistema ou dentro de teúdos de aparelhos conectados ao computador.
uma pasta, clique com o botão direito e irá aparecer um
painel no rodapé da tela. Caso você esteja utilizando uma Alternar Tarefas
das pastas e não encontre algum comando, clique com o Com o atalho Alt + Tab, é possível mudar entre os pro-
botão direito do mouse para que esse painel apareça. gramas abertos no desktop e os aplicativos novos do SO.
A organização de tela do Windows 8 funciona como o Com o atalho Windows + Tab é possível abrir uma lista na
antigo Menu Iniciar e consiste em um mosaico com ima- lateral esquerda que mostra os aplicativos modernos.
gens animadas. Cada mosaico representa um aplicativo
que está instalado no computador. Os atalhos dessa área Telas Lado a Lado
de trabalho, que representam aplicativos de versões ante- Esse sistema operacional não trabalha com o concei-
riores, ficam com o nome na parte de cima e um pequeno to de janelas, mas o usuário pode usar dois programas ao
ícone na parte inferior. Novos mosaicos possuem tama- mesmo tempo. É indicado para quem precisa acompanhar
nhos diferentes, cores diferentes e são atualizados auto- o Facebook e o Twitter, pois ocupa ¼ da tela do compu-
maticamente. tador.
A tela pode ser customizada conforme a conveniên-
cia do usuário. Alguns utilitários não aparecem nessa tela,
mas podem ser encontrados clicando com o botão direito
do mouse em um espaço vazio da tela. Se deseja que um

58
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Visualizar Imagens nexão de Área de Trabalho Remota  em um computador,


O sistema operacional agora faz com que cada vez que trabalhar com máquinas virtuais, e permite o ingresso em
você clica em uma figura, um programa específico abre e um domínio para realizar conexões a uma rede corporativa.
isso pode deixar seu sistema lento. Para alterar isso é preci- Windows 10 Enterprise – Baseada na versão 10 Pro, é
so ir em Programas – Programas Default – Selecionar Win- disponibilizada por meio do Licenciamento por Volume,
dows Photo Viewer e marcar a caixa Set this Program as voltado a empresas.
Default.
Imagem e Senha Windows 10 Education – Baseada na versão Enterpri-
O usuário pode utilizar uma imagem como senha ao se, é destinada a atender as necessidades do meio educa-
invés de escolher uma senha digitada. Para fazer isso, aces- cional. Também tem seu método de distribuição baseado
se a Charm Bar, selecione a opção Settings e logo em se- através da versão acadêmica de licenciamento de volume.
guida clique em More PC settings. Acesse a opção Usuários Windows 10 Mobile  – Embora o Windows 10 tente
e depois clique na opção “Criar uma senha com imagem”. vender seu nome fantasia como um sistema operacional
Em seguida, o computador pedirá para você colocar sua único, os smartphones com o Windows 10 possuem uma
senha e redirecionará para uma tela com um pequeno tex- versão específica do sistema operacional compatível com
to e dando a opção para escolher uma foto. Escolha uma tais dispositivos.
imagem no seu computador e verifique se a imagem está Windows 10 Mobile Enterprise – Projetado para smart-
correta clicando em “Use this Picture”. Você terá que dese- phones e tablets do setor corporativo. Também estará dis-
nhar três formas em touch ou com o mouse: uma linha reta, ponível através do Licenciamento por Volume, oferecendo
um círculo e um ponto. Depois, finalize o processo e sua as mesmas vantagens do Windows 10 Mobile com funcio-
senha estará pronta. Na próxima vez, repita os movimentos nalidades direcionadas para o mercado corporativo.
para acessar seu computador. Windows 10 IoT Core – IoT vem da expressão “Internet
das Coisas” (Internet ofThings). A Microsoft anunciou que
Internet Explorer no Windows 8 haverá edições do Windows 10 baseadas no Enterprise e
Se você clicar no quadrinho Internet Explorer da página Mobile Enterprise destinados a dispositivos como caixas
inicial, você terá acesso ao software sem a barra de ferra- eletrônicos, terminais de autoatendimento, máquinas de
mentas e menus. atendimento para o varejo e robôs industriais. Essa versão
IoT Core será destinada para dispositivos pequenos e de
7.2. Windows 10 baixo custo.
Para as versões mais populares (10 e 10 Pro), a Micro-
soft indica como requisitos básicos dos computadores:
O Windows 10 é uma atualização do Windows 8 que
• Processador de 1 Ghz ou superior;
veio para tentar manter o monopólio da Microsoft no mun-
• 1 GB de RAM (para 32bits); 2GB de RAM (para
do dos Sistemas Operacionais, uma das suas missões é fi-
64bits);
car com um visual mais de smart e touch.
• Até 20GB de espaço disponível em disco rígido;
• Placa de vídeo com resolução de tela de 800×600
ou maior.

Figura 21:Tela do Windows 10

O Windows 10 é disponibilizado nas seguintes versões


(com destaque para as duas primeiras):
Windows 10 – É a versão de “entrada” do Windows 10,
que possui a maioria dos recursos do sistema. É voltada
para Desktops e Laptops, incluindo o tablete Microsoft Sur-
face 3.
Windows 10 Pro – Além dos recursos da versão de en-
trada, fornece proteção de dados avançada e criptografa-
da com o BitLocker, permite a hospedagem de uma Co-

59
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Dominar o básico destes programas não é difícil, com


um pouco de pratica e dedicação, você já consegue criar
USO DO WORD FOR WINDOWS: documentos, relatórios e planilhas simples, bem como al-
ENTRANDO E CORRIGINDO TEXTO, gumas apresentações a partir de modelos prontos.
DEFININDO FORMATO DE PÁGINAS:
MARGENS, ORIENTAÇÃO, NUMERAÇÃO, OFFICE 2016
CABEÇALHO E RODAPÉ DEFININDO ESTILO Lançado em setembro de 2015, é a versão mais re-
DO TEXTO: FONTE, TAMANHO, NEGRITO, cente, que veio a substituir o Office2013. Entre os novos
ITÁLICO E SUBLINHADO, IMPRESSÃO DE recursos estão a possibilidade de criar, abrir, editar e sal-
DOCUMENTOS: VISUALIZANDO A PÁGINA var arquivos na nuvem diretamente de seu desktop. Há
também o recurso “Diga-me”- uma caixa de busca locali-
A SER IMPRESSA, USO DO CORRETOR
zada na porção superior da tela, a partir da qual você pode
ORTOGRÁFICO, CRIAÇÃO DE TEXTO EM simplesmente digitar o nome de ferramentas e comandos
COLUNAS, CRIAÇÃO DE TABELAS, CRIAÇÃO E para encontrá-los facilmente. Agora os aplicativos do office
INSERÇÃO DE FIGURAS NO TEXTO. permitem colaboração de arquivos, com edição em tempo
real, permitindo que mais de um usuário editem ao mesmo
tempo, desde que eles estejam conectados on-line em suas
contas Microsoft.
MICROSOFT OFFICE 2016 A interface do office 2016 também recebeu uma sutil
repaginada. As mudanças visuais são quase imperceptíveis,
Microsoft Office é uma suite de aplicações (programas mas o visual está mais plano, seguindo a tendência do win-
de computador) desenvolvida pela Microsoft Corp. (uma dows 10. A porção superior da Ribbon dos aplicativos rece-
empresa norte-americana fundada em 1975). Trata-se de beu uma cor solida, que varia conforme o aplicativo: azul,
um conjunto de programas informáticos/software que rea- verde, roxo etc.
lizam tarefas de escritório, isto é, que permitem automati- Há um cinza bem claro na faixa de opções para separar
o documento aberto das ferramentas disponíveis na por-
zar e otimizar as atividades do dia-a-dia de um escritório.
ção superior.
A primeira versão do Microsoft Office foi lançada em
Em caso de telas sensíveis ao toque, aceita-se a possi-
1989 com dois packs básicos: um formado pelo Microsoft
bilidade de ajustar a interface dos programas para ser ma-
Word, pelo Microsoft Excel e pelo Microsoft PowerPoint, e
nipulada pelos dedos. Na verdade, o recurso cria mais es-
outro ao qual foram acrescentados os programas Microsoft
paçamento entre os botões, para facilitar o toque, mesmo
Access e Schedule Plus.
nessa condição, as funcionalidades continuam as mesmas.
O Word é um dos programas mais populares que fa-
zem parte do Microsoft Office. Consiste num processador Trabalhar em equipe ficou mais fácil
de textos que inclui um corretor ortográfico, um dicionário Com o Office 2016, ficou mais fácil compartilhar docu-
de sinónimos e a possibilidade de trabalhar com diversas mentos e trabalhar com outras pessoas ao mesmo tempo.
fontes (tipos de letras).
O Excel, por sua vez, é composto por folhas de cálculo. Colabore em documentos
Tem por principal característica a possibilidade de realizar Veja as edições das outras pessoas com a coautoria no
cálculos aritméticos de forma automática, facilitando assim Word, no PowerPoint e no OneNote. O histórico de versão
o desenvolvimento dos balanços e das demonstrações fi- foi aperfeiçoado e agora permite conferir os instantâneos
nanceiras. das versões anteriores do documento durante o processo
O PowerPoint é o programa do Office que se utiliza de edição.
para criar e exibir apresentações visuais. A sua base está no Compartilhamento simplificado
desenvolvimento de dispositivos multimídia, que podem Compartilhe a partir do próprio documento com ape-
incluir texto, imagens, vídeos e som. nas um clique. Se preferir, use os novos anexos modernos
A administração da informação pessoal e as mensa- do Outlook: é só anexar os arquivos do OneDrive e confi-
gens de correio electrónico podem ser geridos a partir do gurar automaticamente a permissão. Você não precisa nem
Outlook. O seu principal ponto forte é o correio eletrônico, sair do Outlook.
embora também disponha de um calendário e de um dire-
tório de contatos. Office em todos os seus dispositivos
O Microsoft Office é um programa que não dispensa Revise, edite, analise e apresente documentos do Of-
de licença. Por isso, deve ser comprado pelos utilizadores fice 2016 em qualquer um dos seus dispositivos, seja um
que pretendam usufruir dos serviços propostos. PC, um Mac ou telefones e tablets Windows, Apple® e An-
Os programas do pacote office são amplamente utili- droid™.
zados no ambiente corporativo, mas na maioria dos com-
putadores domésticos, você vai encontrar também pelo Colabora com você
menos um processador de texto, um editor de planilhas e O Office 2016 colabora com a sua produtividade ofe-
um programa de apresentações, representados pelos po- recendo jeitos novos e mais rápidos de alcançar os resulta-
pulares Word, Excel e Powerpoint, respectivamente. dos que você quer.

60
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Encontre os comandos com o Diga-me


É só dizer para o Word, o Excel ou o PowerPoint o que quer fazer e o Diga-me leva você até o comando.

Verifique os fatos usando a Pesquisa Inteligente da plataforma Bing


A Pesquisa Inteligente usa os termos destacados por você e outras informações do contexto do documento para mos-
trar os resultados da pesquisa na Web dentro do próprio documento.

Ideias a poucos cliques de distância


Usando a previsão com um clique, você transforma rapidamente o histórico de dados em uma análise de tendências
futuras. Os novos gráficos ajudam a visualizar dados complexos.

O Office acompanha você


Do trabalho à sua lanchonete preferida, acompanhe aquilo que importa: amigos, parentes e projetos, em todos os seus
dispositivos.

Aplicativos do Office otimizados para o toque


Toque para ler, editar, mudar o zoom e navegar. Tome notas ou faça anotações usando a tinta digital.

Tudo em um único lugar com o armazenamento em nuvem do OneDrive


Salve o arquivo no armazenamento em nuvem e troque de dispositivo sem perder o embalo. Os aplicativos do Office
abrem o documento do jeitinho que você deixou, em qualquer um dos seus dispositivos.

Perfeito para o Windows 10


Juntos, o Office 2016 e o Windows 10 formam a solução mais completa do mundo para resolver o que for necessário.

Hello
É só dizer “Hello” uma única vez, e o Windows faz logon no PC e no Office.

Cortana
A Cortana ajuda você a fazer seu trabalho no Office. Integrá-la ao Office 365 facilita diversas tarefas, como a preparação
de reuniões.

Aplicativos móveis do Office


Os aplicativos móveis do Office no Windows 10 são rápidos, fáceis de usar com a tela de toque e otimizados para a
produtividade em praticamente qualquer lugar.

Office pelo melhor preço


Com os planos de assinatura flexíveis do Office 365, você escolhe a opção ideal para as suas necessidades. Assine o
plano individual ou um plano para toda a família.

Instale os aplicativos do Office


O Office 365 vem com os novos aplicativos do Office 2016 para PC e Mac, como Word, Excel, PowerPoint, Outlook e
OneNote.

1 TB de armazenamento em nuvem do OneDrive


O OneDrive deixa ao seu alcance aquilo que é importante, como amigos, parentes, projetos e arquivos, em praticamen-
te qualquer lugar, em qualquer dispositivo.

Acesso ao suporte técnico gratuito


Precisa de ajuda com o Office 2016? Todo assinante do Office 365 recebe suporte técnico gratuito de especialistas
treinados pela Microsoft.

61
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

EDITOR DE TEXTO MS WORD 2016

Novidades do Word 2016 para Windows4


O Word 2016 para Windows tem todas as funcionalidades e recursos conhecidos, com alguns aprimoramentos e novos
recursos do Office 2016.
Veja alguns dos novos recursos.
Realize ações rapidamente com o recurso Diga-me
Observe que há uma caixa de texto na Faixa de Opções do Word 2016 com a mensagem O que você deseja fazer. Esse
é um campo de texto no qual você insere palavras ou frases relacionadas ao que deseja fazer e obtém rapidamente os re-
cursos que pretende usar ou as ações que deseja realizar. Se preferir, use o Diga-me para encontrar ajuda sobre o que está
procurando ou para usar a Pesquisa Inteligente para pesquisar ou definir o termo que você inseriu.

Trabalhe em grupo em tempo real


Ao armazenar um documento online no OneDrive ou no SharePoint e compartilhá-lo com colegas que usam o Word
2016 ou Word Online, vocês podem ver as alterações uns dos outros no documento durante a edição. Após salvar o do-
cumento online, clique em Compartilhar para gerar um link ou enviar um convite por email. Quando seus colegas abrem o
documento e concordam em compartilhar automaticamente as alterações, você vê o trabalho em tempo real.

4 Fonte: https://support.office.com/pt-br/article/Novidades-do-Word-2016-para-Windows-4219dfb5-23fc-4853-95aa-b13a674a6670?ui=pt-
-BR&rs=pt-BR&ad=BR

62
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Ideias para o trabalho que está realizando


A Pesquisa Inteligente da plataforma Bing apresenta as pesquisas diretamente no Word 2016. Quando você seleciona
uma palavra ou frase, clica com o botão direito do mouse sobre ela e escolhe Pesquisa Inteligente, o Painel de ideias é
exibido com as definições, os artigos Wiki e as principais pesquisas relacionadas da Web.

63
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Equações à tinta
Incluir equações matemáticas ficou muito mais fácil. Vá até Inserir > Equação > Equação à Tinta sempre que desejar
incluir uma equação matemática complexa em um documento. Se tiver um dispositivo sensível ao toque, use o dedo ou
uma caneta de toque para escrever equações matemáticas à mão, e o Word 2016 vai convertê-las em texto. Caso não tenha
um dispositivo sensível ao toque, use o mouse para escrever. Você pode também apagar, selecionar e fazer correções à
medida que escreve.

Histórico de versões melhorado


Vá até Arquivo > Histórico para conferir uma lista completa de alterações feitas a um documento e para acessar versões
anteriores.

Compartilhamento mais simples


Clique em Compartilhar para compartilhar seu documento com outras pessoas no SharePoint, no OneDrive ou no One-
Drive for Business ou para enviar um PDF ou uma cópia como um anexo de email diretamente do Word.

Formatação de formas mais rápida


Quando você insere formas da Galeria de Formas, é possível escolher entre uma coleção de preenchimentos predefini-
dos e cores de tema para aplicar rapidamente o visual desejado.

64
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Interface

Tela de trabalho do MS Word


No cabeçalho de nosso programa temos a barra de títulos do documento ,
que como é um novo documento apresenta como título “Documento1”. Na esquerda temos a Barra de acesso rápido,
que permite acessar alguns comandos mais rapidamente como salvar, desfazer. Você pode personalizar essa
barra, clicando no menu de contexto (flecha para baixo) à direita dela.

65
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Mais à esquerda tem a ABA Arquivo.

Através dessa ABA, podemos criar novos documentos, abrir arquivos existentes, salvar documentos, imprimir, preparar
o documento (permite adicionar propriedades ao documento, criptografar, adicionar assinaturas digitais, etc.).

ABAS

Os comandos para a edição de nosso texto agora ficam agrupadas dentro destas guias. Dentro destas guias temos os
grupos de ferramentas, por exemplo, na guia Página inicial, temos “Fonte”, “Parágrafo”, etc., nestes grupos fica visíveis para
os usuários os principais comandos, para acessar os demais comandos destes grupos de ferramentas, alguns destes grupos
possuem pequenas marcações na sua direita inferior.

66
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

O Word possui também guias contextuais quando determinados elementos dentro de seu texto são selecionados, por
exemplo, ao selecionar uma imagem, ele criar na barra de guias, uma guia com a possibilidade de manipulação do elemen-
to selecionado.

Explore a galeria de documentos

A galeria de documentos é o local onde você pode criar um documento em branco ou usar um modelo predefinido. A
galeria fica disponível ao abrir o Word ou você pode acessá-la escolhendo Arquivo > Novo se estiver trabalhando em um
documento existente.

67
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Explorar a faixa de opções

Saiba mais sobre a caixa Diga-me

Diga-Me é uma nova ferramenta de pesquisa e está disponível no Word, no PowerPoint e no Excel 2016. Ela exibe os
comandos necessários quando você digita o que deseja fazer. Por exemplo, digite “configurações de fonte” na janela Diga-
-me o que você quer fazer. Em seguida, escolha uma das sugestões exibidas ou escolha Obter Ajuda sobre “configurações
de fonte” para abrir o visualizador da Ajuda.

68
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Faça um tour do Word 2016

Quando o Word abrir, clique em Faça um tour ou digite “Bem-vindo ao Word” na caixa Pesquisar modelos online. O
modelo Bem-vindo ao Word é aberto.
Este documento permite que você explore cinco áreas:
- Usar guias dinâmicas de layout e alinhamento
- Colaborar no Modo de Exibição Marcação Simples
- Inserir Imagens e Vídeos Online
- Desfrutar da Leitura
- Editar conteúdo em PDF no Word

Criando um documento

Quando você abre o Word, a galeria de documentos é exibida, permitindo que você escolha o modelo de documento
em branco ou um dos vários outros modelos.

69
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Utilizando um modelo

Quando você inicia um aplicativo do Office, como o Word, o Excel, o PowerPoint, o Visio ou o Access, a primeira coisa
que você vê é uma lista de modelos que podem ser usados para criar seus arquivos e documentos.
Para encontrar modelos para os aplicativos do Office a qualquer momento, selecione Arquivo > Novo. Veja um exem-
plo de como isso é exibido no Word:

Insira uma pesquisa para o tipo de modelo que você está procurando na caixa de pesquisa que diz Procurar modelos
online. Para navegar pelos tipos de modelos populares, selecione qualquer uma das palavras-chave abaixo da caixa de
pesquisa.

Selecione a miniatura de um modelo para ver uma visualização maior de como ele é. Você pode usar as setas em am-
bos os lados da visualização para rolar pelos modelos relacionados. Depois de encontrar um modelo de que você gosta,
selecione Criar.

70
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

DICA : Se você usa um modelo com frequência, pode fixá-lo para que esteja sempre à mão quando você inicia o apli-
cativo do Office. Basta selecionar o ícone de pino que aparece abaixo da miniatura na lista de modelos.

Modos de documento e compatibilidade


Quando você abre um documento no Word 2016, ele se encontra em um destes modos:
- Modo Word 2013-2016
- Modo de Compatibilidade do Word 2010
- Modo de Compatibilidade do Word 2007
- Modo de Compatibilidade do Word 97-2003

Caso você veja o Modo de Compatibilidade na barra de título, saiba como descobrir em que modo você está:
- Clique em Arquivo > Informações.
- Na seção Inspecionar Documento, clique em Verificar Problemas e em Verificar Compatibilidade.

Clique em Selecionar versões a exibir para verificar se há uma marca de seleção exibida ao lado do nome do modo em
que o documento se encontra.

Ajustar recuos e espaçamento no Word


Quando você quiser fazer alterações precisas nos recuos e no espaçamento ou quando quiser fazer várias alterações de
uma só vez, use as configurações na guia Recuos e Espaçamento na caixa de diálogo Parágrafo.
Selecione o texto que deseja ajustar.
Clique em Layout e clique na seta para o iniciador da caixa de diálogo no grupo Parágrafo.

Na guia  Recuos e Espaçamento, escolha as configurações (veja abaixo os detalhes de cada configuração) e clique
em OK.

Opções da caixa de diálogo Parágrafo


Escolha uma destas opções na caixa de diálogo  Parágrafo. Na parte inferior da caixa de diálogo, a caixa  Visualiza-
ção mostra a aparência das opções antes que você as aplique.

Geral
Escolha À Esquerda para alinhar o texto à esquerda com uma margem
Alinhamento
direita irregular (ou use o atalho de teclado CTRL+L).
EscolhaCentralizar para centralizar o texto com uma borda esquerda e
direita irregulares (CTRL+E).
EscolhaÀ Direita para alinhar o texto à direita com uma margem esquerda
irregular (CTRL+R).
EscolhaJustificar para alinhar o texto à esquerda e à direita, adicionando
espaço entre as palavras (CTRL+J).
O nível no qual o parágrafo aparece no modo de exibição de Estrutura
Nível da estrutura de tópicos
de Tópicos.
Escolha  Recolhido por padrão  se quiser que o documento seja aberto
com os títulos recolhidos por padrão.

71
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Recuo
Move-se no lado esquerdo do parágrafo de acordo com quantidade que
Para a Esquerda
você escolher.
Move-se no lado direito do parágrafo de acordo com quantidade que você
Para a Direita
escolher.
Especial Escolha Primeira linha > Por para recuar a primeira linha de um parágrafo.
Escolha Deslocamento > Por para criar um recuo deslocado.
Quando você escolher isso,  Esquerda  e  Direita  tornam-se  Dentro  e  Fora.
Espelhar recuos
Isso é para impressão de estilo de livro.
Espaçamento
Antes Ajusta a quantidade de espaço antes de um parágrafo.
Depois Ajusta a quantidade de espaço após um parágrafo
Espaçamento entre linhas Escolha Simples para texto com espaçamento simples.
Escolha 1,5 linhas para definir o espaçamento do texto uma vez e meia o do
espaçamento único.
Escolha Duplo para texto com espaçamento duplo.
Escolha Pelo menos > Em para definir a quantidade mínima de espaçamento
necessário para acomodar a maior fonte ou gráfico na linha.
Escolha Exatamente > Em para definir o espaçamento de linha fixa, expresso
em pontos. Por exemplo, se o texto estiver em fonte de 10 pontos, você pode
especificar 12 pontos como o espaçamento entre linhas.
EscolhaMúltiplo > Em para definir o espaçamento de linha como um múltiplo
expresso em números maiores que 1. Por exemplo, definir o espaçamento
entre linhas como 1,15 aumentará o espaço em 15% e definir o espaçamento
entre linhas como 3 aumentará o espaço em 300% (espaçamento triplo).
Escolha Não adicionar espaço entre parágrafos do mesmo estilo quando não
Não adicionar …
quiser espaço adicional entre os parágrafos.

Se você quiser salvar as configurações como padrão, clique em Definir como padrão.

Clicar em Guias… abre a caixa de diálogo Guias, onde você pode definir precisamente as guias.

Inserir imagens
As imagens podem ser inseridas (ou copiadas) a partir de vários locais diferentes, inclusive de um computador, de uma
fonte online como o Bing.com ou de uma página da Web.
Inserir uma imagem a partir de um computador
Clique no local em que deseja inserir a imagem no documento.
Clique em Inserir > Imagens.

Navegue até a imagem que você deseja inserir, selecione-a e clique em Inserir.

OBSERVAÇÃO: Por padrão, o Word insere a imagem em um documento. Mas você pode, de forma alternativa, vincular
seu documento à imagem para reduzir seu tamanho. Para fazê-lo, na caixa de diálogo Inserir Imagem, clique na seta ao lado
de Inserir e clique em Vincular ao Arquivo.

72
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Inserir imagem a partir de uma fonte online


Caso não tenha uma imagem ideal no seu computador, experimente inserir uma a partir de uma fonte online, como o
Bing ou o Flickr.
Clique no local onde deseja inserir a imagem no documento.
Clique em Inserir > Imagens Online.

Na caixa de pesquisa, digite uma palavra ou frase que descreva a imagem desejada e pressione Enter.
Na lista de resultados, clique na imagem desejada e em Inserir.
Inserir uma imagem a partir de uma página da Web
Abra seu documento.
Na página da Web, clique com o botão direito do mouse na imagem que deseja e clique em Copiar.
No seu documento, clique com o botão direito do mouse no local que deseja inserir a imagem e clique em Colar.

Inserir uma tabela


Para inserir rapidamente uma tabela, clique em Inserir > Tabela e mova o cursor sobre a grade até realçar o número
correto de colunas e linhas desejado.

Clique na tabela exibida no documento. Caso seja necessário fazer ajustes, você poderá adicionar colunas e linhas em
uma tabela, excluir linhas ou colunas ou mesclar células.
Quando você clica na tabela, as Ferramentas de Tabela são exibidas.

73
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Use as  Ferramentas de Tabela  para escolher diferen- Largura fixa da coluna: você pode deixar o Word definir
tes cores, estilos de tabela, adicionar uma borda a uma automaticamente a largura das colunas com Automático
página ou remover bordas de uma tabela. Você pode até ou pode definir uma largura específica para todas as co-
mesmo inserir uma fórmula para fornecer a soma de uma lunas.
coluna ou linha de números em uma tabela. Ajustar-se automaticamente ao conteúdo: isso cria co-
Se você tem um texto que ficará melhor em uma tabe- lunas muito estreitas que são expandidas conforme você
la, o Word pode convertê-lo em uma tabela. adiciona conteúdo.
Inserir tabelas maiores ou tabelas com comportamen- Ajustar-se automaticamente à janela: isso mudará au-
tos de largura personalizada tomaticamente a largura de toda a tabela para ajustar-se
Para obter tabelas maiores e mais controle sobre as ao tamanho de seu documento.
colunas, use o comando Inserir Tabela. Se quiser que as tabelas criadas tenham uma aparência
semelhante à da tabela que você está criando, marque a
caixa Lembrar dimensões para novas tabelas.
Projetar sua própria tabela
Se quiser ter mais controle sobre a forma das colunas e
linhas de sua tabela ou algo diferente de uma grade básica,
a ferramenta Desenhar Tabela ajuda a desenhar exatamen-
te a tabela que você deseja.

Assim, você pode criar uma tabela com mais de dez


colunas e oito linhas, além de definir o comportamento de
largura das colunas.
Clique em Inserir > Tabela > Inserir Tabela.
Defina o número de colunas e linhas.

Você mesmo pode desenhar linhas diagonais e células


dentro das células.
Clique em Inserir > Tabela > Desenhar Tabela. O pon-
teiro é alterado para um lápis.
Desenhe um retângulo para fazer as bordas da tabela.
Depois, desenhe linhas para as colunas e linhas dentro do
retângulo.

Na seção  Comportamento de Ajuste Automático, há


três opções para configurar a largura das colunas:

74
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Para apagar uma linha, clique na guia Layout de Ferramentas de Tabela, clique em Borracha e clique na linha que você
quer apagar.

Adicionar um cabeçalho ou rodapé


Você pode adicionar muito mais além de números de página aos seus cabeçalhos ou rodapés. Mas para começar, veja
como criar e personalizar um cabeçalho ou rodapé simples.
Clique em Inserir e depois clique em Cabeçalho ou Rodapé.

Dezenas de layouts internos são exibidos. Percorra-os e clique naquele que você deseja.
O espaço de cabeçalho e rodapé será aberto em seu documento, junto com as Ferramentas de Cabeçalho e Rodapé.
Você precisa fechar as Ferramentas de Cabeçalho e Rodapé para poder editar o corpo do seu documento novamente.
Digite o texto desejado no cabeçalho ou no rodapé. A maioria dos cabeçalhos e rodapés tem texto do espaço reserva-
do (por exemplo, “Título do documento”) que você pode digitar diretamente sobre.
DICA: Escolha entre as Ferramentas de Cabeçalho e Rodapé para adicionar mais ao seu cabeçalho ou rodapé, como
data e hora, uma imagem e o nome do autor ou outras informações do documento. Você também pode selecionar opções
para cabeçalhos diferentes em páginas pares e ímpares, além de indicar que não deseja que o cabeçalho ou rodapé apareça
na primeira página.
Quando terminar, clique em Fechar Cabeçalho e Rodapé.

75
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

DICA: Sempre que você quiser abrir as Ferramentas de Cabeçalho e Rodapé, clique duas vezes dentro da área de ca-
beçalho ou rodapé.

Adicionar números de página a um cabeçalho ou rodapé no Word


OBSERVAÇÃO: Se você não tiver um cabeçalho ou rodapé, ou se você tiver um cabeçalho ou rodapé que você não
queira manter, para adicionar rapidamente números de página, clique em Inserir > Número de Página e selecione o tipo de
número da página desejado. Isso substituirá qualquer cabeçalho ou rodapé existente.
Se o documento já tem cabeçalhos ou rodapés, você pode usar o código de campo de Número da Página para adicio-
nar números de página sem substituir os cabeçalhos ou rodapés.
Com mais uma etapa, você poderá exibir o número de página como Página X de Y.
Usar o código Campo de página para adicionar números de página a um cabeçalho ou rodapé
Clique duas vezes na área do cabeçalho ou rodapé (próxima à parte superior da ou inferior da página). Isso abre a
guiaDesign em Ferramentas de Cabeçalho e Rodapé.

Posicione o cursor onde você deseja adicionar o número da página. Para colocar o número da página no centro ou no
lado direito da página, faça o seguinte:
Para colocar o número de página no centro, na guia Design, clique em Inserir Tabulação de Alinhamento >Centrali-
zar > OK.
Para colocar o número de página no lado direito da página, na guia Design, clique em Inserir Tabulação de Alinhamen-
to > Direita > OK.
Na guia Inserir, clique em Partes Rápidas e Campo.

Na lista Nomes de campos, clique em Página e em OK.

OBSERVAÇÕES: Para mostrar os números de página como Página X de Y, faça o seguinte:


Digite de após o número de página que você acabou de adicionar.

76
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Na guia Inserir, clique em Partes Rápidas e Campo.


Na lista Nomes de campos, clique em NumPages e em OK.
Para alterar o formato de numeração, na guia Design (em Ferramentas de Cabeçalho e Rodapé), clique em Número de
Página > Formatar Números de Página.

Para retornar ao corpo do documento, clique em Ferramentas de Cabeçalho e Rodapé > Fechar Cabeçalho e Rodapé.

Adicionar números de página no Word


Clique em Inserir > Número de Página, clique em um local (como o Início da Página) e escolha um estilo. O Word nu-
mera as páginas de forma automática.

Quando concluir, clique em Fechar Cabeçalho e Rodapé ou clique duas vezes em qualquer lugar fora da área do cabe-
çalho ou do rodapé.

DICA : O Word numera as páginas de forma automática, mas você pode alterar essa opção se preferir. Por exemplo,
caso não pretenda exibir o número da página na primeira página do documento, clique duas vezes ou dê um toque duplo
na parte superior ou inferior da página para abrir as ferramentas de cabeçalho e rodapé na guia Design e marque a cai-
xa Primeira Página Diferente. Escolha Inserir > Número da Página > Formatar Números de Página para saber mais.

Salvar um documento no Word 2016


O local escolhido para salvar seu documento depende da forma como você planeja usá-lo. Para acessar um documento
em praticamente qualquer lugar, compartilhá-lo com outras pessoas ou trabalhar em conjunto com outras pessoas em
tempo real, salve-o online. Mas onde você deve salvá-lo? Veja algumas dicas para ajudá-lo a decidir:
Use o site de equipe do OneDrive for Business ou do SharePoint para documentos que serão usados por seus colegas.

77
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Escolha uma pasta pessoal do OneDrive para documentos particulares que somente você pode ver ou que deseja com-
partilhar com seus amigos e familiares.
Se pretende trabalhar com um documento no computador que você está usando atualmente, salve em uma pasta
neste computador.

Decida onde salvar seu documento

Use a tabela a seguir para ajudá-lo a escolher um local para salvar seu documento:

LOCAL PARA
USE ESTE PROCEDIMENTO QUANDO QUISER...
SALVAR
Salvar um documento comercial que você provavelmente desejará compartilhar mais tarde
OneDrive
com parceiros de fora de sua equipe ou organização. As opções de compartilhamento
-Organização
permitem escolher as pessoas que você deseja permitir que exibam ou editem o documento.
Salvar um documento comercial que você deseja compartilhar com sua equipe. Para mantê-
Sites -Organização
lo privado, coloque-o em uma biblioteca que não seja compartilhada com outras pessoas.
Salvar um documento pessoal que você deseja manter privado ou que deseja compartilhar
OneDrive - Pessoal
com amigos e familiares.
Salvar um documento em uma pasta no seu computador. Escolha Este PC e escolha uma
Este PC
pasta.
Adicionar um novo local online. Escolha Adicionar um Local e toque ou clique em SharePoint
adicionar um local
do Office 365ou OneDrive.

Salvando Arquivos
É importante ao terminar um documento, ou durante a digitação do mesmo, quando o documento a ser criado é longo,
salvar seu trabalho. Salvar consiste em armazenar se documento em forma de arquivo em seu computador, pendrive, ou
outro dispositivo de armazenamento. Para salvar seu documento, clique no botão salvar no topo da tela. Será aberta uma
tela onde você poderá definir o nome, local e formato de seu arquivo.

78
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Para abrir um arquivo, você precisa clicar na ABA Ar-


quivo.

Na esquerda da janela, o botão abrir é o segundo abai-


Observe na janela de salvar que o Word procura salvar xo de novo, observe também que ele mostra uma relação
seus arquivos na pasta Documents do usuário, você pode de documentos recentes, nessa área serão mostrados os
mudar o local do arquivo a ser salvo, pela parte esquerda últimos documentos abertos pelo Word facilitando a aber-
da janela. No campo nome do arquivo, o Word normal- tura. Ao clicar em abrir, será necessário localizar o arquivo
mente preenche com o título do documento, como o do- no local onde o mesmo foi salvo.
cumento não possui um título, ele pega os primeiros 255
caracteres e atribui como nome, é aconselhável colocar um
nome menor e que se aproxime do conteúdo de seu texto.
“Em Tipo a maior mudança, até versão 2003, os documen-
tos eram salvos no formato”. DOC”, a partir da versão 2010,
os documentos são salvos na versão”. DOCX”, que não são
compatíveis com as versões anteriores. Para poder salvar
seu documento e manter ele compatível com versões ante-
riores do Word, clique na direita dessa opção e mude para
Documento do Word 97-2003.

Caso necessite salvar seu arquivo em outro formato,


outro local ou outro nome, clique no botão Office e esco-
lha Salvar Como.

Visualização do Documento

Podemos alterar a forma de visualização de nosso do-


cumento. No rodapé a direta da tela temos o controle de
Zoom.·. Anterior a este controle de zoom temos os botões
de forma de visualização de seu documento,
Observe que o nome de seu arquivo agora aparece na que podem também ser acessados pela Aba Exibir.
barra de títulos.

Abrindo um arquivo do Word

79
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Os cinco primeiros botões são os mesmos que temos em miniaturas no rodapé.


• Layout de Impressão: Formato atual de seu documento é o formato de como seu documento ficará na folha im-
pressa.
• Modo de leitura: Ele oculta as barras de seu documento, facilitando a leitura em tela, observe que no rodapé do
documento à direita, ele possui uma flecha apontado para a próxima página. Para sair desse modo de visualização, clique
no botão fechar no topo à direita da tela.
• Layout da Web: Aproxima seu texto de uma visualização na Internet, esse formato existe, pois muitos usuários
postam textos produzidos no Word em sites e blogs na Internet.
• Estrutura de Tópicos: Permite visualizar seu documento em tópicos, o formato terá melhor compreensão quando
trabalharmos com marcadores.
• Rascunho: É o formato bruto, permite aplicar diversos recursos de produção de texto, porém não visualiza como
impressão nem outro tipo de meio.

O terceiro grupo de ferramentas da Aba exibição permite trabalhar com o Zoom da página. Ao clicar no botão Zoom
o Word apresenta a seguinte janela:

Onde podemos utilizar um valor de zoom predefinido, ou colocarmos a porcentagem desejada, podemos visualizar
o documento em várias páginas. E finalizando essa aba temos as formas de exibir os documentos aberto em uma mesma
seção do Word.

80
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Configuração de Documentos

Um dos principais cuidados que se deve ter com seus


documentos é em relação à configuração da página. A
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) possui um
manual de regras para documentações, então é comum es-
cutar “o documento tem que estar dentro das normas”, não
vou me atentar a nenhuma das normas especificas, porém
vou ensinar como e onde estão as opções de configuração
de um documento.
No Word 2016 a ABA que permite configurar sua pági-
na é a ABA Layout da Página.

O grupo “Configurar Página”, permite definir as mar-


gens de seu documento, ele possui alguns tamanhos pré-
-definidos, como também personalizá-las.
Ao personalizar as margens, é possível alterar as mar-
gens superior, esquerda, inferior e direita, definir a orien-
tação da página, se retrato ou paisagem, configurar a fora
de várias páginas, como normal, livro, espelho. Ainda nessa
mesma janela temos a guia Papel.

Nesta guia podemos definir o tipo de papel, e fonte de


alimentação do papel.

81
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

suas colunas, o Word disponibiliza algumas opções pré-de-


finidas, mas você pode colocar em um número maior de
colunas, adicionar linha entre as colunas, definir a largura
e o espaçamento entre as colunas. Observe que se você
pretende utilizar larguras de colunas diferentes é preciso
desmarcar a opção “Colunas de mesma largura”. Atente
também que se preciso adicionar colunas a somente uma
parte do texto, eu preciso primeiro selecionar esse texto.

Alterar a cor ou a tela de fundo no Word 2016 para


Windows
Para aumentar o apelo visual do documento, adicione
uma cor da tela de fundo usando o botão Cor da Página.
A terceira guia dessa janela chama-se Layout. A primei- Você também pode adicionar uma imagem como marca
ra opção dessa guia chama-se seção. Aqui se define como d’água de tela de fundo.
será uma nova seção do documento, vamos aprender mais
frente como trabalhar com seções.
Em cabeçalhos e rodapés podemos definir se vamos Alterar a cor do plano de fundo
utilizar cabeçalhos e rodapés diferentes nas páginas pares Clique em Design > Cor da Página.
e ímpares, e se quero ocultar as informações de cabeçalho Escolha a cor que deseja em Cores do Tema ou Cores
e rodapé da primeira página. Em Página, pode-se definir o Padrão.
alinhamento do conteúdo do texto na página. O padrão é
o alinhamento superior, mesmo que fique um bom espa-
ço em branco abaixo do que está editado. Ao escolher a
opção centralizada, ele centraliza o conteúdo na vertical. A
opção números de linha permite adicionar numeração as
linhas do documento.

Colunas

Caso não veja a cor desejada, clique em Mais Cores e


escolha a cor desejada usando qualquer uma das opções
da caixa Cores.
Ao clicar em mais Colunas, é possível personalizar as Para adicionar gradiente, textura, padrão ou imagem,

82
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

clique em Efeitos de Preenchimento e, em seguida, clique nas guias Gradiente, Textura, Padrão ou Imagem para selecionar
as opções desejadas.
Os padrões e texturas são replicados (ou organizados lado a lado) para preencher a página toda. Se você salvar um
documento como página Web, as texturas serão salvas como arquivos JPEG e os padrões e gradientes como arquivos PNG.
Remover a cor da tela de fundo
Para remover a cor da página, clique em Design > Cor da Página > Sem Cor.

Adicionar uma imagem como marca d’água em tela de fundo no Word 2016 para Windows
Adicionar uma marca d’água de imagem é uma ótima maneira de aplicar uma marca em seu documento com um lo-
gotipo ou adicionar uma tela de fundo atraente. Para inserir uma imagem de tela de fundo rapidamente, adicione-o como
uma marca d’água personalizada. Se você quiser mais opções para ajustar a imagem de tela de fundo, insira-a como um
cabeçalho.

Adicionar uma imagem de tela de fundo como uma marca d’água


Este método é rápido, mas ele não lhe dá muitas opções para a formatação da imagem.
Clique em Design > Marca D’água.

Clique em Marca D’água Personalizada.


Clique em Marca d’água de imagem > Selecionar Imagem.
Procure (ou pesquise) a imagem desejada e clique em Inserir.
Selecione uma porcentagem em Escala para inserir a imagem com um tamanho específico. Verifique se colocou uma
porcentagem grande o suficiente para preencher a página ou simplesmente selecione Automático.
Marque a caixa de seleção Desbotar para clarear a imagem de modo que não interfira no texto.
Clique em OK.
Adicionar uma imagem de tela de fundo com mais opções de formatação
Inserir uma imagem de tela de fundo como um cabeçalho é um pouco mais complexo, mas oferece mais opções de
ajuste de fotos.
Clique em Inserir > Cabeçalho > Editar Cabeçalho.
Na guia Ferramentas de Cabeçalho e Rodapé, clique em Imagens.
Vá até a imagem e clique em Inserir.

83
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Na guia Ferramentas de Imagem, clique em Posição e clique na opção centralizada em Com Quebra Automática de
Texto.
Em Ferramentas de Imagem, clique em Quebra de Texto Automática > Atrás do Texto.
Em Ferramentas de Imagem, selecione as opções desejadas no grupo Ajustar. Por exemplo, para dar à imagem uma
aparência desbotada para que ela não compita com o texto, clique em Cor e, em Recolorir, clique na opção Desbotar:

Clique em Ferramentas de Cabeçalho e Rodapé > Fechar Cabeçalho e Rodapé


Selecionando Textos
Embora seja um processo simples, a seleção de textos é indispensável para ganho de tempo na edição de seu texto.
Através da seleção de texto podemos mudar a cor, tamanho e tipo de fonte, etc.

Selecionando pelo Mouse


Ao posicionar o mouse mais a esquerda do texto, o cursor aponta para a direita.
• Ao dar um clique ele seleciona toda a linha
• Ao dar um duplo clique ele seleciona todo o parágrafo.
• Ao dar um triplo clique seleciona todo o texto
Com o cursor no meio de uma palavra:
• Ao dar um clique o cursor se posiciona onde foi clicado
• Ao dar um duplo clique, ele seleciona toda a palavra.
• Ao dar um triplo clique ele seleciona todo o parágrafo
Podemos também clicar, manter o mouse pressionado e arrastar até onde se deseja selecionar. O problema é que se o
mouse for solto antes do desejado, é preciso reiniciar o processo, ou pressionar a tecla SHIFT no teclado e clicar ao final da
seleção desejada. Podemos também clicar onde começa a seleção, pressionar a tecla SHIFT e clicar onde termina a seleção.
É possível selecionar palavras alternadas. Selecione a primeira palavra, pressione CTRL e vá selecionando as partes do texto
que deseja modificar.

Copiar e Colar
O copiar e colar no Word funciona da mesma forma que qualquer outro programa, pode-se utilizar as teclas de atalho
CTRL+C (copiar), CTRL+X (Recortar) e CTRL+V(Colar), ou o primeiro grupo na ABA Pagina Inicial.

84
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Este é um processo comum, porém um cuidado importante é quando se copia texto de outro tipo de meio como, por
exemplo, da Internet. Textos na Internet possuem formatações e padrões deferentes dos editores de texto. Ao copiar um
texto da Internet, se você precisa adequá-lo ao seu documento, não basta apenas clicar em colar, é necessário clicar na
setinha apontando para baixo no botão Colar, escolher Colar Especial.

Observe na imagem que ele traz o texto no formato HTML. Precisa-se do texto limpo para que você possa manipulá-lo,
marque a opção Texto não formatado e clique em OK.
Localizar e Substituir
Ao final da ABA Pagina Inicial temos o grupo edição, dentro dela temos a opção Localizar e a opção Substituir. Clique
na opção Substituir.

85
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

A janela que se abre possui três guias, localizar, Substituir e Ir para. A guia substituir que estamos vendo, permite subs-
tituir em seu documento uma palavra por outra. A substituição pode ser feita uma a uma, clicando em substituir, ou pode
ser todas de uma única vez clicando-se no botão Substituir Tudo.
Algumas vezes posso precisar substituir uma palavra por ela mesma, porém com outra cor, ou então somente quando
escrita em maiúscula, etc., nestes casos clique no botão Mais. As opções são:
• Pesquisar: Use esta opção para indicar a direção da pesquisa;
• Diferenciar maiúsculas de minúsculas: Será localizada exatamente a palavra como foi digitada na caixa localizar.
• Palavras Inteiras: Localiza uma palavra inteira e não parte de uma palavra. Ex: Atenciosamente.
• Usar caracteres curinga: Procura somente as palavras que você especificou com o caractere coringa. Ex. Se você
digitou *ão o Word vai localizar todas as palavras terminadas em ão.
• Semelhantes: Localiza palavras que tem a mesma sonoridade, mas escrita diferente. Disponível somente para pa-
lavras em inglês.
• Todas as formas de palavra: Localiza todas as formas da palavra, não será permitida se as opções usar caractere
coringa e semelhantes estiverem marcadas.
• Formatar: Localiza e Substitui de acordo com o especificado como formatação.
• Especial: Adiciona caracteres especiais à caixa localizar. A caixa de seleção usar caracteres curinga.

Formatação de texto

Um dos maiores recursos de uma edição de texto é a possibilidade de se formatar o texto. No Office 2016 a ABA res-
ponsável pela formatação é a Página Inicial e os grupo Fonte, Parágrafo e Estilo.

Formatação de Fonte

A formatação de fonte diz respeito ao tipo de letra, tamanho de letra, cor, espaçamento entre caracteres, etc., para
formatar uma palavra, basta apenas clicar sobre ela, para duas ou mais é necessário selecionar o texto, se quiser formatar
somente uma letra também é necessário selecionar a letra. No grupo Fonte, temos visível o tipo de letra, tamanho, botões
de aumentar fonte e diminuir fonte, limpar formatação, negrito, itálico, sublinhado, observe que ao lado de sublinhado
temos uma seta apontando para baixo, ao clicar nessa seta, é possível escolher tipo e cor de linha.

Ao lado do botão de sublinhado temos o botão Tachado – que coloca um risco no meio da palavra, botão subscrito e
sobrescrito e o botão Maiúsculas e Minúsculas.

86
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Podemos definir a escala da fonte, o espaçamento en-


tre os caracteres que pode ser condensado ou comprimido,
a posição é referente ao sobrescrito e subscrito, permitindo
que se faça algo como: .

Este botão permite alterar a colocação de letras maiús-


culas e minúsculas em seu texto. Após esse botão temos
o de realce – que permite colocar uma cor de fundo para
realçar o texto e o botão de cor do texto.

Podemos também clicar na Faixa no grupo Fonte.

A janela fonte contém os principais comandos de for-


matação e permite que você possa observar as alterações
antes de aplica. Ainda nessa janela temos a opção Avan-
çado. Kerning: é o acerto entre o espaço dentro das palavras,
pois algumas vezes acontece de as letras ficaram com es-
paçamento entre elas de forma diferente. Uma ferramenta
interessante do Word é a ferramenta pincel, pois com ela
você pode copiar toda a formatação de um texto e aplicar
em outro.

Formatação de parágrafos
A principal regra da formatação de parágrafos é que
independentemente de onde estiver o cursor a formatação
será aplicada em todo o parágrafo, tendo ele uma linha
ou mais. Quando se trata de dois ou mais parágrafos será
necessário selecionar os parágrafos a serem formatados. A
formatação de parágrafos pode ser localizada na ABA Pá-
gina Inicial, e os recuos também na ABA Layout da Página.

87
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Bordas no parágrafo.

No grupo da Guia Página Inicial, temos as opções de


marcadores (bullets e numeração e listas de vários níveis),
diminuir e aumentar recuo, classificação e botão Mostrar
Tudo, na segunda linha temos os botões de alinhamentos:
esquerda, centralizado, direita e justificado, espaçamento
entre linhas, observe que o espaçamento entre linhas pos-
sui uma seta para baixo, permitindo que se possa definir
qual o espaçamento a ser utilizado.

Marcadores e Numeração

Os marcadores e numeração fazem parte do grupo


parágrafos, mas devido a sua importância, merecem um
destaque. Existem dois tipos de marcadores: Símbolos e
Numeração.

Cor do Preenchimento do Parágrafo.

A opção vários níveis é utilizada quando nosso texto


tenha níveis de marcação como, por exemplo, contratos e
petições. Os marcadores do tipo Símbolos como o nome já
diz permite adicionar símbolos a frente de seus parágrafos.
Se precisarmos criar níveis nos marcadores, basta clicar
antes do inicio da primeira palavra do parágrafo e pressio-
nar a tecla TAB no teclado.

88
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Você pode observar que o Word automaticamente adi- Podemos começar escolhendo uma definição de borda
cionou outros símbolos ao marcador, você pode alterar os (caixa, sombra, 3D e outra), ou pode-se especificar cada
símbolos dos marcadores, clicando na seta ao lado do botão uma das bordas na direita onde diz Visualização. Pode-se
Marcadores e escolhendo a opção Definir Novo Marcador. pelo meio da janela especificar cor e largura da linha da
borda. A Guia Sombreamento permite atribuir um preen-
chimento de fundo ao texto selecionado. Você pode es-
colher uma cor base, e depois aplicar uma textura junto
dessa cor.

Data e Hora
O Word Permite que você possa adicionar um campo
de Data e Hora em seu texto, dentro da ABA Inserir, no
grupo Texto, temos o botão Data e Hora.

Ao clicar em Símbolo, será mostrada a seguinte janela:

Basta escolher o formato a ser aplicado e clicar em OK.


Se precisar que esse campo sempre atualize data, marque
a opção Atualizar automaticamente.

Inserindo Elementos Gráficos

Onde você poderá escolher a Fonte (No caso acon- O Word permite que se insira em seus documentos
selha-se a utilizar fontes de símbolos como a Winddings, arquivos gráficos como Imagem, Clip-art, Formas, etc., as
Webdings), e depois o símbolo. Ao clicar em Imagem, você opções de inserção estão disponíveis na ABA Inserir, grupo
poderá utilizar uma imagem do Office, e ao clicar no botão ilustrações.
importar, poderá utilizar uma imagem externa.
Formas
Bordas e Sombreamento Podemos também adicionar formas ao nosso conteú-
Podemos colocar bordas e sombreamentos em nosso do do texto
texto. Podem ser bordas simples aplicadas a textos e pará-
grafos. Bordas na página como vimos quando estudamos a
ABA Layout da Página e sombreamentos. Selecione o texto
ou o parágrafo a ser aplicado à borda e ao clicar no botão
de bordas do grupo Parágrafo, você pode escolher uma
borda pré-definida ou então clicar na última opção Bordas
e Sombreamento.

89
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Para desenhar uma forma, o processo é simples, basta clicar na forma desejada e arrastar o mouse na tela para definir
as suas dimensões. Ao desenhar a sua forma a barra passa a ter as propriedades para modificar a forma.

SmartArt

O SmartArt permite ao você adicionar Organogramas ao seu documento. Basta selecionar o tipo de organograma a ser
trabalhado e clique em OK.

90
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

WordArt

Para finalizarmos o trabalho com elementos gráficos temo os WordArt que já um velho conhecido da suíte Office, ele
ainda mantém a mesma interface desde a versão do Office 97 No grupo Texto da ABA Inserir temos o botão de WorArt
Selecione um formato de WordArt e clique sobre ele.

Será solicitado a digitação do texto do WordArt. Digite seu texto e clique em OK. Será mostrada a barra do WordArt

Um dos grupos é o Texto, nesse grupo podemos editar o texto digitado e definir seu espaçamento e alinhamentos. No
grupo Estilos de WordArt pode-se mudar a forma do WordArt, depois temos os grupos de Sombra, Efeitos 3D, Organizar
e Tamanho.

Controlar alterações no Word


Quando quiser verificar quem está fazendo alterações em seu documento, ative o recurso Controlar Alterações.
Clique em Revisar > Controlar Alterações.

Agora, o Word está no modo de exibição Marcação Simples. Ele marca todas as alterações feitas por qualquer pessoa
no documento e mostra para você onde elas estão, exibindo uma linha ao lado da margem.

91
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

O Word mostra um pequeno balão no local em que Remover alterações controladas


alguém fez um comentário. Para ver o comentário, clique IMPORTANTE:  A única maneira de remover alterações
no respectivo balão. controladas de um documento é aceitá-las ou rejeitá-las.
Ao escolherSem Marcação na caixa Exibir para Revisão aju-
da a ver qual será a aparência do documento final, mas isso
apenas oculta temporariamente as alterações controladas.
As alterações não são excluídas e aparecerão novamente
da próxima vez em que o documento for aberto. Para ex-
cluir permanentemente as alterações controladas, aceite-
-as ou rejeite-as.
Para ver as alterações, clique na linha próxima à mar- Clique em Revisar > Próxima > Aceitar ou Rejeitar.
gem. Isso alterna para o modo de exibição Toda a Marca-
ção do Word.

O Word aceita a alteração ou a remove e depois passa


Manter o recurso Controlar Alterações ativado para a próxima alteração.
É possível bloquear o recurso Controlar Alterações com Para excluir um comentário, selecione-o e clique
uma senha para impedir que outra pessoa o desative. (Lem- em  Revisão  >  Excluir. Para excluir todos os comentários,
bre-se da senha para poder desativar esse recurso quando clique em Excluir >Excluir Todos os Comentários do Docu-
estiver pronto para aceitar ou rejeitar as alterações.) mento.
Clique em Revisar. DICA:  Antes de compartilhar a versão final do seu do-
Clique na seta ao lado de Controlar Alterações e clique cumento, é uma boa ideia executar o Inspetor de Docu-
em Bloqueio de Controle. mento. Essa ferramenta verifica comentários e alterações
controladas, além de texto oculto, nomes pessoais em pro-
priedades e outras informações que talvez você não que-
ria compartilhar amplamente. Para executar o Inspetor de
Documento,

Imprimir um documento no Word


Antes de imprimir, você pode visualizar o documento e
especificar as páginas que você deseja imprimir.
Visualizar o documento
No menu Arquivo, clique em Imprimir.
Para visualizar cada página, clique nas setas para frente
e para trás, na parte inferior da página.
Digite uma senha e depois digite-a mais uma vez na
caixa Redigite para confirmar.
Clique em OK.
Enquanto as alterações controladas estiverem blo-
queadas, você não poderá desativar o controle de altera-
ções, nem poderá aceitar ou rejeitar essas alterações.
Para liberar o bloqueio, clique na seta ao lado de Con-
trolar Alterações e clique novamente em Bloqueio de Con-
trole. O Word solicitará que você digite sua senha. Depois
que você digitá-la e clicar em OK, o recurso Controlar Alte- Quando o texto é pequeno demais e difícil de ler, use
rações continuará ativado, mas agora você poderá aceitar o controle deslizante de zoom na parte inferior da página
e rejeitar alterações. para ampliá-lo.

Desativar o controle de alterações


Para desativar esse recurso, clique no botão Controlar
Alterações. O Word deixará de marcar novas alterações,
mas todas as alterações já realizadas continuarão marcadas
no documento até que você as remova.

92
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Escolha o número de cópias e qualquer outra opção


desejada e clique no botão Imprimir.

Para imprimir somente determinadas páginas, siga um


destes procedimentos:
Para imprimir a página mostrada na visualização, sele-
cione a opção Imprimir Página Atual.
Para imprimir páginas consecutivas, como 1 a 3, esco-
lha Impressão Personalizada e insira o primeiro e o último
número das páginas na caixa Páginas.
Para imprimir páginas individuais e intervalo de pági-
nas (como a página 3 e páginas 4 a 6) ao mesmo tempo,
escolhaImpressão Personalizada  e digite os números das
páginas e intervalos separados por vírgulas (por exemplo,
3, 4-6).
Imprimir páginas específicas
Estilos
No menu Arquivo, clique em Imprimir. Os estilos podem ser considerados formatações prontas a
Para imprimir apenas determinadas páginas, algumas serem aplicadas em textos e parágrafos. O Word disponibiliza
das propriedades do documento ou alterações controladas uma grande quantidade de estilos através do grupo estilos.
e comentários, clique na seta em  Configurações, ao lado
de Imprimir Todas as Páginas (o padrão), para ver todas as
opções.

Para aplicar um estilo ao um texto é simples. Se você


clicar em seu texto sem selecioná-lo, e clicar sobre um esti-
lo existente, ele aplica o estilo ao parágrafo inteiro, porém
se algum texto estiver selecionado o estilo será aplicado
somente ao que foi selecionado.

93
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Observe na imagem acima que foi aplicado o estilo Tí-


tulo2 em ambos os textos, mas no de cima como foi clicado
somente no texto, o estilo está aplicado ao parágrafo, na
linha de baixo o texto foi selecionado, então a aplicação do
estilo foi somente no que estava selecionado. Ao clicar no
botão Alterar Estilos é possível acessar a diversas defini-
ções de estilos através da opção Conjunto de Estilos.

No exemplo dei o nome de Citações ao meu estilo,


defini que ele será aplicado a parágrafos, que a base de
criação dele foi o estilo corpo e que ao finalizar ele e iniciar
um novo parágrafo o próximo será também corpo. Abaixo
definir a formatação a ser aplicada no mesmo. Na parte de
baixo mantive a opção dele aparecer nos estilos rápidos e
que o mesmo está disponível somente a este documento.
Ao finalizar clique em OK. Veja um exemplo do estilo apli-
cado:

Podemos também se necessário criarmos nossos pró-


prios estilos. Clique na Faixa do grupo Estilo.

Criar um sumário no Word 2016


Para criar um sumário que seja fácil de atualizar, apli-
que estilos de título ao texto que deseja incluir no sumário.
Depois disso, o Word vai compilá-lo automaticamente a
partir desses títulos.
Aplicar estilos de título
Escolha o texto que você deseja incluir no sumário e,
em seguida, na guia Página Inicial, clique em um estilo do
título, comoTítulo 1.

Faça isso para todo o texto que você deseja exibir no


sumário.

Será mostrado todos os estilos presentes no documen-


to em uma caixa à direita. Na parte de baixo da janela exis-
tem três botões, o primeiro deles chama-se Novo Estilo,
clique sobre ele.

94
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Criar um sumário
O Word usa os títulos no documento para construir um
sumário automático que pode ser atualizado quando você
altera o texto do título, sequência ou nível.
Clique no local que deseja inserir o índice analítico, O Word também verifica e marca possíveis erros gra-
normalmente perto do início de um documento. maticais com uma linha ondulada azul:
Clique em Referências > Sumário e escolha um estilo
de Sumário Automático na lista.
OBSERVAÇÃO: Se você usar um estilo de Sumário Ma-
nual, o Word não utilizará os títulos para criar um sumário
e não será possível atualizá-lo automaticamente. Em vez Se os erros de ortografia e gramática não estiverem
disso, o Word usará o texto do espaço reservado para criar marcados, talvez seja necessário habilitar a verificação or-
um sumário fictício, e você deverá preencher as entradas tográfica e gramatical automática.
manualmente. Quando você vir erros ortográficos ou gramaticais, cli-
que com botão direito do mouse ou mantenha pressio-
nada a palavra ou a frase e escolha uma das opções para
corrigir o erro.
Habilitar (ou desabilitar) a verificação ortográfica e gra-
matical automática
Clique em Arquivo> Opções> Revisão de Texto.
Você pode optar por verificar a ortografia e a gramá-
tica automaticamente, uma ou outra, ambas ou nenhuma
delas, ou até mesmo outras opções, como a verificação or-
tográfica contextual

Caso prefira  formatar ou personalizar o sumário, é


possível fazê-lo. Por exemplo, você pode alterar a fonte, o
número de níveis de título e optar por mostrar linhas pon-
tilhadas entre as entradas e os números de página.

Verificar ortografia e gramática no Word 2016 para Em Exceções para, você pode optar por ocultar os erros
Windows de gramática e de ortografia em seu documento aberto ou,
O Word verifica automaticamente possíveis erros de se deixar as opções desmarcadas mas mantiver qualquer
ortografia e gramaticais à medida que você digita. Se pre- uma das opções acima delas marcada, todos os documen-
ferir esperar para verificar a ortografia e a gramática quan- tos novos manterão essas configurações.
do terminar de escrever, você pode desabilitar a verificação Clique em OK para salvar suas alterações.
ortográfica e gramatical.
Verificar a ortografia e a gramática ao digitar
O Word verifica e marca automaticamente possíveis er-
ros de ortografia com uma linha ondulada vermelha:

95
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Verificar a ortografia e a gramática ao mesmo tempo


Verificar a ortografia e a gramática no seu documento é útil quando você quer revisar rapidamente seu texto. Você
pode verificar a existência de possíveis erros e então decidir se concorda com o verificador ortográfico e gramatical.
Clique em Revisão > Ortografia e Gramática (ou pressione F7) para iniciar o verificador ortográfico e gramatical e veja
os resultados nos painéis de tarefas de Ortografia e Gramática.

Se o Word encontrar um possível erro, um painel de tarefas será aberto e mostrará as opções de ortografia e gramática:

Para corrigir um erro, siga um destes procedimentos:


Use uma das sugestões Para usar uma das palavras sugeridas, selecione a palavra na lista de sugestões e clique em
Alterar. (Você também pode clicar em Alterar tudo, se souber que usou essa palavra incorretamente em todo o documento,
para não precisar corrigi-la toda vez que ela aparecer.)
Adicionar uma palavra ao dicionário     Se a palavra estiver correta e se for uma que você deseja que o Word e TODOS
os programas do Office reconheçam, clique em Adicionar para adicioná-la ao dicionário. Isso só funciona para palavras com
grafia incorreta. Não é possível adicionar uma gramática personalizada ao dicionário.
Ignorar a palavra    Clique em Ignorar para ignorar apenas aquela ocorrência ou clique em Ignorar Tudo para ignorar
todas as ocorrências da palavra.
Depois de corrigir ou ignorar algo marcado como um possível erro, o Word passa para o próximo. Quando o Word
concluir a revisão do documento, você verá uma mensagem informando que a verificação ortográfica ou gramatical foi
concluída.
Clique em OK para retornar ao documento.
Verificar novamente problemas de ortografia e gramática
Você também pode forçar uma nova verificação das palavras e da gramática que anteriormente foram ignoradas.
Abra o documento que você deseja verificar novamente.
Clique em Arquivo> Opções> Revisão de Texto.
Em Ao corrigir ortografia e a gramática no Word, clique em Verificar Documento Novamente.
Quando você vir uma mensagem, clique em Sim e clique em OK para fechar a caixa de diálogo Opções do Word.
Em seguida, no seu documento, clique em Revisão > Ortografia e Gramática (ou pressione F7).

96
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Proteger um documento com senha


Ajude a proteger um documento confidencial contra
edições indesejadas atribuindo uma senha. Também é pos- Habilitar macros no modo de exibição Backstage
sível evitar que um documento seja aberto. Outra maneira de habilitar macros em um arquivo é
Clique em Arquivo > Informações > Proteger Docu- possível pelo modo de exibição Microsoft Office Backsta-
mento > Criptografar com Senha. ge, o modo de exibição que aparece depois que você clica
na guia Arquivo,quando a Barra de Mensagens amarela é
exibida.
Clique na guia Arquivo.
Na área Aviso de Segurança, clique em Habilitar Con-
teúdo.
Em Habilitar Todo o Conteúdo, clique em Sempre habi-
litar o conteúdo ativo deste documento.
O arquivo se tornará um documento confiável.
A imagem a seguir é um exemplo das opções Habilitar
Conteúdo.

Na caixa Criptografar Documento, digite uma senha e


clique em OK. Habilitar macros uma vez quando o Aviso de Seguran-
Na caixa Confirmar Senha, digite a senha novamente e ça for exibido
clique em OK. Use as instruções a seguir para habilitar macros en-
Observações :  quanto o arquivo permanecer aberto. Quando o arquivo
Você sempre pode alterar ou remover sua senha. for fechado e, em seguida, reaberto, o aviso aparecerá no-
As senhas diferenciam maiúsculas de minúsculas. Veri- vamente.
fique se a tecla CAPS LOCK está desativada quando digitar Clique na guia Arquivo.
uma senha pela primeira vez. Na área Aviso de Segurança, clique em Habilitar Con-
Se você perder ou esquecer uma senha, o Word não teúdo.
conseguirá recuperar suas informações. Portanto, guarde Selecione Opções Avançadas.
uma cópia da senha em um local seguro ou crie uma senha Na caixa de diálogo Opções de Segurança do Micro-
forte da qual se lembrará. soft Office, clique em Habilitar conteúdo para esta sessão
para cada macro.
Habilitar ou desabilitar macros em arquivos do Of- Clique em OK.
fice
Uma macro é uma série de comandos que podem ser Alterar configurações de macro na Central de Confia-
usados para automatizar uma tarefa repetida e que po- bilidade
dem ser executados durante a tarefa. Este artigo apresenta As configurações de macro estão localizadas na Cen-
informações sobre os riscos envolvidos no trabalho com tral de Confiabilidade. Entretanto, se você trabalha em uma
macros, e você poderá saber mais sobre como habilitar ou organização, é possível que o administrador do sistema te-
desabilitar macros na Central de Confiabilidade. nha alterado as configurações padrão para impedir a alte-
ração das configurações.
Habilitar macros quando a Barra de Mensagens for Importante:  Quando você altera as configurações de
exibida macro na Central de Confiabilidade, elas são alteradas ape-
Quando você abre um arquivo que possui macros, a nas no programa do Office usado no momento. As confi-
barra de mensagens amarela aparece com um ícone de gurações de macro não são alteradas em todos os progra-
escudo e o botão Habilitar Conteúdo. Se você conhecer mas do Office.
a(s) macro(s) como sendo de uma fonte confiável, use as Clique na guia Arquivo.
instruções a seguir: Clique em Opções.
Na Barra de Mensagens, clique em Habilitar Conteúdo. Clique em Central de Confiabilidade e em Configura-
O arquivo é aberto e se trata de um documento con- ções da Central de Confiabilidade.
fiável. Na Central de Confiabilidade, clique em Configurações
A imagem a seguir é um exemplo da Barra de Mensa- de Macro.
gens quando há macros no arquivo. Faça as seleções desejadas.

97
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Clique em OK.
A imagem a seguir é a área Configurações de Macro da Central de Confiabilidade.

Use as informações da seção a seguir para saber mais sobre as configurações de macro.

Configurações de macro explicadas


Desabilitar todas as macros sem notificação     As macros e os alertas de segurança sobre macros serão desabilitados.
Desabilitar todas as macros com notificação     As macros serão desabilitadas, mas os alertas de segurança serão exibi-
dos, se houverem macros. Habilite-as, uma de cada vez.
Desabilitar todas as macros, exceto as digitalmente assinadas     As macros são desabilitadas, mas alertas de segurança
serão apresentados se houver macros. No entanto, se a macro estiver assinada digitalmente por um fornecedor confiável,
ela será executada se você confiar no fornecedor. Se não confiar no fornecedor, você será notificado para habilitar a macro
assinada e confiar no fornecedor.
Habilitar todas as macros (não recomendável, pois pode executar um código potencialmente perigoso)     Todas as ma-
cros serão executadas. Essa configuração deixa seu computador vulnerável a códigos potencialmente mal intencionados.
Confiar no acesso ao modelo de objeto do projeto do VBA     Permitir ou não permitir o acesso programático ao modelo
de objeto do Visual Basic for Applications (VBA) de um cliente de automação. Esta opção de segurança destina-se a código
escrito para automatizar um programa do Office e manipular o ambiente e o modelo de objeto VBA.É uma configuração
definida por usuário e por aplicativo, e nega o acesso por padrão, impedindo que programas não autorizados compilem
código de replicação automática prejudicial. Para que os clientes de automação acessem o modelo de objeto do VBA, o
usuário que executa o código deve conceder acesso. Para ativar o acesso, marque a caixa de seleção.
Observação : O Microsoft Publisher e o Microsoft Access não têm a opção Confiar no acesso ao modelo de objeto do
projeto do VBA.

O que são macros, quem são suas criadoras e qual é o risco de segurança?
As macros automatizam tarefas que são usadas frequentemente para economizar o tempo de pressionamento de
teclas e ações do mouse. Muitas macros foram criadas com o uso do VBA (Visual Basic for Applications) e gravadas por
desenvolvedores de software. No entanto, algumas macros podem representar um possível risco para a segurança. Um
usuário mal-intencionado, também conhecido como hacker, pode introduzir uma macro destrutiva em um arquivo que
possa espalhar vírus no computador ou na rede da sua organização.

Criar ou executar uma macro


Para poupar tempo em tarefas que você costuma realizar com frequência, compacte as etapas em uma macro. Em pri-
meiro lugar, grave a macro. Em seguida, você poderá executá-la clicando em um botão da Barra de Ferramentas de Acesso
Rápido ou pressionando uma combinação de teclas. Isso dependerá de como você a configurar.
Vamos começar com a configuração do botão.

98
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Clique em Exibir > Macros > Gravar Macro. Clique na nova macro (cujo nome é algo do tipo Nor-
mal.NovasMacros.<nome da sua macro>) e clique em Adi-
cionar.

Digite um nome para a macro.

Clique em Modificar.

Para usar essa macro em qualquer novo documento


que você criar, verifique se a caixa Armazenar macro em
exibe Todos os Documentos (Normal.dotm).

Para executar uma macro quando você clicar em um


botão, clique em Botão.

99
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Escolha uma imagem de botão, digite o nome deseja- Clique em Exibir > Macros > Gravar Macro.
do e clique em OK duas vezes.

Digite um nome para a macro.

Agora, chegou a hora de gravar as etapas. Clique nos


comandos ou pressione as teclas para cada etapa na tarefa.
O Word grava seus cliques e pressionamentos de teclas.
Observação :  Use o teclado para selecionar texto en-
quanto você grava a macro. Macros não gravam seleções
feitas com o mouse. Para usar essa macro em qualquer novo documento
Para parar de gravar, clique em Exibir > Macros > Parar que você criar, verifique se a caixa Armazenar macro em
Gravação. exibe Todos os Documentos (Normal.dotm).

O botão da sua macro aparece na Barra de Ferramen-


tas de Acesso Rápido.

Para executar sua macro quando você pressionar um


atalho do teclado, clique em Teclado.

Para executar a macro, clique no botão.


Criar uma macro com um atalho do teclado

Digite uma combinação de teclas na caixa Pressione a


nova tecla de atalho.

100
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Verifique se essa combinação já não está atribuída a Clique em Exibir > Macros > Exibir Macros.
outro item. Se estiver, tente uma combinação diferente.
Para usar esse atalho de teclado em qualquer novo do-
cumento criado, verifique se a caixa Salvar alterações em
indica Normal.dotm.
Clique em Atribuir.
Agora, chegou a hora de gravar as etapas. Clique nos
comandos ou pressione as teclas para cada etapa na tarefa.
O Word grava seus cliques e pressionamentos de teclas.
Observação:  Use o teclado para selecionar texto en-
quanto você grava a macro. Macros não gravam seleções
feitas com o mouse.
Para parar de gravar, clique em Exibir > Macros > Parar
Gravação.
Clique em Organizador.

Para executar a macro, pressione as teclas de atalho


do teclado.

Executar uma macro


Para executar uma macro, clique no botão na Barra de Clique na macro que você quer adicionar ao modelo
Ferramentas de Acesso Rápido, pressione o atalho de te- Normal.dotm e clique em Copiar.
clado ou executar a macro a partir da lista de Macros. Adicionar um botão de macro à faixa de opções
Clique em Exibir > Macros > Exibir Macros. Clique em Arquivo > Opções > Personalizar Faixa de
Opções.
Em Escolher comandos de, clique em Macros.
Clique na macro desejada.
Em Personalizar a faixa de opções, clique na guia e no
grupo personalizado onde você quer adicionar a macro.
Se não tiver um grupo personalizado, clique em Novo
Grupo e depois clique em Renomear e digite um nome
para o seu grupo personalizado.
Clique em Adicionar.
Clique em Renomear para escolher uma imagem para
a macro e digitar o nome desejado.
Clique em OK duas vezes.
Na lista em Nome da macro, clique na macro a ser exe-
cutada. Integração com planilhas
Clique em Executar. A integração entre diversos aplicativos, sempre foi uma
Disponibilizar uma macro em todos os documentos das principais características da suíte Office da Microsoft.
Para disponibilizar uma macro de um documento em Na versão 2016, além de importar documentos prontos, é
todos os novos documentos, adicione-a ao modelo Nor- possível criar pequenas janelas de outros programas e si-
mal.dotm. mular sua funcionalidade plena.
Abra o documento que contém a macro. A partir de um documento do Word, por exemplo, você
pode criar planilhas usufruindo dos mesmos recursos do
Excel, contando até com a Barra de tarefas do programa.
Em vez de abrir dois programas, esta dica permite que você
permaneça na interface do Word, facilitando seu trabalho.

101
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Dentro da aba “Inserir”, clique sobre a opção “Tabela” e escolha “Planilha do Excel”:

Ao invés de uma tabela comum, o que você encontra é uma verdadeira miniatura do Excel com todos os recursos do
aplicativo.

Repare que até a Barra de ferramentas tradicional do Word dá espaço para a o editor de planilhas. Basta selecionar uma
porção do texto ou da planilha para alternar entre as ferramentas de ambos os programas do Office.

Principais Atalhos
CTRL+O Abrir um novo documento em branco
CTRL+A Abrir um arquivo já existente
CTRL+V Colar o texto selecionado ou movido
CTRL+X Recortar o texto selecionado
CTRL+T Selecionar o documento inteiro
CTRL+ENTER Iniciar uma nova página em um mesmo documento
CTRL+N Formata o texto selecionado negrito
CTRL+I Formata o texto selecionado para itálico 
CTRL+S Formata o texto selecionado para sublinhado 
CTRL+J Formata o parágrafo para justificado
CTRL+C Copiar o texto selecionado
CTRL+P Imprimir documento
CTRL+E Formata o parágrafo para centralizado
CTRL+Q Formata o parágrafo para alinhamento à esquerda
CTRL+B ou F12 Salvar como..
CTRL+Z Desfazer a última ação 
CTRL+Y Refazer a última ação 
CTRL+F10 Maximizar ou restaurar a janela 
CTRL+D Alterar formatação de caracteres 
ALT+F4 Sair do Word
CTRL+SHIFT+> Aumentar o tamanho da fonte do texto selecionado
CTRL+SHIFT+< Diminuir o tamanho da fonte do texto selecionado
CTRL+SHIFT+W Aplicar sublinhado somente em palavras
CTRL+ALT+L Aplicar o estilo lista

102
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

EXERCÍCIOS 5) (CRM-PI 2016 - Quadrix – Médico Fiscal) Em um com-


putador com o sistema operacional Windows instalado, um
1) (LIQUIGÁS 2012 - CESGRANRIO - ASSISTENTE funcionário deseja enviar 50 arquivos, que juntos totalizam
ADMINISTRATIVO) Um computador é um equipamento 2 MB de tamanho, anexos em um  e-mail. Para facilitar o
capaz de processar com rapidez e segurança grande quan- envio, resolveu compactar esse conjunto de arquivos em
tidade de informações. um único arquivo utilizando um software compactador. Só
Assim, além dos componentes de hardware, os com- não poderá ser utilizado nessa tarefa o software: 
putadores necessitam de um conjunto de softwares deno- a) 7-Zip.
minado: b) WinZip.
a. arquivo de dados. c) CuteFTP.
b. blocos de disco. d) jZip.
c. navegador de internet. e) WinRAR.
d. processador de dados.
e. sistemaoperacional. 6) (MPE-CE 2013 - FCC - Analista Ministerial - Direito)
Sobre manipulação de arquivos no Windows 7 em portu-
2) (TRT 10ª 2013 - CESPE - ANALISTA JUDICIÁRIO – AD- guês, é correto afirmar que,
MINISTRATIVA) As características básicas da segurança da a) para mostrar tipos diferentes de informações sobre
informação — confidencialidade, integridade e disponibi- cada arquivo de uma janela, basta clicar no botão Classifi-
lidade — não são atributos exclusivos dos sistemas com- car na barra de ferramentas da janela e escolher o modo de
putacionais. exibição desejado.
a. Certo b) quando você exclui um arquivo do disco rígido, ele é
b. Errado apagado permanentemente e não pode ser posteriormen-
te recuperado caso tenha sido excluído por engano.
3) (TRE/CE 2012 - FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO – JU- c) para excluir um arquivo de um pen drive, basta clicar
RÍDICA) São ações para manter o computador protegido, com o botão direito do mouse sobre ele e selecionar a op-
EXCETO: ção Enviar para a lixeira.
a. Evitar o uso de versões de sistemas operacionais d) se um arquivo for arrastado entre duas pastas que
ultrapassadas, como Windows 95 ou 98. estão no mesmo disco rígido, ele será compartilhado entre
b. Excluir spams recebidos e não comprar nada todos os usuários que possuem acesso a essas pastas.
anunciado através desses spams. e) se um arquivo for arrastado de uma pasta do disco
c. Não utilizar firewall. rígido para uma mídia removível, como um pen drive, ele
d. Evitar utilizar perfil de administrador, preferindo será copiado.
sempre utilizar um perfil mais restrito.
e. Não clicar em links não solicitados, pois links es- 7) (SUDECO 2013 - FUNCAB - Contador) No sistema
tranhos muitas vezes são vírus. operacional Linux,o comando que NÃO está relacionado a
manipulação de arquivos é:
4) (Copergás 2016 - FCC – Técnico Operacional Segu- a) kill
rança do Trabalho) A ferramenta Outlook : b) cat
a) é um serviço de e-mail gratuito para gerenciar todos c) rm
os e-mails, calendários e contatos de um usuário. d) cp
b) 2016 é a versão mais recente, sendo compatível com e) ftp
o Windows 10, o Windows 8.1 e o Windows 7.
c) permite que todas as pessoas possam ver o calen- 8) (IBGE 2016 - FGV - Analista - Análise de Sistemas
dário de um usuário, mas somente aquelas com e-mail - Desenvolvimento de Aplicações - Web Mobile) Um de-
Outlook.com podem agendar reuniões e responder a con- senvolvedor Android deseja inserir a funcionalidade de
vites. backup em uma aplicação móvel para, de tempos em tem-
d) funciona apenas em dispositivos com Windows, não pos, armazenar dados automaticamente. A classe da API de
funcionando no iPad, no iPhone, em tablets e em telefones Backup (versão 6.0 ou superior) a ser utilizada é a:
com Android. a) BkpAgent;
e) versão 2015 oferece acesso gratuito às ferramentas b) BkpHelper;
do pacote de webmail Office 356 da Microsoft.] c) BackupManager;
d) BackupOutputData;
e) BackupDataStream.

103
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

9) (Prefeitura de Cristiano Otoni 2016 - INAZ do Pará 15) (CNJ 2013 - CESPE - TÉCNICO JUDICIÁRIO - PRO-
- Psicólogo) Realizar cópia de segurança é uma forma de GRAMAÇÃO DE SISTEMAS) Acerca dos ambientes Linux e
prevenir perda de informações. Qual é o Backup que só Windows, julgue os itens seguintes.2No sistema operacio-
efetua a cópia dos últimos arquivos que foram criados pelo nal Windows 8, há a possibilidade de integrar-se à denomi-
usuário ou sistema? nada nuvem de computadores que fazem parte da Internet.
a) Backup incremental a)Certo
b) Backup diferencial b)Errado
c) Backup completo
d) Backup Normal 16) (FHEMIG 2013 - FCC - TÉCNICO EM INFORMÁTI-
e) Backup diário CA) Alguns programas do computador de Ana estão muito
lentos e ela receia que haja um problema com o hardware
10) (CRO-PR 2016 - Quadrix - Auxiliar de Departamen- ou com a memória principal. Muitos de seus programas
to) Como é chamado o backup em que o sistema não é falham subitamente e o carregamento de arquivos gran-
interrompido para sua realização? des de imagens e vídeos está muito demorado. Além disso,
a) Backup Incremental. aparece, com frequência, mensagens indicando conflitos
b) Cold backup. em drivers de dispositivos. Como ela utiliza o Windows 7,
c) Hot backup. resolveu executar algumas funções de diagnóstico, que
d) Backup diferencial. poderão auxiliar a detectar as causas para os problemas e
e) Backup normal sugerir as soluções adequadas.
Para realizar a verificação da memória e, em seguida do
11) (DEMAE/GO 2016 - UFG - Agente Administrativo) hardware, Ana utilizou, respectivamente, as ferramentas:
Um funcionário precisa conectar um projetor multimídia a a)Diagnóstico de memória do Windows e Monitor de
um computador. Qual é o padrão de conexão que ele deve desempenho.
usar? b)Monitor de recursos de memória e Diagnóstico de
a) RJ11 conflitos do Windows.
b) RGB c)Monitor de memória do Windows e Diagnóstico de
c) HDMI desempenho de hardware.
d) PS2 d)Mapeamento de Memória do Windows e Mapea-
e) RJ45 mento de hardware do Windows.
e)Diagnóstico de memória e desempenho e Diagnósti-
12) (SABESP 2014 - FCC - Analista de Gestão - Admi- co de hardware do Windows.
nistração) Correspondem, respectivamente, aos elementos
placa de som, editor de texto, modem, editor de planilha e 17) (TRT 1ª 2013 - FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO - EXE-
navegador de internet: CUÇÃO DE MANDADOS) Beatriz trabalha em um escritório
a) software, software, hardware, software e hardware. de advocacia e utiliza um computador com o Windows 7
b) hardware, software, software, software e hardware. Professional em português. Certo dia notou que o com-
c) hardware, software, hardware, hardware e software. putador em que trabalha parou de se comunicar com a
d) software, hardware, hardware, software e software. internet e com outros computadores ligados na rede local.
e) hardware, software, hardware, software e software. Após consultar um técnico, por telefone, foi informada que
sua placa de rede poderia estar com problemas e foi orien-
13) (DEMAE/GO 2016 - UFG - Agente Administrativo) tada a checar o funcionamento do adaptador de rede. Para
Um computador à venda em um sítio de comércio eletrô- isso, Beatriz entrou no Painel de Controle, clicou na opção
nico possui 3.2 GHz, 8 GB, 2 TB e 6 portas USB. Essa confi- Hardware e Sons e, no grupo Dispositivos e Impressoras,
guração indica que: selecionou a opção:
a) a velocidade do processador é 3.2 GHz. a) Central de redes e compartilhamento.
b) a capacidade do disco rígido é 8 GB. b) Verificar status do computador.
c) a capacidade da memória RAM é 2 TB. c) Redes e conectividade.
d) a resolução do monitor de vídeo é composta de 6 d) Gerenciador de dispositivos.
portas USB. e) Exibir o status e as tarefas de rede.

14) (IF-PA 2016 - FUNRIO - Técnico de Tecnologia da


Informação) São dispositivos ou periféricos de entrada de
um computador:
a) Câmera, Microfone, Projetor e Scanner.
b) Câmera, Mesa Digitalizadora, Microfone e Scanner.
c) Microfone, Modem, Projetor e Scanner.
d) Mesa Digitalizadora, Monitor, Microfone e Projetor.
e) Câmera, Microfone, Modem e Scanner.

104
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

18) (FHEMIG 2013 - FCC - TÉCNICO EM INFORMÁTICA) 22) (TRT 1ª 2013 - FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO - EXE-
No console do sistema operacional Linux, alguns coman- CUÇÃO DE MANDADOS) João trabalha no departamento
dos permitem executar operações com arquivos e diretó- financeiro de uma grande empresa de vendas no varejo
rios do disco. e, em certa ocasião, teve a necessidade de enviar a 768
Os comandos utilizados para criar, acessar e remover clientes inadimplentes uma carta com um texto padrão, na
um diretório vazio são, respectivamente, qual deveria mudar apenas o nome do destinatário e a data
a) pwd, mv e rm. em que deveria comparecer à empresa para negociar suas
b) md, ls e rm. dívidas. Por se tratar de um número expressivo de clientes,
c) mkdir, cd e rmdir. João pesquisou recursos no Microsoft Office 2010, em por-
d) cdir, lsdir e erase. tuguês, para que pudesse cadastrar apenas os dados dos
e) md, cd e rd. clientes e as datas em que deveriam comparecer à empresa
e automatizar o processo de impressão, sem ter que mudar
19) (TRT 10ª 2013 - CESPE - TÉCNICO JUDICIÁRIO - AD- os dados manualmente. Após imprimir todas as correspon-
MINISTRATIVA) Acerca dos conceitos de sistema operacio- dências, João desejava ainda imprimir, também de forma
nal (ambientes Linux e Windows) e de redes de compu- automática, um conjunto de etiquetas para colar nos en-
tadores, julgue os itens.3Por ser um sistema operacional velopes em que as correspondências seriam colocadas. Os
aberto, o Linux, comparativamente aos demais sistemas recursos do Microsoft Office 2010 que permitem atender
operacionais, proporciona maior facilidade de armazena- às necessidades de João são os recursos
mento de dados em nuvem. a) para criação de mala direta e etiquetas disponíveis
a) certo na guia Correspondências do Microsoft Word 2010.
b) errado b) de automatização de impressão de correspondên-
cias disponíveis na guia Mala Direta do Microsoft Power-
20) (TJ/RR 2012 - CESPE - AGENTE DE PROTEÇÃO) Point 2010.
Acerca de organização e gerenciamento de informações, c) de banco de dados disponíveis na guia Correspon-
arquivos, pastas e programas, de segurança da informação dências do Microsoft Word 2010.
e de armazenamento de dados na nuvem, julgue os itens d) de mala direta e etiquetas disponíveis na guia Inserir
subsequentes.1Um arquivo é organizado logicamente em do Microsoft Word 2010.
uma sequência de registros, que são mapeados em blocos e) de banco de dados e etiquetas disponíveis na guia
de discos. Embora esses blocos tenham um tamanho fixo Correspondências do Microsoft Excel 2010.
determinado pelas propriedades físicas do disco e pelo sis-
tema operacional, o tamanho do registro pode variar. 23) (TCE/SP 2012 - FCC - AUXILIAR DE FISCALIZAÇÃO
a) certo FINANCEIRA II) No editor de textos Writer do pacote BR
b) errado Office, é possível modificar e criar estilos para utilização no
texto. Dentre as opções de Recuo e Espaçamento para um
21) (SERGIPE GÁS S/A 2013 - FCC - ASSISTENTE TÉCNI- determinado estilo, é INCORRETO afirmar que é possível
CO ADMINISTRATIVO - RH) Paulo utiliza em seu trabalho o alterar um valor para
editor de texto Microsoft Word 2010 (em português) para a) recuo da primeira linha.
produzir os documentos da empresa. Certo dia Paulo digi- b) recuo antes do texto.
tou um documento contendo 7 páginas de texto, porém, c) recuo antes do parágrafo.
precisou imprimir apenas as páginas 1, 3, 5, 6 e 7. Para im- d) espaçamento acima do parágrafo.
primir apenas essas páginas, Paulo clicou no Menu Arquivo, e) espaçamento abaixo do parágrafo.
na opção Imprimir e, na divisão Configurações, selecionou
a opção Imprimir Intervalo Personalizado. Em seguida, no 24) (CNJ 2013 - CESPE - TÉCNICO JUDICIÁRIO - PRO-
campo Páginas, digitou GRAMAÇÃO DE SISTEMAS) A respeito do Excel, para orde-
a) 1,3,5-7 e clicou no botão Imprimir. nar, por data, os registros inseridos na planilha, é suficiente
b) 1;3-5;7 e clicou na opção enviar para a Impressora. selecionar a coluna data de entrada, clicar no menu Dados
c) 1−3,5-7 e clicou no botão Imprimir. e, na lista disponibilizada, clicar ordenar data.
d) 1+3,5;7 e clicou na opção enviar para a Impressora. a) certo
e) 1,3,5;7 e clicou no botão Imprimir. b) errado

105
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

25) (TRT 1ª 2013 - FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA ADMINISTRATIVA) A planilha abaixo foi criada utilizando-se o
Microsoft Excel 2010 (em português).

A linha 2 mostra uma dívida de R$ 1.000,00 (célula B2) com um Credor A (célula A2) que deve ser paga em 2 meses
(célula D2) com uma taxa de juros de 8% ao mês (célula C2) pelo regime de juros simples. A fórmula correta que deve ser
digitada na célula E2 para calcular o montante que será pago é
a) =(B2+B2)*C2*D2.
b) =B2+B2*C2/D2.
c) =B2*C2*D2.
d) =B2*(1+(C2*D2)).
e) =D2*(1+(B2*C2)).

26)(MINISTÉRIO DA FAZENDA 2012 - ESAF - ASSISTENTE TÉCNICO ADMINISTRATIVO) O BrOffice é uma suíte para
escritório gratuita e de código aberto. Um dos aplicativos da suíte é o Calc, que é um programa de planilha eletrônica e
assemelha-se ao Excel da Microsoft. O Calc é destinado à criação de planilhas e tabelas, permitindo ao usuário a inserção
de equações matemáticas e auxiliando na elaboração de gráficos de acordo com os dados presentes na planilha. O Calc
utiliza como padrão o formato:
a) XLS.
b) ODF.
c) XLSX.
d) PDF.
e) DOC.

27) (TRT 1ª 2013 - FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA ADMINISTRATIVA) Após ministrar uma palestra sobre Segurança
no Trabalho, Iracema comunicou aos funcionários presentes que disponibilizaria os slides referentes à palestra na intranet
da empresa para que todos pudessem ter acesso. Quando acessou a intranet e tentou fazer o upload do arquivo de slides
criado no Microsoft PowerPoint 2010 (em português), recebeu a mensagem do sistema dizendo que o formato do arquivo
era inválido e que deveria converter/salvar o arquivo para o formato PDF e tentar realizar o procedimento novamente. Para
realizar a tarefa sugerida pelo sistema, Iracema
a) clicou no botão Iniciar do Windows, selecionou a opção Todos os programas, selecionou a opção Microsoft Office
2010 e abriu o software Microsoft Office Converter Professional 2010. Em seguida, clicou na guia Arquivo e na opção Con-
verter. Na caixa de diálogo que se abriu, selecionou o arquivo de slides e clicou no botão Converter.
b)abriu o arquivo utilizando o Microsoft PowerPoint 2010, clicou na guia Ferramentas e, em seguida, clicou na opção
Converter. Na caixa de diálogo que se abriu, clicou na caixa de combinação que permite definir o tipo do arquivo e selecio-
nou a opção PDF. Em seguida, clicou no botão Converter.
c)abriu a pasta onde o arquivo estava salvo, utilizando os recursos do Microsoft Windows 7, clicou com o botão direito
do mouse sobre o nome do arquivo e selecionou a opção Salvar como PDF.
d)abriu o arquivo utilizando o Microsoft PowerPoint 2010, clicou na guia Arquivo e, em seguida, clicou na opção Salvar
Como. Na caixa de diálogo que se abriu, clicou na caixa de combinação que permite definir o tipo do arquivo e selecionou
a opção PDF. Em seguida, clicou no botão Salvar.
e)baixou da internet um software especializado em fazer a conversão de arquivos do tipo PPTX para PDF, pois verificou
que o PowerPoint 2010 não possui opção para fazer tal conversão.

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NOÇÕES DE INFORMÁTICA

28) (SERGIPE GÁS S/A 2013 - FCC - ADMINISTRADOR) 32) (CEITEC 2012 - FUNRIO - ADMINISTRAÇÃO/CIÊN-
Em um slide em branco de uma apresentação criada uti- CIAS CONTÁBEIS/DIREITO/PREGOEIRO PÚBLICO) Na inter-
lizando-se o Microsoft PowerPoint 2010 (em português), net o protocolo_________ permite a transferência de men-
uma das maneiras de acessar alguns dos comandos mais sagens eletrônicas dos servidores de _________para caixa
importantes é clicando-se com o botão direito do mou- postais nos computadores dos usuários. As lacunas se
se sobre a área vazia do slide. Dentre as opções presentes completam adequadamente com as seguintes expressões:
nesse menu, estão as que permitem a) Ftp/ Ftp.
a) copiar o slide e salvar o slide. b) Pop3 / Correio Eletrônico.
b) salvar a apresentação e inserir um novo slide. c) Ping / Web.
c) salvar a apresentação e abrir uma apresentação já d) navegador / Proxy.
existente. e) Gif / de arquivos
d) apresentar o slide em tela cheia e animar objetos
presentes no slide. 33) (CASA DA MOEDA 2012 - CESGRANRIO - ASSIS-
e) mudar o layout do slide e a formatação do plano de TENTE TÉCNICO ADMINISTRATIVO - APOIO ADMINISTRA-
fundo do slide. TIVO) Em uma rede local, cujas estações de trabalho usam
o sistema operacional Windows XP e endereços IP fixos em
29) (TRT 11ª 2012 - FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO - JUDI- suas configurações de conexão, um novo host foi instalado
CIÁRIA) Em um slide mestre do BrOffice.org Apresentação e, embora esteja normalmente conectado à rede, não con-
(Impress), NÃO se trata de um espaço reservado que se segue acesso à internet distribuída nessa rede.
possa configurar a partir da janela Elementos mestres: Considerando que todas as outras estações da rede es-
a) Número da página. tão acessando a internet sem dificuldades, um dos motivos
b) Texto do título. que pode estar ocasionando esse problema no novo host é
c) Data/hora. a) a codificação incorreta do endereço de FTP para o
d) Rodapé. domínio registrado na internet.
e) Cabeçalho. b) a falta de registro da assinatura digital do host nas
opções da internet.
30) (SERGIPE GÁS S/A 2013 - FCC - ASSISTENTE TÉCNI- c) um erro no Gateway padrão, informado nas proprie-
CO ADMINISTRATIVO - RH) No Microsoft Internet Explorer dades do Protocolo TCP/IP desse host.
9 é possível acessar a lista de sites visitados nos últimos d) um erro no cadastramento da conta ou da senha do
dias e até semanas, exceto aqueles visitados em modo próprio host.
de navegação privada. Para abrir a opção que permite ter e) um defeito na porta do switch onde a placa de rede
acesso a essa lista, com o navegador aberto, clica-se na desse host está conectada.
ferramenta cujo desenho é
a) uma roda dentada, posicionada no canto superior 34) (CASA DA MOEDA 2012 - CESGRANRIO - ASSIS-
direito da janela. TENTE TÉCNICO ADMINISTRATIVO - APOIO ADMINISTRA-
b) uma casa, posicionada no canto superior direito da TIVO) Para conectar sua estação de trabalho a uma rede
janela. local de computadores controlada por um servidor de do-
c) uma estrela, posicionada no canto superior direito mínios, o usuário dessa rede deve informar uma senha e
da janela. um[a]
d) um cadeado, posicionado no canto inferior direito a) endereço de FTP válido para esse domínio.
da janela. b) endereço MAC de rede registrado na máquina clien-
e) um globo, posicionado à esquerda da barra de en- te.
dereços. c) porta válida para a intranet desse domínio.
d) conta cadastrada e autorizada nesse domínio.
31) (CNJ 2013 - CESPE - TÉCNICO JUDICIÁRIO - PRO- e) certificação de navegação segura registrada na in-
GRAMAÇÃO DE SISTEMAS) A respeito de redes de compu- tranet.
tadores, julgue os itens subsequentes. Lista de discussão é
uma ferramenta de comunicação limitada a uma intranet, 35) (CÂMARA DOS DEPUTADOS 2012 - CESPE - ANA-
ao passo que grupo de discussão é uma ferramenta geren- LISTA LEGISLATIVO - TÉCNICA LEGISLATIVA) Com relação
ciável pela Internet que permite a um grupo de pessoas a a redes de computadores, julgue os próximos itens.5Uma
troca de mensagens via email entre todos os membros do rede local (LAN — local area network) é caracterizada por
grupo. abranger uma área geográfica, em teoria, ilimitada. O al-
a) Certo cance físico dessa rede permite que os dados trafeguem
b) Errado com taxas acima de 100 Mbps.
a) certo
b) errado

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NOÇÕES DE INFORMÁTICA

36) (TRT 10ª 2013 - CESPE - ANALISTA JUDICIÁRIO - 40) (MPE/PE 2012 - FCC - ANALISTA MINISTERIAL - IN-
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO) Com relação à certifica- FORMÁTICA) Sobre Cavalo de Tróia, é correto afirmar:
ção digital, julgue os itens que se seguem.O certificado a) Consiste em um conjunto de arquivos .bat que não
digital revogado deve constar da lista de certificados re- necessitam ser explicitamente executados.
vogados, publicada na página de Internet da autoridade b) Contém um vírus, por isso, não é possível distinguir
certificadora que o emitiu. as ações realizadas como consequência da execução do
a) Certo Cavalo de Tróia propriamente dito, daquelas relacionadas
b) Errado ao comportamento de um vírus.
c) Não é necessário que o Cavalo de Tróia seja execu-
37) (TRT 10ª 2013 - CESPE - ANALISTA JUDICIÁRIO - tado para que ele se instale em um computador. Cavalos
ADMINISTRATIVA) Acerca de segurança da informação, de Tróia vem anexados a arquivos executáveis enviados por
julgue os itens a seguir. O vírus de computador é assim e-mail.
denominado em virtude de diversas analogias poderem ser d) Não instala programas no computador, pois seu úni-
feitas entre esse tipo de vírus e os vírus orgânicos. co objetivo não é obter o controle sobre o computador,
a) Certo mas sim replicar arquivos de propaganda por e-mail.
b) Errado e) Distingue-se de um vírus ou de um worm por não
infectar outros arquivos, nem propagar cópias de si mesmo
38) (MPE/PE 2012 - FCC - TÉCNICO MINISTERIAL - AD- automaticamente.
MINISTRATIVO) Existem vários tipos de vírus de computa-
dores, dentre eles um dos mais comuns são vírus de ma- GABARITO
cros, que:
a) são programas binários executáveis que são baixa- 1-E/ 2-A/ 3- C/ 4- B/ 5-C/ 6-E / 7-A / 8-C / 9-A /
dos de sites infectados na Internet. 10-C/ 11-C / 12-E / 13-A / 14-C / 15-A / 16-A / 17-D /
b) podem infectar qualquer programa executável do 18-C / 19-B / 20-A / 21-A / 22-A / 23-C / 24-B / 25-D/
computador, permitindo que eles possam apagar arquivos 26-B/27-D / 28-E / 29-B / 30-C / 31-B / 32-B / 33-C /
e outras ações nocivas. 34-D/ 35-B / 36-A / 37- A / 38-C / 39-B / 40-E
c) são programas interpretados embutidos em docu-
mentos do MS Office que podem infectar outros docu-
mentos, apagar arquivos e outras ações nocivas.
d) são propagados apenas pela Internet, normalmente
em sites com software pirata.
e) podem ser evitados pelo uso exclusivo de software
legal, em um computador com acesso apenas a sites da
Internet com boa reputação.

39) (SABESP 2012 - FCC - ANALISTA DE GESTÃO I - SIS-


TEMAS)Sobre vírus, considere:
I. Para que um computador seja infectado por um ví-
rus é preciso que um programa previamente infectado seja
executado.
II. Existem vírus que procuram permanecer ocultos,
infectando arquivos do disco e executando uma série de
atividades sem o conhecimento do usuário.
III. Um vírus propagado por e-mail (e-mail borne vírus)
sempre é capaz de se propagar automaticamente, sem a
ação do usuário.
IV. Os vírus não embutem cópias de si mesmo em ou-
tros programas ou arquivos e não necessitam serem expli-
citamente executados para se propagarem.
Está correto o que se afirma em

a) II, apenas.
b) I e II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) I, II, III e IV.

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