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COTAS E PERMANENCIA NA GRADUAÇÃO

Celso Kosinski

Política de acesso e permanência para estudantes indígenas na universidade:


avaliação da política de cotas da Universidade Federal do Tocantins (UFT)
Pereira, Cícero Valdiêr
UFC, FORTALEZA 2011

Cicero Valdier Pereira foi mestrando no curso de Mestrado Profissional em


Avaliação de Políticas Públicas da Universidade Federal do Ceará, escreveu sua
dissertação para esta disciplina. Nesta resenha pretendo abordar os capítulos III desta
dissertação.
A dissertação aborda os estudantes indígenas e a política governamental, de
acesso as universidades, especificamente a avaliação das políticas afirmativas na
educação relacionada aos estudantes universitários, efetivadas na UFT, nos
programas de ação desenvolvidos em Miracema do Tocantins, realizadas em relação
aos indígenas XERENTE,
O autor inicia o capítulo III resumindo de forma concisa o seu objetivo:

“Nesse capítulo, pretendemos analisar como se deu o processo de


implantação das cotas na UFT e como os sujeitos envolvidos percebem as
ações demandadas da referida política para o acesso, ingresso e
permanência do cotista na universidade, por meio da trajetória da política de
cotas indígenas na UFT.” (Pereira, 2011, p. 55)

Iniciando pela história da criação da UFT, entremeada com a história do


próprio estado do Tocantins que é o mais novo da federação, apresenta a distribuição
atual da instituição no estado, sendo que esta hoje apresenta sete campi em uma
localização geográfica que abrange o estado todo levando assim a educação superior
de forma democrática a várias regiões.
A UFT é originada a partir da primeira instituição de ensino superior criada no
estado pelo então primeiro governador, José Wilson Siqueira Campos, que criou a
Universidade do Tocantins (UNITINS), em 1990, dois anos após a criação do estado,
a qual foi extinta em 1996 dando lugar a Fundação Universidade do Tocantins.
No entanto por anseio da população e reivindicações dos movimentos
estudantis no ano 2000, foi instituída a UFT, que vem a ser estruturada e inicia suas
atividades em 2003, a instituição se expandiu e oferece em torno de cinquenta cursos
distribuídos pelos seus sete campi, conforme Pereira, a universidade se transformou
na maior instituição de ensino pública do estado e tem significativa importância.

“Em face dos resultados analisados com base no percurso histórico


institucional, verificou-se que a UFT evidencia ações que resultaram na
expansão do ensino, como a ampliação de cursos, melhoria nas estruturas
físicas, ampliação do quadro funcional, aumento de vagas, dentre outras.
Evidenciamos, até então, com o desenrolar da pesquisa avaliativa, que a sua
existência tem importante significado social para o Estado de Tocantins.”
(Pereira, 2011, p.60)

Paralelamente ao crescimento institucional, crescem também as demandas


da sociedade, desta forma a UFT, viu-se envolvida nas questão relativas a cotas,
especialmente por se encontrar em região onde habitam grande quantidade de
indígenas, uma vez que é possível verificar a partir de dados estatísticos que o acesso
destes ao ensino superior é limitado. Conforme Pereira, no “[...] Censo Educacional,
realizado em 2008 pelo INEP, [...] das 2.985.137 vagas do ensino superior ofertadas
pelas 2.252 instituições brasileiras, 1.093 foram destinadas a índios, o que
corresponde a 0,03% desse total.” (2011, p.60), verifica-se ainda que além do baixo
número de matriculados a conclusão é mínima agravando assim o problema visto que
além da pouca frequência ocorre a desistência.
Ainda segundo o autor, “Pode-se inferir, com base em informações midiáticas,
que, a partir de 2003, o Governo Federal tem realizado muitas ações que ajudaram
estados e municípios a pensar estratégias de inclusão que assegurem o acesso de
indígenas à universidade por todo o País.” (Pereira, 2011, p.60), o que também motiva
a UFT a implementar políticas públicas de acesso aos indígenas, e através de eventos
inicia a discussão sobre o tema.
Em 2003 ocorreu em Tocantinópolis realizado pela SEDUC/TO o primeiro
evento significativo que reuniu representantes indígenas e a instituição e outros
segmentos da sociedade, onde ” Foram discutidas as dificuldades e apresentadas as
reivindicações, elaborando naquele momento a “A Carta dos Povos Indígenas”,
assinada pela etnias Karajá, Javaé, Xambioá, Apinajé, Krahô e Xerente” (Pereira,
2011, p.61), nasce dai uma série de reivindicações pautadas nas necessidades
expressas pelos próprios indígenas. A partir deste evento foi criada uma comissão
com representantes das principais etnias para apresentar as reivindicações a UFT que
criou uma comissão especifica para tratar dos assuntos pertinentes, com o objetivo
de “promover um debate sobre diversidade na universidade, definindo suas políticas
de inclusão social.” (Pereira, 2011, p. 61).
No entanto apesar de atender aos anseios da população indígena criando
esta comissão, segundo o autor, deixou de contemplar a diversidade uma vez que tal
comissão era majoritariamente composta por brancos, sendo que continha somente
um representante indígena da etnia Carajás, o que em se tratando de assuntos
indígenas restringe etnicamente gerando disparidades, desta forma segundo Pereira:

“Os questionamentos, no entanto, se referem ao modo como a instituição


assumiu a responsabilidade na condução do processo, podendo ser
concebida de modo destorcido a participação do indígena na implementação
da política, pois, embora se trate de um segmento populacional, cada etnia
tem diferenças e especificidades, cabendo-lhes tratar-lhes desigualmente.”
(Pereira, 2011, p.63).

Tais disparidades a exemplo da distribuição de vagas para indígenas ser


maior onde há maior proximidade destes, foram negligenciadas segundo o autor.
O autor conclui que:

“[...] é possível identificar uma desproporcionalidade na distribuição dos


indígenas à reserva de vagas disponibilizada pela UFT. Relacionando a sua
população ao campus, podemos perceber em tabela posterior que a presença
do indígena na universidade é exageradamente desproporcional ou até
mesmo nem existe registro de indígena matriculado, como é o caso do
campus de Arraias, localizado no sudoeste do Estado.” (Pereira,2011, p.64)

Tais fatos são indícios de distorções nas políticas implementadas, e conclui


que: “[...] é possível perceber que os enfrentamentos por parte dessa população na busca
pela igualdade social na UFT atende parcialmente aos interesses desse segmento, dado
o abismo existente entre indígena e não indígena,” (Pereira,2011, p.65), além disso
relata uma redução na presença de indígenas a partir de 2005 até 2009, e conclui este
tópico informando:

“Como veremos, sobretudo nos capítulos seguintes, as estratégias


implementadas para o acesso e permanência de indígenas até o momento
deste estudo investigativo não foram suficientes para alcançar uma
expressividade maior na expansão do ensino destinado aos indígenas, se
considerado o contexto em que a referida política se encontra inserida.”
(Pereira,2011, p.66)

De forma bastante explicativa e informativa, o autor também comenta, “O


ingresso de estudantes indígenas: sua presença no vestibular da UFT (2004 a 2009)”
(Pereira,2011, p.66) onde apresenta várias planilhas analisando as vagas ofertadas e
as entradas comparando-as com várias situações diferentes, concluindo que:

“Pela tabela acima, podemos perceber, no contexto geral da UFT, que a


oferta de vagas se deu num crescimento gradativo em todos os campi,
significando que a universidade em apenas uma década expandiu-se
substancialmente.” (Pereira,2011, p.67).

Não obstante as políticas implantadas, no entanto a realidade entre 2005 e


2009 aponta para um baixo índice de aprovação e matriculas em relação as vagas,
evidenciando a fraca participação indígena no ensino superior, e para o autor, “Fica
evidente que o Programa Política de Cotas da UFT, quando idealizado, desconsiderou
em parte a diferença cultural entre indígenas e não indígenas. As medidas
implementadas até então tem sido pontuais e fragmentadas.” (Pereira, 2011, p.70),
sugere este ainda que, “Assim sendo, são necessárias mudanças amplas,
consistentes e que integrem diversas ações entre as políticas públicas que
efetivamente possibilitem o acesso do indígena à educação e à universidade, [...]”
(Pereira, 2011, p.70), porém:

“Sabe-se, no entanto, que o programa política de cotas da UFT são um marco


na vida desses povos, pois suscitam outras questões que mudaram a forma
de pensar a universidade pública. O acesso hoje é visto como uma conquista,
mas o desafio decorre das estratégias de permanência que a universidade
tende a desenvolver para que o aluno indígena permaneça na instituição.”
(Pereira, 2011, p.71)

Estas oportunidades de ingresso e permanência foram construídas pela


universidade e são segundo o autor apesar de alguns desvios contemplam
sobremaneira o indígena a se manter na instituição. Em sequencia as politicas de
acesso a UFT instituiu programas internos que visam a permanência dos indígenas
tais programas são o PIMI, Programa de Monitoria Indígena, e o Programa Bolsa
Permanência, o primeiro visa a atender as necessidades do indígena assim descrito:

“[...] tem como proposta contribuir para o enfrentamento das dificuldades dos
discentes indígenas, uma vez que visa a intensificar e assegurar a
cooperação entre professores e estudantes indígenas nas atividades básicas
da universidade, bem como promover a inclusão e permanência do aluno
indígena na UFT (Pereira, 2011, p.71).

E o segundo visa a atender necessidades financeiras tem como objetivo


viabilizar a permanência do aluno na universidade. Para tanto este programa se faz
valer de ferramentas de qualificação para os candidatos por meio de enquadramento
socio econômico dos candidatos, sendo que os que apresentam comprovadamente
baixa renda e situação de vulnerabilidade financeira recebem um auxilio econômico,
desta forma:

Os programas de assistência estudantil da UFT, entretanto, vêm se


destacando na instituição e até mesmo em âmbito nacional, graças à política
implementada pela universidade de agir proativamente, visando ao
igualamento das oportunidades, principalmente para aqueles com menor
poder aquisitivo, contribuindo, assim, para a permanência com sucesso na
sua graduação. (Pereira,2011, p.73).

Além das políticas de acesso e permanência, a UFT proporciona eventos de


integração que tem como objetivo a inclusão e:

“[...]contribuem para a inserção desse segmento populacional nas discussões


da universidade, o que possibilitou uma maior interação e consequente
articulação para a melhoria das formas de ingresso e permanência de
indígenas na instituição, dados o seu contexto e os temas nesses momentos
trabalhados. (Pereira,2011, p.74).

Nesse contexto a PROEX - Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos


Comunitários – UFT, tem realizado vários projetos, se propõe a engajar os estudantes
indígenas politicamente, se aprofundando nas questões a eles relacionadas,
procurando sensibilizar e valorizar as relações no âmbito da UFT, “, [...] na busca
incessante de ações que efetivamente possam assegurar o acesso, ingresso e
permanência destes na educação superior.” (Pereira,2011, p.76).
Concluindo a analise critica deste capitulo, podemos afirmar que o autor
contemplou com muita propriedade as principais questões relativas ao ingresso, e a
permanência dos indígenas na UFT, traçando um panorama, embora limitado como
propriamente citado a dois campi da instituição devido a restrições geográficas, mas
que tem profundo significado para interpretação das questões abordadas.
Ainda quanto ao mérito o trabalho é relevante pois se propõe a analisar
criticamente através de metodologia quantitativa um quadro de ação social dentro de
uma instituição federal e as respectivas políticas públicas destinadas as minorias
étnicas.
O autor se utiliza de uma linguagem clara e acessível a qualquer leitor
interessado seja ele do meio acadêmico ou não, seus argumentos são claros e
precisos, sendo o texto de uma leitura direta e fácil.
Resenha crítico-reflexiva 02

Artigo de: WALTENBERG, Fábio D.; CARVALHO, Márcia de. Cotas aumentam a
diversidade dos estudantes sem comprometer o desempenho? Sinais Sociais, Rio de Janeiro,
v.7 nº 20 p. 36-77, Set-Dez, 2012.

Realizar a leitura e produção de uma resenha crítico-refletiva acerca deste artigo sobre as
ações afirmativas no ensino superior brasileiro, a partir dos dados socioeconômico dos
concluintes dos cursos avaliados pelo ENADE em 2008.

Trata-se do capitulo 03 do presente livro. Ler e produzir uma resenha crítico-

reflexiva.
Jovens universitários em um mundo em transformação_uma pesquisa sino-
brasileira.pdf

30 setembro 2019, 21:26

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