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SIMBOLISMO

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Corrente artística de timbre espiritualista que floresce na França, nas décadas de


1880 e 1890, o simbolismo encontra expressão nas mais variadas expressões
artísticas, pensadas em estreita relação umas com as outras. O objetivo último das
diferentes modalidades artísticas é a expressão da vida interior, da “alma das coisas”,
que a linguagem poética – mais do que qualquer outra – permite alcançar, por detrás
das aparências.

A poesia simbolista, de Gérard de Nerval (1808-1855) e Stéphane Mallarmé (1842-


1898) por exemplo, sonda os mistérios do mundo e o universo inconsciente por meio
de sugestões, do ritmo musical e do poder encantatório das palavras. Do mesmo
modo, a força da pintura reside no poder evocativo das imagens. O seu fim é dar
expressão visual ao que está oculto por meio da linha e da cor que, menos do que
representar diretamente a realidade, exprimem ideias.

Os princípios orientadores do simbolismo encontram suporte teórico nas formulações


do poeta Jean Moreás (1856-1910), autor do Manifesto do Simbolismo (1886), e no
Tratado do Verbo, escrito no mesmo ano por René Ghil (1862-1925). Nos termos de
Moreás, a arte deve ser pensada como fusão de elementos sensoriais e
espirituais. Reagindo à sociedade industrial, os simbolistas se refugiam em sua torre
de marfim, buscando uma beleza ideal e intocada. Desejando salvar o mundo do seu
materialismo extremado, identificam-se com a natureza e a religião (Ocultismo,
Espiritismo, Rosa-Cruz), buscando seus temas na Bíblia e na mitologia. Aproximam-se
também dos Pré-Rafaelitas ingleses.

É conhecida a frase de Maurice Denis: “Antes de representar um cavalo de batalha,


uma mulher nua ou uma anedota qualquer, um quadro é essencialmente uma
superfície recoberta de cores dispostas em uma ordem determinada.” A pintura não
era cópia da realidade, mas sim a sua transposição mágica, imaginativa e alegórica.

Em 1880, alguns escritores se manifestaram contra a falta de conteúdo espiritual da


arte naturalista e a crítica que lhe fizeram depressa chegou às artes plásticas.
Criticavam o objetivismo da realidade levado a cabo pelos realistas, impressionistas e
pontilhistas. Apontavam uma ausência de profundidade espiritual e de uma ideia
fundamental nas suas obras.Basearam-se nos estados emocionais e anímicos,
angústias, sonhos e fantasias, afastando a arte da representação da natureza.

É possível compreender o simbolismo como uma reação ao cientificismo que


acompanha o desenvolvimento da sociedade industrial da segunda metade do século
19. Contra as associações frequentes entre arte, objeto e técnica, e as inclinações
naturalistas de parte da produção artística, os simbolistas sublinham um ideal estético
amparado na expressão poética e lírica.

O simbolismo surge paralelamente ao neoimpressionismo de Georges Seurat e de


Paul Signac, e se apresenta como mais uma tentativa de superação da pura
visualidade defendida pelo impressionismo. Só que, enquanto Seurat e Signac fundam
a pintura sobre leis científicas da visão, o simbolismo segue uma trilha espiritualista e
anticientífica: a arte não representa a realidade mas revela, através de símbolos, uma
realidade que escapa à consciência.
Se o impressionismo fornece sensações visuais, o simbolismo almeja apreender
valores transcendentes – o Bem, o Belo, o Verdadeiro, o Sagrado – que se encontram
situados no polo oposto a razão analítica. A arte visa a retomar a paixão, o sonho, a
fantasia e o mistério, explorando um universo situado além das aparências sensíveis.

O simbolismo, ao contrário, mobiliza um imaginário povoado de símbolos religiosos,


de imagens tiradas da natureza, de fantasias oníricas, de figuras femininas, dos temas
da doença e da morte. A mulher, tema recorrente das obras simbolistas. Ao mesmo
tempo musa, deusa, ninfa, adúltera, cortesã e prostituta. É cisne e serpente. Estes
sentimentos contraditórios de sensualidade e ascetismo ganham em suas obras uma
carga quase mágica ou hipnótica.

A composição se organiza de modo linear, em primeiro plano, com a composição se


fechando em alvéolos ou em escorço. Como não se desenvolveu um estilo uniforme, é
difícil dar uma definição que englobe todos os quadros, trata-se por isso de um
conjunto de quadros elaborados por indivíduos distintos e de artistas que se
demarcaram da pintura objetivista materializando as emoções e estados de alma.

Destacamos os artistas:

Paul Gauguin (1848-1903), depois de passar a infância no Peru, Gauguin voltou com
os pais para a França, mais precisamente para Orléans. Em 1887, entrou para a
marinha e mais tarde trabalhou na bolsa de valores. Aos 35 anos, tomou a decisão
mais importante de sua vida: dedicar-se totalmente à pintura. Começou assim uma
vida de viagens e boemia, que resultou numa produção artística singular e
determinante das vanguardas do século 20.
Sua obra, longe de poder ser enquadrada em algum movimento, foi tão singular como
a de seus amigos Van Gogh ou Cézanne. Apesar disso, é verdade que teve seguidores
e que pode ser considerado o fundador do grupo Nabis, que, mais do que um conceito
artístico, representava uma forma de pensar a pintura como filosofia de vida. Suas
primeiras obras tentavam captar a simplicidade da vida no campo, algo que
ele consegue com a aplicação arbitrária das cores, em oposição a qualquer
naturalismo, como demonstra o seu famoso Cristo Amarelo. As cores se estendem
planas e puras sobre a superfície, quase decorativamente.

No ano de 1891, o pintor parte para o Taiti, em busca de novos temas, para se libertar
dos condicionamentos da Europa. Suas telas surgem carregadas da iconografia
exótica do lugar, e não faltam cenas que mostram um erotismo natural, fruto,
segundo conhecidos do pintor, de sua paixão pelas nativas. A cor adquire mais
preponderância representada pelos vermelhos intensos, amarelos, verdes e violetas.
Quando voltou a Paris, realizou uma exposição individual na galeria de Durand-Ruel,
voltou ao Taiti, mas fixou-se definitivamente na ilha Dominique.
Ferdinand Hodler (1853 – 1918) pintor suiço, recebeu aulas do paisagista Ferdinand
Sommer de 1868 a 1871, depois estudou na Escola de Belas Artes de Genebra em
companhia do professor de desenho Barthélemy Menn,. Fez várias viagens durante
sua juventude. Depois de entrar em contato com o simbolismo que imperava na
França, ele definiu seu estilo e temática com alusão metafísica, existencialista e
filosófica. Não é em vão, os estados oníricos, o peso da morte, os rituais ou os
elementos alegóricos passaram a ser a identidade de sua obra. Consagrado desde
1890 como um dos autores simbolistas, através de sua obra “A Noite”. Uma obra
escandalosa para a sociedade suíça da época. Representa o sono como prefiguração
da morte, ao seu redor homens e mulheres dormindo abraçados, nos rostos estão
representados autorretratos e retratos das mulheres que Hodler teve durante a vida:
Augustine Dupin, companheira sentimental e mãe de seu filho, e Bertha Stucki,
esposa de um curto e cansativo casamento, mas o presidente da Câmara de Genebra
não conseguiu ver além dos corpos nus e excluiu-o da exposição.
Émile Bernard (1868 – 1941) pintor e escritor francês. Manteve amizade com os
pintores Vincent van Gogh, Paul Gauguin, Eugène Boch e Paul Cézanne. O seu
trabalho mais notável foi realizado em uma idade jovem, nos anos 1886 a 1897. Ele
era associado com Cloisonnisme (Alveolismo) e o Sintetismo, dois movimentos
artísticos do século 19. Suas obras literárias, como poesia e críticas de arte, são
menos conhecidas. Iniciou seus estudos na Escola de Artes Decorativas. Em 1884
juntou-se ao Atelier Cormon onde ele experimentou com o impressionismo e
pontilhismo e fez amizade com outros artistas Louis Anquetin e Henri de Toulouse-
Lautrec. Depois de ser suspenso pela Escola de Belas Artes porque demostrava
tendências expressivas em suas pinturas, ele visitou Bretanha a pé , onde ele se
apaixonou pela paisagem. Em agosto 1886, Bernard conheceu Gauguin em Pont-Aven.
Ele acreditava que o seu estilo de arte incentivou consideravelmente no
desenvolvimento do estilo maduro de Gauguin.

Puvis de Chavannes (1824-1898) pintor francês. Realizou trabalhos de sucesso


com decorações em edifícios públicos na Europa e nos Estados Unidos. Atraiu ao
mesmo louvor tempo e críticas ferozes. Sua técnica favorita foi o óleo sobre tela, mas
com uma característica que o fez muito especial, que foi a de simular o afresco.
Organizava as obras sobre telas de grande formato que logo encobria as paredes. Sus
temas eram inspirados na mitologia, história e literatura. As referências clássicas na
sua forma de trabalhar foram inspiradas nos artistas que conheceu durante sua
viajem para Itália. Se dedicou a simplificar o desenho e a aplicação das cores,
trabalhava em grandes superfícies em um mesmo tom, alguns consideram antecipar-
se à Paul Gauguin nesse quesito. Suas obras apresentam uma atmosfera de quietude.
Parecem visões que vão além do tempo e do espaço.
Gustave Moreau (1826-1898) pintor francês. Começou como pintor realista,
posteriormente, sob a influência dos impressionistas e pré-rafaelitas, evoluiu para
uma pintura mais romântica e espiritual. Teve aulas de artes pelos mestres
Chassériau e Picot em seus respectivos ateliês. Suas obras foram expostas pela
primeira vez ao público e à crítica no Salão de 1852. Ele pregava que a inspiração
nunca seria encontrada no objeto a ser pintado, pois ela seria única e exclusiva do
pintor, ou seja, a obra seria executada a partir do que foi sentido por ele. Seus
temas favoritos eram as cenas bíblicas, principalmente a história de Salomé, em
moda no final do século 19, e as obras literárias clássicas. Mestre da cor, soube
representar mulheres de uma beleza rara com traços de anjo e pele aveludada,
cobertas apenas por ousadas transparências. A luz foi utilizada por Moreau para obter
essa atmosfera ao mesmo tempo mística e mágica, que caracterizou a pintura
simbolista.
No Brasil, o movimento simbolista influenciou a obra de pintores como Eliseu
Visconti e Rodolfo Amoedo. O quadro “Recompensa de São Sebastião”, de Eliseu
Visconti, medalha de ouro na Exposição Universal de Saint Louis, em 1904, é um
exemplo da influência simbolista nas artes plásticas do Brasil.
BIBLIOGRAFIA

https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-19/simbolismo/

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