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Soroterapia Antivenenos

Os soros heterólogos antivenenos são concentrados de imunoglobulinas


(anticorpos – fazem parte da imunização passiva), obtidos através da
sensibilização de diversos animais, a maioria de origem eqüina.

A soroterapia é indicada na neutralização de venenos inoculados após acidente por


animal peçonhento. Como o objetivo é neutralizar a maior quantidade possível do
veneno circulante, independentemente do peso do paciente, o soro deve ser
administrado o mais precocemente possível após o acidente e, adultos e crianças
devem receber a mesma dose.

# Produção: Instituto Butantan (SP), Fundação Ezequiel Dias (MG), Instituto Vital
Brasil (RJ) são laboratórios que produzem imunoderivados para a rede pública do
país. O CIT-Ctba também recebe soros do Centro de Pesquisa e Produção de
Imunobiológicos – CPPI (PR).

A produção do soro antiofídico segue as etapas: O veneno é extraído da serpente,


mantido seco sob refrigeração, recebe substâncias adjuvantes que aumentam seu
potencial antigênico e após, é inoculado subcutaneamente em doses de
concentrações crescentes nos cavalos. Então, o animal fornece grande volume de
sangue rico em anticorpos, por meio de uma sangria de aproximadamente 3% do
peso do animal, ou seja, 12 litros de sangue de um cavalo que pese 400 quilos.
Este procedimento não causa problemas ou a morte do animal. O plasma é levado
para a Seção de Concentração, Purificação e Fracionamento, onde as proteínas
inativadas são eliminadas e as gamaglobulinas específicas mantidas.

O soro é submetido a 4 tipos de controle de qualidade: Atividade biológica:


verifica a quantidade de anticorpos existentes; Inocuidade: segurança para o uso
humano; Esterelidade: evitar contaminações com germes; Pirogênico: detectar
substâncias que alterem a temperatura dos pacientes.

# Conservação: A forma liofilizada é mais estável e mais fácil de armazenar. No


Brasil é produzido na apresentação líquida, que deve ser conservado sob
refrigeração em 2OC a 80C positivos, deve-se evitar o congelamento; nestas
condições, validade varia de 2 a 3 anos, especificadas na embalagem.

# Soroterapia: Da administração do soro heterólogo pode advir complicações


como choque anafilático e doença do soro. O Teste de Sensibilidade (cutâneo ou
ocular) tem sido excluído por apresentar baixa sensibilidade e baixos valores
preditivos, retardando o início do tratamento específico. Além disso, reações
alérgicas graves não adiam ou contra-indicam o uso da soroterapia.

Deve-se obter informações sobre reações anteriores a algum soro heterólogo,


atopia exacerbada, relato de reação alérgica a pêlo de cavalo (rinite, espirros,
dermatite), para se inferir possíveis reações de hipersensibilidade; os cuidados
devem ser redobrados caso as respostas forem positivas.

Cuidados básicos: a soroterapia deve ser realizada em serviços de saúde


preparado; estar presente um médico; garantir um bom acesso venoso; ter à mão
laringoscópio com lâminas e tubos traqueais adequadas para peso e idade; soro
fisiológico e/ou Ringer Lactato; Adrenalina 1:1000 e aminofilina (10ml=240mg).

Drogas pré-soroterápicas: alguns autores indicam administrar 10 a 15 min


antes do início da soroterapia:
a) Drogas anti-histamínicas (antagonista H1 e H2 por via parenteral):
a)1. Antagonistas H1: maleato de dextroclorfeniramina na dose de
0,05mg/Kg IM ou EV, aplicar no máximo 5mg, ou prometazina (Fenergan®) na
dose de 0,5 mg/Kg IM, aplicar no máximo 25mg. OBS: A prometazina é contra-
indicada em crianças e idosos.
a)2. Antagonistas H2: cimetidina (Tagamet®) na dose de 10mg/Kg,
máximo de 300mg, ou ranitidina (Antak®) na dose de 3mg/Kg, no máximo de 100
mg, IV lentamente.

b) Hidrocortisona (Solu-Cortef®) na dose de 10mg/Kg IV, aplicar no máximo


100mg.

Estas drogas não previnem a liberação de histamina e ativação de Complemento,


mas poderiam antagonizar o efeito da histamina nos órgãos-alvo, bem como
diminuir a freqüência de reações tardias à soroterapia antiveneno.

Soroterapia Específica: Para ser eficaz, é necessário que seja específica para o
tipo de veneno do animal agressor (importante a identificação do animal); seja
administrado dentro do menor prazo possível e na dose necessária. Se o número
disponível de ampolas for inferior ao recomendado, a soroterapia deve ser iniciada
enquanto se providencia o tratamento complementar.

A via de escolha da administração do soro é EV, caso não seja possível,


administrar via SC. O soro, diluído ou não deve ser infundido em 20 a 60min. A via
IM não deve ser utilizada (exceto Soro Antilatrodectus que é por via IM) e o soro
nunca deve ser administrado no local da picada.

A diluição, a critério médico, pode ser na razão de 1:2 ou 1:5 em soro fisiológico
ou glicosado 5%, infundido-se na velocidade de 8 a 12ml/min. Observar possível
sobrecarga em crianças e em pacientes com insuficiência cardíaca.

O número de ampolas dependerá da gravidade do caso. Ver Quadro-Resumo nos


capítulos sobre Acidentes com Animais Peçonhentos, levar em conta que as doses
dos soros antivenenos capazes de neutralizar o veneno circulante têm sido revistas
nos últimos anos, havendo uma tendência progressiva para utilização de doses
menores nos acidentes botrópicos.

Reações à Soroterapia: A freqüência de reações à soroterapia parece ser menor


quando o antiveneno é administrado diluído.

Reações Precoces:
a) Reações Graves: Manifestam-se dentro de 10 a 180 minutos após a aplicação
do soro. São manifestações anafiláticas ou de hipersensibilidade e manifestações
anafilactóides ou pseudo-alérgicas, estas independem da exposição prévia às
proteínas do cavalo.

As características das reações graves são: broncoespasmo, edema de glote,


hipotensão, choque anafilático. Quadro clínico do choque anafilático: aura,
eritema, prurido, urticária, angioedema, hipotensão, edema de laringe ou epiglote,
broncoconstrição difusa, hiperventilação, pele fria e cianótica, pulso rápido e
filiforme, sensório apagado, confuso ou agitado, oligúria (<20ml/h). A idade e
cardiopatias são fatores de risco.

b) Outras Reações: Aparecem nas primeiras 24 horas. Sua ocorrência é variável


(4,6% a 87,2%). Fatores que favorecem o aparecimento: dose do soro,
concentração de proteínas e imunoglobulinas e velocidade de infusão;
antecedentes alérgicos ou atopia; sensibilização prévia; tipo de antiveneno
(poliespecíficos); via de administração (reação mais precoce em “bolus” EV). Na
maioria das vezes são considerados leves e manifestam: urticária, tremores,
vômitos, dor abdominal, diarréia.

Tratamento das Reações Precoces: Suspender temporariamente a infusão do


soro, tratar as intercorrências e dar continuidade à soroterapia. O tratamento é
sintomático. Broncoespasmo: inalação associada a um broncodilatador
(aminofilina); Edema de Glote: adrenalina, corticóide, entubação orotraqueal ou
traqueostomia; Choque Anafilático: posição horizontal, elevação dos membros
inferiores, acesso a veia calibrosa, infundir solução salina (20ml/Kg), oxigênio 50%
umidificado, infundir adrenalina 1/1000 (0,01ml/Kg SC ou IM) se não houver
resposta, aplicar EV, diluído em 10ml de SF, repetir após 10min se necessário;
hidrocortisona 30mg/Kg ou dexametasona 3 a 5mg/Kg EV; Reações Restritas à
Pele: adrenalina (0,01ml/Kg SC ou IM,máx. 0,4ml); Tremores: dipirona IM;
Vômitos: metaclopramida IM.

OBS: . Paciente que apresenta choque ou obstrução de vias aéreas deve


ser hospitalizado por pelo menos 24 horas.

Reações graves não adiam ou contra-indicam a soroterapia.


Para reiniciar a soroterapia é necessário dessensibilizar o paciente ou substituir o
soro pelo homólogo.
Reações Tardias: Manifestam-se de 5 a 24 dias após uso do soro. Incidência real
é subestimada. Conhecida por “Doença do Soro”. Provavelmente ocorre
formação de complexo imune entre o antiveneno e o veneno com ativação e
consumo de Complemento.

- Quadro Clínico: Febre, artralgia, linfoadenomegalia, urticária e proteinúria.

- Tratamento: Dependendo da intensidade das manifestações clínicas, pode-se


utilizar corticosteróides, como a prednisona na dose de 1mg/Kg/dia (máx. 60mg)
por 5 a 7 dias.

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