ARTIGO DE REVISÃO Braz J Neuroanat

Áreas 5 e 7 de Brodmann: uma revisão de literatura

Brodmann areas 5 and 7: a review of literature

Marcelo José da Silva Magalhães, MD1, Claudiojanes Reis, PhD2, Maria Rosa Araújo Viana3, Marcella Andersen
Guedes Magalhães3, Bruna Fabiana da Silva Maia, Maria Lessa Trindade Lage3, Ana Paula Soares Mendes3,
Yasmim Fernandes Almeida Leite3.

1-Neurocirurgião e cirurgião de nervos periféricos e dos plexos do Hospital Vila da Serra- Nova Lima-MG, Hospital Aroldo Tourinho-Montes Claros-MG, professor do curso
médico das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE) e Faculdades Integradas Pitágoras (FipMOC).
2-Professor do curso médico das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE) e Faculdades Integradas Pitágoras (FipMOC).
3-Acadêmicos do curso de medicina das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE)

*Correspondência para: Dr. Marcelo José da Silva de Magalhães

Endereço: Rua Capelinha n° 270, Bairro Sumaré, Montes Claros-MG, CEP 39.402315
Email: marcelo7779@yahoo.com.br

Submissão: 21 de Agosto de 2017. Publicado em 22 de novembro de 2017

Abstract

The Brodmann area 5 (AB 5) consists of a small area of the post-central gyrus, a small anterior area of the upper parietal
lobule and a posterior part of the paracentral lobule. However, Brodmann area 7 (AB7) consists of the upper parietal lobule
except for a small anterior portion of this lobule and the precuneus. These two cortical areas are apparently involved in the
processing of memory of previous experiences, processing of previously learned finger sequences, understanding of
denotative sentences, processing of previously learned spatial information, supplementary eye area, language processing of
verbs and nouns and somatic perception of the bimanual interaction of objects. The present article aims to analyze AB 5 and
7, regarding classification, function, anatomy, histology and aspects related to the lesions of such areas. The method used
was the literature review that used 23 articles found in three bibliographic databases: PubMed, Scielo and Bireme. Clinically
different neurological manifestations are described after lesion of the parietal lobe such as: optic ataxia, directional
hypokinesia, apraxias, hemiespacial neglect and agnosia. With the advent of technology such as functional magnetic
resonance imaging, studies on Brodmann's areas have become more efficient allowing neuropsychological tests to be
performed on patients who are awake and without neurological pathologies; however, studies involving a larger number of
individuals will required to corroborate the findings.

Key-words: cerebral cortex; Brodmann areas; brain functions.

Resumo

A área 5 de Brodmann é constituida por uma pequena área do giro pós-central, por pequena área anterior do lóbulo parietal
superior e por uma parte posterior do lóbulo paracentral. A área 7 de Brodmann é constituida pelo lóbulo parietal superior,
exceto por pequena porção anterior deste e por parte do pré-cuneo. Estas duas áreas corticais aparentemente estão
envolvidas no processamento de lembrança de experiências prévias, processsamento do armazenamento de sequências
motoras dos dedos previamente aprendidas, compreensão de frases com sentido denotativo, processamento de
informações espaciais previamentes aprendidadas, área suplementar dos olhos, processamento da linguagem no que tange
aos verbos e substantivos e percepção somática da interação bimanual de objetos. O presente artigo tem como objetivo
analisar as áreas de Brodmann 5 e 7, no que diz respeito à classificação, função, anatomia, histologia e aspectos
relacionados às lesões de tais áreas. O método utilizado foi a revisão da literatura que utilizou 23 artigos selecionados em
três bases de dados bibliográficos: PubMed, Scielo e Bireme. Clinicamente diferentes manifestações neurológicas são
descritas após a lesão do lobo parietal tais como: ataxia óptica, hipocinesia direcional, apraxias, negligência hemiespacial e
agnosia. O desenvolvimento tecnológico, por exemplo, a ressonância magnética funcional, influenciou os estudos sobre as
áreas de Brodmann que se tornaram mais eficientes permitindo a realização de teste neuropsicológicos em pacientes
acordados e sem patologias neurológicas, entretanto, estudos envolvendo um número maior de indivíduos serão
necessários para corroborar as novas funções apontadas pelos estudos citados neste trabalho.

Palavras-chave: córtex cerebral; áreas de Brodmann; funções cerebrais.

Como citar esse artigo: Magalhães e Reis et. al. Áreas 5 e 7 de Brodmann: uma revisão de literatura.
Braz J Neuroanat 1 (1): 8-13; 2017. 8

Key-words
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1.0 Introdução
O cérebro é o centro da inteligência, da memória, da
consciência e da linguagem. Controla as sensações e os
órgãos efetores, sendo, portanto, o ponto mais alto da
evolução do homem1.
As localizações das funções cognitivas no córtex cerebral
sempre representaram um grande desafio aos médicos, aos
cientistas e aos pesquisadores1. Sabe-se hoje que as
diferentes zonas ou lobos cerebrais estão associados a
atividades distintas1,2. Para se chegar a tal conclusão
apresentaram especial importância os trabalhos de Gall,
1
Broca e Brodmann . O alemão Korbinian Brodmann deu a
sua contribuição com a elaboração de mapas
neuroanatômicos, tornando-se um marco para a
neurociência moderna com a publicação da sua monografia
em 1909. Iniciou-se de fato o caminho rumo à localização
1
das funções corticais cerebrais .
O mapa de Brodmann constitui uma referência anatômica
conveniente, cujas áreas são designadas por números. Esse
mapa cortical foi desenhado a partir da observação de que
todo o tecido cortical cerebral de uma área em particular
compartilha um mesmo tipo de citoarquitetura. Cada área
de tecido cortical que apresenta a mesma citoarquitetura
recebeu um número específico. Surgiu então a teoria da
unidade funcional que considera áreas cerebrais
constituindo a base de funções orgânicas ou psíquicas,
entretanto subordinadas à estrutura total do cérebro. Logo,
essa divisão, que identificou quase 50 áreas, denominadas
áreas de Brodmann, tornou-se a mais aceita².
Com o desenvolvimento tecnológico, descobriram-se
métodos alternativos para estudar as várias áreas e funções
cerebrais sem a necessidade de basear-se nos achados de
necropsia e sua associação com o déficit neurológico
pregresso de determinado paciente2,3. Um desses métodos
é a Ressonância Magnética Funcional (RMf), um exame não
invasivo capaz de mapear o funcionamento de diferentes
3
áreas corticais . Os seus resultados têm sido importantes,
pois com a identificação das áreas, pode-se fazer
diagnósticos clínicos de pacientes, pesquisas na área
médica onde são identificadas as áreas motoras, sensitivas,
cognitivas e áreas relacionadas com a memória, bem como,
programações para as cirurgias no cérebro¹,²,³.
As áreas de associação do córtex são conceituadas como
aquelas as quais não estão relacionadas diretamente à
sensibilidade e à motricidade1,2. As áreas 5 e 7 de
Brodmann (AB 5 e 7) são classificadas como áreas corticais
de associação somestésica. Dentre as funções
desempenhadas por essas duas áreas está a identificação
de objetos pela sua comparação com o conceito do objeto
existente na memória do indivíduo e orientação espacial
1,2
corporal . São áreas corticais que permitem a combinação
da informação proveniente de vários pontos para decifrar
Como citar esse artigo: Magalhães e Reis et. al. Áreas 5 e 7 de Brodmann: uma revisão de literatura.
Braz J Neuroanat 1 (1): 8-13; 2017.
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seu significado4. A primeira tendo a função de
estereognosia e a segunda região citada com função visio-
motora e de percepção1,4. O objetivo desse estudo é
explorar os aspectos neuroanatômicos funcionais das AB 5
e 7.
2.0 Metodologia
O método utilizado foi a revisão da literatura. Os
descritores utilizados para identificação de estudos foram:
“Brodmann área 5”, “Brodmann área 7”, “function
Brodmann area 7 and 5”, “secondary somesthetic area”,
“funciones areas 5 y 7 de Brodmann”. Sendo realizada
busca de dados bibliográficos em três bases de dados:
PubMed, Scielo e Bireme.
Os critérios de inclusão foram os artigos publicados em
inglês, português e espanhol que abordavam tanto
aspectos gerais das funções corticais quanto informações
específicas sobre o córtex somestésico. Além disso, foram
incluídos estudos que possuíam como tema lesões das
áreas somestésicas secundárias. Foram excluídos artigos
não disponíveis na íntegra. A data de publicação não foi
utilizada como critério de inclusão, devido ao fato de que
informações relevantes sobre o tema abordado são
pesquisadas e exploradas há muito tempo. Os artigos
abrangem o período de 1979 a 2016.
3.0 Discussão
3.1 Aspectos históricos
No ano de 1909, Korbinian Brodmann publicou sua
monografia a qual foi de grande importância para a
neurociência moderna2. Neste trabalho foram descritas 52
áreas funcionais atribuídas ao córtex cerebral dos primatas,
2
sendo que 43 são encontradas na espécie Homo sapiens . A
descrição de tal mapa funcional possibilitou relevantes
descobertas para a neurologia clínica, neurocirurgia e
psiquiatria, abrindo caminho para a melhor compreensão
de comportamentos, enfermidades e do funcionamento
2
normal do cérebro . Dentre as 43 áreas descritas nesse
estudo de citoarquitetura cortical cerebral, encontram-se
áreas sensitivas secundárias como as AB 5 e 72.
3.2 Aspectos neuroanatômicos das áreas 5 e 7 de
Brodmann
As AB 5 e 7 localizadas no lóbulo parietal superior que
juntamente com o lobo parietal inferior, giro pós-central,
parte posterior do lóbulo paracentral e pré-cúneo
constituem o lobo parietal. O lóbulo parietal superior é
limitado anteriormente pelo giro pós-central e pelo sulco
pós-central, e inferiormente pelo sulco intraparietal e pelo
lóbulo parietal inferior. Medialmente encontra-se a fissura
9
 ARTIGO DE REVISÃO
longitudinal do cérebro. A AB 5 é constituida por uma
pequena área do giro pós-central em sua porção mais
convexa, por pequena área anterior do lóbulo parietal
superior e por uma parte posterior do lóbulo paracentral
localizada na face medial do hemisfério cerebral.
Já a AB 7 é constituida pelo lóbulo parietal superior exceto
por pequena área anterior e parte do pré-cuneo localizado
na face medial do hemisfério cerebral. A AB 7 ainda pode
ser subdividida em área de Brodmann 7a que se localizada
na porção mais anterior do lóbulo parietal superior e área
de Brodmann 7b localizada na porção mais posterior do
2
lóbulo parietal superior . (Figura 1)
Figura 01. Figura 1-Cérebro em visão superior. A AB 7 de Brodmann está
marcada de cor vermelha e a AB 5 em cor amarela no hemisfério cerebral
direito. A AB 5 é constituida por uma pequena área do giro pós-central,
por pequena área anterior do lóbulo parietal superior e por uma parte
posterior do lóbulo paracentral. Já a AB7 é constituida pelo lóbulo parietal
superior exceto por pequena porção anterior deste e por parte do pré-
cuneo. 1-Giro frontal superior; 2-giro frontal médio; 3-giro frontal inferior;
4-giro pré-central; 5-giro pós-central; 6-lóbulo parietal inferior; 7-lóbulo
parietal superior; 8-lobo occipital; 9-fissura longitudinal superior;10-sulco
intraparietal; 11-sulco pós-central; 12-sulco central; 13-sulco pré-central;
14-sulco frontal inferior; 15-sulco frontal superior; 16- fissura longitudinal
superior. Fonte: imagem cedida por Marcelo JS Magalhães e Claudiojanes
Reis.
3.3 Classificação funcional e histológica
Funcionalmente é possível classificar o córtex em áreas de
projeção e de associação, sendo que estas podem, ainda,
ser subdivididas em secundárias e terciárias. 5
As áreas de associação secundárias relacionam-se
indiretamente à motricidade ou sensibilidade, o que levou
Alexandre Luria – neuropsicólogo russo – a designá-las
como unimodais, sendo a última correspondente às AB 5 e
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Braz J Neuroanat 1 (1): 8-13; 2017.
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5
7 . Essas áreas se localizam no lóbulo parietal superior,
posteriormente à área somestésica primária2, 5 (AB 3, 2 e 1).
Histologicamente as AB 5 e 7 classificam-se como isocórtex
homotípico, o qual apresenta seis camadas nítidas (I
camada molecular, II camada granular externa, III camada
piramidal externa, IV camada granular interna, V camada
piramidal interna, VI camada de células fusiformes) que
podem ser visualizadas de forma individual na vida
embriológica e adulta, sem, portanto, predomínio de
células granulares ou piramidais5.
3.4 Aspectos funcionais e conexões corticais
Diversas funções são relatadas na literatura para tais áreas,
dentre elas a de maior destaque é a de percepção e
interpretação das características das sensações recebidas
pelas áreas 3, 2 e 1 de Brodmann (AB 3, 2 e 1) , através de
aferências talâmicas provenientes dos fascículos grácil e
cuneiforme, e dos tratos espinolâmicos lateral e anterior.
Esses tratos relacionam-se, respectivamente, com a
propriocepção consciente, estereognosia, sensibilidade
vibratória e tato epicrípico; sensibilidade térmica e
dolorosa; e tato protopático e pressão5. O córtex
somestésico primário emite, ainda, fibras de projeção para
a AB 5 que por sua vez se conecta com a AB 7b
homolateralmente, sendo que a AB 7a recebe em sua
6,7,8
maioria conexões originadas das áreas visuais . Assim
como a área somestésica primária, o córtex somestésico
secundário apresenta correspondência somatotópica
conforme o homúnculo descrito por Penfield e Rasmussen9.
Os neurônios da AB 5 estão também relacionados aos
movimentos ativos das mãos, que ocorrem devido à
capacidade desses neurônios de codificarem a localização
do alvo nas mãos, antes e durante o movimento10. A partir
disso, as coordenadas do olho para a mão são
transformadas sem etapas intermediárias, em relação à
cabeça ou ao corpo10. Além disso, os tais neurônios são
responsáveis pela sensibilidade integrada (modalidades
2
protopática e epicrítica) . Quanto as demais áreas do
corticais, a AB 5 está interconectada ao córtex soméstesico
primário (AB 3, 2 e 1) e secundário (AB 7b) e outras áreas
parietais, motora, pré-motora e a motora suplementar.
Ademais, emite fibras eferentes para o trato cortico-
espinhal10.
A AB 7b, assim como a AB 5, estabelece conexões com o
córtex somestésico primário e secundário, com a própria AB
5, com a região pré-motora dorsal e com o córtex pré-
frontal orbital8. Seus neurônios são ativados por um ato
motor e durante a observação de um ato realizado por
outro indivíduo, de forma semelhante ao sistema de
10
neurônios-espelhos .
3.5 Novas perspectivas funcionais das áreas 5 e 7 de
Brodmann
10
 ARTIGO DE REVISÃO
Lembrança de experiências prévias
Tulving et al.11 em estudo realizado com doze adultos
jovens saudáveis demonstraram que a AB 7 de ambos os
lobos parietais, dentre outras áreas, é ativada ao se lembrar
de experiências prévias. Os envolvidos nesse estudo foram
apresentados a frases carregadas de sentido e, 24 horas
depois, escutaram essas mesmas frases. Como controle,
foram expostos também a frases parecidas, mas que não
haviam tido contato prévio. Através da tomografia por
emissão de pósitrons (PET) o fluxo sanguíneo cerebral foi
medido utilizando-se o isótopo O15 e, a partir disso,
observou-se o aumento do fluxo sanguíneo cerebral na AB
7 durante esse processo cognitivo no grupo que identifiou
as frases previamentes apresentadas11.
Armazenamento de sequências motoras dos dedos
12
Em 1998, Catalan et al. avaliaram as alterações do fluxo
sanguíneo cerebral através da PET induzidas por diferentes
sequências repetitivas de movimentos dos dedos. Este
experimento corroborou a hipótese de que a AB 7, em
conjunto com a AB 6 e pré-cúneo participam do processo
de armazenamento de sequências motoras dos dedos da
mão utilizados na memória de trabalho12.
Compreensão de frases denotativas
No ano de 2004, Seghier et al.13 realizaram um estudo com
13 voluntários, predominantemente do sexo masculino,
destros, de nacionalidade japonesa, na terceira década de
vida. Esse trabalho visou identificar as áreas cerebrais
envolvidas na compreensão de frases metafóricas,
comparando-se com a compreensão de frases com sentido
literal. Foram usadas 63 frases em japonês com sentido
metafórico, literal ou anômalo, as quais eram lidas pelos
voluntários, que respondiam se conseguiam compreender
seus significados. Através de análise por RMf, visualizou-se
que as frases metafóricas ativam principalmente o córtex
frontal medial esquerdo (representado pelas AB 9 e 10),
córtex frontal superior esquerdo (AB 9) e córtex frontal
inferior esquerdo (AB 45). Em oposição, ao lerem frases
com sentido denotativo, houve maiores ativações na AB 7,
13
na metade direita e no córtex frontal superior (AB 8 e 9) .
Shibata et al.14 observaram, em 2007, outra função para a
AB 7 através de uma pesquisa envolvendo 30 pessoas
saudáveis e destras, com visão normal, na terceira década
de vida, sem nenhum histórico de doenças psiquiátricas ou
neurológicas, a qual o objetivou detectar a variabilidade
inter-individual da interpretação metafórica ou literal de
frases. A exposição dos indivíduos a metáforas notou-se
uma ativação do córtex das AB 9, 10 e 45. Por outro lado,
quando esses eram expostos a frases com sentido literal,
14
era observada elevação do metabolismo das AB 7,8 e 9 .
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Recordação de informações espaciais previamente
aprendidas
Estudo realizado por Zarahn et. al.15 utilizando a RMf
objetivou a identificação de quais áreas corticais cerebrais
estariam envolvidas no processo de recordação de
informações espaciais previamente aprendidas. Esse
trabalho detectou do metabolismo cortical das AB 8 e AB 7
no hemisfério cerebral direito.
Campo suplementar do movimento conjugado dos olhos
De acordo com o estudo de ativação do córtex
16
frontoparietal, de Heide et al., realizado através da RMf
envolvendo seis adultos saudáveis puderam avaliar a
contribuição das áreas do córtex quanto à manifestação dos
nistagmos. Esse estudo revelou a presença de aumento do
metabolismo cortical cerebral no lóbulo parietal superior e
no sulco intra-parietal durante as atividades em que o
indivíduo tinha que realizar atividades motoras de
movimentos sacádicos dos olhos previamente aprendidas.
Esses achados inferem que esse córtex cerebral poderia
representar o campo suplementar do movimento
conjugado dos olhos16.
Processamento das informações espaciais dos objetos a
partir do manuseio com as mãos
Em 2005, estudo realizado por Reed et al.17 avaliou quais
regiões corticais estariam envolvidas no processamento das
informações de sensibilidade tátil e espacial a partir do
manuseio de objetos com as mãos. Esse estudo avaliou
isoladamente as seguintes variáveis: identificação da forma,
cor e características físicas dos objetos, e características
espaciais e de movimento dos objetos. No estudo os
participantes com olhos vendados eram obrigados a
identificar objetos que estavam sobre uma plataforma a
partir de suas características táteis e forma. Foi
comprovado que o processamento das informações
espaciais dos objetos a partir do manuseio com as mãos
levou a uma ativação de áreas corticais localizadas nos
lóbulos parietais superiores em ambos os hemisférios
cerebrais17.
Processamento de atenção e modulação dos estímulos
sensórios visuais
Através de um experimento realizado por Caplan et al.18
envolvendo 12 voluntários, predominantemente do sexo
masculino, destros, avaliou o processamento da memória
envolvida no reconhecimento de imagens previamente
apresentadas. Nesse estudo foram apresentadas imagens
aos participantes as quais eram visualizadas novamente
após algum tempo, sendo essas imagens restritas ao campo
visual esquerdo ou direito do voluntário. Esses autores
demonstraram que o lóbulo parietal superior, região onde
estão localizadas as AB 5 e 7, e o giro supramarginal estão
11
 ARTIGO DE REVISÃO
envolvidos com o processo de atenção e modulação dos
estímulos sensórios visuais avaliados no estudo. Foi
teorizado a existência de dois tipos diferentes de redes
corticais que trabalhariam em paralelo (áreas de atenção
visual e motora)18.
Processamento da linguagem de verbos e substantivos
19
Estudo publicado por Bedny e Thompson-Schill (2006),
sobre a anatomia funcional da produção de substantivos e
verbos, sugere um papel cortical importante no
processamento dessas duas classes gramaticais. Os
autores relataram através do uso de RMf a produção de
substantivos e verbos falados, cujos resultados indicam que
diferentes sistemas neurais são recrutados para cada classe
gramatical. Especificamente, o lóbulo parietal superior
esquerdo, dentre outras áreas, foi ativado na produção de
verbos. Nesse estudo, utilizou-se uma variedade de
categorias substantivas e verbais e foi observado que a
resposta parietal superior esquerda é ativada por ambas as
classes gramaticais, independentemente de fatores lexicais.
Isso sugere, portanto, que as diferenças de processamento
substantivo/verbal não estão relacionadas à classe
gramatical em si, mas são conduzidas por diferenças
semânticas correlacionadas19.
Percepção somática da interação bimanual com um objeto
externo
O artigo realizado por Naito et al.20, no ano de 2007, elucida
que o lóbulo parietal superior humano está envolvido na
percepção somática da interação bimanual com um objeto
externo. O estudo foi realizado com o auxílio de RMf para
detectar as áreas corticais ativadas durante o experimento.
Foi demonstrado que quando os participantes realizam
tarefas bimanuais que necessitam de coordenação espacial
complexa entre a mão direita e a esquerda, a ativação
geralmente é observada em conjunto com áreas motoras
frontais e outras áreas parietais, principalmente do lado
20
direito .
3.6 Manifestações clínicas das lesões das áreas 5 e 7 de
Brodmann
As potenciais manifestações clínicas neurológicas das lesões
descritas quanto a essas áreas são: ataxia óptica,
hipocinesia direcional, apraxias, negligência hemiespacial e
agnosia 21.

Ataxia óptica ocorre principalmente quando o lóbulo
parietal superior e áreas adjacentes ao sulco
intraparietal, incluindo a junção parieto-occipital, são
acometidas. Sua sintomatologia consiste em erros nas
etapas finais dos movimentos das mãos, sendo esses
geralmente no campo visual periférico. Em suma, a
ataxia óptica pode ser entendida como uma composição
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desordenada nos movimentos direcionais da mão aos
seus alvos. Foi relatado, também, um
comprometimento das informações proprioceptivas21.

Hipocinesia direcional envolve o prolongamento do
tempo de reação e movimento, assim como uma
inexatidão para atingir alvos visuais heterolaterais a
lesão, independente do membro usado. Esse quadro
costuma estar associado à bradicinesia direcional e
hipometria21.

Apraxia consiste na incapacidade de realizar certos
movimentos intencionalmente propostos ou complexos
de movimentos com a conservação da motricidade, da
sensação e da coordenação. São descritos três tipos de
apraxias decorrentes de danos no lóbulo parietal:
apraxia ideatória, apraxia ideomotora e apraxia
construtiva. A apraxia ideatória é caracterizada pela
incapacidade do paciente executar movimentos de
sequência, como, por exemplo, dobrar um pedaço de
papel e colocá-lo em um envelope. Isso devido à
dificuldade na realização de ações complexas. Na
apraxia ideomotora, o paciente não consegue realizar
uma ação por comando verbal ou imitação. Já na
apraxia construtiva, observa-se uma alteração na
montagem, na construção e no desenho.21
 Negligência hemiespacial ocorre, especificamente, em
casos de lesões do córtex parietal direito- porém não
restritas a esse - as quais perturbam a consciência do
espaço visual. Toda via, existem estudos que afirmam
ser uma lesão no córtex temporal, a responsável por
esse quadro. A sintomatologia consiste na incapacidade
de perceber estímulos e eventos no lado do espaço
oposto ao lesado21.
 Agnosia é caracterizada como a incapacidade de
perceber a forma, a textura, o tamanho e demais
qualidades de um objeto, assim como o seu
reconhecimento pelo tato9. Quanto a sensação
somática, sabe-se que o seu início acontece por
diferentes sistemas: exteroceptivo, proprioceptivo e
interoceptivo7. Esses através de seus receptores captam
os estímulos sensitivos, transformando-os em sinais
elétricos que são interpretados pelo córtex
somestésico9. O principal sistema responsável pela
gnosia é o exteroceptivo. Ele é responsável pela
percepção de estímulos mecânicos (tato), de estímulos
térmicos e de estímulos nociceptivos22. A agnosia tátil é
a mais observada em quadros clínicos de lesão do lobo
parietal. Um dos primeiros estudiosos a descrever a
agnosia tátil foi Wernicke. No seu entendimento, havia
diferentes níveis de identificação tátil dos objetos. 21 Ele
definiu de acordo com tais níveis os déficits primário,
caracterizado pela incapacidade do paciente em
perceber as qualidades táteis dos objetos, e secundário,
no qual é possível reconhecer um objeto, embora a
12
 ARTIGO DE REVISÃO
habilidade de distinguir suas propriedades básicas esteja
intacto9. O mecanismo neuropatológico da agnosia tátil
é decorrente da interrupção do fluxo de informações
entre as áreas relacionada à memória e o sistema
somatossensorial9. É importante ressaltar que essa
patologia é uma desordem unilateral, que acomete,
portanto, a mão esquerda ou direita 23 e que seu quadro
clínico isoladamente não é comum8.
4 Conclusão
As áreas 5 e 7 de Brodmann estão entre as áreas
delimitadas pelo mapa cortical realizado por Korbinian
Brodmann. Essas são áreas de associação somestésica, que
permitem a percepção e interpretação de características
das sensações recebidas pela área somestésica primária.
Déficits neurológicos tais como apraxias, agnosias
somestésicas, negligência hemiespacial, hipocinesia
direcional e ataxia óptica podem estar ligadas a lesões das
áreas 5 e 7 de Brodmann. Com o desenvolvimento
tecnológicocomo a RMf, os estudos sobre as áreas de
Brodmann se tornaram mais eficientes permitindo a
realização de teste neuropsicológicos em pacientes
acordados e sem patologias neurológicas.
Consequentemente a partir de estudos envolvendo esse
tipo de tecnologia infere-se que essas duas áreas de
Brodmann estão envolvidas no processamento de
lembrança de experiências prévias, processsamento do
armazenamento de sequências motoras dos dedos
previamente aprendidas, compreensão de frases com
sentido denotativo, processamento de informações
espaciais previamentes aprendidadas, área suplementar
dos olhos, processamento da linguagem no que tange aos
verbos e substantivos e percepção somática da interação
bimanual de objetos.
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