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FACULDADES OSWALDO CRUZ

CURSO MBA EM PERÍCIA, AUDITORIA E GESTÃO AMBIENTAL

Fernando Guilherme de Aguiar Tinasi

A FOME COMO ELEMENTO CATALISADOR DE PROBLEMAS


AMBIENTAIS

Goiânia
2009
FERNANDO GUILHERME DE AGUIAR TINASI

A FOME COMO ELEMENTO CATALISADOR DE


PROBLEMAS AMBIENTAIS

Monografia apresentada à Faculdades Oswaldo Cruz


como parte dos requisitos para a conclusão do Curso
de Pós Graduação Lato-Sensu e M.B.A. em Perícia,
Auditoria e Gestão Ambiental.
GOIÂNIA
2009
FERNANDO GUILHERME DE AGUIAR TINASI

A FOME COMO ELEMENTO CATALISADOR DE


PROBLEMAS AMBIENTAIS

Monografia apresentada à Faculdades Oswaldo Cruz


como parte dos requisitos para a conclusão do Curso
de Pós Graduação Lato-Sensu e M.B.A. em Perícia,
Auditoria e Gestão Ambiental.

Trabalho aprovado em _______ de _______ de 2009.

_________________________________________
Prof. D. Sc. Josimar Ribeiro de Almeida
(UFRJ/USP)
Presidente da Banca Examinadora

_________________________________________
Profª. D. Sc. Lais Alencar de Aguiar
(UFRJ)
Membro da Banca Examinadora
4

Para minha filha


Isabella com carinho.
5

AGRADECIMENTOS

A Empresa Perdigão S/A pelo apoio e incentivos dados, pois não raras vezes, durante esta

pós-graduação, necessário foi de as sextas-feiras ausentar-me mais cedo para chegar a tempo

de assistir as aulas na cidade de Goiânia.

Aos Professores da Pós-graduação em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental, pela orientação

em todas as fases de formação do pensamento interdisciplinar durante o curso.

Aos colegas da turma e aos funcionários do IPOG-GO pelo espírito de grupo.


6

A Fome e o Amor constituem o germe de toda


a historia humana.
Sidartha Gautama (Buda).
7

RESUMO

O trabalho aborda considerações sobre a fome como evidência social sob a óptica ambiental,
uma vez que tão grave quanto às conseqüências sociais e biológicas, são as conseqüências
ambientais do fenômeno criado pela sociedade e denominado fome, especificadamente a fome
crônica, uma vez que incontestavelmente apresenta-se como um dos principais fatores que
determinam a existência de superpopulações. Assim, possível é visualizar caminhos para
diminuir a pressão populacional e suas conseqüências ao meio ambiente pelo caminho da
eliminação da fome crônica uma vez que é fator primordial no controle da natalidade e
fertilidade de uma superpopulação, precedendo medidas de controle por métodos
anticoncepcionais.

Palavras - chave: Fome. Superpopulação. Meio Ambiente.


8

ABSTRACT

The paper addresses considerations on the famine as evidence on the social environmental
perspective, because as bad as the social and biological, are the environmental consequences
of the phenomenon created by society and called famine, chronic hunger specifically because
undeniably presents itself as one of the main factors that determine the existence of
Overpopulation. Thus, it is possible to see ways to reduce population pressure and its
consequences to the environment by way of the elimination of chronic hunger because it is a
key factor in controlling the birth rate and fertility of overpopulation, before measures to
control by methods.

Key-words: Hunger. Overpopulation. Environment.


9

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEP Associação Brasileira de Estudos Populacionais.


EUA Estados Unidos da América.
FAO Organização de alimentação e Agricultura das Nações Unidas
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
ONU Organizações das Nações Unidas.
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
UNISC Universidade de Santa Cruz.
10

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 11

2. BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A FOME


12
2.1 CAUSAS DO FENÔMENO FOME
13
2.2 FOME COMO UMA DAS CAUSAS DETERMINANTES DO CRESCIMENTO
DEMOGRÁFICO
16
2.3 CONSUMO DE PROTEÍNA E TAXAS DE FERTILIDADE E NATALIDADE
18

3. SUPERPOPULAÇÕES E SUAS CONSEQÜÊNCIAS AO MEIO AMBIENTE


25
3.1 CONSUMO E MEIO AMBIENTE
26
3.2 POBREZA E INTENSIDADE DE DEGRADAÇÃO DO CONSUMO
29
3.3 POBREZA E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL
32
3.4 INTERVENCIONISMO ESTATAL PARA O CONTROLE POPULACIONAL
37

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
41

REFERÊNCIAS
11

1 INTRODUÇÃO

A fome como evidência social tem sido estudada apenas sob o aspecto sócio -

geográfico e histórico, contudo diante das circunstancias atuais e sobretudo da disseminação

de equivocadas e ultrapassadas teses a cerca da superpopulação como causa direta deste

fenômeno, assim, apresenta-se como imperioso, estudar este fenômeno social sob a óptica

ambiental, visto que, possível é visualizar caminhos para diminuir a pressão populacional e

suas conseqüências ao meio ambiente.

Tão grave quanto as conseqüências sociais e biológicas, são as conseqüências

ambientais do fenômeno criado pela sociedade e denominado fome, neste aspecto, entendida

como resultado das condições em que são submetidas uma população no decorrer de um

tempo, vez que incontestavelmente é fator determinante de inúmeras calamidades, pois

apresenta-se como elemento catalisador dos resultados da interação população – meio

ambiente.

Atualmente se vivencia uma crise histórica e estrutural sem precedentes,

histórica no sentido da completa transformação da forma de vida e dos sistemas econômico;

uma crise que muito bem caberia a definição de “Ortega y Gasset” em seus estudos filosóficos

como sendo “mudança do mundo em conjunto”1, e estrutural no sentido da não existência de

recursos naturais no planeta para atender ao sistema de produção imposto pelo atual estilo de
1
CASTRO, Josué. Geopolítica da fome. vol. 1. 7. ed. São Paulo: Brasiliense,1965.220 p. p. 52
12

vida, que se vê a cada momento forçado pela demanda por lucro do sistema econômico, em

uma espiral sem fim que causa irreversíveis danos a natureza e a torna incapaz de assimilar e

processar todas as formas de poluição.2

As alterações nas inter-relações sociais verificadas nas últimas décadas, bem

como as pressões que sofrem as sociedades não alinhadas com os padrões econômicos e

sociais dominantes, demonstram de forma límpida, a profunda crise que se vive acaba por

imprimir velocidade a rodas das transformações.

Assim, identificada a fome como um dos principais fatores que determinam a

existência de superpopulações, demonstrado fica que este fenômeno de criação humana é um

fator iniciador ou catalisador de diversos problemas ambientais que merecem ser apontados,

visto que as soluções dos mesmos passam inquestionavelmente pela solução da fome.

2
ALMEIDA, Josimar et al. Política e Planejamento Ambiental. 3. ed. Rio de Janeiro: Thex, 2008. 457
p. p. 6.
13

2. BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A FOME

Apresenta-se de fundamental importância a definição do fenômeno fome, e

esta definição passa por sua identificação não como uma situação sofrida por um indivíduo,

mas sim a forma que se impõe a um determinado grupo de pessoas, e neste mister, de forma

sumaria, caracteriza-se este fato pela carência de nutrientes em que são submetidos uma

população por um constante e longo período, quer por escassez destes nutrientes nos

tradicionais alimentos consumidos, quer por falta de disponibilidade dos mesmos

Nesta caracterização do fenômeno fome é necessário consignar os tipos de

fome existentes dentro dos parâmetros supra mencionados, e que muito auxiliam no

entendimento da questão, assim é encontrado dois tipo de fome, a crônica e a aguda.

A fome aguda advém de situações mais diversas (guerras, epidemias, etc.) que

assolam determinada região levando sua população a semi-inanição ou mesmo completa

inanição, geralmente é passageira, mas leva grandes contingentes humanos a óbito.

Podem, eventualmente, assumir caráter de epidemia como verificada na china,

que nos últimos 2.000 anos teve cerca de 1.829 grandes epidemias de fome, conforme estudo

histórico da Universidade e Nanquim na China.3

Já a fome crônica atua sob determinada população geração após geração, sendo

deste modo muito mais perniciosa e de profundas e indeléveis marcas.

Fome crônica ou oculta é verificada quando há falta de determinado nutriente

(sais minerais – vitamina - proteína) na alimentação de um grupo humana, por longos anos ou

gerações, por questões sociais debitadas ao homem (má distribuição de alimentos e rendas –

costumes – etc.), o que acaba por determinar a uma população de indivíduos doenças que

levam a morte.
3
CASTRO, Josué. Geopolítica da fome. vol. 1. 7. ed. São Paulo: Brasiliense,1965.220p.: pág. 80.
14

São exemplos de fome oculta: raquitismo – anemia – beribéri – cegueira

noturna – escorbuto pelagra – boqueiras; valendo ressaltar que durante séculos debitou-se a

causa destas doenças a condições sociais e sanitárias, sendo só no século XX, que

determinou-se como causa destas doenças a falta de certos nutrientes por longo período,

caracterizando assim a fome oculta.

Como elemento catalisador de problemas ambientais, o que mais interessa

ressaltar são as conseqüências das populações submetidas ao processo de fome por longo

período de tempo, quer aguda (quando intermitente como no caso da china), quer crônica.

2.1 CAUSAS DO FENÔMENO FOME

Durante muito tempo o fenômeno fome teve suas causas confundidas com as

conseqüências, e não raras vezes foram escritos tratados determinando o que é conseqüência

como causa, segundo Josué de Castro4 que magnificamente estudou o tema; resumidamente

elencou duas correntes acerca das causas da fome.

Teoria 1 – fenômeno natural advindo das condições do solo e de seu

exaurimento natural ou provocado. Teoria esta por si só descartada frente as tecnologias de

produção existentes.

Teoria 2 – Neomalthusiana, que defende que a fome é o resultado das altas

taxas de natalidade implementadas pela população de famintos, defendendo que a única

solução é o controle da natalidade destas populações; na realidade uma nova roupagem da

inapropriada teoria de Malthus que só possui alguma aceitabilidade devido a falta de

conhecimento até mesmo dos formadores de opinião.


4
CASTRO, Josué. Geopolítica da fome. vol. 1. 7. ed. São Paulo: Brasiliense,1965.220p.:p. 57 a 66.
15

Não raras vezes, é encontrado artigos, livros e teses onde é desenvolvido vasto

material dedicado a demonstrar que o aumento da população esta diretamente ligada a

melhores condições de saúde e higiene, fatos determinantes na redução da taxa de

mortalidade, seja a principal causa do fenômeno fome.

Sem dúvida que sob certas condições, em especial quando não existe o

fenômeno fome verificada, a redução das taxas de mortalidade criam em seu primeiro aspecto

o aumento da população desta área, contudo, verifica-se que após este período inicial a

população tende a diminuir.

Voltando a questão da difusão de idéias que levam a conclusões

neomalthusianas ou mesmo a difusão destas teorias, esta conclusão indireta em algumas teses

ou mesmas diretas em outras, de que existe uma relação direta entre a superpopulação e a

disponibilidade de carência de alimentos; vide o exemplo encontrado no clássico livro de

LIEBMANN (1979), Tradução de Flávio Meurrer, publicado pela Biblioteca do exército5.

Devido ao desenvolvimento das ciências naturais nos últimos tempos, as


conquistas nos campos da medicina e da higiene social proporcionaram uma
notável redução da mortalidade infantil. Ao mesmo tempo, geraram um
aumento da expectativa de vida. Mas a produção de gêneros alimentícios não
está podendo acompanhar o crescimento explosivo da população. Dos 3,3
bilhões de pessoas que viviam no ano de 1965, apenas 35% se encontravam
bem nutridos, mas 50% delas mal tinham o suficientes para comer, enquanto
que as 15% restantes passavam fome. Calcula-se que, em conseqüência
direta ou indireta dessa carência alimentar, morrem anualmente 20 milhões
de pessoas. Mesmo assim, essa triste realidade não consegue deter o
explosivo crescimento populacional. Embora os dados se refiram ao século
passado, sabe-se hoje que, segundo estimativas cautelosas, 100 milhões de
chineses morreram de fome naquele período. Sabe-se também que, entre
1870 e 1900, morreram de fome 20 milhões de hindus. No entanto, embora
ambos os povos representam hoje, conjuntamente, uma população de 1,25
bilhões de habitantes.
Antigamente, a uma alta taxa de nascimento correspondia, igualmente, uma
taxa algo mais elevada de falecimento. “É por isso que, como se pode
observar na ilustração 23, o crescimento populacional foi, de inicio
reduzido”6.

5
LIEBMANN, HANS.Terra um planeta inabitável? Da antiguidade até os nossos dias, toda a
trajetória poluidora da humanidade. Rio de Janeiro: Biblex. 1979. 180p.: p. 44.
6
LIEBMANN, Hans.Terra um planeta inabitável? Da antiguidade até os nossos dias, toda a
trajetória poluidora da humanidade. Rio de Janeiro: Biblex. 1979. 180p.: p. 44.
16

Conforme CASTRO7, certo é que a fome é uma criação humana, sendo dela

que origina-se as superpopulações e não das superpopulações que a fome advêm, como bem

precisou.

Neste aspecto os problemas ambientais verificados a partir das

superpopulações podem ser minimizados pelo combate a fome endêmica de forma eficaz,

com resultados duradouros e capazes de, se não interromper, pelo menos frear a crise

estrutural na faceta que é conseqüência das pressões demográficas ao meio ambiente.

Neste contexto, a miséria não é causa, mas apenas o retrato mais cruel da fome;

suas conseqüências ambientais podem ser sentidas e sobretudo observadas pela total

indiferença das populações submetidas a este flagelo, que convivem com o lixo e vivem do

lixo que produzem em uma quase simbiose, potencializando assim, os danos ambientais

advindos da maciça presença humana sem a devida mitigação.

Como elemento catalisador de problemas ambientais, o que mais interessa

ressaltar são as conseqüências das populações submetidas ao processo de fome por longo

período de tempo, quer aguda (quando intermitente como no caso da china), quer crônica.

2.2 FOME COMO UMA DAS CAUSAS DETERMINANTES DO CRESCIMENTO

DEMOGRÁFICO

Restou demonstrado na subseção anterior que a fome como evidência social

tem sido estudada apenas sob o aspecto sócio - geográfico e histórico, apresenta-se como

imperioso, estudar este fenômeno social sob a óptica ambiental, visto que, possível é

visualizar caminhos para diminuir a pressão populacional e suas conseqüências ao meio


7
CASTRO, Josué. Geopolítica da fome. vol. 1. 7. ed. São Paulo: Brasiliense,1965.220p.:p. 74
17

ambiente; foram caracterizados os tipos de fome existentes (a crônica e a aguda), e de forma

macro relacionadas as teses mais difundidas a respeito das causas da fome, ressaltando que

nenhuma das teses possui respaldo cientifico, e, certo é, que da fome é que origina-se as

superpopulações e não das superpopulações que a fome advêm, como bem precisou Josué de

Castro

Ressalta-se aos lhos de qualquer um que se disponha a conhecer o tema o fato

que quanto mais presente encontra-se o fenômeno fome sob determinada área, mais se

verifica o crescimento demográfico desta região, tanto que regiões no mundo conhecidas

como superpovoadas são historicamente lugares de fome endêmica (China – Índia – etc.).

A primeira vista parece um contra-senso, pois levando a fome a morte, como

poderia a mesma ser fator determinante do crescimento demográfico!

A partir das observações e constatações de que as taxas de crescimento

demográficos das superpopulações, verificadas nas mais variadas partes do mundo cresciam

de forma mais acentuada quando presentes índices de carência alimentar ou fome em seu

sentido genérico, bem como, de que este fato, também poderia ser observado historicamente a

partir dos mais variados levantamentos e pesquisas iniciam-se estudos sobre o tema.

O primeiro a desenvolver o tema e apresentar a teoria da Fome como geradora

das superpopulações foi o cientista brasileiro Josué de Castro, médico e geógrafo (1908-

1973), presidente da Organização de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO) de

1952 a 1956, embaixador do Brasil na ONU de 1962 a 1964, que desenvolveu metodologia

ainda inédita para analisar cientificamente o fenômeno fome, demonstrando que os altos

contingentes de famintos demograficamente verificados no mundo não são frutos da

incapacidade da terra em fornecer alimentos, mas sim uma criação do ser humano, bem como,

de que eram desprovidas de qualquer fundamentação científica as teses neomalthusianas de

que o controle populacional deveria passar pelo controle da natalidade dos pobres, visto que
18

segundo suas observações uma dieta apropriada de proteína reduzia naturalmente os níveis de

fertilidade dos casais. Ou seja, a boa alimentação determinaria um natural controle demográfico.8

2.3 CONSUMO DE PROTEÍNA E TAXAS DE FERTILIDADE E NATALIDADE

Como anteriormente mencionado, ao foco desta narrativa interessa-nos

demonstrar que a fome é condição determinante de diversos problemas ambientais e neste

contexto necessário atentar para as conseqüências da fome crônica / endêmica, contudo mister

esclarecer, mesmo que superficialmente o porquê a fome aguda ao contrário da fome crônica

não é catalisadora de problemas ambientais.

A fome aguda é aquela que submete uma população de forma intensa e por

certo período, como verificado nas guerras, prisões, desastres e tantas outras calamidades,

querem naturais ou criadas pelo próprio homem, ao fenômeno fome, que determina de forma

inquestionável e notória, a perda da libido das populações.

Segundo inúmeras pesquisas a perda da libido das populações submetidas a

fome aguda, quer de animais como de seres humanos, deve-se a dois fatores: concentração

psicológica dos famintos na procura de alimentos e pela redução de hormônios em virtude da

carência de alimentos, conforme depreende-se da pesquisa desenvolvida pelo Dr. Ancel Key

da Universidade de Minnesota-EUA.9

Assim, as conseqüências da fome aguda como fator condicionante de

problemas ambientais são inexistentes, pois se dirigem de forma contrária; já os resultados da

8
CASTRO, Josué. Geopolítica da fome. vol. 1. 7. ed. São Paulo: Brasiliense,1965.220p.:p. 75.
9
FRANLIN, J., et al. Observation on Human Behavior in Experimental Semistarvation and
Rehabilitation”, Journ. of Clinical Psychology, vol. IV, nº 1, Jan. 1948 – citado por CASTRO, Josué.
Geopolítica da fome. vol.1. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1965.220p.: p. 126.
19

fome crônica /endêmica são totalmente diferentes e extremamente danosos as populações,

visto que:

É possível evidenciar que além das características de tristezas e falta de animo

dessas populações, é constatado que nas populações submetidas de forma crônica, a falta de

alimentos ou certos nutrientes, faz com que a sensação de fome que é exteriorizada de forma

brutal na fome aguda, seja abrandada na forme crônica, na realidade enganada, pela sensação

de falta de apetite, que não raras vezes chega a determinar completa inanição, como muito

bem demonstrado por CASTRO, “in” Geopolítica da fome, “in verbis”:

Em experiência de laboratório tivemos ocasião de confirmar este feito


provocador da perda de apetite, de certos tipos de fome específica,
alimentando ratos com um regime de aparência normal, porém carentes em
certos aminoácidos substâncias componentes das proteínas. Com esta
carência experimental, logo caía de maneira impressionante o apetite dos
animais, os quais voltavam a comer com voracidade quando à mesma dieta
se acrescentavam alguns miligramas de certos aminoácidos. É um fenômeno
idêntico que faz com que o chinês se contente com um punhado de arroz por
dia, que o mexicano se satisfaça com uma simples “tortilla” de milho e uma
xícara de café e que o homem da Amazônia trabalhe no seu seringal tendo
tomado pela manhã um simples mingau de farinha de mandioca, que repetirá
à noite, ao voltar para o rancho. Fenômeno que explica também a perda de
toda ambição e a falta de iniciativa dessas verdadeiras populações marginais
do mundo. Outra não é a origem do conformismo chinês, do fatalismo das
castas mais baixas da Índia, da alarmante imprevidência de certas
populações latino-americanas.10

O cerne das conseqüências debitadas a fome crônica, como fator catalisador de

problemas ambientais reside nas alterações do comportamento sexual das populações

submetidas a este tipo de fome, visto que ao contrário do verificado na fome aguda, constata-

se aumento da atividade sexual e da fertilidade destas populações, fatores determinantes de

altas taxas de natalidade e demográficas.

Restou comprovado que o aumento da atividade sexual de grupos expostos a

condições de fome crônica é resultante de duas condições, a primeira de natureza psicológica

e a segunda de natureza fisiológica.

10
CASTRO, Josué. Geopolítica da fome. vol. 1. 7. ed. São Paulo: Brasiliense,1965.220p.:p. 75.
20

Segundo a unanimidade dos fisiólogos11 existem no ser humano dois instintos

contrapostos: o da nutrição e o da reprodução, deste modo, devido a carência nutricional

latente e endêmica de certos grupos, a falta de apetite apresenta-se como uma característica

marcante, determinando uma redução do instituto natural de nutrição, determinante das

sensações de necessidade de busca de alimento, e conseqüentemente impondo, por meio de

“feed back” a preponderância do instinto reprodutor (sexual) seu contraposto, e assim,

alterando as atividades sexuais como meio de compensação emocional.

Já a condição de natureza fisiológica, prende-se ao fato de que uma

alimentação rica em proteína animal determina alteração a menor da fecundidade, já o

inverso, alimentação pobre em proteína animal, é condicionante de elevada fecundidade, e por

conseqüência altas taxas de natividade.

Já nos indez dos anos 50, renomados institutos de pesquisas médicas, tais

como: The University of Chicago (Anton J. Carlson e frederik Hoelzel – Effect of segregation

and isolation before mating on the fertility of rats), New York University (Maria A. Rudzinska

– The influence of amount of Food on the reproduction rate and Longevity of a Suctorian ), California

Institute of Technology (Smithsonian Institution – Mac-Ginitie, G. E.,Distributio and ecology of

Marine Invertebrates of OPint Barrow), entre tantos12, desenvolvia pesquisas que demonstravam

de que indivíduos com índices de fertilidade altas estão entre os que menos consomem

proteínas de origem animal.

Estas evidências observadas entre populações das mais diversas cobaias, em

especial ratos e “tokophyrya infusionum”, foram confirmadas pelo professor Mac-Ginitie

(Smithsonian Institution), estudando a população de esquimós, fato este que de certa forma já

estava provado por estatísticas de estudos geodemográficas onde restava demonstrado que

regiões onde a disponibilidade de proteína animal para consumo “per capita” eram menores,

11
CASTRO, Josué. Geopolítica da fome. vol. 1. 7. ed. São Paulo: Brasiliense,1965.220p.: p. 130.
12
Idem p. 134-135.
21

encontravam as maiores taxas de fertilidade e natalidade, bem como as regiões onde as taxas

de crescimentos se sobressaiam pela rapidez e correspondem onde a segurança alimentar “per

capita” é pequena, como pode ser nitidamente observado pelo gráfico abaixo, obtido a partir

dos dados fornecidos pela FAO sobre consumo de proteínas no mundo para o ano de 1950.13

Tabela 1 – Consumo de proteína.

Países Coeficiente de Consumo diário de


Natalidade proteínas animais (em
gramas)
Formosa 45,6 4,7
Malaia 39,7 7,5
Índia 33,0 8,7
Japão 27,0 9,7
Iugoslávia 25,9 11,2
Grécia 23,5 15,2
Itália 23,4 15,2
Bulgária 22,2 16,8
Alemanha 20,0 37,3
Irlanda 19,1 46,7
Dinamarca 18,3 56,1
Áustria 18,0 59,9
EUA 17,9 61,4
Suécia 15,0 62,6

13
CASTRO, Josué. Geopolítica da fome. vol. 1. 7. ed. São Paulo: Brasiliense,1965.220p.:pág. 133.
22

Gráfico 1 – Natalidade x consumo de proteína.

Números relativamente atuais da relação existente entre a disponibilidade

econômica de um grupo populacional, seu consumo de alimentos e suas taxas de natalidade

demonstram que quanto maior o consumo de alimentos menor é a taxa de natalidade, bem

como que estas taxas de natalidades estão presentes nos redutos onde a segurança alimentar

(novo nome para um antigo problema, a fome) se faz presente, sob índices muitos baixos,

devido a baixa renda de seus habitantes.

Relação entre taxa de natalidade e nº. de filhos / casal no RS com renda


14
familiar (s.m.)

Tabela 2 – Número de filhos x renda familiar

Salário Mínimo Número de filhos por família


Mais de 5 S. M. 1,7
De 3 a 5 S.M. 2,42
De 2 a 3 S.M. 2,58
De ½ a 1 S.M. 3,37
Até ¼ S.M. 4,8

Relação entre a disponibilidade diária de caloria com a renda mensal familiar15

Tabela n. 3 – disponibilidade de caloria x renda familiar

Salário Mínimo Número de filhos por família


Mais de 5 S. M. 1929 Kcal
De 3 a 5 S.M. 1877 Kcal

14
Citado por HÜBNER, DARIO CARLOS; Dissertação de Mestrado. Conseqüências Nutricionais da
Urbanização em Santa Cruz do Sul – RS. UNISC, 2006, disponível em
HTTP://www.cei.santacruz.g12.br~superpopmito.htm, acesso em 04-03-2008.
15
Citado por HÜBNER, DARIO CARLOS; Dissertação de Mestrado. Conseqüências Nutricionais
da Urbanização em Santa Cruz do Sul – RS. UNISC, 2006, disponível em
HTTP://www.cei.santacruz.g12.br~superpopmito.htm, acesso em 04-03-2008.
23

De 2 a 3 S.M. 1729 Kcal


De ½ a 1 S.M. 1651 Kcal
Até ¼ S.M. 1485 Kcal

Gráfico n.2- consumo de proteína x n. de filho por casal.

Diante de tais fatos e informações, CASTRO (-), formulou a teoria da fome

específica como geradora de superpopulações, ou multiplicação exagerada da espécie, “in,

Geopolítica da fome, “in verbis”:

Com estas observações e estas cifras, desejamos concluir por afirmar que,
em ultima análise, a multiplicação exagerada da espécie, por sua excessiva
fertilidade, constitui também uma forma de fome específica, uma das mais
estranhas marcas do fenômeno da fome universal.
Este aspecto do problema tem, a nosso ver, importância primordial, desde
que fornece base biológica para biológica para apoio de nossa teoria – a
teoria da fome especifica como causa de superpopulação; da fome
provocando o lançamento intempestivo, no metabolismo demográfico do
mundo, de produtos humanos fabricados em excesso e de qualidade inferior.
Como o mecanismo através do qual se exerce esta ação desequilibrante e
degradante da fome crônica sobre a evolução demográfica dos grupos
humanos envolve aspecto aspectos econômicos e sociais, ao lado dos
aspectos biológicos, deixamos para desenvolver o assunto na ocasião
oportuna, ao estudarmos o problema da fome no Extremo Oriente, área onde
a superpopulação relativa se apresenta, nitidamente, como uma das mais
estranhas e graves manifestações de fome específica.

Apresenta-se neste contexto a fome crônica / endêmica verificada nas áreas


24

mais pobres do planeta como um dos elementos propulsores de problemas ambientais ali

encontrados, visto que poucos não são os problemas advindos das grandes concentrações

demográficas, especialmente quando maximizados pelos pacos recursos disponíveis nestas

áreas à mitigação dos danos e impactos ambientais.

Assim, afastado, o jargão Malthusiano de que a fome é resultado da

superpopulação de uma região e impondo-se a verdade de que a fome é causa e não efeito das

densas taxas demográficas encontradas em determinada região; apresenta-se como imperioso

dentro desta pequena dissertação, pontuar os problemas advindos da presença maciça de

pessoas em determinadas regiões normalmente caracterizadas pela pobreza e intensa miséria.


25

3. SUPERPOPULAÇÃO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS AO MEIO AMBIENTE

Ficou Demonstrado na seção anterior que a teoria Malthusiana de que as

superpopulações geram a fome em virtude dos escassos recursos do meio ambiente onde esta

população é identificada, são argumentações ultrapassadas e desprovidas de qualquer respaldo

científico, contudo sua grande repercussão foi e é desastrosa para o conhecimento do

problema, visto que até os meio formadores de opinião não raras vezes defendem ou adotam

soluções Malthusianas, quando, por exemplo, formulam teorias de controle populacional

adotando apenas métodos de contraceptivos; na verdade restou cientificamente provado que a

fome ao invés de conseqüência é antes de tudo causa, como brilhantemente identificou e

provou o cientista brasileiro Josué de Castro já nos anos de 1950. Atualmente, é conhecido

que mecanismos de ordem psico-fisiológicas presentes no ser humano submetido a fome

crônica, ou fome específica no dizer de CASTRO16, determinam aumento de sua atividade

sexual, bem como, em razão dos baixos índices de consumo de proteína animal, altas índices

de fertilidade ocasionando elevadas taxas de natalidade e de superpopulações em especial em

regiões de grande miséria, onde o fenômeno fome acaba por ser fator determinante de sérios

problemas ambientais.

3.1 CONSUMO E MEIO AMBIENTE

A presença humana sempre gerou e gera impactos e danos ambientais dos mais

16
CASTRO, Josué. Geopolítica da fome. vol. 1. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1965.220p – O Livro
negra da Fome. vol. 1. São Paulo: Brasiliense,1960171.p.
26

diversos matizes querem em razão simplesmente de suas atividades naturais, do viver

propriamente, quer em razão das suas buscas por melhores condições de vida, tecnológicas,

acumulo de riquezas e outras tantas mais, contudo qualquer que seja o impacto ou o dano

verificado em razão do consumo de bens naturais ou do volume de resíduos poluidores, estes

crescem em razão da maior ou menor presença do homem em determinado meio.

Os problemas advindos da presença maciça de contingentes humanos estão

diretamente relacionados ao consumo verificado destas populações, que geram em todos os

seus aspectos os mais diversos tipos de poluição (danos e impactos); assim ao trilhar a relação

dos problemas ambientais, primeiramente faz necessário identificar a pressão que estas

populações estão a exercer ao meio ambiente devida o seu estilo e condições de vida, estilo

este, relacionado aos padrões e expectativas de consumo; já as condições de vida estão ligadas

à possibilidade e disponibilidade de consumo destas mesmas populações.

Contudo, independente do estilo e das condições de vida de uma população, a

poluição gerada por sua existência pode ser para efeito didático nessa dissertação dividida em

dois ramos, o primeiro ramo trilha o caminho da poluição gerada na exploração e utilização

das riquezas naturais, na busca de tecnologia e riquezas, já o segundo ramo, identifica a

poluição constituída dos subprodutos dos consumos necessários e supérfluos destas

populações.

De qualquer forma presente a poluição, quer de uma forma ou outra como

conseqüência da presença humana, porem para efeito deste trabalho, interessa-nos de forma

macro os danos e impactos advindos da capacidade de assimilativa do meio ambiente em

receber os subprodutos dos consumos verificados, pois pode ser verificada nas regiões

populacionais onde o fato fome é o elemento propulsor.

Já os danos e impactos advindos da exploração e utilização das riquezas

naturais apesar de presente e até mesmo de forma mais danosa em especial nas regiões
27

economicamente menos privilegiadas, apresenta-se, esta poluição, como fato marcante de

regiões onde a pressão populacional não se faz presente ou se a faz não possui esta

superpopulação como um dos fatores determinantes o fenômeno fome e sim outros de caráter

sócio-políticos, de qualquer forma esta é uma área de contornos nebulosos e impossíveis

existirem delimitações precisas, pois mesmos as populações que possuem como fator

preponderante de crescimento a fome crônica estão imbuídas da incessante busca de riquezas

e tecnologia, gerando por conseqüência poluição que na maioria das vezes não possuem

qualquer forma de mitigação dos danos e impactos que produzem.

Em termos gerais quanto maior a população, maior será a pressão ao meio

ambiente advindo do consumo desta população, contudo o impacto ou dano desse consumo

no meio ambiente esta diretamente relacionado a intensidade da utilização de recursos

naturais.

Para melhor delimitar um dos aspectos negativos gerados pelas

superpopulações, necessário situar a questão do consumo, fato indissociável da presença

humana.

Na publicação “RUMO AO CONSUMO SUSTENTÁVEL NA AMÉRICA

LATINA E CARIBE”17, que serviu de base para o workshop sobre consumo sustentável na

América Latina e Caribe, é vislumbrado o seguinte esclarecimentos sobre consumo.

Para se ter maior clareza, é necessário fazer uma distinção entre consumo de
produtos e de serviços para atender os anseios e necessidades atuais, e o
consumo de recursos. O consumo de recursos refere-se à extensão com que
materiais e energia são usados e a capacidade assimilativa do meio ambiente
para receber o lixo. A extensão com que usamos recursos (termo que inclui
materiais, energia e capacidade assimilativa) no ato de consumo, depende da
relação de recursos usados para produção e consumo. A intensidade de
energia de consumo é um exemplo dessa relação.
A razão pela qual essa distinção se faz importante é que o consumo pode
aumentar enquanto que a relação entre recursos e consumo pode, ao mesmo
tempo, cair. A extensão pela qual o uso total dos recursos aumenta depende
17
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA – UNEP) “Consumers
International” Carl Duisberg Gesellschaft e V (CDG), intitulada RUMO AO CONSUMO SUSTENTÁVEL
NA AMÉRICA LATINA E CARIBE, disponibilizado no site http://www.pnuma.org/industria
/documentos/conslacp.pdf , acesso em 17-03-2009.
28

se a relação cai mais rapidamente do que sobem os níveis de consumo


(David Pearce, 1994). É claro, que o ponto crítico no Consumo Sustentável
não é o consumo em si, mas a quantidade de energia e recurso usados que ele
demanda.

É possível assim arriscar em afirmar que os danos e impactos gerados a partir

do consumo advindo das grandes populações subsume-se na quantidade de recursos usados

neste consumo, entendido o termo recurso, como materiais, energia e capacidade assimilativa

do meio ambiente em receber o lixo.

Dentro do parâmetro acima estabelecido, possível é identificar como a matriz

dos problemas ambientais ocasionados pela superpopulação, o uso exacerbado de recursos,

em especial, os subprodutos dos consumos verificados, o que usualmente é denominado de

poluição.

Considerando que a superpopulação, cujos efeitos ambientais são estudados,

possui sua causa primaria na fome, observa-se que a pobreza bem como a falta de recursos em

geral são fatos indissociáveis, o que torna mais elevados os efeitos degradantes da poluição no

meio ambiente.

3.2 POBREZA E INTENSIDADE DE DEGRADAÇÃO DO CONSUMO

Entre os muitos problemas sociais e ambientais avindos da pobreza, ressalta-se

aos olhos que os efeitos da poluição mostram-se mais evidentes e até mesmo danosos ao meio

ambiente nas áreas habitadas por populações essencialmente carentes de recursos,

demonstrando que os contingentes de populações que possuem seus vetores de crescimento

aliados ao fator fome podem estar atrelados as causas dos danos e impactos ambientais
29

verificados na região e isto em função do descaso das políticas públicas de mitigação de danos

inexistentes ou inaplicadas na região.

Como anteriormente mencionado, quanto maior a população, maior será a

pressão ao meio ambiente advinda do consumo desta população, e ainda maiores serão os

danos e impactos gerados por este consumo, se esta população for pobre e pobreza entendida

não apenas como insuficiência de renda, mas como um conjunto de privações múltiplas

abaixo de patamares considerados socialmente inaceitáveis, como magistralmente conceituou

o economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Flávio Comin,

verifica-se que, as pressões resultantes do consumo destas populações ao meio ambiente

crescem na medida em que diminuem os recursos disponíveis, querem originados dos poderes

públicos quer dos privados, para mitigarem os efeitos e danos advindos dos subprodutos do

consumo verificado.

Assim, populações submetidas a fome crônica são indiscutivelmente pobres na

acepção da palavra e igualmente submetidas aos resultados diretos dos danos e impactos

verificados em razão dos seus consumos ou subprodutos, que acabam por ser agravados pelos

altos índices populacionais, cuja origem está na fome, fato que determinam sérios problemas

ambientais.

Já há tempos que estudos comprovam que o consumo quando observado sob a

óptica dos níveis de renda das populações que o produzem, demonstra que seus efeitos ao

meio ambiente são mais nefastos na proporção que aumenta o nível de pobreza dessas

populações, seguindo esta tendência até um patamar quando passa a declinar em razão das

tecnologias aplicadas na mitigação e prevenção, o que se denomina de equação quadrática ou

curva em forma de U invertido denominada na literatura curva ambiental de Kuznets.

Em trabalho desenvolvido pelo coordenador de estudos ambientais do IPEA


30

Ronaldo Seroa da Motta18, intitulado “Padrão de Consumo, Distribuição de Renda e Meio

Ambiente no Brasil”, este axioma restou devidamente esclarecido conforme é possível

observar do texto abaixo:

Níveis de renda mais altos podem dar margem a padrões de consumo


ambientalmente mais limpos, o que induz uma trajetória tecnológica de
menor intensidade de degradação do consumo. Quando a taxa de declínio
desta intensidade excede a taxa de crescimento da renda, a degradação total
decresce, apesar do crescimento do consumo. Se assim for, espera-se que,
quando a renda média exceda um certo nível limiar, a atividade econômica
se desacople da degradação. Em outras palavras, a relação entre renda e
meio ambiente pode seguir uma curva em forma de U invertido denominada
na literatura curva ambiental de Kuznets. Isto é, a degradação cresce com a
renda até um nível limiar, a partir do qual começa a decrescer.
A literatura tem sido bastante profícua na análise desta relação entre países
em diferentes estágios de renda. Entretanto, são raras as análises sobre a
pressão de degradação originada em diferentes grupos de renda dentro de um
mesmo país. Embora, na maior parte dos problemas ambientais, o processo
tecnológico afete indistintamente a intensidade da degradação de todas as
classes, reduzindo, assim, a possibilidade de se impor um nível limiar de
renda, o padrão e a quantidade de consumo em cada grupo de renda estão
certamente variando e afetando diretamente o seu impacto ambiental.
Se, por um lado, a pressão de degradação dos ricos é certamente mais alta
devido a seus níveis de consumo mais altos, eles tendem, por outro lado, a
consumir uma parcela menor de sua renda, reduzindo, conseqüentemente,
sua pressão de degradação.
Em outras palavras, dentro de um mesmo país pode-se esperar que as
mudanças na intensidade de degradação sejam mais dependentes da
distribuição de renda e da propensão marginal ao consumo do que de fatores
tecnológicos, e a curva em U invertido pode não se aplicar.
Portanto, o conhecimento da tendência e da magnitude desta relação torna-se
um parâmetro-chave para analisar as questões da eqüidade ambiental que
não podem ser evitadas no desenho e aplicação das políticas ambientais,
especialmente nos países em desenvolvimento.

E mais adiante:

Se a taxa de redução de intensidade de degradação por unidade de consumo


excede a própria taxa de crescimento do consumo, espera-se que quando a
renda média exceder um certo nível limiar, a atividade econômica possa ser
desacoplada da degradação. Em outras palavras, a relação renda e meio
ambiente pode seguir a forma de uma curva em U invertido, denominada
curva ambiental de Kuznets na literatura.
Embora a verificação dessa relação continue a ser controvertida e testada em
casos específicos de fontes de degradação, o mesmo não poderia ocorrer a
partir da análise dentro de um mesmo país dos padrões de consumo de
grupos de renda num certo ponto no tempo.
Dentro de uma economia, é possível que os padrões tecnológicos sejam
18
SEROA, Ronaldo da Motta. Padrão de Consumo, Distribuição de Renda e o Meio Ambiente no
Brasil, IPEA – Instituto de Pesquisas Econômica Plicada. 2002, disponibilizado no site
http://desafios.ipea.gov.br/pub/td/2002/td-0856.pdf, acesso em 15-04-2009
31

igualmente adotados por todos os grupos. Por conseguinte, o parâmetro-


chave da pressão de degradação pode ser as variações nas propensões a
consumir o serviço ou bem que são ligadas à pressão de degradação
relevante. Mesmo quando os fatores tecnológicos são relacionados ao nível
de renda, uma ampla variação de renda entre os grupos pode anular as
reduções na intensidade da degradação.19

Para efeitos desta monografia, necessário conceituar que os efeitos danosos ao

meio ambiente provindos de superpopulações que tiveram como vetores de crescimento a

fome são evidentes e incontestáveis e fazem-se presentes em intensidade proporcional a

pobreza verificada, característica marcante destas populações, pois as possibilidades de

mitigação e prevenção neste contexto, são praticamente inexistentes.

3.3 POBREZA E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL

Inicialmente, necessário consignar que a pobreza não é e nunca foi a causa dos

grandes problemas ambientais que se põem frente a humanidade, não polui em escala

industrial e não constitui uma das principais causas da degradação ambiental, apenas resta

demonstrar a realidade inconteste de degradação ambiental verificada nas zonas habitadas por

populações eminentemente pobres e carentes, populações estas que crescem entre outras

causas pelo efeito da fome crônica, fato que determina o aumento desta degradação ambiental

verificada.

Esta relação entre pobreza e degradação ambiental já foi alvo de diversas

pesquisas, contudo inexiste consenso entre os pesquisadores do que é causa ou do que é

19
SEROA, Ronaldo da Motta. Padrão de Consumo, Distribuição de Renda e o Meio Ambiente no
Brasil, IPEA – Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada. 2002, disponibilizado no site
http://desafios.ipea.gov.br/pub/td/2002/td-0856.pdf, acesso em 15-04-2009 .
32

efeito, contudo segundo a pesquisadora Daíse Bernardino Professora 20 Assistente na

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Doutoranda da Universidade de Barcelona,

podem ser resumidos em termos gerais as seguintes linhas de pesquisas acerca do assunto:

Paulo D. Waquil; Marcus V. A. Finco; Ely J. Mattos - avaliaram a relação


entre pobreza rural e degradação ambiental no Rio Grande do Sul e não
encontraram uma relação direta entre os dois fatores, em alguns momentos
encontraram a pobreza agravando a degradação ambiental em outras a
degradação ambiental aumentando a pobreza e, nenhuma relação entre elas
em alguns casos, os autores atribuem a isso as diversas variáveis envolvidas.
Edward B. Barbie - avaliou as ligações econômicas entre a pobreza e a
degradação ambiental na África e verificou que há uma correlação direta
entre elas, uma vez que as técnicas de manejo do solo não são aplicadas
adequadamente e, ao exaurir por completo uma área os produtores da região
estudada migram para áreas que eram menos produtivas a princípio, e com a
queda na produção e a repetição do processo, há um agravamento na pobreza
local.
Meza et al. (2002) - relacionaram pobreza, desenvolvimento rural e uso da
terra em El Salvador e concluíram que quanto mais isolado o produtor menor
será sua renda e maior será a degradação ambiental causada por ele,
enquanto que o produtor que possui nível mais elevado de educação terá
renda maior e provocará menor degradação ambiental.
Cavendish (1999) - constatou, em seus estudos na África, que, apesar da
população com menor renda depender mais dos recursos naturais, a
população mais rica quantitativamente utiliza mais recursos naturais e
conseqüentemente é responsável por uma degradação ambiental maior. Este
autor conclui que a dependência dos recursos naturais não diminui com o
aumento da renda como era esperado

Na realidade a relação simbiôntica existente entre pobreza e degradação

ambiental demonstra o quanto é tênue a linha que separa ou identifica o que é causa ou efeito

um do outro, mas uma coisa resta pacífica, e estas são as graves conseqüências ao meio

ambientes advindas da pobreza, pois, certo é, que uma vez presentes as condições de miséria

de uma população, a degradação ambiental apresenta-se como resultado, sendo também vetor

de implemento desta mesma pobreza que a determinou.

Dentro deste contexto é observado que a fome crônica, é característica

marcante dessas populações, e, sobretudo vetor das condições que determinam o acréscimo

populacional, que por sua vez aumenta mais ainda a pressão sobre o meio ambiente.

20
BERNARDINO Daise. A pobreza como agente de degradação ambiental.Estudo disponibilizado no
site: http://pobrezaxdegradacaoambiental.wordpress.com/, acesso em 05-05-2009 .
33

Nas conclusões da Comissão Brundtland (Gros Brundtland – primeira-ministra

da Noruega), citado por FERREIRA21, fica claro que esta relação já é alvo de observações a

muito tempo.

O desgaste do meio ambiente foi com freqüência considerado o resultado da


crescente demanda de recursos escassos e da poluição causada pela melhoria
do padrão de vida dos relativamente ricos. Mas a própria pobreza polui o
meio ambiente, criando outro tipo de desgaste ambiental. Para sobreviver, os
pobres e os famintos muitas vezes destroem seu próprio meio ambiente:
derrubam florestas, permitem o pastoreio excessivo, exaurem as terras
marginais e acorrem em número cada vez maior para as cidades já
congestionadas. O efeito cumulativo dessas mudanças chega ao ponto de
fazer da própria pobreza um dos maiores flagelos do mundo.

A falta de conhecimentos que levam ao descarte de lixo de forma impróprio,

inclusive em rios e lagos, a fome obrigando a caça de animais, a inexistência de condições de

saneamento básico de grupos populacionais, exploração abusiva e sem consciência de

recursos naturais, desmatamento indevido, e um sem números de atos causadores de impactos

e danos ao meio ambiente, além e principalmente da total falta de ações mitigadoras para o

meio ambiente, são características marcantes da presença de populações pobres e miseráveis

em determinado ambiente.

As populações pobres sofrem além da mesquinha distribuição de renda, um

rápido crescimento populacional, devido a vetores anteriormente mencionados, fatos que

determinam uma relação com o meio ambiente totalmente contrária as políticas de

sustentabilidade que devem imperar na atualidade; assim, é possível observar que atividades

que no passado possuíam processos mitigatórios naturais oriundos do lapso temporal, vide

explorações de florestas para exploração de lavoura por lavradores nômades, na atualidade

não mais possuem o tempo para se recuperarem, visto que apesar das demandas sempre

crescentes para estes serviços ambientais, estas populações não conseguem alcançar um

padrão de vida razoável, o que acaba por dar continuidade a uma cadeia cada vez maior de
21
FERREIRA, Jorge. Degradação Ambiental e Pobreza, alvos do Milênio. Publicação da Brasil
sempre n.º 19, disponibilizado pela site http://www.insightnet.com.br/brasilsempre/numero
19/mat07.htm , acesso em 27-04-2009.
34

degradação rural do meio ambiente.

É possível verificar este mesmo processo de pressão ao meio ambiente, em

especial nas áreas de encostas de grandes cidades, pelo processo de surgimento de favelas,

que acabam, entre outras conseqüências, por aumentar as áreas de erosão além de criar sérios

problemas com o descarte de lixo, caracterizando um típico exemplo de degradação urbana.

De forma límpida é possível entender esta relação de degradação ambiental

advinda da pobreza, na declaração de ODD GRANN, Secretário Geral da Cruz Vermelha

Norueguesa, citado por Jorge Ferreira22, cuja reprodução traz os esclarecimentos necessários

ao assunto, demonstrando de forma simples a existência de uma relação de retroalimentação

entre as populações pobres que utilizam dos recursos ambientais, na maioria das vezes por

necessidade, e suas conseqüências, que acabam por determinam o exaurimento e degradação

ambiental advindas, assim é possível observar na referida declaração abaixo transcrita:

Se as pessoas destroem a vegetação para ter terra, alimento, forragem,


combustível, o solo perde sua proteção. A chuva produz escoamento
superficial, e se dá a erosão do solo. Quando já não há solo, a água não fica
retida e a terra não pode produzir alimento, forragem, combustível ou
madeira suficientes; então as pessoas buscam novas terras e recomeçam todo
o processo.23

Assim, a degradação ambiental verificada nas áreas habitadas por populações

que sofrem a tempos as condições advindas da fome crônica, são evidente; as altas taxas de

natalidade verificadas nestas populações desencadeiam problemas ambientais dos mais

diversos, que vão desde o descarte de resíduos de consumo e humano até o desmatamento de

encostas para construção de habitações, conforme é possível observar nas expansões das

favelas nos subúrbios das grandes cidades.

Contudo, necessário mais uma vez consignar que o vetor de crescimento


22
FERREIRA, Jorge. Degradação Ambiental e Pobreza, alvos do Milênio. Publicação da Brasil
sempre n.º 19, disponibilizado pela site http://www.insightnet.com.br/brasilsempre/numero19/
mat07.htm , acesso em 27-04-2009.
23
ODD GRANN, SECRETÁRIO-GERAL DA CRUZ VERMELHA NORUEGUESA - Audiência
pública da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Oslo, 24-25 de junho de
1985, em Nosso Futuro Comum, 1987.
35

populacional debitado a fome crônica não é o único a exercer pressão neste contexto, pois é

verificado fatores sócios econômicos que contribuem para que não ocorram medidas

mitigatórias necessárias; o que não é possível deixar de entender é que o crescimento de

populações submetidas a fome crônica é uma realidade e que as argumentações que debitam

este crescimento populacional única e exclusivamente a condições sociais, econômicas,

educacionais, falta de planejamento familiar, entre outras, focam em primeiro lugar apenas

nas conseqüências da falta da presença estatal junto a estas populações, que na realidade não

são causas e sim conseqüências, e em segundo lugar não consideram que na universalidade

destas populações existe uma coexistência de fatores a exercer pressão de degradação

ambiental, entre eles o fator de crescimento populacional, causa das grandes superpopulações,

a fome crônica.

3.4 INTERVENCIONISMO ESTATAL PARA O CONTROLE POPULACIONAL

O que se nota na maioria esmagadora é a prevalência de teorias neo-

malthusianas a respeito do crescimento populacional e por conseqüência as políticas

verificadas para o controle populacional baseiam-se que o controle populacional eficaz apenas

deve levar em conta planejamento familiar, mediante inclusive técnicas cirúrgicas se

necessário, distribuição de anticoncepcionais e políticas de controle migratório dentro de um

país.

Deste modo, as políticas existentes para o controle populacional em sua

maioria, para não dizer totalidade, consideram como causa do aumento populacional

verificado fatores como migração inadequada, falta de acesso a planejamento eficaz das
36

populações pobres, questões culturais e até mesmo beneficio dos filhos conforme a classe

social, onde verificou-se que nas classes mais pobres prole elevada significa maiores chances

de uma vida melhor, contudo apesar de diversos aspectos estudados e apontados nestas teorias

serem pertinentes, este não podem figurar como causa exclusiva e determinantes de políticas

de controle populacional, pois alem de representar uma visão malthusiana sobre a questão,

indicam atitudes imediatistas sobre o problema, que apesar de combaterem com até certo

êxito o crescimento populacional, não resolvem o problema, atacam as conseqüências e não as

causas, não consideram por exemplo que as altas taxas de natalidade (silenciam-se em relação

a fertilidade) das classes pobres (submetidas a fome crônica) possuem como reflexo do seu

contexto o que chamam de causas, como a necessidade de prole maior para melhorar

condições de vida, falta de informação, educação, etc..

As maiorias esmagadoras dessas opiniões baseiam-se em levantamentos e

dados em que o indicador fome crônica sequer é perquirido, como é possível observar no

brilhante trabalho sobre de Fundamentos éticos para uma política populacional ativa, de

Jacques Ribemboim, apresentado no XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da

ABEP (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS POPULACIONAIS).

A questão do crescimento tem se constituído em um problema sério para os


países hoje em desenvolvimento. Num mundo finito em seus recursos
naturais, o crescimento populacional e o crescimento do consumo tornam-se
os grandes desafios para os planejadores sociais que almejam o
desenvolvimento sustentável e o bem estar das futuras gerações. Como
veremos a seguir, um crescimento populacional rápido, sobretudo nos países
menos desenvolvidos e em desenvolvimento (onde vivem cerca de 80% da
população mundial) pode se tornar no principal obstáculo ao
desenvolvimento. Desde a sua origem, a espécie humana levou entre 3 e 4
milhões de anos para atingir uma população global de 1 bilhão de habitantes.
Isto ocorreu na primeira metade do século passado. Daí então, em pouco
menos de 100 anos a população humana atingiu seu segundo bilhão. Hoje a
população cresce em torno de 1 bilhão por década! De uma forma geral,
observando-se o passado e o presente, pode-se dizer que o crescimento
populacional acelerado além de gerar sérios problemas de
congestionamentos e de poluição, induz processos migratórios e contribui
enormemente para o inchamento das grandes cidades. Observe-se por
exemplo o fato de que a maior parte das cidades superpopulosas e
congestionadas encontra-se em países do Terceiro Mundo. Atualmente, 10
dentre as 12 maiores cidades encontram-se em países não desenvolvidos. A
37

Cidade do México com quase 26 milhões de habitantes concorre com a


Grande Tóquio para o título da maior região metropolitana do mundo. No
caso brasileiro, as regiões metropolitanas de São Paulo, com cerca de 16
milhões de habitantes, e do Rio de Janeiro, com 10 milhões, são exemplos
deste processo de urbanização rápida e desorganizada que caracterizou o
crescimento brasileiro dos últimos trinta anos.

Deste modo, é possível observar que constatações como: (a) um crescimento

populacional rápido, sobretudo nos países menos desenvolvidos e em desenvolvimento (onde vivem

cerca de 80% da população mundial); (b) Observe-se por exemplo o fato de que a maior parte das

cidades superpopulosas e congestionadas encontra-se em países do Terceiro Mundo; (c) atualmente, 10

dentre as 12 maiores cidades encontram-se em países não desenvolvidos; (d) Cidade do México com

quase 26 milhões de habitantes concorre com a Grande Tóquio para o título da maior região

metropolitana do mundo; (e) regiões metropolitanas de São Paulo, com cerca de 16 milhões de

habitantes, e do Rio de Janeiro, com 10 milhões, são exemplos deste processo de urbanização rápida e

desorganizada que caracterizou o crescimento brasileiro dos últimos trinta anos; em momento nenhum

levam em conta a existência da fome crônica como elemento condicionante de superpopulações, sendo

possível com clareza verificar a presença deste fenômeno social (fome crônica), mesmo que de forma

oculta, nestes exemplos, contudo não é sequer apontada sua existência, pois é encontrado na base

destas argumentações e pensamentos, que a fome e conseqüência e não causa.

Esta esteira de argumentações a lastrear políticas de controle populacional, se

faz presente a tempos nos trabalhos científicos e jornalísticos, como é possível indicar de

exemplo, entre tantos possíveis, encontrado no livro de LIEBMANN:24

A experiência ensina que entre as diminutas taxas de natalidade e de


mortalidade nos países industrializados vai s estabelecendo um equilíbrio, de
tal maneira que o crescimento populacional se vê reduzido a quase zero. Esta
situação pode ser acompanhada em quase todos os povos da Europa
Ocidental, bem como nos povos eslavos, o que indica um ritmo nítido
decréscimo da taxa de crescimento populacional. Além disso, com a
erradicação do analfabetismo está relacionada uma desaceleração do
crescimento populacional. Ao se alcançar um relativo bem-estar social e um
certo nível educacional, pode-se reduzir , a longo prazo o crescimento da
população.
Mas isto ainda não é suficiente para que se possa dominar o problema da
superpopulação terrestre. As medidas sociais acima citadas têm de, além
24
LIEBMANN, HANS.Terra um planeta inabitável? Da antiguidade até os nossos dias, toda a
trajetória poluidora da humanidade. Rio de Janeiro: Biblex, 1979. 180p.: pág. 153.
38

disso, ser acopladas a um planejamento familiar eficiente, o que depende da


disponibilidade sobre métodos anticoncepcionais. As experiências dos
sociólogos e dos higienistas nos países em desenvolvimento indicam que o
novo tipo de pessário intra-uterino é o mais adequado, ainda que, no entanto,
a sua aplicação exija a presença de auxiliares com formação médica
especializada. Programas a longo prazo poderão ser estabelecidos com a
ajuda internacional, só que terão de atuar a longo prazo, pois esse método de
planejamento familiar terá de abranger, só na indica, 500.000 vilarejos.
Em países com taxa de crescimento relativamente diminuta, ou seja, nos
países industrializados, terá de ser realizar, complementarmente, através da
aplicação de pílulas anticoncepcionais, uma correspondente redução do
crescimento populacional.

Na realidade, políticas sociais eficientes e duradouras vêm concomitantemente

a eliminação da fome crônica; deste modo, sendo tênue a linha que separa a eliminação da

fome crônica dos benefícios educacionais, higiênicos, culturais e de bem estar de uma

população quase sempre determina a exclusão deste vetor (fome crônica) nas analises

políticas de controle de natalidade, e ainda corroborando com esta exclusão vem o fato

relacionado a fome aguda, que é advinda de uma calamidade, e como anteriormente

mencionada é causadora de decréscimo populacional e normalmente é combatida com

medidas assistencialistas sem qualquer resultados a longo prazo, visto que inexistem políticas

eficientes e duradouras.

Quanto ao aspecto de controle de natalidade por métodos anticoncepcionais,

estes, uma vez presentes as condições educacionais e de acréscimos de renda (condições de

eliminação da fome crônica) são verificados quase que espontaneamente na população em

geral, como fruto de escolha e tornando-se um mecanismo eficiente, visto estar aliado a

elementos volitivos da população, restando as políticas publicas fomentá-las e disponibilizá-

las ao maior numero possível de pessoas, contudo esta mesmo fomento obteria pouco sucesso

caso apenas fosse fruto da imposição governamental.

Assim, a eliminação da fome crônica apresenta-se como fator primordial no

controle da natalidade e fertilidade de uma superpopulação, precedendo medidas de controle

por métodos anticoncepcionais, uma vez que a base para política de métodos
39

anticoncepcionais como controle, necessita da base social e econômica que caminha junto

com a eliminação da fome crônica.


40

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta breve análise é possível observar que o fenômeno fome, foi analisado no

transcorrer dos tempos apenas no seu aspecto mais visível, ou mais chocante, quase sempre

orientadas por teorias neo-malthusianas onde as superpopulações geram a fome em virtude

dos escassos recursos do meio ambiente de onde esta população encontra-se, teorias estas sem

respaldo científico, na maioria das vezes fruto de conclusões apressadas sobre o fenômeno

observado.

Na realidade é possível constatar e observar que desde os anos de 1950 foi

identificado que a causa das superpopulações verificadas no mundo e no transcorrer da

historia estão ligada ao fenômeno fome crônica que causa alterações do comportamento

sexual das populações submetidas a este tipo de fome, visto que ao contrário do verificado na

fome aguda, constata-se aumento da atividade sexual e da fertilidade destas populações,

fatores determinantes de altas taxas de natalidade e demográficas. (condições de natureza

psicológica e natureza fisiológica).

Assim a ligação do fenômeno fome crônica, aos problemas ambientais

advindos da existência de superpopulações é evidente, podendo ser analisado através das

próprias conseqüências ao meio ambiente, pois quanto maior a população, maior será a

pressão ao meio ambientes advindas do consumo desta população, e ainda maiores serão os

danos e impactos gerados por este consumo, se esta população for pobre e pobreza entendida

não apenas como insuficiência de renda, mas como um conjunto de privações múltiplas

abaixo de patamares considerados socialmente inaceitáveis, ou seja, uma população

submetida a fome crônica, como pode ser observado na Índia, África.

As políticas públicas de controle de natalidade utilizadas para tentar controlar o

crescimento demográfico verificado em certas regiões jamais levaram em conta o aspecto


41

fome como gerador de superpopulações, caminham na esteira das teorias Mathusianas e

indicam a aplicação de planejamento familiar, mediante inclusive técnicas cirúrgicas se

necessário, distribuição de anticoncepcionais e políticas de controle migratório dentro de um

país.

Apesar destas linhas de atuação ser até mesmo eficaz, este não pode figurar

como linha mestra de políticas de controle populacional, pois indicam atitudes imediatistas

sobre o problema não o resolvem, ataca as conseqüências e não as causas, como por exemplo,

indicam o que é reflexo das altas taxas de natalidade das classes pobres como suas causas,

como a necessidade de prole maior para melhorar condições de vida, faltam de informação,

educação, etc..

Deste modo, a eliminação da fome, sobretudo a fome crônica do mundo

apresenta-se como um dos aspectos que devem ser levados em conta para controle dos

problemas ambientais advindos de superpopulações, determinando assim uma menor pressão

ao meio ambiente.
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REFERÊNCIAS

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