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A MISÉRIA DO TRABALHADOR EM MARX (M.E.F.

)
Manuscritos Econômicos e Filosóficos (1844)
Primeiro Manuscrito (XXII - XXVI)

A miséria do trabalhador ocorre na medida em que o produto que ele


produz adquire maior valor que ele próprio. “Quanto mais valor ele cria, tanto
menos valioso ele se torna”.

O trabalho é a expressão da liberdade humana, no que se diz respeito à


transformação da natureza de forma a produzir objetos que tornem as atividades
humanas mais simples.

O trabalhador é alienado na finalidade que ele dá ao trabalho. Se o


trabalhador trabalha para si mesmo, o trabalho cumpre sua função de objetivar sua
vida ativa como espécie, pois é uma atividade livre. Mas quando o trabalhador
passa a produzir bens que não serão de sua propriedade, passa a trabalhar para um
outro, e esse outro é outro homem, que têm como característica principal o não-
trabalho, a finalidade do trabalho se torna o não-trabalhador, afastando a
característica que comprova o homem como ente-espécie, a atividade vital
consciente.

Em relação ao trabalhador, o trabalho enquanto expressão da liberdade


humana é como um ser para si, a autoconsciência de sua existência, como atividade
vital, garante sua própria existência. O trabalho alienado, no outro extremo, é
como um ser em si para o trabalhador, pois a finalidade não está em si mesmo, está
no outro, no não-trabalhador; sem o não-trabalhador este modo de trabalho
alienado não existe, ele só existe para o outro. O trabalho se torna alienado quando
é somente um meio e não uma finalidade. Nesse processo, “ao alienar sua própria
atividade, ele outorga ao estranho uma atividade que não é deste”, ou seja, a
produção e produto do trabalho passam a ser dominados pelo não-produtor, pois o
trabalhador “cria sua própria produção como uma perversão, uma punição, e seu
produto como uma perda, um produto que não lhe pertence”. Desta forma, é
consequência do trabalho alienado a propriedade privada, pois já que a produção e
o que o trabalhador produz não lhe pertencem, não fazem parte dele, devem ser
portanto uma propriedade de outrem, dos não-trabalhadores.

O trabalho é uma atividade humana genérica, sendo assim, quando


alienado, passa a a afastar do homem não só o que ele produz, mas a própria
característica que distingue o homem de animais, a atividade vital consciente.
Desta forma o trabalhador alienado perde inclusive sua superioridade sobre os
animais.

Se a alienação é consequência da propriedade privada, a atribuição de valor


de troca aos produtos, potencializada pelo capital, é consequência da alienação,
pois os produtos são produzidos com finalidade de troca, não de uso, tornando
todo o processo de produção alienado.

Se o trabalho como um meio é um trabalho alienado, então mesmo


trabalhadores que não colocam seu ato de produzir diretamente como propriedade
de outrem, ao venderem ou trocarem os produtos, o processo de produção passa a
ter a finalidade da venda ou da troca, não a finalidade de uso daquele objeto. O
trabalho vira só um meio para a venda ou a troca, que o caracteriza como alienado.

Se o trabalhador vende suas mercadorias para outro trabalhador, este que


embora em relação aos produtos comprados seja um não-trabalhador, precisa do
próprio trabalho para poder realizar esta ação, fazendo desta a finalidade do seu
trabalho.

O não-trabalhador, embora não seja alienado da sua própria atividade, e


domine a produção dos trabalhadores, não precisa do seu próprio trabalho para
viver, muito menos para sobreviver. Consequentemente, se ele não realizar seu
trabalho, ele é tão alienado quanto o trabalhador, pois apesar de por outra forma,
não realiza a atividade vital consciente que o torna ente-espécie.

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