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A Concepção marxista de História: O Auto-Movimento do homem no devir e a

sua ferramenta de apreensão da cotidianidade

A história não possui vida própria, não é subproduto de uma teleologia-transcendental e nem
de uma realidade fantástica dos céus que seja anterior (ou pretérita) ao surgimento dos homens,
mas o seu 'pulso-vital' subjaz única e exclusivamente no auto-movimento humano circunscrito num
devir historicizável, podemos afirmar que subjaz no auto-desenvolvimento omnilateral do ser social
enquanto homem-vivo munido de agir-télico, ou enquanto indivíduo re-efetivado, ativo e atuante no
alavancamento de si e de sua generidade enquanto ente-espécie, numa monta incessante explicitada
nas tendências histórico-universais resolutas em reduzir as barreiras naturais em um câmbio-
metabólico e sócio-vital ineliminável deste agente objetivante [o ser social] com a natureza e com
seu radical genérico o qual explicita-se pelo trabalho, na vindoura constituição da teia de relações
sociais e do modos de produção e até na elisão de formas societárias da vida imediata –que possam
vir se tornar obsoletas, que decaiam a subjetividade dos homens assumindo um caráter anti-
hominizante.

“O modo de produção da vida material imediata condiciona o processo de vida social,


política e intelectual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; mas ao
contrário, é o seu ser social que determina as formas de consciência. Em uma certa etapa de
seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição
com as relações de produção existentes, ou, o que não é mais que sua expressão jurídica,
com as relações de propriedade no seio das quais elas se haviam desenvolvido até então. De
formas evolutivas das forças produtivas que eram, essas relações convertem-se em entraves.
Abre-se, então, uma época de revolução social. A transformação que se produziu na base
econômica transforma mais ou menos lenta ou rapidamente toda a colossal superestrutura.
Quando se consideram tais transformações, convém distinguir sempre a transformação
material das condições econômicas de produção - que podem ser verificadas fielmente com
ajuda das ciências físicas e naturais - e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas
ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas sob as quais os homens adquirem
consciência desse conflito e o levam até o fim.” (MARX, 2008)
A história só existe a partir do movimento imanente do homem para consigo, i.e, do ser
social que possui auto-consciência de-si e engendra pôres-télicos igualmente imanentes em seu
processo mutatis-mutandis de subjetivação e de objetivação do mundo humano, onde este rearranja
os demais seres sob a conformação de valores de uso, mas outrossim, de cultura material do homem
para consigo, num processo perene de apreensão ideal do movimento real do objeto, onde
teoricamente, desvela-se por intermédio de um agir-histórico e mais ou menos consciencioso, a
apreensão e desvelamento do mundo exógeno ao ser social, donde para que este último não
sucumba, necessita repor-se incansavelmente e humanamente pela monta do trabalho, em sua
cotidianidade.

A história não é uma meta-narrativa mágica, gnômica, partida do Olimpo para os homens
'como uma benesse' concedida pelos deuses primevos, como imaginaram ser, por certo período
longínquo [ao fazerem sua Teodiceia] os gregos, em sua ancestralidade Pré-Homérica e fase mito-
poética a qual se deu durante expansão aqueia e de suas Talassocracias; só vindo esta forma de
concepção (imersa no imaginário mítico e gnômico) a ser superada, com a derrocada da velha forma
de narrativa mítica – contida nas Teogonias e Epopéias –, e com a consignação epistêmica de uma
forma nova de saber historiográfico, rompendo-se com a cosmogonia da primeira fase, sendo esta
nova safra de pensadores impelidos ulteriormente pela filosofia do cosmos, outrossim, pelos
adventos teórico-metodológicos, e quiça, eurísticos lançados pelas descobertas (ainda que tímidas)
de um historiador de campo de batalhas, como Heródoto e antes deste, desnudadas por seu mestre,
Hecateu de Mileto[1].

A história como dito acima, não é uma 'entidade reveladora' descolada da imanência do
homem vivo e de seu movimento imanente para-si, como o fora por séculos o daimon revelador de
Delfos, expresso na pitoneira de Atenas e em suas sacerdotisas, nem é uma névoa povoada por
características divinas e diabólicas; ela não é 'o Espirito de Apolo' que paira sobre seus filhos e
baixa ou carna no sófos/σοφός:.(sábio) ou homem de letras, mas ela também não é uma ciência
fria, positiva e econométrica, expressa por métodos meramente empíricos, gráficos, curvas
parabólicas ascendentes e leis naturalmente invariáveis, equiparadas às leis naturais da física
[física-social], como postulou o burlesco e reacionário Positivismo de Comte, que em seu “Curso
de filosofia positiva”, apregoa:

“Para explicar convenientemente a verdadeira natureza e o caráter próprio da filosofia


positivista, é indispensável ter, de início, uma visão geral sobre a marcha progressivado
espírito humano, considerado em seu conjunto, pois uma concepção qualquer só pode ser
bem considerada por sua história peculiar. Estudando, assim, o desenvolvimento total da
inteligência humana em suas diversas esferas de atividade meta-sensíveis, desde seu
primeiro voo mais simples até nossos dias, creio ter descoberto uma grande lei fundamental,
a que sujeita por uma necessidade invariável, e que me parece poder ser solidamente
estabelecida pelo primado da ciência positiva, quer na base de provas racionais fornecidas
pelo conhecimento positivo de nossa organização, quer na base de verificações assertivas
históricas resultantes dum exame atento do passado. Essa lei invariável consiste em que
cada uma de nossas concepções principais, cada ramo de nossos conhecimentos, passa
sucessivamente por três estados históricos diferentes: estado teológico, estado metafísico e o
estado superior governado pela razão, o estado positivo e científico.” (COMTE, 1857)
Outrossim as fontes e dados não são desprezíveis; elas constituem parte ineliminável e
importante da pesquisa em história, mas elas não falam por-si, não são uma 'unidade de contexto'
que possua uma 'grande autoridade e autonomia' perante o agir historiográfico, elas não possuem
força própria e um valor todo especial e imaculado, algo validativo per se o qual possa substituir e
dispensar a metodologia e a eurística historiografica sublimando [a teoria da história real e seu
amalgama teórico-metodológico] ou passar-se enquanto tal, como uma Nêmesis espelhada do que é
a história de fato: uma ciência viva do auto-movimento do homem em seu devir humanizado, pois,
obnubilar o peso das categorias [como a do Trabalho] das possibilidades e das causalidades e efeitos
deslidados do homem e de seu sociometabolismo posto pelas relações imanentes de produção, tal
como, postulam os positivistas e a heterogeneidade dos componentes ativos e histórico-validativos
que dimanam de seu horizonte “acaba por sacrificar a diferença do desenvolvimento dos distintos
dos complexos que reproduzem a base ontológica do complexo do Trabalho à uma visão retilínea
[predestinada] e monolítica” (TERTULIAN, 2007, p. 227)

Quanto à unidade de contexto, Bardin a define como “unidade de compreensão para


codificar a unidade de registro”, cujas dimensões devem ser ótimas e amplas para “que se
possa compreender a significação exata da unidade de registro”. Traduzida historicamente,
a unidade de contexto diz respeito à totalidade do “contexto histórico”, às estruturas sociais
e/ou ao universo simbólico no qual se insere(m) o(s) discurso(s) analisado(s). Trata-se de
uma unidade “arbitrária”, posto que extratextual, que somente o historiador pode
determinar, conforme suas opções teóricas, suas escolhas temáticas e suas hipóteses de
investigação. Numa avaliação de conjunto sobre a validez dos métodos de análise (...)
convém reiterar as reticências já mencionadas quanto ao uso e abuso de procedimentos
quantitativos. O problema, cabe frisar, não é quanto à consistência desses métodos em si
mesmos, mas quanto à sua real produtividade. (FLAMARION, 2009)

A história não é o feito de seus grandes heróis, não é a exortação da imagem dos donos do
poder 'esculpida em mármore' pelo trabalho compulsório de um hilota, não é um busto cinzento
empedernido no meio da praça durante o sol do meio-dia – busto este que nem mesmo os pombos
ousam respeitar – , não é aquilo que está representado sob a forma de monumento aos militares,
inerte e petrificado no imo dos grandes centros urbanos sob a forma de grandes generais-estátuas os
quais viriam a ser imortalizados em concreto armado, metodicamente analisados nos relatos da
história maçante da vida privada, por biógrafos e curiosos de outras subáreas os quais tentaram alçar
suas narrativas mirabolantes, sem metodologia e epistemologia, passando-as com 'ares' e estatuto
de uma nova modalidade de história oficial.

A história não é o tecido encardido da veste encanecida de um brigadeiro, conservado com


naftalina e outras químicas em um museu militar de esquina ou em algum mausoléu, mantido em
segurança como pedaço intocável de um tempo de outrora contra os seus mais novos inimigos da
contemporaneidade, que não são mais as baionetas, as balas e os sabres inimigos, mas os fungos e
as traças.

Ela também não é a fotografia em preto e branco de época dos 'barões do café' a qual retrata
um oligarca abastado do século XIX em pose circunspecta, emoldurada em um painel suspenso,
precisamente dissecada pelo olhar curioso de um anatomista do jornalismo, a fim de desvelar-se do
visual de época, ao expressionismo facial do retratado, outrossim, os pensamentos denotados em
suas 'grandes ideias' para extrair mais Mais-valor absoluto do imigrante desterrado na lavoura de
café, passada como monta empreendedora explicitada no enrolar do bigode de uma carranca sisuda;
e no mínimo franzir de testas, o qual em outras produções deploráveis, talvez rendessem um
“intestino preso” em algum capítulo jocoso em algum Guia Politicamente Incorreto.
Ela não é a miscelânia de detalhes descritos como 'importantes velharias' que 'contam
muito' a respeito sobre uma determinada personalidade de época ou sobre alguém proeminente,
outrossim, a história não é os 'grandes feitos' in situ, desenvolvidos no calor de um momento
marcante, como as 'magníficas manobras náuticas de Nelson' nas grande batalhas navais de
Trafalgar, não é o discurso político de determinada persona num determinado momento histórico e
nem as demais espadacharias inócuas de teor preciosista inseridas com algum propósito
irremediável em uma linha do tempo com começo, meio e fim, a qual descambará, invariavelmente,
no ínterim capitalista – presumindo este tipo de 'pesquisador' ser capaz de explicitar com tais
elementos figurativos e giros linguísticos, sua veracidade epistêmica e “rigor científico”, enquanto
historiador.

Os rumos e destinos da história não podem ser previstos, mas seguindo o itinerário da
historiografia hegemônica/burguesa, parecem estar muito bem adequadas às predestinações da
ordem vigente do Capital (como tentou apregoar a perspectiva vulgar da "teoria do grande homem"
de Carlyle [2]), a qual só exaltou os grandes feitos das classes dominantes sob motes heroicos
revivendo personagens de outros sob as perucas de talco, conjurando em suas narrativas a velhas
Epopéias e os mitos de outrora, mas agora, sob os uniformes dos generais da burguesia e sob os
olhares atentos dos grandes industriais modernos numa exortação das personalidades de época,
umas abjetas e outras mais ou menos heróicas para a Burguesa.

Foi assim que Ulisses ganhou uma segunda vida em Nelson, que o Enéias de virgílio fora
revivido em Robespierre e Marco Aurélio voltou a figurar como imperador-filósofo no odiável
Frederico II da Prússia, tudo metodicamente esquematizado e adequado às especifidades do ínterim
burguês e às concepções de cosmos da classe hegemônica, ademais, à ideologia de Estado da
Burguesia e aos discursos dos “grandes homens” do seculo XIX, os quais eram burgueses por
convicção, essência, cidadania e ética, e o que era mais importante: por civilidade, até mesmo antes
do Capitalismo vicejar, afundindo-se tal tipo de metanarrativa e de interpretação escatológica no
“derradeiro destino final da história no século XX” : O Capitalismo, com a burguesia enquanto
classe heroica, com o moinho a vapor e agora, todos irmanados e coroados com uma láurea e, para
as classes dominadas o jugo de ferro do sobretrabalho e o suor de betume que pingava dos dedos,
em meio às frases latinas, aos pilares de 'gesso estapafúrdio', aos capitólios da repartição dos tr~es
poderes, que tentavam imitar como réplicas mal-emuladas na Caverna das formas de Platão, os
bastiões de outrora de uma Grécia já inexistente e da gen. Roma, mas ao som dos pianos de Liszt e
das trovoadas de Wagner, em meia à perucas e aos sopros vitorianos de moralidade, envolto por
promessas vazias de prosperidade, que como de praxe, desaguavam no modo de produção vigente
capitalista como senda inescapável e irremediável do homem de 'novo tipo' o qual irrompera com
baionetas e feneiras o ventre desnudo da já nauseabunda ordem monárquica e do modo de produção
feudal, tal como também eram inescapáveis as relações de produção vigentes e o corriqueiro ethos
burguês-cidadão e a vil e competitiva ''essência humana'', algo não muito original, mas já bastante
batido e repetido por todos os tributários da velha metafísica contratualista Hobbesiana do século
XVI. Ao contrário desta perspectiva, o falecido mestre Ciro Flamarion analisou em sua contribuição
aos “Domínios da História”, que:

O pressuposto essencial das metodologias propostas para a análise de textos em pesquisa


histórica é o de que um documento é sempre portador de um discurso que, assim
considerado, não pode ser visto como algo transparente. Ao debruçar-se sobre um
documento, o historiador deve sempre atentar, portanto, para o modo pelo qual, através do
da analise, se apresentará o conteúdo histórico que pretendeu examinar, quer se trate de
uma simples informação, quer se trate de ideias. Especialmente no caso de pesquisas
voltadas para a história das ideias, do pensamento político, das mentalidades e da cultura, o
conteúdo histórico que se pretende resgatar depende muito da forma do texto: o vocabulário,
os enunciados, os tempos verbais etc. (…) No entanto, todo o cuidado é pouco quando se
trata de aproximar linguística e história. Ainda no domínio da historiografia francesa,
Alphonse Dupront radicalizou as preocupações de Febvre em relação à linguagem e propôs,
em 1969, uma “semântica histórica” como único caminho capaz de conduzir o historiador a
desvendar o mental e o irracional dos comportamentos coletivos. A “semântica histórica”,
irmã gêmea de uma espécie de psico-história, deveria embasar uma crítica radical de toda a
historiografia para iluminar o pânico, o sublime, o marginal etc. Não tardaria muito para
que outros levassem ao extremo a importância da linguagem e, inspirados em Saussure,
Foucault ou Hayden White, questionassem a capacidade explicativa da história, reduzindo a
disciplina a um gênero narrativo ou tornando-a prisioneira de estruturas discursivas.
(FLAMARION, 2009)
Se não isso explicitado acima, o que é a história? A história é a apreensão da
processualidade imanente e totalizante do cosmos pelo indivíduo que o transfigura por intermédio
do Trabalho, i.e, do movimento auto-dinâmico e télico do homem em sociedade para consigo,
outrossim, é o agir-télico, a prévia ideação que antecede o ato objetivante e a própria faina a-
temporal deste mesmo homem, subscrito em um procedimento causal de relações sociais ou
processualidade de longa duração: “toda produção histórica é apropriação da natureza pelo
indivíduo, no interior de e mediada por uma determinada forma de sociedade” (Marx, 2011: 43).
Este agir-télico e processualidade são notados em qualquer coletivo de indivíduos pelo mundo dos
homens, datados ou não, circunscritos no espaço (em que habitam) e no lapso temporal em que
duram.

Na socialidade destes homens descritos acima, esta expressada a ação coletiva do homem
que faz a história, outrossim, ela está expressada no alavancamento do ser gregário à etapa superior
resoluta no ser social, está epigrafada nos murais de pinturas rupestres, nos aquedutos erigidos pelo
desfrute do trabalho humano expresso pela luta de classes, está explicitada na consignação de um
determinado Modo de Produção determinado, adaptado a auto-reposição da vida imediata humana,
tal como circunscreve-se como sendo a apreensão do câmbio metabólico nas mais variegadas e
determinadas formas de sociedade.
É por intermédio de uma suprassunção de si e para si [3] da socialidade primeva do homem
enquanto indivíduo subjetivado e ente-espécie, que segundo Gordon Childe em seu, 'O que
aconteceu na História' [4] se conformam-se e aglutinam-se societalmente novas chaves eurísticas e
nexos de causalidade que permitem o ser social fazer história, esta socialidade intrínseca originária
do trabalho e da produção artesanal de ferramentas é o que elenca uma série de fatores e
causalidades que levam a generidade do homem a despontar em uma fase superior, onde estes
mesmos homens, por intermédio destes atos omnilateralizantes, erigem uma socialidade ulterior em
moldes e formas superiores às preteridas, os quais denotam uma ruptura sociometabólica,
continuidades e adventos, com denotado na passagem da fase de selvajaria primeva ao modo de
produção tribal e aldeão.

É por meio desta inter-relação do homem com sua generidade e com a natureza, que denota-
se um salto qualitativo e ontológico à uma forma societária mais dinâmica e promissora: com o
aldeamento no Neolítico [por meio da Revolução Neolítica] e com a posterior conformação das
Cidades-Estado, no Modo de produção Palatino/Asiático, explicita-se uma aufhenbung da forma
anterior evidenciando [como posto acima], rupturas com as formas preteridas, mas outrossim,
continuidades, aprimoramentos e assimilações que por último, denotam uma forma de superação da
forma anterior.

“mostra-se desde o princípio, uma conexão materialista dos homens entre si, conexão que
depende das necessidades e do modo de produção e que é tão antiga quanto os próprios
homens – uma conexão que assume sempre novas formas e que apresenta, assim, uma
‘história’(...)” (MARX & ENGELS, 2007: 34)

Tal processualidade supracitada pode ser considerada uma apreensão da totalidade mutatis-
mutandis do indivíduo e da ação humana em interação sociometabólica com o cosmos, mas pari
passu que é uma ação-télica, é também neste auto-movimento onde denota-se os nexos causais para
uma ontologia do ser social, em especial quando averigua-se que só por meio da redução dos
entraves naturalmente postos é que o homem hominiza-se, civiliza-se, consigna às formas
originárias de acumulação de capital e progride na história. Para compreendê-la [a história como
Ontologia do ser Social] é preciso partir de tal itinerário: as civilizações e os modos de produção se
desenvolvem circunscrevem na história 1) por intermédio de um salto ontológico de uma qualidade
inferior de ser/e socialidade à outra superior por intermédio da hominação e de uma aufhenbung, 2)
por intermédio do primado ôntico do trabalho como atividade vital e fundante de um
sociometabolismo específico o qual sobrepões-se aos demais complexos e que, portanto, funda a
espécie humana (inerente à sua hominação) mas sobretudo, sendo este trabalho o câmbio vital entre
homem e natureza donde gera-se valores de uso, o autoctonismo, os ardis do espírito inventivo, a
ação catártica humana e, em suma, um devir-humanizado, 3) é por meio da luta de classes e das
revoluções como motor revolvente da história [sendo esta última, a força galvanoquímica da
história] que o progresso civilizatório se perfaz, indicando as revoluções rupturas essenciais com as
formas preteridas e já des-efetivantes de socialidade, que tornaram-se reacionárias e anti-
hominizantes, algo expressado na categoria de suprassunção das formas inferiores de socialidade
existentes, por outras societalmente superiores.

Se causas mecânicas ou fisiológicas, desligadas do curso geral do desenvolvimento social,


político e intelectual da Itália no Renascimento, tivessem causado a morte de Rafael,
Michelângelo e Leonardo da Vinci em sua infância, a arte pictórica italiana teria sido menos
perfeita, mas a tendência geral de seu desenvolvimento na época do Renascimento não teria
sido diferente. Essa tendência não foi criada por Rafael, Leonardo da Vinci ou
Michelângelo: eles foram apenas seus melhores representantes de seu tempo. É verdade que
em torno de um homem genial se forma geralmente toda uma escola, cujos discípulos
procuram imitar até os menores detalhes do mestre; por isso, a lacuna que Rafael,
Michelângelo e Leonardo da Vinci teriam deixado, com sua morte prematura, na arte
italiana do Renascimento, teria exercido grande influência sobre muitas particularidades
secundárias na história. Mas essa história não se teria modificado, essencialmente, se,
devido a certas causas gerais, não se tivesse produzido uma mudança fundamental no curo
geral da totalidade do desenvolvimento intelectual humano, na Itália. (PLEKHANOV, O
Papel do Indivíduo na História)

A História é, portanto, o auto-movimento do homem num devir urdido a sua


verossimilhança [portanto num devir também humanizado]; a assimilação, entificação e
compreensão do movimento real & imanente dos demais seres físicos que estão em interação sócio-
vital com o homem mesmo, este movimento é abstraído pelo ser objetivante de sua socialidade.
Esta objetivação do devir do homem está resoluta na criação da cultura material e espiritual de um
tempo, outrossim pelo trabalho concreto; visto que pari passu que este homem hominiza a si (por
intermédio deste último) ele reduz, de forma sistemática os entraves naturais do mundo natural,
transformado a physis onde o homem primitivo habitou de forma rudimentar em um mundo
humanizado, na pólis e etc. Da qual passa a jorrar o elencamento de novas funções societárias
muitíssimo mais complexas e antes não existentes [em uma fase inferior] as quais servirão às novas
necessidades sociometabolicamente postas pelo no indivíduo histórico em uma etapa superior, estes
novos ardis adaptados por intermédio do trabalho à fruição do indivíduo-histórico e societalmente
hominado, edifica demais complexos da vida espiritual humana, antes inexistente numa etapa de
barbárie ou selvajaria, de modo que a projeção ideática e espiritual de um tempo, artística, política
e, em suma, pertencentes ao complexo da ideologia, refletem o cambio material do homem e sua
base produtiva ou, em ultima instância, ainda que de forma dialética, o complexo do trabalho;
medeia e determina o movimento do indivíduo na história e sua subjetivação – seu auto-movimento
–, sendo a linguagem, a escrita, em confluência semiótica com este complexo, os subprodutos
melhores acabados do complexo basilar ou nevrálgico, que subjaz no trabalho:

(...)superação da mudez meramente orgânica do gênero, sua continuação no gênero


articulado, em desenvolvimento, do ser humano que se forma enquanto ente social, é –
considerada desde um ponto de vista ontológico-genético – o mesmo ato que o do
surgimento da liberdade e da história. (LUKÁCS, 2004, p. 187)

A história não possui forças próprias que a auto-engendram, como se fosse ela 'o demiurgo
que pariu o homem como um subproduto seu', mas é exatamente o seu contrário: o homem que é o
indivíduo historicizante e historicizador per se, é ele que possui forças próprias, dele que jorra a
historicização ontopratica de seu movimento na história, e como tal, é o homem vivo que engendra
a história de si, que cria a história de si enquanto homem recomposto pelo trabalho; noutros termos,
ele que cria a história como ferramenta semiótica, ele que possibilita si mesmo compreender o seu
auto-movimento em sociedade e no devir, a história, neste termos, é uma ferramenta de
compreensão do homem, feita por ele e para ele. É esta última que parte dele para sua generidade e
não, vice-versa. A história só pode ser concebida enquanto um subproduto imanente do auto-
movimento teleologicamente posto pelo homem. Asserção similar é aquela feita por Marx, em sua
"A Sagrada Família", onde diz:

A história não faz nada, ela "não possui nenhuma riqueza imensa", "não trava nenhuma
batalha". É o homem, o homem vivo e real, que faz a tudo isto, que possui esforços
intelectuais e materiais e [que por via destes] luta; a "história" não é uma pessoa à parte,
que usa o homem para seus próprios fins particulares; a história nada é senão a atividade
do homem que persegue seu objetivo e o transforma em realidade concreta.

A história humana é a um só tempo a ação do indivíduo no espaço e tempo, donde é o


trabalho humano a pedra de toque que salta aos olhos, denotando-se a apreensão real do objeto
mesmo e uma reprodução ideal da individuação do homem no devir, compreende-se a história do
homem e o movimento real do ser social em confluência com o mundo natural e, ademais, em sua
cotidianidade: a história passa a ser a expressão teorizada do salto ontológico expressa em
compêndios que delineiam com precisão ontológica o movimento do homem no cosmos, em suas
entrelinhas, ela demonstra essa autopoiesis ontológica, onde explicita-se pela escrita e pela a
apreensão da cultura material decodificada este elencamento de agires-télicos societalmente postos,
as causalidades dele oriundas, outrossim, as alterações qualitativas deste agir no devir social.

"Não há até o presente uma história da ontologia. Essa lacuna, porém, não é uma carência
fortuita da história da filosofia, mas está estreitamente vinculada ao caráter obscuro e
confuso da ontologia pré-marxista. Os fundamentos sociais do pensamento respectivo de
cada época, incluído o problema das formas privilegiadas de objetividade, dos métodos
predominantes etc., só foram investigados criticamente, de maneira excepcional, em especial
em tempos de crises agudas, durante os quais a tarefa principal parecia ser a refutação
eficaz do adversário, em geral o poder do pensamento do passado, insuficiente na nova
realidade, mas não a descoberta das causas sociais de seu ser-propriamente-assim
[Geradesosein]. (Descartes e Bacon em sua relação com a escolástica.) A difusão da
filosofia e das pesquisas científicas trouxeram à luz do dia uma massa enorme e inesperada
de saber sem, entretanto, referir-se na maioria dos casos às questões, aqui emergentes, por
nós afloradas. Temos conhecimento, por exemplo, da hipótese heliocêntrica de Aristarco,
que não teve qualquer influência sobre a ciência e a filosofia e, não obstante, as causas
sociais desse fato não foram nem sequer discutidas. Não é possível tentar aqui, com poucas
alusões, recuperar o que até hoje não se fez, de modo que nos limitaremos a indicar
brevemente algumas questões básicas desse círculo de problemas, limitando-nos ao nível
geral dos puros princípios. Antes de tudo, vida cotidiana, ciência e religião (teologia
incluída) de uma época formam um complexo interdependente, sem dúvida frequentemente
contraditório, cuja unidade muitas vezes permanece inconsciente. A investigação do
pensamento cotidiano é uma das áreas menos pesquisadas até o presente. Há muitos
trabalhos sobre a história das ciências, da filosofia, da religião e da teologia, mas são
extremamente raros os que se aprofundam em suas relações recíprocas. Em virtude disso,
resulta claro que justamente a ontologia se eleva do solo do pensamento cotidiano e nunca
mais poderá tornar-se eficaz caso não seja capaz de nele voltar a aterrar – mesmo que de
forma muito simplificada, vulgarizada e desfigurada. Tentaremos mostrar, (...) a maneira
como a ciência ascende a partir do pensamento histórico e da práxis omnilateral da
cotidianidade, e em primeiro lugar, do trabalho, e sempre a este retornará, fecundando os
demais complexos da vida humana.'' - (LUKACS, 2012)

A descrição essencial da imanência, a abstração, a extração dos nexos constitutivos e o


elencamento de pôres-teleológicos que consideram a totalidade do objeto dissecado em interação
socio-vital com o homem profano – sendo este o único demiurgo da imanência possível –, seu
delineamento fidedigno, livre de mistificações figurante na prévia-ideação de um arranjo
objetivante, denotam uma metanarrativa superior, profundamente intercedida por uma episteme de
novo tipo, criada por ele [o sujeito da história]; sua forma de empreendimento se interliga ao
ordenamento metodológico e científico de uma concepção ontológica do arranjo societal acoplada à
descrição dos complexos societais de um tempo.

A pesquisa factual e factível do movimento imanente do homem deve sempre expressar sua
a práxis viva, i.e, o auto-movimento do homem precisamente delineado no alicerçamento das
formas societárias até hoje experienciadas e existentes, tal como a entificação das formas histórica
pelas quais se objetivaram os variegado modos de produção e relações de trabalho de um ínterim
específico. Eis o que denominamos de história. Ela deve estar livre de reminiscências metafísicas do
além-plano ou de concepções mitológicas, mecanicistas e vulgares, como também, dos
desvirtuamentos lançados pelos empiriocriticistas, (como os que ganharam vultos com o
Positivismo) ou naquelas que a reduziram a punhados de dados econométricos, ou mesmo naqueles
que exortaram, outrora, os grandes feitos das classes dominantes – como ficou evidenciado com a
concepção de Carlyle –, que expressaria por meio de metanarrativas da “história historicizante”
acerca dos grandes homens e de seus feitos, a negação dos pressupostos ônticos, elencados em outro
momento, acima, (em nossa definição sobre o que é história) em nossa clara proposição de uma
historiografia marxista, comprometida com o proletariado e com a ontologia a qual se norteia pela
crítica da economia-política, voltando-se [esta forma de história] para a analise sistemática das
formas de trabalho, da acumulação de capital e dos modos de produção originários [assim como do
atual] que coexistiram e até hoje são elementos de debate. Nesse itinerário, identificamos esta forma
de fazer história como crítica-crítica da história humana ou como história onto-crítica.

“No começo do século o panorama da historiografia era dominado por uma concepção,
herdada do Século XIX, denominada de “história historicizante” (Henri Berr), ou “história
episódica”(...) Segundo esta concepção, a missão do historiador consistiria em estabelecer –
a partir dos documentos-- Os fatos históricos, coordená-los e, finalmente, expô-los
'coerentemente'. Os “Fatos históricos” seriam aqueles fatos singulares, individualizados,
que “não se repetem”; o historiador deveria reconhecê-los todos, objetivamente, sem optar
entre eles. Seriam encarados como matéria da história, que já existiria nos documentos,
antes do historiador ocupar-se destes. Sua coordenação em uma cadeia linear de causas e
consequências constituiria a síntese, a apresentação dos fatos estudados: fatos quase sempre
políticos, diplomáticos, militares ou religiosos, muito raramente econômicos ou sociais.
Obviamente, a realidade do funcionamento deste modo de fazer história não correspondia à
visão que os historiadores de então temente elaboradas no curso dos séculos para servirem à
crítica externa e interna dos documentos, seguros do conjunto de regras de seus métodos, em
geral, eles estavam longe de perceber que os famosos “fatos históricos”, supostamente uma
realidade exterior e substancial que se impõe ao pesquisador eram, antes de tudo, uma
criação deste, que embora não se evidenciassem, explícitas, uma teoria explicativa ou
hipótese de trabalho, nem por isto, deixavam de existir –e determinavam a seleção do objeto
e dos documentos; e elaboração dos “fatos” a partir de tais testemunhos e sua exposição
ordenada. Uma concepção transcendente e metafísica da história do movimento histórico –
claro que implícita e nunca mencionada-- era o critério para definir cada fato como
“histórico ou não”, e era o que permitia “saltar” de um fato para outro, assim compondo
um texto ordenado. A “imparcialidade” ou “objetividade”do historiador positivista era,
pois, um mito(...)” (FLAMARION, 1983, pp-22)

Já a história natural é a compreensão humana da ontogênese do ser-natural, de suas


transformações qualitativas físico-químicas, anatômicas, geo-espaciais e etc em outras categorias e
qualidades de ser, outrossim, representa a expressão da característica mutatis-mutandis da physis,
por si mesma sob a influência intransponível das forças naturais; está expressada em compêndios do
início da Renascença e de depois dela, durante o Iluminismo, um dos mais famosos do qual se tem
notícias, se arrola durante o final do século XV, com Pico de La Mirandola com seu “A Dignidade
Humana” mais tarde a concepção de homem-integral , o qual é um ser humano, mas também um ser
natural, seria revivida por Bento de Espinoza em sua Ética, em Descartes em seu Discurso do
Método, em Francis Bacon em seu Novum Organum, tal como também aparecerá nos escritos de
Denis Diderot, em sua Enciclopédia, em Rousseau em sua Botânica e no Do contrato Social, em seu
Emílio e até mesmo na pena de seu arqui-rival Voltaire, o qual via os vínculos do homem com a
natureza (ao contrário de Rousseau) de uma forma nada lisonjeosa, tal como explicita em seus
Tratados de filosofia e no Dicionário Filosófico:

"Todos os homens possuem instintos, prazeres; e o instinto específico de sua forma


humanizada. Quando é o homem fortalecido pela razão, esta leva-o à sociedade e à
civilização, tanto quanto à comida, à bebida e à diversão fazem parte deste itinerário. No
entanto, quando fortalecido pelos vícios de outra natureza, este leva-o somente à vilania, à
animalidade e ao regozijo."

Essa compreensão do ser (natural) por outro tipo de ser ontologicamente superior (o ser
social), denota a compreensão do homem acerca daquilo que Lukács denominou de salto
ontológico do ser inorgânico ao orgânico e do orgânico ao social (mas também vice-versa), como
ocorre no caso dos fósseis e do petróleo, onde uma condição de ser decai a outra primordialmente já
existente e suplantada. Elas estão resolutas e epigrafadas na análise científica da cosmologia na:
Astronomia, Astrofísica, Geologia, Paleo-antropologia, na Biologia, na Fisiologia e etc. Portanto
compreende-se a história natural desvelando a totalidade do ser inorgânico e orgânico, seus
complexos naturais, sua causalidade no cosmos e as modificações da physis decorrentes nos seres
primevos [de matriz inorgânica] e anteriores ao aparecimento do homem, tal como o fizera pela
primeira vez os Milésios, Eleatas – e de forma melhor acabada – [ainda que insuficiente], os
Atomistas, que de forma rudimentar, quando o conhecimento humano ainda carecia de elementos
eurísticos para a compreensão epistemológica acerca do cosmos, engendraram grande empresa no
desvelamento da arché/ἀρχή de tudo que existia.

Este processo era unicamente abstraído de forma conscienciosa pelo lógos (em Grécia), mas
desde Xenófanes, na crítica aos seus compatriotas da Jônia[5], este já desconfiava que o único ente
capaz de engendrar obras de arte e a compreensão dos elementos através da entidade inequívoca de
um deus uno, era homem, pois rompendo com a concepção de teodicéia pretérita e com o
antropomorfismo religioso [sendo visto por muitos milésios como um reformador religioso], disse
que aquele único ser que possuía a capacidade e a facultação da apreensão da totalidade – da qual
fazia parte e estava adstrito – , era o homem e que por isso, criava deuses à sua imagem e
semelhança, que tinham não somente o lógos, mas outrossim, comandavam a extensão organica da
mente tal como os homens, que eram: as mãos. E que, portanto, se os bois tivessem mãos, teriam
também raciocínio e logo esculpiriam também os seus deuses em sua imagem e semelhança.

Enquanto ser biológico, o ser humano é um produto da evolução natural. Com sua
autorrealização, que, naturalmente, também nele mesmo pode significar um retrocesso dos
limites naturais, mas nunca o desaparecimento, a plena superação desses limites, o ser
humano ingressa num novo ser [historicamente auto-feito] e por ele mesmo fundado: o ser
social (LUKÁCS, 2004, p. 102)

Portanto, traçando as diferenças entre a história humana e a história natural, concluímos que
a história humana é a apreensão da alteração humana qualitativa do devir e de si, a descrição
historiográfica, abstração metodológica e a práxis viva que por meio do ato histórico entificada e
explicitada no auto-movimento do homem que faz [e se insere nessa processualidade], livre de
reminiscências metafísicas do além-plano. Já a história natural é a compreensão humana e dialética
da ontogênese do ser natural num devir natural, outrossim, de suas transformações qualitativas
físico-químicas, nas cadeias anatômicas, complexos geo-espaciais e Etc. Anteriores [ou inerentes]
ao surgimento do gênero humano.

Somos infinitos enquanto matéria dissipada pelo cosmos, enquanto cinzas estelares,
enquanto parte do solo o qual voltaremos a compor. Enquanto seres orgânicos, tal como as trilobitas
imortalizadas em calcário, somos eternos enquanto fragmentos ósseos fossilizados em forma de
pedra por bilhões e bilhões de anos, ademais, enquanto parte do cosmos moída e pulverizada pela
intrepidez do movimento perpétuo das placas tectônicas, dos ventos e das marés. Somos seres
físicos enquanto partículas compostas por átomos, enquanto cacos de matéria estraçalhados em
nano-particulas mais diminutas que um grão de areia, esporuladas impiedosamente por um pneuma
revolvente desprovido de sentido mítico, de telos ou de razão pelos quatro cantos do cosmos.

Mas não somos eternos enquanto seres orgânicos; enquanto seres orgânicos somos
limitados a um devir mui curto, somos tão relevantes perante o cosmos, perante à biologia e à física,
quanto uma anêmona, ou uma planária. As forças imanentes da physis desconhecem e não se
abespinham com complexidade neuronal, com um tele-encéfalo desenvolvido, com um movimento
articulado de pinça nos polegares, com a relevância ética, com atividade racional, com um
metabolismo complexo, sentimentos, ela também "não se vinga", "não é onisciente", ou "dá lições
de moral". Ela é simplesmente uma natura naturalis da qual falou Francis Bacon em Novum
Organum. Ela existe de maneira implacável e indiferente enquanto morada do ser orgânico que
subjaz em cada homem pari passu que é um calvário da organicidade deste mesmo ser, ela é o sopro
da vida, mas também a sombra da morte: o cosmos é a moenda perpétua de tudo o que nele está
contido e dele faz parte. Existe enquanto força transmutadora dos elementos e dos seres pelo qual
expresa-se, seres autodinamizáveis em novos seres. O cosmos e a história natural desnudam a
primazia do salto ontológico.

Notas:
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[1] – Hecateu nasceu em 550 a.C. Em Mileto, na Jônia. Por vários anos viajou extensivamente pela Europa, pelo
Oriente Médio, pelas Satrapias Persas e chegou a viver no Egito, homem de enorme erudição ocupou posição de
proeminência na Jônia e chegou a compor a eclésia. Fora discípulo de Anaximandro e graças aos ensinamentos do
mestre, tornou-se logógrafo, historiador, geógrafo, mitógrafo e ficou conhecido por ter sido mestre de Heródoto e por
ter consignado um método, aprimorado pelo discípulo, o qual se demonstrava essencialmente epistêmico [denotando
uma ruptura com a forma mítica, consagrada pelos aedos] aplicado à forma de narrar os fatos, tal método podia ser
encontrado em dois livros publicados, que não sobreviveram ao incêndio da Jônia. Um tratava sobre as forma políticas
em Asia e outro sobre o Egito.
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[2] – Thomas Carlyle foi um historiador protestante, biógrafo e ensaista das primeiras décadas do século XIX, Sua
idéia de história consistia na proposição de que a história pode ser interpretada por intermédio da vida dos “heróis e
dos grandes homens” esta concepção serviu-lhe de base empiriocrítica para erigir diversas obras como: Cartas e
discursos de Oliver Cromwell, de 1845; Vida de John Sterling, de 1851; Vida de Frederico II da Prússia e Etc. Esta
modalidade de historiografia vulgar e condicionada às classes dominantes foi suplantada pela Escola dos Annales e
pela Nova História, mas ainda encontra prosélitos dentre os historiadores conservadores.
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[3]- Por suprasunção, um ilustre como Plekhanov parece ter captado a nevralgia do método marxiano de analise da
processualidade histórica e outrossim, o papel do indivíduo na História (título que anunciaria uma obra vindoura de
sua pena), em “Os Saltos na Natureza e na História”, Plekhanov coloca que: "As transformações quantitativas,
acumulando-se pouco a pouco, tornam-se, finalmente, transformações qualitativas. Estas transições se efetuam por
saltos e não podem efetuar-se de outra forma."
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[4] – Childe em “O que aconteceu na História”: "Até a mais simples ferramenta feita de um galho partido ou de
uma pedra pontuda é fruto de uma longa experiência de trabalho –de tentativas e erros assimilados, de impressões
recebidas, lembradas e comparadas. A habilidade de fazer uma ferramenta foi conquistada pela observação,
recordação e experiência. (...) Felizmente a criança não precisa acumular experiência ou fazer por si mesma todas
as tentativas e erros. (...)Herda, entretanto, uma tradição sócio-cultural de seus pais e das pessoas mais velhas, que
lhes ensinarão como fabricar e utilizar o equipamento, segundo a experiência acumulada por numerosas gerações
anteriores, e que constitui em si mesmo, uma expressão concreta dessa tradição social. Qualquer instrumento é um
produto social, e o homem é um animal social que trabalha."
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[5] – Xenófanes em poema:

“Mas se mãos tivessem os bois, os cavalos e os leões


E pudessem com as mãos desenhar e criar obras como os homens,
Os cavalos semelhantes aos cavalos, os bois semelhantes aos bois,
Desenhariam as formas dos deuses e os corpos fariam
Tais quais eles próprios têm.”

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CHILDE, G.; O que aconteceu na história, SÃO PAULO, Editorial Zahar, 1977.
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