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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DOS MATERIAIS 2019.2

Felipe Coelho
Julio Cezar
Maria Antonia
Ricardo Mello

TITÂNIO E SUAS LIGAS

Niterói – RJ
2019
SUMÁRIO

1. Introdução

1.1 Histórico

2. Propriedades

2.1 Propriedades Mecânicas

3. Aplicações

3.1 Indústria Aeroespacial e Automobilística

3.2 Indústria Química

3.3 Trocadores de Calor e Condutores

3.4 Ciência

4. Síntese e Processamento

5. Conclusão

6. Referências
1. Introdução

O titânio e suas ligas vêm se destacando comercial e industrialmente devido a suas excelentes
propriedades, tais como elevada razão resistência mecânica/peso, manutenção de sua resistência
mecânica em temperaturas elevadas e excepcional resistência à corrosão. As principais aplicações
destas ligas são nas indústrias aeroespacial e biomédica, em ambientes extremamente corrosivos e para
a produção de equipamentos industriais avançados utilizados para a geração de energia e transporte.
Submetendo o titânio a diferentes temperaturas, ele oscila entre duas estruturas cristalinas, isto é, o
material apresenta alotropia. Uma das fases, denominada fase α, apresenta estrutura hexagonal
compacta e é estável à temperatura ambiente, enquanto a segunda fase, conhecida por fase β, é cúbica
de corpo centrado e é estável em temperaturas superiores a 882°C.

As ligas de titânio são difíceis de produzir, o que as torna caras. A fusão deste material, por exemplo,
deve ser feita em um recipiente especial para evitar contaminação, já que o material torna-se tão reativo
quando aquecido em altas temperaturas que sofre contaminação por praticamente todos os materiais
com os quais tem contato. Uma opção, portanto, é utilizar um cadinho de cobre resfriado por água, onde
o titânio em contato com o cobre solidifica e o restante permanece fundido, protegido de contaminação.
Outra dificuldade que pode ser mencionada é no processo de usinagem destes materiais. Além de
possuírem um baixo módulo de elasticidade, o titânio e suas ligas têm baixa condutividade térmica,
assim tendem a provocar um aumento significativo da temperatura na interface com a ferramenta
durante a usinagem, aumentando o desgaste da mesma. Além disso, a elevada reatividade química
mencionada anteriormente faz com que reajam com quase todos os materiais.

Fonte: LNCE 2007 Gráfico Custo/Tonelada: LNCE 2007

1.1 Histórico
O titânio foi descoberto em Cornualha por William Justin Gregor em 1791 e nomeado por Martin
Heinrich Klaproth pela proximidade das características do filho mitológico do céu (Uranus) e da terra
(Gaia), gigantes considerados personificações das forças da natureza para a mitologia grega. Este
elemento encontra-se em vários minerais, em especial no rutilo e na ilmenita que são geralmente
encontrados na litosfera, e é encontrado em quase todos os tipos de rochas, solos e corpos de água.[1]
O metal produzido comercialmente é extraído do rutilo e da ilmenita e fabricado pelo processo Kroll
ou pelo processo Hunter. O composto mais comum do titânio é o dióxido de titânio que é um popular
fotocatalisador e útil na produção de tinta com coloração branca.[2] Outros compostos incluem o
tetracloreto de titânio (TiCl4), uma substância utilizada para a produção de catalisadores e fumos para
fins militares e o cloreto de titânio (III) (TiCl3), que é uma substância catalisadora para a produção de
polipropileno.

2. Propriedades

Algumas das características básicas do titânio e suas ligas estão listadas na Tabela abaixo e comparado
com outros materiais metálicos estruturais baseados em Fe, Ni e Al. Embora o titânio tenha a maior
relação resistência / densidade, ele é escolhido apenas para determinadas áreas de aplicação devido ao
seu alto preço. Dentre suas muitas características está a sua resistência a tração que varia entre 200MPa
a 1300MPa. O preço elevado é resultado principalmente da alta reatividade do titânio com o oxigênio.
O uso de atmosfera inerte ou vácuo é necessária durante o processo de produção de titânio, bem como
durante o processo de fusão. Os principais elementos de custo adicionais são a energia e o alto custo
inicial do tetracloreto de titânio. Por outro lado, a alta reatividade com o oxigênio leva à formação
imediata de uma camada superficial estável e aderente do óxido quando exposta ao ar, resultando na
resistência superior à corrosão do titânio em vários tipos de ambientes agressivos, especialmente em
ambientes ácidos aquosos. A alta reatividade do titânio com o oxigênio limita a temperatura máxima de
uso das ligas de titânio a cerca de 600 °C.

Ti Fe Al

Temperatura de fusão (°C) 1670 1538 660

Densidade (g/cm3) 4.5 7.9 2.7

Comparative Corrosion Muito alto Baixo Alto


Resistance

Comparative Reactivity with Muito alto Baixo Alto


Oxygen

Comparative Price of Metal Muito alto Baixo Médio

2.1 Propriedades mecânicas


O titânio comercialmente puro apresenta tensão limite de resistência à tração variando entre 240 e 690
MPa. A ductilidade do titânio comercialmente puro varia de um alongamento de 20 a 40 % e a redução
de área varia entre 45 e 65 %, dependendo dos teores de elementos intersticiais. Adições de elementos
de ligas em teores expressivos aumentam a resistência mecânica em comparação com o titânio
comercialmente puro. Estes elementos de liga, como Al, V, Cr, Fe, Mn e Sn, são adicionados tanto em
sistemas binários como em sistemas ternários e mais complexos em geral. Por outro lado,
simultaneamente ao aumento de dureza/resistência mecânica, ocorre redução de ductilidade. As ligas
de titânio podem atingir tensão limite de resistência à tração superior a 1370 MPa com ductilidade de
até 15%. Porém, comercialmente estão disponíveis ligas de titânio com resistência à tração na faixa de
690 a 1030 MPa, fundidas em forno de indução e depois trabalhadas mecanicamente. Ligas fundidas
por indução, e depois trabalhadas, podem atingir resistência à tração ainda mais elevada, porém com
baixa ductilidade, o que restringe bastante o campo de aplicações destas ligas produzidas por este
processo.
O módulo de elasticidade do titânio comercialmente puro é da ordem de 103 GPa, porém nas ligas de
titânio o módulo de elasticidade é mais alto, chegando a 124 GPa, sendo portanto valores mais elevados
do que os das ligas de alumínio (70 GPa) e magnésio (43 GPa), porém inferiores aos dos aços (205
GPa). O módulo de cisalhamento do titânio e de suas ligas, do mesmo modo, atinge valores
intermediários entre os do alumínio e do aço, variando entre 34 e 48 GPa.
A dureza do titânio é bem mais alta do que a do alumínio e se aproxima da dureza encontrada em alguns
aços termicamente tratados. A dureza Vickers do titânio comercialmente puro varia entre 90 e 160 HV,
enquanto a dureza de ligas de titânio termicamente tratadas varia entre 250 e 500 HV. Uma liga de
titânio comercial típica, com tensão limite de resistência ao escoamento da ordem de 895 MPa atinge
dureza da ordem de 320 HV ou 34 HRC (dureza Rockwell C).
A tenacidade ao impacto do titânio e de suas ligas é alta, enquanto sua resistência à fadiga pode ser
considerada muito alta. O titânio comercialmente puro não apresenta boa resistência à fluência, porém
ligas de titânio apresentam melhor resistência à fluência, melhorada pelo trabalho mecânico a frio.
O aumento da temperatura provoca queda de resistência à fluência, à fadiga, de dureza, de resistência à
tração e ao escoamento, como esperado, apesar de, em geral, aumentar a ductilidade e a tenacidade. O
efeito da temperatura no módulo de elasticidade é praticamente desprezível.
Por outro lado o trabalho a frio aumenta a resistência mecânica/dureza. O aumento de temperatura de
trabalho, que provoca rápida queda de resistência mecânica no alumínio, apresenta este efeito, porém
de modo mais lento, no titânio e suas ligas.
O titânio possui estrutura hexagonal compacta (HC) à temperatura ambiente, esta fase é denominada
fase α e é termodinamicamente estável (equilíbrio químico com o ambiente) até a temperatura de 882°C,
na qual se transforma numa estrutura cúbica de corpo centrado (CCC), conhecida como fase β, que se
mantém estável até atingir a temperatura de fusão.
As principais características deste metal são: o baixo peso, alta resistência mecânica, excelente
resistência à corrosão, boa ductilidade, boa usinabilidade e boa biocompatibilidade.

3. Aplicações

Fonte: LNCE 2007


3.1 Indústria aeroespacial e automobilística

O titânio, por sua leveza, é muito utilizado em ligas para aplicação na indústria aeronáutica e
aeroespacial, e ainda possui a vantagem de suportar altas temperaturas, o que é ideal para mísseis e
naves espaciais. A aplicação de Titânio em implantes dentários e próteses ósseas é explicada pela leveza
do material que garante conforto ao paciente.

O desenvolvimento de Compostos de Matriz de Titânio foi decisivamente estimulado pelos requisitos


do indústria de motores de turbinas a gás. Com demandas crescentes colocadas em propriedades leves
no projeto do motor, desenvolvimento de materiais que operam em temperaturas elevadas por longos
períodos de tempo, fornecendo tolerância a danos e condições mecânicas extremas.
Nos EUA, o programa IHPTET (Integrated High Performance Turbine Engine Technology) estava
entre os programas mais poderosos para o desenvolvimento e introdução de CMT em aplicações
aeroespaciais. Até o momento, vários componentes diferentes foram desenvolvidos com CMTs, tais
como perfis aéreos ocos, rotores de compressor, estruturas de caixa, elementos de conexão, e atuadores.
Com a introdução do F-22 para a Força Aérea dos EUA, o motor que alimenta o F-22 possui atuadores
CMT usados para controle de bicos. As áreas potenciais para aplicação na indústria aeroespacial podem
ser classificadas em aos benefícios e aos riscos assumidos com o componente em falha.

3.2 Indústria química

No setor químico, os custos iniciais mais altos são compensados em breve por menos tempo de
inatividade e redução custos de manutenção. No Japão, por exemplo, cerca de 30% do titânio usado é
para Fábricas de produtos químicos. O titânio foi usado pela primeira vez na indústria química na década
de 1960, inicialmente e principalmente para aplicações que envolvem controle de processos em
ambientes com cloretos oxidantes. Hoje também é usado para outros meios agressivos, incluindo acético
e ácidos nítricos, bromo úmido e acetona. O titânio é ainda muito estável em fórmica, ácidos cítrico,
tartárico, esteárico e tânico, e pode ser usado como equipamento para lidar com ácidos orgânicos
misturados com ácidos inorgânicos, solventes orgânicos e sais. Ambientes alcalinos de pH 12 e 75 C
geralmente não oferecem problemas para o titânio. No entanto, na presença de acoplamento galvânico
a um material mais ativo a temperaturas acima de 75 ° C e um pH menor que 3 ou maior que 12, o
hidrogênio atômico pode ser gerado e, portanto, a fragilização por hidrogênio pode ser um problema.

Geralmente, o titânio é usado em áreas nas quais os aços inoxidáveis austeníticos não fornecer
resistência à corrosão suficiente. Portanto, o titânio encontra aplicação preferida em equipamentos
expostos a soluções ácidas salinas contendo oxidantes. Na engenharia de processos químicos, o titânio
é aplicado em contêineres, misturadores, bombas, colunas, trocadores de calor, tubos, tanques,
agitadores, refrigeradores, reatores de pressão, etc.

3.3 Trocadores de calor e condutores

A boa condutividade térmica do titânio, que é aproximadamente 50% maior do que para aço inoxidável,
o torna um material preferido em aplicações para trocadores de calor em cujo meio de resfriamento é
água do mar, água salobra e também água poluída.
Aqui, os graus comercialmente puros de titânio demonstram sua resistência superior à corrosão há
décadas. Os trocadores de calor tubulares e mais compactos do tipo placa (Fig. 15.1) são aplicados
rotineiramente em refinarias de petróleo terrestres e em plataformas de petróleo offshore. Além disso,
a experiência mostrou que mesmo velocidades de água de 10 m s – 1 não cause corrosão, cavitação ou
ataque de impacto na erosão tubos. Portanto, tubos de condensador de paredes particularmente finas
podem frequentemente ser usados com tolerância zero à corrosão. Milhões de metros em todo o mundo
de tubos de titânio soldados e sem costura em usinas de turbinas a vapor, refinarias, fábricas de produtos
químicos, sistemas de ar condicionado, destilação instantânea em vários estágios, dessalinização e
compressão de vapor usinas, plataformas offshore, navios de superfície e submarinos, bem como para
natação as bombas de calor para piscina documentaram o tempo de vida e a confiabilidade do titânio.
No Japão, por exemplo, os tubos do condensador consomem cerca de 20% do uso doméstico de titânio.

3.4 Ciência

A maior aplicação do metal (95% de todo o titânio) é na forma de dióxido de titânio (TiO 2) que tem
origem no mineral Rutilo. Veja como esta aplicação acontece: Por ser um pigmento intensamente
branco, o TiO2 é usado na obtenção de tintas, estas possuem a característica de serem refletoras de
radiação infravermelha, além de possuírem um alto poder de fixação, os astrônomos utilizam desta tinta.

Sendo assim, a aplicação do metal pode ser utilizado em diversos segmentos desde de arquitetura até
área biomédica, por conta da sua capacidade de resistência a corrosão hoje em dia é utilizado em grande
escala em diversos segmentos.

4. Síntese e Processamento

Os depósitos primários de minerais de titânio quase sempre são lavrados pelo método a céu aberto. O
minério é desmontado por explosivo e transportado por caminhões até os equipamentos de cominuição.
O processo de concentração dos minérios de titânio depende do tipo de depósito. A origem geológica
do minério, naturalmente, tem influência na granulometria de liberação e na composição mineralógica
da ganga.

O processo Kroll na indústria metalúrgica é um processo utilizado para obter titânio metálico. Foi
inventado em 1940 por William Justin Kroll que substituiu o método Hunter para toda a produção
comercial. Em 1945 o processo Kroll foi modificado para produzir zircônio.
O minério mais puro do titânio, rutilo (ou o mais impuro ilmenita), é combinado
com coque de petróleo e clorado num reator de cama fluida a 100°C obtendo um produto de aspecto
esponjoso, impuro, contendo tetracloreto de titânio (TiCl4), também conhecido como "tickle".
2 FeTiO3 + 7 Cl2 + 6 C → 2 TiCl4 + 2 FeCl3 + 6 CO
O TiCl4 obtido é purificado através de contínuos processos de destilação fracionada. Os problemas neste
estágio relacionam-se com a formação dos cloretos TiCl2 e TiCl3.
Em um reator separado, o TiCl4 é reduzido de magnésio líquido (15-20 excesso%) em 800-850 ° C.
2 Mg (l) + TiCl4 (g) → 2 MgCl2 (l) + Ti (s) [T = ° C 800-850]

5. Conclusão

O titânio, Ti, vem sendo largamente utilizado em diferentes aplicações desde a metade do século XIX,
principalmente sob a forma de óxidos, tal como na indústria de tintas, onde ele é adicionado como
pigmentos. Porém, o metal oriundo deste óxido somente passou a ser processado em meados do século
XX quando então foi concebido o processo de redução do TiO2 para a obtenção do titânio puro. Devido
ao elevado custo de produção, a principal aplicação do titânio metálico se deu na indústria aeroespacial
cujo valor agregado dos componentes é bastante elevado. Verifica-se que as propriedades físicas e
mecânicas do titânio são superiores à de vários outros metais e ligas metálicas e encontraram aplicações
para fins estruturais, como nas indústrias químicas, com seus ambientes agressivos (ácidos ou básicos).
O Ti conjuga elevadas resistência à corrosão e mecânica quando comparado aos aços de um modo geral.
Além destas aplicações, o Ti apresenta também uma ampla aplicação na área de biomateriais, por ser
compatível ao corpo humano.

6. Referências

Titanium and Titanium Alloys, Christoph Leyens and Manfred Peters - ed 2003

http://betaeq.blogspot.com/2014/05/extracao-e-refinamento-de-titanio-e-seu.html

https://www.infomet.com.br/site/metais-e-ligas-conteudo-ler.php?codAssunto=93

Williams, J.C; Lutjering, G. Titanium. Second edition. New York. Springer, 2007

Leyens, C.; Peters, Titanium and Titanium alloys, Fundamentals and applications. First edition.
Weinheim. Wiley-VCH, 2007

Opini, Victor Carvalho


Preparação, processamento e caracterização de ligas de titânio com alta resistência mecânica
baseadas na liga Ti-5553 / Victor Carvalho Opini. --Campinas, SP: [s.n.], 2012.

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