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20/05/2019 Um aluno em defesa da universidade pública - 17/05/2019 - Opinião - Folha

OPINIÃO ANDRÉ ROSA

Um aluno em defesa da universidade pública


Não há balbúrdia ou gente pelada, há pesquisa séria

Estudantes protestam em Brasília contra cortes na educação - Pedro Ladeira -


15.mai.19/Folhapress

17.mai.2019 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2019/05/17/)

André Rosa

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20/05/2019 Um aluno em defesa da universidade pública - 17/05/2019 - Opinião - Folha

A série de cortes (https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/05/bloqueios-no-mec-vao-do-ensino-infantil-a-


pos-graduacao.shtml) anunciada pelo ministro Abraham Weintraub atinge não só o

ensino superior, mas também a educação básica, desde a infantil. A


precarização vai além: recai sobre laboratórios e hospitais que atendem a
população.

Este ataque à educação afetará diretamente a infraestrutura das


universidades. Não teremos como levar adiante pesquisas importantes, o que
aumentará a nossa dependência em relação à produção estrangeira de
conhecimento. Isso fere a nossa autonomia enquanto nação soberana e nos
põe na humilhante condição de submissos no cenário internacional. Neste
momento é fundamental reiterar que as universidades públicas respondem
por 95% da produção científica (https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/05/usp-unesp-e-
unicamp-convocam-comunidade-a-debater-cortes-na-educacao-no-dia-15.shtml). 

Cito um caso específico. A UFRJ sofrerá um corte de 41% no seu orçamento.


Com isso, a compra de equipamentos para instalações de hospitais e
laboratórios ficará comprometida. Somente no Hospital Universitário
Clementino Fraga Filho, que pertence à UFRJ, são atendidos por mês cerca
de 16 mil pacientes ambulatoriais e realizadas cerca de 400 cirurgias. O
hospital atende não só a população da cidade do Rio de Janeiro, mas também
de outros municípios do estado. Sem essa verba, o governo compromete não
apenas o futuro do Brasil, mas a própria integridade física do povo
brasileiro. 

Em um primeiro momento, Weintraub justificou a redução de verbas como


forma de punir a “balbúrdia” promovida dentro das universidades federais
(https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/05/a-balburdia-de-weintraub.shtml). Balbúrdia, diz o

Houaiss, significa “confusão” e “desordem”. É uma ofensa mesquinha a todos


que estudamos e trabalhamos com seriedade no ambiente acadêmico. É uma
ofensa a professores, advogados, engenheiros, médicos, sociólogos e demais
profissionais que se formaram nessas instituições.

Sou aluno do curso de letras da UFRJ. Não represento um coletivo: falo


somente em meu nome, em protesto às consequências desastrosas que se

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desenham. Diariamente, eu e outros alunos acordamos cedo para assistir às


aulas e reafirmar o compromisso com a nossa formação. Alguns estudantes
da UFRJ se deslocam de cidades vizinhas, às vezes com mais de duas
conduções, para alcançar o sonho do diploma. Muitos são os primeiros de
suas famílias a cursar uma faculdade. 

Com a perda de quase metade do orçamento, os cortes inviabilizarão a


presença de alunos cotistas, monitores e bolsistas de iniciação científica, que
pesquisam com seus professores. Não será possível produzir cursos de
extensão, que servem às pessoas de fora da universidade, como o Curso de
Línguas Aberto à Comunidade (Clac) da UFRJ, com aulas de russo, inglês,
japonês, alemão, francês, hebraico, grego e árabe, todos ministrados por
alunos de graduação.

Em um país com descompassos sociais e passado colonial, a universidade é


um espaço de aglutinação, produção e propagação de toda uma teia de
relações, saberes e culturas.

Não somos arruaceiros. Não há balbúrdia ou gente pelada no campus. Há


pesquisa séria, desenvolvimento tecnológico e esforço coletivo para formar
profissionais competentes para a sociedade.

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