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11/7/2005

Tipos de sermões que atrapalham o culto


Robson Moura Marinho
A Arte de Pregar – A Comunicação na Homilética. São Paulo: VIDA NOVA, 1999. 192 p. p. 20-
23.

Apenas para ilustrar, vamos fazer uma rápida classificação dos sermões que mais atrapalham
o culto. Se você freqüenta igreja há vários anos, é provável que já se tenha encontrado com
alguns desses sermões mais de uma vez. A seguir, descrevem-se os tipos de sermão que
atrapalham o culto.

1) O SERMÃO SEDATIVO – É aquele que parece anestesia geral. Mal o pregador começou a
falar e a congregação já está quase roncando. Caracteriza-se pelo tom de voz monótono,
arrastado, e pelo linguajar pesado, típico do começo do século, com expressões arcaicas e
carregadas de chavões deste tipo: "Prezados irmãos, estamos chegando aos derradeiros
meandros desta senda", Porque não dizer: "Irmãos, estamos chegando às últimas curvas do
caminho"? Seria tão mais fácil de entender. Ficar acordado num sermão desse tipo é quase
uma prova de resistência física. Como dizia Spurgeon: "Há colegas de ministério que pregam
de modo intolerável: ou nos provocam raiva ou nos dão sono. Nenhum anestésico pode
igualar-se a alguns discursos nas propriedades soníferas. Nenhum ser humano que não seja
dotado de infinita paciência poderia suportar ouvi-los, e bem faz a natureza em libertá-lo por
meio do sono".

2) O SERMÃO INSÍPIDO – Esse sermão pode até ter uma linguagem mais moderna e um tom
de voz melhor, mas não tem gosto e é duro de engolir. As idéias são pálidas, sem nenhum
brilho que as torne interessantes. Muitas vezes é um sermão sobre temas profundos, porém
sem o sabor de uma aplicação contemporânea, ou sem o bom gosto de uma ilustração. É
como se fosse comida sem sal. É como pregar sobre as profecias de Apocalipse, por exemplo,
sem mostrar a importância disso para a vida prática. O pregador não tem o direito de
apresentar uma mensagem insípida, porque a Bíblia não é insípida. O pregador tem o dever de
explorar as belezas da Bíblia, selecioná-las, pois são tantas, e esbanjá-las perante a
congregação.

3) O SERMÃO ÓBVIO – É aquele sermão que diz apenas o que todo mundo já sabe e está
cansado de ouvir. O ouvinte é quase capaz de "adivinhar" o final de cada frase de tanto que já
ouviu. É como ficar dizendo que roubar é pecado ou que quem se perder não vai se salvar (é
óbvio). Isso é uma verdade, mas tudo o que se fala no púlpito é verdade. Com raras exceções,
ninguém diz inverdades no púlpito. O que falta é apenas revestir essa verdade de um interesse
presente e imediato.

4) O SERMÃO INDISCRETO – É aquele que fala de coisas apropriadas para qualquer


ambiente menos para uma igreja, onde as pessoas estão famintas do pão da vida. Às vezes, o
assunto é impróprio até para outros ambientes. Certa ocasião ouvi um pregador descrever o
pecado de Davi com Bate-Seba com tantos detalhes que quase criou um clima erótico na
congregação. Noutra ocasião, uma senhora que costumava visitar a igreja confessou-me que
perdeu o interesse porque ouviu um sermão em que noventa por cento do assunto girava em
torno dos casos de prostituição da Bíblia, descritos com detalhes. E acrescentou: "Achei
repugnante. Se eu quiser ouvir sobre prostituição, ligo a TV". De outra vez, um amigo me
contou de um sermão que o fez sair traumatizado da igreja, pois o pregador gastou metade do
tempo relatando as cenas horrorosas de um caso de estupro. Por favor, pregadores: o púlpito
não é para isso. Para esse tipo de matéria existem os noticiários policiais.

5) O SERMÃO REPORTAGEM – É aquele que fala de tudo, menos da Bíblia. Inspira-se nas
notícias de jornais, manchetes de revistas e reportagens da televisão. Parece uma compilação
das notícias de maior impacto da semana. É um sermão totalmente desprovido do poder do
Espírito Santo e da beleza de Jesus Cristo. É uma tentativa de aproveitar o interesse
despertado pela mídia para substituir a falta de estudo da Palavra de Deus. Notícias podem ser
usadas esporadicamente para rápidas ilustrações, nunca como base de um sermão.

6) O SERMÃO DE MARKETING – É aquele usado para promover e divulgar os projetos da


igreja ou as atividades dos diversos departamentos. Usar o púlpito, por exemplo, para
promover congressos, divulgar literatura, prestar relatórios financeiros ou estatísticos, ou fazer
campanhas para angariar fundos, seja qual for a finalidade, destrói o verdadeiro espírito da
adoração e, portanto, atrapalha o culto. A Igreja precisa de marketing, e deve haver um espaço
para isso, mas nunca no púlpito. Isso deve ser feito preferivelmente em reuniões
administrativas.

7) O SERMÃO METRALHADORA – É usado para disparar, machucar e ferir. Às vezes a crítica


é contra um grupo com idéias opostas, contra administradores da igreja, contra uma pessoa
pecadora ou rival ou mesmo contra toda a congregação. Seja qual for o destino, o púlpito não é
uma arma para disparar contra ninguém. Às vezes o pregador não tem a coragem cristã de ir
pessoalmente falar com um membro faltoso e se protege atrás de um microfone, onde ninguém
vai refutá-lo, e dispara contra uma única pessoa, sob o pretexto de "chamar o pecado pelo
nome". Resultado: a pessoa fica ferida, todas as outras, famintas, e o sermão não ajuda em
nada.

Às vezes o disparo é contra um grupo de adultos ou de jovens supostamente em pecado. Não


é essa a maneira de ajudá-los. Convém ressaltar que chamar o pecado pelo nome não é
chamar o pecador pelo nome. Chamar o pecado pelo nome significa orar com o pecador e se
preciso chorar com ele na luta pela vitória. A congregação passa a semana machucando-se
nas batalhas de um mundo pecaminoso e de uma vida difícil e chega ao culto precisando de
remédio para as feridas espirituais, não de condenação por estar ferida. Em vez de chumbá-la
com uma lista de reprovações e obrigações, o pregador tem o dever santo de oferecer o
bálsamo de Gileade, o perdão de Cristo como esperança de restauração. As obrigações, todo
mundo conhece. Nenhum cristão desconhece os deveres do evangelho. Em vez de apenas
dizer que o cristão tem de ser honesto, por exemplo, mostre-lhe como ser honesto pelo poder
de Cristo. Isso é pregação com poder.

Todos esses sermões mencionados acima atrapalham o culto mais do que ajudam. Prejudicam
o adorador, prejudicam a adoração. São vazios de poder. Se você quer ser um pregador de
poder, busque a Deus, gaste dezenas de horas no estudo da Bíblia antes de pregá-la,
experimente o perdão de Cristo e estude os recursos da comunicação que ajudam a chegar ao
coração das pessoas.

(fonte: MARINHO, Robson Moura. A Arte de Pregar – A Comunicação na Homilética. São


Paulo: VIDA NOVA, 1999. 192 p. p. 20-23.)

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