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EDIÇÃO
Porto Vivo, SRU – Sociedade de Reabilitação Urbana da Baixa Portuense, S.A.
COORDENAÇÃO
Ana Paula Delgado
Paulo de Queiroz Valença
Margarida Mesquita Guimarães
EQUIPA TÉCNICA
Beatriz Hierro Lopes
Giulia La Face
COORDENAÇÃO DA EDIÇÃO
Gabriela Magalhães
Verónica Rodrigues
PRODUÇÃO DE IMAGENS 3D
Diogo Assunção – 61, 62, 77, 78
João Barata Feyo, Lda. – 3, 4, 8, 9, 11, 15, 19, 28, 30, 34, 44, 45, 50, 51, 52, 53,
59, 67, 71, 80,83, 84, 89, 98, 100, 102, 104
FOTOGRAFIAS E DESENHOS
Adriana Floret - 75, 76
Alexandre Soares – 5, 6, 7, 10, 13, 14, 16, 17, 18, 20, 21, 24, 25, 26, 27, 29,
35, 36, 38, 41, 46, 48, 54, 55, 56, 69, 72, 73, 74, 81, 85, 86, 87, 88, 99, 101, 103
Câmara Municipal do Porto – 1, 2, 22, 23, 42, 47, 58, 68, 70, 82, 94, 95, 105
F. J. Noronha/CMP – 31, 32
F. Piqueiro/Foto Engenho, Lda. - 96
Francisco Mesquita Moura - 12
Jorge Filipe Couto - 60
Miguel Carrapa - 40
Porto Vivo, SRU – 3, 19, 37, 44, 49, 50, 57, 71, 79, 90, 91, 92, 93, 97
Ricardo Teixeira - 33, 39, 63, 64, 65, 66
Rita Moura/Ivo Silva - 43
DESIGN E PAGINAÇÃO
Paulo Magalhães
IMPRESSÃO
TIRAGEM
ISBN: 978-989-96862-8-1
DEPÓSITO LEGAL
Nota: nesta publicação foi respeitada a grafia utilizada pelos diferentes autores.
[1 ]
[2 ]
[3 ]
[4 ]
[5 ]
[6 ]
0 - Dentro de Portas: o Património [7 ]
“Diante da estátua de Vímara Peres, o reconquistador da cidade no século
IX, o pequeno fontanário de São Miguel é uma peça de arquitectura urbana
que se dilui ainda hoje no maciço edificado do conjunto da Sé do Porto e do
Palácio Episcopal. Quando foi construído,
ao que tudo indica por Nicolau Naso-
ni, o fontanário ocupava um lugar
de destaque no Largo da Sé, mas su-
cessivas reformas do espaço urbano
levaram à sua deslocação e à aplica-
ção ao local actual.
Artisticamente, o pequeno fontaná-
rio resulta de uma composição sim-
ples, com um longo espaldar hori-
zontal curvo, rompido ao centro por
uma coluna central de decoração
complexa, coroada com uma imagem
de São Miguel, que encima a bica,
esta protegida por um nicho.
Apesar da sua aparente menor im-
portância urbanística, este peque-
no fontanário constitui um exemplo
mais do programa de abastecimento
de água ao Porto, em plena época
barroca, num processo que vinha
sendo desenvolvido por várias institui-
ções da cidade desde a segunda metade do
século XVI. Paralelamente, a confirmar-se a autoria
de Nicolau Nasoni, representa mais uma obra do arquitecto
que marcou inconfundivelmente a arte barroca da cidade.”
(IGESPAR, 2011b)
[8 ]
0 - Dentro de Portas: o Património [9 ]
[ 10 ]
0 - Dentro de Portas: o Património [ 11 ]
[ 12 ]
0 - Dentro de Portas: o Património [ 13 ]
[ 14 ]
8
20
8
[ 18 ]
Monumento evocativo de D. Pedro Pitões (1.3)
Aqui pode-se ler, na inscrição mandada colocar em 1947 pela Câmara Municipal do Porto:
“No dia 17 de Junho de 1147 o Bispo do Porto D. Pedro Pitões pregou neste lugar
aos cruzados nórdicos exortando-os a auxiliar D. Afonso Henriques na conquista de
Lisboa aos mouros, empresa guerreira em que devotamente
participou.”
Seguidamente apresenta-se a tradução do sermão 2 de D. Pe-
dro Pitões, aos cruzados 3 exortando-os a auxiliar D. Afonso
Henriques na Conquista de Lisboa:
“De resto, o nosso rei Afonso, nosso filho muito amado,
vosso irmão e companheiro nas tribulações, há já dez dias
que partiu com todo o seu exército contra Lisboa e, sa-
bendo que havíeis de chegar, ordenou-nos que aqui esti-
véssemos à vossa espera e vos falássemos em seu nome. É
possível que Deus tenha já inspirado aos vossos corações,
quererdes com a vossa armada ir até junto dele e com ele
ficardes, até que, com o favor divino e a vossa cooperação,
seja tomada a cidade de Lisboa. Se isso vos aprouver, fare-
mos depois aos vossos a promessa de dinheiro, conforme o
permitir a riqueza do tesouro real. A nós porém, e a quan-
tos quiserdes, podeis levar-nos convosco, como garantia
do cumprimento da promessa. Qualquer que seja a resolu-
ção do vosso santo ajuntamento, nós ficamos esperando uma
Monumento evocativo de D. Pedro Pitões
resposta. Esteja já em vossas mãos uma resolução pia, moderada, justa, honesta,
para louvor e honra do nome daquele, e do de sua Santíssima Mãe, que com o Pai e o
Espírito Santo vive e reina por todos os séculos dos séculos. Amen.”
(Alves, 1989: 30)
Cumprindo a palavra dada, D. Pedro Pitões, acompanhá-los-ia até Lisboa, participando
em missão apostólica e assistencial a toda a conquista, após a qual, lhe coube a honra de
ser dos primeiros portugueses a entrar na cidade, ao lado de D. Afonso Henriques e de
D. João Peculiar, conforme o manuscrito nos relata.
2
Conforme o manuscrito “De Expugnatione Lyxbonensi” (1147) que se conserva na Corpus Christi College da Universi-
dade de Cambridge, Inglaterra, sendo que, a transcrição aqui apresentada é citação da tradução deste manuscrito para
a língua portuguesa, elaborada por João da Felicidade Alves (1989).
3
Vide, Alves (1989: 23-30).
O Terreiro da Sé, como hoje se conhece, amplo e com o seu carismático Pe-
lourinho, é obra dos anos 40 do século XX. Resulta da demolição maciça do
que ali antes existia, originada pelas políticas de intervenção patrimonial
do Estado Novo, cujo objectivo era realçar a monumentalidade da Sé e do
Paço Episcopal, anteriormente ladeados por um amontoado de casas, tor-
res e palacetes. Contudo, é de salientar, que já no século XIX são demolidas
as portas da muralha românica assim como algumas casas nobres, como é
exemplo a Casa da Vandoma, da qual aqui se fala também.
Nos anos 40, a preocupação era sobretudo a de reabilitar o estilo români-
co, como forma de recuperar a memória da fundação do país. Procede-se
primeiramente a intervenções na Catedral e na Casa do Cabido e, poste-
riormente, à demolição do quarteirão de casas que ficava diante da Sé e
à transferência da Capela de Nossa Senhora de Agosto, que se localizava 23
mesmo em frente à porta principal da Catedral, para o início da Rua do Sol. “Arranjo Urbanístico” dos anos
40. Edifícios em frente da Sé
O projecto de criação do Terreiro assim como do Pelourinho são da autoria
de Arménio Losa, como se pode ver na planta seguinte.
22 24
[ 20 ]
Testemunho sobre a Sé
Morador, há 28 anos, na parte do velho dos pobres”. Entrava nos tugúrios, subia ín-
morro da Sé, depois de por aí perto ter gremes escadas, dava esmolas depois de
passado os verdes anos da formação te- ver a habitação, se assim se podia cha-
ológica, a pedido, passo ao papel meia mar. Recolhia os garotos da rua, sem fa-
dúzia de palavras sobre impressões de on- mília ou em condições indignas, na casa
tem e de hoje, acerca do lugar e da gente de Paço de Sousa. Ouvi-o falar no Seminá-
do local. rio e recordo para sempre o recado que
deixava: “Na rua, não dás esmola. Vais a
Não mudou quanto seria preciso o aspec-
casa ver se precisa”.
to urbano, a não ser porque muitos mo-
radores da freguesia tiveram de emigrar Por falar em seminário, é de justiça dizer
para bairros da periferia. O povo da Sé que ele foi em tempos uma referência
era e creio que é um povo bom no seu cultural para quantos vinham em datas
sentir profundo. Só negócios negros, ad- marcadas participar em Conferências e
ventícios e recentes estragaram, algumas Saraus da arte, com gente de renome.
consciências e vidas. Mudanças visíveis Hoje, a Igreja dos Grilos, a biblioteca do
de impressionar quem passa podem ser Seminário e o museu anexo são também
consideradas duas de entre várias: a cons- casos de referência.
trução junto à Sé de um edifício desmesu-
A velha Sé lá permanece, aberta ao tu-
rado por sobre as ruínas da casa dos 24; e
rismo. Também se abre para a missa diá-
o acréscimo bem notório do turismo que
ria e dominical. E tem enchentes em dias
enche o Terreiro da Sé de “desvairadas
de casamento e baptizados, bem como
gentes”, como escreveria Fernão Lopes.
quando o bispo vai à Sé nas épocas altas
Isso acontece todas as manhãs e todas as
do ano litúrgico e em datas marcantes ou
tardes. Sobretudo no Verão e Outono.
encontros significativos. A Sé e o Terreiro
Começa a sentir-se que as autoridades são o átrio obrigatório do turismo, com
despertaram para a necessidade de tor- bela vista para o Porto e Gaia. Quando
nar o bairro bonito, agradável e útil nas será que teremos uma “cidade nova”
casas, ruas e ruelas. Mas vai tão devagar! dentro dos muros que cercavam a velha
cidade do Bispo que, depois, teve de ce-
O Povo foi sempre típico, simples e pobre.
der aos burgueses certamente com bene-
Nos anos cinquenta, pude visitar casas e
fício para todos? Estamos e ficaremos a
tugúrios, em parceria com as Conferên-
aguardar…
cias vicentinas que reuniam então no se-
minário. Foi por aqui que andou o saudoso João Miranda Teixeira
Padre Américo, no seu estilo de “recoveiro Bispo Auxiliar do Porto
25
[ 22 ]
NOSSA SENHORA DA SILVA (0.6) SANTA ANA (0.6)
No transepto, lado direito, está entronizada a imagem de No topo sul do transepto, lado direito, ergue-se o altar de
pedra (também calcário) de N. Sra. da Silva. É uma ad- Santa Ana. No nicho central há uma imagem belíssima
mirável e bela imagem do séc.XVII que está num altar do (séc.XVII) de Santa Ana, sentada, e com o livro aberto a
período renovador da Sede Vacante e onde se encontra ensinar Maria (mãe de Jesus). Nos painéis laterais figuram
ainda um painel (enrolado) do ilustre pintor António Costa S. Joaquim (esposo de Santa Ana) e S. José (esposo de
com a figura da rainha D. Mafalda (esposa de D. Afonso Maria).
Henriques) a entregar as suas jóias à Virgem. A evocação
Amadeu Ferreira e Silva
da Senhora da Silva é contemporânea da construção da
Catedral (2º quartel do Séc. XII) pois, segundo a tradição, Cónego, Capelão da Igreja Catedral
a imagem de N. Senhora foi encontrada num silvado no
tempo em que se abriam os alicerces para a fundação
deste templo, e que a rainha D. Mafalda lhe fizera, por
seu respeito, várias devoções.
Amadeu Ferreira e Silva
Cónego, Capelão da Igreja Catedral
27
26
A casa das Colunas, hoje conhecida como casa do Despacho da Sé, e que
fica quase encostada à parede da capela-mor da Sé, sofreu várias alterações
ao longo dos tempos. A fachada voltada à Rua D. Hugo, antiga Rua dos
Cónegos, teria cerca de 13,5 metros, enquanto a outra que lhe é oposta
teria perto de 8 metros. O frontispício com colunas de pedra fazia-a real-
çar entre as demais casas do Cabido. No interior, a casa dispunha de vários
compartimentos: um pátio; uma escada de pedra que dava acesso a uma
sala forrada e ladrilhada; uma antecâmara que antecedia a câmara, tam-
bém esta forrada e ladrilhada; uma segunda câmara forrada; a cozinha e
despensa tinham janelas para a Rua dos Cónegos; por baixo havia ainda
uma sala para os criados; nas lojas havia um celeiro, uma açoteia ladrilhada
com janela para o chafariz e uma estrebaria. Em 1803, já não tinha as co-
lunas que tão bem caracterizavam a fachada. No mesmo século é alvo de
demolições, tendo sido destruído o frontispício, que dava para o Largo da
Sé, e diminuída.
28
29
Palmira Aguiar
[ 24 ]
Casa da Vandoma
Nos terrenos onde se encontravam, anteriormente, cinco propriedades, o Deão João Frei-
re Antão mandou edificar a Casa da Vandoma, que viria a ser totalmente demolida no
século XIX. Ali viveu também uma das mais notáveis figuras do Porto setecentista, o Deão
Jerónimo de Távora de Noronha, protector de Nicolau Nasoni, tendo assim contribuído
para a construção de alguns dos edifícios mais carismáticos da cidade. Também a ele se
deve a compra do antigo Aljube, que ficava num edifício adjacente à Casa da Vandoma,
permitindo assim a sua ampliação. Nessa mesma época a Capela da Vandoma, foi anexa-
da à Casa da Vandoma.
Vicente de Távora de Noronha, irmão de Jerónimo de Távora e Noronha, moço fidalgo da
Casa Real, vereador da Câmara em 1749 e 1752, guarda-mor da saúde em 1750 e, entre
1757 e 1775, conselheiro da Primeira Junta da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas
do Alto Douro, provedor da Segunda, vice-provedor da Terceira, e conselheiro da Quarta,
foi também um dos moradores da Casa da Vandoma. Como um dos homens mais im-
portantes da cidade, é um dos dois delegados nomeados pela Câmara, a 9 de Outubro
de 1757, para ir à corte agradecer ao Rei o fim do castigo imposto, sobre o crime de lesa-
-majestade, relativo ao motim de 23 de Fevereiro de 1757 contra a Companhia Geral da
Agricultura. Viria a falecer na Casa da Vandoma, a 29 de Abril de 1779, sendo sepultado
na Sé. A Casa da Vandoma continuaria na posse da família até 1857, altura em que morre
a última descendente directa.
A Casa da Vandoma, uma das mais relevantes habitações da cidade, não resistiria às pres-
sões a que foi sujeita desde que foi iniciada a sua construção. Tendo sido ampliada ao
longo do tempo, como já referimos anteriormente, a Casa da Vandoma, antes da sua de-
molição no século XIX, confrontava a norte com o Largo da Sé, a sul com a Casa dos Al-
coforado II (trata-se do edifício onde hoje se encontra o Arqueossítio), a este com a Viela
de Santa Clara, e a oeste com a Rua dos Cónegos (R. D. Hugo). O frontispício principal,
orientado para esta última rua teve que ser alterado em relação ao projecto original, por
se encontrar demasiadamente próximo da Casa das Colunas.
31
Interior do Arqueossítio
30
8
Arqueossítio e Ordem dos Arquitectos
[ 26 ]
Mas o achado mais significativo diz respeito a um conjunto de estruturas
colocadas a descoberto entre as casas nº 39 e 41, que correspondem a um
edifício de planta circular, associado a uma calçada em granito e a dois
muros rectilíneos, enquadráveis na ocupação do morro da Sé nos períodos
proto-histórico e romano.
Estas novas descobertas realizadas na rua D. Hugo, de incontornável valor
arqueológico e patrimonial, a par das já documentadas e expostas no ar-
queossítio da casa nº 5, permitem assim obter uma leitura mais alargada
da malha urbana do povoado castrejo e romano que está na origem da
cidade do Porto.
Ricardo Teixeira
Arqueólogo/Arqueologia e Património
33
35
José Grade
[ 28 ]
Casa-Museu Guerra Junqueiro (0.4)
Presépio
Escola Catalã Séc. XVI
Sendo um tema religioso, é também terno, a maternidade e adoração do Menino, 37
é comum a todos nós, é uma imagem de todos os povos. Estátua do “ Poeta Guerra
Junqueiro” (1970), de
A abordagem da peça pode passar por várias áreas; o significado, a história, a pa- autoria de Leopoldo Neves
de Almeida, localizada
leta cromática, os materiais, a técnica, e econografia, os aspectos decorativos e de no jardim da Casa-Museu
Guerra Junqueiro
composição, assim como a perspectiva ou determinados pormenores de influência
da escola flamenga.
Este retábulo seria provavelmente composto pelo menos por mais dois volantes
ou painéis 4 , uma vez que a pintura está cortada ou seja, as figuras continuariam
para a direita e para a esquerda, numa superfície agora inexistente.
Perspectiva de concepção piramidal, sendo o número três divino; Pai, Filho e Es-
pírito Santo.
No céu ao centro quase com a forma de um triângulo, vemos Deus rodeado de an-
jos olhando para a pomba, que simboliza o Espírito Santo, Deus olha para baixo,
para o seu Filho ainda Menino, Jesus, as mãos de S. José também nos ajudam a
olhar para o Menino, os olhos de Nossa Senhora, o olhar do pastor do lado oposto
de joelhos, formam linhas direccionais centralizando toda a composição no Meni-
no Jesus.
Maria Inês Diogo Costa
Fundação Maria Isabel Guerra Junqueiro
38
4
Chama-se volantes aos painéis laterais que são móveis e fecham o retábulo.
“Presépio”, pintura séc. XVI
[ 30 ]
Casa dos Baião (1.9)
39
[ 32 ]
Casa do Cónego António Mourão ou Casa do Vigário Geral
Bernardo de Azevedo e Carvalho | Casa do Cónego Domingos
Gonçalves Prada (1.10)
41
[ 34 ]
Reabilitação do edifício sito Escadas das Verdades, 13 a 17
e Escadas do Barredo, 125 a 139 (1.11)
O conjunto assume uma posição de gaveto entre as Escadas das Verdades e as Escadas do Bar-
redo. O facto de as construções acompanharem o desenvolvimento do Morro da Sé e das esca-
das, vão assumindo diferentes escalas de acordo com a envolvente próxima e permitem o acesso
a partir da via pública a todas as habitações.
Um dos requisitos base da proposta é manter o caráter habitacional, dotando-as de condições
condignas de habitabilidade e salubridade, tendo sempre em consideração que as áreas existen-
tes são bastante exíguas e o facto de existirem frações ocupadas com inquilinos. Neste sentido
aproveitou-se o facto de existirem habitações devolutas para agregar alguns espaços e através
da criação de um pátio interior surgem três novos alçados permitindo uma nova tipologia.
Rita Moura e Ivo Silva
Atelier E.
43
2.2
2.1
0.8
[ 38 ]
Seminário Maior de Nossa Senhora da Museu de Arte Sacra e Arqueologia (0.8)
Conceição do Porto (0.8)
É a instituição que na Diocese do Porto tem por missão a forma- Inaugurado a 9 de Maio de 1958, o Museu de Arte Sacra e Arque-
ção dos candidatos ao sacerdócio. O edifício foi um Colégio Je- ologia teve como seu fundador D. Domingos de Pinho Brandão, na
suíta, cuja primeira pedra foi lançada em 1560, ano em que São altura Reitor do Seminário Maior de Nossa Senhora da Conceição
Francisco de Bórgia veio à cidade do Porto, tendo sido inaugura- do Porto.
do em 1577.
Instalado na ala norte seiscentista do Colégio Jesuíta, actual Se-
Em 1759, ano em que, pelo Decreto de Expulsão do Marquês de minário Maior do Porto, o Museu de Arte Sacra e Arqueologia de-
Pombal, os Jesuítas foram expulsos do país, o Colégio transitou tém um espólio notável, quer em exposição, quer em reserva, com
para a Universidade de Coimbra, sendo posteriormente adquiri- destaque para: escultura, pintura, paramentaria, alfaias litúrgi-
do, em 1780, pelos Frades Agostinhos Descalços que, provenientes cas, azulejaria e antifonários. A este espólio, junta-se uma peque-
de Lisboa, aqui se instalaram. na colecção de achados arqueológicos, entre os quais se destaca
o Mosaico Paleo-Cristão de Frende.
Entretanto, o edifício foi cedido à Diocese do Porto, com o objecti-
vo de instalar o Seminário e aí, em 1862, o Seminário Maior inicia A 14 de Maio de 2011, após remodelação, apresentou-se com um
as suas funções, as quais se mantêm até à actualidade. novo espaço: a Sala Irene Vilar. Nesta Sala, estão expostas obras
de escultura, pintura, medalhística e numismática da artista
plástica.
Juliana Ferreira
Juliana Ferreira
Seminário Maior de Nossa Senhora da Conceição do Porto
Seminário Maior de Nossa Senhora da Conceição do Porto
46
Em data anterior ao séc. XVI, a porta da cerca proto-românica da então Rua das Aldas10 ,
passa a ser designada Porta de Sant’Ana, quando nela foi colocada a imagem da santa avó do
Redentor. No tardoz das casas da banda sul da Rua de Santana é possível reconhecer troços
do antigo “Muro da Cidade” que rodeava o Morro da Sé ou da Penaventosa.
É fácil identificar os vestígios desta antiga porta do “castelo” –
designação dada na época moderna ao espaço da cerca, após a
construção da muralha gótica (séc. XIV) – quem sobe a calçada.
O arco de Sant’Ana, alterado na sua fisionomia original, marca
a milenar entrada para quem, vindo de sul, pretendia aceder ao
aglomerado, amuralhado desde tempos proto-históricos. Mais a
norte, outra porta franqueava o acesso à plataforma superior
do morro, a Porta de Vandoma, nome que se liga ao importante
castro de Vandoma (Paredes) romanizado e reocupado na Recon-
quista.
Outrora, junto ao arco de Sant’Ana, um antigo caminho de pé pos-
to ligava à Ribeira, caminho há muito desaparecido sob os logra-
douros que encimam as casas da Rua dos Mercadores. Vejamos
que indícios sobrevivem deste antigo acesso, que a documentação
registou.
Um olhar mais atento consegue descortinar, da banda sul do arco,
o que resta da ombreira de uma porta de fins de Quatrocentos, iní-
cios de Quinhentos, condenada por uma construção do séc. XIX. O nº45 Trabalhos arqueológicos que revelam a
Muralha Românica (Miradouro do Largo
da Rua de Sant’Ana, marca o início do caminho que, contornando a cerca pelo exterior, descia do Colégio)
ao Barredo. A designada Viela do Forno - a documentação medieval refere a “viella que vai do
forno da Ribeira pêra cima por detrás dos Mercadores” 11 - era um acesso semelhante a tan-
tos outros que recortavam a malha urbana, num tempo em que a circulação era essencial-
mente feita a pé, e as cargas muitas vezes transportadas sem recurso a carros ou animais.
10
Na época medieval a Rua das Aldas designava a actual Rua de Sant’Ana (OSÓRIO, Maria Isabel P. Osório -“Cidade, plano e
território. Urbanização do plano intra-muros do Porto (séculos XIII – 1ª metade XIV)”. Dissert de Mestrado, ed. policopiada.
FLUP (1994). Porto, p.173-5; ver ainda CARVALHO, Teresa Pires de, et alii - “Bairro da Sé do Porto. Contributo para a sua carac-
terização histórica”. Ed. CRUARB/CMP (1996). Porto, p.170-171.
11
BASTO, Artur Magalhães – “O estabelecimento da Companhia de Jesus no Porto”. Boletim Cultural da CMP. Vol. IV (1941).
Porto, pp.48-49.
[ 40 ]
As origens da viela perdem-se nas origens do burgo, porquanto a circunferência da cerca
medieval que acompanha, segue alinhamentos anteriores, da época castreja e romana12 .
Com a construção do Colégio de S. Lourenço nas proximidades, a viela assume o nome do
primeiro diácono da Igreja, surgindo também com a designação de
Viela do Colégio. Recorde-se que antes da edificação do templo,
os padres da Companhia de Jesus instalaram-se numa casa si-
tuada no outro extremo da viela, na actual Rua de S. Francisco
de Borja, provável razão da alteração toponímica.
A Viela de S. Lourenço pode ser reconhecida junto às escadas
que, vindas de Sant’Ana (entrada junto à boca do Largo do Co-
légio), dão acesso ao lavadouro público existente no local. Des-
cendo os degraus podemos reconhecer, por detrás dos muros
dos logradouros, o antigo alinhamento. Sob os “baixos” das
casa de Sant’Ana, são visíveis os silhares da cerca medieval.
Daqui a viela descia em direcção à Ribeira, com acesso, sensi-
velmente a meio do percurso, à Rua dos Mercadores, em local
próximo das raras casa torres sobreviventes neste arruamento
(nº156-158)13 .
O declínio da viela de São Lourenço – ausente na cartografia do
séc. XIX - acompanha a decadência da Sé como centro nevrál-
gico da vida política e administrativa do Porto. Com a retoma
da cidade pelo rei, a edificação da nova muralha e a reanimação da Reabilitação do Miradouro do Largo do
Colégio
zona ribeirinha, a zona da Sé vai perdendo funções e prestígio. O séc. XXI marcará a recupe-
ração do troço inicial da viela, com acesso junto à Igreja de S. Lourenço, onde recentemente
a análise arqueológica – de acompanhamento da obra de requalificação do espaço público
- permitiu reconhecer um troço do antigo Muro da Cidade.
Maria Isabel Pinto Osório
Departamento de Museus e Património Cultural/PCCS/CMP
12
SILVA, António Manuel S.P. - “Ocupação da época romana na cidade do Porto. Ponto de situação e perspectivas de pesquisa”.
Gallaecia. 29 (2010). Santiago de Compostela, p. 213-62.
13
CARVALHO, T.P. (1996), p.171: num auto de vistoria de 1801, surge a referência ao “beco da rua de Sant’ana” que ligava ao
“beco tapado nas traseiras” da Rua dos Mercadores.
[ 42 ]
3.1
Porta de Sant’Ana
3.1
3.1 3.4
3.2 3.6
3.3
Porta de S. Sebastião
3.5
3.7
52
53
57
14
Vide, CMP (1998: 38)
[ 46 ]
Casa Gótica | Casa da Rua de Casa Amarela – Residência
Pena Ventosa n.º 36-38-40 (3.4) Comunitária – Rua S. Sebastião, 45
(3.5)
58 59
61
60
Residência de Estudantes – R. Bainharia,
Casa da Mariquinhas, R. S. Sebastião R. Escura, R. S. Sebastião e R. Pena Ven-
n.º 25 tosa, Autor - Arq. Pedro Guimarães
62
Ricardo Teixeira
Arqueólogo/Arqueologia e Património.
65 66
Trabalhos de Trabalhos de
arqueologia arqueologia
[ 50 ]
Casa da Câmara (3.7)
67 68
Para além da visita, livre, que pode ser feita ao próprio O Posto de Turismo que aí funciona desde 2005 é uma ini-
edifício (construído sobre as antigas fundações da ciativa da Câmara Municipal do Porto”. Tem como principal
desaparecida “Antiga Casa da Câmara”), poderão valia o acolhimento turístico a milhares de pessoas que vi-
também ler o nosso livro de honra, onde constam sitam o Centro Histórico Património Mundial. Fazem parte
testemunhos como ”O que nos atrai no Porto é a das valências deste ponto de apoio ao turista, para além
simpatia das pessoas, a comida e bebida”, e ainda da informação turística, a venda do PortoCard - o cartão
descer aos pisos inferiores, onde se encontra uma turístico, de iniciativa do Turismo da Câmara Municipal do
mostra expositiva sobre o Vinho do Porto e a maqueta Porto, que dá acesso a um conjunto muito diversificado de
da cidade do Porto. Ao entrar, deparamos com uma ofertas e preços vantajosos em diversos produtos e ser-
grande janela de vidro a partir da qual se pode viços turísticos, a venda de merchandising oficial “Porto
avistar a estátua que simboliza o ”Soldado Porto”, Official Product” e de material promocional e guias de
com o dragão no capacete, que representa um dos suporte à descoberta da cidade, como o guia Weekend@
elementos heráldicos do antigo brasão da cidade. Porto, a brochura Percursos pelo Medieval, Neoclássico,
Na parede exterior de granito, pode-se observar Azulejo e Barroco, a brochura Porto 10 Razões para Vi-
os “cem palmos”, correspondentes à altura da sitar, entre muitos outros.
torre (cerca de 22 metros). Susana Ribeiro
Departamento Municipal de Turismo/CMP
70
[ 52 ]
4.4
4.8 4.5
4.5 4.5
4.7 4.5
4.5 4.5 4.3
4.6
4.5
4.5 4.2
4.5
4.5
4.1
4 – Fora de Portas
Avenida da Ponte (4.1) Programa de Realojamento Definitivo: Rua Traçado da Muralha Românica
dos Pelames, Rua da Bainharia e Rua dos
Mercado de Levante de S. Sebastião (4.2) Mercadores (4.5) Percurso
Casa Travessa S. Sebastião, 51-57 (4.3) As Ruas e os Ofícios (4.6)
Unidade de Alojamento Turístico (4.4) Sé Q5 e Lar de Terceira Idade (4.7) Porta
Dentro dessa atitude “salubrizadora” e de renovação das cidades, Sobra uma pedreira dum lado e do outro as casas que ficaram, da
as casas velhas não eram antiguidades com valor histórico, cul- metade da rua que estava no quarteirão do outro lado!
tural ou até estético, mas, na generalidade, consideradas “como Como dizia um arquiteto galego, que, por acaso (ou não!) também
lixo” que devia ser removido das cidades para dar espaço a novas foi autarca, os erros dos médicos enterram-se, os dos advogados,
praças, ruas e quarteirões que respeitassem a “modernidade” e a arquivam-se...mas os dos arquitetos... ficam aí cento e cinquenta
“monumentalidade” desses sítios. anos para que todos os sofram!
O Porto não fugiu a essa regra e, por isso, temos, também aqui, Rui Loza
alguns exemplos dos resultados dessas campanhas demolidoras
ex-Director do CRUARB e Administrador da Porto Vivo, SRU
da responsabilidade de grandes arquitetos que faziam a doutrina
da época, como os italianos Piacentini e Giovanni Múzio na pas-
sagem da década de 30 para 40.
A primeira grande demolição foi a que “desenvencilhou” a Sé Ca-
tedral do casario de quarteirões e ruelas que a envolviam desde
muito perto, com edificações que vinham da Idade Média.
O que foi feito (e é o que lá está hoje) foi o terreiro da Sé com o seu
pelourinho falso, a imitar um desenho barroco, com a imitação de
torre medieval que obrigou à demolição de uma que era verda-
deira, com uma nova organização viária, desempenada, aberta,
mesmo devassada.
A segunda grande demolição foi a “Avenida da Ponte” que teve o
mesmo princípio... mas desfecho diferente, porque depois do ar-
rasamento de muitos quarteirões medievais (nos anos 40 e 50)
não houve lugar ao refazer da cidade, ficando aberta a cicatriz
mal curada da mutilação.
Perdeu-se o Largo do Corpo da Guarda, casas góticas, constru-
ções e jardins com muitos séculos. Perdeu-se a silhueta edificada
e o emaranhado de ruelas, para ganhar a via automóvel da Praça
à Ponte, porque antes era obrigatória a volta pela Batalha.
[ 54 ]
Mercado de Levante de S. Sebastião (4.2)
72
4 - Fora de Portas [ 55 ]
Casa de Pasto “Retiro da Sé” – Tr. de Casa Travessa S. Sebastião, 51-57
S. Sebastião, nº 29 (4.3)
O edifício estava totalmente devoluto e encontrava-se em estado
Esta é uma casa quase centenária e está nas minhas avançado de degradação, apresentando várias alterações cons-
mãos há dezasseis anos. Por esta Casa de Pasto já pas- trutivas no seu interior.
saram muitos turistas, por isso tenho tantas notas estran-
O estudo desenvolvido adequou o tipo de construção às neces-
geiras expostas nas paredes.
sidades actuais, dotando o espaço das habitações agradáveis e
António Rocha com condições acústicas, sonoras e conforto, anteriormente não
exigidas. A proposta não alterou a leitura da fachada, mantendo
o máximo do existente. Foram eliminados os elementos dissonan-
tes existentes, nomeadamente na fachada tardoz do edifício para
que a proposta se articulasse com o edificado existente na envol-
vente e com o espaço público em que se insere.
A partir daí o projecto é constituído por uma zona comum de
entrada que dá acesso aos apartamentos, três em cada piso que
totalizam nove fracções com tipologias T0.
Adriana Floret
Atelier A
74
75 76
[ 56 ]
Unidade de Alojamento Turístico – Trav. S.
Sebastião / R. Pelames (4.4)
77 78
4 - Fora de Portas [ 57 ]
Programa de Realojamento Definitivo: Rua de Pelames (4.5)
79
80
Um dos objectos delineados no Programa de Reabilitação do A Rua Escura, deve o seu nome, ao facto de, pela sua localiza-
Morro da Sé, passa, por dinamizar o eixo estruturante Terreiro da ção, baixar sobre ela a sombra da Sé, tornando-a numa das ruas
Sé/Rua Escura/Rua da Bainharia/Rua dos Mercadores, razão pelo mais sombrias do Porto medieval. Em período anterior ao século
qual ao longo do percurso, e aproveitando as informações his- XV, encontramos referências que a designam como “Rua Nova”,
tóricas fornecidas sobre cada rua, serão identificados alguns dos o que, segundo alguns autores, se deverá ao avanço do casario
estabelecimentos comerciais mais carismáticos deste eixo. para além da cerca velha, e isto porque a Rua Escura foi, original-
mente, uma rua “fora de portas”. Ligava a Cruz do Souto à Rua de
S. Sebastião, dando acesso ao morro da Cividade e ao burgo epis-
copal através da Porta da Vandoma e da Porta de S. Sebastião.
A Cruz do Souto O topónimo de “Rua Nova” reflectiria então a existência de uma
dinâmica urbanística específica que, em dado momento, projecta
A zona conhecida por Cruz do Souto ocupa o largo onde con- para fora de muros o crescimento da cidade, tanto que este topó-
fluem a Rua Escura, Rua do Souto e a Rua da Bainharia, motivo nimo será novamente utilizado para designar a “rua formosa”16
pelo qual foi durante o período medievo um dos principais eixos mandada construir por D. João I, e que é hoje a actual Rua do
viários. Daqui se podia seguir, através da Rua do Souto e atraves- Infante D. Henrique.
sando o Rio da Vila, para o morro do Olival; ou indo pela Rua da
Bainharia até a Rua das Aldas, entrando no domínio da cerca ve- Contudo, e como o comprova um documento da Santa Casa da
lha, ou ainda à zona ribeirinha da cidade. Os diferentes trajectos Misericórdia do Porto, esteve aí instalado o Recolhimento de Nos-
que aqui se interceptam permitiam o acesso a áreas mais distan- sa Senhora do Ferro, antes de ser transferido para a sua localiza-
tes, como a ribeira e o morro do Olival, e revelar-se-iam de ex- ção actual junto às Escadas do Codeçal, razão pela qual, no século
trema importância no decurso do século XIV e XV, permitindo e XVIII, aparece designada como Rua de Nossa Senhora do Ferro
estimulando não só a continuidade e intensificação da actividade ou mais simplesmente, Rua do Ferro. Por curiosidade, sublinha-
mesteiral intramuros como o seu prolongamento para as áreas -se que à frente do edifício do Recolhimento de Nossa Senhora
acima indicadas. Sabe-se que este período é fundamentalmen- do Ferro estaria o cárcere da Inquisição, aí mandado instalar, em
te marcado pela dinâmica urbanística que fará com que a zona 1541, por D. João III.
baixa da cidade, a ribeira, suplante a zona alta, o morro de Pena- Conhecida à semelhança da Rua dos Mercadores pelas suas ca-
ventosa, que se confirmará como sede dos poderes institucionais. sas-torre, a Rua Escura seria calcetada ainda no fim do período
medieval, sublinhando assim a sua importância. Esta foi uma das
mais importantes ruas comerciais, antes do aparecimento da Rua
das Flores (séc. XVI) e da Rua Mouzinho da Silveira (séc. XIX). A
partir do século XIX, registos camarários dão-nos conta do esta-
do ruinoso das suas casas, degradação esta que viria a aumentar
com o passar das décadas.
16
A Rua Nova edificada durante a última década do século XIV, foi um dos factores
responsáveis pelo desenvolvimento da zona ribeirinha, pois encontrava-se junto
à Alfandega e tinha acesso directo ao Cais da Estiva, tornando-se numa relevante
área habitacional.
4 - Fora de Portas [ 59 ]
Mercearia – R. Escura, 29-33 Rua do Souto: pelarias e curtumes
[ 60 ]
Rua da Bainharia: bainheiros, cutileiros e violeiros
A concentração das actividades mesteirais em determinados lo- Num edifício que já foi demolido e que ficava perto da Cruz do
cais terá por isso impacto na toponímia urbana da cidade. Da Rua Souto terá vivido o escritor Camilo Castelo Branco. Alguns edifí-
da Sapataria, sabe-se que desaguaria junto à Sé, onde se realiza- cios resistiram ao tempo e, pelas suas características arquitectó-
vam as feiras semanais. A Rua da Bainharia, que alguns autores nicas, foram reabilitados. Sublinhe-se, por exemplo, os edifícios
admitem ter-se chamado Rua Faber, ou Fabris, constitui, junta- do gaveto entre a Rua da Bainharia e a Rua de Sant’Ana, em cuja
mente com a Rua dos Mercadores, um importante eixo de ligação estrutura se conjugam características medievais e actuais, como o
da zona alta à zona baixa e ribeirinha da cidade. Entre o século caso da Casa em Taipa no nº. 47 da Rua de Sant’Ana.
XIV e XV, foi ocupada principalmente por mesteres de couros e
Como já foi aqui dito, a Rua da Bainharia devia grande parte da
metais, como é o caso dos bainheiros e dos cutileiros.
sua importância ao facto de, juntamente com a Rua dos Merca-
Os bainheiros, que fabricavam as bainhas das espadas e punhais, dores, constituir um eixo vertical de ligação entre a alta e a baixa
terão sido, então, os responsáveis pela sua designação, que re- cidade, motivo pelo qual nos debruçaremos de seguida sobre
monta ao século XIII. Graça e Pimentel (2002) sublinham também esta última.
a existência na Rua da Bainharia de casas da Albergaria de Roca-
mandor, instituição de assistência social que se terá instalado no
Porto medievo, assim como um Hospital conhecido por Hospi-
tal Tareija ou Teresa Vaz de Antaro. Já nos finais do século XVIII,
terá sido conhecida como rua dos violeiros, alguns de renome,
como os Sanhudos da Bainharia. Arnaldo Leça, citado por Graça
e Pimentel (2002), conta-nos que “António Joaquim Sanhudo, ar-
tista de rabeca, violoncelo, contrabaixo e violão francês, de tripa
e arco”, terá tido aí oficina no n.º 50, tendo sido premiado na Ex-
posição Industrial do Porto, em 1861. Todavia, na primeira metade
do século XX, perde-se o rasto a esta geração de violeiros. Inten-
sifica-se, portanto, uma tendência de estagnação que já se vinha
a sentir desde o século XV, quando a Rua da Bainharia começa a
perder gradualmente a sua importância devido, em grande parte,
às transformações urbanísticas que foram desviando certas dinâ-
micas comerciais e económicas em favor de outros arruamentos.
82
4 - Fora de Portas [ 61 ]
Programa de Realojamento Definitivo: Rua da Bainharia (4.5)
83
84
86
85
4 - Fora de Portas [ 63 ]
Oficinas de Restauro – R. da Bainharia, 66-72 Toni das Violas – R. da Bainharia, 78-80
José D’Azeredo
88
[ 64 ]
Programa de Realojamentos Sé Q5 e Lar de Terceira Idade (4.7)
Definitivos: Rua da Bainharia (4.5)
90
Sé Q5 - entrada para
as habitações
89
Projecto 11 – R. Bainharia, n.º 50 - 52, Autor O CRUARB/CH após a derrocada dos edifícios da Rua da Bainha-
- Arq. Ana Leite Pereira
ria, nº 30/32 e 34/36, nos dias 18 e 19 de Janeiro, de 1991, elabo-
rou de imediato uma proposta de Recuperação de nove parcelas
afectadas por este acidente.
Três dias depois, a Câmara Municipal do Porto aprovou esta pro-
posta por unanimidade, em reunião ordinária de, 22 de Janeiro,
de 1991, apresentada pelo Vereador do Pelouro do Urbanismo e
da Reabilitação Urbana e ratificou todas as decisões e diligências
consideradas urgentes.
A C.M.P., como parte, na Fundação para o Desenvolvimento da
Zona Histórica do Porto promove no seu Conselho de Administra-
ção a resolução de assumir a condução de todas as tarefas neces-
sárias a elaborar os projectos de arquitectura e especialidades,
seleccionar a empresa construtora, e realizar a coordenação e
gestão da obra. Ao CRUARB competiu realojar as famílias, con-
cluir a posse administrativa dos prédios, realizar a remoção dos
destroços, proceder aos levantamentos.
4 - Fora de Portas [ 65 ]
A FDZHP convidou o signatário e por contracto de, 7 de Julho, de
1992, assumiu as tarefas de coordenador do grupo projectista.
Realizei os trabalhos próprias do domínio da arquitectura, apre-
sentei as fases de estudo necessárias e suficientes para avaliação
do projecto, de modo a iniciar as obras a partir de Setembro/92.
Somente três meses e sem levantamento do edificado!
Tive a felicidade de coordenar profissionais cujo carácter permi-
tiu uma verdadeira e profunda colaboração como a do Senhor
Eng.º Hugo Mota, sabedor e hábil, o dedicado Senhor Eng.º José
Alberto Borges de Araújo, a competente ETNOS a disponibilida-
de dos técnicos da FDZHP e do CRUARB respectivamente para o
proj.º de Estabilidade, de Inst. e Equipamentos Eléctricos, da His-
tória e Arqueologia Urbana; do Programa segundo os estudos em
curso e do zelo da empresa de construção “Matriz”.
91
A intervenção pretendeu adequar o construído ao programa pos-
Miguel Ângelo Pimentel de Castro
sível, seguir o plano genérico de salubridade e espaços livres no
interior do quarteirão (SÉ-Q5), respeitar os valores históricos e
culturais em presença e manter a paisagem urbana dominada
O meu nome é Miguel Ângelo Pimentel de Castro,
pela hierarquia dos seus edifícios significantes.
tenho 26 anos, sou advogado e moro na Sé do Porto
Furtado Mendonça desde que nasci. Viver nesta freguesia ou em qualquer
outra da Zona Histórica é, actualmente, um enorme
Arquitecto da CMP, autor do projecto
privilégio. Estar a cinco minutos da baixa do Porto - pró-
ximo de todos os serviços essenciais - e, bem assim, a
cinco minutos da zona ribeirinha da cidade, banhada
pelo magnífico Rio Douro, não tem preço! Ganha-se
tempo, poupa-se dinheiro e goza-se da simpatia e es-
pontaneidade desta gente única…
[ 66 ]
Projecto de Ampliação do Lar de
Terceira Idade (4.7)
No SÉ_Q5, projecto do Arq. Furtado Mendonça, para além
da habitação, instalaram-se equipamentos sociais, como foi
o caso do Lar de 3ª Idade, que veio a revelar-se insuficiente
para as necessidades dos seus utentes, tendo por isso que ser
ampliado. Paredes meias com este Lar, existiam outros servi-
ços comunitários: creche, espaço para actividades de tempos
livres, cozinha e lavandaria comunitárias, cuja actividade já era
reduzida em alguns deles. Para além destes espaços havia ain-
da um edifício em ruína que foi emparcelado gerando, desta
forma, uma maior área para a ampliação do Lar de 3ª Idade e
permitindo o acesso pela Rua da Bainharia.
Como condicionantes do projecto havia a morfologia dos edi- 92
fícios de base medieval, a orografia que faz com que eles se Projecto de Ampliação do Lar de 3ª Idade,
encontrarem a cotas diferentes, o acesso ao actual Lar ser feito Autor - Arq. Ana Leite Pereira
4 - Fora de Portas [ 67 ]
Casa em Taipa – R. Sant’Ana, 47 (4.8)
Inexplicavelmente chegaram intactas, até aos nossos dias, desde
o século XIV, duas casas com cinco pisos de altura, construídas
em madeira, na freguesia da Sé.
Ambas resistiram às transformações habituais em edifícios de
madeira medievais substituídos por edifícios de construção em
alvenaria de granito.
Os dois edifícios estavam destinados a uma reutilização, no fim
dos anos noventa do século XX, para habitação de populações ca-
renciadas (cerca de cinco habitações sociais).
Os dois edifícios, de propriedade municipal e posteriormente de
propriedade da Fundação para o Desenvolvimento da Zona His-
tórica do Porto, começaram a ser intervencionados para aquele
efeito – habitação.
No decorrer da obra de reabilitação e com grande surpresa de 94
todos os intervenientes, apareceram elementos construtivos em Interior da Casa em Taipa
fachadas exteriores e em estruturas interiores, integralmente
construídos em madeira (taipas) de grande valor patrimonial.
Trata-se então de alterar o futuro funcional das duas casas: as
mesmas deviam servir como equipamento social, permitindo-se
a sua visita a especialistas nacionais e estrangeiros interessados
num raro, ou mesmo único, caso construtivo ainda existente na
área do Centro Histórico/Património Mundial da UNESCO.
As obras de reabilitação dos dois edifícios foram complexas, du-
raram cerca de dois anos, mas podem ser seguramente conside-
radas, seja qual for o seu destino funcional, um exemplo raro de
construção em madeira, ainda existente em Portugal.
António Moura,
Arquitecto da CMP, autor do projecto
95
[ 68 ]
A rua dos Mercadores
A primeira referência histórica à Rua dos Mercadores data dos inícios do século
XIV, época de grande crescimento mercantil. A designação que lhe é dada deve-se
ao facto de aí se terem instalado os principais mercadores da cidade, mandando
construir, ao longo desta via que liga a Rua da Bainharia à Praça da Ribeira, casas-
-torre, idênticas às que ainda hoje são visíveis na Rua da Reboleira, também ela
conhecida por ter sido um importante pólo de fixação de mercadores portuenses.
Servindo como eixo de ligação entre a zona alta da cidade e a zona baixa ou ri-
beirinha, a Rua dos Mercadores será, ao longo do tempo, alvo de cobiça como
se pode comprovar por uma carta de 1374, na qual o rei D. Fernando I proíbe os
nobres e prelados do reino de permanecerem na cidade do Porto mais de três dias,
referindo explicitamente que “nem na rua dos mercadores nem nos mosteiros e
estalagens da cidade” deveriam procurar aposentadoria. Tal isenção ao direito de
aposentadoria seria confirmada e renovada por D. João I, o que servirá para ilustrar
a importância desta via assim como a natureza apelativa das suas casas, onde era
desejo dos nobres e prelados pernoitar. Dessa época de maior prestígio são ainda
testemunhas as casas nº 182-184 e nº 125-127, ambas do século XVI, cujas entradas
conservam a traça arquitectónica típica desse período (Graça e Pimentel, 2002).
Os nichos abertos nas fachadas de algumas das casas são ainda símbolo da devo-
ção dos mercadores que, em 1602, criam os estatutos necessários à fundação da
Confraria de Nossa Senhora da Purificação. Esta congregação religiosa de merca-
dores terá altar na Igreja de S. Lourenço. O retábulo de Nossa Senhora da Purifica-
ção encontra-se no transepto do lado esquerdo e data de 1730, tendo sido man-
dado construir em substituição de outro que ali existiria e cujos evidentes sinais
de degradação levaram à necessidade de reconstrução. De estilo barroco, trata-se
de um retábulo em talha dourada, de grandes dimensões, ostentando no centro
uma imagem de Nossa Senhora da Purificação em madeira estofada e policroma-
da do século XVII. A esta imagem tutelar sucedem-se, ao redor, treze lóculos que
abrigam bustos relicários. A autoria do risco deste sumptuoso retábulo é atribuída
a António Vital Rifarto17.
96
17
Um dos mestres da azulejaria do ciclo joanino, autor dos azulejos do Claustro Superior e da Sala
do Cartório do Cabido da Sé do Porto, para além de outros trabalhos em madeira, entre os quais
o do retábulo-mor da igreja do Convento de S. Domingos (1737) e os azulejos da Capela de Santa
Catarina e do Senhor da Agonia (Ribeiro, 2010: 380).
4 - Fora de Portas [ 69 ]
Programa de Realojamento Definitivo: Rua dos Mercadores (4.5)
97
[ 70 ]
98
Júlio Veiga
99
4 - Fora de Portas [ 71 ]
100
101
103
4 - Fora de Portas [ 73 ]
104
Este é o conjunto de percursos que mostram o Morro da Sé, uma das áreas
marcantes do Centro Histórico do Porto. Siga-se agora em direcção à Ribeira
onde se pode admirar o Rio Douro com seus barcos rebelos, saboreando mais
uma paisagem única que o Porto Património Mundial tem para oferecer.
[ 74 ]
4 - Fora de Portas [ 75 ]
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[ 76 ]
Mensagem do Presidente da Câmara Municipal do Porto
Apresentação do Projecto 1
4 – Fora de Portas 53
Bibliografia 76
[ 77 ]