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PASTORAL DOS BISPOS E BISPA METODISTAS

PARA QUE TODOS SEJAM UM


A perspectiva metodista para a unidade cristã

Agosto - 2009
PARA QUE TODOS SEJAM UM
Colégio Episcopal da Igreja Metodista
SUMÁRIO
Agosto 2009 - versão eletrônica
COLÉGIO EPISCOPAL
Bispo João Carlos Lopes - Presidente
Bispo Luiz Vergilio Batista da Rosa - Vice-Presidente APRESENTAÇÃO.........................................................................................5
Bispo Adonias Pereira do Lago - Secretário
Bispo Adolfo Evaristo de Souza
Bispo Adriel de Souza Maia INTRODUÇÃO............................................................................................7
Bispa Marisa Freitas Ferreira
Bispo Paulo Tarso de Oliveira Lockmann POR QUE SE FALA EM "ECUMENISMO" AO TRATAR DE UNIDADE CRISTÃ?......................13
Bispo Roberto Alves de Souza
Bispo Geoval Jacinto da Silva O QUE É O MOVIMENTO ECUMÊNICO?.............................................................17
Bispo João Alves de Oliveira Filho
Bispo Josué Adam Lazier
Bispo Nelson Luiz Campos Leite A UNIDADE CRISTÃ É DESEJO DE DEUS?.............................................................23
Bispo Paulo Ayres Mattos
Bispo Richard dos Santos Canfield O QUE ESTE ASSUNTO TEM A VER COM SER METODISTA?.........................................31
Bispo Rosalino Domingos
Bispo Stanley da Silva Moraes POR QUE HÁ TANTA DIFICULDADE COM ESTE ASSUNTO?............................................41
GRUPO ASSESSOR PARA A ELABORAÇÃO DO DOCUMENTO
Bispo Roberto Alves de Souza
COMO A IGREJA METODISTA NO BRASIL DEVE TRATAR
Revda. Amélia Tavares O TEMA DA UNIDADE INTERNAMENTE?......................................................49
Rev. José Carlos Peres
Dra. Magali do Nascimento Cunha COMO A IGREJA METODISTA NO BRASIL DEVE TRATAR
Rev. Marco Antonio dos Santos
Rev. Paulo Dias Nogueira O TEMA DA UNIDADE COM OUTRAS IGREJAS CRISTÃS?......................................53

SECRETÁRIO EXECUTIVO DO COLÉGIO EPISCOPAL COMO A IGREJA METODISTA NO BRASIL DEVE TRATAR
Bispo Stanley da Silva Moraes
O TEMA DA UNIDADE COM ORGANISMOS ECUMÊNICOS?........................................57
SECRETÁRIA EXECUTIVA PARA VIDA E MISSÃO
Revda. Joana D'Arc Meireles COMO A IGREJA METODISTA NO BRASIL DEVE TRATAR
O TEMA DA UNIDADE COM ORGANIZAÇÕES GOVERNAMENTAIS E NÃO-CRISTÃS?.........61
ASSESSORIA NACIONAL DE COMUNICAÇÃO
Suzel Tunes
COMO AS LIDERANÇAS METODISTAS NO BRASIL, CLÉRIGAS E LEIGAS,
PROJETO GRÁFICO E TEXTO DE REFERÊNCIA DEVEM SE POSICIONAR QUANDO FOREM CONVIDADAS/DESAFIADAS
Hideíde Torres (MTb/SP 35.784)
A PARTICIPAR DE REUNIÕES, CULTOS E CELEBRAÇÕES PÚBLICAS?........................69
SEDE NACIONAL DA IGREJA METODISTA
Av. Piassanguaba, 3031 APÊNDICE: COMO A IGREJA METODISTA NO BRASIL
Planalto Paulista - 04060-004 - São Paulo - SP
Fone: (11) 2813.8600 Fax: (11) 2813.8632 DEVE SE RELACIONAR ESPECIFICAMENTE COM A IGREJA CATÓLICA ROMANA?............71
Site: www.metodista.org.br
E-mail: sede.nacional@metodista.org.br GLOSSÁRIO............................................................................................81
APRESENTAÇÃO
"Estas coisas vos escrevo para que a nossa alegria seja completa." (1Jo 1.4)

Nosso compromisso com Deus é o de "espalhar a santidade


bíblica por toda terra". Nessa perspectiva, afirmamos também nosso
compromisso com a unidade cristã, para que o mundo creia. As-
sim sendo, apresentamos a vocês esta orientação pastoral.
Quando tenho uma relação sadia comigo e com Deus, não
tenho problemas para dialogar com as outras comunidades re-
ligiosas. A vida sadia, santa, é sempre uma vida aberta aos ou-
tros seres humanos e é nela que alcançamos a "alegria comple-
ta". O poder do Evangelho vem do Deus que é amor. Ele olha
para nós como pessoas a quem Ele ama.
Buscando tornar esta orientação de mais fácil utilização, es-
tabelecemos nela algumas novidades. Assim, as inserções nas
laterais das páginas são ora referência a frases destacadas do
texto, ora perguntas feitas para despertar a discussão nos gru-
pos de estudos. Sugerimos que essas orientações sejam usadas
para transmitir as informações deste documento na Escola Do-
minical, nos grupos societários, nos grupos de discipulados e
outros. Seu objetivo é funcionar como uma metodologia de
apoio para o aprofundamento do tema.
Tenha um abençoado estudo deste documento e que o mes-
mo produza frutos dignos do Reino de Deus.

BISPO JOÃO CARLOS LOPES


PRESIDENTE DO COLÉGIO EPISCOPAL
Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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teoria e a prática metodistas concernentes à
INTRODUÇÃO




questão ecumênica fossem claramente expos-




tas e fundamentadas. Essa pastoral foi pre-




parada e disseminada. É fato, porém, que, a


Esta Pastoral, dirigida a todos os mem-



despeito das orientações desse documento,


bros clérigos e leigos da Igreja Metodista no



Esta pastoral é desconfortos manifestados por membros da


Brasil e a todas as pessoas de alguma forma


uma versão revista


Igreja Metodista, no que diz respeito à sua


relacionadas com esta parte do Corpo de Cris-


e atualizada da


presença formal em organismos que também


to, é uma versão revista e atualizada da pri-


primeira carta


têm participação oficial da Igreja Católica


meira Carta Pastoral sobre este assunto, sobre o



Apostólica Romana, especialmente o Conse-


publicada em 1999. É a concretização do en- ecumenismo,



lançada em 1999. lho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), le-


caminhamento aprovado pelo 18º Concílio



varam à articulação de propostas para a reti-


Geral da Igreja Metodista, realizado em 2006,



rada da filiação a este organismo. A primeira



resultante de intenso debate sobre o tema.



foi apresentada no 17º Concílio Geral, em



Além de ter decidido pela retirada da Igreja



Maringá/PR, 2001, e, após ter sido a matéria


Metodista de organismos ecumênicos em que


amplamente discutida, o plenário votou fa-


a Igreja Católica Apostólica Romana partici-


voravelmente pela permanência da Igreja


pa como membro, assumindo uma crise no


Metodista no CONIC. Uma segunda propos-


relacionamento formal com este ramo do


ta foi apresentada, desta vez ao 18º Concílio


Cristianismo, o 18º Concílio Geral admitiu a


Geral, em Aracruz/ES, 2006, e a matéria foi


importância de um processo de reflexão e


aprovada, não sem muito debate e manifes-


aprofundamento em torno do assunto.


tações de divergências.


Por isso, identificou a necessidade de uma O 18º Concílio


Isso reflete o fato de que, no Brasil, não


revisão no documento de 1999 e optou pela Geral assumiu


há unanimidade quanto a esse assunto, nem


uma crise no

formação de um Grupo de Trabalho, com-


relacionamento dentro da Igreja Metodista e nem fora dela.


posto por pessoas que refletissem a diversi-


formal com a Vários fatores podem explicar essa situação


dade de pensamentos na Igreja Metodista No Brasil, não há


Igreja Católica e

tanto na história passada quanto no tempo


no Brasil relacionados com o tema. Esse GT a importância de unanimidade so-


presente. Há muita confusão quanto à com-


bre o assunto, nem

assessoraria o Colégio Episcopal quanto às um processo de


dentro da Igreja preensão do princípio bíblico da unidade,


reflexão e

implicações dessas decisões.



aprofundamento Metodista, nem denominado em épocas recentes




fora dela.

A primeira versão da Carta Pastoral foi a em torno do ○ "ecumenismo", e a compreensão da existên-


assunto.

realização de uma demanda do 16º Concílio cia de formas diversificadas de tornar con-


Geral da Igreja Metodista (1997), para que a creto este princípio, denominadas "movimen-



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to ecumênico". Critica-se o princípio com cias predominantes em nosso tempo do que




base em visões negativas de algumas formas se espera que uma igreja faça e realize. Aten-




de concretizá-lo. É fato que a caminhada A caminhada der a estas exigências pode trazer benefícios,


Fidelidade à



ecumênica mostrou-se não isenta de equí- ecumênica mensagem das mas o preço que se paga, muitas vezes, com



mostrou-se não


vocos. Diversos grupos e pessoas, no afã de Escrituras e essa postura, é o sacrifício de nossa identi-



isenta de equívo-


coerência com a


alcançarem a tão desejada reconciliação, che- dade. Afinal, fidelidade à mensagem das Es-


cos. O termo


herança metodista



garam a comprometer sua própria identida- ecumenismo tem crituras e coerência com a herança metodista



são aspectos



de confessional. Há, inclusive, quem pense sido usado de devem ser aspectos inegociáveis!


inegociáveis!


maneira contro-


que ecumenismo nada mais é do que a sim-



vertida. Requer-se, na discussão sobre ecumenismo,


ples integração de credos diferentes. Sabe-


disposição, mente e coração para discernir os


mos e não podemos ignorar o fato de que


desafios enfrentados pelo compromisso com


no presente momento o termo


PONDO EM PRÁTICA


PONDO EM PRÁTICA a unidade cristã quanto às suas possibilida-


"ecumenismo" tem sido usado de maneira

Dialogue com seu Quais são os desa-


des, oportunidades, dificuldades e limites, à

controvertida, suscitando sérias e graves


grupo de estudos:

fios enfrentados


distorções. Estamos firmemente convenci-

De que maneira o luz do mandato expresso pelo próprio Senhor


pelo compromisso


ecumenismo ou Jesus na oração sacerdotal, na qual interce-

dos de que nem tudo que é adjetivado de com a unidade cris-


unidade cristã tem


deu ao Pai não só por seus discípulos, mas

ecumenismo, particularmente na mídia se- tã em sua comuni-


sido usado de


dade? Quais são as por todos que viessem a crer nele, quando

cular e religiosa, reflete a nossa interpreta-


maneira contro-

possibilidades?


disse: "A fim de que todos sejam um; e

ção e prática ecumênicas. À vista disso, mais vertida? Existem


Quais são os limi-


como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, tam-

do que nunca, se faz necessário o experiências disso


tes?

em sua comunida-


bém sejam eles nós; para que o mundo creia

"discernimento de espíritos".


de local? Que


que tu me enviaste" (João 17.21).


É sempre bom assinalar que, ao repensar consequências


houve? Teria sido Reconhecemos ainda que, como Igreja


a sua compreensão e atuação em relação a


esta temática, a Igreja Metodista não pode possível realizar as Metodista, não fomos capazes de aprofundar



mesmas ações de

simplesmente deixar-se levar pelas pressões em nossas igrejas locais nosso diálogo sobre


outra forma?


do momento, ignorando por completo o a compreensão e prática em torno da unida-


Quais acertos


ensino bíblico e a sua própria trajetória his- de do corpo de Cristo, apesar da Carta Pas-


existem? Que


tórica. Se, de um lado, é impossível despre- consequências eles toral de 1999. Isto contribuiu para gerar e



trazem? O que

zar a situação em que vivemos, tanto do pon- renovar inquietações e incompreensões no


Jesus faria em

to de vista social quanto religioso, por outro, seio de nossa Igreja. A falta de estudo do

situação simi-

não podemos restringir a ação pastoral da lar? Busque ○ tema e aprofundamento para a prática, a


comunidade de fé àquilo que somente agra- confirmação nas começar da igreja local, é um problema que


de ao "mercado religioso", isto é, às exigên- Escrituras. precisa ser superado no mais curto prazo.



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O que importa, entretanto, é seguirmos to pergunta-resposta e uma linguagem acessí-




adiante, tendo diante de nós as decisões to- vel a toda a membresia de nossa Igreja.




madas. Seguir adiante significa traçar novos Traçar novos



PONDO EM PRÁTICA Repetimos que não pretendemos abrir



caminhos com base na nossa realidade, mas caminhos de


A carta afirma:


mão de nossas convicções nem fechar os


acordo com a


não lançar fora as significativas experiências “Não pretendemos



nossa realidade, olhos para as crises que enfrentamos em tor-



de crescimento - na fé, na esperança, no amor abrir mão de


no deste assunto. Mas entendemos que o


sem lançar fora as


nossas convicções


- que o nosso contato com cristãos e cristãs


experiências de Senhor da história e da Igreja, nos chama


nem fechar os



de outros grupos e de organismos crescimento.


para um compromisso responsável com a


olhos para as



intereclesiásticos nos proporciona. Significa


crises que enfren- instauração do seu Reino. Nessa tarefa, nos



também não lançar fora nossas convicções te- tamos em torno


juntamos a outros irmãos e irmãs que, ape-


ológicas, pois o compromisso pela unidade do


deste assunto.” De


sar de sustentarem opiniões diferentes da


corpo de Cristo somente pode ser levado à fren- que formas sua


nossa, demonstram idêntica motivação e



Igreja local e você,


te se por um lado, tivermos convicções forte-

paixão pelo Evangelho de Cristo. Trata-se



pessoalmente,


mente alicerçadas em nossa herança wesleyana,
○ da unidade na missão, através da qual esten-


○ podem assumir o
e, por outro, estivermos plenamente conscien-


compromisso demos a mão a todos quantos "têm o cora-


tes dos problemas, das dificuldades e dos limi-


responsável com a

ção reto para conosco" (cf. 2 Reis 10.15).


tes que o movimento ecumênico enfrenta na instauração do



atualidade. O presente estado do ecumenismo Reino de Deus,



sem ignorar esta

não admite nem romantismos, nem levianda-


dificuldade ou


des e, muito menos, irresponsabilidades, quer


quaisquer outras


doutrinais, quer práticas.


que houver em seu


caminho? Como


Com base nesses princípios, convidamos


demonstrar


todos os membros da Igreja Metodista, cléri-


maturidade?

gos e leigos, em particular os que têm dificul-



dades em compreender a sua preocupação



ativa pela unidade dos cristãos, a refletir seria-



mente sobre esse importante aspecto da nos- As bases firmadas



sa identidade cristã e confessional, por meio na carta de 1999



não foram

da leitura desta carta que ora apresentamos à


desprezadas, elas


Igreja. As bases firmadas na Carta Pastoral de



foram revisadas à

1999 não foram desprezadas; elas foram revi- luz das novas ○


sadas à luz das necessidades que se apresen- necessidades do




tam pós-18º Concílio Geral, com um forma- 18º Concílio Geral





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designá-lo é de utilização recente. Por isso não
POR QUE SE FALA EM




vamos encontrar na Bíblia estas palavras no



"ECUMENISMO" AO TRATAR DE Conheça, neste


sentido da busca por unidade cristã. Vamos



trecho da carta, o



encontrar, sim, o termo que dá origem à ex-



UNIDADE CRISTÃ? caminho percorri-



pressão, a palavra grega oikoumene, que quer


do na construção



Precisamos do conceito de dizer "casa comum" ou "toda a terra habita-



entender bem os


“Ecumenismo” e da". Ela foi criada pelos gregos, séculos antes



Ecumenismo é o princípio da unidade cris- termos usados e os


sua origem no


de Jesus, para expressar tanto a extensão geo-


contextos de sua


tã em torno dos elementos comuns da fé em grego e no latim.



utilização, para gráfica da terra como lugar onde se vive, como



Jesus Cristo. Implica atitudes de diálogo, res- Recuperar os



romper os precon- o jeito de se organizar para viver nessa terra.


sentidos originais


peito, convivência e colaboração na forma de


ceitos e adotar Esse termo aparece muitas vezes na Bíblia com


é algo que pode



atos de piedade (estudos bíblico, oração, je- posturas de


este sentido grego e está traduzido para o


nos enriquecer na



jum, reflexão e visitação) e de misericórdia integralidade,


discussão para português de diferentes formas (vale conferir


próprias da

(ações solidárias e de cidadania). Deve carac- hoje!


em Mateus 24.12-14; Marcos 13.10; Lucas 2.1;

identidae



terizar-se como uma resposta à oração de Je-


Lucas 4.5; Lucas 21.26; Atos 11.28; Atos 19.27;

metodista. O que


sus: "que todos sejam um para que o mundo


Ecumenismo tem Romanos 10.18; Hebreus 1.6; Hebreus 2.5;


creia" (Jo 17.21). Portanto, a comunhão dos

significado para


Apocalipse 12.9).


cristãos e das cristãs deve ter o sentido da

nós? O que deve,


O termo oikoumene ou "ecumene", na tra-


participação na Missão de Deus, por meio de fato, significar?


dução para o latim, ganhou este significado


do evangelismo e do testemunho da presen-


religioso, da busca da unidade cristã, muito


ça de Cristo como razão do ser igreja. Como


tempo depois, já no final do século XVII.


orienta o apóstolo Paulo: "esforçando-vos


diligentemente por preservar a unidade do Naquela ocasião, as guerras religiosas entre



Espírito no vínculo da paz; há somente um católicos e evangélicos e entre evangélicos


Guarde bem esta


corpo e um Espírito, como também fostes mesmo levaram cristãos sensíveis frente a este


definição, pois ela


chamados numa só esperança da vossa voca- é orientadora para escândalo a pregarem a paz na terra habitada,



ção; há um só Senhor, uma só fé, um só ba- a vida e a missão entre os próprios cristãos. Por isso o termo



da Igreja:

tismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é "ecumene" passou a ser usado para expressar


Ecumenismo é o


sobre todos, age por meio de todos e está em o ideal da unidade cristã na "casa comum",


princípio da


todos" (Ef 4.3-6). no mundo criado por Deus e que habitamos.



unidade cristã em


torno dos elemen-



Apesar de o princípio ter origem no pró- ○ Diante disso, vale afirmar que há com-

tos comuns da fé

prio movimento dos seguidores/as de Jesus, preensões de ecumenismo que pregam a eli-

em Jesus Cristo.


a expressão "ecumenismo/ecumênico" para minação das diferenças cristãs, a negação





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da diversidade, e a necessidade de unifica- compromisso ecumênico de buscar tornar




ção eclesial e doutrinária com a uniformi- visível a unidade que nos está dada em Jesus




zação do corpo de Cristo, ou dos ramos o caminhar Cristo, e somente nele, significa, antes de tudo,




Dele, a Videira Verdadeira. Afirmamos que ecumênico deve companheirismo na missão, no testemunho



aprofundar as


isto não corresponde ao que a Igreja e no serviço, e não formar uma só instituição



oportunidades que



Metodista no Brasil tem por convicção, eclesiástica, uma superigreja.



beneficiam,



acompanhando a história da concretização


perante o mundo,



do princípio de unidade cristã no mundo e o testemunho da




em nosso país. Há ainda grupos que fazem fé em Cristo e o



uso do termo "macroecumenismo". Esta serviço pleno de



amor ao próximo.


expressão foi criada pelo bispo católico



Pedro Casaldáliga para afirmar a aproxima-



ção cristã de outras religiões, porém é um



termo estranho ao metodismo e à tradição




histórica do movimento ecumênico, que, no


PARA PENSAR


que diz respeito a outras religiões, fazem


Uma antiga canção


uso da expressão "diálogo inter-religioso".


inspirada na


prática dos


Acima de tudo, entendemos que o cami-


primeiros


nhar ecumênico deve aprofundar as oportu-

metodistas dizia:



nidades que beneficiam, perante o mundo, o

“Não importa a



testemunho da fé em Cristo e o serviço pleno Igreja que tu és, se


atrás do Calvário


de amor ao próximo. Prossigamos a caminhar.


tu estás, se o teu


Podemos admitir que o final desta jornada -


coração é igual ao

uma vez que reconhecemos as limitações de


meu, dá-me a


nossa pecadora humanidade - certamente só


mão”. O próprio


poderá realizar-se por ocasião da plena e vi-


Wesley usou esta


toriosa manifestação da Graça de Deus, nos frase. O que ela



últimos tempos, quando as Igrejas deixarão significa em



termos de identi-

de existir, pois elas são históricas e temporais.


dade metodista?

Deus nos enxugará dos olhos todas as lágri-



Como articular

mas. Existirá o Reino de Deus em sua pleni- unidade e identi- ○



tude ecumênica, regido pela única e eterna "lei" dade sem promover


do amor. Por isso, entendemos que o nosso cisões no corpo?





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missionárias e juntas de missão das mais di-
O QUE É O MOVIMENTO




ferentes igrejas atuando nos países, os mis-



ECUMÊNICO? Hoje também


sionários se defrontaram com a realidade da



existe o escândalo



visibilidade da divisão: numa mesma cidade



da divisão entre os



eram centenas de diferentes pontos de mis-


cristãos e cristãs



Muito tempo antes da palavra Este capítulo da na sua cidade? Ou são que frequentemente confundiam os



Pastoral pretende


"ecumenismo" ser utilizada para expressar é algo do passado? "missionados" que se perguntavam: a quem



mostrar a cons-


este princípio que tem por base o diálogo, o


devemos aderir? Qual desses grupos tem a


trução histórica


respeito, a convivência e a colaboração, que


do movimento mensagem verdadeira? Se é o mesmo Deus,



deve ser assumido pelos/as seguidores/as de por que estão separados? Missionários sen-


pela unidade dos



Jesus Cristo, várias coisas aconteceram e que cristãos e cristãs. síveis a essas questões classificaram o que vi-



tornaram concreto este ideal. Ao longo dos O que você e sua


viam como a evidência do "escândalo da di-



séculos, muita gente inspirada por Deus as- igreja conhecem


visão entre os cristãos" e um grande obstá-


desta história?

sumiu este princípio de fé e resolveu agir, culo para o testemunho. Inspirados pelo




concretizar ações, experiências, reuniões, en- Espírito Santo, muitos deles resolveram de-



contros, situações que marcaram a história safiar as igrejas para que não deixassem de



da Igreja e do mundo. Estas pessoas e estas ser elas mesmas e cumprir a missão de espa-



situações deram forma ao que passou a ser lhar o Evangelho, mas que buscassem for-



reconhecido como um movimento cristão mas de diálogo e de cooperação, evitando a



por unidade, denominado no século XX competição, para que a ação dos cristãos



como movimento ecumênico. Movimento

O movimento passasse a ser vista no mundo como um si-



ecumênico é, portanto, a diversidade de ex-

missionário levou nal do amor de Deus.



pressões que buscam tornar concreto o prin- as igrejas america-


É fato que antes de os missionários senti-

nas a pensar em


cípio do ecumenismo.

rem-se desafiados a esforços de diálogo em


formas de respei-


E foi no século XIX que a necessidade de torno da missão, outras situações demons-


tar a missão que


unidade entre cristãos e cristãs passou a fi- todas as denomi- travam que a unidade e a comunhão cristãs



car mais evidente. Isto porque ganhava cada nações realizavam eram possíveis. Duas delas se destacaram já



no mundo.

vez mais força o movimento missionário de- nos primórdios do século XIX: (1) o movi-


Queriam evitar a


senvolvido pelas igrejas evangélicas da Eu- mento de juventude cristã, com as Associa-


competição


ropa e dos Estados Unidos, que desde o sé- ções Cristãs de Moços e de Moças e os mo-

interna que


culo XVIII se espalhou pelos continentes prejudicaria a ○


vimentos estudantis cristãos (que se uniram


americanos, asiático e africano para dissemi- salvação dos na Federação Mundial dos Movimentos Es-

povos.

nar o Evangelho. Com tantas sociedades tudantis Cristãos); (2) as Sociedades Bíblicas



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- esforço comum das igrejas na tradução e


Uma outra situação que é também consi-



impressão de Bíblias para o trabalho missio- derada um marco da história do movimento



Depois da Primei-


nário. No entanto, a grande marca do esfor- por unidade cristã aconteceu durante a Pri-



ra Guerra Mundi-


Veja nesta parte


ço por diálogo e cooperação foi a realização meira Guerra Mundial (1914-1918) quando



da pastoral um al, os cristãos e



da Conferência Missionária Internacional, muitas igrejas evangélicas da Europa e dos


pequeno resumo cristãs de diversas



realizada na cidade de Edimburgo (Escócia), de eventos e igrejas se uniram Estados Unidos, especialmente por meio de




em 1910, reunindo, pela primeira vez na his- encontros entre para promover a pessoas leigas, com grande participação da



missionários e paz e a cura das


tória, cerca de 1500 pessoas, com represen- juventude, ficaram preocupadas com a res-



pessoas que feridas emocio-



tação oficial de ig rejas e sociedades ponsabilidade cristã pela promoção da paz e



amavam as nais. Que iniciati-



missionárias das principais igrejas da tradi- vas assim você e da justiça. Elas atuaram com movimentos em


missões, em busca


torno da busca da paz entre as nações e na


ção cristã, para refletirem sobre o tema da do respeito mútuo sua comunidade



local podem cura das feridas físicas e emocionais das pes-


missão e as possibilidades de unidade em e do avanço da



tomar, junto a


obra soas e povos que padeciam os efeitos da guer-

torno dele. A base era a oração de Jesus re-



evangelística. outras comunida-


ra. Como fruto deste processo foi criado, em

gistrada em João 17.21: "que eles sejam um,


○ des? É possível,
1925, o "Movimento Vida e Ação" que re-


para que o mundo creia". por exemplo,


forçava a ideia de um cristianismo prático,


combater a


Estudiosos consideram Edimburgo 1910

ou seja, a compreensão de que os cristãos e


violência e as


o marco inicial da história do movimento

drogas sem cristãs devem estar unidos em ações concre-



chamado, mais tarde, ecumênico. Um dos

associar-se a tas de promoção da vida por meio de atos



resultados foi a criação do Conselho Missio- outros grupos que

de misericórdia e de luta pela justiça e a paz.


também lutam


nário Internacional que consolidou a reali-


Uma terceira expressão de unidade tam-

pela vida? De que


zação de outras conferências missionárias


formas esta bém vai marcar a história do movimento cha-


para diálogo e busca de cooperação, que são

tarefa, que


mado ecumênico: líderes de igrejas evangéli-


realizadas até os nossos dias, com importan-

também é


cas, principalmente aqueles que se dedicavam


tes contribuições para a teologia da missão e missionária, pode


à reflexão teológica, começaram a se reunir

ser melhor


sua prática. Em nossas terras latino-ameri-

no início do século XX para conversar so-


realizada?


canas a Conferência Missionária do Panamá

bre as doutrinas de suas igrejas, para desco-



(1916) teve a mesma importância contribu-

brirem o que tinham em comum e delimita-



indo para a construção do movimento

rem as diferenças. Como resultado, em 1927,



ecumênico no continente, que experimentou

foi realizada uma conferência na Europa,



uma série de expressões e organizações e teve ○



chamada "Fé e Ordem" (ordem como sinô-

o Conselho Latino-Americano de Igrejas -


nimo de doutrina) e reuniu representantes



CLAI, fundado em 1982.


de 127 igrejas. Discutiram sobre batismo,





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santa ceia, ministério ordenado, Bíblia. Des- trabalhavam a unidade por meio do serviço,




cobriu-se que as diferenças são muitas, mas do estudo da Bíblia, da educação popular e




que há muita coisa em comum. A partir dali teológica. Foi em 1982, no final do período




começaram a escrever vários documentos da ditadura militar, que foi fundado o Conse-




para expressar isto. lho Nacional de Igrejas Cristãs, que tentou e




ainda tenta recuperar a história, a


Estes três movimentos - missionário, cris-



expressividade e a vitalidade da CEB.


tianismo prático e doutrinário - passaram a



realizar muitas reuniões e atividades, que mais A Igreja Católica Romana esteve ausente



tarde levaram à fundação do Conselho Mun- de todo este processo e resistiu bastante a



dial de Igrejas (1948), que se tornou a expres- ele, já que foi convidada para várias dessas



são mais destacada do movimento ecumênico, reuniões históricas. Demorou para a Igreja



Católica se integrar ao movimento


mas que não é sinônimo dele. Além do Con-



selho Mundial de Igrejas, existem muitas ou- ecumênico: foi apenas após o Concílio



tras organizações, conselhos de igrejas, asso- ○ Vaticano II (que terminou em 1965), convo-



ciações eclesiásticas e membros de igrejas que cado pelo Papa João XXIII, que esta igreja



dão forma a este movimento que tem tanta reconheceu a existência e o valor do movi-



diversidade, mas que tem em comum o fato mento ecumênico e incentivou a participa-



de reunir cristãos e cristãs no diálogo e nas ção dos seus líderes e membros. A hierar-



ações concretas que tornam visível o ideal da quia católica optou por não aderir ao Con-



unidade cristã. Todas estas fontes do movi- selho Mundial de Igrejas, mas são muitas re-



mento têm origem no protestantismo (igre- presentações nacionais católicas que são



jas evangélicas). membros de conselhos nacionais de igrejas.




Importa ainda demarcar que o movimen-

No Brasil, estas três fontes estiveram pre-



to ecumênico é dinâmico e não se restringe a

sentes também na formação da Confedera-



instituições e a igrejas. No meio do povo há

ção Evangélica do Brasil - CEB, fundada em



muitas experiências que acontecem porque

1934, maior expressão do movimento



pessoas cristãs acabam se juntando por uma

ecumênico brasileiro, mas que, lamentavel-



causa comum ou por laços de boa vizinhança

mente, foi extinta por conta das ações


e amizade. É o chamado ecumenismo popu-



repressoras da ditadura militar que o Brasil




lar ou de base. É o Espírito de Deus que so-

viveu entre 1964 a 1985. Apesar deste obstá- ○


pra e não está preso a laços institucionais e



culo, os ideais ecumênicos sobreviveram no



faz o ideal da unidade acontecer.



Brasil por meio de outras organizações que





Para que todos sejam um
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24


Para que todos sejam um


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○



gui-lo, nem àquelas que se sentiam ameaçadas
A UNIDADE CRISTÃ É DESEJO




pelo seu ministério. Jesus está se dirigindo



PONTOS PARA PENSAR
DE D EUS ?


ao Pai, àquele que o tinha enviado. Jesus ora



A oração de Jesus



por sua comunidade como um todo, não



nos mostra que a



somente pelos discípulos que estavam com


unidade de sua



Para nós, metodistas, a base para se Neste capítulo, Igreja não é fruto ele, mas também por quem viesse a crer por



vamos buscar as


compreender o sentido do ideal de unida- da vontade intermédio deles. Portanto, Jesus estava tam-



bases bíblicas que


humana nem o


de são as Santas Escrituras, orientadoras bém orando por nós que temos o privilégio


definirão de que


cumprimento de


da prática de fé de quem se chama cris-


forma devemos e a responsabilidade de continuar a sua obra.


meros desejos


tão/cristã. Nelas há uma referência que


agir no mundo humanos.


A oração de Jesus nos mostra que a uni-


podemos interpretar como fundante: en- em relação a


dade de sua Igreja não é fruto da vontade


outros segmentos


contra-se na oração sacerdotal de Jesus. O


humana nem o cumprimento de meros de-


evangelista João registrou que Jesus levan- cristãos. A comunidade



sejos humanos. É o cumprimento do desejo

tou os olhos para o céu e orou: "Não rogo cristã, para ser fiel



○ à sua vocação, de Jesus Cristo e condição essencial para que
somente por estes, mas também por aqueles que


deve expressar, por


vierem a crer em mim, por intermédio da sua pala- o mundo creia, ou seja, para o testemunho


intermédio de suas


vra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó cristão no mundo. Isso quer dizer que a co-


relações fraternas


Pai, em mim, e eu em ti, também sejam eles em e de amor, a munidade cristã, para ser fiel à sua vocação,



nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu mesma união deve expressar, por intermédio de suas rela-



profunda que

lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, ções fraternas e de amor, a mesma união


existe na Trindade,


para que sejam um, como nós os somos; eu neles e tu profunda que existe na Trindade, ou seja,


ou seja, entre o


em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unida-

entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.


Pai, o Filho e o

O que você


de, para que o mundo conheça que tu me enviaste e

Espírito Santo.


A unidade da comunidade cristã é uma an-

entende da oração


os amaste, como também amaste a mim. Pai, a mi-


de Jesus? Coloque

tecipação da promessa de realização do Reino


nha vontade é que onde eu estou, estejam também

no papel suas


de Deus que está presente entre nós, mas que


comigo os que me deste, para que vejam a minha

impressões, lendo


somente experimentaremos de maneira plena


glória que me conferiste, porque me amaste antes da o texto bíblicoi


fundação do mundo" (Jo 17. 20-24). com calma. na consumação dos tempos. É também um



Depois, verifique a sinal da possibilidade de reconciliação entre os


Esta é uma das passagens mais belas e


orientação de

seres humanos e destes com Deus.



profundas do Novo Testamento e é conhe- nossos bispos e




cida como a oração sacerdotal ou oração pela bispa. Como você ○ Há uma Ecclesia (igreja) não delimitada

percebe o ensino?

unidade. Jesus não está se dirigindo aos dis- pelas tantas denominações existentes, que,

Como praticá-lo?

cípulos, nem às pessoas que procuraram se- na linguagem dos Pais da Igreja, é descrita



Para que todos sejam um
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 25
26


Para que todos sejam um


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○



como igreja una, santa, católica (universal) e


O que nos caracteriza como Corpo de Cris-



apostólica (Efésios 2.14-22). A participação to é o fato de termos sido batizados em Cris-




na caminhada pela unidade segue um rumo to pelo Espírito Santo. Paulo diz: "Porque as-




diferente do divisionismo que tem permiti- sim como o corpo é um e tem muitos mem-




do tantas igrejas que se inauguram e vivem bros, e todos os membros, sendo muitos,




como que sem compromisso com séculos constituem um só corpo, assim também com




de herança cristã, assim saltando das pági- respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito,




nas bíblicas para o seu espaço hoje. Esse todos nós fomos batizados em um só corpo,




brotar dividido não oferece, perante o mun- quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer


DISCUTA NO SEU



do, testemunho em favor da fé que deseja livres. E a todos nós foi dado beber de um só


GRUPO DE ESTUDOS A



proclamar "um só Senhor, um só Pai, uma só fé, AFIRMAÇÃO DA espírito" (1 Coríntios 12.12-13).



PASTORAL DO


um só batismo" (Efésios 4).


O batismo em Cristo é uma realidade in-


COLÉGIO EPISCOPAL:



A busca da unidade não é a busca da união clusiva. Somos "judeus e gregos, escravos e

A busca da


○ livres". Na Carta aos Gálatas, Paulo acres-


das igrejas em uma única forma institucional. ○ unidade não é a


busca da união centa "homem e mulher" (Gálatas 3. 27-28)


Ela é, acima de tudo, a afirmação e reconheci-


das igrejas em e aos Colossenses, insere "(o) bárbaro e (o)


mento da diversidade de dons e ministérios


uma única forma

cita" (Colossenses 3.11). É importante re-


concedidos por Deus ao seu povo. Portanto,

institucional. Ela


pode-se dizer que a prática da unidade cristã é cordar que os gregos consideravam bárba-


é, acima de tudo,


a busca e vivência da unidade na diversidade. a afirmação e ros todos os que não eram gregos; os citas



Isto porque nenhuma igreja ou denominação reconhecimento eram considerados um povo não civilizado,



da diversidade de

pode reivindicar para si a representação plena e os judeus, povo exclusivo de Deus. Todas


dons e ministérios


e exclusiva do Corpo de Cristo. O máximo as divisões humanas, sejam elas políticas,


concedidos por


que elas podem reivindicar é que são parte, econômicas, sociais e culturais, são supera-


Deus ao seu povo.


membros, do Corpo de Cristo e que, sob a das no Corpo de Cristo. Qualquer um que



inspiração e orientação do Espírito, estão em aceita o chamado e encontra sua identidade



plena comunhão com Deus. em Cristo deve ser capaz de expressá-la em



qualquer raça, gênero, classe ou identidade


A imagem de "Corpo de Cristo" é, com


nacional como uma contribuição para o en-


certeza, a mais linda e mais conhecida ima-


riquecimento de todos.

gem da Igreja que Paulo nos ensina. E ela




Paulo indica que nosso corpo é formado

tem vários elementos que são essenciais para ○


por diferentes membros, cada um com sua


nossas vidas, obras e relações tanto pessoais



identidade e função específica e que essa di-



como institucionais.



Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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versidade precisa ser respeitada. Não há hie-


Deus. É a mesma raiz de oikoumene (ecumene),



rarquia de importância entre as diferentes a terra habitada. É uma imagem poderosa




partes do corpo. Todos têm seus papéis in- da Igreja como uma comunidade de pesso-




dispensáveis para o funcionamento pleno do as que compartilham a vida. Isso significa




corpo. Cada parte necessita da outra e é ne- que nossa missão é propiciar as condições




cessitada pelas outras. Podemos dizer que é para que a casa do mundo, em toda a sua




uma hierarquia circular na qual o centro é diversidade, se torne um verdadeiro lar onde



PONTOS PARA PENSAR



Cristo. O papel dos apóstolos, profetas, todos possam coabitar em amor e justiça.


Avaliem agora o



evangelistas, pastores e mestres é o de servir Em seu grupo de contexto de Pedro:


O apóstolo Pedro também usa a imagem


estudos, procure


para o aperfeiçoamento da comunidade para em que a unidade


de Casa (oikos) quando fala da Casa de Pe-


estudar esta parte


é relevante para os


o desempenho de seu serviço, para a dras Vivas para se referir à Igreja, em sua



da Pastoral irmãos e irmãs a



edificação do corpo de Cristo (Efésios 4.11- primeira carta aos cristãos da Ásia Menor:


discutindo com as


quem ele escreve?



16). Este é um processo que nos permite pessoas acerca de "Achegai-vos a ele, pedra viva (Cristo), que os ho-


O que essa mensa-



crescer na plenitude de Cristo, tanto indivi- suas várias gem poderia mens rejeitaram, mas escolhida e preciosa aos olhos



experiências com

dualmente quanto institucionalmente. significar hoje, por de Deus. E, como pedras vivas, também vós vos


a fé. Para algumas,


exemplo, para nós

tornastes casa espiritual e sacerdócio santo, para


Na carta aos Efésios (2.11-22), Paulo es-

a Igreja Metodista em relação aos


oferecerdes sacrifícios espirituais aceitos por Deus


creve sobre a trágica divisão da família hu- não é a primeira países do mundo


comunidade. O nos quais o através de Jesus Cristo" (1 Pedro 2.4-5). Esta


mana simbolizada pela inimizade entre ju-


que puderam Cristianismo sofre imagem da Igreja como casa de pedras vivas


deus e gentios. Paulo nos diz que, com sua


aprender com intensa persegui- se torna mais poderosa quando recordamos


morte, Cristo derrubou a barreira da separa-

outros grupos? O ção?


que os cristãos da Ásia Menor viviam na


ção e criou uma nova humanidade, reconci-

que é relevante


diáspora e estavam dispersos por vários lu-


liando ambos em um só corpo. "Assim, já para cada um/a no


gares, sem organização, e expostos a toda

Metodismo? Como


não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos


sorte de perseguição. Pedro nos convida a

isso se relaciona


dos santos, e sois da família de Deus, edificados so-

pensar que nós também, na atualidade, vive-


com o sentido do


bre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele

Corpo de Cristo mos em diáspora, pois estamos num mundo



mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo

para Paulo? dominado por forças hostis aos valores do



o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedi-

Reino de Deus do qual somos cidadãos. Cada



cado ao Senhor, no qual também vós juntamente crente é uma pedra viva que está ligada e re-



estais sendo edificados para habitação de Deus no lacionada, em sua individualidade, com a es-


Espírito" (Efésios 2.19-22). No original gre- ○


trutura completa da casa do Espírito. Em


go, Paulo usa uma palavra derivada de oikos palavras atuais, podemos dizer que, apesar


(casa) ao referir-se à família e habitação de de parecer algumas vezes que estamos sós,



Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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na verdade estamos ligados uns aos outros,


e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por



umas às outras, no Espírito, por laços de meio de todos e está em todos. O reconhe-




solidariedade. cimento da diversidade e a preservação da




unidade são essenciais para a edificação do



Todas estas imagens nos ajudam a com-



corpo de Cristo e sinal da nossa maturidade



preender que a Igreja de Cristo não é algo



espiritual (Gálatas 4.1-16).


estático, monolítico, nem uniforme. Ela é



multiforme e todas as suas formas manifes-



tam a Graça de Deus e seu amor infinito re-



velado em Jesus Cristo. Independentemente



desta diversidade de imagens, porém, há al-



gumas características comuns e essenciais



entre elas. (1) Cristo é o Senhor da Igreja e a




Igreja existe por obra do Espírito Santo para



servir a Deus na missão. Ela não é obra hu- ○



mana e, portanto, não pode ser identificada



plenamente nas instituições que criamos; (2)


A unidade cristã


A Igreja é um sinal da presença do Reino de faz parte da



Deus para mostrar ao mundo que, em Cris- essência da Igreja



e é uma condição

to, todas as diferenças humanas são supera-


para a


das e a diversidade é valorizada e reconheci-


credibilidade do


da como dom de Deus. Nesse sentido, a Igre-


testemunho, da


ja aponta para o mundo a possibilidade de missão e do



reconciliação da família humana. serviço. Ela é um



dom de Deus.


A unidade cristã faz parte da essência da



Igreja e é uma condição para a credibilidade



do testemunho, da missão e do serviço. Ela



é um dom de Deus. Portanto, não somos



nós que a construímos, mas somos chama-



dos a preservá-la com amor, humildade e




mansidão como reconhecimento de que há ○



um só corpo e um só Espírito, um só Se-




nhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus





Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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nenhuma seita ou partido, são amigas de todos os
O QUE ESTE ASSUNTO TEM A




partidos e se esforçam em incentivar todos na reli-



VER COM SER METODISTA?


gião do coração, no conhecimento e no amor de Deus




e do ser humano" (Sermão 121, Profetas e Sa-




cerdotes). Por isso, desestimulando quais-




O metodismo, fruto da experiência Este capítulo quer intentos separatistas, Wesley apelava



tratará das


marcante e do compromisso missionário do com veemência: "Não joguem fora a glória pe-



marcas da



cristão inglês John Wesley, no século XVIII, culiar que Deus tem colocado sobre vocês, e frus-


identidade


nasceu por conta da abertura deste pastor da


metodista em trem o desígnio da Providência, o verdadeiro fim



Igreja Anglicana à diversidade cristã: ele se ali-


relação ao tema para o qual Deus os levantou" (Sermão 121).



mentou da herança da Reforma Protestante, da Unidade Cristã.


Nessas origens do metodismo não va-


não desprezou expressões doutrinárias da sua


mos encontrar a palavra "ecumenismo" ou


igreja, abraçou as possibilidades de renova-


o apelo para um engajamento ecumênico,


ção da fé pela espiritualidade da experiência


○ tal como estes termos se apresentam hoje.


pietista dos irmãos morávios alemães.


Estas palavras não estavam em uso naquela


Iniciar uma nova igreja, entretanto, não era época. O que era mais usado era o termo



o projeto de John Wesley. Ele criou mesmo "católico", como significado de "universal"



foi um movimento de avivamento dentro da (por isso John Wesley tem um sermão mui-



sua Igreja Anglicana. Mas circunstâncias his- to famoso denominado "O Espírito Cató-



tóricas levaram à criação da Igreja Metodista. lico", Sermão 39) justamente para pregar a



Nesta igreja, da qual fazemos parte como um unidade com base na compreensão e o res-



dos seus ramos aqui no Brasil, ficaram mar- A história da Igreja peito para a superação das divisões entre



Metodista não era, os cristãos. Wesley reconhecia o direito que


cas da pregação do seu inspirador como a afir-


primitivamente,

as pessoas têm de se apegarem a uma pro-


mação "Não criar uma nova seita, mas reformar a

calcada em


posta religiosa diferente da dele, dizendo:


nação, especialmente a Igreja, e espalhar a santidade

separações ou


"É uma consequência inevitável da presente fra-


bíblica sobre toda a terra". Não criar uma nova divisões. John


Wesley sentia-se queza e limitação do entendimento humano, que as


seita no sentido de não se isolar, se separar,


parte da Igreja diversas pessoas sejam de espírito diverso no tocan-


acreditando que somos os exclusivos porta-


Anglicana e

te à religião, assim como nas coisas da vida co-



dores de uma verdade cristã. Neste contexto,

buscava sua


mum" (Sermão 39).

repetimos John Wesley que afirmou, referin- renovação. O que ○


estamos buscando

do-se aos metodistas: "Nós somos um novo fenô- Ele entendia também que não é necessá-

para a Igreja hoje?



meno na terra; um corpo de pessoas que, não sendo de rio pensar de forma igual e que não se deve



Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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impor o modo de entender a fé cristã a ou- as formas de governar a igreja, não podem




tros que têm o seu próprio modo de com- ser reforçadas para servirem como obstá-




preensão. Ele escreveu: "Embora todo o segui- culos à comunhão.



Como você lida


dor de Cristo seja, pois, obrigado, pela própria na-



com pessoas de Interessante que ele pregava o diálogo e o



tureza da instituição cristã, a tornar-se membro de



sua Igreja que respeito, apesar de ter sofrido perseguição



uma ou outra congregação particular, de alguma


pensam diferente- de sua própria igreja, reações agressivas dos



igreja, (...), todavia, ninguém pode ser obrigado, mente de você? É


PONTOS PARA PENSAR católicos romanos irlandeses e vivido desen-



por nenhum poder da terra, a não ser pelo de sua capaz de respeitar Wesley pregava o


tendimentos dentro do próprio movimento


efetivamente a diálogo e o


própria consciência, a preferir esta ou aquela con-


metodista. Mas ele não deixa de orientar os


diferença ou respeito, apesar de



gregação a outra, a preferir esta ou aquela forma


metodistas de que ter um "espírito católico


anseia por impor ter sofrido perse-


peculiar de culto. (...) Não cuido, pois de acalentar


seu modo de guição de sua (universal)" não significa aceitar tudo sem


a presunção de impor meu sistema de culto a quem


pensar? É possível, própria igreja, crítica, aceitar quaisquer princípios ou pro-



quer que seja" (Sermão 39).

realmente, amar reações agressivas cedimentos, o que acontece, na maioria das



quem pensa dos católicos
A superação disto, para Wesley, estava em ○ vezes, por insegurança a respeito do que os



diferente? romanos irlande-


buscar o que há de semelhança, a despeito próprios metodistas creem.


ses e vivido


das diferenças, e, para ele, isto é coisa para


desentendimentos

Também não significa indiferença em re-


o coração dizer. Por isso, a base da prega- dentro do próprio


lação a todas as igrejas. Ele mesmo fez críti-


ção do Sermão 39 é o texto de 2 Reis 10.15 movimento


cas sobre as questões que ele entendia serem


metodista.

para ele questionar: "Embora não possamos


incompatíveis com a fé que o movimento


pensar do mesmo modo, não podemos amar de


metodista pregava e escreveu textos como


maneira igual? Não podemos ter um só coração,


os Vinte e Cinco Artigos de Religião (1784),


ainda que não tenhamos uma opinião só?" A sua


Uma Defesa contra Noções não Definidas


resposta é muito direta: "Sem dúvida alguma


em Religião (1758), entre outros. É por isso


que o podemos. Nisto todos os filhos de Deus po-


dem unir-se, não obstante aquelas diferenças se- que, no mesmo Sermão 39, Wesley faz uma



cundárias. Permaneçam estas como estão, e ainda advertência para os metodistas terem segu-



os crentes podem-se acompanhar uns aos outros no rança com suas afirmações de fé: "... isto é



amor e nas boas obras" (Sermão 39). A pro- sementeira do inferno e não colheita do céu. Essa



posta é "Dá-me a tua mão", e não "Sê de inconstância de pensamento, esse ser 'levado de um



minha opinião" ou "Abraça minhas fórmu- para outro lado e ser tangido por todo vento de dou-


las de culto". Para John Wesley, as diferen- ○ trina', é uma grande maldição e não uma bênção;


ças que não prejudiquem a essência da fé, um inimigo irreconciliável e não um amigo do verda-


como por exemplo, a forma de cultuar ou deiro catolicismo [= universalidade]. O homem de





Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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espírito verdadeiramente católico [= universal] não metodista dos Estados Unidos chamado



tem de estar à procura de sua religião. Está fixo John Mott, que já era destacado por ser o




como sol em seu conceito acerca dos aspectos princi- Wesley quer dizer fundador da Federação Mundial dos Movi-




pais da doutrina cristã" (Sermão 39). Wesley, que o perigo não mentos Estudantis Cristãos. Juntamente



está em relacio-


então, quer dizer que o perigo não está em com o bispo metodista também dos Esta-



nar-se com quem



relacionar-se com quem tem posições dife- dos Unidos G. Bromley Oxnam, Mott de-



tem posições



rentes, mas relacionar-se sem ter segurança sempenhou um papel chave na fundação do


diferentes, mas



da sua própria doutrina. relacionar-se sem Conselho Mundial de Igrejas (1948).




ter segurança da


"Não joguem fora...": essa voz de John


A presença missionária da Igreja


sua própria


Wesley continuou ecoando nos ouvidos e


doutrina. Metodista se dá nos diversos organismos do



corações dos metodistas espalhados pela ter- O que significa ter movimento por unidade cristã no mundo e



“segurança da


ra, por isso é que este espírito universal/ sinaliza o desejo do povo metodista de unir



doutrina”?


ecumênico, de diálogo e respeito, é uma das forças para que tenhamos uma Igreja profé-



marcas do modo de ser Igreja, confessado e ○ tica, pastoral e missionária. Temos alegria em



praticado pelo povo chamado metodista, em compartilhar do movimento de unidade do


todo mundo. Por isso existe um Concílio


Corpo de Cristo ao estarmos presentes nos


Mundial Metodista, fundado no século XIX,


diversos órgãos, ministérios e instituições


para ser a expressão visível do compromisso comprometidas com a unidade do evange-



metodista com a unidade da Igreja. Vale des- lho em termos de missão e evangelismo, tes-



tacar que foram os metodistas, que no perí- temunho e serviço, tendo como maior obje-



odo moderno, ao organizarem a primeira tivo testemunhar ao mundo o amor de Deus



reunião do seu Concílio Mundial, utilizaram revelado em Jesus Cristo.



pela primeira vez o termo "ecumênico" no


É de se ressaltar o fato de que as maio-


sentido de unidade cristã, convocando a


res organizações ecumênicas tenham tido e


"Conferência Ecumênica Metodista".


tenham hoje à sua frente líderes metodistas.



É por isso também que muitas pessoas Portanto, envolvidos nesse espírito de par-



metodistas têm se destacado como ativos ticipação na videira e Corpo de Cristo, te-



agentes no movimento ecumênico em seus mos sido enriquecidos pelas experiências



países e em todo o mundo. Um exemplo das diversidades ministeriais presentes em




forte é que a importante e marcante Confe- ○ outras expressões eclesiais do Povo de Deus


rência Missionária de Edimburgo, 1910, te- que manifestam a diversidade que gozamos


nha sido presidida por um líder jovem leigo em Jesus Cristo.





Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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Os metodistas brasileiros mantiveram esta do Conselho Latino-Americano de Igrejas e




mesma trajetória na sua história: desde os participa de diálogos e articulações por uni-




primórdios da Confederação Evangélica do dade no continente intermediados também




Brasil, da qual a Igreja Metodista foi mem- pelo Conselho de Igrejas Evangélicas




bro-fundador, ainda na passagem do século Metodistas da América Latina e do Caribe




XIX para o XX, lá estavam os missionários (CIEMAL), da qual é membro.




metodistas dialogando e unindo-se aos pro-


Por último, é preciso assinalar que a posi-



pósitos de cooperação cristã. Metodistas par-


ção da Igreja Metodista no Brasil, relativa à



ticiparam dos movimentos estudantis cristãos


busca da unidade cristã, tem sido igualmen-


PONTOS PARA PENSAR



no Brasil, com a União Cristã de Estudantes


Destaque em seu te expressa em diversos documentos epis-


do Brasil (anos 40), depois a União Brasileira


grupo de estudos


copais e conciliares. Desde a sua primeira


de Juventude Cristã (anos 60).


que aspectos desta


Constituição, em 1930, incluindo outros do-


parte da Pastoral


Em 1942, a Igreja Metodista no Brasil, que


cumentos canônicos como o Credo Social e

mais lhe chama-


já era filiada ao Concílio Mundial Metodista, ○



ram a atenção; o Plano para a Vida e a Missão da Igreja


se torna a primeira Igreja da América Latina Nestas páginas,


informações que Metodista (1982), constata-se a continuida-


você está conhe-

a se filiar ao Conselho Mundial de Igrejas, e você não tinha de e a coerência de seus princípios e práti-


cendo, de forma


participa da assembleia de fundação em 1948. anteriormente ou cas, para os quais se reivindica fidelidade tan-


bem abrangente,


curiosidades que

Em décadas recentes, a Igreja fundou e se to ao ensino bíblico quanto à herança


como se dá a

ainda tenha. Se


filiou a diferentes organizações ecumênicas participação da wesleyana. Estando na caminhada pela uni-


necessário,


brasileiras, entre elas a Coordenadoria Igreja Metodista dade, reforçamos a nossa identidade.


pesquisem um


em organismos

Ecumênica de Serviços (CESE) e o Conse- pouco mais! É


que militam pela Quando nos referimos à unidade da Igre-


lho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), possível descobrir


unidade cristã e ja, isso não significa submissão de uma Igre-


uma grande

únicas das quais se retirou, em 2006, por


como ocorreu sua

riqueza na ja em relação a outra, nem abrir mão de uma


conta da crise no relacionamento formal com inserção neles.


história de homens convicção de doutrina prática de culto, ser-


a Igreja Católica Romana, também membro


e mulheres

viço, evangelização, ações missionárias em


destas organizações. dedicados à


benefício do povo. Participar na caminha-


unidade do Corpo


Membros da Igreja Metodista, fiéis aos da pela unidade cristã requer que nos aper-


de Cristo...


princípios da unidade cristã, também funda- feiçoemos no conhecimento e vivência de



ram e se vincularam a instituições e associa- nossa identidade, que declara "a consciência


ções para a comunhão e a cooperação entre ○ de que somos parte da igreja de Jesus Cristo no


cristãos e cristãs. Na América Latina, a Igre- mundo. Temos a consciência da unidade com todo


ja Metodista no Brasil é membro-fundador o povo cristão, estendendo a mão a todas as pessoas





Para que todos sejam um
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 39




cujo coração é como o nosso, procurando preservar



a unidade do Espírito no vínculo da paz, a fim de



sinalizar, de forma visível ao mundo, a unidade do



Corpo de Cristo" (As Marcas Básicas da Iden-



tidade Metodista, p.19).

























































Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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já se fazia presente desde o tempo de Jesus,
POR QUE HÁ TANTA DIFICULDADE




quando os discípulos ficaram preocupados



COM ESTE ASSUNTO?


com aqueles que não faziam parte do grupo


Neste capítulos, os



bispos e bispa mas também expulsavam demônios e cura-




procuram pontu- vam enfermos em nome de Jesus. A respos-



ar as dificuldades


Há dois escândalos cruciais no cristianis- ta Dele foi para que os discípulos deixassem



da convivência e



mo. Um é o escândalo da cruz de Cristo: estas pessoas em suas práticas porque "quem


unidade com



escândalo para os judeus e loucura para os outras igrejas, bem não era contra ele, era a favor" (Mc 9.40). Mais



gentios (1 Co 1.23). Um escândalo positivo,


como realinhar tarde, no início da formação das comunida-



pois sem ele, a vida cristã não teria sentido. nosso entendi-


des cristãs, houve divergências com respeito



mento sobre o


O outro é o escândalo da divisão entre os


à dinâmica da vida em comunidade (Atos 6)



tema, visando


membros do Corpo de Cristo.


e também tensões teológicas que provoca-


superá-las.



Aqui é preciso distinguir divisão de diver- ram a realização do primeiro concílio (reu-




sidade. As diferenças de compreensão da Pa- nião para conciliação) da Igreja na busca de



lavra de Deus, as formas distintas com que encontrar o caminho da unidade, como nar-



sentimos e expressamos a presença de Deus ra Atos 15. Havia tanto conflito e divergên-



em nossas vidas, as maneiras diferentes como cia que levavam cristãos e cristãs para longe



oramos e louvamos a Deus, as formas como do sentido para o qual foram chamados, que


As diferenças de


testemunhamos o amor redentor de Jesus compreensão da foi necessária a redação do Evangelho de



Cristo no mundo, tudo isso deveria ser visto Palavra de Deus, João, que passou a ser conhecido como o



como natural e enriquecedor para a vida da as formas distintas Evangelho da Unidade.


com que sentimos


Igreja, pois Deus criou o ser humano e o co-


O fato é que muitos outros concílios tive-

e expressamos a


locou em contextos culturais e históricos di-


ram que acontecer como tentativas de supe-

presença de Deus


versos. O que é negativo é transformar isto em nossas vidas,


ração das divisões teológicas e condenação das


em fonte de divisão e sectarismo (separação, as maneiras


posições consideradas heréticas. Além do de


fechamento a esta diversidade) pois esta ati- diferentes como


oramos e louva- Jerusalém (ano 15), a Igreja realizou outros


tude impede que o mundo reconheça na co-


mos (...), tudo isso concílios, na busca da sua unidade: Niceia


munidade cristã os sinais e os valores do Rei-


deveria ser visto (325); Constantinopla (381); Éfeso (431);


no de Deus. como natural e



Calcedônia (451); Constantinopla (553);



enriquecedor para

Podemos aprender dos relatos bíblicos de ○ Constantinopla (680-681); Niceia (787). Por-

a vida da Igreja. O

que divisão e sectarismo não são novidade que tem impedido tanto, a busca da unidade sempre foi um es-


no corpo de Cristo. Este espírito de divisão que seja assim? forço desde os primórdios do cristianismo.



Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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Vimos em um item acima que a busca


com o desejo de poder, domínio, superiori-



concreta da unidade no período mais recen- dade e superação das limitações, a história



Há características


te da História surge a partir de uma registra muitas experiências de fechamento



muito humanas



constatação da distância entre os cristãos, que e até conflitos físicos.



que reforçam a



se caracterizava num escândalo para o "mun-


negação da


Além disso, há muitas divergências teoló-



do", especialmente no momento em que as unidade cristã



gicas e doutrinárias que reforçam divisão e



igrejas evangélicas abraçaram a causa como o medo do



falta de diálogo. Dos evangélicos em relação


diferente e da


missionária. Assim, nos séculos XIX e XX,


aos católicos-romanos, há divergências quan-


influência negati-



membros do corpo de Cristo iniciaram uma


va que um contato to à veneração dos santos, à figura de Maria



caminhada de busca da unidade, chamada com o outro pode


e o papel do papado; dos católicos em rela-


Nestas páginas,


"movimento ecumênico". Acontece que o promover.


ção aos evangélicos, há a compreensão dife-


você irá descobrir



espírito divisionista, separatista, nunca dei-


rente sobre a unidade (que deve passar por


os embates e


xou de se manifestar neste corpo e construir


dificuldades na Roma), eucaristia, a mariologia, a hierarquia,


obstáculos para a realização plena dos esfor- ○
Igreja Primitiva o ministério feminino; dos evangélicos em



ços de unidade entre cristãos e cristãs. para estabelecer

relação aos próprios evangélicos, há tensões


os pontos funda-


Na verdade, um dos maiores obstáculos nem quanto ao rebatismo, ao segundo batismo,


mentais da fé na


são as posições contrárias à proposta ao ministério feminino, ao ministério leigo;


perspectiva da


ecumênica. Um dos maiores empecilhos à causa unidade, bem entre outras posições distintas.



da unidade é a indiferença, quando trabalha- como os desafios


Ademais, há características muito huma-


enfrentados frente

mos isoladamente, cada um no seu espaço e


ao espírito de nas que reforçam a negação da unidade cris-


entendemos a divisão e a separação como algo


divisão e separa- tã como o medo do diferente e da influência


natural. Convivemos tranquila e pacificamente


ção contra o qual negativa que um contato com o outro pode


com as divisões no corpo de Cristo, alguns até temos constante-


promover, o que na verdade passa por uma


acreditam que ela seja necessária para expan- mente de lutar ao


crise de identidade, do desconhecimento e


longo da história!

são do evangelho. Trata-se da lógica do dividir


firmeza quanto aos próprios princípios e


para crescer, quando, na verdade, a lógica de-


convicções. Há ainda atitudes humanas como


veria ser unir para crescer e avançar. O grande


o cultivo de rancor e o revanchismo: cris-


desafio da Igreja é vencer este espírito de indi-


tãos que tiveram experiências dolorosas ou


ferença e sectarismo.

desagradáveis no convívio com outros cris-



tãos ou mesmo ouviram contar histórias do

Por conta do exclusivismo e do sectaris- ○


passado vividas por suas famílias, e que não


mo, características presentes em todas as re-



conseguem perdoar e superar, num espírito



ligiões, que são instituições humanas e lidam





Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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de reconciliação, mas guardam a mágoa e o cas e costumes, uma fonte de disseminação




rancor do que foi vivenciado, fechando-se a do liberalismo, um risco de dominação co-




novos contatos. munista (por conta da presença das Igrejas




do Leste Europeu). A própria existência e



Atitudes de pessoas que se identificam



prática do CMI provaram que estas indica-



como ecumênicas muitas vezes também pro-



ções eram irreais e o organismo completou


movem a negação da unidade cristã. Há difi-



60 anos em 2008 com um histórico de im-


culdades da parte de algumas lideranças de



portantes contribuições para a caminhada das


lidarem com a pluralidade, com a diversida-



igrejas em todo o mundo. Porém, até hoje


de cristã, e baseiam opiniões e ações em pre-



ainda há pessoas e grupos que repetem o


conceito em relação a experiências de fé que


mesmo tipo de acusação ao organismo, que,


não sejam como as suas. Além disso, há


em boa parte das vezes, pouco conhecem.


muitas vezes falta de pedagogia de comuni-




cação da parte de lideranças ecumênicas com Tudo isto reforça o espírito de negação



"as bases", o que reforça bloqueios e gera ○ da unidade cristã que é semeado em muitos



mais preconceito. espaços, e que leva a afirmações como:



"Ecumenismo é algo contra os cristãos: ten-


Vale insistir que o fato de existirem várias


tativa de juntar trevas com luz"; "O Movi-


igrejas cristãs não é, em si, um fato necessa-


mento Ecumênico é um movimento


riamente negativo. As diferenças entre elas,


anticristão. O ecumenismo atual não se pre-


no entanto, podem se tornar negativas quan-


ocupa com missões, em alcançar pessoas


do as relações são caracterizadas por atitu-


com a mensagem do Evangelho para que


des de competição, acusações mútuas, falta

Há dificuldades


sejam salvas, mas busca o diálogo, segundo


de diálogo e até conflitos. Nesse caso, em

da parte de


o lema: 'Creia no que eu creio e crerei na sua


vez de serem um testemunho do amor de algumas lideran-


ças de lidarem fé'; "É uma armadilha de Satanás para enga-


Deus, distorcem a imagem de Cristo.


com a nar a Igreja"; "Ecumênicos não têm com-


Nesse histórico de sentimentos, posturas


pluralidade, com

promisso com a Igreja"; "Ecumênicos são


e atitudes que bloqueiam os esforços por a diversidade


intelectuais. O povo das igrejas não quer sa-


unidade cristã, houve reações, por exemplo, cristã, e baseiam


ber de ecumenismo"; "O ecumenismo está


opiniões e ações

nos anos 40, à criação do Conselho Mundial


afastando membros das igrejas e impede a

em preconceito

de Igrejas, que o acusavam de representar: a



igreja de crescer".

em relação a

formação de uma superigreja, uma estraté- experiências de fé ○


Estas palavras - que generalizam o assunto



gia para uma volta ao Catolicismo Romano, que não sejam



a partir da experiência de uns, e que são repe-



uma unificação de concepção de fé, de práti- como as suas.





Para que todos sejam um
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tidas por outros que não tiveram vivências -



se contrapõem à história rica de esforços de



unidade que descrevemos acima, aos princí- O diálogo, desde



pios bíblicos que pregam a urgência da co- que desenvolvido


em espírito de


munhão e da reconciliação e ao princípio


oração e comu-


metodista de unidade de coração a despeito


nhão com Deus,


das diferenças, sem relativismos. Só reforçam leva a descobertas



mais preconceito, divisão e sectarismo. que a cegueira,



produzida pela
O diálogo sobre as divergências entre os


arrogância


membros do Corpo de Cristo fortalece a


polêmica, sectá-


Igreja. Isto porque o diálogo, desde que de- ria, autoritária e



senvolvido em espírito de oração e comu- auto-suficiente



nhão com Deus, leva a descobertas que a não permite

enxergar.
cegueira, produzida pela arrogância polêmi- ○

Como estabelecer

ca, sectária, autoritária e auto-suficiente não


um diálogo

permite enxergar. No concílio de Jerusalém, coerente com a



a descoberta da diversidade dos ministérios mensagem de



fortaleceu a comunhão dos discípulos, con- Cristo? Que lições


podemos tirar da

forme as palavras de Paulo: "e, quando conhe-


experiência de

ceram a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João,


Barnabé e Paulo,

que eram reputados colunas, me estenderam, a mim citada na Carta



e a Barnabé, a destra de comunhão, a fim de que aos Gálatas?



nós fôssemos para os gentios, e eles para a circunci-



são; lembrando-nos somente que nos lembrássemos



dos pobres, o que também me esforcei por fazer"



(Gálatas 2.9-10). A partir desse momento,



tanto os que evangelizavam entre os judeus



quanto os que levavam as boas novas aos



gentios puderam continuar sua missão, apoi-



ando-se e respeitando-se mutuamente.








Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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igrejas vivem experiências, leem livros, ou-
COMO A IGREJA METODISTA NO




vem e assistem a programas religiosos de



A prática da
BRASIL DEVE TRATAR O TEMA DA


rádio e TV e assimilam conteúdos de outras



unidade cristã no



confissões evangélicas que entendem que



dia-a-dia da Igreja
UNIDADE INTERNAMENTE?



deveriam estar inseridos na vida da Igreja


Metodista nos



Neste Capítulo, mostra que, por Metodista. O problema é que esses conteú-



está a orientação vezes, encontra-


dos muitas vezes são conflitantes com os



A Igreja é constituída de pessoas que tra- dos nossos bispos mos maior



princípios doutrinários wesleyanos.


e bispa acerca da


zem consigo seus diferentes modos de viver, tolerância para



unidade interna


com as comunida- Portanto, as diversas correntes ou grupos


de pensar. Há muita diversidade que acaba se



da Igreja des e lideranças


assumem posturas messiânicas endurecendo


refletindo na forma de ser e de viver das igre-


Metodista.


não-metodistas do


os corações e dificultando os relacionamen-


jas. Por isso, ao longo dos anos de existência


que com os irmãos


tos internos. Assim, a prática da unidade cris-



da Igreja Metodista, algumas correntes ou gru- e irmãs e lideran-



tã no dia-a-dia da Igreja Metodista nos mos-



pos com compreensões teológicas diversas ças da própria


○ tra que, por vezes, encontramos maior tole-


nasceram no meio da Igreja. Para exemplificar, ○ denominação.


Como superar rância para com as comunidades e lideranças


conforme os rótulos que foram criados na


isso? Que pecados não-metodistas do que com os irmãos e ir-


história, surgiram os conservadores, os libe-


de intolerância e

mãs e lideranças da própria denominação.


rais, os progressistas, os carismáticos, os

falta de amor



neoconservadores, entre outros. internos devemos Entendemos ser urgente desenvolver a


confessar hoje?


unidade interna, resolvendo os nossos pro-

São irmãos e irmãs que amam a Igreja



blemas de relacionamento, caso contrário,

Metodista, que querem estar inseridos nela,



não seremos capazes, como Igreja, de nos

que entendem a tradição wesleyana. Entre-


Às vezes, focamos


relacionarmos com qualquer outra denomi-

tanto, lêem os Sermões de Wesley, os Vinte


nossa atenção nas


nação cristã, sem que vozes contrárias se le-

e Cinco artigos de Religião, as Notas sobre o


dificuldades


vantem evocando a tradição wesleyana.

Novo Testamento e outros escritos, que dão externas, mas há



base a nossa teologia, de acordo com o seu muitos desafios É necessário que, em todos os momen-



internos a vencer.

ponto de vista teológico e sua visão de mun- tos da caminhada da Igreja, algumas atitu-


Em sua experiên-


do. A partir dessa leitura, formulam consi- des sejam observadas:


cia local, quais


derações de acordo com sua perspectiva,


seriam eles? Que

1. Centralizar na Palavra qualquer relaci-



surgindo pontos de tensões, por considera- histórias de amor e



onamento de unidade;

rem seu pensamento o que mais se aproxi- superação podem ○


nos ajudar hoje? 2. Trabalhar a dinâmica do respeito mú-


ma da proposta do metodismo primitivo. Há



Traga à memória...

tuo (leigos/as-leigos/as; pastores/as-pasto-


também situações em que pessoas de nossas





Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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res/as; leigos/as-pastores/as; pastores/as- 7. Trabalhar a partir daquilo que nos une




leigos/as; bispos/as-pastores/as; pastores/ e não valorizar o que nos separa;




as-bispos;as; bispos/as-bispos/as) de manei- Verifiquem essas



8. Estabelecer ações que visem a criar la-



ra a guardar a unidade da Igreja Metodista, atitudes sugeridas



ços de afeto fraterno entre os irmãos e ir-


pelos bispos e


ao invés de gastarmos boa parte do nosso



bispa em sua mãs e os pastores e as pastoras;



tempo "destruindo" o ministério de pessoas



comunidade local.


9. Valorizar, de modo leal, tudo de bom


com quem não concordamos;


Quais delas


que as diversas correntes ou grupos de pen-


encontram-se em


3. Reafirmar a soberania das decisões


samento tenham e realizem.



prática? Quais


conciliares tanto no nível nacional, quanto


necessitam ser


no regional, no distrital e no local, para que


implementadas?



sejam aceitas, respeitadas e desenvolvidas,


Que barreiras e



evitando-se abusos de poder de lideranças que facilidades




em qualquer nível. Da mesma forma, reafir- existem para isso?



Como vencer as

mar o governo episcopal e suas orientações



barreiras? Como


pastorais, doutrinárias, eclesiásticas, que de-


fomentar as


vem ser cumpridas, implementadas e respei-


facilidades? Orem


tadas, à luz dos votos assumidos na recep-

a Deus pela



ção como membros da Igreja Metodista, e,

ministração do



no caso dos clérigos, no momento de discernimento, do


perdão e da


credenciamento e ordenação;


acolhida mútua.


4. Possibilitar um relacionamento inter-



no com respeito ao tema da unidade cristã,



demonstrando claramente os valores



metodistas em que cremos e até onde pode-



mos caminhar pela unidade cristã;




5. Criar ambientes para o diálogo, res-



peitando a diversidade da nossa igreja, po-


rém, sem radicalizações que fragilizem os



relacionamentos;



6. Tornar claro que o fato de sermos pela ○



unidade cristã não exclui nossa vocação




missionária e os desafios evangelísticos;





Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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desenvolver formas de cooperação e presta-
COMO A IGREJA METODISTA NO




ção de serviços à comunidade em ações soci-



BRASIL DEVE TRATAR O TEMA DA


ais, de cidadania e também, no testemunho




da unidade cristã para a promoção da paz e



UNIDADE COM OUTRAS IGREJAS


da justiça, onde elas se fizerem necessárias.




Neste capítulo, os
CRISTÃS?



No que diz respeito às igrejas de reconheci-


bispos e a bispa



orientam a Igreja da tradição wesleyana, que cultivam e mantêm



acerca do relacio-


suas raízes históricas e doutrinárias, estaremos



namento cristão PONTOS PARA PENSAR


Em nossas relações com as demais Igrejas


sempre abertos a estreitar as relações de ami-



com outras Reflitam, no grupo
Cristãs, é imperativo compreender que se tra-



zade por meio de intercâmbio e ações comuns.


comunidades de de estudos, acerca


ta de Igrejas e de movimentos caracterizados



fé, numa perspec- de cada atitude


Algumas atitudes a serem observadas nes-


por grande diversidade teológica, doutrinária,


proposta nesta


tiva de diálogo e


ses relacionamentos:

nas práticas de culto, nos usos e costumes pastoral... Como


de identidade.



(comportamentos). Portanto, temos que colocar em 1. Respeitar as individualidades e particu-



prática? O que já

estudá-los profundamente, baseados em nossa laridades de cada Igreja, sabendo que nin-


fizemos que deu


doutrina e documentos, a fim de identificar guém precisa pensar ou agir de forma igual


certo? O que não


aquelas igrejas e movimentos, cujas práticas para ser respeitado e sim, agir de forma cris-


pode acontecer


se fundamentam verdadeiramente no Evan- novamente, tã, dando bom testemunho da Palavra;



gelho e não em seus próprios interesses porque não foi


2. Negociar para que elementos doutri-


uma boa experiên-

denominacionais, visando alcançar poder e


cia? O que isso nos nários próprios de cada Igreja não sejam


prestígio, sejam pessoais ou institucionais.


ensina sobre a bases de qualquer programa de Culto. Tam-


Nosso diálogo deve


Devemos manter-nos abertos ao diálogo maturidade cristã

bém temos nossos elementos próprios e eles


ser aberto às no trato com


com as igrejas e movimentos que mantenham

não devem ser impostos nesses programas;


Igrejas e movi-

outras igrejas, no


coerência com o Cristianismo, buscando for-

mentos que


âmbito da socieda-

3. Trabalhar os relacionamentos a partir


mas de cooperação e de testemunhos cris-

mantenham de em geral?


tãos comuns, nos aspectos social, religioso e dos elementos que nos unem e não a partir


coerência com o


em ações de cidadania. Cristianismo... daqueles que nos separam;



Como reconhecer


4. Revisar liturgias de Cultos que ocorram

Importa reconhecermos que as Igrejas


a fidelidade à


em templos e outros espaços metodistas, ve-

Cristãs "históricas" e "neo" se inseriram de Bíblia na diversi-



○ rificando se os temas e o desenvolvimento do


modo significativo na população brasileira e dade de movimen- ○


tos existentes hoje? programa não ferem a nossa doutrina, os


cresceram e crescem em todo o país, propor-



nossos documentos e os nossos costumes;


cionando à Igreja Metodista oportunidades de





Para que todos sejam um
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5. Participar, quando convidados, em



eventos ou cultos de acordo com a realidade



da Área Nacional, Regional, Distrital e Lo-



cal, evitando ao máximo ferir desnecessaria-



mente irmãos/ãs da localidade onde o even-



to ou culto ocorrer;



6. Orientar os irmãos/ãs, da Área Naci-



onal, Regional, Distrital e Local, para se con-



duzirem de acordo com nosso credo e fé,



testemunhando-os de modo salutar à comu-



nhão interna da Igreja Metodista. Orienta-



ção que deve ser dada pelo Colégio Episco-



pal na Área Nacional, pelo/a Bispo/a na
Regional, pelo/a Superintendente Distrital na ○


distrital e pelo Pastor/a na local;




7. Evitar, quando se participar em even-



tos ou cultos pela Unidade Cristã, promover


apelos proselitistas. Entendemos não ser



momento propício para essa prática e nem



mesmo tratar-se de testemunho cristão.




























Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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ção metodista, temos sido também enrique-
COMO A IGREJA METODISTA NO




cidos pelas experiências delas.



PONTOS PARA PENSAR
BRASIL DEVE TRATAR O TEMA DA



Se sua Igreja Ao mesmo tempo, por serem organiza-




participa de uma ções oficialmente fundadas pelas igrejas, te-


UNIDADE COM ORGANISMOS


Associação de


mos grande responsabilidade pelas suas di-



Neste capítulo, Pastores e Pastoras
ECUMÊNICOS?



retrizes e condução de seus programas. Nos-


orientações para


de sua cidade, qual


sa Igreja tem exercido essa responsabilidade


tratar o tema da


a responsabilidade


unidade na no espírito da nossa liberdade em Cristo, ou


que possui acerca



perspectiva de


A participação oficial da Igreja Metodista seja, além de exercer nosso dever de apre-


da forma como



organizações e


em organismos ecumênicos, observados os esta Associação se sentar propostas e contribuir para o fortale-


entidades


comporta, por


limites e possibilidades estabelecidos pelo 18º cimento dessas organizações, temos também


ecumênicas.


exemplo, em


Concílio Geral, deve ser mantida, incentivada exercido nosso direito de criticar e de dis-


Existem organiza- períodos eleito-



e ampliada. Nossa igreja participa ativamen- cordar daquelas propostas que, no nosso


ções assim em sua

rais? Como manter



te do Conselho Mundial de Igrejas, do Con- cidade? entender, possam ferir princípios fundamen-


○ as propostas dessas


selho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), e entidades em tais do metodismo.



da Diaconia (Brasil), além de estar presente conformidade com


Devido à diversidade e caráter


o Evangelho de

na ASTE (Associação de Seminários Teoló-


Cristo? multidisciplinar do conjunto dessas organi-


gicos Evangélicos), por meio das suas Facul-


zações, elas estão em condições de oferecer,


dades de Teologia que são membros. Essa


às igrejas, relevantes serviços de assessoria a


participação tem nos proporcionado a opor-


projetos sociais e também treinamento e for-


tunidade de contribuir, a partir da nossa


mação em diversas áreas de conhecimento.


especificidade, para o serviço e testemunho Conheça aqui as


Nossa igreja tem se beneficiado, em muitas


cristãos comuns não só no Brasil mas tam- mais importantes


ocasiões, dos serviços dessas organizações e


instituições nas

bém na América Latina e no âmbito mundial.


temos também contribuído para o seu de-

quais a Igreja



senvolvimento por meio dos metodistas ne-

Nossa igreja tem sido também beneficia- Metodista é



membro ou las envolvidos. A experiência metodista na

da pelo contato com irmãos e irmãs de ou-


contribui de


prática da unidade nos indica que nossa rela-

tras igrejas e de outros países que têm nos


alguma forma. Seu


ção com as diversas organizações que pro-

dado exemplos inspiradores de dedicação,


trabalho é bastante


movem a unidade cristã, sejam elas oficiais

testemunho, e serviço ao Evangelho. Nesse amplo e sério e




ou autônomas, deve ser pautada pela reci-

sentido, ao contribuirmos para o enriqueci- atinge diversos ○


procidade. Em outras palavras, isso significa


segmentos da

mento espiritual de outras igrejas, comparti-



sociedade. que, ao mesmo tempo em que levamos para



lhando com elas nossos dons e nossa tradi-





Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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essas organizações questões e valores que são 5. Aceitar desenvolver projetos e ações pela




preciosos para o metodismo, também deve- Igreja somente naqueles casos em que o ór-




mos estar abertos a discutir e dialogar sobre gão não interfira e nem imponha condições




os desafios que a prática da unidade coloca que firam a soberania decisória dos Concílios




para a nossa igreja. Desta forma contribuí- e do Governo Episcopal, inclusive da parte




mos para enriquecer o movimento pela uni- de órgãos metodistas internacionais.




dade e também nos enriquecemos com ele.




Algumas atitudes a serem observadas nes-



ses relacionamentos:




1. Respeitar as diversidades encontradas




entre as Igrejas membros e de pessoas que




participam nesses órgãos;


Observe as



atitudes recomen-


2. Entender que nossa participação se dá ○



dadas pelos nossos


por meio do diálogo e participação em pro-


bispos e bispa


gramas que atendam à demanda cristã nas

quanto à partici-



áreas sociais, de cidadania e da defesa dos

pação em organis-



direitos humanos. Principalmente naquelas mos ecumênicos.


O que vocês, como


que promovam a paz, a justiça e a equidade,


grupo de estudo,


enfim, que promovam o Reino de Deus;


pensam sobre


3. Trazer para discussão interna assuntos elas? São viáveis?



que necessitam de acordo e participação da De que formas? O



que a experiência

Igreja em todos os seus níveis, para, depois


de vocês pode


de debatidos e acordados internamente, se-


somar na hora de


rem firmados junto aos órgãos nos quais


colocar em


estamos filiados; prática essas



orientações?


4. Estabelecer posicionamento em reuni-



ões e eventos desses órgãos, em acordo com



nossas doutrinas, nossos documentos, nossa


tradição e costumes, e não conforme visão e ○



interesse pessoal de quem estiver representan-



do a Igreja nos fóruns desses organismos;





Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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bém por outros grupos e organizações sen-
COMO A IGREJA METODISTA NO




síveis e solidários com as lutas e causas po-



PONTOS PARA PENSAR
BRASIL DEVE TRATAR O TEMA DA


pulares, que merecem ser identificados e va-



Que grupos em sua



lorizados. Por isso, o Plano para Vida e Mis-



cidade são impor-


UNIDADE COM ORGANIZAÇÕES


são da Igreja Metodista recomenda o apoio


tantes para o bem-



Neste capítulo, estar comum, a "todas as iniciativas que preservem e valorizem a
GOVERNAMENTAIS E NÃO-CRISTÃS?



orientações para


mesmo sem um vida humana". Essa orientação é reafirmada



lidar com organi-


apelo religioso?


na definição do que é trabalhar na missão de


zações sociais não



-religiosas, Deus: "é somar esforços com outras pessoas e gru-


Como a Igreja Metodista no Brasil deve



governamentais pos que também trabalham na promoção da vida",


se relacionar com organizações governamen-


ou de religiões fazendo uso da mesma citação bíblica do 38º


tais, da sociedade civil e com religiões não-


não-cristãs.


Sermão de Wesley, Advertência contra o sec-


cristãs que trabalham pela vida e pela paz


tarismo: "quem não é contra nós, é por nós" (cf.


com justiça?


Mc 9.38-39). Esta mesma ênfase retorna na



Como portadora da herança wesleyana, a


parte denominada "Como participar na missão


Igreja Metodista, em todo o mundo, tem uma


de Deus?", quando o documento reconhece


intensa prática diaconal. No Brasil, isto não


que a Igreja não só participa na missão mas


é e nem deve ser diferente. Afinal, como o também cresce quando educa-se "a partir do



Credo Social da Igreja Metodista expressa: compartilhamento com outras pessoas e grupos que



preservam e valorizam a vida".


A Igreja Metodista afirma sua responsa-



bilidade cristã pelo bem-estar integral do ser Hoje são diversos os grupos em nosso



humano como decorrente de sua fidelidade O Metodismo é país que trabalham pela paz, pela justiça, por



à Palavra de Deus expressa nas Escrituras comprometido relações mais humanas frente às estruturas



com o bem-estar

do Antigo e do Novo Testamentos. Esta tão desumanizantes da nossa sociedade. A


integral do ser


consciência de responsabilidade social cons- vontade de participar comunitária e politica-


humano e reco-


titui parte da preciosa herança confiada ao mente, em nosso país, na busca de caminhos


nhece que o


povo metodista pelo testemunho histórico governo e outras para vencer o individualismo pregado pelo



de John Wesley. entidades também sistema neoliberal, passou a se expressar, nos



prestam importan-

últimos tempos, por meio de diferentes ações



Ao mesmo tempo, o Metodismo brasilei- tes serviços nesta



solidárias e reivindicatórias.

ro reconhece que as ações concretas de pro- direção. Não é ○


uma exclusividade Grupos os mais diferentes têm buscado


moção do bem-estar das pessoas não são pra-



das igrejas.

alternativas para enfrentar a injustiça e a fal-


ticadas exclusivamente pelas igrejas, mas tam-





Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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ta de paz, tais como, grupos de mulheres,


plo foi a Campanha contra a Fome e a Misé-



meninos e meninas de rua, associações de ria, deflagrada no início dos anos de 1990,




moradores, população de rua, escolas comu- Façam uma lista que permanece viva, em que muitos comitês




nitárias de informática, cooperativas de das entidades até funcionaram e ainda funcionam em de-



existentes em sua


catadores de papel e latas, cooperativas de pendências de igrejas locais. Outros exem-



cidade, similares



costureiras, de plantadores, hortas comuni- plos são a presença solidária da Igreja e de



aos exemplos



tárias, agentes comunitários de saúde. Além suas lideranças em manifestações


dados. Há



destas expressões há outras de alcance mais metodistas que reivindicatórias como as das famílias de tra-




amplo como os movimentos por terra e contribuem nelas? balhadores que sofrem com as demissões em



moradia, os movimentos solidários às cau- Partilhem experi-


massa, os grupos de sem-terra e trabalhado-



ências. A Igreja já


sas indígenas, os movimentos e entidades


res rurais que sofrem violência no campo;



fez trabalhos em


ecológicos, os conselhos comunitários de


os moradores de favelas nas grandes cidades


parceria com elas?


saúde e de educação, as organizações de que sofrem com o domínio da máfia das dro-

Como foi?



apoio aos portadores de deficiência física e



gas e com a violência policial e muitas outras



de doenças infecto-contagiosas como a


situações que demandam uma presença da


AIDS, comissões e comitês de direitos hu-


Igreja como aquela que sofre junto com o


manos, os grupos de combate ao racismo e


povo e deposita sua esperança na misericór-


a toda forma de discriminação, os organis- dia de Deus para com o ser humano.



mos oficiais como os Conselhos Tutelares


Assim fazendo a Igreja Metodista afirma


que buscam fazer valer o Estatuto da Crian-


crer que o mundo é de Deus e é cenário da


ça e do Adolescente.


Sua ação salvífica e redentora. Isto significa



Além destas, há muitas outras experiências,

que Deus não age somente na Igreja ou só



no Brasil, que poderiam ser citadas e ser en-

por meio dela, mas age no mundo inteiro,


quadradas no conceito estabelecido pelo


de diferentes maneiras, e que a Igreja tem


Plano para Vida e Missão como iniciativas


que estar atenta a perceber as ações e grupos


que buscam valorizar e preservar a vida. Por


que existem em prol da justiça e da promo-


isso, muitos membros da Igreja Metodista


ção da unidade da família humana, pois ali


têm sido vocacionados a participar e inte-


Deus está presente.


grar estes grupos, movimentos, conselhos e



Entretanto, ao unirmos nossos esforços

organizações. A Igreja Metodista também




com essas pessoas e grupos na busca do bem

tem apoiado as campanhas e manifestações ○


comum, não podemos ignorar nossas dife-


sociais em prol da justiça, expressando a so-



renças nem os fatores que nos dividem. Ao



lidariedade cristã a essas causas. Um exem-





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Para que todos sejam um


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contrário, devemos afirmar que nosso Algumas atitudes a serem observadas nes-




envolvimento na luta pela justiça é decor- ses relacionamentos:




rência natural da nossa fé e que nosso amor Como é possível



1. Entender que a nossa participação



ao próximo é fruto do nosso amor a Deus. dar testemuho



com esses organismos tem o caráter de par-


cristão mesmo


Devemos explicitar, também, que esse



trabalhando em PONTOS PARA PENSAR ticipação cidadã. Portanto, todo cuidado em



envolvimento é pautado pelos valores do


locais e entidades Estejam atentos/as relação à religião é bem-vindo, pois alguns



Reino de Deus, o qual não se identifica ple- nas quais a fé não às sugestões e


organismos dessa natureza não têm funda-


orientações aqui


namente com nenhum projeto humano. está em foco ou é


mento religioso;


apresentadas no


distinta da nossa?


Desta forma, estaremos afirmando nossa li-



Como agir de seu relacionamen- 2. Entender que a nossa participação em



berdade em Cristo para exercer nossa críti-


to com entidades


modo respeitoso, eventos de caráter social e cidadão que en-



ca, não somente às estruturas sociais diversas.


sem abrir mão,


volvem religiões não-cristãs não deve incluir



desumanizantes da nossa sociedade, mas porém, de nossos Assim, podemos



participação em cultos e rituais religiosos,


atuar com segu-


também a métodos de participação social ou princípios



rança e de modo somente nos projetos e em atos públicos de


fundamentais?

política que, no nosso entender, são incom-



equilibrado e promoção da vida;


patíveis com os valores do Reino. Só assim


coerente com a


3. Participar em eventos ou ações nesses

estaremos compartilhando com eles os dons nossa fé.



órgãos requer que os/as irmãos/ãs partici-

que recebemos de Deus e dando uma con-



pantes tenham segurança da sua identidade

tribuição verdadeiramente cristã para a cons-



metodista, para que não se deixem levar por

trução da unidade da família humana.



doutrinas e comportamentos estranhos ao


É neste sentido que dialogamos com ou-

nosso credo e fé (conforme Sermão 30, de



tras expressões de fé: encontrando-nos com

John Wesley, já citado na página XX);



elas no que diz respeito aos grandes desafi-


4. Envolver-se somente em eventos e


os da luta pela justiça, paz e integridade da


ações que não deponham contra a fé cristã e


criação seja em reuniões comunitárias, mu-


nem contra a linha de conduta dos


nicipais ou em atos públicos. No que está


metodistas;


além disso, nossa vocação cristã nos leva a



5. Ceder espaços metodistas, em qualquer

ter uma atitude de respeito para com as ou-



área de administração, implica que o evento

tras tradições religiosas, entendendo que isto



não contrarie a nossa tradição, decisões con-

não implica participação em cultos e rituais



○ ciliares, documentos e orientação do Colé-


inter-religiosos. Cremos que este é o melhor ○


gio Episcopal. A comunidade cedente deve


testemunho que podemos oferecer da pre-



ser favorável à realização do evento;


sença de Cristo em nós.





Para que todos sejam um
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6. Buscar orientação com a autoridade



eclesiástica superior (Pastor/a, Superinten-



dente Distrital, Bispo/a) sempre que se tiver



dúvidas nos parâmetros doutrinários e do-



cumentais que prejudiquem o julgamento do



evento ou ação em que se pensar envolver.























































Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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A Igreja Metodista, como fruto de sua
COMO AS LIDERANÇAS METODISTAS




herança wesleyana, entende e exercita, con-



NO BRASIL, CLÉRIGAS E LEIGAS, Ao sermos convi-


forme ensinam o Antigo e o Novo Testa-



dados para



mentos, a responsabilidade com o bem-es-



participar, organi-


DEVEM SE POSICIONAR QUANDO


tar integral do ser humano. Tanto que em


zar ou promover



Este capítulo quer seu Plano para a Vida e Missão são apresen-
FOREM CONVIDADAS/DESAFIADAS A eventos fora de



orientar as


nossos arraiais tados meios pelos quais podemos trabalhar



lideranças
PARTICIPAR DE REUNIÕES, CULTOS


devemos proceder


para a promoção da vida, bastando somente


metodistas


de acordo com a



quanto à partici- observá-los e aplicá-los nos relacionamen-


E CELEBRAÇÕES PÚBLICAS?


nossa crença,



pação em eventos tos diversos da Igreja Metodista.


dando um bom


públicos.


testemunho.


Logo, ao sermos convidados para parti-



cipar, organizar ou promover eventos fora



O ser humano é essencialmente social.



de nossos arraiais devemos proceder de acor-



Onde existe o ajuntamento de pessoas, exis-


○ do com a nossa crença, dando um bom tes-



tem também algumas regras que devem ser


temunho. Como já mencionado no capítulo


obedecidas para que o evento seja realizado.


anterior, quando se tratar de cultos ou cele-


Como membros de Igreja vivemos também


brações religiosas, nos envolvemos somente


em outros espaços, de forma social, em fes-


naquelas de cunho cristão. Já nas demais


tas, formaturas, aniversários de cidades, datas


ações de cidadania e naquelas de cunho de


cívicas etc. Não é porque participamos destes


ação social para promoção da vida e da paz


momentos oferecidos pela vida relacional que


Sua igreja já estaremos sempre prontos a nos engajarmos.


deixamos de ser cristãos, que deixamos de dar recebeu convites



Nos capítulos anteriores, fizemos menção

para participar de


testemunho da fé que abraçamos. Aproveita-


de atitudes que devem ser observadas quan-

eventos, festas,


mos esses momentos para dizer/testemunhar

desfiles, celebra-


do do relacionamento ou participação com


quem somos, de modo que o nome do Se-

ções públicas, atos


outras igrejas cristãs, órgãos que trabalham


nhor Jesus Cristo seja glorificado.

na Câmara
pela unidade cristã, e também com aqueles


Municipal ou na


governamentais e da sociedade civil. Enten-


Como Igreja, ou individualmente, recebe-

Prefeitura,


demos que se devidamente observadas ca-


mos convites para participação em ativida-

passeatas e


caminhadas? minharemos bem, sem conflitos internos.



des comunitárias extraigreja como reuniões,


Como foi? Em que


atos públicos, cultos, celebrações, bem como ○


isso é relevante

para sua organização e promoção. Como nos


para o testemunho


posicionarmos quando formos convidados? cristão?





Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglater-


APÊNDICE: COMO A IGREJA



ra, para contribuir com as bases da organi-




METODISTA NO BRASIL DEVE SE Este apêndice zação do Metodismo nos Estados Unidos.




procura resgatar Basta olharmos alguns títulos para confir-



RELACIONAR ESPECIFICAMENTE historicamente o


mar essa constatação, por exemplo: Das



contexto em que



obras de superrogação; Do purgatório; Do
COM A IGREJA CATÓLICA



John Wesley se



falar na congregação em língua desconheci-


posicionava em


ROMANA?


relação ao da; Da oblação única de Cristo sobre a cruz;




Catolicismo, Do casamento dos ministros; etc. O conteú-



criticando as do material de outros artigos rejeitam, expli-



questões doutri-


citamente, a posição tradicional do Catoli-


É fato na história do Metodismo, que o


nárias divergen-


cismo Romano, tais como: Dos sacramen-


seu inspirador, John Wesley, manifestava pu- tes, mas respei-



blicamente crítica e oposição ao Catolicis- tos; Da Ceia do Senhor; De ambas as espé-

tando as pessoas



cies. Este conteúdo é bem conhecido dos


mo Romano com base em sua compreensão em espírito de



amor. É possível metodistas brasileiros pois está publicado nos


teológica. Uma exposição clara de sua posi-


ção pode ser observada na obra Um Cate- agir assim hoje? Cânones da Igreja Metodista (2007, p. 35-



cismo Romano, fielmente extraído dos es- 45). Por sinal, este tom duro em relação à



critos aprovados pela Igreja de Roma: com doutrina católica-romana, às vezes mais mi-



uma resposta, publicado em 1756. Empre- litante ainda, é mantido em diversas outros



gando o método de perguntas e respostas, tratados, cartas e sermões, como também em



Wesley faz a compilação de várias doutrinas diversos comentários constantes nas Notas



e práticas católicas, expondo a visão evangé- Explicativas sobre o Novo Testamento.



lica em oposição - com base na Bíblia, nos


John Wesley já havia tido a oportunidade


Pais da Igreja e na razão Temas como Escri- de colocar em prática a sua peculiar inter-



tura e tradição, culto aos santos, devoção à

pretação do Evangelho, quando em visita à



Virgem Maria, salvação pelas obras, indul-

cidade de Cork, na Irlanda, enfrentou a fúria



gências, purgatório, sacramentos, doutrina

da população local contra os metodistas -



eucarística da transubstanciação, ministérios

majoritariamente católica romana (vale afir-



e sujeição ao papa, são tratados cuidadosa-

mar que os irlandeses tinham boas razões


mente por Wesley nesses escritos.



para não apreciar os cidadãos ingleses, entre




Esse caráter polêmico também é eviden- ○ as quais, destaca-se a opressão política e reli-


te nos Vinte e Cinco Artigos de Religião, pre- giosa exercida pela Inglaterra). No entanto,


parados por Wesley, em 1784, a partir dos o episódio não despertou, em Wesley, a ira



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Para que todos sejam um


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incontida contra a violenta perseguição, 3. não cultivar pensamentos descaridosos




como se poderia esperar. Antes, a ocasião ou manter um espírito armado contra o ou-




incentivou-lhe a redigir a conhecida Carta a tro, rejeitando qualquer atitude oposta ao




um Católico Romano, um genuíno manifes- terno afeto;




to em favor da paz e do amor mútuo, bas-



4. empenhar-se, ao máximo, para auxiliar



tante incomum naqueles tempos. De acordo


o outro a prosseguir na vida de santidade.



com alguns intérpretes, trata-se de uma car-



Antes de assinar "Vosso servo amistoso, pelo



ta circular, aberta; dirigida, portanto, a todos



amor de Cristo", Wesley combina, ainda, seis



os leitores católicos romanos. Além da pri- Enquanto as



breves citações de cartas paulinas que refor-


discussões


meira edição, em 1749, esse texto foi ainda



teológicas, tanto çam o tom geral desta carta circular (§ 17).



reimpresso três vezes durante a vida de PONTOS PARA PENSAR



ontem quanto Infelizmente, nenhuma resposta categórica do


Wesley pregava o


Wesley - no ano de 1750, em Dublin; no ano


hoje, tendem a se


diálogo e o lado católico romano foi formulada, pelo



de 1755, em Londres; e na coleção, organi- concentrar nos



respeito, apesar de menos, não há registro de que isso tenha ocor-



zada em 1773, de suas Obras. pontos em que


○ ter sofrido perse- rido. Porém, o mais importante a ser destaca-


existem divergên-

guição de sua


É interessante notar que, enquanto as dis- cias, Wesley do é que a atitude de Wesley tornou-se decisi-


própria igreja,


cussões teológicas, tanto ontem quanto hoje, procura fixar a va para estimular, entre os metodistas, uma


reações agressivas


sua atenção

tendem a se concentrar nos pontos em que dos católicos abertura teológica - aliada, é verdade, à inten-


naquelas áreas


sa convicção com respeito à própria identida-

existem divergências, Wesley procura fixar a romanos irlande-


fundamentais


ses e vivido de - que, raramente, encontramos. Essa con-

sua atenção naquelas áreas fundamentais


onde a concor-

desentendimentos


vicção foi que levou o líder metodista a redi-

onde a concordância inspira o testemunho dância inspira o


dentro do próprio


gir outros textos também bastantes críticos

cristão. Nessa perspectiva, o último parágra- testemunho


movimento


cristão. em relação aos católicos romanos.

fo da Carta a um Católico Romano estabele- metodista.



ce as exigências que o caminho do amor São estas bases wesleyanas que têm tor-



irrefutavelmente requer. Com a ajuda de nado possível que metodistas e católicos em



Deus, protestantes e católicos devem tomar muitos lugares do mundo estejam em diálo-



a firme resolução de: go e em unidade em torno de causas comuns.



Tornou possível também que o Concílio


1. não ferir-se mutuamente, guardando a


Mundial Metodista, em sessão plena em Lon-


regra áurea;

dres, em 1966, aceitasse o convite do




2. não falar de forma áspera e inamistosa ○


Vaticano para iniciar um diálogo formal em


um do outro, empregando sempre a lingua- torno das questões doutrinárias e teológicas




gem do amor; das duas tradições. Foi criada então a Co-





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Para que todos sejam um


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missão Conjunta de Diálogo Católico Ro-


mundo moderno, incluindo aí a sua postura



mano-Metodista, cuja primeira reunião acon- com relação às outras igrejas cristãs - exer-




teceu em 1967. ceu uma função significativa nesse processo




de relacionamento. A partir daquele Concí-



Já no Brasil, esta história tem "altos e bai-



lio, algumas pessoas e Igrejas, entre elas a



xos", pois o relacionamento entre a Igreja



Metodista, aproximaram-se dos católicos


Metodista, as demais Igrejas Evangélicas, e a



romanos na esperança de desenvolver canais


Igreja Católica Romana é marcado por con-



de diálogo e caminhos para o testemunho


trovérsias e sérios impedimentos, especial-



conjunto. As opções pastorais da Igreja Ca-


mente por conta de doutrinas como a devo-



tólica Romana na América Latina, sobretu-


ção a Maria, aos santos, a primazia de Roma



do o seu interesse renovado pela leitura da


e a infalibilidade Papal. Entendemos, porém,



que grande parte das dificuldades enfrenta- Bíblia bem como a sua ênfase prioritária no



trabalho ao lado povo empobrecido, facili-

das é devida às mútuas barreiras e precon-



ceitos levantados entre os dois grupos des- ○
taram a comunicação com os evangélicos. A



cooperação entre ambos os grupos, em di-

de o início da presença evangélica no Brasil.



versos campos de atuação, foi, então, acen-


Reconhecemos que o catolicismo não


tuada, resultando na criação de diversos or-


constitui uma realidade monolítica, homogêna. ganismos, tais como a CESE (Coordenadoria



Ao contrário, a Igreja de Roma abriga, na atu-

Ecumênica de Serviços, 1973) e o CONIC



alidade, tendências, comportamentos e con-

(Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, 1982).



cepções as mais diversas. Não obstante a isto


Nessas organizações, metodistas e católi-


posturas, documentos, orientações e posições


cos romanos, unidos a outros cristãos, pro-


teológicas de Pontífices Católicos têm deixa-


curaram vivenciar a sua fé comum no Evan-


do clara uma atitude exclusivista como a afir-


gelho. Convém também lembrar que, mes-


mação: "Existe portanto uma única Igreja de Cris-


mo na fase anterior ao Vaticano II, ainda em


to, que subsiste na Igreja Católica, governada pelo


tempos de acirrada contraposição, membros


Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com


de Igrejas evangélicas e católicos romanos


ele" (Declaração Dominus Iesus sobre a


chegaram a viver experiências de amizade e


Unicidade e a Universalidade Salvífica de Je-


sus Cristo e da Igreja, par.57). comunhão que deram fundamento e direção




às novas práticas.

É fato que o Concílio Vaticano II (1961- ○


Porém, na história do nosso país e sua


1965) - que impôs séria revisão da teoria e



cultura e a presença hegemônica do catoli-



prática católicas, adequando-as ao chamado





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Para que todos sejam um


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cismo por mais de três séculos deixaram


católica". Essa área engloba ainda a Zona da



marcas que ainda dificultam a compreensão Mata Mineira e grande parte do norte do Rio



Reconhecemos que


e o relacionamento em unidade cristã. Em de Janeiro e o norte do Espírito Santo. Nes-



nossa associação a



algumas partes do Brasil, isso é visivelmente sa faixa se localizam somente bolsões de



organismos



presente, não só para os evangélicos, mas evangélicos - 91% de população é católico-


ecumênicos, aos



também para muitos católicos. Outro ele- quais a Igreja de romana e várias não têm presença de igrejas




mento importante que não podemos Roma também se evangélicas (confor me JACOB, César



associa, causou Romero, et al. Atlas da filiação religiosa e indica-


desconsiderar são os processos históricos



questionamentos


dores sociais no Brasil. Rio de Janeiro/São Pau-


onde os conflitos entre protestantes e cató-



por parte de um


lo/Brasília: PUC-Rio/Loyola/CNBB, 2003).


licos se tornaram inevitáveis caracterizando número conside-



intolerância, polêmica e, até mesmo, violên-


rável de Reconhecemos que nossa associação a



cia física. Episódios de hostilidade, com ca- metodistas, por


organismos ecumênicos, aos quais a Igreja



conta deste


sas e templos evangélicos sendo apedrejados

de Roma também se associa, causou



contexto social e


além de variadas formas de constrangimen- questionamentos por parte de um número


○ histórico, particu-
tos e preconceito, ocorreram com frequência


considerável de metodistas, por conta deste

larmente entre


indesejável e deixaram marcas e mágoas, as


contexto social e histórico, particularmente

membros de nosso


quais muitos metodistas não conseguiram entre membros de nosso corpo pastoral.


corpo pastoral.


superar e outros herdaram, tendo cultivado


Percebemos também que estes


por vezes sentimento de rancor e


questionamentos resultaram também de


revanchismo resultante deste processo.


muitos equívocos foram ocorrendo, ao lon-



Até os dias de hoje, em certas regiões, não

go do tempo, como a aprovação (com divi-



há qualquer disposição por unidade da parte são) da entrada da Igreja Metodista nos or-



da hierarquia católica, que tende a tratar os ganismos em que a Igreja Católica integrava;



metodistas de for ma sectária e a ênfase de lideranças metodistas em prati-



discriminatória. Não podemos ignorar os car unidade com a Igreja Católica com


contextos em que nossas igrejas estão locali- desconsideração de processos históricos e do



zadas: há núcleos de maior ou menor con- contexto de igrejas locais; a falta de orienta-



fronto, de resistência e de assimilação. No ção da liderança sobre a unidade cristã; a fal-



mapa do Brasil há uma área geográfica que ta de posicionamento de lideranças eclesiás-



compreende o "miolo" que passa pelo Piauí ticas diante da aproximação de algumas or-


até o Rio Grande do Norte e desce em linha ○ ganizações ecumênicas com outras expres-


reta terminando no sul de Minas e no Norte sões religiosas, fato que gerou incômodo


de São Paulo, chamada "área de resistência entre muitos membros da Igreja.





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Para que todos sejam um


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Nestes processos não houve


Como metodistas, caminharemos fazen-



aprofundamento, orientação, esclarecimen- do o que Jesus fez, amando todas as pessoas




to e diálogo sobre o tema com nossas igre- independentes do seu credo religioso, pre-




jas locais, apesar da Carta Pastoral sobre gando o evangelho, respeitando as diferen-




Ecumenismo elaborada em 1999. Tudo isto, ças e no que depender de nós viver em paz




somado ao contexto acima descrito, culmi- com todos, e acordando que caminharemos




nou na decisão do 18º Concílio Geral, rea- de modo diferente buscando em tudo glori-




lizado em Aracruz, 2006, de a Igreja ficar "ao único Deus sábio, por meio de Jesus Cris-




Metodista "se retirar do CONIC e demais ór- to, pelos séculos dos séculos" (Romanos 16.27).




gãos ecumênicos com a presença da Igreja Católica



Apostólica Romana e grupos não-cristãos". A



decisão demonstrou que há uma crise no



relacionamento e na prática institucional Verifica-se que



precisamos


com a Igreja Católica.



amadurecer,


Verifica-se que precisamos amadurecer,


aprofundar e


aprofundar e aprender, com humildade, ver- aprender, com



dade, amor e comunhão, o nosso relacio- humildade,



verdade, amor e

namento com a Igreja Católica, fundamen-


comunhão, o


tados em nossa compreensão das Escritu-


nosso relaciona-


ras e em nossa herança wesleyana.


mento com a


Igreja Católica,


Portanto, estamos deixando de partici-


fundamentados


par de organismos ecumênicos aos quais a


em nossa compre-


Igreja Católica está vinculada oficialmen-

ensão das Escritu-



te, por entendermos que ainda não foi pos-

ras e em nossa



herança

sível um acordo. Nosso relacionamento se


wesleyana.


dará no dia a dia de modo interpessoal e



no atendimento às demandas comunitári-



as, respeitando-se as orientações quanto às



atitudes a serem observadas no relaciona-




mento com outras igrejas cristãs (confor- ○



me os capítulos específicos desta carta




quanto ao tema).



Para que todos sejam um
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Para que todos sejam um


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CELEBRAÇÃO - é um evento ou solenida-



GLOSSÁRIO



de de caráter festivo, religioso (casamento,




batismo, ação de graças, bodas, aniversários)


DIÁLOGO - "troca ou discussão de ideias, de



opiniões, de conceitos, com vistas à solução de ou não (cerimônias públicas, inaugurações,




problemas comuns, ao entendimento ou à har- formaturas, comemorações em geral).




monia; comunicação" (Dicionário Aurélio),


ATO PÚBLICO - é um evento promovido



portanto, no que diz respeito à dimensão


pelo poder público, pela iniciativa privada ou



ecumênica, é o meio pelo qual nos relaciona-


por instituições sociais e educacionais para


mos com outras igrejas cristãs e com segmen-


divulgar assuntos de natureza política e soci-


tos que promovam a vida, a paz e a justiça.


al, no qual a igreja se faz representar volun-



RESPEITO E TOLERÂNCIA - considerar a


tariamente ou mediante convite.



existência de modos de pensar, sentir e agir



CONCÍLIO MUNDIAL METODISTA - é uma



que são diferentes dos nossos e tolerar o



associação de igrejas de tradição metodista


outro em suas particularidades, amando-o ○



espalhadas pelo mundo para promover a


apesar das diferenças.


unidade: http://worldmethodistcouncil.org .


UNIDADE - "aquilo que, num conjunto,



numa espécie, forma um todo completo"



(Dicionário Aurélio), neste sentido, quando



nos referimos à fé falamos de unidade entre



cristãos/ãs porque a unidade cristã "proce-



de do Senhor Jesus e é realizada por meio do


Espírito Santo, pela rica diversidade de dons,



ministérios, serviços e estruturas que possi-



bilitam aos cristãos trabalhar em amor".



(Plano para Vida e Missão).




CULTO - é o serviço que a igreja reunida



em nome do Senhor Jesus Cristo presta a


Deus, em resposta ao seu amor, na forma de



adoração, confissão, louvor e ação de graças,



edificação e dedicação. Representa o envio




de todos/as para o cumprimento na missão ○



na forma de ações compromissadas com a




vida e a dignidade humana.




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