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Discurso de Formatura da Escola da Magistratura do Paraná – 13/12/13.

Orador: Paulo Henrique Berehulka

[Cumprimentos de estilo]

“Valeu a pena? Tudo vale a pena
se a alma não é


pequena.
Quem quer passar além do Bojador
tem
que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o
abismo deu,
mas nele é que espelhou o céu.”

Vivenciar uma experiência, segundo o Poeta, seja ela qual for, vale a
pena. Falar em pena para qualquer operador do Direito, automaticamente já
remete à alguma teoria... ainda mais se este operador for um aspirante à carreira
da Magistratura... rsrs.

Interessante notar que Fernando Pessoa, ao compor as linhas acima,


fez constar um paralelo entre o que se busca e o que se transpõe ao buscar. O que
é mais importante? A conquista ou o caminho superado? É claro que, também
considerando a qualidade especulativa dos presentes, muitos mentalmente
responderam com o clássico “depende!”.

E é verdade. Depende.

O objetivo em si, como meta, depois de alcançado desfaz-se em


essência. Se atingido foi, deixou de ser meta e objetivo pois tornou-se conquista.
A honra ao mérito é algo que tem sido vangloriado por milênios entre nós. Nada
mais justo. Afinal, reconhecer àquele que venceu a sua condição de vencedor
traduz a recompensa que afaga a alma e justifica ao espírito a inquietude com o
destino.

Mas o que realmente agrega é a conquista ou cada um dos obstáculos


superados? Cada encontro e desencontro em meio ao caminho? Cada vitória ou
fracasso? Cada acerto ou erro? Cada empatia ou desavença?

Esta noite estamos comemorando uma conquista.

Em muitos sistemas de ensino, a pós-graduação não é vista ou tida


como algo digno de uma solenidade. A diplomação ocorre sem um ato presencial,
quiçá uma festividade. E lá está no currículo mais uma linha e, na pasta, mais
uma certificação.

Ocorre que não estamos hoje concluindo apenas uma pós-graduação.


Para muitos dos que aqui estão, a data de hoje constitui-se num importante
marco. Estar aqui significa, de algum modo, a certeza de estar-se mais próximo
do atingimento de um sonho. Para com estas pessoas temos que ter um profundo
respeito. Escolher a carreira da Magistratura é, nos dias hodiernos, sobretudo
um ato de coragem e abnegação. Isto há de ser dito tanto pelo esforço hercúleo
que é dedicação ao estudo preparatório para o vencimento da etapa
concorrencial, quanto pelo posterior exercício constante da alteridade durante a
quotidiana judicância no transcorrer da carreira propriamente dita.

Aos Magistrados aqui presentes, principalmente para aqueles que nos


lecionaram durante o curso, entendam que para estes formandos, Vossas
Excelências representam uma aspiração. Eles observam vossos atos, jeitos e
trejeitos com ar de admiração e, quase que como uma emulação, põem-se à
imaginar o dia em que poderão ter a honra de vestir a toga e, quem sabe,
pertencer ao quadro deste Poder que representa o alicerce da República.

Dentro do contexto das Escolas de Magistratura, sabemos que o curso


preparatório para a carreira é apenas um pequeno e inicial degrau. Tivemos
condição de avaliar isso pois, por coincidência, neste ano a EMAP comemorou
seus 30 anos de fundação. A exposição da história da instituição, bem como a
alocução das diretorias (entrante e sucedida), deu-nos a dimensão da extensão
do trabalho realizado.

Porém, dou-me aqui a condição de salientar que a EMAP não apenas


presta serviços no interesse do Magistrado, mas atinge aos operadores do direito
como um todo. Dentre nós formandos, também estão pessoas que, embora não
tenham a intenção de percorrer os quadros do Judiciário, estão em busca de uma
melhor compreensão do sistema, e, por isso, buscam uma instituição capaz de
dar um ângulo de visão diferenciado, principalmente sob o prisma de como o
Magistrado vê, analisa e manifesta-se perante o caso concreto. Neste contexto, a
EMAP não enxerga concorrentes. Ao criar uma sistemática que compõe-se de
aulas teóricas jungidas com aulas práticas, colocando o aluno na posição do
presidente do processo e responsável pela pacificação da lide, cumpre
plenamente sua finalidade de especializar os seus cursistas em Direito Aplicado.

Aquilo que na doutrina parece tão etéreo, como a fixação de um dano


moral ou de uma pensão alimentícia, ou ainda a realização pormenorizada da
dosimetria da pena, materializa-se em um papel almaço no amalgamar da lei e
dos fatos propostos. Nesta hora, sente o aluno a responsabilidade do que seja, na
essência, a judicatura e, por consequência, cumpre a Escola seu papel de
despertar, consolidar ou afastar a vocação, como bem dito pelos diretores na
aula magna inaugural deste curso.

É por isso que, além de estarmos comemorando hoje uma conquista,


estamos celebrando uma jornada. Me dirijo aqui, em especial, aos colegas
formandos. Plutarco já dizia que o tempo é a moeda mais cara que dispõe um ser
humano. Pois bem, meus amigos, cada um nós durante este ano que se passou
deu seu bem mais precioso um ao outro: seu tempo. Em detrimento do convívio
familiar e social, por uma união de desígnios para bem, cometemos, em coautoria,
um ato de fraternidade, cuja consequência formal é a marca indelével em nossos
corações. “Mas, e a dosimetria?”, poderia alguém perguntar, ao que eu
responderia: “espero que para a eternidade”.

Aos nossos professores e mestres, agradecemos o compartilhar do


saber. Em uma época em que o ser humano demonstra-se tão mesquinho,
conviver com pessoas dedicadas a repassar conhecimento em prol da formação
profissional alheia, dá inspiração à superação de nossos próprios sentimentos
ignóbeis. Embora que se diga que Direito aprende-se lendo, o que não é mentira,
é na sala de aula, diante de uma palestra experiente, que o aluno cauteriza suas
dúvidas e cura-se da ignorância.

Aos pais e familiares, fica o reconhecimento do alicerce que são vocês.


O amor, a compreensão e o estímulo que vocês nos proporcionam são as
premissas de qualquer projeto. Nenhuma empreitada se justifica sem que se
tenha em mente este esteio, e é por ele que se legitima a eterna busca pelo
crescimento e pela melhora de nossas condições como pessoas.

Termino aqui agradecendo minha turma por darem-me a honra da


representação neste magno evento, e deixo uma mensagem de Richard Bach
para a reflexão:

“Existem todas as possibilidades, a mais absoluta liberdade


de escolha. Como em um livro, onde cada letra permanece
para sempre na página, mas o que muda é a própria
consciência que escolhe o que ler e o que deixar de lado”.

Sucesso em suas escolhas!

Boa noite.
É como um jogador de dardos que, com o projétil em mãos, analisa as melhores
condições para realizar o lançamento. Posta-se, concentra-se, lembra-se de
outros lances (bons e ruins), mira e dispara. O alvo, que antes era o objeto-
destino da análise, agora, aconchegando o dardo em uma de suas áreas,
constitui-se na prova de que houve acuidade ou não por parte do lançador.
Somente isso? Mas o dardo, não deixou de ser dardo. O alvo, continua sendo alvo
para mais tantos e quantos outros jogadores. “De que valeu então jogar?” poderia
perguntar o apressado. A resposta poderia ser dada por um filósofo: “se não há
quem jogue não há jogo, não há dardo, não há alvo, não há razão para jogar-se”.

Não há pipa que suba sem que haja o vento contra. Agradecer não só a quem deu
apoio. Mas igualmente a quem criticou.

Qualquer decisão tomada em vida reflete automaticamente em nossa existência


no instante seguinte. Mas a pergunta importante talvez seja: o que me motivou a
tomada a decisão? Buscar a razão das coisas é o que diferencia o homem dos
demais componentes vivos da natureza. Alguns dizem até ser esta a fagulha que
dá a certeza da hereditariedade do divino em nossa existência.

Dividir a vida em fragmentos de esperança.

Do sonho à conquista

A turma

A escola

Os professores
A interação

Esperança se traduz na Justiça

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