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32/2019

A IMPORTÂNCIA ECONÔMICA E
SOCIAL DA UFSC PARA O ESTADO DE
SANTA CATARINA

Lauro Mattei
Mateus Victor Fronza
Vicente Loeblein Heinen
A IMPORTÂNCIA ECONÔMICA E SOCIAL DA UFSC PARA O
ESTADO DE SANTA CATARINA*

Lauro Mattei**
Mateus Victor Fronza***
Vicente Loeblein Heinen****

INTRODUÇÃO
Ainda durante o processo eleitoral de 2018, o candidato que se consagrou vencedor
naquele pleito afirmava que as universidades federais brasileiras tinham sido totalmente
aparelhadas pelos políticos que governaram o país até recentemente e que era necessário
acabar com tais práticas. Além disso, afirmava que o Brasil gastava muito dinheiro com
educação superior e que as prioridades que estavam sendo ensinadas eram totalmente
erradas. Emerge a partir de então a cruzada governamental contra a “doutrina do marxismo
cultural” que, segundo o governo de plantão, tomou conta das universidades federais do
país. Além disso, inventou-se outra cruzada geral contra a “ideologia de gênero”, que
estaria deturpando o ensino no país.
Particularmente em relação às Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), é
importante registrar que ataques à gestão democrática das universidades já começaram
antes mesmo da posse do presidente Bolsonaro. Ainda durante o período de transição de
governo houve manifestação contrária ao processo de eleição paritária adotado na maioria
das IFES, o qual foi sistematicamente respeitado por todos os governos do período pós-
redemocratização, sempre com nomeações para reitor daqueles candidatos mais votados
pelas comunidades acadêmicas de todas as universidades federais do país. Com isso,
observa-se que o governo Bolsonaro está sistematicamente desrespeitando as escolhas das
comunidades acadêmicas das IFES, ao nomear apenas reitores afinados ideologicamente
*
Texto elaborado para subsidiar os debates relativos à situação atual da UFSC e das demais universidades
federais do país diante do processo de desmantelamento promovido pelo governo Bolsonaro. Versão
preliminar elaborada em 21 de setembro de 2019.
**
Professor Titular do Curso de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da
UFSC. Coordenador geral do NECAT-UFSC e Pesquisador do OPPA/CPDA/UFRRJ. E-mail:
l.mattei@ufsc.br.
***
Estudante de Economia da UFSC e bolsista do NECAT-UFSC. E-mail: mateusvfronza@gmail.com.
****
Estudante de Economia da UFSC e bolsista do NECAT-UFSC. E-mail: vicenteheinen@gmail.com.

1 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


com seu governo. Essa práxis política do governo Bolsonaro – na prática um verdadeiro
aparelhamento político – constitui-se em um ataque frontal à autonomia das IFES,
conforme previsto na Constituição Federal1.
É neste contexto que o governo atual criou a crise financeira que afeta toda
estrutura do ensino, pesquisa e extensão das instituições federais de ensino superior, além
dos órgãos de fomento à pesquisa científica (CNPq) e de apoio à Pós-Graduação no país
(CAPES). Registre-se que ainda no mês de abril de 2019 o Governo Bolsonaro anunciou
que iria fazer restrições de investimento nos cursos de Filosofia e Sociologia. Já no mês
seguinte (maio) anunciou um bloqueio de 30% do valor do repasso orçamentário de 2019.
Isso significou que até o mês de julho de 2019 o MEC já sofreu um bloqueio de R$ 6,1
bilhões de seu orçamento aprovado para o exercício de 2019, afetando todas as esferas do
ensino público no país. Nas IFES, além do bloqueio de verbas orçamentárias, houve um
corte de 11.811 bolsas da CAPES destinadas aos programas de mestrado, doutorado e pós-
doutorado. Em termos orçamentários, a UFSC sofreu um bloqueio no orçamento
discricionário de 2019 que era da ordem de R$ 150 milhões, sendo R$ 145 milhões
destinados inicialmente para custeio e R$ 5 milhões para despesas de capital
(Investimentos). Deste orçamento anual, observa-se que no momento, ainda estão
bloqueados R$ 43 milhões de custeio e R$ 1,3 milhões de capital.
É importante recordar dois aspectos dessa situação. O primeiro diz respeito aos
comentários do presidente da república diante dos protestos contrários a esses cortes
orçamentários nas IFES que ocorreram a partir do mês de maio de 2019. Em viagem aos
EUA no dia 15 de maio de 2019 – quando ocorriam manifestações no Brasil –, o
presidente qualificou os manifestantes como “massa de manobra” e “idiotas úteis”. O
segundo aspecto diz respeito à proposta do governo para enfrentar a crise por ele criada.
Como saídas, apresentou-se recentemente o programa “Programa Institutos e
Universidades Empreendedoras e Inovadoras – Future-se” que, na prática, dará

1
Registre-se que em oito meses de governo, Bolsonaro fez 12 nomeações de reitores. Em 7 casos não
respeitou a hierarquia das indicações realizadas pelas comunidades acadêmicas, chegando ao disparate de
nomear uma Reitora que sequer fazia parte da lista tríplice enviada pela universidade ao MEC. O caso mais
recente aconteceu na UFFS quando o retiro nomeado teve apenas 4 votos na lista tríplice.

2 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


continuidade ao processo de sucateamento do ensino superior público gratuito e de
qualidade, podendo levar a uma precarização de todo ensino superior no país.
Neste cenário politicamente caótico em que se encontram as IFES em todo o país, é
importante considerar estudo da OCDE realizado em 44 países, denominado de “Education
et a Glance”, divulgado em 10 de setembro de 2019. Esse estudo revela que o Brasil faz
parte do grupo de cinco países com as piores taxas de pessoas com ensino superior
completo, sendo que apenas 21% dos brasileiros com idade entre 25 a 35 anos têm curso
superior. Com isso, o Brasil aparece como o pior país da América Latina dentre as nações
pesquisadas: México (23%); Costa Rica (28%); Colômbia (29%), Chile (34%) e Argentina
(40%).
Diante dessa situação, nunca é demais recordar o que diz a Constituição Federal do
Brasil sobre a questão educacional. O artigo 205 do Capítulo III, Seção I, afirma que a
Educação é um direito de todos e um dever do Estado. Na mesma direção, a Lei das
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 9.394/1996) reafirma em seu artigo 2º que
a Educação é dever do Estado. Essa definição está coadunada com o papel central que o
sistema educacional exerce no processo de desenvolvimento do país. Isto porque, na
história das sociedades contemporâneas desenvolvidas, não existe nenhuma delas em que o
sistema educacional não tenha exercido um papel decisivo para que se atingisse tal patamar
de desenvolvimento.
Visando contribuir com os debates atuais que estão ocorrendo sobre os efeitos da
política do governo Bolsonaro nas IFES, e particularmente na Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), o NECAT-UFSC apresenta esse estudo preliminar, procurando
destacar a importância econômica e social da UFSC, tanto para Florianópolis como para o
restante do estado de Santa Catarina. Tais informações aqui sistematizadas e analisadas,
ainda que bastante preliminares, são eloquentes para ajudar a esclarecer a sociedade
catarinense sobre o importante papel econômico e social que é desempenhado pela UFSC.
Para tanto o texto está organizado em cinco seções. Na primeira delas apresenta-se
uma radiografia da UFSC em termos das atividades de ensino, pesquisa e extensão,
procurando realçar a dimensão atual da UFSC, especialmente em termos do conjunto de
ações que são desenvolvidas nessas diversas esferas. A segunda seção apresenta

3 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


brevemente o problema orçamentário e financeiro decorrente da política de bloqueio e
corte de recursos praticada pelo governo atual. A terceira seção analisa alguns impactos
econômicos e sociais provocados pela existência e pela ação da UFSC, tanto em
Florianópolis como para o restante do estado. A quarta seção discute impactos indiretos
provocados pela UFSC na sociedade catarinense. Finalmente, a quinta seção elabora
algumas considerações gerais sobre o cenário atual e perspectivas das IFES diante da
política governamental, bem como da UFSC em particular.

1 - CONHEÇA A UFSC E VEJA O QUE ELA FAZ NAS ÁREAS DE ENSINO,


PESQUISA E EXTENSÃO EM SANTA CATARINA
1.1 – Breve Histórico sobre a UFSC2
A UFSC foi criada pela Lei 3.849, de 18 de dezembro de 1960, por ato do
Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira3. Sua criação decorre da junção
das seguintes instituições de ensino superior já existentes na Ilha de Santa Catarina à
época: Faculdade de Direito (1932); Faculdade de Ciências Econômicas (1943); Faculdade
de Odontologia (1946); Faculdade de Farmácia e Bioquímica (1946); Faculdade de
Filosofia (1952); Faculdade de Medicina (1957) e Faculdade de Serviço Social (1958).
Todas essas faculdades funcionavam no centro de Florianópolis, exceto a de Filosofia que
se localizava na Trindade4.
Passado o ato de criação, começou o processo de instalação da USC, o qual foi
precedido por um intenso debate marcado por duas posições distintas: uma defendia a
organização da universidade no centro da cidade e a outra defendia que a UFSC fosse
instalada na Trindade. João David Ferreira Lima (primeiro reitor) era defensor da
instalação da universidade no centro da cidade. Já os estudantes da época defendiam,
juntamente com professor Henrique da Silva Fontes, a segunda opção. Após intensos

2
Item elaborado com informações extraídas do livro “UFSC 50 anos: trajetórias e desafios” Cf. Neckel;
Kuchler (2010).
3
Registre-se que nesta data se chamou Universidade de Santa Catarina (USC). A sigla UFSC passou a existir
somente após a promulgação da Lei 4.759, de 20 de agosto de 1965.
4
Registre-se um fato inusitado: a Faculdade de Engenharia sequer existia, mas fez parte da mensagem
presidencial porque na época, para se criar uma universidade, era obrigatória a existência do tripé: Direito,
Filosofia e Engenharia.

4 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


debates durante dois anos (1960-1962), ficou definido na reunião do Conselho
Universitário realizada em 28.11.1962 que a UFSC seria instalada na Trindade, na área
conhecida como “Fazenda Assis Brasil”. Neste local existiam apenas o prédio da faculdade
de filosofia e algumas casas que eram usadas como salas de aula no início das atividades.
Assim, enquanto foram sendo construídos os prédios iniciais da “Cidade Universitária”
(Reitoria e outros), os cursos existentes permaneceram funcionando no centro da cidade.
Com a reforma universitária da década de 1960 acelera-se o processo de conformação do
atual Campus da Trindade, sendo que apenas na década de 1970 todas as faculdades
espalhadas pelo centro, juntamente com os cursos novos, passaram a integrar a “Cidade
Universitária”.
Dessa forma, observa-se que as décadas seguintes (70s, 80s, 90s) foram destinadas
à estruturação de todas as unidades acadêmicas do Campus Trindade. Neste caso, deve-se
destacar a conclusão da construção do Hospital Universitário (HU), que havia sido
inaugurado no final da gestão do Reitor Caspar Erich Stemmer (1976-1980). Registre-se
que a conclusão de tal obra também tem a ver com o importante papel reivindicativo dos
estudantes, especialmente dos cursos da grande área de saúde, que necessitavam dos
serviços hospitalares para sua formação integral. Outro aspecto foi a construção do Centro
de Ciências Agrárias no bairro do Itacurubi (única das 11 grandes unidades acadêmicas
localizada fora do Campus Trindade) a partir de 1971. Tal centro começou a funcionar em
1975 com um único curso (Agronomia) e tendo os Colégios Agrícolas de Camboriú e
Araquari a ele vinculados. Tal localização foi justificada na época pela articulação
necessária dessa área de formação com toda a estrutura do governo estadual na área
agrícola localizada nas cercanias. Além disso, em 1982 o CCA-UFSC recebeu do governo
do estado de Santa Catarina uma área de 183 hectares localizada no bairro Tapera,
conhecida como “Fazenda da Ressacada”. Outro ponto de destaque na área de Ciências
Agrárias foi a doação ao CCA-UFSC, no mês de fevereiro de 1999, de uma fazenda de 365
hectares localizada no município de Balneário Barra do Sul. Tal doação foi realizada pela
empresa Yakult, sendo que daí decorre o nome “Fazenda UFSC/Yalkult”. Finalmente,
deve-se registrar a instalação, a partir de 1985, da Estação de Pesquisa da Barra da Lagoa.

5 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


Esse processo de expansão da UFSC ganhou novos contornos a partir dos anos
2000 com o Projeto REUNI do Governo Federal. Assim, em 2009 foram criados os campi
de Araranguá, Curitibanos e Joinville. Apenas o campus de Blumenau teve sua criação
posterior, tendo a aula inaugural sido realizada em março de 2014.
Desta forma, a UFSC é atualmente uma universidade que conta com cinco campi
no estado de Santa Catarina, além das unidades acima mencionadas vinculadas ao CCA,
bem como um espaço onde funciona a TV UFSC no centro de Florianópolis. Deve-se
registrar que apenas os Colégios Agrícolas de Araquari e Camboriú não fazem mais parte
da estrutura da universidade. É sobre tudo o que acontece nas áreas de ensino, pesquisa e
extensão dessa enorme estrutura universitária que os itens seguintes irão se debruçar.

1.2 – A estrutura geral do ensino na UFSC


Em primeiro lugar, deve-se registrar que a UFSC oferece todas as modalidades de
ensino, ou seja, Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior,
sendo que as três primeiras modalidades se encontram restritas ao Campus de
Florianópolis.
Com a reestruturação das IFES a partir de 2008, ocorreu uma ampliação tanto do
número de cursos quanto de vagas por cada unidade de ensino superior. A Tabela 1
apresenta o número atual dos cursos em cada modalidade de ensino nos respectivos Campi
da UFSC. No ensino de graduação existem atualmente 122 cursos, sendo que 81% deles
(ou seja, 99 cursos) se localizam no Campus de Florianópolis. O restante dos cursos (23)
encontra-se distribuído nos outros 4 campi localizados no interior do estado.
Do ponto de vista da Pós-Graduação, verifica-se que a UFSC oferece 85 cursos de
mestrado, sendo 64 deles para mestrado acadêmico e 21 para mestrado profissionalizante.
Dada a trajetória histórica de estruturação da universidade, nota-se que 91% do mestrado
acadêmico situa-se no Campus de Florianópolis, enquanto apenas 14% dos cursos de
mestrado profissionalizante se localizam nos Campi do interior do estado. Já dentre os 56
programas de doutorado, verifica-se que todos se localizam no Campus de Florianópolis e
que em todas as unidades acadêmicas desse campus existe pelo menos um programa de
doutorado.

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Tabela 1 – Oferta de cursos presenciais da UFSC, por categoria e campi, 2018

Mestrado
Campi Graduação* Doutorado
Acadêmico Profissionalizante
Campus Florianópolis 99 58 18 56
Centro de Ciências Agrárias 4 4 1 4
Centro de Ciências Biológicas 3 8 4 8
Centro de Ciências da
5 3 1 3
Educação
Centro de Ciências da Saúde 6 7 4 7
Centro de Ciências Físicas e
9 4 2 3
Matemáticas
Centro de Filosofia e Ciências
20 6 1 7
Humanas
Centro de Comunicação e
24 6 1 6
Expressão
Centro Socioeconômico 9 5 2 4
Centro Tecnológico 15 13 1 12
Centro de Desportos 2 1 - 1
Centro de Ciências Jurídicas 2 1 1 1
Campus Araranguá 5 3 1 -
Campus Blumenau 6 - 2 -
Campus Curitibanos 4 1 - -
Campus Joinville 8 2 - -
64 21
TOTAL 122 56
85
Fonte: SEPLAN/UFSC (2018).
Nota: Os cursos de bacharelado, licenciatura em diferentes turnos são considerados separadamente.

A Tabela 2 apresenta o número de estudantes matriculados em cada modalidade de


ensino nos diversos campus da UFSC no ano de 2018. Inicialmente, é importante destacar
o papel da universidade na educação básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e
Ensino Médio) ministrada no Campus de Florianópolis, ao atender um universo de mais de
1.200 pessoas.
Quanto à educação superior, nota-se que a UFSC atende 40.082 pessoas, sendo que
29.303 delas estão vinculadas aos cursos de graduação, ou seja, 73%, enquanto 10.779
delas estão vinculadas aos programas de Pós-Graduação (27%), com enorme concentração
desses estudantes de Pós no Campus de Florianópolis.

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Tabela 2 – Número de discentes por modalidade de ensino (UFSC, 2018)

Matriculados Diplomados
Educação Básica 1.208 207
Educação Infantil 230 52
Ensino Fundamental 701 67
Ensino Médio 277 88
Educação Superior 40.082 7.070
Graduação 29.303 3.606
Graduação à Distância 1.488 296
Graduação Presencial 27.815 3.31
Campus Florianópolis 22.912 2.898
Campus Araranguá 1.190 125
Campus Blumenau 1.025 24
Campus Curitibanos 1.034 116
Campus Joinville 1.654 147
Pós-Graduação 10.779 3.464
Especialização 2.574 1.346
Mestrado Acadêmico 3.780 1.226
Mestrado Profissional 691 171
Doutorado 3.734 721
TOTAL 41.290 7.277
Fonte: SEPLAN/UFSC (2018).

Da mesma forma, observa-se uma concentração expressiva dos estudantes de


graduação no Campus de Florianópolis, sendo que mais de 82% dos integrantes dos cursos
de graduação presencial se localizam nesse campus. Registre-se que todos os cursos de
graduação à distância também dizem respeito ao Campus de Florianópolis.
Com isso, verifica-se que o universo estudantil da UFSC atingiu 41.290 estudantes
no ano de 2018. Se fizermos uma correlação desse montante com o número de municípios
do estado por estratos populacionais (Tabela 3), verifica-se que do total de 295 municípios
existentes no estado de Santa Catarina, 228 deles têm população total inferior a 20 mil
habitantes e que 37 municípios possuem população entre 20 a 50 mil, estrato onde se
localizaria a população total de estudantes da UFSC. Apenas 30 municípios têm uma
população superior à comunidade estudantil da UFSC.

8 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


Tabela 3 – Número de municípios de Santa Catarina por estratos populacionais (2018)

Habitantes Municípios
0 a 5 mil 106
5001 a 10 mil 60
10001 a 20 mil 62
20001 a 50 mil 37
50001 a 100 mil 17
Mais de 100 mil 13
TOTAL 295
Fonte: PNADC (2018).

Se considerarmos apenas a população estudantil do Campus de Florianópolis


(aproximadamente 34 mil pessoas), observa-se que a população cotidiana do Campus de
Florianópolis é superior à população de cada uma das 228 cidades do estado que possuem
população inferior a 20 mil habitantes. Além disso, nota-se que apenas 30 cidades do
estado detêm população superior à população estudantil do referido campus.
Sem dúvida alguma, essas informações demonstram a enorme importância social da
universidade, ao acolher uma parcela expressiva da população do estado que realiza seu
processo de qualificação profissional, especialmente daquelas parcelas vinculadas aos
cursos de graduação e aos programas de pós-graduação.
A Tabela 4 apresenta o número e os diversos tipos de bolsas que são destinadas aos
estudantes durante o processo de formação profissional. O número de estudantes
envolvidos com os diversos programas atingiu a 1.660 no ano de 2018, revelando um
grande esforço financeiro da instituição para garantir a execução dessas atividades,
considerando-se que a maior parte das bolsas é mantida com recursos próprios da UFSC.
Tanto o Programa de Educação Tutorial (PET) como o Programa Institucional de
Bolsa Estágio (PIBE) são espaços de qualificação dos estudantes, uma vez que procuram
melhorar tanto a formação interdisciplinar como a formação específica via estágios
profissionais. Além disso, as atividades dos projetos de extensão permitem uma maior
aproximação com a realidade nas respectivas áreas de ação dos distintos cursos.

9 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


Tabela 4 –Bolsas para estudantes de graduação, por categoria e por campi (2018)

Bolsas
Campi
Extensão Monitoria PET PIBE
Campus Florianópolis 343 551 228 225
Centro de Ciências Agrárias 20 36 - 48
Centro de Ciências Biológicas 29 58 12 10
Centro de Ciências da Educação 17 32 24 20
Centro de Ciências da Saúde 96 59 30 23
Centro de Ciências Físicas e Matemáticas 14 90 13 2
Centro de Filosofia e Ciências Humanas 39 50 19 28
Centro de Comunicação e Expressão 43 59 14 35
Centro Socioeconômico 31 42 18 22
Centro Tecnológico 29 99 74 27
Centro de Desportos 16 10 12 4
Centro de Ciências Jurídicas 9 16 12 6
Campus Araranguá 20 36 - 8
Campus Blumenau 11 22 - -
Campus Curitibanos 24 37 12 34
Campus Joinville 24 60 12 13
TOTAL 422 706 252 280

Fonte: SEPLAN/UFSC (2018).

Além das bolsas nas modalidades acima citadas, deve-se agregar ainda as bolsas
PIBIC/UFSC/CNPq. Segundo informações oficiais divulgadas pelo Programa de Iniciação
Científica, ao longo de 2018 foram disponibilizadas 822 bolsas para alunos dos diversos
cursos de todas as unidades acadêmicas. Registre-se que essas bolsas fazem parte do
convênio financeiro que o CNPq mantém com todas as IFES do país visando a formação
de jovens pesquisadores.
Por fim, deve-se registrar um conjunto expressivo de recursos financeiros destinado
à política de assistência e permanência estudantil. Registre-se que no ano de 2018 o valor
alocado para essa finalidade superou a R$ 17 milhões, com destaque para o Programa de
Bolsa Permanência da UFSC que atendeu 2.184 estudantes a um montante superior a R$
13 milhões.
Destaca-se que o pagamento desse conjunto de bolsas e benefícios aos estudantes
gera, tanto direta como indiretamente, efeitos positivos na economia local, uma vez que

10 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


mensalmente são injetadas parcelas expressivas de recursos aos estudantes para serem
utilizadas em sua manutenção pessoal na cidade, seja pagando aluguel ou consumindo bens
de primeiras necessidades.

1.3 – As ações de pesquisa realizadas pela UFSC


Também tem se tornado constante a crítica do governo atual às universidades
públicas brasileiras, afirmando-se que elas não fazem pesquisa e nem se relacionam com as
empresas. Além disso, o governo Bolsonaro – por meio de sua política publicitária –
distorce os fatos como estratégia para justificar os recentes bloqueios e contingenciamentos
de recursos orçamentários das universidades e também dos órgãos de fomento à pesquisa
(CNPq) e à capacitação de mão de obra qualificada (CAPES).
Nesse sentido, verifica-se que o Ministério da Educação (MEC) e o Ministério da
Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC) foram os dois órgãos ministeriais
mais afetados pela política adotada pelo governo atual a partir de abril de 2019. Dada a
previsão orçamentária executada até o presente momento, estima-se que em ambos os
ministérios deverá ser empenhado apenas 60% do orçamento previsto para 2019. Tal fato
indica que essas duas áreas estão tendo uma prioridade muito baixa por parte do governo
atual.
É importante registrar que os efeitos desses bloqueios de verbas orçamentários
sobre a produção científica nacional somente poderão ser captados pelas estatísticas num
período entre 3 a 5 anos, uma vez que há um espaço temporal entre o financiamento das
pesquisas e a publicação de seus resultados. Assim, se o cenário atual não for alterado,
estima-se que o país ingressará numa rota que poderá levar ao colapso todo sistema
nacional de pesquisa que foi arduamente construído ao longo das últimas décadas.
A UFSC, desde sua criação há mais de 50 anos, vem contribuindo sequencialmente
com a pesquisa nacional em várias áreas do conhecimento, merecendo destaque
recentemente em estatísticas sobre a produção científica do país. Na última edição do
ranking internacional do Times Higher Education (THE)5, por exemplo, a UFSC apareceu

5
O THE utiliza indicadores relativos ao ensino, pesquisa, citações científicas, visão internacional
transferência de conhecimento para formar seu índice. Na pesquisa divulgada em 11.09.19 foram avaliadas
1.396 universidades em 92 países.

11 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


entre as sete melhores universidades do país, integrando o grupo de universidades com
classificação entre 601 a 800, tendo sido precedida apenas pela USP, UNICAMP,UFMG e
UFRGS.
Certamente esse resultado obtido tem a ver com o longo período de estruturação
das diversas áreas de pesquisa, conforme apresenta a Tabela 5. Observa-se que no ano de
2018 existiam 624 grupos de pesquisa em atuação no conjunto da universidade, fato que
pode ajudar a explicar o bom desempenho geral da universidade no recente ranking
internacional do THE. Chama atenção que quase 40% desses grupos de pesquisa estão
concentrados em duas grandes áreas de conhecimento: Ciências humanas e Ciências
Sociais Aplicadas. Mesmo assim, observa-se que existem grupos expressivos também em
outras áreas de conhecimento, como são os casos das Ciências da Saúde, Ciências
Biológicas, Ciências Exatas e da Terra e Engenharias.

Tabela 5 – Grupos de pesquisa da UFSC por grandes áreas de conhecimento

Grande Área Grupos de pesquisa


Ciências Agrárias 40
Ciências Biológicas 52
Ciências da Saúde 78
Ciências Exatas e da Terra 68
Ciências Humanas 124
Ciências Sociais Aplicadas 111
Engenharias 96
Linguística, Letras e Artes 52
Outras 3
TOTAL 624
Fonte: DGP/CNPq apud UFSC (2018).

A Tabela 6 apresenta os projetos de pesquisa em vigor na UFSC no ano de 2018.


Mesmo que as informações sejam restritas ao campus de Florianópolis, deve-se destacar a
existência de um grande número de pesquisas em vigor em todas as unidades acadêmicas
do referido campus. Se observa, ainda, que três unidades acadêmicas (CCB, CCS e CTC)
concentram aproximadamente 50% de todos os projetos em curso, fato que revela uma
presença marcante da UFSC nestas áreas de conhecimento no cenário nacional.

12 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


Tabela 6 – Projetos de pesquisas vigentes em 2018 na UFSC – Campus de Florianópolis

Centros Projetos
Centro de Ciências Agrárias 221
Centro de Ciências Biológicas 292
Centro de Comunicação e Expressão 210
Centro de Ciências Jurídicas 49
Centro de Ciências da Saúde 349
Centro de Desportos 39
Centro de Ciências da Educação 148
Centro de Filosofia e Ciências Humanas 214
Centro de Ciências Físicas e Matemáticas 178
Centro Socioeconômico 147
Centro Tecnológico 487
Administração Central 5
Hospital Universitário 7
TOTAL 2.346
Fonte: SIGPEX/UFSC (2018)

Mesmo assim, não se deve desprezar a importância de todas as pesquisas em curso


nas demais áreas de conhecimento e o papel desempenhado no cenário nacional. Destaca-
se, também, a presença de projetos de pesquisas que estão em curso no Hospital
Universitário (HU), o que revela uma preocupação adicional da universidade com a saúde
da população catarinense e brasileira.
A Tabela 7 apresenta o número total de bolsas disponibilizadas pelo CNPq à UFSC
no ano de 2018, segundo as grandes áreas de conhecimento. De um modo geral, pode-se
dizer que esse número é bastante baixo, considerando-se o número de projetos de pesquisas
em vigência (tabela 6) e a grande participação da universidade na produção científica
nacional. Em grande medida, essas informações também ajudam a compreender a
existência de uma certa tendência em âmbito nacional de concentração das bolsas de
pesquisa em grandes universidades de três unidades da federação (SP. RJ e MG) e do
Distrito Federal (UnB).

13 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


Tabela 7 – Total de bolsas concedidas pelo CNPq à UFSC em 2018
Grandes áreas Bolsas
Ciências Agrárias 61
Ciências Biológicas 60
Ciências da Saúde 81
Ciências Exatas e da Terra 98
Ciências Humanas 73
Ciências Sociais Aplicadas 64
Engenharias 146
Linguística, Letras e Artes 27
Outras 1
TOTAL 611
Fonte: PROPESQ (2018).

A Tabela 8 demonstra o número de pessoas envolvidas nas diversas atividades de


pesquisa científica desenvolvidas pelos vários grupos anteriormente citados (Tabela 5).
Das quase 12 mil pessoas envolvidas, nota-se uma expressiva participação de
pesquisadores que, em sua grande maioria, são os próprios professores da Universidade.
Além disso, deve-se registrar a participação expressiva de estudantes, cujo número
representa mais que 50% do total dos participantes envolvidos. Mais dois aspectos
importantes devem ser registrados: por um lado, o envolvimento de pesquisadores
internacionais em projetos de pesquisa desenvolvidos pela UFSC, o que claramente
demonstra uma internacionalização da própria universidade e, por outro, um vínculo
importante com elevado número de instituições parceiras. De alguma forma, essas
informações são reveladoras de que na atualidade as pesquisas cada vez mais deverão ser
realizadas em redes.

Tabela 8 – Número de participantes nos grupos de pesquisa da UFSC, segundo a


categoria do participante (2018)

Categoria Quantidade
Pesquisadores 4.356
Estudantes 6.445
Técnicos 312
Colaboradores estrangeiros 176
Instituições parceiras 609
TOTAL 11.898
Fonte: DGP/CNPq apud UFSC (2018).

14 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


O conjunto de informações relativas às atividades de pesquisa científica
apresentado neste item mostra a contribuição da UFSC no cenário da pesquisa científica do
país. Relatório contratado pelo CAPES relativo ao período 2013-2018 divulgado pela
“Clarivate Analytics” em 5 de setembro de 2019 revelou que 11 universidades federais e
quadro universidades estaduais (USP, UNICAMP, UNESP e UERJ) – todas públicas -
respondem pela grande maioria do conhecimento científico produzido no país. O relatório
mostra ainda mais dois aspectos importantes; por um lado, que as universidades privadas
praticamente não contribuem em nada com a pesquisa científica e, por outro, que as
universidades públicas são o principal motor do processo de expansão da pesquisa
científica no país. Esses pontos colocam por terra o surrado argumento do governo atual de
que as universidades federais gastam muito e não fazem pesquisas. Portanto, é neste
cenário que devemos interpretar a gravidade política atual decorrente das ações insanas do
governo Bolsonaro, particularmente nas áreas da educação superior e da ciência e
tecnologia.

1.4 – As ações de extensão realizadas pela UFSC


As atividades de extensão realizadas pelas universidades públicas fazem parte do tripé em
que se organizam essas instituições de ensino superior, ou seja, são os espaços de
interrelação entre ensino-pesquisa-extensão. Desta forma, pode-se dizer que a extensão é a
ação da universidade junto à sociedade no sentido de partilhar com ela os conhecimentos
decorrentes das atividades de ensino e pesquisa. É precisamente neste momento que a
função social da universidade sobressai ao procurar incorporar em sua agenda geral de
ação as necessidades das comunidades onde ela se insere e atua. Em outras palavras,
poderíamos dizer que é a interrelação da ciência e do conhecimento com a realidade social
que, geralmente, precisa ser modificada.
De um modo geral, afirma-se que as ações de extensão também são importantes no
processo de democratização do acesso ao conhecimento produzido nas universidades, cuja
função primordial é contribuir com soluções para os graves problemas enfrentados pela
população do país. Nesta direção, as ações de extensão podem auxiliar na elaboração de
políticas públicas voltadas a solução desses problemas, ao mesmo tempo em que

15 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


possibilita aos estudantes se tornarem profissionais mais conscientes sobre a realidade em
que estão inseridos.
Registre-se que foi aprovada em 18.12.2018 a Resolução Nº 07/MEC/CNE/CES/2018, a
qual estabelece que as atividades de extensão devem compor, no mínimo, 10% do total da
carga horária curricular estudantil dos cursos de graduação, as quais deverão fazer parte da
matriz curricular dos cursos.
Na UFSC as atividades de extensão vêm sendo desenvolvidas há bastante tempo e
apresentam uma variedade de ações, conforme tabela 9. De um modo geral, nota-se que a
extensão nos termos definidos anteriormente ainda não ocupa um espaço expressivo,
comparativamente às atividades de ensino e pesquisa. Isto porque grande parte dos
registros apresentados estão vinculados às atividades docentes no campo da produção
acadêmica, sobressaindo o item “produção e publicação”. Na verdade, ainda são poucos os
projetos específicos direcionados à extensão conforme proclama a universidade.

Tabela 9 – Indicadores de ações de extensão da UFSC, 2018

Atividades realizadas Números


Ações de extensão registradas 3.795
Cursos 560
Projeto 1.488
Evento 1.625
Programa 122
Atividades docentes registradas 18.055
Curso de curta duração 628
Participação em banca externa 1.533
Participação em evento/palestra 4.789
Prestação de serviço 1.552
Produção e publicação 9.553
Certificados de extensão emitidos 72.958
Pessoas beneficiadas em ações de extensão* 744.800
Fonte: SEPLAN/UFSC (2018).
Nota: Estimativa da Capacidade de Atendimento dos Programas, Projetos e Eventos.

Deve-se registrar que para fazer frente à resolução do MEC anteriormente


mencionada, a UFSC ciou em agosto de 2018 um Comissão Mista de Curricularização
(CMC), cuja finalidade é promover a incorporação da extensão nos cursos de graduação.

16 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


1.5 – Outras informações relevantes relativas às ações da UFSC
Diante do mosaico anteriormente exposto de atividades e ações que são
desenvolvidas pela UFSC nas esferas do ensino-pesquisa-extensão, é ainda possível
agregar um conjunto de outras atividades. Neste momento, porém, vamos nos ater a apenas
algumas delas para demonstrar a importância econômica, social e ambiental da
universidade, tanto para Florianópolis como para o estado de Santa Catarina.
Na esfera econômica são inúmeras as contribuições da universidade já devidamente
registradas. Neste momento, vamos destacar apenas uma delas para realçar o papel
decisivo na vida econômica de centenas de famílias que vivem em áreas litorâneas
próximas à capital do estado. A partir de projetos de pesquisas desenvolvidas pela UFSC
há aproximadamente 40 anos implementou-se na região as atividades da maricultura
envolvendo centenas de famílias. Atualmente essa região litorânea responde por 95% da
produção nacional de ostras e mexilhões, sendo que todas as sementes são geradas pelo
Laboratório de Moluscos Marinhos (LMM), localizado na Barra da Lagoa e subordinado
ao Departamento de Aquicultura (CCA-UFSC).
Na esfera social é importante destacar outra ação relevante da universidade, dentre
as inúmeras existentes. Trata-se de todos os serviços oferecidos gratuitamente para a
população na área de saúde por meio do Hospital Universitário (HU), o qual atende
demandas de pacientes que se deslocam de Dionísio Cerqueira (Extremo-Oeste) até Praia
Grande (Extremo-Sul). Dotado de dezenas de especialidades médicas, o HU se tornou
referência de atendimento de saúde para toda a população de Santa Catarina.
Na esfera da preservação ambiental, é importante destacar o papel que está sendo
desempenhado pela universidade por meio do “Projeto Fortalezas” que completa 40 anos
em 2019. A primeira ação nesta esfera ocorreu em 21.11.1979, quando a UFSC assumiu a
gestão da Fortaleza Santa Cruz do Anhatomirim (Ilha do Anhatomirim), espaço atualmente
sob jurisdição do município de Governador Celso Ramos. Logo na sequência (1991) a
UFSC assumiu a gestão da Fortaleza de Santo Antônio de Ratones (Ilha de Ratones-
Florianópolis) e a gestão da Fortaleza de São José da ponta Grossa (Jurerê-Florianópolis).
Essas fortalezas – hoje patrimônio histórico nacional – foram construídas pelo Império
Português para proteger a entrada na Ilha de Santa Catarina. Registre-se que no primeiro

17 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


domingo de todo mês entre os meses de março e novembro a taxa de visitação em todas as
fortalezas é gratuita.

2 - ASPECTOS ORÇAMENTÁRIOS E OS PROBLEMAS ATUAIS


A crise financeira que tomou conta do país desde o ano de 2015 vem afetando
sequencialmente o orçamento público federal e levando o governo a fazer cortes
expressivos a cada nos orçamentos específicos dos órgãos governamentais. Em alguns
casos, como o do Ministério da Educação, percebe-se que essas reduções foram
significativas, especialmente nas áreas de custeio e investimentos. Para se ter uma ideia
dos impactos do bloqueio e contingenciamento orçamentário, basta observar que foram
previstos R$ 6.270 bilhões na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2019 para custeio, sendo
que deste montante foram bloqueados R$ 1.71 bilhões (ou seja, 27%). Já para a rubrica
investimentos, dos R$ 717 milhões inicialmente orçados, R$ 401 milhões foram
bloqueados, ou seja, 56% do total. Com isso, os bloqueios orçamentários nas IFES a partir
de maio de 2019 já somam 30% de todo orçamento discricionário.
No caso particular da UFSC, é importante analisar o comportamento do volume de
recursos que é gerido pela UFSC (os chamados recursos discricionários e que se resumem
aos gastos com custeio e capital) e aquele que não é gerido pela universidade, porque diz
respeito aos recursos com despesas de pessoal, tanto ativos como inativos. Neste último
caso, observa-se no Quadro 1 que o volume dessa despesa específica mais que dobrou no
período considerado. Em grande parte, isso se deve ao fato de que o número de inativos
avançou bastante, ao mesmo tempo em que essas vagas foram repostas por novos
servidores (tanto docentes como TAEs). Além disso, deve-se considerar os efeitos da
enorme expansão da estrutura da UFSC a partir de 2009, com a abertura de mais 4 campi
no estado.
É importante observar que os recursos relativos à rubrica custeio tiveram expansões
constantes em todo período, ainda que os aumentos foram poucos expressivos. Já a rubrica
de investimentos (capital) teve sua expansão até o ano de 2013. A partir de então
apresentou quedas sequenciais chamando atenção para as reduções expressivas nos últimos
anos. Esse aspecto é relevante considerar, uma vez que ele representa a fragilidade

18 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


estrutural da universidade, uma vez que sua capacidade de investimento se mantém
extremamente baixa à luz desse montante de recursos orçados para tal finalidade.

Quadro 1: Evolução do orçamento geral da UFSC por rubrica (Milhões de reais, anos
selecionados)
Rubrica 2009 2013 2016 2017 2018 2019
Pessoal e
555,5 847,3 1.121,5 1.259,4 1.339,7 1.294,6
Enc. sociais
Custeio 88,7 147,0 177,7 204,8 171,2 226,9
Capital 30,1 60,4 37,4 29,1 11,6 25,2
Total 674,5 1.054,9 1.336,8 1.493,5 1.522,7 1.546,0

Fonte: SEPLAN/UFSC (2018).

Em um cenário de contração do volume de recursos, tanto para custeio como para


investimentos, é importante destacar os impactos negativos dos bloqueios e
contingenciamentos realizados pelo governo Bolsonaro a partir do mês de maio de 2019.
No caso específico das UFSC estão retidos aproximadamente R$ 60 milhões, sendo R$ 47
milhões da rubrica custeio e o restante (R$ 13 milhões) da rubrica capital.
A Tabela 10 apresenta o orçamento da UFSC em 2019 como se fosse um município
de Santa Catarina. Nesse caso, observa-se a enorme importância econômica da UFSC para
todo o estado, uma vez que nesta condição se posicionaria como o quarto maior orçamento
estadual, superando inclusive os orçamentos de cidades importantes como Itajaí, Chapecó,
Criciúma, São José, Lages e Jaraguá do Sul.

Tabela 10: Orçamento anual da UFSC e dos cinco maiores orçamentos municipais de
Santa Catarina (Milhões de reais, 2019)

R$ Milhões
Blumenau 3.383
Joinville 3.040
Florianópolis 2.180
UFCS 1.545
Itajaí 1.520
Chapecó 1.032

Fontes: LDOs municipais e UFSC (2019).

19 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


3 - A GERAÇÃO DE EMPREGOS DIRETOS PELA UFSC EM FLORIANÓPOLIS
E EM SANTA CATARINA
A partir de 2014 a economia brasileira entrou em uma crise que perdura até os dias
atuais. Durante esse período a taxa de desemprego no país vem se mantendo no patamar de
12%, significando que aproximadamente 13 milhões de pessoas continuam
desempregadas. Se a este montante for somada a quantidade de pessoas desalentadas (que
procuraram emprego, não encontraram e desistiram de procurar novamente) e a quantidade
de pessoas que se encontram fazendo bico e/ou realizando uma jornada de trabalho inferior
ao que poderia, chega-se a impressionante cifra de 28 milhões de pessoas. Esses números
claramente evidenciam uma precarização do mercado de trabalho no Brasil, sobretudo se
considerarmos, ainda, que parcelas expressivas da população passou a sobreviver com
apenas um salário mínimo mensal.
É neste contexto que devemos inserir a importância econômica e social da UFSC
nesta área, considerando-se os efeitos irradiadores, diretos e indiretos, de sua ação no
âmbito do mercado de trabalho. Assim, a Tabela 11 apresenta o número total de docentes
de Técnicos Administrativos em Educação (TAEs) que exercem suas funções no Estado de
Santa Catarina. Por razões óbvias, grande parte dessas duas categorias profissionais se
localiza no Campus de Florianópolis. Esses são empregos diretos gerados pela
universidade ao longo do tempo.

Tabela 11 – Docentes efetivos e TAEs (UFSC, 2018)

Docentes TAEs
Campus Florianópolis 2.012 2.978
Campus Araranguá 94 44
Campus Blumenau 94 48
Campus Curitibanos 77 49
Campus Joinville 98 46
TOTAL 2.375 3.165
Fonte: SEPLAN/UFSC (2018).

Como é do conhecimento de todos, o funcionamento da universidade não diz


respeito apenas aos estudantes, professores e TAEs. Neste caso, nota-se a existência de

20 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


uma verdadeira cadeia produtiva envolvendo diversos segmentos profissionais, bem como
empresas prestadoras de serviços. Neste contexto, a Tabela 12 apresenta os diversos
empregos diretos gerados pela universidade durante seu funcionamento, ressaltando-se que
essas informações dizem respeito apenas ao campus de Florianópolis. À luz de
informações disponíveis, bem como de outras que foram obtidas junto aos diferentes
segmentos de prestação de serviços, chegou-se à conclusão que a universidade sozinha
gera quase 10 mil empregos diretos. Deve-se registrar, ainda, que não está sendo
considerada nesta análise aquela parcela expressiva de estudantes que trabalham
regularmente e que mantém um vínculo formal com a universidade.

Tabela 12 – Empregos nos serviços da UFSC, Florianópolis, 2018

Serviços da Universidade Funcionários


Copiadoras 30
Cantinas 82
Serviços terceirizados 826
Fundações 1.585
Técnicos-administrativos 2.978
Hospital Universitário 2.009
Professores* 2.261
TOTAL 9.771
Fonte: Boletim de dados 2018/UFSC e levantamento próprio.
Nota: Considerando efetivos e substitutos de ensino superior e básico.

Como vimos anteriormente (Tabela 3), do total de 295 municípios existentes em


Santa Catarina, 166 deles têm população inferior a 10 mil habitantes. Isso significa que o
volume de empregos diretos gerado pela UFSC no Campus de Florianópolis é superior a
população de cada uma desses municípios, os quais correspondem a 56% dos municípios
catarinenses.
A Tabela 13 apresenta a participação dos empregos diretos gerados pela UFSC no
conjunto de empregos gerados em Florianópolis, tomando-se como referência a ano de
2018. Embora 6% possa parecer pouco, é importante registrar que é pouco provável que
exista outro órgão ou empresa na cidade capaz de gerar a mesma quantidade de empregos
diretos em um único ano. Se a isso somarmos os efeitos de espraiamento econômico, esse
percentual poderá até dobrar, devido ao grande volume de empregos diretos e outras

21 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


atividades econômicas cujo funcionamento está atrelado, direta ou indiretamente à
universidade.

Tabela 13 – Participação dos empregos diretos gerados pela UFSC no total de empregados
de Florianópolis (2018)

Empregados
Florianópolis 173.000
UFSC 9.771
Participação (%) 5,65
Fonte: PNADC (2018).

Essa importância está comprovada também quando se considera hipoteticamente a


não existência dos empregos diretos gerados pela universidade (Quadro 2). Caso não
existissem esses empregos proporcionados pela UFSC, a taxa de desocupação passaria de
6% para mais de 10%. Com isso, mais uma vez corrobora-se a grande importância
econômica e social da UFSC, não somente para Florianópolis e região metropolitana.

Quadro 2 – Comparação da taxa de desemprego de Florianópolis atual e em um cenário


hipotético sem os empregos diretos gerados pela UFSC, 2018

Taxa de desocupação 6,5


Taxa de desocupação sem UFSC 10,1
Fonte: PNADC (2018).

4 - A UFSC E OS IMPACTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS INDIRETOS

Em sua obra clássica sobre a Formação Econômica do Brasil, Celso Furtado


destaca a importância dos efeitos irradiadores de uma atividade sobre uma determinada
região. Nesta lógica, podemos tomar a UFSC como um agente irradiador de efeitos
econômicos e sociais, tanto em Florianópolis como em Santa Catarina. Nesta seção vamos
sistematizar alguns dos principais indicadores desses efeitos indiretos da universidade
sobre a economia da região de Florianópolis, bem como sobre a dinâmica social que se
estabelece a partir da existência da UFSC, restringindo-se aos aspectos vinculados ao
Campus da Trindade.

22 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


Um dos primeiros aspectos a se considerar diz respeito ao fator geográfico, uma vez
que o Campus Trindade se localiza em uma região circunscrita por diversos bairros
(Trindade, Córrego Grande, Serrinha, Carvoeira, Pantanal, Santa Mônica, Itacurubi, etc.)
bastante populosos e com alta densidade populacional, abrigando parte expressiva da
própria comunidade universitária. Com isso, expande-se de forma contínua a demanda por
bens e serviços atrelados ou não ao funcionamento da universidade.
Desta forma, ainda no âmbito interno do próprio Campus Trindade, nota-se a
existência de diversos serviços que são prestados à própria universidade e comunidade
acadêmica em geral. Assim, na área do Campus estão localizadas 3 agências bancárias e
uma agência dos Correios que prestam seus serviços, gerando um número expressivo de
empregos que terão impactos econômicos e sociais não mensuráveis diretamente pela ação
da universidade. Além desses, registra-se a presença de dezenas de empresas que prestam
outros serviços à UFSC (fornecedores de materiais de limpeza; de materiais para
laboratórios; de equipamentos eletrônicos; de produtos alimentares para o RU e para
restaurante do HU; de equipamentos de transportes, etc.). Todos esses setores empresariais
que mantém esse tipo de vínculo com a universidade têm, em grande medida, suas
atividades e seus níveis de emprego condicionados pelas demandas da própria
universidade.
Ao redor da universidade também se organizou uma vasta rede comercial que
encontra nos membros da comunidade acadêmica da Trindade parte essencial de seu
público consumidor. Neste caso, deve-se destacar os diversos mercados e supermercados;
os bares e restaurantes; as academias de ginástica; os cafés; livrarias, lojas de roupas e
calçados, etc. Registre-se novamente que todos esses setores têm seus níveis de atividades
e de empregos condicionados direta ou indiretamente pela existência da Universidade.
Ao redor da universidade se organizou, ainda, uma vasta rede de prestação de
serviços com sua dinâmica atrelada a esse movimento maior proporcionado pela
universidade. Nesse caso, destaca-se a expressiva quantidade de escritórios, consultórios
médicos, odontológicos e psicológicos e outros espaços de negócios existentes nos grandes
prédios comerciais que foram surgindo ao longo do tempo ao redor do Campus Trindade,
cabendo, inclusive, a existência de dois shoppings centers nas proximidades.

23 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


Da mesma forma, atreladas ou não à universidade, observa-se o surgimento e a
existência de um número expressivo de empresas de tecnologia digital que vão
transformando a própria cidade em um polo de inovação tecnológico referência para o país.
Sem dúvida, esse fenômeno econômico recente está diretamente relacionado ao trabalho
que vem sendo articulado pela UFSC em ações como a constituição do Parque Alfa e, mais
recentemente, do Sapiens Parque.
Tudo isso tem reflexos também sobre o setor imobiliário, dada a manutenção de
uma demanda contínua a cada ano com os novos ingressantes na universidade. Não é por
acaso que ao redor da universidade e nos bairros que a circundam verifica-se a existência
de quase uma dezena de agências imobiliárias. Certamente esse movimento provoca efeitos
positivos sobre o setor da construção civil, uma vez que a construção de novos edifícios
residenciais nos últimos anos foi muita expressiva, fato que acabou elevando
significativamente os preços dos imóveis residenciais e comerciais em toda a região.
Em síntese, não resta dúvida que todos esses aspetos que geram efeitos econômicos
e sociais indiretos para o conjunto da sociedade decorrem, em grande parte, da existência e
das ações da UFSC. Portanto, são visíveis os efeitos irradiadores da universidade sobre a
sociedade local e, de certa forma, também na sociedade estadual.

5 - CONSIDERAÇÕES GERAIS

É fato consensual que a produção científica brasileira cresceu sistematicamente nas


últimas décadas e isso se deve ao papel decisivo das universidades públicas e aos
investimentos, ainda que limitados, nas áreas pesquisas científicas nas diversas esferas de
conhecimento. Para a professora Helena Neder, presidente da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC), o país chegou a esse patamar devido aos investimentos e
esforços realizados por pesquisadores em todo o país. Portanto, a SBPC entende que os
cortes e bloqueios de recursos implementados atualmente, tanto pelo MEC como pelo
MCTIC, caminham na contramão da história recente e certamente colocarão o país na rota
do retrocesso, caso não sejam revertidos.
Outro aspecto que deve ser registrado sobre o cenário causado pelo governo atual é
que os efeitos dos cortes e bloqueios orçamentários somente irão ser sentidos mais

24 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


fortemente pela sociedade, em termos dos resultados das pesquisas científicas, daqui a
aproximadamente quatro ou cinco anos. Isto porque há um tempo médio entre o desenho e
o financiamento de um projeto de pesquisa científica e a obtenção dos primeiros
resultados. Assim, mais uma vez se coloca a necessidade urgente de reversão do quadro
atual, pois caso isso não venha a ocorrer, não haverá apenas um desmantelamento do
sistema nacional construído há décadas, mas também um aumento da dependência do país
em termos de ciência e tecnologia.
Esses aspectos acima mencionados estão diretamente relacionados com a situação
das universidades federais do país, uma vez que são elas as maiores produtoras de
conhecimento científico, conforme atestam todas as avaliações nesta área. Portanto, é
urgente também a reversão dos cortes e bloqueios orçamentários impostos recentemente às
universidades federais de todo o país pelo governo Bolsonaro. É importante reafirmar neste
cenário de ataques políticos ao sistema IFES que as universidades públicas brasileiras
desempenham um papel junto à sociedade que vai muito além da simples ministração de
aulas, uma vez que também desempenham papel social importante nas comunidades onde
se encontram inseridas. No caso particular da UFSC, basta citar apenas o enorme papel
social da universidade na área de saúde, a partir de seu complexo médico-hospitalar
disponível à sociedade catarinense.
Em síntese, entendemos também que a defesa da universidade pública, gratuita e de
qualidade é uma questão que deveria ser encabeçada por todos aqueles que, direta ou
indiretamente, também são beneficiados pelas ações da mesma. Portanto, entendemos que
chegou o momento de se tentar reverter o tratamento dado pelo atual governo às
universidades (fim dos cortes e bloqueios orçamentários), pois essa é uma situação sine
qua non para a continuidade dos trabalhos que a UFSC vem prestado à sociedade
catarinense.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

CLARIVATE ANALYTICS. Research in Brazil: A report for CAPES. Brasília: 2017.


Clarivate Analytics – CAPES, setembro de 2019.

25 Texto para Discussão – Núcleo de Estudos de Economia Catarinense


IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de
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<sidra.ibge.gov.br/pesquisa/pnadct/tabelas>. Acesso em: 19 set. 2019.

NECKEL, R.; KUCHLER, A. D. C. (Orgs). UFSC 50 Anos: trajetória e desafios.


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PROPESQ - Pró-Reitoria de Pesquisa/ Universidade Federal de Santa


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SEPLAN-UFSC – Secretaria de Planejamento e Orçamento da Universidade Federal de


Santa Catarina. UFSC Em Números – 2009 a 2018. 2018. Disponível em:
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_________. Demonstrativo de Orçamento de 2019. 2019. Disponível em:


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