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20/05/2019 O que dizem os cientistas que defendem os cortes na pesquisa do país - 15/05/2019 - Ciência - Folha

O que dizem os cientistas que defendem os cortes na


pesquisa do país
Pesquisador diz que sacrifícios são necessários diante do atual cenário econômico

15.mai.2019 às 19h30

Gabriel Alves
Reinaldo José Lopes

SÃO PAULO e SÃO CARLOS (SP) Um grupo de professores e pesquisadores preferiu


ficar bem longe das ruas nesta quarta-feira (15), dia em que protestos
ocorrem por todos o país (https://aovivo.folha.uol.com.br/educacao/2019/05/15/5701-aovivo.shtml)
contra cortes na ciência (https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2019/04/corte-de-verba-marca-inicio-da-
gestao-de-marcos-pontes-no-ministerio-da-ciencia.shtml) e na educação. Eles, que dizem

minoritários, afirmam que o contingenciamento é necessário para


reorganizar as finanças e atingir as metas fiscais do governo e também
defendem melhor eficiência no uso dos recursos. 

“O país vem passando por uma crise econômica importante. Infelizmente,


sacríficos precisam ser feitos para reorganizar os recursos. E o
contingenciamento, que não é um corte absoluto, pode ser revertido. Não
fico feliz que ele incida sobre ensino, pesquisa e extensão, mas o vejo como
necessário para que o governo retome os investimentos no futuro”, diz
Ricardo Moreno Lima, professor de educação física e pesquisador de
fisiologia do exercício na UnB (Universidade de Brasília).

Lima faz analogia semelhante à do ministro-chefe da Casa Civil Onyx


(https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/05/onyx-compara-cortes-na-educacao-a-economia-para-compra-de-vestido-

de-festa.shtml)Lorenzoni (https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/05/onyx-compara-cortes-na-educacao-a-

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2019/05/o-que-dizem-os-cientistas-que-defendem-os-cortes-na-pesquisa-do-pais.shtml 1/4
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economia-para-compra-de-vestido-de-festa.shtml),
que comparou o contingenciamento na
educação à economia de uma família que precisa comprar um vestido para a
festa de 15 anos da filha.

“Um pai que perde o emprego vai manter o filho nas aulas de inglês,
espanhol, natação e judô? Acredito que ele tenha que fazer um corte, e claro
que não fica feliz ao ver o filho nessa situação”, diz Lima.

Ricardo Costa, pesquisador de história da arte na Ufes (Universidade Federal


do Espírito Santo) e assessor no MEC, segue na mesma linha. “O rombo é
enorme, a economia parou de crescer. Estamos reféns da aprovação da
reforma da Previdência. Se ela passar, os recursos poderão voltar.”

Costa relata que 70% das bolsas de pesquisa do programa de pós-graduação


do qual participava na Ufes podem ser cortadas caso a nota do programa na
Capes (agência de fomento ligada ao MEC que avalia a pós-graduação no
país) não melhore na próxima avaliação.

Segundo ele, o efeito do congelamento de verbas nas pesquisas em


andamento em sua área é menor, mas em outras, como biologia e medicina o
impacto é imediato.

Convidado no início do ano para ser cedido ao MEC e virar assessor especial
do ex-ministro Ricardo Vélez Rodríguez, Costa passou a ser assessor na
gestão Abraham Weintraub com a mudança na chefia da pasta.

Ele aponta que o governo tem dificuldade em lidar com a pressão da


imprensa e explicar os motivos dos contingenciamentos. Ricardo Moreno
Lima, da UnB, diz que o presidente Jair Bolsonaro foi infeliz ao
(https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/05/bolsonaro-diz-que-manifestantes-contra-cortes-na-educacao-sao-

idiotas-uteis-e-massa-de-manobra.shtml) chamar os manifestantes de imbecis e idiotas úteis


(https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/05/bolsonaro-diz-que-manifestantes-contra-cortes-na-educacao-sao-

idiotas-uteis-e-massa-de-manobra.shtml),
mas defende o presidente como a melhor escolha
na eleição presidencial de 2018 dentre as opções existentes. 

Para Luis Fabiano Farias Borges, analista de ciência e tecnologia da


Fundação Capes, falta eficiência nos gastos em educação. Ele afirma que há

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um contraste considerável entre o baixo impacto da ciência brasileira


(https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2017/10/1927163-brasil-aumenta-producao-cientifica-mas-impacto-dos-trabalhos-

diminui.shtml)e o de países que investem proporção similar ou inferior de seu PIB


(Produto Interno Bruto) em pesquisa, como o Chile ou a Estônia.

Tal como o Brasil, a Estônia despendeu 1,3% de seu PIB na área em 2016. No
entanto, nesse mesmo ano, os artigos publicados pelos pesquisadores desse
país da Europa Oriental ocuparam o quinto lugar entre os mais citados
(portanto, mais influentes), em média, no mundo. Já o impacto médio dos
estudos brasileiros ficou em torno de 40% do dos estonianos.

“O Chile, gastando 0,4% de seu PIB com pesquisa e desenvolvimento,


também tem conseguido um impacto superior ao brasileiro em suas
pesquisas. Isso sugere que a eficiência econômica do gasto no Brasil está
aquém do desejado.”

Em sua opinião, o problema é estrutural e só poderá ser resolvido a longo


prazo, com mudanças profundas na maneira como funciona o orçamento da
área no país.

Já o físico Ildeu de Castro Moreira, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira


para o Progresso da Ciência), diz que é preciso considerar que o impacto da
ciência feita no Brasil não se mede apenas pelas citações de artigos
científicos nacionais em periódicos especializados, mas também pelos
reflexos positivos na economia e na sociedade.

“Por um lado, de fato, nós precisamos aumentar os nossos índices de


cooperação internacional, o que faz muita diferença na questão do impacto.
Também temos um certo problema de foco e de governança nas agências de
fomento e nos sistemas de avaliação, que não podem apenas incentivar a
produção de ‘papers’ [artigos científicos] como um fim em si mesma.”

Moreira diz ainda que é um erro esperar que as universidades públicas sejam
exclusivamente responsáveis tanto pela ciência básica quanto pela inovação
tecnológica – esse segundo elemento também depende do interesse e dos
investimentos do setor produtivo.

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“Agora, isso não significa que esse impacto econômico esteja ausente do que
a ciência brasileira produziu até hoje, muito pelo contrário. Já fizemos
algumas apostas importantes na geração de conhecimento, lá atrás, que se
transformaram em crescimento econômico. Foi o que aconteceu com a
adaptação da soja ao cerrado, por exemplo – a Embrapa já demonstrou que
cada R$ 1 investido na pesquisa agropecuária no Brasil se reverte em R$ 12
para a sociedade. O mesmo vale para as pesquisas sobre tecnologias de
petróleo e gás, que nos renderam o pré-sal, ou para pesquisas na área da
saúde.”

O risco, para o físico, é que essas possibilidades sejam destruídas por cortes
de verba draconianos demais (https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/05/melhor-uso-do-
verba-na-pesquisa-nao-sera-conseguido-a-facao-diz-paulo-hoff.shtml). “O problema é que o país vive de

espasmos nessa área. E agora parece que se deseja desmontar algo que foi
construído ao longo de décadas.”

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