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13/05/2019 Ministro fabrica em tempo recorde ameaça de greve na educação - 12/05/2019 - Bruno Boghossian - Folha

Bruno Boghossian (/colunas/bruno-boghossian/)

Ministro fabrica em tempo recorde ameaça de greve


na educação
Weintraub escolheu a tática do confronto e adotou idioma da retaliação política

12.mai.2019 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2019/05/12/)

Ao ouvir os planos desvairados de Abraham Weintraub para as


universidades, um político calejado perguntou se ele não temia greves e
protestos. O ministro respondeu que conhecia o risco de paralisações, mas
não deu bola e disse que estava preparado para enfrentá-las.

O governo Jair Bolsonaro serviu um coquetel inflamável a alunos e


professores. O novo ministro da Educação adotou como idioma oficial um
discurso de retaliação política, fez ameaças à autonomia das instituições e
escolheu a tática do confronto para anunciar bloqueios no orçamento da
área.

Weintraub (https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/05/bloqueios-no-mec-vao-do-ensino-infantil-a-pos-
graduacao.shtml)transformou em propaganda ideológica aquilo que deveria ser um

congelamento de despesas duro, mas relativamente comum. Ao


contingenciar 30% da verba não obrigatória, o ministro disse que puniria
universidades que promovessem “balbúrdia”.

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13/05/2019 Ministro fabrica em tempo recorde ameaça de greve na educação - 12/05/2019 - Bruno Boghossian - Folha

A pasta levou uma semana para corrigir o disparate. Primeiro, Weintraub


estendeu o corte a todas as instituições. Depois, saiu a público com
chocolatinhos (https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/05/em-live-com-bolsonaro-weintraub-explica-
cortes-da-educacao-com-chocolatinhos.shtml)e sua conhecida expressão de injustiçado para

explicar que o congelamento representava só 3,4% do orçamento.

O ministro parece disposto a fermentar uma oposição entre o governo e os


campi. Ele cortou bolsas de pesquisa (https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/05/gestao-
bolsonaro-faz-corte-generalizado-em-bolsas-de-pesquisa-pelo-pais.shtml), apresentou a intenção de
interferir no financiamento de ciências humanas e indicou que não
respeitará a tradição de nomear para reitorias os primeiros colocados das
eleições internas das universidades.

Como resposta, professores ameaçam parar e estudantes planejam


manifestações. Interessado no embate, o governo deve reagir com uma
política de desocupação de prédios públicos e corte de salários.

A autoconfiança costuma trair governantes nessa área. FHC enfrentou duas


greves de mais de cem dias ao ignorar reivindicações de professores e
atropelar a escolha de reitores. Em 2012, Dilma Rousseff deu de ombros para
uma paralisação parcial e corriqueira. O movimento se expandiu para 58 das
59 universidades federais e durou quatro meses.

Bruno Boghossian
Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade
Columbia (EUA).

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