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Copyright 2011 por René Burkhardt

Capa

Cláudio Nunes Horácio

Revisão

René Burkhardt

Um chamado à intimidade
René Burkhardt

Nenhuma parte deste livro poderá ser


reproduzida sem a autorização prévia do autor.

Contato com o autor:


kasteloforte@gmail.com
kasteloforte.blogspot.com

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Índice

Prefácio........................................................ 05
Eis a Eternidade ........................................... 06
Um Chamado à Intimidade .......................... 10
O Peso da Minha Cruz.................................. 14
Armadilha Mortal......................................... 22
A Soberba e o Pecado Mortal ....................... 28
A Libertação do Pecado................................ 35
Examinem-se.................................................44
Obediência. ...................................................51
Somos Santos?............................................. 64
Será Que Ninguém Viu Isto?......................... 70
Discipulado................................................... 76
Vocês, Discípulos, São o Sal da Terra ............ 81
Respondendo ao Chamado........................... 85

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Prefácio

Ao receber o convite para prefaciar “Um Chamado à


Intimidade”, confesso que me senti completamente incapaz
de fazê-lo. Não somente pela amizade que tenho com René
Burkhardt, que me torna um tanto suspeito, mas também
por conhecer seus escritos e saber da profundidade dos
mesmos. Afinal, como definir o indefinível?

O máximo que posso fazer, e o faço com total


sinceridade, é dizer do impacto que este livro causou em
minha vida. Livro que, aliás, não poderia ter um título mais
apropriado. “Um Chamado à Intimidade” é exatamente isto:
um apelo urgente para nos achegarmos, desnudos de nosso
ego, ao coração de Deus, ao cerne de Sua vontade, revelada
em Cristo Jesus. Desta forma, cada capítulo levou-me a uma
sincera introspecção, na qual fui confrontado com minha
soberba e levado a constatar a total dependência do Espírito
Santo para transformar, capacitar e conduzir o meu ser no
caminho que devo andar.

De maneira que este não é meramente um livro para


ser lido, mas um verdadeiro chamado de Deus para ser
atendido. Sendo assim, o leitor perceberá que esta não é
uma obra de rápida leitura, mas de necessária reflexão, na
qual somos, por diversas vezes, levados a parar e meditar
em nossas próprias vidas.

Aos que chegarem ao final desta jornada, posso


garantir que não mais lhes pesará o fardo da culpa e da
condenação. Em lugar disso, a compreensão de quem somos
em Cristo Jesus: amados filhos de Deus, que nos chama
para uma perfeita e maior intimidade com Ele.

Alan Capriles

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Eis a Eternidade

Deus é eterno e infinito! Esses dois atributos,

isoladamente, já são impossíveis de serem compreendidos

pelo homem, que é mortal e totalmente limitado. Até para

tentar compreender e definir esses atributos, o homem se

utiliza de elementos limitados. Nossas próprias palavras

impõem limites.

Para definir a eternidade, por exemplo, o homem

precisa dizer que ela é não ter princípio, nem fim de dias! O

homem não consegue compreender que a eternidade está

além de seus conceitos de tempo e espaço, e que estes

conceitos, tempo/espaço, estão contidos nessa eternidade.

Mais difícil ainda, é compreender que cada momento desse

tempo/espaço é visto de qualquer ponto da eternidade,

eternamente, tipo um filme rodando quadro a quadro, onde

cada quadro, estático, pode ser apreciado pelo Eterno,

quantas vezes Ele quiser. Pior ainda, é compreender que

Deus é o Pai da eternidade!

Esta compreensão explica, de uma forma básica, a

presciência de Deus, Sua ciência e Sua pós-ciência,

conhecidas como Sua Onisciência, de cada fato que envolve

toda a Sua Criação, em cada ponto daquilo que conhecemos

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como tempo e espaço. É exatamente isto que O permite

interferir pessoalmente em cada questão de nossas vidas,

como se fôssemos o único ser criado por Ele, sem que todo o

restante do sistema „desande‟. É isto que O permite conciliar

Sua soberania com livres escolhas do homem, fazendo Sua

vontade se cumprir através da própria vontade do ser

humano, sem mudar de idéia a cada atitude nossa, como se

tivesse sido pego de surpresa.

Diante disto, somos levados a concordar com o

Senhor, quando Ele diz: "Pois os meus pensamentos não são

os pensamentos de vocês, nem os seus caminhos são os

meus caminhos" e "Assim como os céus são mais altos do

que a terra, também os meus caminhos são mais altos do

que os seus caminhos e os meus pensamentos mais altos do

que os seus pensamentos” (Is 55.8-9).

Assim, nessa sabedoria infinitamente superior à

nossa, Deus providenciou, na eternidade, mas trazendo para

uma forma que coubesse em nossa compreensão, o

escândalo da Cruz! E esta é a forma de Deus lidar com o

pecado! Ele atraiu todas as pessoas à Cruz, a fim de que,

através dela, fosse consumada a Sua Justiça: condenação,

para quem a rejeita como único caminho que leva à

reconciliação gratuita com Deus, ou salvação, para quem a

recebe e aplica à sua própria vida como o Caminho da

Verdade!
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Mas o pensamento pequeno e limitado do homem o

leva a buscar caminhos alternativos, tanto para se

aproximar, quanto para se afastar de Deus. O que quer se

aproximar, na sua própria força, no seu próprio

conhecimento, anula a mensagem de Jesus, de que o Reino

Eterno dos Céus está próximo e que basta a fé na suficiência

da obra de Cristo na Cruz, para entrar nele. Os que assim

agem, desconsideram a Graça e se penduram na lei, seja ela

qual for, afirmando que este é o caminho certo. Assim,

tentam fazer com que a eternidade dependa e caiba dentro

de um livro: qualquer livro que lhes apresente alguma lei, ou

algo que possam transformar em lei!

Já o que quer se afastar de Deus, não percebe que,

ainda que suba aos céus, ou, ainda que desça ao mais

profundo abismo, nunca poderá estar longe do Senhor, o

seu Criador! Tenta, em vão, viajar por caminhos que

aparentam ser livres de Deus, sem perceber que Ele está ali

também, observando aquela criatura que se imagina deus e

que, por isto, diz não existir um Deus! Se perde na limitação

de sua própria vaidade, ao invés de se encontrar na vastidão

da eternidade.

“Daí em diante Jesus começou a pregar: „Arrependam-

se, pois o Reino dos céus está próximo‟" (Mt 4.17). Ele não

falava sobre uma proximidade no “tempo”, algo que vai


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chegar logo, mas de uma proximidade no “espaço”, algo que

está acessível, pois Ele mesmo é o Caminho para essa

eternidade representada por „Reino dos céus‟. Andando por

esse caminho apertado das dificuldades e entrando pela

porta estreita, pela qual só passa uma pessoa de cada vez,

não um grupo, passamos a fazer parte dessa eternidade,

porque estamos nas mãos do Pai da eternidade e, de Suas

mãos, ninguém nos arrebata! E o arrependimento que Ele

nos cobra é, apenas, que a gente pare de acreditar que

somos deuses, ou que podemos chegar a Deus através do

nosso próprio esforço, como Israel acreditava que seria!

Isto é um convite para embarcarmos em Suas

Palavras, tomarmos lugar sob o Seu jugo suave, enviarmos

nossos fardos para longe, através dEle, e viajarmos

eternamente em Sua companhia!

Próxima partida, agora mesmo! É só você querer,

confiar e tomar o seu lugar, que já está reservado!

Tenham todos uma ótima viagem!

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Um Chamado à Intimidade

Jesus nos ensinou, o tempo todo, a buscarmos

intimidade com o Deus Pai. Os judeus tinham medo (e ainda

têm), até mesmo, de pronunciar o nome de Deus. Aí, ao nos

ensinar a orar, Ele já demonstra que devemos nos dirigir

com intimidade a Deus, sem medos, chamando-O de Pai.

Não só nessa oração, mas também na parábola do filho

pródigo e outras diversas passagens bíblicas, a

demonstração que temos é de um relacionamento íntimo de

Pai e filho. Mas o que é, exatamente, viver essa intimidade?

Seria, apenas, no momento de falar com o Pai, ou quando

voltamos envergonhados, com o “rabinho entre as pernas”,

para pedir o Seu perdão?

Entendo que essa intimidade é bem mais do que isto.

Nossa vida íntima com Deus deve se manifestar a todo

momento, em todos os dias, através de nossas atitudes

diante de Deus e diante dos homens. Neste aspecto, vejo a

parábola da grande ceia, em Lucas 14.16-24, como uma

grande indicação para isso.

Nessa parábola, certo homem, que representa Deus,

convida a muitas pessoas para participarem de uma grande

ceia que ele havia preparado. Ora, certamente, esse homem

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convidou pessoas de seu relacionamento íntimo, para

confraternizarem com ele. Como este homem representa a

Deus, as pessoas que Ele convidou são, hoje, os cristãos,

aqueles que aceitaram o chamado para serem discípulos de

Jesus, seguindo Seus passos. Mas, como disse no início, nós

somos chamados a ter intimidade constante com o Senhor,

em nosso dia a dia, não apenas quando formos para o céu.

Dessa forma, podemos entender esse convite para a grande

ceia como sendo um convite constante, permanente, diário.

Mas como esse convite nos é feito? A todo momento,

surgem, diante de nós, aquelas “boas obras, as quais Deus

de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10).

Essas obras não se limitam à nossa ajuda a pessoas que

tenham passado por uma catástrofe natural, a povos que

passam fome, a órfãos e a viúvas. Essas boas obras são

muito mais numerosas e muito mais comuns em nossas

vidas, do que temos realmente percebido.

Na parábola, Jesus se refere a desculpas comuns e

que, aparentemente, não são atitudes más, as quais usamos

para não atendermos ao convite de Deus. Ele diz que

usamos como desculpas nossas próprias obrigações diárias,

que, em si mesmas, não são más. Não é errado nos

concentrarmos em nosso trabalho. Não é errado cuidarmos

dos bens que o Senhor nos entregou para administrarmos.

Não é errado cuidarmos de nossas famílias. O erro não está


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nisso! O erro está em colocarmos tais coisas acima de nosso

relacionamento íntimo com o Senhor. Ele tem a primazia

sobre todas as coisas! É para Ele que devemos olhar, mesmo

diante das questões mais simples de nosso cotidiano.

Então, na verdade, Jesus está dizendo: “Lembra

quando aquele mendigo lhe pediu um prato de comida e

você disse que não poderia atendê-lo, porque estava em

cima da hora de ir trabalhar? Era eu que estava convidando

você a saciar a minha fome de intimidade com você! Lembra

quando aquele vizinho lhe pediu o carro emprestado para

levar a esposa ao hospital e você disse que não poderia

atendê-lo, porque você era zeloso com seu patrimônio e não

poderia correr o risco de danificá-lo? Era eu que estava

convidando você a ter intimidade comigo através do meu

maior patrimônio: o ser humano! Lembra quando aquele seu

parente foi chorar sua dor com você e, porque estava

fazendo o jantar para a sua família, você disse a ele que

voltasse outra hora? Era eu que estava convidando você a

ter, comigo, a intimidade de uma família!”.

O Senhor conhece todas as nossas obrigações, todas

as nossas necessidades. Mas é Ele que sustenta todas as

coisas pela palavra do Seu poder. Por isto, quando nos

deparamos com alguma circunstância que demande amor,

piedade, não podemos deixar de atendê-lO, por mais “santa”

que seja a nossa desculpa. Já que Ele sustenta todas as


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coisas, atendê-lO não irá prejudicar nada que estejamos por

fazer. Podemos ter a certeza de que em muito mais vezes do

que imaginamos, Ele está nos dizendo: “Este é o caminho,

ande por ele e você terá intimidade comigo!”.

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O Peso da Minha Cruz

Busco. Há muito tempo tenho buscado maior

intimidade com o Senhor Jesus. Quantas vezes já perguntei:

“Senhor, que farei para herdar a vida eterna?”. Quantas

vezes lutei contra meus pecados, pensando em atingir

tamanha santidade que permitisse ao Senhor ter comunhão

comigo! Quantas vezes clamei ao Senhor, para que Ele

resolvesse meus problemas, a fim de que eu tivesse

condições de fazer a Sua vontade! Quantas vezes condenei

ao meu próximo por errar, onde eu estava acertando, ao

mesmo tempo em que me escusava por errar, onde ele

estava acertando! Quantas vezes o julguei, por não ser

como eu! Quantas vezes o desprezei, por não ser como eu!

Quantas vezes, quantas vezes...

Como é difícil entender a verdade da Palavra do

Senhor, que diz: “porque estreita é a porta, e apertado, o

caminho que conduz para a vida...” (Mt 7.14 – grifo meu).

Mas, graças a Deus, o Espírito Santo nos ensina todas as

coisas. E, com o passar do tempo, com a evolução dos

acontecimentos, Ele nos mostra que o caminho é apertado

para aqueles que não seguem à risca a orientação de Jesus:

“...Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue,

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dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23 – grifo

meu).

Negar a si mesmo é andar na “contramão” do mundo.

Enquanto o mundo nos estimula (até exige) a cuidarmos da

nossa aparência, buscarmos o maior conforto possível,

satisfazermos todas as nossas vontades, tentarmos realizar

todos os nossos sonhos, usarmos todos os meios disponíveis

para alcançarmos a nossa felicidade, mesmo que isto cause

a infelicidade de outros, o Evangelho nos leva a não nos

preocuparmos com aparência, conforto, satisfação de

vontades pessoais; nos leva a abrirmos mão de nossos

sonhos em troca de cumprirmos a vontade do Pai, e nos

ensina que o único caminho para a felicidade pessoal é

buscar a felicidade de Deus e dos homens.

Normalmente, pensamos que, ao negarmos a nós

mesmos, estaremos entrando em uma vida de dolorosos

sacrifícios, de “pagamento de preços”. Porém, não é isto o

que acontece na prática. Quando, verdadeiramente, amamos

a Deus e aos homens, o nosso desejo será o de que eles

sejam felizes. Isto quer dizer que, quando eles ficarem

felizes, automaticamente ficaremos satisfeitos e, portanto,

felizes também.

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Isso acontece quando, por exemplo, um criminoso

condenado se entrega ao senhorio de Jesus. Não importa se

tivemos participação nesta conversão, ou não. O que

importa é que uma alma foi resgatada das mãos do inimigo.

Esta alma estará feliz pela libertação de seu cativeiro

espiritual e pela possibilidade de encontrar o tesouro que

está oculto no campo. E nosso Deus Pai também estará feliz,

por avistar ao longe o seu filho pródigo voltando. Se

amamos a Deus e ao próximo, ficaremos felizes com a

felicidade do criminoso e com a felicidade do nosso Senhor!

Assim, esta é a receita que o Evangelho nos dá, para a

nossa felicidade: “amem a Deus e ao próximo! Deixem que o

Senhor acrescente tudo o que for realmente necessário para

as suas vidas”.

Isso nos leva a concluir que, ao invés de “pagarmos

um preço”, ao invés de entrarmos em uma vida de

sofrimento, quando dizemos “não” para as nossas vontades,

na verdade, estaremos andando no caminho que nos traz

felicidade. Neste caminho, só iremos sofrer quando não

quisermos abrir mão de uma vontade nossa, ao buscarmos a

felicidade de Deus e dos homens. Se eu não abro mão de

comer “manjares especiais”, vou sofrer muito ao ofertar meu

dinheiro ao Senhor, porque não vai sobrar o suficiente para

eu satisfazer o meu desejo. Se eu não abro mão de uma

programação na televisão, vou sofrer muito ao ter que sair

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para „fazer a obra de Deus‟, porque não vou satisfazer meu

desejo de assistir meu programa favorito. Se eu não abro

mão de julgar aos outros, vou sofrer muito ao ter que

perdoar, porque não vou satisfazer o meu desejo de que os

outros se deem mal. Se eu não abro mão de contar o

segredo de alguém para outra pessoa, vou sofrer muito ao

ser repreendido, porque não vou satisfazer o meu desejo de

ser o “dono da verdade e do conhecimento”. Se eu não abro

mão da minha soberba também nas pequenas coisas, vou

sofrer muito ao ser disciplinado pelo Senhor, porque não vou

satisfazer o meu desejo de me assentar acima do Trono de

Deus.

E o Senhor me diz que, para segui-Lo, devo carregar a

minha própria cruz, todos os dias. Que peso insuportável!

Olho para o caminho à frente, em direção ao Calvário, e ele

parece não ter fim. Parece que não vou suportar o peso de

todas as coisas que formam a minha cruz. O peso das

minhas injustiças para com os outros. O peso da minha

soberba impregnada em cada ato meu: uma soberba que

sempre me levou a julgar àqueles que estavam em um

estágio mais alto na fé, ao mesmo tempo que me levava a

desprezar aos que eram mais fracos nela; soberba que

sempre me levou a pensar que era o melhor cônjuge do

mundo, o melhor pai, o melhor filho, o melhor estudante, o

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melhor trabalhador, o melhor amigo, o melhor colega, o

melhor cristão, o melhor em tudo...

É essa soberba que me leva a discutir com os outros,

sem considerar nada em favor deles, tão somente, que eles

estão errados e eu certo. É ela que me leva a não aceitar o

arrependimento de alguém, porque essa pessoa não pode

ser mais humilde que eu. É ela que me leva a não perdoar

os erros dos outros, porque eles têm que ser perfeitos como

eu. É ela que me leva a aprovar algo feito por outra pessoa,

mas acrescentando que eu faria diferente, para que ficasse

melhor. É ela que me leva a querer cumprir a lei sobre o

pecado dos outros, mas exigir a graça sobre o meu pecado.

É ela que me leva a pensar que posso „fazer‟ alguma coisa

para herdar a vida eterna, ao invés de aceitar o amor e o

perdão de Deus, em Cristo Jesus crucificado e ressurreto, e

confiar que o mais Ele fará. É ela que me leva a pensar que

posso me santificar, para que o Senhor Se aproxime de

mim. Aceitar a graça é confirmar que sou incapaz de fazer

qualquer coisa que me justifique diante de Deus e isto é

contrário ao que me diz a minha soberba.

Mas, graças a Deus, uma autoridade superior

determinou que Simão levasse a cruz de Jesus até o

Calvário. Da mesma forma, uma autoridade superior, Jesus,

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determinou que Ele próprio seria meu companheiro de jugo

e dividiria o peso comigo. Mais do que isto, Ele disse que me

aliviaria da minha sobrecarga, se eu tomasse sobre mim o

Seu jugo e aprendesse com Ele. Assim, eu acharia descanso,

porque o Seu jugo é suave e o Seu fardo é leve. Aprendendo

com Ele, Seu Espírito me purifica dia a dia, através da Sua

Palavra, e descubro que o peso vai sendo arrancado de

meus ombros.

Que alívio tremendo é estar chegando de volta à casa

de meu Pai e perceber que Ele veio correndo até mim, antes

mesmo que eu chegasse lá. É como um bálsamo sobre uma

ferida sentir o amoroso abraço de nosso Pai Celestial, Seus

beijos afetuosos e Sua imensa alegria por minha volta à Sua

casa. Que paz tremenda eu sinto ao perceber que Ele não

quer que eu peça perdão pelos meus pecados, porque Ele já

viu o arrependimento em meu coração, e nem quer mais

que eu fique falando sobre eles. Que alegria eu sinto ao

entender que tudo o que Ele mais quer é ter comunhão

comigo, que eu não saia mais de Sua presença. Que

felicidade é saber que Ele considera morto o meu “velho eu”

e só Se interessa pelo “novo homem” que o Seu Espírito está

formando em mim, agora.

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Ao atender ao chamado de ir a Jesus, tomar sobre

mim o Seu jugo e aprender com Ele, todo o peso da minha

cruz está sendo desfeito. Seu Espírito está realmente me

aliviando e me fazendo sentir a leveza de Seu fardo. O

Senhor tem, dia a dia, arrancado de mim cada item que

pesava contra mim. Isto me faz pensar que, ao dizer que

devemos tomar nossa cruz dia a dia e segui-Lo, o Senhor,

na verdade, quer que reconheçamos as coisas que pesam

sobre nós, para que Ele possa tratar, consertar, à medida

que concordamos com Ele e que permitimos sermos

moldados à Sua semelhança.

Seguir ao Senhor é estar consciente de que serei

transformado todos os dias, até alcançar a perfeição de

santidade que me permitirá ver ao Pai. É estar consciente de

que em meus dias, aqui na terra, posso não ter nem onde

reclinar minha cabeça. É estar consciente de que o mundo

será contra mim e, mesmo assim, posso me animar, porque

o Senhor venceu o mundo. É estar consciente de que posso

passar por inúmeras privações, porém, o Senhor estará

comigo e nada vai me separar do Seu amor. Seguir ao

Senhor é não pensar mais em vantagens para a minha vida,

porque já não sou mais eu que vivo, mas Cristo vive em

mim. Seguir ao Senhor é andar no caminho apertado, aquele

caminho onde não cabe nenhuma dessas nossas vontades.

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Seguir ao Senhor me faz não pensar mais no peso da

minha cruz, nem pensar no conforto e na segurança para

mim mesmo. Eu O sigo com a certeza de que a minha vida é

o despojo suficiente para mim, porque Ele sabe tudo o que é

necessário para que Seu propósito se cumpra em mim, sem

a necessidade (muito menos, a possibilidade) de que eu O

dirija. Me alegro com Suas palavras: “Pois certamente te

salvarei, e não cairás à espada, porque a tua vida te será

como despojo, porquanto confiaste em mim” (Jr 39.18).

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Armadilha Mortal

“Ora, a serpente era o mais astuto de todos os

animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito... Disse a

serpente à mulher: ... no dia em que dele comerem, seus

olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do

bem e do mal" (Gn 3). Em outras palavras, Satanás estava

dizendo: “Vocês têm direitos! Vocês são filhos do Rei! Não

são pouca coisa, não! Onde está a dignidade de vocês?

Vocês são muito mais dignos do que aparentam! Vocês são a

imagem do próprio Deus, iguais a Ele!”.

Alguém pode dizer que nunca „ouviu‟ essas palavras,

lá no seu íntimo? Se você pode dizer que nunca as ouviu,

cuidado! Há um laço sob seus pés, que será puxado e

apertado a qualquer momento! Satanás só pode agir com a

permissão de Deus, mas Este usa aquele para nos

aperfeiçoar, para provar nossa fé para nós mesmos, para

desviar os que são reprovados, enfim, para cumprir Seus

propósitos.

Desde o começo, Satanás tentou, com êxito, arruinar

a relação pura e direta entre o homem e Deus. Após nossa

queda, ele continuou, com muito êxito, a nos afastar do

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Caminho da reconciliação com Deus. Ele continuou a nos

ensinar a sermos soberbos! Ele e nós perdemos o

relacionamento de Pai e filhos, entre Deus e nós, por causa

da soberba. E este continua sendo o caminho da separação,

mesmo depois da obra perfeita de Cristo, porque esse é o

caminho inverso àquele que Jesus construiu.

É fácil para Satanás manter aqueles que ainda não

conhecem a Cristo longe de Deus, através da soberba. É o

que se vê por todo o mundo, através de toda a História! No

afã de serem superiores aos outros, os homens se odeiam e

se matam. O rico quer ser ainda mais rico, não para

desfrutar de um maior conforto, que sua riqueza inicial já

poderia satisfazer, mas para se sentir superior, mais rico do

que alguém específico, ou do que todas as outras pessoas.

Nações entram em guerra com outras, não pelas questões

ideológicas que propagam, mas para agregar ainda mais

territórios aos seus e/ou demonstrarem sua superioridade. O

empregado entra em competição com seus colegas, para

provar que ele é o mais eficiente. A dona de casa explica sua

receita para outra mulher, não para que esta aprenda, mas

para mostrar a todos que ela é a melhor cozinheira, superior

à „rival‟. E, assim, todos seguem formando „inimigos‟ o

tempo todo, porque a soberba de cada um não permite que

exista algo ou alguém superior a si mesmo!

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Mas Deus Se revela a todas as pessoas! Todas, sem

exceção, recebem orientação do Espírito de Deus, sobre o

Caminho certo a seguir. E é aí que Satanás começa a ter

trabalho! Ele precisa „roubar a semente‟, antes que ela

germine. Ele precisa „secar‟ a pequena planta, caso a

semente consiga germinar. Ele precisa „sufocar‟ a grande

planta, caso ela consiga crescer. Ele precisa „impedir‟ que os

frutos nasçam, caso a planta se transforme em árvore. E ele

encontrou um caminho que facilita seu trabalho, uma grande

arma, que ele usa com todos que querem se reconciliar com

o Senhor: a religiosidade! Esta, nada mais é do que o uso da

soberba, toda vez que deveríamos negarmo-nos a nós

mesmos!

Na medida em que as pessoas aprendem a Palavra de

Deus, Satanás faz uso dela, às vezes com sutis alterações,

às vezes levando-nos a aplicá-la de forma errada. Diante de

Jesus, no deserto, ele usou a Palavra corretamente, mas

tentando levar Jesus a fazer um uso indevido dela. E é assim

que ele faz conosco, quando percebe que alterar a Palavra

não surte mais efeito em nós. Mas, diferentemente de Jesus,

muitos de nós temos sucumbido a essa armadilha mortal. E

uma das questões que ele mais faz uso é a da santificação.

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Todos os nossos pecados estão relacionados à nossa

carne: vícios, luxúria, medo, exceto a soberba. Esta é de

origem demoníaca, infernal. Já que a santificação, a

purificação dos pecados, é tratada extensamente na Palavra

de Deus, a maior „sacada‟ de Satanás foi usar a soberba

como princípio para alcançá-la, em vez da divinamente

indicada submissão à obra do Espírito Santo de Deus! Ele fez

o homem pensar que a santificação é uma obra que cabe a

si mesmo, por ser digno e totalmente capacitado a efetuá-la.

Aqui entra a sutileza e a sagacidade de Satanás:

levando o homem a pensar dessa forma, ele tenta anular

por completo a obra de Jesus! Infelizmente, ele tem obtido

sucesso com muitas pessoas. É muito comum vermos

pessoas se esforçando e conseguindo vencer um vício, como

tabagismo, alcoolismo, drogas, por terem se tornado cristãs.

No entanto, muitas delas não vencem tal vício por amor a

Jesus. No momento de sua conversão, lhes é dito que “agora

vocês fazem parte de um grupo onde tais coisas não são

praticadas”. E é esta inclusão em um grupo „especial‟, de

pessoas „especiais‟, que move muita gente! É pura soberba

de se achar digno de pertencer a uma comunidade que é

superior ao restante da sociedade, principalmente por conta

de sua santidade!

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E o pior é que a coisa não para por aí: depois de

„vencer‟ a concorrência da sociedade em geral, é necessário

vencer a concorrência interna no grupo! E o diabo continua

soprando nos ouvidos das pessoas: “Você é muito especial!

Deus ama você, porque você „é o cara‟! Quanto mais você se

esforçar, mais Ele vai amar você, porque você será superior

a esses seus irmãos! Agora que você deixou de fumar, de

beber, de usar drogas, de olhar com desejo para as outras

pessoas, você precisa mostrar que é mais santo que todos!

Quando entrar em uma reunião de oração, faça cara de

piedoso. Mostre que você está envolvido com aquilo! É fácil:

nem precisa estar pensando em Deus, é só mostrar um

semblante triste! Diga a algumas pessoas, discretamente,

que você tem jejuado muito, que você tem orado muito, que

tem lido muito a Bíblia! E não se esqueça de fazer um ar de

pesar, quando alguém disser que não faz essas coisas como

você! Exija que se leia a Palavra em pé, para que as pessoas

saibam que você respeita a Deus muito mais do que elas

respeitam!”.

Tudo isso tem a soberba como combustível, não o

amor a Deus, não o reconhecimento do poder transformador

do Espírito de Cristo! Assim, as pessoas „vencem‟ seus erros

por acharem que sua dignidade está muito acima delas e,

principalmente, muito acima das outras pessoas! Elas caem

nessa grande armadilha de Satanás, de trocarem uma

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espinha no rosto por um câncer violento, que corrói toda e

qualquer possibilidade de haver amor a Deus e às outras

pessoas, de haver verdadeira felicidade e de haver alguma

chance de bom senso! A imagem da perfeição de si mesmas

as cega totalmente!

Apesar disso, essas pessoas declaram crer em Deus e

se consideram santas! Mas esse Deus, no qual dizem crer, é

imaginário! Elas dizem que não são nada diante dele, com

pretensa humildade, mas, em seu íntimo, passam o tempo

todo pensando no quanto ele as aprova e as considera

superiores às outras pessoas comuns! E nem percebem que

foi a elas mesmas que o Senhor disse: “Nunca as conheci!

Apartem-se de Mim!”.

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A Soberba e o Pecado Mortal

“Disse a serpente à mulher: „Certamente não

morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele

comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como

Deus, conhecedores do bem e do mal‟" (Gn 3.4-5)

E, então, “quando a mulher viu que a árvore parecia...

desejável para dela se obter discernimento” e que, portanto,

se tornaria igual a Deus, ela deixou de crer que Deus era o

Pai Criador, passou a achar que ela se tornaria uma deusa,

com poder sobre sua própria vida e sobre todas as coisas, e

seu marido concordou com ela e pensou o mesmo sobre si.

A SOBERBA

A soberba do homem gera incredulidade, que, por sua

vez, gera a morte do homem.

Muitos “apedrejam” Adão e Eva, por terem provocado

a queda do homem e suas terríveis consequências, que

observamos em nosso dia a dia, onde o mal parece

prevalecer. No entanto, ao longo de nossas vidas, todos nós


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mostramos que faríamos o mesmo que eles. Afinal, antes de

darmos permissão para que o Espírito Santo aja em nossa

vida, moldando o nosso caráter, nos aperfeiçoando, sempre

agimos com a mesma soberba do primeiro casal.

Desde cedo, queremos ser o centro das atenções,

queremos ser adorados por nossas qualidades e

capacidades. Queremos ser deuses! Da pessoa mais famosa

à mais desconhecida, da mais poderosa à menos favorecida,

todos agimos com soberba, senão em tudo, pelo menos, em

alguma área de nossa vida.

Há muitos exemplos disso em todas as esferas da

vida: quando crianças, queremos que todos pensem que

somos o melhor filho, o melhor aluno, o melhor esportista, a

criança mais sábia, a mais espetacular! Por quê? Porque

queremos ser adorados como deuses! É como se

quiséssemos que todos se curvassem diante de nós,

reconhecendo nossa grandeza. Mesmo crianças “quietinhas”,

que não participam da folia das outras crianças, estão

chamando atenção para si, querendo que todos reconheçam

sua maturidade precoce, ou que são coitadinhas tratadas

injustamente e que, na verdade, são merecedoras de um

tratamento muito superior ao que têm, porque são muito

superiores ao que parecem ser.

29
Ao longo dos anos, essa atitude vai sendo

aperfeiçoada, mediante a experiência de vida, que mostra

quais caminhos são mais eficientes para essa conquista.

Então, se chega à fase adulta com uma “personalidade”

formada: alguns fingem humildade, sentindo pena de si

mesmos por não terem alcançado o patamar de vida que

pensam merecer, afinal, são deuses! Estas pessoas tentam

convergir para si a atenção e a adoração de todos, por

parecerem frágeis e discriminadas, quando deveriam ser o

centro do universo.

Outros se esforçaram de tal forma, que conseguiram

se destacar na atividade que escolheram para serem

superiores. Estes, não mediram esforços, ao longo de suas

vidas, para atingirem seu objetivo de serem adorados como

deuses! Afinal, o que leva alguém a querer ser o melhor em

alguma coisa? É para o bem comum? É para benefício dos

outros? Não, nunca! É para benefício próprio, para ser

adorado, reconhecido como o superior!

Em todas essas coisas, o ser humano experimenta da

sua própria árvore do conhecimento do bem e do mal. Em

todas essas coisas, o ser humano crê que sua atitude, sua

opção de vida, seu próprio esforço, o tornará semelhante ao

30
Altíssimo. Em todas essas coisas, o ser humano deixa de

crer na Palavra do Senhor: “Eu sou o Senhor, teu Deus Pai e

Criador! Não há outro deus semelhante a Mim!”. E esta

incredulidade gera a morte!

O PECADO MORTAL

João disse: “Há pecado que leva à morte” (1Jo 5.16).

E é bem provável que, ao dizer isto, ele se reportava à

palavra de Jesus: “Por esse motivo eu lhes digo: todo

pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a

blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Todo aquele

que disser uma palavra contra o Filho do homem será

perdoado, mas quem falar contra o Espírito Santo não será

perdoado, nem nesta era nem na era que há de vir” (Mt

12.31-32).

Aqui, o Senhor está dizendo que existe um pecado

que, inevitavelmente, levará à morte, quando cometido.

Mas, se Jesus morreu por nossos pecados, se é Ele que nos

purifica e lança para trás de Si toda a nossa iniquidade,

como pode haver, ainda, uma possibilidade de cometermos

um erro que não permita que sejamos salvos?

31
Voltando no tempo, vemos o Espírito Santo afirmar

através de Joel: “derramarei o meu Espírito sobre toda a

carne... até sobre os servos e sobre as servas derramarei o

meu Espírito naqueles dias” (2.28-29). Era uma profecia

sobre o final dos tempos, mas Pedro, em seu primeiro

discurso, afirmou que ela já começava a se cumprir naquele

momento, naquele dia de Pentecostes.

Isto quer dizer que o Espírito do Senhor está junto de

todas as pessoas, de todos os povos, do mundo inteiro. E

sabemos da função do Espírito: “lhes ensinará todas as

coisas e lhes fará lembrar tudo o que eu lhes disse”;

“convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo”; “ele

os guiará a toda a verdade”; “lhes anunciará o que está por

vir”; “receberá do que é meu e o tornará conhecido a

vocês”, assim como a distribuição de dons para a Igreja. E

Isaías esclarece como o Espírito fala com as pessoas: “Quer

você se volte para a direita quer para a esquerda, uma voz

atrás de você lhe dirá: „Este é o caminho; siga-o‟" (30.21).

Em outras palavras, o Espírito Santo orienta a todas

as pessoas, em todo o tempo. Em todas as opções que o ser

humano está para escolher, o Espírito lhe diz qual o caminho

certo a seguir. Ele sempre torna conhecida a vontade de

Deus para a pessoa, a cada passo no caminho da vida.

32
Podemos, até, tomar a ilustração dos desenhos animados e

dos filmes, onde aparece um “anjinho” e um “diabinho”

falando aos ouvidos da pessoa, como uma figura do que

realmente acontece. Podemos tomar esse “anjinho” como

figura do Espírito de Deus nos falando qual a Sua vontade

diante da situação em que nos encontramos. A diferença é

que Ele fala ao nosso coração, não aos nossos ouvidos.

É aí que cometemos o pecado mortal, ao qual Jesus

Se referiu: inúmeras vezes, blasfemamos contra o Espírito!

Blasfemar é ultrajar, insultar a divindade. É isto que

fazemos, quando não seguimos a orientação do Espírito de

Cristo, porque preferimos comer do fruto da nossa árvore do

conhecimento do bem e do mal, ao invés de concordarmos

com o verdadeiro Conhecimento Infinito! Isto é nos

fazermos Deus a nós mesmos! Isto é não crer na palavra de

Jesus; é não crer que o Espírito Santo tenha o poder para

nos ensinar todas as coisas; é não crer que Ele é o próprio

Deus! E esta incredulidade gera a morte!

Como reconhecer a voz do Espírito? Jesus disse que o

Espírito Santo receberia do que é dEle e o ensinaria a nós.

Também disse que Ele convenceria o mundo do pecado, da

justiça e do juízo. Então, a cada passo que damos, no dia

chamado „hoje‟, o Espírito nos ensina como o Senhor agiria e

33
nos indica o caminho a seguir: imitá-lO! E, sempre, de

acordo com a Palavra de Deus, da mesma forma que Jesus o

fez. Ele também nos convence do pecado que cometeríamos

ao termos, de nós mesmos, um conceito mais elevado do

que deveríamos ter (Rm 12.3); nos convence do pecado que

é a nossa soberba, a qual nos entrega à vã idolatria de nós

mesmos. E “os que se entregam à idolatria vã abandonam

aquele que lhes é misericordioso” (Jn 2.8).

Esta é a forma de Jesus bater à nossa porta: através

do Seu Espírito! Concordar com Ele, aplicar Seus ensinos à

nossa vida e reconhecer que só Ele é Deus, nos leva à vida!

Por outro lado, blasfemar contra o Espírito de Cristo, não

aceitando Seus ensinos e não reconhecendo que Ele é o

próprio Deus, nos leva à morte!

“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha

voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com

ele, e ele, comigo” (Ap 3.20).

34
A Libertação do Pecado

O Senhor nos diz: "Venham a mim, todos os que

estão cansados e sobrecarregados, E EU LHES DAREI

DESCANSO. Tomem sobre vocês o meu jugo E APRENDAM

DE MIM, pois sou manso e humilde de coração, E VOCÊS

ENCONTRARÃO DESCANSO PARA AS SUAS ALMAS. Pois o

meu jugo é suave e o meu fardo é leve" (Mt 11). “Eu pedirei

ao Pai, e ELE LHES DARÁ OUTRO CONSELHEIRO PARA

ESTAR COM VOCÊS PARA SEMPRE, O ESPÍRITO DA

VERDADE. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê

nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ELE VIVE COM

VOCÊS E ESTARÁ EM VOCÊS. Mas o Conselheiro, o Espírito

Santo, que o Pai enviará em meu nome, LHES ENSINARÁ

TODAS AS COISAS e lhes fará lembrar tudo o que eu lhes

disse. Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou” (Jo 14). “Que

a paz de Cristo SEJA O JUIZ EM SEUS CORAÇÕES, visto que

vocês foram chamados a viver em paz, como membros de

um só corpo” (Cl 3). “Quando o Espírito da verdade vier, ELE

OS GUIARÁ A TODA A VERDADE. Não falará de si mesmo;

falará apenas o que ouvir, E LHES ANUNCIARÁ O QUE ESTÁ

POR VIR” (Jo 16).

E a Palavra ainda nos diz mais: “Ele se entregou

[Cruz] por nós A FIM DE NOS REMIR DE TODA A MALDADE e

35
PURIFICAR PARA SI MESMO UM POVO PARTICULARMENTE

SEU, dedicado à prática de boas obras” (Tt 2). “Cristo amou

a igreja e entregou-se a si mesmo [Cruz] por ela PARA

SANTIFICÁ-LA, TENDO-A PURIFICADO pelo lavar da água

mediante a palavra, e APRESENTÁ-LA A SI MESMO COMO

IGREJA GLORIOSA, sem mancha nem ruga ou coisa

semelhante, mas SANTA E INCULPÁVEL” (Ef 5). “Se

confessarmos os nossos pecados, ELE É FIEL E JUSTO PARA

PERDOAR os nossos pecados E NOS PURIFICAR DE TODA

INJUSTIÇA” (1Jo 1).

Amados, todas essas passagens querem dizer

exatamente o que dizem: que o próprio Senhor Jesus nos

chama a Ele e providencia, através de Seu Espírito, a nossa

purificação, a nossa santificação. Quando Ele diz que o

Espírito luta contra a nossa carne, para que a gente não faça

o que, porventura, deseja fazer (Gl 5), Ele está dizendo que

é Ele mesmo Quem opera a nossa santificação. E Ele

acrescenta que Ele próprio é a nossa santificação (1Co 1).

Jesus veio e consumou a obra da Cruz, porque “aquilo

que a lei fora incapaz de fazer por estar enfraquecida pela

carne, Deus o fez, enviando seu próprio Filho, à semelhança

do homem pecador, como oferta pelo pecado. E assim

condenou o pecado na carne, a fim de que as justas

36
exigências da lei fossem plenamente satisfeitas em nós, que

não vivemos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm

8). Em outras palavras, nem mesmo a perfeita Lei de Deus é

capaz de nos levar à santificação, sem a qual não veremos o

Senhor! Muito menos, leis que procedem de homens o farão!

Somente o Espírito de Deus pode fazer essa obra!!!

“Mas como pode ser isto? Como que o Espírito Santo

vai mudar alguma coisa em mim?”, perguntam alguns. “Se

eu não derrotar o pecado que existe em mim, nunca

chegarei ao Senhor!”, declaram outros. “Tudo bem, têm

coisas que só o Espírito pode fazer, mas muitos pecados sou

eu que devo derrotar!”, exclamam ainda outros.

Amados, se pudéssemos derrotar algum pecado em

nós, conseguiríamos derrotar qualquer pecado, bastando,

para isto, a aplicação diferenciada de esforço próprio! E,

assim, o único caminho que leva a Deus seria a obediência a

leis, não Jesus! “Aaahhh, mas Jesus veio em socorro dos

fracos e oprimidos. Os outros podem e devem lutar contra o

pecado e vencê-lo!”, alguém poderia argumentar. Mas isto

seria verdade? É o que diz a Palavra da infinita sabedoria de

Deus? Não! Ela diz: “Mas agora, SEM LEI, se manifestou a

justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas;

justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos

37
{e sobre todos} os que creem; porque NÃO HÁ DISTINÇÃO,

pois todos pecaram e [TODOS] CARECEM da glória de Deus”

(Rm 3).

O grito desesperado de Paulo ecoa através dos

séculos, no coração de cada pessoa: “Desventurado homem

que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7).

Esta é a constatação inequívoca de que ninguém consegue

se livrar do pecado, se não for pelo poder do Espírito Santo!

Não adianta dizermos “tem misericórdia de mim, Senhor,

que eu Te pagarei todas as minhas dívidas contigo!”, porque

esta é a declaração de uma mente insana que desconhece o

real valor dessas dívidas e, pior ainda, desconhece a sua

própria condição miserável de incapacidade de vencer o

pecado!

Jesus disse que não adianta nós dizermos que não

matamos, não adulteramos, não cobiçamos, porque esses

pecados estão entranhados em nós, muito antes de serem

ou não cometidos de fato! Este é o grande problema

humano diante do pecado: não reconhecer que ele está

dentro da pessoa, ainda que esta faça um esforço sobre-

humano para não cometê-lo de fato, de forma aparente! E o

não reconhecimento disto impede o arrependimento, pois a

pessoa se considera justa e justificada pelo seu esforço de

38
não cometer aquilo que está enchendo a sua mente, o seu

coração! E sem arrependimento não há salvação!

Enquanto nós dissermos que estamos no controle, que

só precisamos de mais um tempinho, mais um pouco de

esforço para eliminar um pecado, estaremos nos enganando

e impedindo que o Espírito Santo atue na nossa plena

purificação. O Espírito de Deus só age em nós, quando

entregamos totalmente a Ele a responsabilidade de nos

libertar do pecado. Sem isto, Ele deixa que façamos do

nosso jeito, na nossa força, até chegarmos ao

arrependimento de nossas obras mortas (esses esforços) e à

confissão da nossa incapacidade de vencermos. Até isto

acontecer, nós lutamos e caímos, lutamos e caímos, e

chegamos a desesperar de nossa própria vida. Chegamos a

pensar que a santificação é algo inatingível e que nunca

veremos a Deus. É nesta hora que gritamos: “Miserável

homem que sou!! Quem me livrará do corpo desta morte??”.

Então o Espírito Santo responde: “Graças a Deus, por

Jesus Cristo!”. Aí, Ele entra no assunto e assume o controle

total. Começa a grande luta contra a nossa carne. Enquanto

Ele não vence definitivamente esta luta, Ele providencia para

que nossos meios de cometer o pecado sejam cada vez mais

enfraquecidos, até não existirem mais, ou que eles sejam

39
usados somente para o bem, jamais para pecar. Ao mesmo

tempo, Ele age nas próprias circunstâncias de nossa vida,

para que não tenhamos mais a oportunidade para pecarmos.

Isto Ele faz impedindo que haja a ocasião propícia, ou nos

fazendo ter nojo, até mesmo raiva, do objeto do nosso

pecado, ou ainda, colocando pessoas próximas de nós,

diante das quais somos impedidos de pecar, por pura

vergonha. Sua ação nos meios e nas oportunidades, claro,

só dura o tempo necessário para Ele extirpar definitivamente

o pecado da nossa carne.

Alguém, verdadeiramente cristão, fica planejando

matar ou adulterar? Absolutamente, não! Mas você acha que

não planeja matar ou adulterar, porque é obediente à Lei, ou

porque pensa que agrada a Deus não fazendo tais coisas? Se

é isto que você acha, saiba que você não está purificado

desses pecados! Você não mata, ou não adultera, por medo

das conseqüências desses atos! Isto quer dizer que seu

coração não está verdadeiramente limpo e que depende da

ação do Espírito nele. Você está suscetível a cometer esses

atos, bastando que você tenha, ao mesmo tempo, motivos,

os meios e a oportunidade para isso!

Imagine que você se encontre diante de uma pessoa

que acabou de espancar alguém que você ama muito. Essa

40
pessoa ainda tem sangue, daquele que você ama, em suas

mãos. Vocês estão em um lugar ermo, sozinhos, e você tem

um porrete em suas mãos. Você sabe que essa pessoa já fez

isso antes e que, certamente, continuará fazendo. É aquela

pessoa que chamamos de incorrigível. Você está com raiva

dela, tem os meios e a oportunidade de dar uma porretada

nela. Você o fará? Mas seja sincero(a)! Talvez este exemplo

não seja aquele que mexe com você. Então, imagine aquela

pessoa de quem você já sentiu raiva, em algum momento, e

imagine você diante dela, tendo os meios e a oportunidade

para lhe dar um bom “corretivo”. Sinceramente, você o

faria?

O mesmo vale para o adulterar. Você já se imaginou

na situação de José, que nos é apresentada na Bíblia? Você,

diante de uma pessoa que ativa toda a sua libido... ninguém

por perto e ninguém por chegar nas próximas horas... seu

cônjuge já não desperta todo aquele interesse em você, ou,

talvez, você esteja sozinho(a) há muito tempo (não seria

adultério, mas fornicação)... Talvez, só em ler estas palavras

e imaginar uma situação, você já sinta algo aquecendo

dentro de você... Então, você acha que não cometeu esse

pecado, até agora, por ser obediente à Lei e, por isto, tem

agradado ao Senhor?

41
Meus amados, saibam que, se vocês não cometeram

esses pecados (ou outros) ainda, foi porque o Espírito de

Deus os impediu, não dando a oportunidade propícia para

isso, ou não lhes dando os meios para isso, enquanto Ele

opera, em seu coração, a libertação total do pecado! E, se

vocês já cometeram, foi porque vocês disseram que eram

fortes o suficiente para resolver o problema do pecado e

nunca cometê-lo! No momento da provação, caíram, porque

confiaram em si mesmos, não no poder do Espírito de Deus!

Confiando nEle, enquanto seu coração não estivesse

totalmente liberto, Ele não permitiria que você tivesse meios

ou oportunidades para cometer o pecado! Isto é fato! Isto é

real! Creiam! Não diminuam o poder do Espírito de Cristo!

Não apaguem o Espírito!

Crer nisto e viver desta forma é colocar nossas vidas

nas mãos do Senhor. Mas não podemos esquecer, nunca,

que o tempo de Deus não é o nosso tempo! Ele faz a obra de

purificação em nós, sim, mas a Seu tempo. E, talvez, a não

compreensão deste fato é que esteja levando tantas pessoas

a pensarem que precisam, que devem, se santificar na sua

própria força. Mas isto é impossível! Paulo disse que queria

fazer o bem, mas acabava fazendo o mal que estava

entranhado nele. Você se acha mais “santo” que Paulo, ou

mais forte do que ele? Não! Isto acontece com todas as

pessoas! E a mesma solução que ele encontrou está à

42
disposição de todos: Jesus! Ele, através de Seu Espírito, é a

única possibilidade que temos de alcançar a libertação do

pecado!

43
Examinem-se

“Examinem-se para ver se vocês estão na fé; provem-

se a si mesmos. Não percebem que Cristo Jesus está

em vocês? A não ser que tenham sido reprovados!”

(2Co 13.5)

Esta é a recomendação feita à toda a Igreja: um

autoexame constante, diário, porque somos ordenados a

viver um dia de cada vez. Assim, precisamos verificar o

estado de nossa fé diariamente. Deus nos transforma, de

glória em glória, à imagem de Seu Filho, pelo Espírito (2Co

3.18). Isto quer dizer que a verdadeira fé salvadora sempre

traz uma mudança na conduta, no coração daquele que

exercita a fé, e essa transformação se desenvolve a cada

dia.

Se o fato de nos examinarmos conscientemente

permite sabermos se estamos andando em fé ou não, então

Paulo está nos indicando duas coisas, aqui, em relação à fé:

quando ele diz para nós nos examinarmos, ele nos indica

que é necessário termos uma convicção em nossa mente, de

que a verdade pregada deve ser aplicada em relação a nós,

que deve atuar na nossa conduta. E ele também diz que

44
essa verdade, que ouvimos na pregação da Palavra, precisa

gerar uma mudança correspondente no coração. Isto quer

dizer que, quando o homem é convencido pela pregação e

admite a verdade em relação a si mesmo, então ele deve

aplicar esta verdade em sua própria vida, gerando mudança

na sua conduta.

As pessoas podem ouvir belos sermões sobre o plano

de salvação, sobre o caráter e a soberania de Deus e, até,

ficarem maravilhadas com a glória e a excelência mostradas.

Elas podem até aplaudir com entusiasmo e pensarem que

têm fé. Mas, na verdade, elas não têm nem um pingo de fé

salvadora, porque até os demônios agem assim, desde que

não tenham que aplicar essa verdade em suas próprias

vidas.

Essas pessoas (e os próprios demônios) veem o

Evangelho como verdade, mas não o aprovam, porque ele

interfere diretamente no seu egoísmo. Passam a odiar a

Deus e se rebelam contra Ele, porque Deus, o seu Criador,

está totalmente em oposição a esse seu egoísmo. Então,

essas pessoas aceitam o Evangelho como verdade, se

alegram em ouvir certas pregações e chegam até a dizer que

estão sendo alimentadas por elas. Mas, depois, vão embora

e não aplicam em suas vidas aquilo que ouviram.

45
Tiago também comenta sobre isto: "Sejam praticantes

da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si

mesmos" (Tg 1.22). Em outras palavras, ele está dizendo

que qualquer um que não pratica aquilo que admite ser

verdade, engana a si mesmo.

E, amados, essas coisas estão sendo ditas para

pessoas que carregam o nome de cristãs. Mas a Palavra

comprova que tais pessoas são, na verdade, hipócritas.

Algumas são hipócritas por tentarem enganar aos outros,

como os fariseus faziam, através de sua religiosidade, suas

longas orações, seus jejuns, seus dízimos e diversas outras

coisas que possam tornar públicas. Outras, como diz Tiago,

são hipócritas por enganarem a si mesmas, pensando que

são boas cristãs, mas sem buscarem a santificação em

Cristo Jesus e sem praticarem os preceitos básicos da

Palavra.

Tanto Paulo, quanto Tiago, indicam que a verdadeira

fé vai resultar em boas obras. Mas essas boas obras não são

o cumprimento da lei, pura e simplesmente. Ambos apontam

para o cumprimento da essência da lei, como disse Jesus,

que é, primeiramente, a transformação do íntimo da pessoa,

46
fazendo com que ela tenha prazer em exercitar justiça,

misericórdia e fé (Mt 23.23).

Nossa grande dificuldade, atualmente, tem sido a de

definir o que é andar em fé. Temos nos deixado levar por

doutrinas e preceitos humanos, ao invés de imitar ao povo

de Beréia e buscar nas Escrituras, para saber se as coisas

são realmente assim. Também não temos orado para que o

Espírito Santo nos ensine qual seja a perfeita vontade de

Deus para as nossas vidas. Desta forma, permitimos sermos

manipulados por pessoas que não têm o Espírito de Cristo e

que nos levam a cumprir fetiches religiosos, como se fossem

demonstrações de fé.

Já que “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil

para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a

educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja

perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”

(2Tm 3.16-17), certamente, ela também nos ensina sobre o

andar em fé:

Jesus disse: “Se alguém quer vir após mim, a si

mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16.24).

Na sequência, o Senhor diz que essa atitude é que vai

47
resultar na salvação da alma da pessoa. Ele está dizendo

que, para seguir a Jesus (andar, viver por fé), existem

condições e que, sem cumprir essas condições, ninguém

alcançará a salvação de sua própria alma. Ele diz que as

pessoas que tentarem salvar suas próprias vidas, ou seja,

insistirem em satisfazer o seu próprio “eu” (v. 25), não se

salvarão da condenação do inferno. Por outro lado, quem

abrir mão da satisfação de seus desejos pessoais (a si

mesmo se negar), será salvo dessa condenação e viverá

eternamente junto ao Deus Pai e Criador.

Amados, o que o Senhor Jesus está dizendo é muito

simples, porém, é extremamente difícil de ser cumprido por

nós. É difícil, porque se trata de nossa morte, não física,

mas espiritual. Para nos negarmos a nós mesmos,

precisamos fazer morrer a nossa natureza, que sempre

busca o nosso próprio bem-estar, através de conforto e

satisfação emocionais e físicos. Nossa natureza também nos

leva a satisfazer a nossa soberba, aquela que nos faz pensar

que somos merecedores de tudo do bom e do melhor, que

somos superiores a tudo e a todos, e que somos capazes de

fazer qualquer coisa, inclusive de cumprirmos preceitos

(religiosidades) que nos deem direito à salvação.

48
O que o Senhor está dizendo, em outras palavras, é

que devemos nos arrepender de termos vivido, até este

momento, achando que somos soberanos sobre nossas

próprias vidas, e que devemos nos aproximar, em

humildade, do Senhor, para fazermos um concerto definitivo

com Ele!

O Senhor Deus nos dirá: “Meu amado, estou feliz por

você ter ouvido e ter atendido à Minha Palavra. Estou feliz

por você ter recebido o Meu Evangelho e ter perseverado

para entrar em Minha Presença. Agora, quero fazer um

concerto com você, mas é necessário que você concorde

com algumas coisas, a fim de que você esteja, a partir de

agora e por toda a eternidade, em Minhas mãos”.

“Em primeiro lugar, amado, entregue-Me essa sua

religiosidade, essa sua idéia de que pode fazer coisas como

cumprir regras e leis, ou fazer boas obras, para se justificar

e Me agradar. Essas coisas, da forma e com a intenção que

são feitas, são imundas e fétidas para Mim. Coloque isso aos

pés da Cruz do Meu Cristo e lhe darei a JUSTIFICAÇÃO em

Jesus”.

49
“Entregue-Me também essa sua tentativa inútil de se

santificar através do seu esforço próprio, da sua própria

capacidade que, na verdade, não o santifica de nada, apenas

esconde no seu íntimo aquilo que deveria ser arrancado de

você, e lhe dou a SANTIFICAÇÃO definitiva em Cristo Jesus”.

“Por último, filho Meu, Me entregue todos os seus

sonhos, seus desejos, seus planos, que eu lhe dou o próprio

Cristo para viver em você”.

Evidentemente, não podemos afirmar que o apóstolo

Paulo, por exemplo, tenha tido esse diálogo com o Senhor,

mas sabemos que, em certo momento, ele afirmou

confiantemente: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não

sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.19-20).

Esta declaração nos mostra que o apóstolo passou

pelo processo de crucificação com Jesus, onde o seu próprio

“eu” foi morto definitivamente. Isto significa que ele aplicou

em sua vida o fato de que apenas Jesus é “sabedoria, e

justiça, e santificação, e redenção” (1Co 1.30).

Crer nisso e aplicar isso em nossas vidas é o

verdadeiro “andar em fé”.


50
Obediência

Em todos os lugares, tenho escutado: “O crente tem

que obedecer!”. Aí, percorro a maravilhosa Palavra de Deus

e constato que isso é uma verdade fundamental a respeito

da vontade de Deus para o homem. Mas, será que a

declaração que tenho ouvido está em conformidade ao que

diz o Senhor?

Tremo ao pensar que o homem tem uma facilidade

inata para modificar aquilo que realmente foi dito a ele.

Desde o Éden, sabemos que isto acontece. Quando indagada

pela serpente se não poderia comer de nenhuma árvore do

jardim, Eva respondeu que poderia, sim, comer das árvores

do jardim, exceto da árvore do conhecimento do bem e do

mal, em cujo fruto não poderia nem tocar.

Mas o Senhor não disse que eles não poderiam nem

tocar no fruto daquela árvore. Disse, apenas, que não

poderiam comer dele. Esse é o primeiro registro do

legalismo humano, do costume de mudar o que realmente

foi dito, como meio de ficar mais fácil não cometer erros,

não desobedecer. A partir daí, o ser humano sempre

procurou modificar a Palavra de Deus, acrescentando, ou

51
retirando algo, com o único fim de ter uma participação ativa

em sua própria salvação, sua comunhão com Deus.

Infelizmente, a Igreja, hoje, está contaminada por

esse tipo de pensamento. Os homens têm criado suas

muralhas em redor da Palavra do Senhor, onde cada tijolo é

uma regra, uma lei, que tem por objetivo tornar as pessoas

santas e justas por suas próprias obras, por sua fidelidade e

obediência a essa lei. Ficar do lado de dentro dessa muralha

significa estar salvo. Ficar do lado de fora significa estar

condenado. Mas isto anula completamente a justificação e a

santificação mediante a fé em Cristo Jesus.

O CAMINHO DE MORTE

Como é dito em Provérbios 14.12, “há caminho que ao

homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de

morte”. Muitas coisas se encaixam neste provérbio,

inclusive, essa pretensa santificação pessoal, através da

obediência a mandamentos de homens.

Muitos santos, pelo mundo todo, têm sido levados a

obedecerem aos preceitos humanos, como se fossem

mandamentos de Deus. Pessoas mal informadas e, até


52
mesmo, mal intencionadas têm deturpado as Escrituras,

para manterem sob o seu domínio aqueles que estavam

prontos a deixarem o pecado. O mais incrível é que isto

acontece, mesmo depois de o próprio Senhor Jesus ter

recriminado duramente essa atitude, que era própria dos

fariseus, escribas e intérpretes da lei. Em Mateus 23.28, o

Senhor fala com eles o que poderia ser dito hoje, para

muitas pessoas dentro das igrejas: “Assim também vocês

exteriormente parecem justos aos homens, mas, por dentro,

estão cheios de hipocrisia e de iniquidade”.

Esse capítulo de Mateus traz uma das mais duras

repreensões do Senhor, senão a mais dura, mas, ainda hoje,

multidões praticam tudo isso que foi recriminado por Jesus,

demonstrando não terem o mínimo temor de Deus. É um tal

de „não faça isso‟, „não coma aquilo‟, „não toque nisso‟, „use

esta roupa‟, „fique em pé‟, „ajoelhe-se‟, „diga para o irmão ao

lado‟, „sorria‟, „pratique línguas estranhas‟, „profetize‟, „faça

um propósito‟, „exija seus direitos‟, „determine‟, e outras

coisas mais, alegando que tais coisas o santificarão!

Isso contaminou de tal forma a cristandade, que

muitos santos já agem de forma legalista, sem perceberem

que estão agindo assim. Muitos entram nas igrejas, vão para

seus lugares e, imediatamente, colocam em seus rostos uma

53
expressão de piedade. Às vezes, fecham os olhos e

movimentam os lábios, como se estivessem desfrutando de

grande intimidade com o Pai celestial. Não desconsidero os

que agem em verdade e em espírito, mas me refiro àqueles

que o fazem para demonstrarem santidade aos que estão à

sua volta.

Também é comum as pessoas chorarem durante o

louvor, não por serem tocadas pelo Espírito, mas para

darem a entender que são. Aproveitam o clima emocional

proporcionado por uma melodia e derramam lágrimas, para

que todos vejam o quanto são próximas de Deus. De novo,

digo que há pessoas que realmente são cheias do Espírito e,

por isto, choram ao sentirem sua proximidade com o Deus

Criador. Mas muitos são atores e atrizes que deveriam estar

no mundo cinematográfico, não na Igreja.

Todas essas coisas, por mais piedosas que pareçam,

não santificam ninguém. Os cristãos farão essas coisas, ou

não, seguindo suas consciências, que são orientadas pelo

Espírito Santo. O Espírito sempre orientará as pessoas a

agirem com base nos princípios elementares do cristianismo,

de amar a Deus e ao próximo. Impor obediência a essas

ordens é legalismo. Na verdade, isso demonstra que

legalismo é mais do que a imposição de regras, ou seja,

54
legalismo é um desejo de parecer santo. Ele traz à tona o

grande pecado da incredulidade humana na obra

santificadora e redentora de Jesus Cristo, pois leva as

pessoas a confiarem em si mesmas, em suas próprias obras.

O que realmente se pratica, obedecendo-se a essas

leis humanas, é uma tentativa de completar a obra de

Cristo. Anula-se completamente a graça de Deus derramada

sobre todos através da cruz do Calvário. E as pessoas que

praticam esse legalismo, obedecendo a mandamentos de

homens com o fim de parecerem santificadas, são o destino

da dura palavra do Senhor: “Serpentes, raça de víboras!

Como escaparão da condenação do inferno?” (Mt 23.33).

O CAMINHO DE VIDA

Graças a Deus, nós temos à disposição outro

caminho: é um caminho apertado, que leva a uma porta

estreita, mas é um caminho de vida!

O Senhor Jesus, pela Sua palavra, trouxe todas as

coisas à existência. E é pela palavra do Seu poder, que Ele

sustenta a existência de todas as coisas. Tudo isto, Ele fez

(e ainda faz) com um propósito definido. O Senhor formou o


55
homem. Na verdade, cada ser humano é formado

individualmente por Deus. E Ele tem um propósito definido,

ao fazer isto. Isso quer dizer, claramente, que há um

propósito divino na existência de cada ser humano e cabe a

cada um de nós descobrir qual é o propósito de Deus para

nossa vida.

“Que fazer, pois, irmãos? Quando vocês se reúnem,

um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele,

outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito

para edificação” (1Co 14.26). Paulo está nos dizendo que

todos os cristãos têm dons, dados pelo Espírito Santo, para

edificação da Igreja. Neste capítulo de sua primeira carta

aos coríntios, ele dá instruções sobre a ordem a ser adotada

nas igrejas, porém, na maioria das igrejas, essas instruções

não têm sido obedecidas. Em uma época na qual se fala

tanto em obediência, um princípio básico não tem sido

obedecido. O que o apóstolo nos revela, aqui, é

completamente diferente da liturgia adotada por quase todas

as igrejas, atualmente. Paulo fala sobre a participação ativa

de cada crente em suas reuniões (cultos). Ele não está

falando sobre participar como uma marionete nas mãos de

quem está, supostamente, investido de alguma autoridade,

ou seja, os líderes. Ele não está dizendo: “Vocês devem

fazer tudo aquilo que os que estiverem à frente do trabalho

mandarem: vocês devem sorrir, quando mandarem sorrir;

56
cantar, quando mandarem cantar; repetir frases prontas,

quando mandarem repetir; se abraçar, ajoelhar, levantar,

bater palmas, quando mandarem fazer estas coisas!”.

Absolutamente! O apóstolo está se referindo a cada

um dos crentes exercitar seus dons em benefício da Igreja.

Ele está falando de reuniões onde as pessoas querem tanto

receber edificação, quanto edificar. Ele fala sobre pessoas

santificadas pelo Espírito, cada uma no estágio já alcançado,

não sobre pessoas que querem mostrar que são santas. Ele

fala de pessoas que já descobriram que Deus tem um

propósito para a vida de cada um e que permitem que o

Espírito Santo conduza suas vidas. Ele também fala de

reuniões que têm por objetivo a comunhão com Deus e com

os irmãos na fé. Não são reuniões para as pessoas se

justificarem diante de Deus e dos homens, mas para

declararem a sua justificação em Jesus Cristo, mediante a

fé.

Essas instruções de Paulo mostram que o todo, que é

formado por indivíduos, vai exercer uma influência santa

sobre cada indivíduo. E, mais do que influência sobre os

crentes, será uma influência sobre os incrédulos que terão

contato com esses santos. Paulo diz que, quando “entrar

algum incrédulo ou indouto, é ele por todos convencido e por

57
todos julgado; tornam-se-lhe manifestos os segredos do

coração, e, assim, prostrando-se com a face em terra,

adorará a Deus, testemunhando que Deus está, de fato, no

meio de vocês” (1Co 14.24-25).

Essa influência da Igreja sobre os incrédulos também

é abordada pelo Senhor Jesus: “Nisto conhecerão TODOS

que vocês são meus discípulos: se tiverem amor uns aos

outros” (Jo 13.35). Vejam o alcance que terá a manifestação

do amor entre os cristãos: todas as pessoas saberão que

somos verdadeiros seguidores de Cristo. Certamente, é

assim que santificamos a Cristo e que as pessoas serão

levadas a quererem conhecer qual é a “razão da esperança

que há em vocês [nós]” (1Pe 3.15).

Na verdade, este é o primeiro e grande mandamento

do Senhor e, também, o segundo: “Respondeu-lhe Jesus:

Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda

a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e

primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é:

Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois

mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt

22.37-40 – grifos meus). Ora, onde há mandamento, há

expectativa de obediência a ele. Se o Senhor nos diz que

amar é o grande mandamento, certamente Ele espera que

58
amemos. Mas como podemos obedecer a tal mandamento,

se o próprio Senhor Jesus disse que “do coração procedem

maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos,

falsos testemunhos, blasfêmias” (Mt 15.19)?

A resposta a essa pergunta também nos mostra o

verdadeiro caminho para a obediência: “mas o Consolador, o

Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse

lhes ensinará todas as coisas e lhes fará lembrar de tudo

o que lhes tenho dito” (Jo 14.26 – grifo meu). O Espírito de

Cristo nos ensina todas as coisas. Não é uma coisa ou outra.

São todas as coisas. Isto inclui a obediência. E, para

obedecermos à ordem de amar, Ele nos enche com o amor

do Pai Celestial. Ele, que nos purifica de todo o pecado, ou

seja, que, dia a dia, arranca todas aquelas coisas horríveis

que procedem do nosso coração, nos capacita a amar, tanto

a Deus, quanto ao nosso próximo.

Para que Ele atue em nós dessa forma, precisamos

nos render a Ele, nos entregarmos a Ele total e

verdadeiramente. E precisamos, constantemente, falar com

o Senhor e ouvi-Lo, ou seja, orar. É através da oração que

criamos intimidade com Deus e é através dessa intimidade

que o Espírito Santo age poderosamente em nós. Essa ação

crescente do Espírito em nós, nos leva a obedecermos ao

59
que verdadeiramente é a vontade de Deus, a fazermos o

que realmente tem valor para Ele. E é nesta obediência que

nos tornamos instrumentos úteis à disposição d‟Ele.

Além do amor, o Senhor Jesus nos deixou outros

mandamentos como perdoar, respeitar autoridades, sermos

humildes, e ainda outros. Mas todos eles dependem do

amor. Paulo também disse isto, quando se referia aos dons,

mostrando que este é um bem que deve ser buscado em

Deus. Ele diz que não temos o amor em nós mesmos e que

devemos buscá-lo no Senhor, porque, sem ele, nada tem

valor (ver 1C0 13). Ele diz que não adianta fazermos as

coisas mais santas do mundo, se não tivermos amor. Então,

de acordo com as palavras de Jesus e com o fundamento

lançado pelo apóstolo Paulo, é aqui que deve começar a

nossa obediência.

Seguindo esse princípio seremos levados, pelo

Espírito, a obedecermos ao Senhor em toda a Sua vontade.

É isso que nos levará a buscar e conhecer o propósito de

Deus para as nossas vidas. De posse deste conhecimento,

seremos levados a obedecer às instruções de Paulo quanto

às reuniões da Igreja, onde nosso objetivo não será mais o

de receber, mas o de dar. Não iremos mais às reuniões para

recebermos a aprovação dos outros pela nossa santidade.

60
Não iremos mais para buscar alimento, apenas, para a nossa

alma. Não iremos mais para receber revelações, curas,

consolo, milagres e outras bênçãos. Iremos às reuniões,

para que o Senhor utilize a cada um de nós como Seu

instrumento, através do qual a Sua vontade será feita. Aí

haverá comunhão com Deus e com os outros santos, porque

Deus estará no meio de nós.

Creio que é a isto que o Senhor se refere, quando fala

do caminho apertado que leva a uma porta estreita. Porque

essa nossa obediência é o resultado de uma consagração

total a Deus. Isto implica em abrirmos mão, completamente,

de qualquer controle que possamos ter sobre nossas vidas,

nos entregando totalmente ao domínio do Senhor. Esta

entrega faz com que nos sintamos fracos, sem capacidade

para fazermos nada. Mas a verdade é que, justamente nessa

hora, seremos capacitados, pelo Espírito de Cristo, a

fazermos qualquer coisa que seja de Sua vontade. Como

disse Paulo: “quando sou fraco, então, é que sou forte” (2Co

12.10).

Hoje, normalmente, temos dificuldade para entender

como Davi pôde enfrentar ao gigante. Muitas vezes, somos

levados a considerar a habilidade que ele já tinha com a

funda. Mas está bem claro que nem mesmo Davi se fiava na

61
sua própria habilidade. Vejam o que ele disse a Golias: “o

SENHOR te entregará nas minhas mãos” (1Sm 17.46).

Da mesma forma, ficamos admirados com a força de

Sansão. Mas ele não tinha força nenhuma! Sua força vinha

sempre de Deus. “Então, o Espírito do SENHOR de tal

maneira se apossou dele, que ele o rasgou [ao leão]

como quem rasga um cabrito, sem nada ter na mão” (Jz

14.6 – grifo meu). De novo: “Então, o Espírito do SENHOR

de tal maneira se apossou dele, que desceu aos

asquelonitas, matou deles trinta homens” (14.19 – grifo

meu). Mais uma vez: “porém o Espírito do SENHOR de tal

maneira se apossou dele, que as cordas que tinha nos

braços se tornaram como fios de linho queimados, e as suas

amarraduras se desfizeram das suas mãos” (15.14 – grifo

meu) e, com uma queixada de jumento, matou mil filisteus.

O Senhor o usava, porque ele era consagrado a Deus:

“tu conceberás e darás à luz um filho sobre cuja cabeça não

passará navalha... porque o menino será nazireu consagrado

a Deus, desde o ventre materno até ao dia de sua morte” (Jz

13.5, 7), foi o que Deus disse à mãe de Sansão. No entanto,

quando sua consagração foi cortada, ou seja, quando ele

valorizou mais a uma pessoa do que a Deus, o Senhor se

62
retirou dele (ver Jz 16.20) e ele já não tinha nenhuma força

para reagir a nada.

Da mesma forma, é a nossa consagração ao Senhor

que nos capacitará a fazermos a vontade de Deus. Em

outras palavras, quando nos negarmos a nós mesmos,

tomarmos nossa cruz e seguirmos os passos do Senhor

Jesus, seremos capazes de obedecer. A vida do Senhor aqui

na terra foi uma vida de autonegação, para obedecer à

vontade do Pai. Foi uma vida no caminho apertado, sem

busca de realização de vontades pessoais, sem busca de

concretização de sonhos pessoais e sem busca de satisfação

pessoal, que não fosse a satisfação da vontade de Deus. E

seguir o Seu exemplo também é um mandamento a ser

obedecido.

Agora, pergunto a vocês e a mim: somos legalistas,

obedecendo a mandamentos de homens, para parecermos

santos aos olhos de todos, ou somos cristãos, obedecendo

verdadeiramente aos mandamentos do Senhor, para sermos

santificados por Ele? Há uma diferença eterna entre as duas

posições.

63
Somos Santos?

“Sede santos, porque eu sou santo” (1Pe 1.16)

Quanta coisa se tem feito por causa dessa ordem. A

religião arrancou essa passagem do contexto bíblico e a

aplica das piores formas possíveis, sempre impingindo ao

homem o fardo de obedecê-la integralmente, a despeito de

sua [do homem] incapacidade para tanto. Verdade é, que

essa ordem foi dada ao homem e deve ser cumprida, mas,

como em todas as coisas ligadas ao nosso relacionamento

com Deus, é o próprio Senhor que nos aponta o caminho a

ser trilhado e nos capacita, no Espírito Santo, a alcançar a

meta, se quisermos.

Jesus se entregou por nós a fim de nos remir de

toda a maldade e purificar para si mesmo um povo

particularmente seu, dedicado à prática de boas obras. E

boas obras, para que assim sejam consideradas, são o

resultado do amor que enche a pessoa, a ponto de não

poder mais ser contido e explodir em atitudes santas e

santificadas, para com Deus e para com as outras pessoas.

Elas nunca podem ser fruto da intenção racionalizada de se

cumprir uma ordem. Quando dizemos: “Faço o bem e

64
elimino meus pecados, porque a Palavra de Deus determina

isto!”, na verdade, agimos como os fariseus, que pensam

garantir sua salvação através do cumprimento da lei.

Transformamos a Graça em Lei!

O que fazemos, nesse caso, é cuidar da aparência!

Dizemos: “Não fumo, não bebo, não me drogo, não adultero,

não sou assassino, não sou pedófilo, não sou homossexual,

falo baixo, me domino em tudo, não vou a festas, não

assisto nem vou ao futebol, não assisto televisão, vou

sempre à igreja e faço tudo o que a Palavra de Deus

manda!”. Sobrou alguma coisa para o Senhor operar em

nós, a fim de Ele nos purificar para Si mesmo? Com esse

discurso, o que realmente estaríamos dizendo é: “Não tenho

pecado. Graças Te dou, meu Deus, porque eu não sou como

esses outros, que fazem essas coisas!”. Mas, se afirmarmos

que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um

mentiroso, e a sua palavra não está em nós.

E o Senhor não vê como o homem: o homem vê a

aparência, mas o Senhor vê o coração. É possível que

alguém não faça nenhuma dessas coisas, na sua própria

força. Por fora, esse alguém aparenta uma vida piedosa. No

entanto, o seu interior está cheio de ódio pelas pessoas que

tais coisas fazem. A todo momento, essa pessoa condenará

65
às outras, porque elas não se esforçam para atingir esse

padrão de “santidade” que ela atingiu, com o seu esforço.

Ela sempre olha as outras pessoas de cima para baixo, como

se ela fosse um ser humano melhor, perfeito, ainda que

diga, da boca para fora, “Não sou perfeito! Também tenho

meus pecados!”. Ela só diz isto, para não transgredir a “lei”

de que não podemos afirmar que não temos pecado. Vemos

uma pessoa dessas e a consideramos “santa”, porém, o

Senhor sabe que o seu coração é enganoso, mais do que

todas as coisas, e desesperadamente corrupto. Não tem

amor!

O nosso Deus Pai e Criador nos indicou a forma para

chegarmos à santidade que Ele requer de nós: “Se

confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para

perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda

injustiça”. Não sou pedófilo, mas devo confessar: “Senhor,

sou homem e, enquanto estiver neste corpo carnal, estarei

suscetível a cometer esse erro pavoroso. Não sou melhor do

que as pessoas que caíram nesse erro, Senhor, por isto, não

me deixe cair em tentação e livra-me do mal”. Não sou

assassino, mas devo confessar a mesma coisa! E assim

devemos fazer com todas as maldades que brotam em nosso

coração, porque do coração saem os maus pensamentos, os

homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os

66
roubos, os falsos testemunhos e as calúnias. E são essas

coisas que tornam o homem impuro, não-santo!

Assim também é, quando nos aproximamos do

Senhor, ainda cansados e sobrecarregados de erros,

atendendo ao Seu chamado. Devemos ter a confiança de

estarmos assentados nos lugares celestiais, em Cristo Jesus,

santificados por Ele, através do Espírito Santo, que milita

contra nossa carne, para que não façamos o que,

porventura, for de nossa vontade. E isto não acontece em

um passe de mágica! É gradual! Todos os dias somos

ensinados pelo Senhor! Todos os dias somos santificados por

Ele, para que sejamos apresentados perante ele santos,

inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permanecemos nessa

fé, alicerçados e firmes. Com essa fé, de que é Ele quem nos

purifica, e com a confissão sincera da nossa fraqueza e da

nossa impossibilidade de nos aperfeiçoarmos, o Espírito de

Cristo nos mostra o caminho a seguir, luta contra nossa

carne, age nas circunstâncias, para que não sejamos

tentados além de nossas forças, e coloca o Seu amor em

nosso coração, a fim de que ele seja capacitado a ver as

outras pessoas, como o Senhor as vê, em amor, além de

não pensarmos mais do que convém, a nosso próprio

respeito.

67
Mas a Palavra de Deus não está cheia de

recomendações para que abandonemos o pecado? Sim,

está! Mas, se isto fosse possível, na nossa própria força,

Jesus não precisaria ter-Se dado em sacrifício por nós. Ele

veio, como Cordeiro de Deus, exatamente por não nos ser

possível a autossantificação! E essa é a mensagem central

do Evangelho: arrependimento de obras mortas! Isto

significa nos conscientizarmos da nossa incapacidade de

alcançar, pelo nosso esforço, a santidade, sem a qual

ninguém verá a Deus. Essa consciência nos leva a

confessarmos a nossa fraqueza a Deus e a entregarmos

nossa vida em Suas mãos, confiando que Jesus é,

realmente, o único Caminho para nos chegarmos a Deus. E

esse Caminho, somente Ele, é a nossa sabedoria, nossa

justificação, nossa santificação e nossa redenção! Aplicar

isto à nossa vida é obedecer aos mandamentos para deixar

o pecado.

"Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos

outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos

outros. Com isso todos saberão que vocês são meus

discípulos, se vocês se amarem uns aos outros" (Jo 13.35).

É expressando amor que nos tornamos discípulos de Jesus.

“Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os

perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai

que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus

68
e bons e derrama chuva sobre justos e injustos (Mt

5.44.45). É expressando amor que nos tornamos filhos de

Deus. Como ter esse amor, se do nosso coração só saem

coisas ruins? Simples: reconhecendo que somos maus, a

despeito de nosso esforço em parecermos ser santos! É

diminuirmos, para que Cristo cresça em nós. E diminuir,

aqui, significa pararmos de achar que somos capazes de

fazer alguma coisa boa em nós mesmos.

É termos esta consciência: “O meu corpo e o meu

coração poderão fraquejar, mas Deus é a força do meu

coração e a minha herança para sempre” (Sl 73:26). É para

o Senhor que estamos de pé ou caímos. Mas estaremos de

pé, pois o Senhor é poderoso para nos sustentar. Isto é a

Graça de Deus, que, através do amor, encravou a Lei na

Cruz. Isto é andar no Espírito. Nós, que amamos a Jesus

Cristo, devemos romper definitivamente com os

mandamentos e ensinos humanos, do tipo: "Não

manuseie!", "Não prove!", "Não toque!". Essas regras têm,

de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa

religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo,

mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne.

Só Jesus é a nossa santificação!

69
Será Que Ninguém Viu Isto?

Ontem à noite, em oração, algumas palavras de Jesus

tocaram fundo em mim. Certamente, porque o Senhor tem

falado sobre o assunto comigo, há alguns meses. Ele disse:

“Não o proíbam; porque não há ninguém que faça milagre

em meu nome e, logo a seguir, possa falar mal de mim” (Mc

9.39).

João havia dito ao Mestre, que um determinado

homem expelia demônios em nome de Jesus. Mas, por esse

homem não andar junto com eles, os discípulos

simplesmente o proibiram de continuar fazendo aquilo. E,

depois de dizer para eles não proibirem tal coisa, Jesus

ainda indicou que só há duas possibilidades, em relação a

Ele: “Quem não é contra nós, é por nós!” (v. 40). Ou seja,

quem não age contra Cristo, age a favor dEle. Não existe

meio-termo! Ou a pessoa vive o seu dia-a-dia em nome de

Jesus, como Seu representante (embaixador), ou vive por

seu próprio nome, afastada do Deus Pai e Criador e, o que é

pior, contra Ele.

Entendi que o Senhor estava me falando, como em

tantas outras vezes, a respeito da unidade que deve haver

70
em torno do Seu Nome. Seus discípulos, ali, agiram como se

fossem pessoas especiais, por participarem do único grupo

de pessoas escolhidas por Deus, para serem representantes

de Seu Nome, aqui na terra. E foram envergonhados por

isto! A atitude que tomaram, por conta da visão que tinham,

foi reprovada pelo Senhor! Em outras palavras, o Senhor

estava dizendo a eles: “É certo que escolhi vocês

individualmente, para andarem comigo. Porém, há outras

pessoas que reconhecem o Meu senhorio e optam por Me

servir. E o Pai as traz para Mim! Vocês podem confirmar isto

pelo Seu poder que foi manifestado através desse homem.

Aquele homem, que vocês discriminaram, demonstrou sua fé

em Mim, ao agir em Meu Nome e ao imitar Minhas atitudes.

Ele não agia para sua própria glória, mas para a Minha!”.

E foi isso que encheu meu coração de temor, que me

consternou profundamente. Olhei para trás, para meus

passos, e fiquei estarrecido com a quantidade de vezes que

agi exatamente da mesma forma que os discípulos agiram

naquela ocasião, e quantas vezes agi de maneira ainda pior

que eles. Pior do que isto: olhei em volta, para a Igreja, e

me enxerguei em quase todas as pessoas que se professam

membros do Corpo de Cristo.

71
Quantas vezes ouvi de Seus membros: “A Igreja é um

corpo em movimento!”. E é verdade. Mas o movimento que

se vê é de autodestruição. O movimento que se vê é de

membros digladiando-se entre si. Um aponta para o outro e

diz que o seu grupo é o único correto e que, por isto, o outro

não é cristão e não tem o direito de dizer que está servindo

ao Seu Senhor. Mais do que isto, um “proíbe” o outro de agir

em nome de Jesus! Todos sabem que são membros do

Corpo, mas cada um se considera a cabeça do corpo, nunca

um membro inferior. Podem até afirmar o contrário com

seus lábios, mas é isto que mostram com suas atitudes! E,

como cabeça desmiolada, olham para os membros e dizem

que eles não são membros.

Uns dizem que a salvação é pela eleição soberana e

incondicional de Deus. Outros dizem que é pela eleição

presciente, soberana e condicional. Uns dizem que os mil

anos de reinado de Cristo na terra é espiritual e já está

ocorrendo, enquanto outros dizem que ele será literal e

ainda vai ocorrer. Uns dizem que o dízimo ainda é uma

obrigação da Igreja, enquanto outros dizem que não é mais.

Uns acham que o Espírito Santo não Se manifesta mais com

o poder que Se manifestava no princípio da Igreja, ao passo

que outros acham que Ele ainda Se manifesta assim. E

milhares de outros motivos ridículos! E cada um quer proibir

o outro de dizer que está agindo em nome de Jesus!

72
Paulo já havia dito que não importa se um acha que

pode comer e o outro acha que não pode. Não importa se

um acha que tem que separar dias especiais e outro acha

que não. Porque o que importa, realmente, é se cada um crê

que Jesus Cristo é o Senhor e passa a seguir Seus passos, a

imitá-lO, em transformação constante de vida, para a honra

e glória do Senhor, não para satisfazer a sua própria

soberba. Estes, sim, é que estão separados de Cristo e são

contra Ele! “Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o

justo viverá pela sua fé” (Hb 2.4).

Até quando ficaremos demonizando o servo alheio,

julgando-o, desprezando-o, como se ele não fosse servo de

Jesus, do Deus Altíssimo? Até quando vamos permitir que a

nossa soberba reine em nossa vida, ao invés de Jesus? Por

que não vemos que é conosco que o Senhor está falando,

quando diz que vai chamar todos os “indignos” para a Sua

ceia, no lugar daqueles que Ele havia convidado

anteriormente? Quando lemos, ou ouvimos, essa passagem

de Lucas 14, sempre pensamos que Ele está falando dos

outros crentes, nunca de nós mesmos! Mas é com nós

mesmos que Ele está falando, porque nós estamos nos

ocupando com ideias de homens, em vez de aceitarmos o

Seu convite e irmos em Sua direção! Morremos defendendo

73
preceitos humanos, mas não aceitamos nem um desmaio

em nome de Jesus! Dizemos que estamos fazendo a Sua

vontade, mas nos enchemos de ódio se alguém não pensa

como nós!

Tudo isso é viver uma mentira! Tudo isso exclui de

nossas vidas o amor com que fomos amados por Jesus! Nós

dizemos que aceitamos e recebemos esse amor, mas não o

repassamos adiante. Nunca! Achamos que isso é

exclusividade nossa. Os outros que se virem para recebê-lo.

Basta que ajam e pensem como nós, que, então, eles

também serão merecedores desse amor. Mas desde quando

fomos merecedores de alguma coisa vinda de Deus?

Nenhum de nós é merecedor de nada, a não ser de

condenação eterna. E, agora que a graça nos alcançou,

vamos continuar dando motivos para essa condenação,

rejeitando a Jesus? Claro que não! Eu duvido que algum

cristão professo responda sim a essa pergunta,

conscientemente. Mas é o sim que nós estamos dizendo, ao

nos rotularmos com nomes de homem e ao rotularmos aos

outros também! Ao discriminarmos quem quer que seja, que

pense diferente de nós!

Jesus disse para nos amarmos uns aos outros. O

Espírito de Cristo disse que o amor é o vínculo da perfeição e

74
que devemos fazer o bem a todos, ESPECIALMENTE aos da

família da fé. Ele não diz aos da família dos batistas, ou

presbiterianos, ou assembleianos, ou católicos, ou

wesleyanos, ou calvinistas, ou arminianos, ou agostinianos,

ou pelagianos, ou de Paulo, ou de Apolo, ou de Cefas, ou de

outro nome qualquer. É aos da família da fé em Cristo Jesus.

Aqueles que creem que Jesus Cristo, homem, é o único Deus

e o único Mediador entre Deus e os homens. Aqueles que

creem que Ele morreu pelos pecados de todos e que foi

ressuscitado por Deus, para que todos os que nEle crerem,

sejam salvos. Aqueles que creem que esse Jesus voltará

para reunir definitivamente a Ele, todos os que nEle creram.

Essa é a família da fé, que Deus considera. Essa é a família

que será aperfeiçoada até se encontrar definitivamente com

Ele.

Assim diz o Senhor: "Hoje, se vocês ouvirem a minha

voz, não endureçam o coração”. A voz do Senhor nos chama

ao amor, e amar também é ceder. Não precisamos

concordar com preceitos teológicos de ninguém, mas

precisamos amar a todos e reconhecer que o erro que

vemos nos outros pode estar, na verdade, em nós! Se não

tivermos humildade para isto, é porque ainda não morremos

com Cristo e caminhamos para a morte eterna. Ouçamos a

Sua voz! Sejamos Um com Jesus, assim como Ele é Um com

o Pai!

75
Discipulado

“Passando por ali, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na

coletoria, e disse-lhe: „Siga-me‟. Levi levantou-se e o

seguiu” (Mc 2.14)

Eis aí o discipulado descrito por completo, do início ao

fim!

Não há teologias! Não há conhecimento prévio de

Quem é Jesus! Não há cumprimento de leis! Não há apego

às “certezas” da vida e à sua comodidade!

Tudo que existe é o chamado pessoal de Jesus e a

obediência da pessoa chamada! É isto mesmo: a obediência

ao “siga-me” é o primeiro passo, seja pelo motivo que for!

Os evangelhos nos dão conta disto, ao nos trazerem um

pouco da história dos discípulos. Ali, percebemos que havia

diferentes motivações entre eles, mas havia esse ponto

comum a todos: a obediência de seguir a Jesus, quando

chamados.

76
Esse chamado, que se mantém através do Espírito de

Cristo, agora estendido a todas as pessoas, continua o

mesmo: é um chamado à vida sem um roteiro pré-

estabelecido; não há certezas! Pelo contrário: o que existe é

um caminho apertado, de dúvidas, de incertezas, rumo ao

desconhecido!

É um chamado que nos leva a largarmos tudo o que

vivemos, até então, e a focarmos só e unicamente no Cristo,

no Filho de Deus, no próprio Deus que Se tornou Homem. A

meta, agora, é segui-Lo em cada passo Seu, aprendendo

com Ele e imitando cada olhar, cada toque, cada abraço,

cada acolhimento, cada atitude, cada comunhão, cada

palavra, que Ele faz e diz! Agora, descartamos todas as

fôrmas conhecidas, criadas e impostas pelo homem, que

tentam encaixotar o Espírito!

E sem o “Siga-me” pessoal de Jesus, não adianta

darmos nem um passo em Sua direção!

“Indo eles caminho fora, alguém lhe disse: Seguir-te-

ei para onde quer que fores. Mas Jesus lhe respondeu: As

raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o

Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.

77
A outro disse Jesus: Segue-me! Ele, porém,

respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu pai. Mas

Jesus insistiu: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios

mortos. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus.

Outro lhe disse: Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me

primeiro despedir-me dos de casa. Mas Jesus lhe replicou:

Ninguém que olha para trás, tendo posto a mão no arado, é

apto para o reino de Deus” (Lc 9.57-62).

Essa passagem é a indicação de Jesus sobre a

necessidade do Seu chamado, para sermos Seus discípulos.

Mais do que isto, é uma demonstração da insanidade

humana em tentar segui-Lo, sem que Ele chame, e da

inutilidade do emprego de fôrmas ou leis como

demonstração da capacidade própria de andar em Seu

caminho:

No primeiro caso, a pessoa aborda a Jesus e diz que O

seguirá a qualquer lugar. Imediatamente, Jesus demonstra

que essa pessoa não tem a mínima noção do que está

dizendo: Jesus fala da instabilidade e da incerteza de Seu

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caminho, que é em direção à Cruz, em direção ao sofrimento

e ninguém tem como querer isto pra si mesmo!

Logo depois, é Jesus Quem chama uma pessoa. E a

pessoa aceita o convite! Mas esta, provavelmente por conta

da tradição humana da qual ouviu falar, pensa que precisa,

primeiro, se preparar para seguir a Jesus! Ela acha que

deve, antes de tudo, cumprir a Lei para, então, estar apta a

seguir o Seu caminho. E Jesus diz a ela: “Esqueça a Lei! Seu

compromisso é comigo; seu relacionamento, agora, é direto

comigo; Eu vou falar diretamente com você, vou lhe ensinar

tudo o que você precisa saber, vou lhe mostrar por onde ir e

como agir!”.

“Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles

dias, diz o Senhor: Porei no seu coração as minhas leis e

sobre a sua mente as inscreverei. Portanto, por um lado, se

revoga a anterior ordenança, por causa de sua fraqueza e

inutilidade (pois a lei nunca aperfeiçoou coisa alguma), e,

por outro lado, se introduz esperança superior, pela qual nos

chegamos a Deus” (Hebreus).

Por fim, o terceiro caso, onde a pessoa também diz

que quer seguir a Jesus, sem ser chamada, e demonstra

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uma insanidade ainda maior que a primeira: além de não ter

idéia do que teria pela frente como discípula, ela quer que o

discipulado seja de acordo com a sua vontade, com as suas

imposições, sem estar disposta a abrir mão de sua vida, sua

segurança, suas certezas, e parece sonhar com viagens

maravilhosas, cercadas de conforto, sob a tutela de um guru

que irá providenciar todas as coisas para o seu bem-estar!

E Jesus rejeita isto! Com Sua resposta, Ele diz que

não pode haver nada entre o chamado, o próprio Jesus, e a

obediência, para que haja o discipulado! Não pode haver

condições e nem leis entre Jesus e o discípulo. Se houver,

deixa de ser discipulado, passando a ser um programa de

vida de acordo com a vontade humana! Uma religiosidade!

Discipulado é compromisso única e exclusivamente

com Jesus! Ao “Siga-me” segue-se o “levantou e O seguiu”,

sem ponderações, sem questionamentos, sem condições.

Discipulado é novidade de vida, largando-se o que até então

se viveu! Isto não é uma autossantificação, mas uma

mudança de foco, de prioridades, de meta! Discipulado é

caminhar com Jesus, aprendendo e sendo direcionado por

Seu Espírito!

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Vocês, Discípulos, São o Sal da Terra

“Eu lhes digo que uma Igreja, à qual dirigi todas essas

bem-aventuranças, só pode partir de uma origem: a Cruz do

Calvário! Vocês, discípulos, são bem-aventurados quando,

POR MINHA CAUSA, os injuriarem e perseguirem e,

mentindo, disserem todo mal contra vocês. Regozijem-se e

exultem, porque é grande o seu galardão nos céus; pois

assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vocês.

POR MINHA CAUSA vocês são rejeitados, mas o atingido sou

EU MESMO. As injúrias, as difamações, as perseguições até

à morte, mesmo quando aparentemente gratuitas, são o

motivo das bem-aventuranças e são amostras de sua

comunhão COMIGO.

O mundo os odeia, porque sua voz humilde e mansa é

uma ameaça ao mundo: vocês, discípulos, dão testemunho

da injustiça do mundo, quando suportam a pobreza e o

sofrimento com paciência e em silêncio. Enquanto lhes digo

que são bem-aventurados, o mundo grita „Fora, fora!‟, para

vocês. E esta é a esperança de vocês: que, fora do mundo, o

que os aguarda é o salão celestial, com uma grande ceia

preparada para vocês pelo próprio Deus Pai e Criador, o qual

enxugará todas as suas lágrimas que, naquele momento,

serão de alegria. Lá, suas feridas e seu martírio terão sido

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transfigurados para um novo corpo, já não mais vestido com

pecado e arrependimento, mas com vestes brancas da

Verdadeira Justiça.

No entanto, enquanto esse dia não chega, vocês têm

uma missão na terra: conservá-la! Quando o mundo os

rejeita, traz destruição sobre si mesmo. Mas, POR MEU

AMOR A VOCÊS, o mundo continua existindo. POR MEU

AMOR A TODOS, ainda derramo minha misericórdia, porque

muitos ainda virão através do que vocês demonstram em

suas próprias vidas. E isto acontece porque vocês são o sal

da terra! Vocês não têm o sal, nem têm que ser o sal! Vocês

o são por sua comunhão COMIGO! Vocês não serão o sal da

terra por pregarem a Palavra, mas apresentarão a Palavra

de forma viva em seu cotidiano, por serem o sal! Vocês não

terão o sal por dizerem o Meu Nome, ou por citarem as

escrituras com perfeição, mas são o sal que permeia toda a

terra, que é a sua substância principal, porque foram

atingidos por Meu chamado e se tornaram Meus discípulos!

Mas, para a terra continuar conservada, o sal precisa

continuar sendo sal, precisa manter seu poder de temperar,

de purificar e de conservar. Ele precisa ser incorruptível! Se

ele se tornar insípido, não poderá ser recuperado. Terá que

ser lançado fora! Portanto, ele não pode ficar guardado: tem

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que ser livre! Ele não pode ficar restrito a rituais do homem

para o homem, porque ele é a vinda de Deus para todos os

homens!

E vocês não são, apenas, o poder invisível do sal:

vocês também são o brilho visível da luz! Mais uma vez Eu

lhes digo: vocês não têm que ser luz, nem têm a luz. Vocês

são luz! Sua resposta ao Meu chamado os fez luz! Vocês são

a cidade edificada sobre o monte. Não há como escondê-la!

Lembrem-se: vocês vieram da Cruz! E todos, do mais

simples ao mais famoso, reconhecem que algo muito

extraordinário acontece na Cruz! Para espanto de todos, a

Cruz se torna claramente visível em toda essa escuridão! E

as boas obras de vocês devem ser vistas nessa luz. Não são

vocês que serão vistos, mas as suas boas obras! E as suas

obras são o motivo de serem bem-aventurados: pobreza,

sofrimento, humildade, paciência, mansidão, choro por

causa da injustiça, amor à paz, rejeição, perseguição!

Tomem a minha Cruz! Ela é a luz que brilha e onde suas

obras serão vistas, onde sua renúncia será admirada. E, ao

verem essas boas obras, as pessoas darão glórias a Deus!

Não são vocês, não é a Igreja, que serão glorificados, mas o

nosso Pai que está nos céus! (cfe. Mateus 5 e outros textos

bíblicos).

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Nisto saberão todos que vocês são Meus discípulos: em

amarem-se uns aos outros”.

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Respondendo ao Chamado

Eis-me aqui, Pai!!!

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