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RESUMO: O estudo objetivou analisar a possibilidade jurídica de se afastar a regra do anonimato do doador de
gametas com o intuito de aumentar as chances de sucesso do tratamento de R.A. por pacientes que carecem desta
doação e que os encontram em seu núcleo familiar, evidenciando-se a natureza infralegal da regra que obriga o
referido anonimato. Também é objeto deste trabalho ressaltar o caráter eudemonista presente nas famílias; e, não
menos importante, observar que a R.A não possui legislação específica. Para tanto, foi utilizado como método para
coleta de dados a pesquisa bibliográfica, através de estudo no referencial teórico sobre Biodireito, Princípios da
Dignidade da Pessoa Humana e da Proteção à família, planejamento familiar, R.A. e jurisprudência do TRF. A
partir da análise da decisão proferida pelo TRF 3ª região percebe-se que a regra do anonimato do doador de gametas
deve ser analisada frente ao caso concreto, e pode ser afastada quando esta conduta aumentar a eficácia do
tratamento. Enfim, o estudo realizado confirmou que o planejamento familiar é direito de todos, a garantia da
realização do sonho de ter filhos é também garantia da dignidade da família - base da nossa sociedade e que recebe
especial proteção do Estado.
ABSTRACT: The objective of the study is to analyze the possibility to legally separate anonymous from their
donor of gametes with intention to increase chance of success of Assisted Reproduction treatment by patients
lacking donation of gametes and that have it available in their nuclear family. Being able to demonstrate that the
norm that obligates the referred anonymous and infralegal. Also, the objective of this work is to highlight the
eudaemonist character present in families; and, not less important, observe that the Assisted Reproduction does
not contain specific legislation. For this purpose, the method used for collection of data the biological research,
through study on the theoretical reference through biolaw, Dignity Principals of Human Being and Family
Protection, family planning, Assisted Reproduction and jurisprudence, of TRF. Based on analysis of decision
given by TRF 3ªregião, it’s possible to notice that the rule of the anonymous of the donor of gametes must be
analyzed in front of concrete case and can be separated when this behavior increases the efficiency of the treatment.
Furthermore, the study confirmed that the family planning is the right of everyone, the guaranty of the realization
of the dream to have children and also guaranty of the family dignity – based on our society to receive special
protection from the State.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS: Conselho Federal de Medicina (CFM), Constituição Federal (CF/88),
Fertilização in Vitro (FIV), Reprodução Assistida (R.A), Tribunal Regional Federal (TRF)
SUMÁRIO: 1 Introdução; 2 A nova concepção de família e os Princípios Constitucionais; 2.1. Dignidade da
Pessoa Humana; 2.2 Proteção à Família; 2.2.1 Família Eudemonista; 3 Biodireito e a reprodução assistida; 4.
Reprodução Assistida; 4.1. Ausência de Lei Específica da Reprodução Assistida; 4.2. Doação de óvulos; 5. Caso
concreto – apelação cível 0007052-98.2013.4.03.6102/SP; 6. Considerações Finais; Referências.
1 INTRODUÇÃO
O matrimônio não é mais a única forma de conferir legitimidade à família, também hoje
são reconhecidos laços familiares com base no afeto e solidariedade mútua e houve
reestruturação nos núcleos familiares. Assim, reveste-se de particular importância a análise que
Groeninga faz quando afirma que "a mudança de paradigma que se afigura no Direito de
Família encontra nos direitos de personalidade a realização material do princípio da Dignidade
da Pessoa Humana" (GROENINGA, 2005). E sob essa ótima, ganha particular relevância o
conceito de família eudemonista.
Pode-se dizer que a concepção de família mudou significativamente. Neste contexto,
para Alves (2007) ao longo da história, e de diferentes maneiras, o legislador determinou os
parâmetros que definiam o que deveria ser uma família. Fica claro que as interações humanas
mudaram, e o direito sofreu várias alterações para se adequar a todas essas mudanças
paradigmáticas da sociedade. O mais preocupante, contudo, é constatar a influência que os
Princípios constitucionais de Dignidade da Pessoa Humana e Proteção à Família exercem sobre
essas mudanças paradigmáticas.
Tanto os particulares, quanto o próprio Estado, devem pautar as suas ações pelo respeito
à condição humana. Nesse sentido, a Dignidade da Pessoa Humana permite uma existência
digna, honrada. Conforme explicado acima, cabe ao Estado garantir ao homem, pelo fato
exclusivo de se tratar de um ser humano, o acesso à dignidade, saúde, família e tudo o mais
necessário que assegure a sua felicidade. Evidentemente, a aplicação deve ser utilizada para
harmonizar os anseios da alma e as necessidades do corpo com uma existência plena.
Conforme verificado por Moreira (2014), o conceito de família tem sofrido várias
mudanças, especialmente nestas duas últimas décadas. Trata-se inegavelmente de uma
evolução paradigmática da família, seria um erro, porém, dissociar essa evolução dos preceitos
constitucionais de Dignidade da Pessoa Humana e da Proteção à Família e suas novas
conceituações. Sendo a família a base da sociedade e uma vez que ela recebe especial proteção
do Estado, o autor deixa claro que não há que se falar em Dignidade da Pessoa Humana sem
que esta proteção seja realmente efetiva.
Pode-se dizer que os autores supracitados coadunam da opinião de que a família sofreu
mudanças profundas nas últimas décadas, mudando seu paradigma "da família
matrimonializada e legitimada apenas pelo casamento, aos laços decorrentes da convivência
entre pessoas pelo afeto e solidariedade mútua, também conhecida como família eudemonista"
(MOREIRA, 2014, p. 219). Neste contexto, considerando Alves, também o autor deixa claro
que as mudanças no contexto de família percebidas na sociedade precisam ser observadas pelo
Direito sob a égide dos Princípios da Dignidade da Pessoa Humana e da Proteção à Família.
Quando a pessoa se sente restringida ou negligenciada em determinada situação que fere
seu sentimento de dignidade é competência do Estado mobilizar-se em prol de suprimir, ou no
mínimo amenizar, o sofrimento dessa pessoa. Conforme explicado acima, cita-se, por exemplo,
situação na qual a família que não pode ter filhos de maneira ordinária, e que entende que a
felicidade depende da existência destas crianças no seio família, cabe ao Estado oferecer
possibilidades para que estas pessoas alcancem a plenitude de seu planejamento familiar, seja
proporcionando a possibilidade de adoção, seja possibilitando tratamento especializado em
Hospitais Públicos, como ocorre no Hospital das Clínicas, em Minas Gerais.
A família só era constituída de um único modo, qual seja, por meio do casamento,
considerado pelo legislador como o meio ideal para tal fim, tanto que o vínculo
matrimonial era indissolúvel. Todo esse cenário vem a ruir com o princípio
constitucional da Dignidade da Pessoa Humana. Com ele, as relações familiares
tornam-se muito mais verdadeiras, porque são construídas (e não impostas) por quem
integra o instituto (e não por um terceiro, um elemento estranho como o legislador).
O ser, finalmente, supera o ter, fazendo com que o afeto se torne o elemento irradiador
da convivência familiar (...). Se a Constituição consagrou a Dignidade da Pessoa
Humana como superprincípio, assim o fez por ter encontrado na família pós-moderna
um forte (talvez o principal) meio de sua propagação (ALVES, 2007, p. 79).
Como se pode verificar, para Alves a família permite que as pessoas tenham afeto,
dignidade, respeito e, com base no amor e na solidariedade, os membros da família podem se
ajudar a alcançar seus sonhos e a felicidade. Família é o primeiro laço social das pessoas, local
onde são aprendidas as primeiras e mais importantes interações de afeto, respeito. Dessa forma
o autor deixa claro que não há possibilidade de propagação da família sem que seja garantida à
mesma a sua dignidade.
Conforme explicado acima o que importa, portanto, é compreender que somente com a
observância do princípio da Dignidade da Pessoa Humana e da proteção à família, é possível
garantir às pessoas que elas terão o mínimo necessário alcançarem a realização dos anseios do
corpo e da alma. Essa, porém, é uma tarefa que requer a intervenção do Estado garantidor do
cumprimento desses imprescindíveis princípios constitucionais acima de qualquer outra norma
infraconstitucional. Logo, é indiscutível o fato que o ser humano tem o direito e o dever de ser
tratado como ser humano, sendo-lhe resguardado a dignidade e uma vida feliz e plena através
da realização de seus sonhos mais essenciais.
A Constituição Federal ofereceu proteção à família em seu art. 226, caput: “a família,
base da sociedade, tem especial proteção do Estado”; estendeu essa proteção à união
estável, reconhecendo-a como entidade familiar (§ 3º), e à família monoparental (§
4º), produzindo uma profunda revolução social ao emprestar juridicidade a novas
formas de vínculos não sacramentados pelo matrimônio, quebrando a hegemonia
deste para a formação da família (MALUF & MALUF, 2015, p. 41)
mosaico ou plural (que decorre da união de pessoas que possuem filhos de uniões
anteriores); família anaparental (grupo de pessoas, parentes ou não, que se unem com
propósito de vida e comprometimento mútuo, como irmãos que moram juntos),
família eudemonista (em que o único propósito é buscar a felicidade,
independentemente dos padrões formais), família isoparental (formada por uma única
pessoa, neste caso a inclusão dentro do termo “família” se dá porque esta modalidade
também gera efeitos jurídicos, como a constituição de bem de família) e a família
homoafetiva (formada por pessoas do mesmo sexo). (PADILHA, 2014, p. n.p).
Por fim, podemos chegar à conclusão de que enquanto não for considerado o Princípio
da Proteção à Família como inafastável que é, uma vez que família é a base da nossa sociedade,
é indiscutível que somente dele é possível que atinja a plenitude de todas as concepções de
família. Somente através da combinação da observância deste Princípio tão fundamental com
supra Princípio da Dignidade da Pessoa Humana é possível cogitar-se a realização dos anseios
da alma e de felicidade da família. Nesse sentido, é possível afirmar se o Princípio da Proteção
à família chave mestra para o Estado possibilitar a tão almejada dignidade conferida às pessoas.
Podemos conceituar o eudemonismo como sendo a busca pela felicidade, seja ela
individual ou coletiva. É fundamental entender que a afetividade e a felicidade tornaram-se o
centro das relações familiares. A família eudemonista é "um verdadeiro instrumento para a
satisfação afetiva das pessoas. [...] Mesmo sem regulação expressa, a sociedade adotou o
vínculo afetivo como relevante no trato relativo aos relacionamentos familiais" (CALDERÓN,
2017, p. 7). Diante do exposto a afetividade e a busca pela felicidade acabaram tomando
proporções que as tornaram merecedoras de especial atenção de todos os setores da sociedade,
em especial os poderes legislativo e judiciário.
Ainda de acordo com Calderón (2017), a família do novo milênio sofreu profundas
alterações em sua conceituação. Trata-se inegavelmente de uma mudança de paradigmas que
considera laços biológicos, jurídicos, afetivos, e quaisquer outros que permitam que os
indivíduos envolvidos se reconheçam com família. Seria um erro, porém, desconsiderar a
importância desses vínculos afim de se privilegiar normas limitadoras e que desconsideram a
Dignidade da Pessoa Humana e a especial Proteção que o Estado oferece à família.
Pode-se dizer que a sociedade tem fomentado a eudemonia nas diversas relações que
têm se constituído. Conforme explicado acima o autor a afetividade trouxe inovações para a
base da sociedade e cabe aos demais setores se adequarem às novas demandas e não o
contrário. Assim, reveste-se de particular importância a família eudemonista, que sob essa nova
perspectiva, ganha particular relevância uma vez que preconiza a busca pela felicidade através
do amor e do cuidado recíproco.
Podemos conceituar o Biodireito como sendo "um ramo autônomo do direito que cuida
de normatizar juridicamente os avanços da biotecnologia e pesquisas científicas adequando-os
a novos paradigmas sociais, científicas e familiares" (GUERRA, 2015, p. 92). Então, é preciso
perceber que, mesmo havendo regras específicas para o caso, a aplicação dos princípios
constitucionais é primordial, em sobreposição às regras que versem em sentido contrário à
observância dos mesmos. Certamente se trata de assegurar que a Constituição seja aplicada
diretamente, como alicerce necessário para regulamentar os avanços e possibilidades
resultantes de pesquisas biológicas que atingem diretamente o cotidiano da sociedade.
Como bem nos Leite (2001) pode-se dizer que Biodireito possibilita normatizar
pesquisas científicas que trazem impactos diretos no cotidiano das pessoas, os ditos Direitos de
Quarta Geração, tais como manipulação do patrimônio genético, transplante de órgãos,
reprodução assistida, dentre outros. Neste contexto, fica claro que o legislador deve, em algum
momento, ocupar-se de regulamentar tão importante ramo do direito. O mais preocupante,
contudo, é constatar que apesar de tal legislação específica ainda não ter sido regulamentada,
os avanços em biotecnologia continuam e os seus impactos na sociedade também. Não é
exagero afirmar que, especialmente no tocante à reprodução assistida, as normas efetivamente
aplicadas aos diferentes casos concretos concentram-se em Resoluções do Conselho Federal de
Medicina. Assim, preocupa o fato de que, diante da omissão do legislador, outros setores da
sociedade acabem por criar normas que não observam com tanta eficiência as disposições dos
princípios constitucionais.
Conforme explicado acima, o Biodireito é um ramo autônomo do direito que carece de
regulamentação específica para algumas das suas áreas de atuação, como a reprodução assistida,
por exemplo. O mais preocupante, contudo, é constatar que apesar de tal legislação específica
ainda não ter sido regulamentada os avanços em biotecnologia continuam e os seus impactos
na sociedade também. Não é exagero afirmar que, especialmente no tocante à reprodução
assistida, as normas efetivamente aplicadas aos diferentes casos concretos concentram-se em
Resoluções do Conselho Federal de Medicina. Assim, preocupa o fato de que a omissão do
legislador, outros setores da sociedade acabem por criar normas que não observam com tanta
eficiência as disposições dos princípios constitucionais.
Pode-se dizer que o Biodireito tem a função de regulamentar de maneira específica os
avanços na área de biotecnologia. Neste contexto, para Hatem (2002) fica claro que o Biodireito
é resultado da necessidade do legislador em firmar na lei os alicerces necessários para
regulamentar os avanços e possibilidades resultantes de pesquisas biológicas que atingem
diretamente o cotidiano da sociedade. A autora deixa claro essa ligação entre o Biodireito e a
sociedade, e o mais preocupante, contudo, é constatar que na omissão do legislador outros
setores da sociedade têm se ocupado de exercer essa legislação.
Ambos os autores corroboram da opinião que o Biodireito é um ramo do direito que
deve regulamentar os avanços da tecnologia no tocante à biologia e seus impactos na sociedade.
Pela mesma vertente também segue o ilustre Guerra quando afirma que "Certo que, um ramo
autônomo do Direito é inegável: o Biodireito [...] com propósitos e princípios específicos,
tangentes às modernas intervenções científicas e tecnológicas modernas sobre a vida"
(GUERRA, 2015, p. 92). O autor deixa claro que as pesquisas biológicas e médicas são
desenvolvidas e causarão impactos na sociedade sendo de responsabilidade do Biodireito
normatizar esses impactos de forma positiva, ou ao menos minorando os danos. Cita-se, como
exemplo, a ausência de leis específicas que regulamentem a Reprodução Assistida - área de
estudo do Biodireito. Ocorrem, de tempos em tempos, profundas modificações nas Resoluções
do Conselho Federal de Medicina que trata do tema, devido especialmente à falta de lei
específica.
Verifica-se que o Biodireito é aplicado a criação e aplicação de normas e princípios que
regulamentam as pesquisas biotecnológicas, avanços da biologia e da medicina. Evidentemente
a aplicação pode ser utilizada para harmonizar, através de regulamentação própria, a
convivência das pessoas consigo mesmas, com o próximo e com a todas as novas e
imensuráveis possibilidades advindas desses avanços. É, por exemplo, a partir desse raciocínio
que se percebe a importância, para Santos (2001) da identificação dos bens jurídicos dignos de
proteção, porque uma vez identificados é preciso comprovar quais são as condutas que podem
lesioná-los de forma grave ou colocá-los em perigo. A autora deixa claro que não basta a norma
em abstrato afirmar que determinada conduta é passível de causar dano, é faz-se necessário a
análise de tal conduta no caso concreto. Acreditamos que, na carência de legislação específica,
faz obrigatória essa análise sob a égide especialmente dos princípios constitucionais.
Como se pode verificar nessa citação, a autora deixa claro que o Biodireito é aplicado a
criação e aplicação de normas e princípios que regulamentam as pesquisas biotecnológicas,
avanços da biologia e da medicina. Evidentemente a aplicação pode ser utilizada para
harmonizar, a convivência entre as pessoas as novas e imensuráveis possibilidades advindas
desses avanços. Logo, é importante compreender que sem regulamentação específica, esse
ramo do Direito fica muito exposto à toda sorte de interpretação de vários setores da sociedade,
o que pode trazer à sociedade grande insegurança jurídica.
Por fim, podemos chegar à conclusão de que o Biodireito é um ramo autônomo do
Direito. Logo, é indiscutível carece da observância do legislador no sentido de criar leis
específicas que regulamentem as relações que decorrem dos avanços da biotecnologia e áreas
conexas. No entanto, até que tais leis estejam devidamente elaboradas e vigentes é inegável a
aplicação dos Princípios Constitucionais ao caso concreto afim de preencher essa lacuna e
findar com a insegurança jurídica causada pela mesma. Nesse sentido, é possível relativizar
normas infraconstitucionais, não são sequer leis, afim de se garantir a Dignidade da Pessoa
Humana e a Proteção à família.
4 REPRODUÇÃO ASSISTIDA
O avanço da biotecnologia mostra que pessoas ou casais inférteis que outrora jamais
poderiam sonhar em ter filhos naturais, hoje podem não apenas sonhar como também realizar
este sonho por meio da Reprodução Assistida. Segundo Hatem (2002) a Reprodução Humana
Medicamente Assistida, ou simplesmente Reprodução Assistida (RA) é conjunto de técnicas
colocadas à disposição das pessoas a fim de garantir que possam ter filhos, uma vez que pelo
método ordinário - ato sexual - por algum motivo essas famílias encontram impedimentos.
Diversas são as técnicas de RA, desde algumas bem simples a outras bastante complexas,
podem ser realizadas utilizando-se o material genético do próprio casal, ou de terceiros. Apesar
de não haver lei específica regulamentando a matéria, acreditamos que os princípios
constitucionais são suficientes para que o operador do Direito possa dirimir os
desentendimentos neste campo, e garantir que casais inférteis tenham filhos naturais.
De acordo com Grossi (2002), a Reprodução Assistida é uma forma terapêutica de
garantir que famílias, ou pessoas, inférteis possam ter filhos. Trata-se inegavelmente de um
grande avanço tecnológico, seria um erro, porém, atribuir apenas aos profissionais dessa área a
responsabilidade de estabelecer normas regulamentadoras dessas práticas, devendo o legislador
criar leis específicas para este ramo de atividade.
Conforme explicado acima, é inegável que os avanços no campo da Reprodução
Assistida asseguram às famílias que demandam esse tipo de tratamento a possibilidade de
realizarem suas expectativas. No entanto, até o presente momento, observamos a omissão do
legislador em criar leis específicas que regulamente essa prática. Assim, reveste-se de particular
importância a atuação do legislador em criar legislação específica em benefício e proteção,
tanto das pessoas que utilizarão esses recursos, quanto dos nascidos através dos métodos
possíveis de serem utilizados. Analisando-se sob esse prisma, ganha particular relevância os
Princípios Constitucionais da Dignidade da Pessoa Humana e da Proteção à Família que o poder
judiciário, no momento de aplicar ao caso concreto deve observar.
Para Guerra (2015), a Reprodução Assistida facilita tratar pessoas com problemas de
infertilidade. Existem diversas formas diferentes de procedimentos, que variam de acordo com
a especificidade de cada pessoa ou casal, cabendo ao médico detectar o problema e orientar os
interessados o que melhor se adéqua às necessidades dos mesmos. O autor deixa claro que esses
procedimentos não carecem nova legislação regulamentadora, "diante das novas realidades
modernas, as disposições da década de 1980 não podem permanecer estagnadas num
entendimento arraigado à mera codificação. "Os mecanismos de resposta precisam ser
intensificados, à luz de novos e pertinentes princípios, capazes de lidar com os novos
problemas". (GUERRA, 2015, p. 95).
O autor deixa claro a importância de se garantir às o acesso aos diferentes tipos de
tratamentos de Reprodução Assistida, de acordo com a demanda do casal, e que a omissão do
legislador na matéria específica não seja motivo para afastar esse direito. Diante disso, vale
considerar que a divergência de opiniões é clara e torna evidente que, apesar de discordarem
quanto à necessidade de legislação específica, ambos coadunam da ideia de que os Princípios
Constitucionais já existentes são suficientes para dirimir qualquer contenda referente ao
assunto. Também coaduna dessa opinião Santos (2002, p. 168) quando afirma que "O processo
de discussão das leis sugere ao legislador a conveniência de consagrar o princípio fundamental
constitucional da dignidade humana".
A Reprodução Assistida é um serviço de saúde que permite a geração de nova vida e
realização de sonhos através da transposição de limitações biológicas. A melhor maneira de
compreender esse processo é compreender que uma vez diagnosticada pelo profissional
competente a razão pela qual a pessoa ou o casal não é capaz de gerar descendentes, cabe a esse
médico apresentar qual a opção de tratamento melhor os atenderia. Conforme explicado acima,
existem diferentes procedimentos, para diferentes demandas. É pertinente citar, por exemplo,
possível situação em que uma mulher não produza gametas que possibilitem a fecundação.
Neste caso, faz-se necessário a ovodoação, seguida de FIV e posterior transferência para o útero
que gestará a criança, que pode ser o útero materno ou em substituição caso ela não possa gestar
a criança.
A infertilidade pode ser um dos fatores de preocupação de uma união familiar,
agravando aspectos relacionados à convivência, autoestima, frustração de desejos
entre outros. Pode ser entendida, para a mulher e homem de maneiras distintas, sendo
a incapacidade de engravidar e gerar prole, para aquelas; e, para os homens, a
incapacidade ou dificuldade de engravidar uma mulher. [...]. Diversas são as técnicas
de reprodução assistida, visando tratar os problemas de infertilidade, tanto masculina,
quanto feminina: uso de hormônios ou substâncias estimulantes; a inseminação
(artificial); inseminação intrauterina (aposição de esperma concentrado e previamente
analisado dentro da cavidade uterina, contornando o cérvix, perto do momento da
ovulação). Com destaque, dadas as finalidades do presente trabalho, a Fertilização in
Vitro (FIV), adotada, especialmente, quando há problemas tubais graves na mulher.
(GUERRA, 2015, p. 124).
O autor deixa claro os impactos que a impossibilidade de ter filhos pode trazer a um
casal, as frustrações que podem levar inclusive à perda de interesse um pelo outro. Nesse
sentido, consideramos a Reprodução Assistida como garantidora do direito ao planejamento
familiar, à família propriamente dita e consequentemente à Dignidade da Pessoa Humana.
Evidentemente o tratamento, dentre todos os existentes, deve ser o que atenderá às pessoas ou
casais social ou juridicamente estabelecidos, e que não conseguem, pelas vias ordinárias,
gerarem descendentes.
Por fim, podemos chegar à conclusão de que a limitação biológica não será impedimento
para que casais realizem o sonho da parentalidade. Que mesmo casos específicos que careçam
de técnicas complexas, como bem nos exemplifica Guerra (2015, p. 125), "observa que em caso
de FIV, a criação do embrião é feita fora do útero, geralmente, por uma técnica de injeção
intracitoplasmática do espermatozoide no óvulo, para posterior colocação de alguns desses
embriões no ventre materno" podem ser resolvidas. Logo, é importante compreender que os
avanços em pesquisas relacionadas especificamente da RA, representaram e têm representado
esperança ao sonho da maternidade e da paternidade. E garantido a muitas pessoas o direito de
planejarem e efetivamente construírem a família que desejam, apesar das restrições que seu
próprio corpo lhe impõe. Nesse sentido, espera-se, que o operador do Direito possa se ater aos
comandos dos princípios e que julgue os casos concretos no sentido de garantir a dignidade das
pessoas, a proteção à família e o direito ao planejamento familiar que o Estado se propôs a
garantir.
Não é possível perder de vista, entretanto, que o importante, é que os casais que careçam
de doações de gametas possam ser atendidos.
Considerando os espermatozoides, esse atendimento é razoavelmente simples. Em cada
ejaculado são liberados aproximadamente 300 milhões de espermatozoides em 5ml de sêmen,
sendo que a coleta feita por um simples ato de masturbação.
Por outro lado, a coleta de óvulos para doação envolve alta complexidade. A mulher,
normalmente, libera um óvulo a cada 28 dias. Uma vez expelido do ovário, o óvulo fica no
terço distal da tuba uterina onde permanecerá até se degenerar ou ser fecundado. Para a mulher
produzir quantidade significativamente maior de óvulos, é necessário que seja submetida a
estimulação hormonal para tratamento de RA. Nesta situação, é possível que ela produza mais
óvulos do que o necessário para sua demanda, podendo optar por doar os excedentes. Neste
contexto, infelizmente, um casal que dependa da doação de óvulos para a constituição de sua
família poderá ter que aguardar por anos até que consiga ter acesso a eles. Esta espera, por
óbvio, pode ocasionar inclusive o insucesso do tratamento, em virtude do avanço da idade da
paciente.
Diante deste contexto, não se mostra razoável impedir a doação pelo fato de haver uma
regra do Conselho Federal de Medicina determinando o anonimato. O direito de acesso à
reprodução assistida como modo de promover a Dignidade da Pessoa Humana não é absoluto,
mas eventuais restrições devem ter fundamento sólido. Podendo a família buscar óvulos em
parentes próximos e que aceitem ajudá-la resta claro que não deve o operador do Direito ater-
se ao anonimato para impedir a concessão.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALVES, L. B. M. Fim da Culpa na Separação Judicial. Belo Horizonte: Del Rey, 2007.
Disponível em
<https://books.google.com.br/books/about/Fim_da_Culpa_na_Separa%C3%A7%C3%A3o_J
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Consultado em 14/04/2018.
CHASSOT, A. I. Para Que(m) é útil o ensino. 2ª ed. Canoas: ULBRA, 2004. Disponível em
<https://books.google.com.br/books?id=_OfjWw0TqWgC&pg=PA75&dq=para+que(m)+%C
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15/04/2018.
_______________________________________
1. Licenciada em Ciência Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais, Bacharelanda do Curso de
Direito do Centro Universitário Newton Paiva, Mestranda no Mestrado Profissional no Ensino de Biologia na
UFMG, atualmente é professora de Biologia da Rede Estadual de Minas Gerais.
2. Graduação em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, especialização em Direito Civil pelo IEC -
PUC/Minas, Mestre em Direito Privado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atualmente é
professor titular do Centro Universitário de Sete Lagoas - Fundação Educacional Monsenhor Messias e do Curso
de Direito Centro Universitário Newton Paiva.