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Conferência IADIS Ibero-Americana WWW/Internet 2007

PORTAIS WEB: ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL

António Jorge Gonçalves de Gouveia


Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Vila Real

Paula Cristina Oliveira


Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Vila Real

João Eduardo Quintela Varajão


Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Vila Real

RESUMO
Os conceitos relativos aos Portais Web, apesar destes serem hoje instrumentos fundamentais para a organização e
pesquisa de informação na WWW, ainda não são totalmente consensuais. Vários autores, ao longo dos últimos anos,
foram apresentando várias definições e classificações para Portais Web, o que resultou numa grande diversidade de
perspectivas e em alguma confusão conceptual. Procurando contribuir para a clarificação de conceitos, neste artigo são
abordados e discutidos diversos aspectos fundamentais, através da apresentação e análise de várias definições e distinções
mais comummente aceites no que concerne a Portais Web.

PALAVRAS-CHAVE
portal, transaccional, informativo, privado, público, vertical, horizontal.

1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a Internet e, muito particularmente, a World Wide Web (WWW), tem-se expandido
continuamente, em termos da tecnologia utilizada e em termos de dimensão, tornando-se um meio essencial
para a realização de negócios. Deste crescimento, resultaram vários instrumentos de pesquisa e organização
da informação, no contexto dos quais os Portais Web têm particular destaque.
O rápido crescimento da WWW e a importância reconhecida aos Portais Web, levou a em poucos anos se
verificasse o aparecimento de inúmeros portais, muitas vezes com características significativamente
diferentes entre si. Consequentemente, diversos autores propuseram definições distintas, muitas vezes para o
mesmo objecto de interesse.
Hoje a terminologia ainda não está consolidada e os termos Portal ou Portal web ainda não estão definidos
de uma forma clara (Zirpins et al., 2001). Sendo uma palavra que surgiu nos últimos anos, foi usada com
grande liberdade semântica para definir uma gama muito abrangente de tipos de websites.
Segundo o Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora (Costa and Melo, 1995), um portal é a
“porta principal de um edifício; portada; átrio”. Um Portal web será então, e por analogia, a porta principal
para um conjunto de recursos e serviços na Internet. A webopedia (Webopedia, 2006) define exactamente um
portal web como sendo “um website que oferece um conjunto de recursos e serviços, tais como e-mail,
fóruns, motores de pesquisa e compras on-line”. De uma maneira simples, podemos dizer que os portais
Internet fornecem um acesso versátil, configurável e personalizado a informação, baseado no interesse e
estatísticas de preferências de cada indivíduo (Maltz, 2005). Um portal Internet é uma solução tecnológica
aplicada a determinadas necessidades funcionais existentes nas organizações ou em sectores de actividade. A

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informação nos portais web aparece, na maioria das vezes, sob a forma de hiper-ligações e canais
relacionados a áreas de interesse, aplicações, eventos, fóruns de discussão, pesquisa, entre outros. Sendo um
termo relativamente recente, traz alguns problemas de definição, dado que deixa diversas questões em aberto
(Katz, 2000). Não obstante, há um conjunto de características que podem ser identificadas e que todos os
portais têm que reunir de modo a poderem ser considerados como tal. Aspectos, como o público-alvo e os
serviços oferecidos, ajudam a definir diversas categorias de portais.
Neste artigo são abordados diversos conceitos de portais, fazendo-se a distinção entre portais
transaccionais e portais informativos, portais privados e portais públicos e, finalmente, portais horizontais e
portais verticais.

2. CLASSIFICAÇÃO DOS PORTAIS WEB


O termo Portal é muito abrangente e pode abarcar desde o simples catálogo on-line até a soluções complexas
de intranet. Contudo, uma característica comum é o seu papel de ponto de partida para algo, oferecendo uma
entrada para a utilização de serviços na Internet (Zirpins et al., 2001).
Os conceitos, como é natural, vão evoluindo conforme a evolução da sociedade e, neste caso, com a
evolução tecnológica e a evolução dos serviços possíveis de disponibilizar. A primeira classificação
apareceu, tendo em atenção os interesses dos utilizadores e os serviços oferecidos (Schumacher and
Schwickert, 1999). Em 2001, tendo em atenção que a maioria dos portais estava centrado no consumidor,
Christian Zirpins classificava os portais em duas classes distintas: portais verticais e portais horizontais
(Zirpins et al., 2001). Este autor referia que dentro dos portais verticais (vortals), portais dedicados a
comunidades ou domínios específicos, existem vários tipos de portais. Os mais comuns são: EIP, Enterprise
Information Portals, também conhecidos como “Corporate Portals” e funcionam como entrada na Internet
tanto para clientes como empregados de uma empresa. Outra subclasse dos portais verticais referida por
Zirpins é a dos Portais Intranet. Este tipo de portal reúne um conjunto de aplicações que visam servir todas as
unidades funcionais de negócios de uma empresa. Por último, este autor refere o recente aparecimento dos
chamados portais industriais ou portais B2B (business-to-business), que proporcionam um ambiente virtual
para trocas de informação e, talvez mais importante, um ambiente privilegiado que favoreça as trocas
comerciais.
Steinbrenner, também em 2001, defendia que os portais deveriam ser divididos em três classes distintas:
portais públicos, que reuniriam informações e serviços de interesse geral, portais verticais, focalizados numa
industria ou comunidade com interesses específicos e portais empresariais, orientados para uma só
organização, como por exemplo, uma universidade (Steinbrenner, 2001).
Também Strauss, em 2002, referia ser útil dividir os portais em dois grupos: portais horizontais, portais
do consumidor, Hortals ou HEPs (Horizontal Enterprise Portals, também chamados de mega portais), e os
portais verticais, Vortals ou VEPs (Vertical Enterprise Portals) (Strauss, 2002).
O aparecimento de páginas dinâmicas, a utilização de bases de dados, a facilidade no acesso à tecnologia,
entre outros, veio dar uma nova dimensão ao conceito de portal. Deste modo, em 2003, Clarke e Flaherty
acrescentam duas novas dimensões a esta classificação: para além da abrangência de conteúdos (horizontal
e/ou vertical), consideraram também o objectivo do portal (transacção e/ou informação) e o leque de
utilizadores a que se destina (publico e/ou privado). Todos os portais apresentam características de cada uma
destas dimensões em variados graus (Clarke and Flaherty, 2003). É neste modelo que nos apoiamos para
desenvolver os diferentes conceitos de Portal.

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Figura 1. Características dos portais web segundo três dimensões. Fonte: (Clarke and Flaherty, 2003).
Portais Transaccionais vs Portais Informativos
Os portais podem ser ferramentas dinâmicas de divulgação de informação e/ou de transacções de várias
naturezas. O objectivo de um portal de transacções é proporcionar uma plataforma que possibilite a venda de
produtos e serviços on-line (Clarke and Flaherty, 2003). Estes portais permitem aos clientes recolher
informação, comparar preços, questionar sobre produtos e, principalmente, comprar on-line. Um exemplo
deste tipo de portal é o Pitman.com (www.pitman.com).

Figura 2. Exemplo de Portal Transaccional - Pitman.com (www.pitman.com, consultado em 19/02/2007).


Os portais informativos são portais fornecedores de conteúdos que disponibilizam uma grande
diversidade de informação aos visitantes.
A chave para o sucesso deste tipo de portal está no desenvolvimento de conteúdos relevantes que possam
atrair o máximo de visitantes possível e, assim, gerar o máximo de receitas. O objectivo é oferecer, ao
utilizador, acesso fácil a informação, descrita como sendo a mais relevante. Os portais informativos devem
fornecer este tipo de informação de uma forma superior àquela que seria proporcionada pelos motores de
pesquisa tradicionais (Clarke and Flaherty, 2003).
Muitas empresas adoptaram a ideia dos portais informativos através do uso de EIPs (Enterprise
Information Portal). Os portais empresariais proporcionam acesso a aplicações de software e informação da
empresa através de um browser. Este tipo de portais está disponível para empregados da empresa assim
como, em certas situações, aos seus clientes e fornecedores. O rendimento do investimento neste tipo de
estruturas é dado pelo aumento de produtividade.

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Figura 3. Exemplo de Portal Informativo - FoodService.com (www.foodservice.com, consultado em 19/02/2007).


Portais Privados vs Portais Públicos
Os portais também podem ser classificados como públicos ou privados, dependendo do nível de acesso
proporcionado pelo site.

Figura 4. Classificação por níveis de acesso.


Um Portal Público está disponível para qualquer utilizador da Internet e não tem restrições de acesso. Um
exemplo de portal público é o AutoPortal (www.autoportal.iol.pt). Este portal dedica-se ao sector automóvel
e fornece todas as informações sobre o mercado de carros novos e usados, desporto, ensaios e testes,
comparativo de preços, entre outros.

Figura 5. Exemplo de portal público: AutoPortal (www.autoportal.iol.pt, consultado em 19/02/2007).


Ao contrário dos portais públicos, os portais privados são frequentemente de acesso restrito a um grupo
de utilizadores dentro de uma organização (i.e. uma intranet). Este tipo de portal também pode ser restrito a

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grupos de utilizadores externos às empresas, tais como distribuidores ou outro tipo de parceiro qualquer,
tornando-se assim uma extranet.

Portais Horizontais vs Portais Verticais


Os portais horizontais são sites públicos que tentam fornecer aos seus utilizadores todos os serviços de
que eles necessitam (Strauss, 2002). São exemplo deste tipo de portais o Clix (www.clix.pt), Oninet
(www.oninet.pt) e o AOL (www.aol.com) .
O objectivo deste tipo de portal é fazer com que os utilizadores o adoptem como homepage, ou seja,
como a sua página de entrada na internet, disponibilizando para isso uma gama variada de informação,
serviços e outros recursos. Por norma, nas características deste tipo de portal incluem-se a capacidade de
pesquisa, catálogos de produtos, serviço de mensagens, e-mail, compras on-line e alojamento de páginas
pessoais.
Os portais horizontais não fornecem acesso a conteúdos e serviços que grupos específicos de pessoas
pretendem. Eles dedicam-se a disponibilizar informação, aplicações e outros recursos, através de múltiplas
categorias de utilizadores, procurando atingir todos os membros de uma comunidade (Maltz, 2005).
Os portais verticais, também designados e-Vortals, constituem a segunda categoria básica de portais,
oferecendo conteúdos e serviços vocacionados para um domínio ou comunidade específica. Os e-Vortals
podem estar centrados em comunidades profissionais ou com interesses comuns (Zirpins et al., 2001).

~
Figura 6. xemplo de portal horizontal: América online (www.aol.com, consultado em 19/02/2006).
Segundo um relatório publicado em Janeiro de 2005, os motores de busca cobrem apenas uma parte muito
pequena da web: apenas em cerca de 17% dos casos o utilizador encontra sempre o que procura, utilizando
um motor de busca generalista (Fallows, 2005). Considerando-se essa dificuldade, ou quase impossibilidade,
de se pesquisar na web por palavra-chave com eficácia, observa-se uma nova tendência no que concerne à
elaboração de sites para públicos específicos: um fenómeno de verticalização, ou seja, a construção de sites
com características de portal especializados num assunto ou área de interesse específico. Um modo de reduzir
o tamanho do portal, sem omitir conteúdo relevante, é desenvolver um Vortal - um serviço restrito a um
mercado vertical (o "v" em vortal) - preferencialmente restrito a um mercado atraente aos anunciantes (por
exemplo, sectores empresariais específicos ou áreas de interesse bem definidas). Ao contrário do que
acontece nos motores de busca generalistas, os portais verticais possuem ferramentas de pesquisa que
utilizam estratégias e terminologia adequadas e direccionadas para o mercado visado (Medeiros et al., 2000).
Um e-Vortal é um portal vertical para uma indústria, mercado ou grupo específico na Internet. Vortal,
portal vertical em português, é uma contracção lexical de "vertical portal", e refere-se a um sítio na rede que
agrega conteúdo e serviços de interesse para uma indústria específica e os disponibiliza para os membros
dessa indústria. Ao passo que um portal atrai um grande número de "netizens" (os cidadãos da Internet)
oferecendo uma grande quantidade de conteúdos e ligações (hiper-ligações) para outros locais como o
Yahoo! ou o AOL, os portais verticais têm uma abrangência mais restrita e visam uma indústria específica,
um tema, um local ou uma ideia.

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Figura 7.Tipos de portais verticais. Fonte: (Vortalbuilding, 2005b)


O conceito de portal vertical é baseado na premissa de ligar clientes e fornecedores num ambiente
focalizado.
Este ambiente fornece informações e ferramentas que encorajam os membros registados a manterem-se
dentro das fronteiras do portal vertical. Os Vortals são também vistos como semelhantes a comunidades
business-to-business (b2b) ou comunidades business-to-consumer (b2c) (Vortalbuilding, 2005b).
Empresas e indivíduos que partilham os mesmos interesses podem juntar-se para interagir, colaborar e
transaccionar num mercado digital. Essa necessidade existe para certos sectores como se prova, em Portugal,
com o aparecimento, nos últimos tempos, de portais para indústrias ou áreas específicas. São exemplos: e-
constroi (www.econstroi.com) portal da construção e o e-financas (www.e-financas.gov.pt) – portal das
finanças.

3. CONCLUSÃO
No que concerne a Portais Web, a terminologia ainda não está consolidada. Os termos Portal ou Portal Web,
ainda não estão definidos de uma forma clara. Sendo uma palavra, ou expressão, que surgiu nos últimos anos,
foi usada com grande liberdade semântica para definir uma gama muito abrangente de tipos de websites.
Apesar deste ser um termo recente e de largo espectro, há um conjunto de características comuns nos
portais que podem ser identificadas e que todos os portais têm que reunir para ser considerados como tal.
Procurando contribuir para uma clarificação do termo Portal Web, apresentamos neste artigo diversos
conceitos fundamentais, em conjunto com uma tipologia para a sua classificação em portais
informativos/transaccionais, públicos/privados e horizontais/verticais.

REFERÊNCIAS
CLARKE, I. & FLAHERTY, T. B. (2003) Web-based B2B portals. Industrial Marketing Management, 15-23.
COSTA, J. A. & MELO, A. S. (1995) Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora.
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MALTZ, L. (2005) Portals: A Personal Door to the Information Enterprises. Educause Quarterly.
MEDEIROS, R. S., MUNIZ, J. S. & VARELA, L. B. (2000) Portal, Vortal ou Hortal? IN FLUMINENSE, U. F. (Ed.)
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SCHUMACHER, M. & SCHWICKERT, A. (1999) Web-Portable Stand und Entwicklungstendenzen. Arbeitspapiere,
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STRAUSS (2002) Web Portals and Higher Educations. Tecnologies to Make IT Personal. Educause Quarterly, 32-40.
VORTALBUILDING (2005b) What is a vortal?
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Portals. University of Hamburg, Department of Informatics, Distributed Systems Group (VSYS).

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