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18 de Outubro de 2019

Defensoria pública como função essencial à justiça e o acesso


à justiça no Brasil

Introdução

Com o intuito de retratar um quadro geral sobre a Defensoria Pública como


Função Essencial à Justiça e o Acesso à Justiça no Brasil, esta pesquisa visa
também demonstrar a importância da Lei Complementar nº. 132 de 2009,
que estabelece as normas gerais e a organização da Defensoria Pública da
União, Estados e dos Territórios. Ademais, no mundo acadêmico, salvo
exceções, o tema acesso à justiça aos necessitados não recebe o merecido
destaque no Brasil.

Sem menosprezar o interesse pelas demais áreas de abrangência do Direito,


como ciência, este trabalho tem como objetivo contribuir na discussão deste
assunto, principalmente pela sua importância social.

É sabido que o Acesso Justiça constitui numa exigência ética de uma


sociedade que possui consciência de que todo ser humano tem o direito de
ser respeitado em sua dignidade, ou seja, o acesso à Justiça é um direito de
todos, sem distinções, e reconhecido pelo ordenamento jurídico brasileiro.

Em regra, qualquer pessoa pode postular perante o Poder Judiciário, para


tanto, é necessário contratar um advogado, regularmente inscrito na Ordem
dos Advogados do Brasil, porém o custeio de um processo restringe esse
serviço àqueles que não possuem condições de contratá-lo. A Defensoria
Pública existe justamente para dirimir essas desigualdades.
Prevista pelo artigo 134 da Constituição Federal de 1988, a Defensoria
Pública é uma instituição, mantida pelo Poder Público, que constitui função
essencial à função jurisdicional, que tem como finalidade a prestação de
assistência jurídica às pessoas carentes.

Por esses motivos expostos é que a Defensoria Pública e o Acesso à Justiça


são conexos, em virtude dos propósitos de ambos os institutos. Assim, os
objetivos específicos desse trabalho são: estudar os princípios e regras que
compõem a Constituição da República Federativa da Brasil e que justificam
a existência da Defensoria Pública; estudar os dispositivos constitucionais
que dispõem sobre o Acesso à Justiça; estudar a Defensoria Pública como
instituição, seus aspectos mais relevantes e obstáculos enfrentados.

Como base para orientar o estudo deste trabalho foi utilizado o método
dedutivo. A pesquisa foi desenvolvida mediante a compilação doutrinária,
isto é, mediante a exposição do pensamento de autores que tratam
especificamente sobre o assunto, organizando suas opiniões de maneira
lógica.

1 A defensoria pública no direito

Um Estado organizado constitucionalmente exerce várias funções, dentre


as quais estão, segundo Morais, H. apud Morais, G., (1997, p.7): “garantir o
desenvolvimento pacífico e harmônico da vida social, para que mais
facilmente possa o homem desenvolver as suas faculdades no convívio e
sentir assegurados os direitos da sua personalidade”. Trata-se de uma
função estatal genérica, segundo Fonseca apud Morais G, (1997, p.7).

A palavra jurisdição deriva do latim jurisdictio, e conforme Silva (2002,


p.466) “é usado para designar as atribuições especiais conferidas aos
magistrados, encarregados de administrar a justiça”.

Para Teodoro Jr. (2005, p.34) jurisdição: “é a função do Estado de declarar


e realizar, de forma prática, a vontade da lei diante de uma situação jurídica
controvertida”.1
Teodoro Jr. (2005, p.5 e 6) ensina ainda que cabe ao Estado a função
jurisdicional, pois ele possui uma metodologia própria, que é o processo.
Para regular esse método de composição dos litígios o Estado cria normas
jurídicas que formam o direito processual, também denominado formal ou
instrumental, por servir de forma ou instrumento de atuação da vontade
concreta das leis de direito material ou substancial para solucionar o
conflito de interesses estabelecidos entre as partes.

Deste modo, a finalidade da prestação jurisdicional é pacificadora, ou seja, a


resolução dos conflitos de interesses, mediante provocação das partes,
sempre aplicando a vontade da lei. (GRINOVER, 2003, p.24).

A jurisdição no Brasil é exercida pelo Poder Judiciário, atribuído à União do


Estado Federal brasileiro e organizado pelos artigos 92 a 126 da
Constituição da Republica Federativa do Brasil. (TEODORO JR., 2005, p.1).

Assim, para que a jurisdição seja exercida plenamente é necessária, além


dos pressupostos exigidos para a propositura da ação, a assistência de um
procurador, ou seja, advogado, com habilitação legal, constituídos de
poderes específicos ou amplos, salvo as exceções em que é facultativa a
representação por advogado no Processo do Trabalho (art. 791, §§ 1º e 2º da
Consolidação das Leis do Trabalho) e nos Juizados Especiais, ou de
Pequenas Causas (art. 9º da Lei nº. 9.099/95). (TEODORO JR., 2005,
p.96).

Esse propósito tem, por fim, assegurar os princípios constitucionais do


contraditório e ampla defesa (artigo 5º, inciso LV da CF /88) e o princípio
do acesso à justiça, (artigo. 5º, inciso XXXV da CF de 1988), e demais
princípios constitucionais referentes ao regular andamento processual.
(TEODORO JR., 2005, p.23 e 24).

A advocacia é função essencial à administração da justiça, conforme


disposto no art. 133 da Constituição Federal, e a sua ausência no processo
não é possível sua consumação. (SILVA, 2004, p.580).

A lei que regulamenta o exercício da advocacia é o Estatuto da Advocacia,


Lei nº. 8.906/94, seus deveres estão dispostos no art. 2º, parágrafo único e
incisos do Código de Ética e Disciplina da OAB.
Porém, a realidade social exclui as pessoas hipossuficientes do acesso ao
serviço de um advogado particular, assim, a Justiça Gratuita aos
necessitados é assegurada pela Constituição Federal em seu art. 5º, inciso
LXXIV e ordinariamente, pela Lei nº. 1.060 de 1950, que dispõe sobre a
Assistência Judiciária. (TEODORO JR., 2003, p.93 e 94).

Desta forma, a Defensoria Pública é a instituição mantida pela


Administração Pública que oferece assistência jurídica gratuita, em todos os
graus, aos necessitados, nos termos do art. 5º, LXXIV, como princípio
constitucional fundamental.

2 A defensoria pública no Brasil

2.1 Conceito de defensoria pública

A Constituição da República Federativa no Brasil prevê, no caput do artigo


134, que a Defensoria Pública é “instituição essencial à função jurisdicional
do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os
graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV”.2

Para Morais G. apud Junkes (2006, p.83), a natureza jurídica da Defensoria


Pública é a de um órgão central, independente, composto e obrigatório.

A Defensoria Pública constitui um órgão com atribuições específicas com o


fim de desempenhar as funções estatais através de seus agentes e possui
natureza jurídica de um órgão central, pois sua atuação abrange todo
território da base política, cuja estrutura administrativa é contida.
(JUNKES, 2006, p.83).

É um órgão do tipo independente em relação à posição estatal e sua


organização administrativa e funcional, muito embora ela seja considerada,
por Morais, G., apud Junkes (2006, p.84), como organismo vinculado ao
Executivo. Contudo a EC nº. 45 de 2004, conferiu a autonomia funcional,
administrativa e financeira à Instituição.

A Defensoria Pública é também um órgão composto, já que é formada por


vários centros de atribuição.
Por fim, a Defensoria Pública é um órgão obrigatório em decorrência da sua
imposição constitucional e não da discricionariedade da Administração
Pública. (JUNKES, 2006, p.84).

Para Dinamarco (2002, p.706) as Defensorias Públicas “são organismos


que exercem funções essenciais à justiça e cujos encargos naturais é a
orientação e defesa dos necessitados perante órgãos judiciários de todos os
graus de jurisdição”.

Desta forma, cabe à Defensoria Pública não só a assistência judicial, mas


também a assistência jurídica, como ensina Moreira apud Morais, S. (p.19,
1995),3

2.2 Funções institucionais

A principal função da Defensoria Pública, atribuída pela Constituição


Federal de 1988 pelo caput do artigo 134, é a prestação da assistência
jurídica e integral aos necessitados.

Assim, o artigo 4º da Lei Complementar n 80, alterada pela Lei


Complementar nº. 132 de 2009 enumera as funções institucionais da
Defensora Pública.4

É importante salientar que as funções do art. 4º não são as únicas


atribuídas à Defensoria Pública, podendo cada Estado elaborar outras
funções, através de suas respectivas Constituições e Lei Complementares
estaduais.5

As funções da Defensoria Pública podem ser típicas ou atípicas. Sendo


assim, as funções típicas são as exercidas pela Defensoria ao defender os
direitos dos necessitados. E as atípicas são aquelas cujo exercício
independem da situação financeira dos beneficiados, como por exemplo, o
inciso VI do artigo 4º da Lei Complementar nº. 80. (MORAIS, S.,1995,
p.24)

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 134, consagra ainda uma das
funções, que para Morais, S. (1995, p.24) é a de maior relevância da
Defensoria Pública, ou seja, prover, extrajudicialmente, a conciliação entre
as partes em conflito de interesse, por meio do aconselhamento jurídico,
assim o artigo 585, II do CPC dispõe que o instrumento de transação
referendado, pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública e pelos
advogados dos transatores; constitui título executivo extrajudicial.

Cabe também à Defensoria Pública a propositura da ação penal de iniciativa


privada e a subsidiária da pública, sempre que o Defensor achar necessário
a queixa-crime de modo a preservar a honra da parte hipossuficiente.
(MORAIS, S. 1995, p.25)

Conforme o inciso III do artigo 4º da LONDEP, cabe à Defensoria a


propositura da ação civil. Neste caso deve-se observar que a Defensoria
Pública poderá defender interesses tanto das pessoas naturais quanto os
interesses das pessoas jurídicas, mas somente se comprovarem que estão
em dificuldades econômicas ou se não possuírem finalidades lucrativas.
(MORAIS, S., 1995, p.25).

Outra questão relevante é a propositura da ação civil pública cuja


legitimidade passou a pertencer também à Defensoria Pública, conforme a
Lei nº. 11.448 de 15 de janeiro de 2007, que acrescentou a Instituição como
legítima para propor a ação principal e a ação cautelar, alterando o artigo 5º
da Lei nº. 7.347 de 24 de julho de 1985, que disciplina sobre a ação civil
pública. (GALLIEZ, 2007, p.54). 6

Outra função pertencente à Defensoria Pública é a defesa em ação civil e


penal, assim como a reconvenção, conforme o inciso V do artigo 4º da
LONDEP. No âmbito criminal a atuação da Defensoria é correspondente à
função atípica, tendo em vista que não há vinculação à condição econômica
quando o réu não possui advogado ou quando for revel. Há um prazo para a
constituição de advogado, quando não cabe intervenção da Defensoria
Pública, sob pena de nulidade. (MORAIS, G., 1997, p. 50).

O inciso VI do artigo 4º da LONDEP atribui à função da Defensoria Pública


a atuação como curador especial de incapaz com ou sem representante
legal, trata-se de função atípica da Instituição, ou seja, não é vinculada à
condição econômica do citado por edital ou por hora certa, do incapaz, que
não possua representante legal ou cujos interesses vão de encontro com os
deste, ou do réu preso. (MORAIS, S., 1995, p.28).
É também função institucional da Defensoria Pública a defesa da criança e
do adolescente, de acordo com os arts. 4º ,VII, da LONDEP , 141 e 206 e
seguintes do Estatuto da Criança e do Adolescente, mediante representação
judicial e da participação nos Conselhos Estaduais de Defesa da Criança e
do Adolescente e Conselhos Municipais de Defesa da Criança e do
Adolescente, no plano administrativo. (MORAIS, S. 1995, p.28 e 29).

A oitava atribuição da Defensoria Pública, prevista pelo inciso VIII do artigo


4º da LONDEP é a atuação junto a estabelecimentos penais e penitenciários
(delegacias e presídios), com o escopo de garantir o disposto no artigo 5º.,
LXI, LXII e LXIII da Carta Magna, assim como os direitos de presos já
condenados, previstos na Lei de Execucoes Penais. (MORAIS, S., 1995,
p.29).

Cabe também à Defensoria Pública a concretização da garantia


constitucional da ampla defesa e do contraditório, à luz do artigo 5º, LV, da
Constituição Federal de 1988. (MORAIS, S., 1995, p.30).

A Defensoria também atua junto ao Juizado Especial de Pequenas Causas,


desempenhando a função conciliatória e aconselhamento jurídico,
observando o disposto no inciso X, do artigo 4º da LONDEP. (MORAIS, S.,
1995, p.30).

Saliente-se que o artigo 5º. XXXII da Constituição Federal de 1988


estabelece que cabe ao Estado a defesa do consumidor, portanto a última
atribuição da Defensoria Pública é a defesa os direitos e interesses do
consumidor lesado, não só para disponibilizar a defesa do consumidor
necessitado, como também os direitos coletivos inerentes ao consumo,
conforme o disposto no inciso XI, do artigo 4º da LONDEP e artigo 5º do
Código de Defesa do Consumidor. (JUNKES, 2006. p. 93).

2.3 Estrutura funcional

A Defensoria Pública é composta pela Defensoria Pública da União,


Defensoria Pública do Distrito Federal e Territórios e as Defensorias
Públicas dos Estados e Municípios que, por sua vez são organizadas pela
LONDEP. (JUNKES, 2006, p.89).
De acordo com os artigos 5º, 53 e 98 da LONDEP, a Defensoria Pública
possui a seguinte estrutura básica: órgãos da administração superior,
órgãos de atuação e órgãos de execução. (JUNKES, 2006, p.94).

Os órgãos administrativos superiores são os que representam


respectivamente, o poder de direção, controle e decisão acerca do
funcionamento das Defensorias Públicas organizadas em um determinado
território. Esses órgãos realizam sua função com base nos objetivos da
instituição. (idem).

Os órgãos de administração superior são:

a) a Defensoria Pública-Geral, ou seja, aquela incumbida de gerir, orientar e


representar, judicial ou extrajudicialmente, a Defensoria Pública. É
representada pelo Defensor Público-Geral e sua indicação é feita pelo chefe
do executivo dentre integrantes da carreira, maiores de trinta e cinco anos
de idade (artigos 6º e 8º, 54 e 56, 99 e 100 da LONDEP);

b) a Subdefensoria Pública-Geral, representada pelo Subdefensor Público-


Geral, sendo aquele que substitui o Defensor Público-Geral em suas faltas,
licenças, férias e impedimentos (artigos 9º e 10, 57 e 58, 101 e 102 da
LONDEP);

c) o Conselho Superior da Defensoria Pública, exerce as atividades de


consultivas, normativas e decisórias relativas à atuação e organização da
Defensoria Pública, representada pelo Defensor Público-Geral e pelo
Subdefensor Público-Geral e pelo Corregedor-Geral, que são membros
natos e representantes da categoria mais elevada da carreira.(artigos 9º e
10, 57 e 58, 99 e 101 a 102 da LONDEP);

d) a Corregedoria-Geral da Defensoria Pública, fiscaliza a atividade


funcional e a conduta dos membros e servidores da Instituição,
representada pelo Corregedor-Geral, nomeado pelo Chefe do Executivo
através de uma lista sêxtupla elaborada pelo Conselho Superior da
Defensoria Pública, seu mandato é de dois anos. (artigos 11 e 12, 57 e 59 a
60 e 103 a 105 da LONPED).
Os órgãos de atuação são aqueles que executam a assistência jurídica
integral aos necessitados. Trata-se da própria atividade-fim da Defensoria
Pública. São constituídos pelos Núcleos da Defensoria Pública que são
órgãos dos recursos humanos e materiais, poderão ter atribuições
específicas como, por exemplo, o Núcleo de Defesa do Consumidor, os
Núcleos de 1º Atendimento, que elabora as petições iniciais, e o Núcleo de
Defesa da Cidadania, entre outros. São dirigidos pelo Defensor Público-
Chefe, designado pelo Defensor Público-Geral. (JUNKES, 2006, p.95).

Os órgãos de execução são integrados pelos Defensores Públicos, que são


aqueles desempenham a assistência jurídica integral em defesa dos
necessitados.

Na Defensoria Pública da União a carreira de Defensor é dividida em três


categorias a saber:

I – Defensor Público da União de 2ª Categoria (inicial) atua junto às Varas


Federais, Trabalhistas, Juntas e Juízes Eleitorais, Juízos Militares,
Auditorias Militares, Tribunal Marítimo e instâncias administrativas;

II – Defensor Público da União de 1ª Categoria (intermediária); atua junto


aos Tribunais Regionais Federais, Tribunais Regionais do Trabalho e
Tribunais e Regionais Eleitorais;

III – Defensor Público da União de Categoria Especial (final), atua junto ao


Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Superior do Trabalho, Tribunal
Superior Eleitoral e ao Superior Tribunal Militar. (artigos 19 a 22, 65, 110 a
111 da LONDEP).

O ingresso na carreira de Defensor Público far-se-á mediante aprovação


prévia em concurso público de provas e títulos, com a participação da
Ordem dos Advogados do Brasil. Sendo que, ao ser aprovado, o candidato
será nomeado pelo Chefe do Executivo. Sua promoção será efetivada
através de ato do Defensor Público-Geral, atingidos os critérios de
merecimento e antiguidade. A remoção voluntária se dá através de pedido e
o preenchimento da vaga obedecerá ao critério de merecimento ou por
permuta. (JUNKES, 2006, p.96).
2.4 Legislação pertinente

A Constituição Federal de 1988, no caput do artigo 134 do Capítulo IV que


trata das Funções Essenciais à Justiça, Título IV – Da Organização Dos
Poderes, institui a Defensoria Pública e estabelece que sua organização será
regulada através de Lei Complementar (artigo 134, § 1º. da CF).

Vale destacar que as Constituições Estaduais também podem criar e


organizar Defensorias Públicas. 7

A Lei Complementar prevista pelo § 1º. do artigo 134 da Constituição


Federal de 1988 é a LC nº. 80 de 12 de Janeiro de 1994, alterada pela Lei
Complementar n 132 de 2009 , conhecida como Lei Orgânica Nacional da
Defensoria Pública (LONDEP).

Além da legislação que regulamenta a organização e funcionamento da


Defensoria, há outros dispositivos constitucionais que dispõem acerca da
Defensoria Pública (BASTOS, 2000, p. 262): como o artigo 5º. caput,
incisos LV e LXXIV e LIV; assim como o artigo: 21, XIII; artigo 22, XVII;
artigo 24, XII; artigo 48, IX; artigo 61,§ 1º, II, d, que serão explicados na
subseção seguinte.

2.4.1 Constituição Federal

A Constituição Federal da República Federativa do Brasil, promulgada em


1988, através do artigo 134, dispõe que a Defensoria Pública é função
essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação
jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do artigo
5º., LXXIV e determina, em seu § 1º., que a organização da Defensoria
Pública da União, do Distrito Federal e Territórios, será regulada mediante
Lei Complementar. (BASTOS, 2000, p.259).

Conforme o artigo 135 da Carta Magna de 1988 deverá ser aplicada a


isonomia de vencimentos para todas as carreiras tratadas no Título IV,
tendo como teto aquele pago ao poder Executivo, desde que haja
semelhança entre as atribuições. (BENFICA, 1995, p.333).
Existem outros dispositivos constitucionais que dispõem acerca da
Defensoria Pública, como o artigo 5º. caput, incisos LV e LXXIV e LIV;
assim como o artigo 21, XIII; artigo 22, XVII; artigo 24, XII; artigo 48, IX;
artigo 61,§ 1º, II, d.

O artigo 5º. da Carta Magna diz respeito ao direito de igualdade perante a


lei, sem distinção de qualquer natureza.

O direito à ampla defesa e ao contraditório é previsto pelo inciso LV do


artigo 5º., e cabe à Defensoria Pública a efetivação da defesa dos
hipossuficientes.

O artigo 5º., LXXIV impõe ao Estado a prestação de “assistência jurídica


integral e gratuita aos que comprovem insuficiência de recursos”.

O inciso LIV, artigo 5º. consagra o direito ao devido processo legal, ao


dispor que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
devido processo legal”.

Princípios constitucionais é o tema que será tratado no próximo capítulo.

Acerca dos demais dispositivos previstos pela Constituição Federal de 1988,


tem-se que o artigo 21, XIII estabelece que a manutenção e a organização
do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública do
Distrito Federal e dos Territórios, serão realizadas pela União.

Incumbe privativamente à União legislar sobre a organização judiciária, do


Ministério Público e da Defensoria Pública do Distrito Federal e dos
Territórios, bem como organização administrativa destes, de acordo com o
disposto no artigo 22, inciso XVII.

O artigo 24 diz que a União, aos Estados e ao Distrito Federal são


competentes para legislar concorrentemente sobre assistência jurídica e
defensoria pública.

Conforme o artigo 48, IX: “Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do


Presidente da República, não exigida esta para o especificado nos artigos 49,
51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União,
especialmente sobre: [...] IX – organização administrativa, judiciária, do
Ministério Público e da Defensoria Pública da União e dos Territórios e
organização judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública do
Distrito Federal”.

O artigo 61, § 1º, II, d, dispõe que são de iniciativa privativa do Presidente da
República as leis que disponham sobre a organização da Defensoria Pública
da União e normas gerais da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito
Federal e Territórios.

Além disso, por força do artigo 236, a Constituição Federal de 1988 incluiu
os serviços notariais e registrários públicos na Assistência Jurídica Integral.
(BASTOS, 2000, p.267).

2.4.2 A lei da Defensoria Pública e seu significado social

Cumprindo o disposto no artigo 134, § 1º. da Constituição Federal de 1988,


a Lei Complementar nº. 80, também chamada de Lei Orgânica Nacional da
Defensoria Pública (LONDEP), modificada pela lei complementar n. 132 de
2009, que estabelece as normas gerais e a organização da Defensoria
Pública da União, Estados e dos Territórios, foi publicada em 12 de janeiro
de 1994, após aprovação pelo Congresso Nacional do Projeto de Lei
Complementar nº. 145 de 1993. (MORAIS, S., 1995, p.14 e 15).

Trata-se de uma lei nacional e não federal por possuir extensão nacional,
não incidindo apenas sobre os jurisdicionados da União. É também norma
geral pelo fato de conter determinadas diretrizes que delimitam a
elaboração de leis. (MORAIS, S., 1995, p.16).

Para Morais, S. (1995 p.16), a Lei Complementar nº. 80 possui


fundamental importância para as Defensorias Públicas de todo o país, tendo
em vista que a finalidade da instituição é assegurar o princípio
constitucional da igualdade. Porém a igualdade assegurada, ressalta o
autor, não é apenas formal, mas também uma igualdade substancial no
acesso à informação jurídica e no acesso à Justiça. 8
Cumpre afirmar que a Defensoria Pública, para Morais, S.(1995, p.17), é
uma instituição democrática e somente poderá se desenvolver sob o espírito
democrático. Observa Cappellitti e Garth (1988. p. 12) que o acesso à justiça
pode, hoje, ser encarado como requisito fundamental de um sistema
jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir, e não apenas
proclamar, os direitos de todos. Trata-se dos mais básicos dos direito
humanos.

Desta forma, a Defensoria Pública foi criada para viabilizar o acesso à justiça
aos necessitados, assegurando ao povo brasileiro a igualdade substancial.

Os Estados, até a edição da LC nº. 80/94, podiam organizar suas


Defensorias Públicas e traçar suas normas gerais, por força do disposto no
artigo 24, inciso XIII e parágrafo 3º., da Constituição Federal de 1988. A
partir publicação da LC n. 80/94, os Estados que já possuíam Defensoria
Pública institucionalmente organizada, tiveram que adequar as mesmas
conforme lei nacional, por força do parágrafo 4º. do artigo 24 da CF/88, que
estabelece que “A superveniência de lei federal sobre normas gerais
suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário”. (MORAIS, S.,
1995, p.16).

3. Princípios

3.1 Princípios constitucionais

Os princípios constitucionais mais relevantes no que diz respeito à atuação


da Defensoria Pública e que norteiam a assistência jurídica são: o princípio
da igualdade perante a lei, o princípio do devido processo legal, os
princípios do contraditório e ampla defesa do o princípio do acesso à justiça
e o princípio da justiça social.

O princípio da igualdade ou da isonomia pode ser conceituado como


“aquele que determina a inadmissibilidade de privilégios ou distorções”
(MORAIS, G. 1997, p.9).

Cabe afirmar que o princípio da igualdade, disposto pela Constituição


Federal de 1988, no caput do artigo 5º. é aquele segundo o qual a norma
jurídica não pode estar em desacordo com a Constituição Federal, e que
apresenta como destinatários o órgão jurisdicional competente e o
legislador, e que é, segundo a jurisprudência e doutrina majoritária, dotada
da mesma significação da expressão “iguais perante a lei”. (MORAIS, G.,
1997, p.9).

Morais, S. (1995, p.16) afirma que a Defensoria Pública tem como objetivo
fundamental assegurar o princípio da constitucional da igualdade, porém
essa igualdade não é apenas formal, mas também uma igualdade
substancial no acesso à informação jurídica e no acesso à Justiça, e ressalta:
“[...] é absolutamente necessário que todos os membros da coletividade
tenham possibilidade de saber o que podem exigir e o que devem fazer: os
direitos e os deveres”.

O princípio do devido processo legal encontrar-se consubstanciado no


artigo 5º., LIV, da Constituição Federal de 1988 - “ninguém será privado da
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. A origem deste
princípio está no artigo 39 da Magna Carta de 1215.

Esse princípio pode ser definido como “conjunto de garantias


constitucionais correlativas ao direito ao processo, que, por sua vez, é
subdividido em direito à ação e direito de defesa”. (MORAIS, G., 1997, p.15).

Direito de ação é entendido como direito público subjetivo de invocar a


tutela jurisdicional, ou, de outra forma, direito público subjetivo cujo
exercício pelo titular de um interesse abstratamente tutelado pelo
ordenamento jurídico provoca a jurisdição que será exercida pelo
processo.9

O princípio do contraditório e ampla defesa constituem garantias


constitucionais que complementam o princípio do devido processo legal. A
ampla defesa decorre do contraditório, ou seja, não existe ampla defesa sem
o contraditório, assim como, não há contraditório sem a ampla defesa e são
previstos pelo artigo 5º., LV. (MORAIS, G., 1997, p.19).

Direito de defesa é o “direito à adequada resistência às pretensões adversas”


pode ser também o exercício da pretensão a tutela jurídica do acusado, ou a
possibilidade de conhecer e contestar as provas produzidas ou de
apresentá-las. (MORAIS, G., 1997, p.19).
O princípio do contraditório é subdivido em dois elementos: a informação e
a reação. A informação consiste no direito que as partes envolvidas
possuem de conhecer todos os atos do procedimento, é obtido pela citação,
intimação, e notificação. A reação é a possibilidade de a parte contraditar, as
provas produzidas, assim como contraditar contra-alegar e recorrer em face
do procedimento jurisdicional final do processo. (MORAIS, G., 1997, p.19 e
20).

O princípio do acesso à justiça, conforme Morais, G. (1997, p.13) é um


elemento constitutivo do Estado Democrático de Direito e do princípio da
igualdade ou isonomia. Não tutela simplesmente os direitos fundamentais,
mas também os direitos e interesses legítimos, isto é, situações
juridicamente protegidas contra atos particulares ou do Poder Público ou
contra atos legislativos e judiciais.

O direito ao acesso à justiça é viabilizado pela garantia à justiça gratuita, o


qual não poderá ser prejudicado ou negado pela insuficiência de recursos.
Assim, o princípio da justiça gratuita é previsto pelo artigo 5º., LXXIV.
(MORAIS, G., 1997, p.14).

3.2 Princípio da justiça social

De acordo com o preâmbulo da Constituição Federal de 1988, a justiça é um


dos valores supremos da sociedade. No entendimento de Junkes (2006, p.
65), o inciso I do artigo 3º da Carta Magna estabelece que a formação de
uma sociedade justa é um objetivo fundamental da República Federativa do
Brasil. E quando esse artigo restringe a justiça ao espaço da sociedade, quer
dizer que a promoção da justiça na sociedade é um dever do Estado
brasileiro, ou seja, a meta da República federativa do Brasil a promoção da
justiça social.

Ou seja, a Justiça Social é um direito da sociedade que pode exigir do Estado


uma ação.10

A Justiça Social está consubstanciada pelos artigos 170 e 193 da


Constituição Federal de 1988, localizados nos capítulos de tratam dos
princípios gerais da atividade econômica e das disposições gerais da ordem
social, respectivamente. (JUNKES, 2006, p.65).
Portanto, para que a justiça social seja alcançada, é necessária a observância
de alguns princípios dispostos nos nove incisos do artigo 170 da
Constituição Federal de 1988, ou seja, tanto ordem econômica, quanto a
valorização do trabalho humano, a livre iniciativa e a existência digna
devem ser desenvolvidas a fim de que possam efetivar a justiça social.

O artigo 193 da Constituição Federal de 1988 diz que: “A ordem social tem
como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça
social”. Neste caso, a justiça social é normatizada como com o fim da ordem
social. O primado do trabalho é elemento fundamental para a realização da
ordem social e é conteúdo jurídico da justiça social. (JUNKES, 2006, p.72).

Silva (2004, p.122) destaca que o princípio da justiça social está ligado à
tarefa do Estado Democrático de Direito que consiste em “superar as
desigualdades sociais e regionais e instaurar um regime democrático que
realize a justiça social”.

Para Junkes (2006, p.129), o princípio da justiça social constitui


fundamento jurídico da Defensoria Pública, pois “esse princípio vincula
tanto o papel, quanto a abrangência e a estruturação como fins da
Defensoria Pública”. Todos esses elementos são condicionados à realização
da justiça social. 11

3.3 Princípios institucionais da Defensoria Pública

São três os princípios institucionais da Defensoria Pública, dispostos no


artigo 3º. da Lei Complementar nº. 80 de 1994: a unidade, indivisibilidade e
a independência funcional.(MORAIS, S., 1995, p.22).

A unidade implica que a Defensoria Pública é um todo orgânico constituído


por aspectos estruturais idênticos. Desta forma, em decorrência deste
princípio existe a vedação da existência de instituições públicas
concorrentes, na mesma base política, com chefias distintas que exercem
funções pertencentes à Defensoria Pública. (JUNKES, 2006, p.90).

O princípio da indivisibilidade significa que a Defensoria Pública não está


sujeita a rupturas e fracionamentos. Este princípio é decorrente do
princípio da unidade, significando que há possibilidade de seus membros
substituírem uns aos outros, sem que haja prejuízo para a atuação da
instituição ou para função jurisdicional. (idem).

O princípio da independência funcional consiste na plena autonomia na


atuação, sem interferências de qualquer organismo estadual ou até mesmo
do Poder Executivo. Saliente-se que a subordinação abrangida pelo
princípio é administrativa e não hierárquica. Vale dizer que antes da
Emenda Constitucional nº. 45, a Defensoria Pública era vinculada ao Poder
Executivo, no plano administrativo. (idem).

4. Justiça

4.1 Conceito

A palavra justiça deriva do latim justitia e significa, em sentido lato, tudo


aquilo que se faz segundo as regras moralmente estabelecidas, ou seja, é o
princípio moral em nome do qual o direito deve ser respeitado.
(ABBAGINANO, 1982, p.565).

Para Silva (2005, p.471) a justiça “é o que se faz conforme o Direito ou


segundo as regras prescritas em lei”.

O conceito de justiça é diferenciado por dois significados fundamentais, a


saber: o primeiro é o significado subjetivo sendo aquele pelo qual a justiça é
a conformidade da conduta a uma norma e o segundo, objetivo, implica na
eficiência de uma norma, ou seja, a sua capacidade para tornar possível as
relações entre os homens. No primeiro sentido é analisado o
comportamento humano ou a pessoa humana, ou até a qualidade da
pessoa, e o segundo é verificado as normas que regulam esse
comportamento. (ABBAGINANO, 1982, p.565).

Conforme Diniz (2005, p.405 e 406)., há duas modalidades de justiça:


particular e social. A justiça particular atinge bens particulares e pode ser
comutativa ou distributiva. A comutativa acontece quando o bem
pertencente ao particular é entregue para outro particular, seguindo uma
igualdade simples e absoluta. A distributiva é quando a sociedade entrega
bens para cada particular, de acordo com a necessidade de cada um,
seguindo uma igualdade proporcional ou relativa, correspondendo a uma
função social.

Já a justiça social geral ou legal observa-se a igualdade proporcional em que


a comunidade recebe bens da própria sociedade, ou seja, governantes,
indivíduos e grupos sociais, alcançando o bem comum. Sendo assim a
elaboração de normas, a prestação de serviço militar ou público, pagamento
de impostos entre outros, são exemplos de justiça social, pois promovem o
bem comum da sociedade. (DINIZ, 2005, p.407).

Desta forma, o conceito de justiça deve ser entendido em sentido amplo, no


sentido de que o exercício da função jurisdicional não está restrito apenas
no âmbito do Judiciário, mas também perante outros órgãos
independentes12.

Por fim, a justiça é assim definida por Gusmão (2003, p.74) como: “a
exigência de dar a cada um o que é seu e de não causar dano a outrem,
considerando como nosso semelhante, e não como meio de satisfação de
nossos interesses”.

4.2 Justiça Social

O conceito de justiça social nasce a partir das ideias de John Rawls. Ele
estabelece uma teoria da justiça social cujo conteúdo é baseado na estrutura
básica da sociedade. Conforme Rawls apud Junkes (2006, p.33) a estrutura
básica da sociedade é constituída pelas instituições sociais fundamentais,
como por exemplo, a Constituição, os regimes jurídicos e econômicos,
assim como o seu funcionamento num único sistema, devendo constituir
um sistema autossuficiente de cooperação social com o fim de proporcionar
elementos essenciais à vida humana. (JUNKES, 2006, p.33).

O conceito de justiça social, desenvolvido de acordo com o pensamento de


Rawls, está relacionado com o convívio harmônico e feliz entre os
integrantes da sociedade e para que isso ocorra é necessário que haja
cooperação social. (JUNKES, 2006, p.45).
O conceito de justiça social, conforme Junkes (2006, p. 47): [...] justiça
social é a resultante de uma Sociedade estruturada de forma a garantir e
promover, contínua e simultaneamente: (a) a igualdade de todos os seus
integrantes no que se refere à liberdade, dignidade e oportunidades; (b) a
redução dos desequilíbrios sociais quer-se referir às desigualdades
econômicas, sociais e culturais existentes entre os membros de
determinada Sociedade.

Estas instituições têm como escopo a concretização de condições justas


para a sociedade como um todo. Ou seja, para Rawls apud Junkes (2006,
p.33), a justiça é a primeira virtude das instituições sociais e que devem ter
como premissa a liberdade e a igualdade dos cidadãos.

Ambos princípios estabelecem que nenhuma pessoa deveria receber menos


que a outra em uma divisão de bens primários em partes iguais. (JUNKES,
2006, p.34).

Para Rawls apud Junkes (2006, p.36), os bens primários são as liberdades
básicas, como o pensamento e a consciência, a liberdade de movimento a
livre escolha de sua ocupação, os poderes e as prerrogativas das funções e
dos postos de responsabilidade, a renda e a riqueza e as bases sociais do
respeito.

Desta forma Rawls apud Junkes (2006, p.34), a cooperação social deve ser
organizada pelas instituições sociais da estrutura básica, de tal forma que
beneficie os esforços voltados para a melhoria das condições de vida de
todos os membros da sociedade.

E para que exista a cooperação social é importante que haja garantia de que
todos os integrantes da sociedade possuam meios e recursos necessários a
uma existência digna; que haja o máximo aproveitamento dos talentos e
potencialidades de cada integrante da sociedade; que todos tenham uma
participação política igualitária; e a existência de mecanismos para dirimir
as desigualdades sociais. (JUNKES, 2006, p.45).

5 A defensoria pública como função essencial à justiça


Como foi visto nos capítulos anteriores, a Defensoria Pública é a instituição
prevista nos artigos 134 a 135 da Constituição Federal de 1988, situados no
Capítulo IV intitulado: Funções Essenciais à Justiça.

Junkes (2006, p.126) afirma que a Defensoria Pública cumpre sua função
essencial à jurisdição somente em relação aos necessitados
desempenhando a assistência jurídica, ou seja, ela também exerce funções
desvinculadas da atividade jurisdicional, como por exemplo, a assistência
jurídica extrajudicial.

Junkes (2006, p.127) acrescenta que a essencialidade da justiça estende-se


a todas as instituições vigentes na sociedade, e não somente às instituições
estatais.

Além disso, a função essencial à justiça exercida pela Defensoria Pública, de


acordo com Junkes (2006, p. 128) relaciona-se pelo fato dela executar a
orientação jurídica aos necessitados proporcionando: a prevenção e solução
de litígios judiciais, resultando na prevenção de violência e do
aprofundamento dos conflitos; e o acesso à informação do Direito e a
formação de uma cultura de confiança nas instituições e no ordenamento
jurídico. 13

Saliente-se que a institucionalização da Defensoria Pública foi originada da


própria finalidade do Estado Democrático de Direito que, por conseguinte
originou o conteúdo do princípio da justiça social, portanto, cabe ao Estado
brasileiro garantir a realização da justiça social, ao contrário dos Estados
Liberais, caracterizados pela neutralidade. (JUNKES, 2006, p. 130).

De acordo com Junkes (2006, p.128 e 129) a Defensoria Pública “é uma


instituição que contribui para a integração e a inclusão social do grupo de
necessitados”, desta forma, ela restaura a brecha existente entre o Estado e
a sociedade.

Desta forma, de acordo com o artigo 134 da Constituição Federal de 1988 a


A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do
regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção
dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial,
dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos
necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição
Federal. .14

6 Acesso à justiça

6.1 Conceito de acesso à justiça

O conceito de acesso à justiça é de difícil definição, no entanto, há dois


objetivos básicos no sistema jurídico: o primeiro é o acesso igual a todos e o
segundo e a produção de resultados individual e socialmente juntos. Isso
quer dizer que o sistema jurídico não deve seguir apenas o princípio da
justiça social, mas também representar um elo para a sua formação.
Portanto, a observância dessas duas finalidades, denomina-se acesso à
justiça. (CAPPELETTI E GARTH 2002, p.5).

O acesso à justiça constitui um direito formal pertencente ao indivíduo de


propor e de se defender em juízo (idem, p.9)

Portanto o conceito de acesso à justiça, conforme LEITE (2008 p.152),


abrange também o acesso à informação e a orientação jurídica, assim como
a outros os meios de solução de litígios, sendo, desta maneira, uma questão
de cidadania.

6.2 Assistência jurídica e assistência judiciária

É importante destacar que os conceitos de assistência judiciária e


assistência jurídica e justiça gratuita são distintos.

Assistência judiciária é o direito assegurado pela Lei Maior de 1988 às


pessoas necessitadas, que não possuem condições de custear as despesas
judiciais, sem prejudicar o sustento próprio e de sua família, engloba
também as despesas das custas e honorários advocatícios. É conhecida
também como Justiça Gratuita e está regulada pelo Novo CPC de 2015 a
partir do artigo 98 que revogou a lei n. 1060 de 1950.
Necessitado, “é aquele cuja situação econômica não lhe permita pagar as
custas do processo e os honorários de advogados sem prejuízo do sustento
próprio ou de sua família”.

Já a assistência jurídica é aquela prevista pela Constituição Federal de 1988


que é a garantia da prestação de serviços judiciais e extrajudiciais. Possui
um conceito mais abrangente que a assistência judiciária, pois não se limita
apenas às despesas processuais e serviços advocatícios, mas também a
orientação, aconselhamento e o ajuizamento da ação (idem)

A assistência jurídica é uma garantia de grande auxílio àqueles que não


possuem condições financeiras para custear as despesas das atividades
processuais. Portanto, incumbe ao Estado, a criação de um órgão que
ofereça meios viáveis para se chegar à Justiça.16

A assistência jurídica, salienta Junkes (ibidem), abrange não só o patrocínio


judicial, como também extrajudicial, ou seja, além da defesa gratuita em
juízo, o Estado deve garantir a orientação e aconselhamento jurídico
gratuito.

E ainda, para o mesmo autor, a justiça gratuita implica a gratuidade de


custas e despesas, tanto judiciais como extrajudiciais, atinentes a um
processo judicial. (p.82).

6.3 O acesso à justiça como fundamento da Defensoria Pública

O acesso à justiça é o princípio consubstanciado pela Constituição Federal


de 1988, em seu artigo 5º XXXV, que dispõe: “a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, isso quer dizer
que todos possuem o direito de invocar a jurisdição para a tutela de direito,
assim como, o direito de se defender. (SILVA, 2004, p. 430).

Trata-se de um direito público subjetivo de invocar a tutela jurisdicional e


que é exercida através do processo, e, conforme Teodoro Jr. (2005, p. 23) é
um princípio informativo do processo.
Vale lembrar que cabe ao Poder Judiciário o monopólio da jurisdição, de
acordo com o disposto no inciso XXXV do artigo 5º da CF/88. (SILVA,
2004, p. 430). Assim, o juiz não poderá, de forma alguma, recusar-se a
examinar o mérito, é um princípio fundamental da jurisdição que dispõe
que ela é indeclinável.(TEODORO JR., 2005, p.36).

A tutela jurisdicional, para Dinamarco (2005, p.123) constitui no amparo


estatal em que há uma melhoria na situação de uma pessoa o grupo, em
relação a um bem ou uma situação material ou imaterial e que possua
relevância no mundo jurídico. 17

O princípio da ampla defesa e do contraditório dispõe que a parte possui


oportunidade não só de se defender das alegações feitas pelo outro litigante,
como também fazer a prova contrária. (TEODORO JR., 2005, p.25).

Vale dizer que o princípio do acesso à justiça é um elemento constitutivo do


Estado Democrático de Direito e do princípio da igualdade ou princípio da
isonomia, tutelando os direitos fundamentais e os direitos de interesses
legítimos, isto é, situações juridicamente protegidas e que mantém relação
com atos de particulares ou do Poder Público, quando há manifestação de
defesa judicial contra atos administrativos. (MORAIS G., 1997, p. 11).

O direito à informação jurídica, assim como o direito ao patrocínio judiciário


e o princípio da justiça gratuita também integram o direito ao acesso à
justiça. (MORAIS G., 1997, p. 13).

O acesso à justiça não se limita apenas nos tribunais, tais como órgãos
jurisdicionais pertencentes à estrutura do Estado, devendo existir também
o acesso à ordem jurídica justa, ao produzir decisões individual ou coletiva.
(MORAIS G., 1997, p. 13 e 14).

É importante dizer que, conforme Bastos (2000, p.284), a sociedade pode


pleitear a implantação de Defensorias Públicas através de ação judicial, por
meio de ação de inconstitucionalidade por omissão, prevista pelo artigo 103,
Constituição Federal.
Conforme Junkes (2006, p.107): “[...] a existência e o funcionamento da
Defensoria Pública apresenta-se atrelada à necessidade de viabilização da
função jurisdicional perante os necessitados”.

E ao disponibilizar a jurisdição para as pessoas necessitadas, a Defensoria


Pública “torna-se uma instituição responsável por romper uma barreira
própria das desigualdades sociais existentes entre os integrantes da
comunidade política”. (JUNKES, idem).

Desta forma, conforme diz o artigo 134 da CF/88, a Defensoria Pública é


“instituição essencial à função jurisdicional”, surgindo assim, a necessidade
da atuação da Defensoria Pública, com o fim de viabilizar o acesso à justiça,
de forma igualitária, àqueles que não possuem condições para contratar a
assistência de um advogado particular.

6.4 Acesso à justiça no Brasil

Conforme Junkes (2006, p. 109) na maioria das sociedades modernas, as


custas judiciais, assim como os honorários advocatícios costumam ser
muito dispendiosos. E, por conseguinte, são as principais barreiras no
sistema jurídico.

Portanto, de acordo com estudo de Cappeletti e Garth apud Junkes (2006,


p.110), existem obstáculos econômicos e socioculturais, no tocante às
possibilidades das partes. Desta forma, existe uma grande diferença entre
aqueles que possuem, e os que não possuem recursos financeiros.

Existe um outro obstáculo, conforme Cappeletti e Garth apud Junkes


(idem), que é o fato de muitas pessoas deixarem de recorrer ao Poder
Judiciário por não saberem como fazê-lo, por falta de informação e
compreensão clara de alguns contratos e normas ou, até mesmo, por não
reconhecerem que são titulares de um direito exigível. 18

Cappeletti e Garth concluem que, na verdade, são as pessoas pobres e as


demandas de pequeno valor as mais afetadas pelos obstáculos que
envolvem o acesso à jurisdição. (apud JUNKES, 2006, p.111).
No Brasil toda pessoa necessitada, no sentido legal, que precisa promover a
defesa de seus interesses poderá fazê-lo gratuitamente, em sentido amplo
ou através de advogado particular ou da Defensoria Pública, conforme o
disposto no artigo 134 da Constituição Federal. (JUNKES, 2006, p.114).

No entanto, muito embora o contexto histórico da Defensoria Pública


aponta vários avanços na instituição e considerando o fato ter sido
reconhecida com função essencial à Justiça, incluindo-a no mesmo
patamar constitucional da Magistratura e Ministério Público, “ainda há
muitos obstáculos a serem superados, alguns originados do preconceito
conservador e outros da vontade política”. (GALLIEZ, 2006, p.59). 19

Desta forma, também afirma Galliez (2006, p.40): “No tocante à Defensoria
Pública, apesar de o Estado admitir a necessidade de sua permanência na
estrutura orgânica administrativa, age, por vezes, como se essa importância
fosse secundária”. E salienta que: “É preciso, por fim, que nossos políticos
[...], reflitam sobre a relevância da Defensoria Pública, a menos que
queriam negar, irracionalmente, a realidade histórica já consolidada com o
tempo”. 20

No que diz respeito à autonomia funcional e administrativa e


independência financeira, a CF/88 em seu artigo 134, § 2º alterado pela EC
nº. 45 de 2004, concede esse direito às Defensorias Públicas, contudo, tal
dispositivo não possui aplicabilidade prática. 21

Além disso, é necessário, segundo Galliez (2006, p. 62): [...] “introduzir


modificações substanciais na instrumentalidade do processo, para torná-lo
mais ágil e eficaz” a fim de facilitar o acesso à prestação jurisdicional. 22

Conclusões

Após a análise do tema abordado, verifica-se que o Estado brasileiro


caracteriza-se pela busca do Estado Democrático de Direito,
consubstanciado pela Constituição Federal de 1988. Assim, é assegurado a
todos o direito à igualdade, dignidade, e a busca da redução das
desigualdades sociais e regionais, observando sempre a realização da justiça
social.
Uma das funções exercidas pelo Estado é a jurisdição, que é realizada
através do processo. A jurisdição tem como finalidade a resolução dos
conflitos de interesses estabelecidos pelas partes. E é exatamente esse um
dos direitos fundamentais previstos pela Constituição Federal de 1988, ou
seja, o acesso à justiça. Contudo esse acesso não se limita à solução de
conflitos, mas engloba também a garantia de que todos possuem o direito
de invocar a tutela jurisdicional.

Prevista no artigo 134 da Constituição Federal de 1988, a Defensoria


Pública é uma instituição essencial à função jurisdicional do Estado, que
tem como principal objetivo a assistência jurídica e integral aos
necessitados. Suas funções abrangem tanto a assistência judicial, quanto a
extrajudicial. A Defensoria Pública possui como objetivo fundamental a
viabilização da atuação da jurisdição, no sentido de manter o equilíbrio, no
âmbito jurídico com relação às pessoas carentes.

Desta forma, a Defensoria Pública exerce suas atividades e promove a


justiça social a fim de que haja a redução dos desequilíbrios sociais,
promovendo a igualdade, dignidade e oportunidade aos hipossuficientes.

A atuação da Defensoria Pública, com relação ao princípio da justiça social


inicia-se desde a propositura da ação, exercendo, inclusive a assistência
jurídica extrajudicial, disponibilizando informações jurídicas para o
exercício da ação e promovendo a dignidade ao garantir um direito
fundamental aos necessitados.

Contudo, verifica-se um total descaso do Poder Público com relação às


condições de trabalho das Defensorias Públicas espalhadas pelo país,
principalmente quanto aos salários e reconhecimento do trabalho dos
defensores públicos, que constitui função essencial para a jurisdição, tal
qual o desempenho dos promotores e advogados-gerais da União.

O princípio da justiça social está previsto nos artigos 170 e 193 da


Constituição Federal de 1988 e possui o objetivo de consolidar os princípios
dispostos nos respectivos artigos. Desta forma, a Defensoria Pública se
relaciona com o princípio da justiça social atuando na esfera judicial e
extrajudicial como instituição essencial à função jurisdicional do Estado
promovendo a dignidade, a liberdade, a igualdade e criando oportunidades
para os hipossuficientes.

O princípio da justiça social constitui um fundamento jurídico para a


abrangência e estruturação da Defensoria Pública. Desta forma, a
Defensoria Pública é a instituição estatal instruída e orientada conforme os
ditames do princípio da justiça social, com o objetivo de prestar a
assistência jurídica e integral às pessoas necessitadas.

Esse tema possui extrema relevância social e jurídica em virtude da


desigualdade sociocultural tão evidente em nosso país. Sabe-se que o Brasil
é um país formado por grandes contrastes econômicos e sociais, cuja
população, na sua maioria, convive em meio à miséria, com a falta de
serviços essenciais para uma existência digna, e com o descaso do Poder
Público.

É importante salientar também que a Defensoria Pública e o Acesso à


Justiça merecem um estudo mais aprofundado, constituindo um avanço na
sociedade contemporânea, no sentido de que se reconheça o grande
trabalho prestado pelas Defensoria Públicas, gerando uma perspectiva de
vermos concretizado o disposto no Preâmbulo da Constituição da Republica
Federativa do Brasil de 1988, e consolidar uma justiça social beneficiando
os maiores injustiçados do Brasil.

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PÚBLICA, Brasília: Margareth Leão 2ª ed. 2015, 127 p. Disponível em:
<https://www.anadep.org.br/wtksite/downloads/iv-diagnostico-da-
defensoria-pública-no-brasil.pdf>.A... em: 06 de dez. 2017.

1 Assim sendo, Silva (2004, p.551) define jurisdição como sendo “o que se
chama função jurisdicional ou simplesmente jurisdição, que se realiza por
meio de um processo judicial, dito, por isso mesmo, sistema de composição
de conflitos de interesses ou sistema de composição de lides”.

2 Portanto, Defensoria Pública, para Morais, G. (1997, p.41): É instituição


essencial à função jurisdicional do Estado, correspondendo a uma
manifestação e instrumento do regime democrático, cabendo-lhe a
orientação jurídica integral e gratuita, a postulação e a defesa judicial (em
todos os graus de jurisdição) e extrajudicial, de direitos, individuais e
coletivos, titularizados por hipossuficientes econômicos.

3 [...] a Constituição abandona aquela orientação restrita de cuidar do


assunto unicamente com referencia à defesa em juízo; abandona a
concepção de uma assistência puramente judiciária e passa em assistência
judiciária integral. Obviamente, alarga de maneira notável o âmbito da
assistência, que passa a compreender, além da representação em juízo,
além da defesa judicial, o aconselhamento, consultoria, a informação
jurídica e também a assistência aos carentes em matéria de atos jurídicos
extrajudiciais, como, por exemplo, os atos notoriais e outros que
conhecemos.

4 Diz o artigo 4º. da Lei Complementar nº. 80 de 1994: São funções


institucionais da Defensoria Pública, dentre outras: I - promover,
extrajudicialmente, a conciliação entre as partes em conflito de interesses;
II - patrocinar ação penal privada e a subsidiária da pública; III - patrocinar
ação civil; IV - patrocinar defesa em ação penal; V - patrocinar defesa em
ação civil e reconvir; VI - atuar como Curador Especial, nos casos previstos
em lei; VII - exercer a defesa da criança e do adolescente; VIII - atuar junto
aos estabelecimentos policiais e penitenciários, visando assegurar à pessoa,
sob quaisquer circunstâncias, o exercício dos direitos e garantias
individuais; IX - assegurar aos seus assistidos, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral, o contraditório e a meios a ela
inerentes; X - atuar junto aos Juizados Especiais de Pequenas Causas; XI -
patrocinar os direitos e interesses do consumidor lesado.

5 Além das funções enumeradas pelo artigo 4º da LONDEP, Benfica (1995,


p.334) cita as seguintes atribuições dos Defensores Públicos: [...]
desempenhar a função de advogado do necessitado; atender e orientar o
assistido; tentar a composição amigável das partes, sempre que possível;
defender o direito do necessitado, providenciando para que o feito tenha
normal tramitação; prestar orientação jurídica ao necessitado; apresentar
relatório do serviço prestado e do andamento da ação sobre o seu
patrocínio; e exercer outras atribuições que lhe forem competidas.

6 Neste sentido, já destacava Morais, S. (1995, p.26): O segundo ponto a


destacar [...], diz respeito à possibilidade da Defensoria Pública de
promover ação civil pública, em defesa dos interesses difusos ou coletivos,
como o meio ambiente e direitos do consumidor, por exemplo. Na prática
tem se insurgido o Ministério Público contra esta atuação da Defensoria,
data vênia, sem razão, uma vez que a própria Constituição Federal, ao tratar
da legitimidade do MP para este tipo de ação, ressalvou expressamente que
a sua atuação não obsta a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o
disposto nesta Constituição e na lei (artigo 129, § 2º).

7 artigo 126 da CE Acre; artigo 154 da CE Amapá; artigo 159, caput da CE


Alagoas; artigo 102, caput da CE Amazonas; artigo 144, caput da CE Bahia;
artigo 146 da CE Ceará; artigo 123, caput da C.E Espirito Santo; artigo 120,
caput da CE Goiás; artigo 109 da CE Maranhão; artigo 116, caput da CE
Mato Grosso; artigo 140, caput da CE Mato Grosso do Sul; artigo 129 da CE
Minas Gerais; artigo 190, caput da CE Pará.; artigo 140, caput da CE
Paraíba; artigo 127, caput da CE Paraná; artigo 73, caput da CE
Pernambuco; artigo153, caput da CE Piauí; artigo 176, caput da CE Rio de
Janeiro; artigo 89, caput da CE Rio Grande do Norte; artigo 120, caput da
CE Rio Grande do Sul; artigo 150, caput da CE Rondônia; artigo 104 da CE
Santa Catarina; artigo 103, caput da CE São Paulo; artigo 123, caput da CE
Sergipe e artigo 53, caput da CE Tocantins. (MORAIS, G., 1997, p.39).

8 Morais, S. (1995, p. 16) explica que a Lei Complementar nº. 80 possui:


[...] importância fundamental ter esse diploma legal para as Defensorias
Públicas de todo o País. Traduz o reconhecido, a nível nacional, da
instituição que tem por finalidade precípua assegurar o principio da
igualdade, mas não uma igualdade, mas não uma igualdade formal, como
bem já frisou o eminente professor e Desembargador fluminense, José
Carlos Barbosa Moreira, mas uma igualdade substancial no acesso à
informação jurídica e no acesso à Justiça. E salienta o mestre: ‘Não é
possível realizar algo que se assemelhe, concretamente , ao Estado Social de
Direito sem que estejam presentes esses dois pressupostos é absolutamente
necessário que todos os membros da coletividade tenham igual
possibilidade de saber o que podem exigir e o que devem fazer: os direitos e
os deveres’ [...].

9 Assim, o principio do devido processo legal, de acordo com o


entendimento de Morais G., (1997, p.16): [...] determina o procedimento
adequado, ou seja, aquele realizado com a observância do contraditório e
adaptado à realidade social e a relação jurídica de direito material discutida
no processo, apresentando um duplo aspecto, posto que consiste em uma
garantia relativamente às partes envolvidas no conflito de interesse,
assegurando o exercício de direitos públicos subjetivos e faculdades e
poderes processuais [...].

10Conforme Paula apud Junkes (2006, p.65) as ações estatais demandas


pela sociedade podem ser vinculadas de quatro maneiras: (a) à construção
de uma sociedade livre do ponto de vista cultural, econômico, político e
jurídico, bem como justa (que representa a própria Justiça Social) e
solidária, ou seja, que favoreça uma mútua progressão social mútua; (b) à
garantia ao desenvolvimento social e nacional, através do fomento de
políticas hábeis a criar riquezas nacionais; (c) à distribuição de renda e da
inclusão social, de forma a erradicar a pobreza e a marginalização, bem
como, reduzir as desigualdades sociais e regionais; e (d) à promoção do bem
de todos, coibindo-se preconceitos e quaisquer discriminações.
11 Por fim, Junkes (2006, p. 74) conceitua o princípio da justiça social: [...]
é o que confere o direito da sociedade de exigir do Estado uma atuação
vinculada à relação dos desequilíbrios sociais e comprometida
simultaneamente com a garantia e a promoção da igualdade de todos os
seus integrantes, no que se refere à liberdade, à dignidade e às
oportunidades.

12 De acordo com Moreira Neto apud Morais (1997, p. 41) A Justiça aqui
está no sentido de que o Estado tem que realizar este valor no sentido mais
amplo possível. A realização da Justiça é uma finalidade do Estado. Só se
pode entender Justiça no sentido amplo e não no sentido estrito, de órgão
judiciário.

13 Desta forma a Defensoria Pública,[...] nos termos propostos, também na


organização funcional do poder, correlaciona-se diretamente com o
Princípio da Justiça Social, uma vez que se insere no quadro institucional
brasileiro como um organismo expressamente vinculado à promoção da
Justiça Social. (ARAÚJO, apud JUNKES, 2006, p. 128).

14 Art. 132 da CF foi alterado pela EC n 18 de 2014.

15 Junkes (2006, p.81) define assistência judiciária como: [...] benefício


estatal que consiste na defesa técnica gratuita dos interesses da pessoa
assistida perante o Poder Judiciário. Apesar de oferecido pelo Estado, tal
serviço pode ser exercido por particulares, desde que em convênio com o
Poder Público ou por determinação judicial.

16 Salienta Miranda (1997, p.383).: Assistência Judiciária é o beneficio da


justiça gratuita não são a mesma coisa. O beneficio da justiça gratuita é
direito à dispensa provisória de despesas, exercível em relação jurídica
processual, perante o juiz que promete a prestação jurisdicional. É instituto
de direito pré-processual. A assistência judiciária é organização estatal, ou
paraestatal, tem por fim, ao lado da dispensa provisória de despesas, a
indicação de advogado. É instituto de direito administrativo.

17 De acordo com Morais G. (1997, p. 11) o acesso à ordem jurídica dispõe


que: [...] toda a pretensão levada ao conhecimento do órgão jurisdicional
competente mediante a verificação de um conflito de interesses, é
merecedora de um provimento jurisdicional que dissolva o litígio e seja
dotada de qualidade de justa, ou seja, que realize o valor justiça
relativamente as partes envolvidas na lide.

18 Acerca do assunto, Morais, S., (1995, p. 17) possui a seguinte opinião: E


é justamente pela importância do papel da Defensoria Pública e sua direta
influência na mudança do atual quadro social, que a Instituição, não raras
vezes, se depara com poderosos inimigos que, pertencentes às fileiras dos
antidemocráticos, não pretendem qualquer mudança na situação social
presente. Muitas vezes, travestidos de falsos democratas, agem
sorrateiramente, enfraquecendo e aviltando a Instituição que certamente
mais lhes assusta, pois o seu papel transformador, reduz o domínio que
exercem sobre os desafortunados e desamparados que, infelizmente,
constituem a maior parte da nação brasileira. Preocupa-nos, portanto, a
idéia de uma Defensoria Pública forte, independente e transformadora,
capaz de exercer com altivez sua missão constitucional, livre de ingerências
políticas.

19 Dentre as principais reivindicações das Defensorias Públicas espalhadas


em todo país são: “a percepção de salário digno, considerando que este tem
sido motivo de maior êxodo dos Defensores Públicos para outras carreiras;
a autonomia e independência administrativo-financeira; e instalações
adequadas ao desenvolvimento de seu trabalho”. (GALLIEZ, 2006, p. 61).

20 Acerca do assunto, Silva (2004, p. 617) destaca que: Os Estados não têm
a faculdade de escolher se instituem e mantêm, ou não, a Defensoria
Pública. [...] Se é uma instituição e ainda sujeita a normas gerais de lei
complementar já promulgada (LC 80/94), a toda evidência, não pode ser
órgão subordinado ou parte de outra instituição, que não ao próprio Estado,
com autonomia ou subordinada a uma Secretaria (da Justiça ou da
Promoção Social), segundo dispuser lei estadual [...].

21 A respeito da inércia do poder público quanto às Defensorias, Benfica


(1995, p.333) afirma: Tem havido por parte do governo uma omissão
quanto à Defensoria Pública, e poucos Estados a têm organizada. Mesmo
nos que ela funciona, os vencimentos de seus integrantes não são iguais
aos dos membros do Ministério Público, o que é um absurdo. É imperativo
que ao número de promotores de justiça corresponda igual número de
defensores públicos em cada comarca. [...] Sabe-se que o maior volume das
ações em juízo tem a participação dos defensores públicos, uma vez que
setenta por cento delas é de responsabilidade da assistência judiciária.[...] É
mister que os Estados organizem, de imediato, a Defensoria Pública e com
vencimentos equiparados aos dos juízes e promotores de justiça.

22 Acerca das omissões e restrições do Poder Público com relação ao acesso


à justiça, Silveira (1992, p.13) alega que: São, destarte, ilegítimas ou injustas
as restrições ou omissões do Poder Público e de quem quer que seja, a
dificultarem o acesso de todos ao Poder Judiciário. Incompatível com a
fisionomia do Estado Democrático de Direito, relativamente democrático,
sob a égide da justiça social, não é assegurar tutela jurisdicional a todos os
cidadãos [...].

Disponível em: https://lucianamarinho142.jusbrasil.com.br/artigos/529059533/defensoria-publica-


como-funcao-essencial-a-justica-e-o-acesso-a-justica-no-brasil

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