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Experiências de luto paterno:

relatos masculinos sobre a perda


gestacional e neonatal
Felipe Freitas de Souza
Minha experiência
 Tornando-me pai do meu filho
 A notícia
 As expectativas
 A gestação
 O diagnóstico
 As decisões da companheira
 A morte do meu filho
 A (im)postura dos médicos
 A postura das enfermeiras
 O dia do parto
Observações da Literatura
Tudo aquilo que relatei de minha
experiência não é uma vivência isolada e
única. Outros pais vivenciaram e vivenciarão
a perda gestacional, cada qual ao seu modo.

Todavia, a literatura científica indica


questões que contemplam meu relato e de
outros pais.
WILSON, Ann L.. Parental Response to Perinatal
Death. American Journal Of Diseases Of
Children, [s.l.], v. 139, n. 12, p.1235-1238, 1 dez. 1985.
American Medical Association (AMA).
http://dx.doi.org/10.1001/archpedi.1985.02140140069
032.
Em entrevistas com 58 casais, em um primeiro momento as
mães pareceram mais depressivas e os pais menos, sentindo
menos necessidades de se comunicarem. Todavia, após 25
meses, a depressão de pais e mães se tornava mais semelhante
e os pais com mais sintomas depressivos demandavam maiores
interações sociais.

Indica que os pais muitas vezes calam-se e suportam sem


compartilhar sua angústia como forma que identificam de
apoiar a esposa.
“Os pais menos deprimidos foram os que mais ajudaram
na recuperação da mãe.” (p.1237)

“A esposa precisa reconhecer que o marido pode parecer


demandar menos conversas sobre seus próprios
sentimentos. Isso não significa que os pais se importam
menos, mas que podem não reconhecer seus próprios
sentimentos ao tentar manter um equilíbrio emocional
dentro da família. À medida que o tempo avança e o
equilíbrio emocional da família se estabiliza, a depressão
dos pais pode se tornar mais evidente, expressa nas
necessidades sociais.” (p.1238)
DYREGROV, Atle; MATTHIESEN, Stig Berge. Similarities
and differences in mothers' and fathers' grief following
the death of an infant. Scandinavian Journal of
Psychology, Estocolmo, v. 28, n. 1, p.1-15, jan. 1987

Pesquisando 55 casais, “Os resultados demonstraram


diferenças bastante fortes entre as reações dos parceiros,
com as mães tipicamente experimentando reações mais
intensas e duradouras do que os pais. As mães também
tendiam a perceber sua família e amigos como menos
solidários que os pais, enquanto os pais estavam menos
satisfeitos com o apoio recebido do hospital.” (p.1)

“Em relação ao apoio do hospital, encontramos pais mais


insatisfeitos que mães. Em nosso programa de intervenção,
os pais se queixaram de serem negligenciados no hospital.
Geralmente, eles dizem que foi perguntado à mãe como ela
se sentia e raramente alguém perguntava como ele se
sentia.” (p.14)
“Informações antecipatórias sobre as diferenças de luto
entre mães e pais, quaisquer que sejam as causas, podem
evitar dificuldades conjugais e ajudar os pais a se
adaptarem a uma situação importante de estresse na
vida.” (p.14)

Sintomas depressivos intensos na mãe levavam a sintomas


mais intensos nos pais e vice-versa, o que reforça a
necessidade de dedicar atenção não somente à mãe, mas
também ao pai.
PAGE-LIEBERMAN, Judith; HUGHES, Cynthia. How
Fathers Perceive Perinatal Death. The American
Journal of Maternal / Child Nursing, Filadélfia, v. 15,
n. 5, p.320-323, jul. 1990.

Entrevista com 51 pais, relatando que “A responsabilidade


que os homens sentiam de sustentar suas esposas
compunha a natureza crucial do período [da notícia da
morte]. Sentimentos de responsabilidade conflitavam com
sentimentos de desamparo ou dependência.” (p.320)

“Muitos pais foram apanhados entre o próprio sofrimento e


as necessidades de suas esposas. A maioria expressou a
necessidade de serem fortes e não permitirem que seu
próprio sofrimento agravava o de suas esposas.” (p.320)
Um dos pais entrevistados sintetizou aquilo que outros
expressaram: “Nos conte a verdade, nos leve para ver o
bebê, sugiram a nós o que ajudou outras pessoas.” (p.321)

O artigo indica também a importância que os pais


atribuíram a realizar algum rito funerário de seus filhos.

O artigo traz algumas recomendações para ajudar os pais


durante a morte perinatal:
 Reveja o trabalho de parto e elogie os pais pelas
decisões realizadas
 Evite comportamento estritamente profissional,
demonstrar empatia indica que a equipe reconhece a
extensão da perda
 Encoraje os pais a participarem de grupos de apoio
 O papel das enfermeiras é fundamental, uma vez que
estabelecem maiores contatos com os pais
STINSON, Kandi M. et al. Parents' Grief following
Pregnancy Loss: A Comparison of Mothers and
Fathers. Family Relations, Mineápolis, v. 41, n. 2,
p.218-223, abr. 1992.
Pesquisa realizada com 56 casais, indica que: “As mulheres eram
significativamente afetadas que os homens na maioria das
dimensões do luto aos 2 meses, 1 e 2 anos após a perda, exceto na
dimensão que indica as consequências mais graves do luto.
Enquanto os homens sofrem, às vezes intensamente, eles podem
negar seu sofrimento e internalizar sentimentos de perda ao invés
de expressá-los abertamente devido às normas culturais que
defendem a inexpressividade masculina.” (p.218)

“Enquanto alguns pesquisadores acham que as mães veem a família


e os amigos como menos solidários que os pais, vários outros
acham que os pais têm menos apoio social e sentem que não têm
ninguém com quem discutir a perda e seus sentimentos.” (p.219)
“O luto das mulheres diminui bastante com o tempo,
enquanto o dos homens permanece o mesmo. A
intervenção precoce pode auxiliar a diminuição do
sofrimento dos homens ao longo do tempo. Assim, a
intervenção precoce focada na superação do luto pode
ter o efeito a longo prazo de diminuir a dor dos homens
de 1 a 2 anos após o óbito. É possível, no entanto, que o
luto siga um cronograma diferente em homens e
mulheres. Nesse caso, as mulheres precisarão de
aconselhamento e apoio mais intensivos imediatamente
após a perda, enquanto os homens precisarão deles em
momentos posteriores.” (p.222)
BADENHORST, William et al. The psychological effects of
stillbirth and neonatal death on fathers: Systematic
review. Journal Of Psychosomatic Obstetrics &
Gynecology, [s.l.], v. 27, n. 4, p.245-256, jan. 2006.
Informa UK Limited.
http://dx.doi.org/10.1080/01674820600870327.

“Os pais descreveram experiências relacionadas ao seu


papel social e a possíveis conflitos entre casais em luto.
Pesquisas quantitativas relataram sintomas de ansiedade e
depressão, mas em um nível inferior ao das mães. Os pais
podem desenvolver transtorno de estresse pós-
traumático após o nascimento de um bebê morto.”
(p.245)
“As mulheres estão no centro da gravidez: presume-se
que sofram muito quando algo dá errado, experimentando
tanto a perda dolorosa quanto a ferida de ter „falhado‟ em
dar à luz uma criança saudável e, às vezes, um desejo físico
pela criança perdida. No entanto, o homem de hoje está
envolvido ativamente na antecipação e preparação para o
nascimento de seus filhos e desempenha um papel
importante em seus cuidados e educação. Se a experiência
física da gravidez (por exemplo, a conscientização dos
movimentos fetais) e a antecipação da maternidade
contribuem para que as mulheres se apeguem ao bebê
antes do nascimento, um processo semelhante pode estar
ocorrendo com os homens, que hoje em dia podem ter
acesso ao ultrassom e fotos do feto, acompanhando suas
parceiras a consultas pré-natais e, portanto, antecipando a
paternidade.” (p.255)
KAVANAUGH, Karen; MORO, Teresa. Supporting
Parents after Stillbirth or Newborn Death. The
American Journal of Nursing, Filadélfia, v. 106, n. 9,
p.74-79, set. 2006.

Ressalta o papel fundamental das enfermeiras em oferecer


apoio e empatia aos pais que passam por situações de
perda neonatal, o diálogo que ultrapassa as questões
profissionais e aproximam as pessoas que estão em luto.

Indica que as enfermeiras precisam ser cuidadas, que


devem receber apoio profissional pois, de algum modo,
vivenciam o luto juntamente com os pais.
MARTINEZ, Anne-marie et al. Having Therapeutic
Conversations With Fathers Grieving the Death of a
Child. Omega: Journal of Death and Dying, [s.l.], v. 0,
n. 0, p.1-14, jan. 2019.
http://dx.doi.org/10.1177/0030222819825916 |

A morte de uma criança é uma das experiências mais difíceis


pelas quais os pais podem passar acerca de seus filhos.
Relatam-se altos níveis de sofrimento mental e inclusive
físico. Quando os profissionais de saúde aproximam-se dos
pais, apoiando-os, há uma maior facilidade da vivência do luto.

As crenças individuais e familiares podem facilitar ou


restringir a experiência de enfrentamento do luto e, com a
intervenção explorando as crenças dessas famílias, abre-se a
comunicação e o sofrimento pode ser amenizado.
Os homens são tradicionalmente educados para agir,
resolver seus problemas e abster-se de expressar tristeza
e sofrimento; em suma, eles são criados para serem
„durões‟.

Documentar o trabalho realizado com as famílias,


sugerindo um Illness Beliefs Model (IBM), como um modo
de pensar o trabalho realizado com as famílias e com os
pais.

A ideia de paternidade relaciona-se à ideia de


masculinidade.
“Há evidências para apoiar a necessidade de entender melhor as
crenças sobre o luto de indivíduos e famílias. Thirsk e Moules
(2013) usaram a IBM para aprimorar o entendimento de famílias
que sofrem luto, a fim de promover esperança para as famílias e
diminuindo o sofrimento. Vários estudos também descreveram a
aplicação da IBM em outras áreas que não o luto. O estudo de
Arestedt, Benzein e Persson (2015) com famílias vivendo com
doenças crônicas revelou que as crenças individuais e familiares
podem ter um impacto no enfrentamento do cotidiano. Seus
resultados reconheceram a importância dos profissionais de
saúde descobrirem as crenças individuais e familiares durante suas
conversas terapêuticas, pois as crenças são responsáveis pela
forma como os indivíduos respondem às situações. (p.5)

“O IBM inclui quatro tipos de macromovimentos que servem


como diretrizes para o envolvimento em conversas terapêuticas.
Esses macromovimentos são: (a) criar um contexto para mudar as
crenças, (b) descobrir e distinguir crenças de doenças, (c) desafiar,
alterar e modificar crenças restritivas e (d) identificar e fortalecer
crenças facilitadoras. “ (p.6)
Conclusão
Sem dúvida a morte de um filho é uma
experiência limite para qualquer pessoa,
principalmente se esse pai se envolveu com
a paternidade de modo efetivo. Auxiliar
esse pai a elaborar seu luto não é deixar de
lado a mãe, mas talvez auxiliar na
recuperação emocional de uma pessoa que
estará ao lado dessa mãe e de outras
pessoas.
Muito obrigado por conhecer minha
história e minhas reflexões!

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