Anotações Amanda Ribeiro dos Santos - História - UFMG
Anotações de leitura: MCCLINTOCK, Anne. A família branca do homem: o discurso colonial
e a reinvenção do patriarcado. In: Couro Imperial: Raça, gênero e sexualidade no embate colonial. - inicia expondo como a África do Sul se tornou uma espécie de pólo econômico depois da descoberta de diamantes em 1867 e mais tarde com a descoberta do ouro. - Aponta a narrativa romanesca de Henry Haggard de título As minas do Rei Salomão como um exemplo para as contradições entre o imperialismo e o colonialismo através dos embates de gênero e raça. - busca explorar o "reordenamento do trabalho negro e da família negra" que, segundo ela, foi legitimado pelos discursos: - progresso e degeneração; - tradição global inventada do pai branco à frente da Família do Homem. - A decadência da família do homem: uma narrativa biográfica - Haggard conseguiu escrever muito pelo que via dos pais. Pai conservador sofrendo com a transição da hierarquia do poder rural para o imperial na era vitoriana. A mãe tinha aspirações literárias. - Haggard usa o nome da mãe. A autora indica sua "submissão" à isso levando em conta que ele não passou para as gerações o nome do pai, como se esperava no patriarcado. - McClintock explica o medo que Haggard tinha da boneca de pano cuja babá o manipulava para ser obedecida. Mais um papel feminino. - "afirmação cerimonial da autoridade fálica". p. 346 - a autora afirma que Haggard receava a autoridade geradora feminina devido à contradição de ver o feminino da alta classe média sendo dedicada ao ócio ao mesmo tempo que figuras femininas ocupavam o espaço do trabalho doméstico mandão. - Degeneração: A crise das origens - "mancha de sangue" como degeneração de raça e classe. - o que ela está chamando de "arena do Império"???? - Haggard foi desde novo visto como o que causaria a decadência da família por causa do sangue ruim. Seu pai sempre o subestimou e a pauta de sua degeneração ganhou espaço considerável nas biografias e críticas. - as colônias como solução imperialista: tá ruim na metrópole? vai pra colônia, enriquece e volta nobre. - os "degenerados", por não serem cobrados a nada, tinham a liberdade de ser o que quiser e ir para onde quisessem, McClintock chama de desvio geográfico e afirma que esses homens eram os "homens supérfluos" segundo Arendt. - foi assim que Haggard foi parar nas Colônias do Cabo com 19 anos em 1875. - A regeneração da família do homem: uma narrativa imperial - transição do fracasso da filiação feudal para a ascensão na filiação à burocracia colonial. Anotações Amanda Ribeiro dos Santos - História - UFMG
- Haggard passa de um bosta pra um burguês bostinha na África do
Sul - reinvenção da família feudal - a Colônia se torna o lugar da família com autoridade patriarcal enquanto essa estrutura familiar perdia força na metrópole por causa da burocratização imperial. - Regeneração patriarcal: As minas do rei Salomão - Aponta que a narrativa expõe as duas teorias de desenvolvimento racial - decadência histórica - paternidade branca (Egito) até a degeneração negra - degeneração negra à regeneração branca - filho nativo degenerado ao pai branco adulto. - Explica que Haggard tinha a noção de a colonização aplicada aos negros funcionava de modo diferente, como se rebaixasse para depois reerguer, porque negros seriam atrasados.. - essa abordagem de narrativa estética do rebaixamento como progresso histórico, e como ganhou destaque, é "princípio da conquista colonial" - pode-se falar na anticonquista de Pratt? - A feminização das "terras vazias" - hotentonte como estado primitivo, o feminino como degeneração maior que a degeneração racial. - superioridade britânica - a exploração deve ser como descobrimento, conhecimento. Contudo, a autora aponta que os personagens de Haggard voltavam à degeneração da linguagem, usando o que já tinha sido feito. A exploração só podia acontecer porque já tinha acontecido. - nessa parte (p. 357) parece muito a linguagem da episteme de Mudimbe. - o argumento acima justifica a busca de Haggard pela origem, como se só acontecesse aquilo que já ocorreu anteriormente na história. - O espaço anacrônico - Impressão de valores europeus na cultura dos povos africanos. Espaço é realmente espaço geográfico. Ignora-se os costumes naturais para impor os europeus britânicos. - Episteme de Mudimbe mas sai da teoria e vai para a prática??? - A mãe arcaica: abjeção colonial - "as minas do rei Salomão é um elaborado esforço paranóico de afastar a mistura da mãe criada da classe trabalhadora e mulher negra, através de uma narrativa disciplinadora da força reprodutiva feminina" (p. 361) - não entendi bem esse tópico - O fetichismo da mercadoria e o ritual do nascimento masculino - fetiche do nascimento do homem quando a mãe morre. Enquanto não se desprende da mãe, o homem é uma criança. - "As minas do rei Salomão concebe a reinvenção do patriarcado imperial branco através de uma poética racial e de gênero legitimadora" (p. 363) Anotações Amanda Ribeiro dos Santos - História - UFMG
- A invenção de tradições: Pais brancos e reis negros
- enigma de muita terra vazia e muita gente para pouco trabalho - Haggard achava que se tirasse a mulher daí ia dar certo. - brancos "torciam" para o negro que eles achavam que seria um rei subserviente ao rei imperial. - tradição inventada da monarquia imperial. - essa reinvenção dos pais e dos reis respondiam várias contradições (p. 368) - A invenção da ociosidade - discurso sobre trabalho (desejável e indesejável). - o "ócio" e "vadiagem" dos negros era na verdade hábitos de trabalho diferentes - Casamento, donzelas e minas - os brancos associavam a poligamia aos hábitos de trabalhos. e a viam como degeneração racial, crítica moral. - Também se sentiam ameaçados pela poligamia dos africanos porque consideravam que os homens escravizavam as esposas e assim, tinham mais força para ultrapassar o europeu. (kk chacota) - "o lar se baseava numa exploração sistemática do trabalho das mulheres e na transformação desse trabalho em poder político e social masculino" (p. 372). - imposto de moradia - tá liberado explorar o trabalho feminino desde que nós, brancos, sejamos beneficiados. - a narrativa de legitimação fálica e racial é legitimada pela dominação das mulheres na "arena do imperialismo" e o ""saque das terras e dos minérios é legitimado através do desaparecimento da mãe e da reinvenção do patriarcado branco dentro do abraço orgânico da regenerada Família do Homem". (p. 376)