Você está na página 1de 3

TEORIA DA NORMA JURÍDICA

Norberto Bobbio

CAPÍTULO 1
O DIREITO COMO REGRA DE CONDUTA

1. UM MUNDO DE NORMAS

A experiência jurídica é uma experiência normativa.


O homem se desenvolve guiado por regras jurídicas, toda a nossa vida é
repleta de normas, que nos ditam o que é permitido e o que não é.
Sendo assim, o Direito constitui uma parte notável, e talvez a mais
visível da nossa experiência normativa.

2. VARIEDADE E MULTIPLICIDADE DAS NORMAS

Além das normas jurídicas, existem preceitos religiosos, morais, sociais,


que conduzem a vida do indivíduo.
Cada indivíduo pertence a diversos grupos sociais, como a igreja, o
Estado, a família. Cada uma dessas instituições se constituí de regras
de conduta, o indivíduo formula a direção da própria vida com base em
tais regras.
Todas essas regras são muito diversas pela finalidade que perseguem,
pelo tipo de obrigação que fazem surgir, pelos sujeitos a quem se
dirigem. Mas todas têm a finalidade de influenciar o comportamento do
indivíduo e dos grupos.

3. O DIREITO É INSTITUIÇÃO?

Os elementos constitutivos do conceito de direito são três: a sociedade,


como base de fato pela qual o direito ganha existência; a ordem, como o
fim a que tende o direito; a organização, como meio para realizar a
ordem.
Dos três elementos, o mais importante é a organização. Só a
organização é a razão suficiente do direito, a razão pela qual o direito é
aquilo que é, e sem a qual não seria o que é.
Isso significa dizer que, o direito nasce no momento em uma sociedade
passa da fase não organizada para a fase organizada. O fenômeno
dessa passagem se chama, institucionalização. Dizemos que um grupo
social se institucionaliza quando este, cria sua própria organização.

4. O PLURALISMO JURÍDICO

A teoria institucionalizada abriu os horizontes da experiência jurídica


para além das fronteiras do Estado. Fazendo do direito um fenômeno
social e considerando o fenômeno da organização como critério
fundamental para distinguir uma sociedade jurídica de uma sociedade
não jurídica. Essa teoria rompeu com a teoria estatalista do direito, que
considera o direito apenas o direito estatal.
A teoria estatalista do direito é produto histórico da formação dos
grandes Estados Modernos, erigidos sobre a dissolução da sociedade
medieval. Essa sociedade era pluralista, ou seja, formada por diversos
ordenamentos jurídicos.
Se hoje ainda persiste uma tendência em identificar o direito com o
direito estatal, essa é uma consequência do processo histórico de
centralização do poder normativo que caracterizou o surgimento do
Estado Moderno.
A teoria institucionalizada representa uma reação ao estatalismo. Ela é
uma das maneiras pelas quais os teóricos do direito e da política
tentaram resistir à invasão do Estado.

5. OBSERVAÇÕES CRÍTICAS

A teoria da instituição é analisada como uma teoria cientifica, isto é,


como teoria que se propõe a oferecer meios distintos e melhores do que
os oferecidos pela teoria normativa.
O problema sobre o qual se insiste na polemica entre pluralistas e
monistas, é a de que se o direito é apenas aquele produzido pelo estado
ou também aquele produzido por grupos sociais diversos.
Quem afirma que o direito é apenas aquele produzido pelo Estado, usa
a palavra direito em sentido restrito, ao contrario daqueles que afirmam
que o direito também é produzido por instituições diversas.
Não existe uma definição falsa ou verdadeira, entretanto, é mais
oportuno ver o direito de uma maneira mais ampla, porque limitando o
direito a norma, se contraria o uso linguístico que chama de direito
também o direito das instituições sociais.

6. O DIREITO É UMA RELAÇÃO INTERSUBJETIVA?

A teoria da instituição surge criticando não somente a teoria normativa


como também a teoria da relação intersubjetiva. Segundo os defensores
do institucinalismo, uma pura e simples relação entre dois sujeitos não
constituí direito, para que surja o direito é necessário que esta relação
esteja inserida em uma serie mais vasta e complexa de relações
constituintes, ou seja, a instituição.
A doutrina da instituição, se inspira nas correntes sociológicas mais
modernas, que considera o direito como um produto não do indivíduo ou
dos indivíduos, mas da sociedade em seu complexo.

7. EXAME DE OUTRA TEORIA


A mais recente teoria do direito como relação jurídica está exposta na
(Teoria Geral do Direito de Alessandro Levi). Levi fez do conceito de
relação jurídica o pilar sobre o qual exigiu sua construção.
Ele diz ser a relação jurídica o conceito sobre o qual se funda a
construção sistemática ou cientifica de todo ordenamento jurídico.
Levi também eleva a relação jurídica a um conceito filosófico, a uma
espécie de categoria fundamental e originaria para a compreensão do
direito.
Por “relação jurídica” Levi entende, uma relação intersubjetiva, ou seja,
entre dois sujeitos dos quais um é titular de obrigação e o outro de
direito.

8. OBESERVAÇÕES CRÍTICAS

A relação jurídica é uma relação direito-dever. A relação jurídica,


enquanto direito-dever remete sempre a duas regras de conduta, dentre
as quais a primeira atribui um poder, e a outra atribui um dever.
A relação jurídica é caracterizada não pela matéria que constitui seu
objeto, mas pelo modo em os sujeitos se comportam em face do outro.
Ou seja, o que caracteriza tal relação não é o conteúdo, mas a forma.
É a norma que qualifica a relação e a transforma em relação jurídica e
não vice-versa.

Você também pode gostar