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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PREFEITO MUNICIPAL DE CASCAVEL

PROCESSO Nº 529/2019

EMERSON PEZZOLATO, brasileiro, casado, Guarda municipal, matrícula nº


30.782-3, portador da identidade nº 8.092.530-1 PR , residente e domiciliado
na rua Dom Pedrito nº 280 , bairro Canadá , Cascavel – PR, vem, sempre com
maior respeito a ilustre presença de Vossa Senhoria, por seu representante e
procurador bastante, ao fim subscrito, com endereço declinado em rodapé,
para onde deverão ser remetidas as intimações e demais notificações que se
fizerem necessárias, interpor, tempestivamente, por meio deste petitório, o
presente.

RECURSO DE RECONSIDERAÇÃO

O fazendo com base nos princípios da Ampla Defesa e do Contraditório, nos


termos do Artigo 108, da lei Federal n.º 8.112/90, e no Artigo 145, da lei
Municipal n.º 2.215/91, e nos fundamentos fáticos e jurídicos adiante
expendidos.

I DOS FATOS

Trata-se de processo administrativo disciplinar para apurar a conduta do


servidor, que na data de 23 de dezembro de 2018, por volta das 00h10min,
junto à sua equipe de serviço da Guarda Municipal, realizaram uma abordagem
na Rua Pernambuco, região central da cidade, na qual a pessoa de Maykon
Wendel de Morais, o mesmo foi abordado e agredido com socos e chutes por
toda a equipe, e em seguida encaminhado para a 15ª SDP.

Tal ocorrência teve imagens amplamente exploradas pelos órgãos de


comunicação social de Cascavel e região, em razão de cenas que apontam
atos de agressão praticados pela Equipe da Guarda Municipal.

Sendo assim o Chefe do Executivo Municipal, solicitou as demais formalidades


necessárias para a instauração do Processo Administrativo Disciplinar, junto a
Corregedoria da Guarda Municipal, tal demanda fora encaminhada através da
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C.I. n.º 002/2018, conforme se depreende nos autos do processo n.º 529/19.
Sendo assim, foi instaurado o Presente Processo Administrativo Disciplinar e a
Comissão Processante formada pelos servidores Roberto Polis de Souza,
Francisco de Assis Rodrigues Oliveira e Elias Silva, cuja decisão contida no
Relatório Final, decidiu pela imposição da penalidade de DEMISSÃO, declarou
culpado por ter praticado várias infrações descritas no Art. 16, IV, V, X e Art.
17, XI, XVI da Lei Municipal n.º 6.532/15, bem como passíveis de pena de
demissão de acordo com o dispositivo no art. 214, III e VII da Lei Municipal n.º
2.215/91, reiterado pela publicação no Diário Oficial do Município pelo Decreto
n.º 14.647, de 12 de fevereiro de 2019, sendo-lhe aplicada a pena de
Demissão.

Desta forma, diante da desproporcionalidade da penalidade aplicada, bem


como em respeito aos princípios da proporcionalidade, razoabilidade,
contraditório e ampla defesa, pretende ter reformada a decisão retro.

II DO MÉRITO

2.1. DA FORMAÇÃO DA COMISSÃO

Todos os servidores que compuseram a Comissão Processante estão ainda no


estágio probatório. O servidor público efetivo, adquire estabilidade, após três
anos de efetivo exercício no cargo. É nula a decisão de constituição de
Comissão processante e de instauração de Processo Administrativo Disciplinar
composto por servidor não estável, eivando de nulidade todo o processo e a
decisão de demissão, sendo necessária a reintegração no cargo do servidor
demitido. Pois configura ofensa à exigência contida no artigo 149 da Lei
Federal n.º 8.112/90, cuja dicção a estabilidade do trio processante deve
constituir-se garantia processual de independência funcional. A inobservância
de tal preceito contraria o devido processo legal administrativo e é causa de
nulidade absoluta do processo instaurado, a qual dispensa a demonstração do
efetivo prejuízo, acobertada pela presunção de veracidade jure et de jure da
primeira parte do mencionado dispositivo legal. Quando a Administração
desempenha função de natureza material jurisdicional, tem de atuar segundo
as regras regentes do processo judicial, inclusive no que diz respeito à
composição de Comissão Processante, por respeitar a garantia do juiz Natural.

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Está comprovado que os servidores não estáveis compuseram a Comissão
Processante e participaram de toda a Instrução do Processo Administrativo, o
que impõe a aplicação da sanção de nulidade absoluta ao referido ato, que
acusa de forma notória e categórica os prejuízos causados ao investigado.
Referida nulidade alcança, ainda, os atos que foram praticados com
fundamento naqueles em que o Servidor não estável interveio, tal como
apregoa a teoria dos frutos da árvore envenenada. Reitera-se, por sua
oportunidade, que a repressão aos atos ilícitos, onde quer que ocorram, deve
ser executada com determinação e eficiência, mas não se pode admitir que, a
pretexto de sancionar o desprezo das garantias processuais das pessoas.

ADMINISTRATIVO. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR.


MEMBROS DA COMISSÃO. ART. 149 DA LEI 8.112/1990. COTEJO DA
ESTABILIDADE COM O ESTÁGIO PROBATÓRIO. IMPARCIALIDADE.

1. Trata-se de Mandado de Segurança contra ato de demissão, por meio de


Processo Administrativo Disciplinar, no qual figurou como membro da
Comissão, servidor que havia conquistado estabilidade em cargo anterior
(técnico do INSS); porém, aprovado em ulterior concurso (analista da CGU),
encontrava-se ainda em estágio probatório.

2. A ratio da imposição do Art. 149 da Lei 8.112/1990 é blindar, exlege, os


membros da Comissão contra pressão capaz de alterar o equilíbrio na tomada
de decisões, influindo de forma espúria sobre a imparcialidade.
3. No caso concreto, o membro da Comissão processante, quando de sua
nomeação, ainda estava em estágio probatório, sujeito a avaliações e,
inclusive, à exoneração.
4. Interpretação do Art. 149 da Lei n.º 8.112/1990, atrelada à garantia de
imparcialidade em processos administrativos, recomenda seja acolhida a
pretensão da impetrante.
5. Segurança concedida para anular o PAD.
Portanto, resta demonstrada que todos os atos praticados durante o Processo
Administrativo Disciplinar foram nulos, e o mesmo deve ser revisto e arquivado.
Embora a legislação Municipal de Cascavel não preveja a possibilidade de a
Comissão Processante ser composta por servidor estável, o Art. 226 do

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Estatuto do Servidor do Município de Cascavel não se conforma com os
princípios da própria Constituição Federal, sendo considerado nulo o processo
administrativo conduzido por comissão processante de servidores não estáveis,
por violar os princípios da imparcialidade e moralidade.
Apesar da autonomia conferida aos Municípios pela Constituição Federal para
a regulamentação do regime jurídico aplicável aos seus servidores, os
princípios constitucionais da impessoalidade, imparcialidade e moralidade do
administrador no exercício de suas atividades devem ser observados.
A intenção do legislador ao editar o artigo 149 da Lei 8.112/90, foi resguardar o
princípio da imparcialidade e moralidade no julgamento administrativo, uma vez
que o servidor estável, membro de comissão disciplinar, não se intimidará com
a hipótese de pressão dos seus superiores em razão da ausência do receio de
perda do emprego público. Assim, embora a legislação municipal não exija
explicitamente que a Comissão seja composta por servidor estável, é verdade
que o Art. 226 do Estatuto do Servidor do Município de Cascavel, não se
conforma, neste aspecto, com os princípios informadores do processo
administrativo estabelecido na lei nacional e na própria Constituição Federal.

2.2.DA DESPROPORCIONALIDADE DA PENA


Em decisão proferida pelo Senhor Prefeito Municipal este condenou o
Recorrente a pena de demissão, por violação as infrações descritas no Art. 16,
IV, V, X e Art. 17, XI, XVI da Lei Municipal n.º 6.532/15, bem como passíveis de
pena de demissão de acordo com o dispositivo no art. 214, III e VII da Lei
Municipal n.º 2.215/91.

Ao tratarmos de processo sancionador, não podemos deixar de lado o artigo


128 da Lei n.º 8.112/90, vejamos:
Art. 128. Na aplicação das penalidades serão consideradas a natureza e a
gravidade da infração cometida, os danos que dela provierem para o
serviço público, as circunstanciam agravantes ou atenuantes e os
antecedentes funcionais.
Parágrafo único. O ato de imposição da penalidade mencionará sempre o
fundamento legal e a causa da sanção disciplinar.

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Ou seja, a penalidade a ser aplicada requer uma proporcionalidade mínima à
gravidade da infração, além dos danos evidenciados. Estes causados por
imaturidade funcional e inexperiência no trabalho, além de que não contavam
com outro servidor com experiência pré-estabelecida, sendo que os três
servidores são da Primeira turma da Guarda Municipal.
Trata-se da necessária observância à previsão legal da proporcionalidade,
disposta no Art. 2º da Lei que Regula o Processo Administrativo, Lei n.º
9.784/1999:
Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
Legalidade, Finalidade, Motivação, Razoabilidade, Proporcionalidade,
Moralidade, Ampla Defesa, Contraditório, Segurança Jurídica, Interesse
Público e Eficiência.

Em sintonia com este entendimento, Alexandre de Moraes1 esboça a


relevância da conjuntura entre a razoabilidade e proporcionalidade dos atos
administrativos, em especial nos que refletem em penalidades:
O que se exige do Poder Público é uma coerência logica nas decisões e
medidas administrativas e legislativas, bem como na aplicação de medidas
restritivas e sancionadoras; estando, pois absolutamente interligados, os
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
Portanto, demonstrado a boa-fé do Recorrente em toda a condução de suas
atividades, não há que se cogitar numa penalidade tão gravosa, devendo existir
a ponderação dos princípios aplicáveis ao processo administrativo, podendo
ser aplicada no mínimo a pena de suspensão, prevista no Art. 130 da Lei
8.112/90.
Portanto, merece amparo o que se pleiteia, de forma que seja revista a
penalidade aplicada, para fins de equilíbrio entre a irregularidade e a
penalidade aplicada.

III DOS PEDIDOS

1
Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional, ed. Atlas, São Paulo, 2004, 4ª edição, p.
370.

5
Consoante o fundamentos fáticos e jurídicos retro expendidos, requer o
recebimento deste Recurso de Reconsideração, para fins de que seja revista a
decisão, requerendo preliminarmente que o processo seja arquivado devido à
ocorrência da nulidade na formação da Comissão processante. Caso tal
argumento não seja aceito, requer-se subsidiariamente que seja feita uma
revisão na penalidade aplicada ao Recorrente deixando de lhe ser aplicada
qualquer penalidade que seja, ou subsidiariamente, que seja a pena de
demissão convertida em pena de suspensão.

Nestes termos, Pede Deferimento.


Cascavel, 05 de Outubro de 2019.

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Recorrente – Emerson Pezzolato

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