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16/02/2019 “Ele se excedeu na legítima defesa”, diz delegado sobre segurança do Extra | Brasil | EL PAÍS Brasil

BRASIL

“Ele se excedeu na legítima defesa”, diz delegado sobre


segurança do Extra
Morte de jovem de 19 anos por parada respiratória após ser imobilizado
por funcionário alimenta debate suscitado por pacote de Sérgio Moro
JOANA OLIVEIRA

São Paulo - 15 FEV 2019 - 17:50 BRST

Testemunhas registraram o momento em que o segurança imobilizou o rapaz. REPRODUÇÃO/REDES SOCIAIS

Um segurança do hipermercado Extra da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, matou um


jovem de 19 anos depois de deitar em cima de seu corpo e aplicar uma gravata para
imobilizá-lo nesta quinta-feira. Pedro Henrique Gonzaga sofria uma parada respiratória,
enquanto testemunhas tentavam convencer Davi Ricardo Moreira, o funcionário do
estabelecimento, de soltá-lo:  "Está sufocando ele!", "Ele está roxo!", gritavam, conforme
mostra um vídeo que circula nas redes sociais, em que é possível vê-lo por ao menos
dois minutos na posição, enquanto o rapaz parece desacordado. Em um momento, um
cliente do mercado aproxima-se de Moreira, tentando afastá-lo do jovem, ao que o
segurança responde: "Não segura, senhor, quem sabe sou eu". O funcionário, que
acusava o jovem de ter tentado roubar sua arma, "se excedeu na legítima defesa", na

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avaliação do delegado Cassiano Conte, responsável pelo caso. Ele prestou depoimento,
pagou 10.000 de fiança e foi liberado. Pedro será enterrado neste sábado.

O rapaz chegou a ser socorrido pelo Corpo de Bombeiros e foi levado para um hospital
no mesmo bairro em que fica o mercado, mas não resistiu e morreu na unidade
hospitalar. Moreira foi preso em flagrante, mas deixou a Delegacia de Homicídios do Rio
na madrugada desta sexta-feira. Ele responderá em liberdade por homicídio culposo
(quando não há intenção de matar).

O caso ocorre pouco mais de uma semana depois de o ministro da Justiça e Segurança
Pública, Sérgio Moro, apresentar um projeto de lei anticrime que amplia a definição e o
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escopo do que passa a ser considerado legitima defesa no que tange a agentes estatais.
Um agente de segurança que matar uma pessoa e alegar que agiu sob “escusável medo,
surpresa ou violenta emoção” pode ficar sem nenhuma punição, de acordo com o
projeto —trata-se do chamado excludente de ilicitude—. De acordo com o Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, 14 pessoas são assassinadas após intervenção policial
no país. 

Especialistas em segurança pública temem que o abrandamento da


MAIS INFORMAÇÕES
legislação com o excludente de ilicitude abra portas para que o
projeto de lei vá além dos agentes do Estado. "A grande questão é a
retórica dessa medida, que legitima o excesso de uso da força. Claro
que, como o projeto do ministro Moro ainda está em debate, não é
possível relacioná-lo diretamente com este caso, mas é, sim, um
exemplo do que pode acontecer com essa desproporcionalidade na
Plano Moro afrouxa
legítima defesa", pondera Ilona Szabó, cientista política especialista
regras para policiais
que matam e sugere em segurança pública do Instituto Igarapé.
medidas que já
foram barradas
Para Bruno Langeani, gerente de Sistemas de Justiça e Segurança
Pública do Instituto Sou da Paz, o caso tem menos relação com o
projeto de Moro e mais com a retórica que o governo de Jair
Bolsonaro (PSL) arrasta desde as eleições. "É mais um resultado do
discurso que diz que 'bandido bom é bandido morto'".

Uma favela do Rio Versão da defesa


apavorada após a
morte de seis Em declarações ao jornal Extra, o advogado do segurança, André
pessoas por tiros
certeiros que vêm do
França, contou que, de acordo com a versão de Moreira, o jovem
céu correu em direção ao segurança, parecendo "alterado" e se jogou no
chão para simular um ataque convulsivo e, depois, um desmaio. O
segurança teria, então, iniciado um procedimento de primeiros
socorros: "Nesse momento, ingressa a mãe do rapaz informando
que ele era dependente químico, que estava sob o efeito de
entorpecentes. Ele desperta dessa simulação, agride o segurança,
entra em luta corporal. Ele consegue retirar do coldre a arma do
A brutal morte de
segurança, levanta e começa a ameaçar esse segurança, o outro e
um cachorro vira-
lata em um mais presentes no estabelecimento. O segundo segurança consegue
retirar a arma do rapaz, que entra em luta com o Davi, que consegue
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Carrefour leva o fazer a contenção e aguarda a chegada da força policial", relatou o


Brasil ao divã
advogado.

A rede de supermercados Extra reiterou, em nota, que a ação do segurança foi uma
reação à "tentativa de furto da arma de um deles", mas que afastou os profissionais
envolvidos na agressão. "A rede esclarece que repudia veemente qualquer ato de
violência em suas lojas", diz a nota. "Após o indivíduo ser contido pelos seguranças, a
loja acionou a polícia e o socorro imediatamente. A empresa já abriu um boletim de
ocorrência e está contribuindo com as autoridades para o aprofundamento das
investigações", finalizou a empresa.

Em depoimento à polícia, familiares da vítima confirmaram que encontravam-se no


supermercado para comprar mantimentos para o jovem, que seria internado em uma
clínica na cidade de Petrópolis para tratamento da dependência química. De acordo com
o delgado Cassiano Conte, o depoimento também indica que, ao ter um surto, Pedro
Henrique teria ido em direção ao segurança, com quem entrou em luta corporal. "Eu não
tenho elemento concreto que o vigilante queria a morte dele. O que eu tenho é ele
tentando conter o jovem, da pior maneira possível. Ele exagerou, foi imprudente na
técnica", disse o delegado em declarações recolhidas por O Globo.

Adere a

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