Extrato da tese “Atividades Experimentais: do método à prática construtivista”. Pinho-Alves, Jose. 2000.
metodológicas. Dentre elas, figuram aquelas que também foram objeto de
investigação de dissertações ou teses. Nossa intenção ao focalizar o trabalho
desses autores brasileiros, é destacar, além do valor intrínseco de seus estudos,
o fato de que eles investigaram o ambiente e as condições das escolas
brasileiras.
1 - Laboratório de Demonstrações
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Este tipo de laboratório está intimamente ligado à tradição magister dixit.
Ao professor cabe exercer o papel magistral e formal de senhor absoluto do
conhecimento e domínio na manipulação dos equipamentos e dispositivos. Ao
aluno, afastado de qualquer participação mais ativa, é reservado o papel de
ouvinte e observador passivo. Por outro lado, fica explícito, para esta
concepção, o papel de acessório que tem o laboratório no processo de ensino.
Sua realização é facultativa; daí sua ausência não resultar comprometimento
maior no ensino. Se sua utilização é de livre arbítrio do professor, então não se
configura como necessária na seqüência didática.
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vezes, é completado na própria aula, outras vezes em casa e torna -se um
instrumento de “verificação de aprendizagem”, ou seja, se está de acordo com
o desejado pelo professor, o aluno “aprendeu”. Soares (1977:51) é oportuna ao
afirmar que “As conclusões são, muitas vezes, tiradas em casa, longe dos
aparelhos e do fenômeno. A conclusão torna-se difícil, assim como a análise
detalhada dos dados obtidos, porque o fenômeno fica reduzido a um conjunto
de números”. Continua a crítica ao colocar que “Para um físico treinado, o qual
viveu o fenômeno durante meses, estes números são excelentes representações
do próprio fenômeno e ... para o estudante meros esquemas, com pouca ou
nenhuma representatividade do fenômeno real.”
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leis e princípios físicos; (c) habilitar os estudantes no manuseio de instrumentos
de medidas; (d) oferecer suporte às aulas e/ou cursos teóricos. Dois dos
objetivos estão relacionados com manipulação ou com algum tipo de habi lidade
motora, e podem, portanto, ser atingidos de outra forma que não a do
laboratório. Um objetivo está ligado à comprovação, e não oferece novidade de
conteúdo, limitando-se a verificar a validade da lei ou princípio físico, em
situação preparada para isto. Como suporte à aula teórica só terá alguma função
se for capaz de remeter o aluno a determinada situação física.
3 – Laboratório-Biblioteca
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Do ponto de vista pedagógico, deve, conforme concepção dos autores,
cumprir a função de exercitar e/ou demonstrar o conteúdo trabalhado no
curso, o que permite dar uma configuração qualitativa ou quan titativa aos
experimentos. Mesmo que o aluno faça somente alguns experimentos e seja
incentivado pelo professor a realizar os demais à sua disposição na “biblioteca”,
não elimina a distância entre o momento em que o tratamento teórico está
ocorrendo em sala de aula e aquele em que os experimentos são oferecidos.
4 - Laboratório “Fading”
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final, o aluno pode propor o experimento, compatível com as possibilidades do
acervo existente e, então, planejar todos os passos.
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6 - Laboratório Circulante
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7 - Laboratório de Projetos
8 - Laboratório Divergente
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descrição detalhada de experiências a serem realizadas, os procedimentos a
serem adotados, as medidas a serem tomadas e o funcionamento dos
instrumentos de medida. O objetivo desta fase é a familiarização com os
equipamentos experimentais e técnicas de medida. Ela visa muito mais um
treino e ambientação do aluno no laboratório, preparando-o para a segunda fase.
9 - O laboratório “Programado”
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Também conhecido como “Sistema de Instrução personalizada” ou ainda como “Curso Programado
Individualizado”. Foi desenvolvido na Universidade Brasília em 1962 pelos psicólogos brasileiros C. M.
Bori e R. Azzi, em conjunto com os psicólogos americanos F. S. Keller e J. G. Shermann. Entretanto,
somente em 1964 o método foi utilizado em um primeiro curso para depois se difundir no Brasil e
exterior. Em síntese, o sistema de ensino proposto se compunha de um curso dividido em uma série de
unidades, em que o aluno recebia um guia de estudo para desenvolver cada uma delas. Não havia aulas
formais e o estudante deveria estudar seguindo o guia até que julgasse dominar o conteúdo, quando então
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didático correspondente a estas disciplinas de Física, também foi alvo da
metodologia Keller. Alguns relatos descrevem a adoção do Método Keller em
disciplinas de Física, como o de Motta (1974) na Universidade Federal de
Pernambuco, Dionísio (1976) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul ou
Villani et al. (1975) no IFUSP. O laboratório associado a este método foi
denominado de Laboratório Programado e se estruturava como uma seqüência
de objetivos que o estudante deveria alcançar.
Dos relatos mencionados acima sobre o uso do Método Keller, registra -se
que, na Universidade de Pernambuco, o laboratório foi considerado como um
curso a parte. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul foi considerado
como uma atividade prática com o objetivo de ilustrar a teoria. No IFUSP
“...procurou-se definir outros objetivos para o ensino de laboratório, qual seja,
de procurar desenvolver as habilidades que constituem o comportamento de
resolver problema experimentalmente.” (Soares, 1977:80)
solicitava um teste. Alcançando a nota mínima estipulada, passava à unidade seguinte, recebendo o
material correspondente. No caso de não obter a nota mínima, retornava ao estudo da unidade e
posteriormente solicitava um segundo teste. A passagem à unidade seguinte estava vinculada à aprovação
na anterior. Em caso de dificuldades, o aluno procurava o professor ou monitores para sanar dúvidas.
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O laboratório em cada um destes cursos assume um papel diferente: ser
independente do curso teórico, ilustrar a teoria e resolver problemas
experimentais. Uma conclusão imediata é de que o laboratório se anexa aos
cursos individualizados por força de currículo, de obrigatoriedade legal e não
por motivos didático-pedagógicos. A afirmação de Soares dispensa comentários
pois para ela “... não foi colocada ênfase nas atividades de laboratório para
auxiliar o entendimento de conceitos, propondo experiências com esse
objetivo.” (Soares, 1977:82)
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Como Saad (1983) não oferece um título para sua proposta de laboratório, tomamos a liberdade de
denominá-la de Ações Múltiplas somente para efeitos de tipificação nesse trabalho. Não deverá ser
entendida como denominação original de Saad.
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de demonstração; (6) Projeto experimental e (7) Oficina eletromecânica. Sem
dúvida, Saad amplia o espectro do Laboratório Didático para os cursos
universitários, conjugando várias abordagens ou enfoques em uma só proposta.
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Neste mesmo traçado histórico também ficou demarcado que a
“experimentação” se constitui de procedimentos de uso exclusivo dos cientistas,
enquanto que, “a experiência”, passa a ser entendida como um atributo natural
de todo ser humano nas suas relações e explicações de mundo. Pelo seu caráter
especulativo, ingênuo e espontâneo a experiência foi considerada uma atividade
inadequada para a investigação dos fenômenos naturais, pois carece de validade
científica.
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utilizada pelos cientistas configura-se como um artifício equivocado para o
ensino de Física.
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mal preparados para ensinar eficientemente no laboratório”. Ele se justifica
citando Woolnough & Allsop (apud Tamir, 1991:21) quando afirmam que “(...)
a maioria dos professores de ciências cresceram eles mesmos sob uma dieta de
conteúdo dominada pelo trabalho prático do tipo cook-book e, muitos
adquiriram o hábito de propagá-lo por conta própria”. Vale lembrar que o
laboratório cook-book, já discutido, é aquele que melhor representa e simb oliza
o laboratório tradicional, onde o papel do estudante é seguir o rol de instruções
para chegar ao resultado experimental “planejado pelo professor”.
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mesmo em certos colégios humanistas, que montam também os seus laboratórios”.
(Petitat, 1992:129-grifos nosso)
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constante com relação aos efeitos daquilo que se está fazendo.” (Tamir,
1991:13)
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laboratório desempenhando um papel ativo, de modo que “os alunos possam
adquirir a sensação de fazer ciência, de ser cientista por um dia” ( Millar,
1987,109). A imagem do pequeno cientista se adequa aos propósitos
renovadores junto ao grande público e, ao mesmo tempo, se coaduna com a
imagem popular de ciência na qual, é no laboratório que surgem as “grandes
descobertas”. O espaço escolar por ser o ambiente adequado, ofereceu
condições favoráveis à propagação e divulgação da concepção do indutivismo
ingênuo através da formatação do laboratório didático proposto. Assim, mesmo
com o passar dos anos o laboratório didático, com maior ou menor grau de
envolvimento, sempre foi elemento lembrado no processo de ensino de Física.
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“o papel da experimentação é propiciar a reconstituição induzida do
conhecimento científico, ou seja, através da prática experimental dirigida o
aluno alcança a teoria” (Amaral, 1997:11). No (3) ensino pelo método dos
projetos ou pela descoberta “a experimentação ocorre como etapa de um
processo de investigação em que o conhecimento visado é autonomamente
construído pelo aluno, simulando uma pesquisa científica autêntica.” (Amaral,
1997;12). O compromisso maior, incluso em qualquer um desses modelos, é o
conteúdo científico. O primeiro se caracteriza por querer dar validade ao
conhecimento científico já construído num ambiente de confirmação dos
“dogmas da ciência”. No segundo modelo as atividades do aluno durante a
redescoberta se fazem equivalentes ao método científico e o processo de
produção do conhecimento é tratado como algo meramente empírico e indutivo.
Amaral (1997:12) comentando sobre o terceiro modelo, o de projetos, diz que
“(...) nesse modelo, o ensino de Ciências, enclausura -se no único e
inquestionável objetivo de formar o „cientista mirim‟”.
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iniciar o aprendiz na linguagem do conhecimento científico e, de forma
indireta, avaliar o domínio das habilidades práticas adquiridas.
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Revisitando o Capítulo 1, no qual foram discutidos os diferentes
projetos de ensino e diversas investigações de cunho metodológico para o
laboratório didático, se faz clara a possibilidade de enquadramos tais trabalhos
em um dos escaninhos de modelo de ensino e de laboratório didático. As
diferenças que se fazem presentes são muito mais de origem operacional do que
de principio epistemológico. A cartilha do laboratório como um instrumento de
divulgação do método experimental fica evidente quando as novas propostas
objetivam sanar algumas das deficiências citadas acima. A concepção de ciência
que permeia todas as propostas é sempre a mesma: o indutivismo ingênuo,
determinando um papel de pouca importância do laboratório do ponto de vista
de aprendizagem da ciência. Como o ensino de ciências não objetiva apenas o
ensino do método experimental, instala-se um sentimento de fracasso sobre o
papel reservado ao laboratório didático.
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