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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
São Paulo

Registro: 2014.0000675648

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


9178787-83.2009.8.26.0000, da Comarca de Jaboticabal, em que é apelante JOSE
LUIZ DE OLIVEIRA, é apelado JULIO CESAR MARINO.

ACORDAM, em 5ª Câmara Extraordinária de Direito Privado do Tribunal


de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao
recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ENIO


ZULIANI (Presidente) e NATAN ZELINSCHI DE ARRUDA.

São Paulo, 21 de outubro de 2014.

Carlos Henrique Miguel Trevisan


RELATOR
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
São Paulo

VOTO Nº 7.482
APELAÇÃO Nº 9178787-83.2009.8.26.0000
COMARCA: JABOTICABAL (1ª VARA CÍVEL)
APELANTE: JOSÉ LUIZ DE OLIVEIRA
APELADO: JÚLIO CÉSAR MARINO
JUÍZA DE PRIMEIRO GRAU: CARMEN SILVIA ALVES

VENDA E COMPRA Imóvel Obrigação de pagamento do


preço representada por notas promissórias Inadimplemento do
comprador Ação de cobrança proposta pelo vendedor
Sentença que reconhece a prescrição Títulos de crédito sem
força executiva Prescrição quinquenal Artigo 206, § 5º, inciso
I, do Código Civil Aplicação por analogia da Súmula 504 do
Superior Tribunal de Justiça Dívida prescrita Apelação
desprovida

A sentença de fls. 122/124, cujo relatório é adotado,


declarou prescrito o direito à cobrança dos valores objeto das notas
promissórias acostadas à petição inicial e julgou extinta a ação de
cobrança, com fundamento no artigo 269, inciso IV, do Código de
Processo Civil.
Apela o autor (fls. 126/138) suscitando preliminar de
cerceamento de defesa. No mérito, afirma não ter operado a prescrição,
pois a pretensão está fundada em direito pessoal, motivo pelo qual seria
aplicável o prazo prescricional de 10 (dez) anos. Requer, assim, a
reforma da sentença e o retorno dos autos ao primeiro grau para que o
andamento do feito seja retomado e sejam produzidas as provas
requeridas.
O recurso foi regularmente processado e respondido
(fls. 141/152).

Apelação nº 9178787-83.2009.8.26.0000 2
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Inicialmente distribuída à 9ª Câmara de Direito


Privado em 16 de junho de 2009 (fl. 155), a apelação foi redistribuída
em cumprimento à Resolução 643/2014 deste E. Tribunal de Justiça (fl.
156).

É o relatório.

Relata o autor na peça inicial que era proprietário de


imóvel e o vendeu ao réu, tendo este emitido duas notas promissórias no
valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) cada uma, ambas com
vencimento em 10 de agosto de 1995. Alega também que as obrigações
referentes a elas não foram cumpridas e pede a condenação do réu ao
pagamento.
As notas promissórias emitidas pelo réu (fl. 5) foram
alcançadas pela prescrição executiva em 10 de agosto de 1998 (artigo
70 da Lei Uniforme de Genebra), circunstância que, porém, a princípio
não excluiu sua idoneidade para comprovar a existência da dívida
assumida em razão do negócio jurídico mencionado na petição inicial,
sendo possível, pois, a propositura de ação de cobrança.
Tendo em vista que as cambiais foram emitidas no
ano de 1995, a análise do prazo prescricional ensejava a aplicação da
regra do artigo 177 do Código Civil de 1916, dada a ausência de
regramento especial.
Entretanto, por força da revogação do Código Civil
de 1916 e da previsão contida no artigo 206, § 5º, inciso I, do novo
Código Civil (“Prescreve em 5 anos: a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes
de instrumento público ou particular”), a análise da ocorrência de eventual
prescrição tornou indispensável a aplicação, em relação às prestações
vencidas no ano de 1995, da regra de transição prevista no artigo 2.028
do novo Código Civil, que determina serem “os da lei anterior os prazos, quando
reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da
metade do tempo estabelecido na lei revogada”.

Desse modo, verificado que o artigo 177 do Código


Civil de 1916 estabelecia a aplicação do prazo prescricional de 20
(vinte) anos para a hipótese dos autos, enquanto o novo Código Civil
passou a estabelecer o prazo de 5 (cinco) anos (artigo 206, § 5º, inciso
I), e que transcorreu menos da metade do tempo previsto no Código
revogado (de 10 de agosto de 1995 a 11 de janeiro de 2003), passou a

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incidir a regra especial prevista no Código Civil de 2002.


Considerando, no entanto, os princípios da
segurança jurídica, do direito adquirido e da irretroatividade da lei, o
início da contagem do prazo se dá a partir da entrada em vigor do novo
Código Civil, ou seja, 11 de janeiro de 2003 (STJ, 4ª Turma, REsp nº
813.293/RN, Relator Ministro Jorge Scartezzini, 09.5.2006).
Nesse sentido:
O prazo prescricional da ação, previsto na lei substantiva
revogada, cuja metade ainda não houvesse transcorrido até a
vigência do novo Código Civil e por este tenha sido reduzido,
como na hipótese, para três anos, tal interstício deve ser contado
integralmente a partir de 11.01.2003 (STJ, 4ª Turma,
AgRg no REsp nº 698.128/DF, Relator
Ministro Aldir Passarinho Junior, 12.9.2006)
Tendo o v. aresto embargado decidido no sentido de que,
conforme se infere do art. 2.028 do CC, tão-somente os prazos
em curso que ainda não tenham atingido a metade do prazo da
lei anterior (no caso, menos de dez anos) estão submetidos ao
regime do Código vigente, ou seja, 3 (três) anos, contados a
partir da vigência do novo Código, ou seja, 11 de janeiro de
2003, e não da data da ocorrência do fato danoso, não restando,
portanto, prescrita a pretensão dos embargados, revestem-se de
caráter infringente os embargos interpostos uma vez que
pretendem reabrir o debate acerca do tema (STJ, 4ª
Turma, EDcl no REsp nº 698.195/DF, Relator
Ministro Jorge Scartezzini, 03.8.2006)

Aplicando-se ainda por analogia a Súmula 504 do


Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual o termo inicial para
propositura de ação monitória contra emitente de nota promissória sem
força executiva é o dia seguinte ao vencimento do título, o prazo
prescricional no caso concreto teve início em 11 de janeiro de 2003, o
que significa que a pretensão do apelante está prescrita, já que a ação foi
proposta em 6 de maio de 2008, ou seja, após o decurso do prazo
prescricional de 5 (cinco) anos previsto no artigo 206, § 5º, inciso I, do
novo Código Civil.
Ante o exposto, o voto é no sentido de se negar
provimento à apelação.

CARLOS HENRIQUE MIGUEL TREVISAN


Relator

Apelação nº 9178787-83.2009.8.26.0000 4

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