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DOI: 10.1590/1413-81232017227.

25952015 2353

Regulação dos riscos dos alimentos:

TEMAS LIVRES FREE THEMES


as tensões da Vigilância Sanitária no Brasil

Food risk regulation:


the tensions of the Brazilian Health Surveillance System

Ana Virgínia Almeida Figueiredo 1


Elisabetta Recine 2
Renata Monteiro 2

Abstract This article addresses the dynamics Resumo Este artigo aborda a dinâmica das
of Brazilian food control practices, highlighting práticas da vigilância sanitária de alimentos no
their special risk-related features and the types Brasil, destacando as suas particularidades quan-
of intervention, as well as the recently adopted to aos riscos e modalidades de intervenção, assim
instruments to control risks related to the nutri- como ressaltando os recentes instrumentos adota-
tional composition of food and their institution- dos para o controle dos riscos relativos à composi-
al repercussions. Food regulation in Brazil dates ção nutricional dos alimentos e suas repercussões
back to the First Republic. The practice has been no âmbito institucional. Instituída no Brasil desde
remodeled over the years, due to both the increas- a Primeira República, essa prática vem se remode-
ing complexity of the risks and the introduction lando ao longo dos anos, tanto pela complexidade
of new institutional operational mechanisms. In crescente dos riscos, quanto pela introdução de no-
recent years, with the adoption of instruments vos instrumentos institucionais. Nos últimos anos,
such as agreements and terms of commitments es- evidencia-se um esvaziamento da competência
tablished between government and industry and regulatória quando da adoção dos instrumentos,
designed to control risks, it has become possible acordos e termos de compromisso, firmados entre
to identify widening gaps in regulatory compe- o governo e as indústrias para lidar com os riscos
tence. The adoption of mechanisms without the de ordem nutricional dos produtos alimentícios.
participation of consumers, with elastic deadlines Instrumentos construídos sem a participação dos
for compliance by industries and insusceptible to consumidores, com elasticidade de prazos para
inspection, represents a setback in the democrat- cumprimento pelas indústrias e ineptos para a
ic process and the practice of health regulation of fiscalização, denotando retrocessos na construção
food currently under way in Brazil. democrática e na prática da regulação sanitária
Key words Food control, Food regulation, Food de alimentos no Brasil.
1
Diretoria de Vigilância
Sanitária, Secretaria de risks Palavras-chave Controle de alimentos, Regulação
Saúde do Distrito Federal. de alimentos, Riscos dos alimentos
SGAN Quadra 601 Blocos
O/P, Asa Norte. 70830-
010 Brasília DF Brasil.
anavirginia.figueiredo@
gmail.com
2
Faculdade de Ciências
da Saúde, Universidade de
Brasília.
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Figueiredo AVA et al.

Introdução e a globalização das atividades econômicas de


alimentos. Tais fenômenos podem ser traduzi-
No âmbito da vigilância sanitária, regulação é um dos pelo uso crescente de insumos diversifica-
processo de gestão de riscos das potenciais defi- dos – um elenco extenso de aditivos, emprego de
ciências ou adversidades, que resultam do con- tecnologias sofisticadas e colocação frequente de
sumo ou uso de produtos de interesse à saúde, novos produtos no mercado, muitos deles de bai-
adotado pelas instituições do Estado1,2. xo custo, de composição nutricional inferior, mas
A regulação sanitária se realiza mediante a de alta rentabilidade.
conjugação do conhecimento técnico multi- Este artigo aborda a trajetória das práticas da
disciplinar e do contexto político, implicando vigilância sanitária de alimentos no Brasil, nos
conciliação de interesses diversos e, por vezes, diferentes contextos sociais, enfatizando a ado-
contraditórios, com a expectativa de que o bene- ção de estratégias mais recentes, como a de par-
fício à saúde coletiva seja o resultado principal. A ceria público privada no campo da saúde pública,
regulação extrapola o mero ato fiscalizatório de destinadas a controlar os riscos dos produtos ali-
caráter privativo do Estado, e o seu processo de mentícios, decorrentes da sua formulação quanto
formulação técnica e política tem como finalida- aos componentes nutricionais.
de precípua a de ser, fundamentalmente, um dos
veículos das políticas públicas dirigidas à preven- Instrumentos de regulação sanitária
ção de riscos e à promoção da saúde. dos alimentos: da ditadura à democracia
A prática regulatória de alimentos no Bra-
sil foi instituída ainda na Primeira República O Decreto-Lei nº 986/19695, que rege a práti-
(1889-1930)3, pela instituição do Decreto nº 68 ca da vigilância sanitária de alimentos no Brasil,
de 1889 disciplinando a polícia sanitária, com a institui normas gerais sobre alimentos e delega
subsequente definição do seu conjunto de atri- a responsabilidade do controle ao Ministério da
buições, inclusive fiscalização da alimentação pú- Saúde (MS) e aos órgãos congêneres estaduais.
blica, consumo e fabrico de bebidas4. O alicerce À época de sua publicação, partilhavam do
dessa regulação permanece praticamente intacto, mesmo cenário social eventos antagônicos. De
estando assentado sobre três pilares: regulamen- um lado, a euforia pelo florescimento econômi-
tação, fiscalização e controle. A complexidade co e, de outro, a repressão às liberdades indivi-
dos riscos gerados com o desenvolvimento das duais, a concentração de renda e a pauperização
atividades produtivas vem demandando o incre- de grande parte da população. Segundo Prado
mento e a diversificação dos instrumentos legais Júnior6, a expansão da industrialização brasileira
e técnico-operacionais. Estes, considerados como voltava-se, em especial, para os bens de consu-
medidas de prevenção e controle, são os suportes mo para as classes média e alta e para as maté-
para o poder público competente reger a conduta rias-primas e gêneros alimentícios demandados
das empresas quanto à produção, distribuição de pelos mercados internacionais.
alimentos e prestação de serviços de alimentação, Para facilitar a aceitação internacional dos
com o fim de proteger a saúde da população. itens alimentícios foi preciso demonstrar ao
A regulação sanitária de alimentos tem se mercado externo a efetividade no controle sa-
moldado pelas influências da dinâmica social nitário do país, estabelecendo-se regras oficiais
que, de maneira contrária, aflora tanto benefícios para a produção de alimentos, com definições de
e inovações tecnológicas, quanto agravos e ris- padrões de identidade e qualidade dos produtos,
cos à saúde da população. Os riscos à saúde que contendo parâmetros de higiene, entre outros as-
emergem geram necessidades de aperfeiçoamen- pectos. Havia, portanto, a necessidade de se har-
to contínuo do aparato oficial, comportando-se monizar com as normativas internacionais que
como o motor do processo regulatório na área de disciplinavam o comércio de alimentos entre os
vigilância sanitária de alimentos. Antes, a maior países7, controlando os riscos relativos aos agen-
preocupação era de disciplinar o controle da tes contaminantes químicos, físicos e, principal-
qualidade sanitária do produto alimentício, con- mente, biológicos, capazes de ocasionar surtos
centrado nos aspectos biológicos, físicos e quími- ou episódios isolados. Tal fato tem expressão no
cos. Na sequência, englobou a gestão do risco do corpo do Decreto-Lei nº 986/695: i) na disposição
processo de produção. Recentemente, essa tem se que autoriza o uso da ordem normativa interna-
ampliado e incorporado os aspectos da composi- cional, nas situações de inexistência de normas
ção nutricional dos produtos alimentícios, entre e padrões locais de identidade e qualidade de
outras mudanças, que refletem a modernização produtos alimentícios específicos; ii) quando au-
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toriza fabricar produtos para exportação no país abrindo espaços de debate no campo da vigilân-
que obedeçam exclusivamente às regras do país cia sanitária de alimentos. De início expandiu-se
de destino. a obrigatoriedade da rotulagem nutricional para
A legislação representa o aprimoramento do todos os produtos embalados12 e, mais recente-
controle sanitário e foi um dos passos prepara- mente, a atenção dirigiu-se à composição nutri-
tórios para a inserção do país como membro cional dos produtos alimentícios, especialmente
da Comissão do Codex Alimentarius FAO/OMS, dos ultraprossessados13. Esses produtos, caracte-
para poder participar da normalização inter- rizados por conter elevado teor de calorias, açú-
nacional de alimentos e expandir, além de suas cares, sal e/ou gorduras, apresentam um perfil
fronteiras, o comércio desses produtos – fato que nutricional potencialmente prejudicial à saúde,
ocorreu já nos anos 19708. enquadrando-se na categoria de risco a ser con-
A partir daí, intensificou-se o aparato técnico trolado. É por isso que a expansão do mercado
e jurídico, que reorganiza as práticas de controle desse tipo de produto tem uma interface direta
sanitário voltadas ao setor produtivo de alimen- com a pandemia da obesidade e outras doenças
tos, sob o norte de uma legislação calcada no crônicas não transmissíveis (DCNT)14.
registro e no controle do produto final, na fisca- A Lei Orgânica de Saúde de nº 8080/90, que
lização dos aspectos físicos do empreendimento regula o Sistema Único de Saúde (SUS), atribuiu
produtivo e no exercício do poder de polícia. à vigilância sanitária a seguinte definição: um
Com a abertura política e a atuação dos mo- conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou
vimentos sociais, nos anos 1980, em especial com prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas
o estratégico Movimento da Reforma Sanitária, sanitários decorrentes do meio ambiente, da pro-
ergueram-se as bandeiras de luta pelo direito à dução e circulação de bens e da prestação de servi-
saúde e responsabilidade do Estado, consagradas ços de interesse da saúde[...]15.
na 8a Conferência Nacional de Saúde9. Ideário Segundo Costa16, a Lei Orgânica de Saúde
que moldou o capítulo da Saúde da atual Cons- destacou o papel da vigilância sanitária como
tituição, conseguindo materializar relevantes instância essencialmente preventiva, cujo objeti-
conquistas sociais, após suplantar resistências e vo precípuo é intervir nos riscos à saúde de qual-
pressões10. quer ordem, advindos de atividades econômicas.
A vigilância sanitária assume uma condição Isto significa unir o saber técnico ao legal, para
de relevância no campo da saúde e, como re- se antecipar às falhas do processo produtivo, no
sultado, a Constituição estabeleceu que ao Sis- sentido de evitar danos ou impedir que se disse-
tema Único de Saúde-SUS compete executar as minem, em defesa da saúde da população.
atividades de vigilância sanitária [...] e fiscalizar Com o avanço do processo de construção
e inspecionar alimentos, compreendido o controle normativa da vigilância sanitária de alimen-
de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas tos, que se estende do Decreto-Lei nº 986/69 à
para o consumo humano11. Lei Orgânica de Saúde, foram registradas três
Comparando-se o texto constitucional com o mudanças substanciais na concepção e prática
Decreto-Lei nº 986/69, vigente, dois fatos se des- dessa atividade de saúde de caráter preventivo,
tacam por valorizar e ampliar a prática da vigi- tais como: i) estabelecer regras e verificar o seu
lância sanitária. O primeiro é o de fortalecer essa cumprimento são insuficientes para controlar os
prática de saúde e não reduzi-la a mero exercício riscos; ii) controlar o risco à saúde é fundamental
do poder de polícia, introduzindo, lado a lado, a e, para tanto, o poder de polícia deverá ser for-
ação de inspecionar e a de fiscalizar. A ação ins- talecido pela união da ciência às bases legais; iii)
pecionar tem um sentido eminentemente técni- abarcar a totalidade dos riscos à saúde sejam eles
co, de avaliar as condições físicas aliadas às do contaminantes físicos, químicos ou biológicos, e
processo produtivo, para identificar as situações os novos tipos que se anunciam, como os compo-
de risco que possam comprometer a qualidade nentes nutricionais dos alimentos.
do produto e causar prejuízos à saúde do indiví- Trata-se de um período de adensamento
duo. A ação fiscalizar é a de forçar o cumprimen- dos instrumentos legais, onde o “anacrônico” e
to das regras. Essas duas ações se complementam o “moderno”, ou o “autoritário” e o “democráti-
e qualificam, em termos técnico-legais e efeti- co” se articulam para conformar o arcabouço da
vos, o resultado da ação de vigilância sanitária. regulação sanitária de alimentos no Brasil. Por
O segundo fato refere-se à obrigação de realizar meio desses instrumentos, avaliam-se, contor-
o controle nutricional. Tema este que se manteve nam-se e reprimem-se os fracassos ou os artifí-
secundarizado e, na última década, despontou cios empreendidos pelo mercado, buscando-se
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concretizar o que, desde os anos 1960, se trans- com os interesses dos cidadãos, os quais deseja-
creve em lei: a defesa e a proteção da saúde do vam a proteção de sua saúde contra as práticas
coletivo contra os riscos advindos da atividade inapropriadas do mercado. Conforme Souto3, a
produtiva de alimentos. falta de atuação condizente desse setor, quanto
ao seu papel estratégico na prevenção da saúde,
Final dos anos 1990: uma nova autarquia principalmente pela morosidade em responder
reguladora às demandas oriundas do mercado, fortalecia os
argumentos dos defensores da reforma adminis-
No final da década de 1990, o Ministério da trativa e da sua extensão rápida para esse campo.
Saúde (MS) transferiu as atividades de vigilância Com a reforma gerencial promoveu-se a ci-
sanitária para a Agência Nacional de Vigilância são entre a formulação de políticas e a sua exe-
Sanitária (Anvisa), como decorrência das políti- cução, ficando a primeira centralizada no núcleo
cas regulatórias engendradas no Brasil17. Na oca- estratégico do governo, ou seja, os ministérios;
sião, a adesão à agenda internacional implicava enquanto a segunda, descentralizada, para as
estímulos técnico-financeiros dos organismos agências. A Anvisa passou, então, a se vincular ao
multilaterais que apoiavam a privatização e a MS, e a se sujeitar às disposições das políticas de
mudança no modelo de intervenção do Estado18. saúde, porém com autonomia financeira e admi-
A Lei Federal nº 9.782/9919, delega para a nistrativa. Esta assume o papel de disciplinar as
Anvisa a responsabilidade de regulamentar, con- atividades econômicas de interesse à saúde, assim
trolar e fiscalizar os produtos e os serviços que como, o de coordenar o conjunto de órgãos con-
envolvam riscos à saúde pública, onde se incluem gêneres dos estados e dos municípios, que for-
os alimentos e os insumos, os aditivos, as emba- mam o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária
lagens e os contaminantes e resíduos, assim como (SNVS).
as instalações responsáveis por processar tais Medidas adotadas pela Anvisa, em anos mais
produtos. Neste sentido, a vigilância sanitária, recentes, que podem ser consideradas como ele-
como uma das modalidades de regulação social, mentos de fragilização no controle de riscos po-
voltada à proteção do interesse público nacional tenciais dos alimentos, atenderam a demandas
ou supranacional20, tem por função identificar do setor produtivo, como por exemplo: i) desbu-
precocemente as falhas de mercado, externalida- rocratização, a qual resultou na dispensa da obri-
des negativas e a falta de informação ao consumi- gatoriedade do registro de produtos alimentícios,
dor, em prol do interesse coletivo. sem a contrapartida do reforço às atividades de
Embora o discurso oficial enfatizasse que o inspeção nas indústrias e de controle dos alimen-
fim último da reconstrução do Estado seria torná tos, para efetivar a sua vigilância; ii) abolição das
-lo capaz de viabilizar o desenvolvimento econô- regras que instituem os parâmetros de identidade
mico, proteger os direitos sociais e republicanos e dos produtos alimentícios, deixando o consumi-
fortalecer a democracia21, para Cruz18, no caso da dor sem o referencial sobre o padrão do produ-
reforma administrativa, ocorrida no início dos to; iii) incapacidade de instituir um sistema de
anos 2000, os argumentos mais relevantes foram informação acessível a toda rede de vigilância
a delegação de poderes para as agências regula- sanitária, permitindo a troca de informações si-
doras, assim como a necessidade de elevar o grau multâneas e ação rápida pelas autoridades, frente
de comprometimento do poder público com a aos riscos dos produtos e serviços; iv) ausência
manutenção de decisões e regras que afetavam de mecanismos para controlar a publicidade de
diretamente os agentes. Diante disso, não houve alimentos, principalmente àquela dirigida ao pú-
rejeição do setor privado quanto a esse tipo de re- blico infantil.
forma, uma vez que as iniciativas almejaram pro- A reforma da gestão pública foi inovadora
duzir um clima institucional tranquilizador, com quanto à prática da governança, fazendo com que
estabilidade das regras e aumento da capacidade o processo de governar seja participativo e demo-
resolutiva, carreada pela autonomia administra- crático22. Com isso, tornou-se possível incluir a
tiva e desburocratização dos processos internos, sociedade civil organizada nos espaços públicos e
que dariam celeridade aos pleitos efetuados por dar pluralidade às vozes, no debate e na definição
esse setor. do rumo das decisões.
Como contraponto, ainda havia as demandas O funcionamento das agências vem se apri-
dos movimentos sociais e o novo arcabouço da morando quanto ao desenvolvimento de instru-
Lei Orgânica de Saúde, que forçavam respostas mentos do controle social e ao papel dessas ins-
institucionais da vigilância sanitária compatíveis tituições na estrutura administrativa brasileira23.
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Para tanto, a Anvisa introduziu, em suas estru- gestão pública federal; a Coordenação-Geral de
turas, os procedimentos de informação, audi- Alimentação e Nutrição (CGAN/DAB/MS) e a
ência pública e consulta pública. Estes canais de Gerência-Geral de Alimentos (GGALI/Anvisa).
comunicação estabelecem um processo de gestão A primeira é a responsável pela implementação
participativa, constituindo-se em um ambiente da Política Nacional de Alimentação e Nutrição
de compartilhamento de discussão coletiva entre (PNAN), e a segunda pela agenda relacionada ao
as partes envolvidas – cidadãos, industriais e go- controle sanitário de alimentos referenciado nes-
verno – para buscar o consenso entre os diversos sa política.
interesses. Espaço propício para o exercício da As experiências pioneiras da Anvisa nos pri-
cidadania e do controle social que, mediante a meiros anos após sua criação, visando a atender
adoção de parâmetros técnicos e éticos, pode-se aos dispositivos da PNAN à época28, relaciona-
balizar a relação produção-consumo, em prol da ram-se, primeiramente, com a diretriz de Preven-
satisfação dos interesses coletivos24. ção e controle dos distúrbios nutricionais e das do-
A Anvisa conta, ainda, com uma instância enças associadas à alimentação e nutrição. Como
de participação institucionalizada da sociedade, parte do Programa de Combate aos Distúrbios
denominado Conselho Consultivo25 e, para pro- por Deficiência de Iodo no Brasil, a regulação
porcionar visibilidade, transparência e governan- estabeleceu novos limites para a iodação do sal
ça ao processo de regulamentação participativo, e disciplinou as boas práticas para os estabele-
introduziu a Agenda Regulatória – AR26. cimentos beneficiadores desse produto. Práticas
O primeiro biênio (2013-2014) do ciclo qua- que foram sujeitas a frequentes monitoramentos
drienal (2013-2016) da AR incluiu 23 temas re- para verificar o seu cumprimento29. Em seguida,
lativos à área de alimentos. Nesse elenco, o tema regulamentou-se os limites de ácido fólico e de
de nº 19, referente à Propaganda de Alimentos ferro em farinhas de trigo e milho30, com o sub-
com Quantidades Elevadas de Açúcar, de Gordura sequente monitoramento desses produtos, em
Saturada, de Gordura Trans, de Sódio e de Bebi- atendimento a outro programa oficial do MS.
das com Baixo Teor Nutricional, é destacado por Em 2001, considerando a diretriz da PNAN-1999
tratar da composição nutricional – assunto con- Garantia da segurança e da qualidade dos ali-
troverso da atualidade. O assunto ressurge para mentos e da prestação de serviços neste contexto,
o debate, com o apoio da sociedade civil organi- a rotulagem nutricional de alimentos e bebidas
zada, em virtude do aumento das DCNT que já embalados se tornou obrigatória12, sendo poste-
afetam a população infantil. riormente harmonizada no âmbito do Mercado
A especialização técnica, a flexibilidade e a ca- Comum do Sul (Mercosul).
pacidade de adaptação ao dinamismo do mundo Além das regras supracitadas, que interferem
globalizado pelo seu potencial normativo e execu- na formulação do produto com a adição de nu-
tivo27 e os espaços de participação da sociedade que trientes obrigatórios, outras regras relativas às in-
estão sendo construídos, com a maturidade expe- formações de rotulagem nutricional para os pro-
rimentada pela Agência, podem projetar avanços dutos industrializados foram aperfeiçoadas na
no processo de democratização das decisões sobre ocasião12. Tais iniciativas inauguram a prática do
como intervir nos riscos à saúde dos objetos sob controle nutricional de maneira sistemática e com
controle da vigilância sanitária. O aperfeiçoamen- repercussões importantes de diversas ordens: i)
to da Anvisa depende tanto da participação ativa a vigilância sanitária de alimentos não se disso-
e qualificada da sociedade civil organizada, em cia das questões nutricionais, e a entidade oficial
especial dos usuários e consumidores, quanto do competente reconhece que proteger a população
compromisso e das articulações externas, para se implica controlar quaisquer riscos oriundos dos
conformar como uma força social equiparável às alimentos, e esse entendimento comprovada-
do mercado e do poder público. mente integra a rotina institucional da entidade,
desde a sua criação; ii) os produtos alimentícios
Riscos dos componentes nutricionais alvos se ajustaram aos requisitos nutricionais,
na esfera regulatória da Anvisa mediante a instituição de regras com sanções
aliadas a medidas sistemáticas de controle para
Em decorrência do atual quadro epidemio- conferir a sua adequação; iii) as indústrias nacio-
lógico das doenças carenciais, da obesidade e de nais envolvidas foram obrigadas a custear a adi-
outras DCNT, a preocupação com a qualidade ção de nutrientes (ferro e ácido fólico ou iodo)
nutricional dos alimentos, no âmbito nacional, nos produtos considerados fundamentais para
passou a ser objeto de atenção de dois setores da atender aos programas oficiais de nutrição; iv)
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as indústrias são obrigadas a expor, na rotulagem refrigerantes e sucos artificiais supera o consumo
dos produtos alimentícios, informações detalha- diário recomendado de frutas e hortaliças, com
das sobre a composição nutricional em comple- leves declínios dos primeiros a partir de 201331-
mentação às outras já instituídas. 36
(Gráfico 2). Esses dados apontam a presença
marcante dos produtos industrializados do tipo
Anvisa e Ministério da Saúde: ultraprocessados na prática alimentar cotidiana
priorizando o acordo à regulação do brasileiro.
Ainda em 2007, o MS, diante da prevalência
Com o avanço da obesidade e de outras de obesidade em ascensão no país e seguindo as
DCNT, o incremento dos gastos com assistência recomendações internacionais, articulou-se com
à saúde, e sua associação com a mudança no pa- indústria para discutir a matéria38. Na sequência,
drão alimentar da população brasileira, devido foi firmado o Acordo de Cooperação entre o MS
ao aumento da disponibilização de alimentos e a Associação Brasileira das Indústrias da Ali-
não saudáveis, entre outros aspectos, o governo mentação (ABIA) e aprovada uma Chamada Pú-
estabeleceu uma série de estratégias de enfrenta- blica para avaliar a potencialidade do setor pro-
mento. dutivo em reduzir, de forma gradativa, os teores
No final da última década, ao se analisar a po- de vários nutrientes nos alimentos processados,
pulação adulta urbana das capitais brasileiras31-36 tais como, açúcar livre, gorduras trans, gorduras
(Gráfico 1), as taxas de obesidade e de excesso de saturadas e sal39, que culminou em alguns termos
peso em adultos no Brasil eram de, respectiva- de compromisso posteriores.
mente, a 14,8% e 49%37, mantendo-se ascenden- Esses Acordos e Termos de Compromissos
tes, com leves sinais de estabilização em 2014. O (A&T) constituem um marco na discussão sobre
comportamento alimentar da população adulta a redução dos parâmetros nutricionais dos pro-
urbana é um dos fatores que contribui para es- dutos considerados não saudáveis, que foi inicia-
ses problemas nutricionais, pois verifica-se que, do com as ações para a retirada da gordura trans
no mínimo, 18% dela, nos últimos seis anos, dos produtos, cujos avanços importantes somen-
consome regularmente produtos não saudáveis, te foram alcançados em 201040. No entanto, ainda
tais como refrigerantes, sucos artificiais e doces. em 2009, um diagnóstico para avaliar a compo-
Observa-se, também, que o consumo regular de sição nutricional de 24 categorias de produtos

60

50

40

Excesso de peso
30
Obesidade

20

10

0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Gráfico 1. Comportamento do excesso de peso e da obesidade em adultos com idade igual ou superior a 18 anos,
em 27 capitais brasileiras, no período de 2009 a 2014.

Fonte: Brasil33-38.
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2014

2013

2012 Doces
Feijão
Refrigerantes e sucos artificiais
2011
Frutas e hortaliças recomendado

2010

2009

0 20 40 60 80

Gráfico 2. Perfil do consumo regular* ou recomendado** de alimentos*** pela população adulta residente nas 27
capitais brasileiras, no período de 2009 a 2014.

Fonte: Brasil33-38.

* regular significa consumo de doces, feijão e ou refrigerantes cinco ou mais dias por semana. ** recomendado significa a ingestão
diária de 400g de frutas e hortaliças ou cinco porções desses grupos de alimentos. *** Os doces abrangem sorvetes, chocolates,
bolos, biscoitos e doces em geral.

alimentícios, quanto ao teor de sódio, açúcares, apontado pelo resultado do diagnóstico naque-
gorduras saturadas, gorduras trans e de ferro, co- les tipos de alimento analisados; as informações
ordenado pela Anvisa, revelou uma variação im- de rotulagem; e, as informações fornecidas pelas
portante nos teores desses nutrientes intra e ex- indústrias. A partir dos parâmetros do acordo,
tra categoria41. Esses teores, quando comparados o MS prevê que seja alcançada uma redução do
com os critérios da agência de normalização dos consumo de sódio pela população brasileira para
alimentos do Reino Unido42, faria com que maio- menos de 2000 mg/pessoa/dia, até 202043.
ria dos produtos se enquadrassem nas categorias O reconhecimento do governo sobre a rela-
de “alto teor” seja de sódio, açúcar ou gordura. ção entre o quadro epidemiológico e a qualidade
Esses resultados são preocupantes, pois os pro- dos alimentos se fortalece com a aprovação do
dutos alimentícios destacados são comumente Plano de Ações Estratégicas para o Enfrenta-
consumidos por crianças que, além dos efeitos mento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis
negativos à saúde provenientes do excesso de cer- (DCNT) no Brasil, período 2011-202243 do MS;
tos nutrientes, estimulam a formação de hábitos do Plano Intersetorial de Prevenção e Controle
de consumo que adaptam o paladar para preferir da Obesidade formulado pelo Comitê Técnico da
alimentos com essa composição. Câmara Interministerial de Segurança Alimentar
Como consequência desse diagnóstico, as au- e Nutricional (CAISAN), do Ministério do De-
toridades de saúde fizeram tratativas com as en- senvolvimento Social (MDS)44; e da versão atu-
tidades das indústrias para, primeiramente, fazer alizada da PNAN, de 201245. Nestes documentos
a redução do teor de sódio em várias categorias duas diretrizes destacam-se por orientar a prática
de alimentos, apesar de o quadro epidemiológi- de controle da qualidade de alimentos: Controle
co apontar urgência para a redução de todos os e regulação dos alimentos e Promoção da alimen-
nutrientes. O valor de referência para a definição tação adequada e saudável. Essas iniciativas estão
da meta de redução, na ausência de uma referên- sintonizadas em propor medidas para adequação
cia internacional equivalente, tomou por base do perfil nutricional dos alimentos processados a
três critérios: o limite inferior do teor de sódio um tipo considerado saudável; aumento da ofer-
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Figueiredo AVA et al.

ta e redução dos preços dos alimentos saudáveis; divergindo do critério anteriormente proposto.
estabelecimento da regulamentação da publici- Esta “flexibilidade nas metas desses A&T estimu-
dade de alimentos, entre outros aspectos. la reflexões a respeito dos critérios utilizados para
Entre a estratégia de estabelecimento de A&T tal decisão e permite sugerir condescendência
e a de regulação mandatória, o governo reforçou para com o mercado. Dentre os produtos moni-
a primeira para interferir no perfil nutricional torados, há alguns deles já disponíveis no merca-
dos produtos alimentícios. O MS, então, conti- do, cujas fórmulas contêm teor de sódio abaixo
nuou a expandir esse novo instrumento no cam- do limite de redução acordado – sugerindo que já
po do controle de alimentos, agora contemplan- há aceitação de produto com teor de sódio mais
do a redução do sódio. Merece salientar que o baixo pelo consumidor e tecnologia factível de
desenho de tais instrumentos congregam alguns produção. Os padrões acordados indicam que
pontos inconvenientes: i) grande elasticidade – pode ter havido o “desperdício” da oportunidade
os prazos para redução do sódio, por exemplo, de utilizar como referência o valor mínimo de só-
variam entre 3 e 5 anos; ii) extensão limitada – a dio encontrado nos produtos monitorados, para
formalidade dos A&T restringem-se às entidades a construção das bases dos A&T.
representativas das indústrias que os ratificaram; Embora o cumprimento dos A&T esteja sen-
iii) fragilidade no cumprimento – a inexistência do assumido na prática institucional da vigilân-
de cláusulas punitivas podem retardar o cumpri- cia sanitária, descartar o uso da regulamentação
mento desses atos. com prazos negociados e fixados e com previsão
Dessa forma, como objetivo de inferir sobre de sanções, significa fragilizar as medidas de con-
as bases da negociação das metas referidas nos trole e o papel de autoridade e de intervenção do
A&T sobre a redução do sódio, comparamos o Estado de limitar a atividade privada para fazer
comportamento de seis produtos alimentícios prevalecer os interesses públicos. Adianta-se que
quanto a esse nutriente, obtidos no diagnóstico, o cumprimento dos A&T depende apenas do grau
com as metas acordadas de redução (Gráfico 3) de compromisso entre as partes, que não é, por si
e verificou-se que as metas de três produtos fo- só, extensivo às outras entidades e empresas do
ram definidas pelo maior valor identificado e as ramo. Consideradas estas limitações, é necessário
dos outros três, as mais próximas do maior valor, que o poder público encare o gerenciamento dos

3000
Menor teor
Maior teor
2500
Acordo

2000

1500

1 Batatas fritas
1000
2 Batatas palha
3 Salgadinhos de milho
500 4 Biscoito água e sal
5 Biscoito cream cracker
0 6 Macarrão instantâneo
0 1 2 3 4 5 6

Gráfico 3. Comparação entre os teores de sódio diagnosticados em seis categorias de produtos alimentícios e os
valores de redução acordados entre o Governo e as entidades representativas das indústrias de alimentos. Brasil,
2010-2011.

Fonte: Brasil; Anvisa. Informe Técnico n. 43/2010; itens 3 e 5 do Quadro 2.


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riscos dos alimentos relacionados à obesidade e rotulagem nutricional e propaganda; e, por fim,
às outras DCNT como equiparável ao aplicado às pesquisas49. Os envolvidos nestas iniciativas de-
Doenças Transmitidas por Alimentos, valorizan- claram que almejam alcançar resultados efetivos,
do o uso dos recursos tradicionais (regulamen- mediante a negociação entre as partes, com a re-
tação, monitoramento de produtos, inspeção de dução de recursos e de desgastes político-insti-
estabelecimentos etc.), para que se alcance um tucionais50.
controle efetivo da qualidade nutricional dos Na década de 1990, a FAO e a OMS come-
produtos alimentícios envolvidos. çam a estimular os países a desenvolverem ações
Entretanto, ressalta-se que a intervenção dos conjuntas para enfrentar a obesidade e outras
riscos dos componentes nutricionais dos produ- DCNT, mediante a articulação entre governo,
tos alimentícios para prevenção das DCNT, de- indústrias e consumidores51, alegando que esta
fronta-se com o questionamento científico e com poderia transformar o sistema alimentar, tor-
a alegação dos impactos econômicos por parte nando-o mais compatível com os preceitos nutri-
do setor produtivo, o que motivam uma forte cionais52. Destacam ainda a importância de es-
reação do mercado. Por exemplo, as reações das tratégias multisetoriais e de longa duração, pois
corporações de alimentos já fizeram o governo a responsabilidade na prevenção dessas doenças
dinamarquês retroceder, revogando as medidas é compartilhada53.
de taxação de produtos com alto teor de gordu- Na Europa, inúmeras parcerias foram alavan-
ra saturada46, mas, em contrapartida, não foram cadas para enfrentar o fenômeno do sobrepeso
suficientes para impedir a sociedade finlandesa e da obesidade na região, sob o respaldo da Co-
mobilizada de avançar e impor a reformulação missão das Comunidades Europeias, destinadas
dos produtos, garantindo um alimento com qua- a reduzir os componentes não saudáveis dos
lidade nutricional aprimorada47. alimentos49 e voltadas para modificar comporta-
A experiência de A&T entre o governo e as mentos dos consumidores, encarando a obesida-
entidades das indústrias para a redução do sódio de como um problema individual dentro de uma
é apontada por Nilson et al.48 como inovadora, concepção conservadora-liberal, sem investir em
legítima e transparente, baseada na articulação mudanças estruturais54.
intrainstitucional com o setor privado, e no esta- Esquivando-se dos conflitos de uma inter-
belecimento de uma relação dialógica e pactuada venção direta na composição dos produtos não
que fortalece o controle social. Sem enaltecer o saudáveis, alguns países optaram por investir
vanguardismo alegado para essa prática insti- no aperfeiçoamento da rotulagem nutricional.
tucional ou descartar os possíveis méritos dessa Assim, desenvolveram, por exemplo, o esquema
iniciativa, algumas ponderações são necessárias. do Semáforo Nutricional (Semáforo Nutricional
Primeiro, o valor de cunho ideológico dessa me- é um esquema visual, aposto na rotulagem dos
dida, demonstrado pela preocupação do governo produtos, que utiliza as cores verde, amarelo e
perante a saúde pública, é o que sobressai, diante vermelho para quantificar os teores dos nutrien-
a dispensa das prerrogativas do Estado de impor tes, respectivamente, em baixo, médio e eleva-
regras ao mercado e da opção por fazer A&T ma- do.), o qual foi adotado pelo Reino Unido55 e pelo
leáveis e de longa duração. Segundo, para o forta- Equador56, respectivamente, com caráter volun-
lecimento do controle social, exige-se que o con- tário e compulsório; e o sistema do Health Star
junto das representações da sociedade seja envol- Rating (Health Star Rating System é um esquema
vido nas discussões travadas na esfera pública o visual, aposto na rotulagem dos produtos, sob a
que não ocorreu neste processo de negociação, forma de estrela, que avalia o conjunto dos com-
fragilizando a tal legitimidade acima referida. ponentes nutricionais de um produto e o quali-
fica atribuindo de uma a cinco estrelas) aplicado
Parceria entre governo e indústrias: na Nova Zelândia e na Austrália de forma facul-
fragilidade ou inovação? tativa57. Estes dois dispositivos visuais permitem
demonstrar, ao consumidor, com rapidez, o perfil
As parcerias público-privadas se pautam na nutricional do produto em termos nutricionais.
partilha de objetivos e de tomada de decisão en- A despeito da existência dessas divergências,
tre os setores público e privado. No campo da é possível que os alertas sistemáticos emitidos
nutrição, esse tipo de iniciativa está sendo ado- pelos organismos internacionais, pelo governo e
tada em vários países e envolve basicamente qua- pelas mídias locais, sobre os riscos dos produtos
tro objetos: melhoria da composição nutricional alimentícios não saudáveis, assim como uma des-
de produtos alimentícios; educação do público; confiança dos fabricantes quanto aos efeitos do
2362
Figueiredo AVA et al.

uso de medida de intervenção compulsória – re- evitar que o mercado, durante a fase de ajuste dos
gulamentação – motivaram as entidades corpo- produtos, sofra abalos econômicos.
rativas das indústrias a negociar com o governo e, Assim, esse evidente contrabalanço de inte-
assim, evitar qualquer instabilidade no comércio resses implícitos fragilizou a intervenção, con-
de tais produtos. duzindo a decisão pelo não enfrentamento dos
A decisão do governo brasileiro de fazer uso conflitos de uma regulamentação do sódio. Em
de instrumentos do tipo A&T para tratar dessa experiências antes relatadas, as indústrias nacio-
questão nutricional dos alimentos, em detrimen- nais foram obrigadas a enriquecer seus produtos
to da regulamentação, de fato, representa um re- com nutrientes para atender aos programas ins-
trocesso se comparado ao processo democrático titucionais de nutrição, arcando com os custos
de regulamentação que vem sendo instituído no econômicos desse procedimento. Agora, o con-
âmbito das agências nacionais, permitindo um fronto envolve empresas transnacionais, em que
amplo debate e a participação dos setores or- a redução de nutrientes não saudáveis impactam
ganizados e da sociedade em geral. Demonstra, não só no custo, mas também afetam a palatabili-
ainda, a fragilidade do governo em gerenciar os dade dos produtos, interferindo nas vendas.
riscos dos alimentos com a agilidade requerida Esses A&T, concebidos de forma centralizada,
e com a autoridade e a competência que lhe são significam retrocessos para a vigilância sanitária
atribuídas. As dificuldades políticas são reais, a de alimentos, em especial, sobre quatro aspectos:
reação das corporações de mercado é efetiva, mas i) esvazia a competência de regulação de riscos da
o vazio imposto à sociedade civil é revelador de Anvisa; ii) cria precedentes para evitar, ou pelo
uma conduta contraditória e de uma evidente menos retardar, a regulamentação, para disci-
indisposição para angariar o apoio de potenciais plinar a redução dos teores de nutrientes-chave,
aliados – os cidadãos. ação fundamental para proteger a saúde; iii) gera
As parcerias público-privadas, que lidam com situações de “desempoderamento” interno das
esse objeto em particular, estão sujeitas a várias próprias decisões, pois não há como fiscalizar o
limitações que podem comprometer a boa gover- cumprimento dos teores nutricionais, com base
nança e o alcance satisfatório dos resultados de- em A&T; e, por fim, iv) reduz o segmento estra-
sejados, pois os parceiros privados podem inte- tégico da sociedade civil (consumidores) a um
ragir para conduzir a agenda do governo, esqui- vazio, colocando-a à margem desse processo de
var-se de suas reais responsabilidades ou desviar concertação de medidas sanitárias, para ameni-
o foco de atenção para as soluções potenciais que zar as tensões e os embates com o setor produ-
contrariem os seus interesses etc.49. Entretanto, tivo.
merece ressaltar que sob a lógica do mercado, a Os efeitos desses A&T se estendem ao con-
adesão a qualquer tipo de parceria não pode cul- junto dos serviços de vigilância sanitária, uma
minar em prejuízo ao seu lucro58. vez que estes realizam as atividades de monito-
Para Majone59, a formulação de A&T se en- ramento dos produtos previstas naqueles atos.
caixa perfeitamente na “nova regulação” que Desse modo, esses A&T se convertem em motivo
compõe a racionalidade da intervenção gover- de reflexão, uma vez que não têm efeito legal no
namental do Estado regulador para se ajustar às contexto operacional.
necessidades do mercado. Trata-se de uma regu- Em comparação ao ritual da prática de vi-
lação flexível e não rígida, aplicada em larga esca- gilância sanitária de alimentos, esses A&T sim-
la no campo da regulação social, no qual se situa bolizam, por um lado, um tratamento de forma
a saúde. protetora do mercado e o adiamento da garantia
Diante disso, se constata que feições dos A&T do direito à saúde e à alimentação adequada e
formalizados, comprovadamente, não privilegia- saudável da população e, por outro, a abertura de
ram as realidades internas (epidemia de obesida- precedentes para que a regulamentação seja subs-
de e aumento na prevalência de outras DCNT, tituída por “A&T, quando for necessário manejar
consumo crescente de produtos hipercalóricos questões polêmicas de riscos à saúde, ampliando-
e com altos teores de sal). Além das limitações se os conflitos inerentes à própria atividade.
intrínsecas desses A&T acrescenta-se, ainda, a O fato de os componentes nutricionais em
falta de um efetivo suporte de comunicação para excesso (gorduras saturadas, açúcares e sal) pro-
informar a população sobre os benefícios de pri- duzirem efeitos nocivos à saúde distintos (acu-
vilegiar o consumo de produtos com esse novo mulativos e de longo prazo) daqueles causados
atributo nutricional. A opção pela A&T, de forma pela maioria dos agentes contaminantes (em
velada, demonstra a preocupação do governo em geral, de curto prazo e de propagação extensiva
2363

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e rápida se o produto for de circulação global), plantar as pressões das corporações de indústrias
não justifica a adoção de intervenções distintas de alimentos e efetivar a regulação. A governança
por parte do governo, que sempre aplicou regras instituída, no âmbito das instituições públicas de
compulsórias para esse segundo grupo de riscos. saúde, recuou em prol da instituição de A&T, de-
Embora a regulamentação usualmente seja finidos com a participação restrita do governo e
percebida pelo mercado de modo deturpado, das indústrias. Contudo, em um contexto dinâ-
como uma medida de intervenção antipática e mico dos riscos dos alimentos, nunca há regula-
autoritária, ela é oportuna e necessária quando se ção encerrada, mas sempre em andamento. Desse
trata de prevenir riscos à saúde. A ausência de pa- modo, diante da experiência em consolidação da
râmetros internacionais face ao comércio global, prática democrática regulatória, ainda é necessá-
instruindo sobre como lidar com os nutrientes rio e possível esperar por uma regra que atenda
de risco dos produtos alimentícios, não impede aos interesses da sociedade, ou seja, que limite o
que o país ouse em prol da saúde do coletivo e conteúdo de açúcares, gorduras e sal dos produ-
nem, tampouco, que ele se contenha com a ado- tos alimentícios, reduzindo os riscos à saúde de-
ção de medidas atenuantes e lentas nesse campo. correntes do seu consumo.
O governo acertou ao optar pelo caminho da ar-
gumentação, do convencimento, mas errou em
restringir o debate e encerrar o diálogo, o que
resultou em não estabelecer regras compulsórias
para a redução do sódio e dos demais nutrientes
de risco.
A ausência da representação dos consumi-
dores no debate sobre a redução dos nutrientes
fere os princípios da “boa governança”60 e rompe
com as práticas de criação e fortalecimento de es-
paços públicos de intervenção e de expressão da
democracia participativa no seio das instituições
públicas. Ausência que foi marcante, na medida
em que os consumidores organizados poderiam
atuar como integrantes diferenciados. Isso, tanto Colaboradores
para dar suporte ao governo na defesa do interes-
se público e da primazia dos assuntos de saúde Este manuscrito idealiza e sintetiza parte dos re-
quanto para contribuir para o avanço das nego- sultados da tese do doutorado intitulada “Riscos
ciações para a aprovação de regras com metas emergentes dos alimentos: Regulação, conflitos e
adequadas para a redução nutrientes de risco nos tensões, defendida por AVA Figueiredo, na Uni-
produtos alimentícios. versidade de Brasília, em novembro de 2014. As
coautoras E Recine e R Monteiro – orientadora e
coorientadora da tese supracitada – se responsa-
Conclusão bilizaram pela revisão, assim como, deram a con-
tribuições adicionais a esse manuscrito.
No âmbito da vigilância sanitária, a prática regu-
latória dos riscos dos alimentos constitui uma ta-
refa repleta de tensões e conflitos para as institui- Agradecimentos
ções públicas. Apesar das crescentes prevalências
de excesso de peso, obesidade e de outras DCNT, À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
assim como dos estímulos dos organismos in- de Nível Superior-CAPES/Ministério da Educa-
ternacionais competentes para que os Estados ção pelo apoio dado à autora principal na reali-
intervenham no perfil nutricional dos produtos zação da tese de doutorado, da qual foi extraída
alimentícios não saudáveis, não foi possível su- material para este artigo.
2364
Figueiredo AVA et al.

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MENTO-SANITARIO-DE-ETIQUETADO-DE-A- Artigo apresentado em 03/10/2015
LIMENTOS-PROCESADOS-PARA-EL-CONSUMO Aprovado em 08/02/2016
-HUMANO-junio-2014.pdf Versão final apresentada em 10/02/2016

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