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6 Revista Contabilidade & Finanças FIPECAFI - FEA - USP ARTIGO

APLICAÇÕES SOCIAIS DAS SOCIEDADES COOPERATIVAS: UM mODELO DE DEMONSTRAÇÃO CONTÁBIL

Sistema de Informações Executivas:


Suas Características e Reflexões
sobre sua Aplicação no Processo de Gestão
Ilse Maria Beuren
Doutora em Controladoria e Contabilidade - FEA/USP – Professora Titular do Departamento de Ciências
Contábeis da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.

Luciano Waltrick Martins


Mestre em Administração - CPGA/UFSC.

RESUMO ABSTRACT

A necessidade que têm as organizações de apri- Managers are constantly urged to optimize
morar seu processo de gestão, face ao anseio de performance and guarantee the fulfillment of their
otimizar o desempenho e garantir o cumprimento de mission. Consequently, they are confronted with the
sua missão, faz com que seus administradores bus- need to improve the management process. This
quem alternativas na tecnologia da informação. O makes them look for alternatives in information
sistema de informações executivas é uma ferramen- technology, since an effective executive information
ta que direciona o gestor a ações que buscam contri- system is a tool that helps the manager in
buir para esse fim. performing actions that contribute to the attainment
Dentro desse contexto, o presente artigo objetivou
of this goal.
realizar uma incursão teórica nas características de
In this context, the present article aims at verifying
um sistema de informações executivas, além de fa-
what characteristics an executive information system
zer algumas reflexões sobre sua aplicação no pro-
has to possess in order to support the management
cesso de gestão empresarial.
process.
Observa-se que, normalmente, há falta de
The study shows both a lack of integration
integração entre os sistemas de informação das or-
among institutional information systems and the
ganizações, além de dificuldade dos gestores no
acesso às informações contidas nestes sistemas. difficulties the managers are confronted with in
Assim, as características desejadas pelos gestores trying to access the information provided by the
podem ser encontradas em um sistema de informa- systems. The necessary characteristics of an
ções executivas, desde que seja adaptado às suas executive information system were also verified
necessidades. among managers.

Palavras-chave: Tecnologia da Informação, Siste- Key words: information technology, executive


ma de Informações Executivas, Processo de Gestão.. information system, management process.

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SISTEMA DE INFORMAÇÕES EXECUTIVAS: SUAS CARACTERÍSTICAS E REFLEXÕES SOBRE SUA APLICAÇÃO NO PROCESSO DE GESTÃO
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INTRODUÇÃO sidade de levar a seus clientes e fornecedores os


benefícios resultantes da informática, gerando, as-
A última metade do século XX foi um período em sim, uma relação mais íntima e de acesso facilitado.
que houve várias invenções que marcaram a história Como exemplo, as integrações on-line com fornece-
da humanidade. Certamente, parte disso é resultan- dores para reposição de estoque, o que possibilitou
te de investimentos significativos feitos, principalmen- implementar a metodologia just-in-time, e atendimen-
te, na pesquisa. No âmbito tecnológico nota-se uma tos bancários eletrônicos, que permitiram a seus cli-
série de ferramentas inovadoras que impulsionaram entes acessar e gerenciar suas contas em diversos
muitos setores. Alguns exemplos práticos são a in- locais além da agência, disponíveis 24 horas por dia.
venção do satélite e o advento da informática. E, mais Nos dias atuais, vive-se uma nova transformação.
recentemente, a vinda da Internet. São criações que Com a chegada da Internet, as organizações estão
mudaram as organizações nos seus aspectos estru- se moldando a mais esta ferramenta. Os benefícios
tural, funcional, comportamental e de desempenho. trazidos ainda estão sendo implementados. Novas for-
Dessa forma, as instituições começaram a valori- mas de negócio e prestação de serviços estão sendo
zar um recurso primordial para sua sobrevivência: a inventadas. Já existem os conceitos de e-business
informação. As empresas perceberam que pela ges- (negócios pela Internet) e e-commerce (comércio ele-
tão da informação tornam-se competitivas, organi- trônico), que revolucionam as tradicionais maneiras
zadas e aptas a responder às mudanças exigidas de interagir com os clientes. Caíram, definitivamente,
pelo cenário mundial. as barreiras geográficas. Novas leis estão sendo cria-
Numa perspectiva histórica, os sistemas de infor- das para legalizar e oficializar transações de compra
mação evoluíram de acordo com as necessidades e venda, defender direitos autorais e regulamentar
organizacionais. Primeiramente, esses sistemas eram impostos. Uma nova era está surgindo.
desenvolvidos pela própria empresa, em um local Na área de desenvolvimento de sistemas de in-
denominado Centro de Processamento de Dados formação, aparece como opção para as organizações,
(CPD), e tinham como objetivo agilizar seus procedi- um novo produto denominado ERP – Enterprise
mentos internos e departamentos administrativos; li- Resource Planning ou Planejamento de Recursos
mitavam-se porém a processar apenas as operações Empresariais, o qual foi concebido para atuar em to-
realizadas diariamente. dos os momentos do negócio, desde a concepção
Em uma segunda fase, inicia-se o desenvolvimen- de um produto, compra de itens, manutenção de in-
to de automação das linhas de produção da indústria ventário, área orçamentária e financeira, até auxiliar
e a preocupação em gerar sistemas que possibilitem na gestão de recursos humanos, interação com for-
suprir as necessidades de informação de gerentes e necedores e clientes e acompanhar ordens de pro-
executivos, para tomada de decisão. dução. Há, também, módulos específicos voltados
Em um terceiro momento, já na década de 80, para gerentes e executivos, nos quais as informa-
com o surgimento dos microcomputadores e das re- ções são filtradas e resumidas, indicando tendênci-
des locais, nasceram diversas empresas ligadas ex- as e visualizando padrões de referência para tomada
clusivamente ao desenvolvimento de sistemas de de decisões de cunho estratégico.
informação e de gerenciamento da tecnologia da in- Encontra-se entre os diversos tipos de sistemas
formação. Não demorou muito, essas empresas con- de informações, o denominado EIS - Executive
seguiram seu lugar no mercado e substituíram, mui- Information System, o qual foi traduzido como SIE -
tas vezes, o papel antes exercido pelo CPD. As em- Sistema de Informações Executivas. Este tipo de
presas resolveram terceirizar, diminuindo custos na sistema de informação tem como objetivo primordi-
locação de mainframes e pessoal, socializando os al ampliar as possibilidades de alternativas para pro-
microcomputadores e seus sistemas pela companhia, blemas organizacionais, assim como permitir a ex-
e criando uma cultura interna de informática. ploração das informações disponíveis que possibili-
Em uma quarta instância, nos anos 90, quando tem ao gestor traçar novos rumos e comportar-se
as empresas estavam com seus sistemas equilibra- de maneira pró-ativa face ao ambiente em que se
dos e funcionando adequadamente, surge a neces- encontra.
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Neste sentido, o presente estudo objetivou fazer DADO, INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO


uma incursão teórica nas características de um sis-
tema de informações executivas, além de fazer uma A distinção entre dado, informação e conhecimen-
reflexão sobre sua aplicação no suporte ao processo to torna-se imprescindível para uma compreensão
de gestão empresarial. melhor de sistema de informação. Oliveira (1992, p.34)
A literatura existente sobre sistemas de informa- afirma que “dado é qualquer elemento identificado
ções é ampla, mas a maioria das obras é dedicada em sua forma bruta que por si só não conduz a uma
aos sistemas de infor mações nas áreas compreensão de determinado fato ou situação.” A
transacionais e gerenciais. Os sistemas de informa- partir do dado transformado, o executivo pode ter
ções que atuam no segmento transacional visam a consigo um elemento de ação. Desse modo, a “infor-
concretizar e armazenar as operações realizadas mação é o dado trabalhado que permite ao executivo
na organização. Nas instituições financeiras, por tomar decisões”.
exemplo, uma transação pode representar um de- Nesse sentido, Almeida (1999, p.307) menciona
pósito, saque ou aplicação feita pelo correntista. Em a existência de uma relação íntima entre informação
um hospital, uma transação pode ser considerada e decisão, visto que decisões são tomadas no pre-
como a internação de um paciente, ou uma requisi- sente sobre eventos que se concretizarão no futuro.
ção de exame médico. Afirma que “o conceito de informação está vinculado
Estas transações são manipuladas e gerenciadas a uma mudança de estado a respeito do evento. As-
pelos sistemas de informações gerenciais – SIG. sim, a informação configura-se como um conheci-
Estes sistemas têm como objetivo auxiliar a organi- mento disponível, para uso imediato, que permite
zação a alcançar maior eficiência. Propiciam, aos orientar a ação.” Para criar uma informação pela re-
gerentes, informações que orientam as tomadas de lação estabelecida entre dados, exige-se conhecimen-
decisão e o monitoramento de suas tarefas. to. Stair (1998, p.05) menciona que para definir uma
No entendimento de Dalfovo e Rodrigues (1998, relação se requer conhecimento.
p.43), a sustentação teórica de sistemas de informa- De acordo com Alter (1992, p.81), conhecimento
ções para os altos escalões das organizações é pra- “é a combinação de instintos, idéias, regras e proce-
ticamente nula. Reflete-se, com isso, o pouco ou ne- dimentos que guiam ações e decisões.” Explica, ain-
nhum contato do executivo com a informática, o que da, que dados são formatados, filtrados e manipula-
não lhe permite utilizar a informação de maneira es- dos para criar informação. A conversão de dados em
tratégica. informação é baseada em conhecimento acumulado
Colocar a organização em patamares de com- sobre como formatar, filtrar e manipular dados para
petitividade é o objetivo de todo executivo. Sem a serem úteis em uma situação.
utilização de um sistema de informações, como re- Assim, para haver um gerenciamento eficiente e
curso estratégico para esta finalidade, torna-se mais eficaz das informações na organização, faz-se ne-
difícil garantir a capacidade competitiva do empreen- cessário estabelecer procedimentos de maneira
dimento. Desse modo, a criação de um contexto estruturada, que forneça aos gestores condições de
tecnológico voltado ao executivo, que forneça supor- desempenho, conforme o processo de gestão defi-
te na tomada de decisão, tornou-se imperativo em nido pela instituição. O mecanismo encontrado para
época de expansão de uma economia globalizada e fornecer este suporte gerencial é o sistema de in-
com mercados altamente concorridos. formação.
Em um ambiente de negócios que requerem fle-
xibilidade, o processo de tomada de decisão neces- SISTEMA DE INFORMAÇÃO
sita rapidez no processamento de dados pela
tecnologia, bem como disponibilidade e acesso a in- Um sistema de informação consiste em uma soma
formações. Isto facilita a leitura do contexto. Desta estruturada de elementos. Mosimann, Alves e Fisch
forma, as alternativas para definir uma estratégia de (1993, p.52) conceituam sistema de informação como
ação serão melhor fundamentadas e terão maiores “uma rede de informações cujos fluxos alimentam o
probabilidades de êxito. processo de tomada de decisões, não apenas da
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empresa como um todo, mas, também, de cada área ção de símbolos tais como números e letras para o
de responsabilidade.” propósito de aumentar sua utilidade.”
Campos Filho (1994, p.34) explicita que o siste- De acordo com Alter (1992, p.127), “um siste-
ma de informação baseia-se em quatro componen- ma de processamento de transações coleta e ar-
tes reunidos de modo a permitir o melhor atendimen- mazena dados sobre transações e algumas vezes
to aos objetivos da organização: controla decisões que são feitas como parte de uma
a) a informação (dados formatados, imagens, sons transação.” Uma transação é qualquer troca relaci-
e textos livres); onada com negócios, como pagamento a empre-
b) os recursos humanos (que coletam, armaze- gados, vendas a clientes e pagamento a fornece-
nam, recuperam, processam, disseminam e dores.
utilizam as informações); Na perspectiva administrativa, um SPT é destina-
c) as tecnologias de informações (o hardware e o do a desempenhar um papel de suporte às ativida-
software); e des da organização empresarial. De acordo com Stair
d) as práticas de trabalho (métodos utilizados). (1998, p. 183), o SPT é usado para dar “suporte às
As práticas de trabalho, segundo Alter (1992, atividades do pessoal não-gerencial e pelos níveis
p.07), são as formas, maneiras e métodos utilizados da administração operacional da organização.”
pelas pessoas da organização para realizar os seus Um SPT bem desenvolvido e implantado torna-
serviços. Elas estão intimamente ligadas às ferramen- se uma fonte de dados valiosa, como entrada aos
tas tecnológicas e às informações para comunica- outros sistemas de informação. O SPT é o alicerce
ção, realização de tomada de decisão e outras tare- que sustenta a integridade e precisão da informação
fas necessárias ao negócio. gerada, assegurando a confiabilidade dos sistemas
As tecnologias de informações, de acordo com de informação hierarquicamente acima dele.
Alter (1992, p.09), compreendem o hardware e
software destinados a tarefa de processamento de SISTEMA DE INFORMAÇÕES
dados e que capturam, manipulam, armazenam, re- GERENCIAIS (SIG)
cuperam e transmitem as informações. Salienta que
a tecnologia da informação é um componente do sis- Um sistema de informações gerenciais é descrito
tema de informação e não pode ser confundido como por Mcleod (1993, p.427) como “um sistema basea-
se este elemento fosse o todo. A tecnologia de infor- do em computador que faz avaliações das informa-
mação é o ferramental do qual se utiliza a prática de ções para usuários com necessidades similares.” Afir-
trabalho. ma, ainda, o autor que as informações são utilizadas
Por sua vez, os recursos humanos, conforme por administradores e não administradores para to-
Campos Filho (1994, p.35), estão incluídos no siste- madas de decisão e para resolver problemas.
ma de informação para, a não ser em casos total- Para Stair (1998, p.38), “um sistema de infor-
mente automatizados, coletar, processar ou usar mações gerenciais (SIG) é um agrupamento orga-
dados. A vinculação entre os recursos humanos e as nizado de pessoas, procedimentos, banco de da-
práticas de trabalho demonstra que elas afetam os dos e dispositivos usados para oferecer informa-
recursos humanos, ao passo que as características ções de rotina aos administradores e tomadores
dos recursos humanos no sistema determinam quais de decisões.”
práticas serão viáveis e adequadas. Segundo Furlan, Ivo e Amaral (1994, p.28), “nos
sistemas MIS, o foco passa para as atividades de
SISTEMA DE PROCESSAMENTO DE planejamento e integração dos sistemas.” Identificam
TRANSAÇÕES (SPT) como principais características do SIG: a) foco na
informação direcionada a gerentes de nível médio;
O sistema de processamento de transações, tam- b) fluxo de informações estruturado; c) integração dos
bém denominado sistema eletrônico de sistemas por área funcional; e d) geração de relatóri-
processamento de dados, é definido por Mcleod os e consultas, normalmente com uso de um banco
(1993, p.390) como a “manipulação ou transforma- de dados.
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A unificação e integração de sistemas, no enten- acesso flexível à informação para monitorar resulta-
dimento de Stair (1998, p.213), são realizadas dos das operações e condições gerais do negócio.”
freqüentemente com a adoção de um banco de dados Sua preocupação gravita em torno da importância
compartilhado. Este banco de dados comum serve não do SIE no acompanhamento dos resultados das ope-
só para interligar o SIG, como também pode integrar rações realizadas pela organização. O SIE é dese-
os SPT’s da organização com os vários SIG’s funcio- nhado para ajudar os executivos a encontrar as infor-
nais. mações que necessitam.
Como o foco é a saída das informações para o Observa-se nas considerações expostas uma re-
gerente, a geração dos relatórios em vez de mostrar lação direta com a praticidade na utilização do SIE
as transações ocorridas, passa a apontar, por meio pelo alto executivo. Os executivos que tomam deci-
de resumos e filtragens, indicadores-chaves para o sões estratégicas não dispõem do tempo necessário
monitoramento e análise das informações. Dessa para realizar um treinamento em sistemas desenvol-
forma, entende-se que o sistema de informações vidos tradicionalmente para usuários de escalões
gerenciais proporciona ao gestor condições de con- mais baixos. Portanto, o sistema deve ser criado de
trolar as diversas rotinas administrativas e é fonte maneira que sua operação seja intuitiva e dê
orientadora para o processo decisório. legibilidade e compreensão dos resultados de forma
instantânea.
SISTEMA DE INFORMAÇÕES
EXECUTIVAS (SIE) A Evolução Histórica do SIE
Segundo Furlan, Ivo e Amaral (1994, p.06), o ter-
Foi mantido o termo SIE na sua forma original, mo sistema de informações executivas (SIE) foi cria-
mesmo que alguns autores o denominem como do no final da década de 1970, a partir de trabalhos
Enterprise Information System, em virtude de novas desenvolvidos no Massachusetts Institute of
abordagens, que modificam substancialmente as Tecnology (MIT) por pesquisadores como Rockart e
bases que fundamentam o termo original. Treacy.
O surgimento do SIE é uma resposta para preo-
Conceituação de SIE cupações decorrentes da pouca utilização da
Na literatura encontram-se diversas definições de informática por executivos e pouco interesse em se
SIE, as quais convergem para um tipo de sistema de habituarem com ela. Dalfovo e Rodrigues (1998, p.43)
informações que fornece suporte ao processo decisório afirmam que “o suporte efetivo aos executivos não
para o alto escalão da organização. Segundo Pozzebon tem tido um avanço significativo. Como usuários, os
e Freitas (1996, p.29), o SIE “é uma solução em ter- executivos somente têm utilizado a informática de
mos de informática que disponibiliza informações forma indireta e tangencial.” Adiciona-se a isto a difi-
corporativas e estratégicas para os decisores de uma culdade de transpor a barreira tecnológica e a não-
organização, de forma a otimizar sua habilidade para condição natural de operar e lidar computadores,
tomar decisões de negócios importantes.” impossibilitando a utilização das informações como
Mcleod (1993, p. 586) ressalta que “um sistema recurso estratégico.
de informações executivas é um sistema que provê Desde o início dos estudos e implementação de
informações para o executivo do desempenho global SIE, no fim da década de 1970, algumas modifica-
da firma.” Considera que o fornecimento destas in- ções foram realizadas para ajustá-los às novas ne-
formações ao executivo pode ser facilmente recupe- cessidades de administração, bem como às novas
rado e pode ter vários níveis de detalhe. Assim, pode- tecnologias. Assim, segundo Turban e Walls apud
se partir de um nível superficial de análise e prosse- Pozzebon (1998, p.22), tem-se como objetivo maior,
guir até um nível de detalhamento mais profundo e na primeira fase do SIE, proporcionar aos dirigentes
desejado. das organizações a identificação dos problemas e
Um sistema de informações executivas, confor- oportunidades o mais cedo possível. As funções uti-
me Alter (1992, p.136), é “um sistema altamente lizadas continuam a fazer parte dos sistemas desen-
interativo provendo os dirigentes e executivos com volvidos atualmente: relatórios de exceção e de evo-
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lução de indicadores-chave, técnicas de drill down1 e everybody (executivo ou para todos)? A quem real-
integração com correio eletrônico. mente se destina o SIE? O tema debatido por diver-
A segunda fase surgiu no fim da década de 1980, sos autores compreende a reflexão sobre o alto cus-
de acordo com Rockart e Delong apud Pozzebon to de desenvolvimento do sistema para poucos usu-
(1998, p.22), com a introdução do ESS – Executive ários e sobre como avaliar seu desempenho na or-
Support System, no qual foram incorporadas funções ganização. Existe a dificuldade, contudo, de utilizá-lo
de comunicação, automação de escritório e análise em larga escala na empresa, tendo em vista os mais
às tradicionais funções de monitoramento e controle. diversos grupos de usuários que necessitam de
A terceira fase emergiu na década de 1990, con- especificidades diferentes e que precisam estar em-
forme Turban e Walls apud Pozzebon (1998, p.23), butidas em um mesmo sistema de informações.
com a difusão dos microcomputadores e as redes A tendência da próxima fase do SIE, direcionando-
locais. Há que se ressaltar a preocupação em acessar o para todos dentro da organização, faz com que o
as informações internas e externas da organização limite que existe entre o SIE e o SAD (Sistema de
rapidamente, em qualquer lugar. Apoio à Decisão) seja cada vez mais estreito. A Figu-
A questão que paira atualmente são as discus- ra 1 mostra a hierarquia entre os diferentes tipos de
sões sobre o direcionamento do SIE: executive or sistemas de informações abordados neste estudo.

Figura 1 – Pirâmide dos Sistemas de Informação

Estratégico
SIE

Gerencial
SAD SIG

Operacional
SPT

Automação
SA

Fonte: FURLAN, José Davi, IVO, Ivonildo da Motta e AMARAL, Francisco Piedade. Sistema de Informação Executiva=EIS-Executive Information System:
como integrar os executivos ao sistema informacional das empresas, fornecendo informações úteis e objetivas para suas necessidades estratégi-
cas e operacionais. São Paulo: Makron Books, 1994b. p.26.

Na base da pirâmide estão concentrados os sis- computacionais como o de faturamento, folha de paga-
temas de automação (SA). Este tipo de sistema não mento, contas a receber e a pagar, contábil e tesouraria.
foi abordado neste trabalho e refere-se aos sistemas O terceiro estágio compreende os sistemas
de automação industrial, comercial, bancária e de es- gerenciais e divide-se em dois módulos: o SAD e o
critório. SIG. O sistema de apoio à decisão (SAD), o qual não
No segundo nível estão os sistemas de foi abordado neste estudo, é conceituado por Stair
processamento de transações (SPT). Este gênero de (1998, p.38) como “um grupo organizado de pessoas,
sistema de informação refere-se aos sistemas procedimentos, banco de dados, e dispositivos usa-

1
É um recurso do sistema SIE que significa um aprofundamento das informações que conduzem o executivo até o grau de detalhe necessário (Furlan, Ivo e Amaral, 1994, p.27)

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dos para dar apoio à tomada de decisões referentes a Por sua vez, o sistema de informações gerenciais
problemas específicos”. Para Sprague (1991, p. 10), o (SIG), conforme Furlan, Ivo e Amaral (1994, p.28),
SAD caracteriza-se como “um sistema computacional tem como público-alvo os níveis gerenciais da em-
interativo que ajuda os responsáveis pela tomada de presa, e oferece informações sumarizadas, contem-
decisões a utilizar dados e modelos para resolver pro- plando o comportamento dos negócios nos períodos
blemas não estruturados.” STAIR (1998, p.232) corro- passados através de totalizações e consolidando as
bora esta idéia e acrescenta que o foco de um SAD operações realizadas.
“está na eficácia da tomada de decisões em face de Turban e Schaeffer (1991, p. 353) comparam os
problemas comerciais não estruturados ou semi- tipos de sistemas SIE, SAD e SIG, conforme demons-
estruturados.” trado no Quadro 1.

Quadro 1 – Comparativo entre modelos SIE, SAD e SIG


DIMENSÃO SIE SAD SIG
Foco Acesso aos status indicadores de Análise e apoio à decisão Processamento de
desempenho informações

Usuário típico Executivos Gerentes intermediários e analistas Gerentes de nível médio

Objetivo Conveniência Eficácia Eficiência

Aplicação Avaliação de desempenho, Tomada de decisão operacional Controle de produção,


acompanhamento de fatores projeção de vendas, análise
críticos de sucesso de custos, etc.

Apoio oferecido à Indireto, problemas de alto nível e Apoio direto Direto ou indireto
decisão não estruturados

Banco de dados Especial Especial Da empresa

Tipo de informação Operações internas, tópicos Informação de apoio para Relatório das
críticos, informações externas, situações específicas operações internas,
exceções fluxo estruturado

Uso principal Acompanhamento e controle Planejamento, organização e Controle


controle

Adaptação ao Adaptável ao estilo decisório Permite recursos de simulação, Normalmente nenhuma


usuário do executivo julgamento e escolha de estilos de
diálogos

Recursos gráficos Essencial Parte integrada de muitos SAD Desejável

Facilidade Essencial Essencial Desejável


conversacional

Tratamento das Filtra e resume informações, Utiliza informações geradas pelo Sumariza e relata informações
informações apresentando exceções e tópicos SIG ou SIE como input (entrada) para serem tratadas pelos
essenciais usuários

Detalhamento de Acesso instantâneo aos detalhes Podem ser programados Inflexibilidade dos relatórios
informações de qualquer resumo

Banco de modelos Pode ser acrescentado Essência do sistema Disponível, mas não gerenciável

Desenvolvimento Especialista em sistemas Usuários, com treinamento Especialistas em sistemas


oferecido pelos especialistas

Fonte: TURBAN, Efraim e SCHAEFFER, Donna M. Uma comparação entre sistemas de informação para executivos, DSS e sistemas de informação gerencial.
In: SPRAGUE JR, Ralph H. e WATSON, Hugh J. (Org.). Sistemas de apoio à decisão: colocando a teoria em prática. Rio de Janeiro: Campus, 1991
p. 345-362, p.353.

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Nota-se que o foco direcionado ao SIE está relaci- apud Lima (1998, p.39) afirmam que “a ênfase dos
onado aos status indicadores de desempenho. Isto sistemas de informação executiva recai no entendi-
demonstra a vinculação direta com a natureza estra- mento de questões, tais como o que se quer atingir
tégica em que o SIE foi concebido. Segundo Fischmann com o negócio, como se espera atingir tais objetivos
e Zilber (1999, p.173), “uma possível conceituação de e como medir seu progresso.”
desempenho no âmbito das organizações é a capaci- Por outro lado, Pozzebon (1998, p.23) considera
dade da empresa atingir seus objetivos estratégicos que a tendência do estreitamento dos limites que
através da implementação de estratégias adotadas separam o SIE do SAD, é uma conseqüência, tendo
dentro do seu processo de planejamento. A empresa, em vista o alargamento do escopo do SIE como fer-
dessa forma, deve contar com um sistema de indica- ramenta de auxílio à tomada de decisão. Isto faz com
dores de desempenho que permita a verificação do que as fronteiras não sejam claramente definidas.
efetivo sucesso de sua gestão estratégica.” Para Stair (1998, p.232-245), o SIE e o SAD inte-
A criação do SIE, conforme Turban e Schaeffer gram o que denomina de sistemas de suporte à de-
(1991, p.353), é uma classe de sistemas de informa- cisão (SSD). Neste sentido, entende que o SIE pode
ção que apoia o executivo na obtenção de insights2 e ser utilizado além dos altos executivos e do presi-
persegue os fatores críticos de sucesso, auxiliando, dente da companhia, também por funcionários dos
assim, ao decisor, na identificação de problemas e níveis mais baixos da estrutura organizacional, com-
oportunidades da organização. Martin apud Lima partilhando informações provenientes dos mesmos
(1998, p.39) afirma que os SIE “são especialmente bancos de dados e redes de comunicação.
projetados para ajudar o executivo a obter insights e Mcleod (1993, p.596) ressalta que mais esforços
rastrear os fatores críticos de sucesso. O objetivo de têm sido feitos em aceitar o SIE em outras aplica-
um sistema de informação executiva é ajudar o decisor ções. É possível verificar novas classes de SIG e
na assimilação rápida de informações e na identifica- SAD desenvolvidos para administradores de níveis
ção de problemas e oportunidades, não é uma ajuda hierárquicos mais baixos, os quais contêm muitas
na análise de problemas ou na sua resolução.” características do SIE. Afirma, ainda, que “os SIG e
O SIE foi concebido, portanto, para servir como SAD de amanhã parecerão como os SIE de hoje.”
uma eterna mira, tendo como alvo a missão, objeti- A ocorrência dessa integração faz surgir a neces-
vos e metas da organização, utilizando-se dos indi- sidade de uma adequação daquela pirâmide que ilus-
cadores de desempenho para sua avaliação e tra a hierarquia dos sistemas de informação, confor-
realinhamento. Neste sentido, Matthews e Shoebridge me mostra a Figura 2.

Figura 2 – O Surgimento dos conceitos de OLAP e OLTP

SIE
OLAP
SAD SIG

SPT OLTP

Fonte: Adaptado de POZZEBON, Marlei. Um modelo de E.I.S. - Enterprise Information System – que identifica características para comportamentos proativos
na recuperação de informações. 1998. Dissertação - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. p. 25.

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Insights é um termo utilizado para designar a compreensão de uma coisa, fato ou contexto.

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De acordo com Pozzebon (1998, p.25), a camada Furlan, Ivo e Amaral (1994, p.09) também menci-
em que se encontra o SPT corresponde ao OLTP – onam algumas características encontradas nos sis-
On-line Transaction Processing ou Processamento temas de informações executivas:
Transacional On-line. E as camadas superiores em a) os SIE destinam-se a atender às necessida-
que se encontram o SIG, SAD e SIE, correspondem des de informação dos executivos;
ao OLAP – On-line Analytical Processing ou b) possuem apresentação de dados através de
Processamento Analítico On-line, que demonstram recursos gráficos de alta qualidade;
a tendência ao desenvolvimento de sistemas híbri- c) recuperam informações de forma rápida para a
dos, abrangentes e com múltiplas funções. tomada de decisão;
Por fim, declara que há uma forte perspectiva fu- d) oferecem facilidade de uso, intuitivo, sem ne-
tura quanto a uma nova denominação e congraça- cessidade de treinamento específico em
mento entre os sistemas que formam o OLAP, e su- informática;
gere uma alteração no significado da sigla SIE de e) são desenvolvidos de modo a se enquadrarem
Sistema de Informação Executiva para Sistema de na cultura da empresa e no estilo de tomada
Informação Empresarial, no qual o “Executive” cede de decisão de cada executivo;
seu lugar para “Enterprise”. f) filtram, resumem, acompanham e controlam
dados ligados aos indicadores de desempenho
Elementos Característicos esperados em um SIE dos fatores críticos de sucesso;
Na evolução ocorrida, através do tempo, com o g) utilizam informações do ambiente externo (con-
SIE, é possível mapear uma série de características correntes, clientes, fornecedores, indústrias, go-
que vêm marcar este modelo de sistema de informa- verno, tendências de mercado); e
ção. Essas peculiaridades encontradas são entendi- h) proporcionam acesso a informações detalha-
das como essenciais, e outras são incorporadas gra- das subjacentes às telas de sumarização or-
ças ao avanço tecnológico e às mudanças que advêm ganizadas numa estrutura top-down.
da administração dos negócios, aos quais os SIE’s Para Stair (1998, p. 246), os SIE’s devem ser “ex-
precisam se adaptar. tremamente fáceis de usar, dar suporte a todos os
Algumas dessas características, consideradas como níveis de tomadas de decisões estratégicas, ser fa-
fundamentais, são relatadas em duas pesquisas de cilmente personalizados e ter abordagem e apresen-
campo realizadas por Wagner Bronze Damiani, uma tação flexíveis.” Cita como principais pontos: facilida-
nos Estados Unidos, com apoio da University of Texas de de uso, oferece uma vasta gama de recursos
at Austin, e a outra no Brasil, com apoio da Escola de computacionais, manipula uma variedade de dados
Administração de Empresas de São Paulo, da Funda- internos e externos, quantitativos e qualitativos, exe-
ção Getúlio Vargas. A população que compõe a amos- cuta sofisticadas análises de dados, oferece alto grau
tra dos respondentes foi selecionada usando o critério de especialização, propicia flexibilidade; oferece re-
de classificação das 500 maiores empresas, de acordo cursos abrangentes de comunicações e proporciona
com a revista “Fortune” de 15 de maio de 1995, no pri- suporte a todos os aspectos da tomada de decisões.
meiro caso, e das 500 Melhores e Maiores da revista Por sua vez, Pozzebon e Freitas (1996, p.21) sin-
“Exame”, de agosto de 1995, no segundo caso. tetizam os atributos que se esperam de um SIE, como
De acordo com Damiani (1998, p. 40), foi efetua- segue:
da uma identificação das características presentes a) uma interface totalmente amigável;
nos SIE’s em uso pelas empresas: ambiente b) deve ser claro e objetivo, explorando intensiva-
Windows, videoconferência, touch-screen3 , atualiza- mente recursos gráficos - cores, símbolos,
ção em tempo real, tempo para implementar ícones, imagens e gráficos;
melhorias, uso de hipertexto, consolidação, agenda c) Drill down - a partir de visualizações globais e de
integrada, drill down de informações, correio eletrô- dados resumidos é possível um aprofundamento
nico, informações externas e simulações. até o nível de detalhamento desejado; e

3
É um recurso tecnológico empregado no monitor em que o usuário seleciona opções de um menu através das mãos.

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SISTEMA DE INFORMAÇÕES EXECUTIVAS: SUAS CARACTERÍSTICAS E REFLEXÕES SOBRE SUA APLICAÇÃO NO PROCESSO DE GESTÃO
15

d) deve fornecer informações críticas e indicado- nas categorias: qualidade da informação, interface
res de desempenho. com o usuário e capacidade técnica. O Quadro 2
As características desejadas em um SIE, de acor- apresenta as características cabíveis em cada uma
do com Turban (1993, p.401), podem ser divididas dessas categorias.

Quadro 2 – Características de um SIE

Qualidade da informação Interface com o usuário Capacidade técnica


Ser flexível Contém interface gráfica sofisticada para o Acesso a informações agregadas, globais
usuário
Produz informação correta Contém uma interface amigável Extensivo uso de dados externos
Produz informação Permite acesso seguro e confidencial às Interpretação escrita (informal)
oportunamente (no momento informações
em que se necessita)
Produz informação relevante Tem um pequeno tempo de resposta Salienta indicadores de problemas
Produz informação completa É acessível de muitos lugares Hipertexto e Hipermídia
Produz informação validada Contém um procedimento de acesso seguro Análise ad hoc
Minimiza o uso do teclado; alternativamente Informações apresentadas em forma hierárquica
usa controles infra-vermelhos, mouse, touch
pad e touch-screen
Provê uma recuperação rápida da Incorpora gráfico e texto na mesma tela
informação desejada
É adaptado individualmente ao estilo Permite administrar por relatórios de exceção
administrativo do executivo
Contém menu de ajuda Mostra tendências, taxas e desvios
Provê acesso a dados históricos e aos mais recentes
Organizado considerando os fatores críticos de
sucesso
Capacidade de previsão, planejamento e projeção
Produz informação em vários níveis de detalhe (“drill
down”)
Filtra, condensa e percorre dados críticos

Fonte: Adaptado de TURBAN, Efraim. Decison Support and expert systems: management support systems. United States of America: Macmillan Publishing
Company, 1993. p.401.

A qualidade da informação é a categoria na qual Em relação à interface com o usuário, o uso de


se destaca a preocupação com a confiabilidade da tecnologias por parte dos administradores, normal-
informação prestada, assim como a filtragem de in- mente, não os deixa à vontade para um efetivo ma-
formações relevantes ao gestor. Ackoff (1981, p.78) nuseio. No entendimento de Furlan, Ivo e Amaral
adverte que um dos problemas encontrados em um (1994, p.81), “os executivos esperam que a
sistema de informação é o excesso de informações informática traga de fato o que precisam de modo
irrelevantes geradas, ocasionando uma quantidade operacionalmente simples e intuitivo, sem a necessi-
de informações incapaz de ser absorvida pelo ad- dade de treinamento especial.”
ministrador. Para solucionar este problema, sugere Neste sentido, Mosimann, Alves e Fisch (1993,
a existência de duas funções no sistema de infor- p.63) salientam que muitos gestores têm medo de
mação, que são a triagem e a condensação da in- demonstrar uma possível ignorância ao avaliar um
formação. sistema automatizado. Acreditam que somente farão

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16 Revista Contabilidade & Finanças FIPECAFI - FEA - USP ARTIGO

uso eficaz do sistema quando “o compreenderem o tegoria também incorpora o domínio da flexibilidade
suficiente para a avaliação de seu desempenho, e, e manuseio das informações, que são proporciona-
consequentemente, para seu controle.” dos na elaboração do sistema.
A capacidade técnica de um SIE utiliza-se da O Quadro 3 procura compilar as características
tecnologia para implementar as condições necessá- do SIE, comuns entre os autores citados, utilizando
rias às duas categorias mencionadas: a qualidade o critério do maior número de vezes em que a carac-
da informação e a interface com o usuário. Esta ca- terística foi apresentada.

Quadro 3 – Compilação dos elementos característicos em um SIE


Característica Descrição
Drill Down Possibilitar o aprofundamento no nível de detalhe das informações
Acesso a informações externas Permitir o tratamento de informações do meio externo
Recursos gráficos Explorar ícones, gráficos, cores, símbolos e imagens
Recuperação rápida da informação Utilizar recursos tecnológicos para otimizar o tempo de resposta
Facilidade de uso Utilizar o sistema com mínimo de treinamento e permitir ao usuário os recursos como:
touch-screen, mouse e touch pad
Flexibilidade Adaptável ao estilo de cada executivo
Voltado aos fatores críticos de sucesso Monitorar os indicadores de desempenho da organização, auxiliando na administração dos
fatores críticos de sucesso
Hipertexto Facilitar a navegação no sistema
Filtragem e resumo Permitir a geração de informações selecionadas e/ou aglutinadas de interesse do executivo

O SIE como parte integrante do Planejamento sistema institucional que contém as crenças e valo-
Estratégico da Empresa res da instituição. De forma análoga, Beuren (1998,
p.39) registra que a concepção do sistema de infor-
Para a implantação de um SIE é necessário que mações depende do sistema de gestão ao qual vai
o seu planejamento esteja alinhado com o planeja- servir de suporte. Ressalta que esforços devem ser
mento estratégico da organização. Segundo Albertin despendidos na identificação das informações neces-
(1996, p.62), “a implementação de um sistema de sárias ao processo de gestão e na determinação dos
informação deve estar de acordo com a estratégia subsistemas que devem ser gerados.
de uso da tecnologia de informação da organização, Assim, os sistemas de informações que serão
que, por sua vez, deve ser coerente com a sua estra- implantados, incluindo o SIE, devem fazer parte do
tégia de negócios.” Por sua vez, Alter (1992, p.589) planejamento estratégico. Furlan (1991, p.06) define
afirma que “o planejamento do sistema de informa- o Planejamento Estratégico de Sistema de Informa-
ções deve ser uma parte integrante do planejamento ções como “parte integrante do Planejamento Estra-
do negócio.” tégico Empresarial (formal ou informal), com enfoque
Guerreiro apud Almeida (1999, p.310) menciona gerencial para desenvolver planos de sistemas e ban-
que um dos princípios que devem nortear o desen- co de dados, definir projetos e estabelecer priorida-
volvimento de sistemas de informação consiste no des de forma contínua.” As fases e subfases da
condicionamento sistêmico, no qual o sistema de in- metodologia de Planejamento Estratégico de Siste-
formação depende do sistema de gestão e este do mas de Informação são apresentadas no Quadro 4.

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Quadro 4 – Fases e subfases da metodologia de planejamento


estratégico de sistemas de informação
Fase/Subfases Processos/Atividades
Primeira Fase – Início do Planejamento Estratégico de Sistemas de Informação
Subfase 1 – Organização do planejamento
Subfase 2 – Treinamento dos participantes do planejamento
Segunda Fase – Análise da situação atual
Subfase 1 – Revisão das estratégias e operações do negócio
Subfase 2 – Avaliação dos sistemas existentes
Terceira Fase – Elaboração de soluções
Subfase 1 – Definição da arquitetura de dados
Subfase 2 – Definição da arquitetura de sistemas
Subfase 3 – Definição de estratégias gerenciais
Subfase 4 – Definição da arquitetura tecnológica
Quarta Fase – Desenvolvimento de planos
Subfase 1 – Desenvolvimentos de projetos de sistemas de informação
Subfase 2 – Definição das necessidades de recursos
Subfase 3 – Finalização do plano

Fonte: Adaptado de FURLAN, José Davi. Como elaborar e implementar o planejamento estratégico de sistemas de
informação. São Paulo: Makron, McGraw-Hill, 1991. p.11.

A primeira fase se refere às atividades correspon- rem desenvolvidos, o tipo de processamento, se dis-
dentes à organização geral do projeto de planejamen- tribuído ou centralizado, as alternativas estratégicas
to e o treinamento dos participantes na metodologia, gerenciais para os sistemas de informação, assim
técnicas e ferramentas de apoio. O objetivo é esta- como seus impactos e os recursos tecnológicos a
belecer uma visão comum e as expectativas sobre o serem aplicados.
projeto, assim como as regras e responsabilidades A última etapa do Planejamento Estratégico de Sis-
organizacionais, o plano de trabalho e os resultados tema de Informação destina-se ao desenvolvimento de
almejados com o planejamento. planos para implantar os projetos estabelecidos na fase
Os propósitos da segunda fase são o estabeleci- anterior. Dentre os objetivos prescritos em cada subfase,
mento de uma abordagem metodológica para efetu- destaca-se a priorização de projetos, a necessidade de
ar o levantamento e compreensão do negócio e das recursos com estimativa de custos e a elaboração e
necessidades de informações para o processo apresentação do plano e do relatório final.
decisório. O caminho metodológico leva em conside-
ração a missão, os objetivos da organização e de REFLEXÕES SOBRE A APLICAÇÃO DO
cada área funcional, desafios e metas em termos SIE NO PROCESSO DE GESTÃO
estratégicos, tático e operacional. Também contem-
pla os fatores críticos de sucesso, problemas e ne- Para realizar o desenvolvimento de um sistema
cessidades de informação. de informações executivas, deve-se optar por uma
A subfase avaliação dos sistemas existentes tem metodologia que possibilite atingir os objetivos pro-
como objetivo elaborar um inventário destes siste- postos pela organização. Para tal escolheu-se com-
mas e fazer um levantamento do ambiente técnico. binar princípios da Engenharia da Informação e o
Com base nesta avaliação são elaboradas recomen- Método de Análise dos Fatores Críticos de Sucesso.
dações de melhoria de curto prazo. Pozzebon e Freitas (1996, p.22) afirmam que se os
Na etapa de elaboração de soluções é contem- projetistas de um SIE se basearem nas modelagens
plada a análise de viabilidade do desenvolvimento dos sistemas de informação, somente nas metodologias
de cenários propostos. São definidos, por meio das mais utilizadas, tais como análise estruturada de siste-
subfases, os modelos de dados, os aplicativos a se- mas ou engenharia de informação, dificilmente o proje-

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18 Revista Contabilidade & Finanças FIPECAFI - FEA - USP ARTIGO

to terá êxito. Afirmam, ainda, que, no momento de Por outro lado, o Método de Análise dos Fatores
informatizar uma organização, os sistemas de informa- Críticos de Sucesso lida com os mesmos conceitos
ção automatizam funções, procedimentos e tarefas de missão, objetivos da empresa, objetivos da área
delimitadas. Já a tomada de decisão não é caracteriza- funcional, fatores críticos de sucesso, necessidades
da por atividades repetitivas e bem definidas, e os ce- de informação, problemas e indicadores de desem-
nários envolvidos na tomada de decisão estão em cons- penho. Estes componentes formam, segundo Furlan,
tante mudança. Dessa forma, entendem que a contri- Ivo e Amaral (1994, p.69), o esquema conceitual do
buição da Engenharia de Informação “está contida, so- inter-relacionamento dos objetos do SIE e que de-
bretudo, no Planejamento de Informática, uma das eta- vem nortear seu desenvolvimento. A Figura 3 apre-
pas que compõem a fase de planejamento.” senta este esquema.

Figura 3 – Esquema conceitual do inter-relacionamento dos objetos do SIE

Missão Indicadores
de
desempenho

Objetivos
da
empresa
Problemas

Objetivos
da área
funcional

Fatores
Críticos de
Sucesso

Necessidades
de
informação

Caminho para
priorização
(ranking)
Fonte: FURLAN, José Davi, IVO, Ivonildo da Motta e AMARAL, Francisco Piedade. Sistema de Informação Executiva=EIS-Executive Information System:
como integrar os executivos ao sistema informacional das empresas, fornecendo informações úteis e objetivas para suas necessidades estratégicas
e operacionais. São Paulo: Makron Books, 1994. p. 69.

O esquema demonstra as ligações entre os obje- vos da empresa e os fatores críticos de sucesso com
tos do SIE e estabelece o caminho metodológico para os objetivos empresarias e funcionais.
a compreensão das necessidades do negócio. Esta- O caminho para priorização (ranking) determina a
belece a missão da organização para, em seguida, ordem segundo a qual as necessidades de informação
relacionar os respectivos objetivos da instituição. Para serão implantadas como parte do SIE. Como suporte
encontrar as necessidades de informação, relacio- ao processo de análise de impacto e atribuição de pe-
nam-se os objetivos da área funcional com os objeti- sos, pode-se elaborar esta escala de prioridades.

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Os Fatores Críticos de Sucesso, de acordo com tivos traçados pela organização. Eles referem-se, nor-
Rockart (1979, p.85), para qualquer negócio, são “um malmente, aos seguintes pontos: a) metas
número limitado de pontos, cujos resultados, se fo- estabelecidas versus resultados alcançados; b) com-
rem satisfatórios, asseguram uma performance com- paração dos resultados da organização versus resul-
petitiva bem sucedida para a organização. São aque- tados dos concorrentes; e c) comparação com perío-
las poucas áreas-chave onde as coisas devem dar dos anteriores. São exemplos de indicadores de de-
certo para o negócio vigorar.” Afirma que os fatores sempenho o volume de vendas, taxa de crescimento,
críticos de sucesso devem ser baseados nos objeti- participação de mercado e taxa de ociosidade.
vos organizacionais ligados a eles. No caso da in- A partir da apresentação do esquema conceitual
dústria automobilística, explica que os maiores fato- de inter-relacionamento dos objetivos da organiza-
res críticos de sucesso refletem-se no estilo do car- ção com o SIE, apresentam-se, a seguir, duas
ro, numa eficiente distribuição, na economia de com- metodologias de análise para o desenvolvimento de
bustível e um forte controle do custo de manufatura. um SIE que possibilite atingir os objetivos propostos
Para Furlan (1997, p.15), os fatores críticos de pela organização: a metodologia da Engenharia da
sucesso apresentam “uma visão estratégica que con- Informação e o Método de Análise dos Fatores Críti-
sidera não apenas o momento atual, mas, principal- cos de Sucesso, recomendado por John F. Rockart.
mente, aspectos mais permanentes e abrangentes
do negócio.” Por sua vez, Cruz (1998, p.137) enten- Metodologia da Engenharia da
de que os fatores críticos de sucesso “são pontos Informação
fundamentais, que devem ser perseguidos para que
a atividade tenha sucesso.” De acordo com Martin apud Lima (1998, p.01), a
Os fatores críticos de sucesso, quando bem engenharia da informação pode ser definida como “a
gerenciados, garantem o desempenho competitivo da aplicação de um conjunto interligado de técnicas for-
organização. A situação atual deve ser constantemen- mais de planejamento, análise, projeto e construção
te monitorada por meio da análise dos indicadores de sistemas de informações sobre uma organização
de desempenho desses fatores críticos. como um todo ou em um dos seus principais setores.”
No que concerne à necessidade de informação, A engenharia da informação é conceituada por
Bio (1985, p.120) menciona que o gestor requer tipos Feliciano Neto, Furlan e Higa (1988, p.02) como sen-
diferentes de informação. “Desde que o interesse da do “um conjunto de técnicas e lógicas formais, apli-
alta administração repouse primariamente no plane- cadas na tétrade de dados, atividades, tecnologia e
jamento global e no acompanhamento da sua execu- pessoas, que permite planejar, analisar, projetar,
ção, a informação oferecida deve possibilitar-lhe a ve- construir e manter sistemas de processamento de
rificação da eficiência e dos resultados das operações dados, de forma integrada e interagente.”
da empresa no seu todo e planejar para o futuro.” No que concerne às fases da engenharia da in-
Segundo Pozzebon e Freitas (1996, p.21), obser- formação, Martin apud Lima (1998, p.15) relaciona
va-se que os profissionais que atuam no nível estra- as seguintes: a) planejamento estratégico de infor-
tégico do negócio são responsáveis por definição de mações; b) análise da área de negócios; c) projeto
metas e acompanhamento de resultados. São exem- do sistema; e d) construção.
plos de necessidade de informação: a) níveis de qua- A fase de planejamento estratégico de informa-
lidade do produto; b) vendas previstas e realizadas; ções consiste em identificar a missão da organiza-
c) alunos ingressantes e formados; e d) participação ção, os objetivos da empresa, os objetivos específi-
dos concorrentes no mercado. Para tanto, a cos de cada área funcional, os fatores críticos de
metodologia de desenvolvimento do SIE deve con- sucesso necessários para atingir os objetivos, os fa-
templar as necessidades de informação como suporte tores críticos de sucesso não satisfeitos que impe-
ao atendimento dos fatores críticos de sucesso. dem atingir os objetivos e as informações necessári-
Em se tratando dos indicadores de desempenho, as para apoio a cada fator crítico de sucesso.
conforme Furlan, Ivo e Amaral (1994, p.67), estes ser- A segunda fase da engenharia da informação,
vem como um direcionador no cumprimento dos obje- análise das áreas de negócio, tem como finalidade a
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elaboração do modelo de dados e o dicionário de cação deste método implica o pensar e repensar a
dados de cada área de negócio, considerando cada existência da organização, “gerando um processo que
fator crítico de sucesso e as necessidades de infor- identifica e organiza as características básicas da
mações. empresa para que seus recursos e capacidades pos-
O projeto do sistema consiste na terceira fase do sam ser utilizados de maneira efetiva em uma dire-
método. Nesta é definido o banco de dados, o proje- ção definida.”
to estruturado do sistema, o projeto de testes do sis-
tema, o projeto do treinamento dos usuários e a Método de Análise dos Fatores Críticos
especificação dos programas. de Sucesso
Como quarta e última fase, a construção do siste-
ma implementa a codificação dos programas, reali- Segundo Furlan, Ivo e Amaral (1994, p.92), “a
zam-se os testes individuais e integrados de cada análise dos fatores críticos de sucesso baseia-se
módulo, e os procedimentos de operação. É neste na pesquisa pioneira de Rockar t, do MIT (no
momento, também, que se inicia o treinamento, ins- Massachusetts Institute of Tecnology).” Entende
tala-se o sistema no ambiente de produção e obtém- que “o ponto central de uma metodologia EIS deve
se a aprovação do usuário. ser o processo de análise dos fatores críticos de
Por fim, cabe ressaltar que este método constitui- sucesso, para determinar os indicadores de desem-
se numa maneira tradicional de desenvolvimento de penho que propiciam o alcance dos objetivos pro-
sistemas. Cruz (1998, p.133) afirma que os sistemas postos e para garantir o sucesso na realização da
de informação eram construídos de forma segmen- missão empresarial.”
tada, restringindo-se a apenas uma área funcional A utilização deste método, conforme Cruz (1998,
da organização. Considera que não havia preocupa- p.148), permite que sejam focados os pontos princi-
ção em integrar processos através de um sistema de pais de uma atividade e restringe a necessidade da
informação, em virtude de não existir essa preocu- adoção de tecnologia da informação ao que é funda-
pação no mundo físico. mental.
De modo mais específico, Pozzebon e Freitas A metodologia de John F. Rockart, de acordo com
(1996, p.22) advertem que a engenharia de informa- Pozzebon e Freitas (1996, p.23), foi decomposta em
ção não é a metodologia mais adequada para o de- fases e subfases. Estas divisões podem ser
senvolvimento do SIE. Entretanto, afirmam que a apli- visualizadas no Quadro 5.

Quadro 5 – Fases do Método de Análise dos Fatores Críticos de Sucesso


Fases/Subfases Processos/Atividades
Primeira Fase – Planejamento
Subfase 1 – Organização do projeto
Subfase 2 – Definição de informações básicas e indicadores
Subfase 3 – Análise e consolidação das informações
Subfase 4 – Desenvolvimento do protótipo
Segunda Fase – Projeto
Subfase 1 – Modelagem da aplicação
Subfase 2 – Definição da arquitetura tecnológica
Terceira Fase – Implementação
Subfase 1 – Construção da aplicação
Subfase 2 – Instalação de hardware e de software
Subfase 3 – Treinamento e implementação
Fonte: Adaptado de POZZEBON, Marlei e FREITAS, Henrique M. R. Construindo um
E.I.S. (enterprise information system) da (e para) empresa. Revista de Admi-
nistração, São Paulo, v.31, n.4, p.19-30, out/dez 1996. p.23.

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SISTEMA DE INFORMAÇÕES EXECUTIVAS: SUAS CARACTERÍSTICAS E REFLEXÕES SOBRE SUA APLICAÇÃO NO PROCESSO DE GESTÃO
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A fase de planejamento tem como objetivo com- A subfase modelagem de dados identifica as
preender a área de negócio da organização. Bus- fontes de informação, quais as bases de dados a
ca, dessa forma, identificar as necessidades de in- serem acessadas nos sistemas que têm depen-
formação dos gestores e os seus estilos decisórios. dência. A definição das telas e a escolha dos grá-
Ao fim desta etapa é possível visualizar um protó- ficos mais adequados para cada tipo de informa-
tipo do sistema SIE. ção são fundamentais. Outra tarefa não menos
Na subfase que contempla a organização do importante compreende o estudo dos níveis de
projeto são definidas a equipe de trabalho e as pos- detalhamento desejados (drill down) para cada in-
sibilidades do que o SIE pode proporcionar à orga- dicador de desempenho.
nização. Dessa forma, cursos e sessões com os A subfase de definição de arquitetura
executivos são recomendados. É feito um levanta- tecnológica determina a localização física das ba-
mento das informações recebidas por diretores e ses de dados e os recursos necessários para in-
o presidente da organização. Ressalta-se que nesta vestimentos das instalações do parque tecnológico
etapa deve ser definido o software utilizado para o exigido. Normalmente, quatro camadas são anali-
desenvolvimento do SIE. sadas para suportar o SIE:
A segunda subfase corresponde à definição de a) Interface com o usuário - envolve menus, bo-
informações básicas e indicadores. Para isso, são tões, caixas de diálogo, entre outros recur-
realizadas entrevistas individualizadas com os exe- sos, pois é através destes que o usuário
cutivos para se determinarem os objetivos, fatores visualiza e manipula os dados.
críticos de sucesso, necessidade de informação e b) Acesso aos dados - responsável pela captu-
requisitos do sistema. ra de informações de várias fontes, como ban-
A subfase de análise e consolidação das infor- cos de dados externos, aplicações locais e
mações tem por finalidade gerar uma lista conten- Internet.
do os objetivos, fatores críticos de sucesso, pro- c) Fonte de dados - onde os dados estão grava-
blemas, necessidades de informação e indicado- dos - no caso do SIE, os dados podem estar
res de desempenho. Procede-se, também, à armazenados em qualquer lugar.
priorização dos objetivos e fatores críticos de su- d) Comunicação - responsável pela comunica-
cesso a serem desenvolvidos no SIE através do ção entre usuários do SIE. A tecnologia mais
ranking que estabelece esta classificação. utilizada é o correio eletrônico, tanto pela
Com as subfases de levantamento e consoli- Internet quanto numa rede interna, onde se
dações das informações concluídas, pode-se cri- permite o acesso a documentos, mensagens
ar o protótipo do sistema. A quarta subfase, por- e dados entre os usuários do sistema.
tanto, implementa os desenhos das telas, projeta Como terceira e última fase, a implementação
a estrutura de navegação do sistema e elabora destina-se a construir o sistema projetado e
os layouts- padrão das telas, como cores, botões prototipado, instalar os recursos requisitados na de-
e ícones. A prototipação é construída para de- finição da arquitetura tecnológica e instalar o sis-
monstrar ao executivo uma visão mais próxima tema fisicamente, para que possa ser adotado pe-
da realidade do sistema após a sua los executivos.
implementação. A subfase de construção da aplicação é um es-
A finalidade principal da segunda fase, o proje- tágio de caráter notadamente técnico. De acordo
to, é a definição da solução técnica para com o padrão estabelecido no projeto, com o mo-
implementar o projeto conceitualmente concebido. delo de navegação considerado mais adequado e
Entre outras atividades, é definida a arquitetura a prototipação construída para atender um módulo,
tecnológica, são planejados os critér ios de são desenvolvidas todas as telas de cada módulo
integração e transferência de dados entre os siste- restante. Uma outra tarefa a ser considerada é a
mas envolvidos, é modelada a base de dados do realização de testes. É necessário aplicar um vo-
SIE, são definidos os atributos das tabelas e os lume maior de dados a serem contemplados pelo
layouts de arquivos. SIE, para verificar, entre outros elementos, o tem-
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po de resposta, congruência na análise dos dados em dois grandes blocos: os sistemas de apoio às
e a integridade da base de dados. operações e os sistemas de apoio à gestão. O pri-
A subfase de instalação de hardware e software meiro grupo abrange o sistema de automação (SA)
consiste em implementar a parte física do siste- e o sistema de processamento de transações
ma, providenciando a instalação da arquitetura (SPT). O SA tem como objetivo automatizar pro-
tecnológica projetada na fase anterior. Dessa for- cessos onde haja a mínima intervenção do ser
ma, são instalados, configurados e testados para humano, enquanto que o SPT tem a incumbência
os usuários, o computador, a rede e o sistema de processar e registrar as transações que são
operacional. Em seguida, instala-se o SIE desen- realizadas na organização.
volvido. O segundo bloco contempla os níveis gerenciais
A subfase de treinamento e implementação tor- e estratégicos da corporação. No nível gerencial
na disponível o sistema para o executivo, de modo concentram-se o sistema de infor mações
a incorporá-lo ao seu cotidiano. Realiza-se de trei- gerenciais (SIG) e o sistema de apoio a decisão
namento e orientação para a efetiva utilização do (SAD). O SIG possibilita ao administrador visualizar
SIE. as atividades realizadas na sua área funcional, por
A aplicação do Método de Análise dos Fatores meio de apontamentos resumidos e sumarizados.
Críticos de Sucesso permite que seu ciclo de de- O apoio à tomada de decisões é fornecido ao ge-
senvolvimento se encerre em dois ou três meses. rente pelo SAD, o qual oferece subsídios relevan-
Não obstante, a concepção de um SIE, utilizando tes que permitem a escolha de alternativas para
esta técnica, segundo Pozzebon e Freitas (1996, situações específicas. Em termos estratégicos, o
p.19), é apropriada devido à característica que esta sistema de informações executivas (SIE) é uma
metodologia tem em abordar “o caráter não- ferramenta que proporciona ao executivo o
procedural dos momentos de tomada de decisão e monitoramento constante dos fatores críticos de
as necessidades de informações dos decisores.” sucesso do negócio, por meio dos status indicado-
Outro aspecto não menos importante, está na res de desempenho. Auxilia na exploração de da-
criação de um protótipo do sistema, ainda na fase dos, permitindo, assim, a identificação de proble-
de planejamento. Esta implementação possibilita a mas e oportunidades para o cumprimento da mis-
concretização das idéias e visões de ambas as par- são da organização.
tes envolvidas no projeto, os executivos e os técni- Os sistemas de informação têm uma relação
cos de informática. Dessa forma, reduzem-se as direta com o processo de gestão, pois são eles que
chances de insucesso do projeto em virtude de não dão o suporte informacional a todas as áreas da
satisfazer às necessidades dos usuários. Outras organização, contemplando as etapas do proces-
vantagens da prototipação são a redução de custo so de gestão. Em particular, o relacionamento exis-
na manutenção do sistema após sua implantação, tente entre o sistema de informações executivas e
evita o desgaste de retornar a fases anteriores do o processo de gestão compreende:
projeto por falha na comunicação e limita o escopo - a natureza do SIE em oferecer suporte ao ní-
do sistema com consentimento do executivo. vel estratégico da instituição;
- seu caráter de ferramenta de acompanhamen-
CONCLUSÃO to dos fatores críticos de sucesso;
- a formatação e disponibilização da informa-
Os sistemas de informação devem atender às ção estratégica;
necessidades de cada área da organização e es- - o fato de que o SIE propicia o aumento da
tar em conformidade com os preceitos estabeleci- qualidade da tomada de decisão; e
dos na missão da instituição. Assim, os sistemas - a preocupação do SIE em determinar as in-
de informação amparam os administradores de to- formações necessárias ao cotidiano do gestor.
dos os níveis para desenvolverem suas tarefas e Estes elementos fazem do SIE uma ferramenta
atingir seus objetivos. estratégica no amparo ao processo de gestão, pro-
Os sistemas de informação são classificados porcionando ao gestor um ambiente favorável para
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SISTEMA DE INFORMAÇÕES EXECUTIVAS: SUAS CARACTERÍSTICAS E REFLEXÕES SOBRE SUA APLICAÇÃO NO PROCESSO DE GESTÃO
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o desempenho do planejamento e a otimização e bem como os dados históricos e estruturais da or-


monitoramento das tarefas executadas. As carac- ganização, possibilitariam a criação do banco de
terísticas esperadas de um sistema de informação dados, base informacional em todos os pontos do
voltado aos gestores responsáveis pelas tomadas sistema.
de decisões estratégicas são: Pelo recurso de hipertexto, seriam proporcio-
- drill down (a partir de dados sumarizados, nadas condições para acesso ao sistema, dos es-
disponibilizar os detalhes dos mesmos); tatutos, normas, atas, editais, regulamentos e pro-
- acesso a informações externas ao ambiente jetos, entre outros documentos da empresa.
da empresa; As projeções, simulações e análise traçariam
- utilização de recursos gráficos na apresenta- panoramas para detecção de problemas e oportu-
ção dos resultados; nidades, assim como realizariam comparações e
- o fato de permitir a recuperação rápida da in- avaliariam desempenho. Isto refletiria no planeja-
formação; mento de novas atividades e controle das existen-
- o fato de facilitar o uso operacional do siste- tes.
ma; O acompanhamento dos fatores críticos de su-
- o fato de estar voltado ao acompanhamento cesso possibilitaria verificar a condução aos obje-
dos fatores críticos de sucesso através dos tivos da organização e ao cumprimento da sua mis-
indicadores de desempenho; e são.
- de realizar a triagem de informações, filtran- A operacionalização para acesso a outros sis-
do e resumindo-as. temas de informação e software de automação de
Assim a configuração de um SIE específico à escritório e comunicação permitiria o uso facilita-
gestão da empresa, baseado nos anseios dos seus do do sistema e a criação de um ambiente único
gestores, permeia os aspectos da formação da de trabalho.
base de dados do sistema: condições facilitadas Os procedimentos de segurança garantiriam si-
de acesso aos estatutos, normas, atas, editais, re- gilo e restrição do acesso às informações estraté-
gulamentos, projetos etc, condições de realizar gicas da instituição, somente para aqueles que fos-
projeções, simulações e análise para apoio às de- sem autorizados a usar o SIE.
cisões; acompanhamento dos fatores críticos de Portanto, a partir do que foi exposto, o presente
sucesso; acesso a outros sistemas de informação, artigo permitiu um refinamento das categorias dos
assim como aos sistemas de automação de escri- sistemas de informação, e, em particular, ofereceu
tório e de comunicação; e procedimentos de segu- um referencial como base para o desenvolvimento
rança do próprio SIE. e utilização de um sistema de informações execu-
As fontes de informação externas e internas, tivas no ambiente de uma organização.

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