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Telejornalismo Online:
O Impacto da Internet nas Notícias Televisivas Locais1
RESUMO
O princípio, a comunicação
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Trabalho apresentado na DT/IJ-01 Jornalismo do XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-
Oeste, realizado de 22 a 24 de maio de 2019.
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Aluno recém-formado, curso de jornalismo 2018 – Fasam,e-mail: gabriellisboademelo@hotmail.com
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Professora orientadora deste trabalho. Doutoranda em Antropologia pelo PPGAS-UFG. Mestra em Comunicação
pela Faculdade de Informação e Comunicação na Universidade Federal de Goiás FIC- UFG, Especialista em
Assessoria de Comunicação pela Faculdade de Informação e Comunicação na Universidade Federal de Goiás FIC-
UFG. Radialista graduada na FIC-UFG e jornalista pela FASAM. Docente nos cursos de Jornalismo e Relações
Públicas da Faculdade Sul-Americana. E-mail: fernanda.ribeiro35@gmail.com.
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Os noticiários não se constroem sozinhos, para que o programa chegue até a casa
das pessoas é preciso de gente, que muda de acordo com o mundo. Ao deixar de ser um
passatempo, para virar um negócio, o campo jornalístico se reafirma no sentido
intelectual e econômico. Para Moretzsohn (2014), o jornalista tem que ser mais que
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“antenado” com a era digital. É preciso que o profissional tenha múltiplas habilidades.
Contudo a sua carga horária aumenta e nem sempre o profissional percebe uma grande
diferença salarial. Assim as redações são enxugadas e sobra trabalho. O jornalista fica
mais cansado com as demandas, e com o cansaço fica mais suscetível a errar. Com toda
essa agilidade o objetivo tem que ficar cada vez mais claro, que é fazer a notícia. Manter
sempre a credibilidade, trazendo no início da matéria o lead4.
Lide (lead): primeiro parágrafo do texto jornalístico, contendo as respostas às seis perguntas consideradas básicas: o
que, quem, quando, onde, como e por que? Parte da ideia da pirâmide invertida, ou seja, os fatos seriam relatados em
ordem decrescente de importância.
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Baran diz que a internet é um malha na qual os dados se deslocam e não pode ser atingido em um único ponto, esse
processo o estudioso chama sistema distribuído. Esse modelo foi pensado para não ser prejudicado em tempos de
guerra.
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Um dos cernes do jornalismo sempre foi a rapidez, mas Pereira (2011) acredita que o
jornalismo vive um tempo ainda mais regido pela pressa e pela pressão de dar a notícia
a qualquer custo. A euforia pelo tempo pode ser explicada pela hiperconcorrência entre
publicações. Com a convergência de mídia a notícia tem um fluxo contínuo, o
jornalismo deixa de ser totalitário na informação. A presença do público faz diferença
na hora de publicar a notícia. O jornalista confia cada vez mais nos discursos acessíveis
das fontes oficiais deixando de ouvir outras fontes, uma premissa básica do jornalismo.
Metodologia
A TV Anhanguera surgiu nos anos 60, em Goiânia. Hoje é uma afiliada da Rede
Globo sintonizada no canal 2 da TV aberta, integrante o grupo Jaime Câmara que foi
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A Ibope Inteligência é uma das maiores empresas de pesquisa de mercado da América Latina. A Kantar Ibope Media
é o braço destinado ao levantamento de dados dos veículos de comunicação.
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Os dados foram fornecidos por uma agência de publicidade que não será identificada. Os dados do Ibope Media são
sigilosos e restritos a quem paga pelo serviço.
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criado pelo jornalista Jaime Câmara e seus irmãos Joaquim Câmara Filho e Vicente
Rebouças. A TV foi ao ar pela primeira vez no dia 23 de outubro de 1963.
Atualmente a emissora conta com quase quatro horas de conteúdo jornalístico
tempo de duração, são quase três horas programa. O telejornal substituiu o Goiânia
Urgente8. O âncora, Oloares Ferreira, está à frente do programa desde a sua criação. Ele
não é jornalista e faz uma apresentação bem caricata, cheia de trejeitos e momentos de
teatralização. Todas as matérias, problemas de bairros, reportagens policiais, casos de
violência, fatos curiosos, notícias de cidades, economia e política são editadas com
longos minutos de duração.
Os Dados
Tempo do material:9 A maior parte das matérias tem entre dois e três minutos. É
grande a quantidade de material com até um minuto que tem conteúdo vindo da internet,
isso mostra que as redações estão usando este recurso na produção de notas cobertas, o
que diminui a necessidade de equipe e dá agilidade ao processo. Mas a presença de
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O Goiânia Urgente era um programa jornalístico emblemático da história da TV goiana que estreou em 1981.
Durante dez anos se consolidou como um dos principais programa na grade da emissora, seguindo uma linha
popularesca.
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Apenas o tempo sem as chamadas e comentários dos apresentadores. Até um minuto, entre um e dois minutos, entre
dois e três minutos, entre três e quatro minutos, entre quatro e cinco minutos e mais de cinco minutos.
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material oriundo da web mesmo nos vt´s com mais de dois minutos de produção mostra
que o recurso se tornou definitivamente parte da produção televisiva.
Tipologia das matérias:13 Entre os materiais analisados, os arquivos que estão ligados
a internet estão predominantemente dentro dos materiais com fato novo. Isso reforça a
necessidade que as emissoras de televisão têm de acompanhar à internet para repercutir
os assuntos, e muitas vezes usam os vídeos enviados pelo telespectador para fazer isso.
Os dados mostram que as emissoras investem cada vez menos em matérias de
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Até um minuto, entre um e dois minutos, entre dois e três minutos, entre três e quatro minutos, entre quatro e cinco
minutos e mais de cinco minutos.
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Escalada, primeiro bloco, segundo bloco, terceiro bloco e quarto bloco.
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VT, nota coberta, nota seca, e entrevista (em estúdio ou externa)
13Fato novo, suíte/repercussão, investigativa, interesse humano e curiosidade.
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Fontes oficiais: Nesta parte observa-se que as mudanças nas rotinas produtivas
refletiram sobre esta etapa do fazer jornalísticos. Quase 40% do material não teve fonte
oficial, ou seja, não houve um contato entre a emissora e a instituição responsável pela
solução do problema. Raros foram os casos em que as notas respostas foram pedidas e
não chegaram a tempo do telejornal começar. Mesmo quando a nota chegou depois que
a matéria foi exibida os apresentadores faziam uma retomada e liam à nota.
Material creditado: Este item mostra que a metade das matérias provenientes da
internet não tem crédito. As imagens aparecem normalmente dentro das matérias como
se fossem produzidas pela própria TV. Para que o material entrasse nessa categoria de
análise, o critério é que tivesse alguma ligação com a internet, desde ser uma imagem
enviada pelo telespectador através de uma rede social ou aplicativo de mensagens, ou
retirado de sites e blogs.
14Até trinta segundos, de trinta segundos a um minuto, de um minuto a dois, mais de dois minutos.
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Estudo de caso15
A Televisão Brasil Central (TBC) foi criada em 1975, é uma emissora goiana
sintonizada no canal aberto 13, atualmente afiliada da TV Cultura, o canal pertence a
imprensa oficial do governo de Goiás. O telejornal da hora do almoço, TBC notícias
Primeira Edição é apresentado das 11h às 12h50 e tem dois apresentadores. O
programa, dividido em quatro blocos, é composto por matérias gravadas, Linkfake,
entrevistas no estúdio e externa. A equipe conta com uma chefe de reportagem, cinco
produtoras, um editor chefe, três editores de texto, quatro editores de imagens, quatro
repórteres e uma estagiária.
A rotina produtiva da TV é bem mais leve que as demais emissoras, afinal não
há tanto a busca pela audiência. A produção se reúne às 10h para pautar matérias para o
período da tarde. São os sites, jornais impressos e órgão públicos que pautam o
jornalismo da emissora. Poucas foram às vezes que o público deu um direcionamento
para as matérias. Nos dias da observação o que a TV mais cobriu foram coletivas de
grandes órgãos do estado e matérias policiais.
A maioria das pautas não são complexas, normalmente existe apenas um lide de
informações para o repórter com as principais orientações e uma matéria de algum
portal online de notícia grampeada na pauta. Na rua, depois de levantar as informações e
gravar as entrevistas, o repórter rascunha e envia para a edição revisar, e só após a
correção, o repórter tem autorização para gravar off.
A edição é a parte mais criteriosa da produção telejornalística. Normalmente as
sonoras editadas são curtas e objetivas. É raro existir uma matéria com mais de três
minutos de duração.
A internet é um recurso importantíssimo na produção. Os impressos
abandonados em cima da mesa e a dependência de sites de notícia deixam claro que o
uso da internet na produção de telejornais independe da busca por audiência e da
urgência em colocar os assuntos mais quentes no ar.
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Este estudo de caso é o fruto da observação participante na redação do telejornal da TV Brasil central durante uma
semana entre os dia 27 de agosto de 2018 e 01 de setembro de 2018, sempre das 8h da manhã ao meio dia.
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Considerações finais16
Observou-se que os jornalistas são cobrados o tempo todo para produzir muito e
produzir coisas novas, ao mesmo tempo, a internet, esse “hipertudo”, oferece uma
infinidade de informações. As redações estão cada vez mais enxutas e os profissionais
não conseguem acompanhar tudo o que acontece, verificar se é verdade e ainda cumprir
suas outras obrigações como reuniões e planejamento. A notícia que precisa ser checada
e contextualizada fica rasa, quando não com informações erradas.
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O trabalho é maior porque as horas de jornalismo local aumentaram. A cobrança é maior pela audiência e não pode
haver furo. Para saber o que “acontece no mundo” ou no mínimo no estado, o jornalista se dispõe a acompanhar
vários grupos e Whatsapp, atualizar de sites de notícia e perfis, atender o público. Mas ele não tem tempo para checar
essas informações, ele não tem tempo de ler fontes diversas sobre um mesmo assunto para formar uma opinião sólida.
É possível exemplificar essa falta de tempo com uma passagem sobre a realização desta pesquisa. No dia 12 de
setembro deste ano este pesquisador foi à redação da Rede Record Goiás, pra aplicar os questionários aos jornalistas
como havia combinado previamente com uma funcionária da empresa. Mesmo chegando em um horário, que não era
o de fechamento, houve uma repulsa das pessoas em parar por dois ou três minutos para responder à pesquisa
acadêmica. Elas olhavam para o monitor do computador, ao mesmo tempo em que monitoravam a tela do celular e
falavam ao telefone.
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porque sua própria rotina de informação está comprometida. Aliás, erros de português e
mesmo a falta de conhecimento gerais observados na análise das matérias mostram uma
má formação deste jornalista. Sem tempo, esses profissionais não investem na cultura
pessoal, tem a vida pessoal e lazer comprometidos. Seria interessante que o questionário
pudesse abarcar essas questões externas para perceber como o mundo interfere na vida
profissional, na visão de mundo e consequentemente nas notícias.
Logo é possível afirmar que a intersecção entre televisão e internet está sendo
prejudicial à qualidade das notícias televisivas na maior parte do tempo, não por causa
da convergência de mídias, mas devido às rotinas produtivas impostas por empresas
interessadas em lucrar muito aumentando a quantidade de produtos oferecidos, mas
diminuindo os quadros das redações. Essa pesquisa ainda deixa a sugestão, para numa
próxima oportunidade, seja feita a investigação do perfil dos profissionais do
telejornalismo goianiense, para saber mais detalhes, e em que nível a formação
universitária e pós-faculdade destes jornalistas afetam o produto final, que é a notícia de
televisão.
7. Referências Bibliográficas
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São Paulo – Brasil, revista USP, 2013. Disponível em
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:KCBs3YWDgUJ:www.revistas.usp.br/
matrizes/article/download/69406/71974/+&cd=2&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br. Acessado em 16
de dezembro de 2018
LIMA, F. R. de. Apanhando duas vezes: Aspectos Relacionados à Cidadania das Mulheres
Vítimas de Violência nos Telejornais Locais. FIC – Faculdade de informação e comunicação.
Disponível em :http://ppgcom.fic.ufg.br/p/20608-dissertacoes-2014. Acessado em: 31 de
outubro de 2018
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MARTINO, L. M. S. Teoria das mídias digitais: Linguagens, ambientes e redes. Ed. 2°.
Petrópolis, RJ: editora Vozes, 2014.
NEVES, F. Telejornalismo nos primeiros tempos: história de desafios. In: VIZEU, Alfredo;
MELLO, Edna; PORCELLO, Flávio; COUTINHO, Iluska(orgs). Telejornalismo e Praça
Pública: 65 anos de telejornalismo Florianópolis: insular, 2015.
VIZER JR, A. Decidindo o que é notícia: os bastidores do telejornalismo. 5 ed. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2014.