Você está na página 1de 4

Gutierres Fernandes Siqueira é o nome da pessoa que hoje o dois mil anos tem o gosto de

entrevistar. Gutierres Siqueira vive no Brasil, é da cidade de São Paulo e é um auto-didata.


Apesar de não ter qualquer tipo de formação teológica no nível académico, ainda assim, se
engajou na erudição da teologia, e é autor do livro “Revestidos de Poder” lançado pela
editora CPAD. Sendo também um dos livros mais vendidos da editora. É conferencista e
ainda editor do blog “Teologia Pentecostal.” De facto, existe um reconhecimento por
parte de muitos pastores e teólogos importantes no Brasil e por isso, como consequência,
o seu mais novo livro representado pela editora pentecostal mais relevante da América
Latina, o convidarem para palestras e conferências.
Estudou Mercado Financeiro e de Capitais em Universidade Presbiteriana Mackenzie e
Estudou Comunicação Social - Jornalismo em FAPCOM - Faculdade Paulus de Tecnologia e
Comunicação. O seu blog tem sido muito dinâmico e tem exercido uma boa influência no
meio teológico. É inegável a sua contribuição e esse reconhecimento ele existe.

1. Gutierres como se faz um bom teólogo sem necessariamente existir uma formação
académica, o que é preciso?

Penso que o exercício do estudo autodidata não está disponível para todos. De
alguma forma, a personalidade conta muito nesse processo. É necessário
disciplina, mas, acima de tudo, uma força de vontade acima da média. Quando
estamos em sala de aula há diversos estímulos (professor, notas e diploma),
mas o estudo autodidata não tem mentor. Não há como não ser um bom
teólogo sem muita leitura, independente se esse teólogo está sendo formado
em uma escola convencional, ou se está aprendendo sozinho.

2. Como é feito o seu devocional diário?

Conto com a ajuda da minha noiva no devocional. Como moramos em cidades


diferentes, ela sempre me liga, ou eu ligo para ela, para oramos um com o
outro pelo telefone. É uma forma de incentivo mútuo.

3. O que poderia ser dito sobre o seu livro “Revestidos de Poder" ?

O meu livro é uma introdução à teologia pentecostal. Nesse livro abordo um


assunto pouco falado em português, que é a relação dos estudos linguísticos e
psicológicos sobre o falar em línguas. No livro também abordo assuntos como
a Reforma Protestante, Batismo no Espírito, o papel da experiência na
teologia, entre outros.
4. Podemos dizer que existe uma contribuição pentecostal saudável na teologia, ou
somos demasiadamente superficiais?

Há uma clara contribuição teológica do pentecostalismo ao cristianismo como


um todo. A missiologia impulsionada pelo Espírito Santo, a eclesiologia regada
pelos dons espirituais e a própria discussão sobre o papel da razão na
construção teológica são contribuições claras do Movimento Pentecostal. O
pentecostalismo não contribuiu apenas na liturgia ou na música, mas na
própria hermenêutica do cristianismo ortodoxo. Exemplo disso é a discussão
sobre o papel da narrativa bíblica como construção teológica.

5. De que forma a experiência pentecostal demonstra ser relevante?

A relevância principal do pentecostalismo é o impulso missionário. Não há na


história da cristandade um grupo tão evangelizador. Outro ponto importante do
pentecostalismo é a sua predisposição ao conservadorismo teológico. Dessa
forma, igrejas pentecostais e carismáticas tendem a continuar com o bastão do
cristianismo ortodoxo pelo mundo.

6. O que outras tradições de linha mais reformada podem aprender connosco?

Na hermenêutica, os reformados podem apreender connosco a valorizar a


narrativa bíblica como tão inspirada quanto às cartas paulinas. Na teologia, a
expulsar o racionalismo como um mal indesejável.

7. Quais os progressos e o que pode ser melhorado no nosso meio pentecostal?

Muita coisa pode ser melhorada no meio pentecostal e cada região do mundo
apresenta o seu próprio desafio. Mas penso que o nosso maior desafio é
doutrinário. Não podemos deixar de lado a exposição bíblica sólida aliada ao
fervor evangelístico e devocional. Felizmente, temos progredido
consideravelmente no estudo teológico, mas ainda estamos aquém do nosso
potencial. Cada pastor pentecostal deve colocar como missão de vida o ensino
sólido, a evangelização constante e a oração cotidiana.

As AD’s de Portugal têm um credo, contudo não o temos de forma sistematizada e


profunda como existe no Brasil, vocês inclusive publicaram pela CPAD um livro com o
título “Declaração de fé das Assembleias de Deus”.

8. O credo de forma resumida é suficiente ou de facto é importante que exista uma


declaração de fé sistematizada e mais clara daquilo que cremos?

Creio que uma Declaração de Fé é muito importante para a formação da


identidade de uma comunidade. Embora ela também não deva ser
excessivamente detalhista em questões secundárias da fé. A Declaração de
Fé da Assembleia de Deus no Brasil foi a decisão mais importante da
Convenção Geral nos últimos anos.
9. Não se corre o risco de tentar reinventar a roda ou até dogmatizar certas doutrinas e
ser mais “papistas que o papa” ao formar uma espécie de força de lei eclesiástica?

Essa tentação é sempre possível. Aliás, sempre somos cercados de tentações.


Se não temos documentos oficiais podemos ser tentados ao estado de
confusão e baderna, sendo um campo fértil para heresias velhas e criativas.

Fala-se muito dos excessos no culto pentecostal, como o emocionalismo e como reação,
algumas igrejas em Portugal se tornaram excessivamente formais dando pouco ou
nenhum espaço para o imprevisível.

10. Em termos litúrgicos de que forma o culto pentecostal é positivamente diferente das
demais igrejas não pentecostais?

Há muitos pontos positivos, especialmente porque a liturgia pentecostal lembra


que o homem é corpo, razão, emoção e vontade. A liturgia pentecostal também
permite o exercício dos dons espirituais. Com isso, o pentecostal evita o
formalismo e o liturgismo, que é o apego excessivo à própria liturgia. Mas há
perigos também. O pentecostalismo precisa evitar a baderna. O exercício dos
dons espirituais precisa edificar toda a congregação. A edificação dos outros, e
não de si, é o principal princípio regulador do culto.

11. Que conselho poderia ser dado a um jovem que cresceu numa tradição
essencialmente pentecostal, mas que agora pretende sair?
(Segundo Ele, diz ter descoberto nas “doutrinas da graça” e em livros de linha
calvinista, o verdadeiro evangelho. Diz estar cansado de pregações superficiais e de
emocionalismo. O que poderia ser dito a um jovem que queira o seu conselho e se
encontre nestas condições?

Eu aconselho a reflectir se de fato esse jovem conhece a sua história e


doutrina. Em caso positivo, peço que pense o que ele já fez de prático na
tentativa de ajudar a sua congregação local. Além disso, eu aconselho a
paciência. O pentecostalismo é um movimento novo e de rápido crescimento e
sem paciência e perseverança não vamos ajudar o nosso meio a encontrar a
maturidade.

É muito comum ouvirmos dos nossos irmãos reformados, que o Calvinismo não se
resume unicamente a questões de soteriologia mas que existe inclusive uma visão
de mundo calvinista.

12. Existe também uma cosmovisão pentecostal ou isso seria petulância nossa ?
Eu não gosto da ideia de colocar o pentecostalismo como uma cosmovisão.
Acho, inclusive, que o calvinismo ao se colocar como uma visão de mundo
comete um grave erro. Não existe, por exemplo, educação familiar pentecostal
ou calvinista. Existe apenas educação familiar cristã. Devemos pensar, isso
sim, em uma visão cristã de mundo, independente da tradição seguida.

13. Pode-nos contar uma experiência tipicamente pentecostal que tenha tido?

A minha experiência de receber o dom de variedade de línguas foi maravilhosa.


Naquele dia, uma quinta-feira no culto noturno, estava buscando a Deus para
receber algum dom espiritual. Então, comecei a falar em línguas de uma forma
que eu nunca tinha falado. E comecei a cantar em um outro idioma desconhecido.
Naquele momento eu não parecia que estava presente na terra. A experiência
marcou a minha vida. Saí daquele culto com mais fome da presença de Deus.

14. A experiencia pentecostal pode ser extra Bíblica no sentido de ter o mesmo peso que o
cânon das Sagradas Escrituras?

A experiência sempre precisa do crivo bíblico. A experiência não soma e nem


subtrai a Sagrada Escritura. A Bíblia é a nossa segurança diante do subjetivismo.
A experiência jamais terá o mesmo peso do cânone das Escrituras.

15. Quais os autores nos poderia aconselhar para quem quer crescer no conhecimento da
doutrina pentecostal?

Leiam tudo de Robert P. Menzies. Recomendo também Roger Stronstad, Anthony


D. Palma, William Menzies, Stanley Horton, Craig Keener, James Shelton e o
brasileiro Antonio Gilberto.

Você também pode gostar