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RESUMO:
INFRA-ESTRUTURA
A PRODUÇÃO TELEVISIVA
Durante o período de 1960 a 1968 a TV Jornal do Commercio viveu sua fase áurea
de produção. Apesar de nessa fase já existirem os centros produtores de programas de
televisão em São Paulo e Rio de Janeiro, que distribuíam seus produtos, principalmente as
novelas, para as outras capitais brasileiras, em especial para as emissoras dos Diários
Associados1, a TV Jornal conseguia manter um bom volume de produção local, cerca de
80% da programação que exibia. As exceções eram as exibições de alguns filmes
americanos.
1
A respeito dessa questão, vale conferir JAMBEIRO, Othon. A tv no Brasil do século XX. Salvador:
Edufba, 2001. 206p.
No jornalismo a TV Jornal do Commercio era a responsável pela produção e
exibição do Repórter Esso, apresentado por Edson Almeida. O programa era líder de
audiência no Estado, ao contrário do que acontecia em outras capitais brasileiras, onde o
Repórter Esso era transmitido pela TV Tupi. Em Recife a UPI – United Press
International, responsável, editorialmente, por esse jornal televisivo, optou pela TV Jornal
do Commercio, em função das excelentes condições existentes no setor jornalístico da
emissora. Na história do jornalismo dessa televisão destacamos, ainda o Show de Notícias,
que apresentava uma estrutura bem diferenciada dos demais jornais da própria emissora e
da TV Tupi Recife. Ele era dirigido por Aldemar Paiva e tinha sete apresentadores, cinco
homens e duas mulheres. O jornal possuia cerca de 20 a 25 minutos de duração. Além das
notícias internacionais, nacionais e locais, ele apresentava variedades, artes e notícias
sociais. Havia, também, um desenhista que fazia caricaturas dos entrevistados, enquanto
eles davam entrevistas.
A produção dos programas esportivos também era de responsabilidade do
departamento de jornalismo. Destaque para a TV Ringue, apresentado por Gomes Neto,
que transmitia as lutas livres, uma febre nessa época nas televisões brasileiras. E o
programa No campo do 2, comandado pelo comentarista Luiz Cavalcante, que tinha uma
estrutura muito parecida com os programas esportivos atuais, que são exibidos uma vez por
semana. O programa No campo do 2 era produzido e transmitido do estúdio. Contava com
a presença de repórteres e narradores que cobriam a crônica esportiva, em especial o
futebol, e, também, com a participação de jogadores e dirigentes dos clubes esportivos
pernambucanos.
Mas o carro chefe das produções da TV Jornal do Commercio na década de 60, sem
dúvida, eram os programas de auditório. Dentre eles, destacamos os programas Você faz o
show, Bossa 2, e Noite de Black Tie. Esses programas eram transmitidos ao vivo, direto
dos estúdios da televisão e eram líderes de audiência em seus horários de exibição.
O Você faz o show era um programa de variedades, comandado por Fernando
Castelão, composto por números musicais, brincadeiras que envolviam o auditório e
artistas, e um quadro que se destacava dos demais, o “Alguém quer lhe encontrar”. O
programa procurava, através desse quadro, aproximar pessoas, em geral de uma mesma
família que, por alguma razão, por não ter condições financeiras ou por não saber como
localizar, perdiam o contato umas com as outras. A meta do programa era, portanto, reunir
essas pessoas frente a frente, ao vivo, no estúdio da emissora. Esse seguimento do
programa era marcado pela emoção, uma vez que o encontro tratava-se era surpresa para
um dos participantes. Como podemos observar, programas de diferentes emissoras de
televisões brasileiras, ainda hoje, utilizam-se desse recurso para conquistar audiência. O
programa foi ao ar na TV Jornal durante sete anos, entre 1961 a 1968.
O Bossa 2 era um programa de auditório essencialmente musical, abria espaço para
os novos talentos da região. Era uma espécie de versão local do Jovem Guarda. Exibido nos
domingos à tarde, sob o comando de José Maria, o programa conseguiu revelar vários
músicos, cantores e compositores, tanto em termos locais, a exemplo de J. Michilis,
compositor de frevos e sucessos gravados, entre outros, por Alceu Valença, quanto
revelações nacionais, a exemplo de Reginaldo Ross e Michel Sullivan.
Mas o maior destaque, sem dúvida, era o Noite de Black Tie, exibido ao vivo, em
horário nobre, no sábado à noite. Esse programa de auditório tinha uma platéia formada, em
sua maioria, por convidados, que se vestiam elegantemente. As mulheres usavam vestidos
típicos de uma festa de gala e os homens vestiam ternos ou até mesmo smoking. Esse,
também, era o figurino dos artistas convidados e do apresentador do programa, Luís
Geraldo. Noite de Black Tie mesclava musical, com humor e informação. Segundo Luís
Geraldo, em entrevista durante nossa pesquisa, “pode-se dizer que, hoje, ele seria uma
mistura do Fantástico, exibido pela Rede Globo, com alguns programas de auditório, a
exemplo de Hebe Camargo e do Programa do Gugu, no SBT, e Domigão do Faustão, na
Rede Globo”. Um dos quadros de maior sucesso desse programa era o Cadeira de
Engraxate, com o ator e diretor Rui Cabral que, vivendo o personagem do engraxate,
entrevistava e engraxava os sapatos, durante a entrevista, de personalidades importantes
nacionalmente, a exemplo de artistas e políticos. Na lista dos entrevistados por Rui Cabral,
consta o então presidente Juscelino Kubitschek. As entrevistas tinham um toque de humor,
e eram marcadas pela irreverência e determinação do entrevistador diante de seus
entrevistados.
Na parte musical, o programa era responsável, semanalmente, pela presença de
nomes importantes da música brasileira, em Recife. Entre os artistas que se apresentaram
nos estúdios da TV Jornal, durante os oito anos de existência do Noite de Black Tie,
estavam Orlando Silva, Ângela Maria, Nelson Gonçalves, Elis Regina, Jair Rodrigues,
Elizeth Cardoso e Roberto Carlos, entre outros. Na platéia, quase sempre, a presença
marcante do dono da própria televisão, o Francisco Pessoa de Queiroz, acompanhado pela
família.
Os três programas possuíam equipes independentes. Havia corpo de baile,
orquestras e conjuntos musicais, apresentadores, atrizes e atores. Os cenários e os figurinos
eram confeccionados levando em consideração o tipo e o horário de exibição dos
programas. Eles caracterizavam-se pelo cuidado com a produção e pelo compromisso com
o público para os quais eram dirigidos. Havia uma preocupação em desenvolver pesquisas
junto aos telespectadores, visando atingir níveis de excelência, buscando a sintonia
constante entre programa e público. Essas pesquisas eram desenvolvidas pelo departamento
comercial da empresa, em conjunto com a produção artística.
Ainda na década de 60 a TV Jornal comportou em sua programação novelas
produzidas pela própria emissora. Isso gerava dezenas de empregos para artistas, escritores,
produtores e técnicos. Entre as novelas, a que obteve o maior índice de audiência e
repercussão foi a Moça do Sobrado Grande, que chegou a ser exibida, também, na TV
Bandeirantes, em São Paulo, em 1967. Os capítulos eram gravados nos estúdios da
emissora, em especial o estúdio B, mas para a novela foram realizadas, também, algumas
cenas externas, inclusive a cena final, a do casamento, filmada no interior do Mosteiro de
São Bento, em Olinda. A novela reunia um elenco de 50 atores, com destaque para os
personagens vividos por Carmem Peixoto, Jones Melo e José Pimentel, esse último,
inclusive, durante muitos anos, representou Jesus Cristo, no espetáculo da Paixão de Cristo,
do qual também era o diretor. O espetáculo acontece até hoje, no maior teatro ao ar livre do
mundo, o teatro de Fazendo Nova, que fica no município de Brejo da Madre de Deus, no
agreste pernambucano.
A estrutura e a qualidade das produções artísticas e jornalísticas da TV Jornal do
Commercio nos anos sessenta estava muito próximo dos programas de qualidade
produzidos no eixo Rio-São Paulo. A marca empregada por Francisco Pessoa de Queiroz
em suas empresas de comunicação refletia o compromisso, sobretudo com a cultura local, o
que dava a essa televisão e a rádio, em especial, marcas de pernambucanidade, por isso, era
um sistema de comunicação de grande empatia e caro ao público pernambucano, em
especial, o recifense. Mas a década seguinte não seria mais assim, a televisão entrava em
fase crítica, em verdadeira decadência.
A CRISE