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ENTREVISTA

MARCO AURÉLIO SCHRAMM / ILENIR TUMA / EUGENIE DESIREÉ

O assunto é

Pelo jornalista Aloísio Brandão,


Editor desta revista.

A modernização e a especialização traduzem a


face do crescimento da Farmácia Hospitalar, no Brasil.
O segmento experimenta um momento de reconhe-
cimento por parte dos gestores e dos demais profis-
sionais que integram as equipes multiprofissionais
dos hospitais. Mas não por isso deixa de enfrentar
dificuldades. Buscar soluções para as mesmas são
uma prioridade do Conselho Federal de Farmácia
(CFF). O órgão age, nesse sentido, em todos os cam-
pos – político, jurídico, empresarial, sindical, admi-
nistrativo – e tem conquistado vitórias expressivas.
A revista PHARMACIA BRASILEIRA entrevistou os
integrantes da Comissão de Farmácia Hospita-
lar (Comfarhosp) do CFF, doutores Marco Aurélio
Schramm Ribeiro (Ceará); Ilenir Leão Tuma (Goiás)
e Eugenie Desireé Rabelo Nery (Ceará). A entrevista
busca captar este momento da Farmácia Hospitalar
brasileira. Conheça os membros da Comissão do
CFF e veja a entrevista.

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MARCO AURÉLIO SCHRAMM / ILENIR TUMA / EUGENIE DESIREÉ

Marco Aurélio Schramm Ilenir Tuma Eugenie Desireé


é farmacêutico com especialização é farmacêutica-bioquímica pela é farmacêutica e mestre em
em Farmácia Hospitalar pela Universidade Federal de Goiás. Farmácia Clínica pela UFCE,
Universidade Federal do Ceará (UFCE), Especialista em Farmácia Hospitalar Primeira Secretária da Sbrafh
Estado pelo qual é Conselheiro pela Universidade Federal do (Sociedade Brasileira de Farmácia
Federal de Farmácia; Presidente da Rio Grande do Norte, ela integra Hospitalar) e Chefe do Serviço
Comfarhosp e Coordenador o Comitê de Ética em de Farmácia do Hospital das
de Assistência Farmacêutica da Pesquisa do Hospital de Clínicas da mesma Universidade
Secretaria de Saúde do Ceará. Urgências de Goiânia (GO). Federal do Ceará.

PHARMACIA BRASILEIRA – covigilância, na Farmácia Clínica A farmácia é um setor do hos-


A Comissão de Farmácia Hospita- e na Atenção Farmacêutica, entre pital que necessita de elevados
lar (Comfarhosp) do CFF tem uma outras, por parte dos gestores, do valores orçamentários, e o farma-
expectativa muito positiva do seg- corpo clínico e demais profissio- cêutico hospitalar está habilitado
mento. O que justifica o otimismo nais que compõem a equipe multi- a assumir atividades clínico-assis-
dos senhores? disciplinar de saúde dos hospitais, tenciais e pode contribuir para a
o que vem ajudando a sedimentar racionalização administrativa com
Comissão de Farmácia Hospitalar esta tão importante área de atua- conseqüente redução de custos.
– O segmento vive realmente um ção profissional, pois a moderniza- Considerando a atual estrutura
momento de crescimento e de re- ção das atividades hospitalares ge- dos serviços de saúde e a situa-
conhecimento da importância do rou a necessidade de participação ção econômica do País, a atuação
farmacêutico hospitalar em ativi- efetiva do farmacêutico na equipe do farmacêutico, nas instituições
dades administrativas, na farma- de saúde. hospitalares, é de suma importân-

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cia para garantir uma assistência 2) A não instituição por parte CFF com a Sbrafh. O documento
farmacêutica adequada, dentro de do Ministério da Saúde da propos- dos Padrões Mínimos é conside-
critérios técnico-científicos, utili- ta da Política de Implantação dos rado um referencial para todos os
zando mecanismos gerenciais para Serviços de Farmácia Hospitalar no profissionais que atuam neste seg-
uma administração eficaz e racio- SUS: Portaria SCTIE/MS Nº 10, de mento, e já estava necessitando de
nal dos medicamentos e materiais 26 de novembro de 2004; revisão, pois foi editado, em 1997.
médico-hospitalares, objetivando, 3) O desafio da prática da assis- No processo de revisão, foi
sempre, a oferta de um serviço que tência farmacêutica com qualidade, adotada metodologia que assegu-
venha a contribuir para a promo- reforçada pela complexidade das rou a representatividade regional,
ção, proteção e recuperação da novas terapias medicamentosas e reforçada pela presença de experts
saúde do paciente. as evidências dos resultados das brasileiros. O trabalho de Revisão
intervenções farmacêuticas na me- dos Padrões Mínimos foi realizado
PHARMACIA BRASILEIRA – lhoria dos regimes terapêuticos e pelos grupos de trabalho de farma-
Quais são os problemas mais agu- na redução dos custos assisten- cêuticos hospitalares participantes
dos do setor? E como estão sendo ciais, pois a tendência atual é que do Encontro, no Congresso, inse-
resolvidos? a prática farmacêutica se direcione rindo informações relevantes, atu-
para o paciente, tendo o medica- alizadas, adequadas a novos dis-
Comissão de Farmácia Hospitalar mento como um instrumento e não positivos legais, sanitários, que in-
– Nem tudo têm sido flores. O seg- mais como meio. Tais problemas e cluem novas práticas profissionais
mento da Farmácia Hospitalar tem desafios só serão resolvidos com o do segmento e que podem ajudar
enfrentado alguns problemas. En- envolvimento de todas as entida- ainda mais os farmacêuticos hospi-
tre os quais, destacamos: des (CFF e Sbrafh), bem como de talares em suas atividades diárias,
1) A imposição legal da Confe- uma ação conjunta que envolva o nas instituições onde atuam.
deração Nacional de Saúde (CNS), Departamento de Assistência Far- Em sua última reunião de julho
que impetrou Mandado de Segu- macêutica do Ministério da Saúde e de 2007, a Comfarhosp/CFF con-
rança em Tribunal Superior e con- o órgão regulador, que é a Anvisa. densou o documento base, produ-
seguiu Liminar para suspender a to do trabalho dos grupos de tra-
Portaria número 1017/2002 SAS/ PHARMACIA BRASILEIRA – balho do Encontro, ocorrido no VI
MS, que seria o suporte legal mais A Comissão de Farmácia Hospita- Congresso Brasileiro de Farmácia
importante para a prática da Far- lar do CFF colaborou com a Sbrafh Hospitalar, e solicitou oficialmen-
mácia Hospitalar, no País, pois a re- na coordenação do processo de re- te ao Presidente do CFF, Dr. Jaldo
ferida Portaria, além de estabelecer visão dos Padrões Mínimos para a de Souza Santos, que o enviasse à
a obrigatoriedade de responsabili- Farmácia Hospitalar Brasileira, que Sbrafh, para colocá-lo em consul-
dade técnica do profissional farma- ocorreu em um encontro, durante ta pública em seu site para, após a
cêutico condicionada ao funciona- o VI Congresso Brasileiro do setor, análise das sugestões dos farma-
mento das farmácias dos hospitais realizado, em junho deste ano, em cêuticos hospitalares do País, fazer
ou dispensários de medicamentos Goiânia. O que de mais relevante a consolidação final do documento
do SUS, acrescentava que os de- constou da revisão e o que isso re- e aprovar a nova versão dos Pa-
mais profissionais farmacêuticos presentará para o setor? drões Mínimos, em sua reunião de
deveriam ser em número adequado diretoria.
ao porte do hospital e suficientes Comissão de Farmácia Hospitalar
para o exercício das ações ineren- – Esta atividade de coordenar, em PHARMACIA BRASILEIRA –
tes à sua atividade profissional, na conjunto com a Sbrafh, o Encontro O CFF solicitou ao Ministério da
farmácia hospitalar e/ou dispensá- para a Revisão dos Padrões Míni- Saúde que regulamente a ativida-
rio de medicamentos. Este é, pois, mos, é a prova concreta da estrei- de das Comissões de Farmácia e
um fator limitante; ta parceria entre a Comfarhosp/ Terapêutica (CFT) e especifique

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o papel do farmacêutico nas mes- mínimo ao paciente é da Comissão


mas. Aliás, o CFF já até se anteci- de Farmácia e Terapêutica (CFT).
pou ao MS e regulamentou as atri- É essa Comissão que, na práti-
buições profissionais farmacêuti- ca, assessora a diretoria clínica do
cas nessas comissões, através da hospital nos assuntos relacionados
Resolução 449/06. Qual o papel aos medicamentos e à terapêutica,
das Comissões? O que os senho- e serve como elo de ligação entre
res aguardam do Ministério em re- a farmácia e a equipe de saúde. As
lação à solicitação do CFF? CFTs são instâncias, dentro de hos-
pitais ou clínicas de atendimento
Comissão de Farmácia Hospitalar básico, responsáveis pela avalia-
– Muitos países já dispõem de CFT ção do uso clínico dos medicamen-
para tratar dos problemas de sele- tos, desenvolvendo políticas para
ção, aquisição, distribuição e uti- gerenciar o uso, a administração e
lização de medicamentos, e para o sistema de seleção.
lidar com os problemas contínuos Como um foro para avaliar e
e emergentes da resistência anti- discutir todos os aspectos do trata-
microbiana. A maioria das CFTs lo- mento medicamentoso, elas orien-
“A atuação do farmacêutico,
caliza-se, em países desenvolvidos, tam os departamentos médico, de nas instituições hospitalares,
incluindo a Austrália, os Estados enfermagem, administrativo e de é de suma importância para
Unidos e os países europeus. farmácia sobre temas relaciona- garantir uma assistência
Na Austrália e Reino Unido, dos a medicamentos, tendo como
farmacêutica adequada,
92% e 86% dos hospitais, respecti- principais funções as seguintes:
vamente, desenvolviam, em 1990, avaliar e selecionar medicamentos dentro de critérios técnico-
algum tipo de comissão terapêu- para a padronização e promover a científicos, utilizando
tica hospitalar. Nos EUA, o recebi- sua revisão periódica (isto inclui mecanismos gerenciais para
mento de acreditação hospitalar é o desenvolvimento de critérios ri- uma administração eficaz e
condicionado à existência de CFT gorosos, baseados em evidências,
ou comissão similar. para a seleção de medicamentos,
racional dos medicamentos...”.
Esperamos que o Ministério da considerando a eficácia, a seguran-
Saúde possa, efetivamente, regula- ça, a qualidade e o custo); avaliar a
mentar as Comissões de Farmácia utilização dos medicamentos, para
e Terapêutica, a exemplo do que identificar problemas potenciais;
já ocorre com as Comissões de promover e realizar intervenções
Controle de Infecção Hospitalar efetivas para melhorar a utilização
(CCIH’s), inserindo nelas o farma- de medicamentos (incluindo mé-
cêutico e conferindo-lhe o espaço todos educativos, gerenciais e nor-
e as atribuições merecidas e já de- mativos).
finidas na Resolução CFF número Segundo as últimas informações
449/2006, pois entendemos que a oficiais recebidas do Departamento
responsabilidade pelo desenvol- de Assistência Farmacêutica do Mi-
vimento e supervisão de todas as nistério da Saúde, através do Ofício
políticas e práticas de utilização de número 092/2007 DAF/SCTIE/MS,
medicamentos, no hospital, com o do dia 15 de março de 2007, envia-
intuito de assegurar resultados clí- do ao Presidente do CFF, Dr. Jaldo
nicos ótimos e um risco potencial de Souza Santos, “... a regulamen-

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tação da CFT, no âmbito do Minis- a metade deles não ofereça nem a


tério da Saúde, será objeto de apre- disciplina de Farmácia Hospitalar,
ciação pelo Comitê Nacional para a nem campo de estágio na área.
Promoção do Uso Racional de Me- Assim sendo, não há divulga-
dicamentos...”, em breve. Se isso ção deste nicho de mercado, não
vier a acontecer, a Comfarhosp-CFF se desperta o interesse dos gra-
sentir-se-á muito feliz, por ter con- duandos por esta área de atuação
tribuído com este processo, pois tal profissional e conseqüentemente
meta está incluída em seu plano não se busca o aperfeiçoamento.
bianual de trabalho. Acreditamos que os recursos para
a Residência surgirão, se houver
PHARMACIA BRASILEIRA – profissionais interessados e insti-
A Comfarhosp e a Sbrafh realiza- tuições empenhadas em oferecer
ram o “I Encontro Brasileiro de as Residências, com projetos sérios
Residências em Farmácia Hospi- a serem apresentados e aprovados
talar”, em Goiânia, no dia sete de nas instâncias das Universidades,
“O documento junho de 2007. O que ficou desse implementadas pelos hospitais
evento? universitários, objetivando a pre-
“Diagnóstico da Farmácia parar especialistas e a atender à
Hospitalar, no Brasil”, Comissão de Farmácia Hospitalar demanda local de capacitação na
mostra que 48% dos – Esse encontro foi especialmente área de Farmácia Hospitalar, bem
farmacêuticos hospitalares proposto como forma de reunir as como capacitar farmacêuticos em
Residências em Farmácia Hospita- técnicas de monitorização farmaco-
possuem pós-graduação, lar do Brasil, com a participação de terapêutica de pacientes hospitala-
o que demonstra o seus coordenadores e residentes, res e nas mais modernas técnicas
interesse do profissional para trocar experiências e principal- de gestão em Farmácia Hospitalar.
em investir em sua mente reunir forças, estabelecendo
caminhos para pleitear bolsas para PHARMACIA BRASILEIRA –
capacitação e qualificação”.
ampliar o acesso de farmacêuticos A Residência em outras áreas da
a essa modalidade de especializa- saúde não médicas foi instituída
ção. Atualmente, temos, em todo o pela Medida Provisória número
Brasil, somente cinco Residências 238, de dois de fevereiro de 2005,
em Farmácia Hospitalar. aprovada pelo Congresso Na-
cional como Lei 11.129/05. A Lei
PHARMACIA BRASILEIRA – mudou o contexto da Residência
Por que há tão poucos cursos de em Farmácia Hospitalar? Ela fez
Residência em Farmácia Hospita- aumentar o interesse pelos cursos
lar, no País? O que falta são ape- de Residência?
nas recursos para custeá-los?
Comissão de Farmácia Hospitalar
Comissão de Farmácia Hospitalar – Sim, com a Medida Provisória
– A capacitação é um processo gra- e com a Lei, pôde-se criar a mais
dual. Sabemos que os cursos de nova Residência, que foi no Ceará,
graduação em Farmácia do País ampliando o número de Residên-
são diferentes quanto à carga horá- cias de quatro para cinco. Entre-
ria, disciplinas, etc. É provável que tanto, mesmo com a Lei, como ain-

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da não temos uma estrutura bem dade de dar grandes contribuições aos tratamentos estabelecidos e a
definida e um órgão que cadastre, ao setor de saúde e não por im- necessidade da racionalização dos
avalie, acompanhe e seja respon- posição legal. A Farmácia vem, ao recursos disponíveis, assegurando
sável pelo fomento dessas especia- longo dos anos, se consolidando qualidade, foram, dentre outros,
lizações. O processo de expansão como área estratégica dentro do fatores que impulsionaram a aber-
tem sido incipiente. processo de assistência farmacêu- tura do mercado de trabalho para
É um processo que está sendo tica hospitalar, no SUS, desenvol- o farmacêutico com conhecimento
debatido, no País, com a participa- vendo atividades que vão desde a específico na área hospitalar.
ção dos Ministérios da Saúde e da programação e planejamento de Entretanto, esse mercado ainda
Educação, do Conselho Nacional aquisição de medicamentos e ma- encontra dificuldades para identifi-
de Saúde e das entidades, a partir teriais médico-hospitalares, ges- car profissionais permanentemen-
do marco regulatório da Medida tão, distribuição, dispensação, até te qualificados, pois poucas são as
Provisória número 238/2005 e da a monitorização do uso e o acom- Universidades, no Brasil, que ofe-
Lei número 11.129/2005, que criou panhamento farmacoterapêutico recem cursos de especialização nos
as Residências Multiprofissionais dos pacientes. moldes de Residência em Farmácia
em Saúde. Estas atividades, fundamentais Hospitalar.
para o Sistema, encerram com-
PHARMACIA BRASILEIRA – ponentes econômicos, técnicos PHARMACIA BRASILEIRA –
Qual é a situação da Farmácia e clínicos. E, caso o Ministério da De que forma – e onde – os farma-
Hospitalar no SUS (Sistema Único Saúde resolva resgatar e implantar cêuticos estão se qualificando? Há
de Saúde)? a proposta, já elaborada, de uma uma boa oferta de qualificação pe-
política de assistência farmacêuti- las universidades e por empresas
Comissão de Farmácia Hospitalar ca hospitalar para o SUS, teremos que se propõem a atuar no merca-
– Poderia estar melhor, se a Porta- sensíveis melhorias que irão bene- do da educação farmacêutica?
ria SAS/MS 1017/2002, que estabe- ficiar o usuário do Sistema na área
lece que as farmácias hospitalares hospitalar. Comissão de Farmácia Hospitalar
e/ou dispensários de medicamen- – A educação é uma atividade lu-
tos existentes nos hospitais inte- PHARMACIA BRASILEIRA – crativa. Daí, a necessidade de se
grantes do Sistema Único de Saúde Que avaliação a Comfarhosp/CFF avaliar, também, os cursos de pós-
deverão funcionar, obrigatoriamen- faz da qualificação dos farmacêuti- graduação lato sensu. Nem todos
te, sob a responsabilidade técnica cos hospitalares brasileiros? oferecem o necessário para uma
de profissional farmacêutico de- boa qualificação profissional do
vidamente inscrito no respectivo Comissão de Farmácia Hospitalar farmacêutico para as atividades
Conselho Regional de Farmácia, – A Comfarhosp não dispõe de de campo em um hospital. Al-
não tivesse sido suspensa, por in- dados para fazer esse tipo de ava- guns cursos são oferecidos pelo
teresses puramente mercantilistas, liação. Mas o documento “Diag- setor público para qualificação de
pouco depois de sua publicação. nóstico da Farmácia Hospitalar, seu pessoal, não disponibilizando
Apesar disso, observamos que no Brasil” mostra que 48% dos far- vagas para profissionais de em-
a maioria dos hospitais públicos e macêuticos hospitalares possuem presas privadas. Outros, por insti-
dos hospitais privados com os me- pós-graduação, o que demonstra tuições de ensino e ainda outros,
lhores serviços de saúde conta com o interesse do profissional de Far- por empresas voltadas para essa
farmacêuticos em seus quadros, e mácia Hospitalar, apesar de todas atividade.
serviços farmacêuticos, a cada dia as dificuldades, em investir em sua
melhores, têm sido ofertados. capacitação e qualificação. PHARMACIA BRASILEIRA –
Alegra-nos saber que estamos A escassez de recursos financei- É cada vez maior o interesse dos
conquistando espaço pela capaci- ros, a baixa adesão dos pacientes farmacêuticos hospitalares em se

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especializar em um determinado lacionado à dispensação de me-


segmento, como oncologia, cen- dicamentos de alto custo no am-
tro cirúrgico, nutrição parenteral, biente hospitalar. Os senhores
entre outras. O que os senhores podem explicar a extensão desse
acham dessa busca intensa dos problema?
profissionais pelas especiali-
zações? Comissão de Farmácia Hospitalar
– O problema dos medicamentos
Comissão de Farmácia Hospitalar de alto custo, como o termo sina-
– Este é o futuro. Na Farmácia Hos- liza, são os altos prejuízos, em fun-
pitalar, estamos ainda vivendo um ção de perdas, mau uso, desvios,
momento em que é preponderante deficiências no monitoramento das
a formação generalista. Entretan- Autorizações de Procedimentos de
to, já existem diversas iniciativas, Alto Custo (APACS), bem como
muitas delas em função do próprio necessidade de uma ação mais
mercado, de especialização da ati- integrada das farmácias hospita-
vidade do farmacêutico hospitalar. lares dispensadoras deste tipo de
“Embora, no Brasil, Isso é o futuro. medicamento e os órgãos coorde-
existam centros de excelência nadores da assistência farmacêu-
em controle de infecção PHARMACIA BRASILEIRA – tica estaduais ou municipais, pois
hospitalar, uma grande O CFF está preocupado com tais medicamentos são regulados
o fato de muitos hospitais não por Portaria específica do Gestor
parte dos hospitais ainda
manterem o farmacêutico em Federal do SUS (atualmente, é a
não possui comissão ou seus quadros. Muitos problemas Portaria MS número 2577), etc. En-
serviço de controle de infecção advêm disso. Um deles está re- tretanto, o medicamento de menor
hospitalar funcionando, de
maneira efetiva”.

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custo não está livre dos mesmos de infecções hospitalares. Segundo


problemas. a ASHP, a principal atividade que a
Quando se trata de antimicro- farmácia deve desenvolver no con-
bianos, independente do custo, os trole de infecções é a promoção do
prejuízos para o paciente e para a uso racional de antimicrobianos.
saúde pública, com o desenvolvi- O controle das infecções hos-
mento de resistência bacteriana, pitalares é embasado no conheci-
são uma verdadeira catástrofe. E a mento da epidemiologia hospitalar
dispensação de medicamentos su- e nas atividades dos diversos seg-
jeitos a controle especial (psicotró- mentos profissionais da instituição.
picos e entorpecentes)? Como as Os farmacêuticos hospitalares tem,
Vigilâncias Sanitárias locais estão ao longo dos últimos anos, assu-
se comportando frente ao proble- mido o seu papel como membros
ma da ausência do farmacêutico, integrantes das CCIH’s, no País,
no hospital, que é o único profis- mesmo com todas as limitações do
sional de saúde autorizado por lei sistema, pois a farmácia é um dos
para efetuar o controle desses pro- pilares que sustentam as ações de
dutos? controle de infecções hospitalares,
em todos os níveis: planejamento,
PHARMACIA BRASILEIRA – operacional e educativo.
Como está o funcionamento das
Comissões de Controle de In- PHARMACIA BRASILEIRA –
fecção Hospitalar (CCIH’s)? Que Que País tem Farmácia Hospitalar
avaliação os senhores fazem da mais desenvolvida (com profissio-
atuação dos farmacêuticos nas Co- nais bem qualificados, valoriza-
missões? dos e com a legislação pertinente
cumprida)?
Comissão de Farmácia Hospitalar
– Embora, no Brasil, existam cen- Comissão de Farmácia Hospitalar
tros de excelência em controle de – Para não cometer injustiças, a
infecção hospitalar, uma grande Comfarhosp-CFF não gostaria de
parte dos hospitais ainda não pos- apontar um país referência, mas,
sui comissão ou serviço de controle sim, alguns países em que a evo-
de infecção hospitalar funcionan- lução da prática da farmácia hospi-
do, de maneira efetiva, indicando talar está relacionada à educação
a necessidade de reavaliação da farmacêutica, tais como relatadas
política de controle de infecções no capítulo 29 – Página 522 do li-
hospitalares pelo Ministério da vro “Ciências Farmacêuticas: Uma
Saúde. Abordagem em Farmácia Hospi-
A contribuição da farmácia para talar”, de autoria de Adriano Marx
o controle das infecções hospita- Moreira Reis e Maria José Vascon-
lares é considerada relevante pela celos de Magalhães Gomes:
American Society of Health – System
Pharmacists (ASHP), que estabele- EUA – Em alguns Estados ame-
ce os padrões que o farmacêutico ricanos, o médico preocupa-se, es-
deve seguir nas ações de controle sencialmente, com o diagnóstico

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das doenças, enquanto o farmacêu- lentidão na implantação do siste-


tico está preparado para prescrever ma de doses unitárias, nos hospi-
o tratamento farmacológico dos tais. John A. Cromarty, membro do
pacientes; os cursos de graduação National Pharmaceutical Specialists –
em Farmácia enfatizam a prática da Scotland, destaca-se como especia-
Farmácia Clínica especializada, ou lista em Farmácia Clínica e ressalta
seja, por área (Pediatria, Pneumo- a importância da prática, baseada
logia, Cardiologia, etc.); os farma- em evidências e no surgimento de
cêuticos devem comprovar deter- modelos de atenção farmacêutica.
minado número de horas de educa-
ção continuada, anualmente, para França – Revisou os currícu-
reavaliar o direito à prática profis- los dos cursos de Farmácia, com
sional. Destacam-se os trabalhos base em documento publicado, em
científicos de Charles D. Hepler e 1983, pela Sociedade Européia de
Linda M. Strand, entre outros. Farmácia Clínica, intitulado The Cli-
nical Pharmacist: Education Document,
Canadá – Seguiu inicialmente que estabelecia um programa edu-
o modelo americano para a práti- cativo para a formação de farma-
ca da farmácia clínica hospitalar cêuticos clínicos; adotou, a partir
e da farmácia comunitária. Uma de então, um período para estágio
das principais universidades ca- dos estudantes em Farmácia Clíni-
nadenses, após 12 anos de estu- ca, caracterizado como uma disci-
dos, alterou radicalmente o cur- plina acadêmico-hospitalar.
rículo da Faculdade de Farmácia,
direcionando-o para a atenção Portugal – Introduziu altera-
farmacêutica (os laboratórios fo- ções no currículo dos cursos de Far-
ram substituídos por consultórios mácia, no final da década de 1970,
farmacêuticos, com atividades para estimular a disseminação da
práticas). Destacam-se os traba- Farmácia Clínica. Nos anos 80, ini-
lhos científicos de Usoa Busto. ciou a reorientação da prática pro-
fissional na Farmácia Comunitária.
Espanha – Comemorou, em Criou Centros de Informação sobre
1998, 25 anos de Farmácia Clínica, Medicamentos e organizou progra-
organizando o evento Farmácia Cli- mas de educação continuada para
nica y Atención Farmacêutica – Reunión farmacêuticos, com a participação
Internacional (Barcelona). Destacam- das Universidades, órgãos de clas-
se os trabalhos científicos de Joa- se e da associação dos farmacêuti-
quim Bonal, primeiro Presidente cos proprietários de farmácia. Com
da Sociedade Européia de Farmá- sua admissão na Comunidade Eu-
cia Clínica; Alberto H. Tejada, Do- ropéia, efetuou novas alterações
minguez-Gil Hurle, Antonio Lesta, no currículo do curso de Farmácia.
Isabel Castro, Flor Alvarez de Tole- As disciplinas de Farmacocinética
do, entre outros. e de Comunicação e Informação
são optativas para estudantes in-
Reino Unido – Seguiu, também, teressados em Farmácia Clínica.
o modelo americano, com certa Destacam-se os trabalhos científi-

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cos de Maria Margarida Caramona, permitem e graças ao potencial de


entre outros. cada um.
Está crescendo perante os ór-
Chile – Introduziu a disciplina gãos de classe, instituições e em-
de Farmácia Clínica nos cursos de presas do ramo. Destacamos a
graduação em Farmácia, a partir de criação da Comissão de Farmácia
1972. Desde 1975, a Universidade Hospitalar pelo CFF, em 2006, dos
do Chile oferece o Curso Latino- Comitês do Ministério da Saúde e
Americano de Farmácia Clínica, a da Anvisa, para tratar de assuntos
cada dois anos, em nível de apri- específicos, como a Política para a
moramento. Destacam-se os traba- Assistência Farmacêutica Hospita-
lhos de Inés Ruiz e Catalina Dome- lar, as Boas Práticas para o Geren-
cq, entre outros. ciamento de Medicamentos e Pro-
dutos em Serviços de Saúde e várias
Argentina – Iniciou um pro- ações da Sbrafh, com vistas à edu-
grama de atualização em Farmácia cação continuada e à padronização
Clínica, a partir de 1987, com um de procedimentos e condutas.
curso que inclui atividades presen- Neste contexto, destaca-se o
“A Farmácia Hospitalar
ciais e à distância, organizado pelo Projeto do Guia de Boas Práticas está crescendo, nos grandes
Colegio de Farmacéuticos de la Província de Assistência Farmacêutica Hos- centros, onde se concentram
de Buenos Aires, através do Centro pitalar, da Sbrafh, que será um mar- mais recursos humanos e
de Informação de Medicamentos, co divisor em termos de Farmácia
financeiros e onde se dispõe
com a colaboração das Universida- Hospitalar, no País, a ser executado
des de La Plata e de Buenos Aires. pela Sociedade, em conjunto com de tecnologia de ponta e,
Destacam-se os trabalhos de Ana o Conselho Federal de Farmácia, também, nos pequenos
Maria Menéndez, entre outros. por meio de sua Comissão de Far- Municípios, com a dedicação
mácia Hospitalar. de abnegados farmacêuticos”
PHARMACIA BRASILEIRA – Uma das grandes conquistas foi
Apesar das dificuldades, os se- a edição do “Diagnóstico da Far-
nhores acham que o segmento mácia Hospitalar, no Brasil”, que
da Farmácia Hospitalar, no Brasil, deu sustentação às reivindicações
passa por um momento de cres- da categoria e sensibilizou insti-
cimento e de conquistas. Podem tuições e órgãos de classe para a
citar onde a Farmácia Hospitalar busca de soluções para problemas
está crescendo e que conquistas apontados. Outras... Bem, quem
são essas? foi ao VI Congresso Brasileiro de
Farmácia Hospitalar, de sete a nove
Comissão de Farmácia Hospitalar de junho de 2007, em Goiânia, viu a
– A Farmácia Hospitalar está cres- discussão de temas relacionados à
cendo, nos grandes centros, onde humanização, à tecnologia e ao co-
se concentram mais recursos hu- nhecimento na busca da excelência
manos e financeiros e se dispõe no setor, pois a Farmácia Hospita-
de tecnologia de ponta e, também, lar é um segmento marcado pela
nos pequenos Municípios, com a alta qualificação, que vive um in-
dedicação de abnegados farmacêu- crível processo de crescimento em
ticos, claro, conforme as condições número e em qualidade.

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