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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA E DE COMPUTAÇÃO


EE540 – TEORIA ELETROMAGNÉTICA

Equações de Maxwell
Prof. Lucas Heitzmann Gabrielli
Regimes estáticos

No regime eletrostático:

∇×𝓔=0 ∇ ⋅ 𝓓 = 𝜌˜

No regime magnetostático:

∇×𝓗=𝓙 ∇⋅𝓑=0

𝓔 [V/m] : campo elétrico


𝓗 [A/m] : campo magnético
𝓓 [C/m2] : densidade de fluxo elétrico ou campo de deslocamento elétrico
𝓑 [T] : densidade de fluxo magnético ou campo de indução magnética
𝓙 [A/m2] : densidade de corrente elétrica
𝜌˜ [C/m3] : densidade volumétrica de carga
Relações constitutivas

Em um meio linear, isotrópico e não dispersivo:

𝓓 = 𝜀𝓔
𝓑 = 𝜇𝓗
𝓙 = 𝜎𝓔

𝜀 [F/m] : permissividade ou constante dielétrica (no vácuo: 𝜀0 = 8,854 × 10−12 F/m)


𝜇 [H/m] : permeabilidade (no vácuo: 𝜇0 = 4𝜋 × 10−7 H/m)
𝜎 [S/m] : condutividade elétrica
Lei de Faraday
(Cheng 7-1, 7-2; Sadiku 9.1 a 9.3; Notaros 6)

Após a descoberta de que as correntes elétricas produzim campos magnéticos em 1820 por
Oersted, Michael Faraday demonstrou em 1831 que o oposto também era verdade: uma corrente
elétrica é induzida em um circuito condutor quando o fluxo magnético através desse circuito
varia.
dΦ d
𝒱emf = − = − ∬ 𝓑 ⋅ d𝐒
d𝑡 d𝑡
𝑆

O sinal negativo mostra que a corrente gerada pela força eletromotriz induzida terá direção tal
que o campo magnético por ela gerado será oposto à variação do fluxo magnético (lei de Lenz).

𝒱emf [V] : força eletromotriz


Φ [Wb] : fluxo magnético
Circuito estacionário

A força sobre uma carga 𝑞 estática e a tensão resultante são dadas por:
𝐅s
𝐅s = 𝑞𝓔 ⇒ 𝒱 = ∫ ⋅ d𝐥 = ∫ 𝓔 ⋅ d𝐥
𝑞

Assim, a força eletromotriz em um circuito fechado estacionário pode ser calculada como:
∂𝓑
𝒱emf = ∮ 𝓔 ⋅ d𝐥 = − ∬ ⋅ d𝐒
∂𝑡
∂𝑆 𝑆

Aplicando o teorema de Stokes à equação da força eletromotriz, obtemos:


∂𝓑
∇×𝓔=−
∂𝑡
Exemplo: espira

ℬ(𝑡)𝐚𝑧


2

− 2ℓ 0 ℓ 𝑥
2

𝑅
− 2ℓ
Exemplo: transformador

𝒱(𝑡) 𝑅
Campo estacionário

Uma carga 𝑞 com velocidade 𝐮 sob uma densidade de fluxo magnético 𝓑 experimenta uma força

𝐅m = 𝑞𝐮 × 𝓑

que é interpretada por um observador no referencial da carga como um campo elétrico de


induzido pelo movimento. A tensão definida por esse campo induzido será dada por:

𝒱 = ∫ 𝐮 × 𝓑 ⋅ d𝐥

Se o condutor for parte de um circuito fechado então a força eletromotriz resultante no circuito
será:

𝒱emf = ∮ 𝐮 × 𝓑 ⋅ d𝐥
∂𝑆
Exemplo: barra deslizante

𝐮
𝒱 ℎ
Caso geral
Neste caso a força eletromotriz será composta por ambos os termos obtidos nas condições
anteriores:

𝒱emf = ∮ (𝓔 + 𝐮 × 𝓑) ⋅ d𝐥 = −
d𝑡
∂𝑆

Observando que
d ∂𝓑
∬ 𝓑 ⋅ d𝐒 = ∬ ⋅ d𝐒 − ∮ 𝐮 × 𝓑 ⋅ d𝐥
d𝑡 ∂𝑡
𝑆 𝑆 ∂𝑆

obtemos novamente:

∂𝓑
∇×𝓔=−
∂𝑡

que é o mesmo resultado anterior, obtido no caso estacionário.


Exemplo: circuito rotativo

Área: 𝑆

𝜔 𝓑(𝑡) = 𝐵0 sin(𝜔𝑡)𝐚𝑦
𝑧

𝑥 𝑦
Continuidade
(Cheng 7-3; Sadiku 9.4, 9.5; Balanis 1.2)

A equação de continuidade, que reflete a conservação de cargas, é incompatível com situações


dinâmicas:
∂𝜌˜
∇⋅𝓙=− ≠0
∂𝑡

Porém, da lei de Ampère eletrostática:

∇ × 𝓗 = 𝓙 ⇒ ∇ ⋅ 𝓙 = ∇ ⋅ (∇ × 𝓗) = 0

Maxwell então introduziu uma densidade de corrente de deslocamento à lei de Ampère para
torná-la consistente com a continuidade de carga:
∂𝓓
∇×𝓗=𝓙+
∂𝑡
Equações de Maxwell

Forma diferencial Forma integral


∂𝓑 ∂𝓑
∇×𝓔=− ∮ 𝓔 ⋅ d𝐥 = − ∬ ⋅ d𝐒 Lei de Faraday
∂𝑡 ∂𝑡
∂𝑆 𝑆
∂𝓓 ∂𝓓
∇×𝓗=𝓙+ ∮ 𝓗 ⋅ d𝐥 = ∬ (𝓙 + ) ⋅ d𝐒 Lei de Ampère
∂𝑡 ∂𝑡
∂𝑆 𝑆

∇ ⋅ 𝓓 = 𝜌˜ ∯ 𝓓 ⋅ d𝐒 = ∭ 𝜌˜ d𝑉 Lei de Gauss
∂𝑉 𝑉

∇⋅𝓑=0 ∯ 𝓑 ⋅ d𝐒 = 0 Lei de Gauss magnética


𝑆
Relações constitutivas
(Balanis 2)

Meio inomogêneo: 𝜀 ou 𝜇 dependem da posição no espaço. Em geral usaremos soluções para


meios homogêneos por partes.

𝓓 = 𝜀(𝐫)𝓔

Meio dispersivo: a resposta do meio à excitação dos campos não é instantânea, ou, de maneira
equivalente, 𝜀 ou 𝜇 dependem da frequência dos campos. Dispersão está diretamente ligada a
perdas no material de forma análoga a oscilações harmônicas amortecidas.

𝓓 = 𝜀 ∗ 𝓔 = ∫ 𝜀(𝑡 − 𝜏 )𝓔(𝜏 ) d𝜏 , 𝜀(Δ𝑡) = 0 para Δ𝑡 < 0


𝜏 =−∞
Relações constitutivas
Os casos seguintes não serão abordados no curso, mas estão descritos a fim de completude.

Meio não linear: 𝜀 ou 𝜇 dependem da magnitude dos campos. A maior parte dos materiais pode
ser considerada linear para intensidades de campos até certos limites.

𝓓 = 𝜀(𝓔)𝓔 = 𝜀0 𝓔 + 𝜀0 (𝜒 (1) 𝓔 + 𝜒 (2) 𝓔2 + 𝜒 (3) 𝓔3 + ⋯)

Meio anisotrópico: 𝜀 ou 𝜇 dependem da direção dos campos. Comum em cristais (uni- e biaxiais)
e materiais magnéticos.

𝒟𝑥 𝜀𝑥𝑥 𝜀𝑥𝑦 𝜀𝑥𝑧 ℰ𝑥


⎡ ⎤ ⎡ ⎤
𝓓 = 𝜀𝓔 ⇔ ⎢𝒟𝑦 ⎥ = ⎢𝜀𝑦𝑥 𝜀𝑦𝑦 𝜀𝑦𝑧 ⎥⎡ ⎤
⎢ℰ𝑦 ⎥
⎣𝒟𝑧 ⎦ ⎣𝜀𝑧𝑥 𝜀𝑧𝑦 𝜀𝑧𝑧 ⎦⎣ℰ𝑧 ⎦

Meio bi-isotrópico: meios onde os campos elétrico e magnético acoplam-se.

𝓓 = 𝜀𝓔 + 𝜉𝓗 𝓑 = 𝜇𝓗 + 𝜁 𝓔
Potenciais
(Cheng 7-4; Sadiku 9.6)

Como ∇ ⋅ 𝓑 = 0 podemos descrever 𝓑 através de um potencial vetorial 𝓐:

𝓑=∇×𝓐
Usando a lei de Faraday:
∂𝓐
∇ × (𝓔 + )=0
∂𝑡
Assim definimos o potencial escalar 𝒱 para descrever 𝓔 como:
∂𝓐
𝓔 = −∇𝒱 −
∂𝑡
mantendo consistência com as definições utilizadas para campos eletrostáticos.
𝓐 [Tm] : potencial magnético vetorial
𝒱 [V] : potencial elétrico escalar
Condição de Lorenz

Introduzindo os potenciais na lei de Ampère e assumindo um meio homogêneo:

∂𝒱 ∂2 𝓐
∇ × ∇ × 𝓐 = ∇(∇ ⋅ 𝓐) − ∇2 𝓐 = 𝜇𝓙 − ∇ (𝜇𝜀 ) − 𝜇𝜀 2 ⇔
∂𝑡 ∂𝑡
∂2 𝓐 ∂𝒱
⇔ ∇2 𝓐 − 𝜇𝜀 2
= −𝜇𝓙 + ∇ (∇ ⋅ 𝓐 + 𝜇𝜀 )
∂𝑡 ∂𝑡

Escolhemos a condição (gauge) de Lorenz para fixar 𝓐:


∂𝒱
∇ ⋅ 𝓐 + 𝜇𝜀 =0
∂𝑡

obtendo equação de onda inomogênea para o potencial vetor:

∂2 𝓐
∇2 𝓐 − 𝜇𝜀 = −𝜇𝓙
∂𝑡 2
Equação para o potencial escalar

Resta apenas introduzirmos os potenciais na lei de Gauss:


∂𝓐 ∂ 𝜌˜
∇ ⋅ (∇𝒱 + ) = ∇2 𝒱 + ∇ ⋅ 𝓐 = −
∂𝑡 ∂𝑡 𝜀

Utilizando novamente a condição de Lorenz, estabelecemos a equação de onda inomogênea para


o potencial escalar:

∂2 𝒱 𝜌˜
∇2 𝒱 − 𝜇𝜀 2
=−
∂𝑡 𝜀

Podemos assim descrever ou resolver um problema eletromagnético em meio homogêneo através


dos potenciais 𝓐 e 𝒱 e, a partir destes, calcular os campos 𝓔, 𝓗, 𝓓, 𝓑.
Teorema de Poynting
(Cheng 8-5; Sadiku 10.7; Balanis 1.6)

Partimos da identidade vetorial:

∇ ⋅ (𝓔 × 𝓗) = 𝓗 ⋅ (∇ × 𝓔) − 𝓔 ⋅ (∇ × 𝓗)

Aplicando as leis de Faraday e Ampère:


∂𝓑 ∂𝓓
∇ ⋅ (𝓔 × 𝓗) = −𝓗 ⋅ −𝓔⋅ −𝓔⋅𝓙
∂𝑡 ∂𝑡

Introduzimos as relações constitutivas assumindo um meio simples e invariante no tempo e


integramos em um volume de interesse:
∂ 1 1
∯ 𝓔 × 𝓗 ⋅ d𝐒 = − ∭ ( 𝜀|𝓔|2 + 𝜇|𝓗|2 ) d𝑉 − ∭ 𝜎|𝓔|2 d𝑉
∂𝑡 2 2
∂𝑉 𝑉 𝑉
Vetor de Poynting
Definimos o vetor de Poynting, que representa a densidade de potência transportada pelo campo
eletromagnético a partir do termo no lado esquerdo da equação anterior.

Reconhecemos assim nos termos do lado direito as densidades volumétricas de energia


armazenada nos campos e a potência ôhmica dissipada.

𝓟 = 𝓔 × 𝓗 [W/m2] : vetor de Poynting (densidade de potência transmitida)

1
𝜀|𝓔|2 [J/m3] : densidade de energia elétrica armazenada
2
1
𝜇|𝓗|2 [J/m3] : densidade de energia magnética armazenada
2
𝜎|𝓔|2 [W/m3] : densidade de potência ôhmica dissipada
Exemplo: fio condutor

𝐼
Campos harmônicos
(Cheng 7-7; Sadiku 9.7; Balanis 1.7)

Até agora a dependência temporal das grandezas estudadas não estava especificada, podendo
tomar qualquer forma. Analisaremos o caso especial em que essas grandezas se comportam
com dependência senoidal no tempo, pois em problemas lineares é possível decompor os
campos e fontes utilizando séries ou transformadas de Fourier e resolver cada componente
independentemente das demais (por superposição).

𝒮(𝑡) = 𝑆0 cos(𝜔𝑡 + 𝜑) = ℜ{𝑆0 𝑒 𝑖(𝜔𝑡+𝜑) }

Definimos então o fasor 𝑆 = 𝑆0 𝑒 𝑖𝜑 para obtermos:


1
𝒮(𝑡) = ℜ{𝑆𝑒 𝑖𝜔𝑡 } = (𝑆𝑒 𝑖𝜔𝑡 + 𝑆 ∗ 𝑒 −𝑖𝜔𝑡 )
2

Note que para sermos definirmos uma representação fasorial é necessário fixar a dependência
temporal.
Equações de Maxwell

As equações de Maxwell em termos das representações fasoriais (ou no domínio da frequência)


ficam:
⎧ 𝓔 = ℜ{𝐄𝑒 𝑖𝜔𝑡 }
{ 𝓗 = ℜ{𝐇𝑒 𝑖𝜔𝑡 }
{ ⎧ ∇ × 𝐄 = −𝑖𝜔𝐁
{ 𝓓 = ℜ{𝐃𝑒 𝑖𝜔𝑡 } {
{ ∇ × 𝐇 = 𝐉 + 𝑖𝜔𝐃

⎨ 𝓑 = ℜ{𝐁𝑒 𝑖𝜔𝑡 } ⎨∇ ⋅ 𝐃 = 𝜌
{ 𝑖𝜔𝑡
{
{∇ ⋅ 𝐁 = 0
{ 𝓙 = ℜ{𝐉𝑒 } ⎩
{ 𝑖𝜔𝑡
⎩ 𝜌
˜ = ℜ{𝜌𝑒 }

Similarmente para os potenciais vetor e escalar obtemos:

𝓐 = ℜ{𝐀𝑒 𝑖𝜔𝑡 } ∇2 𝐀 + 𝜔 2 𝜇𝜀𝐀 = −𝜇𝐉


{ ⇒{ 2 𝜌
𝒱 = ℜ{𝑉 𝑒 𝑖𝜔𝑡 } ∇ 𝑉 + 𝜔 2 𝜇𝜀𝑉 = −
𝜀
Relações constitutivas

Podemos olhar para a representação fasorial como a componente em uma dada frequência para
a transformada de Fourier da grandeza em questão. Assim, a convolução que existe nas relações
constitutivas para meios dispersivos (com perdas) transforma-se em simples multiplicação no
domínio da frequência:

𝐃 = 𝜀(𝜔)𝐄 𝐁 = 𝜇(𝜔)𝐇
Vetor de Poynting
Como o vetor de Poynting envolve um produto entre os campos, perdemos a relação de
linearidade, então um pouco mais de cuidado é necessário:

𝐄𝑒 𝑖𝜔𝑡 + 𝐄∗ 𝑒 −𝑖𝜔𝑡 𝐇𝑒 𝑖𝜔𝑡 + 𝐇∗ 𝑒 −𝑖𝜔𝑡 1 1


𝓟=𝓔×𝓗= × = ℜ{𝐄 × 𝐇∗ } + ℜ{𝐄 × 𝐇𝑒 𝑖2𝜔𝑡 }
2 2 2 2

Conhecendo a dependência temporal do vetor de Poynting podemos calcular seu valor médio:
𝑇
1 1 2𝜋
𝐏𝑚 = ∫ 𝓟 d𝑡 = ℜ{𝐄 × 𝐇∗ }, onde 𝑇 =
𝑇 2 𝜔
0

Definimos então o vetor de Poynting complexo:


1
𝐏 = 𝐄 × 𝐇∗
2

de modo que a densidade de potência média transmitida é 𝐏𝑚 = ℜ{𝐏}.


Teorema de Poynting

Com base no resultado anterior, utilizamos a seguinte identidade para deduzir o teorema de
Poynting no domínio da frequência:

∇ ⋅ (𝐄 × 𝐇∗ ) = 𝐇∗ ⋅ (∇ × 𝐄) − 𝐄 ⋅ (∇ × 𝐇∗ )

Seguindo os mesmo passos da derivação passada (e considerando 𝜀 e 𝜇 reais):


1 1 1
∇ ⋅ 𝐏 = 𝑖2𝜔 ( 𝜀|𝐄|2 − 𝜇|𝐇|2 ) − 𝜎|𝐄|2 ⇔
4 4 2
1 1 1
⇔ ∯ 𝐏 ⋅ d𝐒 = 𝑖2𝜔 ∭ ( 𝜀|𝐄|2 − 𝜇|𝐇|2 ) d𝑉 − ∭ 𝜎|𝐄|2 d𝑉
4 4 2
∂𝑉 𝑉 𝑉
Exercícios sugeridos

Cheng: Sadiku:

• R.7-7 • P 9.3

• R.7-27 • P 9.11

• P.7-2 • P 9.12

• P.7-5 • P 9.22

• P.7-7

• P.7-10

• P.7-15

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