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ATO INFRACIONAL e MEDIDAS

SOCIOEDUCATIVAS
Profa. Dra. Valdira Barros
Ato Infracional
• Art. 103. Considera-se ato infracional a
conduta descrita como crime ou contravenção
penal.
• Art. 104. São penalmente inimputáveis os
menores de dezoito anos, sujeitos às medidas
previstas nesta Lei.
• Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve
ser considerada a idade do adolescente à data
do fato.
Ato Infracional
• Art. 105. Ao ato infracional praticado por
criança corresponderão as medidas previstas
no art. 101.
Fundamentos da inimputabilidade
penal aos menores de 18 anos;
• Doutrina da Proteção Integral;
a) Crianças e Adolescentes são SUJEITOS DE
DIREITOS;
b) Pessoas em condição peculiar de
desenvolvimento;
c) Prioridade Absoluta/Princípio do Interesse
Superior da C/A.
Responsabilização pela prática de ato
infracional no ECA
• De acordo com o ECA, a partir dos 12 anos um
adolescente já pode ser privado da liberdade,
INTERNADO;
• Pelo princípio da condição peculiar de pessoa
em desenvolvimento, esta deve ser uma
medida excepcional.
Discernimento x
Pessoa Em Condição Peculiar De
Desenvolvimento
• A resposta estatal ao ilícito praticado por
criança ou adolescente deve ser diferenciada
porque, inegavelmente, são pessoas que se
encontram em fase de desenvolvimento; ou
seja, não devem responder como adultos.
Criminalidade infanto-juvenil
• Os atos infracionais praticados por
adolescentes não chegam a 10% do total de
crimes praticados no Brasil;
• 10% equiparam-se a crimes contra vida;
• 75% crimes contra o patrimônio;

• Fonte: NEV/USP e ILANUD


Criminalidade infanto-juvenil
• [...]as infrações patrimoniais como furto, roubo
e envolvimento com o tráfico de drogas
constituíram-se nos principais delitos praticados
pelos adolescentes em cumprimento de medida
socioeducativa de privação de liberdade no
Brasil nos últimos três anosOLIVEIRA, 2015,
p.26)
Adolescência e Ato Infracional
• Quem comete ato infracional?
• Quais fatores levam uma criança ou
adolescente a praticar um ato infracional?
• Qual o investimento efetivo para o
atendimento de adolescentes que cometeram
ato infracional?
Violência Criminal
• Segundo o estudo Mapa da Violência 2015, as
taxas de homicídio por arma de fogo no Brasil
da população jovem (de 15 a 29 anos de
idade) são superiores às da população não
jovem, chegando algumas unidades da
Federação a apresentar o índice de quatro
mortes de jovens para cada uma morte de não
jovem.
PERFIL DOS ADOLESCENTES AUTORES
DE ATO INFRACIONAL
• Grande parte dos adolescentes infratores são
negros, pertencem a famílias de baixa renda e
têm acentuada defasagem escolar.
• Infere-se a partir desses dados que os autores
de ato infracional no Brasil, são os herdeiros
da ação e omissão estatal perpetrada ao
longo de décadas, que alijou a população
negra brasileira do pleno acesso às políticas
públicas.
FATORES QUE LEVAM AO ATO
INFRACIONAL
• Nesse contexto, a análise do ato infracional
praticado por um adolescente não deve se
resumir a uma operação de confronto do fato
com a prescrição legal, ou seja, um exercício
de mera objetivação, deve, sobretudo,
considerar a história de vida do autor da
infração. De acordo com Teixeira (2006) a
abordagem do ato infracional implica analisar:
FATORES QUE LEVAM AO ATO
INFRACIONAL
• [...] as variáveis relativas às intensas mudanças
físicas, biológicas, psicológicas; variáveis
relativas a seus grupos de pertencimento, a
seu meio social e a seu trânsito no mundo da
cultura, nestes tempos de ausência de
fronteiras geográficas e novas tecnologias de
informação que vão construindo outros
padrões de sociabilidade (TEIXEIRA, 2006,
p.427).
Dos Direitos Individuais do
Adolescente a quem se atribui autoria
de ato infracional
• Art. 106. Nenhum adolescente será privado de
sua liberdade senão em flagrante de ato
infracional ou por ordem escrita e fundamentada
da autoridade judiciária competente.
• Parágrafo único. O adolescente tem direito à
identificação dos responsáveis pela sua
apreensão, devendo ser informado acerca de
seus direitos.
Dos Direitos Individuais do
Adolescente a quem se atribui autoria
de ato infracional
• Art. 107. A apreensão de qualquer
adolescente e o local onde se encontra
recolhido serão incontinenti comunicados à
autoridade judiciária competente e à família
do apreendido ou à pessoa por ele indicada.
• Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e
sob pena de responsabilidade, a possibilidade
de liberação imediata.
APURAÇÃO DO ATO INFRACIONAL – Fase pré-processual

Artigos:
Liberação – art. 174
Não liberação – art. 175
Audiência de oitiva
informal: 179 - 180

Fonte: ROSSATO,
Lucinao Alves .
Estatuto da Criança e
do Adolescente: Lei
8069/90 comentado
artigo por artigo.
7ed. rev e ampl. São
Paulo, 2015.
Dos Direitos Individuais do
Adolescente a quem se atribui autoria
de ato infracional
• Art. 108. A internação, antes da sentença,
pode ser determinada pelo prazo máximo de
quarenta e cinco dias.
• Parágrafo único. A decisão deverá ser
fundamentada e basear-se em indícios
suficientes de autoria e materialidade,
demonstrada a necessidade imperiosa da
medida.
Dos Direitos Individuais do
Adolescente a quem se atribui autoria
de ato infracional
• Art. 109. O adolescente civilmente
identificado não será submetido a
identificação compulsória pelos órgãos
policiais, de proteção e judiciais, salvo para
efeito de confrontação, havendo dúvida
fundada.
GARANTIAS PROCESSUAIS

• Art. 110. Nenhum adolescente será privado de


sua liberdade sem o devido processo legal.
GARANTIAS PROCESSUAIS
• Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras,
as seguintes garantias:
• I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato
infracional, mediante citação ou meio equivalente;
• II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-
se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas
necessárias à sua defesa;
• III - defesa técnica por advogado;
• IV - assistência judiciária gratuita e integral aos
necessitados, na forma da lei;
• V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade
competente;
• VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou
responsável em qualquer fase do procedimento.
Responsabilização pela prática de ato
infracional no ECA
• Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a
autoridade competente poderá aplicar ao
adolescente as seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
Objetivos das MSEs (Lei do Sinase)-
12.594/2012)
I - a responsabilização do adolescente quanto às
consequências lesivas do ato infracional, sempre
que possível incentivando a sua reparação;
II - a integração social do adolescente e a garantia
de seus direitos individuais e sociais, por meio do
cumprimento de seu plano individual de
atendimento; e
III - a desaprovação da conduta infracional,
efetivando as disposições da sentença como
parâmetro máximo de privação de liberdade ou
restrição de direitos, observados os limites
previstos em lei. (Art. 1º , §2º )
CRITÉRIOS PARA APLICAÇÃO

• Capacidade, circunstâncias e gravidade da


infração (ART. 112, §1º )
• § 2º Em hipótese alguma e sob pretexto
algum, será admitida a prestação de trabalho
forçado.
• § 3º Os adolescentes portadores de doença ou
deficiência mental receberão tratamento
individual e especializado, em local adequado
às suas condições.
CRITÉRIOS PARA APLICAÇÃO

• Art. 114. A imposição das medidas previstas


nos incisos II a VI do art. 112 pressupõe a
existência de provas suficientes da autoria e
da materialidade da infração, ressalvada a
hipótese de remissão, nos termos do art. 127.
• Parágrafo único. A advertência poderá ser
aplicada sempre que houver prova da
materialidade e indícios suficientes da autoria.
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
• Da Advertência
• Art. 115. A advertência consistirá em admoestação
verbal, que será reduzida a termo e assinada.
• Seção III
• Da Obrigação de Reparar o Dano
• Art. 116. Em se tratando de ato infracional com
reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar,
se for o caso, que o adolescente restitua a coisa,
promova o ressarcimento do dano, ou, por outra
forma, compense o prejuízo da vítima.
• Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a
medida poderá ser substituída por outra adequada.
• Da Prestação de Serviços à Comunidade
• Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na
realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por
período não excedente a seis meses, junto a entidades
assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos
congêneres, bem como em programas comunitários ou
governamentais.
• Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as
aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante
jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados,
domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não
prejudicar a freqüência à escola ou à jornada normal de
trabalho.
• Da Liberdade Assistida
• Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre
que se afigurar a medida mais adequada para o fim de
acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.
• § 1º A autoridade designará pessoa capacitada para
acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada
por entidade ou programa de atendimento.
• § 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo
mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser
prorrogada, revogada ou substituída por outra medida,
ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor.
• Do Regime de Semi-liberdade
• Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser
determinado desde o início, ou como forma de
transição para o meio aberto, possibilitada a realização
de atividades externas, independentemente de
autorização judicial.
• § 1º São obrigatórias a escolarização e a
profissionalização, devendo, sempre que possível, ser
utilizados os recursos existentes na comunidade.
• § 2º A medida não comporta prazo determinado
aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à
internação.
Da Internação

• Art. 121. A internação constitui medida


privativa da liberdade, sujeita aos princípios
de brevidade, excepcionalidade e respeito à
condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento.
• § 1º Será permitida a realização de atividades
externas, a critério da equipe técnica da
entidade, salvo expressa determinação judicial
em contrário.
• § 2º A medida não comporta prazo determinado,
devendo sua manutenção ser reavaliada,
mediante decisão fundamentada, no máximo a
cada seis meses.
• § 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de
internação excederá a três anos.
• § 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo
anterior, o adolescente deverá ser liberado,
colocado em regime de semi-liberdade ou de
liberdade assistida.
Art. 122. A medida de internação só poderá ser
aplicada quando:

• I - tratar-se de ato infracional cometido mediante


grave ameaça ou violência a pessoa;
• II - por reiteração no cometimento de outras
infrações graves;
• III - por descumprimento reiterado e injustificável
da medida anteriormente imposta.
• § 1º O prazo de internação na hipótese do inciso
III deste artigo não poderá ser superior a três
meses.
• § 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a
internação, havendo outra medida adequada.
Brasil: cenário de violência.

• Qual o nosso conceito de violência?

• “O uso intencional da força física ou do poder,


real ou em ameaça, contra si próprio, contra
outra pessoa, ou contra um grupo ou uma
comunidade, que resulte ou tenha grande
probabilidade de resultar em lesão, morte,
dano psicológico, deficiência de
desenvolvimento ou privação” ( OMS). 5
internação
• Art. 123. A internação deverá ser cumprida
em entidade exclusiva para adolescentes, em
local distinto daquele destinado ao abrigo,
obedecida rigorosa separação por critérios de
idade, compleição física e gravidade da
infração.
• Parágrafo único. Durante o período de
internação, inclusive provisória, serão
obrigatórias atividades pedagógicas.
APURAÇÃO DO ATO INFRACIONAL – Fase processual

Arts. 181 – 189


da Lei 8069/90

Fonte: ROSSATO,
Lucinao Alves .
Estatuto da Criança e
do Adolescente: Lei
8069/90 comentado
artigo por artigo.
7ed. rev e ampl. São
Paulo, 2015.
Nos ensina Paulo Freire:
• Não é possível refazer este País, democratizá-lo, humanizá-
lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar
gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando
o amor. Se a educação sozinha não transforma a sociedade,
sem ela tampouco a sociedade muda. Se a nossa opção é
progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da
eqüidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da
convivência com o diferente e não de sua negação, não
temos outro caminho senão viver plenamente a nossa
opção. Encarná-la, diminuindo assim a distância entre o
que dizemos e o que fazemos...
• (FREIRE, Paulo. Educação e mudança. RJ: Paz e Terra, 1979.)

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