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Aprendi Caçando
André B. Morais
Sumário
Introdução................................................................................................... 4
Capítulo I - Deixe ir embora ..................................................................... 6
Capítulo II - 416 Rigby ............................................................................ 10
Mas não quero neste livro fazer apologia sobre o esporte da caça
(embora você vai notar qual a minha opinião a respeito). Quero aqui
mostrar as lições de vida, pra problemas na vida, que eu aprendi a
resolver com coisas que eu tirei da caça.
Essas e muitas outras lições você pode aprender sendo caçador. Mas
como eu sei que muitos de vocês não vão ter oportunidade de pegar
nas armas de caça e de ir atrás de uma avoante, uma raposa, um
veado, um javali... vou lhe ensinar elas com exemplos.
Espero que o livro seja útil. Que aqueles que são contra o esporte
não se ofendam, e saibam ver que “opa, ele até que tem razão”. E
que aqueles que praticam e são defensores do esporte tenham o
entendimento reforçado de porque nossa prática – a da caça –
desenvolve o caráter e a atitude do homem.
Se tu der uma flechada naquele veado em longura que não é pra ser
vencida com arco, pode acontecer uma dessas coisas, quando não
acontecer mais de uma de uma vez:
Tu acerta o tiro mas não no lugar mortal do animal, ele corre e vai
morrer lá dentro da serra, te obrigando a ou desistir do troféu ou
mudar de “caçada” para “busca do corpo de delito”;
Vou lhe dar outro exemplo. Imagine que você está num namoro,
tudo vai bem, e depois de dois meses de namoro você já começa a
pensar em casamento e morar junto. Ora, não é a hora! Homem
nenhum namora hoje pra casar amanhã. Então, não fique
aproveitando toda oportunidade que você acha que tá na sua frente
para soltar as indiretas “amor quando a gente casar vamos ser tão
felizes”. Você só consegue com isso ser chata e ficar beliscando um
assunto que a maioria dos homens não quer conversar agora. Não
belisque, espere o tempo de dar a flechada. “Então, amor, a gente
namora sério faz dois anos, já tá na hora de a gente financiar uma
casa.” E você vai poder pegar o namorado no pulo. Se ele enrolar,
talvez seja o caso de entender que “nesse mato não tem veado”.
Perceba que nos dois exemplos que demos, não resolver logo de
uma vez é um risco. Você arrisca permitir que teu namorado
encontre mais uma desculpa para ganhar mais tempo, como por
exemplo “a gente casa depois que encontrar uma casa pra a gente” e
no fim o processo de encontrar essa casa demora um ano porque
“ele quer a casa perfeita”. Você arrisca, não tomando uma atitude
com um marido bêbado agressor, a tomar uma surra pior.
Analise, pensa conselhos as pessoas que você mais confia, mas tente
abrir os olhos, que é a parte mais difícil: talvez você esteja na frente
de um “búfalo africano” de problema, e nesse caso você precisa de
uma solução de calibre garantido.
Essa é a parte que até quem critica a caça consegue pelo menos ver
razão. Se é pra matar um bicho, se alimente dele. Nunca mate só por
matar: isso não é digno do esporte da caça. Esse é um ponto
defendido pelos caçadores mais honrados: o final de toda a caçada é
a panela ou a churrasqueira. Caçar só pra pendurar a cabeça do
animal de troféu na parede, ou pra ter aquela foto posando de fodão
não é um bom exemplo para o esporte da caça. Claro, você pode
caçar para aproveitar a pele do animal; pode caçar aquela raposa
que está comendo as suas galinhas e lhe causando prejuízo; mas
matar só por matar é matar só por matar, e não caça.
Que graça tem levar uma namorada de moto para um passeio sem
ela está abraçadinha com você?
Nesse caso reforço que não estou lhe apontando a melhor solução,
mas estou lhe dando uma maneira de avaliar se algo está com
problema. O caçador que mata, come. Não precisa ter nojo, não
precisa achar esquisito, não tem nada de feio nisso, pelo contrário:
existe mais honra em matar, tratar, preparar e comer um capote, do
que comprar no supermercado uma bandejinha de carne de galinha
que foi criada numa fazenda industrial. E mais saudável até (embora
eu não queira aqui entrar no mérito da honra que existe na caça -
tem muitos bons livros sobre o assunto).
Não perca seu tempo! Quer conselho melhor do que “não perca seu
tempo”. Mesmo que seja conselho batido: teu pai já deve ter lhe
dado, teus amigos, vizinhos, até aquela pessoa que não gosta de
você “não perca seu tempo tentando me irritar”. A vida é curta. As
oportunidades são contadas, pra tu tá perdendo teu tempo com algo
que não vai render frutos.
Mas são muitos outros os exemplos. Você rapaz pode está numa
amizade com aquela moça linda, que só sai com playboys, embora
lhe conte em conversas amigáveis que busca alguém romântico e
que ouça ela e valorize os sentimentos dela. Conversa amigável, isso
mesmo, porque você não passa de um amigay, amigo gay, amigo a
quem ela ver como tudo, menos como um homem para ter um
relacionamento amoroso e sexual. Nesse caso, tu é que tá caçando
“tatu” onde não existe.
Em primeiro lugar pode evitar que você espante a sua “caça” (seu
objetivo). Por exemplo, teu patrão tá puto de raiva e visivelmente
mal humorado. É a hora de pedir um aumento? Só se tu tiver com
vontade de uma demissão também. A situação não tá favorável.
Mas o principal deste conselho que lhe dou é você entender que tem
problemas na sua vida que não se resolvem indo de A até C, mas de
B até C. O caminho é outro, não esse que você tá seguindo.
Um filho que não quer nada com a vida, por exemplo: não estuda
nem trabalha nem tem ambição de trabalhar. Você provavelmente
não vai resolver essa situação indo de A (deixar ele cair em si na
vida) para C (“mãe, vou atrás de um trabalho”). Isso pode demorar
muito e cada dia que passa C fica mais longe. Talvez o único
caminho certo nesse caso seja ir de B (“filho, você já é grande, vai
pagar por seus luxos”) pra chegar até C (“nesse caso vou ter que
arrumar um emprego”). O resultado C foi atingido: trabalho. Mas
talvez se você continuasse pelo caminho A, a tua “caça” ia escapar e
escapar e escapar e talvez - talvez! - cair morta de cansada antes de
você realmente ter atirado nela (Veja também conselho do capítulo
XIII para esse caso).
Também dentro desse conselho está não fazer alarde para uma
solução futura que você está planejando. Não deixar que o causador
do problema note que você está atrás dele, pois nesse caso ele pode
fugir. Um exemplo disso seria uma auditoria em que você está
buscando um ladrão na empresa: não fale que tá buscando um,
procure na surdina.
O importante é entender que na vida não é por indo por aqui que
você vai resolver um problema, chegar em um objetivo final. O
modo que você se aproxima desse problema muitas vezes conta
muito. Como você está agindo pra chegar até aquele objetivo é que
vai determinar se você vai chegar lá, ou se ele vai sentir o seu cheiro,
ri, e ir embora.
Capítulo VI - Monte Bem sua Espera
O mesmo pode ser dito para outras coisas na vida. A solução do seu
problema pode estar na preparação. Um relacionamento que não
anda, por exemplo, ele não casa e fica inventando mil desculpas,
como por exemplo “não temos casa”. Procure conquistar sua própria
casa, para poder com a casa dizer “e ai qual desculpa agora?”, você
pode conseguir a casa e reparar que “não precisa daquele traste pra
isso”.
Principalmente, preparar uma espera, e principalmente esperar pelo
momento certo, pode ser a garantia que você precisa para dar um
tiro com mais segurança no seu problema, principalmente até o 416
Rigby.
Caçar é matar bicho. Quem não quer matar bicho não seja caçador.
Quem não quer matar bicho não seja caçador - nem coma carne,
porquena verdade ou você realmente é bobo de acreditar que as
carnes que você compra do supermercado vieram todas de animais
que cometeram suicídio ou morreram de causas naturais (o
fazendeiro ficou esperando morrer pra só depois partir e colocar na
bandejinha) ou você é daquelas mocinhas “como, mas se fosse pra
eu matar morria de fome”, mas que segue ávido pra qualquer
churrasco que é convidado.
Não vou entrar nas discussões éticas sobre caça. Até porque este não
é um trabalho de caça. Mas usei o exemplo pra apontar que a grosso
modo: caçar é matar. Se tu vai no mato com uma câmera pra
fotografá, isso tem outro nome. E se tu foi com a arma querendo ser
caçador, atirou num animal, e não aguentou ver ele morrendo, essa
prática não é pra você.
Pra fome é bom demais e fácil. Coma! Mas pro resto a gente tem a
tendência de tentar ficar procurando outra solução que não seja
matar o problema.
A esposa/marido fica mantendo o casamento por causa dos filhos ou
convenções sociais, enquanto o mesmo vai definhando cada vez
mais. A namorada ainda apaixonada e achando que aquele é o único
homem que vai fazer ela feliz perdoa e em muitos casos está
praticamente dando carta branca pra ele perdoar de novo (se fizer e
eu ficar sabendo eu termino mesmo não tendo tido coragem de
terminar desta vez). O amigay fica imaginando “e se eu perder a
amizade” mesmo estando apaixonado e vendo sua paixão correr
atrás (ou sendo apreciada) por outros.
Mate o problema, amigo(a). Mate! Se você não matá esse tiú, se você
não matar essa raposa que ataca teu galinheiro, amanhã ele vem
beber ovos e ela vem comer as galinhas. Mate! Você resolve
matando. Não vai atrás de pegar vivo e jogar lá longe, porque
voltam. Não procure alternativas. Você sabe que não tem. Pegue sua
arma, vai lá, e mate.
Mas por mais que você corra, por mais que você tente buscar
alternativas. Alguns problemas não tem jeito: precisam ser mortos. E
se você não matar, os problemas vão continuar do mesmo jeito, e
sua vida do mesmo jeito também, com problema.
Capítulo VIII - Um tiro
Primeiro: imagine que você vai dividir a casa com alguém que têm
hábitos diferentes do seu. Segundo: imagine que você está em busca
de uma namorada.
Metralhar nesses dois casos só causa prejuízo. Brigar por toda coisa
diferente que seu companheiro faz não leva a nada. Só ao desgaste e
talvez alguma mudança a força. Sim, caiu um pato baleado, mas
também tu metralhou a árvore inteira feito um doido. Bonito e
correto seria se você tivesse observado bem, localizado o pato, e
atirado nele: um pato, um tiro. O rapaz que busca por uma
namorada e metralha pra todo lado dando cantada em toda moça
que aparece na frente não vai pegar ninguém a não ser a fama de
rambo: atira pra todo lado. Talvez até uma queira, mas esteja vendo
que tá desesperado e isso desvaloriza. Novamente pode até cair o
pato, mas muito melhor seria “um pato, um tiro”.
Vou lhe explicar “um pato um tiro” pros dois casos. Entenda que
seu companheiro é diferente de você, tem coisa que você vai ter que
se adaptar ou ignorar, então faça uma lista do que realmente
incomoda, o que realmente atrapalha ou causa prejuízo, e ao invés
de reclamar de tudo converse e deixe claro: “tá aqui os patos
(problemas) que tem pra matar (resolver)”. É muito mais racional e
justo e mais fácil de colocar em prática sem desperdiçar “bala” com
brigas por coisas que talvez não importem tanto.
Na vida você tem que entender que nem tudo é problema, por isso
não adianta você caçar a solução para tudo. E também que atirar pra
todo lado não é solução para aquele problema que tá na sua frente.
Capítulo IX - Cachorro Levantador
Imagine (e isso aconteceu comigo) que você tem uma namorada que
ficou estranha com você. Você procura melhorar sua atitude, seu
carinho, tenta investir naquela namorada e no relacionamento, pois
ama ela, mas parece que não funciona.
Nos dois casos o teu cão levantador tá sendo é besta. Ele late e
levanta “olha um uma codorniz ai” e tu não atira porque “é pra
atirar, não, deixa quieto, deixa a bichinha ir embora” ou então “ai
cachorrinho, não consigo puxar o gatilho”. Muito justo era o teu
cachorro te dizer “pois então porque que tu veio pra caçada e trouxe
um cão de caça infeliz me deixasse em casa lambendo o saco que eu
ganho mais”.
Aprenda nessa sua vida que quando alguém (uma mãe, um pai, um
grande amigo, um amor) lhe disser que algo é um problema e você
precisa resolver. Confie no seu cão levantador. Precisa resolver.
Principalmente quando não é só um cão levantador, mas todos os
que você tem. Quando é mais de uma pessoa lhe dizendo “isso não
tá certo, algo precisa ser feito”.
Uma hora teu cão levantador se cansa de tá latindo pra você atirar
naquela codorniz / alguém de confiança se cansa de tentar te
explicar que precisa matar aquele problema.
Não deixe isso acontecer. Confie no seu cão levantador. É ele quem
está lá por você, para te ajudar na caçada.
Capítulo X - Tiro na Pá
Quem não tem pai, precisa de um pai (nem que seja mãe fazendo
papel de pai também), e não de uma mãe (a mãe que só consegue
ser mãe, não pai);
Algumas coisas na vida tem que resolver logo, que é pra você partir
para a próxima etapa, e não ficar se arrastando. Ai ao invés de você
está assando o veado que você matou pra comer, e concluindo sua
caçada, você tá no meio do mato tentando encontrar, e talvez nem
ache. Tudo porque você tentou uma solução alternativa.
Capítulo XI - Preste Atenção na Caçada
Uma criança não ter noção. Beleza! Nenhum adulto saudável tem
direito disso. Os aleijados também não: porque tem aleijado
ganhando medalha nas olimpíadas.
Do mesmo jeito que a gente tem que exigir nossos direitos. Tem que
exigir que as pessoas cumpram sua obrigação. Essa é a vida.
O ditado é esse: dia da caça, dia do caçador! E não, dia da caça, mês
da caça, ano da caça, aí de repente ano do caçador. Caçador que não
consegue matar bicho, tem algum problema: ou o problema é com a
arma de caça (ver cap. XVI) ou com o caçador. Algum dos dois não
serve pro serviço.
Na vida também. A gente tem que entender que tem vez que não
deu, não deu. Caça não é nosso esporte: a gente não tem coragem de
matar uma avoante. Caça não é nosso esporte: a gente não tem
dinheiro pra comprar uma carabina de pressão, que precisa pra
matar uma avoante. Caça não é nosso esporte: a gente tem coragem
de matar avoante, tem arma pra matar avoante, mas não tem lugar
pra matar avoante.
Claro que muitas vezes você tem sim arma e lugar pra aplicar. Só
não tem coragem de aplicar. Como o fim de um casamento. Você já
sabe que está no fim. Todos os sinais indicam que está no fim. Mas
tu não é homem/mulher de acabar.
Imagine que você é um namorado que faz tudo pela sua namorada.
Está melhorando seu emprego. Está melhorando seus vídeos. Mas
ela tem uma peste de um menino que não faz nada em casa nem
melhora nada. Mas sempre é o dia da caça, nunca do caçador. Raro
do caçador. Menino não tem um privilégio cortado, mas você já
teve que enfrentar brigas.
Então você tem esse problema: uma raposa sai do mato toda noite e
come uma galinha sua. Você tentou ir atrás dela com sua balestra,
não conseguiu. Você esperou ela uma noite, não conseguiu. Bem,
nós poderíamos nos perguntar: o que você fez de errado? Mas será
que existe algum outro método de caça que possa me ajudar nesse
problema. Claro! Desentoca o bicho. Arrume amigos com paus ou
cachorros ou os dois e coloque eles no outro lado da mata. Você fica
do lado de cá. Então eles vão em um determinado momento fazer
uma zoada medonha pra tentar espantar o animal até onde você está
e você vai esperar para pegá-lo se ele passar perto de você. Esse tipo
de caça se chama “caça de espanto” ou “caça de batuque” (porque
você pode usar tambores) ou “caça de levante” (porque teus amigos
vão “levantar” o animal até você). Qualquer que seja o nome, a ideia
é a mesma, se o bicho está entocado, vamos desentocar ele2.
E ai?! Tu vai esperar a raposa vim tomar teu galo. Não! Desentoca a
raposa. Se precisar chama as amigas e comenta “a vagaba tá dando
encima do meu marido”.
Óbvio que nesse caso é bom conversar com seu marido, e se ele for
um bom marido ele vai entender e se afastar. Óbvio também que se
a pilantra viu que tem dona e mesmo assim continua com as
mesmas atitudes é porque não tem respeito por isso e talvez tenha
até dolo.
Por fim, é importante entender que certos problemas vão vindo aos
pouquinhos, e que uma hora vão causar um prejuízo grande. Por
isso, você precisa desentocá-los. Porque enquanto você não tiver
coragem pra fazer isso, amanhã é mais uma galinha, e depois mais
outra, e depois mais outra, até você perder o seu galinheiro.
O caçador quando sai pra caçar sai com foco e preparo prévio. a
técnica , local e equipamentos para caçar são diferentes para cada
animal. Por exemplo: uma carabina de pressão num roçado é
suficiente pra matar avoante. O mesmo não é o ideal para galinhas
d'água e nem de longe para caçar uma raposa. Loucura se você tiver
pensando em ir atrás de uma onça. Mas não é por isso que você
precisa de foco numa caçada. Foco é pra você não perder tempo com
uma caça de menor valor se você esta atrás de uma mais nobre ou
difícil , e também para você não espantar a m
Nobre atirando na outra. Por isso que a gente fala que em caçada de
onça não se atira em tatu.
Conquistas, por outro lado, são as coisas que nos fazem grande,
memoráveis. As pessoas lembram pelas grandes coisas, as coisas
que deixam memória. Por isso que você lembra daquela viagem pra
a Argentina, mas não lembra direitoo que fez ontem pro jantar. Mas
ninguém pode viver só de conquistas, até porque ninguém tem tanta
sorte assim nessa vida.
Lute, trabalhe, até que você esteja com a carne daquela onça no seu
espeto. Use as rotinas/avoantes se for necessário. Vai que essa
caçada que você está querendo vai ser longa, virar uma noite, duas,
você precisa ter umas avoantes pra beliscar (lembre-se do dia do
caçador, ver cap. XII).
Mas volte para buscar a sua onça. Porque ela é sua. Mas você precisa
ter foco, dedicação, habilidade, equipamentos e perseverança para
conquista-la.
Seja o que for necessário. A onça é sua. Não desista dela, aprenda o
que for necessário, conquiste as conquistas menores que forem
necessárias (cace animais menores e menos perigosos como treino),
trabalhe por arma de caça melhor, mas continue, até que seu grande
troféu esteja na sua parede.
Capítulo XV - Gato não Caça
Isso mesmo que você ouviu. Não se caça com gato. Quem inventou
esse ditado não estava falando realmente de gatos, mas sim de
alternativas para um problema. Sempre existe alternativas para um
problema. Mas um gato não substitui um cachorro. Gatos são
independentes: saem de casa a hora que querem, voltam pra comer,
dormem o dia todo. Nunca na vida vi um gato que latisse quando
um estranho chega na sua casa. O cachorro (sendo de caça ou não) é
fiel e muito mais útil: vigia sua casa, lhe espera na porta todo dia
quando você sai, late e ataca estranhos, e pode ser mais facilmente
ensinado a fazer truques úteis como pegar um chinelo e trazer no
seu pé. E se for de caça: acha aquela codorniz pra você atirar; traz o
pato que você derrubou e lhe dar; fareja e localiza aquele veado que
você acertou uma flechada mais correu; e segura o javali pela orelha
pra que você o mate com sua faca (sim, essa é uma das maneiras de
caçar javalis). E ainda mais. Cães podem e são usados para farejar
drogas, proteger criações de animais, ajudar cegos a andar, etc.
Tenta fazer alguma coisa dessas com um gato.
O que é que teu irmão faz por você e pela casa? Parte do que ele
ganha ele dá na feira ou está guardando ou gastando com ele
mesmo? Ele trabalha? Se não trabalha, estuda? Se nenhum dos dois,
é dona de casa?
Naturalmente é raro uma pessoa que está dentro de uma casa e faz
muito pouco ou quase nada pelas pessoas daquela casa. Mas
existem.
Agora, o que mais existe são pessoas que tendo gatos e cachorros na
sua vida, não sabem tratar de maneira justa cada um deles.
O que é justiça nesse caso André? Bem, pra começar você pode fazer
uma simples pergunta: quem soma mais na minha vida, o cachorro
ou o gato? Faça uma lista do que o gato faz em um mês pra você. E
faça uma lista do que o cachorro faz por você em um mês.
Faça também a pergunta para o futuro. O que o gato vai fazer por
mim no próximo ano? Ele vai aprender a latir pro povo da rua / teu
irmão vai arrumar um bom emprego e tomar de conta da feira da
tua casa? O cachorro / seu marido, o que é que ele vai fazer no
próximo ano por você? Amanhã quando ele receber um aumento de
salário, ele torrar o dinheiro com ele, ou vai melhorar alguma coisa
na casa que vocês moram, talvez botar o filho numa escola melhor?
Ah, mas é meu irmão, André!? Sim. É justamente por isso que estou
lhe dando esse conselho. É seu irmão. Mas quem é que soma mais
na tua vida?
Uma boa arma não faz um caçador. Mas um bom caçador com uma
boa arma faz uma ótima caçada.
Muita gente tem essa ilusão de que caça é só atirar em bicho. Por
isso, as pessoas pensam “se eu pegar um rifle potente com uma mira
telescópica capaz de aplicar uma bala no meio de uma lata de
cerveja a 100, 200 metros de distância, vou caçar aquele animal bem
fácil”. As pessoas veem isso nos vídeos de caça. E até certo ponto é
verdade: se você tiver no lugar certo com uma arma tão boa e o
animal passar na sua frente e você não errar você vai ter sucesso na
caçada. Mas tá ai justamente: O que garante que você está no lugar
certo? O que garante que o animal vai passar? O que garante que
você não vai errar? Justamente a habilidade.
“Armas de caça” nesse caso pode ser tudo que você usa ou pode
usar para resolver problemas. Um amigo, uma chantagem
emocional, sexo ou negar sexo. Tudo! Desde que funcione com
aquela caçada.
No filme “Eu sou a Lenda” tem uma cena de caça. Will Smith tenta
caçar um veado dentro de um carro, para depois ir atrás dele a pé.
De repente, aparece uma leoa que pega sua presa. Ele se prepara pra
atirar na leoa e vê que está com filhotes: é uma família. Abaixa a
arma, e vai embora. Ótimo exemplo da nobreza de um caçador de
verdade.
Mas imagine que ele não tivesse visto os filhotes antes de decidir
puxar o gatilho. O que faria ao ver um filhote? Matar você não vai,
isso não é honesto nem tem nada a ver com caça. Nesse caso levaria
para casa e se responsabilizaria pelo filhote de leão, criando-o.
Por isso que muitos caçadores têm animais silvestres como bichos de
estimação. Viram um filhote sem mãe ou machucado, levaram para
casa, e criaram como amor.
Se você não vai matar o problema, aprenda a viver com ele e com
todas as consequências dele. Um filhote de carcará tem garras (não é
culpa dele) então se você for criar um se prepare para quando ele
pousar no seu braço ter proteção, ou ele vai te machucar. Do mesmo
modo alguns problemas se você não matar têm garras, se prepare
para viver a vida com proteção.
Mas se você não tem pulso de ser firme. Se você também não tem
coragem de matar o problema porque não quer enfrentar aquela
pessoa, se divorciar do marido ou botar o filho na linha a base de
castigos e cortes de privilégios dentro de casa. Se você não é caçador.
Não quer treinar pra ser um caçador. Não quer chamar outro
caçador (ver cap. XVIII). Então aceite o problema como sem solução
e as consequências dele.
Esse é o mais difícil porque tem muita mulher que não tem coragem
de se divorciar, mas vai atrás de amante. Isso não é aceitar o
problema. Aceitar o problema é entender que você não tem
capacidade de se livrar de um ruim – nem quer aprender a ter –
então não perca o tempo de um bom. Deixe um bom homem pra
uma mulher que tenha pulso e firmeza de “vou me livrar, vou voltar
a sair, voltar a me arrumar e a me valorizar, e vou encontrar alguém
bom pra mim, pra eu cuidar dele ele cuidar de mim”.
Você toma a vaga da outra pessoa. E assim seria como se você não
fosse caçadora, se envolvesse com um caçador, mas não deixasse ele
caçar.
Nesse sentido, na vida, você tem que entender que existe dois tipos
de pessoas em relação aos problemas: quem vai caçar (e matar) o
problema, e quem não vai. Tem medinho, tem peninha, não gosta de
ver sangue, etc., seja lá o que for, no fim não vai.
Por isso é preciso confiar no caçador que você buscou por ajuda.
Deixar ele fazer o trabalho dele, que é matar aquela onça. Confie nas
pessoas que você pediu ajuda, se elas aceitaram ajudar, é pro seu
bem.
Capítulo XIX – Caçada Completa
Ei pera ai. Você já atirou, mas ainda falta tirar o couro, fazer o
fogo, preparar a carne, comer com farofa, guardar as armas e voltar
pra casa.
Uma caçada não termina com o bicho morto. Isso aprendi, e queria
que todo mundo que critica a prática da caça participasse de uma
caçada completa pra entender. Todo mundo diz “caçar é matar
bicho” sem entender que matar o bicho é um momento, muito curto,
de toda a caçada. Antes de isso acontecer tem todo um preparo:
treinos, escolha de terreno, revisão de equipamento e provisões,
localizar rastros, encontrar o animal. Ai sim mira e atira, e o animal
cai. Esse pedacinho curto. Logo em seguida a caçada continua: você
vai procurar o animal abatido (às vezes não é fácil de achar), vai
trata-lo (caso seja necessário fazer imediatamente) ou vai leva-lo
para seu acampamento pra trata-lo, assar e comer.
Reflita bem sobre a caçada da sua vida. Mas não tenha medo nem do
preparo nem das consequências dela. Não deixe de ser um caçador
na vida porque tem medo de sangue: a caçada vai justamente lhe
ensinar a entender que a vida tem sangue, tem dificuldades, e tem
vitórias. Mas muitas vitórias você só consegue caçando.
Capítulo XX – Fim da Caçada
Mas às vezes a caçada acabou. Não vai morrer nada. Aquele marido
que lhe agride nunca vai deixar de lhe agredir. Aquele patrão que
não te valoriza como empregado nunca vai te valorizar. Aquele
namorado nunca vai oficializar o casamento.
Nunca. O 416 Rigby nunca vai funcionar. Ir a favor do vento nunca
vai funcionar. A melhor espera ainda será descoberta. O melhor
cachorro de caça não da conta.
Se eu puder lhe confortar, eu lhe direi que nesse mundo ainda tem
muito animal pra caçar, muitos tipos, muitos tamanhos, muitas
oportunidades, e você ainda é capaz de puxar a corda daquele arco,
de mirar a balestra, de montar aquela espera, de um dia fazer um
sinto com a pele daquela onça. Pegue sua arma, e vá embora. Em
outro lugar, em outra caçada, você vai ter sucesso. Não se preocupe.
Conclusão
Obrigado por ter me dado sua atenção. Sei que você provavelmente
não estava aqui para ouvir sobre caça. Espero não ter enchido seu
saco muito com esse assunto. Mas também espero ter podido passar
bons conselhos baseados nas coisas que eu aprendi praticando esse
esporte que não só desenvolve habilidades como também coragem
pra tomar certas atitudes firmes.
1 A Hipotese do Caçador
2 Dos métodos de caça, esse é o que menos gosto. Preciso citar o exemplo
para fins do livro, você resolver algum problema da sua vida, mas numa
caçada de verdade, eu buscaria melhorar minha habilidade e
equipamentos.
3 Para um caçador, a natureza não é uma mãe, mas sim uma esposa. Para