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Lições de Vida que

Aprendi Caçando
André B. Morais
Sumário

Introdução................................................................................................... 4
Capítulo I - Deixe ir embora ..................................................................... 6
Capítulo II - 416 Rigby ............................................................................ 10

Capítulo III - Matou, Comeu .................................................................. 13


Capítulo IV - Nesse Mato não tem Tatu ............................................... 17
Capítulo V - A Favor do Vento .............................................................. 20
Capítulo VI - Monte Bem sua Espera .................................................... 23
Capítulo VII - Caçar é Matar .................................................................. 25
Capítulo VIII - Um tiro............................................................................ 28

Capítulo IX - Cachorro Levantador....................................................... 30


Capítulo X - Tiro na Pá............................................................................ 33
Capítulo XI - Preste Atenção na Caçada ............................................... 36
Capítulo XII - Dia do Caçador ............................................................... 38
Capítulo XIII - Desentoca o Bicho.......................................................... 40

Capítulo XIV – Onça e Avoante ............................................................. 43

Capítulo XV - Gato não Caça ................................................................. 46


Capítulo XVI - Armas de Caça ............................................................... 50

Capítulo XVII – Ficar com o filhote ....................................................... 54


Capítulo XVIII – Chama um Caçador ................................................... 57
Capítulo XIX – Caçada Completa .......................................................... 60

Capítulo XX – Fim da Caçada ................................................................ 62


Conclusão.................................................................................................. 64
Notas.......................................................................................................... 65
Introdução

Olá. A prática da caça foi a primeira atividade humana (junto com a


coleta) e a maneira como o homem caça (usando a inteligência,
ferramentas, grupos, organização e previsão) o diferencia em muito
de outros animais. Poderíamos até dizer que foi a caça (e
desenvolver a inteligência para melhorar o sucesso nas caçadas) que
começou com o desenvolvimento do ser humano, e existe até uma
teoria sobre isso1.

Mas não quero neste livro fazer apologia sobre o esporte da caça
(embora você vai notar qual a minha opinião a respeito). Quero aqui
mostrar as lições de vida, pra problemas na vida, que eu aprendi a
resolver com coisas que eu tirei da caça.

Atitudes firmes e decisivas. Preparar-se para um problema. Se


aproximar de um problema de maneira eficiente. Não ter vergonha
nem medo nem nojinho de certas soluções. Ser homem suficiente
para ir até o fim. Ter respeito pelas coisas para não tentar resolver
algo só judiando, e sim com uma solução que mate logo.

Essas e muitas outras lições você pode aprender sendo caçador. Mas
como eu sei que muitos de vocês não vão ter oportunidade de pegar
nas armas de caça e de ir atrás de uma avoante, uma raposa, um
veado, um javali... vou lhe ensinar elas com exemplos.

Vamos conversar sobre como resolver certos problemas que afligem


muita gente. E que as vezes você não tem atitude nem postura pra
resolver. Vou tentar lhe mostrar, que assim como na caçada, na vida
às vezes a postura é tudo, e que muitas vezes é matar alguns
problemas mesmo. Você não precisa se envergonhar, mas sim
aprender a matar com honra, dignidade e eficiência, assim como um
bom caçador aprende a fazer.

Espero que o livro seja útil. Que aqueles que são contra o esporte
não se ofendam, e saibam ver que “opa, ele até que tem razão”. E
que aqueles que praticam e são defensores do esporte tenham o
entendimento reforçado de porque nossa prática – a da caça –
desenvolve o caráter e a atitude do homem.

Todos aqueles que entram no esporte, sem preconceito, mas com


honra, respeito, seriedade e dedicação, só têm a ganhar.

Do mesmo modo, se você der prática a estes conselhos e te preparei,


sem preconceito, mas com honra, respeito, seriedade e dedicação,
você também só terá a ganhar.
Capítulo I - Deixe ir embora

Se num vai matar, então deixa ir embora.

Isso é o que a gente aprende no esporte da caça. Tu tá com teu


melhor arco composto na espera que montou lá no pé da serra da
terra dos teus avós, que tu foi de viagem para a grande caçada do
ano. Então, depois de quatro horas esperando, o veado aparece,
caminhando lá na frente e não aproxima suficiente para uma
distância de tiro de arco. E tu sabe perfeitamente que arco não é
rifle, e o animal precisa está até uma certa distância, senão não há
garantia nenhuma de acertar, e mesmo que acerte, de que o animal
vai morrer. O que você faz? Não dispara, deixa o animal ir embora.

O mesmo em muitas coisas da vida: alguns problemas ou você


resolve bem resolvido, ou melhor deixar ele. É preciso entender que
paleativos e soluções temporárias só pioram o problema.

Se tu der uma flechada naquele veado em longura que não é pra ser
vencida com arco, pode acontecer uma dessas coisas, quando não
acontecer mais de uma de uma vez:

Tu erra o tiro, espanta o animal, ele fica desconfiado e nunca mais


passar por aquela região, estragando tua chance de tentar de novo;

Tu acerta o tiro mas não no lugar mortal do animal, ele corre e vai
morrer lá dentro da serra, te obrigando a ou desistir do troféu ou
mudar de “caçada” para “busca do corpo de delito”;

Tu acerta o tiro e acerta o local mortal, mas por causa da longura, a


flecha não entra fundo como deveria, e o animal corre do mesmo
jeito como se tu não tivesse acertado, pra ir morrer lá dentro da
mata.

´Porém se tu deixa ele ir hoje, e amanhã tu volta pra esperar de


novo, pode ser que ele volte, e chegue perto, na distância de tu
poder dizer “até se eu não tivesse treinado eu num errava uma
flechada dessa e nessa longura a flecha vai é varar ele e ele não vai
conseguir andar nem 10 braças”.

Esperar pela oportunidade certa e, também, não desperdiçar a


oportunidade com uma tentativa meia boca pode ser a única
postura.

O mesmo conselho provavelmente serve para algum problema da


sua vida. As vezes é preciso esperar a oportunidade certa para agir.
A hora pode não ser essa. Imagine que você vai pedir um aumento
ao seu patrão, por está insatisfeito com o que ganha com o cargo que
possui. Ai eu te pergunto: adianta chegar no teu patrão pra pedir
aumento frouxo, ouvir um não, e ter que sair “tá bom, desculpa
incomodar o senhor”. Já imaginou se tu esperar a oportunidade
certa (se preparando também - ver Cap. VI) e poder fazer o pedido
calçado de uma outra proposta de emprego que você conseguiu:
“Patrão, vim conversar sobre um aumento de salário, pois já faz
algum tempo que trabalho para o senhor, estudei, fiz graduação,
evoluir meu currículo, me especializei, e infelizmente não está
dando para continuar perdendo oportunidades que estão surgindo
para um profissional como eu.” Uma segurança como essa e,
principalmente, se você realmente for um funcionário de valor, pode
fazer seu patrão imaginar “epa! ele deve tá recebendo propostas” e
pensar melhor no seu aumento.
Mas você deve estar se perguntando, claro, e se ele disser “então vai
atrás dessas oportunidades”, você não tá perdendo. E eu lhe
respondo: pode ser que não. Veja que se você fizer da maneira que
lhe disse, com uma proposta alternativa ao alcance e segurança, e
solicitando o aumento com segurança, firmeza, você tem uma
chance maior de receber uma resposta séria, clara e objetiva. Muito
melhor do que perguntar feito um bobo e ouvir desculpas
esfarrapadas. E muitas vezes é melhor ouvir um não claro e direto e
saber que “nesse mato não tem veado” do que ficar se enganado
com desculpas.

Vou lhe dar outro exemplo. Imagine que você está num namoro,
tudo vai bem, e depois de dois meses de namoro você já começa a
pensar em casamento e morar junto. Ora, não é a hora! Homem
nenhum namora hoje pra casar amanhã. Então, não fique
aproveitando toda oportunidade que você acha que tá na sua frente
para soltar as indiretas “amor quando a gente casar vamos ser tão
felizes”. Você só consegue com isso ser chata e ficar beliscando um
assunto que a maioria dos homens não quer conversar agora. Não
belisque, espere o tempo de dar a flechada. “Então, amor, a gente
namora sério faz dois anos, já tá na hora de a gente financiar uma
casa.” E você vai poder pegar o namorado no pulo. Se ele enrolar,
talvez seja o caso de entender que “nesse mato não tem veado”.

Finalmente entenda que nem todo problema precisa ser resolvido de


uma vez. Você pode entender que o seu caso é de ir tentando aos
pouquinhos, ganhando terreno, como o caçador que vai contra o
vendo (ver Cap. V). Mas entenda que nesse caso ainda obedece a
mesma lição: não desperdice seu tiro antes de chegar na hora certa, e
só atire pra valer. Se não não era a hora certa ainda..
O que faz uma boa caçada é um bom caçador, que faz da sua caçada
uma boa caçada. Isso também na vida. O que faz uma vida boa é um
bom vivedor, que faz da sua vida uma boa vida. E você faz isso não
desperdiçando as oportunidades. Já são tão poucas, não é mesmo?!
Capítulo II - 416 Rigby

Tiro garantido: mata desde javali até rinoceronte.

A África é o paraíso para um caçador, com animais grandes, e


perigosos. um leão, um rinoceronte, não é bicho pra você atirar e
não derrubar. Derrubar mesmo, que é pra não dar chance de ele
partir pra cima de você. Por isso, pra caçar esses grandes animais,
você precisa de uma arma com calibre forte e de pancada violenta.
Usar por exemplo um calibre fino, que vai furar o animal e
atravessar ele, raramente é a escolha correta. É preciso um calibre de
impacto, para que além do ferimento, o animal receba um choque
suficiente para garantir que além de sucumbir ao ferimento da bala
ele não tenha tempo de reagir lhe atacando. Um dos calibres
recomendados para esse tipo de caçada é o .416 Rigby, um calibre
extremamente forte e de impacto, especialmente inventado para
caçar grandes e perigoso animais, este calibre é tão forte, que se você
estiver caçando um leão e não acertar no local ideal, mas próximo, é
garantido que o bicho vai ao chão já morto.

Entenda que isso só acontece com os animais perigosos da África,


que representam um perigo para o caçador. Caçar um desses sem
preparo e sem a arma adequada, pode representar um perigo grave,
inclusive a morte. O caçador precisa ter a certeza de que quando
puxar o gatilho o animal vai ao chão.

Na vida também temos problemas muito sérios, que representam


perigo para nós e para outras pessoas (seja espiritual ou até mesmo
físico); problemas que são grandes e onde não se deve tentar uma
solução pela metade. Problemas em que você deve aplicar uma .416
Rigby.

Vamos para um exemplo extremo. Seu namorado ou marido se


tornou alcoólatra, e quando bebe grita com você ou pior, já lhe bateu
ou lhe forçou ao sexo. Eu sei que o relacionamento é um vínculo,
principalmente um marido pai de seus filhos, mas casos como esses
quase sempre exigem uma solução forte, que não permita nenhuma
reação. Se foi só levantar a voz, principalmente depois de uma
conversa com ele em que você disse que se ele fizesse de novo você
tomaria providências, tome: chame os pais, os amigos, e confronte a
pessoa de tal modo que ela não tenha como reagir. “Meu filho,
ficamos sabendo do absurdo que você está bebendo e gritando com
a mãe de seus filhos. Vamos ficar de olho em você agora, então
encontre outro destino que não seja o bar.” Se ele chegou ao extremo
da agressão ou forçar o sexo - dois absurdos sem perdão para os
valores que defendo - é caso de divórcio, polícia, e ordem do juíz pra
não chegar nem perto.

Em um exemplo menos extremo, mais igualmente válido. Imagine


que você está num relacionamento que já está durando muito além
do normal, mas que não partiu pro próximo passo. Um homem
adulto querer namorar por dois, três anos, tudo bem. A depender da
idade dele. Mais oito, nove anos, te enrolando toda vida com “não
tenho casa ainda” mas não tá em busca de uma, “meu emprego não
é tão ruim” mas não tá estudando para um concurso, ou, a minha
preferida!, “não acredito nessa instituição social burguesa de
casamento” mas então você responde “tou nem ai pro que você
acredita, quero a segurança do papel passado, aliança no dedo pra
mostrar pra a família e amigos, construir um patrimônio a dois”.
Nesse caso, principalmente nesse caso que todo mundo sabe que é
enrolação mesmo, e principalmente quando já aconteceram várias e
várias conversas que não mudaram a situação, e principalmente
duplamente: o fator do tempo, não é nove meses de namoro, são
nove anos. Isso tudo exige um 416 Rigby. Chama ele, senta pra
conversar decidida, e aplica “embaixo da pá” dele, “olha,
namoramos a nove anos, e não nove meses, fui sua namorada
carinhosa e prestativa por todo esse tempo, investi nesse
relacionamento, e nunca escondi de você que queria o compromisso
de papel passado, formal, se precisa de casa vamos trabalhar juntos
por uma, se precisa de renda melhor vamos juntar nossas duas e se
faltar vamos enfrentar a falta juntos e correr atrás de mais dinheiro
juntos, e nem entre no assunto de precisar mais tempo pra me
conhecer porque o tempo que estamos juntos foi mais do que o
suficiente para isso, precisamos resolver o que vai ser desse
relacionamento, porque eu não vou investir mais em algo que não
chega a uma conclusão”.

Perceba que nos dois exemplos que demos, não resolver logo de
uma vez é um risco. Você arrisca permitir que teu namorado
encontre mais uma desculpa para ganhar mais tempo, como por
exemplo “a gente casa depois que encontrar uma casa pra a gente” e
no fim o processo de encontrar essa casa demora um ano porque
“ele quer a casa perfeita”. Você arrisca, não tomando uma atitude
com um marido bêbado agressor, a tomar uma surra pior.

Uma solução definitiva e garantida, um tiro de 416 Rigby, por mais


difícil que possa parecer puxar esse gatilho, muitas vezes é a única
solução. Resolver logo. Matar logo o problema. Mais um ano pra
casar?! Você não merece isso. Certeza tem alguém especial por ai
que não vai te adorar. Apanhar de novo daquele filho-da-puta?!
Você não merece isso. Certeza tem alguém especial por ai que vai
beijar teu corpo como algo sagrado.

Uma caçada de bufalo na África não é uma caçada de passarinho no


terreiro da casa de vô. É uma caçada séria. Com consequências caso
você vacile. Do mesmo modo algumas coisas na vida são muito
sérias. Não é como o dilema de escolher entre uma calça ou uma saia
para aquele jantar de domingo na casa dos pais. Seu futuro pode
continuar ruim, mudar pra pior ou deixar de mudar pra melhor caso
você não tome uma decisão firme.

Analise, pensa conselhos as pessoas que você mais confia, mas tente
abrir os olhos, que é a parte mais difícil: talvez você esteja na frente
de um “búfalo africano” de problema, e nesse caso você precisa de
uma solução de calibre garantido.

Capítulo III - Matou, Comeu

Caçador que mata, come.

Essa é a parte que até quem critica a caça consegue pelo menos ver
razão. Se é pra matar um bicho, se alimente dele. Nunca mate só por
matar: isso não é digno do esporte da caça. Esse é um ponto
defendido pelos caçadores mais honrados: o final de toda a caçada é
a panela ou a churrasqueira. Caçar só pra pendurar a cabeça do
animal de troféu na parede, ou pra ter aquela foto posando de fodão
não é um bom exemplo para o esporte da caça. Claro, você pode
caçar para aproveitar a pele do animal; pode caçar aquela raposa
que está comendo as suas galinhas e lhe causando prejuízo; mas
matar só por matar é matar só por matar, e não caça.

Do mesmo jeito na vida da gente. Às vezes acontece de ter uma,


duas ou mais coisas na nossa vida que são só de enfeite, que a gente
não usa como deveria usar, que a gente não aproveita como deveria,
ou pior ainda, que quem usa ou aproveita é outra pessoa e não você.

Por isso eu lhe pergunto:

Que graça tem levar uma namorada de moto para um passeio sem
ela está abraçadinha com você?

Pra quê namorar sem paixão de beijo, carinho e sexo?

Pra quê trabalhar e ter que sustentar que não trabalha de


vagabundo? Deixando de gastar dinheiro com você que suou por
ele?

Pra quê ter um sapato pra festa e não ir pra festa?

Pra quê ter um noivo que não casa?

Pra quê usar aquela lingeriesupersexy pra uma noite de luz


apagada?

Pra quê ir no motel e não experimentar gosto de putaria?

Eu poderia lhe dar vários outros exemplos. Mais em resumo. Tudo


nessa vida tem uma utilidade. E para algo estar saudável na sua
vida é preciso que ela funcione bem. Ninguém gosta de um
computador que fica travando: chega uma hora que é preciso
formatar ou pensar em trocar por um mais novo melhor. Do mesmo
jeito uma esposa que sente dor de cabeça com frequência justamente
na hora de dormir, ou um marido que nem nota que tu está
dormindo naquela calcinha deliciosa vira do lado e dorme. Tem algo
errado! Tá na hora de formatar ou pensar em arrumar um novo.

O conselho neste capítulo não se refere a como você vai resolver o


problema. Para isso você pode usar outras sugestões de outros
capítulos, como um 416 Rigby, por exemplo. “Amor da minha vida,
você está sobrecarregado no trabalho ou está com algum problema
fora de casa? Se não estiver, então me explica por que você firou
gay/lésbica e deixou de gostar de homem/mulher!” E olha que eu
usaria palavras bem menos delicadas se algo assim estivesse
acontecendo comigo.

O conselho neste capítulo se refere na verdade a lhe dar uma forma


de entender que algo está com um problema: se não está
funcionando como deveria. E pode parecer besteira, mas muita
gente se acostuma com coisas que não estão como deveriam.
Principalmente se chegaram até o “não deveria” devagar, de
pouquinho a pouquinho. Voltando ao exemplo da esposa/marido.
Uma noite cansado; ele não te procura, ela não se entrega; mais do
que normal. Mas vai se acumulando, virando rotina. “Epa! Não
casei pra rolar menos do que quando eu namorava!”

Nesse caso reforço que não estou lhe apontando a melhor solução,
mas estou lhe dando uma maneira de avaliar se algo está com
problema. O caçador que mata, come. Não precisa ter nojo, não
precisa achar esquisito, não tem nada de feio nisso, pelo contrário:
existe mais honra em matar, tratar, preparar e comer um capote, do
que comprar no supermercado uma bandejinha de carne de galinha
que foi criada numa fazenda industrial. E mais saudável até (embora
eu não queira aqui entrar no mérito da honra que existe na caça -
tem muitos bons livros sobre o assunto).

Do mesmo modo. Você não precisa ter nojo, se sentir culpado(a),


achar esquisito ou normal algo que não está funcionando direito.
Não há nada de errado no sexo, principalmente entre casados,
parceiros que conhece o tamanho das partes e os limites um do
outro. Não existe uma chupada, lambida, metida, puxão de cabelo,
que feito com amor e compromisso seja nojento. Afinal, “um tapinha
não dói”. O que dói é desejar um corpo que deveria ser seu (afinal
casou comigo, não foi), mas que não funciona, e começar a se
questionar “não gosta mais, não deseja mais, ou fui eu que perdi o
gosto”.

Meu conselho, neste capítulo, é que você entenda que algumas


coisas na vida precisam funcionar, que não há nada de errado nisso
(ver Cap. VII). Se não funciona, e principalmente se não funcionar
está tornando a sua vida menos do que ela poderia ser, você precisa
que aquilo funcione. Ou então é caso de um 416 Rigby.
Capítulo IV - Nesse Mato não tem Tatu

Caçador precisa saber onde pode existir tal animal, e onde


provavelmente não tem nenhum, senão só vai perder tempo caçando
tatu em mato de preá.

Não perca seu tempo! Quer conselho melhor do que “não perca seu
tempo”. Mesmo que seja conselho batido: teu pai já deve ter lhe
dado, teus amigos, vizinhos, até aquela pessoa que não gosta de
você “não perca seu tempo tentando me irritar”. A vida é curta. As
oportunidades são contadas, pra tu tá perdendo teu tempo com algo
que não vai render frutos.

Preste bem atenção! Porque preciso explicar bem a diferença. Uma


coisa é perder seu tempo com algo que não vai render frutos (nesse
mato não tem tatu). Outra coisa é um problema que tem solução sim
basta aplicar uma solução bem aplicada sem arrudeios (416 Ribgy -
cap. II). Uma terceira coisa (diferente das outras duas) é um
problema que se resolve aos poucos aos poucos, preparando bem o
terreno (monte bem sua espera - cap. VI), não perdendo tempo com
soluções meia boca (deixe ir embora - cap. I) nem brigando muito
com coisas que não vão resolver (indo contra o vento - cap. V).

Cada um desses outros casos tem seu capítulo e explicação. Perder


tempo aqui significa conseguir identificar onde não tem jeito mesmo
de resolver, se conformar e tentar em outro lugar. Um caçador
nordestino nunca que vai encontrar no pé de serra de Exu um Leão
Africano pra caçar. Tolice dele se sair procurar, mas nesse caso é
claro que ele não vai: muita burrice, já voltando depois de umas
férias de seis meses na casa da loucura.
Mas você vai se surpreender o tanto de coisa na vida que a gente
continua “caçando tatu” onde não tem.

O ciúme é um ótimo exemplo. Muitas vezes você não encontrou


nenhum motivo para ciúme real nem recebeu motivos criados pelas
atitudes do seu companheiro. Mesmo assim muitas pessoas não
conseguem controlar os ciúmes e isso afeta o relacionamento. Elas
literalmente “caçam tatu onde não tem”.

Mas são muitos outros os exemplos. Você rapaz pode está numa
amizade com aquela moça linda, que só sai com playboys, embora
lhe conte em conversas amigáveis que busca alguém romântico e
que ouça ela e valorize os sentimentos dela. Conversa amigável, isso
mesmo, porque você não passa de um amigay, amigo gay, amigo a
quem ela ver como tudo, menos como um homem para ter um
relacionamento amoroso e sexual. Nesse caso, tu é que tá caçando
“tatu” onde não existe.

Nesse ponto é importante primeiro se perguntar: não tem tatu


mesmo nesse mato ou tá escondido. Se estiver escondido, o que
pode sim está acontecendo, talvez seja hora de trazer um Cachorro
Levantador (cap. IX) pra que ele te mostre onde tá a praga desse
tatú. Uma tentativa de solução 416 Rigby seria chamar a moça que tá
te fazendo de amibaitola e aplicar na pá “olha, não estou aqui pra
ser se amigo, quero ser mais que isso, quero ser seu namorado, e
gostaria de lhe chamar pra sair”. Ela vai lhe dizer um sim ou vai lhe
provar que ali não tinha tatu mesmo. Já uma tentativa de solução
Cachorro Levantador (se você não é homem pra usar uma 416
Rigby) seria esperar ela lhe procurar novamente e responder “olha,
você é uma pessoa especial, e eu lhe admiro muito, e merece um
namorado melhor, eu também sou alguém legal e mereço uma
namorada, então se você não consegue ver em mim uma
possibilidade, eu quero procurar quem vai me ver não como só
como uma possibilidade, mas vai me tomar como realidade.” Você
não foi direto, não aplicou tiro forte nenhum, provavelmente vai
levar um fora do mesmo jeito (porque mulher que faz homem de
amigay geralmente não quer assumir como macho) mas pelo menos
você mandou teu cachorro.

De todo modo é importante sempre ter em mente duas coisas nas


caçadas da tua vida. Primeiro, não entrar em mato que não tem tatu.
E tem muitas maneiras de saber isso se você “prestar atenção na
caçada” (cap. XI). Mas nem tudo é perfeito, e se você entrou numa
situação em que você achou que tinha tatu, mas não tem, soltou o
cachorro, mas ele voltou sem nada, não tem tatu mesmo, é
importante que você procure outra coisa pra caçar dentro daquela
situação (você precisa do dia do caçador - cap. XII) ou pega tuas
ferramentas e vai caçar noutro lugar amigo(a), porque nesse mato
não tem tatu.
Capítulo V - A Favor do Vento

Tu só vai pegar aquele veado se aprender a ir favor do vento.

Existe duas maneiras principais de se caçar um veado: com espera


(que vamos explicar no capítulo seguinte) ou indo a favor do vento.
Ir a favor do vento é se aproximar do animal sempre com o vento
batendo no rosto, soprando em sua direção, e com o veado na frente.
Assim o cheiro dele é que vai ser levado até você e não o contrário.
Porque se o veado for quem estiver a favor do vento (o vento está
indo de você até ele) ele vai te cheirar na lonjura, vai pensar “i ó o
besta querendo vim pra mim com o vento a meu favor, vou deixar
ele me ver só pra ter o gostinho e vou picar a mula”. E não se
engane, isso é muito difícil: o caçador ficar concentrado em chegar
perto do animal sem fazer barulho e ainda ficar constantemente
levando em consideração onde ele e o animal estão em relação ao
vento.

Na vida também existem situações que você deve entender “o vento


tá contra mim, preciso mudar de posição antes de se aproximar
mais”. E entender isso e se ajustar pode ter vários benefícios para
você.

Em primeiro lugar pode evitar que você espante a sua “caça” (seu
objetivo). Por exemplo, teu patrão tá puto de raiva e visivelmente
mal humorado. É a hora de pedir um aumento? Só se tu tiver com
vontade de uma demissão também. A situação não tá favorável.
Mas o principal deste conselho que lhe dou é você entender que tem
problemas na sua vida que não se resolvem indo de A até C, mas de
B até C. O caminho é outro, não esse que você tá seguindo.

Um filho que não quer nada com a vida, por exemplo: não estuda
nem trabalha nem tem ambição de trabalhar. Você provavelmente
não vai resolver essa situação indo de A (deixar ele cair em si na
vida) para C (“mãe, vou atrás de um trabalho”). Isso pode demorar
muito e cada dia que passa C fica mais longe. Talvez o único
caminho certo nesse caso seja ir de B (“filho, você já é grande, vai
pagar por seus luxos”) pra chegar até C (“nesse caso vou ter que
arrumar um emprego”). O resultado C foi atingido: trabalho. Mas
talvez se você continuasse pelo caminho A, a tua “caça” ia escapar e
escapar e escapar e talvez - talvez! - cair morta de cansada antes de
você realmente ter atirado nela (Veja também conselho do capítulo
XIII para esse caso).

Também dentro desse conselho está não fazer alarde para uma
solução futura que você está planejando. Não deixar que o causador
do problema note que você está atrás dele, pois nesse caso ele pode
fugir. Um exemplo disso seria uma auditoria em que você está
buscando um ladrão na empresa: não fale que tá buscando um,
procure na surdina.

Às vezes você fica discutindo e discutindo e sabe que depende de


outro pra resolver um problema e a outra pessoa não resolve e a
única coisa que você consegue obter é se tornar o chato da história.
Matar o veado (problema) que é bom nada. Ficar falando,
apontando erros, em algumas circunstâncias é o mesmo que ir atrás
daquele veado contra o vento, ele tá te cheirando toda vida e se
afastando e tu não resolve. Vá a favor do vento e espere a hora exata
de aplicar um bom tiro na pá (cap VIII).

O importante é entender que na vida não é por indo por aqui que
você vai resolver um problema, chegar em um objetivo final. O
modo que você se aproxima desse problema muitas vezes conta
muito. Como você está agindo pra chegar até aquele objetivo é que
vai determinar se você vai chegar lá, ou se ele vai sentir o seu cheiro,
ri, e ir embora.
Capítulo VI - Monte Bem sua Espera

Pra pegar o tiú, monte bem sua espera na frente do galinheiro.

O tiú, ou tejú, é um lagarto que ataca galinheiros, comendo os ovos


da galinha. Ele vem normalmente entre dez horas da manhã e meio
dia, por algum caminho que ele usa todo dia. O bom caçador deve
por isso montar a sua espera próxima do galinheiro, para poder
esperar pelo tiú. Se montar muito longe, pode ter dificuldade de
acertar o tiro. Se montar muito perto pode ser visto pelo animal.

A preparação para resolver um problema na vida muitas vezes é


mais importante do que resolver, porque nesse caso a solução do
problema está intimamente ligada a preparação.

Como exemplo, basta pedir para você pensar em um vestibular ou


concurso. Passar depende de você se preparar bem para eles,
estudando. Não adianta decorar as respostas de uma prova, porque
no fundo você não terá passado, apenas dado sorte. Do mesmo jeito
que um agricultor pode tropeçar num tiú e no susto conseguir matá-
lo com sua foice: isso não foi uma caçada foi sorte.

O mesmo pode ser dito para outras coisas na vida. A solução do seu
problema pode estar na preparação. Um relacionamento que não
anda, por exemplo, ele não casa e fica inventando mil desculpas,
como por exemplo “não temos casa”. Procure conquistar sua própria
casa, para poder com a casa dizer “e ai qual desculpa agora?”, você
pode conseguir a casa e reparar que “não precisa daquele traste pra
isso”.
Principalmente, preparar uma espera, e principalmente esperar pelo
momento certo, pode ser a garantia que você precisa para dar um
tiro com mais segurança no seu problema, principalmente até o 416
Rigby.

Voltando ao exemplo do relacionamento. Você começou a namorar


com alguém com planos de casar (ele não aparenta está interessado).
Não adianta também dar o 416 Rigby na doida, porque ele pode
dizer “oxe tem um monte ai de moças com mais futuro que eu posso
namorar sem tá sendo aperreado”. Mas experimente investir em
você, fazer uma academia, estudar e melhorar seu emprego, usar
roupas mais sexies, perder a timidez na cama (todo homem gosta,
não dá pra esconder), então quem vai poder dizer “tá cheio de
homem ai querendo uma mulher gostosa e resolvida na vida que
nem eu, e ai vai se resolver ou não”.

Um tiro desse é completamente diferente. Porque é como dizem:


você preparou a sua casa pro povo querer vim visitar ela e morar.
Ou então: quer atrair as borboletas, cuide bem do seu jardim. É
piegas, mas em resumo, se preparar é muitas vezes resolver o
problema. E quando não é, é noventa por cento, daí é só você não
deixar o seu tiú passar, comer os ovos, e voltar sem você matar.
Capítulo VII - Caçar é Matar

Caçar é matar bicho. Quem não quer matar bicho não seja caçador.

Quem não quer matar bicho não seja caçador - nem coma carne,
porquena verdade ou você realmente é bobo de acreditar que as
carnes que você compra do supermercado vieram todas de animais
que cometeram suicídio ou morreram de causas naturais (o
fazendeiro ficou esperando morrer pra só depois partir e colocar na
bandejinha) ou você é daquelas mocinhas “como, mas se fosse pra
eu matar morria de fome”, mas que segue ávido pra qualquer
churrasco que é convidado.

Não vou entrar nas discussões éticas sobre caça. Até porque este não
é um trabalho de caça. Mas usei o exemplo pra apontar que a grosso
modo: caçar é matar. Se tu vai no mato com uma câmera pra
fotografá, isso tem outro nome. E se tu foi com a arma querendo ser
caçador, atirou num animal, e não aguentou ver ele morrendo, essa
prática não é pra você.

Do mesmo modo, na vida, alguns problemas, só se resolvem


matando. Um casamento que acabou só se resolve com o divórcio;
um namoro que sofreu traição só se resolve com o término dele,
senão vão ter outras escapadas; uma amizade baitolada (amigay) só
vai virar namoro se você algum dia confrontar a dita dizendo que
quer ser mais que só amigo; fome só se resolve comendo.

Pra fome é bom demais e fácil. Coma! Mas pro resto a gente tem a
tendência de tentar ficar procurando outra solução que não seja
matar o problema.
A esposa/marido fica mantendo o casamento por causa dos filhos ou
convenções sociais, enquanto o mesmo vai definhando cada vez
mais. A namorada ainda apaixonada e achando que aquele é o único
homem que vai fazer ela feliz perdoa e em muitos casos está
praticamente dando carta branca pra ele perdoar de novo (se fizer e
eu ficar sabendo eu termino mesmo não tendo tido coragem de
terminar desta vez). O amigay fica imaginando “e se eu perder a
amizade” mesmo estando apaixonado e vendo sua paixão correr
atrás (ou sendo apreciada) por outros.

Mate o problema, amigo(a). Mate! Se você não matá esse tiú, se você
não matar essa raposa que ataca teu galinheiro, amanhã ele vem
beber ovos e ela vem comer as galinhas. Mate! Você resolve
matando. Não vai atrás de pegar vivo e jogar lá longe, porque
voltam. Não procure alternativas. Você sabe que não tem. Pegue sua
arma, vai lá, e mate.

Claro que essa é só uma ilustração. A raposa capturada e jogada


longe talvez (talvez) não volte (dependendo da lonjura). Mas o
ponto é: você precisa ter coragem de encarar que as coisas como elas
são. Caçar é matar bicho. Eu caçador me armo, vou atrás do bicho,
encontro o bicho, disparo contra ele, e o mato (e depois como,
claro!). É isso que é a caça. Do mesmo modo, alguns problemas você
já sabe a solução: a morte.

A morte! A morte de uma situação que já tá morta. A morte de um


casamento que já morreu, vocês tá junto com um corpo que não tem
coragem de matar. Um namoro que já no namoro (começo de
relacionamento) e teu namorado precisa ir atrás dos serviços de
outra já está morto, acha que daqui a 10 anos de rotina vai ser como.
Uma amizadegay em que você não quer ser mais só amigo já está
morta como amizade, você só não tem coragem de largar essa
amizade botar uma roupa ir pra uma festa e ir atrás de alguém que
lhe preste o serviço que você está buscando.

E entendo muito bem porque você pode não querer matar o


problema, mesmo que não esteja feliz com ele. Nós temos medo de
soluções fortes. Matar um bicho, nunca caçada, significa que não só
atirar. Significa que você vai pegá-lo, vai tratá-lo (se for ave tirar as
penas, se for mamífero vai tirar a pele), vai carneá-lo (partir os
pedaços do mesmo modo que faria com uma galinha caipira), vai
cozinhar ou assar e vai comer.

Do mesmo jeito, para matar um problema você precisa entender que


não é só dar um grito “chega não aguento mais”. Você vai pegar o
problema morto (assumir o divórcio, o fim do namoro, o fim da
amizadegay), vai tratá-lo (vai aprender a viver sem esse problema
ou com as consequências de ter se livrado dele, como ficar sozinho),
vai carneá-lo (vai arrumar outro marido, outro namorado, uma
namorada de verdade que não te faça de amigay, e se não vai lutar
pra conseguir), e vai cozinhar ou assar e comer (vai seguir em frente
seja qual for a consequência).

Mas por mais que você corra, por mais que você tente buscar
alternativas. Alguns problemas não tem jeito: precisam ser mortos. E
se você não matar, os problemas vão continuar do mesmo jeito, e
sua vida do mesmo jeito também, com problema.
Capítulo VIII - Um tiro

Você que é caçador, saiba: você só tem um tiro.

Você tem um tiro para matar um veado. Se você errar o lugar


mortal, ele vai morrer lá longe de você não achar nunca. Se você
errar completamente, ele vai correr e talvez nunca mais pise ali de
volta. Por isso é que se diz que em caça temos um tiro apenas para
cada animal, o segundo seria no máximo para o tiro de segurança ou
misericórdia. Não se caça com uma metralhadora, atirando para
todo lado e vendo se algo cai. Caçar é ter habilidade de se aproximar
do animal, mirar bem e com calma e segurança, e matar o animal
com honra. Mirar bem e fazer valer o tiro é uma prova que você tem
honra no esporte, afinal você está causando a morte daquele animal,
então que seja o mais rápido e eficiente possível.

Do mesmo jeito a vida muitas vezes exige honra de você resolver o


problema real, e bem resolvido, e não ficar metralhando pra ver se
algo cai. Vou lhe explicar com dois exemplos.

Primeiro: imagine que você vai dividir a casa com alguém que têm
hábitos diferentes do seu. Segundo: imagine que você está em busca
de uma namorada.

Metralhar nesses dois casos só causa prejuízo. Brigar por toda coisa
diferente que seu companheiro faz não leva a nada. Só ao desgaste e
talvez alguma mudança a força. Sim, caiu um pato baleado, mas
também tu metralhou a árvore inteira feito um doido. Bonito e
correto seria se você tivesse observado bem, localizado o pato, e
atirado nele: um pato, um tiro. O rapaz que busca por uma
namorada e metralha pra todo lado dando cantada em toda moça
que aparece na frente não vai pegar ninguém a não ser a fama de
rambo: atira pra todo lado. Talvez até uma queira, mas esteja vendo
que tá desesperado e isso desvaloriza. Novamente pode até cair o
pato, mas muito melhor seria “um pato, um tiro”.

Vou lhe explicar “um pato um tiro” pros dois casos. Entenda que
seu companheiro é diferente de você, tem coisa que você vai ter que
se adaptar ou ignorar, então faça uma lista do que realmente
incomoda, o que realmente atrapalha ou causa prejuízo, e ao invés
de reclamar de tudo converse e deixe claro: “tá aqui os patos
(problemas) que tem pra matar (resolver)”. É muito mais racional e
justo e mais fácil de colocar em prática sem desperdiçar “bala” com
brigas por coisas que talvez não importem tanto.

Ajudando o rapaz nosso amigo. Se ele procurar bem e tentar olhar


quem é que dar alguma bola pra ele ou combina com ele. Se depois
disso ele investir na moça. Conversar. Trocar olhares. Dar uma flor
ou uma lembrança. Não só ele vai ter a confirmação, ah sim, é pato
mesmo, como também ele vai poder na hora de dar o tiro, pedir ela
em namoro, ter maior garantia que o tiro vai pegar.

Foco é também o principal deste conselho. E é uma das coisas mais


importantes hoje em dia e mais difíceis de a gente ter e manter. Se o
problema é aquele, localize-o bem, mire bem nele, e atire nele. Veja
melhor sobre foco em “Leão não é Avoante” Cap. XIV.

Na vida você tem que entender que nem tudo é problema, por isso
não adianta você caçar a solução para tudo. E também que atirar pra
todo lado não é solução para aquele problema que tá na sua frente.
Capítulo IX - Cachorro Levantador

Todo mundo sabe que só se caça codorniz com um bom cachorro


levantador.

Para caçar codorniz com uma espingarda, é necessário que você


utilize um cachorro levantador. Ele irá procurar a codorniz (que é
perfeitamente camuflada no ambiente) e vai fazer ela voar, e no voo
você derruba ela a tiro. Qualquer outro método torna a caçada bem
difícil, quando não impossível. Se você não usar o cachorro, mesmo
com a espingarda pode não conseguir perceber a codorniz a tempo.

O cachorro levantador, na verdade qualquer cachorro caçador, é o


melhor amigo do caçador. Não adianta ter uma 12 ou o rifle mais
potente e não saber pra onde atirar. Do mesmo modo que muitas
vezes na vida você não tá vendo o problema, mas alguém está, ou
alguma coisa pode fazer o problema aparecer.

Imagine (e isso aconteceu comigo) que você tem uma namorada que
ficou estranha com você. Você procura melhorar sua atitude, seu
carinho, tenta investir naquela namorada e no relacionamento, pois
ama ela, mas parece que não funciona.

É falta de carinho?! Você se pergunta, e acaba dando mais carinho e


ela reclamando que tu tá grudento. É falta de participar da vida
dela?! Você se pergunta, e procura participar mais da vida dela, e ela
fecha a porta da casa pra você.
Né nada disso não, seu corno! Certeza tem outro macho na história,
tu que não quer enxergar. Você já deve ter ouvido isso de amigo. Eu
já ouvi. E não quis ouvir.

Sempre confie no seu cachorro levantador. Sempre.

Reforço. Sempre confie no seu cachorro levantador.

Se ele latiu, é porque tem algo nesse mato.

A cegueira é o que atrapalha mais pra resolver um problema, junto


com a incompetência de atirar.

Tua filha é sem futura e não ajuda em nada em casa. Eu posso te


falar atire um 416 Rigby nela e diga “se quiser dinheiro pra comprar
roupa ou pra ir pra festinha pode começar a ajudar em casa”. Não
adianta se tu não consegue ver que é um problema que precisa de
um tiro. Pior ainda se tu disser “sim eu sei que é um problema, mas
não consigo atirar” porque ai a história é longa e outra.

Nos dois casos o teu cão levantador tá sendo é besta. Ele late e
levanta “olha um uma codorniz ai” e tu não atira porque “é pra
atirar, não, deixa quieto, deixa a bichinha ir embora” ou então “ai
cachorrinho, não consigo puxar o gatilho”. Muito justo era o teu
cachorro te dizer “pois então porque que tu veio pra caçada e trouxe
um cão de caça infeliz me deixasse em casa lambendo o saco que eu
ganho mais”.

Aprenda nessa sua vida que quando alguém (uma mãe, um pai, um
grande amigo, um amor) lhe disser que algo é um problema e você
precisa resolver. Confie no seu cão levantador. Precisa resolver.
Principalmente quando não é só um cão levantador, mas todos os
que você tem. Quando é mais de uma pessoa lhe dizendo “isso não
tá certo, algo precisa ser feito”.

Continuar ignorando o problema é não só não cuidar de você -


porque você tá com um problema sem solução - como também
desrespeitar o seu cão levantador / cães levantadores.

Uma hora teu cão levantador se cansa de tá latindo pra você atirar
naquela codorniz / alguém de confiança se cansa de tentar te
explicar que precisa matar aquele problema.

(Veja o capítulo XV para mais utilidades de um cachorro na sua


vida).

Não deixe isso acontecer. Confie no seu cão levantador. É ele quem
está lá por você, para te ajudar na caçada.
Capítulo X - Tiro na Pá

Mire bem na pá do veado, que é o lugar mortal.

Quando se está caçando um veado, principalmente se você estiver


caçando de arco e flecha, tecnicamente falando só existe uma
posição e um lugar para mirar e acertar uma flechada segura. Com o
animal de lado, acertar bem ao lado do ombro, na região do
pulmão/coração, que é o que os caçadores chamam de pá. Uma
flechada alí irá provavelmente perfurar os pulmões e, com sorte,
ferir o coração, garantindo uma morte rápida. Acerte na cabeça e a
flecha certamente não vai penetrar. Acerte no estômago e o animal
vai demorar horas até dias pra morrer. Acerte nas patas e é o mesmo
que nada. Qualquer outro lugar que não seja ali, e a caçada não vai
terminar bem: o animal não vai morrer rápido e você vai ter que ir
atrás dele no meio do mato.

Do mesmo modo, alguns problemas na vida tem apenas uma


solução. Soluções alternativas podem não só resolver o problema de
verdade como permitir outros problemas.

Vamos usar o exemplo de alguém que é viciado, alcoólatra. Se


realmente ele é viciado e não consegue se controlar, então só há uma
solução: parar de beber completamente. Diminuir a bebida pode até
parecer que tá funcionando e no fundo está apenas adiando a
próxima recaída.

Usar o exemplo de uma esposa dondoca que não trabalha e é


sustentada pelo marido, mas que recebe dinheiro pra tudo que quer:
compras no shopping, salão de beleza, etc. Se o marido quiser uma
esposa de futuro, precisa realmente acabar com a vida boa da
mulher e botar ela pra trabalhar pelo que ela deseja, se não fizer isso,
vai ter só desculpa ou ainda vai ser botado pra dormir no sofá por
não ter comprado aquele vestido. Minha filha eu já te sustento e tu é
uma dondoca, se não for boa na cama vou caçar uma que preste
melhor o serviço e seja mais barata, só o que tem na rua é mulher do
seu tipo.

Este conselho é principalmente para que você entenda que às vezes


não adianta se contentar com meia solução para um problema.
Acertar no estômago do veado pra tentar matá-lo. O lugar é na pá:

Quem não tem futuro, precisa de futuro, não de educação;

Quem não tem trabalho, precisa trabalhar, não de faculdade;

Quem não tem pai, precisa de um pai (nem que seja mãe fazendo
papel de pai também), e não de uma mãe (a mãe que só consegue
ser mãe, não pai);

Quem é mulherengo precisa focar numa mulher só, e não ficar de


amizades;

Quem quer passar em concurso precisa estudar, e não ficar


prometendo.

E por ai vai. A solução de alguns problemas na vida é clara e precisa


ser aquela. Que é pra a gente não passar a viver com meios
problemas.

Algumas coisas na vida tem que resolver logo, que é pra você partir
para a próxima etapa, e não ficar se arrastando. Ai ao invés de você
está assando o veado que você matou pra comer, e concluindo sua
caçada, você tá no meio do mato tentando encontrar, e talvez nem
ache. Tudo porque você tentou uma solução alternativa.
Capítulo XI - Preste Atenção na Caçada

Caçador que não olha pro chão perde o preá passando.

Quando estiver em uma caçada, preste atenção na caçada. A pior


coisa é convidar um amigo pra caçar que fica falando, espantando os
bichos; que não presta atenção para localizar os animais, e por isso
deixa passar; que está mais interessado no passeio, e não na caçada.
Caçada é algo prático, e que exige concentração e foco. Pisar errado
num galho, não levar em consideração o vento, não confiar no seu
cachorro de caça, armar uma espera muito longe, não mirar bem…
tudo isso pode estragar sua caçada.

Do mesmo jeito na vida é preciso prestar atenção no que você está


fazendo. “Sem noção” é o pior defeito do mundo que uma pessoa
pode ter. Uma pessoa que não presta atenção nas coisas da vida:

Não vê que pode está atrapalhando a vida de alguém ou não


ajudando a vida dessa pessoa;

Não vê problemas acontecendo e que precisam de solução.

Não vê que está atrapalhando a vida de alguém ou não ajudando é


como o seu companheiro de caça que nem te ajuda, fazendo o
serviço de caça direito, e até atrapalhando, falando e espantando os
bichos.

Não vê problemas acontecendo e que precisam de solução é como o


seu companheiro de caça que mesmo não atrapalhando, não ajuda.
Porque não tá vendo que tem bicho ali na frente e que é pra atirar.
“Sem noção” é a pior característica que alguma pessoa pode ter.
Porque com ela, nem a pessoa progride, nem as pessoas em volta
progridem, porque nem ajuda a si mesmo nem aos outros. Não tem
noção do que está acontecendo a sua volta.

Uma criança não ter noção. Beleza! Nenhum adulto saudável tem
direito disso. Os aleijados também não: porque tem aleijado
ganhando medalha nas olimpíadas.

Do mesmo jeito que a gente tem que exigir nossos direitos. Tem que
exigir que as pessoas cumpram sua obrigação. Essa é a vida.

Se lembre de não se juntar na vida com alguém desatento. Quem é


desatento não soma na vida da gente, e muitas vezes subtrai.
Capítulo XII - Dia do Caçador

Dia da caça, dia do caçador!

O ditado é esse: dia da caça, dia do caçador! E não, dia da caça, mês
da caça, ano da caça, aí de repente ano do caçador. Caçador que não
consegue matar bicho, tem algum problema: ou o problema é com a
arma de caça (ver cap. XVI) ou com o caçador. Algum dos dois não
serve pro serviço.

Na vida também. A gente tem que entender que tem vez que não
deu, não deu. Caça não é nosso esporte: a gente não tem coragem de
matar uma avoante. Caça não é nosso esporte: a gente não tem
dinheiro pra comprar uma carabina de pressão, que precisa pra
matar uma avoante. Caça não é nosso esporte: a gente tem coragem
de matar avoante, tem arma pra matar avoante, mas não tem lugar
pra matar avoante.

Claro que muitas vezes você tem sim arma e lugar pra aplicar. Só
não tem coragem de aplicar. Como o fim de um casamento. Você já
sabe que está no fim. Todos os sinais indicam que está no fim. Mas
tu não é homem/mulher de acabar.

Caçador estuda o terreno. Caçador treina mira na sua arma de caça.


Caçador tem arma de caça em correspondência com a caça que vai
caçar. Caçador sai pra caçar, e nada. Um dia tudo bem. Dois dias
tudo bem. Mas frequentemente. Pera ai. A arma tá errado; a
preparação, tá errada.
Este conselho vai para você quevai pra você que luta luta e não está
ganhando na vida. Tem alguma coisa errada., ou você está na
caçada/luta errada, ou você está usando a arma/solução errada para
sua caçada/problema.

Imagine que você é um namorado que faz tudo pela sua namorada.
Está melhorando seu emprego. Está melhorando seus vídeos. Mas
ela tem uma peste de um menino que não faz nada em casa nem
melhora nada. Mas sempre é o dia da caça, nunca do caçador. Raro
do caçador. Menino não tem um privilégio cortado, mas você já
teve que enfrentar brigas.

Precisa ganhar, meu amigo. Precisa do seu dia de caçador. Senão


você precisa entender que você está caçando no mato errado. Nesse
mato não tem tatu (cap. IX). Principalmente quando é injusto. Você
fez tudo certo. Você faz tudo certo. E continua quem ganha aos
outros.
Capítulo XIII - Desentoca o Bicho

Tu pega um monte de caba gritando na mata, ai eles espantam o


bicho pro lado onde o caçador tá.

Então você tem esse problema: uma raposa sai do mato toda noite e
come uma galinha sua. Você tentou ir atrás dela com sua balestra,
não conseguiu. Você esperou ela uma noite, não conseguiu. Bem,
nós poderíamos nos perguntar: o que você fez de errado? Mas será
que existe algum outro método de caça que possa me ajudar nesse
problema. Claro! Desentoca o bicho. Arrume amigos com paus ou
cachorros ou os dois e coloque eles no outro lado da mata. Você fica
do lado de cá. Então eles vão em um determinado momento fazer
uma zoada medonha pra tentar espantar o animal até onde você está
e você vai esperar para pegá-lo se ele passar perto de você. Esse tipo
de caça se chama “caça de espanto” ou “caça de batuque” (porque
você pode usar tambores) ou “caça de levante” (porque teus amigos
vão “levantar” o animal até você). Qualquer que seja o nome, a ideia
é a mesma, se o bicho está entocado, vamos desentocar ele2.

Do mesmo jeito na vida às vezes o grande problema ainda não


apareceu, apenas sinais e consequências dele. E por causa disso você
pode até achar “não não é problema” porque parece que ainda não é
um problema, mas o problema já nasceu e está crescendo.

Imagina então que apareceu uma pilantra no seu marido. Uma


dessas mulheres de pouca vergonha e respeito que dão em cima de
homem casado. Comentando com coraçãozinho no face dele.
Mandando mensagem carinhosa. Comenta super aprovando até as
postagem sobre caça que ele faz.
“Não, não, não... ai tem... eu que sou a mulher dele e ele cuida de
mim e da minha casa, quase não tenho paciência de ouvir ele
falando de caça... ai tem alguma coisa”. Por isso, você educadamente
vai marcar território. Naquela festa de confraternização na casa
daquele amigo faz questão de cumprimentar ela primeiro, abraçada
no teu homem, e dá aquele olhar 43 “minha filha, tem dona!”.

Mesmo assim a pilantra continua trocando olhares, super gentil,


rindo das piadas dele, faz questão de pra qualquer coisa tocar nele,
etc. Você sabe os “rastros de raposa” quando vê.

E ai?! Tu vai esperar a raposa vim tomar teu galo. Não! Desentoca a
raposa. Se precisar chama as amigas e comenta “a vagaba tá dando
encima do meu marido”.

Óbvio que nesse caso é bom conversar com seu marido, e se ele for
um bom marido ele vai entender e se afastar. Óbvio também que se
a pilantra viu que tem dona e mesmo assim continua com as
mesmas atitudes é porque não tem respeito por isso e talvez tenha
até dolo.

Mas a necessidade de desentocar o problema é a mesma. Não espere


uma galinha virar um galinheiro inteiro. Pega a raposa (o problema)
e faça uma sopa dele.Lembra da história do joio e do trigo, esperar
até o dia da colheita pra separar e queimar o ruim. Sim, meu fi, isso
funciona quando o joio não tá comendo teu trigo, tá só no meio dele.

Não, minha filha, vá em conversa de joio não. Tem problema que dá


pra esperar ficar maior não. A gente vai lá, desentoca, com a arma
(alguma solução direta ou confrontante) na mão.
O que você precisa, nesse caso, é em primeiro lugar ter visão.
Enxergar os “rastros de raposa” no teu galinheiro. Muita gente vê os
problemas começando, problemas que vão ficar muito sérios na
vida: um filho que começa a faltar aula, um marido que começa a se
atrasar no trabalho, um irmão que começa a vim comer as coisas de
casa, etc. Muitas vezes a gente vê as coisas acontecendo mais não
toma uma atitude e o problema vai aumentando.

Em segundo lugar é preciso ter coragem. Coragem para proteger seu


galinheiro: proteger sua família, seu casamento, sua casa. E coragem
até mesmo para algo como desentocar um bicho e mata-lo. Do
mesmo modo existe muita coragem em bater num filho para educa-
lo, em proibir um marido de interagir com uma pilantra, em até
colocar um irmão no seu lugar.Se é preciso matar a raposa para
proteger o galinheiro, tenha coragem de fazer o que é preciso.

Por fim, é importante entender que certos problemas vão vindo aos
pouquinhos, e que uma hora vão causar um prejuízo grande. Por
isso, você precisa desentocá-los. Porque enquanto você não tiver
coragem pra fazer isso, amanhã é mais uma galinha, e depois mais
outra, e depois mais outra, até você perder o seu galinheiro.

Tenha coragem na sua vida de fazer o que é preciso. Desentoque a


raposa/problema da sua vida e faça uma sopa com ela.
Capítulo XIV –Onça e Avoante

Em caçada de onça não para pra matar avoante.

O caçador quando sai pra caçar sai com foco e preparo prévio. a
técnica , local e equipamentos para caçar são diferentes para cada
animal. Por exemplo: uma carabina de pressão num roçado é
suficiente pra matar avoante. O mesmo não é o ideal para galinhas
d'água e nem de longe para caçar uma raposa. Loucura se você tiver
pensando em ir atrás de uma onça. Mas não é por isso que você
precisa de foco numa caçada. Foco é pra você não perder tempo com
uma caça de menor valor se você esta atrás de uma mais nobre ou
difícil , e também para você não espantar a m

Nobre atirando na outra. Por isso que a gente fala que em caçada de
onça não se atira em tatu.

Do mesmo jeito na vida as vezes a gente se contenta com metade


daquilo pelo qual estávamos lutando, ou nos distraímos com algo
menor e isso atrapalha a conquista de algo maior: da onça que era
pra ser o seu troféu .

Eu poderia lhe dar milhões de exemplos. Mas estou certo de que a


vida lhe deu exemplos muito melhores que meus argumentos.
pessoas que deixaram de ir para uma festa e ficaram em casa pra
estudar hoje têm uma onça para mostrar - um concurso - enquanto
você tem uma avoante - uma festa - no histórico .

Não me entenda mal. Tudo na vida - na sua caçada - é importante. A


caçada regular as pequenas coisas as avoante servem para o dia a
dia e para a rotina do caçador (ver dia do caçador). Mas são as
caçadas nobres e raras e difíceis que fazem a diferença maior e mais
significativa.

Rotinas e conquistas. A vida é feita desses dois. Rotinas são o que


nos define mais nos detalhes que as pessoas menos notam, porém
convivem mais: ah sim, você se formou veterinário, mas é no seu dia
dia se você é gentil com as pessoas que você vai ter gentileza como
qualidade. “I, que cara legal, dá bom dia pra todo mundo”...
diferente de “ele só é legal assim na época de natal”.

Conquistas, por outro lado, são as coisas que nos fazem grande,
memoráveis. As pessoas lembram pelas grandes coisas, as coisas
que deixam memória. Por isso que você lembra daquela viagem pra
a Argentina, mas não lembra direitoo que fez ontem pro jantar. Mas
ninguém pode viver só de conquistas, até porque ninguém tem tanta
sorte assim nessa vida.

Por isso se a conquista que tu busca é um marido mais carinhoso,


um filho mais responsável, uma casa mais organizada: não se
distraia com as avoantes.

Lute, trabalhe, até que você esteja com a carne daquela onça no seu
espeto. Use as rotinas/avoantes se for necessário. Vai que essa
caçada que você está querendo vai ser longa, virar uma noite, duas,
você precisa ter umas avoantes pra beliscar (lembre-se do dia do
caçador, ver cap. XII).

Mas volte para buscar a sua onça. Porque ela é sua. Mas você precisa
ter foco, dedicação, habilidade, equipamentos e perseverança para
conquista-la.
Seja o que for necessário. A onça é sua. Não desista dela, aprenda o
que for necessário, conquiste as conquistas menores que forem
necessárias (cace animais menores e menos perigosos como treino),
trabalhe por arma de caça melhor, mas continue, até que seu grande
troféu esteja na sua parede.
Capítulo XV - Gato não Caça

Quem não tem cão, não caça com gato.

Isso mesmo que você ouviu. Não se caça com gato. Quem inventou
esse ditado não estava falando realmente de gatos, mas sim de
alternativas para um problema. Sempre existe alternativas para um
problema. Mas um gato não substitui um cachorro. Gatos são
independentes: saem de casa a hora que querem, voltam pra comer,
dormem o dia todo. Nunca na vida vi um gato que latisse quando
um estranho chega na sua casa. O cachorro (sendo de caça ou não) é
fiel e muito mais útil: vigia sua casa, lhe espera na porta todo dia
quando você sai, late e ataca estranhos, e pode ser mais facilmente
ensinado a fazer truques úteis como pegar um chinelo e trazer no
seu pé. E se for de caça: acha aquela codorniz pra você atirar; traz o
pato que você derrubou e lhe dar; fareja e localiza aquele veado que
você acertou uma flechada mais correu; e segura o javali pela orelha
pra que você o mate com sua faca (sim, essa é uma das maneiras de
caçar javalis). E ainda mais. Cães podem e são usados para farejar
drogas, proteger criações de animais, ajudar cegos a andar, etc.
Tenta fazer alguma coisa dessas com um gato.

Do mesmo modo você precisa entender que na vida da gente podem


existir pessoas que são gatos e são cachorros. Pessoas cachorro são
pessoas que não só são fiéis a você mas também você pode contar
com elas: elas se preocupam e cuidam de você e de suas coisas; te
ajudam a resolver problemas, e isso não só quando você está por
perto, mas quando você não está; pensam em você, quando crescem,
trazem aquele “pato” para você. Pessoas gato são independente,
muitas vezes não estão nem ai: não ajudam em casa nem nas tarefas,
a não ser a força, e na primeira oportunidade deixam pra lá; saem a
hora que querem, sem se preocupar se você está sozinho(a) ou
precisando de algo, e voltam, também quando querem, atrás de
comida ou de um lugar pra dormir; agem como se só tivessem eles
no mundo; miam e choram quando você demora a dar comida ou as
coisas que eles pedem; sabem se esfregar no seu pé pra adular, mas
não sabem proteger a tua casa; e você sabe que se “pegarem um
rato” é pra eles e não porque estão cuidando de você.

Imagine então que você tem um marido e um irmão vivendo na


mesma casa. O que já está errado, pois em casa de marido e mulher
só deve viver o casal e filhos. Mas imagine. Teu marido trabalha
duro todo dia pra comprar o pão da família (comida e roupas) e
quando sobra um dinheirinho pensa logo em comprar algum
presente pro filho, ou pra uma saída da família para um parque
aquático, e pra ele talvez tire uma ou duas cerejas numa sexta (o
troféu dos trabalhadores) tentando não se atrasar e deixar a casa só.
Em casa, teu marido, quando não está morto de cansado, está
vigiando a casa, vendo se não tem nada pra consertar, e late para
proteger a família, até dela mesma, castigando um filho mal criado.

O que é que teu irmão faz por você e pela casa? Parte do que ele
ganha ele dá na feira ou está guardando ou gastando com ele
mesmo? Ele trabalha? Se não trabalha, estuda? Se nenhum dos dois,
é dona de casa?

Naturalmente é raro uma pessoa que está dentro de uma casa e faz
muito pouco ou quase nada pelas pessoas daquela casa. Mas
existem.
Agora, o que mais existe são pessoas que tendo gatos e cachorros na
sua vida, não sabem tratar de maneira justa cada um deles.

O que é justiça nesse caso André? Bem, pra começar você pode fazer
uma simples pergunta: quem soma mais na minha vida, o cachorro
ou o gato? Faça uma lista do que o gato faz em um mês pra você. E
faça uma lista do que o cachorro faz por você em um mês.

Faça também a pergunta para o futuro. O que o gato vai fazer por
mim no próximo ano? Ele vai aprender a latir pro povo da rua / teu
irmão vai arrumar um bom emprego e tomar de conta da feira da
tua casa? O cachorro / seu marido, o que é que ele vai fazer no
próximo ano por você? Amanhã quando ele receber um aumento de
salário, ele torrar o dinheiro com ele, ou vai melhorar alguma coisa
na casa que vocês moram, talvez botar o filho numa escola melhor?

Ah, mas é meu irmão, André!? Sim. É justamente por isso que estou
lhe dando esse conselho. É seu irmão. Mas quem é que soma mais
na tua vida?

Principalmente porque pessoas não são cachorros nem gatos. Quem


não tá somando na sua vida que não subtrai. E não somente isso.
Um filho, um cunhado, uma sogra que estão debaixo do mesmo teto
devem contribuir pra melhorar a vida de todos. E principalmente
respeitar os que contribuem mais.

E teu marido não é um cachorro. Um cachorro passa fome e dorme


no quintal, enquanto o gato dorme na cama folgado. Mas isso não
dura pra sempre. Uma hora ele vai chegar pra lhe dizer que está
cansado dessa vida de cachorro.
Quando você ficar sem o seu cachorro, e ai, o gato vai assumir?
Valorize seu cachorro, e bote o gato da sua vida pra aprender a
caçar.
Capítulo XVI - Armas de Caça

Uma boa arma não faz um caçador. Mas um bom caçador com uma
boa arma faz uma ótima caçada.

Muita gente tem essa ilusão de que caça é só atirar em bicho. Por
isso, as pessoas pensam “se eu pegar um rifle potente com uma mira
telescópica capaz de aplicar uma bala no meio de uma lata de
cerveja a 100, 200 metros de distância, vou caçar aquele animal bem
fácil”. As pessoas veem isso nos vídeos de caça. E até certo ponto é
verdade: se você tiver no lugar certo com uma arma tão boa e o
animal passar na sua frente e você não errar você vai ter sucesso na
caçada. Mas tá ai justamente: O que garante que você está no lugar
certo? O que garante que o animal vai passar? O que garante que
você não vai errar? Justamente a habilidade.

Sim, o equipamento ajuda e muito. Mas ele substitui há habilidade?


Bem você talvez até tenha escutado que quem tem habilidade não
precisa do melhor equipamento. Mas não quero ir por essa linha.
Equipamento não substitui habilidade, do mesmo modo que
habilidade não substitui equipamento. Os dois se completam. Um
caçador sem arma de caça não caça.

A arma de caça de um caçador – falando de modo assim bem aberto


– é tudo que ele usa pra caçar: pode ser uma armadilha, pode ser
cachorros, pode ser um arco ou balestra, pode ser uma espingarda
ou um rifle. Se não tiver nada disso, simplesmente não dá pra caçar.
Fica algo impraticável: maratonar atrás do bicho correndo até ele
cansar?! Não dá.
Por tanto, neste capítulo, eu quero conversar com você sobre a
importância de uma boa arma com a qual você possa resolver seus
problemas na vida. E a arma, nesse caso, eu tou falando de recursos.
É preciso ter recursos para lidar com certas coisas na vida e,
também, não se esqueça, talento. Porque do mesmo jeito que um
caçador treina a mira antes da caçada – e é um erro grave ir pra uma
caçada de um animal perigoso com uma arma não testada – você
precisa treinar com as suas armas, ser bom com elas.

“Armas de caça” nesse caso pode ser tudo que você usa ou pode
usar para resolver problemas. Um amigo, uma chantagem
emocional, sexo ou negar sexo. Tudo! Desde que funcione com
aquela caçada.

Voltando para o exemplo do marido que está sendo cercado pela


raposa – aquela mulher que dar encima de homem casado. André?!
Devo ter uma conversa com meu marido e dizer que ele se afaste
dela? Na minha opinião sincera ele já devia ter se tocado e feito isso
por iniciativa própria. Mas vamos dizer que você precisa de um
conselho. Pegue sua arma de caça: pergunte a sua melhor amiga.
Seja aberta, diga tudo com clareza, e escute abertamente.

Mas pensa cá comigo. E se eu te dou uma calibre 12 pra caçar, mas


tu tem medo da arma? Tu acha que vai conseguir caçar bem!? Por
isso, voltamos ao treino, a habilidade, o espírito de caçador de puxar
o gatilho com confiança e atitude.

Do quê que adianta o conselho da sua melhor amiga, se você não


conseguir nem adaptá-lo para seu caso, nem aplica-lo bem? Ela lhe
diz “sim, conversa com ele e proíba”. Ai você chega pro seu marido
toda tímida e sem pulso, pedindo pra ele ver que “deveria evitar dar
brecha”.

Muitos conselhos neste livro são diretos e duros. Lembre-se, Caçar é


matar (cap. VII). E muitos problemas na vida tem que resolver. Não
vá para uma caçada se você não quer matar bicho, vá pro shopping,
vá pro cinema, vá jogar tênis. Do mesmo jeito, se tu não quer mesmo
resolver alguns problemas, então aprenda a viver com eles (fique
com o filhote, Cap. XVII). Ou então chame um caçador pra resolver
(cap. XVIII), e deixe o problema morrer.

Mas em resumo, lembre que você precisa de conhecimento,


equipamentos e habilidades para uma caçada de sucesso.
Conhecimento das técnicas de caça, hábitos dos animais, locais
apropriados; equipamentos bons e suficientes para fazer o trabalho;
e habilidade pra juntar e usar tudo isso. Pra resolver um problema
na vida, você precisa das mesmas coisas: conhecimento,
equipamentos e habilidades. Conhecimento sobre a melhor maneira
de agir, conhecimento sobre o que o problema realmente é (sem
ignorar que algo está muito grave ou sério só porque você não quer
confrontar), conhecimento até mesmo de que certas coisas já estão
morrendo, mas você precisa matar (cap. Final). Equipamentos que te
ajudem a fazer isso, que são as pessoas que podem te ajudar, as
situações que você pode criar pra provocar mudanças, tudo que
você possa usar (mesmo que machuque! E muitas vezes precisa
machucar para curar) para resolver o problema. E finalmente, você
precisa ter habilidade de juntar tudo isso e usar bem.

Os problemas da nossa vida não vão embora sozinhos, é você, com


tudo que você tem a disposição, que vai sair pra caçar o problema,
vai encontrar o problema, vai atirar no problema, vai matar o
problema, e no final vai assar o problema e comer com uma
cervejinha gelada.
Capítulo XVII – Ficar com o filhote

Levar o filhote pra casa.

No filme “Eu sou a Lenda” tem uma cena de caça. Will Smith tenta
caçar um veado dentro de um carro, para depois ir atrás dele a pé.
De repente, aparece uma leoa que pega sua presa. Ele se prepara pra
atirar na leoa e vê que está com filhotes: é uma família. Abaixa a
arma, e vai embora. Ótimo exemplo da nobreza de um caçador de
verdade.

Mas imagine que ele não tivesse visto os filhotes antes de decidir
puxar o gatilho. O que faria ao ver um filhote? Matar você não vai,
isso não é honesto nem tem nada a ver com caça. Nesse caso levaria
para casa e se responsabilizaria pelo filhote de leão, criando-o.

Por isso que muitos caçadores têm animais silvestres como bichos de
estimação. Viram um filhote sem mãe ou machucado, levaram para
casa, e criaram como amor.

Se você não vai matar o problema, aprenda a viver com ele e com
todas as consequências dele. Um filhote de carcará tem garras (não é
culpa dele) então se você for criar um se prepare para quando ele
pousar no seu braço ter proteção, ou ele vai te machucar. Do mesmo
modo alguns problemas se você não matar têm garras, se prepare
para viver a vida com proteção.

Nesse caso uma pequena diferenciação. Animais não têm culpa de


certos tendências naturais e instintos, mas aprendem com treino.
Tem leão e urso que era pra matar gente mais manso do que um
poodle. Pessoas, por outro lado, são teimosas quase sempre porque
querem, por falta de respeito, por malcriação. Então não confunda
um carcará que pousou no seu braço e tem garras, com as garras de
um filho ou de um marido que estão fazendo mal. E mesmo que
confunda, nos dois casos precisam ser disciplinados: um animal não
aprende, uma pessoa aprende também.

Mas se você não tem pulso de ser firme. Se você também não tem
coragem de matar o problema porque não quer enfrentar aquela
pessoa, se divorciar do marido ou botar o filho na linha a base de
castigos e cortes de privilégios dentro de casa. Se você não é caçador.
Não quer treinar pra ser um caçador. Não quer chamar outro
caçador (ver cap. XVIII). Então aceite o problema como sem solução
e as consequências dele.

Esse é o mais difícil porque tem muita mulher que não tem coragem
de se divorciar, mas vai atrás de amante. Isso não é aceitar o
problema. Aceitar o problema é entender que você não tem
capacidade de se livrar de um ruim – nem quer aprender a ter –
então não perca o tempo de um bom. Deixe um bom homem pra
uma mulher que tenha pulso e firmeza de “vou me livrar, vou voltar
a sair, voltar a me arrumar e a me valorizar, e vou encontrar alguém
bom pra mim, pra eu cuidar dele ele cuidar de mim”.

Você toma a vaga da outra pessoa. E assim seria como se você não
fosse caçadora, se envolvesse com um caçador, mas não deixasse ele
caçar.

Muitas vezes assumir um problema envolve justamente não


envolver mais ninguém nesse problema. Você não tem coragem de
confrontar a situação. Nem tem coragem de deixar outra pessoa
ajudar confrontando. Então carregue a cruz você sozinha. Outras
pessoas não merecem ver você com um problema sem você tentar se
ajudar, nem também elas poderem te ajudar. Carregando a cruz por
mais uns anos (deixando aquela raposa comer mais das suas
galinhas) talvez um dia você crie a coragem necessária para
caçar/confrontar o problema.
Capítulo XVIII – Chama um Caçador

Se você caçasse você saberia lidar com bicho.

Este é um exemplo real que me aconteceu. Um dia, a namorada do


meu irmão o chamou para tirar uma coruja que estava presa na sua
casa. Não querendo ir, meu irmão me mandou. Cheguei lá, a moça
morrendo de medo do bicho que estava com mais medo ainda.
Peguei a coruja usando uma toalha pra me proteger, pois ela sem
maldade nenhuma poderia me machucar tentando se proteger. E
soltamos o pássaro numa mata próxima da cidade. Recebi elogios
por saber lidar com o animal sem medo, pelo conhecimento que
demonstrei em identificar o animal. Uma amiga da namorada do
meu irmão logo perguntou “você é biólogo?” e a resposta da
namorada do meu irmão foi “ele é caçador”.

Fiquei um pouco envergonhado, mas hoje me vejo com mais


orgulho. Não faço alarde, porque as pessoas tem preconceito e nos
julgam “ah tu é aquele cara que gosta de matar bicho”. Mas sim, sou
Caçador. Sei lidar com os animais. Não tenho raiva deles. Caçar não
é perseguir. Tenho conhecimento sobre eles, pois preciso estudar
para conhecer seus hábitos. Não só respeito a natureza, porque é a
minha esposa3, como estou nela frequentemente (diferente de alguns
que vão pro mato em trilha segurinha).

Caçar molda o caráter. Ensina o homem. Quem come carne e nunca


matou a própria comida não é homem de verdade na opinião de um
caçador: ainda tem mais de mulherzinha nele. E falo isso sem
detrimento de sexo, minha mãe nesse sentido é mais homem do que
eu, porque ela querendo mata uma galinha sem a frescura que eu
ainda hoje teria, embora eu já tenha caçado, tratado e comido
animais.

Nesse sentido, na vida, você tem que entender que existe dois tipos
de pessoas em relação aos problemas: quem vai caçar (e matar) o
problema, e quem não vai. Tem medinho, tem peninha, não gosta de
ver sangue, etc., seja lá o que for, no fim não vai.

Se você é o segundo tipo de pessoa, e tem um problema que precisa


ser caçado, você só tem três opções.

Primeira opção, vá aos poucos virando caçador. Pegue problemas


pequenos (as avoantes) e vá matando, depois vá para problemas
médios (raposas), e vá caçando e matando eles também, vá
melhorando suas técnicas, ganhando experiência, até chegar no
grande troféu, na grande conquista, no grande problema, a onça.
Mas lembre, sua meta é matar a onça. Não adianta fazer o treino e
ser mulherzinha de chegar na onça e não pegar ela também.

Um divórcio, por exemplo, é uma onça muito difícil para muitas


pessoas. Então vá treinando a vida separado até que você esteja
segura de tomar a decisão. Arrume um emprego se você não
trabalha. Aprenda a sair só. Etc. Mas lembre que a hora vai chegar e
a onça precisa morrer.

Segunda opção, que já vimos, é ignorar o problema, aprender a


conviver com ele. Você não vai matar aquela onça, então aprenda
que ela vai lhe perseguir pro resto da vida, comer suas ovelhas, etc,
até que você tenha a sorte de ela morrer atropelada. Então aprenda
também que se você não tem pulso pra proteger suas ovelhas,
melhor não criar só pra alimentar onça. Aprenda a assumir todas as
consequências de não agir.
A terceira opção é justamente arrumar um caçador para matar a
onça. Às vezes você não tem força ou pulso para fazer sozinho(a),
mas com ajuda, a história muda. Você talvez tenha medo de
terminar um relacionamento (que já acabou – só você não aceita),
mas se você já tiver alguém novo na sua vida, fácil. O caçador,
porém, nesse caso, não pode ser confundido com uma avoante (uma
alternativa enquanto você não pega a onça), mas sim como quem vai
matar o problema. É preciso ter confiança nele, deixar ele agir.
Deixar ele matar o problema, mesmo que esse problema esteja vindo
de alguém muito próximo de você e que você não teria coragem de
confrontar.

Por isso é preciso confiar no caçador que você buscou por ajuda.
Deixar ele fazer o trabalho dele, que é matar aquela onça. Confie nas
pessoas que você pediu ajuda, se elas aceitaram ajudar, é pro seu
bem.
Capítulo XIX – Caçada Completa

Ei pera ai. Você já atirou, mas ainda falta tirar o couro, fazer o
fogo, preparar a carne, comer com farofa, guardar as armas e voltar
pra casa.

Uma caçada não termina com o bicho morto. Isso aprendi, e queria
que todo mundo que critica a prática da caça participasse de uma
caçada completa pra entender. Todo mundo diz “caçar é matar
bicho” sem entender que matar o bicho é um momento, muito curto,
de toda a caçada. Antes de isso acontecer tem todo um preparo:
treinos, escolha de terreno, revisão de equipamento e provisões,
localizar rastros, encontrar o animal. Ai sim mira e atira, e o animal
cai. Esse pedacinho curto. Logo em seguida a caçada continua: você
vai procurar o animal abatido (às vezes não é fácil de achar), vai
trata-lo (caso seja necessário fazer imediatamente) ou vai leva-lo
para seu acampamento pra trata-lo, assar e comer.

Do mesmo jeito não pense que na vida é só acabar com aquele


grande problema e pronto. Aplica uma 416 Rigby e tá feito. Não,
nunca é assim. Uma caçada tem o antes de atirar, que é a
preparação; e tem o depois, que é o tratamento.

Vamos citar o exemplo do namorado que não fecha o compromisso


de casamento. Quatro, seis anos de namoro e nada. Você, seguindo
não meus conselhos, mas do seu cão de caça (seu amigo(a) fiel) que
disse 416 Rigby nele. Você foi uma boa caçadora e firme e soube
segurar a arma e atirar com ela. Aplicou na pá. A onça morreu.
Namorado entendeu, firmou compromisso e casamento está
marcado.
Acha que é só isso?! Ainda tem todos os preparativos do casamento.
Ainda tem a convivência pós casamento. Tem cunhado folgado pra
não deixar estragar a casa do casal. Sogra pra por no lugar e não
deixar se meter muito. E por ai vai.

Do mesmo modo que um caçador sabe o que é uma caçada


completa. Você precisa saber o que é a sua caçada completa. Não se
iludir achando que é só matar o problema e pronto. Matar o
problema muitas vezes é uma questão de uma atitude mais firme. Se
preparar para tomar essa atitude, e também se preparar para
enfrentar as consequências de ter tomado essa atitude. Isso sim, é
toda a caçada.

Reflita bem sobre a caçada da sua vida. Mas não tenha medo nem do
preparo nem das consequências dela. Não deixe de ser um caçador
na vida porque tem medo de sangue: a caçada vai justamente lhe
ensinar a entender que a vida tem sangue, tem dificuldades, e tem
vitórias. Mas muitas vitórias você só consegue caçando.
Capítulo XX – Fim da Caçada

Toda caçada acaba.

Toda caçada acaba. Às vezes você volta com o bornal cheio de


avoante. Às vezes todos os tiros que você deu não derrubaram nada.
Um bom caçador entende os dois casos. Um bom caçador entende
principalmente que não foi seu dia (ver cap. XII) ou que naquele
local simplesmente não tinha caça (ver cap. IV). De todo modo é
preciso saber a hora de guardar as armas e ir embora.

Na vida também é preciso entender quando a caçada terminou. Às


vezes nem as melhores armas, os melhores conselhos, as melhores
intenções adiantam para o sucesso. Não vai morrer nada. Pegue sua
arma, e vá embora.

Terminar não é fácil pra ninguém. Esse capítulo está me


desagradando escrever, porque como caçador eu devo aconselhar
que preste mais atenção, procure uma arma melhor, treine melhor a
mira, monte uma espera, ponha uma armadilha, arrume um
cachorro de caça bom... mas sempre tem um jeito de ter sucesso
numa caçada. Do mesmo modo, quando a gente realmente se
importa, a gente não quer abandonar a “caçada” a gente fica
insistindo “tem que ter um jeito, tem que ter”.

Mas às vezes a caçada acabou. Não vai morrer nada. Aquele marido
que lhe agride nunca vai deixar de lhe agredir. Aquele patrão que
não te valoriza como empregado nunca vai te valorizar. Aquele
namorado nunca vai oficializar o casamento.
Nunca. O 416 Rigby nunca vai funcionar. Ir a favor do vento nunca
vai funcionar. A melhor espera ainda será descoberta. O melhor
cachorro de caça não da conta.

A pior decisão é encerrar algo que a gente queria que tivesse


funcionado. A caçada era pra terminar com churrasco e não com
mãos abanando. Mas muitas vezes termina mãos abanando.

Se eu puder lhe confortar, eu lhe direi que nesse mundo ainda tem
muito animal pra caçar, muitos tipos, muitos tamanhos, muitas
oportunidades, e você ainda é capaz de puxar a corda daquele arco,
de mirar a balestra, de montar aquela espera, de um dia fazer um
sinto com a pele daquela onça. Pegue sua arma, e vá embora. Em
outro lugar, em outra caçada, você vai ter sucesso. Não se preocupe.
Conclusão

Obrigado por ter me dado sua atenção. Sei que você provavelmente
não estava aqui para ouvir sobre caça. Espero não ter enchido seu
saco muito com esse assunto. Mas também espero ter podido passar
bons conselhos baseados nas coisas que eu aprendi praticando esse
esporte que não só desenvolve habilidades como também coragem
pra tomar certas atitudes firmes.

Não era minha intenção fazer apologia a caça, embora também


nunca vou deixar de defende-la. E espero que com esse trabalho
você entenda (mulheres também) que é preciso ser homem, ter pulso
de matar algumas coisas na vida, e que isso não tem nada a ver com
violência nem raiva. Mas fazem parte da caçada da vida.

Que as armas de caça, técnicas de caça, e espírito de caçador estejam


sempre presentes e sendo bem utilizadas na sua vida. E se você não
é caçador(a), que você possa aprender com nosso exemplo e nossas
atitudes. Você tem muito a ganhar.
Notas

1 A Hipotese do Caçador
2 Dos métodos de caça, esse é o que menos gosto. Preciso citar o exemplo
para fins do livro, você resolver algum problema da sua vida, mas numa
caçada de verdade, eu buscaria melhorar minha habilidade e
equipamentos.
3 Para um caçador, a natureza não é uma mãe, mas sim uma esposa. Para

um biólogo ou natureba vegetariano, sim. A natureza é a mãe. Mas pra a


gente não, a natureza é nossa esposa. Amamos ela e também, mas não é um
amor de filho pra mãe, mas sim de marido pra esposa. Amamos, cuidamos,
botamos pra fazer comida pra a gente, comemos, damos tapinha no
bumbum, puxamos cabelo.

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