Você está na página 1de 155
SOBRE O FUNDAMENTO DA MORAL Arthur Schopenhauer 7 BS ghew + SS Sdexke SS ana LEGA CACCIOLA REGISTRO PATRIMONIAL 00 ACERVO BIBLIOGXAFICO | nt ‘ii Martins Fontes Sao Paulo 1995 _ ‘N 401121 Biba IER DAS FUNDAMENT DER MORAL 1978, Flammarion para o preficio para a presente edigio 1° edigdo:junho de 1995 Tradugdo: Maria Licia Cacciola Traducdo do prefaeto: asardo Brandi. Proparagao da trad Vadin Valentinowitch Nikiin ‘evisdo grdfica: Renato da Rocha Carlos Produgdo grifica: Geraldo Aves Paginagao Antonio Newton Alves Quintino Capa ~ Proto Alexandre Martins Fontes Katia H, Terasaka Dados lnternacionas de Catalopasto na Publicasio (CIP) ‘(Cimara Brasileira do Livro, SP, BrasiD Schopenhauer, Anbu, 1788-1860. ‘Sobre o fundamen da aor / Anhur Schopenhauer teadugao tra Leis Cael” S30 Pl Martins Foes, 1995" (Colegao Ciscom) alo orginal: Ue das fundament der mora IN we sso-o4149 1 fea 2. Powis alma 3. Schopenhauer, Arthur, 17 5-208 epp.iss Indices para catilogo sistmitico: T'Mora Fite slem 193 Todos os diretos para a lingua portuguesa reservados LIVRARIA MARTINS FONTES EDITORA LTDA. Rua Conselhciro Ramatho, 330/340 ~ Tel: 239-3677 101325-000 ~ Sio Paulo ~ SP ~ Brasil i® Martins Fontes Ealtora Ltda, Sio Paulo, 1995, ini Pryfiicio: Musalidude de Schopenhauer Wecer conmolont O-pensamento Kinicd” ea qh dle O mundo. © principio de razio suficiente © 4 ‘cr Kantian. O~parricicio” © pantelismo schopenhis Sobre o fundamente ¢h Aceriticn de Kant Deducio da compaixio, © fundamento metatisico Adio ¢ Jesus. Cronologia de Schopenhauer Sobre o findamento da moral, 1. Intraclucio, 1. Sobre © problems 2. Visio geral retrospective 1. Critica do fundlames Kant 3. Visio geral 1, Sobre st form nt tien de vu xu XXI XXIX XXXVI XU XLV. XLIX Lit LXI LXV fy 5, Sobre a admissio dos deveres em re- lacio a nés proprios, em especial... 6. Sobre 0 fundamento da ética kantiana ObserVAGAO wo 7. Do principio maximo da ética Kantia- BA ern 8, Das formas derivadas do principio ma- xximo da ética kantiana 9. Doutrina kantiana da consciéncia 10. Doutrina kantiana do carater intel vel empitico. Teoria da liberdade Observacio. 11. A ética de Fichte como espelho de au- mento dos erros dla ética kantiana . IIL Fundagio da ética 14. Motivagées antimorais. 15. Critério das ages dotadas de valor moral 16, Estabelecimento e prova da Gnica mo- tivagao moral genuina... 17. A virtude da justia 18. A virtude da caridade. 19. Confirmagio do fundamento da moral «que foi apresentado 20, Sobre adiferenca ética dos caracteres. IV. A explicagao metafisica do fendmeno éti- 0 originato... 21. Esclarecimento sobre esse suplemento. 22, Fundamento metafsico... = {edo CToma dsernd) e, cimulo de toni, Por senciil; Kant petmaneceu tedlogo, Sua Filosofia terra a0 apenice “spate de sua diseranto pritica € cum puro disfarce da. moral teologics em que expe 0 nexo dos rncipos de tet, por fo, como se poceria cre, devido dvexisténcl de | le exibelecion, com a sua metafisea (.) embora Detis como postulado da razio pura pric mas edugio da autonomia, De nada serve re- fosse exigida, de todo modo, a discussio do tema : a a doutrina do Soberano em que 0 nexo da metafisicae da ética sera 0 prin cipal assunt a ser considerado” (p. 236) XLVI ‘SOBRE 0 FLNDAMENTO DA MORAL Bem ¢ os postulados consecutivos, como uma per= versio do Anaitico, pois esta ima j € corrompi a pela teologia ‘Schopenhauer desvenda esse vicio teol6gico na “pura forma’ do “Este conceito une-se a seus afins, Portanto a0 de lei, mandamento, dever e outros ‘que tas e, tomado neste sentido incondicionado, tem sus origem na moral teolbgica © permanecers tum estrasho na filosofia” (p. 24). (p. 18; ver tam bém p. 20); “0 conceto do deve, a forma imperati- ‘ada ética, 56 sio vilidos na moral teol6gica e (..) perdem todo 0 sentido e signiicacao fora dela” (p, 123), mais precisamente na lei mosaica (pp. 18 € 20), Portanto, a doutrna da autonomia nada mais € {que uma metamorfose do Decalogo; nisso Kant Permaneceu judeu, Hegel jo dissera em seus Theo- logische Jungschrfien, mas em termos diferentes e, por sinal, desconhecidos de Schopenhauer, para quem 0 judaismo & maculado por trés pecados: seu realsmo (Q. p. 43), seu monoteismo ~ “o mono- temo eo judasmo sio nogdes reciprocas” (ELD. D.110) ~€ seu “otimismo raso” (M. pp. 325 € 13994, a que Schopenhauer opde idealismo, ateis- ‘mo, pessimismo, itimando a filosofia a nio “recair, de uma maneira ou de outra, no terreno judew P. 152). "Por vezes fico assustado quando, sobreti- do a0 stir de meus estudos orientais, tendo em mios 0s proprio escrtos das mais belas inteligen- cias dos séculos XVI € XVII, constato como elas 820 por toda a parte paralsada8 e por todos os lados bitoladas pela idéia fundamental judaica® (R. pp. 383995, Por mais desagradivel que seja a insisten. Gia de Schopenhauer em denunciar por toda a par- te 0 “foetorjudaicus” (F. pp. 185 e 198) ni deri as ‘se po- nli-lo a0 anti-semitismo’, nem tachar de tor que sustenta, por outro lado, que 1 verdadeira cor natural e particular da racista um PREFACIO XLVI raga humana" e que “o Adio de nossa raga deve, Por conseguinte, ser concebido como um negro, sendo ridiculo ver esse primeito homem representa- do como branco, cor produzida pela descoloracao. Como Jeovi o criou a sua imagem, também a ele os artistas devem representar como negro..." (FC. pp. 101 e 103). Como quer que seja, a dentincia do mo- ralismo kantiano € particularmente penetrante, e ji detecta no “tu deves” da Analitica o “eu creio” da (© "Glauben” no ‘imago do “Sollen’, des- montando 0 subterfigio pelo qual Kant, simulando inverter a ordem tradicional (teol6gica), 2 confirma sub-repticiamente. Nietzsche no diri melhor®™ A-acusagio de judaismo nao esgota, porém, a do formalismo kantiano, © imperativo nao & mosaico, mas carece de “realidade © por isso de efetividade possivel” (F. p. 52)" €, como tal, nao poderia constituie um verdadeiro eritério. A critica no € nova, Hegel ja a havia formulado em seu artigo sobre O direito natural e na Fenomeno~ logia do espirito: “tal exame ndo vai muito longe; a medida, justamente por ser a tautologia © por ser indiferente quanto a0 contetido, acolhe em si tanto esse contetido como © conteddo oposto’®. Mas a critica schopenhaueriana, embora chegue a0 mes ‘mo resultado ~ a refutagao do legalismo e da. “fae zo pritica" -, toma um caminho diferente, Hegel, a universalidade da lei € apenas a da subjetividade, a caugio do capricho: *t duta injusta ou imoral pode ser justificada ineira™™, de que a seguranga de um Eich quando de seu processo, di um belo exemplo, € esse 0 argumento de Schopenhauer, para essa possibilidade tomarse necessidade: “O fato que eu, a0 estabelecer uma maxima para ser se da universalmente, tenha de considerar-me nec sariamente nao s6 como a parte sempre ativa, mas XIVIL SOBRE O FLNDAMENTO DA WOK também, as vezes e eventualmente, como a passive faz com que meu egoismo decida-se pela justiga & pela cardade’ (Fp. 70). Em outras palavras, & pre- {iso que eu conceba um mundo em que, pela men- tira universal ou pelo desvio sistematico do depdsi- to, seei, por minha ver, lesado, © € esse terceito hhipoerta que, insinuando-se entre minha subjetivi- dade ava e a universidade dale, reintroduz sub reptiiamente 0 ponto de vista do egoismo. Poderiamos, ento, surpreender-nos com a. n0- va homenagem prestada por Schopenhauer a clou- trina kantiana dos dois caracteres. Como salvar a li- berdae sem 0 factum rations” da moralidad, re. cusar o “tu deves" para conservar 0 “tu pode: ao Mumm dogudas tcermeccld foun as a contento por Guéroull? Nao, se considerar- mos que Schopenhauer nao relaciona a dualidade dos caracteres & Segunda Critica (0 que, de fato, seria coniaditrio), nem 3 Dialética Transcendental da Primeia (pois, na Tercera Antinomia, somente 2 anttese &fundada), mas & Eséica Transcenden- tal, ou ses, a disingio do fendmeno, a representa- ‘Go submetda a0 Principio de Razdo e da coisa- ‘ems, a Vontade incondicional,indestrutivel e livre. (0 que equivale a dizer que os dois diamantes da coroa kantiana constuem uma tnica e mesma jéia Fm contrapania, no € necessério deter-se na inevitivel diatribe de que sio objeto os “soistas no ser para ressalar que ela adquite aqui um ecto orginal, na media em que Fichte, longe dle ser tachado de infidelidade ao kantismo, como de ‘ordinirio, vé-e ao contrrio denunciaclo como “es petho de aumento dos erros da ética Kantian” ( tulo do pardgrafo 11), a tal ponto que, em seu Sistema da doutrina dos costumes, enicontramos 0 imperativo categorico que eresceu pata transfor marse num imperativo despotico” (P. 105). eerAcio XUIX DEDUGAO DA COMPAIXAO Despojacla a razdo pritica de suas pretensoes, Wo pouco legitimas quanto as da razao teéric: ém agora produzir 0 verdadeiro fundamento e abordar enfim a questa do concurso. Mas © que € exatamente uma aclo moral? Nesse ponto, Schopenhauer est de acordo com Kant: “A auséncia de toda motivagao egoista & (..) 0 critério de uma acao dotada de valor moral’ (p. 135), € precisamente por no ser desinteressada que a re- ‘gra kantiana cai na heteronomia. Dir-se-a que essa ligacao da moratidade com o desinteresse & mais postulada do que provada? Sem davida, mas nao cabe discutir sobre uma definicto analitica. Segue a demonstragio (Beweis”), que ocupa 0 parigrafoy 16, capital a esse respeito. Ela é precedida de nove axiomas ("Voraussetzungen” ~ "Axiomata”), que poderiam fazer crer que Schopenhauer, a despeito de sua declaragio liminar, adota uma ordem sinté tica ~ erradamente: a deducio (“Ableitung’) € in- contestavelmente analitica. Trata-se, conforme a definiglo de Pappus (“Et hujusmodi processum re= solutionem appellamus, veluti ex contrario f solutionem”), de regredir de condigio em fo, até encontrar uma que seja realizada. Seja, fato, a seqiéncia seguinte: 1. °O proprio da acio, positiva ou negati moralmente boa, (€) ser dirigida tendo em vista a vantagem € 0 proveito de outrem’ (p. 117). 2. "Ora, para que minha agio seja executada unicamente tendo em vista outrem, & necessitio, que o bem desse outro seja para mim, e de maneira direta, um motivo, tanto quanto meu bem o é, de ordinario" (4b). L SOBRE 0 FUNDAMENTO DA MORAL 3. Ora, € supor que por um meio qualquer eu re identifico com ele mit thm identifiert set), que qualquer diferenea entre mim e outrem esti destrut- ca Caufgehoben), pelo menos até certo ponto, pois € justamente nessa diferenca que repousa meu cegoismo” (1). 4. Ora, € esse 0 fendmeno cotidiano da com- paixdo" (“das altigliche Phinomen des Mitleids” i) 5. "Essa piedade, eis (por conseguinte) 0 tinico principio real de qualquer justica espontdinea ¢ dle qualquer caridade verdadeira’ Cie wirkliche Basis, aller freien Gerechtigkeit und aller echten Menschiie- be’ ~ ih), Portanto, Schopenhauer tem por que sustentar que “toda essa série de pensamentos, cuja anilise aqui esti", nio foi ‘sonhada” por ele Cder hier analysierte Vorgang aber ist kein ertriumter"™! — {), pois ela leva a um fendmeno indubitivel e fa- niliar, qualidades de que nao poderia evidente- mente se prevalecer 0 “factum rationis” da dedugao kantiana”; e a originaidade dessa “Ableitung” ana- ltea e concreta aparece melhor ainda se a compa- ramos com a passagem correspondente de O mu- do (cap. 67), em que, partindo do principio de in- dividuagio, isto €, de sua metaisica, Schopenhauer dele deduc sinteticamente a compaixo, como fon- te de toda bondade (M. p. 472), coneluindo pela necessidade de refutar o racionalismo kantiano: “Nao hesitaremos, pois, em aqui contradizer Kant” Mp. 473)" Da compaixdo procedem a justica (pari grafo 17" e a caridade (parigrafo 18), essas duas virtu- des cardeais “porque delas provém praticamente todas as restates e teoricamente derivam dela (F p. 147). A Justica ~ “neminem laede” ~, € 0 conted PRevAcIO u do ético total do Velho Testamento” (p. 171); a Ca- ridade — “omnes, quantum potes, juva" -, esse “se gundo grau” “em que 0 proceso da compaixio .) transforma o sofrimento alheio no proprio" (p. 166), *o do Novo * (p. 171). ‘Sociedade Real no se convenceu: “Quod au- tem scriptor in sympathia fundamentum ethicae constituere conatur est, neque ipsa disserendi for- ma nobis satisfecit, neque reapse, hoc fundamen- tum sufficere, evicit.” A compaixao nao Ihes pare- eu um fundamento suficiente. Mas Schopenhauer tomara © cuidado de prevenir as principais obje- goes que poderiam ser opostas a sua tese. A pri- meira, de inspiragao racionalista, consiste em real litar 6 kantismo, para recusar a’ compaixao. Post la.se que o fundamento da moral no poderia ser natural’, em outras palavras, “patol6gico™, e que somente a raz3o pode garantir a necessidade e a universalidade do Sollen. Mas, além disso, era pre- ciso demonstrar que a critica schopenhaueriana do kantismo e, mais amplamente, do racionalismo éti co carece de fundamento. Ora, nada € menos cer- {o, © agora se compreende melhor a funglo do “grande aparelho” instaurado no segundo capitulo €, a0 que tudo indica, destinado a impedir qual- quer retomo a razio pritica. Alias, poderia eat espécie que Schopenhauer nao tenha recorti argumento de peso, de que fizera grande sua primeira “Preisschrift’, em particular no ca lo 4 = todos os grandes pensadores aderiram a determinista ~, em que ele citava, para afiancar tese, Jeremias, Lutero, Aristteles, Cicero, Sant Agostinho, Hobbes, Espinosa, Hume, Kant etc. Pe ‘que, no caso, no invocar o cristianismo, a “religia da compaixi0"7? Seria esquecer que Schopenhauer, desde 0 inicio de sua memoria, afastou qualquer ul ‘SOBRE 0 FLNDAMENTO DA MORAL possiildade de uma fundacio teologica da moral € elogiou Kant por haver tentado, em vao, € verda~ de, proporcionar-the outra base. Quanto 20s fil6so- fos, pouco se importam com a compaixdo, quando nio a reetam ('verwerfen"), de sorte que Schopen- hauer nao reconhece nenhum predecessor seu, com a excecio ~ eminente ~ “do maior moralista de toa a época modema: (..) Jean-Jacques Rousseau, 2) 0 inimigo dos preconceitos, 0 discipulo da na- tureza" (Zogling der Natur" ~ p. 193). O elogio € surpreendente, pois sibe-se que Schopenhauer, de cordinitio, mastra-se muito pouco amavel para Com o autor de A prfisso de fé do vigario saboiano, “fi- losofia rasa de pastor protestante” (M, p. 1349), € seria necessirio indagar se, a despeito de similitu- des espetaculares, que Schopenhauer no deixa de destacar ~ "A comiseracao seri tanto mais enérgica quanto mais intimamente 0 animal espectador ‘dentificarse com o animal que sofie’ (F. p. 195) -, a tese do Segundo Discurso de fato antecipa e cor- robora a sua. A compaixio, sem dGvida, constitui ‘um dos “dois principios anteriores 3 razao" (sendo © outro a conservacio de si), de onde "parecem decorrer todas as regras do direito natural". Mas, como demonstrou V. Goldschmidt, “é um senti- mento de esséncia biologica”®, a0 que parece pri- vado da fungio metaisica que Schopenhauer Ihe concederi. Como quer que seja, este multiplica as citagdes,correndo 0 rsco de diminuir a originalida- de de sua propria deducio, mas fortalecendo-a ‘com 4 Gnica autoridade disponivel, entre a teologia de uns € 0 ricionalismo dos outros. Ter-se-A identi- ficado mais ou menost' com aquele que, no século precedente, apresentara sua concepgio da com- paixdo em seu Segundo Discurso, do mesmo modo que ele expunha a sua em sua segunda “Preis- PREFACIO ut schrif? Nao € proibido imagini-lo, ainda que, le vando a comparagio até o fim, ela nao inctasse a0 ctimismo quanto a0 resultado do concurs. ‘Uma segunda objeglo diz respeito a naturalida- de da compaixdo. A despeito das aparéncias, ela no é simétrica a precedente, pois ambas opoem as pretenses morais da compaixio a exigéncia da Uuniversalidade, de direito, no primeiro caso: somen- te a razio pode fundar 0 universal; de fato, no se- ‘gundo: a compaixio no é universal ¢, portanto, no poderia deter uma fungao fundadora. A histria € a etnologia,solicitadas 2 porfa, nos ensinam, 20 que se diz, que numerosas sociedades, antigas e ar- caicas, ignoram a compaixio, submetidas que estio 20 principio do “res est sacra miser™. Ora, & isso Que Schopenhauer contesta: “esta mesma com paixio é um fato inegivel da consciéncia humana, Erthe essencialmente propria € ndo repousa sobre: pressupostos, conceitos, religides, dogmas, mitos, Educagio € cultura, mas € orgindria e imediata e, estando na propria natureza humana, faz-se valer em todas as rlagoes e mostr-se em todos 0s povos fe tempos’ (F. p. 147). Schopenhauer chegari a sus tentar que, nao apenas a compaixio, mas também seu “segundo grau’, a caridade, sempre exist, in- clusive entre os gregos Praktisch und faktse is zavar au jeder Zeit Menschenliebe dagewes 166); entretanto, “os fildsofos da Antiguidaé nao chegaram a estabelecer a caridade (.) virtude” (pp. 165-1669, 0 que nao impedira os nienses de erigie um altar & compaixio (p. 197) resto, Se 0S europeus, 10 contririo ds asaticos, senvolveram a compaixio mais no sentido da outa Virtue cardeal ~ a justiga -, “0 culpado € s6 0 foe tur judaicos’ (.) pois ele aqui tudo penetsa” (p. 198), Os testemunhos hist6ricos no slo decisvos, uw “SORE © FINDAMENTO DA MORAL portanto. Se verdade que, em certos casos, ais menos freqdentes do que s¢ disse, 0s costumes pa- recem “implaciveis’, isso significa apenas que a compaixio desenvolveu-se, para nao dizer desviou- se, na dieco juridca, para no dizer judaica, da mmonalidade, diego que, longe de infirmar, confir- ma sua vocagao “fundamental. Pode se enfim contesar 0 pretenso desinteresse qual da sempre 0 Pepe dium’ ds gate quent Cop cui de toda-a-ctica ¢ também da presente per emiada..A solugio deste problema fornece proprio fiundamento ‘que se procura ha ulos, tal como a Pedra filosofal Mas que 0 tum’, 0 *h6, ti, o principio, tenha realmente st expresso mais pura na formula acima, toma-se dente a partir do fato de que ele se relaciona com todos 0s outros principios morais, como a con- ‘lusdo com as premissas, portanto como aquilo que propriamente se quer atingir. Deste modo, todo 0 ‘outro principio moral deve ser visto como uma pe- rifrase, expresso indireta ou figurada daquela pro- 2 SOBRE 0 FLNDAMENTO DA MORAL posicio simples, Isto vale, por exemplo, até mesmo ‘para o principio fundamental trivial, tido por sim- ples: “quod tibi fieri non vis, alteri ne feceris”” Indo facas a outrem 0 que nio queres que te facaml, cuja falha, por expressar apenas os deveres de direito © no os da vitude, pode ser corigida facilmente por ‘uma reprodugio sem 0 “non” € 0 “ne”. Pois este principio também quer dizer simplesmente o seguin- te: “neminem laede, imo omines, quantum potes, iu- va" Se, no entanto, tomar-se um desvio para li che- far, terse-i a impressio de que o fundamento real, 0 “didi” daquela primeira prescrigao, foi dado. Isto rio acontece porém, pois, a partir do fato de nao querer que algo me aconteca, nao se segue de ne- hum modo que eu niio 0 deva fazer 20s outros. O mesmo vale para principio até aqui estabelecido 04 proposicio fundamental mais alta da. moral Quando retormamos & nossa questio acima: qual 0 teor da lei em cujo cumprimento consiste, de acondo com Kant, 0 dever e em que ela se fun

Você também pode gostar