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PROFISSÃO DOCENTE

Uma infindável roda-viva de sensações parece rondar sempre os profissionais de


educação. Somos muitos, diversos, muitos atentos ao nosso público, os estudantes. Quando na
ativa, somos atentos e ansiosos, algumas vezes até angustiados, em tentar compreender o
porquê aquele, justamente aquele, aluno não está interessado num tema tão rico, desafiador e
tão bem construído durante as aulas.
Quando em formação continuada a agonia continua, mas agora em busca da solução,
de desvendar e fazer funcionar aquela aula tão bem elaborada, aquela ideia sensacional que
parece não funcionar bem na escola...
Pouco parece que percebemos que somos todos indivíduos, diferentes em gostos,
prazeres, ideias. Cérebros são únicos, individualizados nas suas arquiteturas e no
desenvolvimento de raciocínios, assim como nos interesses, tornando diferenciadas as ações, as
reações de cada um.
Além disto, nenhum professor, por mais amado que seja, é único na vida de um
estudante. Ou seja, nenhum estudante, particularmente na Educação Básica e na graduação –
em geral, também na pós-graduação – estará dedicado totalmente a você ou ao seu conteúdo
sensacionalmente organizado e transmitido da forma mais clara-interessante-aplicada ao
cotidiano.
Nos esquecemos todos do que foi este período de estudos, algumas vezes me parece.
Estamos todos em busca da situação perfeita, que solucione todas as questões de aprendizado,
tornando a escola o ambiente perfeito – com todas as imperfeições estruturais e sociais que
nela existem – e o estudante, o ser mais focado e mais capaz de ser multifocal.
Não que sejamos cruéis ou totalmente narcisistas, embora esta última possibilidade seja
bastante presente... ou não. Em geral, o apreço ao tema de aula de cada professor é tão grande
que fica difícil compreender como aquele simples aluno, e aqui se aplica bem a palavra a lumni,
pode não gostar, não se interessar ou pior, rejeitar! Pode, ele pode. E ao nos conformarmos com
isto, talvez tenhamos a sensibilidade necessária para compreender que cada um terá um
caminho de aprendizado e uma meta que conseguirá cumprir.
Ser professor deveria ser, antes de tudo, um exercício constante de desapego. Gestar e
parir aulas, estudar cada vez mais, se aprofundar nos seus temas de aula e buscar
especializações em processos de aprendizagem de todos os tipos para, logo em seguida,
desapegar e trata-los como ferramentas e processos que são, sem apropriações e paixões. Mas
como evitar as paixões? Não, melhor não evitar, corremos o risco de perder o foco e a
determinação de continuar a lecionar. Então, o magistério é mesmo um “sacerdócio”? Devemos
entregar a alma e dar a outra face? Ganhar para quê, se faço o que amo? Não, não, não e não!
Somos profissionais, nosso trabalho é meio de vida. E é também parte da formação e da
vida de milhares de pessoas. Este é o ponto de equilíbrio e é também a evidência de que
devemos ser sensíveis e cuidadosos em dobro! Pense, se você fosse médico e errasse com seu
paciente, mataria uma pessoa. Se você é professor e erra, se desliga ou se afasta de seus
estudantes, quantos estará deixando em coma?

Cristina de Oliveira Maia


UFOP – MG
Nov/2019

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